
6 minute read
Genocídio Indígena
O longa-metragem “1492: A Conquista do Paraíso'' retrata a invasão dos espanhóis na América e o contato entre os europeus (conquistadores) e os nativos (conquistados). A obra aborda a influência da igreja e dos colonos sob as Américas e os interesses distintos de ambos, visto que os jesuítas, representantes do cristianismo, viram a oportunidade de propagar sua religião, enquanto a nobreza e a alta burguesia almejavam a exploração dos minerais. Essa narrativa cinematográfica deu-se à realidade das tribos indígenas brasileiras, que tiveram seus territórios invadidos pelos portugueses, e de modo consequente, acarretou um choque cultural, social, biológico e estrutural. O escopo dos colonizadores em formarem uma nação, resultou em derramamento de sangue, em brutalidade, na negação à vida digna dos nativos, através da catequização, do sistema escravocrata, de doenças esporádicas vindas da Europa e à imposição cultural europeia em geral. Sob essa ótica, a taxa de crescimento populacional dos nativos decresceu; segundo os dados da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), em 1500 a população indígena era de, aproximadamente, 3.000.000 de habitantes. Entretanto, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou dados da mudança na escala demográfica dos ameríndios em 2010, comprovando que decaíram para cerca de 817.963. Segundo Nelmo Roque Scher, mestre em Linguística:
eram em torno de 6 milhões de indígenas falando mais de mil línguas. Isso é um dado importante quando se verifica que hoje, em 2015, segundo últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, existem 305 etnias e 274 lín guas.
Advertisement
Portanto, é de extrema importância discutir essa problemática, visto que ainda há casos de mortes das tribos nativas devido à invasão dos homens urbanos (garimpeiros, madeireiros, caçadores e posseiros) e à negligência do poder político. Anelise Garcia, indígena de uma das tribos amazônicas, foi entrevistada em virtude de sua visão interna e profunda dos problemas que englobam a temática. As suas falas revelam seu descontentamento com a realidade caótica dos povos originários. Acompanhe: “Existem várias formas de extermínio sendo postas em prática desde que os invasores chegaram a essas terras. Primeiramente, houve a cobiça pela terra, pela abundância e suas riquezas que continua até hoje; depois a constatação de que era mais sensato ter escravos locais, pois além de sair mais barato, ainda possuíam conhecimento sobre o território; junto a isso, o extermínio das religiões,
Genocídio Indígena
a usurpação dos territórios tradicionais, a marginalização, a invisibilização e a romantização do ser indígena, além do constante e sistemático projeto integracionista e racista que visa o apagamento das culturas." Outro ponto é a influência do catolicismo e dos neopentecostais, evidenciado na realidade em que vivemos, na maioria das vezes, em cidades do interior e periferias, são pastores semi analfabetos ou analfabetos funcionais, que não compreendem o movimento histórico da construção da bíblia e usam as palavras para aterrorizar, manipular e demonizar as pessoas e os conhecimentos tradicionais, assim como a diversidade cultural. Há uma violência enorme, seja ela verbal, social, física ou mental. Esse fato é abordado no documentário "Ex-Pajé", o qual aborda a história de um pajé que precisou abandonar seus conhecimentos e suas práticas indigenistas por causa do coação e terrorismo que faziam a respeito da sua sabedoria. Sob outra perspectiva, o papel da doença na história indígena remete às diferenças biológicas entre o homem branco e os nativos em relação à imunidade. Entretanto, com a perseguição dos povos originários, que os impediu de seguirem suas tradições - sejam elas de fala, de pinturas corporais, de danças, de alimentação e de conhecimentos espirituais - muitas linhagens de curadores foram extintas. Assim, para o ser indígena, a saúde está interligada com a cultura e com as relações entre o indivíduo e a natureza, de modo que após o primeiro embate cultural e econômico, hou-
Genocídio Indígena
ve os embates civilizatórios, com as questões que envolvem a educação, a política, a religião e a constante invisibilização das populações originárias. Todos esses processos são como uma asfixia às culturas e aos corpos. A importância da demarcação indígena no cenário atual engloba a única maneira de proteger os povos, contribuindo com a manutenção do seus territórios, que permitem a alimentação adequada, o florescimento cultural e espiritual, a preservação do meio ambiente e dos conhecimentos ancestrais, além da não homogeneização cultural e o consequente empobrecimento como um todo.”
Como foi mencionado anteriormente, a exploração incipiente e assistemática do litoral brasileiro causou o silenciamento e extinção de muitos povos originários. Um dos fatores foram as doenças terminais do tipo gripe, sarampo, coqueluche, tuberculose, varíola, sífilis e malária, principais males que vitimaram essas tribos indígenas. Ademais, a busca pela exploração de recursos naturais fez com que o homem branco invadisse a terra indígena, levando doenças terminais, que contaminaram inúmeros povos, e por conseguinte, causou a diminuição da quantidade de habitantes, como foi o caso dos Yanomami.
Por conseguinte, nos anos de 1987 a 1990, cerca de mil Yanomami ( 14% da população de Roraima) morreram, vítimas da doença malária. A saga das mortes começou nos anos 70, quando uma empresa garimpeira gananciosa invadiu o território do povo para dar início à construção da rodovia Perimetral Norte. Entretanto, alguns dos funcionários eram portadores parasitários do gênero Plasmodium (causador da malária) e do Measles morbillivirus (vírus do sarampo). Portanto, espalhou-se doenças mortais para um povo despreparado imunologicamente, ocasionando em um declínio brutal na taxa populacional dos nativos. Além dos Yanomami, outras aldeias também foram atingidas com o processo da construção da rodovia, com uma estimativa de mais de 50% dos habitantes de outras qua-
Ayomiposi Janet Akinbobola Jenifer K. Silveira
tro comunidades indígenas morreram com a epidemia de sarampo. Essas mortes ficaram cada vez mais frequentes, tendo em vista que a ONU (Comissão dos Direitos Humanos do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas) solicitou esclarecimentos ao governo brasileiro. Posteriormente, a comissão Ação Pela Cidadania, liderada pelo senador Severo Gomes, em conjunto com procuradores do MPF (Ministério Público Federal), visitou a Terra Indígena Yanomami e verificou a situação precária, vivida por eles. Uma das consequências contemporâneas da invasão é a contaminação de povos indígenas pela Covid-19, que foi um dos grupos mais afetados pelo vírus, em decorrência ao sistema anti-indígenas do governo atual, tendo em vista que os povos originários não possuem acesso à saúde de qualidade. Diante disso, foram feitas denúncias que não se limitaram ao descaso na prevenção e controle da Covid-19 entre os indígenas, como vê-se no fato do Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos e a Comissão Arns ter apresentado o caso a TPI (Tribunal Penal Internacional), em novembro de 2020, acusando o Governo Federal de “crimes contra a humanidade” e “incitação ao genocídio contra os povos indígenas do Brasil”, pois ele os negligenciou, mesmo sabendo da capacidade imunológica e do acesso restrito à saúde dos povos nativos. Em última análise, salientam-se os impactos ambientais como as queimadas, a poluição por mercúrio, a degradação do solo e o assoreamento, capazes de contribuir com a diminuição populacional dos ameríndios. A nativa Macuxi e o assessor jurídico do CIR (Conselho Indígena de Roraima), explica que, atualmente, o garimpo é umas das maiores ameaças às comunidades indígenas no estado supracitado. Visto isso, a FUNAI notificou a invasão de madeireiros, que têm derrubado as matas das terras indígenas, aproveitando-se da falta de recursos do órgão indigenista para fazer a fiscalização constante da área. A negligência do Estado ocorre, uma vez que a maioria das infrações são cometidas por indivíduos ricos ou políticos. Portanto, há uma negociação entre homens públicos e a classe alta do país, ambos interessados com o lucro da exploração na Amazônia, assim deixando as tribos vulneráveis à opressão dos invasores. Dessa forma, é perceptível que o ecocídio do Amazonas propicia a decadência dos nativos, visto isso, é primordial que o atual governo reforce leis eficientes para restringir o acesso aos territórios supracitados e os fiscalize.