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da

BOLETIM DO CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE AVIS

TERRA

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Apresentação científica de resultados

O CAA tem vindo a elaborar sínteses de trabalhos realizados destinadas a integrar a programação de iniciativas de divulgação científica. No último ano, o CAA esteve presente no IV Congresso Internacional de Arqueologia de Transição, realizado em Évora entre 2 e 3 de Maio de 2019, com duas apresentações: "Resultados preliminares do acompanhamento arqueológico da obra de conservação da Capela de Nossa Senhora de Entre Águas" e "Mosteiro de São Bento de Avis: da intervenção preventiva ao programa de estudo e valorização de fracção monástica". Respondendo ao convite da organização das Jornadas “Fazer com todos. Arqueologia, Museus e Comunidade(s)”, O CAA levou até ao Museu do Côa, entre os dias 26 e 27 de Abril de 2019, uma perspectiva do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no domínio da valorização e divulgação da Arqueologia e do Património Arqueológico. “Por entre pedras e cacos”, título escolhido para a comunicação apresentada, procurou partilhar a experiência de aproximação das pessoas ao seu património, assim como os desafios que se colocam nesta

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relação permanente com a comunidade.

Avis”. Revista História e Economia, volume 21, n.º 2, 2019, p. 83-100.

A publicação de trabalhos constitui outra forma de divulgar resultados junto da comunidade científica. Desta forma, o CAA tem participado em diversas edições que se encontram disponibilizadas online através do link: https://issuu.com/centrodearqueologi aavis, sendo que os trabalhos mais recentes correspondem aos seguintes títulos:

“Mosteiro de São Bento de Avis: da intervenção preventiva ao programa de estudo e valorização de fracção monástica”. Scientia Antiquitatis. Salvaguarda Arqueológica, Évora, n.º 1/2019, p. 335-384.

“O Complexo do Pedrogão no contexto das primeiras sociedades camponesas: breves notas sobre o povoamento neolítico no concelho de

“Resultados preliminares do acompanhamento arqueológico da obra de conservação da Capela de Nossa Senhora de Entre Águas”. Scientia Antiquitatis. Salvaguarda Arqueológica, Évora, n.º 1/2019, p. 415446.


Promover o património arqueológico

O Centro de Arqueologia de Avis apresenta, ao longo de 2019, um painel informativo referente a alguns dos testemunhos que integram o Inventário Geral de Património Arqueológico de Avis A iniciativa, intitulada XII Sítios, XII Memórias, procura revistar, mensalmente, sítios e monumentos que foram registados desde 2005 e que, de algum modo, refletem as diferentes fases e formas de ocupação humana do território ao longo do tempo.

Embora alguns dos sítios selecionados se integrem em circuitos de visita, a maioria dos locais inventariados não reúne, por razões diversas, condições para a sua fruição, não tendo por isso uma valência turística directa. Incluir uma parte, ainda que reduzida, desses locais numa iniciativa como esta é promover a sua valorização, reforçando a importância destes testemunhos enquanto repositório de informação histórica e, por isso, determinantes para a história e a identidade locais.

Desta forma pretende-se, não só divulgar a diversidade e a riqueza do património arqueológico local, mas, e sobretudo, reafirmar a importância da sua preservação e do seu estudo, criando, para isso, novas formas de diálogo com a comunidade que contribuem para tornar este património mais acessível e inteligível. XII Sítios, XII Memórias estará disponível online e no CAA, onde se poderá conhecer um pouco mais sobre os locais selecionados, renovando-se, assim, os motivos para uma visita.

Dinamização do Roteiro Megalítico Realiza-se, no próximo dia 29 de Setembro, uma visita orientada pelo CAA ao conjunto megalítico dos Morenos, em Aldeia Velha. A iniciativa, inscrita no tema Rotas patrimoniais/itinerários culturais da edição de 2019 das Jornadas Europeias do Património, pretende divulgar parte do Circuito do Xisto que integra o Roteiro Megalítico de Avis Entre Pedras e Pedrinhas. Para esta visita, que se desenvolve em área protegida, foi definido um itinerário que potencia também

outros valores patrimoniais e naturais desta zona do concelho, que se assumem com importantes pontos de interesse: Rede Natura 2000 Sítio Cabeção, Ribeira de Santa Margarida, Albufeira de Montargil, património arqueológico, património construído e arquitectura religiosa. Esta iniciativa conta com o apoio da Junta de Freguesia de Aldeia Velha e é realizada em parceria com a Direcção Geral do Património Cultural, dinamizadora das Jornadas.

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Territórios e espaços de morte na PréHistória Recente Conclusão da primeira fase do projecto

Em 2018 concluiu-se a primeira fase do projecto de investigação Territórios e espaços de morte na PréHistória Recente. Contributo para uma nova leitura do povoamento megalítico no concelho de Avis (TEMPH). O projecto, iniciado em 2014, desenvolveu-se na sequência da Carta Arqueológica de Avis (20052014), e procurou dar continuidade ao levantamento e diagnóstico do património arqueológico do concelho. Tem como objectivos gerais aprofundar o conhecimento das diversas formas de ocupação do território durante a Pré-História Recente, procurando compreender a relevância e o significado dos espaços de morte na organização da paisagem pré-histórica e a relação territorial entre os vários locais registados. Ao longo do projecto confirmou-se que a actividade arqueológica promovida em regime de continuidade tem permitido identificar e reunir testemunhos da

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história da ocupação e do uso deste território, cujos testemunhos se encontram sistematizados no Inventário Geral do Património Arqueológico de Avis (IGPAA), cujo suporte de dados é complementado pela respectiva componente SIG. Os trabalhos realizados permitiram uma cobertura mais exaustiva do território, o que conduziu à identificação de um importante conjunto de locais de interesse arqueológico, na sua quase totalidade

inéditos e associados à ocupação préhistórica. Durante o projecto TEMPH foi possível uma actualização do IGPAA que, com a introdução de 128 sítios de potencial arqueológico registados ao longo do projecto, passou a integrar 334 ocorrências, 332 das quais no concelho de Avis. Dos dados reunidos, 65 correspondem a sítios e monumentos conhecidos a partir de trabalhos precedentes e, por conseguinte, relocalizados no decurso


do projecto sendo os restantes 269 locais inéditos. Do conjunto de ocorrências registadas ao longo do projecto salientam-se os indícios relacionáveis com as etapas iniciais do Neolítico que, até 2016, não tinham sido registados de forma inequívoca. Estes dados constituem um ponto de partida para o estudo do processo de neolitização deste território, contribuindo para delinear a sua relação com outras áreas já estudadas e documentadas, estabelecendo, deste modo, semelhanças e assimetrias. A continuidade do projecto assume-se como fundamental, permitindo ampliar a investigação e introduzir novos dados para a caracterização do Neolítico nesta região, em particular no que respeita ao processo de transição para o Neolítico, às estratégias de povoamento e à relação cronológica com o megalitismo.

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O conjunto monástico e o contributo da arqueologia preventiva Apontamentos das intervenções realizadas desde 2006 Ao longo de mais de uma década, e decorrente da iniciativa autárquica, têm vindo a ser realizadas diversas intervenções em fracções monásticas como forma de assegurar a reutilização destes espaços e garantir a salvaguarda da morfologia, permitindo, simultaneamente, a fruição pública de áreas cujo acesso tem sido limitado pela sua função habitacional ou estado de abandono. No âmbito dessas intervenções, foram desenvolvidos trabalhos arqueológicos de cariz preventivo, alguns dos quais com resultados determinantes para o estudo do conjunto monástico. Em 2006 foram acompanhadas as empreitadas de valorização da Envolvente ao Mosteiro e Muralhas de Avis e de instalação da rede de fibra óptica dos serviços municipais. Na primeira, os trabalhos desenvolveram-se na zona Norte e Este da vila, no perímetro exterior das muralhas e mosteiro, tendo sido identificado um troço de cerca

Cerca monástica | 2006

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Estruturas identificadas no claustro Norte | 2006

Estruturas identificadas no Lg. Cândido dos Reis | 2009

monástica, cuja preservação foi assegurada com adequação do projecto aos vestígios.

preservadas com os necessários ajustes do projecto inicial aos vestígios.

No segundo caso, foram identificados, no claustro norte, integrado no mosteiro primitivo, vestígios da ala poente do deambulatório. Ainda no âmbito desta obra, refere-se também a identificação de um troço de muralha sob a actual entrada na Rua Dr. Manuel de Arriaga, cuja presença confirma a separação física entre a zona monástica e a restante vila, posteriormente alterada com a abertura da passagem.

Com a instalação do Centro Interpretativo da Ordem de Avis foi possível regressar, em 2009, ao claustro norte e assim recuperar a planta da ala poente do deambulatório, cujos primeiros indícios haviam sido registados em 2006, assim como confirmar a continuidade da arcaria da ala sul.

As ocorrências registadas no decurso desta obra foram

Ainda no âmbito desta obra, foi posto a descoberto um conjunto de estruturas no largo Cândido dos Reis, na envolvente à Igreja do Mosteiro, cujos vestígios se conservam sob a antiga hospedaria e enfermaria,


Fração contígua ao MUSCA

Fração contígua ao MUSCA

Fração contígua ao MUSCA

edifício construído entre os finais do século XVI e início do século XVII.

Museu Municipal, actual Museu do Campo Alentejano, pôs em evidência testemunhos de estruturas anteriores ao edifício que se conserva, relacionadas com a fase primitiva do mosteiro ou, eventualmente, com uma ocupação mais antiga.

A presença destes vestígios poderá relacionar-se com as dependências monásticas no interior das muralhas, organizadas ao longo da Rua Porta do Anjo, provavelmente desactivadas pelo crescimento para Este do mosteiro, e que correspondiam à hospedaria, celeiro, estrebaria, amassadouro e casa do pão. Informações orais relatam o aparecimento, em meados do século XX, de “uma rua e casas enterradas” em pleno largo, cuja presença não foi, no entanto, confirmada nesta intervenção. Em 2010, foram efectuadas movimentações de terra para reformulação de infraestruturas no Pátio das Cisternas, implantado no Claustro do Novo. Pelo carácter dos trabalhos realizados, não se identificaram dados relevantes. A empreitada de conservação da Ala Poente do Claustro Velho e Espaços Adjacentes, iniciada em 2012, teve um impacto significativo nos espaços monásticos. A tipologia das acções desenvolvidas, em particular na Rua das Lages, onde se localizaria o antigo dormitório monástico, e na fracção contígua ao

A primeira fase dos trabalhos arqueológicos decorreu em contexto de obra, mas a excepcionalidade dos achados fez com que a fracção contígua ao Museu fosse retirada da empreitada e se transformasse em objecto de análise arqueológica, com a implementação de um plano de intervenção alargado para avaliação do potencial desta área e o seu respectivo estudo. Em 2017, foi efectuado o acompanhamento da obra de conservação para instalação de Galeria Municipal. A fracção integrase no “Mosteiro Novo”, no cunhal Nascente/Norte deste volume, numa zona de sobreposição entre as estruturas pré-existentes e este novo volume do conjunto monástico. As acções previstas na empreitada não tiveram um impacto significativo no edifício e os resultados vieram confirmar algumas questões relacionadas com aspectos constructivos.

Fração contígua ao MUSCA

Estruturas identificadas na R. Das Lajes | 2012

Aspectos construtivos em fracção monástica | 2017

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Intervenção arqueológica na Capela de Nossa Senhora de Entre Águas

A Capela de Nossa Senhora de Entre Águas, localizada na confluência das ribeiras de Sarrazola e de Seda, corresponde a um edifício simples, datado do séc. XV, com alterações nos séculos posteriores, evidentes ao nível da morfologia e do acervo artístico. A capela encontra-se envolvida por um alpendre, que se distribui pelas fachadas principal e sul, e é constituído por arcos de volta perfeita, assentes sobre pilares quadrangulares de granito. No alçado norte encontram-se adossadas três construções, de planta simples e em banda, de carácter habitacional. Parte do alçado sul é ocupado por dois anexos, com a mesma tipologia de utilização. A capela apresenta uma porta lateral, no alçado sul, e em frente, evidências de uma outra porta. No interior, a capela apresenta três naves, divididas, de cada lado, por três arcos e um outro mais pequeno. A capela-mor está separada do corpo da igreja por um arco triunfal, de alvenaria e com marmoreados fingidos. O altar-mor, assim como os altares laterais, são de alvenaria pintada de marmoreados fingidos e dourados, introduzidos no final do séc. XVIII.

Aspecto geral da capela

construção, um conjunto significativo de materiais em granito, visíveis nas paredes e nos pavimentos, entre os quais uma lápide, que documentam a preexistência no local de uma ocupação romana.

dispersão, a uma villa romana. Trabalhos arqueológicos recentes, realizados no final de 2018 no âmbito da obra de conservação da capela, permitiram identificar um conjunto de testemunhos que confirmam a antiguidade de ocupação do local, já sugerida nas fontes, e acrescentar dados fundamentais para o estudo da Capela de Nossa Senhora de Entre Águas.

Embutida no alçado tardoz da capela, a lápide de Entre Águas, classificada como Monumento Nacional em 1910, corresponde a uma placa funerária, datada do séc. I d.C.. A ocupação romana do local é confirmada pelos vestígios arqueológicos associados ao sítio Entre Águas 1, o qual corresponde, de acordo com a tipologia das evidências registadas e a sua significativa área de

No decurso da intervenção foi possível confirmar a presença de estruturas romanas integradas no edifício da capela, cuja manutenção reforça a ideia de sobreposição do edifício de culto cristão a uma

Vestígios de período romano | Entre Águas 1

Monumento epigráfico de Entre Águas

Salienta-se ainda a pia de água benta, peça em mármore, provavelmente do séc. XV, onde figura dupla representação antropomórfica e escudo com cinco quinas, ladeado por dois castelos. O edifício evidencia, na sua

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Sepulturas identificadas no exterior da capela

construção de período romano que poderia incluir, pela presença da lápide, um mausoléu. Confirmou-se igualmente a presença de um espaço funerário, de cronologia posterior à ocupação romana, e cujos testemunhos foram registados no exterior do edifício.

Cabeceira de sepultura

particular os enterramentos mais recentes e os que se encontravam no interior da capela, terá sido destruída pelas obras realizadas em meados no século XX. A descoberta de um extenso núcleo de pinturas tardo-medievais veio reafirmar o valor patrimonial da capela de Entre Águas. Trata-se de um conjunto de valor excepcional devido ao estado de conservação, à extensão da área pintada, ao contexto cronológico, à qualidade da execução e ao enquadramento históricoartístico.

alçados norte e sul, de forma a realizar um diagnóstico prévio que condicionasse a realização da fase final da empreitada. Com os trabalhos pretendia-se salvaguardar as pinturas, assegurando um registo adequado destes testemunhos, determinar a qualidade e extensão da zona pintada, avaliar o grau de conservação e proceder ao seu enquadramento cronológico.

Os dados reunidos são ainda insuficientes para uma caracterização da necrópole, mas os indícios registados sugerem que a sua utilização será contemporânea da construção da capela, prolongandose, possivelmente, durante o período em que desempenhou as funções de igreja paroquial. Uma parte substancial da necrópole, em

No âmbito do acompanhamento arqueológico da obra foram realizadas sondagens e janelas nos

Estrutura romana integrada na capela

Trabalhos de limpeza e definição das áreas pintadas no interior da capela

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A intervenção arqueológica permitiu a realização de uma avaliação preliminar dos achados a partir da qual será implementado um plano de intervenção que dê continuidade ao estudo, conservação e valorização destas realidades.


Pormenores dos painéis de pintura mural identificados no decurso dos trabalhos realizados no interior da capela

A estratégia delineada para esta fase subsequente pressupõe a continuação dos trabalhos arqueológicos no interior e exterior do edifício e o desenvolvimento de uma intervenção de conservação das pinturas. Ao nível do edifício pretende-se avaliar a extensão conservada de estruturas de período romano integradas na capela, através da abertura de sondagens parietais, em particular nos anexos norte, sacristia e alçado tardoz, e realizar o levantamento exaustivo desses elementos com vista à recuperação gráfica da planta. A intervenção arqueológica contempla ainda a realização de sondagens, a iniciar na ruína localizada no alçado tardoz da capela e que, posteriormente, se poderão estender a outras zonas do edifício e envolvente.

Com a identificação de pinturas murais no interior da capela impõe-se uma avaliação detalhada do seu estado de conservação e a aplicação de medidas que assegurem a sua preservação. Será, por isso, necessário o desenvolvimento de uma intervenção de conservação e restauro, a qual poderá também contemplar, dado o carácter extraordinário da descoberta, o alargamento das áreas abertas para uma melhor caracterização do conjunto e, assim, reunir novos elementos que permitam compreender a relação entre as pinturas e o edifício e o contexto em que a obra foi realizada. A descoberta deste núcleo de pinturas tardo-medievais captará novas abordagens e leituras mais detalhadas que contribuirão, a par dos testemunhos arqueológicos, para o estudo e valorização da Capela de Nossa Senhora de Entre Águas.

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Perspectivas para o estudo e valorização de fracção do conjunto monástico de São Bento de Avis A intervenção em curso na fracção monástica contígua ao Museu do Campo Alentejano veio reafirmar o valor patrimonial do conjunto monástico de São Bento de Avis. Da inicial acção de caracter preventivo, realizada em contexto de obra, passou-se para um plano de intervenção que privilegia o estudo desta dependência e a sua integração na organização funcional do mosteiro, e onde a valorização dos achados foi assumida, desde a decisão de se desenvolver trabalhos arqueológicos alargados, como uma componente fundamental.

Gargalo em cerâmica vidrada

A relevância das evidências justifica a implementação de um programa de valorização, que permita a fruição pública deste espaço e o acesso à informação que aí recolhida.

Taça em cerâmica

Pormenores construtivos das abóbodas

Este programa prevê a continuidade da intervenção arqueológica, que será articulada com a conservação do espaço e a criação, faseada, de condições que permitam uma leitura e uma vivência do espaço. A valorização desta dependência monástica será por isso desenvolvida em duas fases complementares: a primeira, que se espera concretizar a curto prazo, a implementar em contexto de escavação, e a segunda após a conclusão dos trabalhos arqueológicos. Tornar o espaço acessível e criar uma zona interpretativa dos achados são, por isso, as duas componentes fundamentais do programa de valorização.

Pormenores construtivos

Corte longitudinal da área de intervenção

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Pormenor de estruturas no ambiente 3


Trabalhos arqueológicos

A intervenção aposta, assim, no retorno social dos trabalhos arqueológicos, devolvendo o espaço ao público que, através da requalificação desta dependência, poderá conhecer um pouco mais da história de Avis. Os resultados obtidos ultrapassarão a componente científica e tornar-se-ão acessíveis e inteligíveis a um público alargado que poderá aceder directamente ao local de origem da informação. Com a valorização deste espaço será possível promover a relevância patrimonial e simbólica do Conjunto Monástico de São Bento de Avis e enriquecer o circuito de visita disponível no espaço monástico que corresponde, neste momento, ao Museu do Campo Alentejano e ao Centro Interpretativo da Ordem de Avis, que ocupam um conjunto de

dependências em torno do claustro velho, e ao Centro de Arqueologia e à Galeria de Arte Officina Mundi, associados ao espaço monástico de séculos XVI/XVII, onde se encontram igualmente acessíveis outras duas fracções, ocupadas por estabelecimentos de restauração. Os testemunhos reunidos na intervenção arqueológica revelam-se

Púcaro em cerâmica

determinantes não só para uma leitura evolutiva da estrutura primitiva do conjunto monástico, mas também para o próprio conhecimento da evolução do tecido urbano do Centro Histórico de Avis durante o período medieval. Abre-se, assim, uma nova perspectiva sobre a história de Avis.

Candil em cerâmica vidrada

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Jovens em Movimento | 2019 Uma vez mais o Centro de Arqueologia acolheu um grupo de participantes no programa municipal Jovens em Movimento.

detecção e registo de locais de interesse arqueológico e se procedeu à monotorização de sítios identificados anteriormente.

Os trabalhos decorram entre Junho e Agosto, tendo como prioridade a intervenção no mosteiro de São Bento de Avis. A escavação, a decorrer na fracção contígua ao MUSCA, incidiu em duas áreas identificadas neste compartimento.

Privilegiou-se igualmente o contacto com o património arqueológico local, realizando-se visitas a sítios e monumentos arqueológicos, abordando-se a importância da preservação destes locais e as questões relacionadas com a sua conservação.

Os trabalhos realizados permitiram colocar a descoberto novas realidades estruturais e recolher um conjunto artefactual que foi objecto de tratamento e inventário ao longo da campanha. Promoveram-se ainda saídas de campo, onde foi experienciada a prospecção enquanto método de

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No âmbito das actividades desenvolvidas com o Jovens em Movimento, realizou-se também uma visita à Officina Mundi, instalada numa dependência monástica.


A Necrópole da Carapeta Localizada na área do regolfo da albufeira de Maranhão, a necrópole da Carapeta foi identificada, segundo informação oral, em meados do século XX, na sequência do plantio de um olival nesta área, relatando-se a destruição de sepulturas e o aparecimento de algumas pequenas jarras de barro, colocadas próximo do crânio. Em 1989, a necrópole foi objecto de intervenção arqueológica, com a escavação de uma sepultura que se apresentava desprovida de tampa tumular. Os trabalhos, dirigidos pelo arqueólogo Fernando Eduardo Rodrigues Ferreira, incidiram sobre uma estrutura funerária de inumação, constituída por lajes de xisto, não afeiçoadas, formando, assim, a arca tumular, de paredes verticais.

Sepultura. Imagem de Fernando Rodrigues Ferreira |1989/1990

No seu interior encontrava-se preservado um individuo, provavelmente de sexo feminino, deitado de costas, com os pés a nascente e a cabeça a poente e teria as mãos colocadas à altura do púbis. A sepultura não continha espólio e apresentava evidências de sido utilizada três vezes, verificando-se a acumulação dos ossos longos dos enterramentos anteriores. Em 1990 foram retomados os trabalhos de escavação do sítio, registando-se três sepulturas com o esqueleto em conexão anatómica e outras duas bem definidas, mas com claros sinais de violação. Os vestígios identificados não foram levantados, atendendo ao seu mau estado de conservação, tendo sido cobertos após a realização dos respectivos registos.

oscilações do nível de água da albufeira de Maranhão, verificando-se a necessidade de se adoptar medidas de conservação dos vestígios até que seja possível a sua escavação integral. Pela sua localização, a necrópole encontra-se numa zona de fácil acesso à albufeira, o que coloca em risco a sua preservação. Recentemente, um acto de vandalismo incidiu sobre duas das estruturas funerárias, colocando a descoberto parte do seu espólio. No presente ano, a descida do nível da água permitirá reforçar as medidas de minimização dos impactos sobre os vestígios arqueológicos.

Para além das estruturas de inumação, foi também registada, na envolvente, uma sepultura de incineração. A informação reunida no decurso dos trabalhos remete a necrópole para um contexto tardio, integrável nos séculos III e IV, estando a sua utilização relacionada com a villa romana registada nas imediações. Enterramento. Imagem de Fernando Rodrigues Ferreira |1989/1990

O sítio encontra-se sujeito a erosão fluvial decorrente das

Bilha em cerâmica recuperada em 2017 após acto de vandalismo

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boletim do centro de arqueologia de avis número 12 \ 27 de setembro de 2019

Apresentação científica de resultados XII Sítios, XII Memórias Dinamização do Roteiro Megalítico Territórios e espaços de morte na pré-história recente. Conclusão da primeira fase do projecto O conjunto monástico e o contributo da arqueologia preventiva. Apontamentos das intervenções realizadas desde 2006 Intervenção arqueológica na Capela de Nossa Sr.ª de Entre Águas Perspectivas para o estudo e valorização de fracção do conjunto monástico de São Bento de Avis Jovens em Movimento | 2019 A necrópole da Carapeta

Edição Município de Avis Director Nuno Paulo Augusto da Silva | Presidente da Câmara Recolha e organização da informação Centro de Arqueologia de Avis Textos e concepção gráfica Ana Ribeiro Fotografia Arquivo fotográfico municipal _ Centro de Arqueologia de Avis; Fernando Eduardo Rodrigues Ferreira; Fazer com Todos Capa Pormenor de painel de pintura mural, Capela de Nossa Senhora de Entre Águas, Benavila Composição gráfica e revisão Centro de Arqueologia de Avis ISSN 1646-5660 Contactos Pátio das Cisternas 8, 7480-121 Avis Telefone 242 410 090 arqueologia@cm-avis.pt https://www.facebook.com/Centro-de-Arqueologia-de-Avis1590089434537617/


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