Definiçao da estrategia avaliativa

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Definição da estratégia avaliativa



Colecção Metodologias

Formação para a Inclusão. Guia Metodológico.

IDENTIFICAR Necessidades

PREPARAR aIntervenção

ACOMPANHAR aIntervenção

Diagnóstico social e dasdinâmicas territoriais

Construção da intervençãoformativa

Acompanhamento dos/asformandos/as

Diagnóstico deexpectativas enecessidades individuais de formação

Definição da estratégia avaliativa

Acompanhamen to daformação em contexto detrabalho

Diagnóstico denecessidades deformação eoportunidades do mercado de trabalho

Definição emobilização dos meios humanos emateriais

RECONHECER Processos eResultados

Avaliação daintervenção

Ao longo deste ponto, procuramos abordar as seguintes questões: a) Qual aimportância da definição e implementação de uma estratégia avaliativa? b) Como iniciar o desenho de uma estratégia avaliativa? c) Quais os factores críticos do planeamento de uma estratégia avaliativa? d) Quais os factores críticos da avaliação dos/as formandos/as? e) Qual a importância de implicar os/as formandos/as e outros actores no processo avaliativo?

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a) Qual aimportância da definição e implementação de uma estratégia avaliativa?

A avaliação constitui-se como um importante processo de auto-reflexão e retroacção do processo formativo. Éindispensável que, desde o início, seja concebido e, depois, implementado um dispositivo de observação e reflexão crítica sobre todos os momentos do processo formativo, permitindo recolher dados que facilitem ajustamentos imediatos ou quase imediatos, bem como análises de maior abrangência nos períodosintermédio, final epós-final da intervenção. Uma boa práticaavaliativa produz efeitos do curtoprazo aolongoprazo. Não nospropondo abordar empormenor esta vastaárea50, partamos daseguinte definição deavaliação: Processo de conhecimento da qualidade da acção, medindoos resultados deacordo com os objectivos fixados,para poder melhoraras decisões estratégicas(CIARIS, 2004). Qualquer abordagem avaliativa constitui-se como um instrumento estratégico com três grandes funções:

Funçõesdaavaliação (IQF, 2004,p. 251) -Regulação do processo de formação, quando visa realinhar as intervenções de acordo com as necessidades dos seus destinatários, assim como controlar e garantir aqualidade dasintervenções. -Medição dos resultados alcançados, quando se reporta a referenciais prédefinidos. -Desenvolvimento e melhoriacontínua, quando aposta na disponibilização de recomendações, assim como partilha de aprendizagens efectuadas durante a implementação doprocessoformativo.

50 AAvaliação da Formação tem sido uma importante área de enfoque do IQF (cf. Cardosoet al., 2003). Aconselha-se ainda a consultade Fase Vdo

Guia para aConcepção de Cursose Materiais Pedagógicos (IQF, 2004), bemcomo o Guiade Avaliaçãoda Formação (IQF, no prelo).

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Deste modo, a avaliação apresenta umconjunto de potencialidadesassociadas ao factode (adaptado de CIARIS,2004): - Exigir reflexãocontínua sobre decisõese acção - Darum conhecimentointegral detodas asáreas atodos osactores - Permitir maiorracionalidade eparticipação nasdecisões - Clarificar, juntodos envolvidos, resultados,impactose mais-valiasda acção - Possibilitar maiores aprendizagenscolectivas eindividuais - Proporcionarmomentosde partilhae negociação - Disponibilizar evidênciaspara a visibilidade,disseminação e transferibilidadedaspráticas - Justificar, deforma relativamente objectiva,a acçãoe oprocesso que asustentou A discussão em torno da importância e virtualidades de um bom processo avaliativo não é nova nem específica de qualquer tipo de formação. Todavia, é importante destacar que no contexto das presentes intervenções, a necessidade de um acompanhamento próximo de todos os momentos apresenta-se com enormepremência, designadamenteporque: I.As situações individuais e do grupo de formandos são complexas, exigindo permanentes ajustamentos que facilmentelevam adesviosdos planos erumos inicialmentetraçados. -Há que saber sempre onde estamos e para onde nos propusemos ir! ("Não há ventos favoráveis para os quenão sabem paraonde vão", Séneca) II. Estes contextos caracterizam-sepor frequentes resultadosnãoesperados. - Háque avaliar empermanência assuasorigens e eventuaisimpactos no decorrerdaintervenção! III. Estes contextosreúnem actoresde proveniências(e culturas)muito diversas. -Há que criar espaços e momentos de reflexão conjunta, promovendo experiências de democracia participativa ondese partilhem enegoceiem divergências ediferenças! IV.Os meios(humanos, materiais,financeiros) costumamser escassos,e asnecessidades abundam. -Há que ter permanentemente justificados os gastos, sobretudo em situações ou circunstâncias não previstas e não aprovadas inicialmente pelos responsáveis (designadamente, os financiadores)! V.Ser actorda intervençãoformativa (sejacomo Formando,Formador, ououtro), éem simesmo uma experiência formativa ede inserçãosocial. -Há que alimentar areflexão crítica conjuntaque explicita eenriquece as experiênciasindividuais e dogrupo dosactoresenvolvidos!

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b) Como iniciar o desenho de uma estratégia avaliativa? O foco de avaliação é toda a intervenção formativa nas suas várias dimensões, pelo que a estratégia avaliativa deve ser concebida após aestabilização da propostaformativa. Da mesma forma, sendo este o foco de avaliação, a estratégia avaliativa não pode ser desenhada no fim da intervenção, sob pena de comprometer asuaeficácia,pertinência eactualidade. No que diz respeito aos actores responsáveis pelo processo avaliativo, aavaliação pode ser categorizada como: Tipologias em função de quem realiza aavaliação Auto-avaliação Avaliação interna

Avaliação externa Avaliação mista

-A avaliação é realizada pela mesma equipa que aexecuta (pode ter apoio externo). - É realizada dentro da organização gestora do projecto, mas com distanciamento da equipa deexecução.

- É realizada por pessoas estranhas à organização. - Combina os vários tipos de avaliação.

In Guerra, 2000,p. 176

A equipa responsável pela definição da estratégia de avaliação assume o papel de facilitação do processo avaliativo na medida em que concebe um dispositivo de avaliação a aplicar pelos vários elementos que intervêm na formação. Responsabiliza-se igualmente pela validação, junto dos vários actores, da abordagem proposta, gestão de todo o processo, bem como tratamento, análise de informação e respectiva devolução aosbeneficiários doprocesso. Neste sentido, aprimeira tarefa éfazer opções sobreo tipo deprocesso avaliativo quese pretende levara cabo emobilizar os meiosnecessários, designadamente dequem vai monitorizaro processo. É importante referir que a opção exclusiva por auto-avaliação afigura-se, neste contexto, de alcance limitado, sobretudo quando, para além deuma Equipa Técnica, existe uma activa Comissão de Parceiros envolvida nos vários momentos da intervenção formativa. Neste tipo de intervenção combina-se, geralmente, auto-avaliação com avaliação interna ou externa (avaliação mista). A implicação de actores externos ao processoformativo na avaliaçãotem vantagens, sobretudo(Guerra, 2000): -No apoio ao desenho da avaliação e na testagem dos utensílios de avaliação que são, muito frequentemente, pensados paraesseefeito; -Para impulsionar um funcionamento de rotina avaliativa, reuniões preparadas de avaliação, de acompanhamento,etc; - Para apoiar algumastécnicas de avaliaçãomais sofisticadas; - Para contribuir paraa sensibilização dealguns actores locaispara asquestõesda avaliação.

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c) Quais os factores críticos do planeamento de uma estratégia avaliativa? Independentemente das suas modalidades, o processo avaliativo requer um planeamento prévio que exige, nomeadamente, a presença de um responsável pela avaliação e a contabilização dos encargos próprios edorespectivo financiamento.

Para qualquer intervenção formativa, propõem-se asseguintes sete etapas de planeamento de uma estratégia avaliativa (IQF, 2004;IQF, noprelo): - Etapa 1- Definição dosobjectivos de avaliação- Porquê? - Etapa2 - Definição dasquestões avaliativas(objecto deanálise) - O quê? - Etapa 3- Definição dosmomentos avaliativos erespectivas dimensões aavaliar - Quando? - Etapa 4- Identificação dasfontes de informação- Quem? Comquem? - Etapa 5- Identificar/construir oquadro de referênciado processo avaliativo- Com baseem quê? - Etapa 6- Identificar métodose técnicas deavaliação autilizar- Como? - Etapa 7-Identificar actoresinteressados nos resultadosda avaliação -Paraquem? Observando cada etapa, destaquemos alguns dos principais factores distintivos de uma estratégia avaliativa concebida paraas intervenções formativasorientadas paraainclusão.

Etapa 1 Definição dos objectivos de avaliação (Porquê?) Destaquem-se: -Objectivos de aferição de níveis de escolaridade, qualificação e empregabilidade dos formandos. Sendo prioritário o aumento dos níveis de escolaridade e de qualificação e, ao limite, de empregabilidade dos formandos, por contraposição aos níveis de partida, o processo avaliativo tem que oter porfinalidade. -Objectivos de cumprimento de requisitos de certificação escolar e/ou profissional. Quando a proposta formativa foi estruturada com base em referenciais de certificação, aavaliação é definida em função dos mesmos, aferindo o seucumprimento e produzindoevidências que apoiemos processos decertificação.

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-Objectivos de avaliaçãode práticas formativas. As próprias práticas formativas devem ser alvo de avaliação, com vistadestacar e disseminaras bem sucedidase ajustar asmenos positivas. -Objectivos de avaliação de práticas de partenariado. A vida e funcionamento do próprio consórcio de parceria devem ser alvo de avaliação, com vista destacar e disseminar as práticas bem sucedidas eajustar asmenos positivas. -Objectivos de sustentação de futuras intervenções. O processo avaliativo deve disponibilizar informação que apoiea tomada dedecisão relativa àcontinuidade da presenteintervenção.

Etapa 2 Definição das questões avaliativas (objecto de análise) (O quê?) Destaque-se51: -Avaliação dereacção detodos osactores implicados(formandos, equipa técnicas,tutores da FCT, empregadores, todos os parceiros envolvidos), relativamente a aspectos vários da intervenção formativa, designadamente: objectivos de aprendizagem; conteúdos do programa de formação; materiais e recursos pedagógicos aplicados; formadores/facilitadores; actividades formativas; carga horária do programa de formação; condições físicas de apoio à formação; expectativas face à formação; condições logísticas/administrativas;etc. -Avaliação das aprendizagens, designadamente ao nível do desenvolvimento / aquisição, por parte dos participantes na formação, de saberes-fazer técnicos, saberes e saberes-fazer sociais e relacionais. -Avaliação de comportamentos (transferência de adquiridos), designadamente mudanças verificadas nos comportamentos dos participantes em sala e em posto de trabalho (alteração de métodos de trabalho,maior autonomiaindividual...). -Avaliação de resultados, junto dos formandos, das entidades parceiras e das entidades empregadoras, designadamente: alterações nas práticas e resultados das organizações; custobenefício associado à formação desenvolvida; retorno de investimentos nos participantes e nas organizações. Este objecto de análise exige um enfoque na qualidade e eficácia das práticas e, portanto, de umolhar sobre osprocessos e nãosó resultados.

51 Consideramos, nesta etapa, os quatro níveis de D. Kirkpatrick (citado por IQF, 2004), a saber: avaliação de reacção (nível 1); avaliação de

aprendizagens (nível 2);alteração de comportamentos/transferência de adquiridos(nível 3); eavaliação de resultados(nível IV).

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Etapa 3 Definição dos momentos avaliativos e respectivas dimensões aavaliar (Quando?) Em função dos momentos em que aavaliação da formação pretende intervir, esta pode ser definida como avaliação ex-ante (antes da formação), avaliação on-going (durante a execuçãoda formação) e avaliação ex-post (após aexecuçãodaformação). Destaque-se: Avaliação EX-ANTE (Avaliação denatureza diagnóstica) -Analisar os resultados dos diagnósticos iniciais, definindo os perfis de entrada dos participantes e os resultados quese pretendealcançar. Avaliação ON-GOING (Avaliaçãode natureza formativa) -Frequentes recolhas de dados, ao longo de todo o processo formativo, destacando-se a importância do estabelecimentoe implementação de“rotinasavaliativas”. -Dois ou três momentos de balanço intermédio, avaliando a totalidade do processo até ao momento. Avaliação EX-POST(Avaliação de naturezasumativa) - Avaliação final, síntesedos momentose dadosanteriores. -Momento avaliativo 6 a 12 meses após a finalização da intervenção formativa, designadamente avaliando ainserção profissionaldos formandos,suasatisfaçãoe satisfaçãodos empregadores. -Avaliação do impacto das intervenções, ao fim de 5 a 10 anos após as mesmas, designadamente através de uma análise do impacto das intervenções na durabilidade e sustentabilidade da inserção profissional dos seus formandos, bem como ao nível do desenvolvimento social e económico do território sob intervenção e/ou dos públicos-alvo da mesma, do trabalho em rede, das práticas organizacionais dasentidadesparceiras e impactodo trabalho emredenoterritório. Etapa 4 Identificação das fontes de informação (Quem? Com quem?) -Todos os actores envolvidos (participantes, formadores, técnicos, tutores, parceiros, financiadores,etc.): -São fonte privilegiada edirecta de informação,nos seus relatose na expressão dos seuspontos de vista acercadosprocessos. -São também fonte de informação indirecta, já que disponibilizam documentação e evidências várias, bem como acontextualizam e lhe atribuem sentido no âmbito da relação de actores. Entre adocumentaçãoa analisar, destaque-se: - Evidências produzidas em contexto de formação, nas várias componentes de formação, designadamente trabalhos produzidos pelos formandos, materiais pedagógicos, testes de avaliação.

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- Documentação produzida, designadamente diagnósticos iniciais (do contexto, dos formandos, do mercado de emprego), materiais de divulgação da intervenção, documentos produzidos sobre as metodologias implementadas e o desenho da proposta formativa, actas de reuniões, materiais e recursos técnico-pedagógicos adoptados e/ou produzidos, outras evidências. - Éimportante definir osactores a implicarem cada nívelde avaliação; otipo de responsabilidadea assumir pelos actores seleccionados (os que planeiam e acompanham o processo avaliativo; os que executam as respectivas actividades; o que são apenas fonte de informação); e a melhor estratégia para asuaimplicação.

Etapa 5 Identificar/construir o quadro de referência do processo avaliativo (Com base em quê?) Destaque-se: -Definição das competências/saberes a alcançar, com base nos referenciais de certificação de competências básicas. -Definição das competências/saberes-fazer técnicos a alcançar, com base nas necessidades do posto de trabalhoa integrar e/ounos referenciais decertificação de competênciasprofissionais. -Definição das competências/saberes-fazer sociais e relacionais a alcançar, com base nas necessidades do posto de trabalho a integrar e nos referenciais de certificação de competências básicas. -Definição de padrões de qualidade mínimos no desenvolvimento da intervenção formativa (desempenho de formadores e restante equipa, metodologias utilizadas, recursos e métodos pedagógicos,etc.). -Definição de indicadores de colocação em posto de trabalho dos formandos (um valor mínimo, abaixo do qualfalha o objectivode inserção profissional). -Definição de indicadores de impacto da intervenção nos formandos, nasorganizações envolvidas (serviços e empregadores)e noterritório. Etapa 6 Identificar métodos e técnicas de avaliação autilizar (Como?) Destaquem-se: - Técnicas centradas na verificação da qualidade do processo, designadamente questionários para aferição do grau de satisfação dos actores; grupos de discussão; entrevistas estruturadas ou semiestruturadas; aplicação deinstrumentos de controloe acompanhamentodoprocesso;

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-Técnicas centradas na verificação da aquisição/ desenvolvimento de aprendizagens por parte dos formandos (comoveremosadiante nesteponto). -Técnicas centradas na verificação da transferência de aprendizagens para os contextos de trabalho, designadamente entrevistas; aplicação de questionários; construção de planos de intervenção; observação directae indirecta; análisede desempenho (avaliaçãointer-pares ououtra); análise dos incidentescríticos (análisecomparativa);auto-avaliação. -Técnicas centradas na análise dos impactos nas organizações, designadamente análise de painel de indicadores de desempenho; aplicação da fórmula ROI (Return on Investment); análise custobenefício; análise dos resultados de planos de intervenção específicos; análise dos resultados de planos de desenvolvimentode competências. -Técnicas centradas na análise dos impactos no território, designadamente análises custobenefício; análises comparativas entre resultados de medidas de política formativa e desenvolvimento social e económico das comunidades/ regiões/ país; análises sobre qualificação de recursos; análises estatísticas(indicadores demudançasócio-económica).

Etapa 7 Identificar actores interessados nos resultados da avaliação (Paraquem?) Destaquem-se: -Os formandos/participantes na formação, cuja avaliação tem um importante carácter formativo (como desenvolveremos adianteneste ponto). -Os vários actores envolvidos na intervenção (formandos, equipatécnica, outros parceiros) como destinatários da avaliaçãodo processoformativo. -As organizações do consórcio de parceria, como destinatários da avaliação do impacto da intervenção edo trabalhoem parceriaem cadauma. - Entidades financiadoras, quando sejao caso,aferindo apertinênciada equação custo-benefício. -Comunidade, aquem é importante divulgar aintervenção e o seu impacto nos indivíduos e nas organizações. Neste contexto, uma estratégia avaliativa desenhada a partir destes pressupostos deve procurar ser: plural, pois depende doolhar de todos os actores; contínua, cobrindo todoo processo formativo; fiável e equitativa, procurando rigorna obtenção deresultados; e robusta, do ponto de vista técnico, no que diz respeito aos instrumentosetécnicas mobilizados.

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d) Quais os factores críticos da avaliação dos/as formandos/as? Um destaque deveser dado àavaliação dos formandos,dado o seuimportante carácter formativo.

Esta dimensão formativa tem dois grandes objectivos: feedback (devolução) aos formandos e produção de evidências paraacertificação. O primeiro objectivoda avaliação dosformandos é apartilha de informaçãoacerca de sipróprios, relativa a conhecimentos ecompetências adquiridas, desenvolvidase a desenvolver. Esta partilha deinformação deve ser feita, como veremos, de forma a potenciar um desenvolvimento positivo da sua auto-estima e de crença nassuascapacidades ena possibilidade demelhorarasuavida.

Por outro lado, a avaliação individual tem também como objectivo fundamental a produção de dados e elementos de prova de competências e conhecimentos de cada formando, mobilizáveis para o futuro, muito especialmente para processos de validação e certificação de conhecimentos e competências. Estes processos constituem instrumento crucial para o participante, na sua vida pessoal e profissional, e para asociedade,que assume evaloriza osseuscidadãos. No âmbito da avaliação dos formandos, destaquemos três importantes elementos: as questões avaliativas, os métodos e técnicas de avaliação mais adequados e algumas notas sobre a partilha dos resultados daavaliação juntodos participantes.

Questões avaliativas Destaquemos aimportânciada avaliação dosformandos nos quatroníveis de Kirkpatrick(IQF,2004). Avaliação das reacções dos formandos > Serem chamados aposicionar-sede forma crítica e construtiva sobre um processo do qual fazem parte integrante é um tipo de participação que se constitui como mais uma experiência de cidadania e de democracia participativa. > A reflexão crítica acerca da experiência fomenta uma necessidade de explicitação de ideias e de vivências queproporciona umauto-conhecimento melhor emais realista.

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> Esta reflexão e explicitação permite, muitas vezes, passar do nível experiencial para o do conhecimento poiseste sóse constróiancorado nossaberes eexperiências anteriores.

Avaliação das aprendizagens > O acesso aos resultados da avaliação de aprendizagens proporciona importante informação que permite aos formandos conhecerem melhor as suas potencialidades e dificuldades, reequacionando projectos formativos e de vida, bem como aferir a sua maior ou menor proximidade aos objectivos de aprendizagem e aosrequisitos decertificação. > A avaliação de competênciassociais erelacionais devolveimportante informaçãoao formandosobre si próprio na relação com os outros e com o mundo, dado igualmente essencial em experiências profissionais futuras. Avaliação ao nível da mudança de comportamentos > A tomada de consciência da adequação dos seus comportamentos às necessidades e exigências dos contextos de trabalho proporciona importante informação que permite aos formandos conhecerem melhor assuaspotencialidades e dificuldadesnestescontextos. Avaliação dos resultados > A avaliação do impacto da intervenção nos formandos é uma relevante informação relativa aos verdadeiros resultados deinserção social eprofissional dos mesmos,aferindo se aintervenção formativa cumpriu estasuagrandefinalidade. Métodos e técnicas adequados Não existem regrasespecíficas para realizara avaliação destasdimensões junto dosformandos. Todavia, tomemos algumasbreves sugestões. > Os métodos e técnicas utilizados devem ser muito diversificados. A diversificação de métodos e suportes avaliativos contribui para uma mais eficaz recolha de dados avaliativos junto de cada participante, diversificandoe aumentandotambém asoportunidades desucesso decada um. > Os trabalhos objecto de avaliação devem ser tarefas relevantes e significativas para os formandos, e enquadradas no processo formativo. Esta opção proporciona um acréscimo na motivação para a sua execução eevita quea avaliaçãoseja encaradacomo umexame frioe distante.

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> Estando contextualizados, os momentosavaliativos devemser estendidos no tempo, e não limitar-se a uma aplicação detécnicas de avaliaçãono final daintervenção formativa (ouda área deformação). > O processo deve ser participado do início ao fim, ou seja, é importante implicar os formandos na definição do processoavaliativo, seus momentos,valor emeiosutilizados. > A natureza dos resultados deve, simultaneamente, ser quantitativa e qualitativa, sendo essencial que da formação resulte um portfolio de aprendizagens, a par de um documento com avaliação quantitativa nasváriasáreas.

> A avaliação deve ser entendida e planificada como um momento e um processo privilegiado de formação. As dimensões processual e descritiva da avaliação são as mais relevantes, sobretudo junto deste tipodeparticipantes.

Embora não hajareceituários rígidos, tomemosalgumas das técnicasmais adequadas paraa avaliação das aprendizagens dosformandos.

Estratégias e instrumentos centrados na avaliação das aprendizagens dos formandos (adaptado de IQF, no prelo) -Inquéritoscom respostasde escolhamúltipla, escalasou de“verdadeiro/falso” - Role playing - simulaçãode situaçõesreais (detrabalhoououtras) - Elaboraçãoe apresentaçãode projectosfinais -“Jogos” pedagógicos para resoluçãode situações/problemasreaisassociados aparte ou aotodoorganizacional -Estudos de caso - análise de situações reais (identificação da situação problema em questão) eelaboração depropostasdeacção -Avaliação contínua - avaliaçãodas diferentes actividades de aprendizagens aolongo da realizaçãoda formação - Aplicaçãode instrumentospara auto-avaliação -Avaliações efectuadas directamente pelo formador (assentes num conjunto de competências chavea monitorar/avaliar)

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-Avaliaçõesefectuadas pelosrestantes colegasparticipantes naformação -Observações (participantes e não participantes) - exige construção de grelhas de avaliação - Aplicação doinquérito por entrevistae posterior discussãode resultados - Testes escritosouorais - Triangulação demétodos (aplicaçãodeváriosmétodos)

Partilhar osresultados daavaliação Mesmo quando conquistada uma relação de confiança, o feedback sobre si próprio é sempre uma experiência que merece uma forte atenção. A avaliação tem uma dimensão simbólica própria que só muito raramente é indiferente ou neutra para os participantes. Para além do feedback exterior sobre si próprio, existe tambéma comparação horizontal(com os restantes participantes), inerenteà avaliação, que pode potenciarsentimentos, positivos ounegativos, emergentes doprocesso avaliativo. Esta questão assumeuma premência acrescidaquando estamos peranteparticipantes com experiências de exclusão associadas, também, a referênciassimbólicas (Bruto da Costa, 1998), ouseja, uma exclusão interiorizada que podeser fortemente accionadapela experiência deavaliação, dando origema umruído acrescido e não pretendido. Tendo em mira um desenvolvimento positivo da auto-estima dos participantes, um cuidado acrescido deve ser colocado na vivência do processo avaliativo. Neste contexto, propõem-seas seguintesreflexões.

> Quanto mais o processo avaliativo dos formandos estiver contextualizado e integrado no próprio processo formativo, menos é vivido como um procedimento independente e formal de inspecção de cada participante. As tarefas objecto de avaliação não devem ser mais que as tarefas emergentes do trabalho pedagógicorealizado. > É extremamente importante a implicação dos participantes e o reforço das relações de confiança destes com aequipa formadora. Estarelação de confiançadeve reforçar avivência de que,numa óptica de avaliação participada, avaliam-sedesempenhos, acções, aquisições,processos, masnãopessoas. > Éimportante que se prevejam momentos individuais e momentos de grupo para partilha e discussão do processo e dos resultados da avaliação. Os momentos individuais têm um importante papel no aprofundamento dequestões, esclarecendo-se dúvidas, evitando-se equívocos, apoiandoa melhoriada auto-estima e oreforço deexpectativas devida positivase realistas.

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g) Qual a importância de implicar os/as formandos/as e outros actores no processo avaliativo? A mobilização e aparticipação dos vários actores no processo de avaliação devem realizar-se do mesmo modo que no diagnóstico. São objecto (alvo) deavaliação, na medidaem que são um dos seus principais focos deanálise. Devem tambémser destinatários dosresultados da avaliação.

Poroutro lado, osactores sociais devemser sujeitos desteprocesso, na medidaem que são implicados na definição do processo,são fonte deinformação esãoenvolvidos nas tarefasde recolha deinformação. O enfoque na participação dos grupos-alvo nesta fase apresenta a mesma premência referida para os processos de diagnóstico, e as limitações à sua participação são equivalentes. Neste sentido, consideramos que, num processo participado de avaliação, os vários actores devem ser o mais possível envolvidos emtarefas comoasseguintes: - Colaborar nadefinição do perímetro,objectivos e critériosde avaliação - Colaborar nadefinição de meiose fontes deinformação - Participar na disponibilizaçãode informação - Participar nasreflexõesconjuntas em tornodos resultados daavaliação Énecessário entãodefinirquem realizaas várias tarefasde avaliação.

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Como síntese deste ponto, considera-se adequado estabelecer um plano de avaliação que prepare e apoie a monitorização do referido processo, da recolha à análise e partilha dos resultados. Para tal, propomos a seguintegrelha-síntese, a preenchercom base nasrecomendações referidas anteriormente para cadauma dassete etapasde planeamentode umaestratégia avaliativa. Momento: Objecto de análise Fontes informaçã Dimensões aavaliar o

Quadro de referênci a

Método s técnicas

Data

Principai s custos

Principais destinatário s dosdados

Reacção

Aprendiza - gens

Comportamentos

Resultados

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PREPARAR A PRÁTICA… Na presente Dimensão Crítica, apontam-se propostaspráticas que devemser apropriadas eadequadas às realidades concretas de cada contexto social e formativo. Caso as considere pertinentes para a sua prática, propomos quereflicta sobre comoapropriar-se daspropostas apresentadas.

> Síntese do ponto: check-list das principais tarefas

Definir o tipo de avaliação a realizar em função de quem o vai monitorar Definir os objectivos de avaliação Definir asquestões avaliativas Definir os momentos avaliativos e respectivas dimensões a avaliar Identificar as fontes de informação Identificar/construir o quadro de referência do processo avaliativo Identificar métodos e técnicas de avaliação a utilizar Identificar actores interessados nos resultados da avaliação

> De entre as principais tarefas da presente Dimensão Crítica: -

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Que dificuldades encontro para “fazer” o que é proposto? O que considero prioritário fazer? Que mudanças implicam aimplementação prática das propostas (em quê, como e com quem)? Quais as vantagens e quais as desvantagens de implementar o que é proposto?


INSTRUMENTOS DE APOIO

> Plano de Avaliação Momento: Objecto de análise Fontes informaçã Dimensões aavaliar o

Quadro de referênci a

Método s técnicas

Data

Principai s custos

Principais destinatário s dosdados

Reacção

Aprendiza - gens

Comportamentos

Resultados

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