SIM 116 VICENTE CECIM
Vida peregrina (II)
Seneca por Peter Paul Rubens
Hรก acontecimentos que nรฃo podemos mudar mas podemos mudar nossa maneira de lidar com eles. SENECA
Na Sim do domingo passado vimos uma das vias indicada pelo Oriente para, a partir de uma profunda compreensão da Vida, equilibrarmos nossa balança emocional: o Caminho do Meio, que Nagarjuna concebeu a partir dos ensinamentos de Buda. Se a via indicada por ele foi metafísica, a que no Ocidente o filósofo estoico Sêneca recomendava era essencialmente prática. Abranger toda a filosofia estoica aqui, é impossível. Mas posso tentar uma síntese – Sêneca recomendava a Vida Simples. E Sêneca praticava o que dizia: apesar de rico, só bebida água, comia pouco e dormia em um leito duro. Mas abriu sua vida privada para a vida pública e – ah – se tornou político. Foi senador quando Calígula era o imperador de Roma. Sobreviveu. Veio César, e também passou. Sobreviveu. Mas não sobreviveu às alucinações de Nero, que primeiro o mandou para o exílio e depois o condenou a se suicidar. O que Sêneca fez – momento em que lhe terá sido mais útil a filosofia estoica – praticando outro fundamento dela: a resignação.
Sêneca: Sobre a tranquilidade da alma Devemos considerar primeiramente a nós mesmos, depois as tarefas que queremos empreender, depois os homens para os quais ou com os quais teremos de trabalhar. Antes de tudo, é indispensável uma pessoa avaliar a si mesma, pois na maioria das vezes exageramos nossas capacidades. Um cairá por ter presumido demais de sua eloquência, outro quer tirar de seu patrimônio mais do que este pode render, um terceiro esgota seu corpo débil em labores extenuantes. Há também os não sabem dominar sua cólera e explodem com palavras imprudentes ao menor mau humor, outros, enfim, são incapazes de reprimir sua veia e deixam-se levar contra sua vontade a prazeres perigosos: para todos estes, o repouso é preferível à atividade. Um caráter ardente e indócil deve evitar tudo que possa instigá-lo a uma independência perigosa. (...) Devemos examinar se nossas disposições naturais nos tornam mais aptos à ação ou aos trabalhos sedentários e à contemplação pura, e inclinar-nos para o lado que nosso gênio nos conduz. Jamais um talento que se força produz o que se esperava, e forçar a natureza é sempre inútil. (...) Devemos avaliar nossas próprias empresas e colocar na balança nossas forças e nossos projetos. Com efeito, devemos sentir-nos sempre superiores à tarefa que realizamos: um fardo desproporcionado só pode esmagar quem o carrega. De outro lado, há ocupações que, sem terem muita importância, estão cheias de mil complicações: deve-se evitálas por causa dos apuros sem fim, aos quais elas darão origem. Não nos aventuremos jamais a um negócio em que poderíamos correr o risco de ficar sem saída: aceitemos aqueles nos quais estamos seguros, ou que pelo menos temos esperanças de terminar. Deve-se finalmente escolher com cuidado os homens: ver se eles merecem que lhes consagremos uma parte de nossa existência e se são gratos ao sacrifício de tempo que lhes fazemos; pois há os que chegam a considerar os serviços que lhes prestamos como um benefício para nós mesmos. (...) Figuremonos como se suporta mais facilmente não possuir do que perder; e perceberemos que a pobreza tem muito menos tormentos a temer e muito menos riscos a correr. Pois é um erro pensar que os ricos aceitam mais corajosamente suas penas: que o corpo seja grande ou pequeno, as feridas lhe são igualmente dolorosas. (...) Habituemo-nos a ter o luxo à distância e a fazer uso da utilidade dos objetos e não de sua sedução exterior. Comamos para matar a fome, bebamos para apagar a sede e reduzamos ao necessário à satisfação de nossos desejos. Aprendamos a andar com nossas pernas, a regular nosso vestuário e nossa alimentação, não sobre a moda do dia, mas sobre o
exemplo dos antigos. Aprendamos a cultivar em nós a sobriedade e a moderar nosso amor ao fausto; a reprimir nossa vaidade, a dominar nossas cóleras, a considerar a pobreza com um olhar calmo, a considerar a frugalidade, apesar de todos aqueles que acharão aviltante satisfazer tão modestamente a seus desejos naturais; a não ter nas mãos, por assim dizer, as ambições desenfreadas de uma alma sempre inclinada para o dia seguinte e a esperar a riqueza menos da sorte do que de nós mesmos.
Vicente Franz Cecim parecem homens Cortaram árvores para ter onde sentar E agora, da areia olham as Águas até o horizonte Querem ver o que há depois da última estrela Sentem o roçar de mãos Antigas se desfazendo parecem tristes Estão aí Calados
Cada um ouvindo
em Si sua Concha de Silêncio, sua Areia dos Rumores
Sentem a Falta de alguma coisa, já não lembram o que é
EPORQUENÃO?