Boletim informativo do projeto Ação Tremembé
Após 3 anos de intensa atuação, chegou a hora de finalizar o projeto Ação Tremembé. Desde 2016 o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador – CETRA, juntamente com o Povo Tremembé da Barra do Mundaú (Itapipoca), e com financiamento da União Europeia, vem desenvolvendo ações com o intuito de potencializar a defesa dos direitos humanos dos povos indígenas cearenses e, em especial, do povo Tremembé da Barra do Mundaú. Estamos chegando ao fim dessa jornada, mas colhemos muitos frutos e deixamos muitas sementes plantadas, não é mesmo? Foram 3 anos de muito aprendizado, troca de conhecimento, fortalecimento das articulações, ampliação da visibilidade da luta pela terra, entre outras coisas que conseguimos construir juntos. Afinal, juntos somos mais fortes!
O Projeto Ação Tremembé, trouxe a mensagem de que eu poderia ir muito além das cercas da comunidade, que o Ceará ou o Brasil não é o meu limite, que meus sonhos podem sim ser realizados, e que eu sou o responsável por lutar por eles. Mostrou-me também que eu poderia produzir minha própria comunicação, e é isso que faço. Suas formações despertaram em mim o interesse em fazer fotografia, vídeos, danças e acima de tudo, possibilitou o meu desenvolvimento como Luan de Castro, o jovem indígena que produz comunicação indígena. Luan de Castro, jovem Tremembé
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Projeto Ação Tremembé promove cursos em diversas áreas Conhecimento é algo muito importante, não é? Melhor ainda se for compartilhado! Essa foi a ideia dos programas de formação que aconteceram durante os 3 anos do projeto Ação Tremembé. Compartilhar conhecimento e trocar experiências entre as/os participantes com o intuito de fortalecer e ampliar conhecimentos entre o povo Tremembé da Barra do Mundaú.
Arte e Comunicação
Durante o projeto Ação Tremembé foram formadas duas turmas no Programa de Formação de Multiplicadores Indígenas em Arte e Comunicação. Os jovens que fizeram parte da turma tiveram a oportunidade de participar de formações em teatro, dança, construção de instrumentos, comunicação popular, fotografia e audiovisual. Um dos módulos do curso trouxe o tema Artes Cênicas, que foi facilitado pelo palhaço, bailarino e músico, Viana Junior, que trabalhou linguagens do teatro e da dança. “A gente tá trabalhando com alguns jogos de dança, de improvisação, de criação de movimento, jogos teatrais e palhaçaria. Além dessas linguagens realizamos trabalhos com máscaras inspirados na tradição popular do reisado”. Para ele, esse trabalho também servirá de incentivo para o fortalecimento da cultura local. “O intuito de trabalhar essas linguagens com diálogo com as máscaras é pensar na relação que o povo Tremembé da Barra do Mundaú tem com a tradição, em especial, do reisado. Pegar o que foi trabalhado aqui durante esse módulo e, de repente, usar isso a favor da participação dos integrantes da oficina no reisado. A ideia é que eles possam passar esses conhecimentos para outras pessoas”, finaliza.
►►► Módulo de Dança do curso de Arte, Comunicação e Inclusão Digital.
“Esse trabalho de teatro tá sendo um grande desafio pra mim, porque eu não tinha esse tipo de conhecimento e estou aprendendo aqui. Pretendo levar pra minha vida, aprender mais e me aperfeiçoar”, afirma Rafaela Santos, uma das participantes do curso, e conclui, “A gente tá recebendo conhecimento e passando nosso conhecimento também, da nossa luta e do nosso dia a dia. Tá sendo uma experiência única”. Já o módulo de fotografia da segunda turma, trabalhou a produção de fotos e vídeos como importantes ferramentas para guardar a memória e histórias do povo por meio de registros. O módulo foi facilitado pelo videomaker e documentarista, Alberto Cukier. Durante os três dias de formação, a turma debateu concepção e produção de fotos e vídeos; produção de roteiro; técnicas de fotografia e filmagem e; apresentação e explicação sobre as câmeras que foram utilizadas por eles/elas em exercícios práticos. “Eu tentei passar pra turma a importância do que é um registro. A ideia é que esses arquivos, que eles produziram durante o módulo, se tornem um banco de imagens pra eles. Foi muito bom trocar conhecimento com essa juventude. É Como o Sebastião Salgado fala: ‘Hoje se faz muito
mais imagem do que fotografia’. É necessário que toda fotografia ou filmagem tenha uma memória por trás dela, senão fica só uma imagem vazia”, diz Alberto Cukier. O estudante, Keven da Silva Barbosa, aluno do 8º ano, foi um dos participantes do curso. Para ele, o conhecimento adquirido nesses três dias pode ajudar na produção de registros das atividades futuras do povo Tremembé. “Eu estou achando uma experiência muito boa. Até hoje eu tive pouco contato com máquina fotográfica e é bom a gente ter essa experiência pra ter a nossa memória guardada. Aqui na nossa terra indígena acontecem muitas ações e às vezes não temos como registrar. Com o conhecimento do curso podemos colocar em prática o que aprendemos e deixar registrados nossos momentos para o futuro”, afirma.
►►► Módulo de Fotografia do curso de Arte, Comunicação e Inclusão Digital.
►►► Torém | Boletim de informativo do projeto Ação Tremembé | p. 3
Formações Direitos Humanos 3 turmas
Espaços
Oca Digital Indígena Iandê Construção
Campanha
AÇÃO TREMEMBÉ em números Agroecologia 2 turmas
Viveiro de Mudas Construção
Iandé Á’tã Joaju – Juntos Somos Fortes! Pela demarcação imediata da terra indígena Tremembé da Barra do Mundaú
Agroecologia
Durante o projeto Ação Tremembé foram formadas duas turmas no Programa de Formação de Multiplicadores Indígenas em Agroecologia. Os/as participantes desse curso tiveram contato com conhecimentos e práticas como coleta e preparo de sementes para o plantio, intercâmbios de experiência, visita a viveiro (espaço de experimentação agroecológica), produção de mudas, segurança alimentar e nutricional, conservação ambiental, sementes crioulas, sistemas agroflorestais, práticas de agrofloresta, entre outros. O agricultor, Felisberto Manuel Neto, 66, morador da aldeia Munguba,
Arte e Comunicação 2 turmas
Sistema Agroflorestal Criação de área coletiva de SAF
Apoios
Processo de demarcação da Terra Indígena Conselho indígena Grupo Parente Torém Festividades, ações e articulações
►►► Aula prática no viveiro de mudas; 2ª turma do curso de Agroecologia; mudas; vivência no SAF.
foi uma das surpresas da segunda turma do curso. Por conta de alguns compromissos pessoais ele informou, logo no primeiro dia, que não poderia participar do intercâmbio. Mas, no decorrer da formação ele mudou de ideia e marcou presença na atividade. Questionado sobre a mudança ele apenas respondeu: “Eu vi que ia ser uma atividade muito boa e que eu poderia aprender muito com o pessoal. Eu me perguntei: ‘Se eu não viesse hoje, quando seria a próxima chance?’. Ah, meu filho. Aqui tá sendo ótimo, só tenho o que agradecer aos conhecimentos que estamos recebendo da família que abriu as por-
tas pra receber a gente”, afirma sobre o intercâmbio de experiência que participou durante o curso. Segundo Luís Eduardo, da coordenação técnica do CETRA e facilitador do módulo, as atividades realizadas tiveram como objetivo possibilitar o aprendizado em agroecologia e manejo sustentável dos agroecossistemas. “Com isso, se prevê o fortalecimento da relação do povo Tremembé com a natureza, com a identidade indígena, com as espécies nativas de múltiplos usos para a aldeia e do manejo sustentável dos seus agroecossistemas”, diz.
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►►► Turmas de Direitos Humanos.
Direitos Humanos
Durante o projeto Ação Tremembé foram formadas três turmas no Programa de Formação de Multiplicadores Indígenas em Direitos Humanos. Durante os encontros os/as participantes puderam aprender e aprofundar seus conhecimentos acerca do processo de demarcação das terras indígenas, das leis de acesso à informação do Brasil, acesso à justiça (nacional/internacional), políticas públicas, entre outros. O curso de Direitos Humanos foi facilitado por advogadas da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (RENAP) e contou com ricas discussões com base em textos que eram realizadas, em diversos módulos, sob a forma de dinâmicas que estimularam tanto a leitura quanto a
criatividade. A encenação de um telejornal, a proposição de perguntas para os demais colegas e até mesmo brincadeiras com balões foram executadas na metodologia. “Participar do Projeto Ação Tremembé facilitando as turmas de Formação em Direitos Humanos foi um período de muito aprendizado e crescimento enquanto advogada popular e ser humano. Conhecer o cotidiano do povo Tremembé, sua relação com o território e tradições, além de partilhar conhecimentos foram os pontos altos dessa experiência. As relações de amizade e a parceria na luta pelos direitos humanos e direitos indígenas permanecerão entre nós”, conta a advogada popular Mayara Justa.
►►► Torém | Boletim de informativo do projeto Ação Tremembé | p. 5
AÇÃO TREMEMBÉ em fotos
►►► 12º Encontro Estadual de Agroecologia e Socioeconomia Solidária — ETA (2017).
►►► Ocupação Funai (2017).
►►► Participação Tremembé no Intercâmbio Saberes por los Semiáridos de América Latina, na Argentina.
►►► V III Festa do Murici e do Batiputá. Adriana Tremembé e Cristina Nascimento (CETRA).
►►► II Festa da Farinhada.
►►► Vivência no SAF.
►►► Ato Demarcação Já! no 12º ETA (2017).
►►► Manifestação Tremembé na Justiça Federal (Itapipoca).
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►►► Visita de Vincent Brackelaire, consultor União Europeia.
►►► Intercâmbio Povo Xukuru — Pernambuco.
►►► I Festa de Iemanjá.
►►► II Caravana da Juventude.
►►► Partipação Tremembé no V Encontro Nacional de Agricultores Experimentadores.
►►► Participação Tremembé no IV Encontro Nacional de Agroecologia — ENA em Belo Horizonte (MG).
►►► Intercâmbio Jenipapo Kanindé (Aquiraz/CE).
►►► Exposição Fotográfica Iandé Á'tã Joaju — Juntos Somos Fortes! na inauguração da Oca. ►►► Marcha pela Terra (2017).
►►► Torém | Boletim de informativo do projeto Ação Tremembé | p. 7
►►► Entrada Oca Digital Indígena Iandê.
Oca Digital Indígena Iandê Uma demanda sonhada pela juventude indígena Tremembé, e concretizada pelo projeto Ação Tremembé, foi a Oca Digital Indígena Iandê. A Oca Digital é um espaço coletivo, localizado na aldeia São José, que conta com uma estrutura de comunicação que tem a intenção de potencializar a circulação de informações sobre os Tremembé a partir da comunicação popular, assim como ser um ponto de encontro e fortalecimento da juventude. Além da construção do espaço físico, a Oca conta com itens como computadores, projetor multimídia, televisão, câmera fotográfica, gravador de áudio e acesso à internet. A Oca foi inaugurada durante a X Festa do Murici e do Batiputá (2019). ►►► Inauguração da Oca Digital Iandê Durante a X Festa do Murici e do Batiputá
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Parente Torém O Parente Torém é um grupo artístico do povo indígena Tremembé da Barra do Mundaú (Itapipoca/Ceará) nascido através de uma apresentação performática elaborada durante o módulo de formação em dança do curso de Arte e Comunicação do Projeto Ação Tremembé. O primeiro espetáculo criado pelo grupo explora elementos dos rituais indígenas (luta, natureza, espiritualidade, conquista), da ancestralidade e também de natureza afro-brasileira e
de danças negras. A apresentação foi construída sob a orientação do coreógrafo Gerson Moreno, diretor da Companhia Balé Baião de dança Contemporânea de Itapipoca (CE). Após essa primeira apresentação, no ano de 2017, o grupo artístico se consolidou e vem atuando na pauta da arte e cultura indígena se apresentando em festividades e eventos dentro e fora da aldeia como, por exemplo, a apresentação Torém Ritual Sagrado no Anfiteatro do Dragão do Mar, em Fortaleza, em outubro de 2018.
Expediente Texto Amanda Sampaio Francisco Barbosa Fotografia Arquivo CETRA, Amanda Sampaio, Francisco Barbosa, Luan de Castro, Marcos Vieira, Miguel Cela Projeto Gráfico e Diagramação Miguel Cela