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História
Naquela quadra, a Rua Almeida de Moraes é tranquila, cercada de casas residenciais. Há 85 anos, deveria ser ainda mais especial. Era a noite de 22 de junho de 1937, quando no porão da residência de José Francisco de Carvalho, número 88, ele e outros 14 Irmãos deram início aos trabalhos de uma nova Loja Maçônica1. O grupo adotou uma ritualística ainda não praticada na região, o Rito Moderno ou Francês. O Rito Moderno surgiu em 1761 e reconhecido pelo Grande Oriente da França em 1773. Duas importantes características marcam esse Rito. A primeira, ele se compõe, atualmente, de nove graus, diferente do Escocês, com maior número (33). A segunda, a liberdade de expressão e religiosa são regras fundamentais2 .
No Rito Moderno são considerados nove graus
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O Rito rapidamente ganhou aceitação na França e em suas colônias, além de outros países europeus. Também conquistou a Maçonaria latino-americana, incluindo o Brasil. Em 1822, com a criação do Grande Oriente do Brasil, o Rito Moderno foi adotado3 .
Mas, em Santos, era a primeira vez que ele seria a base de uma Loja. Na verdade, a história dessa Loja tão especial envolve outras duas instituições tradicionais na Maçonaria de Santos, a D. Pedro I e a Hiram Abif. Fundada em 19 de abril de 1924, a D.Pedro I era subordinada às Grandes Lojas do Estado de São Paulo4 . Em 1932, o Venerável da Loja era José Ferreira Júnior, que veio a falecer no mesmo ano. Nesse momento, os Irmãos não chegaram a um acordo para a escolha do Venerável e para a permanência da D.Pedro I nas Grandes Lojas de São Paulo. Pela primeira vez, a Loja ficou sem liderança5 . Muitos Irmãos optaram por sair da D.Pedro I, entre eles, Evaristo Gonçalves Lage e José Barbosa Leite, que se voltaram para a Hiram Abif, jurisdicionada ao Grande Oriente do Estado de São Paulo6 .
1 CAMARGO, Irmão Edison Leite. A História da Loja. A.R.L.S “Estrela de Santos” – Edição Comemorativa de 70 Anos, p.09-10, 2007. 2 FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. São Paulo: Pensamento, 1974. 3 Ibid. 4 PRESTES, Renato Soares. Tudo começou assim. A Estrela de Santos – Órgão Informativo da Aug.Resp.Benf. e Gr. Benf.Loj.Maç. “Estrela de Santos”, a.I, n.00, p.04-06, novembro de 1996. 5 D´AMICO, Mário. Tudo começou assim. A Estrela de Santos – Órgão Informativo da Aug.Resp.Benf. e Gr. Benf.Loj.Maç. “Estrela de Santos”, a.I, n.00, p.04-06, novembro de 1996. 6 Ibid.
Da Hiram Abif, também faziam parte José D´Áurea, João Salgado Ochogovias, Manuel Feliz, Adriano Fachada, Arthur Rodrigues Novaes, Domingues Sierra, José Francisco Carvalho, Valentim José Pereira, Manoel Diegues, Casemiro Monteiro e Antônio Marques Coelho. Igualmente, Irmãos de outras Lojas frequentavam a Hiram Abif: Guido Fracaroli de Lamberti (Roma II - Belo Horizonte); Paulo Fernandes de Gasgon (União Paulista – São Paulo); Egberto da Rocha Araújo (Estrela D’Oeste – Ribeirão Preto) e José Pelicano (União e Trabalho – Viradouro)7 . Este grupo de Irmãos e os dois que vieram da D.Pedro I decidiram fundar outra Loja Maçônica na Cidade. Uma primeira reunião aconteceu no começo de junho, no dia 08 de 1937.
7 D´AMICO, Mário. Tudo começou assim. A Estrela de Santos – Órgão Informativo da Aug.Resp.Benf. e Gr. Benf.Loj.Maç. “Estrela de Santos”, a.I, n.00, p.04-06, novembro de 1996.
Do encontro, realizado no escritório de Manoel Diegues, participaram 15 Irmãos:
José Barbosa Leite; José D´Aurea; Valentim José Pereira; Casemiro Monteiro; Evaristo Gonçalves Lage; Guido Fracaroli Lambert; José Pelicano; Antônio Marques Coelho; José Galante; José Francisco de Carvalho; Domingos Sierra; João Salgado Ochogavias; Adriano Fachada; Manoel Diegue e Arthur Rodrigues Novaes8 .
“Quando se pretende fundar uma Loja Maçônica, alguma Instituição Maçônica, isso não é feito em um templo. As pessoas se reúnem em um determinado local para começar os trâmites, as primeiras tratativas. No caso da Estrela, o primeiro encontro dos irmãos para estabelecer a Loja, aconteceu no escritório de um irmão”9 .
Novo encontro, no mesmo escritório do Irmão Diegues, à Rua Brás Cubas, 389, em 22 de junho. O Irmão Egberto da Rocha Araújo participava pela primeira vez e sugeriu o nome para a Loja: Estrela de Santos. Sendo aprovado por todos, à noite dessa data, a Estrela começa a brilhar, em sua reunião oficial de trabalho, sob a direção do Irmão Guido Fracaroli Lambert.10 .
8 PRESTES, Irmão Renato. História da Fundação da Loja Estrela de Santos. A.R.L.S “Estrela de Santos” – Edição Comemorativa de 75º Aniversário, p.9, 2012. 9 CYRILLO, Helder. Estrela. Entrevista concedida à autora, em março de 2022. 10 Ibid.
Nessa sessão inicial, foi eleita a Diretoria Provisória:
Paulo Fernando Gasgon Venerável Mestre José D´Aurea 1º Vigilante Casemiro Monteiro 2º Vigilante Antônio Marques Coelho Orador José Barbosa Leite Secretário Arthur Rodrigues Novaes Tesoureiro Guido Fracaroli Lambert Chanceler Evaristo Gonçalves Lage Hospitaleiro Adriano Fachada Mestre de Cerimônias Manoel Felix 1º Experto Valentim José Pereira 2º Experto Domingos Sierra 3º Experto José Galante 1º Diácono Egberto da Rocha Araújo 2º Diácono José Francisco de Carvalho Porta Espada João Salgado Ochogavias Porta Estandarte José Pelicano Cobridor Manoel Diegues Arquiteto
Embora não tenham participado da primeira reunião, os Irmãos Egberto da Rocha Araújo e Manoel Felix são considerados fundadores da Loja Maçônica Estrela de Santos.
Atualmente com 95 anos, o Irmão Carlos Frigério comentou o nome da Loja:
“Estrela. Só podia ser esse o nome escolhido para uma outra estrela, nossa Cidade de Santos”11 .
A segunda sessão de trabalho acontece no porão da casa do Irmão José Francisco de Carvalho, à Rua Almeida de Moraes, 88. A Loja Estrela começa a ser, literalmente, estruturada. O altar e seus pertences foram doados pelo dono da casa; as mesas dos Vigilantes, por José Pelicano; bancos e cinco mesas vieram através das doações de Manoel Diegues e Egberto da Rocha de Araújo; as duas colunas, ofertadas por Antônio Marques Coelho e Adriano Fachada; José D´Áurea contribuiu com os fitões e joias simbólicas; 24 cadeiras vieram da parte de Domingos Sierra e João Salgado Ochogovias; outras 24 cadeiras foram doadas por Casemiro Monteiro e Valentim José Pereira; as espadas, por Arthur Rodrigues Novaes12 . O prumo, o nível, a régua; uma estante e um armário para a secretaria foram doados por José Galante; Egberto da Rocha Araújo, Antônio Marques e Valentim José Pereira doaram vários livros. Evaristo Gonçalves Lage doou uma quantia em dinheiro para demais despesas. A redação do Regimento Interno ficou por conta dos Irmãos Antônio Marques Coelho, José Pelicano, Valentim José Pereira e Paulo Fernandes de Gasgon. Muito bem. A Augusta e Respeitável Loja Simbólica Estrela de Santos passa a existir. Até 13 de outubro daquele ano, as reuniões aconteceram, todas as semanas, na residência de José Francisco de Carvalho. Só que era abusar demais da paciência da Cunhada . Assim, os irmãos, já em setembro, começaram a procurar um local para sede e uma comissão foi criada com essa finalidade. A Carta Constitutiva é expedida quatro meses depois, em 09 de outubro de 1937. Começa, assim, a busca por um local definitivo para a Estrela. Um lugar especial, onde os Irmãos realmente pudessem ser acolhidos. Porém, o ano de 1937 prepara outra surpresa para os Irmãos. No dia 10 de novembro, Getúlio Vargas implantava o Estado Novo. Entre as instituições sociais que se tornaram “non gratas” ao governo, a Maçonaria era uma das principais. Com isso, “as reuniões maçônicas estavam proibidas em todo o Brasil”13 .
11 FRIGÉRIO, Carlos. Estrela. Entrevista concedida à autora, em março de 2022. 12 D’AMICO, Mario. Tudo começou assim. A Estrela de Santos – Órgão Informativo da Aug.Resp.Benf. e Gr. Benf.Loj.Maç. “Estrela de Santos”, a.I, n.00, p.04-06, novembro de 1996. 13 RAGO, Cesar Augusto Pascali. Ruas de Pedras Polidas. Santos: Bortolamasi, p.50, 2016.
Os Irmãos, em comum acordo, decidiram suspender as reuniões, em especial, para não prejudicar o Irmão Carvalho. Agora, ter uma sede era vital. Um terreno chegou a ser comprado, à Rua Luiz de Camões14, porém, a construção em si nem sequer começou, tendo em vista a situação política do País. Em 6 de julho de 1942, com a liberação de funcionamento das Lojas Maçônicas por parte do governo, a Estrela volta com suas sessões de trabalho. Desta vez, em uma sede provisória, nas dependências cedidas pela Loja D. Pedro I, um sobrado à Rua Martim Afonso, 3815 . Assim, a regularização efetiva da Estrela só aconteceria em 17 de agosto de 194216. Com a sagração do templo realizada, as reuniões no sobrado da D. Pedro I, continuariam até 1955.
A pedra
A construção do templo da Estrela seguiu o caminho do esforço dos Irmãos e de suas famílias. O terreno ideal apareceu. Era na mesma Almeida de Moraes da primeira sessão, porém, no número 13. As obras começaram. Na verdade, o espaço ocupava os números 11 e 13, já prevendo as instalações imponentes que surgiriam e que fariam, do templo da Estrela, um dos mais belos do país.
Falar da Estrela...
...é mergulhar em símbolos vivos e, aqui, não se fala em termos maçônicos, mas sim, seus Obreiros. Os Irmãos que por ela passaram e os que ainda atuam, deixam uma grande parte de sua vida aqui. Talvez, seja a explicação para aquilo que alguns deles, em seus relatos, deixaram passar, em cada palavra e recordação de momentos, o que de melhor traduz o verdadeiro maçom: o respeito e amor pela Casa que o acolheu como filho. Assim, o que se segue é um pouco do que, desde 1937, diversos Irmãos e suas famílias deixaram em cada parte, em cada parede, em cada recordação da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Estrela de Santos.
14 SOARES, Renato. Você sabia... A Estrela de Santos – Órgão Informativo da Aug.Resp.Benf. e Gr. Benf.Loj.Maç. “Estrela de Santos”. 15 Ibid. 16 CAMARGO, Edison Leite. A História da Loja. A.R.L.S “Estrela de Santos” – Edição Comemorativa de 70 Anos, p.09-10, 2007.
Generosidade e compaixão: o primeiro Venerável
Paulo Fernandes de Gasgon. Um homem que trazia na alma a generosidade e a compaixão em servir ao próximo, tão importantes na Maçonaria. A ele foi dada a missão de dirigir os primeiros caminhos da Estrela e seus Irmãos, de 1937 a 1941.
O veneralato de Gasgon ocorre, justamente, no período do Estado Novo (1937-1945). Aparentemente, as lojas maçônicas brasileiras permaneceriam “adormecidas”, termo que indica o afastamento dos trabalhos normais de uma Loja. O Estado Novo se caracterizou por intensa vigilância da sociedade, em uma divisão que polarizava conservadores, intelectuais católicos, integralistas e anticomunistas, de um lado, e progressistas e liberais, de outro. Contudo, não seria um decreto a calar a Maçonaria e muitas lojas continuaram suas atividades, entre elas, a Estrela de Santos.
“Em nenhum momento a Estrela se calou. Naquele período, os irmãos se revezavam em suas casas ou escritórios para as sessões. Saíam de suas casas, deixavam as famílias, sabendo o perigo que estavam correndo. A Estrela jamais parou suas atividades”17 .
A coragem e o profundo senso do dever orientaram o período em que Paulo Fernandes de Gasgon esteve com o malhete de Venerável. Sua função no cargo também coincidiu com o período da ratificação do franquismo18 na Espanha. Uma das histórias traz o Venerável da Estrela às voltas com um preso político espanhol, a ser repatriado. Gasgon era escrivão forense e mantinha, por força da profissão, contato frequente com advogados, delegados e carcereiros. Certo dia, na Cadeia de Santos, foi abordado pelo carcereiro: em uma das celas, se encontrava um espanhol que, a cada pessoa que se aproximava, fazia uns sinais estranhos. Paulo Gasgon foi ver o prisioneiro19 .
17 FRIGÉRIO, Carlos. Estrela. Entrevista concedida à autora, em março de 2022. 18 O regime ditatorial de Francisco Franco começa com o golpe de Estado, em 18 de julho de 1936, e prossegue com uma Guerra Civil até 1939, da qual sai vencedor. O franquismo permanece no controle da Espanha até 1975. SARANGA, Sergi. Cuáles eran las características del franquismo? La Vanguardia. 24/11/2020. Disponível em: https://www.lavanguardia.com/vida/junior-report/202011/23/49555718362/ . Acesso em 30/03/2022. 19 RAGO, Cesar Augusto Pascali. Ruas de Pedras Polidas. Santos: Bortolamasi, 2016.
Tratava-se de um Irmão, que fazia o sinal internacional maçônico de socorro. Gasgon pediu para falar com Rivera, o prisioneiro. Comunista e contra o governo de Francisco Franco, foi condenado à morte. A maçonaria espanhola o ajudara a fugir para o Brasil. Porém, como o governo de Vargas mantinha acordo de repatriar todo espanhol julgado e condenado, Rivera chegaria à Espanha para ser fuzilado20 . O Venerável pediu auxílio a outros irmãos da Estrela: Luiz Frigério, Joaquim Ribeiro Moura e o advogado José Gomes da Silva. Naquela mesma noite, o espanhol conseguiu sair da prisão e, seu destino, não poderia ser mais favorável: ficaria na casa de um parente da mulher de Frigério, também espanhol, comunista e inimigo do franquismo21 . A situação do espanhol contou com a ajuda do discreto, porém competente, José Gomes da Silva22: em três meses, com tudo regularizado, Rivera era um homem livre. Em uma das cartas que escreveu à Frigério, agradecia aos irmãos da Loja Estrela por terem salvo sua vida23, naquele dia onde só lhe restava fazer os sinais de socorro para Paulo Fernandes de Gasgon.
Um bode e dois pinguins
17 de junho de 1950. Neste dia, seria lançada a pedra fundamental do templo. A construção já havia começado, mas seria importante marcar a data. Antônio Ferreira era um dos Irmãos da Loja. Extrovertido e dono da distribuidora de bebidas Antarctica, resolveu, efetivamente, dar um jeito de avisar a todos o dia de lançamento da pedra fundamental. E o fez em grande estilo! No seu estilo peculiar. No dia 16 de junho, a primeira página do Jornal A TRIBUNA estampava o curioso anúncio da cerveja Tip-Top.
20 FRIGÉRIO, Carlos. O Maçom condenado à Morte. A.R.L.S “Estrela de Santos” – Edição Comemorativa de 75º Aniversário, p. 28-29, 2012. 21 Ibid. 22 O irmão José Gomes da Silva foi, por muitos anos, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Santos. No período de 1971/1972 tornou-se presidente da Subseção Santos da Ordem dos Advogados do Brasil. Foi ele a indicar a primeira mulher para ocupar um cargo executivo na Diretoria da OAB Santos, Maria Letícia Borges de Souza, na função de Tesoureira. BALTAZAR, Jelcy. OAB Santos: 80 Anos de Tradição e Democracia. Santos: Printmais, 2014. 23 FRIGÉRIO, Carlos. Op.cit.
Ferreira foi de uma criatividade e tanto: os pinguins, símbolos da cervejaria Antarctica desde 1885, já possuíam uma Estrela brilhando sobre eles. O Irmão acrescentou a gravura de um bode, em tamanho que não deixava passar desapercebida a intenção da publicidade, pois aparecia a palavra “Amanhã”. A notícia estava ali. No dia seguinte, Antônio Ferreira caprichou: lá estava a mesma publicidade, estrategicamente diagramada abaixo da data: “Sábado, 17-6-1950”. Vale observar que anúncios como esse, na primeira página, ainda hoje, são feitos com a orientação do cliente, nesse caso, o Irmão Ferreira solicitou a exata colocação do anúncio.
Na tarde de 17 de junho de 1950, é lançada a pedra fundamental da Estrela de Santos. Compareceram, além dos Irmãos e suas famílias, representantes de outras Lojas: Plácido José Afonso (da Libertas, Capital); Laurindo Chaves (D. Pedro I); Luiz La Scala (Fraternidade), Nacarato Brancato (Hiram Abif). Já a José Bonifácio enviou um grupo de irmãos para representá-la. O simpático bode apareceu durante o mês de junho, uma vez por semana, na página de Esportes. Antônio Ferreira deixou para a história da Estrela não apenas seus dois inusitados anúncios de primeira página: com bom-humor, pediu que em seu velório fosse servida a cerveja da Antarctica. Foi atendido.
Ergue-se uma Loja Maçônica
Luiz Frigério trabalhou intensamente com Dilhermando Cécere Vidal.
“Eles organizavam até rifas de carros da A.D. Moreira24 para angariar recursos e construir a Loja. Eles e os demais irmãos também ajudavam, nos finais de semana, na construção. Era por a mão na massa mesmo: quem lixava portas, pintava, carregava cimento, tijolos e blocos. Tudo para adiantar o trabalho.”25 (Rui Fonseca – Venerável 1997-2001)
Um templo como nenhum outro
Entre diversas pastas, zelosamente guardadas em sua atual biblioteca, encontram-se registradas passagens do cuidado e capricho com que a Loja foi montada. Por exemplo, a concepção dos móveis do Templo, onde vemos o esboço de como seriam as cadeiras. Projetos concebidos com detalhes precisos. O custo, todo ele pago pelos Irmãos. No dia 20 de dezembro de 1955, finalmente os Irmãos se mudam para sua Loja. Como o térreo do templo já estava construído, as sessões de trabalho da Estrela passam a ser realizadas no Salão dos Passos Perdidos26, de forma provisória, até a sagração do templo27 . A vocação de servir à comunidade também se inicia
No início de março de 1956, fortes chuvas caíram sobre a Cidade. Entre os pontos mais atingidos, os Morros do Marapé e Santa Terezinha tiveram parte de suas estruturas vindo abaixo, desabrigados e vítimas fatais. Como de costume, a sociedade civil uniu-se em solidariedade.
24 A loja A.D.Moreira foi um dos destaques do comércio varejista da região, em especial, nas décadas de 50, 60 e 70. Seu proprietário era Luiz Frigério. (N.A.). 25 FONSECA, Rui. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 26 ORLANDI, Bruno. Estrela. Entrevista concedida à autora em abril de 2022. 27 CAMARGO, Edison Leite. A História da Loja. A.R.L.S “Estrela de Santos” – Edição Comemorativa de 70 Anos, p.09-10, 2007.
Listas de donativos em dinheiro, de empresas e seus funcionários, bem como pessoas de diferentes idades e poder aquisitivo, enchiam as colunas de A TRIBUNA. Clubes e instituições religiosas abriram suas portas para acolher os desabrigados. Entre elas, a Loja Estrela. Por duas semanas, a Estrela acolheu 20 adultos e 15 crianças. O atendimento não envolveu apenas os irmãos, mas também suas mulheres, irmãs e filhas que se revezaram na assistência social e psicológica.
“A Fraternidade sempre foi um dos pilares da Maçonaria e, claro da Estrela. Os desabrigados daquela chuva não foram os únicos a ocuparem o espaço da Loja. A Estrela abrigou, inúmeras vezes, irmãos e suas famílias em dificuldade financeira”28 .
“Nesses casos, a Loja se tornava uma espécie de pensão. Conforme o irmão obtinha emprego, tinha sua subsistência garantida, deixava a Loja, mas voltava para ajudar, da mesma forma com que tinha sido ajudado. Era um dever moral. Naquela época, a Loja também era uma potência.”29 (Rui Fonseca – Venerável 1997 -2001)
28 FRIGÉRIO, Carlos. Estrela. Entrevista concedida à autora, em março de 2022. 29 FONSECA, Rui. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022.
Em junho de 1956, surgia a Coligação dos Veneráveis de Santos e São Vicente. Esta Coligação terá influência sobre os rumos de todas as Lojas afiliadas30 .
Fechando o ano de 1956, a Loja organizou uma de suas expertises: o almoço de confraternização para os irmãos e seus familiares .
Um dos irmãos mais atuantes e que deixou verdadeiro legado, material e moral para os que lhe sucederam, foi Luiz Frigério. Onipresente em todas as situações que exigiam o firme propósito do maçom, Frigério tornou-se o sétimo Venerável da Estrela (1957-1958), no período em que a Loja, finalmente, vê seu templo construído.
30 SOARES, Renato. Você sabia... A Estrela de Santos – Órgão Informativo da Aug.Resp.Benf. e Gr. Benf.Loj.Maç. “Estrela de Santos” .
No dia 22 de junho de 1957, a Loja Estrela inaugurava e sagrava seu templo definitivo.
Com as colunas brancas e douradas, o edifício imponente logo ficou conhecido como um dos mais belos templos maçônicos do mundo e um dos maiores da América Latina.
(Rui Fonseca – Venerável 1997/2001)