Sim 13 nos recusemos às cinzas cintilemos vicente franz cecim

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oliberal

Belém, domingo, 1 DE setembro de 2013

magazine n 11

sim

vicente cecim

vicentefranzcecim@gmail.com

Nos neguemos às cinzas: Cintilemos Eis o tempo dos assassinos.

uma espécie dessas aves que estão prontas para lançar seus ovos mortais sobre o mundo – antes que chegue o grande abutre: a anciã Bomba Atômica ou seu filho ainda mais monstruoso: a Bomba de Hidrogênio ou o seu neto ainda mais brutal: a Bomba de Megatons. Seu nome é ICBM - o recém-criado e mais avançado míssil balístico intercontinental. Seu alcance supera 5 mil e 500 quilômetros e transporta armas nucleares. Países que já podem se lançar mutuamente seus próprios ICBMs – mas, preferentemente, nos países incapazes de devolver os ataques nos mesmos termos - são a Rússia, os Estados Unidos, a França, a Inglaterra, a China. A Índia e o Paquistão já têm mísseis de menor alcance e iniciaram a fabricação do ICBMs, e consta que a Coreia do Norte está construindo um ICBMs Taepodong-2. Segundo observadores militares, “todos os sinais emitidos por Washington e Londres sugerem que uma ação militar contra a Síria é agora uma forte possibilidade. Planos de contingência estão sendo elaborados, listas de alvos potenciais estão sendo revisadas e vários ativos militares estão sendo colocados em posição. A Marinha americana reposicionou seus navios de guerra, incluindo quatro destróieres com mísseis de cruzeiro no leste do Mediterrâneo e um submarino com capacidade de lançamento de mísseis.” Além de Israel e da Turquia, fronteiriços a Síria, já estão em posição no Oriente Médio armas de destruição dos EUA, Inglaterra e França.

RIMBAUD

S

ei de gente que fecha os olhos para o que eu, à tona, sou - e me vê apenas como um sonhador submerso. Mas tenho um olho aberto para dentro de mim e o outro para fora, para o mundo ao meu redor. E sempre digo a eles, como o pintor dadá Marcel Duchamp dizia de si, que sou um sonhador desperto. Que a página Sim de hoje desperte os sonâmbulos para o pesadelo prestes a começar - e quem sabe acabar com a Vida num piscar de olhos.

Síria Mais uma vez a chamada Humanidade se equilibra no Fio na Navalha e, ao longo da lâmina, avançam velozmente em nossa direção, para nos alcançar neste século XXI, ganhando vida novamente e atravessando as molduras da pintura medieval de Dürer, seus “Os 4 Cavaleiros do Apocalipse” – a Morte, a Guerra, a Fome e a Peste, quarteto que acompanha a jornada humana sobre a Terra em sequência implacável, cada vez que os homens tombam para um dos lados da navalha, num quais nos espera o Inferno e, também, no outro – como nos advertiram os judeus iídiches. E ao dizer a palavra judeus saltamos para o nosso assunto: a Guerra na Síria, que ameaça também saltar para fora das suas fronteiras. Tudo começou como mais um conflito interno em mais um país qualquer a partir dos protestos populares de 26 de janeiro de 2011, mas cresceu até se transformar na revolta armada violenta de 15 de março desse ano, e transbordou, contagiosamente, desencadeando outros protestos simultâneos no mundo árabe: - Estamos lutando por mudança - pela derrubada do ditador Bashar al-Assad e para que a Síria se torne uma democracia, gritavam as massas nas ruas. Mas o ditador se recusou a abandonar a assada, após sua família haver descarnado as liberdades sírias desde que seu pai, Hafez al-Assad, tomou e ocupou o Poder por 30 anos, proibindo a criação de partidos de oposição e a participação de qualquer candidato oposicionista em uma eleição, e o passou para o filho por já mais de 10 anos. Assad Filho endureceu o estado de emergência em que a Síria é mantida fechada desde 1962 e suspende as proteções constitucionais aos cidadãos. E passou a empregar o estado de exceção ainda mais brutalmente contra as mobilizações da população que exigia, entre outras tantas coisas que faltam a ela: respeito aos direitos humanos, liberdade de imprensa e uma nova legislação nacional. Bem ensinado pelo Pai, lançou seu Exército contra as cidades em revolta – que reagiram com muitos mortos e mais revolta – ao que o Ditador reagiu com mais violência contra tudo e todos – foi quando morreram as primeiras crianças sírias, ainda assassinadas com balas e bombas lançadas por tanques e aviões – antes de serem, na semana passada, assassinadas em massa pelas armas químicas do Ditador nos subúrbios de Damasco. Ditatorial = Brutal. Tão brutal que até muitos militares do Exército do Ditador se recusaram a obedecer as suas ordens de esmagar a população – e foram punidos, e perseguidos fugiram da Síria para ir denunciar ao mundo o genocídio. A imprensa internacional transmitiu o que eles contaram. As pessoas de todo o mundo se revoltaram – a revolta dos impotentes. Mas a ONU – Organização das Nações Unidas e as potências que dominam econômica e militarmente o mundo, sobretudo os Estados Unidos da América e a Rússia, que mantêm sua Guerra Fria potencialmente aquecida, fizeram o que minha avó chamava no tempo dela de ouvido de mercador: isto é: ouvir em escutar. Ao povo sírio se juntaram soldados desertores e civil armados, surgiu o Exército Livre Sírio que se tornou o Conselho Nacional Sírio e o povo sírio partiu para o combate frontal ao Dita-

Albrecht Dürer: “Os 4 Cavaleiros do Apocalipse” (1498) dor. Após milhares de mortos, a Síria enfim foi reconhecida como um país em Guerra Civil quando a Cruz Vermelha declarou ser esta a situação, em 15 de julho de 2012 – o que abriria o caminho legal para a aplicação, contra o regime criminoso do Ditador Assad, do Direito Humanitário Internacional apoiado pelas convenções de Genebra e à investigação de seus crimes de guerra – porque, pelas estimativas menos cruéis, o Ditador já matou mais de 100 mil pessoas, prendeu pelo menos outras 200 mil e fez mais de 1 milhão de sírios fugirem da morte para outros países vizinhos, abandonando suas casas e os túmulos dos seus parentes massacrados.. O resto – ah, o resto você já sabe e tem visto, impotentemente, desde então. Se não tudo, no que a imprensa contida não mostra, pelo menos muito através do que é mostrado na internet pelo You Tube, a RT TV, a BBC e versões on line de jornais como o inglês Financial Time e o espanhol El País. Mas essas imagens, assim como as vozes dos que saíram da Síria denunciando os massacres, não foram ouvidas – também não foram vistas nem pela ONU nem pelos Estados Unidos da América nem pela Rússia, desde o pós-Segunda Guerra Mundial ocupados em sua culinária silenciosa macabra, requentando as antigas e criando receitas para novas e mais poderosas bombas atômicas. Como ninguém fez nada, o Ditador sírio deve ter se dito lá com suas armas químicas: - Comigo não farão o que fizeram com Sadam, no Iraque, e com Kadaf, na Líbia, como morreram como ratos em esgotos. Logo, ele cresceu em fúria e delírio: Ditatorial=Brutal=Imortal. E os banhos de sangue contra os civis continuaram. Mais lares sírios trocados por acampamentos de refugiados no Líbano, na Turquia – mais lares sírios trocados por túmulos. E

a voz do poeta peruano César Vallejo quem sabe cantando em consolo para eles: O homem está em sua casa como esta em seu túmulo./Só que na casa está em pé e no túmulo está deitado. Como a expansão do ego capitalista sem cura é tão grande quanto à repressão do adoecido ego comunista pós-Stalin – enfim, os Estados Unidos da América e a Inglaterra, que já dominam o Iraque, Arábia Saudita e outros países árabes de um lado e a Rússia e a China que controlam o Irã e outros, pelo outro lado, sob a inquietação da opinião pública mundial pareceram despertar. Mas a ONU continuou adormecida, porque a Organização das Nações Unidas, pelo seu regimento interno, não pode agir sem a aprovação unânime dos cinco países que a controlam – além dos citados, a França - e dois deles, Rússia e China, apoiam a Ditadura de Assad. Por interesses econômicos, militares e todos os motivos sujos que continuam regendo os países nas suas atuais alianças globais. Então, o Ditador fez a sua rima mais imunda: Genocida=Infanticida. E já ninguém mais conseguiu fechar os olhos e deixar de ver, há poucos dias, centenas de crianças sírias em lenta e dolorosa Agonia morrendo envenenadas pelas armas químicas disparadas pelo Ditador nos subúrbios de Damasco. Agora, seja o que o que os deuses das 3 religiões monoteístas quiserem - o Deus cristão, o Jeová judeu ou o Alá muçulmano. Ou os 4 Cavaleiros do Apocalipse renascendo da pintura de Albrecht Dürer. E, como no filme de Godard: - Salve-se quem puder: a Vida!

Aves mortais de longos voos Quem já tem? Eis um breve inventário de apenas

Mundo partido: prós & contra ataque a Síria No Oriente Médio: Turquia: O chanceler turco Ahmet Davutoglu disse que o país está pronto para integrar uma coalizão internacional contra a Síria se o Conselho de Segurança da ONU não determinar uma ação militar. Arábia Saudita e monarquias do Golfo: Elas financiam as forças de oposição a Assad. A Arábia Saudita é um rival do regime sírio há anos e busca apoio internacional diplomático aos rebeldes. Israel: Embora tenha tentado se manter longe do conflito, Israel por três vezes bombardeou a Síria este ano, alegando ataque preventivo contra supostos carregamentos de munição do grupo libanês Hezbollah. Também respondeu ataques a tiros vindo da Síria contra alvos nas Colinas de Golã, território sírio ocupado por Israel. As autoridades israelenses condenaram o ataque com armas químicas e apoiam uma ação militar internacional: - O nosso é um dedo responsável que, se necessário, estará no gatilho, disse o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Mas Israel sabe que um ataque internacional à Síria pode repetir a situação da Guerra do Golfo, em 1991. Na ocasião, o Iraque atacou Tel Aviv com mísseis Scud em uma tentativa de arrastar Israel para o conflito. Líbano: O chanceler libanês Adana Mansour não apoia a ideia de um ataque à Síria: - Não acho que essa ação serviria à paz, à estabilidade e a segurança na região. Algumas circunstâncias fazem entender a posição libanesa.Dois ataques à bomba ligados ao conflito sírio mataram quase 60 pessoas no Líbano só este mês. O Hezbollah, que é muçulmano xiita, se colocou abertamente ao lado do Ditador Assad, que é muçulmano alauita, um ramo

Síria, 2013: Crianças assassinadas com armas químicas.

Vietnã, 1972: Crianças atacadas com Napalm.

do xiismo. E há grupos sunitas libaneses apoiando os rebeldes sírios, em sua maioria sunitas. O Líbano já recebeu milhares de refugiados sírios e é o país do Oriente Médio mais procurado por quem foge da Morte na Síria em guerra. Irã: A República Islâmica do Irã de orientação xiita - tem sido o maior apoiador do regime de exceção sírio na região. O chanceler Abbas Araqchi iraniano alertou uma alta autoridade da ONU em visita a Teerã das “sérias consequências” de qualquer ação militar contra a Síria. Fora do Oriente Médio: Estados Unidos da América: Após o silêncio inicial sobre os ataques químicos, os norte-americanos subiram o tom. O secretário de Estado, John Kerry, disse que o uso de armas químicas pelo regime sírio era “inegável” e uma “obscenidade moral”. O Secretário de Defesa dos EUA diz que tropas americanas estão prontas para ação. E Washington aumentou a presença militar naval no Mediterrâneo, alimentando os rumores de um ataque iminente a partir de uma base naval com mísseis apontados para instalações militares sírias. Inglaterra: Principais aliados dos americanos, os ingleses já organizam um plano militar de contingência, segundo o gabinete do primeiro-ministro David Cameron. Qualquer ação será “proporcional”, “dentro da lei” e seguirá o que for decidido pelos aliados internacionais, disse Cameron. O chanceler William Hague disse que a pressão diplomática sobre a Síria fracassou e que a Inglaterra, “os Estados Unidos e muitos outros países, incluindo a França, estão certos de que não podemos aceitar no século XXI a ideia de que armas químicas possam ser usadas com impunidade”. França: Um dia após a veiculação das imagens do ataque químico que matou as crianças sírias, o chanceler Laurent Fabius pediu uma “reação de força” ao se comprovar o uso de tais armas. A França foi o primeiro país ocidental a reconhecer o principal grupo rebelde como representante legítimo do povo sírio. E com a Inglaterra pressiona a União Europeia para que levante o embargo de armas à Síria e permita o envio de armamentos aos rebeldes. Rússia: A Rússia é o mais importante aliado do Ditador Assad. Toda iniciativa contra a Síria no Conselho de Segurança da ONU será vetada pelos russos. Moscou se diz contra qualquer possibilidade de ataque internacional, e que decisões tomadas fora do Conselho de Segurança poderiam ter “consequências catastróficas para outros países do Oriente Médio e do norte da África”. Putin, que ocupa a presidência russa a três mandados, já avisou que retaliará atacando a Arábia Saudita, o maior aliado dos Estados Unidos na região - o que incendiaria além dos poços de petróleo dos xeiques milionários todo o Oriente Médio. China: A China se juntou à Rússia bloqueando as resoluções contrárias à Síria no Conselho de Segurança. Também se declarou contra um ataque internacional contra o Ditador Asaad. E qual a posição do Brasil? Brasil: O Brasil desde o início procurou se manter afastado da crise síria, sendo criticado pela retórica habilidosa - sempre usada pelo Itamaraty – e, no caso da Síria, a favor de uma solução diplomática para o conflito, nos momentos em que países ocidentais foram começando a pedir uma posição mais contundente. Só depois do ataque químico que matou as crianças sírias, o Itamaraty emitiu uma nota dizendo que “o ataque perpetrado nos arredores de Damasco (...) constituiu ato hediondo, que chama a atenção da comunidade internacional para a necessidade de esforços concentrados”. Mas, apesar do tom mais duro, o Brasil ainda “reitera sua posição de que não existe solução militar para o conflito e recorda seu apoio à convocação de uma conferência internacional sobre a situação síria”. Será o jeitinho brasileiro uma maneira segura de se equilibrar no Fio da Navalha? Continuamos, sim, em cima do muro.


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