Ciência para todos - Nº. 06

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INPA Revista de divulgação científica do

Ciência para todos

Dezembro de 2010 · nº 06, ano 2 (Distribuição Gratuita) ISSN 19847653

Fruto promissor Que embeleza, que cura e que alimenta HIDRELÉTRICA Estudo analisa impactos em Balbina

ENCONTRO Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia são avalidos

ESPECIAL Saiba o que é mito e verdade sobre o Poraquê


Evelin Quinone/Editora inpa


EDITORIAL

Pesquisas que beneficiam a sociedade

o

trabalho incansável de cientistas do instituto nacional de pesquisas da amazônia (inpa/MCt) revela a cada resultado publicado o grande potencial de uma região rica em biodiversidade, que apesar disso também revelase frágil quando a ação humana é empregada de forma errada sem levar em conta o conhecimento científico e as técnicas de conservação. Esta edição da revista Ciência para todos traz ainda uma reportagem sobre um dos maiores empreendimentos feitos na amazônia, a Hidrelétrica de Balbina, em uma pesquisa inédita que avaliou os reais impactos ao meio ambiente e as soluções para os problemas enfrentados. Mas antes de ser um problema, as pesquisas na amazônia relevam que a ciência pode contribuir para melhorar a vida das pessoas, como os estudos sobre o cubiu, uma fruta amazônica de grande potencial vitamínico e que também pode ser usada como matéria prima para cosméticos. além disso, há ainda os estudos com o pau-rosa que também pode ser utilizando em produtos de beleza, ou seja, a ciência transformando matéria-prima amazônia em produtos e processos que geram renda. as discussões sobre a atuação do homem sobre a natureza e as formas de incentivo às pesquisas, que foram debatidas na 1ª reunião nacional dos institutos nacionais de Ciência e tecnologia

(inCt’s), onde cientistas de todo país discutiram a melhor forma de levar os resultados das pesquisas à sociedade, também fazem parte desta revista. É claro que a região ainda enfrenta obstáculos, principalmente quando se trata de doenças que atingem a população como a leishmaniose. a doença é foco de pesquisa do inpa que tem um trabalho que vai desde o estudo em laboratório da doença e formulação de medidas que servem de base para ação pública até a conscientização das pessoas. apesar dos desafios, cada pesquisa indica que a floresta tem muito mais a oferecer se for mantida em pé. a biodiversidade da região representa um vasto campo de pesquisas para a ciência, único caminho para a conservação da flora e fauna e por consequência, a manutenção de animais como o poraquê ou peixe elétrico, presente nas lendas da região e extremamente importante para o equilíbrio ecológico nos rios. Ciência para todos mergulha nesse universo para desvendar o que é mito e o que é cientificamente comprovado desse representante da biodiversidade amazônica.

Boa leitura!

EXPEDIENTE Adalberto Luis Val diretor do inpa Wanderli Pedro Tadei vice-diretor do inpa Sérgio Fonseca Guimarães Chefe de Gabinete Estevão Monteiro de Paula Coordenador de ações Estratégicas - CoaE Beatriz Ronchi Teles Coordenadora de Capacitação CoCp Lúcia Yuyama Coordenadora de pesquisas e projetos - CopE Carlos Roberto Bueno Coordenador de Extensão - CoXt

Tatiana Lima Chefe da divisão de Comunicação Social Jornalista responsável MtB (4214/MG) Editor chefe daniel Jordano Secretário de redação Everton Martins Redação Eduardo Gomes Josiane Santos Clarissa Bacellar Wallace abreu Fotografias acervo pesquisadores Flavio ribeiro tharcila Martins Wallace abreu

Revisão tharcila Martins (000354/aM) SrtE Colaboradores aline Cardoso Jéssica vasconcelos rômulo araújo tharcila Martins Projeto Gráfico leila ronize rildo Carneiro Editoração Eletrônica rildo Fernandes Carneiro Artes e Ilustrações: daniel Santi e Flávio ribeiro Nossa Capa: Fruto promissor Que embeleza, que cura e que alimenta

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O que vem da Amazônia pesquisas avaliam o pontencial da biodiversidade amazônica

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SUMÁRIO

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Balbina

Estudo analisa os impactos de uma das maiores construções já feitas no amazonas

Cubiu

Da culinária aos cosméticos: Inpa realiza pesquisa com o fruto

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Leishmaniose: lixo pode aumentar índice da doença

Óleos essenciais da Amazônia: métodos e formas de conservação

Alimentos antioxidantes: você é o que você consome

Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) são avaliados

40 Ciência para todos mergulha no universo do Poraquê

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Made in Amazônia > POR ALINE CARDOSO

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s olhos do Brasil e do mundo estão voltados para a natureza como mercadoria, todos já sabemos disso. Sob o aspecto nacional essa cobiça não é nenhuma novidade na história do Brasil, como no período colonial com as drogas do sertão. Já no aspecto internacional, a França é um tradicional produtor de cosméticos e medicamentos e tem a amazônia em seu território, a Guiana Francesa, o que lhe permite manter esse status no mercado.

BIODIVERSIDADE

Sempre ouvimos falar em campanhas, discursos, lemos em informativos,

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vemos na tv o quanto é importante que a biodiversidade seja conservada, mas afinal, o que é a Biodiversidade? devemos ter em mente que a Biodiversidade é um sistema que engloba tudo que é e está vivo, mas esse conceito é muito abrangente e precisa ser delimitado.


Sim, pois podemos falar de biodiversidade oceânica, montanhosa, de cerrado, ou seja, precisamos definir não somente o bioma – conjunto de animais e vegetais presentes em uma determinada área em questão, que no nosso caso é a amazônia; e a sociedade, com seus grupos e classes sociais e de renda mediados pelo mercado e pela mercadoria de escala que pode ser local, regional, nacional, internacional e setorial, pois a sociedade não é homogênea e os interesses são diversos. Quando falamos em Biodiversidade, geralmente imaginamos que ela está exclusivamente presente na natureza somente nas plantas e animais. Certo? não! o homem é natureza porque é criador e criatura da mesma, e grande parte das suas ações interfere e transforma a biodiversidade que o cerca. Quer um exemplo? as árvores frutíferas estão sujeitas às pragas como formigas, lagartas e etc. os povos, a seu modo, criaram um jeito de fazer um pé de laranja ser mais resistente: en-

xertaram a laranja com o limão e conseguiram uma laranjeira mais imune aos ataques dos insetos que a destruíam. viu? a Biodiversidade é manuseável e ela é modificada de acordo com as necessidades daqueles que precisam dela. as necessidades são sociais, culturais, econômicas e políticas, esse é o detalhe fundamental, o econômico é a necessidade dominante, de alguns em benefício de outros, logo a biodiversidade - por ser meio de produção - é motivo de desigualdade social, uns se apropriam e outros são expropriados, formando as injustiças espaciais, a exploração e a desigualdade social. a Biodiversidade, a partir desse princípio, assume valor econômico e é um elemento que adquire caráter político, social, cultural e estratégico que pode beneficiar a sociedade de forma geral.

Como assim?

ora, já que ela é um elemento modificável, podemos fazer uso de modo que as demandas sejam atendidas conforme os interesses dos grupos sociais, econômicos e políticos. assim surgem as pesquisas, que são de suma importância para descobrir novos medicamentos, pomadas, óleos e produtos de beleza; entender e identificar estruturas sociais de fundamentos justos da sociedade.

Foto

S: aC Erv

o pE SQui Sado r

agroindústria para extração de óleo em Manaquiri/aM

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um estudo vem sendo realizado há cerca de quatro anos no instituto nacional de pesquisas da amazônia (inpa/MCt), com o laboratório de Bioprospecção na Coordenação de pesquisa de produtos naturais (Cppn), sob a responsabilidade dos pesquisadores Cecília verônica nunez (Cppn) e reinaldo Corrêa Costa (laboratório de Estudos Sociais – laES/inpa); com financiamento do Conselho nacional de desenvolvimento Científico e tecnológico (Cnpq) e tem o objetivo de analisar o uso econômico e social da biodiversidade; os bioprodutos e a comercialização destes e suas potencialidades fitoquímicas. Sabemos que o conjunto de vegetais e animais – biodiversidade – devem ser preservados, pois possibilitam que novas pesquisas sejam realizadas a fim de que o bem-estar da sociedade seja garantido através de produtos com finalidades medicinais ou cosméticas, produção de alimentos e justiça social ao ter a terra biodiversa como terra de trabalho e renda sem destruir os sistemas naturais. Mas, vejamos, é preciso haver um equilíbrio entre os processos de produção de bioprodutos e alimentos. a floresta deve permanecer em pé e a alternativa das comunidades que vivem nessas localidades é produzir matéria-prima para a indústria de bioprodutos, eventualmente, todos estarão envolvidos nessa atividade e a produção de alimentos pode ficar comprometida. a questão não é simples, o camponês será um produtor de alimentos ou será um produtor de matéria-prima para os bioprodutos? ou ainda é possível um equilíbrio entre a realidade alimentar nutricional e a lógica dos mercados? os grandes produtores agrícolas no Brasil hoje têm plantações quilométricas de soja, cana-de-açúcar e capim para as pastagens, mas não são eles os responsáveis pela maior parte da alimentação dos brasileiros, pois esses produtos são destinados às refinarias, à exportação, e ao biocombustível que é a grande promessa do mercado. Quem produz a maioria dos alimentos para todas as classes no Brasil é a agricultura familiar - o camponês.

Natureba

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o produto é natural, mas isso não significa que não se devem tomar certos cuidados com relação ao consumo deste. também é importante saber que os produtos com fins medicinais – aqui também chamados de fitofármacos – destinados à comer-

cialização devem ser registrados de acordo com as exigências da agência nacional de vigilância em Saúde (anvisa) a fim de se obter controle sobre o que está sendo comercializado e oferecer segurança à saúde de quem usufrui o produto final, o consumidor. o ramo de mercado da biodiversidade se divide em dois: a comercialização in natura e a produção e comercialização de bioprodutos semi-elaborados ou industrializados. a comercialização de produtos in natura não é recente e há em toda a parte do Brasil e do mundo. podemos ver em feiras e mercados em grandes ou pequenas cidades. Esses produtos são vendidos com finalidade medicinal/cosmética baseada em experiências empíricas, ou seja, do conhecimento popular - etnoconhecimento. Esse é parte essencial da cultura e do modo de vida de determinada comunidade. Com base nesse etnoconhecimento, os indivíduos comercializam e atuam como indicadores médicos sobre a funcionalidade das plantas, isto é, utilizam esse saber tradicional que é passado de geração para geração, para curar doenças e até mesmo criar chás, pomadas, óleos com finalidade estética, tudo sem o uso de instrumentos refinados de pesquisa ou de tecnologias avançadas. Essas comunidades estão inseridas em outro contexto na comercialização da biodiversidade. o outro ramo é a produção e comercialização dos bioprodutos usando ciência e tecnologia em seu processo – fitoterápicos e cosméticos – que são oriundos da biodiversidade da região. ainda dentro da cadeia de produção dos bioprodutos – que se dividem em duas categorias: medicamentos fitoterápicos e cosméticos – há alguns agentes sociais importantes que interagem para que esse processo seja bem-sucedido, como o camponês, o atravessador, o empresário e o Estado. a cadeia produtiva é determinada a partir das necessidades de mercado da região do setor, da infraestrutura, mão-de-obra e biotecnologia. Em Manaus, esse processo ocorre em bioindústrias, que podem ser de pequeno ou grande porte, que tem a finalidade de transformar a matéria-prima em bioprodutos. Essa matéria-prima é diversa e pode ser in natura ou bruta - frutas, cascas, caroços, raízes, semen-


tes e folhas - ou matéria-prima que haja novas possibilidades Pesquisa revela transformada – extratos vegetais, de descobertas que trarão beneoutro sentido para óleos essenciais e óleos vegetais. fícios à sociedade de um modo o conceito de a comercialização de produtos geral e possibilidade de terra de com base natural, principalmente trabalho, e não de especulação. biodiversidade; os cosméticos, tem levado vantaela enquanto gem sobre os demais por constar a Biodiversidade precisa ter em seus rótulos o nome “amaseu valor de uso – o próprio funmercadoria e meio zônia” ou por ser um produto da cionamento do sistema natural de sustento através “biodiversidade amazônica”. o resguardado – aproveitado e enda geração de renda nome amazônia tem um apelo tendido. por quê? o pesquisador ideológico muito forte, não soreinaldo Corrêa Costa comenta: mente nos títulos de pesquisas, “preservar a natureza é parte do mas também em produtos cujo discurso seja de valor de uso, isto é, a matéria-prima e manter os preservar o meio ambiente e de ser saudável para sistemas naturais protegidos. Monetarizando-a, o corpo humano. ou seja, havendo dinheiro – capital – envolvido, só preservará a natureza quem pagar, o que denoos processos aqui citados não têm a finalidade ta diferenças e classe de poder, e aí ela se transde levantar um questionamento sobre qual o mais formará em uma mera mercadoria”, afirmou. moderno ou o mais atrasado, qual o melhor ou qual o pior. ambos fazem parte de uma realidade que é Quanto à pergunta sobre a conservação da particular a cada grupo social e esses se relacionam natureza, deve-se ter em mente alguns questiode modos diferentes com a natureza. Com relação à namentos a fim de que se possa entender todo participação de cada um deles no mercado, a inteno processo. Essa mercadoria é para qual grupo sidade do etnoconhecimento ou do conhecimento (político ou econômico)? É boa (para quem?) ou científico é decisiva. ruim (para quem?). Sabe-se que há bioou, ainda, é meprodutos da grande lhor destacar que a indústria e de bases monetarizando terá camponesas e amuma chance de prebos levam no rótulo servação? Quem se o nome de “bioprobeneficiará com a duto” ou produto preservação monenatural. Esses têm tarizada? isso pode grande aceitação no ser um indicador mercado e claro, nas de desigualdades agências de financiasociais e espaciais mento de pesquisas. onde as territorialidades estarão em Com um processo conflito e ganhará de produção formaquem tem o poder do, ele automaticaseja ele econômico, mente é gerador de político ou judiciárenda, o que signifirio. Comercialização de bioprodutos (fitoterápicos e comésticos) tem ca melhoria de vida como fonte a biodiversidade da região para uns, e para ouSó terá valor entros, acumulação de capital. por isso é necessário quanto recurso natural – valor de troca – visto estudar os modos de vida, que são muito mais que que recurso é essencialmente econômico e couma forma de ação dos indivíduos; a específica formercial; mas, tanto como valor de uso quanto ma de manifestar sua existência, pois o que todos valor de troca o tema não pode ignorar aqueles os sujeitos sociais são, coincide com suas atividamenos favorecidos politicamente e economicades produtivas e o resultado de seu trabalho. tanto mente, como indígenas e camponeses. ignorar o que produzem e o modo como produzem, depentemas sociais é uma irresponsabilidade cientíde das condições materiais de sua produção. fica, ou seja, oculta estruturas sociais e econômicas importantes para o seu funcionamento deve-se entender que a Biodiversidade não é no espaço geográfico e humanitário, no que apenas um bem que necessita ser preservado para diz respeito ao direito à terra, reprodução de as gerações futuras; isso é fruto de um argumento seu modo de vida e justiça social. visto que no sem embasamento científico, contendo apenas a Brasil há uma sociodiversidade que é produtora da boa intenção por trás dele. Ela ainda precisa ser biodiversidade, sendo que esta última ganha maior poupada? Sim, claro! Ela deve ser mantida para relevância.

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Balbina:

do impacto ambient rÔMulo araÚJo

MEIO AMBIENTE

os pesquisadores visitavam Balbina a cada dois meses durante os dois anos de pesquisa.

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POR RÔMULO ARAÚJO

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Usina Hidrelétrica de Balbina, localizada no rio Uatumã no município de Presidente Figueiredo, distante 180 quilômetros ao norte de Manaus, sempre foi alvo de críticas pela comunidade científica antes de sua construção e posteriormente sinônimo de desastre ambiental, desde sua inauguração em 1989.

Além do alto custo para a construção da represa, dos mais de 2,5 mil quilômetros quadrados de áreas alagadas de floresta, da criação de um grande lago artificial e da baixa produção de energia que gira em torno de 100 Megawatts de capacidade, o impacto ambiental gerado se deve principalmente em relação às espécies de peixes que habitavam o lugar.


FotoS:aCErvo pESQuiSador

tal à fonte de renda

Esse é o direcionamento do estudo intitulado “Balbina 15 anos depois: estudo comparativo da ictiofauna de um ecossistema amazônico sob o impacto da construção de uma hidrelétrica”, coordenado pelo pesquisador Efrem Jorge Gondim Ferreira, doutor em Biologia de água doce e pesca interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT).

Segundo Ferreira, o estudo objetivou analisar o impacto da construção de uma hidrelétrica sobre a ictiofauna, ou seja, o conjunto de espécies de peixes que habitavam aquela região, fornecer informações sobre o antes e o depois da construção da represa, partindo da ideia de que “toda hidrelétrica que se constrói afeta a diversidade de peixe”, como disse o pesquisador.

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o estudo que teve início em 2004 e término em 2006 realizado com visitas e coletas de espécies a cada dois meses, concluiu que a diversidade de espécies de peixes caiu quase pela metade com a instalação da usina. “Há uma diferença grande de espécies. antes havia mais de duzentas e o nosso estudo contabilizou 104 espécies encontradas lá”, contou Ferreira. um dado curioso é que embora tenha reduzido consideravelmente o número de espécies, o pesquisador disse que a quantidade de peixes aumentou. de acordo com ele, isso ocorre devido ao ambiente de um lago ser mais produtivo que ambientes de rio, já que a água não é tão corrente e se cria condições para a vida se reproduzir mais rapidamente.

trabalho que avaliou a redução de espécies de peixes e o tempo de equilíbrio do lugar após a construção

“Como produção de renda é viável, algo que não existia antes. agora comparado com o crescimento de renda, se não tivesse construído a usina seria bem maior. a população abaixo da represa so-

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Estabilização da área e adaptação dos peixes

Quando é avaliada a possibilidade de uma grande construção em um local preservado naturalmente é fácil perceber que a mesma pode causar sérios danos ao meio ambienEm entrevista à te. assim foi com a usina de revista ‘Ciência para Balbina. Ferreira explicou que todos’ do Inpa, o não há formas de recuperação. “Existe o que podemos pesquisador Efrem chamar de estabilização, mas Jorge Gondim o tempo ninguém sabe, alguns falam em 20 ou 25 anos Ferreira fala sobre a até que o meio se equilibre de conclusão do novo”, sugere o pesquisador.

Com a redução de espécies, Balbina parece ter dado uma compensação para a natureza com uma produção de peixes elevada. um exemplo dado pelo pesquisador é o abastecimento das feiras de Manaus com uma grande quantidade de tucunaré. Mas ele alerta que mesmo com tal compensação, nada vai substituir os danos causados à natureza naquela área.

após a coleta, os peixes seguem para os laboratórios

freu com muitos problemas de saúde por causa da qualidade da água. Quer dizer, dá renda, mas talvez isso não seja justificável”, desabafa Ferreira.

um exemplo do tempo de equilíbrio está bem claro na ação dos peixes. Segundo consta no estudo os peixes agora vivem em função das chuvas e não mais dos processos de cheia e de vazante dos rios. por não ser um ambiente natural, é o reservatório que comanda o nível de água, por sua vez demandado pela necessidade de energia. o estudo mostra que isso faz com que os peixes percam a noção do tempo. “o peixe reage ao estímulo do ambiente. Se a água sobe, eles começam a se preparar para a reprodução. Mas e se ela desce? Essa falta de regularidade das variações do


aCErvo pESQuiSador

nível da água é que fazem com que as populações de peixe sejam muito afetas”, observou Ferreira.

A equipe e novos estudos

a equipe coordenada pelo pesquisador contou basicamente com sete pessoas por coleta de materiais: 2 técnicos, 1 pescador e 4 pesquisadores. de acordo com ele a maior parte do trabalho foi feito em campo. os exemplares recolhidos das 104 espécies de peixes hoje

fazem parte da Coleção de peixes do inpa. um outro estudo deve começar a ser realizado já no primeiro semestre de 2011, referente ao estado que se encontra a capacidade de sustentação do local e de que maneira é possível fazer uso sustentável do reservatório. “Esse estudo é para saber sobre a exploração da área e envolve vários outros aspectos não contemplados nos estudos anteriores”, diz o pesquisador ressaltando que a previsão é de 18 meses de estudo. aCErvo pESQuiSador

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Leishmaniose:

lixo pode aumentar índice da doença > POR JÉSSICA VASCONCELOS

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ue Manaus cresceu desordenadamente é fato. as mudanças que a cidade vem sofrendo nos últimos tempos fazem com que a cada dia o olhar do manauara se transforme. Há tempos não se ouve o som dos pássaros ou se vai ao outro lado da cidade sem ter que enfrentar engarrafamentos quilométricos ou o som ensurdecedor das buzinas.

SAÚDE

todas essas mudanças estruturais são naturais para uma cidade que cresce a olhos vistos, porém tudo isso tem gerado problemas para a população. Falta de tudo um pouco: educação, infraestrutura e saúde. Essa última, por sinal, traz grandes preocupações. até o lixo descartado no quintal de casa pode trazer consequências desastrosas para a população. uma das doenças que aumentam a cada ano, por conta disso, é a leishmaniose.

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em média 35 mil novos casos todos os anos. São conhecidos dois tipos de leishmaniose. uma é a visceral, também conhecida como febre negra, é a forma mais severa. o parasita migra para órgãos viscerais como fígado, baço e medula óssea. Sintomas como febre, perda de peso, anemia e inchaço significativo do fígado e baço são alertas para a existência da doença. outra forma é a tegumentar, a mais comum na região amazônica, que causa uma infecção de pele após a picada do inseto transmissor.

Crescimento urbano e um verde se acabando onde empresários querem construir gigantes prédios, ganhar dinheiro e fugir fazer parcerias e se dar bem (MÚSICA “MANAUS CIDADE GRANDE, COSTUME DO INTERIOR”, DA BANDA CABOCRIOULO).

a leishmaniose é uma doença não contagiosa, transmitida por fêmeas de um inseto vetor (flebotomíneo) que no momento da picada libera a leishmania no sangue de um hospedeiro humano ou animal doméstico (cães e gatos). a doença acompanha o homem desde tempos remotos e nos últimos vinte anos tem apresentado um aumento considerável. Existem aproximadamente duzentas espécies de flebotomíneos envolvidos na transmissão da doença. Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), são registrados

a leishmaniose tegumentar é encontrada em todas as regiões brasileiras, porém com maior incidência nas regiões norte e nordeste, pois é onde existe uma grande área de floresta preservada, lugar preferido do inseto. além disso, a organização Mundial de Saúde (oMS) considera a leishmaniose, depois da Malária, um dos principais problemas de saúde pública encontrado em 88 países.

A Pesquisa

o projeto de iniciação científica do instituto nacional de pesquisas da amazônia (inpa/MCt), feito pela a aluna de medicina veterinária natalia Mota Ferreira e orientado pela doutora Sonia rolim reis, sobre o número de casos de leishmaniose na cidade de Manaus, constatou que os casos estão concentrados nas zonas norte e leste. Entretanto, a maior incidência em humanos está na zona leste, local onde há pouco tempo era uma área florestal que foi tomada pelo processo de urbani-


Francisco lima, técnicon (CpCS) recolhendo as armadilhas dos insetos

FotoS: aCErvo pESQuiSador

zação da grande Manaus. o estudo feito no bairro Cidade de deus realizou uma coleta de flebotomineos (mosquito) em domicílios onde havia casos positivos de leishmaniose tegumentar em humanos e animais, e possibilitou a comprovação de que existe um ciclo de transmissão de leishmaniose. além da existência de cães e humanos infectados há presença de flebotomíneos, o que aumenta o risco da predisposição à doença. a pesquisa detectou também predominância de duas espécies de flebotomíneos vetores. reis explica que um agravante encontrado durante a pesquisa foi identificar descarte de lixo doméstico em algumas residências que margeiam a reserva Florestal adolpho ducke, pois além de poluir o ambiente, a presença de resíduo alimentar pode atrair reservatórios naturais da doença como preguiças, roedores silvestres e gambás, aumentando assim o risco de transmissão. as zonas Centro oeste e Centro Sul de Manaus praticamente não apresentam casos, pois é onde não existe mais área verde preservada. “deve haver um equilíbrio entre humanos e natureza para que o ciclo de transmissão da doença continue no seu lugar, isto é, o ambiente silvestre”, explica a pesquisadora. Medidas preventivas e simples podem ser tomadas para evitar a leishmaniose, como usar repelente, evitar contato com áreas de transmissão nos horários de maior atividade do vetor, limpeza do domicílio e, é claro, destinar de forma

adequada o lixo doméstico.

O tratamento

o laboratório de leishmaniose do inpa é referência em Manaus na identificação de espécies de flebotomíneos e de leishmania. os pacientes que apresentam a lesão vão ao instituto para realização de exame e visualização, ao microscópio, do parasita causador da doença. Quando confirmados com a doença, os pacientes são encaminhados para a Fundação alfredo da Mata (FuaM) e para a Fundação de Medicina tropical do amazonas (FMtaM), onde são realizados os tratamentos que variam de acordo com a forma da doença e a gravidade dos sintomas. É preciso frisar que a medicação administrada no tratamento pode ter efeito colateral. reis lembra ainda que infelizmente existem vários casos de abandono de tratamento. o laboratório é coordenado pela pesquisadora antonia Maria ramos Franco, que também realiza diagnóstico parasitológico através de cultivo do parasita em meio próprio, identificação da espécie de leishmania através da técnica de eletroforese de isoenzima, impressão em lâmina e diagnóstico molecular através da amplificação de dna (pCr) nas amostras coletadas. atualmente estão em andamento pesquisas direcionadas à identificação e caracterização de proteínas expressas em plasma de pacientes infectados e detecção de possíveis marcadores imunológicos no intuito de se desenvolver ferramentas que facilitem o diagnóstico da doença.

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Estudo realizado no bairro Cidade de deus confirmou casos de leishmaniose tegumentar em humanos e animais

FotoS: aCErvo pESQuiSador

Conscientização

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o lixo é um dos maiores problemas das grandes cidades, rios e igarapés, pois onde se olha se vê papel de bombom ou garrafa plástica jogada, isso para não falar de geladeiras, sofás e outros objetos que são descartados todos os dias. Medidas simples poderiam transformar o meio ambiente como por exemplo coleta seletiva, reciclagem e aulas de educação ambiental nas escolas, para que desde cedo as crianças se conscientizem de que o mundo clama por socorro e cuidado. todos os dias inúmeros exemplos são dados por jornais, revistas e sites, de que o ambiente que vivemos está cansado da inconsequência do ser humano, que deixa de perceber que os recursos naturais não são inesgotáveis e acabarão mais rápido que o imaginado se medidas preventivas não forem tomadas imediatamente. além de todos os problemas futuros, o acúmulo de lixo pode causar mais doenças, não só a leishmaniose como a dengue, isso porque o homem invade áreas antes preservadas e habitats de animais, que naturalmente convivem com os mosquitos transmissores da doença.

CURIOSIDADES  o flebótomo também é conhecido como BiriGÜi, CanGalHinHa, MoSQuito palHa. 

o adulto vive de 15 a 30 dias.

 a fêmea coloca de 40 a 70 ovos em local úmido. durante a sua vida pode chegar a 200 ovos.

O VETOR Ordem: Diptera Família: Psychodidae Subfamília: Phlebotominae Gênero: Lutzomyia spp


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O cheiro que vem da

Amazônia > POR WALLACE ABREU

J

INOVAÇÃO

á dizia o poeta* que o cheiro da cabocla amazonense tem cheiro de tudo e de nada, cheiro de peixe e do vento, cheiro de mato e de terra molhada. Mal sabia o poeta que a cabocla amazonense também tem o cheiro de um dos perfumes mais famosos do mundo, o Chanel nº5 de paris, e de vários outros perfumes europeus e americanos.

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zônia e o pau-rosa deixara de ser, com exclusividade, a “tiete” da cosmética. a descoberta de outras espécies da flora amazônica para a extração de óleos essenciais, como a preciosa (Aniba canelilla), andiroba (Carapa guianensis), copaíba (Copaifera multijuga) e breu branco (Protium spruceanum), entre tantas outras que também poderiam ser utilizadas nas indústrias de perfumaria e cosméticos, enchem de amazônia as prateleiras do mundo.

o Chanel nº 5 foi o primeiro da marca e até hoje é líder de vendas no mercado. a parisiense Coco Chanel, uma mulher à frente de seu tempo, pretendia criar um perfume inimitável, segundo ela, um perfume com cheiro de mulher. o que poucos sabiam é que o perfume trazia em sua composição uma essência extraída da flora amazônica, a Aniba rosaedora, que popularmente ficou conhecido como pau-rosa.

todas essas espécies da flora amazônica, utilizadas para a extração de óleos essenciais, são raras, algumas podendo chegar de cinco a dez anos seu período de refloração. após quase um século de suas extrações desenfreadas, pesquisadores começam a estudar formas de preservação destas espécies e das áreas degradadas pela extração.

o pau-rosa caiu no gosto das mulheres do mundo inteiro através do perfume, e seu alto valor de mercado ocasionou uma extração desenfreada do óleo essencial, fazendo com que a espécie amazônica logo entrasse na lista das espécies ameaçadas de extinção. para atingir o equivalente a nove quilos do óleo essencial é necessário cerca de uma tonelada da derrubada da espécie.

o engenheiro florestal pedro Medrado Krainovic, mestrando em Ciências de Florestas tropicais do instituto nacional de pesquisas da amazônia (inpa/MCt), está realizando desde setembro de 2009 no município de Maués (aM), distante 260 quilômetros de Manaus, uma pesquisa que tem como principal objetivo destinar áreas alteradas e degradadas para o plantio homogêneo do pau-rosa. no município, existem áreas com histórico de degradação e com plantios de várias idades (o mais velho com 20 anos) bem sucedidos, além de objetivar também um remanejamento florestal desta espécie na região.

o grande sucesso do Chanel nº5 no mercado internacional atraiu olhares de outras empresas (perfumarias) que logo passaram a utilizar o óleo essencial do pau-rosa nas composições de seus perfumes pelo grande poder de fixação do linalol, composto majoritário presente no óleo do pau-rosa com média de 80%. outras espécies chegam a produzir este composto, porém com o máximo de 3% a 4%. Hoje o óleo do pau-rosa está sendo exportado pelo preço médio de 100 dólares por quilo. os olhares do mundo se voltam para a ama-

Pau-rosa

o óleo do pau-rosa é obtido a partir da destilação de qualquer parte da planta, porém a madeira tem sido sua fonte principal. diferenças no rendimento, nas propriedades físico-químicas e no aroma foram encontradas em função da parte da planta utilizada e das variações intraespecíficas. *nome do poeta: Celdo Braga


HÉlio BrandÃo

Frutos do Breu Branco também usado por perfumarias na produção de cosméticos

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o óleo das folhas possui aroma adocicado e o da madeira apresenta aroma semelhante à lavanda devido a maior concentração de linalol. diferenças no aroma também são evidentes entre óleos oriundos de regiões distintas, como as verificadas entre o óleo extraído de espécies da amazônia brasileira e o extraído de espécies da amazônia guianense. Segundo Krainovic, na década de 50 a exportação do óleo essencial de pau-rosa chegou à marca de 297 toneladas, caindo para 41 toneladas em 1995, chegando em 2007 a 13 toneladas. “por ser um dos óleos mais valiosos do mundo, a destinação das áreas degradadas para o plantio e um remanejamento florestal promove emprego e renda, podendo gerar um desenvolvimento sustentável local”, ressalta. o pau rosa encontra-se em risco de extinção devido aos métodos primitivos de ex-

tração do óleo, que utiliza toda a planta, inclusive as raízes. outro problema é o ataque das plântulas em plantios e viveiros pelas larvas Heilipus odoratus que, após se alojarem no caule, causam a morte das plântulas. “os estudos seguem até março de 2011 e apresentam grande importância à sociedade por causa da geração de emprego e renda, além da diminuição da pressão sobre populações naturais desta espécie. Há também outra importância ambiental que é o uso e destinação de áreas outrora subutilizadas. além das pesquisas realizadas com o pau-rosa (rendimento, manejo, características físico-químicas), também estou realizando um estudo sobre o solo do plantio em comparação com outros solos, áreas degradadas com feição de capoeira e floresta clímax, com o intuito de verificar a nutrição da espécie e a influência da mesma nas características do solo”, conclui Krainovic. aCErvo pESQuiSador

Sobre o mestrando 20

Krainovic é engenheiro florestal formado na universidade Federal rural do rio de Janeiro (uFrrJ), tendo trabalhado com botânica du-

rante um ano; e dois anos e meio com recuperação de áreas degradadas pela Empresa Brasileira de pesquisa agropecuária (Embrapa).


A Preciosa uma das espécies mais raras pode ser considerada também a mais preciosa, como ficou conhecida popularmente. a Aniba canelilla ou casca-preciosa é utilizada pela população dos interiores amazônicos na cosmética, no preparo de desodorantes e perfumes, assim como nos “preparos” na medicina alternativa como afrodisíaco, contra perda de memória, resfriados, reumatismo, infecções, males do estômago, analgésico e de outras dezenas de formas. um trabalho de pesquisa realizada pela engenheira florestal adriana pellegrini Manhães, formada pela universidade Federal rural do rio de Janeiro (uFrrJ) para sua dissertação de mestrado, através do programa de pós-Graduação em Ciências Florestais do inpa, vai auxiliar no processo de remanejamento florestal desta espécie. os estudos foram realizados durante dois anos em uma área pertencente a empresa madereira precious Woods amazon, também conhecida pela população local como Mil Madereira, localizada no município de itacoatira (aM), distante 270 quilômetros de Manaus, sob orientação do pesquisador

do inpa paulo de tarso Barbosa Sampaio, da coordenação de pesquisas em Silvicultura tropical (CpSt). “a preciosa é uma espécie nativa da região amazônica e também desperta interesse na indústria de perfumes e cosméticos. trata-se de uma espécie rara na paisagem amazônica e isso pode estar relacionado com variáveis ambientais. a extração apenas de galhos e folhas da preciosa e não da madeira ou da árvore toda para a produção de óleo essencial, pode ser uma alternativa viável para que não aconteça com essa espécie o que aconteceu com o pau-rosa”, comenta Manhães. Segundo Manhães, a pesquisa é um passo inicial para modificar a ideia de cortar árvores para a produção de óleo essencial. “a pesquisa pode amparar o manejo da espécie. a produção de óleo essencial através de galhos e folhas é uma coisa nova. o processo de produção do produto é difícil. Quando você derruba o tronco, a produção é maior devido à maior biomassa, mas necessita derrubar as árvores. Já a produção por galhos e folhas é menor, porém mantém as árvores em pé e pode ser utilizada para coleta novamente”, ressalta.

aCErvo pESQuiSador

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Propagação in vitro

a cultura in vitro consiste em uma técnica para desenvolver em laboratório um segmento da planta chamado explante, partindo de um meio de cultivo artificial, sob condições ambientais controladas e total assepsia. dentro da terminologia da cultura de tecidos, em geral, explante é qualquer segmento de tecido oriundo de uma planta para iniciar uma cultura in vitro, geralmente, com vistas a estabelecer um protocolo de propagação para plantas de genótipo superior.

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o explante pode ser um ápice radicular ou caulinar, um segmento de folha jovem, uma antera, um ovário ou um embrião zigótico. Esses explantes poderão ser obtidos diretamente de plantas, ou passar por uma etapa intermediária de calo, antes da planta ser obtida. o calo é uma massa desorganizada de células em constante divisão. a formação de calo detém considerável importância como processo intermediário na organogênese, assim como

HÉlio BrandÃo

em estudos de morfogênese, bioquímica, citologia, genética e etiologia de doenças nas plantas. o doutorando Hélio leonardo Moura Brandão, também orientado pelo pesquisador do inpa, paulo de tarso Barbosa Sampaio, desenvolverá a pesquisa intitulada “propagação vegetativa de pau-rosa (Aniba rosaeodora), andiroba (Carapa guianensis), copaíba (Copaifera multijuga) e breu branco (Protium spruceanum) via cultivo in vitro”, pelo programa de pós-graduação em Biotecnologia – (ppG-BiotEC) da universidade Federal do amazonas (ufam) em parceria com o inpa. os principais objetivos da pesquisa de Hélio Brandão serão estabelecer um protocolo de propagação in vitro para explantes de pau-rosa, andiroba, copaíba e breu branco e elaborar um protocolo de assepsia que possibilite a descontaminação superficial de ápices caulinares e folhas


das espécies. “o objetivo é avaliar o potencial de propagação in vitro nestas espécies; o efeito da aplicação de diferentes reguladores de crescimento em diferentes doses e combinações sobre o enraizamento ou brotação; determinar um protocolo de climatização para plântulas e avaliar a viabilidade da produção comercial de mudas de andiroba, copaíba, pau-rosa e breu branco, geradas via cultivo in vitro”, comenta Brandão. o avanço das fronteiras agrícolas e o desmatamento têm contribuído para o desaparecimento de muitas populações naturais de espécies de grande importância ecológica e econômica na amazônia Brasileira. Esta realidade deve ser analisada também do ponto de vista conservacionista, pois acarreta grandes perdas ao patrimônio genético. Espécies de grande potencial sofrem com a exploração seletiva de madeira ou são derrubadas pelo descaso de pessoas que desconhecem ou ignoram o valor real desse patrimônio. no entanto, a carência de informações científicas e tecnológicas que atribuam valores a esses bens acaba por contribuir com esse cenário. FotoS: HÉlio BrandÃo

“a propagação in vitro surge neste contexto como uma alternativa viável, pois apresenta uma série de ganhos no processo de obtenção de mudas melhoradas, que é um passo importante para a implantação de sistemas de manejo de espécies com relevante interesse científico, para fins econômicos ou ecológicos. porém, é muito limitado o número de pesquisas que visam estabelecer protocolos alternativos de propagação de espécies florestais da região amazônica. Surge então uma grande necessidade de se adequar às tecnologias de propagação assexuada disponíveis para a propagação em larga escala de mudas melhoradas geneticamente destas espécies”, avalia Brandão. a propagação de plantas via cultura de tecidos está sujeita a uma série de fatores. Esses possuem uma particular variação, cada um dentro de suas próprias características, e que, quando combinados, determinam as condições as quais o trabalho será conduzido e, consequentemente, o sucesso ou não da propagação in vitro.

Breu branco

(Protium spruceanum)

o breu branco é utilizado na medicina tradicional como anti-inflamatório, no tratamento das dores reumáticas e musculares, das infecções das vias respiratórias e picadas de insetos. Seu óleo essencial é largamente empregado na indústria cosmética e de perfumes, sabonetes e aromatizantes de ambiente.

Andiroba

(Carapa guianensis)

o óleo da andiroba é usado na preparação de sabão e de cosméticos. recentemente, a Fundação osvaldo Cruz lançou no mercado velas de andiroba que são indicadas para repelir mosquitos transmissores de doenças, como o da dengue e o da malária. popularmente, o chá da casca e das flores é usado como remédio para combater infecção bacteriana e o chá do cerne como fungicida.

Copaíba

(Copaífera multijuga)

Seu uso é normalmente usado para fins medicinais como antibiótico, anti-inflamatório e até anticancerígeno, mas ainda se encontra em fase em estudo. da madeira extrai-se um óleo empregado para fins medicinais e fabricação de verniz.

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você é o que você

consome

FotoS: aCErvo pESQuiSador

pesquisadores em campo realizam coletas de plantas

ALIMENTAÇÃO

> POR CLARISSA BACELLAR

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a

o longo dos anos, estudos científicos vêm colaborando com o desenvolvimento da sociedade e ajudando na solução de problemas de todos os tipos, além de gerar novas perguntas e temas científicos. logo, é cada vez mais comum as empresas se preocuparem com a composição e manejo do material que usam na fabricação de seus produtos, até mesmo porque há fiscalização pela agência nacional de vigilância Sanitária (anvisa). o Brasil amazônico, com sua vasta biodiversidade, atrai olhares interessados do mundo todo por causa do seu enorme potencial inexplorado, tanto para a indústria farmacêuti-

ca, quanto para novos ramos comerciais em ascensão, como a indústria de cosméticos. nos últimos anos, pesquisas vêm sendo realizadas e tentam explicar os benefícios das propriedades antioxidantes encontradas no bioma amazônico e que poderiam ser utilizadas para tratar enfermidades cardiovasculares, em numerosos tipos de câncer, na aidS e também em processos e doenças associados ao envelhecimento, a nova grande preocupação da sociedade moderna do novo século. além disso, existe o lado estético, onde muitos cremes cosméticos são formulados com produtos antioxidantes e comercializados justamente por bloquearem a ação dos radicais livres no organismo. Mas o que são os


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radicais livres? o que são os antioxidantes?

Radicais livres

os radicais livres, quando produzidos em excesso pelo organismo, são vistos como verdadeiros vilões contra a beleza e a juventude, pois são os responsáveis pelo surgimento de rugas, flacidez e perda da vitalidade da pele. do mesmo modo, estão ligados a processos degenerativos como o câncer e o envelhecimento. Eles são moléculas instáveis formadas a partir do metabolismo das células do nosso corpo. Seus átomos possuem um número ímpar de elétrons ou são moléculas que se manifestam rapidamente formando os radicais. para

atingir a estabilidade, essas moléculas reagem com o que encontram pela frente para “roubar” um elétron e assim fazem com que as células oxidem (é o que acontece com uma maçã quando cortada e exposta ao ambiente). os radicais se formam por influência dos mais variados fatores como: poluição, tabagismo, consumo excessivo de gorduras, álcool, açúcar, processos inflamatórios ou infecciosos, traumatismos e estresse. até mesmo parte do oxigênio que respiramos se transforma em radicais livres. porém eles não são só vilões. os radicais livres também trazem benefícios, pois atuam no combate a inflamações, matando bactérias, e controlando o tônus dos “músculos lisos”.

Antioxidantes: fontes, tipos e benefícios Em contrapartida, para proteger o corpo da oxidação existem os antioxidantes, que são um conjunto de substâncias formadas por vitaminas, minerais, pigmentos naturais, compostos vegetais e enzimas que bloqueiam o efeito danoso dos radi-

cais livres, tornando-os inofensivos ao organismo. alguns antioxidantes são produzidos por nosso próprio corpo e outros - como as vitaminas C, E e o beta-caroteno - são ingeridos e podemos obtêlos através dos alimentos, como frutas e legumes.

PRINCIPAIS TIPOS DE ANTIOXIDANTES:

Investigação direcionada

Antioxidantes não enzimáticos: vitamina C, vitamina E, Betacaroteno, Flavonóides, Selênio, Zinco, licopeno, Conservantes (aditivos alimentares) e Compostos fenólicos. Antioxidantes enzimáticos: Superóxido dismutase, Catalase, Glutationa peroxidase, Glutaredoxina e tioredoxina.

ALIMENTOS RICOS EM ANTIOXIDANTES:

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Vit A: cenoura, abóbora, fígado, brócolis, melão; Vit C: frutas cítricas, melão, kiwi, acerola, caju, morango, vegetais verdes escuros e tomate; Vit E: óleos de frutos e sementes, germe de cereais, amêndoas, nozes, castanha do pará, gema de ovo, legume; Betacaroteno: verduras de folhas verdes escuras, cenoura, tomate, abóbora; Isoflavona: soja; Zinco: cereais integrais, germe de trigo, peixes, mariscos e crustáceos, carnes, aves e leite; Selênio: castanha do pará, germe de trigo, peixes, mariscos, carnes, aves e fígado; Bioflavonóides: frutas cítricas e uvas escuras ou vermelhas; Licopeno: tomate; Catequinas: frutas silvestres (da família do morango), uva e chá verde.

Encontrar substâncias originadas de plantas amazônicas com elevada capacidade antioxidante para serem utilizadas em cosméticos e bebidas. Esse foi o objetivo do primeiro projeto da doutora Cecília verônica nunez, logo que a pesquisadora ingressou no instituto nacional de pesquisas da amazônia (inpa/MCt), em 2003. “Foi o primeiro grande projeto aprovado (com financiamento, pela Fundação de amparo à pesquisa do Estado do amazonas - Fapeam), e ele me permitiu montar o laboratório e depois realizar outros trabalhos”, lembra nunez. a atividade antioxidante das plantas é chave para o entendimento e potencialidades de tratamento e cura de uma série de doenças, como inflamações e até câncer. várias doenças têm no seu mecanismo de ação, ou de formação, etapas que uma substância antioxidante poderia bloquear. “tentamos ver formas para a utilização das plantas e que tipo de produtos podem ser obtidos a partir dessa biodiversidade, mas essas são pesquisas a longo prazo. o que nós temos, hoje, são artigos, várias teses e alunos formados”, explica a pesquisadora, referindose ao processo de realização da pesquisa. o projeto teve início em abril de 2004, quando saiu o recurso, e terminou em 2007. além da verba para a pesquisa tiveram também seis bolsas de iniciação científica. Simplificadamente, o estudo consiste em coleta de plantas, produção de extratos, avaliação biológica e fracionamento. “a ideia principal era ter os insumos, chegar às moléculas ativas, o que na época não conseguimos. nós iniciamos com


algumas famílias de plantas , como a Cecropiaceae. Com o programa de pesquisas em Biodiversidade (ppBio), em 2007, nós ampliamos para outras coletas e continuamos testando,

tanto para atividade antioxidante quanto ampliamos para várias outras atividades; então apesar do projeto ter encerrado, não encerrou a linha de pesquisa”, esclarece Muniz.

O caminho das pedras “as pessoas pensam que porque é natural não vai fazer mal, e não é bem assim”, adverte nunez. obviamente, para se obter um cosmético de uso tópico é necessária uma pesquisa dermatológica. E para bebidas, uma avaliação toxicológica. portanto, para se afirmar que determinada substância não é tóxica em humanos existe um longo caminho a ser percorrido, como explica a coordenadora do projeto. “primeiro deve ser feita a parte pré-clínica, que são os testes em ratos, camundongos e coelhos. para câncer, por exemplo, são realizados testes inclusive em cães. E depois são realizadas as fases clínicas um (com pacientes saudáveis), dois (com pacientes doentes) e três (com estudos multicêntricos, para ver se a substância pode se transformar mesmo em medicamento). Somente nessa fase são cinco ou seis anos de estudo, além de um investimento enorme de dinheiro. os

testes que fizemos foram pré-clinicos, bem preliminares, pois foram feitos em algumas células de animais, não foram feitas nem no animal inteiro”. logo, entende-se que os ativos antioxidantes encontrados através do projeto poderão vir a ser usados na produção de um creme cosmético ou até para a conservação de bebidas, porém é necessário realizar mais pesquisas. “Hoje nós temos o auxilio de outra professora para fazer a cultura de célula animal, então já é uma parte da toxicologia mais aprofundada, pois antes nós só fazíamos em outros microorganismos e em um microcrustáceo, no caso a Artemia salina, como se fosse um camarão bem pequeno, mas que já dá uma boa indicação de toxicidade, apesar de bem preliminar. por isso não dá para aplicar em um produto e simplesmente afirmar que não é tóxico, isso serve apenas para indicar o caminho”, elucida a doutora.

as análises avaliam o potencial antioxidante das plantas

Uma pesquisa, uma proposta na indústria cosmética, os componentes mais propensos à oxidação são as fragrâncias, os corantes, os ativos e, principalmente, os óleos vegetais e alguns emolientes. a aceitação de um produto cosmético ou de cuidado pessoal pelo consumidor é, visivelmente, influenciada pela fragrância ou odor e aparência do produto. logo, indústrias de cosméticos espalham hoje no mercado aquilo que o consumidor mais procura, oferecendo as mais variadas linhas de tratamento que visam a renovação celular com produtos que agem na pele promovendo a descamação das células mortas, permitindo um “turn over” (revitalização) mais rápido.

“um dos resultados do projeto foi uma lista com 70 extratos vegetais com elevada atividade antioxidante. diversos desses extratos estão em fracionamento, onde visamos isolar as substâncias ativas. os extratos poderiam ser usados em produtos, porém a utilização comercial vai depender de uma indústria que tenha interesse”, indica a pesquisadora. portanto, o clichê “você é o que você come” nunca foi tão atual, afinal o que você come, bebe ou usa, é que faz a diferença para a sustentabilidade do meio ambiente, por ser uma questão social, cuja nutrição e segurança alimentar são temas interligados. Faz diferença, aliás, para sua saúde.

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embeleza, cura e que alimenta

lutY GoMEZCaCErES

Que que

> POR WALLACE ABREU

PESQUISA

S

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olanum Sessiliflorum Dunal é popularmente conhecido como topiro, tupiro ou Cocona em países sulamericanos; oricono apple e peach tomato nos países de língua inglesa; tomate de Índio no nordeste brasileiro; Maná Cubiu nas regiões Sul e Sudeste ou apenas Cubiu nos estados da região norte. Seus benefícios, hoje, possuem fama internacional e há várias pesquisas que comprovam que o cubiu é altamente benéfico à saúde humana, pois possui valores nutritivos, é saboroso e de aroma agradável. altamente valorizado no sudeste brasileiro, sendo comercializado como “o fruto do século”, o cubiu aos poucos vem caindo nas graças do povo, assim como o tucumã, o açaí e outros frutos amazônicos. Facilmente encontrado nas feiras e mer-

cados, o fruto é usado por populações tradicionais dos interiores amazônicos, das mais diversas formas, seja na produção de cosméticos, medicamentos ou alimentos, em caldeiradas de peixe ou como tempero de pratos à base de carne ou frango. o Cubiu também pode ser consumido in natura, principalmente como tira gosto de bebidas, ou de forma modificada como néctar, patês, recheio de tortas, rocambole, compotas, doces (geléia, sorvete, bolo), salada e até mesmo como molho para cachorro quente (hot dog), pizzas e carnes. trata-se de uma planta herbácea que necessita de luz para se desenvolver. dependendo da variedade plantada, pode alcançar a produção de 30 a 100 toneladas de frutos por hectare. porém, o Cubiu também pode crescer à sombra, no entanto, nesta condição a produção de frutos é reduzida.


Benefícios de acordo com a pesquisadora lucia Yuyama da Coordenação de pesquisas de Ciências da Saúde (CpCS) do instituto nacional de pesquisas da amazônia (inpa/ MCt), estudos têm revelado o potencial nutricional do cubiu como fonte de fibra alimentar, de baixo valor energético e concentrações expressivas de elementos minerais, particularmente os macrominerais como potássio e cálcio em diferentes etnovariedades (Quadro 1). na região amazônica, popularmente, o fruto é bastante utilizado no possível controle do diabetes (glicose no sangue) e hipercolesterolemia (níveis elevados de colesterol), ácido úrico e mau funcionamento do fígado e dos rins. também auxilia em casos de depressão, reduz o colesterol e os triglicérides. o Fruto embeleza? o cubiu é utilizado como creme capilar, proporcionando maior brilho aos cabelos, além de combater a caspa e a seborréia.

Benefícios obtidos por meio do consumo do cubiu (constatação popular): auxilia na redução do colesterol e triglicérides; protege os tecidos nervosos e o aparelho digestivo; ajuda a melhorar a circulação sanguínea; auxilia na redução dos índices de ácido úrico; Contribui para a redução da glicose (açúcar) no sangue; reduz os sintomas de vertigem e síndrome de Méniérie (depressão).

QUADRO 1

FotoS : Flavio riBEiro

Composição química em 100g de polpa de cubiu (média) Componente Energia Água proteína Fibra Cinzas Carboidratos lipídeos Cálcio potássio Sódio Ferro

Quantidade 24,15 90,60 0,72 3,60 0,75 3,63 0,67 12,5 356,4 0,10 0,42 Fonte: CPCS/ Inpa

Unidade kcal g g g g g g mg mg mg mg

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Fonte de fibra alimentar Estudos preliminares tendo ratos diabéticos induzidos experimentalmente à dieta demonstrou que o cubiu como fonte de fibra alimentar promoveu ao final do experimento de 28 dias, redução da concentração sérica de glicose. os resultados demonstraram que o cubiu apresentou baixo teor energético (24 kcal/100g) e presença de fibra alimentar (3,6%).

o conceito de fibra alimentar foi criado por trowell em 1972, sendo por isso considerado o “pai das fibras alimentares”, que as conceituou como a soma de todos os polissacarídeos de vegetais da dieta (celulose, hemiceluloses, pectinas, gomas , mucilagens, lignina ), que não são hidrolisados pelas enzimas do trato digestivo humano.

“os ratos que receberam a fibra oriunda do cubiu apresentaram uma redução sérica de glicose ao final da 4ª semana (224,4±85,5 mg/dl) quando comparado com o grupo controle (351,4 ± 139,0 mg/dl). tais constatações são sugestivas da influência do fruto de cubiu na redução da concentração sérica de glicose em ratos”, comenta Yuyama.

“as fibras alimentares podem ser agrupadas em duas grandes categorias, conforme a sua solubilidade em água: insolúveis e solúveis. as fibras insolúveis são constituídas por celulose, hemiceluloses e lignina; e suas fontes alimentares são representadas pelos grãos, hortaliças e cereais integrais como trigo, aveia centeio e cevada. as fibras solúveis são constituídas pelas gomas, mucilagens e pectinas, sendo encontradas principalmente nas frutas, dentre elas o cubiu, leguminosas, aveia e cevada”, ressalta Yuyama.

a grande pergunta é: a fibra alimentar do cubiu reduz o colesterol em seres humanos? de acordo com Yuyama, o trabalho de iniciação científica da bolsista do inpa, Yasmin Gomes de Carvalho, demonstrou que a intervenção com a farinha de cubiu, na forma preventiva, 30% das recomendações diárias para o indivíduo adulto, apresentou-se eficiente para o controle das frações lipídicas do colesterol total no período estudado, necessitando da validação envolvendo um número maior de voluntários hipercolesterolêmicos.

destaca-se ainda a presença de fibra alimentar solúvel (pectina) que tem a propriedade de se ligar à água, aumentando a viscosidade do conteúdo intestinal (bolo alimentar), pela formação de gel, e com isso há o retardo do esvaziamento gástrico, tornando a absorção mais lenta e consequentemente a redução da absorção de lipídeos e açúcares.

Mercado Com a expansão do mercado de frutas e hortaliças amazônicas, surge o desafio de utilizar tecnologias baratas e adequadas na produção de alimentos que atendam às exigências do consumidor e do produto. Cada vez mais pesquisadores buscam adaptar técnicas e processos capazes de transformar matérias-primas in natura, em produtos de alto valor agregado e com consumidores em potencial. de acordo com danilo Fernandes da Silva Filho da Coordenação de pesquisas em Ciências agronômicas (CpCa) do inpa, o Cubiu adapta-se bem em regiões de clima quente e úmido com temperatura média entre 18 e 30°C e umidade relativa de 85% no decorrer do ano.

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“a comercialização do cubiu é feita em pequena escala por produtores rurais nas feiras e mercados das cidades interioranas. alguns agricultores, no entanto, estão cultivando áreas superiores a dois hectares, e os frutos estão sendo comprados e utilizados pelos japoneses para extração de pectina. a ampla variabilidade genética

das populações de cubiu redundando em frutos de diferentes tamanho, formato e rendimento são características que fomentam a seleção de cultivares que atenda a demanda nutricional e a exigência da agroindústria”, destaca Silva Filho. Com a seleção e melhoramento do material para ser cultivado na amazônia, a população de baixa renda regional poderá contar, a curto prazo, com a melhoria de sua dieta alimentar. a médio e longo prazo é possível que o aumento das áreas cultivadas estimulem aos agricultores a aproveitarem a matéria-prima para desenvolver a indústria caseira em nível agroindustrial. “Economicamente o cubiu tem se constituído uma importante matéria-prima para a agroindústria moderna, pela rusticidade da planta, facilidade de cultivo, produtividade dependendo do genótipo cultivado, podendo atingir 100 toneladas por hectare de frutos. É uma cultura bem adaptada aos solos das várzeas da amazônia, possibilitando a produção de frutos com pouco ou nenhum insumo, permitindo sua comercialização a preços bem acessíveis”, avalia Silva Filho.


o fruto pode facilmente ser encontrado em feiras e mercados

lutY GoMEZCaCErES

uma das alternativas viáveis de aproveitamento é a desidratação da polpa do fruto, seguida da pulverização. Constitui-se em uma tecnologia relativamente simples, na qual o fruto pode ser processado com a utilização de equipamentos acessíveis aos pequenos produtores rurais. outras vantagens são o aumento da vida-de-prateleira e o custo reduzido, considerando que um dos fatores que mais onera a produção em uma pequena agroindústria é o armazenamento à bai-

xa temperatura. Entretanto, é necessária uma padronização rigorosa das características de qualidade do produto, tanto físicas, químicas e microbiológicas, a fim de fornecer informações que permitam avaliar o produto quanto às suas condições de processamento, armazenamento e distribuição, bem como sua vida útil e em relação ao risco à saúde do consumidor. Flavio riBEiro

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FotoS: lutY GoMEZCaCErES

Pesquisa Há em uso diversos processos para a conservação dos alimentos e a secagem (desidratação) é uma das mais utilizadas. Suas vantagens são várias, dentre as quais se destaca a redução do peso da fruta ou hortaliça de 50 a 90%, o que acarreta melhor conservação do produto e menor custo de armazenamento. Com essa técnica já são elaborados produtos de alta qualidade, usados para exportação. Esses materiais possuem um alto valor agregado e facilidade no transporte, o que possibilita a redução dos custos. uma técnica muito estudada e que aos poucos vem sendo posta em prática é a desidratação osmótica. Esse tipo de desidratação permite a concentração parcial do material celular das frutas e legumes, com um mínimo de prejuízo em relação ao uso de calor. a desidratação osmótica de alimentos consiste na remoção parcial de água pela pressão ocasionada quando se coloca o produto em contato com uma solução hipertônica de solutos (açúcar ou sal), diminuindo assim a atividade de água e aumentando a sua estabilidade em combinação com outros fatores como controle de pH e adição de antimicrobianos.

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luty GomezCaceres, mestre pelo programa de pósGraduação em agricultura no trópico úmido (atu/ inpa), orientada pela pesquisadora Jerusa andrade da Coordenação de pesquisas em tecnologia de alimentos (Cpta), apresenta vários benefícios que a desidratação osmótica do fruto pode trazer, como a conservação por muito mais tempo, a concentração de substâncias, manter o valor nutritivo, facilitar o transporte e manipulação, disponibilizar o alimento durante o ano todo e estabilizar os preços de comercialização. “a taxa de remoção de água do cubiu depende de diversos fatores como o tipo de soluto, concentração da solução, temperatura, tempo de processo, agitação e a relação produto/ solução. no processo de desidratação do fruto, a melhor forma de aproveitamento é quando o fruto está maduro de cor amarelo alaranjado ou vermelho, comprimento (52 a 84mm), diâmetro (49 a 77mm) e peso (33 a 184g), polpa firme, ácida, suculenta com um alto rendimento e de aroma agradável”, apresenta GomezCaceres.


FotoS: lutY GoMEZCaCErES

os objetivos da pesquisa de GomezCaceres foram desenvolver uma tecnologia para a conservação do cubiu na forma de fruto seco, que permita agregar valor à sua comercialização, avaliar as características químicas e físicas da matéria prima, definir um método eficiente para o descasque e prevenção de escurecimento enzimático do cubiu, além de definir uma metodologia para a desidratação do cubiu, aplicável às pequenas indústrias. o principal processo de pesquisa foi avaliar a qualidade do cubiu seco adicionado ao azeite de oliva e orégano. durante este processo, o método utilizado por luty GomezCaceres envolveu a colheita, transporte, seleção, lavagem e higienização da matéria prima, seguido da busca por um método eficiente para o descasque e prevenção

de escurecimento enzimático do cubiu através do descasque manual, com água fervente, vapor de água e com uma solução de hidróxido de sódio a 2,5% realizados em quatro etapas, que variam de 5 a 20 minutos cada. Finalizada pelo processo de drenagem, secagem, resfriamento, adição de tempero e estocagem. “o melhor tempo de processo para obtenção de cubiu desidratado é de quatro horas de osmose, seguido de seis horas de secagem em estufa. o cubiu temperado com azeite de oliva e orégano é uma boa alternativa para a agroindústria local, considerando a excelente aceitação e o alto índice de intenção de compra, tendo aproximadamente 75% de aprovação em pesquisa de campo realizada pela pesquisadora ao final do processo da pesquisa”, conclui GomezCaceres.

Cubiu em conserva (Processo caseiro) IGREDIENTES:

100g de cubiu 100ml de azeite de oliva extra virgem 6g de alho picado 3g de orégano

MODO DE PREPARO:

descasque o cubiu manualmente ou em água fervente com um tempo médio de 5 a 20 minutos de fervura, dependendo do tamanho do fruto. despeje o cubiu em um recipiente com água fria e cubos de gelo até o resfriamento total. após o descasque, corte em fatias e leve ao forno médio por cerca de 10 a 20 minutos. após esfriar, adicione o azeite, o alho e o orégano. Está pronto!

33 FotoS: lutY GoMEZCaCErES


institutos nacionais de Ciên

REUNIÃO INCTS

sob avaliação

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> POR THARCILA MARTINS E WALLACE ABREU

a

1ª reunião de acompanhamento e avaliação dos institutos nacionais de Ciência e tecnologia (inCt), organizada pelo Conselho nacional de desenvolvimento tecnológico e Científico (Cnpq), foi realizada nos dias 23 e 24 de novembro em Brasília (dF). o programa inCt foi criado em dezembro de 2008 pelo Cnpq e o Ministério da Ciência e tecnologia (MCt) e tem como meta mobilizar e articular em redes os melhores grupos de pesquisa em áreas de

fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país. Fizeram parte da mesa de abertura do evento o secretário executivo do MCt e presidente do Comitê de Coordenação do programa inCt, luis antonio rodrigues Elias; o presidente do Cnpq, Carlos alberto aragão; o secretário de Ciência e tecnologia e insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCtiE), reinaldo Guimarães; o presidente do Conselho nacional das Fundações Estaduais de amparo à pesquisa (Fape), Mário neto Borges; e o diretor


ência e tecnologia (inCts) FotoS: WallaCE aBrEu

a reunião em Brasília contou com a presença de 122 inCt’s de todo o Brasil

o presidente do Cnpq, Carlos aragão, e o Ministro da Ciência e tecnologia, Sérgio rezende, fizeram o discurso de encerramento do encontro em Brasília (dF)

o pesquisador do inpa, philip Fearnside, abordou os impactos do desmatamento na amazônia

do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Fernando rizzo. o presidente do Cnpq fez uma breve apresentação sobre o programa, explanando os objetivos e as áreas atuantes. de acordo com ele, o encontro significa um marco para o país, reunindo 122 inCts, distribuídos em todas as regiões brasileiras, representando o que há de mais avançado no país no que se refere à ciência e tecnologia. “o objetivo é que essa avaliação sirva para que

esses programas possam fazer correções de custo, ampliar seus objetivos, além de fazer propostas mais ousadas a partir do que ocorreu durante a reunião”, afirmou aragão. o programa conta com o apoio das Fundações de amparo à pesquisa dos Estados do amazonas, piauí, Santa Catarina, São paulo, rio Grande do norte, rio de Janeiro, pará, Minas Gerais; além da Financiadora de Estudos e projetos (Finep), da Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível Superior (Capes), departamento de Ciência e tec-

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nologia (dCit) do SCtiE, Banco nacional do desenvolvimento (BndS) e da petrobras. de acordo com o diretor do instituto nacional de pesquisas da amazônia (inpa/MCt), adalberto luis val, esse foi um momento importante, não apenas para avaliação, mas para inserir a região amazônica no cenário de discussões de Ciência e tecnologia.

O encontro das ciências

Biomedicina e pesquisas sobre a desnutrição infantil no nordeste, os mistérios da cana-de-açúcar, um relógio atômico de átomos frios, as madeiras, a biodiversidade e a biota aquática da amazônia, estruturas inteligentes em engenharia, um herbário virtual de flora e fungos, estudos inovadores sobre a arqueologia e paleontologia, inovações na área da saúde, nanotecnologias, astrofísica, bioanalítica, comunicações sem fio, energias elétricas renováveis, bioetanol, petróleo e gás, terra, fogo, água e ar. parece que todos os elementos se fizeram presentes na reunião. a feira montada com stands dos 122 inCts do país se transformou num grande ponto de encontro e troca de informações. a busca pela descoberta de novos conhecimentos acabou gerando benefícios a sociedade em geral, nas mais diversas áreas do conhecimento, além de contribuir para o crescimento

da ciência e tecnologia no país. os institutos levaram à feira resultados parciais de suas pesquisas, em alguns casos, produtos resultantes de seus trabalhos. o evento reuniu grandes pesquisadores do país e do mundo, bem como revelou o crescimento do Brasil na área de ciência e tecnologia (C&t). “Com esse evento a gente começa a construir uma nova história na área de ciência, tecnologia e inovação neste país, onde a avaliação da atuação destes institutos será realizada de forma competente, pois trata-se de uma área em expansão que tem muito a ser explorada. temos o compromisso de dar retorno social a este vultuoso investimento que é apostar na área de C&t. através deste trabalho poderemos mostrar a população que os recursos que estão sendo investidos não são em vão”, comenta victor odorcyk, analista da área de planejamento da Finep. na tarde da quarta (24) as atividades foram encerradas. o evento contou com a presença de 122 programas e reuniu cerca de 600 pessoas em dois dias de programação. troca de experiências, geração de conhecimento e avaliação foram os principais objetivos da reunião. tHarCila MartinS

INCT no Inpa 36

dos cinco inCts existentes no amazonas, quatro estão no inpa. São eles: adaptações da Biota aquática da amazônia (adapta), Estudos integrados da Biodiversidade da amazônica (Cenbam), Madeiras da amazônia, e Serviços ambientais da amazônia (SErvBaM).

os coordenadores de cada inCt realizaram uma apresentação de 40 minutos, a qual foi observada por três avaliadores. os convidados para avaliar os inCts levantaram questionamentos e fizeram elogios aos resultados já alcançados.


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adalberto val falou dos possíveis inpactos das mudanças climáticas sobre os peixes

Adapta expôs resultados o adapta é uma rede de atividades de Biologia aplicada e tem como proposta estudar as adaptações de organismos aquáticos da amazônia, por meio da incorporação de novos equipamentos, da estruturação de um serviço de bioinformática e capacitação de recursos humanos. o diretor do inpa e também coordenador do adapta, adalberto luis val, apresentou no primeiro dia do evento, terça-feira (23), os resultados que o adapta vem desenvolvendo nos dois anos de existência. de acordo com val, a apresentação foi elaborada dando ênfase a quatro pontos fundamentais que norteiam o adapta, são eles: caracterização do ambiente, diversidade orgânica, caracterização genética e capacitação de recursos humanos. “no contexto da caracterização orgânica do ambiente é preciso ter não somente a caracterização do número de espécie, mas também como essas espécies vivem e o que existe por trás disso. na parte de recursos humanos é fundamental termos uma capacitação que gere publicações e que, além disso, essas informações sejam socializadas”, ressaltou val. vera imperatriz, da universidade de São paulo (uSp); Joaquim Machado, da universidade de Campinas (unicamp) e adolfho José Malfi, do instituto de oceanografia, formaram o quadro de avaliadores

que fizeram os questionamentos ao fim da palestra. novos desafios e caminhos traçados foram algumas das perguntas feitas por imperatriz, após elogiar o programa e ressaltar a qualidade do trabalho desenvolvido pelo adapta. Machado afirmou a relevância do estudo e parabenizou pela explanação clara e eficiente. perguntas sobre características das pesquisas, material empregado e utilização de outros recursos também foram direcionadas a val. “os quatro eixos fundamentais do nosso projeto e das nossas ações foram trazidas para essa reunião. o que nós recebemos de volta foi um posicionamento bastante positivo. Fiquei bastante feliz com essa resposta, pois reafirma que estamos pelo caminho certo”, disse val. Entre tantas palestras acontecendo foi possível perceber a procura de pessoas de outros Estados por informações da amazônia. “Essa interação e procura pela amazônia engrandece não só o programa, que é extremamente importante, mas coloca o Estado do amazonas, que por meio da Fundação de amparo à pesquisa do Estado do amazonas (Fapeam) vem fomentando os nossos trabalhos de forma significativa, numa posição de destaque em nível nacional”, declarou.

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Madeiras da Amazônia sob observação nacional o inCt Madeiras da amazônia também apresentou o trabalho que vem realizando e os resultados já alcançados. os objetivos dos trabalhos e análises de processos foram apresentados pelo coordenador do instituto, niro Higuchi, e o vice-coordenador, Estevão Monteiro de paula. o Madeiras da amazônia movimenta e envolve cinco coordenações do inpa, entre elas a Coordenação de pesquisas em Silvicultura tropical (CpSt), Coordenação de pesquisas em produtos Florestais (CppF), Coordenação de pesquisas em Ecologia (CpEC), Coordenação de pesquisas em Ciências agronômicas (CpCa) e a Coordenação de pesquisas em Botânica (CpBo). o instituto tem buscado consolidar o manejo florestal sustentável na amazônia, através da exploração da floresta primária em faixas com o menor impacto ambiental possível, de tratamentos silviculturais, da realização de um inventário de insetos e plantas, do desenvolvimento tecnológico de processamento de madeiras da amazônia, de produtos alternativos para aproveitamento de resíduos de indústrias madeireiras e de técnicas inovadoras para manufatura de produtos de madeira de alta qualidade e maior valor agregado. “Se nós formos comparar a produção de madeira na amazônia e o desmatamento, vemos claramente

uma co-relação entre ambas. a produção de madeira na amazônia é altamente predatória. além disso, 68% da produção de madeira vêm do corte ilegal e apenas 25% vem do corte legal. temos neste inCt dois grandes grupos relacionados, um de manejo florestal e o outro de tecnologia da madeira. Se não melhorar as tecnologias da madeira, não teremos nunca um manejo florestal sustentável. nosso grande desafio é melhorar o rendimento da floresta”, comenta Higuchi. além do inpa, o Madeiras da amazônia foi idealizado e conta com a parceria da universidade Federal do amazonas (ufam), universidade do Estado do amazonas (uEa), universidade Federal do paraná (uFpr) e a universidade Estadual do Centrooeste (unicentro). desde sua implantação, vem trabalhando com indústrias madeireiras, como a precious Wood amazon (Mil Madeireira) no município de itacoatiara (aM), distante à 270 Km de Manaus, e com a comunidade em geral, através de vários projetos, dentre eles, um de marchetaria. “temos várias iniciativas que começaram dentro do Madeiras da amazônia, hoje microempresários de diferentes seguimentos como a amazon rose e a produção de biojóias, a alô Som da amazônia que trabalha com a fabricação de microfones de madeira e a puro amazonas, empresa de instrumentos musicais”, ressalta Estevão. tHarCila MartinS

durante o encontro, Estevão Monteiro de paula falou sobre o potencial madeireiro da amazônia

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SERVAMB fala sobre o desmatamento na Amazônia o inCt de Serviços ambientais (SErvaMB) é um projeto que visa reduzir as incertezas na quantificação dos serviços ambientais da amazônia, especialmente no que se refere ao carbono e água, além de desenvolver ferramentas e cenários capazes de interpretar os custos benefícios de diferentes políticas públicas. de acordo com philip Fearnside, coordenador do instituto, o SErvaMB possui cinco grupos de pesquisa que envolve os seguintes temas: mudança de uso da terra e emissões; florestas secundárias, agroflorestas, fragmentação e efeitos de borda; e hidrologia. “temos esses cinco grupos, no entanto, o que se tem em maior quantidade são os dados relacionados ao carbono e aos efeitos da floresta em evitar o aquecimento global”, afirmou.

o pesquisador afirma que o programa mostra em geral que a floresta tem grande valor no que se refere a serviços ambientais. Segundo Fearnside, o SErvaMB está tentando promover uma nova base para a economia na amazônia, pois atualmente essa economia utiliza muito a destruição da floresta. “também é importante quantificar quanto de carbono ganhamos quando se cria uma reserva e quanto se perde quando desmatam a floresta”, declarou. o inCt também promove ações sociais, com a participação dos produtores rurais e da comunidade na implementação, condução e no monitoramento das atividades. também são oferecidos cursos e oficinas para que se tornem potencial local em geração de renda complementar as famílias residentes na área de atuação do projeto.

Biodiversidade Amazônica em cheque o último inCt do inpa a se apresentar foi o Estudos integrados da Biodiversidade amazônica (Cenbam), que tem como coordenador William Ernest Magnusson. Segundo Magnusson, o instituto ainda não recebeu o repasse financeiro destinado ao seu instituto, porém vem realizando suas pesquisas com o apoio de instituições parceiras para cumprir as metas propostas. “Eu quero deixar essa questão bem clara para que os avaliadores entendam que os resultados que apresentarei aqui vêm do espírito e da força de vontade de realizar existente em todos os envolvidos, e não do repasse financeiro. Com a verba inicial repassada, conseguimos estruturar o instituto com a compra dois carros e alguns equipamentos, mas isso é apenas o ponto de partida”, ressalta Magnusson. o instituto tem como principal objetivo integrar as pesquisas biológicas na amazônia em cadeias eficientes de produção científico/tecnológica. possui mais de 30 artigos científicos e livros já publicados. diversos cursos e palestras ministradas, desde uma oficina de Banco de dados até palestras e atividades de sensibilização ambiental para alunos e professores de escolas municipais. o inCt da Biodiversidade amazônica possui mais de 20 instituições parceiras que auxiliam nos trabalhos realizados e

mais de 40 alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado já formados ou ainda em formação trabalhando nas linhas de pesquisas do instituto. Segundo os avaliadores, esta é a melhor forma de saber como estão os institutos, como estão atuando e que dificuldades estão enfrentando. “um relatório em papel às vezes pode nos passar uma impressão errada. Esse contato mais próximo, este momento de troca de informações é muito importante para que possamos ver de que forma o instituto possa caminhar”, comenta Joaquim Machado, um dos avaliadores do grupo Ecologia e Meio ambiente.

Stands além das avaliações dos institutos que foram sendo feitas em diferentes grupos, (ecologia e meio ambiente, saúde, ciências agrárias, energia, nanotecnologia, exatas, humanas e sociais aplicadas), todos os 122 inCts participam da feira de exposição de seus trabalhos montada no parlamento Mundial da legião da Boa vontade (parlamundi), na asa Sul da distrito Federal.

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as aventuras do > POR EDUARDO GOMES

O

lá amigos leitores de “Ciência para Todos”, me chamo Electrophorus electricus, mas podem me chamar de Poraquê, afinal é por este nome que a maioria das pessoas me conhecem. Tem gente que prefere chamar de peixe elétrico, porém quero esclarecer que não sou a única espécie de peixe elétrico existente, capaz de emitir descargas elétricas, existem outros colegas que também fazem isso.

trica, muçum-de-orelha, pixundé, pixundu, pixunxu, ou, simplesmente, peixe-elétrico, embora não seja o único “peixe-elétrico” existente. Existem outras espécies de peixes que emitem descargas mais fracas e também os que liberam energias fortes assim como eu, o que me torna o mais conhecido por conta da descarga elétrica forte. A descarga dos outros peixes elétricos da Amazônia são muito fracas, ou seja, eu sou a única espécie da América Central e do Sul com tensão elétrica da ordem das centenas de volts que outros seres podem sentir.

ESPECIAL

O órgão elétrico é composto por vários eletrócitos que normalmente formam fileiras ao longo da base da nadadeira anal, mas o número, a disposição e a forma dos eletrócitos mudam de espécie para espécie. Algumas possuem órgãos elétricos em outra região do corpo.

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Aliás, foi bom mesmo ter tocado nesse assunto de nomes, pois apesar de ser popular, muita g e n t e não sabe o significado do meu. Poraquê significa “o que faz dormir” ou “o que entorpece”, por causa das descargas elétricas que produzo. Também posso ser chamado de enguia, enguia elé-

Cada eletrócito realiza trocas iônicas com o meio extracelular, e é através desse fluxo iônico que se produz a corrente elétrica. Todos os eletrócitos que compõem o orgão elétrico realizam esse fluxo simultaneamente, gerando a descarga do peixe. Pertencemos à ordem dos Gymnotiformes, onde os membros apresentam o corpo alongado, quase sempre achatado lateralmente, nadadeira anal extremamente longa, ânus situado em baixo da cabeça. Possuímos raios na nadadeira anal que articulam-se diretamente com os pterigióforos, ou seja, ossos ou cartilagens que funcionam como ponto de ligação com a nadadeira, permitindo


maior facilidade de movimento ondulatório do nosso corpo.

Eu particularmente pertenço à família Electrophoridae e possuo uma cavidade bucal bastante vascularizada, adaptada para respirações aéreas, por isso preciso subir em determinados momentos (pelo menos de 3 a 4 minutos) para respirar. Temos uma coloração marrom escura uniforme, exceto na parte inferior da cabeça que é alaranjada. Meu corpo é cilíndrico e sem escamas, tenho olhos pequenos, me alimento de pequenos peixes, besouros e outros minúsculos seres aquáticos, além desses, em cativeiro, posso comer minhocas. Nosso órgão elétrico é capaz de produzir descargas fortes, que dependendo do comprimento podem ser mais de 600 volts

O réu confessa

Opa, agora chegou a hora em que eu posso me defender? Legal, deixa comigo. Devido às descargas elétricas que emitimos, muitos seres humanos nos consideram um ser de alta periculosidade, porém o que a maioria das pessoas não sabe é que nós peixes elétricos não temos intenção de machucar ninguém. Durante todos os momentos, emitimos descargas elétricas fracas que formam um campo elétrico ao redor do nosso corpo, porém quando nos sentimos ameaçados ou quando precisamos nos alimentar, descargas mais fortes emitidas com o intuito de apenas, eu disse APENAS ATORDOAR a presa, deixando-a imóvel para que assim possamos nos alimentar. Por construírmos nossos ninhos em poças remanescentes e entre a vegetação das margens de rios e igarapés, encontros eventuais com o ser humano podem acontecer acidentalmente. O que ocorre é que quando

um outro ser entra em contato com o campo elétrico formado ao redor de nosso corpo, o indivíduo fica paralisado, ou seja, anestesiado e propício a um afogamento.

ILUSTRAÇÕES: DANIEL SANTI

Geralmente peixes da mesma ordem que eu, possuem hábito noturno ou crepuscular, passando as horas do dia escondido entre folhas, raízes, troncos caídos e nas margens de lagos e igarapés. Outra curiosidade sobre nós é que temos uma enorme capacidade de regeneração de partes do corpo, principalmente da cauda.

Amor eletrizante

Nossa reprodução chega a ser um tanto curiosa, mas assim como outros animais possuímos nossos hábitos particulares e diferenciados. Para os seres humanos pode até parecer um ato bizarro, mas se fizéssemos parte de um filme, interpretaríamos uma cena de romance elétrico. Quando o rio enche, entre maio e junho, é a época em que nós costumamos namorar. Nessa fase de cortejo, todos os gymnotiformes produzem descargas típicas do período reprodutivo que têm função co-

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municativa. Esse tipo de sinal se chama de modulação elétrica e essas podem desempenhar várias funções como sinal de agressão ou submissão entre os machos e de cortejo entre machos e fêmeas. Cada espécie possui um conjunto de modulações elétricas únicas. Os machos emitem modulações elétricas entre eles, que dependendo da função podem ser de vários tipos de acelerações na taxa de repetição da descarga ou até parar por completo a descarga por alguns segundos ou até minutos.

somos peixes muito sensíveis às mudanças na qualidade de nosso ambiente. Se vocês quiserem aprender um pouco mais sobre nós é só procurar o Laboratório de Fisiologia Comportamental e Evolução do Inpa, onde vão explicar para você sobre nós e outros peixes amigos nossos. Agora se você quiser me ver, visite o meu tanque que fica localizado no Bosque da Ciência do Inpa, Av. Otávio Cabral, no bairro de Petrópolis, Manaus (AM). Te espero por aqui!

Tanto as fêmeas como os machos produzem modulações elétricas e o tipo de modulações produzidas por eles durante o acasalamento é única para cada espécie, o que é fundamental para o processo de desova, para que então depois disso nós possamos fertilizar os ovos. Quem observou todo esse processo foi o meu amigo Oceanólogo José Gomes, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT).

Alta tensão elétrica

As descargas elétricas que emitimos podem variar de acordo com o tamanho de cada individuo da nossa espécie. Vale lembrar que quando adultos podemos atingir o tamanho aproximado de 2m, pesar até 20kg e produzir descargas altamente fortes, porém vale ressaltar que as tensões variam de um peixe para outro, de acordo com o tamanho do mesmo. E você me pergunta se eu seria capaz de acender uma lâmpada? Para ser mais exato eu acenderia 15 lâmpadas fluorescentes de 32 volts, porém as descargas que emitimos são fortes e momentâneas. Após liberar descarga precisamos recarregar as energias, ou seja, é como se tivéssemos que recarregar a bateria para acender novamente, e isso danificaria as lâmpadas ou até poderia acontecer um acidente muito grave, portanto não tente fazer isso. 42

Embora não se saiba ao certo quem são meus predadores na natureza, sabe-se que é necessário evitar a poluição das águas, pois

Classificação científica Reino: Animalia Filo: Chordata Classe: Actinopteryguii Ordem: Gymnotiformes Família: Electrophoridae Gênero: Electrophorus Espécie: Electrophorus electricus

Nome Binominal Electrophorus electricus




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