Estratégias de Integração Socioterritorial

Gestão do Desenvolvimento Territorial

Horário Nelson Hastenreiter Filho

Estratégias de Integração Socioterritorial

Estratégias de Integração Socioterritorial

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

Horácio Nelson Hastenreiter Filho

Estratégias de Integração Socioterritorial

Salvador, 2019

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Reitor: João Carlos Salles Pires da Silva Vice-Reitor: Paulo César Miguez de Oliveira Pró-Reitoria de Extensão Universitária Pró-Reitora: Fabiana Dultra Britto Escola de Administração Diretor: Horacio Nelson Hastenreiter Filho.

Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social Tânia Maria Diederichs Fischer Superintendência de Educação a Distância -SEAD Superintendente Márcia Tereza Rebouças Rangel Coordenação de Tecnologias Educacionais Haenz Gutierrez Quintana Coordenação de Design Educacional Lanara Souza CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Presidente da Caixa Pedro Duarte Guimarães Vice-Presidente de Habitação: Jair Luís Mahl Superintendente Nacional SUHEN: Rodrigo Souza Wermelinger

Gerente Nacional GEHPA: Angélica Djenane Philippe Correa Gerente Executiva: Renata Heringer Gadia da Costa Gestão do Desenvolvimento Territorial Coordenadora: Profa. Tânia Maria Diederichs Fischer Design Educacional: Agnes Bezerra Freire de Carvalho; Coordenação Executiva: Rodrigo Maurício Freire Soares; Supervisão de Tutoria: Gizele Amorim Conceição Produção de Material Didático Coordenação de Tecnologias Educacionais CTE-SEAD Núcleo de Estudos de Linguagens & Tecnologias - NELT/UFBA Coordenação Prof. Haenz Gutierrez Quintana Projeto gráfico Prof. Haenz Gutierrez Quintana Foto de capa: Equipe de Revisão: Edivalda Araujo; Julio Neves Pereira Márcio Matos; Simone Bueno Borges

Equipe Design Supervisão: Alessandro Faria Editoração / Ilustração: Ana Morina; Marcos do Nascimento; Moema dos Anjos; Ariana Santana; Marcone Pereira; Michele Duran de Souza Ribeiro; Rafael Moreno Pipino de Andrade Gerente de AVA: Jose Renato Oliveira Design de Interfaces: Raissa Bomtempo; Jessica Araujo Equipe Audiovisual Direção: Haenz Gutierrez Quintana Produção: Ana Paula Ramos; Daiane Nascimento dos Santos Câmera, teleprompter e edição: Gleyson Públio; Valdinei Matos Edição: Deniere Silva; Flávia Braga; Jeferson Ferreira; Jorge Farias Animação e videografismos: Bianca Silva; Eduarda Gomes; Roberval Lacerda; Gean Almeida Edição de Áudio: Cícero Batista Filho; Greice Silva; Mateus Aragão; Rebecca Gallinari

Sumário Sobre o autor ..................................................................................... 06 Apresentação ..................................................................................... 07 Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada... 11 1.1 Avaliação da Disposição para a Cooperação em um Território............12 1.2 Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho Aplicado ao Desenvolvimento Territorial.......................................................................19 1.3 Integrando o Território a Partir da Articulação Entre Demanda e Oferta de Soluções.......................................................................................24 Síntese da Unidade........................................................................................29

Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo...............................................................................31 Esta obra está sob licença Creative Commons CC BY-NC-SA 4.0: esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFBA

2.1 Dimensão Econômica....................................................................................32 2.2 Dimensão cultural..........................................................................................38 2.3 Dimensão Organizacional............................................................................41 Síntese da Unidade....................................................................................... 46

Referências.........................................................................................47

Sobre o autor

Apresentação

Horácio Nelson Hastenreiter Filho

ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO SÓCIO TERRITORIAL CONFIANÇA

Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1988), especialização em Análise de Sistemas pela UFRJ, mestrado (1998) e doutorado (2005) em Administração pela Universidade Federal da Bahia. Foi Analista de Sistemas e Gerente de Tecnologia da Informação na Petrobras, Superintendente de Tecnologia para a Competitividade da Secretaria de Ciência, tecnologia e Inovação do estado da Bahia, Coordenador Executivo do projeto Parque Tecnológico de Salvador e Gerente da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae-BA. Atuou como consultor na área de inovação no Banco Mundial e na CNI. Atualmente é Professor Associado e Diretor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia.

ESTADO

GOVERNANÇA COLABORATIVA

MÚLTIPLOS ATORES INTERDEPENDENTES

Prezado estudante, Seja muito bem-vindo ao módulo Estratégias de Integração Sócioterritorial! Nossa intenção, com este material, é a de trazer uma proposta para a ação conjunta dos múltiplos participantes que atuam em um território, a partir de um pano de fundo que permita que conceitos e teorias relacionados a esse importante tópico da gestão territorial possam emergir de uma visão prática e contextual. Esperamos que a abordagem do tema lhe seja leve e estimulante.

Visão do Módulo Os territórios precisam, antes de tudo, de governança para poder estruturar seus recursos a fim de que possam atingir seus objetivos concretos. O conceito de governança, aqui privilegiado, vai ao encontro de Dallabrida (2006), que a compreende como um estilo que se opõe à hierarquia tradicional, privilegiando a tomada de decisão relativamente horizontal.

Assim sendo, a vemos associada a um instrumento com a capacidade de fazer coisas, mesmo quando não há a competência legal para ordenar que elas sejam feitas (CZEMPIEL, 2000). Essa horizontalidade no processo decisório vai depender, por sua vez, da construção de uma visão integrada e sistêmica que reconheça os componentes econômico, ambiental e social do território numa perspectiva entrelaçada, tornando possível promover o desenvolvimento territorial.

A Gestão Integrada do Território (GIT) vem sendo alçada à condição de importante contribuição das ciências sociais para as discussões sobre desenvolvimento territorial. Funções objetivos restritas, estabelecidas individualmente por instituições que, de alguma forma, tenham como missão promover o desenvolvimento territorial, negligenciam a interdependência e o caráter sistêmico e integrado do território.

Entre diversos possíveis fatores que podem ser elencados como essenciais à requalificação territorial, destacam-se a educação e a formação de capital humano produtivo, o capital social desenvolvido entre as diversas representações da população do território, a interlocução institucional e a comunicação (socialização do conhecimento), alicerçando de forma conjunta dinâmicas resilientes de governança.

A nossa proposta nessa disciplina é a de apresentar conteúdos que evidenciem a necessidade de se perceber o território como um espaço complexo e formado por atores com interesses distintos e, por vezes, até divergentes, mas evitando-se, a qualquer custo, que essas distinções e divergências sejam favorecidas pela incompletude da informação disponível ou por um olhar limitado e simplificado da realidade. A integração sócio territorial é, antes de tudo, e precedendo qualquer projeto que possa se efetivar de forma exitosa, uma proposta de se lançar uma visão panorâmica e comum ao território, não fragmentada por olhares, a partir de atividades econômicas específicas ou por perspectivas limitadas de análise. Para tal, lançar-se-á mão de dois blocos de conteúdos.

A primeira Unidade, dividida em três componentes, tem como objetivo apresentar os alicerces que permitem que se lance para o território um olhar que considera uma perspectiva coletiva. Nesse sentido, é desenvolvida a ideia de cooperação, para que sejam apresentados e discutidos os seus componentes. A integração sócio territorial é considerada aqui, sobretudo, a resultante de uma ação cooperada dos seus principais atores. Em seguida, são apresentadas condições estruturais, estratégias e ações que estimulam e ajudam a construir uma visão integrada de território. Finalmente, finalizase a unidade com um projeto articulador da relação entre oferta e demanda de soluções tecnológicas, sendo esse apresentado como possibilidade de instrumento de conectividade entre os atores que contribuem e que se beneficiam do desenvolvimento territorial.

Já na segunda Unidade do e-book, apresenta-se, a partir de um segmento específico, a importância da construção de uma visão integrada, multidisciplinar e abrangente do território para o desenvolvimento de uma política territorial, mesmo que setorial. A atividade turística é adotada como pano de fundo para essa proposta. A justificativa é que o turismo é extremamente relevante e presente em parte significativa do território baiano. Além disso, a visão de um projeto articulado para o território no setor é estabelecida a partir de um modelo integrador que articula de forma esclarecedora as interdependências entre as dimensões econômica, cultural e organizacional das atividades. O leitor atento irá questionar-se se já teve contato com alguma política para o setor do turismo no nosso país que o compreenda em suas complexidades e interdependências. Daí que mais importante que o tema em si, é a compreensão do modelo apresentado, a partir das suas dimensões e variáveis componentes.

Agora que já estamos apresentados ao conteúdo, vamos começar?

11 Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

A Construção de soluções capazes de melhorar a qualidade de vida da população em um território pode ser fortemente favorecida pela ação integrada e articulada entre seus atores. Nesse processo, o componente local ganha especial relevância pela necessidade de valorização da identidade cultural do território.

Deve ser observado, no entanto, que essa ação integrada se dá a partir de um processo participativo vinculado à capacidade de mobilização social no território, o que demanda competência na resolução de divergências e conciliação dos interesses políticos locais. Observa-se, ainda, que existem diversos atores relevantes para a construção de uma agenda integrada no território, incluindo organizações das mais diversas, o poder público local e, inclusive, atores externos que podem ser vistos como relevantes para a agenda de desenvolvimento.

Vamos apresentar, então, algumas ações territoriais possíveis que são favorecidas pela ação integrada e combinada, não somente no nível territorial, mas também pelo aprendizado interterritorial.

Antes, no entanto, é importante analisarmos as condições que podem favorecer a ação coletiva, o que significa avaliarmos a disposição que as principais organizações que atuam em um território possuem para cooperar entre si e agir a partir de uma lógica integradora.

Os componentes da presente Unidade estão divididos em três partes. O primeiro deles apresenta uma análise de um modelo que explica a cooperação, a partir dos seus principais componentes. Uma vez que se compreenda os fatores intervenientes na disposição para se cooperar, poderá se entender mais satisfatoriamente os fatores inibidores e estimuladores de uma ação territorial mais integrada.

O Segundo componente apresenta uma proposta de Benchmarking entre territórios a partir do Modelo Estrutura, Conduta e Desempenho. O modelo avalia as condições estruturais e as práticas desenvolvidas no território para

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Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

surge da divisão do trabalho, que, por sua vez, permite a diferenciação entre pessoas e grupos. As relações cooperativas são, portanto, a essência de qualquer organização social. Para MERTON (1934), se, por um lado, a divisão social do trabalho promove a individualidade pela via da especialização, por outro, engendra a solidariedade orgânica, que se nutre da interdependência decorrente das atividades cooperativas de pessoas e grupos.

Figura 1 – Representação da Cooperação. Fonte: Blog Oficial BNI Brasil

o favorecimento de uma agenda integrada, relacionando-os a indicadores de desempenho territoriais, facilitando a identificação de fatores causais de desenvolvimento territorial.

Finalmente, o terceiro componente traz uma proposta de ação integrada a partir da capacidade de se articular demanda e oferta. O exemplo utilizado é o de uma proposta de Agência de Inovação Social que pode ser transversalizada para outras possibilidades de integração, a partir da aproximação entre os que precisam de soluções e os que possuem a capacidade de desenvolver soluções para ofertar.

1.1 - Avaliação da Disposição para a Cooperação em um Território É possível compreender a cooperação como a ação conjunta entre pessoas ou organizações que interagem com vistas à realização de um fim comum. Essa definição encontra respaldo na visão marxista de trabalhadores que trabalham lado a lado, atendendo a um plano, dentro de um processo de trabalho, ou em processos diferentes interrelacionados. Em ambos os casos, estamos nos referindo à divisão do trabalho no interior dos processos produtivos. No entanto, é possível ampliar a visão e afirmar que a cooperação é essencial para a existência e a sobrevivência de qualquer formação social. As sociedades, como as conhecemos no mundo contemporâneo, são organizadas com base na cooperação social que

Segundo Thompson (1967), em qualquer situação onde há interdependência (Você consegue pensar em alguma situação em que um ator possa agir sem nenhuma interdependência?), há potencial para a cooperação e necessidade de coordenação das ações dos envolvidos. A estrutura de uma organização ou de uma rede de organizações tem o papel de facilitar a coordenação dessas interdependências que se dão com as seguintes configurações, segundo Teixeira, Pires, Hastenreiter Filho e Oliveira (2011): • Compartilhada: nessa forma de interdependência, cada parte contribui discretamente para o todo e recebe apoio do todo. Quer um exemplo?

Pense numa rede de filiais independentes coordenadas por uma matriz ou, ainda, numa rede de cooperação entre empresas que atuam no mesmo segmento, como pequenos mercados de bairro que, entre outras práticas, realizam compras conjuntas.

• Sequencial: uma parte depende da outra para realizar o seu trabalho, criando uma relação insumo-produto, a exemplo das diferentes seções em uma linha de montagem. Algo mais fácil de se verificar em uma rede vertical tipo cadeia de suprimentos. Uma montadora depende dos seus sistemistas que dependem dos seus fornecedores de bens e serviços.

• Recíproca: quando a relação insumo-produto entre as partes requer ajustamento mútuo (feedback). O exemplo clássico é o das atividades de operação e manutenção que podem se dar numa unidade produtiva industrial, como a de uma empresa de aviação: a operação produz informações necessárias ao serviço de manutenção de uma aeronave que, por sua vez, é condição indispensável para a sua própria operação. Não é à toa que gerentes dessas duas áreas em uma organização industrial sejam intercambiados com o objetivo de compreender melhor as dificuldades e demandas de ambos os lados.

A cooperação se estabelece a partir de alguns componentes meio e se materializa a partir de outros componentes-fins. Entre os componentes meios que garantem a cooperação, destacam-se:

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Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

• Conexão: existência de meios que permitem/facilitam que as pessoas/ atores estabeleçam contatos entre si.

• Comunicação: possibilidade de diálogo entre os atores que podem ser envolvidos no trabalho cooperativo.

• Coordenação: gestão do fluxo do trabalho que envolve diferentes pessoas, grupos e organizações.

• Feedback: forma de comunicação que se desenvolve a partir de mecanismos de realimentação do processo de comunicação que facilita a aprendizagem e a evolução da capacidade de colaborar.

Percebe-se que existe uma articulação e interdependência causal entre os componentes meio. Ou seja, a comunicação não prescinde da conexão entre os atores. No entanto, a gestão do fluxo de trabalho, numa perspectiva coordenada, exige a comunicação. Finalmente, o feedback é uma sofisticação no processo de comunicação que se estabelece como etapa final de um fluxo de trabalho organizado que é permanentemente refinado e melhorado a partir da participação organizada, reflexiva e realimentada daqueles que se veem envolvidos.

Entre os componentes-fins que resultam da efetivação da cooperação, observa-se: • Compartilhamento: coletivização de conteúdos, entendimentos e esquemas interpretativos que permitem compartilhamentos de perspectivas.

• Consenso: processo de tomada coletiva de decisão sobre temas críticos ao objeto da cooperação.

• Cocriação: desenvolvimento conjunto de conteúdos e/ou efetiva realização de trabalho.

Nos componentes-fim, as pessoas e as instituições cooperam para se beneficiar do compartilhamento de conteúdos, tomar decisões com base em maximização do interesse coletivo e para inovarem coletivamente. A figura a seguir ilustra a relação entre componentes-meio e componentes-fins da cooperação.

Figura 2 - Componentes da Cooperação. Fonte: Teixeira, Pires, Hastenreiter Filho e Oliveira (2011)

Se estamos interessados em avaliar a disposição de um território para que a cooperação possa ocorrer, devemos nos deter nas competências-meio; ou seja, é preciso avaliar se há condições para que os atores se conectem entre si, se comuniquem e interajam de uma forma coordenada e possam estabelecer feedbacks.

Vamos analisar, então, por partes, cada um desses componentes e os fatores que indicam a sua força, estimulando a cooperação entre os atores, premissa para um processo de desenvolvimento territorial concebido e desenvolvido de forma integrada.

Conexão A conectividade entre os atores relevantes das mais diversas áreas em um território é a condição primária para a possibilidade de estabelecimento de uma agenda conjunta. A sociabilidade de um grupo de atores, traduzida em seu capital social, é bastante variável. Quando pensamos em projetos sistêmicos e integrados para o território, a capacidade de articulação entre diferentes grupos de atores (setor público, empresários, instituições científico-tecnológicas, organizações de suporte, sistema financeiro, entre outras) para a promoção de uma agenda comum é um fator com diferenciada capacidade explicativa. A Análise das Redes Sociais (ARS) é, com frequência, um instrumento importante de avaliação do capital social em um território, apresentando uma visão gráfica e instrutiva dos laços efetivos entre grupamentos de atores.

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Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

Comunicação

Maior proximidade para alcançar

Maior proximidade para ser alcançado

Figura 3 - Exemplo de Grafo Utilizado em Análise de Redes Sociais. Fonte: Meta Consultoria

Na ARS, a análise da conectividade pode se dar a partir de imagens complementares (Na figura 3, temos um grafo que apresenta a configuração das relações entre um conjunto de atores) que em conjunto podem explicitar a distância entre a conectividade necessária para uma agenda integrada e a conectividade existente. Nesse sentido, a partir da identificação das relações existentes e das relações desejáveis para a construção de uma agenda conjunta estabelece-se o gap de conectividade, determinando as principais relações a serem desenvolvidas para que se atinja condições para a formação de uma agenda comum relevante.

A comunicação como componente-meio da cooperação pressupõe fluxo informacional. Certamente, a concetividade é premissa para o estabelecimento de uma comunicação territorial satisfatória. No entanto, além do acesso aos outros atores, a comunicação pressupõe o uso frequente desse acesso para o compartilhamento de informações. A própria visão compartilhada dos problemas territoriais se estabelece a partir de uma relação dialética entre conectividade e comunicação (ver figura 05). Se, por um lado, pessoas e atores se conectam a partir do momento em que compartilham perspectivas comuns sobre um determinado problema, é o fluxo de informações entre esses atores que tornará possível a aproximação entre diferentes perspectivas.

Alguns sinais que denotam níveis mais avançados de comunicação em um território: • A informação é ativamente compartilhada entre diferentes tipos de atores.

• A permanente melhoria da comunicação é explicitada como um objetivo a ser atingido a partir da ação territorial integrada.

• A homogeneidade de níveis de conhecimento favorece um entendimento comum sobre o que é comunicado.

• Há exercício alternado do papel de emissores e receptores de informação pelos diferentes grupos de atores, o que denota sinais de democratização no processo comunicacional.

Os seguintes aspectos, entre outros, explicitam elevada conectividade dos atores em um território: • Visão comum dos problemas territoriais • Participação ativa das representações da sociedade civil • Construção coletiva de um projeto de futuro • Uso de redes sociais e outras plataformas de TI para compartilhar informação Se você tiver uma curiosidade maior sobre a Análise de Redes Sociais (ARS), veja a indicação de referência bibliográfica relacionada ao final do módulo.

Figura 4 - Relação Dialética Entre Conectividade e Comunicação. Elaborado pelo autor

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Coordenação A dimensão do conflito é intrínseca à realidade territorial. Daí que numa perspectiva de gestão integrada do território não é possível atribuir um papel menor à capacidade dos atores territoriais de transcender os espaços formais em direção a esforços organizados para a gestão social do território. Um território, qualquer que seja, precisa organizar as relações e o fluxo do trabalho que envolve diferentes pessoas, grupos e organizações, o que é, em essência, o exercício da função de coordenação.

A própria noção de governança de um território não se desvincula do estabelecimento de níveis avançados de articulação coordenada entre os atores nos níveis político, social e econômico. A governança, na sua dimensão territorial, é determinada por articulações e interdependências entre atores sociais na definição de formas de coordenação horizontal e vertical da ação sobre o território e regulação dos processos econômicos e sociais territoriais. Na ação territorial coordenada, reconhece-se: • A importância de identificar, debater e resolver conflitos • A possibilidade de expressar e articular pontos de vistas divergentes de uma forma desimpedida • Expressão de opiniões diferentes a partir de debates que subsidiam o processo decisório.

• O papel e as atribuições dos diferentes grupos de atores para o atingimento dos objetivos e realizações da agenda territorial integrada Feedback As etapas principais e interconectadas das atividades de gestão, conhecidas como PDCA (Plan-Do-Check-Act), como qualquer estudante de disciplinas de gestão logo aprende nos seus primeiros contatos com essa área de estudo, devem o seu caráter cíclico aos mecanismos de feedback. No sentido da gestão, portanto, o feedback é o estímulo necessário para que o ciclo seguinte tenha o seu planejamento definido pelos ajustes necessários determinados por desencontros entre objetivos estabelecidos e resultados alcançados, a partir da reflexão sobre as suas causas. Na visão de integração sócio territorial, o feedback se apresenta como o estímulo necessário que cada parte deve receber das demais, para ajustar suas condutas e performar/agir de acordo com os interesses e premissas estabelecidas para o sucesso da ação coletiva desenvolvida no território.

Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

O feedback como componente-meio da integração sócio-territorial depende de: • Explicitação das expectativas depositadas sob os diferentes atores e seus papeis, de modo que a entrega efetiva de cada grupo na agenda integrada possa ser analisada à luz das expectativas estabelecidas • Mecanismos de controle e avaliação aplicados à ação individual e ao produto coletivo das ações.

• Possibilidade de estabelecimento de relação causa-efeito, de modo que possa se identificar ou, ao menos, apontar aspectos estruturais e ações que expliquem os resultados atingidos pelo processo sócio territorial integrado.

• Capacidade reflexiva por parte daqueles que o recebem de modo que esse possa redirecionar contribuições individuais no sentido da agenda mais ampla do território.

No próximo componente, realçamos a importância do Feedback como componente-meio da cooperação e, no que nos interessa mais de perto nesse módulo, na efetivação de uma abordagem sócio territorial integrada. Como você verá, a própria gestão integrada do território será objeto de avaliação e de aprendizado, a partir de um modelo que busca estabelecer relações de causa e efeito entre gestão e desenvolvimento territorial

1.2 - Modelo Estrutura-CondutaDesempenho Aplicado ao Desenvolvimento Territorial Ao observarmos o nosso imenso país, com suas diversas Unidades da Federação e territórios poderemos identificar diferentes estratégias e níveis de maturidade em relação à integração da gestão sócio territorial. Apresentamos aqui o Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho como uma ferramenta de aprendizado e geração de feedback para identificação das condições estruturais, estratégias e ações em termos da gestão do território que podem explicar impactos mais efetivos no desenvolvimento territorial. Inicialmente, vamos apresentar os componentes desse modelo para depois explicar como esses se articulam entre si.

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Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

Condições Estruturais Para os territórios, as condições estruturais são determinadas pelos principais aspectos não conjunturais que ajudam a defini-lo. Fatores históricos como aqueles determinantes para a sua formação, sua subdivisão territorial em termos de municípios e/ou sub-regiões que apresentam menor homogeneidade econômica entre si, principais atividades econômicas e vocações, além do nível de identidade cultural. Mapeados esses aspectos, poderemos utilizá-los para a identificação daqueles que podem explicar melhores resultados em termos de desenvolvimento territorial.

Estratégias e Ações As estratégias e ações que favorecem a gestão integrada do território estão relacionadas e explicadas a seguir. Não lhe passará despercebido, certamente, que elas estão fortemente relacionadas entre si.

Estrutura de governança do Território A avaliação do quanto a estrutura de governança de um território favorece uma abordagem integrada depende dos seguintes fatores: • Representatividade dos principais atores institucionais • Nível de capital social estabelecido entre as instituições representadas • Compromisso do núcleo da governança com a promoção da integração das instituições e da agenda territorial.

Papel das Estruturas Representativas do Território As estruturas representativas do território, em função das atividades desenvolvidas, da equipe envolvida e do nível de articulação com os atores sociais pode favorecer ou dificultar a agenda integrada. Em muitas situações, além do nível de articulação dessas estruturas com os atores sociais pode ser especialmente contributiva alguma instituição que exerça o papel de facilitar as articulações entre os demais atores sociais.

Atividades de Mobilização Social Desenvolvidas A quantidade e participação nos eventos realizados é uma medida do capital social observado. Uma agenda integrada deve mobilizar atores diversos e resultar numa agenda permanente de atividades. O resultado da mobilização é fortemente

Figura 5 – Os diferentes canais de comunicação. Fonte: P3K Comunicação

influenciado pela capacidade de sensibilização dos atores que exercem papel de facilitadores na construção da integração territorial. Alguns estudos pontam que o sucesso de ações que envolvem/demandam níveis mais avançados de cooperação está fortemente relacionado à capacidade de apresentar com clareza os benefícios e resultados advindos.

Canais de Comunicação Estabelecidos no Território Os fluxos informacionais são cada vez mais relevantes para processos internos ou externos às organizações. Desse modo, quando a nossa perspectiva é territorial, envolvendo a complexidade trazida pela diversidade de atores que agem sobre um território, a utilização de canais de comunicação contemporâneos, como redes sociais, Internet, sites e/ou outras Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e mais tradicionais como reuniões, assembleias, oficinas e outras formas de encontros presenciais é determinante para a capacidade de se compartilhar perspectivas.

Procedimentos de Salvaguarda Aplicados aos Atores Relevantes para a Agenda Territorial A atuação integrada e interdependente de diferentes atores é potencializadora de conflitos. Muito frequentemente, atores agem a partir de interesses próprios em detrimento do interesse de outros atores ou de interesses maiores coletivos.

Para inibir comportamentos oportunistas, uma visão favorável à integração

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Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

(alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). Já o IVS, se preocupa com a camada mais desassistida da sociedade, englobando aspectos como a ausência de coleta de lixo, os percentuais de famílias com renda familiar per capita inferior a 0,5 salários mínimos, sem acesso a esgotamento sanitário, sem água tratada encanada, além da densidade demográfica.

O Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho

Figura 6 – Gestão de Conflitos. Fonte:Profissionais TI

Definidos os componentes do Modelo: Condições Estruturais (Estrutura), Estratégias e Ações (Conduta) e Indicadores de Desenvolvimento Territoriais (Desempenho), vamos explicar agora como eles se relacionam entre si. A relação entre os componentes é apresentada na figura, a seguir:

sócio territorial e inibidora de comportamentos oportunistas pressupõe o seu prévio estabelecimento, bem como os mecanismos de sanção que serão aplicados quando esses ocorrem e as instâncias para a decisão e a representação sobre esses comportamentos.

Mecanismos aplicados à gestão dos conflitos A gestão de conflitos pressupõe um processo integrado composto de identificação, expressão, resolução e avaliação. A gestão territorial integrada, pela natural valorização da interdependência, é potencialmente conflituosa.

Gerir conflitos passa, então pela existência de mecanismos capazes de identificar conflitos em curso, mecanismos para que os diferentes atores envolvidos possam se expressar em relação à percepção dos conflitos, mecanismos de arbitragem e deliberação para a resolução de conflitos e o desenvolvimento de capacidade de aprendizagem com o processo, de modo que decisões e consequências possam ser subsídios para a resolução de futuros conflitos.

Indicadores de Desenvolvimento Territoriais O componente final do Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho diz respeito aos resultados. Como nosso objeto de interesse é o desenvolvimento territorial, iremos aqui propor indicadores que possam avaliar proximamente o nível desse desenvolvimento. Nesse sentido, vamos privilegiar dois indicadores: o Indicador de Desenvolvimento Humano (IDH) no território, mundialmente adotado como medida de desenvolvimento e o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS). O primeiro indicador possui três componentes associados à educação

Figura 7 - Modelo Estrutura Conduta Desempenho – esquema elaborado pelo autor

Primeiramente, é importante que você observe que tanto as condições estruturais quanto as estratégias e ações são causas (fatores explicativos), enquanto os indicadores devem ser vistos como consequência (fatores explicados).

Em seguida, deve se compreender que condições estruturais afetam tanto as estratégias e ações como os indicadores, enquanto as estratégias e ações afetam os indicadores.

Se pretendemos, ao desenvolver políticas públicas, programas e projetos territoriais, desenvolver o território, podemos nos beneficiar de uma compreensão melhor dos elementos que são mais importantes para o sucesso. A proposta do modelo é justamente compreender os fatores relevantes a partir de um Benchmarking (Comparação de indicadores e de práticas com identificação de melhores práticas entre organizações) entre pares.

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Está claro para você?

Então, veja bem! Tomemos territórios que possuem condições estruturais diferenciadas em relação à homogeneidade econômica e diversidade cultural, por exemplo. Por outro lado, esses territórios também têm estratégias diferenciadas para resolver conflitos, sensibilizar atores para atuar de forma integrada, entre outras diferenciações na conduta. Ao compararmos territórios com resultados melhores em desenvolvimento humano e menor vulnerabilidade social com territórios menos desenvolvidos e com maior vulnerabilidade social, iremos prestar atenção nas características presentes nos destaques positivos, mas ausentes nos territórios com piores indicadores. O Modelo nos apontará, então, quais condições estruturais, estratégias e ações em termos de agenda integrada têm maior poder causal de trazer impactos positivos ao território. Para aqueles que formulam políticas, desenvolvem programas e projetos é uma maneira, não só de identificar territórios com maior capacidade de auferir benefícios quando sofrem intervenção, bem como identificar e transversalizar boas práticas referentes à gestão integrada entre territórios. É pressuposto que práticas mais avançadas de gestão integrada sócio territorial favorecem o seu desenvolvimento.

1.3 - Integrando o Território a Partir da Articulação Entre Demanda e Oferta de Soluções

Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

solução puderem compartilhar a visão sobre os problemas identificados, haverá um aumento significativo na possibilidade de que as soluções sejam desenvolvidas de forma cooperativa e integrada, a partir de aprendizado e complementaridade entre os agentes responsáveis.

Vamos apresentar a proposta da AIS, explicitando a sua estrutura e justificando, ao final, como o processo de estruturar problemas e capacidade de solução pode ser transversalizado para outras abordagens sócio territoriais integradas.

A Agência de Inovação Social (AIS) A Agência de Inovação Social da UFBA tem como competências estruturantes a capacidade de reunir e desenvolver abordagens para identificar, hierarquizar e estruturar problemas sociais e modelos de governança inclusivos e participativos e faz uso dessas competências para produzir soluções que mitiguem/resolvam os problemas, além de ferramentas que suportem o desenvolvimento de redes sociais, aplicativos e metodologias que qualifiquem a interação entre os atores.

A Agência se distingue pelo conhecimento acumulado e traduzido em capacidade inovativa aplicada à criação de produtos tecnológicos sociais. A estreita relação entre processo e produto no contexto das diferentes abordagens sociais é apresentada na figura esquemática a seguir.

Os territórios são vistos como lócus para a articulação de atores locais que objetivam promover estratégias de desenvolvimento. Privilegiamos até aqui uma visão na qual o desenvolvimento de um espaço está fortemente vinculado ao nível de organização de sua sociedade em relação aos objetivos que lhes são comuns. É assim que temos falado de integração sócio territorial até agora, não é mesmo?

Nessa perspectiva, há, portanto, o desafio de tornar os objetivos comuns, o que parece ser mais desafiador quando a perspectiva dos atores em relação aos problemas não é comum. Compartilhamos aqui a proposta de desenvolvimento de uma Agência de Inovação Social (AIS) que tem como objetivo precípuo articular oferta e demanda de soluções para os problemas sociais em um território.

Essa agenda terá cumprido o seu papel se conseguir, concomitantemente, identificar e estruturar problemas sociais em um território e mapear potenciais desenvolvedores de solução, do outro. Se os diversos potenciais provedores de

Figura 8 - Relação entre Processos e Ferramentas na Concepção da AIS da UFBA. Elaborado pelo autor

Pelo próprio objeto que define a sua atuação, a inovação social, os problemas territoriais contemplados pela AIS colocam os seus potenciais beneficiários na condição também de atores ativos, envolvidos no desenvolvimento/aplicação das soluções. Segundo a ITS Brasil (2019), não é possível que se conceba “pacotes” de Tecnologia Social. As soluções são estabelecidas juntamente com as comunidades.

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Assim sendo, as pessoas se apropriam das soluções, se empoderam, introjetam esse conhecimento e replicam onde existe a realidade a ser transformada.

A primeira competência a ser estabelecida na Agência, então, é a de redesenhar abordagens para os problemas sociais de forma a estabelecer novos parâmetros de envolvimento daqueles que são os favorecidos. Se há, portanto, uma fronteira menos nítida entre quem desenvolve soluções e aqueles que se beneficiam, há de se pensar em novas formas de relações sociais, de maneira a incluir na própria concepção das soluções aqueles que com elas interagirão.

Desse modo, os novos processos de abordagens de problemas sociais e de estabelecimento de relações sociais permitirão a criação de ferramentas que se articulam com a ideia de um processo social integrado, potencializador da qualificação das ferramentas que mitigam/resolvem problemas sociais e ferramentas que incrementam/aprimoram as relações sociais.

Ressalta-se, no entanto, que a Agência e sua relação com uma proposta integradora de abordar problemas sócio territoriais não limita sua competência à resolução de problemas. A abordagem adotada inclui a perspectiva da qualificação da identificação dos problemas e de estruturação de sua representação.

Veja bem! Identificar problemas é apenas um dos desafios da Agência!

Muito importante também é o mapeamento da capacidade de se dar respostas aos problemas, identificando, em primeira instância, as áreas da Universidade que podem responder às demandas levantadas. Sendo assim, a Agência cumpre o papel de instituição facilitadora, articulando e consolidando a relação entre a oferta e a demanda.

A AIS, devido à diversidade de áreas distintas da UFBA que desenvolvem tecnologias sociais, funciona, na realidade, com o desenho de uma Rede de Redes. Há uma estrutura gestora centralizada que funciona como organizadora e direcionadora das demandas. Essa estrutura gestora é complementada pelas representações das redes temáticas nas quais são desenvolvidas a solução, a depender do tema. Entre outras áreas potenciais, ainda em identificação, o objetivo é que sejam estabelecidas redes temáticas abrangendo questões nas áreas educacional, de saúde, cultural, de segurança, de sustentabilidade, de engenharia, entre outras. Na figura que segue é possível observar a estrutura proposta com destaque para a relação entre a estrutura gestora e as redes temáticas.

Figura 9 - Rede de Redes associada à proposta da Agência de Inovação Social da Universidade Federal da Bahia. Esquema elaborado pelo autor

Como é possível observar na figura, a Agência estimulará também a articulação entre as redes temáticas, promovendo o aprendizado entre elas em relação à forma de interagir e de dar respostas aos problemas, de forma inclusiva e com o envolvimento dos beneficiados, bem como na forma de articular atores de diferentes áreas da Universidade Federal da Bahia, em um primeiro momento, e atores externos, em um momento posterior.

Na figura a seguir, apresenta-se a relação do núcleo gestor com as redes temáticas, direcionando as demandas específicas.

Figura 10 - Direcionamento das Demandas para as Redes Temáticas. Esquema elaborado pelo autor

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Estratégias de Integração Socioterritorial

Lições Aprendidas e Tranversalizadas a Partir da AIS Frequentemente, instituições que têm compromisso com o desenvolvimento territorial estão também comprometidas com a resolução dos problemas territoriais que o inibem. As principais lições que a proposta da Agência de Inovação Social da UFBA traz para as organizações envolvidas nessa empreitada são: 1. Mudança do paradigma ofertista: com muita frequência, as organizações que atuam como promotoras/facilitadoras do desenvolvimento territorial o fazem a partir da sua perspectiva, atuando a partir da sua zona de conforto e do seu portifólio prévio de soluções. É como se um alfaiate tivesse um terno pronto e depois ajustasse o corpo do cliente para ajustálo ao produto acabado.

2. Integração de soluções: Os problemas observados em um território são, em geral, interdependentes e sistêmicos, ainda que logicamente seja possível identificar-se problemas estruturais que, não resolvidos, tornam mais dificultosas as resoluções dos demais. O desenvolvimento territorial, quando tratado a partir de visões restritas e segmentadas das organizações que procuram suportá-lo, em geral, fracassa pela escassez e pelo excesso.

Alguns problemas não são abrangidos pelo leque de soluções proposto, enquanto outros são sombreados, a partir de agendas que são repetidas por dois ou mais atores distintos. O ato de olhar coletivamente para os problemas estabelece maior possibilidade de promoção de uma agenda integrada.

3. Reconhecimento de que as ações sociais se dão também pelo social.

A ação social pode ser compreendida como uma relação para as sociedades humanas que só existe quando o indivíduo estabelece uma comunicação com os outros. O processo da ação para o social é indissociável da ação pelo social, pela interação humana. Se não há competência para a comunicação, para a interação, dificilmente haverá competência para a ação. Numa ação para o social, desenvolvida para mitigar problemas da parcela mais afetada pela desigualdade social, o processo social não é complementar às soluções, mas, frequentemente, componente determinante para que essas possam ser efetivadas. Uma organização que não tem competências interativas, tem sérias dificuldades para intervir com efetividade e transformar realidades.

Unidade I - Ações Territoriais Favorecidas pela Ação Integrada

Síntese da Unidade Gerir de forma integrada o território é respeitá-lo enquanto espaço onde o poder é exercido por um conjunto amplo e diversificado de atores. Em benefício de uma agenda sócio territorial efetiva, é preciso que se estabeleça regulações e haja um processo coordenado de exercício desse poder. Nesse sentido, o estabelecimento de níveis avançados de cooperação é essencial.

Vimos aqui alguns componentes de extrema relevância para a promoção da cooperação. Em seguida, você pôde perceber que a agenda sócio territorial integrada depende de um conjunto expressivo de estratégias e ações que regulam e orientam as ações que envolvem os atores territoriais. Essas estratégias e ações, combinadas com condições estruturais, são determinantes para o nível de desenvolvimento territorial observado. A tríade estruturaconduta-desempenho aparece como sustentáculo de um modelo coletivo de aprendizado entre territórios.

Finalmente, a partir da proposta da Agência de Inovação Social da UFBA, reforçamos a necessidade de observar e buscar soluções para os problemas territoriais de forma integrada, superando a lógica ofertista de soluções, integrando-as e valorizando a comunicação e interação entre os diferentes atores que procuram solucioná-los.

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31 Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo

Atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável do País são aspectos-chave a serem atingidos a partir do cumprimento da missão da Caixa Econômica Federal. Dada a capilaridade da instituição e sua relevância estratégica, essa missão é exercida com abrangência nacional, mas, certamente, com a compreensão da relevância dos aspectos locais que distinguem os diferentes territórios. O objetivo dessa Unidade, baseada na tese de Tomazzoni (2007), é apresentar a Estratégia de Desenvolvimento Territorial a partir de uma visão integrada. O mais importante aqui é observar e compreender que a existência de uma estratégia para o desenvolvimento territorial não se limita a apostar em uma determinada atividade econômica. Muito mais que isso, alçar uma atividade econômica à condição de estratégica para o desenvolvimento territorial pressupõe uma ação articulada que envolve várias dimensões inter-relacionadas. No caso que lhes será apresentado, a econômica, a cultural e a organizacional.

Nessa Unidade, falaremos sobre cada dimensão, abordando os diversos aspectos constitutivos. Ao final, você perceberá (esperamos firmemente que sim!) que as intervenções, políticas e programas para o desenvolvimento territorial ficam a dever em efetividade, na maioria das vezes, pela incapacidade de lidar com todas as dimensões simultaneamente e de compreender o território como um espaço único e indissociável.

O nosso pano de fundo para a discussão dessa visão integrada será a atividade turística, não só porque essa é uma atividade contemplada nos mais diferentes territórios do país, mas também pelos multissegmentos envolvidos e impactados.

O desenvolvimento econômico e dos setores-segmentos ligados diretamente ao turismo, especificamente, são condições necessárias para o sucesso do turismo, mas insuficientes. Políticas de desenvolvimento territorial exitosas

Figura 11 – O Turismo numa Perspectiva Integrada.

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Estratégias de Integração Socioterritorial

são inconciliáveis com a inobservância de aspectos culturais e organizacionais.

Portanto, como se verifica na figura que segue, o tripé economia, organização e cultura é determinante para que a atividade turística possa se candidatar a um lugar de destaque no desenvolvimento territorial.

Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo

• Homogeneidade em relação a características geográficas (vegetação, clima, relevo), • Homogeneidade em relação às atividades econômicas polarizadoras • Homogeneidade cultural Percebe-se, então, que territórios turísticos não são somente espaços geográficos contínuos. Há um certo sentido de homogeneidade que não pode ser relegado para que delimitemos esses territórios.

Nível de Disparidade intrarregional Definido o espaço territorial abrangido para o desenvolvimento da política de promoção do turismo, cabe determinar a homogeneidade/heterogeneidade dos municípios abarcados em relação aos seguintes aspectos: • Renda per capita • Crescimento demográfico; • IDH

Figura 12 - Tripé do Desenvolvimento Turístico. Fonte: Tomazzoni (2007)

Vamos começar falando da Dimensão Econômica e depois passamos às demais.

2.1 - Dimensão Econômica A dimensão econômica, como você verá a seguir, abrange duas subdimensões: o Desenvolvimento Regional e o Desenvolvimento do Turismo. Vamos primeiro conversar sobre os elementos que interferem no Desenvolvimento Regional.

Desenvolvimento Regional Os elementos escolhidos pelo modelo para tratar do desenvolvimento regional são: delimitação espacial, disparidades intraregionais, externalidades, sustentabilidade ambiental e inclusão social. Vamos falar um pouco sobre cada uma delas?

Delimitação Espacial A Delimitação Espacial trata da definição do território que será abrangido para a busca do desenvolvimento territorial a partir do turismo. Para analisarmos a delimitação especial, relacionamos alguns fatores que devem ser considerados:

• PIB • Número de pessoas com renda abaixo da linha média de pobreza.

• Nível de educação, saúde, infraestrutura geral (vias de acesso, sinalização, transportes, habitação, saneamento básico).

Logicamente, municípios que determinam um território turístico se beneficiam de um nível maior de homogeneidade.

Externalidades Avaliação do quanto o ambiente regional é favorável ao desenvolvimento socioeconômico, o que indica que se avalie aspectos como: • Qualidade da urbanização (infra-estrutura e serviços de transporte, energia, água, saneamento básico, saúde e comunicações) • Disponibilização de informações e produção de conhecimentos pelas empresas, entidades e organizações de ensino e pesquisa • Qualidade da mão-de-obra • Oferta de empregos

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Estratégias de Integração Socioterritorial

Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo

E aí? Está percebendo a dificuldade do nosso país em cumprir a sua vocação turística? Turismo não é só beleza natural, nem história. Não há projeto viável para qualquer território que possa prescindir de uma visão integrada e que valorize a interdependência.

Sustentabilidade Ambiental Avaliação de quanto o território preserva as suas reservas naturais e patrimônios ambientais, o que implica a mensuração do comprometimento dos mananciais aquáticos, dos impactos ambientais das construções, além da avaliação do manuseio dos resíduos sólidos e líquidos.

Sustentabilidade Ambiental continua sendo valor, sobretudo, para um perfil de turista mais sofisticado e oriundo dos países com requisitos ambientais mais bem estabelecidos.

Inclusão Social Naturalmente que o desenvolvimento regional não pode se dissociar da inclusão social. Desse modo, é importante que sejam avaliados os seguintes aspectos determinantes do nível de inclusão social: • A Situação qualitativa da vida urbana e no meio rural (êxodo)

Figura 13 - Elementos do Desenvolvimento Regional. Fonte: Tomazzoni (2007)

Vista a dimensão econômica, vamos agora valorizar o desenvolvimento do turismo em si.

Desenvolvimento do Turismo Os elementos destacados para avaliarmos o desenvolvimento do Turismo são: oferta e demanda; desempenho; priorização; exportação; circuito produtivo; interatividade extra- regional; equalização intrarregional; e acessibilidade.

• A Situação da segurança pública.

Vamos a eles!

• As principais Causas e impactos dos fluxos migratórios.

Oferta e demanda

• O nível de capital social, explicitado, sobretudo, a partir da participação espontânea da comunidade em realizações coletivas.

A avaliação da oferta e demanda se relaciona aos seguintes aspectos:

• O nível de desemprego e a demanda por emprego, considerando a mobilidade e a ascensão profissional e social, estabilidade ou precariedade do mercado de trabalho.

Em que medida a segurança pública interfere nas suas escolhas de destinação turística?

A figura ao lado consolida os elementos adotados para a avaliação do Desenvolvimento Regional

• Números de empresas e de produtores atuantes no Turismo por segmentos (meios de hospedagem, meios de alimentação, agências receptivas, comércio (artesanato, produtos típicos e produtos industrializados)).

• Atrativos naturais como fatores alocativos e de atração turística (condições físicas da região – clima, paisagens).

• Calendário e dimensionamento de eventos (festas, feiras, congressos, convenções), considerando porte (números de participantes e retornos).

• Qualidade e preço dos atrativos, produtos e serviços.

• Grau de independência do Turismo regional frente às flutuações conjunturais como crises e instabilidades econômicas nacionais e internacionais.

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Estratégias de Integração Socioterritorial

• Adequação da oferta de serviços e atrativos à demanda.

• Diversidade de perfis de demandas atendidos pela região.

Como é possível perceber, quando falamos de uma visão integrada para essa atividade econômica, vemos que ela depende do que se herda da natureza, daquilo que o homem desenvolveu ao longo de séculos e da estrutura contemporânea. Essa última é muito ligada à competitividade dos atores que vivem economicamente do turismo e é sobre a qual os agentes de desenvolvimento têm maior capacidade de intervir.

Desempenho O desempenho de uma destinação turística é avaliado pelos seguintes aspectos: • Mensuração do número de turistas que ingressam periodicamente na região.

• Receitas proporcionadas pelo consumo de serviços, produtos e atrativos.

• Taxas médias de ocupação dos meios de hospedagem • Números de empregos gerados pelos segmentos turísticos.

O que você já deve ter observado é que nesse aspecto estamos avaliando mais o efeito que as causas.

Priorização A prioridade atribuída ao Turismo na escala de prioridades do setor público municipal é avaliada a partir dos seguintes itens: • Dotação orçamentária e investimentos no setor.

• Atuação do setor público na realização de planos e intervenções no Turismo.

• Parcimônia e eficácia da aplicação dos recursos públicos em Turismo.

A Turismo Caixa tem projetos relacionados à valorização do patrimônio cultural, adoção de entidades culturais além de possibilidades de parceria com estados e municípios.

Como você vê o papel da Caixa para que o turismo tenha maior protagonismo no nosso desenvolvimento econômico?

Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo

Exportação Na dimensão exportação, avaliamos o quanto o Turismo é relevante na pauta de exportação regional. Além da importância relativa do turismo face a outras atividades econômicas, verifica-se se existem ações de prospecção de novos mercados e campanhas de marketing, tendo em vista consolidar o Turismo como atividade exportadora.

Veja que aqui estamos observando sobretudo o investimento amplo em marketing, considerando não só campanhas como também a busca por novos mercados.

Circuito Produtivo Relação do Turismo com outras atividades econômicas – intercâmbio, complementação. Importância do Turismo para o desenvolvimento de outros setores: o turismo é setor chave? Destinação dos excedentes (lucros) gerados: investimento no próprio setor ou em outros setores. Efeito multiplicador.

Retenção e distribuição de renda para geração de demanda interna como poder de consumo pela população local. Competência das atividades produtivas do Turismo local em criar seus próprios inputs, gerando-se uma cadeia prospectiva e autônoma.

Para entendermos a efetividade do Circuito Produtivo, devemos responder à seguinte questão: existe retenção monetária e direcionamento dos excedentes gerados pelo Turismo a setores estratégicos?

Interatividade extra regional Influências e reflexos das ações de desenvolvimento do Turismo regional sobre as regiões que cercam a região polarizadora (região satélite, ou região periférica). Relação do Turismo regional com o Turismo de outras regiões: de aproveitamento (causação circular cumulativa) ou de impulso ao desenvolvimento interativo. Posição da participação regional na escala dos mercados turísticos estadual e nacional.

Equalização Intrarregional Projetos de desenvolvimento do Turismo regional pelo setor público e pelas organizações privadas. Espaços para decisões em igualdade de condições para os diferentes municípios do território. Ações dos municípios mais desenvolvidos em prol dos municípios menos desenvolvidos. Distribuição dos retornos e oportunidades do turismo entre os municípios pela iniciativa privada.

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Estratégias de Integração Socioterritorial

Acessibilidade Informações turísticas em cada município (postos). Portais na internet com informações da oferta de serviços. Atrativos e programações da região.

Sinalização de acessos e de orientação aos atrativos. Terminais de viagem – estações rodoviárias, aeroportos. Serviços de recepção (agências e empresas transportadoras).

A figura a seguir reúne os elementos constitutivos do Desenvolvimento do Turismo Regional.

Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo

publicações diversas existentes em arquivos e bibliotecas locais, desde a fundação, identificando personalidades realizações, origem e razão do perfil econômico e dos patrimônios culturais. Valorização da história como atrativo turístico, por meio da inclusão de conteúdos na educação e qualificação de profissionais (guias, agentes, recepcionistas, jornalistas).

Veja o quanto a territorialidade está relacionada com a história! Se os fatos da história não pertencem às comunidades locais, não há reforço à ideia de pertencimento ao território. Vocês que não são da Bahia talvez não tenham ouvido falar, ou não o suficiente, da cidade de Cachoeira que possui o status de «Cidade Monumento Nacional» e «Cidade Heroica» (pela participação decisiva nas lutas pela independência do Brasil). Será que o fato da cidade não alcançar como destino turístico a importância de cidades históricas mineiras (como Ouro Preto, Tiradentes, Mariana) não está, de alguma forma, relacionado à baixa valorização da sua história como atrativo turístico?

Acervos e Incentivos

Figura 14 - Elementos Constitutivos do Desenvolvimento do Turismo Regional. Fonte:Tomazzoni (2007)

Apresentada a dimensão econômica do turismo, iremos falar agora das dimensões cultural e organizacional, as quais vocês certamente irão perceber como sendo também de enorme relevância. Comecemos com a dimensão cultural.

Organizações e instituições de pesquisa e valorização de patrimônios. Arquivos contendo inventariamentos de todas as manifestações culturais, desde patrimônio histórico arquitetônico, até formas de expressões como lendas, dialetos, mitos, crenças, tradições e religiões. Estudos de fundamentação estética e histórica por especialistas – historiadores, arquitetos, sociólogos, antropólogos. Leis de incentivo à preservação e tombamento do patrimônio histórico. Elaboração de projetos culturais para leis de incentivo, considerando parcerias com investidores.

A Gestão do Conhecimento e a estruturação das informações são instrumentos atuais efetivos para a preservação da história. As lendas, mitos, crenças, tradições e religiões dependem da preservação das manifestações culturais, mas ganham reforços essenciais com o inventário estruturado do processo histórico de manifestação.

Estética

2.2 - Dimensão cultural Na dimensão cultural, os elementos destacados são aspectos históricos, acervos e incentivos, estética, produtos e atrativos, animação, motivação e satisfação da comunidade.

Aspectos históricos Registros dos fatos da história das comunidades locais e dos municípios em

Conservação do patrimônio histórico arquitetônico, abrangendo os mais diversos tipos de construções – prédios, praças, monumentos. Manutenção dos parques, praças, ruas e avenidas, visando a tornar as cidades acolhedoras e agradáveis. Existência de museus, diagnósticos e preservação de acervos de peças. Criação e manutenção de museus.

História não é só o passado! É também o presente! O patrimônio histórico arquitetônico é para o turista como ele o vê nos dias atuais. O turista é, via de regra, um esteta.

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Produtos e atrativos Produção e comercialização de artesanato, tendo em vista o mercado turístico. Qualidade e originalidade da gastronomia. Roteiros culturais urbanos e rurais (passeios). Inovação em propostas de ambientação cultural de espaços turísticos (hotéis, restaurantes, praças) com inspiração nas identidades estéticas locais. Criação de atrativos temáticos com ambientação cultural de base histórica.

Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo

fatores. Desrespeito aos valores culturais locais, relações que, pela dominação econômica, preterem o acesso dos moradores locais a parte do seu território ou às suas atrações contribuem para uma relação ruim entre a atividade turística e a comunidade. Essa insatisfação da comunidade se reverte em pior receptividade e, consequentemente, pior atratividade da destinação turística.

Comida mineira, massa italiana, cozinha francesa, culinária baiana. Para muitos, o território turístico é também um território gastronômico. Por outro lado, os hotéis venezianos acessíveis pelos canais marítimos, as praças romanas com seus artistas, os quiosques cariocas a beira mar, criam, inegavelmente uma identidade estética local. Os produtos e atrativos são valorizados quando são capazes de serem facilmente vinculados ao território.

Animação Realização de atividades de lazer e entretenimento cultural por iniciativa de empresas como hotéis, bares e restaurantes, como fator de agregação de valor aos serviços turísticos e de animação (oportunidades a grupos de música, teatro, dança e cantos populares). Realização de eventos de fundamentação cultural e histórica local, como festivais, exposições, espetáculos musicais e teatrais.

O turismo é uma atividade relacionada ao lazer. Transformar questões relacionadas à fundamentação cultural e histórica local em animações e atividades de lazer é receita de sucesso para uma destinação turística.

Experiências de gamificação da atividade turística vem ganhando destaque, ampliando o interesse por informações e pelo aprendizado sobre a história da destinação turística.

Motivação e satisfação da comunidade Fortalecimento da autoestima, proporcionado pelo Turismo cultural à comunidade local. Relação entre comunidades rurais e comunidades urbanas, considerando preconceito, rejeição ou valorização cultural. Impactos da relação entre comunidades e turistas.

Parece indiscutível que o turismo seja uma atividade que impacta economicamente um grande número de territórios. No entanto, a satisfação da comunidade com a atividade turística está relacionada a uma série de outros

Figura 15 - Elementos da dimensão cultural do Turismo. Fonte: Tomazzoni (2007)

2.3 - Dimensão Organizacional A dimensão organizacional é analisada a partir dos elementos: poder e capital social, gestão sistêmica, divulgação e imagem, mercadologia e comercialização, planejamento, empreendedorismo e inovação e conhecimento. Como você é capaz de perceber, essa dimensão está fortemente atrelada a variáveis que se relacionam à gestão da atividade turística.

Poder e Capital Social O poder e o capital social são determinados por organizações, entidades e empresas públicas e privadas que exercem o poder econômico, o poder político e o poder simbólico sobre as decisões do Turismo em cada município ou no âmbito regional. São explicados a partir da identificação das relações entre as organizações empresariais e entre as entidades promotoras do turismo, visando à atingir o objetivo comum de desenvolvimento do Turismo regional.

Bons resultados em capital social implicam em confiança, cooperação e níveis

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administrados de competição entre as organizações vinculadas ao território.

Um maior capital social está associado também à credibilidade das instituições e organizações de promoção do Turismo perante a comunidade.

Talvez a Serra Gaúcha seja um dos exemplos mais claros da importância do capital social para a qualificação da destinação turística. Todos compreendem o impacto que eventos como o Natal Luz, a abertura de um novo museu ou um parque trazem para o turismo: mais dias de hospedagem em hotéis, mais refeições nos restaurantes, mais compras no comércio, mais demandas de transporte etc.

Joga-se o jogo Ganha-Ganha.

Gestão Sistêmica A gestão sistêmica está relacionada à articulação de ações coordenadas para o desenvolvimento do Turismo. Depende, portanto, da criação de um ambiente cultural favorável à comunicação, cooperação e união das organizações de cada município. Existência de coordenação regional centralizadora e articuladora para implementação de planos. Definição de funções, responsabilidades, tarefas e comprometimento das entidades públicas e privadas. Condições das organizações e entidades responsáveis pela gestão do Turismo, considerando recursos materiais, técnicos e humanos.

Na gestão sistêmica, os papeis estão definidos e cumpridos. Além disso, há, ao mesmo tempo, articulação, visão de onde se quer chegar, envolvimento e disponibilidade e acesso aos recursos.

A gestão, para que seja sistêmica, demanda um planejamento sistêmico capaz de responder às seguintes questões: • Quais os recursos necessários para o desenvolvimento da atividade turística?

• Em que medida estão disponíveis?

• Havendo um plano, o que cabe a cada um para que os objetivos gerais sejam atingidos?

Como o nível de sistematicidade na gestão interfere na capacidade da Caixa de apoiar projetos? Não parece muito mais fácil e legítimo que instituições apoiem projetos nos quais o seu apoio seja perceptível dentro de um planejamento mais abrangente e com propostas de resultados mais claros? Em que medida essa necessidade de sistematicidade se estende a outras possíveis áreas de atuação e projetos da Caixa?

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Divulgação e Imagem Posicionamento da região no cenário nacional como referência turística comparativamente a outros polos e mercados; classificação da região quanto à força de atração turística, considerando posição em publicações de organismos governamentais. Grau de importância atribuído à divulgação como estratégia do desenvolvimento do Turismo regional. Visibilidade proporcionada à integração do Turismo regional pela divulgação. Características das fontes de informações, produção e difusão de mensagens, atributos mais evidenciados. Imagem turística evocada e constituída pela mídia.

Quantos destinos turísticos brasileiros nos dão a impressão de não serem devidamente explorados em seu potencial? É quase unânime o sentimento de potencial mal explorado em relação a alguma região ou território turístico do país, causando a sensação de que esse território, sob a perspectiva turística, é muito menos do que poderia ser.

Mercadologia e comercialização Atualização da oferta de serviços e produtos, considerando a qualidade dos meios de hospedagem, dos meios de alimentação e do atendimento do comércio de acordo com as expectativas do mercado. Identificação do perfil e das necessidades dos clientes turistas por meio de métodos e técnicas de pesquisa de satisfação. Ações de marketing com base na segmentação adequada de mercado (jovens, famílias, terceira idade). Parcerias com aqueles que podem recomendar a oferta turística (turistas, formadores de opinião). É importante observar que a avaliação do nível de atendimento das expectativas do mercado pressupõe que as conheçamos. Face àquilo que o território tem para oferecer em termos turísticos, o que os diversos segmentos potenciais demandam?

Como está sendo monitorado o nível de satisfação no território?

Planejamento Identificação de pontos fortes e pontos fracos, oportunidades, ameaças e definições de objetivos e metas. Definição do estágio do ciclo do desenvolvimento do Turismo: prosperidade, maturidade, estagnação, declínio. Disponibilidade e acesso a recursos financeiros (créditos bancários) para projetos de desenvolvimento integrado do Turismo regional.

Novamente, percebe-se que o planejamento se associa a uma perspectiva de ampliação da visão das instituições de crédito em relação ao seu papel no todo

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Estratégias de Integração Socioterritorial

e no quanto os recursos integrados ao território terão a capacidade efetiva de mudar positivamente a sua dinâmica.

O planejamento traz, ainda, maior previsibilidade em relação ao cenário futuro do Turismo regional, o qual é favorecido também pela avaliação crítica e interrelacionada das incertezas, mudanças e realizações das experiências do passado do Turismo na história regional.

Unidade II - Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial para o Turismo

das Instituições de Ensino e Pesquisa. O conhecimento à disposição dos atores envolvidos com a atividade turística será ampliado à medida que essa passe a ser objeto das atividades de pesquisa, ensino e extensão nas universidades locais.

Qualquer ciclo de gestão é iniciado com a atividade de planejamento. E qualquer atividade de planejamento demanda um nível satisfatório de autoconhecimento e um olhar externo prospectivo. Dada a diversidade de atores que compõem o segmento turístico, o planejamento cumpre o papel fundamental de estabelecer uma visão prospectiva compartilhada.

Empreendedorismo e inovação Atitude dos empresários e das entidades públicas e privadas quanto à competição imposta pelo sistema capitalista de livre mercado. Monitoramento das mudanças, incertezas, instabilidades e tendências da globalização, considerando oportunidades e ameaças. Perfil comportamental das comunidades, considerando prospecção de novos negócios, métodos de produção e comercialização (iniciativa, paternalismo). Postura dos profissionais, gestores e lideranças frente às incertezas, instabilidades e adversidades (persistência ou imediatismo).

O turismo é uma atividade fortemente influenciada pelas tecnologias informacionais. Sites, experiências e avaliações de outros turistas são fatores contemporâneos determinantes para a escolha e visita a uma destinação turística.

A competitividade do setor é fortemente influenciada pelo acesso e uso de novas tecnologias, bem como pela capacidade de identificar e traduzir janelas de oportunidade em inovação.

Conhecimento Pesquisas para conhecimento de tecnologias de outras regiões e no exterior (assimilação, imitação). Valorização das experiências históricas de sucesso e fracasso de gestão do Turismo, como fontes de conhecimento tácito. Inovação por meio da formatação de produtos em sistema de redes de cooperação regional.

Educação para a formação e qualificação, por meio de organizações de ensino e pesquisa direta e indiretamente ligadas ao Turismo.

No país, como um todo, percebe-se que, apesar do crescimento do Sistema público de educação superior, a atividade turística ainda está bastante distante

Figura 16 - Elementos da dimensão organizacional do Turismo. Fonte: Tomazzoni (2007)

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Estratégias de Integração Socioterritorial

Referências

Síntese da Unidade

Referências

É muito difícil a observação de políticas e projetos articulados para o território, mesmo que, de alguma maneira, a ideia de território esteja presente na grande maioria das políticas públicas. Raramente se observam com cuidado as interdependências entre as atividades econômicas, a articulação entre os formuladores de políticas e os diferentes conjuntos de atores. No turismo, em especial, especialistas apontam para a discrepância entre o potencial turístico do país e o seu sucesso e relevância como atividade econômica.

CZEMPIEL, E. Governança e democratização. In: ROSENAU, J.; CZEMPIEL, E. Governança sem governo: ordem e transformação na política mundial. Brasília: Editora Universidade de Brasília, p. 335-362, 2000.

Por mais belas que possam ser as atrações naturais, dissociadas de valorização da cultura e da história, preservação e organização do espaço público e da qualidade dos serviços prestados ao turista, a atratividade de uma destinação não será potencializada.

MERTON, R. K. Social Theory and Social Structure. New York: The Free Press, 1968.

A compreensão sobre a visão integrada do turismo aqui proposta pode ser transversalizada, por exemplo, para um empreendimento imobiliário.

Um conjunto de novos habitantes de um projeto de moradia popular irá, inevitavelmente, se apropriar do novo espaço, transformando-o no decorrer da história e promovendo novas relações.

O sucesso do empreendimento na perspectiva econômica pode privilegiar os custos associados à construção do equipamento físico e a qualidade final dos imóveis. No entanto, se observarmos programas como o Minha Casa Minha Vida como elementos de uma política pública, não será possível desprezar a necessidade de uma visão mais ampla do novo espaço, alçado à condição de território. Daí, variáveis culturais como a motivação e a satisfação da comunidade ou, ainda, variáveis organizacionais como as relações de poder e o capital social não podem ser desprezados.

Esperamos que os “óculos cognitivos” aqui apresentados como instrumento dessa proposta de olhar para o território lhes sejam úteis. Territórios são mais que espaços geográficos ou programas de financiamento de imóveis, territórios são mais que construções e recursos financeiros. Neste sentido, ao passo que é possível para determinado ator se apropriar de um determinado espaço, seja ele concreto ou abstrato, ele só o territorializa quando puder lhe atribuir significados (Raffestin, 1993). Esse é o grande passo para os agentes que atuam para transformar positivamente uma realidade territorial: a capacidade de significá-lo.

DALLABRIDA, V.R. Governança Territorial e Desenvolvimento: as experiências de descentralização político-administrativa no Brasil como exemplos de institucionalização de novas escalas territoriais de governança.

IPEA Code 2011. Anais do I Circuito de Debates Acadêmicos.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. São Paulo, Atlas, 1993.

TEIXEIRA, F.L.C; PIRES, A.M.B.; HASTENREITER FILHO, H.N.; OLIVEIRA, S.G. Cooperação em Tempos de Mudanças Organizacionais e Tecnológicas.

EnGPR 2011 III Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho. João Pessoa, nov. 2011.

THOMPSON J. D. Organizations in Action: Social Science Bases of Administrative Theory New Brunswick, New Jersey: Transaction Publishers, 1967.

TOMAZZONI, E.L. Turismo e Desenvolvimento Regional, Modelo APL Turismo Aplicado à Região Das Hortênsias (Rio Grande Do Sul - Brasil).

Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, USP, Brasil, 2007.

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Estratégias de Integração Socioterritorial A proposta desta disciplina é apresentar conteúdos que evidenciem a necessidade de se perceber o território como um espaço complexo e formado por atores com interesses distintos e, por vezes, divergentes. Evitaremos, no entanto, que essas distinções e divergências sejam favorecidas pela incompletude da informação disponível ou por um olhar limitado e precedendo qualquer projeto que possa se efetivar de forma exitosa, uma proposta de se lançar uma visão panorâmica e comum ao território, não por perspectivas limitadas de análise.

PROEXT PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO