Robin Hood

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Tradução de Lilia Loman

São Paulo . 2ª edição . 2018

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Copyright © Mauri Kunnas Publicado originalmente em 2009 por Otava Publishing Company Ltd. Título original: Robin Hood Copyright © Casa de Letras, da edição brasileira Publicado em português mediante acordo com Otava Group Agency, Helsinki, e Vikings do Brasil Agência Literária e de Tradução Ltda., São Paulo Responsabilidade editorial: Ana Mortara Edição: Luyse Costa Tradução do finlandês: Lilia Loman Revisão: Equipe Cereja Projeto gráfico e capa: Otava Letreiramento: Lilian Mitsunaga Manual do professor digital: Sergio Alves Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Kunnas, Mauri Robin Hood / Mauri Kunnas; tradução Lilia Loman – 2. ed. – São Paulo: Casa de Letras, 2018. Título original: Robin Hood ISBN 978-85-5543-129-6 (aluno) ISBN 978-85-5543-131-9 (professor) 1. Ficção – literatura infantojuvenil I. Título. 12-06163

CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção: Literatura infantil 028.5 2. Ficção: Literatura infantojuvenil 028.5

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Há muito tempo, em 1066, os normandos, descendentes dos vikings que haviam se instalado na costa setentrional da França, invadiram a Inglaterra a mando de seu rei, Guilherme, o Conquistador. Os antigos habitantes da ilha, os anglo-saxões, não se davam muito bem com os seus novos governantes. Os conquistadores normandos aplicavam pesados impostos e também falavam um idioma estrangeiro, o francês.

Naqueles tempos, o rei era proprietário de todas as terras, florestas e vilarejos, com exceção das terras da Igreja. O rei dava terras aos lordes em seus castelos e os lordes coletavam impostos do povo local para o tesouro real — e ao mesmo tempo ganhavam uma boa fortuna também. Os camponeses eram pobres e passavam fome, mas não possuíam permissão para caçar veados ou outros animais nos bosques das proximidades. Guardas protegiam as florestas e caçadores clandestinos, se fossem pegos, eram levados à forca.

Robin Hood era anglo-saxão. Ele não aprovava o governo normando e não dava a mínima para suas regras. Ele e seus amigos, os Alegres Companheiros, tinham ótimos jantares com a carne de veado que caçavam na floresta de Sherwood. Mas Robin decidira se tornar um fora da lei e havia uma recompensa para qualquer um que conseguisse capturá-lo. Robin era um ladrão com um bom coração: ele roubava só dos ricos para dar aos pobres. Todos achavam que Robin era um herói, todos menos os lordes e o xerife de Nottingham, é claro.

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A floresta de Sherwood A estrada que vinha do sul, ligando Londres à cidade de Nottingham, passava pela floresta de Sherwood. Raramente um viajante passava por esta rota sem medo, especialmente se seu cinturão de dinheiro estivesse pesado. Pois a floresta era território de Robin Hood, o famoso arqueiro e fora da lei, cujo maior prazer era aliviar o peso das bolsas dos viajantes abastados.

O Castelo de Locksley, o lar da família de Robin Hood, tomado pelos normandos.

Propriedade da donzela Marian

O campo secreto de Robin Hood e seus Alegres Companheiros. Robin era filho de uma família nobre e tomou o lado dos oprimidos contra os cavaleiros e barões que governavam a região.

Robin e seus homens, os Alegres Companheiros de Sherwood, gostavam de se vestir de verde.

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o lar ood, dos.

O mosteiro onde o frei Tuck vivia antes de se juntar ao bando fora da lei de Robin.

A cidade e o castelo de Nottingham. Aqui vivia o ganancioso xerife de Nottingham, um alto oficial do rei e o pior inimigo de Robin.

Sherwood era uma floresta real, onde a caça só era permitida com a autorização do rei. Mas Robin Hood não dava muita importância a regrinhas como essa.

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Robin Hood

— Alto lá, soldados! Tenho certeza que vocês querem aliviar o peso de sua carga — disse Robin Hood. — Quem ousa parar os coletores de impostos do xerife de Nottingham? — perguntou um soldado furioso. — Sou Robin Hood e estes são os Alegres Companheiros. Vocês devem ter ouvido falar de nós. Os soldados certamente haviam ouvido falar deles. E mais uma carga valiosa virou saque dos fora da lei na floresta de Sherwood.

— Maldito seja, Robin Hood — vociferou o xerife de Nottingham. — Espere só até eu colocar minhas mãos em você! 7

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É claro que Robin e seus Alegres Companheiros não ficaram com todo o saque para si próprios. Eles dividiram a pilhagem com os anglo-saxões pobres, as mesmas pessoas de quem o xerife cobrava impostos impiedosamente. Para uma viúva e seus filhos, Robin deu de presente alguns belos pratos dourados. — Abençoado seja você, Robin Hood — disse a viúva. — Hmm — pensou Robin. — Talvez pratos de madeira teriam protegido da chuva da mesma maneira.

Um curtidor surdo recebeu uma trombeta de fanfarra real. Ele adorava música.

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Machado, o lenhador, ganhou um capacete de metal afanado de um cavaleiro normando. Depois disso, ele nunca mais teve dores de cabeça. Uma velhinha que vendia vassouras ganhou um elegante chapéu. — Oh, sou uma bela donzela agora! — pensou.

Para os aldeões do vilarejo Ratoeira, Robin deu o presente mais valioso de todos: a chave do baú de tesouros do xerife. — Seria bom ter o baú também... — pensaram os aldeões.

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João Pequeno

Certo dia os Alegres Companheiros de Sherwood entregavam o saque de mais um roubo aos pobres no jardim de um convento das proximidades. — Queríamos lhe agradecer, Robin — disseram as freiras. — Então, fizemos um chapéu novo e elegante para você. — Obrigado, obrigado — gaguejou Robin timidamente. — Um grande herói precisa ter uma aparência à altura — disseram as freiras. — Nossa, olhe só, agora você está lindo mesmo!

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— Nossa, agora você está lindo mesmo! — disseram às gargalhadas William Vermelho, Alan e Much, o filho do moleiro, enquanto caminhavam para o acampamento.

No local onde a trilha encontrava um pequeno rio, havia uma figura gigantesca encarando-os. — O que você está olhando? — desafiou Robin. — Saia do meu caminho ou sentirá o gosto da ponta da minha espada!

— É fácil para você colocar banca, senhor Pavão, quando tudo o que tenho nas mãos é um pedaço de pau — disse o gigante, sem se mover um centímetro. — Cuidado com o que diz, forasteiro — rugiu Robin, jogando a sua espada. — William, corte-me uma vara e eu ensinarei esse vagabundo a ter boas maneiras.

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Logo, golpes de vara sobre a ponte estreita ecoaram pela floresta. O forasteiro era muito habilidoso no manejo de sua vara e o orgulhoso Robin levou a surra de sua vida. Após ser jogado no rio oito vezes, Robin finalmente se rendeu. — Está certo, você é mais forte — disse ofegante. — Agora, me ajude, por favor.

O forasteiro se abaixou, esticando sua vara, mas, naquele instante, Robin deu um puxão com toda a sua força e derrubou o gigante. Os dois oponentes saíram cambaleando pela margem do rio. — Veja só, talvez você não seja tão iniciante assim! — disse rindo o forasteiro. — Agora, diga-me, por favor, onde posso encontrar esse tal de Robin Hood. Eu gostaria de me juntar aos seus Alegres Companheiros.

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aquele e

— Mas você já o encontrou — ele respondeu. — Eu sou Robin Hood. — Quem iria imaginar — gaguejou o gigante. — Parece que lhe dei uma pequena surra. E seu belo chapéu está em frangalhos. — Ah sim, está mesmo — disse Robin alegremente. — Não poderei mais usá-lo. O nome do forasteiro era João Pequeno. — Ah! Devíamos ter adivinhado — riram os Alegres Companheiros. E a partir desse dia, Robin e João Pequeno se tornaram melhores amigos e ficaram lado a lado em todos os tipos de aventura.

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O conto do mercador de queijo Uma bela manhã, Robin estava vagando pela floresta quando encontrou um mercador de queijos a caminho do mercado de Nottingham para vender seus produtos. Robin teve de repente uma ideia incrível. — Senhor, venda-me sua carga — sugeriu. — Venda-me seu cavalo, sua carroça, até mesmo suas roupas. Fiquei com vontade de ir visitar Nottingham.

O mercador concordou, pois recebeu uma boa quantia. Logo, um Robin Hood disfarçado de mercador passava pelos portões da cidade com sua carroça barulhenta.

— Queijos! Queijos deliciosos! — cantava Robin. E compradores logo apareceram, pois ele os vendia a preço de banana. — Quem é aquele boboca sem noção? — rosnavam os outros comerciantes do mercado, pois ninguém dava atenção aos seus queijos. 14

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— Meu deus, que bobinho — riu o xerife de Nottingham. — Roubar dinheiro dele será como tirar doce da boca de uma criança! Acho que convidarei os mercadores de queijo para jantar comigo na taverna.

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Todos se divertiram muito. Eles comeram bem e beberam jarras de aguardente doce. — Encham suas barrigas o máximo que puderem — gritou Robin. — Eu pagarei por tudo!

— Bem, você realmente é um sujeito rico — disse o astuto xerife. — De fato, pois herdei uma grande propriedade — respondeu Robin, inventando a história na hora. — Mas não posso cuidar de tudo. Há milhares de animais de chifre comprido para tomar conta. Eu só queria encontrar alguém que a comprasse de mim. Eu a venderia bem baratinho — lamentou Robin. O ganancioso xerife ficou imediatamente interessado. — Eu certamente a compraria — respondeu. — Mas, sendo um pobre xerife, não posso oferecer mais do que dez moedas de ouro.

Os outros mal podiam acreditar no que ouviam: uma propriedade daquelas, com todos aqueles animais, valia muito mais do que aquela ninharia.

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— Feito! — concordou Robin. — Traga o dinheiro e nós iremos inspecionar minhas terras e gado.

Robin e o xerife partiram. Na floresta de Sherwood, o xerife começou a ficar nervoso. — Ainda está longe? Onde está todo o seu rebanho?

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Um grande grupo de veados pastava no campo. — Chegamos! — disse Robin alegremente. — Aqui está meu gado chifrudo. — Mas esses são os veados do rei! — vociferou o xerife. — Você é um impostor!

Robin tocou sua corneta — BIIIIII! — e em segundos um bando de homens vestidos de verde saiu das árvores. — V-v-você é Robin Hood — gritou o xerife. Mas não tinha jeito e ele teve que entregar seu saco de dinheiro.

O ganancioso xerife voltou para casa com os bolsos vazios. — Não se preocupe, querido — disse a sua esposa, consolando-o. — Coma um pouco de queijo. É muito bom, comprei um monte dele hoje na feira.

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A donzela Marian Marian era filha de uma família nobre. Quando eram crianças, ela e Robin Hood eram melhores amigos. Talvez eles tivessem até uma quedinha um pelo outro.

— Faz tempo que não tenho notícias de Robin — pensou alto Marian. Ela decidiu sair a sua procura pela floresta. Mas é claro que uma nobre não podia simplesmente perambular pela floresta de Sherwood sozinha. Então ela se vestiu como um pajem e partiu disfarçada.

Marian esperava encontrar alguns dos Alegres Companheiros, que poderiam levá-la ao acampamento secreto de Robin no bosque.

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Na floresta, Marian encontrou uma velha carregando um cesto de ovos. Para grande surpresa de Marian, a velha começou a brigar e ordenou que o pajem entregasse sua carteira.

Marian não aceitou nada disso. Ela era boa de briga quando necessário. Os arbustos ficaram amassados com a luta disputadíssima entre o pajem e a velha. E a velha ficou em segundo lugar. — Chega, chega, pajem — suspirou a vovó enfezada. — Vamos tomar um gole de meu cantil de aguardente.

Mas não era um cantil que a velha carregava: ela puxou uma corneta de caça e fez um barulhão — BIIIIIIIII! O pajem olhou para a velha sem acreditar e começou a rir. — William, Alan, vocês ouviram isso? Robin está com problemas — disse João Pequeno.

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Os Alegres Companheiros correram para ajudar Robin. Mas o que encontraram? Um pajem em roupas finas fazendo cócegas no nariz de uma velhinha. Eles levaram um tempo para perceber que na verdade eram Robin e Marian.

Robin sentira falta da companhia de sua amiga e se vestira como uma vovozinha para poder visitar a donzela Marian em sua propriedade, pois um fora da lei jamais seria admitido nos portões. Mas quando encontrou um pajem com roupas finas, não resistiu a oportunidade de ordenar que lhe fosse entregue o saco de dinheiro. — Foi sorte ter reconhecido Marian a tempo. Eu estava prestes a dar uma boa surra nela — declarou Robin. — Sei... — riu Marian. 21

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O campeonato de arco e flecha — Foi Robin Hood, ele roubou nossa carga de novo — gaguejou o soldado. — Ah, não! Ele passou a mão no meu delicioso patê de fígado de ganso e nos ovos de codorna — lamentou o xerife de Nottingham. — Quando eu puser as mãos naquele maldito bandido... — Que tal atrair Robin para Nottingham? — sugeriu o astuto escrivão do xerife. — Podíamos promover um campeonato de arco e flecha. Robin não resistiria a participar, pois dizem que ele é o melhor arqueiro de toda a Inglaterra. — E então o capturamos... boa ideia! — gargalhou o xerife.

— Este é um campeonato que pretendo ganhar — disse Robin. — Mas e se for só uma armadilha do xerife? — perguntou João Pequeno. — Ah! Ele jamais me pegará — zombou Robin.

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No dia do campeonato, o xerife e seus homens examinaram os participantes cuidadosamente. Os arqueiros vinham de todos os lugares, mas nenhum deles se parecia com Robin Hood. — Ele provavelmente não teve coragem de dar as caras por aqui — concluiu o xerife.

Um dos participantes era o cavaleiro normando Chien de Garde, o favorito para a competição. — Olhe para as flechas na bolsa esfarrapada deste saxão! Ele acha que vai ganhar o campeonato com essas varetinhas tortas! — disse o cavaleiro, caindo na gargalhada. 23

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E logo as flechas voavam pelo ar. Cada arqueiro atirava duas flechas por rodada e quem tivesse as piores pontuações tinha que deixar a competição.

De alguma maneira o saxão esfarrapado conseguiu ficar na competição, embora as flechas tortas voassem para todos os lados. Milagrosamente, uma das duas flechas sempre atingia seu alvo. A multidão vibrava, mas o xerife estava irritado com o sucesso do palhaço. Uma flecha acertou a taça de ouro do xerife no momento em que ele bebia. Outra flecha perdida atingiu as cordas que prendiam a tenda do xerife. A multidão rolava de dar risada. Os outros arqueiros também riam tanto que acabavam errando o alvo. — Este maltrapilho está acabando com o campeonato — disse furioso o xerife.

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Para a surpresa de todos, o saxão maltrapilho e engraçado conseguiu chegar ao final da competição, logo atrás de Chien de Garde. Chien de Garde acertou o alvo em cheio. — Alors! Faça melhor do que isso — disse o cavaleiro zombeteiramente.

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O saxão molambento esticou seu arco. A flecha torta voou mais uma vez na direção errada, mas ricocheteou loucamente aqui e ali até acertar o alvo, partindo a flecha do cavaleiro no meio. A multidão explodiu de alegria e admiração. — Um golpe patético de sorte — resmungou Chien de Garde. O xerife rangeu os dentes. A esta altura ele já tinha esquecido de Robin Hood. O xerife enfurecido ordenou que o alvo fosse colocado a uma distância maior, à beira da floresta. — Tente acertar AQUILO, seu maltrapilho — rosnou. Mas agora o alvo estava longe demais até mesmo para Chien de Garde. E então era a vez do pequeno saxão. Sua última flecha era tão torta que fez um círculo completo no ar e foi zunindo direto para o traseiro gorducho do xerife. — Na mosca! — gritou a multidão. — O maltrapilho é o vencedor!

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Aquilo já era demais para o xerife. — Vá embora enquanto pode e nunca mais mostre sua cara de bobo na cidade de Nottingham — gritou.

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Mais tarde, ao cair da noite, uma figura obscura se esgueirou pelo castelo do xerife e preparou seu arco.

Uma flecha atravessou a janela do quarto do xerife. Havia um bilhete preso a ela: “Obrigado pelo ótimo campeonato! Cordialmente, Robin Hood” — Aquele fora da lei estava em Nottingham, afinal? Por que ele não foi capturado? — disse o xerife furiosamente. — Hãã... porque foi o próprio xerife que o expulsou da cidade — pensou o escrivão, mas preferiu não dizer aquilo em voz alta.

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Frei Tuck Em um mosteiro perto da floresta de Sherwood vivia um bom frade chamado frei Tuck.

Ele era conhecido pela sua força e pela sua natureza alegre. Certa vez, quando perambulava pela floresta, Robin encontrou frei Tuck. — Ei, gorducho. Eu queria atravessar o rio, mas sem molhar meus pés — disse Robin com um tom um tanto rude. — O que você acha de me carregar?

O frade não pôde recusar, pois viu que o estranho estava fortemente armado. Mas quando chegaram na outra margem, o monge puxou sua espada e disse: — Ops! Parece que esqueci meu livro de orações do outro lado. Agora você me carrega de volta, seu vagabundo! 29

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Robin teve que molhar os pés, contra a sua vontade.

— Certo. Agora é a sua vez de novo — disse Robin, e o frade teve que carregar o fora da lei nos ombros pela segunda vez. Mas no meio do riacho, o frade jogou Robin na água. É claro, uma luta se seguiu. Frei Tuck podia ser gordo, mas era um excelente espadachim e Robin Hood quase se deu mal.

Felizmente, Robin conseguiu tocar sua corneta — BIIII! — e, logo, um grupo de Alegres Companheiros correu em seu socorro.

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— Melhor desistir, frade — disse Robin ofegante. — Você perdeu esta batalha. — Ah, perdi? — arfou Tuck, soltando um assobio agudo. Em um segundo uma matilha de cachorros bravos saiu da floresta.

— Está certo, meu bom frade, você venceu — disse Robin pendurado de um galho. — Mas fale para seus cães irem embora e junte-se ao nosso bando. Eu sou Robin Hood e esses são meus Alegres Companheiros. Lutamos contra malfeitores e sempre precisamos de sujeitos legais como você. — Por que não? — riu o monge. — Mas a partir de agora você vai atravessar o rio sozinho. 31

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O conto do aniversário do xerife

O xerife de Nottingham simplesmente adorava se empanturrar de gostosuras. Como seu aniversário se aproximava, o xerife enviou soldados a cada vilarejo para coletar mel, geleia e outras guloseimas que pudessem encontrar. — Impostos para o rei — diziam os soldados, mas ninguém acreditava em uma palavra sequer. Alguns dias antes do grande dia, uma carroça de um fabricante de tortas de Londres passava pela floresta de Sherwood. O xerife encomendara um carregamento de tortas deliciosas recheadas com geleia do panificador. Subitamente, um grito veio do alto das árvores: — Pare! Quem passa pela minha estrada?

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No mesmo instante, uma figura vestida de verde despencou de seu tronco, caindo direto na caixa de tortas. Era Robin Hood.

— Seu diabo desengonçado! Você arruinou minhas tortas! — rosnou o padeiro furioso, atacando Robin. Robin tentou tocar sua corneta para pedir ajuda, mas ela estava entupida de geleia.

— Um marginal como você deve ir para uma masmorra — vociferou o padeiro. 33

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A perda das preciosas tortas irritou o xerife, mas, pelo menos, Robin Hood fora finalmente capturado.

— Jogue-o na mais funda masmorra — ordenou o xerife. — E tranque os portões para que ninguém possa entrar ou sair da cidade. Os Alegres Companheiros estavam preocupados. — O que devemos fazer agora? — refletiu João Pequeno. — Não se preocupe — disse frei Tuck. Ele tinha um plano.

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Na manhã seguinte, uma carroça surgiu nos portões de Nottingham. — Abram! Trago uma torta de amoras para o estimado xerife — disse o motorista. — É um presente de aniversário dos aldeões pobres. — Não posso abrir as portas — respondeu o guarda. — Ordens são ordens.

— Seu completo idiota! — gritou o xerife. — É claro que a torta de amoras deve entrar. Você quer que eu morra de fome em meu aniversário?

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Os portões da cidades foram abertos e a carroça entrou no pátio do castelo. O xerife lambeu os beiços. — Que torta maravilhosa! Tenho que prová-la agora — disse, babando.

Mas, naquele instante, a tampa da torta saiu voando e um bando de Alegres Companheiros pulou para fora. Espadas tilintaram enquanto os homens de Robin davam aos soldados do xerife uma lição de luta. Robin foi encontrado na masmorra. — João Pequeno! Que bom ver você, meu amigo! — riu Robin.

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Logo, Robin foi libertado e os Alegres Companheiros de Sherwood escaparam para a floresta, levando consigo carroças carregadas com o saque.

Uma enorme festa foi dada no vilarejo. João Pequeno e frei Tuck haviam saqueado as despensas e armazéns de geleia e suco do xerife e esvaziado o depósito de mantimentos do castelo. — Vamos brindar — riu Robin. — Muitos anos de vida ao aniversariante, nosso querido amigo, o xerife de Nottingham!

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— Meu aniversário está arruinado — choramingou o xerife. — Robin Hood está por aí dividindo meu patê de fígado de ganso, minhas salsichas de porco e meu bolo com os pobres e tudo o que me sobrou foi arenque defumado! — Senhor, acho que sei como você conseguirá comer suas gostosuras de aniversário — respondeu o astuto escrivão.

Logo um pobre peregrino caminhava pesadamente pela floresta de Sherwood.

— Pare, estranho! Quem vem lá? — perguntou Much, o filho do moleiro, que vigiava a estrada para o acampamento de Robin. — Sou apenas um pobre peregrino faminto, senhor — respondeu o viajante. — Ninguém precisa passar fome hoje — disse Much. — Venha e junte-se a nós para comemorar o aniversário do xerife. E era exatamente o que o peregrino esperava.

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Momentos mais tarde, o estranho de capuz estava abocanhando gostosuras com os aldeões. — Tenho que dizer, aquele peregrino gorducho tem certamente um bom apetite — disse William Vermelho impressionado. — Para mim, ele se parece terrivelmente com um dos nossos amigos, o xerife de Nottingham — disse Robin, puxando o capuz do rosto do estranho. — Ah! Peguei você! Mas, como era o aniversário do xerife afinal, permitiu-se que ele comesse sua parte do saque e havia mais do que o suficiente para ser repartido. — Mas adivinhe quem vai lavar os pratos? — riu Robin. — Assim que meu estômago parar de revirar — disse com a voz engasgada o empanturrado xerife.

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O conto de Robin Hood e o rei Ricardo Histórias sobre o fora da lei da floresta de Sherwood haviam chegado aos ouvidos de Ricardo Coração de Leão, o rei da Inglaterra. — Gostaria de encontrar este Robin Hood — disse.

O rei decidiu ir à Sherwood, mas disfarçado, é claro. Algumas semanas mais tarde, um pequeno grupo de monges de alta hierarquia caminhavam pesadamente à pé pela floresta.

Subitamente, um arqueiro vestido de verde os parou. — Valioso abade, eu sou Robin Hood. Se quiser passar pela floresta, terá que entregar essas suas bolsas gordas de dinheiro — declarou. — E, em compensação, convidarei todos vocês para dividir uma boa refeição conosco em nosso acampamento. É nosso costume aqui em Sherwood.

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Os monges não puderam dizer não e logo estavam sentados em volta de um caldeirão de ensopado debaixo das árvores. Os convidados se divertiram muito com seus alegres anfitriões, embora estes fossem foras da lei. Os homens de Sherwood demonstraram suas habilidades aos visitantes. Eles exibiram sua força, dançaram e exibiram sua habilidade com o arco e flecha. — Vocês são certamente uns sujeitos espertos — disse o abade com admiração. 41

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— Temos um costume que, se alguém atirar e errar, esta pessoa leva um tapinha do nosso frei Tuck aqui — explicou Robin alegremente.

E naquele exato momento, a flecha de João Pequeno errou o alvo. Frei Tuck puxou a manga e jogou João Pequeno no chão com um golpe poderoso. — Aii! Que força tem esse frade! — gritou o abade.

Então era a vez de Robin e ele errou também! — Agora o frade deveria me dar um tapa — explicou Robin. — Mas peço ao senhor, como nosso convidado, que faça as honras do frei Tuck, uma vez que o senhor também é monge.

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— Isso não é justo — resmungaram os outros. — A mão do abade será tão leve quanto uma pena de ganso. Como eles estavam errados! O golpe do abade fez Robin ver estrelas. Levou um tempo até ele poder gaguejar uma resposta: — Isso me pareceu mais a mão de um guerreiro do que a de um homem da Igreja.

— Será que nosso visitante é realmente um religioso comum? — pensou João Pequeno.

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E então, o abade tirou seu capuz e revelou seu rosto. — Sou Ricardo Coração de Leão, rei de toda a Inglaterra — disse. Os Alegres Companheiros se ajoelharam diante dele. — Piedade, Vossa Majestade — imploraram. — Somos bandidos, mas lutamos contra a injustiça: roubamos dos ricos para dar aos pobres. Amamos nosso rei e faremos qualquer coisa para servi-lo.

— Vocês são homens bons e corajosos — declarou o rei. — Juntem-se às minhas tropas. Preciso de heróis bravos como vocês ao meu lado. 44

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O rei fez de Robin um conde e lhe devolveu as chaves do Castelo de Locksley. E Ricardo até concordou em ser o padrinho do casamento de Robin e Marian.

O xerife de Nottingham foi transferido para outros serviços, como chefe da cozinha da Torre de Londres. — Só uma pitada de salsinha e esta sopa ficará uma delícia — disse, lambendo os beiços. E as sopas do xerife eram com certeza muito boas, embora poucas chegassem à mesa do rei, pois o chefe era um provador muito dedicado.

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Robin não ficou muito tempo em seu belo castelo. Ele voltou para a floresta com seus Alegres Companheiros. Só que, é claro, desta vez o acampamento foi construído perto dos muros do castelo para que ficasse apenas a um pulinho de distância da sala de jantar. — Venham, meninos, é hora de jantar — gritou a donzela Marian. — Estamos indo, só um minuto — responderam Robin e os Alegres Companheiros.

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O autor Mauri Kunnas (1950) é um dos autores de livros infantis mais conhecidos da Finlândia. Ao longo da sua prolífica carreira, recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, como o prêmio da Feira de Livros Infantis de Bolonha, o Prêmio Literário da Finlândia (1981), entre outros. A obra de Mauri Kunnas compreende mais de quarenta títulos publicados. Suas adaptações de histórias de aventura, lendas e narrativas históricas, traduzidas para mais de trinta línguas, são repletas de humor e alegria e já venderam mais de sete milhões de exemplares no mundo inteiro. Suas ilustrações, de um colorido exuberante e afetuoso, são uma aventura à parte, renovada a cada leitura pela fascinante riqueza de detalhes que lhe é característica. Um clássico moderno da literatura infantil.

Sobre o livro Robin Hood apresenta a releitura deste clássico com uma linguagem apropriada para a formação de leitores e incentivo à prática da leitura, especialmente aos alunos do 6º- ou 7º- anos do ensino fundamental. Por se tratar de uma novela ilustrada, tem sem ritmo de narrativa envolvente para conquistar leitores dessa faixa de aprendizado. Este livro é uma ótima ferramenta para possibilitar discussões sobre as relações de convívio social por meio do universo fantástico e da aventura. Categoria: para alunos entre o 6º- e 7º- anos do ensino fundamental Gênero: novela Tema: Aventura, mistério e fantasia.

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