Avaliação Biomecânica Funcional da Dor Crônica Músculo-esquelética

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Avaliação Biomecânica Funcional da Dor Crônica Músculo-esquelética

978-85-7241-625-2

Maciel Murari Fernandes

Yang 11.p65

Lin Tchia Yeng

Para ser funcional em um mundo com significativas forças gravitacionais, o corpo adaptou-se integrando os suportes estático e dinâmico, permitindo manter a posição vertical relativamente sem esforço. Porém, um número cada vez maior de pessoas apresenta, em seu cotidiano, atividades repetitivas e restritivas, que conduzem a uma perda do sinergismo muscular com predisposição para lesões e/ou deformidades progressivas do sistema músculo-esquelético. O fisioterapeuta, em seu planejamento terapêutico, poderá inter-relacionar os dados colhidos na avaliação funcional e com isso optar por técnicas mais eficazes para atingir seus objetivos. Para isso, a avaliação deve incluir uma investigação minuciosa de toda a rotina do paciente, seja ele um atleta, praticante de atividade física, músico, artesão, digitador, pedreiro, etc. Esse tipo de investigação requer conhecimento biomecânico das atividades avaliadas, pois cada uma delas terá padrão de movimento próprio e aferir a qualidade passa necessariamente pela detecção do que é lesivo no movimento executado pelo paciente. As funções no cotidiano deveriam ser executadas por um corpo que se organiza de forma satisfatória para tal, mas não é isso que encontramos nos doentes crônicos. Ao contrário, o doente geralmente está imbuído de hábitos e padrões que alimentam sua dor, sem se dar conta do fato. Apesar de ter recebido uma série de tratamentos ao longo dos anos, é incapaz, na maioria das vezes, de identificar fatores que pioram sua dor e não traz consigo informações consistentes sobre o funcionamento de seu corpo, o que o torna vulnerável, repetindo gestos inconsistentes e lesivos, sem elementos suficientes para identificá-los. A avaliação fisioterapêutica, dentro de uma equipe multiprofissional, deve considerar a avaliação realizada pelos membros da equipe e com isso acrescentar dados pertinentes a sua especialidade. No Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), a fisioterapia é uma das especialidades, dentre várias, o que nos proporciona acesso à avaliação de outras áreas. A investigação é conduzida com propósitos específicos, pois nosso objetivo é somar e não ser redundante. A prioridade para a fisioterapia é conseguir dados relevantes e detalhados sobre as funções exercidas pelos doentes e relacioná-las com a perpetuação da dor. Para que as funções sejam exercidas de forma adequada, o indivíduo deve ter um bom desempenho bio-

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mecânico, o que exige alinhamento articular, amplitude de movimento, força, resistência, propriocepção, percepção corporal e vivência corporal, nas funções às quais o corpo é submetido. A avaliação biomecânica funcional baseia-se exatamente na investigação e no estudo desse desempenho biomecânico e do que pode comprometê-lo. Partindo do que consideramos fisiológico, podemos realizar uma avaliação coerente, com informações relevantes. Iniciamos nossa avaliação considerando os resultados obtidos nas avaliações da equipe médica e focamos então na coleta de informações quanto aos locais de dor, escala verbal da dor, freqüência, padrão e estruturas envolvidas. O próximo passo consiste em identificar todas as rotinas que envolvem o cotidiano do doente e como as realiza. O alinhamento postural é investigado juntamente com o sistema músculo-esquelético para acrescentar dados que possam elucidar fatores perpetuantes da dor. É necessário relacionar todas as informações para determinar o planejamento cinesioterapêutico.

Modelo de Avaliação Biomecânica Funcional* Discriminar Todos os Locais de Dor Quando averiguamos os locais de dor de forma discriminativa, conseguimos saber mais detalhes sobre a importância e o comportamento da dor em cada região acometida. O doente será questionado sobre as informações colhidas nesse tópico a cada semana, para conseguirmos constatar se a conduta escolhida para o tratamento está coerente. • Local da dor: discriminar as regiões e investigar os dados relacionados a seguir para cada uma delas. • Escala verbal analógica (EVA): 0 = sem dor; 10 = máximo de dor. • Freqüência: diária; quantas vezes por semana, mês ou ano.

* Aplicada no Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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