Ciência para todos - Nº. 04

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INPA Revista de divulgação científica do

Ciência para todos

Junho de 2010 · nº 04, ano 2 (Distribuição Gratuita) ISSN 19847653

Pesquisadores do Inpa se destacam em 2009

Inpa estuda terra preta de índio

Jogos educativos infantis auxiliam no aprendizado da ciência


The Evolution of Biological Organization as a Function of Information

Ilse Walker Editora INPA, 2004 Assunto: Theoretical biology-Evolution-Biological Organization ISBN: 85-211-0021-3 Formato: 21x14 • Páginas: 380 • Peso: 0,415

A Floresta Amazônica nas Mudanças Globais Philip M. Fearnside Editora INPA, 2003 Assunto: Floresta Amazônica – ecossistema ISBN: 85-211-0019-1 Formato: 16x23 • Páginas: 134 • Peso: 0,265

Guia de Identificação de Palmeiras de um Fragmento Florestal Urbano Ires Paula de Andrade Miranda, Afonso Rabelo Editora INPA/ EDUA, 2005 Assunto: Guia de palmeiras no perímetro urbano de Manaus ISBN: 85-7401-156-8 Formato: 14x16 • Páginas: 228

Biotupé: Meio Físico, Diversidade Biológica e Socio Cultural do Baixo Rio Negro, Amazônia Central Organizadores: Edinaldo Nelson, Fábio Aprile, Veridiana Scudeller e Sergio Melo Editora INPA, 2005 Assunto: Águas pretas, biodiversidade Amazônica, recursos naturais ISBN: 85-7401-156-8 Formato: 20,5x22,5 • Páginas: 246

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EDITORIAL

Transformações que movem a ciência esse meio século de existência o Instituto NaN cional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) realizou muitas descobertas científicas em prol da po-

pulação, visando a melhoraria da qualidade de vida. São inúmeras pesquisas desenvolvidas pelos cientistas do Inpa que confirmam a relevância do Instituto e o compromisso com a sociedade. A quarta edição da revista Ciência para Todos vem mostrar a transformação que houve, ao longo do tempo, entre as pesquisas científicas e a base para que ela seja desenvolvida. Estamos falando da infraestrutura oferecida pelo Inpa, ponto fundamental para que os estudos realizados tenham êxito, solidificando o trabalho dos cientistas. O Inpa começou 2010 com muitas novidades. Grandes obras beneficiando os laboratórios de pesquisa, bem como a criação de novos espaços para desenvolvê-la. Prédios da Instituição foram reformados e novos carros, que subsidiam o trabalho dos pesquisadores, foram adquiridos. Isso reflete a seriedade do Inpa em investir para manter a qualidade do material que é produzido. Essa seriedade refletida pelo Inpa é reconhecida e premiada. Prova disso são os pesquisadores que receberam ao longo de 2009 vários prêmios pelas pesquisas que ajudam na transformação da ciência no país. Outro destaque também foi dado aos jovens cientistas que participam do programa de iniciação científica oferecido pelo Instituto. Alguns deles também foram recompensados por projetos desenvolvidos no Inpa. Assim, o Inpa dá continuidade à longa caminhada em prol de novas descobertas científicas que contribuam com a sociedade. Para que isso seja feito muitas

barreiras estão sendo quebradas, inclusive a da tecnologia. Uma das reportagens mostra a ação de um supercomputador que simula, virtualmente, situações que resultam na variação do clima. Essa técnica visa impulsionar os estudos nas áreas de climatologia, meteorologia e mudanças climáticas na região. Do mais moderno material tecnológico, vamos à origem do povo amazonense. Uma pesquisa desenvolvida para tentar recuperar as áreas degradadas, pela combinação de tecnologias modernas e agricultura familiar, com segurança alimentar, estuda a formação da terra preta de índio com a intenção de repetir a técnica feita pelas civilizações pré-colombianas. Foco é restabelecer o equilíbrio entre o homem e a floresta. As ações do homem sobre a floresta sempre tiveram grandes impactos. Uma das reportagens retrata pontos positivos dessa relação que, ultimamente, não é vista com bons olhos. Falamos de Adolfo Ducke, uma personalidade que colaborou para a preservação da floresta e um grande incentivador das pesquisas em Botânica. Todos os estudos desenvolvidos pelo Inpa são assuntos que precisam ser levados ao conhecimento da população. Essa também é uma preocupação do Instituto. Uma das formas de debater questões como aquecimento global, desenvolvimento sustentável e outros assuntos é a ação do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA). Dessa forma, o Inpa trabalha para a efetivação dos quatro focos institucionais, que são Dinâmica Ambiental, Tecnologia e Inovação, Sociedade e ambiente, e Biodiversidade.

EXPEDIENTE Adalberto Luis Val Diretor do Inpa Wanderli Pedro Tadei Vice-diretor do Inpa Sérgio Fonseca Guimarães Chefe de Gabinete Estevão Monteiro de Paula Coordenador de Ações Estratégicas - COAE Beatriz Ronchi Teles Coordenadora de Capacitação - COCP Lúcia Yuyama Coordenadora de Pesquisas e Projetos - COPE Carlos Roberto Bueno Coordenador de Extensão COXT

Tatiana Lima Chefe da Divisão de Comunicação Social

Revisão Josiane dos Santos Tabajara Moreno

Tharcila Martins (SRTE-AM 0354) Jornalista Responsável

Projeto Gráfico Leila Ronize Rildo Carneiro

Redação Annyelle Bezerra Daniel Jordano Eduardo Gomes Eliena Monteiro Josiane dos Santos Kleiton Renzo Séfora Antela Tabajara Moreno Tharcila Martins

Editoração Eletrônica Kleiton Renzo www.r3nzo.com

Fotografias Anselmo D’Affonseca Eduardo Gomes Mário Bentes Tabajara Moreno

Nossa Capa: Amazônia: exportando ciência e tecnologia

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Desafios da nova década Criado em 1952 o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), possui uma relação íntima com a sociedade brasileira e mais ainda com a população amazonense, desenvolvendo novas maneiras de estudar a natureza e o meio ambiente de forma integrada a sustentabilidade.

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GEEA populariza conhecimento científico na Amazônia

SUMÁRIO

Nos últimos anos, muito se ouviu falar em aquecimento global, desenvolvimento sustentável, ciclos hidrobiológicos e mudanças climáticas. O GEEA foi criado com a finalidade de discutir essas questões que voltaram os olhares do mundo para a Amazônia.

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34 Contribuindo para o desenvolvimento da Amazônia Lúcia Yuyama é doutora em nutrição e está no Inpa desde julho de 1987. Yuyama publicou 60 artigos em periódicos especializados e 205 trabalhos em anais de eventos. Possui nove capítulos de livros e um livro publicado. Em entrevista à Revista Ciência para Todos, a pesquisadora falou sobre os avanços do Inpa e as metas para o futuro.


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Simulando mudanças climáticas na tela do computador

Pesquisadores do Inpa se destacam em 2009

De olho no futuro

Saiba quem foi Adolpho Ducke

Uma semente para a sustentabilidade

Uma forma divertida de aprender ciência

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ECOLOGIA

FOTOS: TABAJARA MORENO

Contribu sustentá

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Raio X Lúcia Yuyama é doutora em nutrição e está no Inpa desde julho de 1987. Yuyama publicou 60 artigos em periódicos especializados e 205 trabalhos em anais de eventos. Possui nove capítulos de livros e um livro publicado. A pesquisadora participou do desenvolvimento de nove produtos tecnológicos, orientou 14 dissertações de mestrado e coorientou seis, além de ter orientado 40 trabalhos de iniciação científica nas áreas de Nutrição, Ciência e Tecnologia de Alimentos e Química. Recebeu 11 prêmios e homenagens. Ela é responsável pela Coordenação de Pesquisas do Inpa e, atualmente, coordena dois projetos de pesquisa, atuando na área de Nutrição, com ênfase em Bioquímica da Nutrição.


uindo para o desenvolvimento ável da Amazônia Revista do Inpa: Qual o principal objetivo da Coordenação Geral de Pesquisas do Inpa (COPE)? Lúcia Yuyama: Propor políticas e diretrizes para a elaboração da Agenda de Pesquisa do Inpa, juntamente com as Coordenações Gerais do Inpa, em particular a Coordenação de Ações Estratégicas (COAE). O Inpa trabalhou intensamente nos últimos anos com a agenda de pesquisa redundando em quatro focos institucionais.

Revista do Inpa: Quais são os focos institucionais e qual a importância deles? Lúcia Yuyama: Dinâmica Ambiental; Tecnologia e Inovação; Sociedade e ambiente; e Biodiversidade são os quatro focos institucionais. De 11 a 13 de maio de 2009 o Inpa realizou a oficina de validação dos Focos Institucionais, cujo objetivo foi elaborar o conceito institucional de cada foco considerando o “Estado da Arte” de cada tema e as tendências mundiais e regionais frente aos novos desafios voltados para o desenvolvimento e conservação da Amazônia, assim como definir quais os objetos de estudo e as perguntas que o Inpa deve responder dentro de cada foco, por meio de seus programas e projetos de pesquisa sob a liderança de Grupos de Pesquisas certificados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A importância é a resposta integrada e o suprimento de lacunas de conhecimento, procurando evitar sobreposição ou redundância de grupos e linhas de pesquisas. Ao todo, são 69 grupos, dentre eles 11 estão inseridos em Dinâmica Ambiental, 25 em Biodiversidade, 22 em Tecnologia e Ino-

vação e 11 em Sociedade e Ambiente. Revista do Inpa: Quais as coordenações sob a gestão da COPE? Lúcia Yuyama: Sob a gestão da COPE estão as 12 Coordenações de Pesquisas, Programa de Coleções e Acervos Científicos, Laboratórios Temáticos: Microscopia eletrônica, Solos e Plantas, Biologia Molecular e de Sistema Geográfico de Informação; Núcleo de Pesquisas em Ciências Humanas e Sociais e os Núcleos de Pesquisas Regionais. Novos laboratórios foram inaugurados: Físico-química de Alimentos, Biotecnologia, Produtos Naturais, Bioprospecção de Insetos. O objetivo é que esses laboratórios sirvam de apoio para o avanço das pesquisas dentro das linhas de tecnologia e inovação.

Eu me sinto extremamente realizada enquanto pesquisadora, formadora de recursos humanos e geração de resultados de forma a contribuir com as políticas públicas e melhoria das condições de saúde e nutrição.

da Amazônia.

Revista do Inpa: Como é a interação entre a COPE e as outras coordenações gerais? Lúcia Yuyama: Procuramos de uma forma harmoniosa cumprir a missão do Inpa que é gerar e disseminar conhecimentos e tecnologias e capacitar recursos humanos para o desenvolvimento sustentável

Revista do Inpa: No Inpa são desenvolvidas muitas pesquisas, o que envolve muitos recursos. Como mostrar transparência na execução desses projetos? Lúcia Yuyama: Uma das ações da COPE é avaliar e controlar os projetos que compõem a agenda de Pesquisa do Inpa. Todo gerenciamento e acompanhamento desses projetos se dão por meio do Sistema de Informações Gerenciais e Tecnológicas (Sigtec), uma ferramenta transparente e eficaz. Revista do Inpa: Qual a importância do Sig-

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tec para o Inpa? Lúcia Yuyama: O Sigtec, desenvolvido no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), é de fundamental importância pelo registro estruturado das informações gerencial e tecnológica, da interação por meio de ambientes de trabalho e do acompanhamento da concretização de resultados. Outra característica do sistema é a obtenção dos indicadores do Termo de Compromisso de Gestão (TCG) com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), desde que as informações sejam registradas no sistema. Revista do Inpa: Além da aprovação dos quatro Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT’s), há outros projetos? Lúcia Yuyama: Sim, o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) é um exemplo. No início da atual gestão do Inpa havia apenas um Pronex aprovado e agora temos nove. Soma-se ainda o elenco de projetos aprovados igualmente importantes. Tais conquistas solidificam as ações do Inpa como um dos maiores institutos nacionais de pesquisas. A pujança dessa equipe (pesquisadores, alunos de pós-graduação, técnicos e gestores) é comprovada com o avanço na captação de recursos por meio da aprovação dos projetos.

milhões para 21 projetos. Revista do Inpa: Quais projetos se destacaram nesse período? Lúcia Yuyama: O Inpa também investe em infraestrutura. Em 2007, o Instituto submeteu ao Ministério do Planejamento o Projeto Grande Vulto. Com o título “Ampliação e Modernização da Infraestrutura do Inpa para o Estudo da Biodiversidade, Inovação Tecnológica e Sustentabilidade dos Ecossistemas Amazônicos frente às Mudanças Globais” o projeto conquistou R$ 70 milhões que serão liberados ao longo de três anos, tendo como ponto de partida o ano de 2008. A conquista de cerca de R$ 30 milhões em recursos com a aprovação dos quatro INCT`s em 2008 representa outro marco na trajetória do Inpa. O Amazonas enviou cinco propostas ao edital 015/2008 do INCT do CNPq, sendo que uma foi da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e quatro do Inpa. São eles: o Centro de Estudos de Adaptação da Biota Aquática da Amazônia (Adapta), o Centro Nacional de Pesquisas e Inovação de Madeiras da Amazônia (CNPIM), o Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (Cenbam) e o Instituto Nacional de Serviços Ambientais da Amazônia (Servam), coordenados pelo Diretor do Inpa, Adalberto Luis Val, e pelos pesquisadores Niro Higushi, Willian Ernest Magnussun e Philip Martin Fearnside, respectivamente. O projeto Fronteira com R$ 1,8 mil em financiamentos é outro feito significativo para o Inpa. Desenvolvido desde São Gabriel da Cachoeira até o Pico da Neblina, o Fronteira reúne 22 subprojetos, envolvendo vários seguimentos populacionais. Este é o primeiro empreendimento coordenado pela COPE, via Sigtec, e está sob a coordenação executiva da Associação dos Amigos do Inpa (Assai). Por conseguinte, essa conquista favorece a criação de mais um núcleo em São Gabriel da Cachoeira e outro em Santarém. Fora o Fronteira, convém também citar as grandes redes (Taco, Piatam, CTPetro, Segurança alimentar, Malária, Tuberculose, Bionorte dentre outros). Recentemente o Inpa aprovou a rede Malária e aguarda o resultado da rede Bionorte. As redes Tuberculose, Taco e Segurança alimentar destacam-se pela relevância quanto às políticas públicas e inclusão social. Tanto a rede CTPetro como o projeto Piatam preocupam-se em obter conhecimentos que permitam identi-

O projeto Fronteira com R$ 1,8 mil em financiamentos é outro feito significativo para o Inpa. Desenvolvido desde São Gabriel da Cachoeira até o Pico da Neblina, o Fronteira reúne 22 subprojetos, envolvendo vários seguimentos populacionais.

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Revista do Inpa: Com relação aos projetos, qual o balanço de aprovação nos últimos anos? Lúcia Yuyama: De 2006 a 2009, o Inpa aprovou 356 projetos que totaliza um total de R$ 90,5 milhões em recursos provenientes de diversos órgãos de financiamento. Dos 356 projetos aprovados, 168 contam com o apoio de recursos financeiros da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Amazonas (Fapeam), o que significa R$ 26,6 milhões. Por meio dos editais do CNPq foram aprovados 130 projetos e conquistado R$ 26 milhões em recursos. Com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), 17 projetos, perfazendo R$ 16 milhões. Da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) são 18 projetos, num total de R$ 4 milhões de recursos. A Petrobrás, Boticário, Mineração Rio Norte, SEBRAE e os convênios internacionais, juntos liberaram mais de R$ 17,8


ficar, avaliar, eliminar ou minimizar os efeitos negativos ao meio ambiente, das atividades de prospecção e transporte do gás natural e petróleo na Amazônia Brasileira. Além da aprovação de projetos, o Inpa também investe veementemente em formação de recursos humanos, mesmo com um quadro reduzido de servidores e pesquisadores. Atualmente o Instituto conta com a colaboração de 728 servidores e 826 estudantes, dos quais 196 são pesquisadores, 27 tecnologistas, 290 técnicos, 215 administrativos, 432 pós-graduandos, 288 graduandos e 106 estudantes. Revista do Inpa: Que outras ações podem ser destacadas com relação ao trabalho da COPE? Lúcia Yuyama: Eis aqui o paradigma institucional da COPE que merece destaque: coordenar, orientar, supervisionar e avaliar um conjunto de registros de projetos de pesquisas e programas do Sigtec. Que projetos são esses? Os aprovados pelo CNPq, Fapeam, Capes, Finep e outros por meio de convênios gerenciados pela Fundação Djalma Batista (FDB) e Associação dos Amigos do Inpa (Assai). Ressalta-se ainda o registro e acompanhamento dos projetos internos, ao todo 64. Outro avanço foi a integração da Pesquisa com a Capacitação e Extensão. Revista do Inpa: Drª Lúcia, suas pesquisas são voltadas à alimentação. Como avaliar as descobertas dos últimos anos? Lúcia Yuyama: As descobertas contribuem com as políticas públicas na área de alimentos, nutrição, segurança alimentar e merenda escolar. O Grupo de Alimentos e Nutrição busca responder as seguintes perguntas: qual o valor nutricional dos frutos regionais, a exemplo da pupunha, tucumã, buriti, umari, uxi, camu camu, cubiu, açaí. Qual o impacto da utilização na prevenção ou recuperação de processos carenciais? É preciso trabalhar com o foco da alimentação saudável e variada, com a valorização e o resgate da cultura regional e socializar esses conhecimentos para que a população aproveite as espécies frutíferas produzidas na floresta ou no fundo de quintais objetivando a melhoria do padrão nutricional e, consequentemente, a qualidade de vida. O novo cenário enquanto Inpa é a criação do Centro de Referência Panamazônia; Centro de Tecnologias Sociais e Educação em Segurança Alimentar e Nutricional Panamazônia para a Implantação da Soberania Alimentar da Amazônia Brasileira, Latinoaméricana e Caribe, apoiado pelo MCT, Secretaria de Inclusão Social, Coordenação de Segurança Alimentar. O projeto Taco é outro marco enquanto análises de 300 alimentos da região Norte. A satisfação

em coordenar um estudo multicêntrico chamado “Neonatal nas regiões Norte e Nordeste: um estudo multicêntrico” na Região Norte em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (Susam) é outro desafio enquanto ação do pacto para a redução da mortalidade infantil, sob a liderança do Ministério da Saúde, Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) e tantos outros estudos multicêntricos que geraram prêmios. Eu me sinto extremamente realizada enquanto pesquisadora, formadora de recursos humanos e geração de resultados de forma a contribuir com as políticas públicas e melhoria das condições de saúde e nutrição. Revista do Inpa: Dentro de todos esses aspectos citados, para a COPE, como resumir o trabalho desenvolvido pelo Inpa? Lúcia Yuyama: Biodiversidade, Dinâmica ambiental, Tecnologia e Inovação e Sociedade e Ambiente. A premissa é integrar todos os pesquisadores de forma harmoniosa para contribuir com a missão do Inpa.

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Simulando mudanças do clima na tela do

computador FOTOS: TABAJARA MORENO

SUPERCOMPUTADOR

Com os supercomputadores, o NMCA faz projeções de cenários climáticos como, por exemplo, o total desmatamento da Amazônia.

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> POR TABAJARA MORENO

Desmatar a floresta amazônica inteira para conhecer informações sobre os possíveis efeitos que esse cenário pode trazer para o clima regional e global. Enredo de uma história de ficção científica? Não! Experimentos desse tipo já são realizados no Núcleo de Modelagem Climática Ambiental (NMCA) do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT). O núcleo trabalha com o auxílio de dois supercomputadores usados para simular virtualmente situações extremas resultantes da variabilidade

natural do clima, como a seca de 2005, ou mesmo desenvolver cenários de impactos no clima decorrentes do desmatamento da Amazônia. A denominação “supercomputador” referese a uma máquina com altíssima velocidade de processamento e grande capacidade de memória. Esses computadores são usados em áreas de pesquisa em que grande quantidade de processamento se faz necessária, como na previsão de tempo (meteorologia). O NMCA possui dois supercomputadores e já adquiriu um terceiro que está sendo instalado. Um dos computadores do núcleo é o NEC SX-


8i. Fabricado no Japão, essa máquina possui um único processador que tem uma capacidade de processamento de 16Gflops. A sigla FLOPS (Floating point Operations PerSecond) significa, em português, Operações de Ponto Flutuante por Segundo e é o meio para se mensurar o desempenho de um computador. A letra G refere-se a escala de grandeza Giga ou 1 bilhão de Flops. Para ilustrar o nível do desempenho desse computador, considere uma calculadora básica de quatro operações, ela possui um desempenho de 10 FLOPS. O NEC equivale a capacidade de processamento de 1,6 bilhões de calculadoras juntas, dispondo de uma memória de 16Gbytes. No NMCA, toda essa potência é dirigida, principalmente, ao estudo da modelagem do clima em escala global. Os outros supercomputadores que integram o NMCA são denominados de sistemas “Cluster”, eles são dedicados ao trabalho de modelagem climática em escala regional. Um cluster, ou aglomerado de computadores, é formado por um conjunto de computadores que utiliza um tipo especial de sistema operacional classificado como sistema distribuído. Muitas vezes

é construído a partir de computadores convencionais (personal computers), os quais são ligados em rede e comunicam-se através do sistema, trabalhando como se fossem uma única máquina de grande porte. No NMCA esse aglomerado de computadores é constituído de estações servidoras de vários processadores dual e quadre core (dois e quatro núcleos), totalizando 52 núcleos e memória de 4 a 8GB. Essa estrutura computacional foi implantada para apoiar atividades de pesquisa realizadas pelo NMCA sobre modelagem do clima na Amazônia. Concebido em 2005 com a proposta de impulsionar o desenvolvimento de estudos nas áreas de meteorologia, climatologia e mudanças climáticas na região, o núcleo estimulou a criação, em 2006, do curso de pósgraduação, nível de mestrado e doutorado, em Clima e Ambiente (CLIAMB), um programa interinstitucional do Inpa em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Supercomputadores são usados para cálculos muito complexos e tarefas intensivas, como problemas envolvendo física quântica, mecânica, meteorologia e modelagem climática.

11 As simulações climáticas realizadas por meio dos modelos computacionais assumem um papel extremamente importante na árdua tarefa de buscar informações que dimensionem fatores responsáveis por algumas anomalias do clima.


Modelos climáticos Conforme o pesquisador responsável pelo NMCA, Luiz Antônio Cândido, as análises que permitem vislumbrar cenários de alteração do clima em escala global e regional são feitas por meio de modelos climáticos. Os modelos climáticos utilizam métodos quantitativos (equações matemáticas representando processos físicos que ocorrem na natureza) para simular as interações da atmosfera, oceanos, superfícies continentais e gelo. São utilizados com vários propósitos que vão desde o estudo da dinâmica do sistema climático até projeções do clima futuro, como no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). “Considere como exemplo o clima da região amazônica, onde se verifica temperaturas elevadas e forte variação das chuvas no tempo e no espaço. Esse padrão é observado anualmente, podendo ocorrer variações, e o modelo climático precisa simular esse comportamento do clima real, claro, com suas devidas aproximações e limitações”, explica Cândido. Os supercomputadores do NMCA rodam os modelos do Centro de Previsões de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que analisam o clima em escala global e o modelo regional do National Center for Atmospheric Research (NCAR), o Weather Research and Forecasting (WRF). Esses modelos funcionam a partir de um banco de informações científicas, produzidas por diversas instituições de pesquisa de todo o mundo. As informações alimentam os modelos permitindo o desenvolvimento da previsão do tempo e das simulações de eventos climáticos, além da realização de estudos específicos do clima. As simulações climáticas realizadas por meio dos modelos computacionais assumem um papel extremamente importante na árdua tarefa de buscar informações que dimensionem fatores responsáveis por algumas anomalias do clima. Essas perturbações meteorológicas são sentidas pelo homem, principalmente, através da ocorrência de eventos extremos, como secas, tempestades e enchentes. A tarefa de reconstruir no computador eventos do clima com a finalidade de estudá-los cientificamente só é possível porque os modelos climáticos usados suportam a representação virtual desses padrões do sistema climático global. 12

A simulação de cenários por meio da modelagem climática permite ao cientista voltar no tempo para testar hipóteses a cerca de condições ambientais que tenham provocado deter-

minados fenômenos. Além disso, a modelagem também possibilita a projeção de cenários do clima no futuro. “Com os dados meteorológicos obtidos ao longo dos últimos 100 anos é possível simular, com a ajuda dos modelos, o passado climático e o futuro é avaliado através de hipóteses (cenários). Todo esse trabalho é feito com base em indícios observados, como no caso da Amazônia, em que o sistema climático regional interage fortemente com as condições nos oceanos adjacentes”, relata o pesquisador. Essas funções do modelo climático deram condições ao NMCA para o trabalho com as simulações da seca de 2005, do desflorestamento total da Amazônia e também na análise dos cenários de mudanças climáticas na região amazônica. A simulação da seca de 2005, feita utilizando o modelo climático do CPTEC, analisou a influencia do aquecimento do oceano atlântico na seca daquele ano. Os resultados confirmaram o papel do aquecimento do oceano atlântico como indutor da redução de chuva na Amazônia naquele período. “O modelo tende a confirmar esse sinal como mais um fator que pode influenciar na ocorrência de secas na região”, conta Cândido. Para simular a seca de 2005, o NMCA cruzou informações que representavam a atmosfera com dados sobre a temperatura da superfície do mar do oceano atlântico. Considerando o efeito da temperatura do oceano como dominante para o comportamento da atmosfera naquela época, a simulação imitou o mundo real numericamente por meio do supercomputador. Ao fazer essa simulação, Cândido conta que a perspectiva é de que o modelo represente, de forma coerente o padrão de comportamento do clima. “Nesse caso, o trabalho representa um sistema aberto: a atmosfera da Amazônia interagindo com o oceano e outras áreas do planeta”, falou o responsável pelo NMCA. Agora o NMCA tem buscado estudar outras questões que podem causar grande impacto para o clima global. Como exemplo, as possíveis consequências que o completo desmatamento da floresta amazônica traria para o ecossistema global. “Além de avaliarmos o modelo para representação do clima em diversos anos, temos um projeto em que trabalhamos com simulações iniciando em 1970 para cá. Nossa proposta é verificar a capacidade do modelo em representar a avaliação do clima ano a ano, o que denominamos de variabilidade climática”, contou.


GRÁFICOS: NMCA

Os mapas ilustram o impacto do total desmatamento da Amazônia para o clima regional. Os dados indicam um aquecimento de até 5oC e redução de até 6mm de chuva na região.

A aplicação de um modelo climático no estudo do impacto do desmatamento da Amazônia no clima regional é ilustrada nas figuras A, B, C e D. Para esse estudo, Cândido explica que são considerados dois casos: o primeiro representando a condição atual com toda a região coberta por vegetação de floresta (área em verde na Fig. A); e o segundo considerando que toda a Amazônia é substituída por uma vegetação do tipo cerrado encontrada no centro-oeste (Fig. B). O pesquisador ressalta que o modelo é aplicado para cada caso individualmente, o qual reconhece as diferenças na cobertura vegetal do continente como um dado de entrada. As diferenças entre as simulações com cobertura de cerrado e de floresta é uma medida quantitativa do impacto.

O mapa de impacto na temperatura do ar (Fig. C) apresenta o cenário da temperatura do ar em uma superfície com um aquecimento de 1ºC a 5ºC distribuídos por toda a Amazônia. Na Fig. D é apresentado o impacto equivalente com redução no total de chuva de 1 a 6mm e diferentemente da temperatura do ar, os impactos na chuva são mais concentrados em uma área. Os projetos desenvolvidos no NMCA são apoiados pelas agências de fomento à pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Histórico da Modelagem do clima A atividade de modelagem do clima começou em 1960 com o desenvolvimento dos primeiros modelos numéricos e o surgimento dos primeiros computadores. Contudo, no início da modelagem, as simulações de eventos climáticos só podiam ser feitas por períodos curtos de tempo. O crescimento e desenvolvimento da modelagem do clima, seja para a análise de eventos climáticos passados ou previsão de cenários futuros, avançou bastante com o aperfeiçoamento da informática e um maior conhecimento e estruturação dos mo-

delos da física e da ciência atmosférica. Segundo Cândido, a agregação de conhecimento científico do funcionamento do sistema e a transformação desse conhecimento em modelos matemáticos foram duas coisas que contribuíram sobremaneira para o aperfeiçoamento da modelagem climática. Depois disso, o meteorologista considera o crescimento da capacidade computacional como fator responsável por permitir a resolução dessas equações que recriam os eventos com muito mais capacidade de processamento.

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Pesquisadores do Inpa se destacam em

DESTAQUES DE 2009

FOTO: EDUARDO GOMES

2009

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> POR SÉFORA ANTELA

A ciência é a responsável pelo desenvolvimento social, político, econômico e tecnológico de uma nação. É ela que nos permite adquirir os conhecimentos que nos ajudarão a resolver os problemas da vida real. E para reafirmar a importância de se fazer ciência, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) recebeu diversas premiações pelas investigações científicas realizadas ao longo de 2009. Foi um total de oito premiações, recebidas pelos pesquisadores do Instituto, fato que reco-

nhece o permanente esforço desses estudiosos em produzir e popularizar a ciência na região amazônia. São eles: Prêmio Professor Samuel Benchimol, dos pesquisadores Marilene Gomes e Ruy Sá Ribeiro; Prêmio Jabuti, do grupo de cientistas, José Luís Camargo, Isolde Ferraz, Mariana Mesquita, Bráulio Santos e Heloisa Brum; Prêmio José Ribeiro do Valle, do jovem pesquisador Sílvio Manfredo Vieira; Prêmio Scopus e Prêmio Benizet, de Philip Fearnside; Prêmio de Genética, da veterana Joselita Maria Mendes dos Santos;


Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, de Jorge Fim e Prêmio Nutrinfância Brasil, do doutor em pediatria Mauro Fisberg.

Modelo de Vila-escola Sustentável Idealizada pelos pesquisadores da Coordenação de Pesquisas de Produtos Florestais (CPPF), Marilene Gomes de Sá Ribeiro e Ruy Alexandre de Sá Ribeiro (fotos ao lado), a ideia ficou em segundo lugar na categoria Social do Prêmio Professor Samuel Benchimol 2009, que tem o objetivo de selecionar projetos e estratégias que proporcionem benefícios sociais, ambientais e desenvolvimento econômico sustentável da Região Amazônica.

FOTOS: TABAJARA MORENO

Conheceremos agora um pouco de algumas pesquisas do Inpa premiadas em 2009.

O projeto propõe implantar um Programa de Construção Sustentável (PCS) para construir vilas-escolas ecológicas no entorno de reservas florestais com o objetivo de preservá-las. “Essa iniciativa para preservar nosso patrimônio natural, além de atrair o turismo ecológico, serve como protótipo de barreira ecologicamente sustentável. A ideia é fazer das vilas um local para abrigar, temporariamente, pessoas inscritas em programas habitacionais sociais para aprenderem praticando educação ambiental e técnicas de construção sustentável”, ressalta Gomes. A inovação do projeto é a implantação do bambu, Bambusa vulgaris vittata, na construção civil. Essa espécie é originária da China e por ter a resistência de tração similar a do aço é conhecida como aço verde. O bambu é utilizado como painéis pré-moldados, concebidos a partir de estudos de engenharia dos materiais - uma espécie de taipa de bambu, revestida com cimento. A ideia tem o mesmo princípio da CasaEco (projeto também concebido pelo casal de pesquisadores) que busca economia de energia, priorizando ventilação e iluminação natural, a utilização de materiais locais e redução no uso de materiais que utilizam tecnologias poluentes em sua fabricação. “A proposta é trabalhar com equilíbrio na utilização dos materiais. O bambu substitui tijolos e ferros e reduz a utilização da madeira na construção”, comenta Ribeiro. A proposta foi julgada em setembro de 2009 e a premiação entregue no início de dezembro na Associação dos Magistrados do Estado de Rondônia (Ameron). “Receber essa premiação é um privilégio, primeiro porque o objetivo do

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FOTOS: TABAJARA MORENO

concurso é premiar ideias e isso já é muito válido, segundo porque é o reconhecimento do nosso trabalho”, diz Gomes. Outro cientista recompensado pelo seu esforço em fazer ciência foi Sílvio Manfredo Vieira, ganhador do Prêmio José Ribeiro do Valle, considerado o mais importante prêmio em Farmacologia brasileira para jovens cientistas. O prêmio oferecido a cada ano pela Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapeutica Experimental, em parceria com a Eli-lly do Brasil (uma indústria farmacêutica que está presente em cerca de 160 países), visa identificar os trabalhos desenvolvidos por jovens investigadores na área de Farmacologia. O trabalho vencedor, intitulado “O receptor de reconhecimento padrão NOD2 é fundamental para o desenvolvimento de artrite” estudou a proteína NOD2 (domínio de oligomerização vinculado ao nucleotídeo, membro 2), que, conforme o pesquisador, desempenha um importante papel no sistema imune pois é capaz de identificar componentes bacterianos e substâncias endógenas, produzidas pelas células do sistema imunológico, que contribuem para a inflamação do tecido sinovial articular. “O receptor NOD2 não é reconhecido há longa data e ainda é foco de grandes grupos de pesquisas. Percebi, observando um grupo de 100 pacientes portadores de artrite reumatóide, que o NOD2 está presente em grande quantidade em pessoas que estavam com a doença avançada, isso significa dizer que o receptor tem a função de disparar uma resposta inflamatória. Demos o primeiro pas-

O que é artrite reumatóide?

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É uma doença crônica que não tem cura. Ela é auto-imune, ou seja, é causada quando as células do sistema imunológico passam a atacar as juntas e articulações do próprio corpo. Esta inflamação auto-imune leva a inflamação progressiva dos tecidos que revestem as articulações, causando danos em cartilagens, ossos, tendões, ligamentos próximos às juntas. Gradualmente, a articulação perde sua forma e alinhamento, podendo até ser completamente destruída.

Manfredo conquistou um dos mais importantes prêmios da farmacologia brasileira, Prêmio José Ribeiro do Valle.

so, agora é preciso saber quem está ativando esse receptor”, explica Manfredo. A pesquisa apresentou resultados positivos com subsídios para a elaboração de novos medicamentos. “Uma vez descoberta a função do NOD2, ele se tornou um novo alvo para o desenvolvimento de novos medicamentos para controlar a artrite reumatóide, melhorando a qualidade de vida desses pacientes, pois irá reduzir a atividade inflamatória”, ressalta.

O que é o Sistema Imunológico? São mecanismos que os organismos multicelulares se defendem de invasores internos (bactérias, vírus e parasitas). Existem mecanismos de defesa: específico e adaptativo. O primeiro é a proteção de pele, lágrima, acidez gástrica; o segundo, adaptativo, é ação relacionada dos linfócitos e a sua produção de anticorpos específicos.


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Futuro

Priscila da Rocha, Joyce da Silva, Rafaela Bruna e Caroline Campos, estudantes que participaram do Pibic em 2009

CIÊNCIA DO FUTURO

POR ANNYELLE BEZERRA

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Estimular a formação de novos pesquisadores, introduzir alunos universitários no universo científico e preparar futuros candidatos aos programas de pós-graduação são alguns dos objetivos almejados pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“O Brasil precisa muito de cientistas e precisamos ampliar o número deles, desta forma, os programas de iniciação científica, não só os do Inpa, mas também de outras instituições constituem uma ferramenta única no mundo que só existe aqui no Brasil e que possibilita desenvolver a iniciação dos futuros cientistas do país”, afirma.

No Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) o programa teve início em 1990 com a disponibilização de 14 bolsas, número que em 2009 já chegou a 233 oportunidades de bolsas direcionadas a jovens estudantes cursando graduação a partir do segundo período letivo e interessados em ciência.Para o diretor do Inpa, Adalberto Val, o Pibic, desenvolvido apenas no Brasil, desponta como um diferencial para o país no que se refere à ampliação do número de pesquisadores.

Val também destaca a importância do programa como ferramenta essencial de autoconhecimento para o estudante, que ao se deparar com a diversidade de áreas e seus infinitos leques, precisa definir, ainda muito cedo, qual caminho seguir e em que se especializar. “É preciso que cada um dos novos cientistas saiba desde cedo em que área gostaria de trabalhar. Quando nós começamos a nossa vida, nós gostamos de várias coisas, mas a ciência se es-

FOTOS: EDUARDO GOMES

De olho no


FOTO: TABAJARA MORENO

pecializa a passos largos cada vez mais. Por isso é muito importante que seja dada aos jovens, a oportunidade de viver diferentes experiências dentro da ciência, dentro dos laboratórios e ao lado dos grandes pesquisadores”, afirma Val. Jovens destaques Em julho de 2009 14 alunos de iniciação científica do Inpa foram agraciados com a Menção Honrosa 2007-2008, durante a XVIII Jornada de Iniciação Científica, realizada em Manaus e desenvolvida pelo Inpa em conjunto com o Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic/Fapeam) e o CNPq. A menção honrosa é concedida aos alunos que mais se destacam durante os 12 meses de Pibic. A entrega do prêmio acontece no mês de julho e representa o reconhecimento do trabalho do aluno e um incentivo ao ingresso na área de pesquisa. Os estudos desenvolvidos pelos bolsistas do Inpa contemplam áreas como: Recursos Florestais; Agronomia; Multidisciplinar Agrárias; Botânica; Ecologia; Genética; Saúde; Zoologia I; Zoologia II; Multidisciplinar Biológicas; Ciências Humanas; Clima e Ambiente; Engenharias e Química de Produtos Naturais. Ciência a serviço da sociedade Ao longo dos anos, os estudos científicos vêm contribuindo para o desenvolvimento da sociedade e para a solução de problemas por ela demandados. Um dos exemplos disso é o estudo “Condições de Balneabilidade de Três Praias do Rio Negro, Manaus-AM” desenvolvido pelo bolsista Adriano Nobre Arcos e orientado pela pesquisadora do Inpa, Hillândia Brandão, que propôs estudar as condições de balneabili dade das praias Ponta Negra, Lua e Tupé. As praias, consideradas uma das mais visitadas por turistas e pela população local, foram monitoradas em nove pontos no total, de outubro a novembro de 2007 e de maio a junho de 2008. Segundo Arcos, durante a análise foram verificados em alguns dos pontos monitorados níveis de coliformes superiores ao estipulado pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), nº 274 de 29 de novembro de 2000, caracterizado pelo nível superior a mil coliformes fecais a cada 100 ml (mililitros) de água. Porém, segundo Brandão é preciso levar em consideração as condições sazonais das águas. “Deve-se ressaltar que o período sazonal do rio também influencia muito, ou seja, quando o rio está cheio todo material que é carreado para ele se dilui em um volume muito grande do rio. Então, por isso, nós não verificamos problemas na época cheia”, enfatiza ela.

Adriano Nobre Arcos, bolsista premiado por sua pesquisa

Os resultados, segundo Brandão, levam a crer que as três praias analisadas apresentam condições favoráveis para banho, desde que o rio esteja em período de cheia. Outro estudo de alta relevância para a sociedade é o “Ctitotaxonomia de Simulium (Thyrsopelma) itaunense D’Andretta & González”, desenvolvido pela bolsista Nayra Gomes da Silva, orientado pela pesquisadora do Inpa, Neusa Hamada, e que se dedicou a diferenciar as diversas espécies de simulídeos existentes, realizando por meio da citogenética a análise dos cromossomos. Segundo Nayra, é importante a diferenciação das espécies, pois os simulídeos, insetos também conhecidos como “piuns” ou “borrachudos”, são endêmicos em Tribos Ianomâmis, caracterizando-se como um dos principais responsáveis pela disseminação da Oncocercose, doença conhecida popularmente como “Cegueira dos Rios” ou “Mal do Garimpeiro” e que acomete, principalmente, pessoas que moram próximas a água corrente ou que trabalham no garimpo. “Esse estudo gera conhecimento que possibilitará o desenvolvimento de diagnóstico específico para conhecer essas diferentes espécies e auxilia no estudo da dispersão da Oncocercose no Brasil”, afirma a bolsista. A doença é transmitida pelo parasita presente no simulídeo e que ao ser depositado na corrente sanguínea do ser humano e alojado na córnea, provoca cegueira.

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Quem foi Adolpho Ducke? Visão aérea das estruturas de pesquisa da reserva Adolpho Ducke fotografada na década de 60

HISTÓRIA

> POR ELIENA MONTEIRO

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Avenidas, parques, viadutos, entre outras construções recebem o nome de alguém que teve um papel significativo para a sociedade. É um modo de honrar quem ajudou na construção da cidadania de um povo. Dessa forma, não poderia ser diferente com quem colaborou para o conhecimento e preservação da Amazônia. Foi assim com a Reserva Florestal Ducke. A Reserva Ducke, como também é conhecida, recebeu esse nome em homenagem ao zoólogo de formação e botânico de coração, Adolpho Ducke. Na década de 1990, a revista Acta Amazônica sugeriu um resgate histórico de um grande botânico da região. Foi então que Ires Paula de Andrade Miranda, doutora em ciências bio-

lógicas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e Museu Nacional de História Natural de Paris (CNRS) coordenou a pesquisa fazendo o resgate histórico de Adolpho Ducke. O jovem cientista da época, Walter Adolpho Ducke, nasceu em Trieste na Itália em 1876 e ingressou na carreira científica aos 23 anos de idade. Em sua contribuição para a botânica brasileira, identificou e catalogou espécies, além de fazer uma biogeografia da Floresta Amazônica. No Brasil, seu trabalho iniciou em 1899 no Museu Emílio Goeldi, como técnico de zoologia. Só em 1914, influenciado por Jacques Huber, começou coletas sistemáticas de espécimes botânicas.


FOTO: ACERVO INPA

Amazonas, nas regiões de Óbidos, Faro e Baixo Tapajós. Ducke ficou em Belém por três anos. Em 1918 assumiu a chefia da seção de botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Esse fato foi decisivo para que ele tivesse os recursos necessários para realizar expedições à Amazônia. De 1927 a 1930, Ducke e outros pesquisadores deram ênfase ao estudo da flora do Alto Amazonas e principalmente o Rio Negro. De acordo com ele, a flora hileana atinge o clímax no número de gêneros, espécies e endemismos. Contribuições Em sua atuação no Inpa, Ducke introduziu 80 nomenclaturas de Fanerógamas (dicotiledôneas e monocotiledôneas) ao acervo herbário do Instituto. Porém, essa foi apenas uma das ações do pesquisador na Amazônia. Das pesquisas realizadas aqui, ele publicou mais de 130 artigos. Ao todo, de 1900 a 1959, foram contabilizados 180 publicações e a catalogadas 900 espécies botânicas novas. Dos estudos desempenhados por Adolpho Ducke, se destacam notas sobre o clima na Amazônia, a origem geográfica e botânica dos cacaueiros (Theobroma), diversidade dos guaranás, a Amazônia brasileira, as leguminosas da Amazônia brasileira e o cumaru (Dipterex) na botânica sistemática e geográfica.

Para Ires, Huber foi o grande incentivador de Ducke para iniciar as pesquisas em botânica. ”Denota-se uma tendência de Huber considerar que o colega Ducke desse continuidade ao seu legado dos estudos botânicos”, afirma. Pode-se perceber a influência de Huber na vida do pesquisador Adolfo Ducke nas seguintes palavras do próprio Huber: “De alguns anos para cá o senhor Adolpho Ducke, entomologista do Museu Goeldi, aproveitou suas viagens ao interior deste estado, feitas em comissão deste estabelecimento, para colecionar além de insetos, um bom número de plantas secas”. Durante o tempo que passou no Museu Goeldi, o pesquisador concentrou as coletas no baixo

Nota-se o interesse de Ducke pelo conhecimento das potencialidades da região amazônica. “Considero Ducke um grande visionário, por suas ideias conservacionistas e pela visão em relação à economia a partir do momento em que as plantas com poder econômico fizeram parte de suas preocupações”, afirma Paula Miranda. Os estudos não pararam. Em 1954 o pesquisador analisou uma forma de delimitar o que seria o espaço geográfico da Amazônia brasileira, através da distribuição do gênero Hevea brasiliensis (a seringueira). Porém, foi em 1950 que o naturalista sugere a preservação de uma área próxima de Manaus, que mais tarde se chamaria Reserva Florestal Ducke ou simplesmente Reserva Ducke. Paula Miranda falou do exemplo deixado pelo estudioso. “A ciência é fundamental para que um povo possa se organizar de maneira equitativa, onde todas as diretrizes das políticas públicas partam das análises científicas”.

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FOTOS: ACERVO INPA

Grupo de pesquisadores e mateiros durante as primeiras incursões na área da Reserva Ducke na década de 1960

Adolpho Ducke faleceu em 5 de janeiro de 1959, em Fortaleza, Ceará, deixando um legado ainda maior que o de seu antecessor Jacques Huber. Reserva Ducke Desde a época da colonização, naturalistas de todo o mundo se aventuravam pela Amazônia a fim de desvendar os segredos da Floresta. Adolpho Ducke está entre esses pesquisadores. Junto com outros estudiosos, ele fazia expedições à Amazônia. Em uma dessas excursões, Ducke sugeriu a criação de uma área de preservação permanente nas proximidades de Manaus. Mais tarde esse lugar recebeu o sobrenome do pesquisador, Reserva Florestal Ducke ou

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Walter Adolpho Ducke (1876·1959)

Reserva Ducke. Entretanto, esse sonho passou por vários processos até se concretizar. O Projeto Resgate Histórico Sócio-Ambiental da Reserva Florestal Ducke, coordenado pela historiadora, pesquisadora do Inpa e bolsista do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR) Fapeam/CNPq, Eliane Oliveira Lima de Freire, fez um levantamento histórico do processo de concessão da Reserva Ducke ao Inpa. Com a criação do Inpa em 1952 e implementação em 1954, tornou-se necessário a criação de bases para a realização das pesquisas de campo. Assim os pesquisadores consultaram Ducke, que na época prestava assessoria ao Inpa. “A ideia era reservar um local que também serviria como atração turística e área de lazer, uma vez que no mesmo lugar seria criado um Jardim Botânico de Manaus. De acordo com Freire, o governo da época pediu que ele escolhesse uma área que visasse as espécies de valor econômico, como a copaíba e o pau-rosa. Ducke havia feito um “mapinha”, como ele mesmo chamava, da área escolhida para ser preservada. O espaço ficava localizado ao norte de Manaus, nas terras onde passa o Igarapé do Passarinho. Ao entregar o mapa aos pesquisadores o naturalista alertou da possível degradação da área, já que ainda não havia sido demarcada nem vigiada. Ao chegarem ao local os pesquisadores constataram a devastação provocada pelo extrativismo. Ele então os sugeriu que procurassem florestas primárias mais ao leste do ambiente indicado no mapa.


Só em 1957 o engenheiro agrônomo Roberto Onety Soares coordenou um inventário da área. De acordo com o estudo realizado por Freire, o difícil acesso e as chuvas constantes foram algumas das dificuldades enfrentadas pela equipe. Mesmo antes de pertencer oficialmente ao Inpa, a Reserva Ducke já servia como campo de pesquisa, onde jovens pesquisadores, técnicos, coletores e auxiliares de campo embrenhavam-se na floresta, abrindo picadas e coletando material para conhecer a natureza amazônica. Em 1961, a Reserva Ducke foi destinada a pesquisas silviculturais, cujo pioneiro foi o agrônomo Rubem Valle. Em 1961, Rubem Valle coordenou as primeiras pesquisas na futura reserva. “Eles nem sabiam ao certo o que fazer, coletavam em vários lugares, com o andamento das pesquisas perceberam que o interessante era pesquisar numa única área”, afirma Freire. As primeiras pesquisas foram de silvicutura. A maior parte dos pesquisadores era botânico ou agrônomo.

Título de Doação da área da Reserva Ducke ao Inpa

Finalmente em 28 de novembro de 1962 a lei nº 41 oficializou a doação de 10.000 hectares de terras do Estado, hoje localizada no Km 26 da AM-010 ao Inpa. Em 1963, o Instituto recebeu a escritura de doação da reserva Ducke.

desses anos de luta pela reserva. “Considero o Inpa um vitorioso por ter conseguido preservar essa área que antes estava a 20 Km de Manaus e hoje está dentro da cidade”, afirma pesquisadora.

Para Freire, o Inpa foi persistente, apesar da ação de grileiros e extrativistas. Foram encontrados documentos com sete processos de desocupação vencidos pelo Instituto ao longo

A Reserva Ducke abriga o Jardim Botânico de Manaus que ocupa uma área de 5km. O Jardim foi criado para aproximar e conscientizar a população nos arredores da reserva.

23 Imagem de satélite identificando a Reserva Ducke na área de Manaus (AM)


Criado em 1952 o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) possui uma relação íntima com a sociedade brasileira e mais ainda com a população amazonense, desenvolvendo novas maneiras de estudar a natureza e o meio ambiente de forma integrada a sustentabilidade.

INPA

> POR KLEITON RENZO

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O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) é um órgão da administração direta do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) tendo no início suas ações voltadas principalmente ao desenvolvimento de pesquisas taxonômicas, além de fazer estudos básicos da fauna e flora amazônica, o que permitiu através dos dados coletados a vanguarda dos projetos fundamentais de desenvolvimento para a Amazônia e o resto do Brasil. Hoje o Instituto possui pesquisas em andamento em toda a Região Norte, principalmente através de seus três outros núcleos em Porto Velho (RO), Boa Vista (RR) e Rio Branco (AC), além de outros dois centros de pesquisa, um em Santarém (PA) e outro em São Gabriel da Cachoeira (AM) ambos em estruturação. O que

para Adalberto Luis Val, diretor do Inpa, é de grande importância à pesquisa científica. “A Amazônia não possui paralelo igual no mundo (no que diz respeito a dados conclusivos sobre fauna e flora) e o Inpa tem a missão de suprir a carência de informação sobre o bioma amazônico. Os três núcleos de pesquisa fora do Amazonas são fundamentais para as ações do Instituto nas demais áreas do Norte, e o apoio recebido do MCT nos permitiu expandir os estudos para os centros de Santarém, no Pará, e o de São Gabriel”, explica Val. Somado aos núcleos próprios de pesquisas, o Inpa ainda conta com os acordos de cooperação técnico-científicos mantidos com as principais instituições de pesquisas e universidades do Brasil e do mundo, entre elas

FOTO: EDUARDO GOMES

Os desafios para a nova década do século XXI


Infraestrutura de pesquisa

IMAGEM ATRAVÉS DO GOOGLE EARTH

O Inpa tem sua sede situada em Manaus (AM), em uma área de 379.868,41 m² distribuido em três campi: A - Campus Aleixo I, com 255.736,49m²; B - Campus Aleixo II, com 49.131,92m² e C - Campus do V-8. O Instituto conta com 12 Coordenações de Pesquisa: Botânica, Biologia Aquática, Ecologia, Aquicultura, Tecnologia de Alimentos, Silvicultura Tropical, Ciências da Saúde; Produtos Florestais, Produtos Naturais, Entomologia, Ciências Agrônomicas; Clima e Recursos Hídricos além de um Núcleo de Pesquisas em Ciências Humanas e Sociais e o Programa de Coleção e Acervos Científicos. Adicionalmente o Inpa possui três Reservas Florestais: Reserva Ducke e Walter Egler no Amazonas e Ouro Preto d’Oeste em Rondônia, quatro Estações Experimentais no Amazonas (Silvicultura Tropical, Fruticultura, Hortaliças e Agricultura de Várzea), duas bases flutuantes (Catalão - no Encontro das Águas, e base Tarumã no Rio Negro), um laboratório flutuante e um barco de pesquisa.

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... o Inpa tem a missão de suprir a carência de informação sobre o bioma amazônico.

a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Essas cooperações ajudam oferecendo celeridade ao processo de pesquisa, além de multiplicar o alcance dos resultados. Como consequência: o desenvolvimento do país, geração de renda, crescimento e auto-suficiência. Focos institucionais “Gerar e disseminar conhecimentos e tecnologia e capacitar recursos humanos para o desenvolvimento da Amazônia”. Com essa missão definida em 2005, através de um planejamento estratégico objetivando uma integração maior entre as áreas de pesquisa, o Instituto definiu quatro Focos que integrarão as ações realizadas pelos 68 grupos de pesquisa cadastrados junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), de maneira a preencher as lacunas de conhecimento e para responder às demandas relativas aos ecossistemas amazônicos. São eles: 1. Biodiversidade: Conhecimento da diversidade biológica da região Amazônica quanto a sua origem, caracterização, distribuição, interação com o meio, evolução, “monitoramento”, prospecção, manejo, uso e conservação; 2. Dinâmica Ambiental: Integra conceitos direcionados ao entendimento do ecossistema amazônico nos seus diferentes componentes físicos, biológicos e sociais; 26

3. Tecnologia: Aplicação do conhecimento desenvolvido pelo Inpa sobre os recursos naturais no desenvolvimento de técnicas, processos e produtos que atendam as demandas

socioeconômicas em prol do desenvolvimento sustentável da Amazônia; 4. Sociedade e Ambiente: Dinâmica das populações humanas na Amazônia e suas implicações socioambientais, com vistas à mutação da qualidade de vida nos seus diversos aspectos. Segundo Val, a definição desses quatro pilares de pesquisa permite ao Inpa desenvolver ações diretamente relacionadas à compreensão da Amazônia de forma objetiva. “Aproximando os diversos setores de pesquisas de nossas coordenações, buscamos explorar interfaces de melhoria na produção das informações sobre a nossa região, bem como criar as bases para a união da ciência e da educação. Só assim manteremos a floresta em pé com geração de renda e inclusão social”. Pesquisa, bem estar e educação Em 2010, somando-se todos os processos em desenvolvimento, o Inpa conta com 290 projetos de pesquisas em andamento financiados com recursos próprios ou de investidores externos interessados nos resultados dos trabalhos. Além disso, conta ainda com os grupos de pesquisas cadastrados no CNPq. Essa produção científica se dá em razão dos anos de desenvolvimento alcançados pelo Instituto em um dos principais programas de capacitação do Instituto: o Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais (PPG-BTRN), que desde sua criação em 1973 já formou mais de 1.300 cientistas entre mestres, doutores e especialistas (veja tabela). As principais linhas de pesquisa procuram contemplar estudos sobre o ecossistemas aquáticos e terrestres, sobre a interação dos organismos com o meio ambiente e principalmente sobre a dinâmica da maior bacia hidrográfica do Brasil e seus ciclos biogeoquímicos.

FOTO: TABAJARA MORENO

Dr. Adalberto Luis Val, Diretor do Inpa


“O que sabemos ainda é pouco sobre a floresta e as suas delicadas interações que durante o processo evolutivo permitiu a vida de seu complexo ecossistema. Estudar e compreender essas interações é vital para termos meios de prever ações futuras de modo a manter a floresta preservada”, ressalta Val. O MCT atua também em conjunto a outras instituições de ensino superior do Amazonas criando parcerias que ajudam na produção de conhecimento cientifico no Estado. Além de projetos direcionados ao público externo, como o programa Pequenos Guias, criado em 1994 para crianças a partir de 11 anos, e também aos servidores terceirizados da Instituição com o Projeto de Capacitação do Ensino Escolar (PCE) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Semed), cujo objetivo é formar os servidores que não conseguiram frequentar a escola. Nos últimos três anos o PCE já formou 28 pessoas no ensino fundamental. Investindo em C & T

Curso*

Criação

Mestres

Botânica

1973

139

65

3

Ecologia

1976

243

62

5

Entomologia 1976

194

58

4

Ciências da Água Doce e 1976 Pesca Interior

250

64

4

Ciências de Florestas Tropicais

1980

Genética, Conservação e Biologia 2003 Evolutiva Agricultura no Trópico Úmido Clima e Ambiente

Doutores CAPES

150

7

4

41

7

4

2004

39

-

3

2007

3

1

Sem Avaliação

Fonte: Coordenação de Pós-Graduação. * Nome do Curso, data de criação, número de Mestres e Doutores formados e conceito avaliado pelo CAPES.

com a reforma e construção de novos prédios administrativos e laboratórios, um auditório e a reestruturação da rede interna e de internet. Para isso foi liberado pelo MCT o equivalente a R$ 70 milhões de reais, a serem aplicados a

FOTO: TABAJARA MORENO

Desde 2007, com a aprovação do “Projeto Grandes Vultos”, que subsidia a ampliação e modernização da infra-estrutura do Inpa para o estudo da biodiversidade e sustentabilidade dos ecossistemas amazônicos frente às mudanças globais, o Instituto passa por mudanças significativas em sua estrutura de pesquisa nos seus três campus, prioritariamente

Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais · PPG-BTRN

27 Criado há mais de 15 anos, o projeto Pequenos Guias ajuda na conscientização sobre a preservação do meio ambiente através dos jovens.


partir de 2008 por um período de três anos. Segundo Estevão Monteiro de Paula, Coordenador de Ações Estratégicas (COAE) do Inpa, esses investimentos visam dar apoio para as atividades de pesquisa desenvolvidas no Instituto através da melhoria da infraestrutura tecnológica subsidiando ao pesquisador maior desenvoltura ao trabalhar sem restrições de conexão e armazenamento de dados.

“O novo sistema dará mais credibilidade ao departamento e isso será essencial para manter a confiança do pesquisador nos servidores de dados do Inpa”, afirma Lima. A estimativa é que até o segundo semestre de 2010 o Inpa já esteja conectado internamente com 10GB de velocidade em sua rede. “Essa velocidade de conexão interna é a mesma usada pelo MCT. Hoje o Inpa faz parte de uma rede junto a outras dez instituições de pesquisa, então o Instituto precisa oferecer uma navegação rápida para seus usuários. Entre os serviços, destaco a melhoria do Sigtec, do sistema de suporte ao usuário, de fluidez de dados e a otimização do e-mail interno”, comenta.

Todo o investimento é feito para dar mais segurança aos usuários do Inpa...

Com os recursos provenientes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por meio do projeto “Grandes Vultos” e “Projeto Infra”, o Inpa reestruturou 40% de seu parque tecnológico. A informação é de Moysés Lima, gerente do Grupo Técnico de Informática (GTI) do Instituto. Segundo ele, esse primeiro investimento foi usado para equiparar a rede interna de comunicação à velocidade usada no MCT, em Brasília,

Revitalização da infraestrutura Segundo Marden Pimenta, gerente de Redes do Inpa, até final de fevereiro serão trocados

28 Através do Projeto Grandes Vultos, uma das obras de maior importancia para 2010 é construção do novo prédio administrativo do Inpa

FOTO: MÁRIO BENTES

Rede Interna começa a ser modernizada

e principalmente modernizar os equipamentos visando oferecer, em médio prazo, melhores serviços aos servidores e funcionários.


FOTO: DIVULGAÇÃO INPA

São sabonetes líquidos e sólidos, cremes antioxidantes e emulsões a base de óleos de Pupunha (Bactris gasipaes H.B.K) e Buriti (Mauritia flexuosa); produtos de uso doméstico para proflaxia bucal e produtos de uso profissional em consultório odontológico

os cabos de fibra ótica que fazem a ligação dos três campus do Instituto. “A primeira fase de troca já está completa e estamos interligando os prédios do campus I. Na segunda quinzena de fevereiro vamos finalizar as instalações dos outros dois campus”, disse Pimenta. Ainda nos próximos meses de fevereiro e março, o Inpa passará por mudanças significativas em sua estrutura de internet, saindo da conexão via cabo para implantar um sistema Wi-fi (tecnologia de interconexão entre dispositivos sem fios) baseado num modelo de rede conhecido como “Mesh”. Lima explica que esse sistema é chamado de “rede orgânica”, uma vez que possui capacidade de se auto-gerenciar através de um “sistema inteligente”. Dessa maneira, quando a conexão fica saturada ou sobrecarregada em determinado ponto da rede, o sistema compensará o tráfego por meio de outros pontos menos utilizados, mantendo o fluxo de conexão estável.

Patente: reconhecimento e soberania Os novos produtos e processos desenvolvidos pelo Inpa têm aplicação na produção agrícola, controle de doenças e pragas e purificação de água, bem como fabricação de papel de cauaçu e bolinhos pré-prontos de peixe da Amazônia, entre outros. Esses são resultados efetivos das pesquisas patenteadas junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A Divisão de Propriedade Intelectual (DPIN) é o primeiro lugar que o pesquisador precisa ir para resguardar os resultados de anos dedicados a pesquisa. Novos pedidos de patentes, por motivos de segurança são mantidos sob sigilo por 18 meses a contar da data de inscrição. “Com isso o Inpa vai divulgar produtos e processos de viabilidade econômica, dando retorno à sociedade e assim popularizando a ciência”, explica Rosangela Bentes, chefe da DPIN.

Vamos oferecer, além de tráfego rápido aos usuários da nossa rede, um sistema seguro e estável

Todos os investimentos, segundo Pimenta, acontecem para garantir mais segurança aos usuários do Inpa, principalmente para que os pesquisados possam armazenar dados das experimentações científicas. “Vamos oferecer, além de tráfego rápido aos usuários da nossa rede, um sistema seguro e estável. A rede institucional ficará funcional no mínimo 99% do tempo. Em outras palavras, não haverá queda em momento algum, salvo algum período de manutenção do sistema”, afirma.

Somados aos nove pedidos de patente de 2009 e os dez depositados este ano (seis já estão em processo de avaliação, e quatro são esperados para o primeiro trimestre de 2010) o Inpa possui hoje 33 patentes sob registro. Todos esses produtos tiveram o incentivo da Incubadora do Inpa, que fornece condições para que o pesquisador tenha mais celeridade no processo de pesquisa e possa viabilizar a invenção no mercado consumidor.

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SUSTENTABILIDADE

sustentabilidade

30

> POR DANIEL JORDANO

Civilizações que viviam na América antes da chegada de Colombo detinham conhecimentos avançados sobre tecnologias que eram geralmente aplicadas em seu dia-a-dia. Astecas, Maias e Incas são ícones citados ao longo da História. Esses três povos, dizimados pelos colonizadores, podem dar uma ideia de como as nações indígenas antigas podem ter desenvolvido técnicas para sobreviverem em meio a floresta. Na Amazônia, os indígenas deixaram vestígios do uso racional dos recursos, em especial do solo. É o que os cientistas chamam de terra preta de índio.

História e processo

Segundo os especialistas, em toda a Amazônia é possível encontrar manchas de terras pretas de índio de coloração preta ou marrom escuras, com elevado nível de fertilidade, contendo pedaços de cerâmicas. Ainda de acordo com os pesquisadores, a terra preta de índio foi um processo feito de forma empírica por povos indígenas antigos que viviam na região antes mesmo da chegada dos colonizadores. Os índios faziam uma queima controlada dos resíduos orgânicos das roças e de todo material orgânico de origem vegetal, como restos de caça e pesca por exemplo. A queima de todo esse material em baixas temperaturas (300 a 400º C) pro-

FOTOS: NEWON FALCÃO

Uma semente para a


porcionou a produção de um tipo de carvão - carvão pirogênico ou Biochar- com características e propriedades químicas e físicas muito diferentes do carvão comum. O Biochar, além de agir como condicionador físico, químico e biológico do solo, serve como corretivo de acidez e fonte de nutrientes aumentando a fertilidade do solo. Para comprovar todas essas informações, um grupo multidisciplinar de pesquisadores participa do projeto Terra Preta Nova, liderado pelo pesquisador da Coordenação de Ciências Agronômicas do Inpa, Newton Falcão. Com base nas pesquisas desenvolvidas nos últimos anos com as terras pretas de índio, Falcão afirma que os índios manejavam o fogo de forma racional. “Eles sabiam a época ideal para queimar, sabiam também quais espécies eram mais interessantes, era uma queima controlada”, enfatizou. Atualmente é possível encontrar diversas comunidades de pequenos produtores trabalhando nessas manchas de terra preta de índio na Amazônia. Algumas comunidades estão assentadas e produzindo alimentos há mais de 150 anos. O mais importante é que o solo continua fértil e produtivo.

O Projeto Terra Preta Nova O projeto, que é multidisciplinar, reúne várias linhas de pesquisa nas áreas de Solos e Nutrição de Plantas, Etnobotânica e botânica econômica, Microbilogia do Solo, Antropologia, Arqueologia, Geografia, dentre outras, e tem como base três aspectos definidos dos quais dois estão diretamente ligados as melhorias das condições de vida dos povos da região: recuperação de áreas degradas e agricultura familiar com segurança alimentar. Depois de compreender como foi o processo de formação da terra preta de índio, os cientistas fazem agora um trabalho para tentar repetir a técnica feita pelas civilizações pré-colombianas. O sucesso dos estudos com a terra preta de índio pode implicar diretamente no equilíbrio da relação entre homem e floresta. A recuperação das áreas degradadas por meio da combinação de tecnologias modernas e tradicionais de manejo da fertilidade do solo pode gerar, segundo Falcão, uma maior produção de alimentos e assim evitar o avanço de desmatamento na Amazônia. “Na agricultura itinerante a cada dois, no má-

ximo, três anos, o pequeno produtor abandona e abre outra área. Se pensarmos num ciclo de 20 anos na pior das hipóteses, ele desmatou de 15 a 20 hectares. Mas se a gente conseguir desenvolver tecnologia semelhante aquelas aplicadas pelos povos indígenas, acelerando o processo de formação das terras pretas de índio, aí sim, poderíamos afirmar que um pequeno produtor poderia produzir seu alimento por longo tempo (10 ou 15 anos) em uma mesma área, evitando com isso, desmatar novas áreas de floresta primária” disse.

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FOTO: NEWTON FALCÃO

O projeto atua nos municípios amazonenses de Presidente Figueiredo, Manacapuru, Iranduba e Novo Airão. Na Costa do Laranjal em Manacapuru, por exemplo, o estudo acompanha o cultivo feito por famílias que tradicionalmente já trabalham em áreas de terra preta de índio.

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terra preta de índio pode ser encontrada desde a Cordilheira dos Andes até a Ilha do Marajó, no Pará. De acordo com Falcão, o projeto ainda não pode ser considerado uma alternativa para a agricultura na região, mas deve servir como um modelo a ser trabalhado. “A terra preta é um modelo que os pesquisadores estão trabalhando para ver como aplicar no manejo do solo, na recuperação das áreas degradadas e no terceiro ponto do nosso projeto que é o sequestro de carbono”, disse.

O vice-líder do projeto, Charles Clement, do Inpa, explica como o estudo atua e destaca o papel da pesquisa, principalmente para os ribeirinhos. “Os índios e os caboclos atuais usam a terra preta para a produção de alimentos e plantas medicinais. Nós estamos trabalhando sempre com a ideia de ver quais as plantas se adaptam melhor a terra preta. Acreditamos que os índios plantavam milho. Grãos que não são da região e crescem melhor em terra preta”, disse.

O trabalho com biochar está em evidência no mundo todo. E é justamente este terceiro item que se concentra a maior importância.

Neste caso é feito um inventário sobre as espécies que podem ajudar no manejo do solo. A

O motivo é simples, o biochar pode ajudar no sequestro de carbono, item internacionalmente

O Biochar


debatido. O biochar é a carbonização, ou seja, a queima de qualquer material verde feito em máquinas nos laboratórios. Os especialistas estudam quais espécies de plantas podem ser usadas para a produção do biochar e assim inserir no solo. O Inpa foi um dos primeiros institutos no mundo a utilizar a técnica. Parcerias com as universidades de Michigan e da Flórida, ambas nos Estados Unidos, foram firmadas para estudar o assunto. De acordo com o pesquisador do Inpa, Afrânio Neves, que faz parte do projeto, a ligação entre o aquecimento global e as pesquisas com o Biochar se deu a partir da descaoberta do material encontrado na terra preta de índio. “Se a gente aprender como fazer esse carvão que está presente na terra preta de índio, vamos estocar carbono e fazer a terra ficar fértil por mais tempo”, disse.

As pesquisas com terra preta de índio começaram em 1966 com o cientista holandês Wim Sombreak, mas os estudos avançaram mesmo a partir de 2000, quando especialistas do mundo todo debateram a importância do tema. Em relação à Amazônia, o marco das discussões ocorreu em 2002 quando foi realizado em Manaus um pós Workshop internacional coordenado pelo Inpa. Já existe uma rede internacional de pesquisadores que reúne mais de 150 especialistas, todos em busca da técnica que os índios précolombianos já usavam. Uma prova que o estudo da história aliado ao conhecimento científico pode ajudar e muito as novas gerações para que um dia o homem possa conciliar a preservação ambiental com a sustentabilidade econômica.

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> POR EDUARDO GOMES

Nos últimos anos, muito se ouviu falar em aquecimento global, desenvolvimento sustentável, ciclos hidrobiológicos e mudanças climáticas. Todos os olhos estiveram voltados para a Amazônia na intenção de discutir sobre as questões ambientais, evitar as ações danosas do homem contra a natureza e propor caminhos para o tão sonhado desenvolvimento sustentável da região. Foi justamente para se posicionar frente a este quadro, refletindo criticamente sobre a realidade amazônica e lançando ideias para incrementar iniciativas e subsidiar políticas de Estado, que em 2007 foi criado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia(Inpa/MCT) o Grupo de Estudos Estratégi-

cos Amazônicos (GEEA). Desde sua criação até agora, o GEEA é coordenado pelo diretor do Inpa, Adalberto Luis Val, tendo como secretário executivo o pesquisador, também do Inpa, Geraldo Mendes. Formado por profissionais gabaritados, autônomos ou oriundos de instituições de ensino, gestão e pesquisa, igreja e outros setores da sociedade, o GEEA surgiu a partir da percepção de que os órgãos públicos e privados, bem como os cidadãos em geral, demandam por informações claras e objetivas a respeito da natureza e dos fatos amazônicos. Muitas dessas informações têm um embasamento teórico complexo e são resultado de anos de investigação, mas atingem o cotidiano de todos, servindo como fundamento e orientação para delimitar opções

FOTO: THARCILA MARTINS

IMPACTO AMBIENTAL

Grupo de estudos populariza conhecimento científico na Amazônia


relativas à alimentação, saúde, higiene e lazer, entre outras questões. Segundo Val, a participação de representantes de vários segmentos sociais no GEEA é bastante importante. “O GEEA busca reunir pessoas com formações profissionais distintas para, a partir de uma abordagem técnica, ter uma visão de conjunto sobre a problemática da Amazônia”, declarou. Decodificando o conhecimento científico Em seus três anos de existência o grupo de estudos realizou nove reuniões. Dessas, o GEEA deu origem a duas obras literárias que disponibilizam a opinião e posição de seus membros acerca dos problemas ambientais e sociais da região. A obra intitulada Caderno de Debates do GEEA foi organizada e publicada pelo próprio Inpa, por meio de sua editora, sendo considerada como uma iniciativa para popularizar a ciência e tornar a linguagem científica mais acessível. A primeira edição do livro é fruto das três primeiras reuniões e foi publicada em 2008. Nela são abordados os seguintes temas: mudanças climáticas, água no mundo moderno e biodiversidade amazônica. Criado há três anos, o GEEA conta com a participação e apoio de algumas instituições de ensino e pesquisa que atuam na região, como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Faculdade Martha Falcão (FMF) e Universidade Nilton Lins (Uniniltonlins). Também constam na lista de parceiros a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e Fundação Djalma Batista (FDB). Para o secretário-executivo do GEEA, os frutos gerados pelo grupo podem servir de base para informações a diversos grupos sociais. “Estamos formando uma plataforma de longo prazo para servir de alicerce de informações públicas”, afirmou. O grupo de estudos foi instituído inicialmente por 33 membros, mas tanto o número, quanto os nomes dos participantes têm variado em função da natureza dos temas debatidos. “O importante é que as reuniões sejam efetivadas e tenham a contribuição de pessoas interessadas, versadas no assunto e perceptivas aos ideais do grupo”, afirma Mendes. As reuniões do GEEA ocorrem três vezes ao ano,

sendo que em cada uma delas é debatido um tema distinto, sendo assim, todos eles considerados relevantes para a Amazônia. O primeiro palestrante no grupo foi Antonio Ocimar Manzi, gerente executivo do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA). Em sua apresentação, o pesquisador relatou que o aumento na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, após a revolução industrial, afeta diretamente importantes setores da humanidade. “As mudanças climáticas globais, provocadas pelo aumento da concentração de gases de efeito estufa, após a revolução industrial, afetam todos os setores da atividade humana e os ecossistemas, como por exemplo, a saúde pública, a agricultura, os recursos florestais, os recursos hídricos e as áreas costeiras”, afirma Manzi. Para Philip Fearnside, pesquisador do Inpa e um dos colaboradores do artigo de Manzi, uma das formas mais importantes de diminuir o fluxo de emissões dos gases é a redução do desmatamento. “O não desmatamento é um meio de transformar o valor dos serviços ambientais da floresta e para manter a população humana que a defende”. Fearnside ainda alertou para o fato de que o choque pode ser ainda maior, caso as emissões continuarem sendo feitas na mesma quantidade. “O efeito estufa é uma ameaça séria para o mundo inteiro e a Amazônia é uma dos lugares onde se espera que os impactos sejam mais severos se a emissão de gases de efeito estufa continuar descontrolada”, observou Fearnside. Para outro membro do Grupo, o poeta Thiago de Mello, é notável para qualquer pessoa a situação em que se encontra a Amazônia, porém ele tenta ver os problemas ambientais com a esperança de que este quadro possa ser revertido ou pelo menos que as agressões à natureza diminuam. “Não precisa ser cientista para saber o que estão fazendo com a vida da nossa floresta. Apesar de todas as ferocidades que estão acontecendo todo dia contra a vida, sigo acompanhando aqueles que acreditam na utopia de que a nossa pátria água será salva”, afirma Mello. “Estratégias para conservação e consumo da água no mundo moderno”, apresentado pela pesquisadora do Inpa, Maria Tereza Piedade, e “o valor, potencialidades e riscos da biodiversidade amazônica”, apresentado pelos pesquisadores Charles Clement e Cláudio Vasconcelos, foram os outros temas tratados no Tomo I do Caderno de Debates. Nessa obra, outro assunto muito bem lembrado pela pesquisadora do Inpa, Ilse Walker, é que a preservação tem que ser pensada em grandes propor-

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As reuniões do GEEA contam com a presença de especialistas de diversas instituições de ensino e pesquisa

ções, ou seja, não se pode pensar em preservar apenas a Amazônia, mas vários outros lugares, como Irã, Iraque, Austrália e China. “Lembro que toda a terra era formada por floresta alta, antes do ser humano descobrir o fogo, por isso é hora de tentarmos devolver a ela o que dela foi roubado”, afirma Walker. Em 2009, o GEEA lançou a segunda edição do caderno de debates, dando continuidade ao trabalho de documentação de apresentações que já vinham sendo feitas. Desta vez, a obra trata de recursos pesqueiros, tema apresentado pelo pesquisador Efrem Ferreira; a ciência contemporânea e o conhecimento indígena, apresentado pela pesquisadora da Fiocruz, Luiza Garnelo e Gilton Mendes; e as doenças tropicais, apresentado por Heitor Dourado. Dentre os pontos abordados a respeito da análise sobre recursos pesqueiros, foram abordados os vários tipos de aparelhos usados nas pescarias amazônicas, áreas de pesca, número anual da produção pesqueira e os entraves ao desenvolvimento do setor pesqueiro. De acordo com Mendes, a educação e a ciência têm um papel de grande relevância a desenvolver, mas a efetivação disso só acontecerá com uma urgente mudança de mentalidade da população. “O homem precisa amar a natureza por ela mesma e não apenas para explorar e comercializar seus produtos”.

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Para, outro membro do grupo, o vice-diretor do Inpa, Wanderli Tadei, as questões de saúde discutidas no GEEA são de suma importância para que possam evitar maiores problemas para a sociedade, especialmente os provocados por doenças denominadas tropicais.

Ainda no ano de 2009 o GEEA deu continuidade aos seus trabalhos tratando dos seguintes temas: recursos madeireiros, apresentado pelo pesquisado Niro Higuchi, geodiversidade, pelo geólogo Daniel Nava e sociodiversidade, apresentado pelo pesquisador Alfredo Wagner. Com isso a produção da terceira edição do Caderno de Debates está em andamento e, segundo o secretário-executivo do grupo, a publicação será lançada ainda no primeiro semestre de 2010. Segundo os organizadores da obra, Val e Mendes, a participação do leitor é de grande relevância para que os objetivos do GEEA sejam alcançados. “Temos plena convicção de que para atingir tais objetivos a participação do leitor é indispensável e por isso esperamos que a obra seja lida com o mesmo entusiasmo com que foi feita”, explicam os organizadores. Aqueles que tiverem interesse em conhecer a obra podem dispor de exemplares à venda na Biblioteca e Editora Inpa, ambas localizadas no campos I do Instituto, na avenida André Araújo, 2936, Aleixo. Mendes destacou que a relevância do grupo se deve principalmente a participação de pessoas que acreditaram no trabalho realizado pelo GEEA. “Essa perenidade e sucesso podem ser atribuídos a vários fatores, mas três deles são preponderantes e complementares: a participação de seus membros, o apoio das instituições às quais pertencem e a crença de todos na importância de sua missão”, conclui.


> POR JOSIANE SANTOS

Aprender brincando e de forma prazerosa. Esse é o principal objetivo para a criação dos jogos lúdicos desenvolvidos pelo Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental (Lapsea) e o Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCT). Os cinco jogos são voltados para crianças e adolescentes e têm o objetivo de ensiná-los sobre a biodiversidade Amazônica, educação ambiental e o conhecimento do Bosque da Ciência, além de servir como material de apoio a professores na sala de aula. A ideia da criação do projeto foi de Solange Farias, coordenadora do projeto. Ela adaptou jogos já existentes utilizando o contexto regional.

O funcionamento dos jogos é simples e pode ser aproveitado mudando apenas o tema. A equipe conta com seis pessoas, entre pesquisadores, designers, duas bolsistas e apoio técnico, que auxiliaram desde criação até os testes finais dos jogos. De acordo com a pesquisadora Maria Inês Higuchi, no processo de desenvolvimento dos jogos, eles foram testados com os pequenos guias e com os jovens pesquisadores e adaptados conforme necessidades que vinham surgindo. Durante os testes foram selecionados um grupo de alunos conforme a idade e testados por cada grupo. Os pontos avaliados eram a estética do jogo (cores), grau de aprendizado, interatividade (proporcionar maior interação e motivação) e análise científica.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Uma forma divertida de aprender ciência

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Alguns jogos passaram por muitas modificações até chegar ao resultado final, um deles foi o jogo “Roleta Russa”. É um jogo que testa o conhecimento sobre a biodiversidade, a fauna e flora Amazônica e as mudanças climáticas da região. Todos os jogos desenvolvidos foram planejados para incentivar, pois podem ser jogados em grupo. No momento, o Inpa não tem disponíveis os jogos para comercialização, mas segundo Higuchi, a equipe está preparando um material eletrônico para disponibilizar a professores e interessados, explicando o funcionamento, didática, objetivo e material necessário para a aplicação dos jogos. Outros jogos estão sendo desenvolvidos pela equipe para os próximos anos. Aprender ciência através de histórias Outro importante trabalho que serve de apoio aos professores são as histórias da garota Zizi. As histórias de Zizi fazem parte do projeto Peixe, Ambientes e Rios da Amazônia Legados Excepcionais da Região e da coleção Ciência é Legal Infantil. Zizi é uma adolescente de 11 anos, esperta e cheia de traquinices, vinda de São Paulo para Manaus. A mudança de ambiente desperta curiosidade sobre sua nova cidade, por isso procurou conhecer a região, antes da mudança, através de livros e revistas. No primeiro volume, a história é sobre o novo amiguinho da Zizi, o peixinho Cacá. Seu pai achando Zizi muito sozinha deu de presente um aquário cheio de peixes da região Amazônica. Juntos aprendem sobre a diversidade de peixes da região. A pesquisadora e supervisora do projeto, Vera Val, afirma que o livro é dedicado para todo o público e que o objetivo é levar a ciência e o conhecimento de forma concreta. Para a pesquisadora, conhecer a região amazônica e incorporá-la ao patrimônio brasileiro é uma forma de assegurar a proteção e cuidado que a região precisa. “Ninguém cuida daquilo que não conhece”, afirma Val.

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Nos cincos volumes, os leitores conhecerão a lenda do pirarucu; acompanharão Zizi em uma visita ao Lago do Janauacá – lago característico de várzea, localizado no rio Solimões – onde Zizi irá participar de uma pescaria e conhecer o Tambaqui, o Encontro das Águas, a Vitória Régia; aprenderão junto com Zizi os tipos de Tucunaré, habitat e as histórias do Tucanaré; além dos vários tipos de peixes ornamentais da região Amazônica.

Um projeto ainda em fase de finalização é o livro que reúne todas as aulas ministradas pelos pesquisadores às crianças do Lapsea, sobre respiração, alimentação, clima, vegetação, ambientes aquáticos, entre outros temas, ainda vem acompanhado de um caderno de atividades para praticar o aprendizado. As aulas foram produzidas para crianças de 1ª a 4ª série. Projeto Pequenos Guias Tanto os jogos, como a coleção de livros, auxiliam na formação dos pequenos guias, que existe desde 1994 e é executado pelo Lapsea. Nesses 15 anos de existência, já participaram 862 adolescentes. O projeto consta de três fases educacionais distintas: formação educacional crítica, atuação e interação no Bosque da Ciência e participação cidadã, fase que compõe o Projeto Jovens Ambientalistas. A etapa de formação dos pequenos guias é de seis a oito meses. Ela se caracteriza pela formação e capacitação dos adolescentes. As aulas são semanais, em horários alternados ao da escola, e os temas são relativos ao desenvolvimento psicossocial do adolescente, cidadania, cultura, ecologia, turismo e informações básicas sobre o Bosque da Ciência. Na atuação como guia pelo Bosque da Ciência, período que dura um ano, os pequenos guias acompanham os visitantes pelas trilhas do Bosque e fornecem informações simples sobre os centros de visitação, num exercício de cidadania, repassando seus conhecimentos a outras pessoas. Os jovens atuam no Bosque da Ciência uma a duas vezes por semana, no turno da tarde. Ao término da fase de atuação os adolescentes têm a oportunidade de participar do Projeto Jovens Ambientalistas, onde participam de eventos e atividades socioambientais promovidos pelo Inpa e outras instituições. A turma de 2010 já foi selecionada e 34 adolescentes serão os Pequenos Guias deste ano.

Sucesso dos projetos A pesquisadora Veral Val revela o sucesso da coleção nas escolas e entre os professores, principalmente no município de Barcelos. A coleção já foi publicada, a ideia é que todas as coleções sejam lançadas em um único livro. Val adianta que a equipe tem trabalhado para lançar no próximo ano, uma coleção sobre a evolução em comemoração aos cem anos de Darwin e outros temas abordando temas amazônicos.



Criado como um projeto de cooperação científica internacional, inicialmente com sede no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é coordenado desde 2003 pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que responde pela sua corrdenação científica e por sua implantação. O LBA é atualmente um Programa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) que manteve seu carater de cooperação internacional. O LBA busca compreender o funcionamento dos ecossistemas amazônicos como entidade regional e como ela influência o clima global. Além de entender como as mudanças de uso da terra na região e as mudanças climáticas globais podem afetar o clima regional e o funcionamento físico, químico e biológico dos ecossistemas amazônicos. Nestes dez anos o LBA gerou os seguintes resultados: 150 projetos de pesquisas de ciência de ponta; 280 instituições parceiras; 1.400 pesquisadores brasileiros; 900 pesquisadores de países amazônicos, de instituições americanas e de 8 países europeus; 500 mestres e doutores formados e 2.000 artigos publicados.

Escritório Central Programa LBA / INPA

Av. André Araújo, 2.936, Bairro Aleixo, 69060-001, Manaus - AM Tel: +55 92 3643-3238 / 3236-5131 / 3236-5205 e-mail: lbamao@inpa.gov.br http://lba.inpa.gov.br


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