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BOLETIM DO CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE AVIS
TERRA
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Recursos online O recurso a plataformas digitais constitui uma forma rápida e económica de partilhar informação com um público mais alargado e diversificar os canais de comunicação, assegurando uma divulgação regular. Desde 2014 que o CAA tem vindo a promover a difusão digital das suas publicações, científicas e genéricas, através da plataforma ISSUU. Ao nível das redes sociais, o CAA foi dos primeiros espaços municipais a dinamizar uma página no Facebook, que conta actualmente com mais de 4000 seguidores. Através desta página tem sido possível partilhar notícias breves dos trabalhos realizados, divulgar o património arqueológico local, partilhar resultados, realizar iniciativas digitais, assim como alargar o espaço de interacção com o público. Em 2020, e assinalando o Dia Internacional da Arqueologia, o CAA disponibilizou um novo meio de divulgação, recorrendo ao Instagram. Estas ferramentas assumiram um papel acrescido, sobretudo em 2020 e na sequência do encerramento temporário do CAA ao público, na dinamização do património arqueológico de Avis, assegurando um contacto permanente e actualizado. Onde encontrar o CAA: https://www.facebook.com/centrode-arqueologia-de-avis1590089434537617 https://issuu.com/centrodearqueologi aavis https://www.instagram.com/centrode arqueologiadeavis/
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Celebrar a Arqueologia, descobrir o património
As Jornadas Europeias de Arqueologia (JEA) são uma iniciativa coordenada e promovida, desde 2010, pelo Institut National de Recherches Archéologiques Préventives (INRAP). Em 2019, as JEA foram alargadas a 17 países europeus, incluindo Portugal. Em 2020, e no âmbito da divulgação das JEA, o CAA recebeu o convite para se associar a este evento, que tem como objectivo aproximar a comunidade do património arqueológico e da Arqueologia. Nesta edição, que decorreu nos dias 19, 20 e 21 de junho, participaram 28 países que, juntamente com a organização, ofereceram mais de 1.000 actividades ao público europeu. Durante o evento, o CAA desenvolveu um conjunto de iniciativas em formato digital. Para além da dinamização de actividades em curso, nomeadamente da I Mostra de fotografia, com a renovação do convite à participação, e de “Uma peça, uma história”, o CAA apresentou a versão digital dos circuitos da Ribeira de Seda e da Ribeira Grande do Roteiro Megalítico "Entre Pedras e Pedrinhas". “Peça a peça” foi outra das propostas, pensada sobretudo para os mais novos, e onde os participantes foram convidados a montar os puzzles disponibilizados online atrav é s de https://www.jigsawplanet.com/centroarqueologiaavis ), descobrindo assim alguns dos objectos que fazem parte do acervo do CAA. O evento constituiu uma excelente forma de diversificar a oferta do CAA, de criar novos formatos de divulgação e de alcançar novos públicos.
Outra perspectiva sobre o património arqueológico A I Mostra de Fotografia do CAA, intitulada “Numa imagem, uma história”, teve como objectivo geral aproximar a comunidade do património arqueológico local através da fotografia. O lançamento da mostra decorreu no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que teve, em 2020, como tema o Património Partilhado. Considerando o contexto excepcional em que decorreu o evento e estando o CAA encerrado para visitas, procurou-se implementar novas formas de manter e dinamizar a relação com o público, recorrendo, para isso, a recusos digitais.
Difusão científica de resultados
A mostra, realizada internamente através do facebook, apelou à participação directa da comunidade. Pretendia-se que, a partir de imagens e histórias em base fotográfica, fossem apresentadas outras perspectivas sobre o património arqueológico local. A recepção dos trabalhos decorreu entre 18 de abril e 30 de junho. As fotografias seleccionadas foram divulgadas, a 15 de julho, através da p á g i n a d o fa c e b o o k , f i c a n d o disponíveis para votação até 20 de agosto. Nesta primeira edição da mostra de fotografia, foram apresentados sete trabalhos. Através do facebook, a
inicitiva alcançou 7866 pessoas, registando-se, na selecção das fotografias, 1135 votos. A fotografia escolhida foi a imagem da capa da edição de 2020 do boletim de arqueologia DA TERRA. A mostra é finalizada com a exposição dos trabalhos na biblioteca do CAA, patente na biblioteca do CAA de 25 de setembro, no âmbito das Jornadas Europeias do Património 2020. A exposição marca o retorno do contacto do CAA com o público podendo ser visitada até 27 de novembro.
O CAA participa no III Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses, a decorrer nos dias 19 e 22 de novembro. O encontro tem como objectivos principais, e à semelhança das edições anteriores, a apresentação, a divulgação, a discussão e o debate de resultados, intervenções estudos promovidos por arqueólogos. Para esta edição o CAA apresenta uma síntese do seu trabalho ao nível da gestão e salvaguarda do património arqueológico, assim como uma abordagem às opções estratégicas e aos procedimentos metodológicos e técnicos considerados fundamentais para uma intervenção municipal face aos novos desafios que se colocam na gestão desses valores patrimoniais e na sua afirmação nas dinâmicas locais, que passa, não só pela inserção nos instrumentos e políticas de gestão e ordenamento do território, mas também pela integração nas estratégias de desenvolvimento local.
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Descobrir O acervo do CAA integra diversos artefactos, decorrentes de explorações ou achados fortuitos, desconhecendose, na maioria dos casos, a sua proveniência. Apesar de desprovidos de contexto arqueológico, estas peças detêm valores intrínsecos, susceptíveis de estudo, podendo desempenhar igualmente um importante papel pedagógico. A incorporação destes achados no CAA, através de oferta ou a título de empréstimo, constitui um trabalho constante, só possível através da colaboração de todos os que possuem ou têm acesso a materiais arqueológicos recolhidos em condições excepcionais. Muitas destas recolhas correspondem a peças em bom estado de conservação, fornecendo, por isso, elementos fundamentais que auxiliam
Reabertura ao público Durante o período de encerramento do CAA ao público, na sequência da pandemia por Covid-19, foram realizados trabalhos de conservação do interior do edifício. Depois de quase uma década após a sua abertura, foi possível promover a reparação de algumas das paredes interiores, assim com a pintura dos diferentes espaços, melhorando as condições do edifício. Foram também iniciadas acções de reorganização das áreas funcionais, nomeadamente das reservas, do laboratório e das zonas de armazenamento, algumas das quais ainda a decorrer. A conclusão de uma parte desses trabalhos permitiu, no final de
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setembro, reabrir o espaço ao público, ainda que com algumas condicionantes, decorrentes da situação actual. O circuito de visita encontra-se reduzido à biblioteca, uma vez que o acesso às restantes áreas está interdito, como medida preventiva, não havendo igualmente condições para assegurar visitas acompanhadas ao espaço. O uso de máscara é obrigatório e o número de visitantes está limitado. Neste período de retorno ao contacto com o público poderá ser visitada, até 27 de novembro, a exposição da I mostra de fotografia do CAA, constituindo um motivo para uma nova visita e uma breve conversa..
na definição de referências para integração cronológica do seu fabrico e da sua utilização, permitindo a respectiva integração nos diferentes momentos de ocupação humana registados na região. A partir de fevereiro, e até o final do ano, o CAA coloca em destaque, mensalmente, uma peça do seu acervo. A iniciativa, disponível online, pretende mostrar peças provenientes de recolhas ocasionais e que se encontravam ao cuidado de particulares, os quais, através do CAA, as colocaram à disposição pública mediante doações ou cedência temporária. Para conhecer em: https://www.facebook.com/Centrode-Arqueologia-de-Avis1590089434537617
Serviço educativo Promover o contacto directo com a Arqueologia O CAA tem procurado, através do seu Serviço Educativo, criar novas formas de olhar e sentir o legado patrimonial. Para isso, tem assegurado um programa alargado de actividades, dirigidas sobretudo para o público escolar, cuja origem recua a iniciativas como o Clube de Arqueologia, as Oficinas temáticas ou a participação na Agenda Pedagógica. Deste modo, promove-se a formação prática dos participantes e o contacto directo com o património arqueológico, pressupostos de actuação tem vindo a ser ampliados e diversificados desde a criação do CAA. Ao longo do tempo verificou-se um
O CAA associou-se à Hora do Conto, iniciativa promovida pela Biblioteca Municipal José Saramago. A história escolhida foi a Lenda da Moura Zaida, que, tradicionalmente, está associada à Anta do Penedo da Moura, em Figueira e Barros. Dirigida aos alunos do 1º ciclo, a actividade teve início no CAA com a visita dos alunos do 1º ano da Escola Básica de Avis. Nas sessões seguintes, a história foi levada às escolas das freguesias. Para contar a história, a biblioteca preparou um teatro Kamishibai. O CAA aproveitou a lenda e, juntamente com os alunos, recuperou a história do monumento, dos seus constructores e os seus objectos, recorrendo para isso a projecção, desenhos, fotografias e materiais arqueológicos. Faltou apenas a visita à anta…
incremento das acções educativas e a dinamização de temáticas diversas, assistindo-se, simultaneamente, a um aumento das solicitações para a realização ou colaboração em actividades. As iniciativas implicam uma adaptação de conteúdos às idades e nível e aprendizagem, estimulando, assim, uma constante actualização dos programas e conteúdos apresentados, abrangendo do pré-escolar até ao ensino secundário. Realizadas no CAA ou no exterior, estas iniciativas recorrem a instrumentos diversos de apoio e a parcerias, enriquecendo o discurso e tornando mais atractiva a informação.
O CAA na Hora do conto
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Entre pedras e pedrinhas Divulgar o património megalítico Em Avis o megalitismo encontra-se documentado por um vasto conjunto de monumentos funerários. A existência de sítios com significativo potencial cultural e turístico, assim como uma procura crescente por este tipo de locais, determinou a criação de estratégias que promovessem a sua valorização e valência turística. O CAA tem vindo a trabalhar, sobretudo a partir de 2016 com a implementação do Plano de Gestão e Valorização de Sítios e Monumentos Arqueológicos, no sentido de diversificar e ampliar a oferta cultural e turística com base no património arqueológico local. Deste modo, promoveu-se a revitalização do Roteiro Megalítico de Avis, com a definição de dois circuitos, Ribeira Grande (2017) e Ribeira de Seda (2018), disponibilizados, em formato impresso. O CAA renova, em 2020, o convite à descoberta, com a publicação da versão digital dos circuitos, disponível em: https://issuu.com/centrodearqueolo giaavis.
Roteiro Megalítico de Avis em formato digital (ISSUU)
A dinamização do roteiro passa também pela organização de visitas orientadas, dirigidas ao público em geral. Em 2019 foi realizada uma visita ao Circuito do Xisto, itinerário ainda em fase de preparação. A iniciativa, que contou com a presença de 16 participantes, desenvolveu-se numa área protegida, integrada na Rede Natura 2000, e onde são diversos os valores patrimoniais e naturais. No presente ano a escolha recai sobre o Circuito da Ribeira de Seda. A
Visita ao Circuito do Xisto, incluindo o conjunto megalítico dos Morenos (2019)
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visita, a realizar no dia 27 de setembro, centra-se em dois monumentos associados a este circuito. O circuito desenvolve-se numa paisagem marcada por diversos testemunhos da presença humana, em particular associados à ocupação préhistórica. A iniciativa, integrada no âmbito das Jornadas Europeias do Património, que em 2020 elege como tema Património e Educação, e que marca o regresso do CAA às visitas orientadas, após o período de encerramento ao público.
Divulgação de visita orientada (2020)
Conhecer Anta do Penedo da Moura
Morada de Zaida, moura encantada que aguardava, juntamente com os seus tesouros, um homem de coragem que a resgatasse do touro guardião do seu encantamento e das suas riquezas. Esta foi a lenda que perpetuou, no imaginário popular, a Anta do Penedo d a M o u ra , i m p o n e nte e b e m conservado exemplar do megalitismo local, integrado numa zona onde as expressões megalíticas se encontram bem documentadas. A primeira referência publicada ao monumento remonta a 1912, na sequência do relato da visita de José Leite de Vasconcelos a Ervedal, sendo objecto de uma breve nota na edição do “Arqueólogo Português” de 1918. A anta integra posteriormente o levantamento de monumentos megalíticos do concelho de Avis, realizado por Georg e Vera Leisner e publicado em 1959. Em 1994, é incluída na edição “Monumentos Megalíticos do Alto Alentejo. Guias Arqueológicos de Portugal”. A relevância científica e cultural do monumento motivou a realização, em
1999 e 2000, de uma intervenção de valorização e divulgação com vista à sua inclusão no roteiro “Paisagens Megalíticas do Norte Alentejano”, promovido pela então Região de Turismo da Serra de São Mamede em parceira com o Instituto Português de Arqueologia e as autarquias locais. Na sequência deste trabalho de valorização, surge referenciada nos “300 sítios visitáveis em Portugal”, dossier especial da revista Al-madan, edição de 2001. No decurso do projecto “Carta Arqueológica de Avis”, iniciado em 2005, o monumento tornou-se num elemento significativo no estudo do megalitismo da região, constituindo a base de um conjunto de iniciativas desenvolvidas desde então. Actualmente a anta integra o Circuito da Ribeira Grande do Roteiro Megalítico “Entre Pedras e Pedrinhas”, estando incluída na plataforma de sítios arqueológicos visitáveis em Portugal, disponibilizada, desde 2016, pelo Centro de Arqueologia de Almada.
O monumento localiza-se no topo de uma pequena elevação, sobranceira a um curso de água, implantação que confere maior relevância. Construída em granito e de tipologia clássica, a anta conserva a câmara, de planta poligonal, definida por sete esteios, dos quais seis ainda se encontram no local. O esteio em falta localizava-se junto à entrada, a qual se encontra encerrada por um esteio em cutelo. Sobre a câmara prevalece a tampa. O corredor, curto, evidencia dois esteios de cada lado e o que parece ser uma tampa deslocada. Junto ao monumento são evidentes cinco fragmentos de granito, os quais poderão ter pertencido ao corredor e ao esteio em falta. São ainda visíveis vestígios do tumulus. As suas características a rq u i te c tó n i cas p e r m i te m u m enquadramento cronológico no Neolítico Final / Calcolítico (3500 2000 a. C).
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Património arqueológico e gestão territorial O contributo da Arqueologia para a revisão do PDM de Avis
A existência e o reconhecimento de valores arqueológicos associados a um território implica, necessariamente, uma responsabilidade acrescida ao nível da gestão municipal, que se efectiva na implementação de um conjunto de meios e instrumentos que promovem o estudo, a salvaguarda e a valorização desse património. Neste contexto, os mecanismos de ordenamento do território enquanto instrumentos privi legiados no planeamento territorial municipal, são indispensáveis na gestão do património arqueológico a nível local.
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Mapa síntese dos sítios registados no IGPAA
O reconhecimento da importância dos valores patrimoniais reflete-se, no caso de Avis, na elaboração, no início da década de 80 do século XX, de estratégias de identificação e avaliação d o pat r i m ó n i o c u l t u ra l l o ca l , possibilitando, numa fase posterior, a integração do património arqueológico nos instrumentos de ordenamento do território, nomeadamente no Plano Director Municipal de Avis (PDM), de 1995, nos Planos de Ordenamento das Albufeiras de Maranhão e de Montargil (POAM), de 1999 e 2002, e no Plano de Pormenor de Salvaguarda e Valorização do Centro Histórico de Avis (PPSVCHA), publicado em 2008. É com o PPSVCHA que se verifica uma viragem na estratégia municipal
r e l a t i va m e n t e a o p a t r i m ó n i o arqueológico. Após a conclusão do estudo que esteve na sua origem, desenvolvido entre 2002 e 2004, promove-se uma abordagem alargada ao concelho. Fomenta-se, assim, uma estratégia continuada de levantamento e diagnóstico do património arqueológico local, iniciada, em 2005, com a Carta Arqueológica de Avis e que t e ve s e g u i m e n t o c o m o u t ro s projectos, nomeadamente a Intervenção arqueológica no sítio da Ladeira, a segunda fase da Carta Arqueológica de Avis, o projecto Territórios e espaços de morte na préhistória recente e o Plano de Gestão e Valorização de Sítios e Monumentos Arqueológicos (PGVSMA).
Num contexto de crescimento da actividade arqueológica local foi criado, em 2011 o Centro de
Registo de sítios arqueológicos 250
200
150
100
50
0 Carta Arqueológica de Avis
TEMPH
PDM
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Escavação no sítio da Ladeira (ocupação pré-histórica e de período romano)
Monumento megalítico
Arqueologia de Avis , serviço municipal que tem procurado despoletar mecanismos actualizados e revistos de avaliação e actuação preventivas aplicados ao património arqueológico, assegurando a sua identificação, inventário, estudo, salvaguarda e divulgação. Neste crescente processo de consciencialização e de intervenção arqueológica, a acção preventiva, em particular em ambiente urbano, foi igualmente importante, melhorando a participação e a articulação na gestão urbanística, com a definição de medidas preventivas e de minimização no âmbito do processo de licenciamento de obras. Como resultado deste trabalho continuado, foi definida uma nova visão do território e do património arqueológico, que assenta, não só na identificação de um número considerável de novos locais e na revisão de registos precedentes, mas também na identificação de novos factores de impacto e de transformação da paisagem que e v i d e n c ia m a n e c es s i d ad e d e implementação de estratégias revistas e actualizadas de protecção, gestão e valorização dos valores arqueológicos. A organização da informação resultante dos diversos trabalhos assume, neste contexto, particular relevo.
Registo de sítios arqueológicos 140 120 100 80 60 40 20 0 2005/2009
Estruturas de período romano
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2010/2014
2014/2018
A realização do Inventário Geral de Património Arqueológico de Avis (IGPAA) e o respectivo sistema de informação geográfica constituem instrumentos essenciais para a gestão integrada do território e para as dinâmicas culturais e turísticas. Em 2019, e no âmbito do Relatório do Estado do Ordenamento do Território (REOT), onde se definiu o enquadramento estratégico que fundamentará a necessidade de revisão do PDM de Avis, o CAA realizou um diagnóstico síntese do património arqueológico do concelho integrado no IGPAA. Foram igualmente estabelecidas as linhas orientadoras de medidas de salvaguarda do património arqueológico consideradas adequadas ao contexto actual, sublinhando a necessidade de se regulamentar a avaliação e a intervenção preventivas, sobretudo quando é cada vez mais
R e g is to d e s ít io s a rq u e o ló g ic o s 300 250 200 150 100 50 0 Id e n t ific a ç ã o
R e lo c a liza ç ã o
Distribuição dos sítios por freguesia Figueira e Barros
Ervedal
Benavila-Valongo
Avis
Aldeia Velha
Alcórrego-M aranhão 0
50
100
150
Monumento megalítico submerso
expressiva a alteração, profunda, acelerada e desregulada, da paisagem agrícola com a expansão das produções em regime intensivo. Actualmente, o inventário de sítios arqueológicos do concelho de Avis reúne 335 ocorrências para o concelho, resultantes dos trabalhos associados à “Carta Arqueológica de Avis” e ao projecto “Territórios e espaços de morte na pré-história recente (TEMPH)”. Ao longo dos últimos anos, o CAA reuniu um conhecimento, profundo e sistemático, do território, das suas particularidades e da diversidade de expressões que traduzem a ocupação humana nesta região, e preconiza a necessidade premente de se efectivar a revisão do PDM. Dispõe igualmente das condições essenciais para contribuir, de forma decisiva, para a elaboração do estudo de caracterização territorial integrado na
revisão do PDM de Avis, promovendo uma maior participação nas estratégias municipais relacionadas com o planeamento e ordenamento territoriais. Por essa razão, será necessária uma articulação activa e constante com os resta ntes s e r v i ç o s m u n i c i pa i s intervenientes nestas matérias, no sentido de implementar um conjunto de normas, procedimentos e rotinas que assegurem a salvaguarda de uma herança comum. Te n d o p o r b a s e o a c t u a l enquadramento, e considerando a pertinência da questão da arqueologia no âmbito do planeamento e ordenamento do território, o CAA elegeu esta temática para a sua apresentação no III Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses.
Afectação de sítios arqueológicos decorrentes da produção agrícola em regime intensivo
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Mosteiro de S. Bento de Avis Intervenção arqueológica em retrospectiva A dependência contígua ao Museu Municipal integra-se na estrutura primitiva do mosteiro e estava a ser utilizada como arquivo dos serviços municipais. Localizada na extremidade Norte do edifício, a sala tem cerca de 48m2 e encontra-se sob a entrada da ala do dormitório dos monges, situada no piso superior, correspondendo a um dos espaços regulares ladeiam o claustro mais antigo. Contrariamente ao que se verifica para as dependências contíguas, para as quais as leituras disponíveis são concordantes na classificação desses espaços, que corresponderiam à sala dos monges, refeitório e calefatório, não existem referências precisas para e s t e c o m pa r t i m e n to . Po d e r i a corresponder à zona da cozinha ou à sala de noviços, de acordo com as interpretações publicadas referentes à
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Imagens da campanha de 2019
organização funcional e distribuição espacial dos mosteiros cistercienses aplicada a Avis. O espaço não evidenciava, no início dos trabalhos, elementos notáveis, com excepção de vestígios das abóbodas de nervuras, assentes em mísulas, das quais se conservam quatro exemplares, no alçado sul. Estes elementos encontram-se parcialmente descaracterizados por intervenções posteriores, nomeadamente pela construção de
arcos de reforço e sustentação do piso superior. Para a área de intervenção estava inicialmente prevista, no âmbito das obras de conservação, a remoção de rebocos, a consolidação das paredes e tectos, a instalação de rede eléctrica e o nivelamento com o museu, o que implicaria o rebaixamento de cerca de 140 cm em toda a sala. Considerando que esta opção não foi sujeita a uma avaliação arqueológica prévia, sendo conhecida
apenas em contexto de obra, foi totalmente desaconselhada, uma vez que iria ter um impacto significativo numa área de elevado potencial arqueológico e cuja intervenção era claramente incompatível com os prazos previstos para a execução da empreitada. Com o acompanhamento arqueológico dos trabalhos confirmouse o potencial arqueológico da sala. A obra teve início com a remoção de rebocos e do pavimento existente, em betonilha, o que permitiu colocar a descoberto um conjunto de realidades, de cronologia distinta, das quais se destaca o troço da parede original que define, a nascente, o limite do Mosteiro e que poderá corresponder a parte da muralha medieval. A restante área era ocupada por vestígios de um pavimento em tijoleira rectangular, do qual se conservava a sua base assentamento. A sua remoção pôs a descoberto um conjunto de estruturas que careciam de trabalho de definição e
avaliação arqueológica, claramente incompatível com o ritmo imposto pela frente de obra que aí estava instalada. Numa avaliação prévia era evidente a incompatibilidade da execução projecto com as descobertas, inviabilizando, assim, o rebaixamento pretendido do nível do pavimento nesta sala. Reconhecendo a importância das ocorrências registadas e perante a oportunidade de se promover o estudo de uma dependência monástica, a fracção foi retirada da empreitada, proporcionando a realização de uma intervenção arqueológica programada e em regime de continuidade. O CAA tem desenvolvido, desde 2014, trabalhos neste espaço, com o objectivo de avaliar o seu potencial estratigráfico, a definição de estruturas e a recolha de elementos que auxiliem a caracterização cronológica e cultural dos níveis intervencionados de forma a ser possível encontrar a melhor forma de recuperação do espaço sem afectar os testemunhos que aí se conservam.
A intervenção tem contado com a participação de um conjunto de colaboradores e voluntários que, ao longo do tempo, têm contribuído para o desenvolvimento dos trabalhos. Em 2020 a escavação foi interrompida, pelo que se aproveitou para a preparar uma nova fase de trabalhos, desta vez integrada num projecto de investigação. Pretende-se dar continuidade à intervenção e estudo da fracção monástica e proceder à valorização dos testemunhos colocados a descoberto. Assinalando o Dia Internacional da Arqueologia, o CAA promoveu uma breve retrospectiva da intervenção arqueológica, disponibilizando, entre julho e setembro, através da página do facebook, algumas das imagens das campanhas realizadas. Para saber mais sobre esta intervenção: Https://issuu.com/centrodearqueolo giaavis/docs/mosteiro.
Imagens da campanha de 2019
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Pré-história em Avis Segunda fase do projecto de investigação TEMPH
Distribuição dos sítios identificados no decurso da primeira fase do projecto (2014 / 2018)
O projecto de investigação “Território e espaços de morte na préhistória recente. Contributo para uma n o va l e i t u ra d o p o v o a m e n t o megalítico no concelho de Avis” tem como objectivo geral dar continuidade ao levantamento patrimonial do concelho de Avis, privilegiando as realidades enquadráveis na PréHistória e abrangendo todas as tipologias de sítios correlacionáveis com a ocupação pré-histórica. Pretende-se desenvolver uma abordagem integrada do megalitismo funerário local, que passa obrigatoriamente pela apreensão das restantes formas de ocupação e apropriação do espaço e onde se integram os monumentos megalíticos
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não funerários, estruturas de habitat, sítios especializados e manifestações artísticas. A primeira fase do projecto TEMPH teve início em 2014 e desenvolveu-se em quatro campanhas realizadas entre 2014 e 2018. No decurso desses trabalhos foram registadas 152 ocorrências, na sua quase totalidade inéditas. Numa análise global dos resultados obtidos, o projecto introduziu novos dados que contribuem para uma melhor caracterização do Neolítico nesta região, em particular no que respeita ao processo de transição, às estratégias de povoamento e à relação cronológica com o megalitismo funerário.
Os trabalhos realizados permitiram a identificação de possíveis contextos paleolíticos, que vêm ampliar a visão decorrente da Carta Arqueológica de Avis e puseram em evidência testemunhos enquadráveis na préhistória recente, confirmando: a existência de contextos correlacionáveis com as etapas iniciais do Neolítico, os quais não se encontravam devidamente documentados; a heterogeneidade do conjunto megalítico associado ao concelho de Avis, reforçada com a descoberta de novos monumentos megalíticos; e a relação entre arte rupestre e contextos pré-históricos diferenciados, evidente na identificação de novas rochas gravadas
Testemunhos de ocupação pré-histórica na Ribeira Grande
Mancha de ocupação pré-histórica na Ribeira de Seda Complexo do Pedrogão
associadas a um universo que se revela potencialmente diversificado. Com base no projecto TEMPH foi ainda possível desenvolver, enquanto componente complementar, o Plano de Gestão e Valorização de Sítios e Monumentos Arqueológicos (PGVSMA), através do qual se procurou reforçar a intervenção municipal ao nível da salvaguarda, valorização e divulgação do património arqueológico do concelho. Os trabalhos, realizados entre 2016 e 2018, foram orientados para o património megalítico e permitiram a realização de acções de limpeza e manutenção de um conjunto de monumentos, assim como a implementação de dois circuitos do roteiro megalítico de Avis. A visão parcial dos testemunhos
Ocupação pré-histórica na Ribeira de Santa Margarida
reunidos ao longo da primeira fase do projecto TEMPH impossibilita, neste momento, confirmar muitas das hipóteses de leitura que foram formuladas. Por conseguinte, em 2020 foi apresentada a segunda fase do projecto de forma prosseguir com a recolha de informação arqueológica e, deste modo, aprofundar o conhecimento sobre os últimos grupos de caçadoresrecolectores, o processo d e n e o l i t i za ç ã o, a s p r i m e i ra s comunidades camponesas, a relação entre estas e a emergência do megalitismo funerário e a relevância e o significado dos espaços de morte na organização da paisagem. A segunda fase do projecto, avaliado e aprovado pela Direcção Geral de Património Cultura, será
desenvolvida entre 2020 e 2023, e privilegia a continuação da cobertura do território através de prospecções, com vista à identificação de novos locais e à revisão de dados anteriores, contemplando igualmente a realização do estudo de conjuntos artefactuais relevantes no âmbito do projecto, assim como de acções em sítios considerados em risco de destruição ou com interesse cultural e turístico para a autarquia, devidamente enquadradas no PGVSMA. A campanha de 2020 foi iniciada em setembro e integra trabalhos de prospecção e estudo de materiais arqueológicos. Os trabalhos de campo irão decorrer em áreas prioritárias associadas às ribeiras de Seda, Grande e Santa Margarida.
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boletim do centro de arqueologia de avis número 13 \ 26 de setembro de 2020
Recursos online Celebrar a Arqueologia, descobrir o património Outra perspectiva sobre o património arqueológico Difusão científica de resultados Descobrir | Uma peça, uma história Reabertura ao público Serviço educativo. Promover o contacto directo com a Arqueologia O CAA na Hora do Conto Entre pedras e pedrinhas. Divulgar o património megalítico Conhecer | Anta do Penedo da Moura Património arqueológico e gestão territorial. Contributo da Arqueologia para a revisão do PDM de Avis Mosteiro de São Bento de Avis. Intervenção arqueológica em retrospectiva Pré-História em Avis. Segunda fase do projecto de investigação TEMPH
Edição Município de Avis Director Nuno Paulo Augusto da Silva | Presidente da Câmara Recolha e organização da informação Centro de Arqueologia de Avis Textos e concepção gráfica Ana Ribeiro Fotografia Arquivo fotográfico municipal _ Centro de Arqueologia de Avis | Anta do Penedo da Moura _ Duarte Querido Capa Núcleo de Santo António, Alcórrego _ Henrique Portela Composição gráfica e revisão Centro de Arqueologia de Avis ISSN 1646-5660
Contactos Pátio das Cisternas 8, 7480-121 Avis Telefone 242 410 090 arqueologia@cm-avis.pt https://www.facebook.com/Centro-de-Arqueologia-de-Avis1590089434537617/