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ATRÁS DO MURO
Em Quintal (2016) a obra de Manoel de Barros (1916-2014) em seu horizonte repleto de possibilidades poéticas, fruto de uma natureza pensada por imagens e reveladas no universo lúdico do “idioleto manoelês”, se traduz em material de trabalho. É a partir de sua leitura que são experimentadas as qualidades, tensões e intenções que permeiam os gestos, movimentos e ações pesquisados durante o processo. É através do encantamento e da imaginação criadora presentes na obra de Manoel de Barros que adentramos este processo criativo. “Repetir até ficar diferente” é um recorte de um verso presente no poema Uma didática da invenção que compõe O livro das ignoranças (1993).
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Como método de composição, como forma de acúmulo e organização do que foi sendo experimentado, partimos de uma perspectiva da técnica como investigação. Sendo esta a base de composição do espetáculo Quintal aliada a outros procedimentos investigativos fundamentados em elementos-base para a improvisação: o encadeamento de elementos acrobáticos; e a pesquisa de movimentos e ações a partir das imagens evocadas na obra, através da poesia de Manoel de Barros. Vamos arquivando as experimentações que, desenhadas e memorizadas, transformam-se em material, objeto de trabalho para composição da obra cênica, permitindo-nos experienciar a liberdade de utilizar este conteúdo de formas variadas, alterando dinâmica, tempo, ritmo. “Repetir, repetir - até ficar diferente. Repetir é um dom do estilo”. (BARROS, 2010)
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Com esta criação, propusemos fisicalidade, imagem e movimento à poesia de Manoel de Barros que também é física, imagética e dinâmica. A dramaturgia que tecemos na criação do espetáculo Quintal evoca imagens acionadas através do corpo, compondo o gesto, fazendo submergir uma rede de signos que se entrelaçam à obra do poeta e, dessa forma, dando novos sentidos às figuras e movimentos acrobáticos. Poeta das grandezas do ínfimo, Manoel de Barros afirmava que “poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede: procure ser árvore” (BARROS, 2010). Durante o processo de criação do espetáculo, que se inicia por volta de setembro de 2015, nos deparamos com múltiplas possibilidades da poesia de Manoel de Barros, mas ali algo já ressalta e para nós tornou-se central no processo de composição do espetáculo: fazer palavra virar corpo, fazer palavra virar gesto, ação, movimento. Nossos corpos no espaço desenhando a poesia.
“A procura insistente pelo que pode ser antropofágico, ser um corpo que se movimenta, que traz consigo sua história, fundada dia a dia. Fluxo contido, controlado, encadeando um a um os movimentos. Sequência mas, antes de tudo, presença. Para ouvir o pulsar que me leva sempre a querer ver o mundo de cabeça pra baixo, mesmo que de passagem. Espaço direto, foco na execução de cada ação por vez, elevar-se, conter-se, reverter, deslizar. O tempo, variante, como o deslocamento das dunas, que dependem do vento. O impulso necessário dá ao tempo sua qualidade.
(Samara Garcia)
Peso forte, tônus do corpo acrobata que apesar do esforço quer encontrar-se com a leveza e nessa quase esquizofrênica busca encontra sua expressividade.”
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“Quintal adentra os universos do escritor Manoel de Barros e sua escrita brincante, então as orientações: mergulhar de fato na vida e obra do autor, assistir documentários, assistir, e reassistir e assistir novamente o vídeo do espetáculo apresentado anteriormente na caixa cênica, fazer anotações no diário de bordo, ler a obra do autor e partir paras as investigações corporais repetindo-as e repetindo-as, ainda que em casa sozinha sem a presença das demais integrantes da companhia, apenas gravando e enviando para a diretora ir repassando orientações, já que essa era a única forma possível do processo acontecer, o mais importante era não parar de investigar. Tudo isso, toda essa metodologia, para tentar ao máximo apreender as palavras de Manoel no corpo. Na busca de transformar suas metáforas, palavras e visões em circografias.
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A grande ironia, era que o palco e a sala de ensaio, nesse momento em especial, eram de fato nossos próprios quintais/nossas casas, já que estávamos no período maior de isolamento social e era a câmera que se encontrava com o público na forma de vídeo”. (Rafaely Santos)
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Uma tentativa de transver o mundo com o corpo, e assim levar toda essa apreensão para a cena.
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Nesse contexto libertador que é a obra do poeta algo nos impulsionava ao encontro, e fomos, assim, aproximando a poética de Manoel de Barros à poética da linguagem circense talvez ingenuamente, pois para o poeta essa relação é antiga quando diz que “aprendera no Circo, há idos, que a palavra tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria de rir” (BARROS, 2010). Fomos juntando os cacos, os pedaços, os rastros, as pistas para pensar que se para Manoel sua poesia deve chegar a grau de brinquedo, é em nossos corpos que essa brincadeira se materializa.
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“O Quintal é um respiro diante de tanta loucura. Tive a oportunidade de assistir a esse trabalho em 2017, um ano antes de estar na Cia. CLE, fiquei encantada! Não fazia ideia de que um dia estaria em cena.
Minha experiência com arte foi por muito tempo como aluna, participei do Circo Escola do Bom Jardim por mais de 10 anos e como era um projeto social não tínhamos incentivo e nem formação para sermos artistas, as pessoas ao meu redor diziam que viver de arte não era uma opção segura. Desisti, mas sempre que assistia a um espetáculo sentia que meu lugar não era só na plateia mas também na cena. E fui chegando devagar, pulei o muro quando o portão do quintal já estava aberto, só pela traquinagem, pelo desafio, pela brincadeira.”
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(Nataniele Freitas)
Incorporar a poesia de Manoel de Barros foi desafiador pelo pouco tempo, mas quando trabalhamos juntas, quando temos o apoio umas das outras tudo funciona, acontece. E estar nesse espetáculo foi uma experiência maravilhosa, me trouxe a espontaneidade e a liberdade do olhar de uma criança.
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O quintal é esse lugar para experimentar. Uma pausa no fluxo intenso da cidade para ampliar o olhar para a pequenez das coisas, pés descalços, balanço, fazer brinquedo com as palavras, fazer palavra virar corpo. A poesia de Manoel de Barros nos ajuda a pensar: até onde o movimento acrobático pode nos levar em nossa pesquisa, não como um fim em si mesmo?
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