Aula Magna

Page 1

aula

magna Publicação Bimestral | Janeiro & Fevereiro 2011 | Distribuição Gratuita

Ricardo Araújo Pereira

regressa às aulas o RJIES para os alunos

desporto académico

00


publicidade


editorial A revista Aula Magna é um órgão de imprensa estudantil. Feita por nós e para ser lida por nós, os estudantes. Vem para falar de nós, do que fazemos, do que procuramos, do que nos rodeia. Vem fazer tudo isso por dentro, não como algo que nos é oferecido, mas como algo que nos pertence. Herdeira do espírito estudantil que se bateu pela liberdade de expressão num tempo em que ela não existia, a Aula Magna é um órgão de informação independente, isento e de qualidade. Nada do que é académico nos é indiferente, desde as políticas educativas e pedagógicas, passando pela produção científica e artística, até às festas, tunas e actividades recreativas. Atenta, crítica e fiel aos factos, esta revista é estudante do Norte, do Sul do país e das ilhas, é estudante do ensino universitário como do politécnico, do público como do privado. Este projecto acredita que nos falta a nós, estudantes, sabermos uns dos outros, do que andamos a fazer, do que se passa à nossa volta, para onde caminha o ensino superior e em que nos vai afectar essa caminhada. Se o reitor decidiu, nós queremos saber. Se o grupo de teatro nasceu, nós queremos divulgar. Se aqueles caloiros que estavam sempre no bar com as guitarras formaram uma banda, nós queremos dizer onde e quando é que eles vão tocar. Queremos ser a revista de tudo o que nos diz respeito e não do que outros acham que nos diz respeito. Juntamos aos nossos projectos-colegas da imprensa estudantil, os recursos profissionais que não existiam, os meios que não estavam ao alcance, a abrangência nacional que não era possível, a colaboração com os professores e funcionários. Assim nos apresentamos, como somos e queremos ser: estudantes em formato de revista.

Colabora, inscreve-te num dos nossos grupos ou entrega os teus textos e fotos através de www.aulamagna.pt A Aula Magna rege-se pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas, respeitando a boa fé dos leitores. É um órgão isento e independente de todas as formas de poder político, económico, religioso e de quaisquer grupos de pressão. Procura sempre a verdade dos factos e a pluralidade das opiniões fundamentadas, separando sempre de forma clara uma e outra coisa. A Aula Magna é um órgão de informação sobre todo o ensino superior, um meio de propagação de ideias e de correntes de pensamento, um espaço de debate e reflexão livre, responsável e civilizado. A Aula Magna é um meio de dinamização e de divulgação do trabalho dos estudantes do ensino superior que aposta num sistema redactorial comunitário e completamente aberto à participação de todos. A Aula Magna é um projecto de imprensa estudantil herdeiro da tradição académica e de associativismo estudantil, sempre defensora dos princípios da liberdade de expressão, da democracia, do respeito pelos direitos humanos, da igualdade social e da universalidade do ensino superior. A Aula Magna pugna pela ideia de Universidade (de onde não se exclui o ensino politécnico) enquanto centro de criação, transmissão e difusão de cultura e ciência de um país. g


publicidade


Direcção Luis Oeiras Fernandes Consultores de Edição Anick Bilreiro Filipe Pedro Luis Ricardo Duarte Consultor de Fotografia José Miguel Soares Consultora de Grafismo Filipa Lourenço Consultores de Internet Abílio Santos Jorge Martins Escrevem Frederico Pedreira Golgona Anghel (FLUL) João Pedro Barros Luis Ricardo Duarte Virgílio A. P. Machado (FCT UNL) Imagens Filipe Mateus João Fazenda José Miguel Soares Diogo Santos Banda Desenhada «As Incríveis Aventuars de Dog Mendonça e Pizzaboy» Filipe Melo Juan Cavia Paginam “Os 3 Moscãoteiros” (FBAUL) Projecto Gráfico “Os 3 Moscãoteiros” (FBAUL) Estudo para projecto gráfico João David Gonçalves (FBAUL) Sérgio Neves (FBAUL) Tiago Martins (FBAUL) Agradecimentos Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Prof. António José Nicolas Prof. Pedro Duarte de Almeida AEESD IPL AEESM IPL AEESTIC IPL AEESTS IPL AEFBAUL AEFPCEUL AAMDL Editor e Redacção Magna Estudantil - Publicações S.A. Avenida Visconde Valmor, nº 41 - 2º Esq. 1050-237 Lisboa TEL 21 780 02 80 FAX 21 780 08 82 www.aulamagna.pt NIPC 508642558 Conselho de Administração Luis Oeiras Fernandes Miguel Tapada Vanda Matias Fernandes Impressão Lisgráfica Rua Consiglieri Pedroso, nº 90 Casal de Sta. Leopoldina Barcarena Periodicidade Bimestral Tiragem 60 mil exemplares iniciado o processo de inscrição na APCT este projecto beneficia do apoio do programa Finicia e é participado pela InovCapital as informações para a agenda devem ser enviadas através de www.aulamagna.pt as opiniões veiculadas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores e não reflectem necessariamente a opinião da revista ou dos seus colaboradores. interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos ou imagens por quaisquer meios e para quaisquer fins

índice agenda

06

anfiteatro os efeitos do RJIES

08

qualidade do ensino

12

opinião abaixo-assinado

15

entrevista Ricardo Araújo Pereira: de regresso às aulas

16

pátio festas

21

desporto universitário

22

bar

25

banda desenhada: As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy


agenda

Foge Foge Bandido (concerto) Theatro Circo (Braga) 12 Jan, 22:00 (10€)

Rodgrio Leão (concerto) Centro S. Mamede (Guimarães) 21 Jan, 22:00 (15 a 20€)

Joanna Newsom (concerto) C. C. de Belém (Lisboa) 26 Jan, 21:00 (17 a 35€)

The Legendary Tigerman (concerto) Coliseu (Porto) 21 Jan, 22:00 (20 a 28€)

Feeder (concerto) Hard Club (Porto) 25 Jan, 21:00 (22€)

Deolinda (concerto) Coliseu dos Recreios (Lisboa) 29 Jan, 21:00 (15 a 35€)

UL a 22 de Fevereiro, às 21 horas. À semelhança da edição anterior, parte dos lucros revertem a favor do Instituto Português de Oncologia. g

Conferência de 6 Sigma (conferência)

AuditóriodaEscolaSuperior de Tecnologia e Gestão (Leiria)

4 e 5 Jan, 21:00

Festival de Tunas S. Vicente (concerto)

Aula Magna (Lisboa)

22 Fev, 21:00 A décima edição do Festival de Tunas S. Vicente é dedicada a Júlio Verne, o conhecido escritor visionário do início do século XX. Será uma inspiração futurista para a tuna anfitriã, a VicenTuna, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (UL), e para as outras cinco que vão submeter- se a concurso. Recordese que a Magna Tuna Cartola de Aveiro, a Tuna da Escola Superior de Comunicação Social, a Estudantina Universitária de Lisboa e a Tuna Académica do ISCTE foram os vencedores da edição do ano passado. O Festival realiza-se na Aula Magna da

Linda Martini (concerto)

Centro Cultural Vila Flor (Lisboa)

22 Jan, 0:00 (6€)

6

agenda

Divulgar as vantagens da metodologia 6 Sigma é o objectivo da conferência que o Instituto Politécnico de Leiria e a empresa Sinmetro organizam nos dias 4 e 5 de Dezembro. É a primeira apresentação em Portugal deste sistema de trabalho que pretende rentabilizar o binómio serviço/ cliente, através de um elaborado processo de definição, medição, análise, melhoria e controlo. A conferência, que decorre no Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, conta com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros. Nas várias intervenções, falar-se-á das aplicações do 6 Sigma em sistemas de saúde, indústrias farmacêuticas, laboratórios e actividades musicais, entre outras. Porque, qualquer que seja a área, o cliente tem sempre razão. g

Prémio Jacinto Paulo Coelho Literatura Clássica Distinguida Carlos Ascenso André, da Universidade de Coimbra, e José Pedro Serra, da Universidade de Lisboa (FLUL), foram distinguidos em ex-aequo com o Prémio Jacinto Prado Coelho, no valor de cinco mil euros. As obras em causa foram Caminhos do Amor em Roma, uma edição da Cotovia, e Pensar o trágico: categorias da tragédia grega, da Fundação Calouste Gulbenkian. Trata-se de dois estudos sobre a literatura clássica, o primeiro centrado na poesia latina do século I a.C, o segundo, na herança do teatro grego. Actual director do Con-

selho Directivo da Faculdade de Letras de Coimbra, Carlos Ascenso André tem vindo a estudar e a traduzir alguns dos principais nomes do chamado século de ouro do Império Romano, tutelado pela figura de Augusto, e em particular os temas do exílio e do amor na antiguidade. São da sua responsabilidade as traduções de Arte de Amar e Amores, de Ovídio, poeta que é bordado neste ensaio, a par de Vergílio, Propércio, Catulo e Tibulo. Pensar o trágico: categorias da tragédia grega foi a tese de doutoramento, defendida em 1999, de José Pedro Serra, professor do Departamento de Clássicas da Faculdade de Letras da UL. Esquilo, Sófocles e Eurípides são alguns dos autores analisados neste périplo pelo mundo helénico. Uma revisitação que tem como objectivo «lançar mão a esses textos antigos, compreender como deles florescem radicais questões que nos habitam, tomando para nós o mesmo heróico desejo de querer ver, de querer saber, na procura do nosso rosto mais autêntico». O júri do prémio, atribuído pelo Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, foi constituído por Fernando J. B. Martinho, Hélder Godinho e Fernando Pinto do Amaral. g


Om (concerto) Galeria Zé dos Bois (Lisboa) 30 Jan, 22:00 (15€)

Skunk Anansie (concerto) Coliseu (Porto) 7 Fev, 21:00 (25 a 35€)

Hercules and Love Afair (concerto) Lux (Lisboa) 18 Fev

Katy Perry (concerto) Campo Pequeno (Lisboa) 20 Fev, 20:00 (25 a 36€)

The Young Gods (concerto) Santiago Alquimista (Lisboa) 30 Jan, 22:30 (20€)

The Script (concerto) Coliseu dos Recreios (Lisboa) 14 Fev, 21:00 (22€)

John Cale (concerto) Centro Vila Flor (Guimarães) 19 Fev

Monotonix (concerto) Galeria Zé dos Bois (Lisboa) 27 Fev

de um tempo. Tal como em O Transporte para San Cristobal de A. H. ou Provas e Três Parábolas, também lançados pela Gradiva, a literatura de George Steiner é fortemente contaminada pela teses que defende nos seus ensaios. Não poucas vezes ecoam nestas páginas livros tão importantes como Nostalgia do Absoluto, No Castelo do Barba Azul ou O Silêncio dos Livros. g

dado que se inscreviam no património comum do republicanismo histórico », escreve Ernesto Castro Leal. No entanto, a par de rivalidades de chefia e de carácter, ou tácticas, os diversos protagonistas da agitada I República, como se demonstra neste estudo, podem filiar-se ideologicamente em duas identidades políticas: «O demoliberalismo unitarista e o radicalismo federalista». Além de Partidos e Programas, editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, Ernesto Castro Leal publicou, entre outros títulos, António Ferro: espaço político e imaginário social e Nação e nacionalismos: a cruzada nacional D. Nuno Álvares Pereira e as origens do Estado Novo. g

lato, constituiu historicamente uma forma de protecção do corpo ». Porém, com a fotografia, o cinema e o advento do digital verificaram-se dois fenómenos. Por um lado, «o deslocamento das imagens que passam a circular livre e desencontradamente ». Por outro, «a sua hibridação com o imaginário teológico, estético e técnico». Foi essa nova «plasticidade» que pôs em causa a noção clássica de corpo. Na mesma editora, o professor do Departamento de Ciências da Comunicação da F-Ciências Sociais e Humanas da U-Nova de Lisboa publica Envios, uma antologia de textos curtos que escreveu para o seu blogue, Reflexos de Azul Eléctrico. g

Ernesto Castro Real Os Republicanos da I República George Steiner Os Romances do Ensaísta Anno Domini é a mais recente colectânea contos de George Steiner publicada em Portugal. A edição é da Gradiva, que tem vindo a traduzir uma faceta menos conhecida do prof. da Universidade de Oxford e reputado ensaísta: a de ficcionista. O pós-guerra é o cenário comum às três histórias de Anno Domini, também marcadas pela evocação da violência da Guerra. Não é só a dor física que atormenta estas personagens, mas também o mal existencial provocado pela consciência de terem vivido o fim

Contribuir para o estudo do campo partidário republicano português, entre 1910 e 1926, é o principal objectivo do livro Partidos e Programas, de Ernestro Castro Leal. Recorrendo a um conjunto muito alargado de documentação, em grande parte inédita, o professor de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa analisa a estrutura, evolução e fragmentação do Partido Republicano Português, com a consequente pulverização de pequenos organismos partidários. «Os vários partidos e grupos políticos republicanos configuraram múltiplas identidades políticas, sem apresentarem uma diferenciação intensa,

Bragança de Miranda A Imagem do Corpo, o Corpo da Imagem Que relações se estabelecem entre o corpo e a imagem? De que forma as novas tecnologias alteraram essa ligação? Quais as consequências dessa mudança? Estas são algumas das questões a que J. A. Bragança de Miranda tenta responder em Corpo e Imagem, uma edição da Vega. Este ensaio parte do princípio de que a «imagem, num sentido

7agenda


anfiteatro Os efeitos do RJIES texto João Pedro Barros, fotografia Diogo Santos

estudantes longe das decisões O novo regime jurídico já mexe com o funcionamento das instituições de ensino superior, deixando os alunos mais desprotegidos. Pelo menos, é isto que pensam várias personalidades ligadas ao meio estudantil. A Aula Magna faz as contas ao que vai mudar. turais são estas, mas, «No novo conselho geral, com três ou quatro na prática, em que é votos, os estudantes não vão ter peso para que mudam a vida de um estudante? propor [...] matérias» As personalidades contactadas pela revista Aula Pedro Barrias Magna para comentar Órgãos mais pequenos e funcionais o assunto destacaram, sem excepção, o deO RJIES toma uma orientação clara: retirar créscimo da representatividade dos alunos a classe discente (ou reduzir fortemente a sua nos órgãos de governo das instituições. Sublipresença) dos órgãos que tomam as opções nharam também a evidência: o novo regime estratégicas das instituições. «Ficamos com deixa-os mais desprotegidos na defesa dos órgãos mais pequenos, funcionais e dinâseus pontos de vista, na maioria das situamicos, mas também menos democráticos», ções. Porém, discordaram quanto à relevânconsidera Moz Caldas, que reconhece que cia que estas alterações possam ter no seu havia um problema de sobredimensionadia-a-dia. Para André Moz Caldas, eleito mento. «Há uma tentativa de arrumar a casa, para o Conselho Geral da Universidade de de reunir responsabilidades espalhadas e Lisboa (UL) e membro do Núcleo de Estucompetências conflituantes», acentua Bruno dantes Socialistas da Faculdade de Direito Carapinha, estudante de doutoramento em da UL, o RJIES apenas se sentirá «muito a Ciência Política na UL, e membro do Comité jusante», uma opinião compartilhada por Executivo da Associação de Estudantes EuroNegesse Pina, vice-presidente da Associapeus (ESU). O dirigente pensa que se passa ção Académica da Universidade de Aveiro de um processo de decisão «lento» e gerador (AAUAv). Do lado oposto está José Soeiro, de consensos para outro «ágil e muito orgaque, com 24 anos, foi até Julho o mais jovem nizado », mas que pode gerar «conflitos e deputado da Assembleia da República, pelo situações de boicote». A composição do ConBloco de Esquerda. O sociólogo, que fez parselho Geral, onde a representação dos alunos te do Senado da Universidade do Porto (UP) (mínimo de 15 por cento) é cerca de metade durante dois anos, acha mesmo que as insda das personalidades externas (mínimo de tituições se vão tornar «mais agrestes» para 30 por cento) é o principal alvo das críticas. os alunos. No Senado, os estudantes tinham paridade com os docentes e investigadores, agora estes José Soeiro acha que as instituições se vão tornar ocupam, obrigatoriamente, mais de metade «mais agrestes» para os alunos dos lugares.

Para uma grande parte dos alunos do ensino superior, a sigla RJIES deve soar, na melhor das hipóteses, a um palavrão dito em croata. Aos medianamente informados, pode evocar mudanças no ensino superior. Os outros, muito provavelmente uma minoria, saberão do que se trata: Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior ou, trocado por miúdos, a mais profunda reforma do ensino superior desde a aprovação da Lei da Autonomia das Universidades, em 1982. Na teoria, o RJIES é uma extensa lei, composta por 185 artigos e aprovada na Assembleia da República a 19 de Julho de 2007, com os votos favoráveis do Partido Socialista e os votos contra de toda a oposição. O documento só agora começa a ter verdadeiras consequências no terreno, já que houve a necessidade de alterar os estatutos das universidades e institutos politécnicos e eleger os novos órgãos, como o Conselho Geral, que substitui o anterior Senado. O governo das instituições de ensino superior compreende ainda um Reitor/presidente (eleito pelo Conselho Geral) e um Conselho de Gestão. Nas faculdades, cai a Assembleia de Representantes (substituída por um órgão colegial com um máximo de 15 membros) e há ainda um director, um Conselho Científico e um Conselho Pedagógico. As mudanças estru-

8

anfiteatro


Bruno Carapinha Membro do Comité Executivo da Associação de Estudantes Europeus (ESU)

O RJIES é como dizer aos estudantes: «deixem-se lá de manifestações, de discutir a política geral das universidades, e estudem». Para mim, isto é uma visão retrógrada do papel das universidades. Há numa tentativa de arrumar a casa, de reunir responsabilidades espalhadas e competências conflituantes, mas elas continuam a existir.

E os alunos que não se preocupam com a gestão da sua universidade ou faculdade, vão sentir a diferença? «É mais do que evidente que o novo modelo está mais preocupado na obtenção de receitas e lucros, deixando de lado tudo o resto, como as actividades lúdicas, as cidadanias activas», observa Bruno Carapinha. José Soeiro antevê que as universidades e politécnicos se vão tornar em locais de «prestação de serviços a quem pode pagá-los », em vez de serem um «lugar de acesso a formação e conhecimento», com cursos ou programas dirigidos à comunidade. O antigo dirigente estudantil dá conta de casos em que a força dos alunos nos órgãos da universidade foi decisiva: «Fiz parte de um Conselho Directivo onde os estudantes conseguiram travar o processo de subida das propinas, e de uma Assembleia de Representantes onde conseguimos fazer passar uma resolução que permitia aos estudantes divulgar os seus ma-

teriais e cartazes, que tinham sido retirados», relata. Pedro Barrias, presidente da Federação Académica do Porto (FAP) durante dois anos (2006 e 2007) acrescenta mais uma preocupação: «No Senado da UP éramos 42 alunos. No novo conselho geral, com três ou quatro votos, os estudantes quase não vão ter peso para propor, quanto mais discutir, matérias relativas, por exemplo, ao estatuto de atleta de alta competição ou dirigente associativo». E há vantagens? Apesar das críticas, a FAP manifestou uma «posição concordante», na generalidade, com o RJIES, por «permitir alguma autonomia das universidades». Também a AAUAv, diz Negesse Pina, «não é contra». «Mas acreditamos que três alunos não conseguem representar a voz dos 12.000 que estudam em Aveiro. É uma questão democrática, nem queremos paridade», salienta. É caso para perguntar: há alguma vantagem para os alunos? Os inquiridos neste artigo consideram, de uma forma genérica, que há um reforço de poderes do Conselho Pedagógico, onde se mantém a paridade com os professores. «É mais fácil tratar das questões curriculares», admite Pedro Barrias. André Moz Caldas salienta o facto do órgão passar a ter competências para aprovar o regulamento de avaliação do aproveitamento dos estudantes. No entanto, lamenta-se o facto do organismo ter um carácter essencialmente consultivo. A AAUAv defende mesmo que as suas decisões «deviam ser vinculativas», de forma a «garantir

que aquilo que se decide num órgão paritário tem reflexo no Conselho Geral». Para Pedro Barrias, o Conselho Pedagógico acaba por ser vinculativo «na prática», porque «há muitas questões que só ele é que trata». Ainda assim, a ausência, no papel, de um poder «vinculativo ou executivo» impede o órgão de tomar decisões, por exemplo, no caso de «um professor que maltrata um aluno». «Aí, o que se pode fazer é remeter o caso para o Conselho Científico ou Executivo», explica. Bruno Carapinha tem um olhar mais crítico sobre as novas competências do Conselho Pedagógico, classificando o órgão, na prática, como «esvaziado de poder»: «Qualquer implicação financeira, ou interligada com a área científica, não é aplicada. Há um boicote dos Conselhos Científicos e Directivo», acusa...

«Ficamos com órgãos funcionais [...] mas também menos democráticos» André Moz Caldas

9anfiteatro


Pedro Barrias Antigo presidente da Federação Académica do Porto (FAP)

Uma segunda mudança potencialmente favorável é a criação de um provedor do estudante, «cuja acção se desenvolve em articulação com as associações de estudantes», lê-se na lei. Porém, a AAUAv é contra os moldes desta figura, e Bruno Carapinha volta a não poupar críticas: «O provedor é uma espécie de gabinete de apoio ao cliente. Não é isso que as associações e os estudantes pretendiam. É o reconhecimento de que o estudante passa a ser um elemento externo à comunidade académica». Há ainda um novo regime disciplinar do aluno, aplicado pelo reitor ou presidente, e que substitui o decreto de 1932 que ainda vigorava. A pena de expulsão aí prevista é eliminada, e Pedro Barrias julga que há um maior «rigor» e «responsabilização» dos alunos. «Fiz parte da secção disciplinar do Senado, e era muito

10

anfiteatro

difícil sancionar alguma coisa, a lei era muito omissa». O novo regime prevê ainda a possibilidade das universidades se transformarem em fundações públicas de direito privado, o que lhes permitirá uma maior autonomia. Para André Moz Caldas, a passagem do direito público para o direito privado pode trazer «muitas diferenças em termos de relacionamento» com os alunos. Mas isso já são contas para outro artigo. No imediato, sobra alguma indignação – «não concordamos com a forma como a mudança foi feita, como se os alunos fossem os culpados do estado do ensino superior», lamenta Negesse Pina – e um alerta de Bruno Carapinha para as instituições: «Andamos entretidos com isto há um ou dois anos, e não fazemos o que devia ser feito em termos educativos». g

Os estudantes deixam de ter margem para discutir algumas matérias no Conselho Geral. Em algumas questões ainda podem ter uma minoria de bloqueio, algum poder de decisão, mas na maioria delas não terão peso quase nenhum. Ricardo Pinto Presidente da Federação Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico

Era necessária uma mudança de paradigma no ensino superior português, mas não concordamos com a falta da participação estudantil na sua gestão. As personalidades exteriores devem participar nos conselhos gerais, são os reais empregadores, mas achamos que o seu peso é demasiado. Pela minha experiência, não há assim tantas pessoas de mérito interessadas em participar.


publicidade


Qualidade do ensino texto João Pedro Barros

pode um ranking mudar o ensino superior europeu? A Europa decidiu reagir ao domínio das universidades dos EUA nos principais rankings mundiais de prestígio. Em 2011, vai surgir uma nova classificação, cuja iniciativa partiu da Comissão Europeia. No entanto, o processo não é pacífico e os críticos mais ferozes consideram que ela pode alterar para sempre a matriz do ensino superior no Velho Continente O mundo é cada vez mais global e as instituições de ensino superior não fogem à regra. Nos últimos anos, o número de jovens que escolhe uma universidade estrangeira para prosseguir os estudos tem aumentado de uma forma exponencial, de tal forma que já se pode falar num mercado internacional de estudantes. As mentes mais brilhantes acabam por escolher o seu destino com base em marcas de prestígio, e é aqui que entram em cena os rankings, que servem de orientação a muitos candidatos. Apesar de existirem dezenas de classificações internacionais, há duas que se distinguem e funcionam como referencial: o Times Higher Education World University Rankings, do Reino Unido, e o Shanghai Jiao Tong University Academic Ranking of World Universities, produzido na China. Entre eles, há diferenças (o ranking britânico atribui uma importância muito grande à opinião dos pares), mas também uma semelhança fundamental: as instituições de língua inglesa levam uma grande vantagem e os Estados Unidos são dominantes. No ranking do Times Higher Education temos de chegar à posição número 17 para encontrar uma universidade fora dos Estados Unidos e do Reino Unido e ela é... australiana. No estudo da universidade chinesa, passa-se algo semelhante, já que temos de percorrer a lista até vigésima posição para ler o nome da Universidade de Tóquio. No Academic Ranking of World Universities, o domínio norte-americano é absolutamente avassalador, com 17 universidades entre as 20 primeiras.

12

anfiteatro

Estes dados preocuAbordar este tema ainda envolve um pouco de fupam, obviamente, os turologia. Ouvimos recusas da parte de algumas políticos do Velho Continente, que é deixado instituições, que preferem não se pronunciar para trás, apesar da enorme tradição cultural e científica. A situação tornou-se ainda mais premente depois de o Processo de Bolonha ter criado um espaço europeu de ensino superior, com 46 países aderentes. Por isso, a Comissão Europeia lançou um concurso para a produção de um novo ranking, vencido em Junho de 2009 pelo consórcio CHERPA, que agrupa instituições alemãs, holandesas, belgas e francesas. Actualmente a ser testada em 150 instituições das áreas da engenharia e economia, esta classificação deve ver a luz do dia em meados de 2011. A proposta do consórcio releva a necessidade de se tomar em consideração os contextos linguísticos, culturais e históricos dos sistemas educacionais, comparando apenas aquilo que é comparável. Ou seja, serão criados vários rankings, dedicados a diferentes áreas de ensino e a aspectos particulares (como, por exemplo, a internacionalização). Qual será a forma final de tudo isto? Ainda pouco se sabe, mas a recolha de dados será global, com um enfoque, fora da Europa, na América do Norte, Ásia e Austrália. Chegado a este ponto, o leitor da Aula Magna deve estar a fazer as seguintes perguntas: o que é que isto tem a ver comigo e o que é que pode mudar? A resposta não é linear e desde já assumimos que também não nos é possível responder à questão do título. No entanto, fomos à procura de respostas e deparamo-nos com cenários quase catastrofistas de um lado e dúvidas sobre a própria conclusão do processo, por outro. No fundo, abordar este


tema ainda envolve um pouco de futurologia e a navegação por areias movediças. Por isso, ouvimos recusas da parte de algumas instituições, que preferem não se pronunciar sobre o tema. Uma delas veio do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas), que, amavelmente, nos remeteu para entrevistas recentes do seu presidente, António Rendas, reitor da Universidade Nova de Lisboa. A 9 de Março, dia da tomada de posse, declarava ao Público que o assunto ainda estava numa «fase de discussão». «Todas as instituições têm essa informação, o que está em causa é arranjar um leque de indicadores que possa permitir ver que as universidades não são todas iguais», declarou. As divergências A ausência de um consenso europeu é facilmente detectável pela observação da declaração conjunta dos ministros europeus responsáveis pelo ensino superior no espaço de Bolonha. Em 2009, ainda havia uma ténue referência a «ferramentas multidisciplinares para a transparência». Em 2010, a declaração foi omissa. Um dos principais receios é a cria-

ção de um fosso entre instituições de primeira e de segunda, e Portugal pode estar numa situação particularmente frágil, em que perderá mais facilmente alguns dos seus «crâ­nios», em direcção ao Centro e Norte da Europa. «Há um risco grande. Vejamos uma situação limite: sou um estudante de Lisboa e tenho o mesmo mestrado no Porto e em Praga. Lá, não gasto mais dinheiro do que em Portugal, tenho uma experiência internacional e maior prestígio, numa instituição melhor posicionada no ranking. Tudo isto tem de ser gerido com muito cuidado e racionalidade», avança Bruno Carapinha, que deixou em Março o cargo de presidente do Registo Europeu da Garantia da Qualidade (EQAR). O organismo – que acredita as agências que avaliam os sistemas de ensino superior em cada país – já se pronunciou sobre a criação do ranking europeu, chamando a atenção da Comissão Europeia para o seu carácter «redutor». «Acreditamos que os vários parceiros devem discutir os critérios, para que um organismo externo não venha dizer que é preciso rectificar os índices B e C. Isso seria um retrocesso no sistema de garantia de qualidade de ensino que tem vin-

do a ser criado». No fundo, esta será a visão mais catastrofista, que tem o seu reverso nos responsáveis que acreditam que novos nichos podem surgir para as instituições nacionais. António Rendas, na entrevista já citada, coloca-se desse lado: «O objectivo é perceber o leque da oferta do ensino superior no espaço europeu e que as instituições são diferentes umas das outras. Essa é uma iniciativa que tem de ser aceite. É importante que Portugal não tenha uma atitude de suspeita». Porém, os critérios que presidem à ordenação – necessariamente subjectivos, mas nem sempre percepcionados dessa forma – são um grande alvo de críticas. André Moz Caldas, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL), discorre sobre estas «in congruências»: «O que é qualidade? Quais são os rankings diferenciadores? O sucesso do ranking de Xangai baseia-se no facto de reproduzir aquela que é a percepção universal da qualidade de ensino, ou seja, transforma uma ideia pré-concebida em algo mensurável. A Universidade de Lisboa é a única portuguesa que aparece no ranking, devido a um Prémio Nobel atribuído em 1949. Que eu sai-

13 anfiteatro


ensino. No entanto, Bruno Carapinha toma esta Rui Carvalho iniciativa como «impaVice-presidente da Associação Académica de Coimbra rável» – «a Comissão Europeia avançou, e os Somos a favor da produção de conhecimento, independentemente da governos não pararam repercussão económica imediata. É essa a tradição europeia. Mas, desde o processo» – e pensa 2005 que, em Portugal, assistimos a uma enorme pressão do governo que as universidades que no sentido de privilegiar as áreas científica e tecnológica, o que se pode se mantiverem «passiverificar, por exemplo, nos concursos de bolsas de doutoramento da vas» terão forçosamente Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) «consequências». Em Portugal, como poderá ba, o Professor Egas Moniz já não lecciona em ser? «Não tenho a minenhuma universidade portuguesa há alguns nha dúvida de que as políticas vão ser orienanos. Temos de tentar encontrar instrumentadas para os critérios definidos. Temos uma tos que não sejam fáceis de iludir». Para os tradição nesse sentido: sempre que qualquer politécnicos, e tendo em conta a importância coisa permita fazer evoluir uma estatística, que será dada aos números relacionados com aposta-se nisso, mesmo que não corresponda a investigação, a machadada poderá ser vioa algo de relevante. Os rankings têm benefílenta. Do lado das associações académicas, é cios escassos e riscos claramente superiores», fácil perceber o sentimento de suspeita face observa Moz Caldas. A tecnologia no topo? ao processo. Rui Carvalho, vice-presidente Entre esses riscos está a perda de identidade da Associação Académica de Coimbra, não dos sistemas de ensino nacionais, como faz dá ainda o processo como definitivo: «Não questão de sublinhar Rui Carvalho. Bruno Catemos bases sólidas que nos permitam dizer rapinha fala em «hierarquização vertical» de que isto será uma realidade dentro de dois universidades quando aborda os rankings e anos. Se tivéssemos essa ideia, já estaríamos não tem dúvidas do rumo apontado: «isto vai a agir politicamente para que isso não aconser uma pressão para as instituições se organitecesse. A ser levado a cabo, não é consensuzarem mais como empresas. As universidades al, até porque a palavra ‘ranking’ não existe, são o sector menos receptivo a uma organiquer no Bologna Follow-up Group (estrutura zação empresarial e vai querer incentivar-se de acompanhamento permanente e de desena competição por recursos e pessoas. E para volvimento do Processo de Bolonha), quer isso é preciso um mercado». A nível europeu nas declarações dos ministros europeus. Os e nacional, pode gerar-se a tendência para a rankings podem trazer implicações nos placoncentração do investimento num número nos estratégicos das instituições e nas políticas reduzido de instituições de referência. Em pedagógicas e científicas». O dirigente assoconsequência, estas instituições sentir-se-ão ciativo põe-se ao lado da ESU (Associação de tentadas a acolher apenas os alunos excepcioEstudantes Europeus), que emitiu, em 2009, nais. Ou seja, estaria em causa um fenómeno uma declaração rejeitando os rankings – uma de elitização. A procura de recursos privados «ameaça à dimensão social das insituições» – e a subida de propinas e exortando os ministros do espaço de Bolosão outras consequências Bruno Carapinha nha a trabalhar na qualidade dos sistemas de possíveis neste cenário.

«A concorrência não será apenas dentro da Europa, mas igualmente com as universidades asiáticas, por exemplo. O lençol é curto» «A concorrência não será apenas dentro da Europa, mas igualmente com as universidades asiáticas, por exemplo. O lençol é curto e temo que acabe por destapar em algum lado ou exigir uma maior contribuição financeira dos estudantes», acrescenta. Em Aveiro, porém, a mais do que provável chegada dos rankings não perturba a equipa reitoral. «É mais um facto, não vejo muita novidade», salienta José Fernando Mendes, vice-reitor responsável pela internacionalização na universidade local. No entanto, o vice-reitor salienta que «há que saber ler» os dados e comparar apenas o comparável. «É como no ranking das escolas secundárias: não se pode pôr lado a lado um colégio privado que leva 30 ou 40 alunos a exame, seleccionando os melhores, e uma escola secundária que propõe 1.000, sem selecção». Aliás, mesmo os cépticos vewêm méritos nesta seriação. «Pode ser um exercício até muito importante, porque sem fazer comparações teremos sempre universidades a dizer que são as melhores do mundo. Assim, terão uma oportunidade para tomar medidas. Mas a tendência será para que as universidades bem classificadas usem a primeira boa notícia como marketing e para as outras porem em causa os critérios. Os líderes e o governo têm de aprender a lidar com os números», aponta Bruno Carapinha. Seja como for, a discussão acerca dos rankings está no início e muita água ainda irá correr debaixo das pontes. g

Ex-presidente do Registo Europeu da Garantia da Qualidade

14

anfiteatro

Já fui a favor de abolir todos os rankings. Agora, acho que deve haver muitos, para se perceber que há projectos educativos distintos, mas não piores ou melhores. Só que tudo o que vem da Comissão Europeia tem um peso tremendo. Vemos isso quando os políticos nacionais esgrimem números europeus como se fossem verdades absolutas. O peso de um ranking pago, feio e anunciado pela Comissão será brutal.


opinião Pedagogia

abaixo-assinado Os alunos, abaixo assinados, do 1.º ano dos cursos […] desta universidade […], onde foram admitidos, [...] vêm, por este meio, manifestar-se contra as medidas repressivas de que têm sido alvo, por parte do prof. Virgílio Machado

O prof. Virgílio Machado chegou já ao ponto de ameaçar impedir-nos de cometer fraudes nos testes. Impede-nos, assim, de nos iniciarmos numa prática que tencionamos aperfeiçoar durante o nosso curso e na nossa vida profissional, que é a de actuarmos, o mais possível, desonestamente, tornando a fraude, o suborno e a corrupção generalizada, parte do nosso dia-a-dia. Procuraremos, assim, amassar fortunas, não como fruto do nosso trabalho e do desenvolvimento do bem-estar geral, mas de processos que permitam apropriarmo-nos daquilo que não nos pertence e de técnicas de dissimulação que construam as nossas riquezas à custa da miséria dos outros. A fraude nos testes é, além do mais, um processo que nos permite manter o subdesenvolvimento das nossas faculdades intelectuais. Não queremos correr o risco de nos habituarmos a responder a questões que nos são postas, analisando-as à luz dos nossos conhecimentos. Também não queremos ser obrigados a ter a franqueza de admitir que não sabemos. Queremos, pelo contrário, mostrar que temos conhecimentos que não possuímos. Faremos assim, aquilo que esperamos vir a fazer pela vida fora: dar a perceber, aos nossos empregadores e aos nossos subordinados, que somos muito mais sabedores do que realmente somos, criando, assim, não uma relação de respeito mútuo, mas de venaração, como génios

Virgílio A. P. Machado Prof. da F-Ciências e Tecnologia da U-Nova de Lisboa

ouvir falar de assuntos em que não estamos minimamente interessados. Nós não queremos O estado de embrutesaber nada do que se passa nas aulas. Querecimento intelectual em mos é acabar o curso! Achamos que não temos que nos encontramos, qualquer contributo a não nos permite partidar nas aulas. O estado de embrutecimento cipar ou acompanhar a intelectual em que nos encontramos, não nos discussão de qualquer permite participar ou assunto dentro do acompanhar a discussão de qualquer assunto do âmbito da disciplina âmbito da disciplina ou pertinente para a nossa ou pertinente para a formação. Não nos sennossa formação timos capazes de dirigir qualquer questão ao prof., porque temos reintelectuais. Para esse fim, achaceio de cair no ridículo de permos mais próprio apropriarmoguntar qualquer coisa que possa nos do trabalho dos outros, daninteressar aos outros ou de eludo respostas que são deles, que cidar dúvidas que também exisnão sabemos, nem percebemos, tam no espírito dos colegas, ou mas que subscrevemos como se pedir um esclarecimento que, na fossem nossas. verdade, o prof. devia ter dado, O prof. Virgílio Machado eximas que, eventualmente, se tege, também, que sejamos ponnha esquecido de dar. tuais às aulas e não se coíbe de Temos, também, o direito de assinalar quando não comparechegar atrasados, quando muito cemos ou chegamos atrasados. bem entendermos. Não quereOra, nós somos contra o regime mos deixar de contribuir para de faltas. Não porque seja desque esta nossa terra continue a necessário, por só faltarmos por ser um país atrasado. Pela nossa motivo de força maior, mas porvida fora, queremos continuar a que achamos que as faltas ficam não respeitar quaisquer horários a atestar o nosso desinteresse em ou compromissos. No nosso fuparticipar na vida académica. turo emprego, tencionamos, aliAs faltas obrigam-nos a fazer o ás, iniciar o trabalho sempre fora sacrifício de frequentar as aude horas, dando, assim, o exemlas, de conviver com colegas e plo a todos os nossos subordiprofessores. Nas aulas temos de nados e ao operariado em geral.

Não tencionamos, nunca, respeitar horas marcadas para encontros, reuniões, negócios ou quaisquer actividades profissionais ou privadas, contribuindo, assim, para grandes prejuízos, para todos, em tempo perdido, esperas inúteis e evitáveis. Além do mais, o prof. Virgílio Machado pretende que nos mantenhamos em silêncio nas aulas, quando ele se nos dirige ou um colega faz qualquer intervenção. Obriga-nos, assim, a dar provas de uma educação que não possuímos, a um respeito pelos outros que não temos. Achamos que, nas aulas, devemos poder falar do que muito bem entendermos, uns com os outros, fazendo a algazarra necessária para nos fazermos ouvir no meio da confusão geral, tal qual um grupo de ébrios numa taberna. Outro processo não há, aliás, de impedir que aqueles que estão interessados possam acompanhar as aulas, desmotivando-os de fazerem um estudo sério e incentivando-os a aderirem à mediocridade geral. Assim, e resumindo, porque o prof. Virgílio Machado insiste em que nós temos que estudar, desenvolver qualidades de trabalho, de integridade pessoal e consciência profissional para as quais não estamos vocacionados, nem é para isso que estamos cá, pedimos a sua imediata substituição por outro que nos dê uma boa nota no fim do ano e nos chateie o menos possível. g

15 opinião


entrevista Ricardo Araújo Pereira

de regresso às aulas Diz que nunca escreverá um romance, embora admita que a Literatura sempre o fascinou. Por isso, e dez anos depois da licenciatura, inscreveu-se num mestrado

Parece que foi de propósito. Um momento à Gato Fedorento precisamente antes da entrevista ao Ricardo Araújo Pereira. Dez da manhã, no café do costume. Uma senhora bem composta, com ar de avó, senta-se na mesa ao lado. Traz um livro meio lido debaixo do braço. Com calma, abre o romance e, quando o empregado chega, pede «Dois rissóis e uma mini...» Mais tarde, o espectáculo continua. Depois de pousar o matinal manjar, o empregado diz-lhe: «Já lhe trago a cervejinha...». Está bom de ver que facilmente se faria um sketch do Gato Fedorento com este episódio. Até porque, como me dirá Ricardo Araújo Pereira, é nos «contrastes» que se encontra a chave de uma boa piada. Mas não falámos só de humor. Depois de uma licenciatura em Comunicação Social, na Universidade Católica, ele está de regresso às aulas. Passados dez anos, inscreveuse no mestrado em Teoria da Literatura, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Quisemos saber como é a sua vida de estudante, quais os seus planos para a tese, como vê o Ensino Superior hoje em dia, o que há de científico nos sketches que escreve e representa. Pelo meio, houve referências à Bíblia, Umberto Eco, Shakespeare, Nietzsche, Eça de Queirós, Aristóteles, David Lodge, Woody Allen e Flaubert. É que, a brincar a brincar, Ricardo Araújo Pereira sabe do assunto. E muito a sério.

16 19

anfiteatro entrevista


Qual foi o objectivo do teu regresso à universidade? Fazer o que sempre quis. Se tivesse podido escolher sem constrangimentos, quando acabei o 12º ano, teria seguido Literatura. Mas os meus pais acharam que não tinha saídas profissionais, que não se ganhava dinheiro a escrever, que jornalismo era melhor. Vê-se mesmo que não percebem nada do mercado de trabalho. Não há jantar de família em que não lhes recorde isso amargamente. Depois de velho, vim tentar recuperar esse projecto. Um investimento pessoal nessa área, como autodidacta, não era suficiente? Com o mestrado posso continuar a fazê-lo. Compro e leio tudo o que me apetece, mas ter uma orientação, ainda por cima a este nível, é muito importante. É óptimo ter Miguel Tamen ou António Feijó como professores, uma grande mais-valia. Como está a ser a experiência de voltar às aulas?

Encontraste muitas diferenças no ensino superior, passados dez anos?

Além disso, uma pessoa com 18 anos não está preparada para a universidade. Eu, pelo menos, não estava. Aos 18 anos é-se uma besta. Não se está minimamente interessado em aprender. Agora, tenho outra vontade

No mestrado é tudo diferente. A própria sala, enquanto espaço físico, muda (estamos todos à volta de uma mesa) e não há exactamente uma matéria que se vá percorrendo ao longo das aulas. Na Universidade Católica o curso de Comunicação Social estava a começar. Por essa razão ou por outras, era uma grande balbúrdia, com cadeiras canceladas, outras que fazíamos por cancelar porque não tinham interesse algum. Além disso, uma pessoa com 18 anos não está preparada para a universidade. Eu, pelo menos, não estava. Porquê?

Aos 18 anos é-se uma besta. Não se está minimamente interessado em aprender. Agora, tenho outra vontade.

de Direito e de Economia sejam exigentes e estimulantes como noutras faculdades, admitindo que esses cursos possam ser estimulantes. Por isso, não tenho nada contra a Católica. A biblioteca, por exemplo, era bastante boa e permitia o acesso directo às estantes, como o Umberto Eco defende. Também fiz o curso todo sem grande interesse pelo jornalismo e pelo fenómeno da comunicação em geral. Aproveitei todas as hipóteses que tinha para escolher opções relacionadas com os meus gostos pessoais. Foi assim que fiz Literatura Brasileira ou Cultura Clássica, por exemplo.

Hoje levas-te mais a sério? Simpática. Sempre gostei de estudar. Entretanto, tive uma experiência fugaz na Universidade Nova de Lisboa. Inscrevi-me na licenciatura de Estudos Portugueses [na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas], mas por falta de tempo só fiz duas cadeiras. Agora que tivemos a inteligência de assinar um contrato [com a SIC] em que a carga horária é mais leve, fiquei com tempo para este tipo de coisas.

Como é a tua vida de estudante? Talvez menos ainda... Se calhar esse é o problema quando se tem 18 anos, em que tudo tem uma enorme importância. Hoje, tenho uma perspectiva diferente sobre o assunto. Mas não quero estar a fazer a rábula do tipo que envelheceu e ficou mais maduro. No meu caso, aos 18 anos era uma besta.

Igual às dos outros, imagino. O mestrado ainda vai muito no início, mas apresento-me aqui à hora marcada e vou-me embora quando a aula acaba. E acompanhas a vida académica? Referes-te a quê?

Sentiste diferenças entre o ensino público e privado?

A ideia de haver um tipo a falar para vários que estão a ouvir é divertida de corromper

Não muito. Na Católica foi diferente, mas provavelmente porque o curso estava no início. Suponho que os cursos

Lutas estudantis, tunas, jornais, esplanadas... Nada. Só venho aqui pela razão por que isto foi criado. Não tenho interesse em mais nada. Por exemplo, praxes... coisa linda, não é?

Nem pelas associações de estudantes? Não, embora tenha sido presidente de uma. Mas na Católica aquilo tinha outra piada. Dava para passar o tempo e para chatear algumas pessoas. Foi divertido fazer uma associação de extrema-esquerda. Uma vez organizámos um conjunto de colóquios, com Francisco Louçã e Al Berto, entre outros. Quando pedimos uma sala deram-nos uma das melhores, na Biblioteca João Paulo II, visível de todos os pontos da faculdade. No entanto, assim que afixámos o cartaz com os oradores, fomos remetidos para uma subcave impossível de encontrar. A graça que o humor tem. Alguns sketches do Gato Fedorento brincam com a ideia de professor e aluno. É um universo potencialmente engraçado? Muito. A ideia de haver um tipo a falar para vários que estão a ouvir é divertida de corromper. Exemplos: se o professor não for assim tão admirável, se os alunos tiverem menos capacidade para aprender ou se tiverem outros interesses. Lembro-me de um sketch sobre um professor que vai apresentar um poema, mas como é particularmente difícil pede ajuda a outro professor que é homossexual. Depois, faz o outing dele à frente dos alunos. O sketch sobre o curso de literatura para porteiras tinha o mesmo espírito. A ideia surgiu a partir de uma frase de David Lodge, segundo a qual a Literatura é coscuvilhice para intelectuais. Daí ao curso sobre a Madame Bovary foi um passo.

17 entrevista


Na universidade ainda há os formalismos, os senhores professores, senhores mestres, senhores doutores, senhores catedráticos, jubilados, honorários… Pois. Talvez seja uma coisa muito portuguesa, como toda a gente diz. Mas é divertido, um gajo que é só professor, ou professor doutor por extenso, ou prof. não sei o quê. Essas nuances às quais se presta atenção são muito giras. O humor do Gato Fedorento tem muito de investigação social e linguística. Achas que dava uma tese de qualquer coisa? Ficaria muito surpreendido se alguém pretendesse estudar as nossas fantochadas. Mas por acaso vai haver uma tese em que seremos objecto ou caso de estudo. Mas reconheces essa dimensão de estudo de comportamentos e de tiques de linguagem? Não diria estudo, porque parece que estamos a fazer uma tese em forma de programa humorístico. Há um lado infantil em nós que faz com que reparemos em duas ou três coisas que as pessoas adultas não estão vocacionadas para reparar. Acontece-nos muitas vezes uma criança fazer uma pergunta que nos confronta com algo que vimos durante anos e anos mas em relação à qual nunca tínhamos pensado daquela maneira. Basicamente, o nosso trabalho é fazer esse tipo de perguntas e observações.

Temos, no dia-a-dia, o olhar calejado. Estamos fartos de ver determinada coisa a acontecer e por isso deixamos de a questionar. No Gato Fedorento, procuramos ver as coisas pelo olhar de uma criança ou de um extraterrestre Como se estivéssemos a ver as coisas pela primeira vez? Exactamente. Temos, no dia-a-dia, o olhar calejado. Estamos fartos de ver determinada coisa a acontecer e por isso deixamos de a questionar. No Gato Fedorento, procuramos ver as coisas pelo olhar de uma criança ou de um extraterrestre. Isso ajuda a manter uma imaturidade bastante grande, o que, por sua vez, prejudica muito o relacionamento com o sexo feminino... Vês-te a dar aulas sobre humor? Já dei umas aulas de escrita humorística. Tem um lado divertido e outro enfadonho. Enfadonho porque a conversa sobre humor normalmente não tem graça nenhuma. E retira graça ao que antes achávamos graça. Então onde está a graça? Em fingir que o que dizemos para ter graça está a ser inventado na altura. A simulação da espontaneidade é provavelmente um dos elementos mais importantes nisto de fazer rir. Mas não passa de uma simulação. Woody Allen diz que nunca improvisa quando está em palco, porque as pessoas pagam para o ver. Só improvisa quando está a escrever. Conta dez piadas para chegar a duas que são boas. Com o Gato Fedorento passa-se o mesmo. É a dimensão escrita do humor que mais te interessa? Sim. Porque depois é preciso um actor – e essa é a parte para a qual temos pouco jeito – para fingir

que aquilo está a ser inventado no momento. Hoje fui tomar o pequeno-almoço a um café. Sentouse ao meu lado uma senhora toda bem-posta e pediu dois rissóis e uma míni. Isto dava um sketch? Uma mini logo de manhã? Epá, isso é muito bom. O humor nasce assim? Claro. O contraste é uma das ferramentas fundamentais, exactamente como descreveste. Imagina que era um trolha a beber uma míni, ou uma senhora muito bemposta a beber chá? Ninguém acharia piada. Uma senhora a beber uma míni tem graça, tal com um trolha a beber chá e biscoitos.

Indícios literários Qual o teu interesse na Literatura? Isso é uma pergunta complicada... Sempre tive interesse na Literatura. Passei a infância na casa da minha avó, que sabia ler muito mal e escrever pior ainda. Lá em casa havia uns livros do meu tio, incluindo os contos de Eça de Queirós. De vez em quando lia alguns para a minha avó. Um deles, A Aia, narra a história de um reino e de uns bandidos que querem raptar o príncipe. Ao longo do conto, Eça vai dando a entender o que vai acontecer. À medida que eu ia lendo, a minha avó, que nem a quarta classe tinha, percebia que estava ali um indício, que qualquer coisa ia correr mal. Para mim era divertido perceber como uma coisa sofisticada, como é a Literatura, ainda assim, conseguia fazer-se entender a uma pessoa sem instrução.

A minha vida é escrever, mas não literatura. Escrevo crónicas e textos humorísticos. Mais do que isso não creio que tenha competência

18

entrevista

Atingir uma certa universalidade? Sim. Depois há outra questão. Sem querer fazer psicanálise, não sou uma pessoa especialmente terna, no sentido em que não consigo comunicar muito bem fisicamente. Não sou uma pessoa carinhosa, com os gestos não vou lá. É algo que me preocupa desde que sou pai. A tua linguagem não verbal é pouco expressiva? É isso, não sou competente na linguagem não verbal. Mas a linguagem verbal sempre me interessou imenso. Por exemplo, mesa. É uma palavra que não tem nada a ver com o objecto a que se refere, é uma absoluta convenção. Eu digo mesa, tu ouves mesa, eu estou a pensar numa mesa, tu estás a pensar noutra, mas o certo é que nos entendemos com essas quatro letras juntas. São mecanismos de linguagem que sempre me fascinaram. Ou o modo como a poesia, que é racional porque se baseia nas convenções das palavras, consegue ser ao mesmo tempo irracional. Com essas preocupações literárias, podemos esperar um romance teu? Eu próprio escrever? Duvido muito. A minha vida é escrever, mas não literatura. Escrevo crónicas e textos humorísticos. Mais do que isso não creio que tenha competência. Este mestrado não é uma forma de perceber melhor o interior da Literatura? É obviamente uma maneira de saber mais, mas não necessariamente para perceber como se escreve um romance. Nem sei se é esse o caminho. Escreveres um romance pode ser uma piada de mau gosto? Pois pode. Pode ser uma péssima piada. Prefiro ter graça quando pretendo tê-la. Não é tão giro quando as pessoas se riem de nós sem querermos. g


entre o riso e a morte São as relações entre o riso e a morte que mais interessam a Ricardo Araújo Pereira. E até podem vir a ser o tema da sua tese de mestrado, embora não queira dar muitas garantias, sabendo as voltas que a vida dá. Certo é que, dentro desta área, já tem muitas leituras feitas, que lhe apontam para um preconceito histórico face ao riso e para uma íntima proximidade com a consciência da morte. Falta, caso a ideia avance, circunscrever o projecto, porque a empreitada é interminável. Mas qualquer que seja o resultado final, Ricardo Araújo Pereira já parece ter acertado na epígrafe, que retirará do Hamlet, de Shakespeare. É uma fala do príncipe da Dinamarca, quando este se encontra no cemitério, junto à cova que está a ser criada para Ofélia. Quando vê a caveira de Yorick, o bobo da corte, com quem tanto brincara, Hamlet afirma: «Diz as coisas que tu dizias antes, que faziam rir uma mesa inteira. Vai ter com a minha senhora e diz-lhe que, por muita maquilhagem que ponha na cara, vai acabar por ficar como tu estás agora. Fá-la rir disso.»

As gargalhadas são mais diabólicas do que divinas? Justamente. É suposto que Deus não tenha rido. Pelo menos nos evangelhos canónicos, Jesus Cristo chora várias vezes, mas nunca ri. No Génesis, há dois ou três momentos de riso mas também há margem para interpretar a reacção de Deus ao riso como má (embora admita que se possa entender o contrário). Mas tradicionalmente foi interpretado dessa forma. Um dos momentos é Sara, mulher de Abraão, que se ri quando Deus lhe diz que vai ser mãe. Aos 99 anos. Quando a Virgem Maria recebe a notícia que vai ser mãe, mesmo sabendo que nunca teve relações sexuais, não se ri. E o modelo de fé sempre foi a Virgem Maria, e não Sara, que questiona o poder de Deus.

O riso é um fenómeno interessante de se estudar? Em muitos sentidos. O riso nunca teve um prestígio muito grande, mesmo hoje em dia, o que é paradoxal, já que um argumentista que escreve textos humorísticos para televisão ganha muito mais do que qualquer outro. Incomparavelmente mais, pelo menos em Portugal. Historicamente também comprovamos essa tendência. O riso nunca recebeu muita consideração. Uma pessoa que se ri não é séria, nas várias acepções da palavra, não só no sentido de não ser circunspecta, mas também de não ser honesta e digna de confiança.

Gostavas de fazer uma tese de mestrado sobre as relações entre o riso e a literatura? Sim, sobretudo sobre as relações entre o riso e a morte. Aristóteles defende que o Homem é o único animal que se ri. Muitos outros cientistas e antropólogos subscreveram esta teoria. Ao mesmo tempo, somos o único animal que tem consciência da morte. Não sei se as duas coisas não estarão relacionadas, como apontam alguns escritos de Nietzsche, que fala sobre a melancolia e o riso.

19 entrevista


publicidade


pátio No convento de Belas-Artes

André Martins F-Belas Artes da U-Lisboa

«O toque artístico é uma das imagens de marca das noites de Belas-Artes» Soaram aleluias quando o Conselho Directivo da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa voltou atrás na decisão de suspender as festas dentro o edifício. É que não há festa como esta, garante André Martins. «Como a faculdade fica num antigo convento, é um espaço diferente, que fica espectacular com o jogo de luzes e com a amplificação natural do som», descreve. Numa das últimas, que decorreu nos corredores, até houve vídeo no tecto. O toque artístico é uma das imagens de marca das noites de Belas Artes. «A música não é a martelo », afirma, lembrando algumas sessões mais alternativas. Depois, é o Carnaval que se repete sempre que os estudantes querem. Recentemente, houve uma festa dedicada aos anos 80 e outra sobre as personagens dos filmes do Tarantino. À lei da bala, ou ao ritmo da série B, a ficção invadiu a realidade. «As pessoas mascaradas vêm com outro espírito», atira André Martins. «Sentem-se mais à vontade». g

As noites do GANK

FEP Street e Baconal

26 de Janeiro

20 de Janeiro

Carlos João e Carolina Costa Membros da AE FCT

Mário Lourenço P. da AE da ES da Tec. da Saúde do IP-Porto

«Muita música, bar aberto ou happy hours e temas sempre diferentes. São as “ famosas” noites académicas da FCT»

«Nada se compara à FEP Street, que anima a semana de recepção ao caloiro da AE da Faculdade de Economia da Universidade do Porto»

Às quartas-feiras, de 15 em 15 dias. O ritual repete-se na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT UNL). Carlos João e Carolina Costa marcam presença sempre que podem. Muita música, bar aberto ou happy hours e temas sempre diferentes. São as «famosas» noites académicas organizadas pelo Grupo Académico Nús Koppus, conhecido por GANK. Não terão seguramente o glamour de outros espaços, nem a promoção de outras iniciativas, como a Gala Anual da AE da FCT UNL, no Buddha Bar, em Lisboa. Mas a sua regularidade cativa muitos adeptos, garantem Carlos João e Carolina Costa. E a «originalidade» também. No 29º aniversário da AE FCT UNL, assinalado no passado dia 12, houve um pouco de tudo. Magusto à tarde, porco no espeto ao cair do dia, promoções para quem foi trajado e música pela noite dentro. A última, antes das férias do Natal, é dia 26 de Novembro. g

Não perde uma. Por mais festas que tenha no currículo, nada se compara à FEP Street, que anima a semana de recepção ao caloiro da AE da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (UP). «É uma festa que chama muita gente, tem boa música e um óptimo ambiente», assegura Mário Lourenço. Este ano, a FEP Street realizou-se na discoteca Via Rápida, com música a cargo da dupla Funkyou2 e dos Dj Luís Santos e Nuno Beleza. «Imperdível», garante. Mário Lourenço também não falta às festas que organiza, enquanto presidente da AE da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Instituto Politécnico do Porto. E não vai faltar, dia 20 de Novembro, a mais uma edição da All You Need is Vougue. Mas, a norte, a oferta é grande. E o cardápio de festas não ficaria completo, diz, sem uma referência à Baconal, a festa da Faculdade de Medicina da UP. É remédio santo. g

21 pátio


Desporto universitário texto João Pedro Barros, fotografia Marta Roque dos Santos

procuram-se mulheres para competir No desporto de lazer, as mulheres já suplantam os homens em algumas universidades, mas perdem claramente na vertente competitiva. No entanto, as equipas femininas têm vindo a aumentar

No ano lectivo de 2007/08, mais de 53 por cento das vagas no ensino superior em Portugal foram ocupadas pelo sexo feminino. Este domínio já não é novo, mas levou a revista Aula Magna a colocar a seguinte questão: será que esta proporção se mantém no desporto universitário? As perguntas levaram-nos a duas realidades distintas: na vertente competitiva, o domínio é fortemente masculino; na vertente de lazer, o número de mulheres suplanta, muitas vezes, o dos homens. «O fenómeno desportivo académico está muito concentrado nos homens. De acordo com dados de 2007/08, a proporção de mulheres é de cerca de 30 por cento», revela André Couto, presidente da Federação Académica do Desporto Universitário, que não possui indicadores relativamente à prática recreativa. De acordo com o dirigente, a diferença é mais gritante nas modalidades individuais, mas «há um crescimento grande em termos de equipas femininas». No entanto, tal não é suficiente para criar um campeonato universitário de futebol ou de hóquei em patins. «Vamos tentar lançar este ano um torneio de râguebi feminino», adiantou. A adesão ao desporto sem fins competitivos depende muito das condições oferecidas. A Universidade de Lisboa (UL) tem ao dispor dos estudantes a Academia ULness, um espaço com 2 salas desportivas, no Campo Grande. De acordo com Duarte Lopes, responsável pelo Departamento de Desporto da UL, as inscritas representam 70 a 75 por cento. O mesmo acontece na Universidade de Aveiro (UA), onde há várias modalidades de academia disponíveis. No Instituto Politécnico do Porto (IPP), o número de praticantes em recreação é inflacionado pela importância do futsal, esmagadoramente praticado por homens. Porém, na vertente competitiva, o IPP tem equipas de basquetebol e andebol feminino, dois dos desportos mais populares entre as estudantes portuguesas, e uma equipa de hóquei em patins mista.

22

pátio

Equilíbrio no centro da Europa «A realidade das universidades no centro da Europa não é esta, aí a diferença entre sexos quase que não se verifica», salienta Augusto Paulo, coordenador do gabinete de desporto da Associação Académica da UA. Em Aveiro, a disparidade entre sexos levou mesmo a medidas para «chamar alunas à competição »: «Criámos uma liga interna de futsal, por cursos, e este ano já temos 15 equipas», destaca o técnico desportivo. Contudo, o material de corfebol (uma modalidade que exige equipas mistas, com quatro homens e quatro mulheres) está armazenado à espera de interessadas. Na opinião de André Couto, a baixa participação feminina na competição desportiva universitária está relacionada com o facto de haver poucas mulheres «profissionais do desporto e dirigentes associativas». «Na FADU, em 15 dirigentes, só há duas raparigas», nota. Para Duarte Lopes, a qualidade das instalações desportivas pode ser um factor determinante: «As pessoas são mais exigentes do que há 20 anos. Para um homem, pode bastar a motivação de praticar desporto com amigos, e não importa se o balneário está frio. Para as mulheres, não é tanto assim». g

«Para um homem, pode bastar a motivação de praticar desporto com amigos, e não importa se o balneário está frio. Para as mulheres, não é tanto assim»


publicidade


publicidade


capa


pรกg. 13


pรกg. 34


pรกg. 45


pรกg. 54


pรกg. 70


pรกg. 72


publicidade


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.