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“O Trabalho é para a Loja, Da Loja, Pela Loja”

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Gratidão

Gratidão

“O trabalho é para a Loja, da Loja, pela Loja”1

(Rui Fonseca – Venerável 1997 – 2001)

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“A Estrela, por ser uma Loja-mãe, é muito cobrada, porque todo mundo se espelha na Loja Estrela. Temos que mostrar porque a Estrela é a Estrela e nem sempre é fácil. Nunca é, aliás.” (Helder Cyrillo – Venerável 2011-2013) Sua estrutura gigantesca impõe cuidados e responsabilidades que permanecem nas mãos de cada Venerável que assume conduzir a Loja em dois anos. Que são longos para quem está à frente, diga-se de passagem. Por isso, a ajuda mútua entre os Irmãos é mais que uma regra, é necessária para qualquer Loja Maçônica. “É como um síndico, o Venerável”2 (Eugênio Pierotti – Venerável 2007-2009)

1 FONSECA, Rui. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 2 PIEROTTI, Eugênio. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022.

Tudo cai em cima dele”3 (Antônio Roberto Pimentel José – Venerável 2001-2003)

“Todo Irmão tem um custo. 50% do que ele paga vai para o Grande Oriente do Brasil e GOB São Paulo. Os outros 50% ficam na Loja, que tem despesas fixas como limpeza, luz, água, manutenção geral, funcionários, além de emblemas, carteiras, diplomas. Tudo tem um custo e o equilíbrio desta conta passa, inevitavelmente, pelo Venerável”4 (Marcelo Marsaioli - Venerável 2013-2015).

“O presidente da Loja é presidente 24 horas”5 (Rui Fonseca - Venerável 1997-2001).

3 JOSÉ, Antônio Roberto Pimentel. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 4 MARSAIOLI, Marcelo Vallejo. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 5 FONSECA, Rui. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022.

Galeria de Veneráveis

PAULO FERNANDES DE GASGON

1937-1941 • 1948-1949 ARTUR RODRIGUES NOVAES

1942-1942 EGBERTO DA ROCHA ARAÚJO

1942-1945 JOSÉ D´ÁUREA

1945-1947 • 1948-1948 JOÃO FELISBERTO ESTEVES

1947-1948

JOÃO BITTAR

1977-1980 • 1983-1985 MARIO VENANCIO PULA

1980-1981 JOÃO TORRES

1981-1983 SERGIO LUIZ PEREIRA SOARES

1985-1989 ITIBERÊ ROCHA MACHADO

1989-1993

EUGENIO CARLOS PIEROTTI

2007-2009 FRANCISCO ALEXANDRE DE PAULA FERREIRA

2009-2011 HELDER CYRILLO GUIMARÃES DA SILVA

2011-2013 MARCELO VALLEJO MARSAIOLI

2013-2015 DIRCEU AGOSTINHO

DIRCEU AGOSTINHO

“Renato Soares Prestes”

JOAQUIM RIBEIRO MOURA

1949-1953 LUIZ FRIGÉRIO

1953-1961 • 1965-1967 • 1975-1977 ANTONIO ALVES PERES

1961-1965 • 1967-1971 DILHERMANDO CECERE VIDAL

1971-1974 RUBENS CONCEIÇÃO DA SILVA PINA

1974-1975

RENATO SOARES PRESTES

1993-1997 RUI FONSECA DOS SANTOS

1997-2001 ANTONIO ROBERTO PIMENTEL JOSÉ

2001-2003 CARLOS ALVES QUEIROZ

2003-2005

FERNANDO JOSÉ DA COSTA BURGOS

2017-2019 RAMON MATEO JÚNIOR

2019-2021 ANTONIO CARLOS DAUD

2005-2007

Profissionais de diversas áreas, idades, tempo de Maçonaria e de Loja, os Veneráveis têm suas histórias, com as quais mesclam sua passagem à frente da Estrela com a dos demais Irmãos. Artur Rodrigues Novaes foi o Venerável, no retorno dos trabalhos das Lojas Maçônicas, após a proibição do governo Vargas. Seu veneralato provisório começou dia 22 de junho de 1942 até ser definido, em 24 de agosto, Egberto da Rocha Araújo, para o período de 1942 a 19451. Alguns Veneráveis não seguiram até o final de seu mandato. Foi o caso de José D´Áurea, que assumiu e renunciou no mesmo ano, 1948. Nesse momento, assume provisoriamente Domingos Peres Domingues, até a eleição suplementar que concedeu, novamente, o posto de Venerável à Paulo Fernandes de Gasgon até o ano seguinte2. Os Irmãos também destacavam, com o Veneralato de Honra, aqueles que contribuíam com seu trabalho e dedicação, para o desenvolvimento da Loja e de seus inscritos3. “Chegar a ser Venerável é, de certo modo, a sequência do caminho seguido pelo maçom. Dentro da Loja, se aprende muitas coisas. A hora de falar, de escutar. Significa muito mais que obedecer a uma hierarquia. É o testemunho de seu aprendizado maçônico que envolve muitos fatores, sua frequência às sessões de trabalho, a disponibilidade no servir, a habilidade no trato com os outros Irmãos”4. (Helder Cyrillo – Venerável 2011-2013)

“O Venerável tem que ter muita flexibilidade, muito tato. Tanto dentro do próprio templo, como ao representá-lo perante às outras Lojas”5. (Eugenio Pierotti – Venerável 2007-2009)

“Acontece uma coisa curiosa. Você está ali, na Loja, há anos, convivendo com os Irmãos, conversando, trocando impressões, falando até de problemas particulares. Um dia, você assume um cargo como o de Venerável. Aí começam as dificuldades. Porque, às vezes, aparece um pedido, um pedido normal, se você não estivesse no cargo. Quando você assume uma posição dessas, você não pode levar certas coisas, certos assuntos adiante. Nem sempre aquele Irmão, que acompanha você desde que entrou na Maçonaria, entende a circunstância. Acho que esta é a principal dificuldade que todos os que estão Veneráveis devem passar durante o período”6. (Eugenio Pierotti – Venerável 2007-2009)

“Também existem as reuniões fora da Loja, como a Coligação das Lojas Maçônicas da Baixada Santista, em que se deve ir em todas as reuniões. Você tem que estar disponível”7. (Rui Fonseca – Venerável 1997 – 2001)

1 SOARES, Renato. Você sabia... A Estrela de Santos – Órgão Informativo da Aug.Resp.Benf. e Gr. Benf.Loj.Maç. “Estrela de Santos”. 2 Ibid. 3 Ibid. 4 CYRILLO, Helder. Estrela. Entrevista concedida à autora, em março de 2022. 5 PIEROTTI, Eugênio Carlos. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 6 PIEROTTI, Eugênio Carlos. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 7 FONSECA, Rui. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022.

Mas não é fácil atingir o veneralato, sem ser apto para a função e sem o apoio de todos os Irmãos.

“Quem assume o cargo, assume os encargos”8 (Rui Fonseca – Venerável 1997 – 2001) Porém, cada Venerável deve sempre lembrar de um princípio que norteia tal posição: “O trabalho é para a Loja, da Loja, pela Loja”9 (Rui Fonseca – Venerável 1997 – 2001) E, seguindo esse princípio, a Estrela foi mostrando aos Irmãos do passado e do presente, o que era preciso fazer, construir, modificar, avançar. A Associação Casa de Estar toma forma com Luiz Frigério em seu primeiro veneralato (1953 – 1961).

Sob o comando de Rubens Conceição da Silva Pina (1974 – 1975) passou a funcionar, nas dependências da Loja, o Sublime Capítulo Regional “Luiz La Scala Junior” (1975, para o estudo da alta filosofia que implica o Rito Moderno. No Veneralato de Renato Soares Prestes (1993 – 1997) surgem a Ordem DeMolay (1995) e a Revista Estrela de Santos (1996), cujo editor e revisor, Antonio Roberto Pimentel José, seria o Venerável em 2001.

Também foi com Renato que a Loja começou sua informatização. Até aquele momento, toda parte administrativa, cadastros dos Irmãos, de fornecedores, enfim, tudo era meticulosamente datilografado por um Irmão, Cícero de Araújo Filho. Na presidência de Renato, a Maçonaria ganhou homenagem da Cidade de Santos, o Monumento ao Maçom. A peça repousa nos jardins de Santos, em frente à Pinacoteca Benedicto Calixto. Esse belo reconhecimento veio através de um Irmão da Estrela, o Vereador José Lascane.

Inaugurado em 06 de março de 1996, o monumento foi esculpido em uma única peça. Ele só pode passar uma única mensagem: a lapidação da pedra bruta até transformá-la em obra de arte para que todos, Irmãos e Profanos possam seguir em seu caminho de aprimoramento. A Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul – Unidade Estrela de Santos foi criada em 1999, durante o período de Rui Fonseca dos Santos (1997 – 2001).

“Eu quero uma Estrela para o século XXI, mas não posso pensar como a Estrela dos anos de 1930 do século XX.”10 (Helder Cyrillo – Venerável 2011 – 2013)

8 FONSECA, Rui. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 9 Ibid. 10 CYRILLO, Helder. Estrela. Entrevista concedida à autora, em março de 2022.

Com Antonio Roberto Pimentel José (2001 - 2003), a Estrela começa, efetivamente, o novo século. Com seus desafios aos Veneráveis e demais Irmãos. Em seu período, começa a reforma do Templo, onde são realizadas as sessões de trabalho. Esse militar de carreira, que se torna maçom depois da aposentadoria, fala da Estrela com emoção e agradecimento.

“Sempre vivi na caserna. Trinta anos como militar. Não estava acostumado com tanta gente, como vi aqui na Loja. De maçom, só conhecia meu padrinho. Via aquela multidão...pensei ‘tenho que fazer algo, tenho que vencer esse meu isolamento do quartel’. Aí, eu comecei a ajudar no que aparecia. No Inverno Quente11, servi mesas, troquei botijão de gás, preparava refeições. Isso me colocou num mundo em que eu não estava acostumado. Para a Loja Estrela, eu faria tudo de novo: aqui, eu saí da caserna para um grupo de pessoas, para a sociedade civil”. 12(Antonio Roberto Pimentel – Venerável 2001 – 2003) A Estrela possibilita, em certos casos, a continuidade de um mesmo trabalho. Foi o caso de Antonio Carlos Daud (2005 – 2007) e Eugênio Carlos Pierotti (2007 – 2009). Antonio Carlos Daud foi o Venerável que trouxe nova proximidade entre a Estrela e as demais Lojas da Região: em seu período à frente da Estrela, duas reuniões aconteceram na Almeida de Moraes.

Existem duas reuniões as quais todo Venerável deve comparecer: a da Coligação de Veneráveis da Baixada Santista e a da 3ª Macro-Região Maçônica. Não é obrigatório, mas sim, uma gentileza, que uma dessas reuniões aconteça em uma das Lojas da região13 . Assim, Daud tanto levou a Estrela aos encontros tanto do Conselho de Veneráveis como as da 8ª Região, como trouxe as outras Lojas para a Estrela, em reuniões onde se discutiam, entre outros temas, os novos rumos que a economia ditava como realidade. Essa proximidade veio em momento especial: Antonio Carlos Daud estava à frente da Loja em seus 70 anos. Quando Eugênio Pierotti assume como Venerável, em 2007, também continuou a proximidade da Estrela junto às Lojas da Região, com duas reuniões nas dependências da Loja. Também manteve a equipe anterior: segundo ele, eram Irmãos que vinham de experiência de auxiliar outros Veneráveis e tinham verdadeiro apreço pela Estrela14 . No veneralato de Pierotti é fundada a Ordem dos Cavaleiros Kadosh Filosófico para o Rito Moderno (2009), para aprofundamento dos estudos filosóficos desse rito. Os Cavaleiros levam, como homenagem, o nome de um dos grandes da Estrela, Dilhermando Cecere Vidal.

11 O Inverno Quente é um evento da Prefeitura Municipal de Santos, no mês de julho, no qual instituições benemerentes organizam barracas, onde servem comidas típicas, com o intuito de arrecadar fundos. (N.A.) 12 PIMENTEL, Antonio Roberto. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 13 PIEROTTI, Eugênio Carlos. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 14 Ibid.

Após tantos anos, sai o Habite-se definitivo da Loja.

“Foi muito trabalhoso. Todo mundo tentou. Nunca saia. O Irmão José Eduardo Ribeiro, na época Mestre de Banquete, era muito participativo. Ele chegou para mim e disse: ‘eu vou tentar conseguir isso para a Loja’. Eu mesmo já tinha ido à Prefeitura, falado com um, com outro. Esse Irmão foi lá, tinha algo no prédio que não podia ter. Ele procurou o arquiteto, discutiram a planta e as exigências da Prefeitura, com o pessoal da Engenharia de lá. E aí, graças a esse Irmão, a Estrela teve seu Habitese.”15 (Eugenio Pierotti – Venerável 2007 – 2009) Segundo Francisco Alexandre de Paula Ferreira, seu veneralato, de 2009 a 2011, foi marcado pela união da família maçônica em torno da Loja, levando a Estrela a ser nomeada a maior Loja Maçônica da América Latina, com cerca de 300 Irmãos16 .

“Tínhamos, no mínimo, 100 Irmãos por reunião; jantares maravilhosos, como o das Luzes, das Velas, sempre com o toque do inesquecível Renatão.”17(Francisco Alexandre de Paula Ferreira – Venerável 2009 – 2011)

“O que mais me deixou marcado foi a união das famílias, com a aproximação da Fraternidade Feminina. Tenho que parabenizar a Aninha, que foi esse elo. Pois o maçon só pode se entregar a seus afazeres de corpo e alma com o apoio da família.”18 (Francisco Alexandre de Paula Ferreira – Venerável 2009 – 2011)

Uma década movimentada

De 2011 a 2022, a Loja se agitou. Novas reformas em seu belo Salão, a oficialização da FraFrem, os 75 anos da fundação do templo, entre outros fatos marcantes, como uma palestra que mexeu com a Cidade.

Onze anos que também trouxeram perdas e uma lacuna imensa no coração da Estrela, de muitas estrelas.

Helder Cyrillo torna-se Venerável nos 75 anos da Loja. Teve festa, sim, com direito à Revista Comemorativa dos 75 anos. E teve também uma biblioteca organizada.

“A Biblioteca da Loja. Pedi para os Irmãos Hélcio da Silva e Norberto do Carmo Filho para estruturar a Biblioteca, organizá-la. Recebíamos muitos materiais. O Hélcio e o Norberto fizeram todo o trabalho de selecionar livros, tudo que era realmente para ficar como consulta. Os que não foram aproveitados,doaram para muitas instituições. O trabalho deles é de um mérito tremendo.”19 (Helder Cyrillo – Venerável 2011 – 2013)

15 PIEROTTI, Eugênio Carlos. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 16 FERREIRA, Francisco Alexandre de Paula. Estrela. Entrevista concedida à autora, em maio de 2022. 17 Ibid. 18 Ibid. 19 CYRILLO, Helder. Estrela. Entrevista concedida à autora, em março de 2022.

A década de 2010 obrigou um novo olhar dos Irmãos para a Estrela. Era sua Casa, claro, mas com um CNPJ. Quem fez esta observação foi Marcelo Vallejo Marsaioli, quando assumiu a presidência da Loja de 2013 a 2015. Existia, sim, uma crise econômica mundial que afetava todos os setores, todas as instituições. Com a Maçonaria não foi diferente. E a Estrela de 2013 tinha um passivo para regrar. A passagem de Marsaioli como Venerável pode ser resumida como um divisor de águas em matéria de processo e de organização20 . “A Diretoria se reuniu e eu disse: ‘nós vamos fazer uma gestão pautada numa palavra que é austeridade. Nós vamos ser austeros. A gente não pode gastar. Vai ser uma gestão que não vamos poder fazer grandes projetos. A gente tem que ser uma gestão muito pé no chão e muito focada em sanear despesas.’”21(Marcelo Marsaioli – Venerável 2013-2015)

Marcelo foi enfático e deixou claro para todos os Irmãos que: “Apesar da beleza, do rito, da parte cerimonial, o que era muito importante era jamais esquecer que a gente estava gerindo um CNPJ. Como uma empresa.”22 (Marcelo Marsaioli – Venerável 2013-2015) Como advogado, a visão jurídica do Venerável foi definitiva naquele momento. Ele e sua Diretoria tinham que ter em mente as consequências que poderiam acontecer com a “Estrela S.A.”. A prioridade voltou-se para sanear contas e ter caixa. Deu certo. No primeiro semestre, a Diretoria conseguiu o equilíbrio financeiro23 . “Mas tivemos que fazer sacrifícios. Tivemos que parar de fazer eventos, festas. Paramos de conceder jantares e coquetéis. O padrão Estrela, naquele momento, era pagar contas, nem que tivesse que servir café com bolacha. E houve total sinergia entre os Irmãos. Todo mundo entendeu. Os Irmãos falaram ‘vamos juntos.’24 (Marcelo Marsaioli – Venerável 2013-2015)

Racionalizar despesas nunca é fácil. Identificar gargalos e mostrá-los, muito menos. Porém, um levantamento apontou o Plano de Saúde como um gargalo considerável naquele momento. A Loja costumava pagar o Plano de Saúde e o Irmão reembolsava. Porém, com o passar do tempo, muitos reembolsos deixaram de ser feitos. Segundo Marsaioli, a principal dificuldade era entender que a Estrela chegou a um patamar de empresa também. Foi feita uma forte campanha de conscientização: para que regrassem as despesas do Plano e organizassem suas mensalidades atrasadas. Deu certo. Em menos de três meses, as despesas foram reduzidas de 50% a 70% e, em seis meses, todos os que ainda tinham algum tipo de pendência, regularizaram sua situação.

20 MARSAIOLI, Marcelo Valejo. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 21 Ibid. 22 Ibid. 23 Ibid. 24 Ibid.

É sabido como a Maçonaria valoriza a família. Em agosto de 2013, a Estrela abriu suas portas para Ari Friedenbach. Advogado e vereador em São Paulo, Ari veio para uma palestra que envolveu não apenas os Irmãos, mas a sociedade santista. No Templo da Loja, lotado, os presentes ouviram a dor imensurável de um pai, cuja filha fora barbaramente torturada e assassinada e a opinião de um profissional, ligado ao Direito, sobre impunidade de menores diante da legislação brasileira. Ao final da palestra, o público saiu cabisbaixo. Porém, o tema e a experiência de Ari exigiam a reflexão que a Maçonaria tanto recomenda. O Templo também lotou com a palestra Exército Brasileiro, proferida pelo General João C.P. de Campos, Comandante do Comando Militar do Sudeste, em agosto de 2017, sob o veneralato de Fernando José da Costa Burgos25. Momento intenso e cívico, com direito à Banda do Exército. A COVID-19 repetiu o que o governo de Vargas já fizera: fechar as portas físicas das Lojas Maçônicas. Ramon Mateo Júnior teve que ressignificar sua condição de Venerável e os planos que pretendia executar em dois de presidência, de 2019 a 2021. No entanto, Ramon soube, com sua experiência vinda do Judiciário (Ramon é Desembargador), “do limão fazer uma limonada”. Com as devidas adaptações, as sessões passaram a ser on line. “É certo que se perde um pouco. O ambiente físico do Templo é propício para a reflexão, para as sessões de trabalho. Com uma máquina intermediando, perde-se um pouco. Mas, é o que era possível. E, mesmo on line, com muitos Irmãos não sabendo lidar com a Internet, tudo muito diferente, mesmo assim, eles sabiam que ali estava mantido o cerne da Estrela.”26 (Ramon Mateo Junior – Venerável 2019-2021) O Palácio Maçônico Luiz Frigério ficou vazio com o lockdowm.

25 BURGOS, Fernando José da Costa. Estrela. Entrevista concedida à autora, em maio de 2022. 26 MATEO JUNIOR, Ramon. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022.

Por seus corredores, Salão, Templo, Ramon tornou-se testemunha de um momento histórico também para a Maçonaria. Nas suas mãos, o malhete teve que adquirir outro contexto. Caíram por terra as festas, as interações entre Lojas e entre Irmãos, os eventos para arrecadação de fundos, as reuniões mensais para as cunhadas. Caíram por terra o que ele havia planejado. Porém, não seria um vírus a lhe parar a presidência. Dele, como todos os que ocupam a função de Venerável, se espera ação. E foi na parte administrativa da Estrela que Ramon Mateo Junior mergulhou27 . “No aspecto administrativo se corrigiram muitas coisas. Por exemplo, tínhamos um funcionário que morava aqui com a família há uns 30 anos. Doeu tirá-lo daqui? Com certeza. Mas a Loja não podia ter uma situação dessas aqui, tão irregular, abrigando já a segunda geração da mesma família.” 28 (Ramon Mateo Junior – Venerável 2019-2021) Ramon também tocou em outra parte delicada, os inadimplentes, para os quais foi aplicado o processo de exclusão da Loja. “A Loja tinha que continuar seu caminho, mesmo com um cenário mundial tão problemático. Foram seis meses de presença em reuniões e, depois...foi esta a situação. Entendo também que a cada um é reservado uma tarefa, uma missão a cumprir para a Loja e essa foi a missão da minha equipe.”29 (Ramon Mateo Junior – Venerável 2019-2021) Quando se conta a história de uma instituição, ela, inevitavelmente, “assume” sua própria personalidade, de uma forma ou de outra. Com a Estrela, a sensação é que: 1) ela é independente de seus Veneráveis e 2) nesse sentido, ela mesma parece direcionar seus caminhos. Seja em 1937, com o fechamento da Loja, seja em 2021, quando Bruno Galoti Orlandi assume a presidência até 2023.

Primeiro DeMolay a se tornar Venerável e o mais jovem a ocupar essa função, a tarefa de Bruno ainda não terminou: preservar a essência de uma Loja tradicional na Cidade, porém, de fazê-la saltar para uma nova etapa de Irmãos, de maçons da geração tecnológica e que, por isso mesmo, precisam do conhecimento passado, de uma ritualística que acompanha os séculos. O regramento econômico também se faz sentir para a presidência de Orlandi, que se inicia em um período pós-pandemia, com a Loja ainda traumatizada pela perda de Irmãos, seja por morte natural, seja pela COVID-19 e com um quadro considerável de gastos.

“A gente pega uma virada de gestão que sofreu muito com a pandemia. Um custo altíssimo, relacionado ao número de Irmãos no quadro da Loja. Nosso regramento financeiro normal mudou totalmente. Por outro lado, a vontade de arrumar a Casa, de organizá-la de novo, com uma Diretoria espetacular, um

27 MATEO JUNIOR, Ramon. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 28 Ibid. 29 Ibid.

time muito forte e a gente vai conseguindo contornar e começamos a trabalhar.”30 (Bruno Orlandi - Venerável 2021 -2023)

E começou com a organização de um caldo verde, “do dia para a noite”, para arrecadar fundos. Sem a presença dos Irmãos e suas famílias, mas com retirada por drive-thru, na porta da Loja. Foi a primeira tentativa para trazer os Irmãos de volta, porém, mantendo a segurança. Os Irmãos mais velhos ainda sentem alguma insegurança, mas outros, já começam a vir31 . Ainda em seu primeiro semestre de gestão, foram iniciados nove Irmãos, número alto perto de outras Lojas.

“A Diretoria vem fazendo um trabalho de instrução, trazendo boas palestras, como o representante do Capítulo Filosófico, que falou sobre a estrutura filosófica da Maçonaria para o Rito Moderno, trouxemos também o Ministro do Transporte, Tarcísio Gomes de Freitas.”32 (Bruno Orlandi - Venerável 2021 -2023)

Pela primeira vez, a Loja Estrela recebeu um Ministro de Estado, para a palestra Avanços Estruturais do Brasil33. Evento concorrido, mais de 250 irmãos puderam conhecer o serviço prestado pelo Ministro do Transporte na modernização da área, em especial, de nosso Porto. Em 2022, Bruno Orlandi teve um dever especial: a homenagem de 25 anos da criação dos DeMolay, que deveria ter sido em 2021. Em razão da pandemia, aconteceu em abril de 2022.

“Tentamos, em dois anos, pegar o que outros Veneráveis e outros Irmãos deixaram de melhor para a Estrela e trazer para a atual realidade: gestão funciona; viver a Loja funciona; a Maçonaria, de uma maneira completa, está aqui; equilíbrio fiscal é necessidade; capacidade de trazer os Irmãos para as sessões de trabalho. Tentamos colocar em prática tudo aquilo que de melhor foi feito aqui.”34 Bruno Orlandi - Venerável 2021 -2023)

Estrela: abraçar o presente, visar o futuro e manter o potencial que veio desde 1937.

30 ORLANDI, Bruno Galoti. Estrela. Entrevista concedida à autora, em abril de 2022. 31 Ibid. 32 Ibid. 33 Ibid. 34 Ibid

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