A Estabilidade da Coluna Vertebral A estabilidade da coluna vertebral deve estar presente em todo e qualquer movimento corporal. Até mesmo o exercício de extensão de tronco, propostos para fortalecer os músculos do tronco (fig. 1), pode comprometer a estabilidade Coluna Vertebral. Para compreender melhor isto, é preciso rever a fisiologia e a influência dos segmentos articulares envolvidos na execução deste exercício. Os segmentos articulares da coluna estão suspensos pelos ilíacos, portanto todo e qualquer movimento realizado por essa estrutura (*anteversão, *retroversão) influenciará na estabilidade da mesma. Só é possível obter estabilidade quando o movimento da pelve e da coluna estão em uma *relação associada.
Fig.1 Para se obter uma relação associada é necessário que a pelve esteja na posição *neutra e a *coluna com as suas curvaturas dentro dos parâmetros pré-‐ determinados pela fisiologia. Sabemos que nem todo mundo apresenta os parâmetros ideais para manter a estabilidade tão necessária para o bom desempenho das atividades corporais. Portanto o ganho desta estabilidade deve ser o foco inicial de todo e qualquer treinamento e/ou tratamento. Além da relação associada entre as estruturas articulares, o desenvolvimento da estabilidade é dependente da conexão entre músculos do tronco e a fáscia que os envolve. Estudos O estudo realizado por Richardson et al. em 2002, demonstrou que a ativação do músculo transverso abdominal, combinada com a ativação dos multífidos aumenta a estabilidade articular entre o sacro e os ilíacos. Esses músculos pertencem à camada média da fáscia tóraco-‐lombar; o transverso abdominal é o único que mantêm continuidade com o multífidos e tem direção
de força horizontal, ligando a coluna ao abdômen(fig. 2). Pela orientação horizontal das suas fibras musculares inseridas no processo transverso das vertebras junto aos multífidos, a contração dele promove aumento de apoio facetário nas vertebras. Assim, proporciona maior estabilidade da coluna como um todo.
Fig. 2 Outro estudo interessante foi o realizado por Vleeming et al., que simularam a contração do paravertebral e transverso abdominal isolados, e depois simularam a contração associada do transverso abdominal com o paravertebral. O objetivo do estudo foi verificar qual seria a influência dessas ativações na estabilidade do tronco. Foi visto que quando ativados de forma associada havia uma contração maior do paravertebral na direção medial melhorando a estabilidade do segmento articular; porém durante a ativação separada do transverso abdominal ocorria um deslocamento lateral da musculatura paravertebral, e um deslocamento posterior durante a simulação isolada da contração do paravertebral Portanto, o equilíbrio antêro-‐posterior necessita da co-‐ativação dos músculos posteriores do tronco e do transverso abdominal. O equilíbrio do tronco é dependente desta co-‐ativação e esta só ocorre porque a fáscia tóraco-‐lombar conecta os músculos anteriores e posteriores do tronco à coluna lombo-‐sacral, permitindo que esses músculos possam transmitir as tensões de maneira organizada, promovendo estabilidade e eliminando possíveis padrões de movimentos lesivos. A Fáscia Toraco-‐lombar A fáscia tóraco-‐lombar é dividida em três camadas que envolvem os músculos em profundidades diferentes. A fascia superficial envolve o grande dorsal ao sacro, no sacro se conecta ao glúteo máximo. Esta fascia além de promover estabilidade da região lombo-‐ sacral, contribui para a transmissão de tensão cruzada entre o tronco e o membro inferior, sendo portanto a lâmina que envolve os músculos responsáveis pelos movimentos dinâmicos (fig. 3).
Fig. 3 Já a fascia profunda envolve o paravertebral ao glúteo médio e apresenta extensões fibrosas para o sacro para formar o ligamento sacrotuberal. Este mantêm continuidade com os músculos posteriores da coxa para assim contribuir com a transmissão de tensão. Esta parte da fascia está envolvida no controle posterior estático (fig. 4).
Fig. 4 Esta breve descrição dos músculos que envolvem o tronco como um todo e o mesmo aos membros inferiores, nos dá suporte para entender a via pela qual a estabilidade acontece. Pois este tecido fascial permite comunicação entre os músculos tornando possível a transmissão de tensão necessária para que a estabilidade aconteça.
Se aplicarmos estas informações escolhendo exercícios que acionem esses músculos de maneira estabilizadora, a estabilidade será uma consequência direta. Porém se negligenciarmos essas informações ou utilizá-‐las para potencializar treinos sem respeitar os parâmetros fisiológicos das articulações envolvidas no movimento, podemos potencializar mecanismos lesivos. A fáscia não tem capacidade de limitar movimentos, ela atua apenas transmitindo as tensões geradas pelos músculos, potencializando a força muscular e a deformação dos tecidos. Podemos ver essas informações aplicadas no movimento de extensão de tronco (descrito acima). Nele a força muscular pode ser desenvolvida sem respeitar a estabilidade; durante o movimento a coluna aumenta o apoio nas articulações facetárias com uma pelve mantida em retroversão, aumentando a instabilidade e risco de lesões. Entretanto, podemos trabalhar os extensores de tronco mantendo a estabilidade, por exemplo, se realizarmos o movimento de agachamento unilateral com os membros superiores segurando um cabo (fig 5). O cabo causará instabilidade por puxar o tronco para frente, mas os extensores de tronco serão acionados para reagir a esse desequilíbrio, e manterão o tronco na posição ereta, enquanto o indivíduo realiza um movimento com os membros inferiores.
Fig. 5
Realizar exercícios funcionais como o descrito acima pode proporcionar ganhos na almejada estabilidade da coluna. Referências: 1-‐ Vleeming, A.; Schuenke, M. D. et al. The Functional coupling of the deep abdominal and paraspinal muscles: the effects of simulated paraspinal muscle contraction on force transfer to the middle and posterior layer of the thoracolumbar fascia. J. Anat. 225: 447-‐462, 2014. 2-‐ Richardson, Carolyn A; Snijder, Chris J. et al. The relation between the transversus abdominis muscles, sacroiliac joint mechanics, and low back pain. Spine 27 (4): 399-‐405, 2002.
*1-‐ Associada: relação que em o movimento do tronco e da pelve ocorrem respeitando as características fisiológica de cada um. *2-‐ Anteversão da pelve: inclinação anterior do quadril; Retroversão inclinação posterior do quadril. *3-‐ Posição Neutra da pelve: a pelve é considerada neutra quando a espinha Ilíaca ântero-‐ superior (EIAS) encontra-‐se na mesma linha que a espinha ilíaca póstero-‐inferior (EIPI); *4-‐Coluna Parâmetros fisiológicos: os ângulos esperados para uma curvatura normal são: c 35º cervical; 40º Dorsal ou torácica; 45º lombar e base do sacro 30-‐34º.