UMA COLEÇÃO M a n f r e d L e ye r e r
Leyerer é um colecionador apaixonado por Minas Gerais. Conhece bem as montanhas, as cachoeiras e o jeito mineiro de ser. Isso o levou a incentivar a publicação de vários livros sobre Minas Gerais, destacando as belezas da Serra do Cipó, o santuário do Caraça e as Grutas do Peruaçu, evidenciando o registro das riquezas do folclore do nosso estado. Soma-se a isso a sua paixão pela arte mineira, o que o direciona a adquirir obras de vários artistas mineiros, valorizando suas raízes e procurando conhecer cada artista, cujas obras, muitas vezes, ficam desconhecidas do público e guardadas em seus ateliês. Leyerer incentivou também a publicação de vários livros e catálogos, como forma de registrar a vida desses artistas. Sua coleção possui obras de artistas de outros estados, mas a arte mineira é prioridade. Sua coleção é a extensão de seus desejos mais profundos, vivendo diariamente com o belo, o questionador, o diferente, o único. A arte o tranquiliza em seus momentos turbulentos e o ajuda a vencer os maiores desafios de sua vida profissional. Sua coleção não está encerrada. Cresce a cada dia como um desejo que não é saciado nunca. Robson Soares Curador
Manfred Leyerer sempre incentivou a arte, criando o espaço cultural da Vallourec e acreditando na aquisição e apoiando a restauração do Cine Theatro Brasil, atualmente um ponto de referência da cultura em Minas Gerais. Sua inauguração, há três anos, com a exposição “Guerra e Paz, de Portinari”, certamente marcou a história de Belo Horizonte. Leyerer apoiou a publicação de vários livros sobre artistas mineiros, outros tantos sobre regiões do estado, além de ser um colecionador preocupado em preservar e divulgar cultura. Com esse rico currículo de ações de apoio à cultura em suas diferentes formas, temos muito orgulho de receber em nossa casa, o Cine Theatro Brasil Vallourec, um resumo de sua trajetória representado por parte de sua coleção. Bom proveito. Alberto Camisassa Presidente do Cine Theatro Brasil Vallourec
UMA COLEÇÃO
M a n f r e d L e ye r e r
Cine Theatro Brasil Vallourec Junho de 2017
UMA COLEÇÃO DE ARTE Exposições de artistas são mais frequentes de serem vistas do que as de colecionadores. Menos frequentes, ainda, são as exposições de colecionadores particulares frente a corporações maiores, tais como instituições públicas e privadas. O artista, ao fazer sua exposição, tem em mente mostrar aquilo que o interessa, preocupa, encanta ou seduz. Ele oferece novas perspectivas, amplia consciência, confronta ilusões ou demonstra novas harmonias via jogos de formas e cores. No momento da criação, o artista não sabe o nível da sua obra. Para ele, os quadros da série são iguais. No máximo ele tem leves inclinações por alguns quadros frente a outros. Somente anos depois da criação, talvez décadas, o próprio artista enxerga o que fez. Lembro-me de uma frase do Chanina, quando ele reviu numa exposição, em 2008, de alguns quadros dele, pintados nos anos 1963 a 1970: “Estes quadros são tão bonitos, que quase penso que não fui eu quem os fez”. O colecionador, por sua vez, tem a pretensão de ter em mãos o melhor produzido por cada artista de sua preferência. Ele confia na sua vasta experiência de ter visto milhares de quadros antes para identificar aquilo que ele julga interessante, diferente, novo, emocionante ou belo. Ele tem a vantagem de enxergar qualidades em uma obra antes do próprio artista, devido à distância de que ele dispõe, devido a um arsenal de critérios particulares em sua mente e devido a uma linha de pensamento frio de avaliação. Finalmente, o colecionador tenta buscar as obras-primas dentro das obras do artista. O que leva um colecionador a exibir em público, quadros que se encontram resguardados para seu deleite? Por que retirar tantas pinturas de seus cômodos lugares,
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deixar os ambientes costumeiros desnudados de suas presenças, e expô-las aos riscos inerentes de uma exposição? Alguns poderiam pensar que seria o orgulho de mostrar o que possui, ou, quem sabe, a exibição lhe traga certo status? Tenho a dizer que a minha intenção não se encaixa nas indagações acima. Não tenho maiores pretensões além do que sentir um enorme prazer de dividir a emoção, a alegria e, por que não, a comoção que traz, com um público aleatório, o que é caro e particular para mim. Dividir momentaneamente, por um curto espaço de tempo destinado a esta exposição, o pertencimento dessa beleza se torna uma necessidade.
E, ao fazê-lo, o colecionador leva junto do conhecimento e visualização da obra o reconhecimento do seu criador. Num mundo tão vasto e de inúmeras possibilidades, o status acaba sendo revertido para quem o merece de fato: o artista! Ao criador dessas inúmeras obras de arte, caberá também o orgulho de seu esforço criativo. Já o público terá não só a oportunidade de apreciação, mas também um maior aprendizado diante da diversidade das obras expostas. Exposições desta natureza são uma fonte para externar, por parte do colecionador, seu desprendimento em ofertar sua coleção à apreciação e interesse de todos; permitindo uma maior visualização do artista, um maior conhecimento daquele que produziu tais obras; e, por fim, possibilita a todos o crescimento humano que a arte ajuda a realizar. Manfred Leyerer Colecionador
Carlos Bracher - Retrato Manfred Leyerer 2001, 92 x 73 cm, OST João Câmara - Maternidade 1970, 100 x 60 cm, OST
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Chanina - OST
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1- Figuras com PĂĄssaros 1976 - 64 x 53 cm 2- s/t - 1965 -100 x 81 cm 3- ApocalĂpticos e integrados 1965 - 100 x 81 cm 4- Vista de Ouro Preto 1963 - 65 x 110 cm
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Alvaro Apocalypse
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1- Homem e máscara - 1987 111 x 72 cm - Pastel 2- Figura, pássaro e cachorro - 1972 70 x 50 cm - OSE 3- Mulher com cachorro - 1974 76 x 52 cm - acrílica e pastel s/cartão 4- Figuras (várias) - 1972 35 x 51 cm - Nanquim aquarelado 5- Dia de Festa -1971 43 x 54 cm - Pastel
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Alexandre Rapoport O Violinista e a bicicleta - 1991 70 x 50cm - TM
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Yara Tupynambรก 1- Paisagem mineira - 1993 - 73 x 110 cm - OST 2- Um Flor para Sheila - 1991 - 50 x 40 cm - AST
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1- Henri Carrieres - Composição com duas figuras 1987 - 60 x 50 cm - OST 2- Juçara Costta - sem título 2009 - 200 x 60 cm - AST 3- Sarni Mattar - sem título 1976 - 46 x 38 cm - OST 4- Marcelo Albuquerque - Paleopaisagem 2012 - 80 x 80 cm - AST
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1- Gilberto Aguillar Navar - Lenhadores 1987 - 46 x 38 cm - OST 2- Fernando P - Mercadora 2000-04 - 80 x 60 cm - OST 3- Carlos Scliar - Garrafas Homenagem a Morandi 1939 - 50 x 38 cm - OSM 4- Newton Rezende - Menino e Catita 1967 - 45 x 38 cm - OSM 5- Carlos Scliar - A Cidade 1940 - 46 x 38 cm - OST
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3 1-Castãnio - A pintura após a pintura 2010, 30 x 40 cm, OST 2 - Edgar Walter - Casa em Teresópolis 1980 - 35 x 27cm - OSM 3-Mauro Silper - vista 59, 2014 - 48 x 66 cm - Acrílica s/ cartão 4- José Paulo Moreira - Fachada 1981, 27 x 35 cm, OST
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3 1- Fani Bracher - Flor e escada - 1985 - 54 x 73 cm - OST 2- Carlos Brasher - Flores - 2015 - OST 3- Ivan Marquetti - Flores - 1988 - 75 x 50 cm - OST
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3 1- Alexandre Rapoport - Mulher com colar de pĂŠrolas 1967 - 28 x 18 cm - TM 2- Di Cavalcanti - Mulata 28 x 20 cm, nanquim sobre papel 3- Augusto Rodrigues - Figura de Mulher 1971 - 27 x 38 cm - CAP
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6 4- Reynaldo Fonseca, 1976, 22 x 18 cm, Bico de Pena 5- André Araújo 6- Mário Mariano
PARA ALÉM DE UM COLECIONADOR Ainda está para nascer um estrangeiro com tamanha apreciação da arte, costumes e natureza mineira como o Manfred Leyerer. Alemão de origem, mas mineiro de coração, Manfred Leyerer, ao longo da sua trajetória de vida, tornou-se um exímio colecionador de obras de arte que trazem à tona muito mais que a beleza estética, mas que provocam e instigam reflexões diversas, e percepções distintas sob o olhar do artista. Profundo conhecedor das terras de Minas, e também do Brasil, ao colecionar obras de arte, de diferentes artistas e tendências, Manfred Leyerer traz para si, e para os outros, a possibilidade de, por meio do acesso à arte de qualidade, ampliar a visão de mundo, dos fatos, dos sentimentos, e da complexidade da mente humana. Para ele, a arte gera perplexidade e, mesmo que inconsciente, desperta admiração ou incômodo em quem a aprecia, algumas vezes de forma instantânea, outras vezes um tanto lenta, pausada, reflexiva, descontínua. Na visão de um apreciador da arte em toda a sua extensão, é impossível ser o mesmo após, dia a dia, estar, ou ser instigado a estar, diante de obras de arte diversas. E, por isso, não poderíamos deixar de expor uma coleção como a de Manfred Leyerer, abrangente e de artistas reconhecidos, em um espaço tão glamoroso como o Cine Theatro Brasil Vallourec, onde cada detalhe, cuidadosamente restaurado e reformado, instiga-nos a “respirar” e a sentir a arte, na sua amplitude de possibilidades, que atravessou décadas e que hoje ilumina e encanta a quem ali frequenta. Para além de um colecionador, Manfred Leyerer é uma pessoa que se traduz em sensibilidade e admiração das origens da humanidade, das suas facetas e mistérios, e também do profundo respeito pela natureza em sua magnitude e beleza. Por isso, surpreendam-se e apreciem! Alexandre Mello Assessor de Diretoria da Vallourec Enrico Bianco Calheta com carro de boi - 1982, 45 x 60 cm, OSE
Enrico Bianco Grande Circo - 1982, 80 x 50 cm, OSE
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2 lnos Corradin 1- Menina com Flôres - 2006, 40 x 30 cm, OST 2- Fábio, meu gato síberiano brincando, 2006, 50 x 70 cm, AST
Conillo - A harpa de Apolo 2001 - 100 x 80 cm - OST
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Fukushima - Abstrato Verde s/d - 40 x 26 cm - OST
Manabu Mabe - Abstração 1994- 24 x 27cm -ASC Kenji Fukuda - Figuras s/d - 32 x 32 cm- ASE
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DionĂsio Del Santo 1- Mulher e Flor - 1970 - 50 x 33 cm - Gravura 2- Menino e o Gato - 1984 - 22 x 18 cm - Guache
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3- Lazzarini - sem título 2001 - 22,5 x 22,5 cm - AST 4- André Burian - Quadro no. 24 2010 - 40 x 50 cm - OSC
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2 1- Jorge Barata - Amigos da Cor 2006, 160 x 140 cm, AST 2- Henri Carrieres, s/d
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2 1- Julio Alves - sem título - 2013 - 119 x 90 cm - OST 2- Décio Noviello - 2016 3- Fernando Pacheco - Jantar - 1995 - 100 x 98 cm - OSTCM
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“As coleções privadas só existem culturalmente a partir de sua exibição pública.” G. Chateaubriand A arte é uma verdade em que ninguém acredita ou uma mentira na qual todos creem. A realidade é o que reside dentro do sujeito, seja ele colecionador ou artista. Ela é formada pelo conhecimento e terá sempre o caráter inacabado, pois o ato de conhecer nunca é pleno. Somos obrigados a trabalhar por aproximações. Todas as tentativas, no sentido de alcançar uma catalogação e uma definição sistemática das diferentes linguagens artísticas, hoje, não podem deixar de ser extremamente aleatórias. A rapidez com que ocorrem as transformações estilísticas e técnicas faz com que todas as tentativas de fixar as suas estruturas revelem-se precárias.
síntese da pintura mineira atual. As escolhas são provenientes do conhecimento sobre a importância de uma obra de arte, do gosto de um estilo, uma tendência artística, uma série ou do afeto por um determinado artista. O colecionador é movido pela notícia, pelo comentário e pela análise, que o leva à participação efetiva no impulso da cultura e da arte e sua oportunidade de transcendência. As ausências não representam um julgamento de valor. Antes, refletem um gosto pessoal, a busca de um significado específico e as oportunidades que permitiram a sua constituição.
A gênese particular de Manfred está ancorada em sua origem alemã – Treuchtlingen – e no contexto cultural brasileiro, mais especificamente Belo Horizonte. Ao olharmos para a sua coleção, procurando seu foro, semelhança de famílias entre as obras e, muitas vezes, uma temática específica que reuniram as escolhas do colecionador, dando uma unidade específica para a coleção, verifico que o foro é expandido. Tudo lhe interessa.
Pelo que conheço do colecionador, o ato de colecionar é movido pela paixão, pela descoberta, pela busca e pelo amor. Um homem irrequieto, ousado, criativo e realizador. Características marcantes, inquestionáveis. Paralelo a sua coleção particular, Manfred também desenvolve um trabalho de pesquisa, tornando-a pública através de livros e catálogos, em edições belas e primorosas. Com sua interpretação direta, amorosa e requintada do imaginário social, ele reforça o vínculo artista/povo, ativando um pacto sem o qual ambos não têm rosto.
A coleção que compõe essa exposição não pode ser vista como um ponto final. Diferente do artista, o colecionador jamais conclui aquilo que começa. A coleção é dinâmica, em constante ebulição e renovação. Fruto de gestos deliberados, essa coleção apresenta uma curiosa
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Miguel Gontijo Artista plástico
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2 Miguel Gontijo 1- Ícaro voa pela 3ª vez 1985, 22 x 30 cm, aquarela 2- Restos e Escrementos 1986, 71 x 100 cm, aquarela 3- D’Aprés Borges - Díptico 2003, 100 x 50 cm, AST 4- Ensaio sob a loucura 2004, 100 x 100 cm, OST
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Leo Brizola - sem tĂtulo 2009, 176 x 120 cm, OST-TM
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2 Jônatas Campos 1 - Sem título, 2012, 70 x 50 cm, Colagem s/eucatex 2- Sem título, 2012, 70 x 50 cm, Colagem s/eucatex
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Helder Profeta - sem titulo 2012, 120 x 82 cm, TM
Gustavo Maia, Manôlo - Obra a quatros mãos 2011, 120 x 80 cm, AST
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3 1- Tomaz Santa Rosa - Garotos com pipa, 1942, 31 x 41 cm, OSM 2- Sérgio Vaz - Corpo e espaço, 2010, 50 x 50 cm, OST 3- Bandeira de Mello, Lydio - Repouso , 1980, 14 x 26,5 cm, OSM 1
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3 Paulo Torres 3- S/t , 2014, 40 x 28 cm (2x), AST
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Angelo issa Parasitas e Predadores - 7 quadros 2012, 30 x 24 cm , AsMDF
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5 1- Leandro Gabriel - 2006, 88 x 22 cm, aço 3- Maurino Araújo - 2006, 39 cm altura, Madeira 4-Miguel Gontijo 5- Raimundo Xavier
Fernando Veloso, 2010, 86 x 86 cm, TM
UMA COLEÇÃO M a n f r e d L e ye r e r
Curadoria: Robson Soares Fotos: Gustavo Djalma Textos: Alberto Camisassa, Alexandre Lyra, Alexandre Melo, Manfred Leyerer, Miguel Gontijo, Robson Soares Projeto gráfico: Clara Gontijo Exposição realizada no Cine Theatro Brasil Vallourec, de 14/06 a 16/07/2017
Uma coleção de arte tem como razão fundamental da sua existência a personalidade daquele que a criou. Ela revela o percurso da formação educacional, emocional e cultural do colecionador, sobretudo em áreas específicas que o conduziram ao interesse pelas artes, a convivência com os artistas, as leituras formativas e informativas, as visitas a museus, leilões de arte e demais situações no ambiente social onde seu criador está inserido, bem como as condições materiais que possibilitaram a organização da sua desejada e possível coleção. A postura do colecionador, normalmente associada à de pesquisador, alarga o conhecimento e contribui para o seu prazer e realização pessoal. Viver e acompanhar esses processos criativos é apaixonante. Manfred Leyerer, ao reunir seu magnífico acervo de quadros de inspiração brasileira, vem, conjuntamente com a Vallourec e o Cine Theatro Brasil Vallourec, compartilhar com o público sua dileta coleção e, assim, manter o nosso compromisso de apoiar e estimular as artes plásticas. Dessa forma, sentimo-nos profundamente honrados em expor esta belíssima seleção. Alexandre Lyra Presidente da Vallourec do Brasil
Caulos - Commedia Dei !’Arte N.4, (Homem) e N.3, (Mulher), 1998 - 63 x 50 cm - OST (cada)