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Economia circular? O que temos a ver com isso?
Há dias, num workshop sobre economia circular para uma plateia ligada à Indústria de Moldes e Plásticos, pedi para que a audiência definisse, em poucas palavras, o que entende por economia circular. Eis algumas das respostas obtidas: valorizar; circular as matérias-primas; considerar todo ciclo de vida dos produtos; reduzir o desperdício; sustentabilidade; reutilizar; produção e reprodução sem impacto; responsabilidade; introduzir resíduos no processo.
Todos os contributos podem ser aportados à adaptação a uma economia circular. Contudo, economia circular é mais que reduzir o impacto ambiental, reduzir o desperdício ou incorporar esse desperdício na produção. Economia circular é um modelo de negócio.
O modelo de negócio de economia linear é aquele em que fazemos a extração das matérias-primas, produzimos, usamos e descartamos. Nos anos 90 começou a dar-se importância económica e ambiental à reciclagem, e paulatinamente foram sendo desenvolvidos modelos de negócio assentes na economia da reciclagem. É neste contexto que surgem as entidades gestoras de resíduos, recolhendo o produto que foi usado e reintroduzindo os materiais na produção de novos produtos.
O modelo de negócio de economia circular exige um pouco mais. Obviamente necessita-se de ir buscar alguma matéria-prima à natureza e proceder à produção de produtos que sejam úteis à sociedade. No entanto, a produção e utilização desses produtos deve permitir a sua reparação, devolução, reutilização e reciclagem. Para tal, o modelo de negócio tem de o permitir.
Tome-se como exemplo o modelo de negócio de carrinhos de bebé. Este produto é produzido com uma série de componentes e materiais diferentes. Têm todos uma cadeia logística bem definida. Tipicamente é um produto com alguma modularidade e permite algum grau de manutenção. O carrinho é vendido e é usado durante um a dois anos. Depois é, eventualmente, guardado para um futuro bebé. Como seria um modelo de negócio circular deste produto? Seria com certeza um modelo em que, em vez de se vender o carro, era feito o seu aluguer. Aqui, enquanto promotores do modelo de negócio, teríamos o primeiro desafio: quanto estaria disposto o cliente a pagar pelo aluguer? 10 euros/mês? E esse valor seria suficiente para tornar o negócio viável? Segundo desafio: como desenvolver um produto que possa ser utilizado sucessivamente, que permita ser mantido e reparado se necessário? Como clientes, por certo não estamos dispostos a alugar um carrinho riscado ou danificado. Terceiro desafio (mas que provavelmente deveria ser logo o primeiro): como definiríamos a nossa organização interna e cadeia logística para este modelo de negócio? Será que produzir em massa, longe do mercado, continua a ser a melhor opção? Estará a empresa consciente das implicações organizativas, logísticas, e de design de produto e serviços que é necessário adotar?
Voltando ao workshop, pedi à plateia para, de forma anónima, indicar em poucas palavras o que, na sua opinião, impede a sua empresa de transitar para uma economia circular. Algumas das respostas: a pouca recetividade do mercado; dispersão da cadeia de valor; matéria-prima reciclada insuficiente; repensar logística; falta de know-how; processo de recolha do produto; duração do ciclo de vida do produto; requisitos funcionais e durabilidade; pouca abertura do mercado; concorrência vs. legislação; estrutura organizacional; design do produto definido pelo cliente; processos complexos; custos operacionais; o atual modelo de negócio; mindset.
Efetivamente a transição e adoção de um modelo de negócio assente em economia circular não é responsabilidade de uma só entidade. É uma responsabilidade conjunta, da indústria, dos consumidores e dos governos.
Continue a ler este artigo na versão digital da revista MOLDE, disponível em www.cefamol.pt.
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Victor Neto | Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro