OLIBERAL
BELÉM, DOMINGO, 19 DE JULHO DE 2015
MAGAZINE 11
sim
Quem és tu?
Eu é um outro RIMBAUD
Eu não sou eu nem sou o outro SÁ CARNEIRO
S
e pensar lhe dá dor de cabeça - passe longe desta Sim de hoje. Mas o convite dela não é propriamente para pensar, e - sim - para refletir. E sobre o que? Você não viu aí em cima, no título e nas citações, o Abismo aberto pelas palavras de poeta francês Arhur Rimbaud e do poeta português Mário de Sá Carneiro? Esse Abismo é o que chamamos Eu. Esse EuAbismo que levamos em nós para onde vamos, cotidianamente, com a maior naturalidade. Sem nos darmos conta de que basta um passo em falso para que ele nos trague. Cada um leva o seu - mas bem oculto em seu rosto, claro, sob a Persona de Jung. E quantos têm a coragem da Rainha Má do conto de fadas para face a face, no Espelho - se perguntar: - Quem sou eu? E, mais abissalmente ainda:- O que sou eu? Em tempos de eus e rostos virtuais como os atuais - quem sabe com quem está falando? São tantos os avatares - nos tornamos todos clones de nos mesmos? Nada contra - deixemos os homens - esses seres dos quais Rousseau disse que nascem livros mas estão presos por toda parte - fugirem de suas gaiolas
VICENTE CECIM
vicentefranzcecim@gmail.com
EsquizoImagem do Autor
se um Vento parte o Vaso da voz
e se divertirem como os superheróis de HQ - vivendo vidas paralelas, mostrando ao mundo seus rostos mascarados enquanto se ocultam em suas identidades secretas. E por que não? A coisa é complexa. Senão vejamos: por exemplo, o Fantasma, personagem de HQ criado por Lee Falk. Clone de si mesmo, ele é mais feliz na solidão da sua real identidade, secreta, como Mister Walker, ou como O espírito que anda, reinando sobre pigmeus prostrados aos seus pés com veneração e reverência, distribuindo socos para todos os lados e imprimindo a marca da caveira do seu anel na cara dos inimigos e depois repousando na Caverna da Caveira na companhia do melhor amigo do homem, seu cachor-
ro Gepeto? Ah, ia esquecendo seu também devotado cavalo - mas esqueci o nome. E, afinal, quem é o namorado da bela Diana Palmer - não é o Fantasma? Para o misterioso Walker sobraram o pesado casado escuro que jamais despe, o rosto sempre oculto pela sombra da aba do chapéu que jamais tira, e seus próprios olhos que nunca viu - pois também jamais tirou seus óculos escuros. Já riu o suficiente por hoje? Então voltemos ao nosso sério EuAbismo. Enquanto nada sabe de si mesmo, ele vive em seus duplos. Na Literatura mais substancial, fez sua mais marcante duplicação como Dr. Jeckyl and Mr. Hide no romance O Médico e o Monstro, de Roberto Louis Stevenson. Confronto entre
adormecido agora
Diz-se dorsos lisos
águas escuras
escreve Esfera espanto estranho mundo Fábula
alguém alvura amizade das coisas Angelus Silesius animal anjo Aquilo areia árvore asas aves de Kant
Falar sem boca floresta Andara fontes frutos fundo gaiola grão homem de pó homem sem ternura homens imensos
Bem & Mal. Renovação da pergunta: - Quem, ou O que eu sou? E também a Literatura nos mostrou que quem não pode se duplicar, duplica a sua vida caso da viagem de Alice ao País das Maravilhas, se lançando na toca do coelho - e, depois, voltando Através do Espelho, livro seguinte de Lewis Carroll. - Ó ser de espanto, temos muito que conversar - eu digo a mim mesmo. - Mas é prudente ficarmos em silêncio - escuto meu outro responder. Tentamos lacrar nossos lábios. Não praticar a vichara/inquirição recomendada por Ramana Maharshe. Mas um de nós rompeu o pacto de silêncio e falou o poema-inquirição que achei sob nossas Máscaras, e mostro nesta Sim.
ouvindo palavras pântano pranto passando perguntas pousar no leite real saber sangue das estrelas seiva semente serpente silêncio sombra sonho tinta Invisível
inclina inseto intuição beber no Bosque das paixões Bosque sem paixões brancas brisas caminho a carne casinha de terra centeio negro o céu Chamas cílios cinzas de Serdespanto As coisas pelas coisas os dias Compaixão Corpo crianças daquele despertar
irmã irmã-ave de Serdespanto Kant canta lábios lágrimas leve livro invisível lua sangrando
tocam túmulo Vento e passagem vindo viram vivendo voltassem
madeira mãe de Serdespanto montanhas murmuram nascido negro negra nela ninguém ninho nome Novalis osso Pai ossos Ouçam
Vicente Franz Cecim