Osou outro eu • Jucara Costa •
Osou outro eu • Jucara Costa •
Miguel Gontijo é meu personagem nessa edição. É para ele e com ele ,que brinco, me atrevo e me diluo com segurança e certeza que através desse outro eu posso me ver. Juçara Costa
Miguel Gontijo é meu personagem nessa edição. É para ele e com ele ,que brinco, me atrevo e me diluo com segurança e certeza que através desse outro eu posso me ver. Juçara Costa
O OUTRO SOU EU “Se o mundo fosse claro, a arte não existiria” Camus Juçara (Jyssara) é uma guerreira bastante corajosa da tribo Tupy, que acabou dando nome a uma palmeira donde se extrai o palmito. Essa palmeira tem espinhos e produz coceira e seu pó arde quando cai no corpo. Os espinhos dessa palmeira eram utilizados como agulhas para tecer. A palmeira mais comprida da terra acaba depois de alguns metros. Juçara, não! Não dá para medi-la em metros. Da índia Tupy ela herdou o prazer da guerra, o arco e a flecha. Da palmeira herda o cerne macio e adocicado; a inquietude que coça; o ardor pela vida; e os espinhos que compõem a sua vida de bordadeira. Compor uma mítica Juçara pelas características do seu nome é fácil. Já Juçara Costa não se compõe. É cíclica e vive, prazerosamente, todas as nuances de nossa época. Quando se aproxima a hora de sua “morte” ela constrói um ninho de vergônteas perfumadas onde, no seu próprio calor, se deixa queimar. Ela e a
Fênix. Ela é uma autêntica heterodoxa, que não segue jamais uma doutrina nem comunga com as modas do momento. Seus trabalhos têm o tom experimental que acompanha a evolução da arte. Agora Ju escreve. Porém ela pinta; ora ela é atriz; ora bordadeira; ora canta; ora segue a vida nas cartas do tarô; seus olhos verdes batem tambores africanos; ora cria processos terapêuticos; ora é empresária; ora modista; ora esteticista; ora natureba; ora clássica; ora chuta o balde, manda tudo á merda e sai triunfante para novas possibilidades, que ela mesma cria e avança pelo vazio pelo simples prazer de preenchê-lo. Enfim: Ju quebra silêncios e cata os cacos. Isso a faz trabalhar muito, o que dá a sua labuta uma dimensão a mais, que talvez seja ‘simplesmente’ a dimensão onírica que, em todo caso, é sensacional. Para ela não existem gêneros nem fronteiras entre as artes. Agora Ju escreve e não é a primeira vez. Já editou um lindo poema visual - Minha Meta É – carregado de metáforas líricas e verdadeiras. Esse seu novo livro também é um poema visual, composto de desenhos soltos que deságuam em textos descompromissados. São poemas que
consistem numa justaposição de frases e estrofes aparentemente desconexas. Poemas cotidianos, denominado de antipoesia, seja pela temática e de sua forma prosaica. Lança mão da linguagem coloquial como instrumento para provocar efeitos inesperados quando descontextualizada. Ela utiliza as palavras pelo que há de objeto nelas e pela possibilidade de sua representação visual. Possivelmente esse seu livro tem o pé no neo-surrealismo, combinando abstração com a realidade.
- para nada!” Enfim: eu e minha amiga não passamos de uma combinatória de experiências e de imaginação. Somos fazedores de estrelas, inventariantes de coisas, sempre autorreferentes em busca das memórias afetivas e passionais. Juçara é o meu ‘outro’. Um fantasma que me acompanha. É onde busco, julgo e sepulto coisas. Esse meu ‘outro’ me honra e achincalha, aproxima e afasta, aquietame e chuta-me a bunda. Esse ‘outro’ sou eu mesmo.
Sou (somos) essencialmente um pintor e escrever sobre uma amiga que é extremamente próxima é tarefa difícil, pois preciso mergulhar em nossas realidades cujas tintas ainda estão molhadas e nesse belo emaranhado de tons e semitons exalam o perfume nem sempre agradável. Assim sendo, tento dizer, de maneira mais objetiva possível, porque Juçara Costa é absurdamente corajosa e grandiosa quando se propõe a mostrar suas invencionices. Não pretendo esclarecer nada. O nãoesclarecido pertence ao divino. Solução é a fome que mata a galinha dos ovos de ouro. Talvez eu e Juçara escrevemos e pintamos para não sermos compreendidos. Há muito tempo Diderot disse que “o vulgar sempre pergunta: - para que serve isso? e sempre é necessário responder:
Miguel Gontijo Outubro de 2019
O OUTRO SOU EU “Se o mundo fosse claro, a arte não existiria” Camus Juçara (Jyssara) é uma guerreira bastante corajosa da tribo Tupy, que acabou dando nome a uma palmeira donde se extrai o palmito. Essa palmeira tem espinhos e produz coceira e seu pó arde quando cai no corpo. Os espinhos dessa palmeira eram utilizados como agulhas para tecer. A palmeira mais comprida da terra acaba depois de alguns metros. Juçara, não! Não dá para medi-la em metros. Da índia Tupy ela herdou o prazer da guerra, o arco e a flecha. Da palmeira herda o cerne macio e adocicado; a inquietude que coça; o ardor pela vida; e os espinhos que compõem a sua vida de bordadeira. Compor uma mítica Juçara pelas características do seu nome é fácil. Já Juçara Costa não se compõe. É cíclica e vive, prazerosamente, todas as nuances de nossa época. Quando se aproxima a hora de sua “morte” ela constrói um ninho de vergônteas perfumadas onde, no seu próprio calor, se deixa queimar. Ela e a
Fênix. Ela é uma autêntica heterodoxa, que não segue jamais uma doutrina nem comunga com as modas do momento. Seus trabalhos têm o tom experimental que acompanha a evolução da arte. Agora Ju escreve. Porém ela pinta; ora ela é atriz; ora bordadeira; ora canta; ora segue a vida nas cartas do tarô; seus olhos verdes batem tambores africanos; ora cria processos terapêuticos; ora é empresária; ora modista; ora esteticista; ora natureba; ora clássica; ora chuta o balde, manda tudo á merda e sai triunfante para novas possibilidades, que ela mesma cria e avança pelo vazio pelo simples prazer de preenchê-lo. Enfim: Ju quebra silêncios e cata os cacos. Isso a faz trabalhar muito, o que dá a sua labuta uma dimensão a mais, que talvez seja ‘simplesmente’ a dimensão onírica que, em todo caso, é sensacional. Para ela não existem gêneros nem fronteiras entre as artes. Agora Ju escreve e não é a primeira vez. Já editou um lindo poema visual - Minha Meta É – carregado de metáforas líricas e verdadeiras. Esse seu novo livro também é um poema visual, composto de desenhos soltos que deságuam em textos descompromissados. São poemas que
consistem numa justaposição de frases e estrofes aparentemente desconexas. Poemas cotidianos, denominado de antipoesia, seja pela temática e de sua forma prosaica. Lança mão da linguagem coloquial como instrumento para provocar efeitos inesperados quando descontextualizada. Ela utiliza as palavras pelo que há de objeto nelas e pela possibilidade de sua representação visual. Possivelmente esse seu livro tem o pé no neo-surrealismo, combinando abstração com a realidade.
- para nada!” Enfim: eu e minha amiga não passamos de uma combinatória de experiências e de imaginação. Somos fazedores de estrelas, inventariantes de coisas, sempre autorreferentes em busca das memórias afetivas e passionais. Juçara é o meu ‘outro’. Um fantasma que me acompanha. É onde busco, julgo e sepulto coisas. Esse meu ‘outro’ me honra e achincalha, aproxima e afasta, aquietame e chuta-me a bunda. Esse ‘outro’ sou eu mesmo.
Sou (somos) essencialmente um pintor e escrever sobre uma amiga que é extremamente próxima é tarefa difícil, pois preciso mergulhar em nossas realidades cujas tintas ainda estão molhadas e nesse belo emaranhado de tons e semitons exalam o perfume nem sempre agradável. Assim sendo, tento dizer, de maneira mais objetiva possível, porque Juçara Costa é absurdamente corajosa e grandiosa quando se propõe a mostrar suas invencionices. Não pretendo esclarecer nada. O nãoesclarecido pertence ao divino. Solução é a fome que mata a galinha dos ovos de ouro. Talvez eu e Juçara escrevemos e pintamos para não sermos compreendidos. Há muito tempo Diderot disse que “o vulgar sempre pergunta: - para que serve isso? e sempre é necessário responder:
Miguel Gontijo Outubro de 2019