Ciência para todos - Nº. 08

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INPA Revista de divulgação científica do

Ciência para todos

Outubro de 2011 · nº 08, ano 3 (Distribuição Gratuita) ISSN 19847653

Insetos Detetives ajudam

a solucionar crimes

MÚSICA Trabalho inédito alia ciência e atividades artísticas Urbanização Estudos sobre os efeitos da urbanização nas espécies de urubus Especial Jacaré’s club: conhecendo os descendentes dos dinossauros



EDITORIAL Divulgar e popularizar: agregando a ciência à sociedade

N

ossa floresta amazônica é rica e majestosa, e nos permite retirar dela a energia necessária para nosso dia a dia. No entanto, as ações humanas têm prejudicado os ecossistemas do planeta. A cada século, as mudanças climáticas afetam cada vez mais, de maneira negativa, nossa biosfera. Para que essas ações sejam diminuídas e reparadas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) vem realizando pesquisas e educação ambiental no intuito de conscientizar a sociedade de que o uso desenfreado dos recursos naturais pode afetar, de maneira irreversível, a nossa biodiversidade. Esse trabalho de conscientização é mais difícil porque a ciência, apesar dos avanços, ainda está muito distante da maioria das escolas brasileiras. Pensando nessa ausência do conhecimento científico na vida da maioria dos brasileiros, principalmente, das crianças, pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com o Inpa desenvolvem um projeto que insere estudantes de ensino básico no conhecimento e prática da ciência. Implementar essa idéia no país, é visar desde cedo, que crianças aprendam o papel fundamental que a floresta exerce em pé. O que não percebemos e precisamos nos dar conta, é que a ciência se faz presente em nosso cotidiano, e hoje é possível agregá-la nas mais diferentes modalidades. Nas artes, por exemplo, é possível unir a música com as mais diversas expressões do saber, ajudando a melhorar o cotidiano dos estudantes, sua desenvoltura acadêmica.

Dessa forma, trabalhando com a interdisciplinaridade, o Inpa não visa apenas fazer pesquisas e gerar conhecimentos sobre ciência e tecnologia, mas também capacitar melhores profissionais, transformando-os em propagadores de conhecimentos para as próximas gerações. Em se tratando de conhecimento que vem da biodiversidade, a Amazônia é cheia de surpresas grandiosas, a cada nova descoberta científica nos deparamos com facetas inacreditáveis da nossa fauna, é isto que Ciência para Todos mostra de maneira surpreendente, com ajuda dos insetos “detetives” e da equipe de Entomologia Forense, como são solucionados crimes, antes indecifráveis, com ajuda dos insetos da nossa região. Mas a ciência também pode surpreender a natureza; com a ajuda de máquinas modernas, pesquisadores projetam verdadeiras “armadilhas fotográficas” para observar como as mais variadas espécies de animais se comportam e como as ações humanas afetam cada espécie. Cada espécie é única, com função e comportamentos próprios para melhor servir a natureza, sejam recém descobertas ou pré-históricas, como os jacarés, os primeiros répteis a habitar o planeta. Você confere todas as curiosidades da família dos Alligatoridae, lendo a editoria especial da revista. Se deixe levar pelo mundo desses parentes dos dinossauros que habitam os rios amazônicos.

Boa leitura!

EXPEDIENTE Adalberto Luis Val Diretor do Inpa Wanderli Pedro Tadei Diretor Substituto do Inpa Sérgio Fonseca Guimarães Chefe de Gabinete Estevão Monteiro de Paula Coordenador de Ações Estratégicas - COAE Beatriz Ronchi Teles Coordenadora de Capacitação COCP Antonio Ocimar Manzi Coordenador de Pesquisas e Acompanhamento das Atividades Finalísticas - COPAF Carlos Roberto Bueno Coordenador de Extensão - COXT

Tatiana Lima Assessora de Comunicação MTB (4214/MG)

Colaboradores Aline Cardoso Jéssica Vasconcelos Liliane Costa Wallace Abreu

Editora chefe Josiane Santos

Projeto Gráfico Leila Ronize Rildo Carneiro

Redação Eduardo Phillipe Josiane Santos Clarissa Bacellar Fernanda Farias Fotografias Acervo pesquisadores Acervo UNB/Infraero Flavio Ribeiro Eduardo Gomes Daniel Jordano Revisão Clarissa Bacellar e Josiane Santos

Editoração Eletrônica Rildo Carneiro TRT-004 Artes e Ilustrações: Daniel Santi e Flávio Ribeiro INPA a do

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Nossa Capa: Insetos detetives ajudam a solucionar crimes

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Entomologia forense ajuda a polícia científica na solução de crimes

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Ciência e prática desde a escola básica

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Sumário

Uma releitura da música por meio da ciência

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Estudos tentam reduzir os impactos ambientais da exploração petrolífera

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Projeto ajuda conservar os quelônios da Amazônia

Projeto monitora algumas espécies 24 horas para conhecer os impactos nos ecossistemas

Pesquisa estuda o efeito da urbanização sobre as espécies de urubus

44 Ciência para todos leva você a conhecer os parentes dos dinossauros, os jacarés

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Musicaliz para dese

> Por Clarissa Bacellar

Q

uem nunca parou para ouvir determinada música porque simplesmente se identificou com a batida? Quem nunca cantou junto com a banda ou cantor preferido aquela música que mexe com seus sentidos e sentimentos a todo pulmão? O senso comum nos permite acreditar que a música tem o poder de mudar o que sentimos e até mesmo o que acreditamos, por isso existem tantos ritmos, sons, canções. Tem para todos os gostos.

Quarteto de Cordas, Quarteto de Metais, professores auxiliares e o Maestro Carlos Freitas reunidos em ensaio

Assim, por mais polêmico que o tema possa ser, visto a vasta variedade de ritmos, história e o gosto musical, que influenciam na sensação individual, a música gera um prazer inegável aos seres humanos.

Ciência nas artes

Quem trabalha diretamente com música sabe o quanto ela pode ajudar no dia a dia. Não é a toa que hoje existem tantos tratamentos que usam a música como um método de recuperação auxiliar, como a musicoterapia.

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Preocupados com a qualidade de vida dos servidores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), o maestro Carlos Freitas e participantes de outros projetos musicais, que serão implementados no Instituto no próximo ano, decidiram formar um grupo de apoio aos integrantes de trabalhos como o coral “Amazônia emcanto”. É uma verdadeira fusão entre ciência, educação e arte, um processo inédito no país. A partir dos relatórios a serem produzidos pelos profissionais, com levantamentos, avaliações e dados coletados durante ensaios e apresentações, será possível melhorar a rotina de crianças, adolescentes, jovens e idosos que usam a música como uma forma de melhorar seu dia a dia. Freitas, que realizou um levantamento detalhado sobre o tema no Brasil, conclui que o trabalho é pioneiro porque não existe bibliografia que aborde essa sinergia entre música e ciência. “Nós queremos mostrar que existe sim a possibilidade de fazer um trabalho de inter-

disciplinaridade como este”, afirma.

Programa de Educação e Cultura (PEC)

O Programa de Educação e Cultura (PEC) é o conjunto de todos os projetos que se unirão e serão realizados com o apoio e coordenação do Inpa, abrangendo diferentes áreas de ensino. As reuniões para discutir o rumo dos projetos são realizadas todas as quartas-feiras, das 8h às 14h, com apoio dos parceiros Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera (FDB) e do Banco Santander. Além dos músicos e professores que já atuam nos mais de 10 projetos que envolvem o desenvolvimento musical como forma de produção


eduardo gomes

Ensaio do Coral do Inpa, “Amazônia em Canto” acervo pec

zar senvolver FLAVIO RIBEIRO

acervo pec

Apresentação do Coral Infantil, coordenado por Lourival Caldeiras

acervo pec

Apresentação do Coral Infantil no Inpa

científica, serão incluídos outros profissionais, que formarão o Grupo de Apoio ao Profissional (GAP) para músicos, que possam ajudar a criar um ambiente e condições favoráveis para o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos que participem dos projetos. Serão, então, divididos em dois grupos: o permanente, com os professores, músicos e profissionais que irão ajudar diretamente no trabalho com as crianças e adultos; e o de apoio, formado por psicólogos, fonoaudiólogos, ortodentistas, nutricionistas, fisioterapeutas, entre outros que podem ser chamados em casos específicos ou sempre que necessário. Prova de que isso é possível é o traba-

Os professores do Projeto Social Rei Davi em visita às famílias dos alunos

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lho desenvolvido com o coral do Inpa.

“Amazônia emcanto”

O Coral do Inpa, “Amazônia emcanto”, conduzido pelo maestro Freitas, que trabalha com corais há 20 anos, existe desde 31 de agosto de 2006. A idade média dos participantes do coral é 50 anos, uma idade que a queda muscular é muito comum. Assim, além da atuação do maestro e de Jean Carlos Barros Vieira, pianista e preparador vocal do coral, faz-se necessária a supervisão de um profissional que cuide das cordas vocais e demais músculos da cavidade oral dos integrantes. Aí

está a prova de que a interdisciplinaridade proposta por Freitas é imprescindível. Entra em cena a fonoaudióloga Daniele Barreto, convidada pelo maestro a compor o grupo de apoio experimental, que ajudará tanto os idosos do coral do Inpa, quanto as crianças do coral infantil - a ser introduzido no PEC a partir de 2012 -, e que assim os integrantes poderão desenvolver suas habilidades sem prejudicarem a si mesmos. “A maioria da população acredita que o fonoaudiólogo só trabalha com criança que fala errado, e não é só isso, tem vários campos que o fono trabalha e as pessoas desconhecem, como a estéticatica”, exemplifica a fonoaudióloga.

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Fotos: eduardo gomes

FLAVIO RIBEIRO

Quarteto de Violões formado por Ailton de Freitas, Jeferson Silva, Neil Armstrong e que atualmente busca outro violonista para compor o grupo


Os quartetos: a busca por um público ouvinte de peças instrumentais Esse é objetivo do Quarteto de Metais, formado por Lourival Caldeiras, Marcelo Santos, Everton Scherer e Bruno Leonardo, que também faz parte dos projetos a serem implantados no Instituto e do Quarteto de Violões, formado por Ailton de Freitas, Jeferson Silva, Neil Armstrong e que atualmente busca outro violonista para compor o grupo. A proposta é montar um repertório com músicas amazônicas, propor uma nova sonoridade e, para isso, estão sendo feitos levantamentos de compositores amazonenses para que posteriormente sejam realizadas apresentações de teste. “Seria uma outra forma de ouvir a mesma música, uma releitura”, explica Lourival Caldeiras. O quarteto de metais, que já conta com dois trombones e dois trompetes, assim como o quarteto de violões, ainda pode aumentar. “A idéia é que nós ampliemos para um quinteto com a participação de uma tuba ou uma trompa”, informa Caldeiras.

Rei Davi

O Projeto Social Rei Davi, criado em 22 de maio de 2006, coordenado por Lourival Caldeiras, do Quarteto de Metais, é voltado ao ensino musical para crianças e começou a funcionar na própria casa de Caldeiras. O Projeto promove e apóia o desenvolvimento socioeducativo de crianças e adolescentes de famílias carentes por meio de atividades educativas e artísticas. O grupo oferece aulas gratuitas de reforço escolar, alfabetização e, é claro, música e dança. Em 2009, cerca de 200 alunos estavam “matriculados”. Realizam-se ensaios de violino, viola, flauta transversal, saxofone, trompete, trombone, flauta doce, bateria, violão e clarinete com alunos vindos dos bairros: Centro, São José dos Campos, Castanheira e Mundo Novo. gomes

eduardo

O Projeto conta hoje com a colaboração dos seguintes voluntários: Patrícia Paulino, Giovânnia Carvalho, Ana Carolina Shuan e Kamila Eliza Carvalho como professoras de reforço escolar e alfabetização, além de Edine Hsu, professora de música.

“É preciso entender que também é importante e Até porque o Inpa não é necessário ter um grupo que ouça, que aprecie isso, só árvore, pesquisas com não apenas um grupo que floresta e animais. Isso toque”, destaca o maestro Freitas. Grupos assim, tudo é muito importante, comuns na Europa, já posmas existe um homem no As pessoas acreditam suem um público que os meio de tudo isso que música não tem nada acompanha, logo, como a ver com ciência, mas afirma Freitas, a busca por os músicos também traum público que ouça esse Carlos Freitas balham com pesquisas. tipo de som pode ser fei“O músico pesquisa, ele ta por meio dos resgates procura saber sobre tudo de lendas amazônicas, de que esta acontecendo a composições barés, com as sua volta, na sua região, para que possa realizar quais certamente o amazonense se identifica. um trabalho bem produzido”, afirma Caldeiras. Para o maestro do coral do Inpa, o universo Freitas explica que também existirá uma parconspira a favor deste trabalho. “Nós começamos ceria entre os quartetos e o coral, uma vez que o projeto do coral do Inpa em 31 de agosto de o mesmo repertório será distribuído para todos 2006 e eles em 22 de maio. A gente aqui e eles os grupos, com o intuito de educar não apenas lá, fazendo trabalhos distintos e depois de cinco os componentes dos grupos, mas também todos anos o universo conspira para que nós trabalheque tenham a oportunidade de assistir as apremos em conjunto”, afirma. sentações.

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Um trabalho artístico, social, cultural e ambiental Há três anos o Projeto Bater Lata, que também fará parceria com o Inpa, mostra para as crianças que é possível fazer música com quase todo tipo de material, reciclando o que aparentemente não tem mais serventia. Garrafas, baldes, latas, pinchas, tudo que faça barulho, que tenha percussão, pode se transformar em um instrumento musical. “Tudo pode ser reaproveitado”, diz o coordenador do projeto, Rômulo Mascarenhas. Músico há 20 anos, Mascarenhas coordena um grupo com 40 crianças, de oito à 14 anos, que já se apresentaram em diversos lugares e ensina os pequenos a importância de proteger a natureza separando o lixo, se divertindo com

o processo e preservando a saúde. “O projeto começou com um convite de um amigo de formar um grupo de percussão e como não tinha recurso pra comprar os instrumentos a gente foi para percussão alternativa, tirar som de lata, baldes e outros instrumentos reciclados”, conta. As aulas do Bater Lata acontecem na Igreja Ministério Internacional da Restauração, em Manaus (AM), onde as crianças e adolescentes ensaiam e aprendem a montar os instrumentos. “Elas ficam muito empolgadas e não faltam aos ensaios, com direito até a apresentações fora da igreja, quando são convidadas”, revela Marcarenhas. EDUARDO GOMES

Coral do Inpa, “Amazônia em Canto”

Saúde e qualidade de vida

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A música tem o poder de desenvolver várias inteligências, gerar pensamento crítico, uma vez que o indivíduo pesquisa sobre a sociedade em que está inserido e como pode ajudar a melhorá-la, além de auxiliar na saúde porque libera a endorfina ajudando a relaxar. “Um trabalho que envolve as atividades artísticas e rotineiras de músico com a ciência, a favor do desenvolvimento desse trabalho gerando qualidade de vida, é inédito no Brasil e, com o projeto associado a saúde, nós pretendemos conscientizar eles dos benefícios que podem ser obtidos”, justifica o maestro.

instrumentos que tocam ou ainda como cantam. Muitos músicos e cantores ensaiam seis, oito horas por dia, realizando uma atividade que não é fisiológica, logo, precisam de uma avaliação da saúde bucal para que possam se cuidar de forma apropriada. “Primeiro a gente tem que obter os dados e quando a gente tiver esses dados na mão podemos ajudar no projeto, então nós vemos como está a cavidade bucal, os músculos, se existe alguma lesão, para que possamos cuidar disso e melhorar o desempenho deles, além de dar credibilidade para o trabalho”, explica Barreiros.

Já André Luis Barreiros, que trabalha com odontologia, o levantamento de dados sobre a saúde bucal dos músicos é de grande importância, uma vez que reflete o tempo e os cuidados que tomam com os

Segundo a fonoaudióloga Barreto, esse projeto interdisciplinar “é oportuno, pois vai trocando conhecimento e divulgando todas as áreas de ensino, inclusive a da saúde”.


“A música pode mudar o mundo porque pode mudar as pessoas” Bono Vox

11 Quarteto de Metais, formado por Lourival Caldeiras, Marcelo Santos, Everton Scherer e Bruno Leonardo

fotos: eduardo gomes


O PEC não é exclusivo, é inclusivo Uma das metas, visando a produção científica, é a cada três meses cada grupo do projeto produzir um artigo, expondo os resultados do que vier a ser desenvolvido. Levantamentos, pesquisas bibliográficas, discussões, apresentações, tudo que for produzido, para que se tenha e possa gerar conhecimentos dentro da área de música e de saúde.

zar o homem amazônico culturalmente. “Até porque o Inpa não é só árvore, pesquisas com floresta e animais. Isso tudo é muito importante, mas existe um homem no meio de tudo isso. Então a gente está tentando trazer dignidade para as pessoas, que através da música podem descobrir uma meta e ir em busca de um futuro melhor”, especifica.

“Nós trabalhamos com ciência o tempo todo. Nós trabalhamos com acústica, matemática, física, não apenas o processo humano e artístico. Talvez o capitalismo tenha desvencilhado a arte da ciência, mas elas não podem andar separadas”, frisa Freitas.

Dessa forma, todo o trabalho que os projetos realizarão em conjunto será com o intuito de compartilhar experiência, informação e conhecimento para melhorar a vida dos envolvidos, tanto da comunidade científica como da sociedade, porque, como diz o doutor Barreiros, “a gente não é ninguém sozinho”.

Em Manaus, a falta de respeito com o músico como cientista é perceptível e ignorada. “Esse é um projeto para dignificar a profissão, músico não é aquele que tem que tocar enquanto todo mundo esta comendo, ele também é um profissional e precisa ser respeitado, a gente tem que mudar essa realidade. Nós queremos mudar paradigmas”, protesta Freitas. Todos os grupos terão um repertório próprio e um comum, assim podem realizar apresentações separadamente ou juntos, desenvolvendo a cultura no Amazonas, gerando músicos de alta performance sem perder a qualidade. “O projeto, como é grandioso, sabemos que existirá erros, mas porque também é pioneiro, assim, esse processo de erro será fundamental para o nosso desenvolvimento e aprendizagem”, justifica o maestro. O PEC, segundo Freitas, busca assim valori-

Essa relação de complementos entre ciência, saúde e a música ainda tem muito o que revelar para e sobre o ser humano. “A música é tão espetacular que ela tem a capacidade de diminuir a dor, de ajudar. Ela nos estimula a buscar melhorias para nossa vida, isso é especial”, expõe o violonista Ailton de Freitas. O principal desafio do PEC é conseguir oferecer uma boa oportunidade aos interessados. “Quantos Tom Jobim nós perdemos por ano, não é? E por falta de oportunidade”, questiona o maestro. Logo, ouvir música, escrever música, fazer música, curtir música. Para viver bem e saudavelmente, nada melhor que boa música. Aquela favorita, quem sabe, que fica guardada na memória e em repetição infinita.

Música para seus ouvidos *Todos os entrevistados afirmaram que a igreja é o ninho de criação de músicos e cantores, que precisam apenas de uma melhor preparação. *Para ouvir trecho de ensaio do Quarteto de Metais e do Coral do Inpa acesso o canal no YouTube AscomInpa *Hoje sabemos que basta estarmos no campo audível da música para que sua influência atue sobre nós, acelerando ou retardando as batidas do coração; relaxando ou irritando os nervos; influindo na pressão sanguínea, na digestão, no ritmo da respiração etc.

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* Pesquisas recentes realiza pela York University e pelo Royal Conservatory of Music de Toronto e publicada pela revista Psychological Science revelam que a música ajuda no desenvolvimento da inteligência, como o conhecimento de vocabulário, tempo de reação e precisão.



Conservação

Ciência

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aliada à educação ambiental para conservação da Amazônia > Por Liliane Costa

E

ntre as principais fontes de proteínas consumidas na Amazônia, os quelônios foram e continuam sendo muito utilizados na região, desde a época do império português. Das 16 espécies existentes na Amazônia Brasileira, o gênero Podocnemis é o mais ameaçado pelo consumo e interesse econômico.

Apesar da existência de inúmeros projetos em conservação, esforços dos órgãos fiscais e implementação de criadouros legalizados de quelônios, os problemas ainda não cessaram. Há 20 anos, o pesquisador Richard Carl Vogt, mudou-se para o Amazonas com o objetivo de estudar os quelônios na região. O zoólogo juntamente com outros pesquisadores do Instituto Nacional


ACERVO ProjeTo tartarugas da amazônia

de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) fundou em 2002, a Associação de Ictiólogos e Herpetólogos da Amazônia (AIHA), uma associação civil, sem fins lucrativos, cuja finalidade básica é promover o estudo da ictiologia e herpetologia na Amazônia, assim como a interação cultural e científica entre os seus membros em geral, visando à conservação da natureza. Após muitos anos de pesquisa, Richard Vogt, com o apoio de estudantes, analisaram que desde 1967, ano em que foi criada pelo Governo Federal a lei 5.197 que protege a fauna brasileira e proíbe a caça de espécies silvestres no Brasil, não foi suficiente para extinguir a caça predatória de quelônios. Estratégias vêm sendo adotadas para conservação deste grupo, como a proteção e o manejo nas praias de desova e a implantação de criadouros legalizados para desestimular o comércio ilegal nos grandes centros urbanos, mas resultados satisfatórios não foram observados. Concluiu-se que a grande extensão territorial da Amazônia brasileira dificulta a identificação e proteção das áreas críticas à reprodução destas espécies, além disso, o baixo número de técnicos para fiscalizar tamanha região é outro problema, junto a falta de ações e campanhas de atividades de educação ambiental, que envolvam tanto as populações tradicionais, quanto a população dos grandes centros urbanos, principais responsáveis pelo consumo da carne de tartaruga. Por isso, a integração de estudos científicos direcionados à educação é imprescindível, já que estas linhas de atuação deveriam ser desenvolvidas em conjunto para obter resultados mais concretos e efetivos, uma vez que se complementam. A partir daí, o pesquisador Vogt e o grupo de pesquisa viram a necessidade de criar um projeto voltado especificamente para a conservação de quelônios de água doce na região, com a missão de despertar a sensibilização frente às comunidades, principalmente quanto ao consumo e comércio ilegal. Estava surgindo então o “Projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro”.

Projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro

A AIHA criou o projeto chamado: “Projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro” com o objetivo de ampliar ainda mais os estudos científicos desenvolvidos com cinco principais espécies mais ameaçadas: tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis), irapuca (Podocnemis erythrocephala), pitiú ou iaçá (Podocnemis sextuberculata) e o cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus), criando programas de educação ambiental com abordagens dinâmicas para o desenvolvimento do manejo participativo com o compromisso de contribuir para a conservação da Amazônia, principalmente na cidade de Manaus e nas comunidades tradicionais da REBio Trombetas, por meio de parcerias estratégicas com o Inpa, Ampa, Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os pesquisadores observaram um alto consumo da espécie na capital, portanto, tornou-se necessário a criação de Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (CEQUA) para modificar o comportamento, alguns valores e hábitos sociais relacionados ao consumo desenfreado de tartarugas na região, já que em Manaus não existiam programas ambientais voltados para conservação de quelônios. “Um centro de educação e estudos voltados para a conservação dos quelônios da Amazônia, qualificando jovens para atuarem como monitores e multiplicadores do conhecimento nas diferentes instituições de ensino na cidade de Manaus”, explica Vogt.

Duas linhas de ação: pesquisa e educação ambiental

O Projeto Tartarugas da Amazônia surgiu com o objetivo de conservar as tartarugas existentes na região. Porém, percebeu-se que os trabalhos não poderiam ficar restritos somente às tartarugas, pois uma das chaves para o sucesso desta missão seria o apoio ao desenvolvimento de alternativa de renda para as comunidades ribeirinhas e quilombolas,

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Irapuca

reduzindo assim a caça ilegal de quelônios na Amazônia. Para isso, as atividades desenvolvidas no projeto foram organizadas a partir de duas linhas de ação: pesquisa aplicada e educação ambiental.

(Podocnemis erythrocephala) ACERVO ProjeTo tartarugas da amazônia

“As atividades de pesquisa são de extrema importância em trabalhos com conservação, pois é preciso conhecer a história de vida de cada espécie. No momento, vários estudos sobre a ecologia de ninhos, padrão de movimentação, genética populacional, bioacústica, dieta, dispersão de sementes e ecologia de população estão sendo desenvolvidos”, destaca Vogt.

Conheça um pouco das cinco espécies atendidas pelo projeto

Iaçá ou pitiú

(Podocnemis sextuberculata)

Exploração: os adultos são capturados em redes de pesca, malhadeiras e nas praias de desovas, sendo consumidos localmente em grandes números, particularmente durante a estação da seca. A iaçá foi a espécie mais comum de tartaruga de água doce usada no tráfico comercial no rio Purus no Brasil, e as fêmeas adultas correspondem a uma proporção muito alta de espécimes neste tipo de comércio. 16

Conservação: é considerada uma espécie ameaçada com populações vulneráveis.

ACERVO ProjeTo tartarugas da amazônia

O maior comprimento da carapaça já registrado foi 34 cm e o peso máximo de 3,5 kg. Umas de suas principais características são os seis tubérculos que os filhotes e jovens possuem no plastrão, os quais tendem a desaparecer conforme crescem. As fêmeas são maiores que os machos. O habitat da espécie é em rios de água branca e clara. São herbívoros. Machos e fêmeas possuem a mesma dieta, porém notou-se que a frequência de consumo de sementes diminui conforme o tamanho do animal. Costumam construir ninhos nos pontos mais altos das praias que surgem na estação seca pondo, em média, 15,8 ovos por ninho. O período médio de incubação, observado para a Praia do Pirapucu (RDS Mamirauá), foi de 64 dias. A determinação sexual também ocorre de acordo com a temperatura de incubação.

O maior comprimento registrado para a espécie foi de 32,2 cm. Uma característica marcante na irapuca é o padrão de coloração vermelha ou alaranjada na cabeça, daí o seu nome específico. Nos machos, o padrão avermelhado persiste até a fase adulta; as fêmeas têm variação ontogenética, e o colorido avermelhado na cabeça torna-se marrom escuro nos adultos. As fêmeas são maiores do que os machos que possuem caudas mais longas e espessas. A espécie geralmente é encontrada em rios de águas pretas, mas também há registro em alguns rios de águas claras. São primariamente herbívoros, alimentando-se de plantas aquáticas e frutos que caem nos igapós, porém peixe também pode fazer parte da sua dieta. Durante o período reprodutivo, as fêmeas se deslocam por grandes distâncias para desovar nas campinas do rio Negro, mas também desovam nas praias. A desova ocorre geralmente durante a noite, quando cada fêmea deposita de 5 a 14 ovos por postura. A frequência de desovas por fêmea pode ser até quatro vezes durante uma estação reprodutiva. Os ovos são alongados, e a casca é rígida. O sexo dos filhotes é determinado pela temperatura de incubação. Exploração: a exploração de adultos e ovos ocorre principalmente na calha do rio Negro. Porém existem registros que mostram a espécie sendo consumida por jacaré-açu. Seus ovos são predados por moscas, lagartos, macacos, aves, roedores e outros mamíferos como o carnívoro iara e o marsupial mucura–de-orelha-preta. Conservação: é considerada uma espécie vulnerável. Ainda não existem trabalhos de proteção para as áreas de desova.


Tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa)

Cabeçudo (Peltocephalus

em frente às praias por um longo período, que coincide com a subida das águas e com o nascimento dos filhotes. São depositados em média cerca de 100 ovos, ocorre apenas uma postura por ano. O período de incubação dos ovos é em média de 45 a 55 dias e o sexo dos filhotes é determinado pela temperatura de incubação. Exploração: desde a época do império português, a carne e os ovos de tartaruga-da-amazônia são consumidos pelo homem. O naturalista Henry Bates relatou que no alto rio Amazonas, próximo a cidade de Tefé, cerca de 48 milhões de ovos foram coletados anualmente entre 1848 e 1859. Atualmente a lei permite a comercialização da tartaruga-da-amazônia de criadouro comercializado para desestimular o comercio ilegal. ACERVO ProjeTo tartarugas da amazônia

É a maior tartaruga de água doce da América do Sul, chegando a medir 70 cm de comprimento e a pesar aproximadamente 25 kg. A maior fêmea de tartaruga já registrada mediu 109 cm de comprimento e pesou 90 kg. Possuem uma coloração marrom, cinza ou verde oliva e sua carapaça é achatada e mais larga na região posterior. Os machos são menores que as fêmeas, possuem a carapaça mais estreita e cauda maior. Os filhotes e jovens apresentam manchas amarelas na cabeça. Fêmeas adultas têm uma variação ontogenética, no colorido amarelo da cabeça que torna-se marrom escuro com o avançar da idade. A distribuição da espécie ocorre em toda a Bacia Amazônica. São herbívoros, ou seja, se alimentam de plantas (frutos, talos, folhas, sementes e algas). A reprodução ocorre durante a estação de seca, as tartarugas migram à procura das áreas de desova que varia de acordo com a localidade e o ciclo dos rios. Antes da desova as tartarugas se agrupam em frente aos tabuleiros, como são chamadas as praias de desova. Ao sair da água para desovar, as tartarugas andam pela praia atrás de um bom local para postura. Após a postura, continuam agrupadas

Conservação: anualmente cerca de 2 a 3 milhões de filhotes de tartaruga-da-amazônia nascem nas praias dos rios amazônicos que vem sendo monitoradas e protegidas. Apesar deste número estar muito longe dos 48 milhões de ovos que eram coletados anualmente no século XIX, em apenas quatro praias.

dumerilianus)

O comprimento da carapaça do adulto pode medir até 52 cm nos machos e até 47 cm nas fêmeas, com adultos podendo pesar entre 8 e 15 kg. É uma grande tartaruga e, em contraste com a maioria dos demais gêneros de tartarugas aquáticas e das espécies da sua mesma família. Os machos são maiores do que as fêmeas. A mordida desta espécie é muito forte, possuem muita força em seu maxilar. A espécie é amplamente distribuída, na Bacia Amazônica, sendo abundantes no rio Negro, e em típicos rios de água preta. Apesar de possuírem um bico (focinho) muito afiado e maxilas muito fortes, sugerindo serem predadores, no seu conteúdo estomacal foi encontrado primariamente sementes e frutos. Constroem ninhos em qualquer lugar de areia seca na floresta de igapó. Seus ninhos são feitos principalmente no interior da floresta alagada, em barrancos de terra junto às raízes de árvores caídas. Contudo, as fêmeas também podem construir ninhos na margem da

água. A desova varia de julho a novembro dependendo da localidade. As fêmeas desovam entre 10 e 25 ovos por ninho. Exploração: nesta espécie, os adultos são os mais explorados, pois seus ninhos são tão bem camuflados que dificulta a predação, principalmente a humana. O cabeçudo não é consumido por ser a espécie preferida, mas porque populações das outras espécies de tartarugas têm sido dizimadas em larga escala pela coleta de adultos e de ovos. Conservação: por meio de dados concretos de monitoramento de espécies adultas e praias de desova, o projeto mostra também para as comunidades locais, como o consumo desenfreado está afetando o status das populações locais de quelônios, mostrando alternativas de subsistência como forma de expandir o interesse coletivo em respeito à natureza.

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Tracajá (Podocnemis unifílis) Chegam a medir 35 cm de comprimento e pesar cerca de 6 kg. Os machos são menores que as fêmeas, possuem a carapaça mais estreita e cauda mais longa e espessa. Os filhotes e jovens apresentam manchas amarelas na cabeça. Fêmeas adultas têm uma variação ontogenética, no colorido amarelo da cabeça que torna-se marrom a ferrugem com o avançar da idade. Em alguns machos o padrão de cor da cabeça pode se perder. Vivem em uma variedade de habitats como, grandes rios, lagos, lagos de meandro, pântanos, brejos e lagoas. Ocorrem nos três tipos de rios amazônicos: rio de água branca, rio água clara e rio água preta. São predominantemente herbívoros, ou seja, se alimentam de plantas (frutos, talos, folhas, sementes e algas). As fêmeas consomem mais sementes e frutos, enquanto os machos comem mais caules de gramíneas. O período de desova varia ao longo de sua distribuição

na Amazônia. A desova é dependente do recuo do nível da água, com isso a estação de desova varia de junho até fevereiro dependendo da localidade. As fêmeas desovam de uma a duas vezes por temporada cerca de 35 a 40 ovos. O sexo dos filhotes é determinado pela temperatura de incubação. Exploração: a principal ameaça para a sobrevivência desta espécie é a massiva exploração de adultos, jovens e ovos para consumo e venda. Algumas populações de tracajás nas bacias dos rios Madeira e Tapajós têm sofrido efeito da poluição por mercurio (Hg) normalmente associada com o garimpo de ouro. Conservação: na Amazônia existe um programa que monitora e protege as praias de desova para tracajás e tartarugas- da-amazônia. ACERVO ProjeTo tartarugas da amazônia

Apoiadores Desde sua criação, a ONG vem atuando na organização de eventos em Manaus como o Joint Meeting of Icthyologists and Herpetologists, 6th World Congress of Herpetology e o XIX Encontro Brasileiro de Ictiologia, promovendo campanhas destinadas a conservação e pesquisa de peixes e quelônios na Amazônia.

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E foi com a união destas parcerias que o “Projeto Tartarugas da Amazônia: Conservando para o Futuro”, por meio da AIHA, concorreu na quarta edição da Seleção Pública de Projetos oferecida pela Petrobrás através do Programa Petrobras Ambiental, sendo contemplada no ano de 2011 para desenvolver o tão sonhado projeto. Graças às fortes parcerias e ao patrocínio da Petrobras, até o final de 2012, um Centro de Estudos de Quelônios

da Amazônia (CEQUA) será construído na cidade de Manaus, tornando-se o pioneiro em toda a Amazônia. Ele vai atuar em quatro áreas: Educação Ambiental, Comunicação, Visitação & Aquário e Pesquisa. Será construído nas dependências do Inpa, um local já consagrado na Amazônia dentro do roteiro de turismo científico-ambiental na zona urbana de Manaus, usufruindo de infraestrutura de visitação oferecida pelo Bosque da Ciência, com sua sede próxima de um lago artificial que já abriga várias espécies de tartarugas da amazônia. Com um espaço aberto ao público, o Centro vai contar com exposições de tartarugas amazônicas vivas em ambientes de aquário com informações sobre a conservação, ecologia e biologia das espécies.


fotos: projeto tartarugas da amaz么nia

Pesquisadores fazem a medi莽茫o dos quel么nios

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Educação cient

Interdisciplinar

Ciência na

20

> Por Wallace Abreu

É

do interior do estado do Pará que vem a iniciativa de um novo modelo de educação ambiental. A proposta de incluir no ensino fundamental e médio a metodologia científica de ensino tem movimentado os estudantes do município de Oriximiná (a 823 quilômetros de Belém) que vem buscando se destacar na sala de aula para integrar a equipe do Programa de Ação Interdisciplinar (PAI), coordenado pelo professor Domingos Wanderley Picanço Diniz, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O objetivo do projeto é tirar os estudantes do ensino fundamental e médio da sala e promover uma educação ambiental real, na prática e não através das páginas de livros, fotos ou vídeos. “O título

que demos ao projeto já deixa claro exatamente a que o programa se propõe: uma ação. Temos que ensinar a educação científica na prática e não ficar só na retórica”, argumenta Diniz. “O que a gente busca é a efetivação de novas didáticas pedagógicas na prática do ensino. Eles entram na mata, eles vão aos igarapés, eles vão, na prática, entender como funciona aquele ecossistema. E não é nada fora da realidade deles, só que eles passam a enxergar esse ambiente em que vivem de outra forma”, disse. De acordo com o coordenador do programa, tratase de uma proposta interdisciplinar por se tratar de um projeto que se propõe a fazer perguntas ou solucionar problemas já levantados relacionados a dife-


tífica na escola básica:

a prática FLAVIO RIBEIRO

Domingos Diniz desenvolve projetos para estudantes de ensino fundamento e médio

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rentes áreas e não somente a um tema ou assunto em particular. Um dos objetivos do programa é resolver o que é visto como um problema por seus coordenadores, que é o distanciamento que existe entre a universidade pública e a realização de ações diretas na sociedade. “A ideia é que esse programa se responsabilize para ajudar a escola básica, entenda escola básica como o ensino fundamental e médio, a incluir no seu conteúdo programático disciplinar a ciência do ponto de vista do pensamento, do teste de hipóteses, do método científico, coisas que não aparecem em textos didáticos em qualquer escola básica do país”, destaca o professor.

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“Estas duas experiências não estão dissociadas. O ensino anda de braços dados com a pesquisa. Dentro de uma perspectiva para atender os parâmetros curriculares internacionais de nível superior, médio e fundamental, o programa atende a lei de diretrizes básicas da educação. O trabalho que realizamos, não é nada mais do que o orientado pelo Ministério da Educação (MEC) e, ao fazê-lo, nós encontramos as barreiras naturais do ensino clássico, que devem ser rompidas. O que fazemos para galgar estas barreiras? Primeiro tiramos o estudante da sala de aula”, ressalta Diniz.

“Na Ufopa, orientamos nossos graduandos em licenciaturas a evitar qualquer forma que reproduza Domingos fala sobre uma real interação amazôa forma clássica de ensino. Outro ponto que passanica entre aqueles que possuem mos aos nossos graduandos é que o conhecimento formal da reeles tem que entender que esses gião e aqueles que possuem um alunos de ensino fundamental ou “A idéia é que esse conhecimento informal, aquemédio não estão ou são inferioprograma se resles que vivem em meio a esse res à eles. Eles serão parceiros de conhecimento, que o fazem ser pesquisa, e esses estudantes de ponsabilize para verdadeiro, sem ter conheciensino fundamental ou médio os ajudar a escola mento disso: o caboclo amazôajudarão a elaborar o seu trababásica, a incluir nico. “Procuramos estabelecer lho de conclusão de curso”, disse uma parceria com o caboclo, Diniz. no seu conteúdo pois é ele quem possui o verprogramático disdadeiro conhecimento, mesmo De acordo com o professor, que informal, sobre esta requando essa parceria se estabeleciplinar a ciência gião. Essas informações devem ce na prática, eles passam a ter do ponto de vista ser compartilhadas para que uma relação de respeito entre si. do pensamento, do não se percam. Essa parceria A partir do momento que estes propicia que possamos sisteestudantes da escola básica perteste de hipóteses, matizar este conhecimento do cebem que o programa permite do método científiponto de vista da compreensão que eles manifestem suas curioformal”, ressalta. sidades, que são inerentes a sua co, coisas que não idade e que muitas vezes são aparecem em tex“A proposta é proporcionar fantasiosas em sua relação mítos didáticos” aos alunos da escola básica uma tica com o mundo, quando eles melhor compreensão do ampassam a ter essa oportunidade biente em que eles vivem. A cide, no mundo real, fazer essa perência, antes de qualquer coisa, gunta ao mesmo tempo em que ela é cidadã, e ela ajuda a mostrar para a criança possuem as ferramentas necessárias para chegar até que tudo aquilo que está ao seu redor, que tudo a resposta, eles passam a ter uma relação de curioé muito importante e que a falta de algum elesidade com o mundo real e entender que o mundo mento custará muito caro para a natureza. O ser real pode ser lúdico, pode ser tão prazeroso quanto humano, desde a infância, tem que aprender o o mundo da fantasia. valor de cada coisa, estabelecer uma relação de respeito. Tudo isso está dentro dos princípios fi“Quando isso acontece a gente percebe que muda losóficos do programa”, destaca o professor. a relação social deste cidadão. Ele passa a ter mais zelo com o ambiente ao seu redor e, é essa experiênO programa surgiu dentro de um projeto pedacia que deveria ser exercitada ao máximo no Brasil, gógico do curso de graduação em Ciências Biolópois este é um país que está na fase de experimentar gicas com ênfase em Águas Interiores da Ufopa o que pode vir a dar certo para seu desenvolvimenonde o graduando deve cumprir uma carga horáto. Não quero dizer que estamos com o modelo de ria de prática de ensino e uma carga horária do ensino correto, que ele é fenomenal. Tudo deve ser Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), de acordo experimentado nessa fase. E a experiência te percom a grade curricular do curso. No PAI, essas mite pensar e testar aquelas coisas que você tem duas práticas se unem. por convicção como funcionais, as coisas que você


acredita, e principalmente, porque a experiência te permite errar”, argumenta Diniz. Segundo o professor, este é outro ganho que o programa pode oferecer ao aluno. “Hoje, a criança é o tempo todo bloqueada por causa do erro e, esse exercício tentativa/erro, permite um crescimento, um amadurecimento intelectual que não vem sendo bem trabalhado”,

disse. Outro ponto a ser destacado no projeto é o despertar no jovem esta convivência com o universo acadêmico, o que futuramente, não será mais uma dificuldade para estes quando chegarem de fato ao nível de ensino superior, pois ele já possui contato real com este meio, já estando preparado para este nível de ensino.

Graduandos Para o graduando, surge uma responsabilidade social, além da simples entrega e conclusão de sua pesquisa ao final da graduação. “O graduando passa a ver que o trabalho que poderia simplesmente apenas beneficiá-lo com a obtenção do grau, passa a beneficiar outras pessoas que tiveram a oportunidade de participar deste processo de pesquisa”, aponta Diniz.

informações, mas que está pronto para recebê-las e ser exercitado”, explana o professor. FLAVIO RIBEIRO

Cada graduando trabalha com seis alunos da rede pública de ensino. Quatro do ensino fundamental e dois do ensino médio. “O aluno do ensino fundamental é priorizado, pois ele terá mais tempo de experiência dentro do programa, e ele está muito mais livre para pensar de que um aluno do ensino médio, que já está bombardeado por uma mídia que não só é repressora como estabelece dificuldades de um relacionamento sadio. Um menino entre os oito e 12 anos é, como eu diria, um HD vazio de

Na escola “Nós realizamos um processo seletivo para o ingresso dos estudantes de ensino médio e fundamental, independente de sexo, idade, cor, ou status social. O que nós consideramos é o rendimento escolar do aluno na sala de aula. Trabalhamos para combater uma prática muito comum em escolas públicas, principalmente nos municípios do interior, onde alunos recebem privilégios no ambiente escolar por conta de sua proximidade com tal professor ou diretor da escola. O programa não surgiu para resolver problemas psicológicos, familiares e educacionais que são de responsabilidade da criação familiar, mas pode oferecer resultados para o futuro deste ambiente escolar”, argumenta Diniz.

O programa estimula seus participantes a prática da pergunta, e que com eficácia, tem tido um bom retorno dentro das salas de aula. O aluno passa a perguntar mais e o professor passa a se preparar mais para dar suas aulas. Todos os projetos desenvolvidos na escola são apresentados em seminários bimestrais e uma feira de ciências é organizada anualmente. “Realizamos mini conferências com a participação de alunos de outras cidades, oficinas de como formatar uma revista em quadrinhos, como produzir um jornal, gincanas científicas, apresentações teatrais, vídeos, fotografias, entre outros materiais, tudo produzido pelos integrantes do programa”, destaca o professor.

Parceiros O programa foi concebido em 2005, mas a preparação prática começou a ser feita em 2007 e sua efetivação junto aos alunos foi em 2009. O programa é realizado em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (INCT-Adapta) coordenado pelo Instituto Na-

cional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). “Essa parceria só vem para fortalecer as ações deste Instituto Federal que embora esteja situado em Manaus, deve atender as demandas e anseios em pesquisas de toda essa região que compõe a Amazônia, embora conheçamos as dificuldades geográficas que esta região nos impõe”, argumenta Diniz.

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Insetos det Por Aline Cardoso

A

Ciência Forense

maior parte dos materiais orgânicos na natureza como folhas, frutas e até cadáveres, é decomposta por insetos principalmente moscas e besouros. Para melhor saber sobre os hábitos desses insetos, o grupo de Entomologia Forense do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) tem trabalhado para entender como as moscas e besouros podem ajudar a ciência forense a desvendar crimes de origem misteriosa.

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solucionan O pesquisador bolsista Alexandre Ururahy Rodrigues, um dos responsáveis por uma das pesquisas, em andamento no Inpa, diz que esses animais são de fundamental importância para o ecossistema natural. “As moscas varejeiras e besouros, principalmente, são nossos objetos de estudos, pois colonizam o material orgânico, onde suas crias se desenvolvem”, explica.

O pesquisador vê a Entomologia Forense como uma ferramenta no auxílio aos procedimentos periciais em questões legais. “A sua relevância social está intimamente ligada à segurança pública, principalmente”, enfatiza o pesquisador e completa: “A entomologia forense encontra-se em franca expansão no país. Existem núcleos de pesquisa nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Brasília e Amazonas. Os demais estão em vias de serem formados”. A pesquisa conta com estudiosos envolvidos direta e indiretamente nos trabalhos: José Albertino Rafael, Ruth Menezes Kepler e Alexandre Ururahy Rodrigues, pesquisador com bolsa do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) e alunos de pós-graduação e bolsistas do Instituto, da Coordenação de Biodiversidade.

Os detetives

“Os insetos são os decompositores naturais de material orgânico. Com os estudos da biologia desses insetos levados em consideração, a ajuda se dá de modo direto em investigações criminais e poderão estimar um dado de extrema importância para o bom andamento do caso: o intervalo pós-morte”, afirma Ururahy explicando que este é o tempo decorrido entre a morte e a descoberta do cadáver e que pode ser muito próximo do tempo de colonização pelos insetos. As moscas varejeiras (da família dos calori-


etetives

ando crimes fídeos) e besouros participam efetivamente dos experimentos e, com base na ação desses insetos, é possível calcular o tempo em que o cadáver está em decomposição. Para que os experimentos sejam realizados, os pesquisadores trabalham em uma área afastada na Reserva Adolpho Ducke, utilizando porcos domésticos. Ururahy explica que a legislação brasileira atualmente não permite que experimentos forenses sejam feitos usando cadáveres humanos, portanto nesta pesquisa utilizam-se porcos. O pesquisador conta que, segundo pesquisas feitas em outros países do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra e França, os porcos domésticos são parecidos com os seres humanos no que diz respeito ao processo de decomposição, além de reproduzir bem as dimensões de um humano.

Cobaias

As cobaias escolhidas pesam em média 60 kg para simular o peso médio de um corpo humano adulto. Os dias de colonização do cadáver pelos insetos são classificados como etapas, isto é, representam um avanço no processo de decomposição. Ao analisar essas etapas, pode-se determinar, ou estimar pelo menos, o tempo de decomposição do cadáver. Alguns fatores precisam ser considerados na decomposição de material orgânico, sejam eles cadáveres humanos ou não, e podem ocorrer de três formas: decomposição bacteriana (bactérias da flora intestinal), autólise (morte das células do corpo) e a ação externa, por meio de animais (insetos e grandes vertebrados). O primeiro citado é responsável pela maior perda de massa corporal do cadáver. O pesquisador explica ainda que ação dos

insetos pode variar de acordo à localidade em questão, e são influenciadas diretamente pelo clima desse lugar e diz que nem sempre, em todos os casos, são as mesmas espécies de insetos, no entanto esse processo ocorre sempre da mesma forma. “O corpo, depois de morto, logo exala um odor que atrai esses insetos”, explica. As moscas varejeiras (observadas nesta pesquisa), vespas e até abelhas são as primeiras a chegar para se alimentar do material orgânico e colonizar o cadáver. As fêmeas depositam os ovos sobre esse material para que quando eles eclodam, suas crias possam também se alimentar deste. A massa corpórea do cad á v e r ajudará as larvas desses insetos a chegar à fase adulta. 25


A próxima fase que se segue, não é tida como regra pelos pesquisadores, mas geralmente, alguns insetos predadores como os besouros – nesta pesquisa o silfídeo Oxelytrumcayenense – chegam ao cadáver com o intuito de se alimentar das larvas de moscas e cartilagens do corpo, limpando os ossos. Outras espécies de besouros, como o Coprophanaeus lancifer, são exclusivamente necrófagos, ou seja, são animais que se alimentam de restos orgânicos (plantas e animais mortos). No processo de alimentação, esses insetos provocam injúrias pós-morte, artefatos que podem confundir os peritos na elaboração de laudos periciais. Ainda como fator que pode causar confusão para os legistas, esta espécie de besouro altera a posição inicial da carcaça, provocando incisões no corpo morto por inteiro. “Esse dado é muito importante, pois pode confundir a causa-morte para os peritos. A injúria que esse besouro faz no corpo pode ser facilmente confundida

com ferimentos causados por objetos perfurocortantes, c o m o facas, no e n t a n t o , foi feito pelo próprio inseto”, afirma Ururahy e comenta: “Em nossas observações, em dois meses, o que restou do cadáver foi apenas o esqueleto; posso afirmar que em cinco anos, o corpo terá sido decomposto por completo”, afirma o pesquisador.

Pupas

Ururahy trabalhou em alguns casos reais em parceria com autoridades de outros estados e, em um deles, o trabalho da Entomologia Forense foi crucial para resolver o mistério, tudo baseado no estágio da vida dos insetos encontrados no local do crime. 26

Depois de passado o período larval do inseto, eles costumam abando-

nar o cadáver e procuram o solo para se enterrar e se transformarem em pupas – uma espécie de casulo. Depois de um período de tempo, elas emergem já em fase adulta e com asas. As pupas são importantes para a perícia, pois representam uma fase mais madura do inseto e esse dado oferece uma estimativa mais precisa do pós-morte nas investigações. “Se observarmos, os insetos podem contar uma história com muita clareza”, comenta Ururahy.

Testando: 1, 2, 3...

Atualmente, de acordo com Ururahy, existem experimentos já em fase final de observação e análise na Reserva Adolpho Ducke, sob coordenação da pesquisadora do Inpa, Ruth Leila Menezes Keppler. As novas fases de experiências têm planos para iniciar ainda este semestre e serão coordenados por outro pesquisador do Inpa, José Albertino Rafael e executados por Ururahy. Fazendo parte de um plano de ações para difundir a importância desta pesquisa, o grupo coordenado pelo pesquisador José Albertino Rafael, manteve contato com o Instituto de Criminalística do Instituto Médico-Legal de Ma-

naus (IML) e firmou uma parceria para ministrar cursos de capacitação para os peritos criminais e também para consultorias em casos reais. “Os ganhos para ambas as instituições será de gerar um conhecimento científico de ponta para o Amazonas nesta área de atuação, formando e complementando um banco de dados para a nossa região e contribuir com a polícia científica na missão de desempenhar seu papel na segurança pública estadual”, conclui Ururahy.


Ururahy trabalha na área forense desde 2003 por ocasião do projeto da Universidade de Brasília (UnB) intitulado “Centro Nacional de Entomologia Forense”. Este projeto foi desenvolvido em parceria com o Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pú-

blica (SENASP) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com recursos do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) e teve por objetivo ministrar cursos de capacitação para peritos da polícia, além de prestar consultorias em estudos de casos reais.

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Exploração

Redução de impactos

Biodiversidade de Urucu

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> Por Jéssica Vasconcellos

O

petróleo é a principal fonte de energia utilizada pela sociedade moderna. A exploração deste recurso gera impactos negativos ao ambiente e exige medidas para minimizar esses impactos. A Rede CTPetro Amazônia foi criada em 2001 atendendo a um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e tem como objetivo intensificar a troca de informações, o intercâmbio de profissionais, avaliar, eliminar ou minimizar os efeitos negativos ao meio ambiente, resultante das atividades de prospecção e transporte do gás natural e petróleo na Amazônia brasileira e conhecer melhor o ambiente (flora, fauna, solos, clima etc.) sob influência das atividades petrolíferas, desenvolvendo tecnologias para recuperação de áreas desmatadas pelas atividades

petrolíferas em Urucu, no município de Coari, no Amazonas. Na sua criação, o Fundo Setorial do Petróleo tinha como meta estimular a inovação na cadeia produtiva do setor de petróleo e gás natural, a formação e a qualificação de recursos humanos. Única na região Norte aprovada no edital da Finep de 2001, a Rede CTPetro Amazônia teve seu primeiro convênio assinado em 27 de dezembro de 2002 e iniciou suas atividades em janeiro de 2003, sempre buscando auxiliar a Petrobras a desenvolver um modelo de exploração de petróleo e gás natural em plena floresta, onde a preservação do meio ambiente e qualidade de saúde sejam referências mundiais. As pesquisas, até a quarta fase, vêm sendo realizadas às margens do rio Urucu, no município


o petrolífera

e de gás natural respeitando de forma consciente fotos: Rede CTPetro

Projeto Caracterização e análise da dinâmica do solo

Margem do rio urucu

de Coari, na Base de Operações Geólogo Pedro de Moura (BOGPM), distante cerca de 650 km da capital Manaus. Já na quinta fase, que teve início no final de 2010, a Rede também começou a realizar pesquisas em algumas clareiras provenientes do gasoduto, entre Manacapuru e Manaus, no estado do Amazonas. A Província de Urucu é a única a produzir petróleo e gás natural na Amazônia brasileira e o grande desafio da indústria petrolífera é explorar essa riqueza sem degradar a floresta, preservando e protegendo sua biodiversidade.

Amazonas (Ufam), Universidade Federal do Pará (UFPA), Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras). Desde sua criação, o projeto intensifica a troca de conhecimentos entre essas instituições buscando Rede: o que se esajudar, por meio das pesquisas científicas, a conservação amapera para a quinta zônica. fase é um avanço

na obtenção de dados científicos em novas áreas de pesquisas

O projeto, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI), conta com a participação de instituições como Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do

PROJETOS Estruturada por cinco projetos de pesquisas até a quarta fase, executados pelo Inpa, Embrapa e MPEG, a Rede CTPetro Amazônia representa um esforço conjunto de diferentes grupos de pesquisas e instituições de C,T&I em atuarem de forma coordenada, integrada e cooperativa, para realizar pesquisas visando auxiliar a resolver e/ou minimizar os impactos das atividades humanas no meio ambiente amazônico.

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Os projetos que compõem a Rede até a quarta fase são: Dinâmica de clareiras sob impacto da exploração petrolífera - coordenado pela pesquisadora Ana Lúcia da Costa Prudente, do MPEG, é um projeto que se propõe a prover conhecimento e tecnologia para subsidiar a recuperação de clareiras causadas pela atividade da indústria petroleira na região do Rio Urucu no Amazonas. Para isso, o projeto, até o final de sua execução pretende ter como resultado um inventário biológico na região do Urucu, disponibilizando dados para toda a rede. Estes dados darão subsídios para a obtenção de outros resultados como: * Listas florísticas identificadas taxonomicamente e localização precisa de todas as espécies e indivíduos arbóreos registrados nas parcelas da floresta primária, possibilitando a marcação de árvores matrizes para coleta de sementes e treinamento de técnicos e para taxonomistas; * Listas faunísticas com identificação de espécies, com a localização precisa dos pontos de amostragem dos animais; * Incremento das coleções científicas das ins-

tituições participantes do projeto e formação de coleções de referência no local do projeto (Rio Urucu), caso seja de interesse da empresa entre outras metas a serem cumpridas.

Técnica de regeneração artificial em clareiras abertas pela exploração e transporte de petróleo e gás natural - coordenado pelo pesquisador do Inpa, Gil

Vieira, promove o desenvolvimento de tecnologia para a regeneração artificial em clareiras abertas pela exploração e transporte de petróleo e gás natural visando à recomposição do ecossistema danificado. Para isso tem como algumas metas: *Definir qual ou quais modelos silviculturais são mais eficientes na recomposição de clareiras formada pela prospecção de petróleo e gás natural, e aumento da biodiversidade; * Promover a recuperação funcional das áreas de clareira; * Reduzir o processo erosivo do solo; * Formar recursos humanos na recuperação de áreas degradadas.

30 Base petrolífera de Urucu em Coari (AM)

ACERVO REDE CTPETRO


Análise de sensibilidade ambiental, modelagem e previsão de impactos

Sob a coordenação do pesquisador do Inpa, Bruce R. Fosberg. O projeto pode ser subdividido em duas partes: uma envolveu o desenvolvimento de um modelo de inundação e deriva de mancha de petróleo para a várzea amazônica acoplado a um banco de dados biológicos e sócio-econômicos, que possa ser utilizado para prever os efeitos de acidentes com petróleo na região. A outra parte envolveu o estudo da dinâmica nas clareiras, abrangendo as alterações microcli-

máticas decorrentes da abertura e os efeitos do transporte de sedimentos sobre o ciclo hidrológico. A previsão em tempo hábil da trajetória de uma mancha de petróleo após um vazamento é importante para a previsão dos impactos ambientais decorrentes do acidente e para preparar ações eficazes para reduzir estes impactos. Esta previsão requer uma modelagem precisa da deriva de manchas e um banco de informações sócio-ambientais detalhado sobre os ambientes potencialmente atingíveis. ACERVO REDE CTPETRO

Projeto Técnica de regeneração artificial em clareiras

Caracterização e análise da dinâmica do solo

Coordenado pelo pesquisador da Embrapa, Luiz Marcelo Brum, o objetivo maior desse projeto é, através de uma avaliação integrada dos atributos do meio físico da região de Urucu e Coari, caracterizar as potencialidades e as vulnerabilidades dos solos da região, definindo as estratégias adequadas para conservação e manejo dos mesmos. A integração desses estudos

fornece dados fundamentais para aumentar significativamente os conhecimentos deste domínio da Amazônia Ocidental, contribuindo para entender os processos de intemperismo das rochas gerando os solos. Esses dados permitem comparar as modificações sofridas naquelas áreas onde houve retirada do solo. Compreende também, estudos da biologia e fertilidade dos solos, considerados extremamente importantes na restauração ambiental das clareiras.

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Malária: dinâmica de transmissão, vetores e estratégias de controle em áreas de exploração de petróleo

Coordenado pelo pesquisador do Inpa, Wanderli Pedro Tadei. O projeto está estruturado para estudar os anofelinos e os mecanismos de transmissão e controle da Malária na Província Petrolífera de Urucu e áreas de influência – Coari e Carauari, determinando as estratégias de controle com base em medidas de rotina e em novos processos biotecnológicos, reduzindo os riscos de transmissão dessa doença aos trabalhadores e às comunidades envolvidas. Complementa ações de controle com informações em educação e saúde e assistenciais que possibilitem a melhoria das Condições e Qualidade de Vida das Comunidades, na área de influência do empreendimento. Na Amazônia, a malária configura-se como a principal endemia e dependente do uso e ocupação da terra. Como nos demais países tropicais, esta doença representa, no Brasil, importante problema de saúde pública, acometendo entre 500 a 600 mil pessoas por ano, das quais quase % ou mais estão na Amazônia (dados da Funasa). A malária é geralmente a primeira doença a surgir em decorrência da ocupação desordenada da terra, com número crescente de casos nas últimas décadas.

Detecta-se baixa mortalidade entre os indivíduos adultos, porém a morbidade é elevada, constituindo a primeira causa de perdas econômicas entre as doenças parasitárias no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A introdução de novas estratégias de controle possibilita melhor abordagem das medidas de combate à malária. A complexa ecologia da Amazônia resulta em habitats com características especiais. Encontram-se, por exemplo, águas pretas e ácidas, águas brancas ligeiramente básicas, pulso de enchentes e vazantes, que propiciam a existência de uma diversidade e densidade de anofelinos específicos para cada área. Esses diversos ecossistemas estabelecem dinâmicas de transmissão distintas nas áreas endêmicas, onde as modificações ambientais alteram o grau de incidência da doença, interferindo nas medidas a serem adotadas. A meta principal a ser atingida é a redução da incidência nos trabalhadores da Petrobras e estabelecer medidas de prevenção, para cada área especificamente. É nesta linha de raciocínio que as atividades deste projeto estão centradas para atuar de forma preventiva contra a malária na área da Província Petrolífera de Urucu e áreas de influência – Coari e Carauari. acervo rede ctpetro

32 Sede da Rede CTPetro


Inicio da 5° Fase Passados nove anos de sua criação, a Rede CTPetro Amazônia se reestrutura para melhor atender às demandas de pesquisas da região Norte. Nesta nova estrutura, a Rede está desenvolvendo novas linhas de pesquisas envolvendo áreas de monitoramento dos impactos no ambiente terrestre e biorremediação, bem como técnicas de bioengenharia e de revegetação das clareiras com sistemas agroflorestais, quando tratar-se de áreas de domínio privado e do perímetro urbano. Na nova estrutura, a Rede é composta também por cinco projetos, porém sua atuação é mais abrangente com pesquisas em áreas por onde passa o gasoduto. Os projetos da quinta fase são: · Projeto Gestão – Coordenado pelo Inpa.

· Projeto Homem e Meio Ambiente – Coordenado pelo Inpa. · Projeto de Monitoramento e Recuperação Ambiental na Amazônia – Coordenado pela Ufam. · Projeto de Tecnologias de Revegetação Florestal em Clareiras e Áreas alteradas na Amazônia – Coordenado pela Embrapa. · Bioengenharia Aplicada a Restauração Ecológica em Áreas Alteradas – Coordenado pelo Inpa. Para o coordenador da Rede, Luiz Antonio de Oliveira, o que se espera para a quinta fase é um avanço na obtenção de dados científicos em novas áreas de pesquisas, principalmente em clareiras abertas para a construção do gasoduto entre o trecho de Manacapuru e Manaus, aumentando a contribuição para recuperarmos novas áreas desmatadas e degradadas na região. fOTOS: acervo rede ctpetro

Projeto Técnica de regeneração artificial em clareiras abertas e o centro do município de Coari

Resultados de Pesquisa O coordenador afirma que os resultados das pesquisas da Rede CTPetro tem auxiliado a Petrobras em manter um modelo de exploração de gás natural e petróleo na Amazônia com muito pouco impacto ambiental sobre a floresta que circunda a Base de Pedro de Moura, às margens do rio urucu no município de Coari. “O desmatamento na BOGPM representa menos do que 0,004% de todo o desmatamento ocorrido na Amazônia brasileira, um impacto insignificante e com elevado retorno econômico para a região e país, pois é lá que todo o gás natural e petróleo usados na Amazônia e parte para o Nordeste brasileiro é retirado”, explica Oliveira. Os conhecimentos e tecnologias desenvolvidos na BOGPM por integrantes da Rede CTPetro Amazônia servem de suporte para a recuperação, restauração dos mais de 70 milhões de hectares desmatados pela agricultura e pecuária em todos os estados da Amazônia brasileira, contribuindo assim, para revertermos esse processo destrutivo que repercute contra nosso

país no mundo globalizado. A sede administrativa da Rede foi inaugurada no dia 31 de março de 2006 no Campus II do Inpa. Segundo Oliveira, “A construção da sede surgiu de uma decisão dos coordenadores dos projetos e da coordenação geral da rede em uma reunião no final de 2003, visando proporcionar maior eficiência nos trabalhos, bem como mostrar a intenção de consolidarmos a rede na Região Amazônica, a única aprovada na Amazônia pelo Fundo Setorial do Petróleo no Edital Norte/Nordeste de 2001”. Os trabalhos da administração da Rede CTPetro Amazônia até então eram executados em sua sala na Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas do Inpa junto com seus orientados de pós-graduação e do Programa Instituicional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), o que causava dificuldades na realização dos trabalhos pela falta de estrutura, lembra o coordenador.

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“Armadilhas

ajudam nos estudos das m

fotos: Daniel Jordano

Armadilhas fotográficas que monitoram 24h os animais

Monitoramento 24h

> Por Josiane Santos

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N

ão são apenas os programas realities shows que utilizam as câmeras para monitorar 24 horas o comportamento de seres vivos. Esse método de observação por meio de câmeras fotográficas tem contribuído com a ciência nos estudos dos ecossistemas e a influência das ações humanas. Como é feito em programas de realities shows, o monitoramento também ocorre 24 horas por dia no período de 30 dias. Essa metodologia de monitoramento é utilizada desde 2003 pelo Projeto Tropical, Ecology Assessment and Monitoring Network (TEAM), que conta com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Conservation Internacional e da Fundação Moore. É um projeto de longa duração e tem como objetivo analisar os efeitos das mudanças climáticas na biodiversidade utilizando protocolos de coleta

padronizados. Por meio de protocolos de monitoramento como clima, vegetação, vertebrados terrestres, zona de dinâmica humana e mudanças nos ecossistemas. Em Manaus, o TEAM possui 60 estações de monitoramento com armadilhas fotográficas instaladas em duas estações de pesquisas do Inpa, localizadas nas estradas vicinais ZF-2 e ZF-3, com acesso pela BR-174 (Manaus -

Sobre o projeto

O Projeto TEAM está distribuído em 17 países: Camarões, Costa Rica, Congo, Equador, Índia, Indonésia, Laos, Madasgascar, Malásia, Panamá, Perú – dois sítios -, Suriname, Tanzania, Uganda e no Brasil, com dois sítios também, um em Caxiuanã (PA) e outro em Manaus (AM). “O TEAM se diferencia dos demais projetos porque


fotográficas”

mudanças dos ecossistemas utiliza protocolos de coletas de dados padronizados em escala global. O que é feito no Amazonas, é feito em outros países onde o projeto atua”, afirma o coordenador do site em Manaus, Wilson Spironello. Em Manaus, o Inpa é um dos parceiros mais atuantes dentro desse projeto, visto que apoia com infraestrutura, logística e com recursos humanos qualificados, contribuindo ainda para treinamento de estudantes e profissionais na região. Para obter uma precisão dos dados são considerados fatores como distribuição espacial e esforço de captura das câmeras para maximizar a probabilidade de se conseguir um acervo fotográfico de tamanho adequado. “Esses pontos não são colocados ao acaso na floresta para tornar confiáveis as estimativas populacionais dos animais. Pela quantidade de vezes que o animal é registrado em cada ponto estimamos a proporção de ocupação da área e a probabilidade de detecção, com isso é obtido um Reconyx modelo RM45 RapidFire, exclusivas para esse tipo de pesquisa

índice de ocorrência, um valor indireto de abundância – quantos animais existem naquela área”, explica. De acordo com Spironello, o objetivo do TEAM é monitorar mudanças em larga escala nas florestas tropicais utilizando variáveis abióticas e bióticas; avaliar em tempo real essas variáveis para o planejamento de estratégias de conservação, e discenir efeitos das atividades humanos nos processo naturais.

Tecnologia não substitui a mão-de-obra

Sair nas primeiras horas do dia e caminhar pela floresta amazônica durante quase o dia todo pode ser para muitos uma aventura irresistível, mas para o grupo formado por pesquisadores, estudantes e técnicos, fazer longas caminhadas na floresta faz parte do trabalho durante a instalação das armadilhas fotográficas. As armadilhas são instaladas somente no período de estiagem e ficam no campo durante 30 dias monitorando 24 horas cada ponto. A distância entre cada câmera é de 2 km, instalada em troncos de árvores entre 30 cm a 50 cm de altura em relação ao solo. Cada vez que um animal é detectado as câmeras registram três fotos. As máquinas fotográficas usadas nas armadilhas são da marca Reconyx modelo RM45 RapidFire, exclusivas para esse tipo de pesquisa, distribuídas em dois blocos – ZF2 e ZF3 - com 30 câmeras por bloco. Cada câmera vem acompanhada de um cartão de memória com a mesma numeração da câmera e com capacidade de armazenamento de 2GB e funciona com seis pilhas médias. “Esse é um método interessante porque se você fosse andar a noite procurando os animais, você não ia ver quase nada. Assim é uma forma de você ver o

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animal usando a área sem se intrometer”, explica Spironello. As armadilhas são instaladas em diferentes ambientes, classificados de acordo com a paisagem do seu entorno: contínuo, parcialmente e altamente fragmentado. “Antes de instalarmos as câmeras, nós anotamos o número da camêra, o local (coordenadas geográficas), o tipo de ambiente (classificados em baixio, vertente ou platô) e se tiver algum distúrbio no local que possa fazer alguma diferença na coleta dos dados como por exemplo uma árvore caída, um rio”, explica a bolsista do projeto Carine Dantas de Oliveira.

Análise

Após o período de 30 dias de monitoramento, os equipamentos são levados ao escritório do projeto TEAM, em Manaus, para organização e análise dos dados. Cada armadilha fotográfica é descarregada no sistema, ordenadas sequencialmente com a númeração da câmera e das fotos usando o programa DESKTEAM. Cada câmera apresenta em média 300 fotos – data, temperatura e horário são automaticamente registrados no momento em que a câmera aciona a foto. Ao descarregar as fotos no programa o pesquisador preenche uma a uma as seguintes informações: tipo de animal, gênero, espécie, número de indivíduos e identificador. As análises são feitas utilizando os programas Presence e R. Os animais são classificados como raro, comum ou muito abundante com base na probabilidade de detecção. São 60 câmeras instaladas nas reservas do Inpa, ZF-2 e ZF-3

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“Nossa análise não se preocupa com o reconhecimento do indivíduo, por isso se fala em ocupação. O que importa é se a espécie está presente, ocorre em todos os pontos, se é o mesmo indivíduo ou não, não há problema”, observa Spironello. “Se um animal for pego muitas vezes em todos os pontos quase todos os dias, isso é uma informação que o animal é bastante abundante”, explica. Na análise dos dados, dentre os mais abundantes estão os roedores de pequeno e médio porte como: cutiara, cutia e paca. De acordo com o Spironello, as ações humanas influenciam na ocupação dos animais. “Quando a área de floresta diminui e a paisagem do entorno é mais fragmentada – áreas agrícolas, cidades – tem maior efeito indireto que passa a alterar o próprio ambiente natural. Com isso você diminui a diversidade, as populações – algumas espécies são mais abundantes outras menos - umas estão sofrendo mais que outras, os herbívoros e carnívoros, por exemplo, são mais tolerantes às perturbações humanas”, ressalta. A equipe global é coordenada pelo pesquisador Jorge Ahumada da Conservação Internacional. Em Manaus, além do pesquisador Spironello, o projeto conta com a participação dos bolsistas Carlos Eduardo Faresin e Silva, Carine Dantas Oliveira, o estudante de pós-graduação do Inpa André Luis Sousa Gonçalves e os técnicos Jonas Ferreira Paz e Jefferson Costa Amazonas. daniel jordano


daniel jordano

As câmeras são instaladas em troncos de árvores entre 30cm e 50cm de altura em relação ao solo

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fotos: Projeto TEAM, reserva ZF-2, julho de 2011

Nome popular: Cuíca-de-quatro-olhos Nome científico: Metachirus nudicaudatus Mucurinha carregando oito filhotes

Nome popular: Caititu Nome científico: Pecari tajacu Índice de ocupação: comum

Nome popular: Jaguatirica Nome científico: Leopardus pardalis Índice de ocupação: rara

Nome popular: Veado-roxo Nome científico: Mazama nemorivaga Índice de ocupação: comum

Nome popular: Paca Nome científico: Cuniculus paca Índice de ocupação: comum

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Nome popular: Onça-parda Nome científico: Puma concolor Índice de ocupação: rara

Nome popular: Tatu-Galinha Nome científico: Dasypus novencinctus Índice de ocupação: comum

Nome popular: Cutia Nome científico: Dasyprocta leporina Índice de ocupação: comum

Nome popular: Onça-pintada Nome científico: Panthera onca Índice de ocupação: rara



Urubus

invadem área urbana de Manaus > Por Fernanda Farias

O

Urbanização

urubu é uma espécie muito comum nas áreas urbanas de muitas cidades brasileiras. É possível ver essas aves em grande quantidade, seja em lugares que há um grande acúmulo de lixo, ou em partes da cidade que formam ilhas de calor. Mas quais os reais motivos para essa espécie invadir o nosso espaço urbano? O espaço é nosso de fato? Ou será que nós é quem invadimos o espaço desses bichos?

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A verdade é que estamos eliminando o ambiente natural de muitos animais, com o contínuo processo de urbanização das metrópoles, e com isso alteramos radicalmente o habitat de muitas espécies da nossa fauna, fazendo com que muitos animais percam seu lar para nossas casas, prédios e indústrias. Com isso, agredindo e poluindo o meio ambiente, nós mesmos acabamos trazendo vários malefícios para toda a sociedade.

Apesar de ser uma ave conhecida popularmente, o urubu ainda é uma espécie pouco estudada na área científica. A falta de conhecimento sobre esse animal dificulta ainda mais o entendimento de sérios problemas ocasionados por eles. É o caso de colisões de urubus com algumas aeronaves, que sempre acaba causando grandes prejuízos para todos os envolvidos, para os passageiros, para a tripulação e para as empresas.

Incidentes envolvendo aves e aviões ocorrem há muito tempo e em todo o mundo. O primeiro registro foi em 1912, e embora as espécies, a situação e a severidade das colisões sejam diferentes, é notável que se ... O voo dos urubus que trata de um grave problema viajam para o Peru, inpara a sociedade. Até os dias atuais, mundialmente, vadindo espaço aéreo da foram contabilizados milhaAmazônia ocidental... res de colisões, resultando em grandes prejuízos financeiros e a morte de cerca de Mundo Virado – Nicolas Jr. 350 pessoas.

Foi o que a pesquisa realizada pelo estudante Weber Galvão Novaes, doutorando em Ecologia, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) revelou por meio de um monitoramento realizado na cidade de Manaus, o efeito da urbanização sobre as espécies de urubus e o que realmente atrai essas aves para as áreas urbanas da cidade, avaliando seus aspectos ecológicos, biológicos e comportamentais.


fotos: acervo unb/iNFRAERO

Educação ambiental com a comunidade próxima ao aeroporto de Manaus (AM)

Mas o que atrai essas aves para a cidade? Os motivos para os urubus invadirem o espaço urbano das cidades são vários, o principal deles é a busca constante dessas aves por alimento, que costumam comer restos de alimentos e carcaças de animais. Infelizmente com a falta de saneamento básico nas ruas e igarapés da cidade, em conjunto com a falta de educação ambiental para as pessoas, para que elas aprendam a eliminar os resíduos de suas residências de forma correta, e ainda o descaso do poder público na coleta de lixo, acaba acumulando uma grande quantidade de lixo em vários pontos da cidade, tornando, literalmente, um prato cheio para os urubus.

ACERVO UNB/INFRAERO

O grande problema e que esse acúmulo de lixo nas áreas próximas aos aeroportos também atrai essas aves para as áreas estratégicas de pouso e decolagem dos aviões, podendo assim os urubus colidirem com partes importantes das aeronaves, como a tur-

bina e o motor. Quando um urubu de 1 kg colide com um avião em voo a 300 km/h ele passa a ter 7 mil kg por causa do choque, conseguindo causar danos irreparáveis à aeronave, pondo em risco a vida de todos a bordo e as dos moradores das proximidades dos aeroportos. O pesquisador Weber lembra o caso da aeronave da TAM que colidiu com um urubu, alguns anos atrás. Além do susto que os passageiros e toda tripulação tiveram, a companhia aérea teve prejuízos absurdos com os danos causados pela colisão na aeronave e os passageiros tiveram de ser transferidos. “Os passageiros têm de ser transferidos para outro avião, ou vão para um hotel, isso acaba diminuindo a credibilidade da empresa aérea, pois as pessoas ficam com medo de viajar pela companhia. Somando todos esses inconvenientes, o prejuízo é muito grande para ambos os lados”,

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Ar quente facilita voo dos urubus Uma característica das espécies da ordem Cathartiformes, é que elas gastam pouca energia para voar, os urubus por serem excelentes planadores, são capazes de passar o dia inteiro planando atrás de alimento, gastando pouquíssima energia pra isso. Para ganharem altitude voam em círculos, com o auxílio de correntes ascendentes de ar quente.

Quando o sol incide no solo gera calor, como ar quente é menos denso que o ar frio, ele sempre tende a subir e o ar frio a descer, assim os urubus utilizam a massa de ar quente que está subindo para ganhar altitude no voo. Por isso, muitos urubus se agrupam em termelétricas e aeroportos, que são lugares que formam ilhas de calor, favorecendo ainda mais o voo dessas aves. Fotos: acervo unb/infraero

Os urubus se agrupam em termelétricas e aeroportos, que são lugares que formam ilhas de calor

Os urubus defecam nos próprios pés! Dessa forma evitam que sua temperatura corporal suba demais

O principal motivo para os urubus invadirem o espaço urbano é a busca constante por alimento

Os urubus são também conhecidos como condores, abutres do novo mundo e cegonhas carniceiras

Nem de todo mal vive o urubu

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Apesar de oferecerem extremo perigo para a aviação, os urubus são animais com um papel fundamental para o meio ambiente. Por eles serem necrófagos, isto é, comem animais mortos, graças ao seu sistema imunológico e ao potente suco gástrico secretado por seu estômago, eles fazem uma espécie de limpeza nos locais aonde vão, comendo os restos de carniças. Os urubus são responsáveis por grande parte da eliminação de carcaças de animais mortos, eliminando a matéria orgânica em decomposição da natureza.

Na área urbana e proximidades de Manaus, podemos encontrar cinco das seis espécies da Família Cathartidae o urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura); o urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus); o urubu-da-mata (Cathartes melambrotus); o urubu-de-cabeçapreta (Coragyps atratus); e o urubu-rei (Sarcoramphus papa). Os urubus são também conhecidos como condores, abutres do novo mundo e cegonhas carniceiras.


Ações Preventivas A colisão de aves com os aviões são, infelizmente, cada dia mais freqüentes devido ao crescimento das cidades e ao descarte indevido do lixo urbano. Para que acidentes como o da TAM sejam evitados, o Programa Fauna, firmado entre a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) e a Fundação Universidade de Brasília (UNB), iniciou uma campanha de conscientização sobre os riscos da proliferação de aves em espaços de trafego aéreo no aeroporto internacional de Manaus.

As principais ações da equipe Fauna são: ações de monitoramento da fauna no sítio aeroportuário, por meio de censos e vistorias de focos atrativos e pontos de acesso à fauna; vistorias nas áreas de segurança aeroportuária, visando identificar os focos atrativos de aves; o acompanhamento dos incidentes envolvendo fauna no aeroporto; e ações de educação ambiental com a comunidade nas proximidades do aeroporto.

Educação Ambiental A equipe fauna, em conjunto com o Grupo de Trabalho em Educação Ambiental (GTEA) da Comissão de Prevenção do Perigo da Fauna (CPPF), realiza palestras nas escolas para estudantes e professores que residem nas áreas próximas do aeroporto de Manaus. Nas palestras são abordados os problemas que os urubus podem causar como as colisões e ain-

Curiosidades Quando se sentem ameaçados, os urubus regurgitam a comida! Assim conseguem alçar voo depressa e escapar! Para perder calor os urubus defecam nos próprios pés! Dessa forma evitam que sua temperatura corporal suba demais! Não tem penas no pescoço! Como se alimentam de carne em putrefação, cheias de bactérias, esse contato poderia contaminá-los! Os urubus têm a visão e o olfato apurados! São capazes de ver um animal pequeno a três mil metros de altura!

da como o lixo mal depositado e acumulado em locais inadequados, pode atrair esses animais. Serão realizadas pela equipe visitas as feiras livres de Manaus para informar aos comerciantes e frequentadores sobre hábitos sadios que podem melhorar a qualidade da feira e, assim minimizar a existência de urubus nessa região.

Urubu, Mestre do Vôo Simone Almeida

Perdoa a mão que te apedreja Perdoa quem não te perdoa Perdoa a pedra que te alveja Perdoa o preconceito e voa Quem come o podre que ele deixa Não pode ser inútil à toa Gari de terno preto e asas Perdoa o preconceito e voa Mestre do vôo, divino réu Anjo de cor, gari do céu No imenso azul e branco véu Cumpre, urubu, o teu papel Perdoa a voz que te pragueja Quem simplesmente te caçoa Perdoa o chute que te aleija Perdoa a estupidez e voa Para que todo homem veja Que o teu agouro é coisa boa Que todo azar é uma trapaça Do próprio ego das pessoas Gari de terno preto e asas Perdoa a estupidez e voa.

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A turma do

Jacarezi

> Por Eduardo Phillipe

O

i, Eu sou o Jacarezito, tudo bem? Você com certeza já deve ter me visto na TV, num zoológico ou até mesmo num igarapé próximo de sua casa. E, certamente, teve um pouco de medo de mim. Até porque possuo algumas características que assustam demais quem não me conhece. Meus amigos da floresta sabem muito bem como é essa situação. Mas vamos mudar essa imagem? Vou mostrar que sou legal e interessante com a ajuda do pesquisador do Inpa William Magnussum, e o mestre em biotecnologia André Luiz Ferreira da Silva.

Vamos nos conhecer?

Bom, vou me apresentar para vocês. Eu e meus

amigos somos répteis, pertencemos à ordem Crocodylia, da família dos Alligatoridae. Descendemos dos primeiros répteis que habitavam o planeta, e isso há 230 milhões de anos. E os nossos parentes, adivinhem, são os dinossauros. Desde então, não mudamos muito em relação a nossa aparência, somos muito espertos, inteligentes e adaptáveis ao meio ambiente.

o nosso país podem ser encontradas quatro espécies, vamos conhecê-las? O jacaretinga pode chegar a 2,5m ou 3m, a sua cor pode ser cinza escuro ou amarelado. Possui uma saliência entre os olhos que lembra um “óculos” e, por esse motivo, também são chamados de jacaré-de-óculos. No vale do rio Paraná, a espécie é conhecida como Jacaré-dopantanal.

ESPECIAL

O jacaré-açú é a maior espécie do país, pode chegar a 5m, a sua cor é

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J


ito

preta com manchas brancas na parte dorsal e, igual ao jacaretinga, possui a mesma saliência que lembra um “óculos”. O jacarépaguá ou anão é uma espécie pequena, raramente chega a 2m, sua cor pode ser cinza escura, mas a tonalidade pode variar e são conhecidos também como jacaré-pedra. E o jacaré-coroa é uma espécie pequena, dificilmente chega a 2m, vive em florestas e em pequenos igarapés. Poucas pessoas sabem encontrá-lo escondido na floresta, por isso que é pouco avistado, mas é um dos jacarés mais abundantes no mundo.

mentação é bastante rica. Quando acabamos de sair dos ovinhos e começamos a crescer, comemos pequenos insetos, crustáceos, pequenos lagartos, sapos ou rãs. Depois, quando crescemos mais um pouco, a nossa alimentação muda e passamos a comer peixes e animais de médio porte. Na fase adulta, comemos mamíferos, aves, quelônios e outros répteis.

E na Amazônia?

Na nossa casa, a Amazônia, a espécie mais encontrada é o jacaretinga. Por ser bastante adaptável, podem ser encontrados em áreas inundáveis, próximo a grandes rios, estradas e igarapés urbanos. Acredita-se que pode suportar a poluição dos grandes centros urbanos, mas não sabemos por quanto tempo.

Você sabe como nos alimentamos?

Nós somos predadores carnívoros e a nossa ali-

Nomes Ci

Classi entíficos

ficaçã

dos Jacar

Jacareting és a Jacará-açu (Caiman c rocodylus) Jacaré-coro (Melanosu chus niger) a Jacaré –pa (Paleosuc hus trigon guá ou an atus) ão (Palae osuchus p alpebrosu s)

o cien

Reino : Filo: Anima lia Classe : RChordata Ordem eptilia : Famíli Crocod a: yl Alliga ia torida e

tífica 45


A nossa reprodução Os jacarés são ovíparos (colocam ovos) e o período de procriação começa na seca e vai até o seu final. É a melhor fase, pois é quando os rios estão baixos. Somos bastante territorialistas, protegemos muito bem os nossos ninhos. Os jacarezinhos nos ovos podem levar

de 90 a 100 dias para nascerem. As espécies menores, como o jacaré-coroa e o paguá, botam em média de 12 ovos por vez. O jacaretinga coloca aproximadamente 30 ovos no ninho e o açú, por ser a maior espécie, em torno de 60 ovos.

Curiosidades da Turminha O jacaré-açú também pode alcançar 5,5m. E pesar quase uma tonelada. A fêmea é muito protetora, principalmente no primeiro ano de vida dos filhotes. Ela os defende até de outros jacarés. Essa é a fase mais difícil dos jacarezinhos, pois podem tornar-se a alimentação de muitos outros predadores. O nosso metabolismo é muito eficiente e podemos passar muito tempo sem nos alimentar.

tabolismo e ajudar na digestão dos alimentos. Com certeza você já nos viu sossegados nas margens dos rios, lagos ou igarapés. Certo? Gostamos de caçar durante a noite e é nesse momento que os pesquisadores aproveitam para nos estudar. Nossos olhos refletem a luz das lanternas no escuro e, curiosamente, lembram uma “cidadezinha” no outro lado do rio.

Somos animais de sangue frio e durante o dia ficamos a maior parte do tempo descansando. Podemos usar o sol para manter a nossa temperatura alta, regular o nosso me-

No aconchego do Bosque da Ciência – Inpa E aí? Que tal fazer uma visitinha e conhecer toda a minha turma? Não perca tempo! Venha para o Bosque da Ciência, no Inpa. Aqui você encontrará todas as espécies de jacarés da Amazônia. Dias e horários são esses, anotem: terça à sexta, das 9h as 12h e das 14h as 17h. Sábados, domingos e feriados das 9h as 16.

Até breve!!!

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