A abordagem co-criativa de planejamento para habitações sociais: o Plano Decenal do Bosque das Bromé

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A AbORDAGEM CO-CRIATIVA DE PLANEJAMENTO PARA hAbITAÇÕES SOCIAIS: O PLANO DECENAL DO bOSQUE DAS bROMÉLIAS AUTORIA Tânia Maria Diederichs Fischer Rodrigo Maurício Freire Soares Francisco Raniere Moreira da Silva REALIZAÇÃO Apoio Financeiro Caixa Econômica Federal Fundo Socioambiental Agente Executor Universidade Federal da Bahia (UFBA) Reitor: João Carlos Salles Pires da Silva

Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEXT) Pró-Reitora: Fabiana Dultra Britto

Escola de Administração (EA)

Diretor: Horácio Nelson Hastenreiter Filho

Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS) Coordenadora: Tânia Fischer

EQUIPE Projeto Gráfico Márdel Pereira dos Santos

Revisão Gabriela Carvalho

A1543

A abordagem co-criativa de planejamento para habitações sociais: o Plano Decenal do Bosque das Bromélias / Tânia Maria Diederichs Fischer, Rodrigo Mauricio Freire Soares, Francisco Raniere Moreira da Silva (organizadores) .– Salvador: Editora CIAGS/UFBA, 2017.

43 p. : il. color.; 29,5cm .

1. Desenvolvimento Urbano. 2. Desenvolvimento Territorial. 3.

Desenvolvimento Social. 4. Planejamento Urbano . I. Fischer, Tânia Maria Diederichs. II. Universidade Federal da Bahia - UFBA. III. A abordagem co-criativa de planejamento para habitações sociais: o Plano Decenal do Bosque das Bromélias.

CDD 711.09812 Ficha Catalográfica Elaborado pelo Bibliotecário Neubler Nilo Ribeiro da Cunha - CRB-5/1578

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Salvador, 2017

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SUMÁRIO

01 CAPÍTULO

SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO? DEFINIÇÕES QUE ANTECEDEM O PLANO

A Construção Coletiva de um Território/Bairro | Que Objeto? .............07 O Território | Que delimitação? .........................................................................08 O Bosque das Bromélias | Onde Estamos? ....................................................08 O Plano de Desenvolvimento Territorial | O que é o Plano? ...................09 Objetivo do Plano | Por que fazê-lo? ................................................................09 Instâncias de Governança do Território | Quem é Quem? ........................09 O Fórum-Caule ..........................................................................................10 Os Condomínios ........................................................................................10 Os Grupos de Trabalho ............................................................................10 A Associação...............................................................................................11 O Núcleo de Eco-Agentes..........................................................................11 A Abordagem Co-Criativa de Planejamento para Habitações Sociais | Que Tecnologia Social? .......................................................................13 Síntese da Metodologia.......................................................................................14

02 CAPÍTULO

COMO SE DEU A EXPERIÊNCIA? A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

A Metodologia do Plano...............................................................................17 Passo 1 - Identificação e Formação de Lideranças....................................18 Passo 2 - Oficinas de Governança e Organização Comunitária...............20 Passo 3 - Criação de Estruturas Colegiadas................................................22

Estrutura do fórum dos Moradores do Bosque das Bromélias ............24 Passo 4 - Elaboração do Plano de Futuro...................................................26

Diagnóstico Paisagístico elaborado pelos moradores do

Bosque das Bromélias .................................................................................. 30

03 CAPÍTULO

VISÃO DE FUTURO PLANO DECENAL

A Construção do Plano ..............................................................................................33 O Plano de Futuro ....................................................................................................... 34 EIXO 1: Cultura, Esporte e Comunicação ...................................................34 EIXO 2: Empreendedorismo e Formação ................................................. 37 EIXO 3: Meio Ambiente ............................................................................... 39

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PLANO DECENAL | Bosque das Bromélias

01 CAPÍTULO

SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO? DEFINIÇÕES QUE ANTECEDEM O PLANO

A Construção Coletiva de um Bairro | Que Objeto?

Um território – seja uma região, uma cidade, um bairro, ou mesmo uma rua – é sempre uma construção coletiva que acontece cotidianamente a partir da ação dos diversos sujeitos que nele habitam e com ele se relacionam. As novas urbanidades representadas pelos empreendimentos do “Minha Casa, Minha Vida” não fogem à essa lógica. Para que o desenvolvimento destes novos recortes urbanos se dê de maneira integrada e sustentável, é necessário pensar projetos de futuro que questionem a lógica desigual e segregadora vigente, e lancem mão das potencialidades da educação, da cultura e do trabalho na consolidação de verdadeiros espaços de esperança.

Com base nessas premissas, este documento apresenta uma metodologia colaborativa e processual de elaboração de planos de Desenvolvimento Integrado e Sustentável de Territórios (DIST). A ideia é chamar a atenção dos cidadãos para a importância da integração entre os diversos atores locais, do planejamento e organização comunitária e da elaboração de estratégias de desenvolvimento que sejam geradoras de melhores condições de vida.

A metodologia se baseia em uma abordagem criada pelo Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia (CIAGS/ UFBA) e aplicada no empreendimento de habitação social Residencial Bosque das Bromélias, em Salvador – BA, com o apoio do Fundo Socioambiental CAIXA, no

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

âmbito das ações do DIST. Como tecnologia social de planejamento e gestão para empreendimentos de habitação social, a metodologia é passível de recriação em outros contextos, bem como de adaptação para outras iniciativas semelhantes.

O Território | Que Delimitação?

Concebe-se o território como um espaço geograficamente definido, caracterizado por aspectos multidimensionais (ambiente, economia, cultura, dentre outros), onde se podem distinguir elementos que indicam identidade e coesão. O Bosque das Bromélias em suas seis unidades/conjuntos foi o território em que foram empreendidas ações com foco no desenvolvimento das potencialidades dos moradores, bem como na relação do empreendimento com a cidade.

Um território pode ser entendido como o local da vivência, das trocas, das relações e do cotidiano dos moradores. Ultrapassa a lógica de uma delimitação cartográfica, uma vez que a sua compreensão e o seu entendimento está além do que vemos no mapa.

O Bosque das Bromélias | Onde Estamos?

O Bosque das Bromélias é o território que enuncia uma urbanidade futura. É parte integrante de uma política habitacional responsável pelo adensamento populacional de novas áreas da cidade que se estruturam como um vetor de expansão e desenvolvimento. É a urbanidade futura de um grande conjunto de moradores que compartilharão um espaço composto por múltiplas identidades, heterogêneo e que carrega os múltiplos saberes que cada integrante do território traz de sua antiga região de moradia. Como todo novo território, é espaço de conflitos, disputas e tensões de poderes em diversas escalas.

O Residencial Bosque das Bromélias é composto por 2.400 apartamentos, que somam uma população de aproximadamente 8.000 pessoas, volume populacional equivalente ao de uma cidade de pequeno porte com suas demandas e diferenças.

Cada conjunto (Bromélias 1, 2, 3, 4, 5 e 6) é constituído por um agrupamento de torres/prédios (que variam de 19 a 25 torres por conjunto) tendo uma estrutura condominial constituída com síndico, sub-síndico e conselho gestor.

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O Plano de Desenvolvimento Territorial | O que é o Plano?

A demanda por um plano de desenvolvimento territorial ancorou-se na necessidade de estruturação de um conjunto de ações de caráter estratégico para o empreendimento, em que se assegurasse a participação dos beneficiários tanto nos níveis de concepção das atividades (por meio de oficinas participativas) quanto no nível da utilização dos serviços e produtos gerados.

As ações planejadas para o Bosque das Bromélias distanciaram-se das intervenções meramente pontuais, reforçando uma perspectiva sistêmica e multidisciplinar que envolveu uma equipe composta por profissionais com variadas expertises.

Objetivo do Plano | Por que fazê-lo?

O Plano Decenal, aqui chamado também de Plano de Futuro, tem como objetivo desenvolver ações de desenvolvimento integrado e sustentável para o Residencial Bosque das Bromélias a partir de uma estratégia de formação de gestores locais e de desenvolvimento de competências abrangendo as áreas de saúde, ambiente, cultura, comunicação, esporte, lazer e formação técnica profissional.

Instâncias de Governança do Território | Quem é Quem?

A mobilização junto aos moradores exige uma articulação com lideranças sociais existentes, representantes das unidades (síndicos) e, sobretudo, o envolvimento da juventude local. A mobilização é o requisito prévio que antecede todas as ações do Projeto.

No Bosque das Bromélias foi observado um conjunto de instâncias locais que, ao final, compuseram o que chamaríamos de “governança do território”. Trata-se de uma rede a qual será responsável por dar continuidade às ações do Projeto, bem como proverá as articulações necessárias no âmbito das políticas públicas.

A responsabilidade por desenvolver ações posteriores é dessa instância local representativa cuja formação e capacitação se deu ao longo do Projeto.

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

O FÓRUM-CAULE

O Fórum de Desenvolvimento territorial do Bosque das Bromélias foi criado de forma participativa e colegiada durante uma oficina de governança realizada no final de 2015. Em fevereiro de 2016, em mais uma oficina de governança territorial foi apresentada a estrutura do Fórum (que assume a forma de um caule sustentando os diversos elementos da governança local), visando a sua validação pelas lideranças locais e demais participantes. Essa ideia de representar através da imagem de um “caule” foi trazida pelo próprio grupo, sendo uma estrutura central, norteadora, que possa se ramificar posteriormente em ações, projetos, programas etc.

O Fórum de Desenvolvimento Territorial do Bosque das Bromélias constitui-se um importante resultado do processo de construção da governança local. Fruto do acúmulo de diversas discussões entre lideranças e grupos locais, o Fórum representa uma convergência de esforços entre diferentes grupos na direção do bem-estar coletivo.

O Fórum foi desenhado para ter uma regularidade mensal de encontros (geralmente no primeiro sábado do mês) para discutir questões relacionadas ao desenvolvimento do território, sendo o canal de diálogo para dar sustentabilidade às ações em curso no Bosque das Bromélias.

Os condomínios O Empreendimento Residencial Bosque das Bromélias é composto por 06 (seis) conjuntos habitacionais (Bromélias 1 ao Bromélias 6) e está localizado no município de Salvador, nos limites deste com o município vizinho, Lauro de Freitas.

A área onde o empreendimento está situado, trata-se de uma região ainda em construção e está fora do perímetro urbano do município, o que dificulta o acesso da população a serviços básicos. O bairro mais próximo, São Cristóvão, fica há cerca de 4 km de distância.

As ações planejadas tiveram como universo possível de impactos e resultados as 8.000 pessoas que integram o conjunto habitacional. Contudo, neste tipo de trabalho em que o capital humano é a força motriz, os resultados se evidenciam em diversas escalas e se configuram com maior clareza junto àqueles que participaram mais ativamente dos processos, atividades e iniciativas.

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Os Grupos de Trabalho Os grupos de trabalho foram formados ao longo do processo de construção da governança (oficinas de governança e organização comunitária). Temas como esporte, comunicação, cultura, meio ambiente e governança foram definidos de forma participativa e constituem eixos estratégicos do plano de desenvolvimento territorial. As ações dos grupos de trabalho têm como diretrizes transversais a integração cidadã, integração cultural e integração socioprodutiva, esta última materializada na geração de trabalho e renda.

A associação A Associação Comunitária Bosque das Bromélias surgiu por iniciativa dos moradores do empreendimento e reúne pessoas dos diversos condomínios do residencial. A associação é uma das instâncias locais de governança e um dos atores centrais do processo de planejamento e gestão social do território, e como tal, integra o Fórum de Desenvolvimento Territorial. Ainda que atue de maneira autônoma, é importante que as ações da associação estejam alinhadas à proposta do Fórum, buscando sempre o senso coletivo e formas de integração de projetos e ações, tendo em vista a gestão integrada do território e sustentabilidade das iniciativas implementadas. Entre os objetivos da associação comunitária estão o estímulo à integração e solidariedade dos moradores, o fomento às iniciativas educativas, sociais, esportivas e culturais e a defesa dos interesses coletivos do bairro.

O núcleo de eco-agentes O Núcleo de Agentes Ecológicos do Bosque das Bromélias denominado EcoAgentes é um núcleo formado por Agentes Ambientais Comunitários e Catadores de Materiais Recicláveis moradores do Condomínio Bosque das Bromélias que surge para defender os direitos e beneficiar a atividade profissional dos catadores e promover ações socioambientais no condomínio.

O Núcleo tem como objetivos principais o empoderamento dos catadores e a criação de uma rede para que possam exercer com mais autonomia a sua atividade profissional considerando a sua importância ambiental. Fazem parte do Núcleo de Agentes Ecológicos do Bosque das Bromélias os Catadores de Materiais Recicláveis, os Agentes Ambientais Comunitários, bem como os interessados em contribuir para a disseminação de práticas socioambientais no condomínio ou em seu entorno.

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

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A Abordagem Co-Criativa de Planejamento para Habitações Sociais | Que Tecnologia Social?

A construção do Plano se deu desde as primeiras ações do Projeto, pois foi entendida como um processo em curso, uma construção coletiva e processual.

Chamaremos aqui de “Abordagem Co-Criativa de Planejamento para Habitações Sociais”. Ela é co-criativa pois depende da construção colaborativa aplicada à realidade local, o que exigirá criatividade, participação e comprometimento dos envolvidos.

Os momentos de interação e construção coletiva revelaram o saber acumulado na comunidade sobre si mesma (histórias que precedem a ida ao empreendimento, problemas e expectativas atuais, potencialidades e limitações), bem como contribuiu para a consolidação de um sentimento de grupo. Neste sentido, a metodologia possui como elemento central a participação dos moradores, a partir da interação teoria e prática, por meio de diferentes interfaces pedagógicas: atividades presenciais (aulas, visitas técnicas), produção de videoaulas e materiais didáticos.

Por serem habitações sociais resultantes de uma política pública, o trabalho difere dos planejamentos comunitários habituais, uma vez que há requisitos a serem observados como por exemplo o uso dos espaços comuns. Há também demandas que comumente tendem a se confundir àquelas a serem postuladas junto aos poderes públicos municipal, estadual e federal. Essa percepção seletiva que considera os papéis e responsabilidades dos atores em um território com as características de uma “mini-cidade” exige uma abordagem própria, que, em última análise, traduz-se em uma tecnologia social criada no âmbito do Projeto.

O desenho a seguir é resultado dessa abordagem, podendo ser replicada junto a outras instituições que intervêm em realidades do Programa Minha Casa Minha Vida ou em projetos similares. Ele explicita o passo a passo metodológico da “Abordagem Co-criativa de Planejamento para Habitações Sociais”.

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

A ABORDAGEM CO-CRIATIVA DE PLANEJAMENTO PARA HABITAÇÕES SOCIAIS APLICADA AO BOSQUE DAS BROMÉLIAS (síntese da metodologia)

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02 CAPÍTULO

COMO SE DEU A EXPERIÊNCIA? A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

A Metodologia do Plano Construir o desenvolvimento territorial em uma urbanidade futura como o Bosque das Bromélias é um desafio coletivo que demanda a adesão dos atores territoriais (síndicos, lideranças locais, movimentos sociais e religiosos, agentes culturais e população em geral). Quanto maior o envolvimento das pessoas, melhores serão os resultados.

Não se trata de elaborar um plano rígido, pronto e engessado, tampouco de estruturar ações pontuais, limitadas a questões específicas, mas de buscar singularidades que permitam a construção de um mapa dinâmico, versátil e multidimensional de ação. Para tanto, devem ser considerados: o contexto territorial, os múltiplos fluxos de relações entre atores sociais e as potencialidades e demandas locais.

Essa compreensão orientou o percurso metodológico de construção coletiva do plano de desenvolvimento territorial do Bosque das Bromélias. O caminho trilhado combinou um conjunto de passos interdependentes, tais como: (i) a identificação e formação de lideranças locais; (ii) a realização das oficinas de governança e organização comunitária; (iii) a constituição de estruturas colegiadas de planejamento e gestão do território (Fórum e Grupos de Trabalho); (iv) a elaboração do Plano Decenal (Bromélias de Futuro!)

Figura 1 - Questões para elaboração do plano de ações.

Fonte: Elaboração Própria.

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

PASSO 1

IDENTIFICAÇÃO E FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS 18

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O reconhecimento de lideranças formais e informais é um elemento importante para o desenvolvimento de qualquer território.

No Bosque das Bromélias, as lideranças formais eram geralmente ligadas à gestão condominial. Além destas, foram se identificando outros sujeitos, seja pela militância que já exerciam em movimentos sociais anteriores à mudança para o bairro, ou pela legitimidade alcançada no novo território.

Estas pessoas exercem um importante papel como mobilizadores locais e multiplicadores das ações. Tais lideranças constituem-se em pontos chave de contato e de interlocução no território. Incluem-se nesse grupo os síndicos, líderes religiosos, representantes de movimentos sociais, animadores sociais da comunidade e outros formadores de opinião. Observa-se uma diversidade de lideranças locais desde aquelas que já se colocavam e eram legitimadas como lideranças no início do processo, até pessoas cujo protagonismo foi sendo observado com o passar do tempo. Essa diversidade é um constante convite ao exercício do diálogo, do respeito às diferenças, do compartilhamento de poder e da ação colaborativa.

Uma vez identificadas as lideranças, foi ministrada uma capacitação tendo como temas mediação de conflitos e formação de redes.

Contudo, para além da capacitação, pode-se afirmar que a formação das lideranças ocorreu de maneira continuada, durante as interações, palestras e demais momentos presenciais.

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

PASSO 2

OFICINAS DE GOVERNANÇA E ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA 20

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O fortalecimento da governança de um território possui um elemento interno de organização da comunidade e identificação das suas potencialidades e desafios, bem

como um viés externo, de aproximação com a cidade e com os territórios do entorno e de articulação de parcerias.

Do ponto de vista de organização interna do território, uma das estratégias adotadas no Bosque das Bromélias foi a realização das oficinas de governança e organização comunitária. Nestes encontros, além da discussão dos problemas, potencialidades e outras questões locais, debatia-se a possibilidade de construção de estruturas colegiadas para a condução das ações. Entre o final de 2014 e o início de 2016 foram realizadas oito destas oficinas que se constituíram como importantes ambientes de interlocução dos agentes locais, reconhecimento de lideranças, identificação das demandas e potencialidades do território e planejamento conjunto de ações coletivas. Nas oficinas eram pautadas as prioridades a serem trabalhadas, as formas de atuação sobre elas e a atribuição de responsabilidades aos atores locais.

Outro aspecto importante das oficinas de governança é o fato de terem propiciado ambientes constantes e sistemáticos de convivência, interação e desenvolvimento de capacidades, contribuindo para que as pessoas se conhecessem melhor e construíssem vínculos. Este elemento guarda forte relação com o fortalecimento de uma identidade coletiva e o aumento do capital social local, aspectos fundamentais do processo de desenvolvimento e governança do território. Esta relação mais próxima entre os moradores foi essencial para que eles percebessem que, apesar das divergências e conflitos de interesse, têm desafios similares e que, reunindo seus conhecimentos, poderiam avançar em ações convergentes na direção do bem-estar coletivo, da maior participação política em outros espaços de decisão e da luta pela efetivação de conquistas e direitos.

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

PASSO 3

CRIAÇÃO DE ESTRUTURAS COLEGIADAS 22

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Pensar o futuro do Bosque das Bromélias com uma construção colaborativa significa buscar formas de organizar a ação coletiva de modo que todos

os atores sejam representados e ouvidos e as decisões contribuam efetivamente para a melhoria da qualidade de vida no território. Isso ocorreu a partir da criação de instâncias locais de governança, pautadas na colaboração entre os agentes territoriais, na valorização dos ativos locais e na garantia de continuidade das ações.

No Bosque das Bromélias, a partir do acúmulo de conhecimento das oficinas de governança e organização comunitária, bem como do curso de formação de lideranças, foi criado o Fórum de Desenvolvimento Territorial do Bosque das Bromélias.

O Fórum se constitui como um ator central no processo de planejamento e gestão social do território, sendo o espaço legítimo de diálogo e decisões sobre as questões locais. Assume o objetivo de estabelecer alianças para a identificação dos problemas e necessidades da comunidade e para a construção de soluções com a participação dos moradores.

Conforme pactuado entre os participantes, a comunidade local deve fortalecer sua capacidade de diálogo e negociação, tanto com os poderes locais quanto com outros níveis de poder, como governos, empresas e outras organizações. É também por meio do Fórum que outras iniciativas de governança local (associações, coletivos, centro comunitário) podem discutir suas demandas e pensar formas de integração de projetos e ações. É importante destacar que o Fórum possui uma estrutura horizontal, sem hierarquias, conduzida pelo grupo de lideranças locais, mas aberta à ampla participação da população local.

Além dos síndicos e lideranças locais, o Fórum é composto pelos coordenadores e participantes dos Grupos de Trabalho criados na localidade (GT de comunicação e cultura; GT de esportes; GT de empreendedorismo e formação e GT de meio ambiente).

Os Grupos de Trabalho temáticos são outra forma colegiada de ação no território.

Cada GT possui um conjunto de atividades voltadas à sua área de atuação, integradas em projetos. Os Grupos de Trabalho criados deram origem aos eixos estratégicos do plano de desenvolvimento territorial.

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COMO SE DEU A EXPERIÊNCIA?

ESTRUTURA DO FÓRUM DOS MORADORES DO BOSQUE DAS BROMÉLIAS

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

PASSO 4

ELAbORAÇÃO DO PLANO DE FUTURO 26

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O plano de desenvolvimento territorial, ou nesse caso, o Plano de Futuro, é como um guia para as ações locais. A partir dele é que se identificam

as convergências possíveis, se mobilizam as forças e se estabelecem as parcerias para a execução de ações cooperativas e colaborativas.

A elaboração do plano decenal de desenvolvimento do Bosque das Bromélias se deu a partir de uma série de oficinas. A primeira delas teve um caráter mais amplo, onde foram levantadas questões mais gerais que norteariam as discussões posteriores. Neste momento, foi retomada de maneira sintética a trajetória do projeto Minha Casa Nossas Vidas (CIAGS-UFBA) no Residencial Bosque das Bromélias. Em seguida refletiu-se sobre qual o significado desta construção e o que seria, de fato, o Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Bosque das Bromélias, para que serviria, como seria construído e o que se esperava desta construção.

Tendo a instância do Fórum já constituída a partir dos Grupos de Trabalho Temáticos, foram propostas algumas ações estruturantes que viriam a compor os cinco eixos estratégicos do projeto de desenvolvimento do território, cada um deles relacionando um projeto integrador e um conjunto de ações estruturantes, conforme se observa no quadro a seguir.

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COMO SE DEU A EXPERIÊNCIA?

Quadro 1 - Eixos Estruturantes do Plano de Futuro do Bosque das Bromélias

Fonte: Elaboração Própria.

Nas oficinas subsequentes, os diferentes grupos de trabalho (GTs) se reuniam para a construção do documento de forma participativa, discutindo e planejando as suas ações, que posteriormente eram apresentadas e validadas na plenária geral.

Além de um mapeamento e resgate das ações que já haviam sido desenvolvidas no condomínio, os GTs eram encorajados a pensar novas atividades a serem implementadas.

Para cada atividade proposta, os grupos problematizaram sobre: Qual a efetiva contribuição da ação para o desenvolvimento do território?; Qual seria a forma de envolvimento da população local nas ações?; Como se daria a gestão e a sustentabilidade da ação – pactuação de responsabilidades?; Qual previsão de parcerias?; Quais formas de financiamento?; Como a ação se articularia com outros elementos da estratégia – relação com outros subprojetos?

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A partir destas questões, cada subgrupo elaborou um plano de ações de curto e médio prazo, que continha: Figura 2 - Questões para elaboração do plano de ações.

Fonte: Elaboração Própria.

Quanto aos parceiros potenciais, eles foram sugeridos pelo grupo, como instituições que, na visão dos moradores, poderiam ser acessadas para desenvolver ou apoiar algum trabalho/projeto. A identificação de parceiros potenciais foi entendida como outro elemento de sustentabilidade das ações.

O processo resultou, na última oficina, em uma pactuação de responsabilidades em que foram discutidos os papéis de cada um dos atores locais. Foi reforçada ainda a atuação do Fórum de Desenvolvimento do Bosque das Bromélias como a instância local responsável pelo acompanhamento, monitoramento e avaliação do Plano e das ações propostas, cabendo também aos integrantes do Fórum a discussão sobre as reformulações e ajustes do Plano a partir de alterações na dinâmica local e da identificação de novas demandas e potencialidades.

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Diagnóstico paisagístico elaborado pelos moradores do Bosque das Bromélias SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

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03 CAPÍTULO

VISÃO DE FUTURO PLANO DECENAL

A Construção do Plano Pode-se afirmar que o processo de construção do Plano Decenal, aqui chamado de “Plano de Futuro” se deu ao longo de todo o projeto, desde as primeiras aproximações com o território para apresentação da proposta aos moradores, pois já naquele instante inicial o Projeto colocava o desafio de “pensar o futuro”, como um caminho a ser trilhado, não como um resultado distante. E, neste sentido, o processo em si é fundamentalmente pedagógico, e também responsável pela criação de um sentimento de grupo indispensável para a concretização de um plano, de uma estratégia, de um objetivo. Os diversos momentos de encontro e discussão coletiva contribuíram para a aproximação e estabelecimento de vínculos entre as pessoas, e para o fortalecimento do capital social, elemento central nesta discussão. O grupo de moradores entendeu como eixos prioritários: Figura 3 - Eixos prioritários definidos pelo grupo durante as oficinas

Fonte: Elaboração Própria.

Durante a realização das oficinas que geraram as informações para cada um dos eixos buscou-se elencar ações que fossem consideradas relevantes para a coletividade, tendo como foco a definição de possíveis responsáveis locais, bem como o exercício de se pensar em instituições apoiadoras (a serem contatadas pelos moradores) visando obter apoio para determinadas atividades.

Algumas ações foram desconsideradas pelo próprio grupo, por serem entendidas como não exequíveis, restando aquelas que eles entenderam como viáveis. Nessa perspectiva, os participantes das Bromélias hierarquizaram as suas demandas.

Estabeleceu-se uma escala de ocorrência de fatores que serviram como base para estabelecer as prioridades de ações para todos os conjuntos.

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VISÃO DE FUTURO

O Plano de Futuro EIXO 1: Cultura, Esporte e Comunicação A realização de ações de comunicação no Plano de Futuro justificam-se pela busca por uma identidade territorial, conjugada a ações voltadas à cultura e à necessidade em se viabilizar instrumentos alternativos que promovam o diálogo local. Tratase da busca por um modelo comunicativo baseado no diálogo e na participação popular, aproximando comunicação e cultura às dinâmicas do território. As ações destacam o potencial do empreendimento como um produtor de conteúdos e não apenas como o espaço para circulação de informações.

As ações de esporte e lazer legitimam-se pela sua contribuição decisiva na formação física, intelectual, educacional, cultural e social. O esporte potencialmente pode atuar como alternativa para a formação e o desenvolvimento da cidadania ao chegar em lugares e espaços onde o Estado não consegue alcançar. A sua prática implica a absorção de valores fundamentais como regras de civilidade, respeito ao próximo, convivência e disciplina, as quais poderão impactar diretamente em outras esferas de sociabilidade no empreendimento.

As ações do eixo “Cultura, Esporte e Comunicação” tiveram como pergunta orientadora: “Como potencializar as ações em cultura, comunicação e esportes considerando os diferentes perfis de indivíduos e os grupos presentes no empreendimento?” O grupo consolidou um conjunto de atividades entendidas como de interesse coletivo a serem trabalhadas no empreendimento, cujos resultados sistematizados seguem:

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Cultura, Esporte e Comunicação OBJETIVO GERAL: Elaborar e implantar ações de comunicação e cultura para o Território contemplando tecnologias e mídias adaptadas às necessidades locais;

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VISÃO DE FUTURO

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EIXO 2: Empreendedorismo E FORMAÇÃO As ações do eixo de empreendedorismo tiveram um viés duplo 1) oferta de acompanhamento de coach para negócios locais (viabilizado por um morador que trabalha nesta área) e 2) criação de um negócio local na área de gastronomia. A opção pela gastronomia é resultado da mobilização de ações anteriores, tal como o curso de panificação ofertado pelo SENAI e também por palestras do SEBRAE no empreendimento, visando despertar o espírito empreendedor.

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EIXO 2 - Empreendedorismo e Formação OBJETIVO GERAL: Criar um ambiente favorável para a criação de negócios no Bosque das Bromélias

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EIXO 3: Meio Ambiente A produção de alimentos nas cidades (ou no seu entorno) apresenta-se como uma das formas de enfrentamento de situações de vulnerabilidade em que se encontra grande parcela da população urbana, sendo esta realidade também presente no Bosque das Bromélias. Assim, a agricultura, que já foi considerada uma atividade exclusiva da zona rural, passa a ser importante no meio urbano.

A Agricultura Urbana e Periurbana contemporânea vêm ganhando destaque no cenário mundial e nacional, citada como um fator permanente nos processos de desenvolvimento sustentável. O foco das ações deste eixo foi a humanização do espaço a partir da criação de hortas comunitárias (farmácias vivas) e também de ações estruturante para a gestão de resíduos.

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EIXO 3 - Meio Ambiente Objetivo Geral: Implantar ações sob a perspectiva da humanização do espaço físico, a partir de uma construção participativa junto aos moradores do empreendimento;

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Este é um documento feito a muitas mãos.

A construção deste Plano se deu ao longo da experiência vivenciada no Bosque das Bromélias a partir do Projeto Minha Casa Nossas Vidas, realizado pela equipe do CIAGS da Escola de Administração da UFBA. A iniciativa insere-se na estratégia de Desenvolvimento Integrado e Sustentável de Territórios - DIST, com recursos do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal.

Este documento consolida uma abordagem de planejamento para habitações sociais, sendo esta a tecnologia social criada no âmbito do Projeto. Neste sentido, foram expostos aqui o caminho percorrido pela equipe UFBA bem como os resultados alcançados, que se constituem no Plano Decenal do Bosque das Bromélias, ou como denominado pelos moradores, o Plano de Futuro.

O percurso aqui registrado é resultado da interação contínua com os moradores.

Nossos especiais agradecimentos à Dona Edna, Nestor, Paulo, Suzana, Samira, Robson, Rogério, Rodeval, Marinalva, Elenalva, Cirlene, Alexandre, Lôra, Adriana, Jeniffer, Cris, Tati, Jajá, Eliane, Angelina, Celma, Adson, Patrícia, Melquíades, Davi, Cláudio, Adriano, Lica e a todos aqueles que participaram em algum momento das atividades realizadas.

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O Projeto Minha Casa Nossas Vidas contou com a participação de professores, técnicos e alunos da Universidade Federal da Bahia. A listagem abaixo contempla aqueles que, em algum momento do Projeto, participaram de ações na comunidade.

EQUIPE UFBA Coordenação Geral Prof. Dra. Tânia Maria Diedrichs Fischer

Coordenação Executiva Rodrigo Maurício Freire Soares

Governança Territorial Francisco Raniere Moreira da Silva

Professores UFBA Ana Cristina Muniz Décia | Administração Andrea Cardoso Ventura | Administração Adriano Sampaio | Comunicação Ariádne Scalfoni | Administração Denise Ribeiro dos Santos | Administração Maria Valesca Damásio de C. Silva | Ciências Contábeis Milton Júlio de Carvalho Filho | Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos

Ronaldo Pesente | Ciências Contábeis

Comunicação e Estratégias de Mobilização Márdel Pereira dos Santos Gabriela Lima Carvalho

Secretaria/Assistente de Projeto Gizele Amorim Conceição Marcela Ferreira Lopes Claudyson Chianca

Alunos UFBA Guilherme Santos Lima | Administração Gabriel Santos Melo | Direito Tamires Lima | Belas Artes Camila Hita| Produção Cultural Israel Campos | Mestrado em Gestão Social Pedro Ivo Almeida | Administração

Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social – CIAGS | www.gestaosocial.org.br Laboratório de Inovação e Tecnologias Socias – LABOR | www.labor.ufba.br Escola de Administração | www.adm.ufba.br Universidade Federal da Bahia – UFBA | www.ufba.br Assessoria De Comunicação Ciags | ascom@ciags.org.br

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SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?

Salvador, 2017

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