Chove na cidade

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1ª- edição, 2014

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Chove na Cidade

Chove na cidade

Chove na Cidade

Chove na cidade

Chove na Cidade

Fernando A. Pires

Fernando A. Pires

Chove na Cidade

Chove na Cidade

Chove na cidade

Chove na Cidade


Copyright © 2014 Fernando A. Pires © Editora Joaninha Todos os direitos reservados. Direção Editorial Duda Albuquerque Beto Celli Editor Alexandre Faccioli Revisão Lygia Maria Beneli Goulart Ilustrações, projeto gráfico e capa Fernando A. Pires Editoração eletrônica AGWM Editora e Produções Editoriais Ltda. Manual Digital do Professor Alessandra Corá Edição atualizada com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha elaborada por: Tereza Cristina Barros – CRB-8/7410 Pires, Fernando A. Chove na cidade / Fernando A. Pires. — São Paulo : Joaninha, 2014.

978-85-5521-009-9 (aluno) 978-85-5521-010-5 (professor)

1. Literatura infantojuvenil 2. Poesia — Literatura infanto-juvenil I. Título. CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantojuvenil 028.5

Joaninha Edições Ltda. Rua Fradique Coutinho, 1139 Vila Madalena Sao Paulo-SP CEP 05404-004

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agradeço ao poeta Silvio Piresh pelas dicas poéticas, ao Alexandre Faccioli, que um dia acreditou que eu podia domar uma enchente.

para Kazue e Suemi

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E olham para o seu dia que ainda não aconteceu.

Todos, cada um a seu modo, buscam algo.

Outros esperam embaixo de telheiros e marquises.

Outros entram apressados nos ônibus e metrôs,

Alguns dirigem indiferentes os seus automóveis,

Com suas capas e guarda-chuvas.

Alguns andam, atravessando a cidade

Todos já estão acordados,

Porque chove na cidade.

Ainda está escuro como a noite

Mas ninguém percebe,

O sol acabou de nascer,

Chove na Cidade.


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O que ele também vê...

Talvez possamos ver

Este pássaro,

Se nós acompanharmos

Ele também parece estar à procura de algo.

Mas não fica muito tempo no mesmo lugar.

Da chuva.

Enfrenta os grossos pingos e vai se abrigar

Atravessa as nuvens carregadas,

Um pássaro desce das alturas,


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As crianças em festa Equilibram seus limões. Sapateiam seus pés descalços nas poças. A faixa de pedestre é seu jogo de amarelinha. As crianças em festa sorriem e gritam de alegria, Despreocupadas, não pensam em mais nada que se divertir. Afinal, como poderia ser diferente? São apenas crianças aproveitando a melhor época da vida, Equilibrando seus limões.

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Gato arrepiado Molhado de pingos, Procura por restos no fundo dos quintais? Procura por um dono que dê carinho, Mas o deixe livre? Os gatos gostam de liberdade. As calhas cheias de água fazem muitas poças no chão E algumas cabeças de sardinha não perdem o seu cheiro, Mesmo mergulhadas nas poças, O gato se alegra com o seu banquete. Para o gato arrepiado, A liberdade é poder comer a sua sopa de peixe No fundo dos quintais. O gato atrás da janela Olha para o gato arrepiado E pensa que tem muita sorte Por ter a sua janela Que o protege da chuva. Ele sempre teve casa, Comida... Cama quentinha e seca. Nunca precisou se esgueirar No fundo dos quintais... Revirar o lixo atrás de cabeças de sardinha Num dia que chove. Nunca precisou sentir o que é a liberdade, E ficar triste por não saber o que fazer com ela.

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O homem da carroça puxa sua vida nas costas, Acompanhado por seu único amigo. A carroça é uma carga muito pesada para o homem, Mas o homem não cansa. A carroça machuca suas mãos, machuca seu corpo, Mas o homem resiste. A carroça às vezes o faz desanimar, Mas o homem insiste. Para o pássaro, o homem faz parte da carroça, Assim como a carroça é o homem também. O homem da carroça para um momento para descansar E se lava com a água que cai do céu... Canta alto para todo o mundo ouvir. A cidade é a casa Do homem da carroça A rua é o chuveiro.

Já para seu amigo, O homem da carroça é o seu Imperador. A Cidade é o Império de seu senhor Para o melhor amigo do homem da carroça, A Cidade É também o seu Banheiro.

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A criança que chora, chora. Ela não sente dor. Ela não tem fome. Ela sente falta de algo. Algo que a faz sentir dor, Algo que é parecido com a fome. Sua mãe lhe entrega Uma bola novinha, Mas a criança ainda chora. Os melhores brinquedos da loja estão dentro do carro E já passaram pelas mãos Da criança que chora. E a criança ainda chora. Enquanto o motorista guarda as compras, A criança que chora escapa dos braços da mãe, Escapa da babá, Para ajoelhar e espalmar as poças da calçada E então soltar um grande sorriso de criança, Entre as lágrimas e as gotas de chuva Que escorrem de seu pequeno rosto. Agora ela já está satisfeita. A criança que chorava Tinha fome de mundo.

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e...

Abre a boca...

Fecha seus olhos,

A moça apressada inclina sua cabeça para trás,

Afastar o seu guarda-chuva para o lado.

Olhar ao redor...

O passo...

Até diminuir

Não percebe o seu caminho. É só ela com seu guarda-chuva.

A moça apressada

Chega na frente

Corre atrás,

Engana os carros.

Desvia das pessoas.

Passa pelas poças.

Anda rápido.

A moça apressada


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Que ela ainda é.

Como a menininha

Agora ela é a moça saltitante

Faz graça para a criança que chora...

Dá bom-dia aos carros.

Troca os passos.

Agora a moça apressada não é mais a moça apressada.

Saboreia vagarosamente...

Que a moça, antes apressada,

Tem gosto da infância

pingos.

de...

forma...

em...

água...

a...

prova


O vovô com a bengala Anda com cuidado. Não pode escorregar nas poças. Não pode tropeçar nos buracos. O vovô com a bengala não tem força. A vida tirou a sua força. Ele para. Por que ele parou? Será que ele não consegue dar o próximo passo? Ele estica o pescoço embaixo do pingadouro do telhado E afasta a gola, deixando a água gelada escorrer pelas suas costas. Será que a vida tirou também a razão do Vovô com a bengala? Cada músculo se arrepia e ele fecha os olhos com prazer. Só o pássaro pode ler os pensamentos do vovô com a bengala: “Como é bom sentir a vida acordando no meu velho corpo cansado...”

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O nenê roto engatinha pela calçada. Nem percebe que chove, Nem percebe que vive. A mãe estende a mão para o pedestre apressado, A criança estende a mão para a chupeta no chão. A mãe conta uns trocados na calçada, A criança conta os pingos no cimento... O pai, longe dali, conta na parede os anos, os dias e as horas que faltam Para reencontrar sua família.

O pássaro voa dali Para outro canto da cidade. Parece cansado. Ainda não encontrou o que procurava. A chuva engrossa... ... Ele se abriga. Relaxa as asas doloridas.

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A moça da janela Segura um livro contra o peito, Olhar perdido no horizonte. Abre na página marcada, Sente o coração bater mais forte. Lê atentamente as palavras. Olha através da janela. A chuva lava o olho, Enquanto lá fora Uma lágrima lava o dia.

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O menino estende sua caneca de plástico azul Na goteira do pátio Bebe a chuva com gosto. As outras crianças da fila gritam com alegria E o imitam. A professora também grita, Mas não está alegre. Coloca de castigo o menino da caneca de plástico azul. Separado das outras crianças Ele sorri consigo mesmo. O menino é um herói Com sua caneca de plástico azul.

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Um rosto sorrindo dentro do ônibus Se destaca dos demais rostos Que olham para o vazio, Que olham para a chuva e Sentem tristeza. Não este rosto que sorri. Essa pessoa se lembra das coisas que aconteceram nesse dia, Coisas normais Que acontecem todos os dias. Ela não sabe por que sorri, Mas sabe que não irá esquecer esse dia pelo resto de sua vida, E isso a faz sorrir Na janela do ônibus.

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A moça que recolhe as flores caídas Trabalha principalmente quando chove. A chuva é sua amiga Porque chove flores na calçada. Ninguém sabe o que ela faz com As flores que coloca na sacola. Ninguém repara nessa moça Que recolhe as flores das poças. Talvez só o pássaro a veja. Ninguém pergunta Por que ela colhe as flores da calçada Talvez nem mesmo ela saiba Como é importante o seu trabalho Continua a escolher calmamente as flores De todas as cores, Enquanto a vida passa cinza à sua volta.

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O tocador de sanfona Não se importa se chove. Toca seu baião Sob a marquise. As pessoas desviam, Ele se espreme. As pessoas reclamam Saia do caminho, Ele as cumprimenta Com o seu chapéu de couro surrado. A rua faz uma sinfonia confusa, Ele responde com a sua sanfona. Os carros buzinam e aceleram, Ele aumenta uma oitava.

Ele não toca Música contemporânea De propósito. O tocador de sanfona Gosta de ouvir O seu instrumento Acompanhado pela Melodia da chuva.

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O rio encanado Passa sob as ruas da cidade. Ele está triste porque não consegue mais ver o céu Que foi seu companheiro por milhares de anos. Os homens da ciência trancaram o rio Para sempre No subsolo da cidade. Quando chove, Ele chama sua amiga água para tentar ver o céu novamente. Quando consegue, Ele chama isso de felicidade.

Os homens da ciência Chamam de enchente.

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Pintados de chuva?

Desses vidros negros

Você está aí dentro

Gelou seu coração?

Sua temperatura condicionada em 19 ºC

Não sente a chuva.

Não sente o vento,

De vidro negro!

Pessoa no carro

A cidade passa por seus vidros negros.

Dobra esquinas,

Espirra as poças,

Será que ela sabe que chove?

Não ouve o chamado.

Não sente o caminho,

De vidro negro!

Pessoa no carro


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Guarda-chuva destroçado.

Deixando jogado na calçada o

Com o coração apertado,

Agora vai cada um para seu lado

Agora já não dão mais os braços.

Guarda-chuva.

Agora não dividem mais o mesmo

...

A sua verdade.

Cada um possui a verdade.

Cada um tem razão.

Cada um tem certeza sobre a verdade.

Mas não divide as mesmas opiniões.

De braços dados,

Guarda-chuva

Divide o mesmo

O casal que conversa


O vendedor que viu o casal Calcula as horas que ainda faltam para voltar para casa. Vai atravessar a cidade De ônibus, metrô, Andar debaixo da chuva E chegar ao seu pequeno apartamento Onde vai tentar encontrar Algo para comer, Alguém com quem conversar à distância, Algum sentido... E vai pensar que tudo o que importa É ter alguém para dividir o mesmo Guarda-chuva Com os braços dados Num dia de chuva.

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De fechar o coração.

De abrir as mesmas portas com as mesmas chaves,

De encontrar as mesmas pessoas,

De respirar 15 vezes por minuto,

De viver cada hora da vida,

Fora dali existe a rotina

Além da hora feliz.

Não existe nada

É uma obrigação.

A felicidade

Não medem esforços para

Eles precisam ficar felizes.

Eles devem estar felizes.

Porque agora é a hora feliz

Estão rindo também

Todos estão rindo porque chegaram antes da chuva mais forte.

É a hora feliz no bar.


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Hora feliz?

Para fugir da

E o que virá depois

Ainda vai acabar virando uma rotina.

A hora feliz acontece quase todo dia,


A garçonete Que serve todas essas pessoas felizes Também aguarda a sua hora feliz, Quando ela sair da sua rotina De copos e pratos sujos. E rever sua filha Que está em casa Esperando pela mãe Sozinha Brincando de casinha.

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O homem no arranha-céu Não percebe que chove, Pendurado na janela, Continua a limpar. Não olha para baixo, Um momento suspenso no ar, Continua a limpar. Ele depende do seu trabalho, Ao contrário do pássaro, Ele nunca olha para baixo, Continua a limpar Os vidros Refletem O seu rosto E o seu medo Continua a limpar.

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A cantora descalça Chapinha as poças no terraço de sua cobertura No prédio mais alto. É fim de tarde e a cidade toda está aos seus pés No prédio mais alto. A cantora descalça não canta. Ela nunca canta quando está só Ela nunca canta. E mesmo assim a cidade toda está aos seus pés. Ela recebe cartas com declarações de amor, Seu rosto está em todos os jornais, Só falam nela, Sua voz é invejada por todos Querem seu autógrafo E ela não tem para onde ir A não ser nesse terraço Ela não tem para onde ir Ou com quem conversar Na cidade que está aos seus pés Descalços que deitam seu corpo No chão molhado do terraço E choram Por não suportar O peso Da cidade toda que está aos seus pés No prédio mais alto. 53

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Um rapaz doente Acaba de dar a sua primeira volta no quarteirão em meses. Está cansado, mas feliz. O rapaz não sentiu seus pulmões queimarem Porque a poluição foi levada pela chuva. Ele não sentiu as vertigens que o faziam Sentir-se indefeso na rua. Ele se sentiu quase normal. Ele era quase um pedestre comum Que caminha num dia de chuva. Ele está cansado porque seus músculos estão fracos, Mas está feliz porque conseguiu Mais uma vez Atravessar a estação seca. Ele pode enfim respirar normalmente.

Sabe que a poluição vai retornar um dia. Sabe que seus pulmões vão arder em brasa novamente. Sabe também que ele vai conseguir resistir. Como já fez várias vezes Ele precisa resistir. Ele acredita que pode resistir E vai resistir Até o limite de suas forças. O rapaz doente sente que Agora poderia voar... 58

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...Como faz aquele pássaro que voa contra a tormenta, Subindo corajosamente Em direção às nuvens carregadas.

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O pássaro continua voando, Continua subindo... Pousa na antena mais alta da cidade. O dia está acabando, e o sol ainda não apareceu. Descansa alguns minutos e alça voo novamente. Continua subindo... A chuva castiga suas asas e dificulta seu voo. Ele entra nas nuvens carregadas, Sente a eletricidade atravessar seu corpo, Sente que pode cair, Suas asas doem Quando finalmente atravessa as nuvens. A chuva fica para trás Trazendo o silêncio...

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Deixando atrás de si sua lembrança de fogo.

Absoluto no horizonte,

E se despede do astro que some

O pássaro dá voltas de felicidade no ar quase inexistente.

E todos estão ocupados com suas vidas.

Chove.

Porque lá embaixo está escuro e

Mas ninguém sabe

Ele está se pondo na cidade,

No horizonte das nuvens cor de ouro

Quando avista o sol...

As penas estão molhadas,

Trabalham mais.

As asas

O ar falta,

Continua subindo até quase perder os sentidos.


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Chove na Cidade.

Mesmo quando

Desde o nascer até o pôr do sol.

O espetáculo da vida, em cada detalhe.

De aproveitar ao máximo

E assim repetirá sua rotina diária

Na cidade.

Que lhe chamam a atenção

Depois vai assistir a muitas cenas

Nascendo no silêncio das alturas.

Quer ser novamente o primeiro a vê-lo

No dia seguinte.

Com o sol

Para voltar a se encontrar

Descansar,

Vai para seu refúgio

Sem se importar em enfrentar novamente a chuva

O pássaro desce satisfeito


Sobre o autor e a obra CHOVE NA CIDADE_8ago2018.indd 64

Eu escrevo e ilustro as minhas histórias e as de outros autores. Chove na Cidade é o meu sétimo livro publicado. Os animais são os meus protagonistas preferidos. Já escrevi sobre baleias, girafas, elefantes, cães, gatos, ursos de pelúcia, koinoboris (bandeirolas de peixes), coelhos de vidro... Pensei que agora eu podia escrever uma história sobre “alguém” inanimado. Resolvi escrever este livro onde o personagem principal é a chuva. É a chuva que presencia vários momentos dos personagens que vivem na cidade. É ela que exerce muito poder sobre umas pessoas e nem tanto sobre outras... é a chuva que limpa o ar e é ela que nos faz apreciar tanto um dia de sol. Eu só não contava com a presença de um pássaro, que me acompanhou pela cidade e me mostrou coisas que só um pássaro pode ver, mesmo num dia de chuva.

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