A Tranquilidade da Alma de Sêneca Por Arthur Cecim

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A TRANQUILIDADE DA ALMA DE SÊNECA ARTHUR CECIM


Introdução ................................................................................. 3 Cap. I – Dos maus efeitos da riqueza ...................................... 4 Cap. II – De como se portar na infelicidade ........................... 5 Cap. III – Da superioridade e desprendimento do sábio ......... 6 Cap. IV – De como fugir à agitação estéril ............................. 7 Cap. V – De como não se obstinar contra as circunstâncias ..... 8 Cap. VI – De como praticar a simplicidade ............................ 9 Cap. VII – Da alternância do recolhimento e da vida social ... 10 Cap. VIII – Da alternância do trabalho e do divertimento ...... 11 Conclusão ................................................................................. 13 Bibliografia ............................................................................... 14

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Introdução Neste trabalho falarei a respeito da doutrina de Sêneca (4?d.c.- 65d.c.), filósofo estóico romano, analisando os pontos principais contidos na obra igualmente intitulada “A tranquilidade da alma“, onde o filósofo oferece ao amigo Sereno a solução para obter a serenidade. O cenário da época é a Roma Antiga, cheia de ostentações e riquezas, uma sociedade carente de valores morais, cuja crença excessiva nos bens materiais e nas honras move os homens desesperadamente em direção ao triunfo de uns sobre os outros. Somente a resignação, o recolhimento e a prática da virtude oferecem um horizonte calmo e tranqüilo, ausente da canalha. Os conselhos que dá ao amigo, hesitante em meio a todo aquele desespero e existência fútil, visam dar-lhe algum sentido e também convertê-lo do epicurismo ao estoicismo. Os pontos levantados por Sêneca referem-se basicamente à riqueza, a simplicidade, as leis do destino, ao trabalho, ao divertimento, a infelicidade, ao recolhimento e a vida social, discernindo entre as virtudes e os vícios, entre o equilíbrio e o excesso. Não há dúvida de que este obra de Sêneca é a que melhor sintetiza seu pensamento estóico, pensamento este que visa o bem viver, a partir da ótica da conduta humana.

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Capítulo I Dos maus efeitos da riqueza A riqueza é, para Sêneca, a fonte principal da miséria entre os homens. Possuindoa, temos mais inquietude em nossa alma do que se fossemos pobres, porque “se suporta mais facilmente não possuir do que perder”1. Sem termos muito o que perder possuímos menos riscos a correr e menos temores. O homem, para Sêneca, deve se espelhar nos deuses imortais, que são despojados de todos os bens materiais. É necessário que o homem obtenha aquelas riquezas que vêm de si e não da sorte e dos outros, pois assim são os deuses. Sendo impossível, porém, que digamos não a todos os bens, limitemo-los ao máximo: “Para o dinheiro, a verdadeira medida consiste em não cair na pobreza, mas aproximar-se dela o máximo possível”2. Sêneca faz um apelo à economia: “A pobreza mesma, secundada por gostos simples, pode-se transformar em riqueza.”3 E também chama a atenção para um fato que muito se assemelha à ideia platônica do Bem ligado à necessidade, da estética ligada à necessidade: “Habituemo-nos a ter o luxo à distância e a fazer uso da utilidade dos objetos e não de sua sedução exterior. Comamos para matar a fome, bebamos para apagar a sede e reduzamos ao máximo a satisfação de nossos desejos.”4 O oposto da economia e da utilidade é a futilidade desenfreada da compra que só visa a ornamentação e o luxo enganosos: “Como se os estúpidos, em sendo menos capazes de viver sem dinheiro, devessem gastá-lo melhor!”5. Sêneca cita o exemplo de livros que enfeitam salas de refeições. Apesar da leitura ser o melhor hábito, avisa, em excesso torna-se vício, pois no meio de tantos milhares de livros nos perdemos e malmente decoramos os títulos. É preferível para ele que nos entreguemos à leitura de alguns bons autores, pois assim nos aprofundamos em seus pensamentos, ao invés de conhecê-los superficialmente. Assim Sêneca defende a utilidade e a economia da ação como algo que trará serenidade e sentido ao homem. Ele fala, aqui, da Roma Antiga, cuja opulência e ostentação desesperavam os homens, inclusive os governantes, cujas honrarias e riquezas lhes tiravam a sobriedade e lhes deixavam insanos. Houvera quem entre aqueles governantes até se achasse igual aos deuses6.

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Sêneca, A tranquilidade da alma, Ed. Globo, 2ª Ed., VIII, p. 204. Id, p.205. 3 Id, IX, p.205. 4 Id. 5 Montaigne, Ensaios, 3° livro, IX, 433. 6 Nero, o imperador romano. 2

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Capítulo II De como nos portarmos na infelicidade “Resignar-se ao invés de revoltar-se”7: a necessidade nos ensina a suportar a sorte com coragem. Recorrendo à natureza, Sêneca afirma que esta criou o hábito para em pouco tempo nos familiarizarmos com nossos padecimentos. E quanto aos fardos, para Sêneca, estes não são diferentes para os tiranos, para os homens de fortuna, daqueles dos escravos, pois um carrega as algemas e os outros as honras. Um está preso à miséria os outros à riqueza. Ambos carregam fardos pesados e a vida, conclui, é uma escravidão, valendo para todos, estando todos ligados à fortuna, acorrentados a algum tipo de fardo, restando somente a razão, a qual abrandará todos estes pesos. É ela que dará sabedoria, tornará o sábio apto a lidar com os fardos da vida, e a evitar-lhes o máximo possível, por meio da vida ascética e voltada para a sabedoria e a prática da razão. Toda a vida material, os objetos, coisas em geral, são frívolos. Não podendo evitá-los de todo, porém, apeguemo-nos a eles o menos possível. O ideal não é a pobreza, mas sim aproximar-se desta o máximo possível, haja visto que a falta nos perturba mas o excesso de algo nos perturba igualmente. É a razão, o discernimento, a serenidade que colocarão limites à sede inconstante de viver. Não evitaremos os males sendo sábios, mas ao menos, com tais limites, não estaremos à mercê da fortuna, sendo desta escravos totais.

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Sêneca, A tranquilidade da alma, 2ª ed., Ed. Globo, X, 206.

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Capítulo III Da superioridade e do desprendimento do sábio O destino possui uma só regra: “Aquilo que pode ferir um pode ferir a todos os outros” . Melhor seria, então, a atitude do sábio, que, já sabendo que sua sorte já foi firmada a partir do momento de sua concepção, viverá feliz para governar sua vida em conformidade com esta sorte. Eis aqui a idéia estóica do fato, da crença no destino e no determinismo da natureza. Igualmente, o sábio se antecipa aos males que virão, prevendo-os, abrandandolhes o impacto e desarmando a diversidade, quando for este que a espera e não o oposto. Sêneca cita diversos exemplos: de Pompeu a Mitrítades. A vida é nada mais do que altos e baixos, restando ao homem superior e sábio o fato de que possui um único bem verdadeiro, seu corpo, aquele do qual deve cuidar como sua única morada, e cujo ao verdadeiro dono, a natureza, deve ser devolvido e agradecido com generosidade, afirmando assim, o desprendimento do último e único bem real do homem. Para o sábio, morrer sem saber morrer é um sinal de que a vivência fora malrealizada, é sinal de que o homem não viu seu único bem, sua existência, como dado e portanto digno de agradecimento, e que perdeu tempo em demasia se apegando e se inferiorizando perante bens exteriores e alheios a si mesmo. 8

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Publício Siro, Ob. Cit.

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Capítulo IV De como fugir a agitação estéril Ações despropositadas devem ser evitadas pelo sábio, pois só trazem inquietações a este, ao fim de tudo. Da mesma forma como a ambição e os resultados desproporcionais ao esforço. Segundo Sêneca, isto se daria por causa de uma certa esperança ou expectativa por parte dos insanos e inquietos, seja esta de aumentar a turba de amigos, de estar presente a acontecimentos trágicos, e regozijar destas tragédias, ou de estar próximo da pompa e do prestígio, coisas que para o filósofo não alimentam o espírito e muito pelo contrário, só lhes deixam insatisfeito e intranqüilo. Aquela esperança seria, no fim de tudo, alimentada pelas aparências e pelas ilusões, que impedem o não-sábio de discernir a realidade, de atingir a serenidade. A estas ações despropositadas se prendem vícios terríveis: falar de coisas desagradáveis, de maus alheios, etc. Como a alma não se sente preenchida, procura logo algo fútil para fazê-lo, caindo em desarmonia. Sêneca bem sintetiza seu pensamento em relação às atividades fúteis utilizando-se de uma sentença de Demócrito, filósofo grego do atomicismo, o qual assim diz: “Possuindo ocupações em excesso, multiplicamos nossa exposição à sorte, e com tanta exposição, não há alma tranqüila.” Provocar a sorte o menos possível, no sentido de diminuir sua probabilidade. Pensar nela o máximo possível, no sentido de estar consciente dela e prevê-la. Sem jamais confiar na sua constância, no sentido de entender que ela não está necessariamente a nosso favor. Estas três sentenças soam como o manual de Sêneca para uma alma tranqüila e serena. Ou seja, a não ser que uma grande necessidade natural ordene, devemos reprimir nossa atividade, a fim de obtermos a quietude e não nos expusermos ao acaso. Sêneca também esclarece: o sábio não está subtraído das desgraças, e sim dos vícios. Ora, como ele, o sábio, já está submetido ao fato, ao fardo, ao destino, as coisas lhe sucedem conforme as previsões, não conforme aos desejos, pois, o que alimenta o vício são as aparências e as ilusões dos desejos e dos sentidos. Afinal, como ele, Sêneca, afirma: “Não é, pois, evidente que o pesar causado por uma decepção é bem menos sensível quando não se prometeu antecipadamente o sucesso com segurança?”. Derrubando aquelas ilusões e vícios podemos até mesmo aliviar os resultados indesejados, enfim.

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Capítulo V De como não se obstinar contra as circunstâncias Mostrar generosidade e docilidade perante nossa sorte, nosso destino é, para Sêneca, um ponto importante para manter a serenidade da alma. Na verdade, evitar tais excessos, como a obstinação, que nos inquieta, assim como a leviandade, que não se fixa em nada, e é, por isso, inconstante. Estes dois se opõem a qualquer mudança e alteração, ao que o destino prescreve, um porque repousa sobre um resultado esperado, outro porque é opaco, fútil e não está atento à mudança. Ambos são excessos por não valorizarem o destino. Ambos estão alheios à mudança. Porém, não ser obstinado pode implicar em versatilidade, avisa Sêneca. “Cuidado para com isso”, afirma. Pois não querer que coisa alguma em determinado nos aconteça pode lançar-nos à variedade improdutiva, a uma fútil variedade. O excesso de concentração de energia em um só resultado é tão maléfico quanto a dispersão de energia, a qual não espera por nenhum resultado e se torna fútil e infértil. O certo para ele é o equilíbrio, isto é, nem a obstinação, a determinação por algo que queremos que nos aconteça em especial, nem a falta de obstinação, a versatilidade, que implica no que foi dito no capítulo anterior: no excesso de ocupações e tendências, que é para ele o capricho mais prejudicial à tranqüilidade da nossa alma, o pior dos vícios. E, evitados tais excessos, deve nossa alma recolher-se em si mesma, como seu único bem verdadeiro, sem apegos materiais e ojerizas quanto às desgraças pessoais, sem leviandades ou obstinações. Assim, se o homem não deve se obstinar contra a sorte, no que tange à tragédia humana, este deve aceitá-la de bom humor e considerar as desgraças algo tolo e não triste, e esta atitude artificial, de ver os males que nos acometem como tolices, torna-se algo leve e até superior. Porém, equilíbrio: nem chorar nem rir da tragédia humana, pois o primeiro seria infelicidade perpétua, o segundo desumanidade. Pois, segundo a descrição de Bíon9, a vida humana não tem mais valor do que aquela de um embrião, mais se assemelhando a uma série de acontecimentos. E sendo tal, não é digna de nenhum sentimento extremo, seja este de dor ou de alegria.

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Poeta satírico e filósofo cínico grego (séc. III a.c.).

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Capítulo VI Da prática da simplicidade A prática da simplicidade repousa neste aspecto: não nos considerarmos a partir do que os outros pensam que somos, derrubando a máscara da hipocrisia, da qual Marco Aurélio assim fala: “Desprezam-se mutuamente, mas mutuamente se bajulam; querem dominar uns aos outros mas submetem-se uns aos outros”10 . Viver para si e não para os outros e a posteridade, eis um dos pontos importantes do estoicismo que Sêneca aqui ressalta. Quando se fala de viver para nós não se trata de nos isolarmos do mundo todo, e sim de fazermos aquilo que verdadeiramente nos satisfaz e de estarmos felizes com aquilo que somos ou fazemos. É importante que nos vejamos tal como somos na realidade, e aceitarmos o que o destino nos reservou para sermos, negando a pompa e o prestígio, que vêm do juízo da posteridade, de seu julgamento. Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, fala de algo semelhante, ao dizer que não podemos nos esquivar do papel que a vida nos reservou, e estando como que no palco de um teatro e só podendo ser nós mesmos dentro daquele papel, afirma que só nos resta faze-lo o melhor possível. Aquele que não se disfarça, lembra Sêneca, abre-se demais aos outros, e pode por isso mesmo perder destes a consideração, pois ao invés da esnobação e da distância, torna-se demais acessível e vulnerável. Mas sendo este “não-disfarce” uma virtude não pode ser menosprezado pelos outros: “E não é melhor ser menosprezado por sua franqueza do que se impor o suplício de uma dissimulação perpétua?”, afirma Sêneca, fazendo menção ao valor da virtude em relação ao vício. Todavia, ele torna a lembrar do equilíbrio e da justa medida: “Pois há muita diferença entre a sinceridade e a falta de modéstia”. Significa que até certo ponto a franqueza, em excesso, pode vir a tornar-se falta de modéstia, e desviar da sinceridade.

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Marco Aurélio, Meditações, livro XI, pág.313.

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Capítulo VII Da alternância do recolhimento e da vida social Sêneca propõe uma mistura da solidão e da vida no mundo. Uma alternância. Pois “A solidão nos fará desejar a sociedade, e esta nos reconduzirá novamente a nós mesmos”11. Na verdade seriam antídotas: “A solidão curando nosso horror à multidão e a multidão curando nossa aversão à solidão”12. Apesar dele afirmar o recolhimento em nós mesmos, recorre à alternância dos pólos como o ponto de equilíbrio: “A esfera da alma permanece inalterável quando, sem se projetar nem encolher para dentro, sem se dispersar nem se concentrar, brilha duma luz que lhe revela a verdade universal e a que nela mesma reside.”13

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Sêneca, A tranquilidade da alma, Ed. Globo, 2ª Ed., XVII, Pág. 3. Id. 13 Marco Aurélio, Meditações, livro XI, 313. 12

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Capítulo VIII Da alternância do trabalho e do divertimento Aqui Sêneca fala do trabalho como algo que deve ter seus intervalos, a fim de manter aquele que lhe realiza produtivo. Trata-se de aliviar-nos da tensão e da austeridade excessiva e da sobriedade que em demasia torna-se inquietante. Também, para o homem deve haver equilíbrio entre o trabalho e o prazer, pois de outra forma ele se torna doente e inquieto. Como um solo que, usado em demasia, logo perde a fertilidade. Assim é a mente daquele que trabalha. Dançar, brincar com crianças14, dar passeios no campo, ficar ocioso, fazer jogos e comer ou beber um pouco mais que de costume ou até mesmo se embriagar15: tudo é válido para tornar a alma mais leve, para afastar as tristezas e esquecer dos fardos e dos encargos. Aliviar-nos um pouco da razão é importante, a fim de nos tornarmos mais eloqüentes, e irmos mais longe do que de costume, do que nossa vida cotidiana permite. É para Sêneca importante que rompamos com a rotina de vez em quando e que nossa alma se desvie do seu rumo habitual. Dispersão de energia é também essencial para equilibrar o espírito por demais sufocado pela excessiva concentração da mesma. Desde, admite, que não tornemos o repouso e a dispersão excessivos, pois deste modo, se transformam em vícios. Para ele, tudo pode ser vício, ser maléfico, se em excesso. Até mesmo o sono, se realizado dia e noite, é morte. Quando fala da embriaguez, Sêneca admite o pouco que todos nós temos de dionisíaco16, que uma alma deve estar sempre livre dos fardos, e deve se libertar até mesmo da própria razão, se esta lhe pesar, e assim se tornar um fardo. A loucura, quando leve e construtiva, quando assim realizada, liberta a alma e lhe torna mais salutar: “Não se vê jamais um gênio que não tenha seu grau de loucura”.17 Montaigne mencionaria Sêneca a este respeito, e profere seu pensar sobre isto: “Mais por gosto e temperamento do que pela razão, sou inimigo de tais excessos, pois, conquanto de bom grado acomode minhas opiniões à autoridade dos antigos e considere a embriaguez um vício vergonhoso e estúpido, acredito-o menos perverso e nefasto do que os outros, os quais prejudicam diretamente a sociedade.18”

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O caso de Sócrates. O caso de Catão. 16 A este respeito ele admitia o vinho como salutar e como curador de doenças a exemplo dos gregos, que veneravam Baco, o deus do vinho. 17 Aristóteles, Problemas, 30, pág. 1. 18 Montaigne, Ensaios, Ed. Globo, livro II, II, pág. 167. 15

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E Platão, vendo a incompatibilidade da poesia com a sobriedade, assim afirmara: “É em vão que o homem bate à porta das Musas.19” “Sendo a faculdade de profetizar superior às nossas luzes necessário se faz que nos encontremos fora de nós quando a praticamos; o sono, a doença, paralisam então nossa inteligência ou uma inspiração divina a domina.20” Como se vê, só podemos alcançar certas alturas, sejam estas as do divino ou de simplesmente esquecer do fardo da vida, quando fora de nós mesmos e ausentes da sobriedade. Sêneca admite, assim, que a função primeira da alma é estar liberta dos fardos, que a sobrecarregam e que se assemelham aos vícios e aos excessos, que lhe entristecem e lhe tiram a força e o vigor, contribuindo para o seu desequilíbrio.

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Platão, Fedro, 22, 245. Platão, ob. cit.

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CONCLUSÃO Da doutrina de Sêneca sobre a tranquilidade da alma podemos tirar estas conclusões: que vivamos o mais leve possível, o mais livre possível dos objetos materiais e das honras e riquezas, dos desejos e das paixões, os quais só nos transtornam a alma e tiram-lhe a serenidade, vivendo para nós mesmos e em função do que nossa natureza verdadeira pede. Porém, sabendo que o ideal é a alternância entre os pólos, entre o trabalho e o divertimento e a vida mundana e a solidão, por exemplo, pois tudo em excesso torna-se vício, e o equilíbrio é o verdadeiro sinônimo de virtude. E, por fim, a aceitação do fardo da vida, do destino, como algo que não podemos mudar e do qual não podemos fugir, afirmando-se o fato do estoicismo, como algo que será razão de serenidade para nossa alma, pois não impondo à vida nossos desejos não nos degladiamos com esta e não nos tornamos infelizes. Nos expormos pouco à sorte, por meio de poucas aparições públicas, e termos o mínimo possível de bens para quando os perdermos não sofrermos a dor do apego e da perda. Assim define-se sua doutrina do bem viver, do viver equilibrado.

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BIBLIOGRAFIA Sêneca, A. L.: A Tranquilidade da Alma, Ed. Globo, São Paulo, 1980. Montaigne, M.: Ensaios, Ed. Globo, Porto Alegre, 1972. Sêneca, A. L.: Cartas a Lucílio, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1991. Châtelet, F.: A Filosofia Pagâ, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1973.

BIOGRAFIA ARTHUR CECIM é escritor, professor e tradutor de inglês. Faz mestrado em filosofia. Autor do romance Habeas Asas: Sertão de Céu! (Prêmio Sesc de Romance, Editora Record). Nasceu e vive em Belém do Pará, Amazônia, Brasil.

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