Efeito agudo da corrida no tempo de relaxamento da cartilagem articular e meniscos de jovens

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Efeito agudo da corrida no tempo de relaxamento da cartilagem articular do joelho e meniscos de adultos jovens na ressonância magnética Biomecanicamente, a cartilagem pode ser vista como um tecido capaz de absorver choques intra-articulares provenientes de cargas fisiológicas, transferir cargas ao osso subcondral e reduzir o atrito em articulações. A ênfase no incentivo das atividades físicas, assim como a crescente participação de individuos de todas as faixas etárias nos esportes, tem sido associadas ao aumento da incidência de lesões deste tecido. Esportes de alto impacto envolvendo cargas repetitivas nas articulações, foram relatados como um fator de risco para o desenvolvimento da osteoartrose de etiologia mecânica nos quadris e joelhos. Nos últimos anos, na tentativa de melhor compreender a resposta aguda das solicitações mecânicas fisiológicas e do exercício na cartilagem dos joelhos de indivíduos jovens e saúdaveis in vivo, foram desenvolvidas novas técnicas quantitativas de ressonância magnética ( relaxamento T1ρ e T2) demostrando grande sensibilidade e potencial de avaliação não invasiva dos biomarcadores deste tecido, tais como alterações na integridade estrutural e conteúdo das proteoglicanas (PG), da matriz do colágeno e do conteúdo de água. Desta forma, o tempo de relaxamento nos permite a avaliação da organização ou desestruturação destes componentes frente as demandas mecânicas, assim como o tempo necessário para a cartilagem retornar ao seu estado de equilibrio. Neste sentido, Richard B. Souza et al conduziram um estudo com o objetivo de mensurar por ressonância magnética, as mudanças a curto prazo no T1ρ e tempo de relaxamento de T2 da cartilagem articular dos joelhos e meniscos de indivíduos saudáveis, imediatamente após 30 minutos de corrida. Foram recrutados 20 indivíduos, na faixa etária de 22 a 35 anos e os critérios de inclusão foram ausência de: quadro doloroso, disfunção articular, rigidez, trauma ou cirurgia prévia nos joelhos, assim como nenhuma contra-indicação para a realização da ressonância. Os participantes foram submetidos a um período de repouso de 30 minutos anterior a realização da ressonância pré corrida, seguido de 30 minutos de corrida em esteira, com velocidade média de 6,7 milhas por hora (mph), mantendo uma freqüência de passos média de 82,8 passos / min. Nova ressonância nuclear magnética foi realizada imediatamente após os 30 minutos de corrida.


As regiões de interesse de estudo da cartilagem do joelho foram os compartimentos lateral ( Fig. A - regiões patelofemoral, central e posterior do côndilo femoral lateral e seu respectivo platô tibial) e medial ( Fig. B - regiões central e posterior do côndilo femoral medial e platô tibial medial).

Ao final do estudo, os dados coletados revelaram uma diminuição estatisticamente significativa nos tempos de T1ρ na cartilagem articular do joelho pós corrida. A análise regional mostrou redução significativa nos valores T1ρ variando de 4,1% a 14,3% em todas as regiões, com exceção do platô tibial lateral. O platô tíbial medial mostrou a maior redução (14,3%), seguindo-se a tróclea (13,5%) e região da cartilagem patelar (11,7%). Análise dos tempos de relaxamento de T2 regional mostrou redução na mesma ordem, mas não alcançou significância em regiões do platô tíbial e patelar no compartimento lateral. Quando reunidos os dados, a região patelo-femoral mostrou a maior redução na T1ρ e T2 seguido pelos compartimento medial e por último, compartimento lateral da articulação tibiofemoral. Estes dados vem de encontro quando nos remetemos ao conhecimento da fisiologia, onde a distribuição de cargas que transitam pelos côndilos femorais e platôs tibiais é distinta, sendo o compartimento lateral muito mais, um transferidor de forças e cargas do que o compartimento medial, sendo esta, uma região de maior fluxo e contato de cargas. Valores maiores ΔT1ρ e ΔT2 foram observados no compartimento patelo-femoral, indicando que uma maior tração e compressão da patela durante a corrida resulta em menor hidratação do tecido cartilagenoso. Estes resultados são apoiados também por um estudo conduzido por Eckstein et al, que demonstrou que a cartilagem patelar deforma mais sob cargas de alto impacto. Uma vez que menos hidratado o tecido, menor sua capacidade de responder de maneira adequada a solicitação mecânica a qual se propoem, podendo desencadear quadros degenerativos precoces. Quando analisado as regiões centrais da cartilagem do fêmur, versus as regiões posteriores, a maior redução nos tempos de relaxamento após a corrida ocorreu nas regiões centrais (10,1% vs 4,5% para T1ρ; 6,5% vs 2,6% para T2). Estudo semelhante apontou uma redução de 40% no relaxamento em T2 nesta região após corrida. Em relação aos meniscos, uma diminuição significativa nos valores T1ρ foi observado nas


regiões anterior e posterior do corno do menisco medial (9,7% e 11,4% respectivamente). Quando agrupados os dados em meniscos medial e lateral, o menisco medial mostrou significativamente menor T1ρ após a corrida em comparação com a medição da linha de base. Quanto a análise em relação a espessura da cartilagem pré e pós corrida, não foi observada diferenças significativas neste estudo. A diminuição significativa nos tempos de relaxamento T1ρ e T2 indica a alteração na composição da cartilagem após a corrida, devido ao fato desta prática esportiva conduzir a alterações na estrutura da matriz do colágeno (deformação e alteração da orientação de suas fibras) e composição (expulsão de moléculas de água dentro da matriz). Tem sido demonstrado na literatura, que o tempo de relaxamento T1ρ está correlacionado negativamente com o teor proteoglicanas. Redução de T1ρ após a corrida deste estudo, provavelmente indica um aumento relativo na concentração de proteoglicanas, devido à perda de água e de deformação, em vez de um aumento real no conteúdo deste componente. É sabido que a distribuição de cargas na cartilagem de uma articulação não é uniforme, tanto do ponto de vista de localização, quanto em relação a profundidade, o que estabelece também uma proporção de deformação distinta entre as camadas do tecido e consequentemente dos tempos de relaxamento. Mosher TJ, Rubenstein JD et. al em seus estudos sobre amostras de cartilagem e articulações de cadáveres intactos, observaram que as alterações iniciais ocorrem na camada superficial. Estes estudos sugerem que a camada superficial da cartilagem terão uma deformação maior (mais deslocamento de água e maior desorientação das fibras de colágeno, resultando em valores mais curtos T1ρ e T2) do que a camada profunda, sob cargas de compressão. Conclui-se então, que o estresse mecânico produzido na prática da corrida resulta em alterações agudas nos biomarcadores da cartilagem articular e meniscos ( colágeno e proteoglicanas) demonstrado por tempos de relaxamento mais curtos da cartilagem (T1ρ e T2) em todas as regiões após a corrida. Tais alterações antecedem as morfológicas, observadas em fases avançadas de degeneração condral. Dessa forma, a avaliação dos biomarcadores da cartilagem articular pode se tornar uma ferramenta útil na detecção de quadros iniciais de lesões.

Ft. Patricia Pellegrini Nomoto/ Ft. Maciel Murari Fernandes

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