Acompanhamento dos formandos

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Acompanhamento dos/as formandos/as


Colecção Metodologias

Formação para a Inclusão. Guia Metodológico.

IDENTIFICAR Necessidades

PREPARAR aIntervenção

ACOMPANHAR aIntervenção

Diagnóstico social e dasdinâmicas territoriais

Construção da intervençãoformativa

Acompanhamento dos/asformandos/as

Diagnóstico deexpectativas enecessidades individuais de formação

Definição da estratégia avaliativa

Acompanhamen to daformação em contexto detrabalho

Diagnóstico denecessidades deformação eoportunidades do mercado de trabalho

Definição emobilização dos meios humanos emateriais

RECONHECER Processos eResultados

Avaliação daintervenção

Ao longo deste ponto, procuramos abordar as seguintes questões: a)Em que consiste o processo de acompanhamento dos/as formandos? b) Em que consistem os domínios de intervenção específica do acompanhamento? c) O que é um diagnóstico de necessidadesbásicas? d)Qual aimportância do diagnóstico de necessidades básicas para o sucesso da intervenção formativa? e) Como e quando deverá ser realizado o diagnóstico de necessidades básicas? f) Quem deverá realizar o diagnóstico de necessidadesbásicas? g) Como actuar no apoio àresolução de necessidades básicas? h)Como actuar no apoio àresolução de problemas relacionados com aadaptação à formação/aprendizagem? i) Como apoiar a preparação par ainserção/contexto detrabalho? j) Como se estruturam as tarefas do acompanhamento?

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a) Em queconsiste o processode acompanhamentodos/asformandos/as?

A frequência de uma acção de formação constitui frequentemente uma primeira experiência deinserção.

Este facto torna-se especialmente relevante se pensarmos que a experiência de formação marca uma ruptura significativa com os modos e contextos de vida dos participantes e, consequentemente, com o seu quadro dereferências erepresentaçõessociais. Tal constitui um difícil desafio para os formandos que só é possível se da parte da entidade formadora existir umconceito euma práticade aprendizagemintegradas. O acompanhamento dos formandos decorre dessa concepção e assume-se, podemos dize-lo, como a pedra basilar daintervenção formativa dirigidaa grupos socialmentedesfavorecidos. Do ponto de vista puramente semântico acompanhar significa “juntar-se alguém, para ir com, eao mesmo tempodo que ele”(AAVV, 2002a). A esta formulação está implícita aideiade mudança,de passagema outracoisa, deum caminhoa fazer, adois.

O Técnico de Acompanhamento representa essa figura que está presente e ao longo de toda a intervenção formativa. Ele deverá constituir um ponto de apoio, uma referência e um recurso para o formando e paraa equipa técnica,desempenhando assim umpapel chave doponto de vistaoperacional.

O acompanhamento dos formandos, consiste no apoio à resolução dos seus problemas pessoais e sociais, de adaptação, de aprendizagem, de integração socioprofissional ou outros(Milagre, Passeiro,Almeida, 2002).

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Sintetizemos oacompanhamento em3 grandesdomínios interdependentes:65 Apoio àresolução de problemas relacionados com aadaptação à formação e aprendizagem

Preparação ACOMPANHAMENTO

para aInserção/ contexto de trabalho

Apoio àresolução de necessidades sociais básicas

Tratando-se o acompanhamentode uma dimensãofundamental no trabalhocom os grupos em questão, nela deverão ser implicados todos os actores da equipa formativa, assegurando o Técnico de Acompanhamento um papelcentral nagestãodoscasos. A dimensão de acompanhamento deverá estar presente diariamente e ao longo de toda a intervenção formativa, durante eapós acompanhamento inicialda inserção nomercado de trabalho. O domínio de intervenção do Técnico de Acompanhamento é efectivamente bastante abrangente exigindo saberes pludisciplinares com vista a gerir a complexidade das situações possíveis. Podemos afirmar que de um modo geral a actividade fundamental do Técnico de Acompanhamento é a sua presença em relação.Uma presença quedeverá ser vivae implicada. Essa relação comportatrês processos indissociáveis:1) Acolhere escutar ooutro; 2) Apoiar o formandoa reflectir e atomar opções; 3)Caminhar disponível aseulado. “O acompanhamento é uma arte, não uma ciência, ou uma técnica. Aprende-se pela prática, por ajustamentossucessivos. É tambémum dom, umcarisma, e nãoo fruto de uma aprendizagem voluntária.”(AAVV,2002a,p.18)

65 Os diferentes domíniosdeverão ser entendidoscomo campos deanálise interdependentes.

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A postura relacional do responsável pelo acompanhamento é fundamental. É aliás no plano relacional que se concentra fortemente asua intervenção, quernaquilo a quese pode considerarapoio psicológico (não clínico), querna suaintervençãomaispedagógica. Apoiopsicológico

Acolher, escutar, informar, aconselhar, orientar, encorajar, securizar, interessar, dar confiança, socializar, facilitar...

Apoio pedagógico

Guiar, mostrar, questionar, interrogar, “controlar”, clarificar, avaliar, formar, preparar...

No entanto, na relação que se proporciona entre o formando e quem o acompanha deverá ser acautelada a necessidade de autonomia por parte do formando. Deverá ser colocado como objectivo último do Técnico de Acompanhamento a capacidade do formando encontrar ele mesmo as soluções para os seus problemas, reflectir, analisar a sua situação, os seus objectivos, ambições, capacidades, meios etc. e compreender as situações que se lhe deparam e a agir em conformidade. Estes são aliás predicados essenciais à vida em sociedade em geral e ao contexto de trabalho em particular. Isso exige, sobretudo uma escutaactiva da partede quem acompanha. Esse é enfim o caminho do desenvolvimento pessoal e social do formando que o técnico deve acompanhar, aseu lado e nuncano seu lugar. O seu papel é ode estimular noformando uma apropriação real e profunda do seu próprio potencial, reconhecer-lhe o direito de construir ele mesmo o seu percurso e seus saberes. Para tal é necessário que o técnico resista à tentação de modelar o outro às exigências do seuprópriodesejo.

O acompanhamento é também um jogo constante entre distância/ proximidade, presença/ausência, num movimentoque não élinear,depende de cadacaso concreto e exige umaatenção muitoindividualizada de quemacompanha.

As especificidades dos problemas concretos determinam de certo modo o tipo de abordagem arealizar, sendo que no entanto é possível identificar algumas estratégias. Adiante enumerar-se-ão algumas possíveis linhas deacção para ostrês domínios específicosde intervençãodoacompanhamento. Antes porém, centremo-nos no diagnóstico de necessidades básicas, ponto de partida para o acompanhamento.

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b) Em que consistem os domínios de intervenção específica do acompanhamento? Como referido sãotrês os principaisdomínios de intervenção: -Apoio àresolução das necessidades básicas dos formandos (problemas pessoais e sociais dos formandos). - Apoioà resoluçãode problemasrelacionados coma adaptaçãoàformação/aprendizagem. - Preparaçãopara ainserção/contexto detrabalho.

Centremo-nos emcadaum deles.

c) O que é um diagnóstico de necessidades básicas? Um diagnóstico de necessidades básicas consiste na identificação, junto dos formandos, de eventuais problemas pessoais ou sociais, que sendo exteriores à formação, podem dificultar ou impedir a aprendizagem, aaquisiçãode competências e/oua inserçãosocioprofissional. A exclusão social caracteriza-se por um processo cumulativo de rupturas com um conjunto de sistemas sociais básicos (BrutodaCosta, 1998)

Os grupos sociais desfavorecidos acumulam tendencialmente uma série de handicaps que decorrem da situação de fragilidade económica e social e que actuam como força contrária aum processode inserçãosocial. Trata-se de uma luta de forças constante entre oindivíduo e a sua história e contextos devida.

Uma intervenção formativa que visa ainserção socioprofissional destes públicos, não pode deixar de ser integrada, extravasando o estrito acto formativo, mesmo porque a aprendizagem e o desenvolvimento de competências dificilmentede operará seo contextode vida doformando oferecer resistências. A compreensão dessescontextos de vidaé fundamental já a montante daformação, designadamente no desenho da intervenção formativa, e deverá estar sempre presente durante o desenvolvimento da mesma, nomeadamente em todos os momentos em que são tomadas opções metodológicas e pedagógicas. No entanto, aentidade formadora deveráir mais longe, agindo directamente ouapoiando o indivíduona acção sobre ocontexto, sempre queeste interfere negativamentecom o projecto de formação/inserção que o formando está arealizar, e quando é solicitado pelo mesmo para tal. Esse domínio de intervenção da entidade formadora no apoio à resolução das necessidades básicas dos formandos, designa-se por Acompanhamento dosformandos.

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São vários os problemas de ordem pessoal e social que podem afectar os formandos e para os quais a entidade formadora poderá ser solicitada a intervir. Destacam-se alguns exemplos de situaçõesproblema:

Diagnóstico de necessidades básicas Exemplos de situações-problema - Ausência de recursos financeirospara suprir necessidades essenciais de alimentaçãoe vestuário - Processos de nacionalização,regularizaçãodo estatuto de imigração - Relações de vizinhança/comunitáriasprecáriase conflituosas - Dificuldades de deslocação,ausência de transporte - Dificuldades nas relaçõescom instituiçõesbancárias,de crédito, de seguros - Necessidadede regularizaçãodasituaçãocom o sistemade segurança social - Ausênciade documentos oficiais(B.I, contribuinte, serviçosocial, sistemanacionalde saúde etc.) - Problemascom a justiça - Ocorrência de alcoolismoou toxicodependênciacom o formando ou com seus familiares - Ausência de planeamentofamiliar, famílias numerosas,gravidezprecoce, doenças sexualmente transmissíveis; - Perturbações do foro psicológico - Doença, doençacrónica, doença incapacitante; - Relações familiaresconflituosas;violênciadoméstica; divórcio - Faltade alojamento ou condiçõesprecáriasde habitabilidade - Familiares dependentes(idosos,criançasou portadores de deficiência)a cargo

Estes são apenas alguns exemplos de situações-problema de natureza económica, social, familiar e de relação comas instituições, para asquais poderáser solicitadoo apoioda entidadeformadora. O diagnóstico de necessidades básicas distingue-se do diagnóstico de necessidades de formação na medida em que o primeiro é individual e focaliza-se na identificação de condições e modos de vida consideradas mínimas paraque oindivíduo possa enveredarpor umprojecto formativo/ profissionale de vida. O diagnostico de necessidades de formação circunscreve-se àidentificação de necessidades que podem ser colmatadas por via da formação, designadamente desenvolvimento de competências teóricas, técnico-práticas e sociaise relacionais necessáriasao exercício deuma actividadeprofissional.

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Todas asinformações recolhidas pelo processo de diagnóstico de necessidades de formação visam directamente aprática formativa,dando respostasàsseguintesquestões, entreoutras:

Que competências desenvolver? Qual o perfil de entrada e de saída? Que nível de formação? Que modalidade de formação? Que formas de organização da formação? Que métodos pedagógicos utilizar?

Asrespostas aestas questões reflectem-seno currículodeformação. O diagnóstico de necessidades básicas visa dar respostas individualizadas a necessidades de carácter pessoal que podem interferir negativamente com o normal decorrer do processo formativo, comprometendo o seu sucesso e a desejada inserção socioprofissional.Visa responder sobretudo às seguintesquestões:

Reúne o formando as condições mínimas de vida (psíquicas, sociais, materiais) necessárias à prossecução de um projecto formativo/profissional e de vida? Que necessidadesapresenta?

Asrespostas aestas questões reflectem-senoacompanhamento. Estas dimensões, deformação e devida, não sãoporém completamente estanques, se pensarmos queo diagnóstico de necessidades de formação deve integrar dados de caracterização social (diagnóstico social) que podem e devem ser considerados em todas as opções metodológicas e pedagógicas, sendo que, tais informações, poderão desde logo permitir o levantamento de algumas situações-problema comuns atodos oua maioria dosfuturos formandos. Da mesma forma, a identificação de uma situação-problema vivida por um ou alguns formandos no decorrer da acção formativa (por exemplo, os formandos poderãoexpor um problema pessoal durante uma sessão de formação, determinados temas e determinados métodos pedagógicos poderão desencadeá-lo), poderáresultar nasuainclusãono currículocomo temáticasociocultural. Por exemplo, face à ocorrência de determinados problemas (e sem que tal estivesse inicialmente previsto), poder-se-ão desenvolver actividades dedicadas ao planeamento familiar, enquadramentos legais sobre determinadas matérias (direitos e deveres), normas de funcionamento de determinados serviços públicos, serviçossociais aquese pode recorrere comoetc., obviamente, sempersonalizar.

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Desta forma, aresolução de alguns problemas pessoais poderápassar pelo desenvolvimento de algumas competências, através da dinamização de temáticas específicas, para além do acompanhamento individual.

Diagnóstico de necessidades básicas Identifica individualmente necessidades ao longo da formação; Desencadeia-se por iniciativa do formando (o formando pergunta, solicita apoio, desabafa); Focaliza-se nas necessidades pessoais dos formandos; Necessidades colmatadas fundamentalmente por via do acompanhamento; d) Qual a importância do diagnóstico de necessidades básicas para o sucesso da intervenção formativa? Dificilmente se conseguirá uma intervenção formativa bem sucedida junto de grupos sociais desfavorecidos se estes vivenciarem situações de carência ao nível de um conjunto de necessidades básicas. A entidade formadora ao intervir de modo mais ou menos directo sobre o domínio das necessidades básicas, está a ser coerente com o princípio da inserção social, como fenómeno multidimensional, que não se resume a uma intervenção formativa, com vista ao desempenho de uma actividade profissional. Essa base deentendimento sobre oque está emjogo numprocesso de exclusão/inserçãoé fundamental à prática formativa e deverá orientar a sua prática. Ela consubstancia-se nos percursos integrados de orientação-formação-inserção. Necessidades básicas

Ressocialização Competências básicas Competências Profissionais

Adaptado de Prudêncio,M., 1999

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A resolução de necessidades básicas dos formandos é um importante estímulo àsua adesão ao projecto formativo, nomeadamente àsuadimensãoderessocialização. A intervenção resultará mais eficaz se da parte dos formandos existir um sentimento de relativa “normalidade” na sua vida pessoal. Tal facilita todo o trabalho que houver a fazer ao nível do desenvolvimento pessoal e social, designadamente no plano da identidade individual dos formandos, suasatitudesevalores. A existência de algumas situações-problema como as que se exemplificaram anteriormente, (desalojamento, falta de recursos financeiros para alimentação, problemas com a justiça, problemas familiares, alcoolismo etc.) tornam especialmente difícil todo o trabalho que houvera fazer dereforço e criação de novasdimensões da identidadeindividual dos formandos.Esse processo de desenvolvimento pessoal e social,por suavezé fundamental aodesenvolvimento decompetênciasprofissionais. É importante considerar que o sucesso de uma intervenção junto destes públicos, designadamente, no seu sentido mais estrito de desenvolvimento de competências profissionais, depende em larga medida da capacidade de produzir outras mudanças de valores e atitudes durante o processo formativo (Prudêncio, M.,1999). O apoio àresolução das necessidadesbásicas dos formandos, de um outro ponto devista, é tambémum importante estímulo àadesão ao projectoformativo bem comoajuda apreveniro absentismo.

e) Como e quando deverá ser realizado o diagnóstico de necessidades básicas? Não existe propriamente um momento específico mais indicado para fazer o diagnóstico problemas de natureza pessoal dos formandos, pela simples razão que não é previsível o seu “aparecimento” na vida dos formandos. Não é possível determinar se, quando e como esses problemas são revelados no contexto daformação.

O diagnóstico de necessidades básicas não é previsível. A entidade formadora deve estar receptiva e preparada para responder aos problemas que surjam a qualquer momento e emqualquer contexto, durantetodo o processoformativo.

Numa fase a montante da formação, designadamente durante o diagnóstico social e o diagnóstico individual, é possíveldesde já identificaralguns problemas. Estesconstituem uma importanteinformação e quando possível deverão ser desde logo apoiadas algumas questões individuais, bem como algumas adequações daproposta formativaa essassituações.66

66 A definição dehorários adequados àsresponsabilidades domésticas e familiares ou a criação de condiçõespara a guardade dependentes paraos

formandos que tem essa responsabilidade constituem exemplos de uma adequação possível desde o início do processo formativo, com base dos elementos recolhidos nodiagnóstico inicial.

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A sinalização dos problemas deverá preferencialmente resultar de uma verbalização espontânea do próprio formando e por iniciativa deste. Nesse sentido, aquando a realização de balanços de competências, situação em que o formando ou potencial formando é solicitado a reflectir sobre si, suas necessidades e expectativas de vida, podem emergir elementos que permitam diagnosticar necessidades básicas. Podemos dizer que existemdeterminados momentos particularmentepropícios a essaidentificação, no entanto, o princípio deverá ser o da imprevisibilidade. E deve a entidade criar condições para que o formando sintaabertura parapoder exporas suasdificuldades. Tal passa pela relação pedagógica que se estabelece (não autoritária, com recurso a métodos activos, estabelecendo ligações empáticas entre formadores e formandos etc.) e pelo próprio programa de formação (a inclusão de uma componente de formação sociocultural ou Desenvolvimento Pessoal e Social, potencia a abordagem de muitas temáticas que tocam a vida pessoal e social dos formandos), sendo que, noâmbito da componentede DPS, constituemmomentos particularmente relevantestodos os espaços de discussão livre onde, apretextode uma necessáriacatarse sobre aexperiência formativa, o impacto desta nas suas vidas, dificuldades, frustrações, inseguranças várias, dúvidas sobre temas de vida, etc., facilmente emergem preocupações pessoais, eventualmente associadas a problemas concretos vividos.

Éfundamental o desenvolvimento de laços de confiança entre os formandos e a equipa técnica; a identificação dos problemas ocorre frequentemente por via da empatia e informalidade.

Poressa razão, momentos deinformalidade, tempose espaços de lazer, comoas pausas entre as sessões, refeições, etc., são especialmente propícios à verbalização de problemas de ordem pessoal. É importante que os elementos da Equipa Técnica (em especial o Técnico de Acompanhamento) possam participar também nesses momentos, sem que a sua presença seja sentida como intrusiva. O acompanhamento é umaconstante em todososcontextos.

f) Quem deverá realizar o diagnóstico de necessidadesbásicas? O Técnico de Acompanhamento será o responsável pelo acompanhamento e resolução de todos os problemas diagnosticados. E em larga medida cabe-lhe a si a realização desse mesmo diagnóstico de necessidades básicas. A figura dotécnico de acompanhamentodeverá ser intensamente“promovida” junto dos formandos, noque respeitaao seupapel, disponibilidade epostura.

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No entanto, toda a Equipa Técnica deverá estar implicada nesse processo na medida em que a verbalização dos problemas por parte dos formandos pode surgir nas mais variadas circunstâncias e consequentemente, junto dosdiferentes elementos daEquipa Técnica. Na realidade é o formando quem “escolhe” o elemento da equipa formativa ao qual confia determinadaspreocupações denatureza maispessoal.

Sendo ainformalidade uma condição facilitadora neste processo, é previsível que o formando recorra ao elemento como qualsinta aempatia eo necessárioà vontade. Nesse sentido, toda aEquipa Técnica deverá estar preparada, disponível para escutar e dar um primeiro apoio que depois merecerá uma intervenção mais directa e substantiva (essa intervenção constitui o Acompanhamento dos Formandos, domínio de intervenção específica do Técnico de Acompanhamento).67

Diagnóstico de necessidades básicas

Equipa Técnica Elemento A Equipa Técnica Formando

Elemento B Técnico de Acompanhamento

Acompanhamento do formando

Equipa Técnica Elemento C

67 Adiante, neste capítulo, seexplorarão formas dearticulação, nesta matéria,entre o técnicode acompanhamento ea equipa técnica.

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Resumidamente: Factores aconsiderar no diagnóstico de necessidades básicas: -Odiagnóstico denecessidades básicas éfundamental ao sucesso da intervenção formativa, na medida em queasseguraaoformando ascondições necessárias: 1.À sua adesão/ frequência, na medida emque a resolução das suas necessidades básicas é um importanteestímulo àmobilização dos indivíduos. 2.À sua permanência/ não desistência/ absentismo, na medida em que a existência de necessidades básicas na vida dos formandos poderá afectar a presença física e mental necessárias ao desenvolvimento do projecto formativo. 3.A uma aprendizagem bemsucedida, na medidaem que a resolução dasnecessidades básicas dos formandos é condição essencial à aprendizagem, e em especial ao desenvolvimento pessoal esocial. -A caracterização social realizada no momento do diagnostico de necessidades de formação pode já identificar algumasnecessidades maisestruturais. -Odiagnostico de necessidadesbásicas deverá semprepartir da iniciativado formando quepergunta e solicita apoioa umelemento daEquipa Técnica. -Todos os elementos da Equipa Técnica deverão estar receptivos e preparadospara escutar edar um primeiro apoio; é o formando que “escolhe” o elemento com o qual sente o à vontade necessário. - É fundamental o desenvolvimento de laços de confiança entre os formandos e a equipa técnica. -A identificação dos problemasocorre frequentemente porvia da empatiae em momentos e espaços informais. -Se um formando expõe um problema pessoal em momentos colectivos (no decorrer de uma sessão de formação, por exemplo), o Formador poderá discuti-lo pedagogicamente com o colectivo caso entenda que o mesmo decorre essencialmente de competências que necessitam ser desenvolvidas por umconjuntoalargadode Formandos.

g) Como actuar no apoio àresolução das necessidades básicas dos formandos? No que concerne à resolução das necessidadesbásicas dos formandos(problemas pessoais esociais dos formandos), o Técnico de Acompanhamento intervém sempre que algum elemento da Equipa Técnica ou o próprio toma conhecimento que algum problema dessa natureza afecta um formando. A condição social destes grupos, torna-os particularmente vulneráveis a um conjunto vasto de privações ou necessidades básicas. As situações são extremamente diversificadas pois que ancoradas a contextos de vida muito variados. As situações-problema implicam um acompanhamento bastante complexo, podendo este assumirformas tão variadasquanto as situaçõesde vida quese propõe apoiar. Éimportante que toda a equipa formativa esteja mobilizada para a sinalização de eventuais necessidades de carácter individual, familiar esocial que requeiramapoio por viado acompanhamento.

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O acompanhamento neste domínio específico é particularmente difícil de planificar. Um esboço da sua estruturação no tempo é tudo quanto é possível fazer a montante e numa fase inicial da intervenção formativa. Isto porque o diagnóstico das necessidades básicas, deverá ser realizado, como já referido, ao longo do processo formativo e por iniciativa do formando sendo previsível que as situações-problema sejam explicitadas à medida da relação de confiança que se vier a estabelecer com o tempo. Junte-se à imprevisibilidade dos problemas (sua natureza), a impossibilidade de determinar quando e como estes vão chegar ao conhecimento do Técnico de Acompanhamento... e temos um caminho a fazer cheio de interrogações esurpresas.

Por vezes não é fácil perceber. As necessidades raramente são verbalizadas de uma forma clara, frequentemente mascaradas por estratégias de defesa, conscientes ou não. Muitasvezes aformação éum refúgio,uma escapatória. Há que criar condições favoráveis à instalação de uma relação de confiança, e uma atenção esensibilidade particulares.

ACOMPANHAMENTO

Que necessidades? Quando asidentificarei? Como asidentificarei?

Cada caso é um caso. São infinitas as situações-problema a que o acompanhamento pode vir a ser chamado adarresposta, mais aindaas suasmúltiplascombinações em cadapessoa. O carácter essencialmente individualizado do acompanhamento releva dessa complexidade. No entanto, é deextrema importância a criação de momentoscolectivos com opropósito de darresposta a necessidades queafectam todoo grupo,ou umaparte significativadeste. Os momento colectivos permitem também a emergência de propostas de resolução feitas pelo próprio grupo de formandos,reforçando asuaauto-estima e oseu sentidodeco-responsabilização.

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Embora a natureza das necessidades não seja possível de prever à partida, os momentos formativos colectivos, designadamente em DPS, permitem o levantamento de algumas necessidades e a sua resolução, pois que necessariamente haverá problemasa discutire aresolver emambiente maisinformal. A partilhacom osoutros comvivências semelhantesé extremamenteeficaz.

Esse acompanhamento colectivo poderá ser apresentado como um espaço de periodicidade regular (semanal de preferência), integrado na componente sociocultural/DPS68, onde os formandos poderão exprimir livremente as suas preocupações. Tais sessões deverão ser entendidas como o espaço das catarses necessárias e possíveis. E como tal, deverão ser conduzidas de modo pouco directivo e concebidas e apresentadasaos participantes deum modo genérico como um balanço da semana. Como já referido, as sessões de DPS, de um modo geral, constituem elas próprias óptimos contextos para o diagnóstico de necessidadese para aresolução dos problemas, pela natureza dosconteúdos explorados e pelos métodos pedagógicos que se aplicam, designadamente, debates, resolução de dilemas/problemas de carácterpessoal,etc. Precisamente por serem espaços de expressão livre, revelam-se muito ricos pela variedade e profundidade das discussões que se proporcionam. Nestes momentos emergem não só necessidades básicas, como é possível ainda sinalizar eventuais problemas relacionados com a aprendizagem, com a relação entre os formandos e entre estes e a Equipa Técnica, sendo ainda possível identificar temas de interesse, a receptividade dos formandos relativamente às opções pedagógicas tomadas pela Equipa Técnicas,etc. Tratando-se de necessidades básicas, explicitadas pelo formando nesse contexto, pode o Técnico de Acompanhamento procederdoseguinte modo: 1.Dar resposta directa e imediata ao problema exposto, não sem antes tentar perceber se o mesmo é comum a outros formandos, através da sugestão e animação de debate sobre o assunto/tema relacionado; 2.Identificar o problema, transmiti-lo à Equipa Técnica e transformá-lo em conteúdo de formação a explorar em DPS animado pelo Técnico de Acompanhamento ou noutra área de formação, pelo formandor; 3.Identificar o problema, transmiti-lo à Equipa Técnica e transformá-lo em conteúdo de formação, animado por um elemento externo à formação (interlocutor privilegiado/especialista no domínio técnico doproblema); 4.Identificar o problema, transmiti-lo à Equipa Técnica e implicarmais activamente na sua resolução algum dos elementosque a constituem, aquele queestiver melhor posicionado/habilitado/implicado paratal;

68 Sobre Desenvolvimento Pessoal e Socialver Preparar aIntervenção - Construçãoda Intervenção Formativa.

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5. Identificar o problema,transmiti-lo à EquipaTécnica e iniciarum acompanhamento maisindividual, implicando eventualmente recursos externos à formação, que possam ser interlocutores privilegiados para oefeito; Não existem receitas. As opções atomar pelo Técnico de Acompanhamento estão sujeitas à ponderação devariáveiscomo: 1) anatureza dasituação-problema; 2) omaior oumenor à-vontadedo técnicona matéria; 3) ascompetências específicas quelhe estão atribuídaspela organização; 4) ascaracterísticasdos formandosetc.

O acompanhamento inicia-se também muito frequentemente a partir de uma interpelação por parte do formando, junto de um elemento da Equipa Técnica em privado e em jeito de confidência. Tal situação ocorre sempre que se tratam de situações-problema que o formando entende como particularmente graves.E como já referido, é bastante natural e previsível que o façam junto de outros elementos da equipa que não o Técnico de Acompanhamento. Todos os elementos da Equipa Técnica deverão disponibilizar-se e mostrar-se receptivos ao formando e à sua eventual necessidade de partilha de preocupaçõesedificuldades. Nessa circunstância deverá o elemento da Equipa Técnica a que foi confiado o problema, aconselhar/encaminhar o formandopara o Técnicode Acompanhamento.

Os elementos da equipa formativa deverão manter o máximo sigilo sobre os problemas que lhe são confiados, por forma a estabelecer a necessária relação de confiança. E deve ser respeitada a opção do formandonão querer falar com o Técnico deAcompanhamento.

Deverão pois, os elementos da Equipa Técnica informar o Técnico de Acompanhamento de determinadas situações de que têm conhecimento. No entanto, sempre que possível, o formando deverá sentir que o assunto permanece na relação entre ele e o elemento da Equipa Técnica a quem confiou o seu problema, nãodevendo este demitir-se da situaçãoa partir domomento em queo Técnico de Acompanhamento intervém. É fundamental salvaguardar a descrição sobre a privacidade do formando.

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Quando os problemas são identificados pelo técnico de acompanhamento, estes poderão ser apresentados à equipa caso isso seja pertinente para a sua resolução. No entanto, nessa circunstância, este não deverá identificar os formandos-problema junto da restante equipa técnica, mas apenas o problema em si, mais uma vez, por uma necessidade de criação de uma relação de confiança entre estes e o técnico de acompanhamento.

h) Como actuarno apoio àresolução de problemasrelacionados com aadaptação à formação/aprendizagem? O apoio àresolução de problemas relacionados com aadaptação àformação e aaprendizagem, constitui um outro domínio de intervenção do Técnico de Acompanhamento. O Técnico de Acompanhamento deverá assumir-se como um interlocutor privilegiado para a avaliação da satisfação e adaptação dos formandos (aprendizagem, relações interpessoais, grau de satisfação geral, adequação dos métodos e conteúdos etc.). Esseserá um (entreoutros) importante indicadorde medida dascompetências sociais e relacionais. Também neste plano o acompanhamento se focaliza nas possíveis interferências de factores externos ao projecto formativo, mais ou menos subjectivos que podem comprometer o seu normal curso e os resultados esperados. Frequentemente, as dificuldades de adaptação/aprendizagem decorrem de necessidades básicas/ contextos de vida dos formandos. Este domínio está assim também fortemente relacionado como anterior (Apoio àresoluçãodas necessidades básicasdos formandos), e as linhas deacção maisadequadas nãodivergem muitodaspropostas

Sendo os contextosde vida determinantesrelativamente aos modosde ser e de estar, eis a razão pela qual o acompanhamento é um domínio de intervenção privilegiado para avaliar o desenvolvimentode determinadascompetências pessoais e sociais e dos formandos, designadamente aquelas que são imprescindíveis à frequência de uma acção deformação ea umainserçãosócio-profissional.

O carácter de presença, de relação, partilha e até de confidência que são intrínsecos ao acompanhamento, favorecem a aferição de elementos como o grau de satisfação, percepção e opinião do formando relativamenteà suavidaem geral eàformação emparticular. Esses elementos são fundamentais não só para a avaliação da intervenção formativa, especialmente os que respeitam àopinião do formando relativamente àformação (avaliação de reacção; ver Avaliação dos formandos), mas também, para percepcionar o quanto a experiência formativa está a ser integradora e está a proporcionaraos formandos aquiloque a que se propõee que priorizará como sendoa criação da necessidade e/ou capacidadede experimentar erealizar um projectoprofissional e devida.

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Na medida em que a formação constitui ela mesma uma experiência de inserção (para alguns, muito provavelmente, uma primeiratentativa para outros, mais uma sobrevárias experiências malsucedidas), é bastante previsível a ocorrência de determinadas situações que decorrem do processo de adaptação, desocialização. É fundamental não perder de vista que, quando um formando inicia um projecto de inserção, está frequentemente a entrarnuma realidade quedesconhece, que marcauma ruptura significativacom a sua história, contextos emodos de vida. A experiência formativa representa para ele significativamente mais do que para o formando em condições sociais “normais”. Este formando não só terá que realizar as aprendizagens necessárias ao exercício de uma determinada actividade profissional, como, simultaneamente, deverá enfrentar um processo de socialização que será sentido de uma forma mais ou menos violenta, dependendo das suas condições sociais devida, do seumaior oumenor grau deexclusão social. A equipa formadora deverá reservar uma atenção especial à dimensão socializadora da acção que desenvolve. Há que socializar os formandos na e para aacção de formação, para o trabalho e para avida em sociedade em geral. Estes contextos são muito semelhantes no que respeita ao conjunto de competências mínimas exigidas em termossociais erelacionais. O Técnicode Acompanhamento intervémde forma maisdirecta neste planona medida emque promove junto dos formandoso princípio básicoda relação como outroe como contexto. De um modo geral, constituem elementos fundamentais a um processo de socialização a adesão a um conjunto de valores, princípios, objectivos comuns a um grupo/associação, co-responsabilização dos sujeitos pelos processospessoais e sociaisem queparticipam, o cumprimentode direitos edeveres etc.

Também os aspectos aqui referenciados merecem registo e acompanhamento, nos mesmos moldes do domínio anterior. Acresce no entanto anecessidade de trabalhar com ogrupo, emparticular, as seguintes actividades: 1) Elaboração de um contrato de formação com a expressa referência aos seus objectivos, condições gerais de organização e funcionamento, bem como aos direitos e deveres de cada um. Visa a implicação formal de todas as partes, em especial do formando relativamente ao processo formativo que irá experienciar;

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Podendo um contracto de formação ter características muito variadas (devido àdiferente natureza das entidades formadoras edas intervenções concretas),de ummodo geral inclui: O contrato de formação deverá incluir...69 Adescriçãodo cursoque oformando vaifrequentar eos objectivosdo mesmo A indicaçãodo locale dohorário emque serealiza aformação O montante dabolsa ou subsídios,caso haja lugarà suaatribuiçãoe ascondições de pagamento A referência àrealização de segurocontra acidentespessoais A indicaçãodo currículode formação A Identificação doselementos da EquipaTécnica erespectivascompetências A indicaçãodas regrasde assiduidade Adescrição dosdeveres gerais e/ouespecíficos do formando Adescrição dosdireitos gerais e/ouespecíficos do formando A descrição dosdeveres gerais e/ouespecíficosda EquipaTécnica A descrição dosdireitos gerais e/ouespecíficos daEquipaTécnica A indicaçãodo queconstitui infracçãodisciplinar esançõesprevistas A vigência docontrato deformação Ascondições derescisão do contratode formação A certificação aque corresponde ...

2) Construção de um código de conduta com o grupo70, centrado nas regras de funcionamento e de relação entre todos os envolvidos, elaborado em conjunto no início da acção mas aberto a melhoria e adequação contínua. Esta poderá ser uma das primeiras actividadesa desenvolver no módulo de DPS e o seu aperfeiçoamento pode decorrer do resultados alcançados pelo grupo relativamente à discussão de potenciais situações e/ou de situações realmente ocorridas no grupo, do plano comportamental, relacional ou funcional. De alguma forma este instrumento pode ser semelhante ao contrato de formação, no que respeita aos direitos e deveresdos formandos. Umcódigo de condutapermite contudo aenunciação de aspectosque são doplanodosprincípios.

69Adaptado de Decreto-Lei nº 405/91, de 16 de Outubro (diploma que visa regular o quadro legal da formação profissional inserida no sistema

educativo e nomercado deemprego) 70 Especialmente adequado agrupos jovens, comproblemas comportamentais e/oudéficit de competênciassociais erelacionais.

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São possíveis, atítulode exemplosas seguintes propostas:71 Devo cooperar com os colegas e com os formadores na realização das actividades que houver afazer Devo fazer-meacompanhar domaterialnecessário Não devodeteriorar oedifício, omobiliário eos materiais Devo comportar-mecomcorrecção Devo apresentar-melimpo ecomboa apresentação Devo mantero espíritode colaboraçãonecessário àaprendizagem ...

3)Aferiro grau de satisfação dos formandos nosespaços abertos em DPS dando aresposta adequada em termos de acompanhamento das situações, no próprio contexto de DPS ou fora dele (segundo as várias vias atrásinumeradas), fazendo oseu registo naficha de acompanhamento;

4)Implicar os formandos nos processos de avaliação (dos próprios e da intervenção formativa), regularmente e porresposta a um questionário, acção essa que pode ser dinamizada e contextualizada pelo Técnicode Acompanhamento(verAvaliação da intervençãoformativa); 5)Realizaçãode reuniõesregulares da Equipa Técnicaem quea questão daadaptação dos formandosà formação e à aprendizagem deverá constituir um dos pontos fundamentais da ordem de trabalhos e o Técnico de Acompanhamento assumido e reconhecido no seu papel de interface e centralizador das decisões.

i) Como apoiar a preparação para ainserção/ contexto de trabalho? A dimensão do acompanhamento concorre de um modo directo e fundamental para o objectivo da inserção profissional. Tal traduz-se na sua vertente de apoio à resolução de necessidades básicas, pois a inserção será mais efectiva porquanto o formando estiver pacificado com as várias dimensões sociais da suavida. A inserção do formando em contextos de trabalho, sendo uma necessidade fundamental, requer uma atenção e um investimento particulares, havendo que considerá-la num momento relativamente inicial do processo formativo, designadamente, já na fase de diagnóstico de necessidades de formação (ver Diagnóstico de necessidadesde formação eoportunidades do mercado-detrabalho). 71 A forma e o conteúdo podem ser muito variáveis, ajustados às necessidades e aos grupos concretos. Eventualmente este poderá ser afixado em

espaço visível paratodos no espaçofísico onde decorrea formação.

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A preparação para a inserção/ contexto de trabalho assume-se como um domínio de intervenção do acompanhamento que envolve mais directamente o Técnico de Inserção e menos o Técnico de Acompanhamento.

Éneste domínio específico da intervenção que acontece anecessária articulação entre o técnico de acompanhamento e o técnico de inserção. Digamos que é o ponto de intercepção do acompanhamento dos formandos (nos moldes definidos) e o acompanhamento dos mesmos no contexto específico da formação em contexto de trabalho. Esse “encontro” acontece (como referidoem Construção da Intervenção formativa) nocontexto domódulo deDPS.

Essa preparação dos formandos para o contexto de trabalho implica, por parte do Técnico de Inserção, uma intervenção junto das entidades empregadoras (a iniciar no diagnóstico de necessidades) e uma intervenção junto dos formandos. Os dois planos requerem uma estratégia comum e consistente devendo estararticulados.

Em rigor, podemos considerar que todas as intervenções que são do domínio do acompanhamento, se mobilizam para a preparação dos formandos para a sua inserção sócio-profissional. No entanto, é possível identificar um conjunto de acções muito específicas, a realizar pelo técnico de acompanhamento e que podem influenciar sobremaneira essepropósito.

Como já aqui foi amplamente referido, as competências pessoais e sociais deverão ocupar um espaço significativo naintervenção formativadirigida aospúblicos emsituação dedesvantagem. Por duas grandes ordens de razão: porque estas são precisamente as que se encontram mais deficitárias, pois são muito permeáveis aos contextos de exclusão dos indivíduos cabendo à formação enquanto projecto de inserçãominorar a influênciadesses contextos e/oualterá-los; e porque,podemos dizê-lo, o domínio das competências sociais assume-se como uma condição essencial ao desempenho de uma actividade profissional. Tratam-se de competências básicas e transversais (preparam o indivíduo para uma multiplicidade de contextos de vida e de trabalho), sem as quais qualquer experiência de trabalho resulta fortementecomprometida. Sem desconsiderar aimportância das componentesteóricas e técnico-práticas (requisitos fundamentais àqualificação e àcertificação e garantes de empregabilidade, flexibilidade, polivalência), digamos que em determinadas circunstâncias o domínio de algumas dessas competências básicas é o factor decisivo para a inserção num contextode trabalho.

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Para determinadas actividades profissionais com conteúdos funcionais pouco exigentes (tarefas pouco complexas, fraca autonomia), com menor exigência em termos de qualificação e de especialização técnica, a dimensão do saber ser/estar é, frequentemente e praticamente, o único critério utilizado pelo empregador no momento emque éconfrontado com aproposta deintegração.

Tal sucede também mais frequentemente por parte das pequenas e muito pequenas empresas, caracterizadas por meiose modos de produção maissimples e menosestruturados onde oempregador, não rarasasvezes,faz questãode asseguraro ensinodos saberes-fazer. A preparação dos formandos para o contexto de trabalho por parte dos Técnicos de Inserção e de acompanhamento deverá assimincidir sobretudo sobreas competências sociaiserelacionais.

Para além das necessárias e regulares sessões de formação para o Desenvolvimento Pessoal e Social, dinamizadas pelas duas figuras, é da maior importância realizar um trabalho mais intensivo no momento em que se aproxima a inserção dos formandos no contexto de trabalho, com a acção mais directa do Técnico deInserção. Com base na informação recolhida sobreo formando, juntoda equipa técnica e durante todoo período de formação e, simultaneamente, com base no conhecimento que tem das empresas, o Técnico de Inserção deverá tantoquanto possível preparar, informando, sensibilizando, prevenindo e adaptando o formando para a realidade que irá experenciar. Desta forma deverá o Técnico de Inserção basear-se no diagnóstico algo exaustivo que realizou junto de cada empresa, que lhe permitiu reunir um conjunto de elementos de carácter mais particular que têm a ver com as especificidades concretas de cada organização. Trata-se de informações preciosas ao formando no momento em que está prestes a deixar o ambiente formativo emsala ea confrontar-secom umcontexto realde trabalho, tais comocódigos devalor eregras de conduta, o ambiente relacional existente (pares e superiores), as possíveis dificuldades que poderá enfrentar etc., factores que têm a ver com cultura da empresa (e que são sempre específicos de cada organização) eque fazemsobretudo apeloàs competênciaspessoais esociais dosque aintegram. A própria apresentaçãodo formando à empresa/empregador deverá serpreparada, podendo justificarse um reforço de algumas matérias abordadas na componente de formação sociocultural, designadamente, técnicas básicas de comunicação em situação de entrevista, ou aconselhamento sobre o modocomo sedeverá apresentar vestidoe apresentado, porexemplo. O dia da apresentação do formandoà empresa eo primeiro dia de trabalho são ocasiões fundamentais e são decisivos para o seu futuro, podendo haver necessidade de o acompanhar nessas ocasiões. As primeiras impressõespodemserdeterminantes.

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Toda a informação que ajude a preparar os formandos para os contextos específicos das empresas que os vão acolher, deverá ser reunida e transmitida ao formando pelo técnico deacompanhamento emreuniões individuaise informais.

O Técnico de Inserção iniciaa partir daquio seu papel de mediadorentre oformando e aempresa, dando início ao acompanhamento em contexto de trabalho, actividade em que partilhará responsabilidades com o Tutor da empresa. Sendo que também aí o acompanhamento visa dar resposta auma necessidade básica do formando: a inserção no contexto de trabalho. Seja ainda em formação (estágio), seja na sua inserção efectiva (contratação), o acompanhamento consubstancia-se no apoio a todas as necessidades de adaptação e adequação do formando ao contexto da empresa, favorecendo a sua inserção pela satisfação deambasaspartes. Formando Informasobre os códigos de valor e regras de conduta da empresa; Descreve o “ambienterelacional”;

Técnico Empresa de Inserção No momento prévio àinserção do formando em contexto detrabalho

Altera para aspossíveis dificuldades; Prepara-o paraentrevista

Acompanha-o àempresa no primeiro dia de trabalho ...

Sensibiliza para a inserção;

Contratualiza ainserção/ formação em contexto de trabalho do formando Informa sobre o formando, suascaracterísticas pessoais eprofissionais; Inicia articulação com responsável pelo acompanhamento do formando na empresa (tutor)

j) Como se estruturam astarefas de acompanhamento? Podemos dizer enfim, que todas estas intervenções que configuram o acompanhamento (apoio às necessidades básicas, socialização e integração socioprofissional), assumem-se simultaneamente como condiçõespara ecomo espaços dedesenvolvimento pessoal esocial. Exemplificam-se algumas situações-problema e as possíveis respostas do ponto de vista do acompanhamento.

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SITUAÇÕES EXEMPLO

Caso1: Uma Formandapartilha, com uma Formadorada componente técnico-prática do curso,que évítima de maus tratos porparte do seucompanheiro alcoólico. Pedediscrição.

Respostapossível: A Formadora disponibiliza-se para apoiar a formanda na medida das suas possibilidades e recursos, passando o problema para o Técnico de Acompanhamento. Este informa-se junto de entidades especializadas na resolução desta problemática (APAV, Polícia etc.) procurando as melhores orientações adar àquestão. Deverá acompanharo desenrolardasituação. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------Caso2: No contexto de uma sessãosemanal de acompanhamento, uma formanda manifestadesconhecimentos básicos sobre métodoscontraceptivos.

Respostapossível: A Técnica de Acompanhamento partilha essa situação com a Equipa Técnica queconjuntamente avalia a pertinência de introduzir temas como sexualidade, planeamento familiar, métodos contraceptivos, doenças sexualmentetransmissíveis etc. noplano deformação deDPS. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------Caso3: Um formando manifesta preocupação relativamente uma possível infecção por HIV/SIDA, junto do Técnico deAcompanhamento.

Respostapossível: O Técnico de Acompanhamento reúne informação, aconselha e encaminha o formando para parceiros locais específicos de diagnóstico e de apoio. Simultaneamente, em sessão de formação, informa e sensibiliza para formasde prevenção, semnomear casos. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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Caso4: Durante umasessão deformação sociocultural, um Formandorevela quepretende dar início aprocesso de naturalização, nãotem qualquer documentode identificação oficiale desconhece comoobtê-lo.

Respostapossível: A Formadora aconselha a Formanda a solicitar apoio e acompanhamento junto da Técnica de Acompanhamento. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Caso5: A Coordenadora Pedagógica toma conhecimentode que o Formando falta com frequência àformação e mostra-se desmotivado porque tem a cargo um familiar acamado que requer cuidados permanentes e não dispõede qualquerajuda.

Respostapossível: A Coordenadora Pedagógica expõe a situação à Equipa Técnica, solicita umaintervenção do Técnicode Acompanhamento, no sentido de este reunir toda a informação necessária à resolução do problema. O Técnico de Acompanhamento orienta e acompanha o formando no processo, estabelecendo contacto com parceiros locais na resolução da situação, designadamente com uma entidade especializada em ajudafamiliar.

Éindispensável que os Técnicos de Acompanhamento e de Inserção disponham de um instrumento de registo das ocorrências. É importante considerar que não se trata de uma ficha deacompanhamento /avaliação do desenvolvimento pessoal e social dos Formandos. Esse instrumento deverá ser suficientemente aberto por forma a prever e a incorporar a multiplicidade de situações aqui expostas, assumindo um carácter de quase “diário de bordo” dos processos individuais. Poderá ter uma configuração semelhanteà quesepropõe.

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Colecção Metodologias

Ficha individual de acompanhamento Nome do Formando _________________________________________________________ Técnico de Acompanhamento __________________________________________________ Ocorrência (descrição da situação problema, diagnóstico)

Data em que o Técnico teve conhecimento (diagnóstico)

Fonte (quem e em que contexto, diagnóstico)

Proposta deacompanhamento (estratégia, plano deacção, actoresamobilizar para aresolução do problema...)

Observações (descrição datada e contextualizada do processo de resolução da situaçãoproblema, “diáriode bordo” do acompanhamento)

Este instrumento deverá ser preenchido pelo Técnico de Acompanhamento integrando elementos do diagnóstico de necessidadesrecolhidos informalmente eindividualmente por iniciativado formando, no contexto das sessões de DPS, pela Equipa Técnica (informalmente ou nas reuniões de equipa). Também o conteúdo das fichas de avaliação da satisfação do formando poderão ter interesse. Para além do diagnóstico, deverá descrevera proposta deresolução e todoo processo decorrente.Porrazõesaquejá

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se fizeram referência este instrumento deverá ser confidencial, permanecendo apenas na posse do Técnico deAcompanhamento. Em síntese, a importante função do acompanhamento, concretiza-se no desenvolvimento dos três grandes domínios referidos: 1) no apoio à resolução de necessidades sociais básicas; 2) no apoio à resolução de problemas relacionados com a adaptação à formação/aprendizagem e 3) na preparação para ainserção/contexto detrabalho. O acompanhamento realizado nessas três valências é realizado através de momentos de grupo e individuamente, deacordo como seguinteesquema: Acompanhamento

Estratégia

Acompanhamen to em grupo; sessões semanais de DPS

Dinamização de temas de vida com colaboração de parceiros; recurso a pedagogias activas Momentos de balanço de vida do grupo e da formação, com recurso

Acompanhamen to individual

Conversas apedido do Formando/ Técnico de Acompanhamento/ Técnico de Inserção Caso se considere adequado, conversas marcadas numa periodicidade

a pedagogias activas

pré-negociada com o grupo.

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PREPARARAPRÁTICA…

Na presente Dimensão Crítica, apontam-se propostaspráticas que devemser apropriadas eadequadas às realidades concretas de cada contexto social e formativo. Caso as considere pertinentes para a sua prática, propomos quereflicta sobre comoapropriar-se daspropostas apresentadas. > Síntese do ponto: check-list das principais tarefas

Integrar uma dimensão de Acompanhamento Apoiar os formandos na resolução de problemas relacionados com aadaptação àformação e àaprendizagem Apoiar os formandos na resolução de necessidades sociais básicas Preparar os formandos para ainserção/ contexto de trabalho Realizar um diagnóstico de necessidades básicas junto dos formandos com vista ao estabelecimento de um plano de acompanhamento Estabelecer uma relação pedagógica favorável a um diagnóstico de necessidades básicas Considerar o espaço de DPS como um importante meio de diagnóstico de necessidades a apoiar por via do acompanhamento Implicar toda a equipa formativa no acompanhamento Promover afigura do Técnico de Acompanhamento como actor principal no processo de acompanhamento Considerar uma multiplicidade estratégias de resposta às necessidades de acompanhamento Adequar asestratégias de resposta àscaracterísticas das situações-problema e dos formandos concretos Elaborar e disponibilizar aos formandos um contrato de formação Construir um código de conduta com o grupo Realizar reuniões regulares da Equipa Técnica onde aquestão da adaptação dos formandos constitui um dos pontos fundamentais da ordem de trabalhos

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Implicar o Técnico de Inserção na no acompanhamento, em particular na sua dimensão de preparação dos formandos para ainserção/ contexto de trabalho Elaborar e aplicar uma ficha individual de acompanhamento

> De entre as principais tarefas da presente Dimensão Crítica: -

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Que dificuldades encontro para “fazer” o que é proposto? O que considero prioritário fazer? Que mudanças implicam aimplementação prática das propostas (em quê, como e com quem)? Quais as vantagens e quais as desvantagens de implementar o que é proposto?


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INSTRUMENTOS DE APOIO Ficha individual de acompanhamento Nome do Formando _________________________________________________________ Técnico de Acompanhamento __________________________________________________ Ocorrência (descrição da situação problema, diagnóstico)

Data em que o Técnico teve conhecimento (diagnóstico)

Fonte (quem e em que contexto, diagnóstico)

Proposta deacompanhamento (estratégia, plano deacção, actoresa mobilizar para aresolução do problema...)

Observações (descrição datada e contextualizada do processo de resolução da situaçãoproblema, “diáriode bordo” do acompanhamento)

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