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A Inserção do Indígena no Merca do de Trabalho

A Inserção do Indígena no Mercado de Trabalho

Na sociedade indígena, toda a atividade econômica, como pesca, plantação ou fabricação de objetos, garante a reprodução social, ou seja, são voltadas à produção de valores-de-uso de um corpo social. Essa organização, entretanto, não é encontrada em uma sociedade capitalista, já que seu objetivo econômico final é produzir e garantir o lucro. Dessa forma, desde a chegada dos portugueses, a estrutura econômica-social indígena foi desintegrada e desrespeitada, colocando-os a margem da sociedade. Sob essa ótica, durante a colonização, foi imposto aos nativos o trabalho escravo puro, empregado com o uso da força, brutalidade, preconceito e violência. Além disso, a escravização foi legalizada por meio da Guerra Justa e instituía que, caso o indígena se recusasse à fé, ele deveria ser escravizado como forma de salvar a sua alma. Porém, com o passar do tempo, devido à presença jesuíta, o elevado índice de mortes por doenças trazidas pelo homem branco e as diferenças entre a mão de obra branca e indígena, os colonizadores passaram a “substituir” a mão de obra indígena pela negra escravizada, aumentando, assim, exponencialmente, o tráfico negreiro no país. Dessa forma, o indígena passou a ser “integrado” à sociedade por meio da aculturação, destribalização e catequização, entretanto, nunca deixou de ser escravizado. Assim, com todas essas mudanças que estavam acontecendo naqueles séculos, estereótipos como: “o índio é preguiçoso, traiçoeiro, incapaz e não civilizado”, foram criados pela sociedade e perpassados para as

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A Inserção do Indígena no Mercado de Trabalho

gerações seguintes como forma de justificar essa mudança em relação ao trabalho escravo. Tal contexto, ocorre devido à falta de mecanismos mínimos para a real interação dos indígenas ou reparação dos efeitos da colonização, escutamos comentários preconceituosos em pleno século XXI. Nesse sentido, podemos citar o comentário feito pelo Procurador de Justiça do Pará que evidencia o problema abordado e, além disso, parte de um indivíduo que possui muita influência no meio social: “Esse problema de escravidão aqui no Brasil foi porque o índio não gosta de trabalhar até hoje”. Posteriormente, os indígenas passaram a migrar para as cidades na década de 50, com o desenvolvimento industrial, buscando, na maioria das vezes, melhores condições de vida. Entretanto, infelizmente, para esse respectivo grupo nativo, essa trajetória é mais complexa devido à falta de inclusão. Hodiernamente, o preconceito enraizado e as discriminações os situam a margem da sociedade, implicando na sua exclusão do mercado de trabalho formal. Conforme a antropóloga Lúcia Helena Rangel, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, “Eles iam para as cidades e não diziam que eram indígenas. Ocultavam a origem e as referências culturais, em virtude do medo da discriminação e de represálias”. Além disso, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, entorno de 49% da população de indígenas no país ainda esconde sua ancestralidade. Isso deve-se também, ao propósito de facilitar a inserção deles no mercado de trabalho.

A Inserção do Indígena no Mercado de Trabalho

Ademais, mesmo que eles camuflem suas origens para conseguir trabalho, na maioria das vezes, só conquistam vagas mal remuneradas, como trabalhos informais e sem carteira assinada. Por mais que a discriminação, intolerância e preconceito configurem-se como crime, segundo o artigo 1° da Constituição, não há significativa mudança na conduta da população brasileira, visto que, de acordo com a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) a maioria dos indígenas estão desempregados. Nesse sentido, há vários casos, como o da jovem índia de 25 anos, Nayara Soares Antônio, formada em técnica de enfermagem, a qual busca por uma vaga de emprego¹. Ela aborda a existência da inferiorização e do preconceito em seus relatos, assim como, a dificuldade em conseguir ser contratada, visto nesta fala: “Primeiro era porque eu não tinha a carteirinha do conselho, agora eles dizem que é preciso ter experiência comprovada em carteira. Mas, como vou ter experiência se não me dão uma oportunidade?”. Esse, assemelha-se ao da sua irmã, Vitória Cristine Soares Antônio, 16 anos, a qual realizou cursos de informática e marketing pessoal e mesmo assim, não apareceu nenhuma oportunidade de serviço para a adolescente, evidenciando a descriminação. Ela conta: “Acho que vai ser bem difícil, eles pensam que não somos capazes e que não conseguimos trabalhar”. Sob essa ótica, realizamos uma pesquisa na cidade de Lajeado, na qual residimos, questionando, nas principais lojas, quais os requisitos necessários para a contratação de um funcionário, a fim de encontrar o motivo do porque muitos indígenas não são aceitos, seja por não corresponderem a um requisito ou simplesmente por preconceito. Dessa forma, obtivemos os seguintes resultados:

Requisitos necessários para a contratação de funcionários.

Mailin G. Favarin Vitória S. Pohl

Nessa perspectiva, observamos que, mesmo que os indígenas estejam presentes em nossa região, eles não se encontram em nosso meio trabalhista, como nas lojas do centro da cidade. Assim como os casos supracitados, os indígenas possuem as qualificações exigidas, entretanto, eles não são contratados devido ao preconceito, marginalização e inferiorização. Desse modo, fica evidente que a questão abordada é negligenciada pela nossa sociedade, uma vez que possui o mesmo comportamento do período da colonização. Logo, os indígenas são cada vez mais marginalizados e negligenciados, fazendo com que o problema perpetue. Nesse viés, com o intuito de enfatizar a marginalização sofrida e expressar suas angústias, Charlesson da Silva, indígena de 18 anos e catador de material reciclável, transmite seus sentimentos através do rap:

“Vendo lixo e não tenho vergonha de falar. Na minha caminhada, foi fome, violência, pobreza e roubar. Nasci pra sofrer, pode crer, pra cair, levantar, errar e aprender. A caminhada é dura, tudo é fase. Zona oeste é meu lugar, nesse canto da cidade. Eu sou a voz ativa da perifa, a voz dos oprimidos, a voz dos loucos, das minas e dos bandidos, dos esquecidos pela sociedade, dos humildes que não têm vez aqui nessa cidade.” Entrevista ao jornal “Agência Brasil”, 19/04/2017

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