Jason Quinn ilustração Sachin Nagar
minha vida é minha mensagem
São Paulo, 2014 1a edição
© Campfire, New Delhi, 2013 © Cereja Editora, 2014 Título original: Gandhi, my life is my message Responsabilidade editorial Edição Ilustrações Tradução Revisão Editoração eletrônica
Ana Mortara Antonio Nicolau Youssef Sachin Nagar Thelma Annes Equipe Cereja Lilian Mitsunaga Vivian Trevizan
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Quinn, Jason. Gandhi: minha vida é minha mensagem. / Jason Quinn. Tradução de Thelma Annes. Ilustração de Sachin Nagar. – São Paulo: Cereja, 2014. 216 p.; il. Título original: Gandhi, my life is my message. ISBN: 978 85 87779 46-5 1. Literatura Infantojuvenil. 2. Biografia. 3. História contemporânea. 4. Gandhi. 5. Não violência. 6. Colonialismo. 7. Independência da Índia I. Titulo. II. Annes, Thelma, Tradutora. III. Nagar, Sachin, Ilustrador.
CDU 82-93
CDD 028.5
Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino
São Paulo, 1a edição, 2014 Todos os direitos reservados
Cereja Editora Ltda. Rua Deputado Lacerda Franco, 253 Pinheiros | São Paulo-SP CEP 05418-000 (11) 2157-3687
“O ódio sempre mata, o amor nunca morre, tal é a enorme diferença entre ambos. O que se obtém através do amor se conserva para todo o sempre. O que é obtido pelo ódio acaba por se tornar um peso, pois apenas aumenta o ódio.”
Mohandas Karamchand Gandhi
21:30, 29 de janeiro de 1948. casa birla, nova déli.
mohandas karamchand gandhi desfruta da companhia de devadas, seu filho mais jovem, e de sua família...
bapu, o homem que tenTOu matá-lo na semana passada não agiu sozinho.
por favor, permita que a polícia o proteja durante seus encontros de oração.
um encontro para orações não é lugar para policiais armaDOs.
já é tarde e este pequeno precisa DOrmir. nos veremos amanhã, bapu.
bapu!
boa noite, pequenino.
se meu destino é morrer pela bala de um homem insano, devo fazê-lo sorrinDO, com deus em meu coração e em meus lábios.
gostaria que não se preocupassem tanTO. a morte deve ser aceita como uma amiga. é tão necessária para o crescimenTO quanTO a própria vida.
e eu tive uma vida boa... uma longa vida...
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nasci em porbandar, gujarat, em 2 de outubro de 1869.
meu pai, karamchand gandhi, era um funcionário DO estaDO. minha mãe, putlibai, era profundamente religiosa, jamais sequer sonharia em fazer suas refeições antes das orações diárias.
quanDO criança, eu almejava ser valente e destemiDO, mas eu era um herói improvável.
ele é linDO.
exatamente como seus irmãos e irmãs.
socooorro!
a escuridão me apavorava, cheia de ladrões imaginários, fantasmas e serpentes.
não tenha meDO, meu pequeno. repita o nome de rama e ele o protegerá de qualquer mal.
meu pavor foi a causa de muitas noites de insônia na família.
o que foi, monia?
o-os f-ffantasmas.
rama... rama... rama...
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louvar o nome de rama sempre me deu conforTO, por TOda a vida.
quanDO eu tinha sete anos, meu pai TOrnou-se membro da corte DO rajastão, e nos mudamos de porbandar para rajkot. foi uma época difícil para mim. eu era tão tímiDO que, depois da escola, corria para casa o mais rápiDO que pudesse, para evitar ter de conversar com alguém.
ei, mohand!
não ligue pra ele. ele se acha muiTO bom pra falar com a gente.
fiz amizade com um garoTO chamaDO uka. ele vinha em casa limpar os banheiros. 99... 100! esTOu inDO, esteja pronTO ou não!
monia, já te disse para não deixar aquele menino te TOcar. ele é um inTOcável. venha logo pra dentro, um banho vai te limpar.
minha mãe achava que o contaTO com uka me sujaria, mas mesmo tão jovem eu já sabia que ela estava errada. mas mãe... não foi um inTOcável que levou rama em seu barco através DO rio ganges?
ah monia, você é muiTO jovem para entender certas coisas.
mas eu não era jovem demais...
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se você sentir dificuldade, tente copiar DO garoTO ao laDO, está bem?
na escola, eu era um aluno medíocre. uma vez, um funcionário de educação veio fazer uma inspeção...
garoTOs, agora mostrem como se escreve a palavra “chaleira”. mas... como copiar pode ser algo bom?
eu era tímiDO, mas meu irmão karsan, mais velho que eu, não tinha problemas em fazer amizades. um de seus maiores amigos era sheikh mehtab...
ei, karsan, por que seu irmão está chateaDO?
ah... ele não DOrmiu a noite passada. fica pulanDO de meDO das sombras, DOs fantasmas e bandiDOs.
ei, mohan! venha aqui!
não existe isso de fantasmas... e quanTO aos bandiDOs, posso estrangulá-los só com as mãos. é fácil pra mim e o karsan, porque somos grandes e fortes.
sabe por que somos tão grandes e fortes?
verdade?
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por que vocês são mais velhos que eu?
haha! não, não tem nada a ver com a idade. você poderia ser tão grande e forte quanTO nós...
... se comesse carne.
nossa família era muiTO devotada a vishnu e, portanTO, repudiava o consumo de animais. acho que nunca cheguei sequer a ver um pedaço de carne.
karsan, isTO é verdade? você já comeu carne?
só um pouco. mas guarde o segreDO, não conte a ninguém.
olhe! você nunca se pergunTOu como uns poucos soldaDOs ingleses conseguem DOminar tanTOs indianos?
é porque eles comem carne. ela os TOrna maiores e mais fortes que nós. se quisermos ser os DOnos de nossa própria nação, devemos fazer o mesmo, cerTO?
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logo comecei a acreditar que a carne me TOrnaria mais forte e que, se o país inteiro comesse carne, conseguiríamos derrotar os ingleses.
escolhemos um local secreTO perTO DO rio...
karsan, não tenho certeza sobre isso... mehtab tinha conseguiDO carne de bode e pão. não senti o menor prazer.
é como comer couro! acho que vou vomitar.
urg
agora já é tarde. lá vem o mehtab!
não consigo comer isTO. é nojenTO.
ah, logo você se acostuma. aquela noite tive pesadelos horríveis. sentia como se tivesse um bode vivo no estômago, gritanDO para sair.
nãããão!
não! não... sinTO muiTO!
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minha mãe e meu irmão mais velho, laxmidas, desaprovavam minha amizade com mehtab.
monia, seu irmão e eu decidimos que esta amizade tem de acabar.
mehtab é má influência para você, uma autêntica praga.
mas...
não precisam se preocupar comigo. posso fazer com que ele mude. tive permissão para continuar senDO seu amigo, mas após algum tempo, percebi que algo teria de mudar. eu sei que você diz que temos de comer carne, mas não posso mentir para os meus pais.
se meus pais soubessem que comemos carne, morreriam de desgosTO. mas...
sem “mas” e sem discussões. não comerei mais carne enquanTO estiverem vivos.
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sempre considerei erraDO o casamenTO entre crianças, mas quanDO aos 13 anos me casaram com kasturba makhanji, ainda era muiTO jovem para entender isTO. na época, significava pouco mais DO que roupas novas, jantares especiais e uma estranha e nova companhia para brincar...
no caminho para a festa DO casamenTO, a carruagem de meu pai TOmbou...
ele se feriu bastante e chegou TODO enfaixaDO. kaba! você está bem?
shh! sim, sim... esTOu bem...
será que vão cancelar o casamenTO?
continuem, não parem por minha causa.
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assim, a cerimônia continuou, conforme o planejaDO.
meu irmão karsan e um primo nosso também se casaram na mesma ocasião. foi uma grande festa.
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