VANI MARIA FONSECA PEDROSA
Piedade ao Caraça
Belo Horizonte 2021
ENTRE SERRAS - PIEDADE AO CARAÇA PROPONENTE: Elaine Machado Produções Culturais. COORDENAÇÃO DO PROJETO: Robson Soares TEXTO PRINCIPAL: Vani Maria Fonseca Pedrosa COLABORADOR DO TEXTO: Padre Lauro Palú REVISÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA: Rachel Murta Padre Lauro Palú TRADUÇÃO: Thaís Regina Santos de Souza Tainá Elis Santos de Souza FOTOGRAFIAS: Gustavo Djalma de Lima Soares PROJETO GRÁFICO: Clara Gontijo COLABORADORES DE FOTOGRAFIAS: Acervo Prefeitura de Caeté Acervo Prefeitura de Barão de Cocais Acervo Prefeitura de Catas Altas Acervo Prefeitura de Santa Bárbara Barão Drone Christiano Ottoni Dilce Amara Emerson Alves Escola Liga Rapel Fernando Biagioni Francisco Quites Guilherme Reis Helder Primo Joice Marques Padre Lauro Palú Prof. Miguel Andrade Dr. Samir Haddad Prof. Rafael Augusto Wemerson Barra AGRADECIMENTOS: Associação de Tecelãs de Brumal Associação Circuito do Ouro Sr. Eberhard Hans Aichinger Associações e produtores artesanais de cachaça, mel, queijos, doces, quitandas, fermentados e artesanato Instituto Israel Pinheiro - Casa João Pinheiro Padre Lauro Palú Secretarias de turismo e cultura de Caeté, Catas Altas, Barão de Cocais e Santa Bárbara. Instituto Estrada Real Movimento Caravana da Cidadania de Caeté Casa de Cultura Barão de Cocais Jucinéia Rocha – Quitandas da Jú Aparecida Ribeiro – Doceira Goiabada Cascão Primórdios da Terra - Catas Altas Representantes do turismo de esportes ao ar livre Agradecimento especial aos funcionários da Vale por todo o apoio ao projeto.
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Piedade ao Caraça
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SUMÁRIO 06 08 14 32 56 72 106 128 142 176 181 -
APRESENTAÇÃO CARTA AOS ENTRE-SERRANOS ONDE NASCE O “ENTRE SERRAS” SERRA MILAGROSA CAETÉ BARÃO DE COCAIS SANTA BÁRBARA CATAS ALTAS SANTUÁRIO DO CARAÇA - Pe. Lauro Palú REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENGLISH VERSION
Vista do "gigante deitado" da Serra do Caraça
Assumir a escrita deste livro foi realmente algo excepcional. Primeiramente, pelo conteúdo da própria escrita: escrever sobre um lugar tão ímpar, que reúne, além de seus riquíssimos aspectos físicos, um conjunto das mais complexas e significativas histórias, vivências e maravilhas das Minas Gerais. Perpassar pelos mais de 300 anos desde a ocupação aurífera deste território foi transformador e mostrou a necessidade de não versar apenas sobre uma de suas cidades, como foi pensado inicialmente, quando o livro seria sobre Barão de Cocais. No entanto, ao seguir com a escrita, se percebeu a dificuldade de separar da história conjunta do “Entre Serras” o destino de uma de suas cidades. Seria como esquecer o processo de formação do território e as riquíssimas histórias de seus dois magníficos santuários. Ou melhor, omitir que este território já nasceu integrado pelo ouro e foi se moldando, tempo a tempo, por seus talentos e diferenças, que assim resultaram em cada uma de suas cidades e em cada um de seus santuários, até chegar a ser esse território múltiplo que hoje ele é. Esses fatos deixaram claro qual seria realmente o valor desta obra: mostrar o “Entre Serras” e, de forma especial, Barão de Cocais e cada uma das cidades que o compõem. O resultado foi, sem dúvida, um trabalho de descobertas, com fatos surpreendentes mesmo para quem nasceu nesse território e o vem procurando entender por dez anos ininterruptos. Outros aspectos devem ser ressaltados sobre a escrita desta obra: o importante apoio do Pe. Lauro Palú, Diretor Geral do Santuário
do Caraça, em aceitar colaborar como revisor e em escrever o capítulo sobre o Santuário do Caraça. Essa generosa colaboração do Padre Lauro foi um grande incentivo para seguir com este desafio, que se materializava em palavras a cada fotografia que chegava, fosse ela da natureza exuberante desse território, de construções antigas cheias de significado histórico, ou outras, como as dos seus esportes diferenciados e até aquelas que traziam coisas simples, comuns, mas cheias de significado, fotos que tão bem compuseram e enriqueceram esta produção. Além da beleza plástica e de informações de valor, este livro adquiriu uma missão ainda maior que beneficia a todo o território: reconhecer e apresentar formalmente o destino turístico “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, divulgar este destino que compõe o “Circuito do Ouro” em Minas Gerais, para que cada vez mais ele faça parte da vida diária dos “entre-serranos”. Isso não teria se concretizado dessa forma sem a atuação precisa e sensível do Sr. Robson Soares, que tão sabiamente escolheu, entre tantas outras opções possíveis, contar a história do “Entre Serras” e, de forma única, soube conduzir todos os envolvidos para este resultado. Enfim, caro leitor, depois de conhecer um pouco sobre o que motivou esta obra, é hora de convidá-lo a seguir por estas páginas em uma viagem de rara beleza e descobertas pelo destino turístico: ENTRE SERRAS - DA PIEDADE AO CARAÇA, em Minas Gerais, no Brasil. Vani Maria Fonseca Pedrosa
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Capela Santo Antônio Foto: Emerson
Em 2020, completaram-se sete anos do lançamento do destino turístico “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, um destino que compreende as cidades de Barão de Cocais, Catas Altas, Caeté e Santa Bárbara, cidades que participaram do Projeto VER - "Vivendo a Estrada Real", lançado em 2013 pelo governo de Minas Gerais sob a coordenação do Instituto Estrada Real, com atuação dedicada do Sr. Eberhard Hans Aichinger. Nesses sete anos, o trabalho de muitas pessoas e de várias instituições foi dedicado a essa construção e nenhum foi melhor ou mais eficiente que o outro. Foi o conjunto deles que gerou o resultado, cada um na sua hora e a seu modo. Hoje o “Entre Serras - da Piedade ao Caraça” é real. E este livro é mais um reconhecimento disso! Este é um momento mais que oportuno para visualizarmos um pouco profundamente esse território, conhecermos mais sobre sua história, seus valores e produtos que sustentam esse destino que uniu essas quatro cidades a dois santuários para um objetivo audacioso: integrar um território em um destino turístico, sem, contudo, eliminar ou sobrepor a identidade de cada uma das cidades ou cada um dos santuários. Ao contrário, buscou-se ressaltar o diferencial de cada um deles, bem como seus potenciais. Este livro é um marco da continuidade do “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, mas muito ainda falta ser construído. Após esses sete anos, é hora de avaliar, repensar e criar caminhos, para chegar a novos lugares: chegar aos 10 anos, aos 20 e aos 30 anos da existência desse destino. Não falo em mudar o que já foi feito, pois desconfio daquele que, ao construir, não olha para trás. Os dois maiores santuários do território comprovam isso, ao não perderem tempo com desconstruções, mas por sempre construírem a partir de um olhar do que já foi feito de bom, inserindo conceitos contemporâneos sobre as mesmas bases históricas que possuem. No caso do território, essas bases foram muito bem construídas, são muito fortes e poderão levar o território muito além.
e colheram frutos, o patrimônio foi mais bem preservado e vários atrativos turísticos foram criados. Houve uma valorização do modo de vida do “Entre Serras”. Novos produtos surgiram, a educação para o trabalho foi reforçada por capacitações e treinamentos que respeitaram e aprimoraram a cultura local, para que ela fosse usada como motor propulsor das experiências turísticas, seja no turismo religioso ou no rural, seja nos esportes de aventura, no bem-estar e na contemplação, na observação de pássaros, nos eventos, na gastronomia e em outros temas mais que poderão surgir em território tão completo como esse. Nunca podemos esquecer que temos o compromisso de nos preservar para preservar a própria história de Minas Gerais, e isto precisa ser um lema do “Entre Serras”. Esse é um território que guarda os fundamentos das origens mineiras, as minas de ouro, o primeiro colégio, e da cozinha mineira. Com referência a esta última, preserva a síntese metodológica de sua formação existente no Santuário do Caraça, que, com suas nove unidades de produção alimentar – os chamados “Nove Pilares” – nos mostra como a cozinha mineira se formou com a integração entre o quintal, a cozinha e a mesa. Ao olhar para esses nove pilares, não vemos só o passado. Essa riqueza histórica foi transformada pela atuação do Senac em Minas em uma parceria com o Santuário do Caraça no Programa Primórdios da Cozinha Mineira, um programa de desenvolvimento regional pela gastronomia, uma forma de replicar o modo como nossos antepassados criaram a cozinha mineira. É preciso que continuemos a recriá-la, para garantir seu futuro. Ela é tão rica, que permite isso, mesmo porque muita coisa foi ficando pelo caminho. Podemos dizer de forma simbólica que é só ir lá, no passado, e pegar, como foi o caso do Queijo do Frei Rosário, do Queijo Minas Artesanal do “Entre Serras”, do Queijão de Caeté, do Hidromel do Caraça, do Pudim de Gabinete de Catas Altas, das farinhas antigas de Barão de Cocais – e mais, desse estudo dos “Nove Pilares”, que hoje integra a nova cadeia produtiva do Estado de Minas Gerais, representando uma forma exclusiva dos mineiros de entenderem sua cozinha.
Nesses sete anos da criação do “Entre Serras” nasceram o “Queijo Minas Artesanal do Entre Serras”, vários circuitos turísticos, eventos e publicações com este tema. Negócios foram fomentados e a unidade do território se Nessa nova cadeia produtiva, setores formou, com respeito e dignidade à cultura poucos visíveis que eram guardados nos seios local e às pessoas. Cada uma das cidades e os de nossas famílias, como as verduras e as frutas santuários fizeram o seu melhor nesse sentido antigas dos quintais mineiros, os doces e qui-
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tandas, se tornaram cadeias produtivas oficiais do Estado de Minas Gerais, como um presente dos 300 anos de Minas (completados em 2020). Seguindo o modelo que o Santuário do Caraça preservou, com sua horta, seu pomar, a casa de doces e a padaria (quitanderia), a identidade alimentar mineira está reconhecida e representada nessa nova cadeia produtiva do Estado de Minas Gerais. E mais: nela, o produto artesanal ganhou um lugar ao lado do produto industrializado. Um ganho sem igual para a cozinha mineira, que hoje conta com esse instrumento oficial reconhecido pelo estado para criação de políticas públicas que favoreçam o produto artesanal e familiar mineiro. Tudo isso nascido da contribuição do “Entre Serras” para Minas Gerais, algo que não é nenhuma novidade, já que o território esteve presente em várias situações estruturais, desde a própria demarcação do estado, em sua economia, na educação, na política e na formação alimentar, não apenas no passado, mas continuando a acontecer e todos precisam saber disto! Este momento, mais que nunca, exige de nós um esforço para aliar toda essa riqueza a novos projetos e políticas públicas arrojadas que levem o território cada vez mais à frente. Precisamos ser inovadores agora, inserir em escala a tecnologia e a inovação, para serem complemento ao que o território possui e, além disto, para nos ajudar em um atendimento diferenciado, detalhe contemporâneo, e recorrer ao capricho e à simplicidade guardados no “Entre Serras”. Mudar sem mudar: este é o desafio, que precisa, antes de tudo, ser sensível ao modo de vida do lugar e trabalhar em favor do habitante do “Entre Serras”. Que esta inovação aconteça de forma vibrante, que seja ousada e usada para facilitar e promover um desenvolvimento que respeite o que foi gerador de tanto valor e com tanto esforço foi preservado: o próprio “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”.
expoente se aliado à fé, ao trabalho e à união. Essa pandemia que teve início no ano de 2020, ano em que Minas Gerais completou 300 anos, instigou muitos estudiosos a procurar formas de entendimento e caminhos para novos aprendizados. Um desses estudos me chamou a atenção, principalmente pela proximidade que o conceito tem com o que tratamos neste livro. É a Teoria da Catedral, do filósofo australiano Roman Krznarick, que esclarece um pouco sobre o que perdemos em nos concentrar unicamente no imediatismo. A ideia é voltada para ciclos de desenvolvimento de novas tecnologias, e como vimos que isto não é a única coisa que importa aos seres vivos. Nessa reflexão, ele nos faz algumas perguntas. O que devemos aprender com o ano de 2020 para uso no século XXI? O que a construção das catedrais tem a ver com isso? A resposta é: nem tudo é imediato, devemos dar o tempo que o tempo precisa para atuar. Nunca se constrói uma catedral a “toque de caixa”. Se assim o fosse, ela negaria seu princípio máximo, o de resistir ao próprio tempo, pois para isto ela precisa conviver e aprender com ele. Uma catedral é construída para marcar por séculos a história do local. Krznarick cita catedrais que levaram 900 anos para serem construídas. Elas ficaram desatualizadas? Nunca! Elas possuem um valor sem igual, muito maior por isso.
Não podemos nos esquecer deste aprendizado: construção e persistência, elas devem ser muito bem lembradas durante qualquer processo de planejamento futuro. O mundo desaprendeu sobre planos de longo prazo. As propostas de tendência hoje não costumam avaliar as experiências passadas ou aquelas que brotam da fonte. E o “Entre Serras” tem bagagem para construir dessa forma. Tudo deve ser muito bem pensado e avaliado evitando as formas momentâneas, padronizadas. A construção deve ser contínua, a nos apresentar primeiramente a nós, nossos pontos fortes Ao reavaliar projetos como o “Entre Ser- e fracos, e nos fazer entender como Deus nos ras”, deve-se ter em mente o que será necessá- fez únicos, não globais, nem isolados. E ainda rio para uma continuidade pelo tempo afora, precisamos da consciência para selecionar e mas precisa ser feito agora. Esse fato, se antes desprendimento para atuar, para que cada um disfarçado pelo imediatismo, ficou muito cla- cresça, junto com todos. ro em 2020, quando vimos quão frágeis somos E, hoje, o que é de interesse de todos? em antever o que pode acontecer sob o efeito Aquilo que não é global, mas possui uma quadas mudanças inesperadas a que o ser humalidade globalizada e pode ser reconhecido por no estará sempre sujeito. O tempo continua a sua excelência por todo o mundo. Querem um ser o maior valor da humanidade e torna-se exemplo? Temos vários no “Entre Serras”, mas
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escolhi um para ilustrar a ideia apresentada, sobre um produto globalizado. Esta lista me foi enviada por um ex-aluno do Caraça, Sr. Rodolfo Baptista Abreu, e foi publicada no Jornal Voz do Caraça (2020), em uma matéria de autoria de Francisco José Emery Quites, na qual Padre Lauro Palú, Diretor do Santuário do Caraça, nos apresenta dados muito interessantes que nos fazem refletir e, assim, termos a percepção desses fatos:
de que todo o mundo precisa neste momento.
Este livro chega para inaugurar esse novo caminho, para levar o “Entre Serras” mundo afora, com suas imagens magníficas, a beleza da natureza que pode ser encontrada ali, sua gente também está presente. A escrita apresenta um conhecimento mais aprofundado sobre os hábitos, interesses, talentos e a personalidade de cada cidade. Como foi dito em seu início, o livro objetiva apresentar o terri“Comecei a anotar em 2015. tório não apenas em um voo rasante, mas que Em 2015 visitaram o Caraça pessoas de 52 paí- ele seja mostrado com um olhar particular em ses diferentes, em 2016 também de 52 países. toda a sua beleza e seu valor e contemporaneiEm 2017 foram 50 países. Em 2018 igualmen- dade, para que mais pessoas o vejam assim e te 50 países. Média anual de 51 países. A lista optem por conhecê-lo e preservá-lo. dos 85 países que nos visitaram, nestes 4 anos, Para isso é preciso que todos, cada vez ficou assim, agrupados por continentes: 29 da mais, estejam conscientes da bagagem que o Europa: Alemanha, Andorra, Áustria, Bélgica, território possui para essa continuidade, para Bulgária, Dinamarca, Donostia (País Basco), alcançar resultados sem igual não só no turisEscócia, Eslováquia, Espanha, Estônia, Fin- mo, mas em outras áreas de desenvolvimento lândia, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, social, econômico e humano. Este livro proIrlanda, Irlanda do Norte, Itália, Luxembur- curou reconhecer e inspirar o território para go, Noruega, País de Gales, Polônia, Portugal, que ele próprio aprofunde os conhecimentos Romênia, Rússia, Suécia, Suíça e Ucrânia. sobre si mesmo: um território que está entre 24 países das Américas, além do Brasil. Ar- dois dos mais importantes santuários do país, gentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, reconhecidos mundialmente; ao lado de um Costa Rica, Cuba, El Salvador, Estados Uni- patrimônio mundial, que é Ouro Preto; da pridos, Equador, Guadalupe, Guiana, Guiana meira vila de Minas Gerais, que é Mariana; ao Francesa, Haiti, Honduras e México, Nicará- lado da Serra da Piedade, berço da religiosidagua e Panamá, Paraguai, Peru e Porto Rico, de mineira. É um território que centraliza os República Dominicana, Uruguai e Venezuela; caminhos para os quatro lados da Rosa dos 17 da Àsia: Armênia, Casaquistão, China, Co- Ventos, que é onde o Estado de Minas Gerais reia do Sul, Filipinas, Índia, Indonésia, Iraque, começou; que faz parte do Quadrilátero FerríIsrael, Japão, Líbano, Malásia, Quirguiquis- fero, um dos seis territórios de maior produção mineral do mundo; que é um território de pertão, Síria, Tailândia, Taiwan e Timor Leste. sonalidades humanas ímpares, que fizeram 12 da África: África do Sul, Angola, Cabo Ver- parte da história não só de Minas Gerais, mas de, Congo, Costa do Marfim, Egito, Guiné- do Brasil. É assim que ele verdadeiramente é, -Bissau, Madagascar, Moçambique, Quênia, e não se pode esquecer disto, não para nos enRepública Democrática do Congo e Tunísia; gradecermos por esses fatos, mas para resistir 3 da Oceania: Austrália, Nova Zelândia e e ensinar! Taiti (Polinésia Francesa).” A sociedade e a vida no “Entre Serras” podem se tornar um exemplo, se as vivências Então? Essa lista nos mostra nossa meta. Não é grande? Mas também nos mostra que do turismo no território forem aprimoradas ela pode ser factível. Precisamos nos unir ain- cada vez mais, como ativos de valor que ele nada mais para achar como fazer algo parecido. Já turalmente possui: o homem e sua integralidaconseguimos criar o “Entre Serras” – e quantos de física, mental, natural e espiritual. Esse deve disseram não ser possível? Estamos em uma ter- ser o aroma do território e deve ser sentido e ra de fé, vamos conseguir! Um turismo que reú- apreciado por todos. Que ele seja um modo de na, efetivamente, a fé, a natureza e sua biodiver- difundir aprendizados, saúde, alegria, fé, belesidade, a saúde, o bem-estar, a sustentabilidade, za e paz a quem o visitar. Isso, sim, pode durar a memória cultural e a comida, uma mostra para sempre! completa de Minas Gerais e muitas das coisas ABDALA, M. C. Receita de Mineiridade. A cozinha e a
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Um dito antigo nos fala que: “só é possível conhecer verdadeiramente um lugar ao visitar o seu ponto mais alto, conversar com seu morador mais idoso e experimentar sua comida mais emblemática”. Penso que isso seja verdade. Mas, da mesma forma, reconheço o desafio de seguir os passos dessa afirmação. Minas Gerais me leva a pensar assim. São centenas de serras a visitar para conhecer os pontos mais altos de Minas Gerais, melhor dizendo, são cadeias inteiras delas: uma depois de outra se descortinam na linha do horizonte. Entre essas serras, saberes centenários são guardados na simplicidade encontrada com os moradores dos lugarejos, das cidades e dos campos. No que se refere à comida, podemos garantir que teremos a mesma dificuldade, entre as serras de Minas está guardado um sem número de comidas deliciosas, que nos chamam para um experimento sem fim. Ou seja, conhecer Minas Gerias com profundidade torna-se um desafio quase inatingível até para o mais entusiasta dentre os próprios mineiros! No entanto para se conhecer Minas Gerais, pode haver caminhos mais simples do que essa afirmação, ou seja, alguns atalhos que nos levem logo ali... como dizem os mineiros, e aonde se pretende chegar – e não é perto, garanto. A primeira dica é simples: começar do começo! E é por aí que iremos iniciar! Pela formação e ocupação das serras que integram o território “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”. Partindo do início, podemos pensar a quantos anos remontam as origens dessas serras. É difícil imaginar sobre esse tempo com a nossa tão pequena capacidade de visualizar um tempo tão longo. Mas esse fato se torna um pouco
mais real quando vemos os sítios arqueológicos do território, como o sítio arqueológico da Pedra Pintada, em Barão de Cocais, dentre outros existentes no “Entre Serras”, que foram citados e estudados em forma de rota de trânsito da subsistência no período nômade, quando o homem americano vivia da coleta! A existência desses caminhos pré-históricos foi extremamente importante na formação migratória das espécies vivas que os formam, principalmente no que se refere aos vegetais, que contaram com mais esta forma de difusão das espécies. E liga o território à própria existência humana que nele teve seu início datado nestes sítios em torno de 8 milhões de anos atrás. Essa cultura ancestral que de certa forma chegou até nós por meio dos indígenas do sertão dos Cataguases é fato real. Mesmo que os registros que possuímos desses saberes não tenham sido feitos da forma ideal, não podemos duvidar de que muito da cultura mineira derivou desses conhecimentos. Torna-se difícil, no entanto, traduzir a cronologia das serras para entendimento desse tempo na dimensão real do tempo humano. A ideia do que significa o tempo longínquo de formação morfológica dessas serras nos apresenta uma grandeza bem mais distante: 40 milhões de anos! Melhor entender esses milhões de anos, de outra forma mais acessível a nosso entendimento sobre o tempo passado. Podemos pensar no conjunto inimaginável de situações que tiveram de ocorrer para que as serras estivessem hoje aqui. Com certeza, muito mais de 40 milhões de acontecimentos inacreditáveis para que tivéssemos na Terra formações tão completas e fantásticas como as serras de Minas. Suas rochas são de certa forma vivas, aumentam e diminuem de tamanho, podem ter sido mar, ter ressecado, se partido, virado areia ou ficado ali por tempos sem dimensão.
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Mas é certo que elas vivem e são cheias de vida, como mães cuidadosas distribuem vida a seu entorno. Elas são como funis que ligam o céu à terra, levando frescor, umidade, água e calor, representando o som da vida para que se perpetue sobre a terra.
serras, foi batizado assim, a partir do ano de 2010, pelo programa de fomento do turismo do governo de Minas Gerais, chamado “Viver a Estrada Real”, que teve como objetivo difundir o destino turístico que se situa entre duas emblemáticas serras: a Serra da Piedade e a Serra do Caraça, onde hoje estão dois santuários reEsse conjunto de situações milenares foi ligiosos, reservas naturais e complexos turístiresponsável por inserir as serras do “Entre cos e de preservação natural. Serras” em uma cadeia montanhosa chamada Cordilheira do Espinhaço, como o próprio O território tem uma vocação especial para nome sugere, uma espinha dorsal do Brasil, um turismo diferenciado: a natureza exubeuma longa formação rochosa que atravessa os rante, propícia a diversos esportes, a trilhas e estados da Bahia e de Minas Gerais, a única banhos de cachoeira e ainda comidas típicas cordilheira do Brasil, uma das muralhas que naturais e saudáveis representam o homem e atravessam ou cercam o estado. Essa cadeia é sua saúde física; os santuários e a religiosidade a principal responsável pelo que se tornou um do território e as paisagens contemplativas do rico corredor de trânsito de pessoas e animais, roteiro representam o homem e sua espirituadesde a pré-história, fato que se justifica prin- lidade; seu patrimônio artístico e cultural muicipalmente porque a formação montanhosa to bem preservado, sua arte na música, na dandesta cadeia de serras é que garantia a seus ça e no folclore, na poesia, na fotografia e sua transeuntes alimento, água e segurança nas qualidade educacional, além de inúmeras poslongas travessias entre o Nordeste e o Sudeste sibilidades para desenvolvimento de trabalhos do Brasil, quando o homem antigo fazia des- científicos ou contemplação de seu patrimônio te lugar seu caminho de passagem em busca arquitetônico, nos apresentam o homem e sua de alimentos necessários à sua sobrevivência. capacidade mental, também presente nesse Hoje a cadeia montanhosa do Espinhaço con- roteiro. É um turismo de múltiplos interesses, tinua a ser esse corredor de passagem não mais que vê o homem como um ser completo, intepara o homem pré-histórico, mas, dentre ou- gral e indivisível! tros, para uma biodiversidade rara, de suma Mas não só essas duas serras formam esse importância para a biosfera. Por isso faz parte da Reserva da Biosfera, título dado pela Orga- destino turístico. Além dessas que lhe dão nome, nização das Nações Unidas para a Educação e várias outras lá existem. Dentre elas, a Serra a Ciência, por ser considerada entre as regiões do Gandarela, transformada no Parque Naciodo planeta de maior diversidade biológica, nal do Gandarela, no ano de 2014; este parque geomorfológica, histórica e cultural, fazendo que faz limite com duas cidades do “Entre Serparte, desta forma, de um programa de coope- ras”: Caeté e Santa Bárbara. O parque guarda ração internacional para a preservação da bio- em seu conjunto várias outras serras, com rios de rara beleza e importância. A vegetação nesdiversidade coordenado pela UNESCO. se parque é formada por partes significativas O território “Entre Serras - da Piedade ao de Mata Atlântica, cortada vez por outra por Caraça”, cujo nome homenageia duas de suas formações de Cerrado e Campos Rupestres.
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O Parque do Gandarela é de extrema importância para manutenção e proteção das águas de seu entorno, principalmente porque possui significativas áreas de recarga de aquíferos, por onde córregos e rios correm para as bacias dos rios Doce e das Velhas, sendo de grande relevância no abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O Parque do Gandarela ainda conta com um conjunto de cachoeiras de esplêndida beleza, capaz de proporcionar grandes experiências para os visitantes e amantes da natureza. Outra serra do complexo turístico do “Entre Serras” é a Serra da Cambota, inserida na
Serra do Garimpo, que também pertence ao Maciço do Espinhaço. Essa serra é formada predominantemente de rochas como gnaisse e granito. Sua paisagem é principalmente de Campos Rupestres, com uma vegetação em que se destacam as plantas centenárias como a chamada Canela de Ema, e com rios e cachoeiras que compõem as bacias do Rio Piracicaba e do Rio das Velhas. As flores e os animais raros dessas serras constituirão uma fala à parte, que será feita por um especialista no assunto, que muito conhecimento possui sobre esse território: Pe. Lauro Palú, Diretor Geral do Santuário do Caraça, que nesta obra assina o capítulo sobre o Caraça.
Vale Caraça Foto: Pe. Lauro Palú
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Tanto a Serra da Cambota, em Barão de Cocais, como a Serra do Gandarela, em Caeté, formam com a Serra do Caraça e a Serra da Piedade o principal conjunto de serras do “Entre Serras”, território que engloba quatro cidades: Caeté, Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara. Essas serras e outras formações geológicas presentes no território fazem do lugar um espaço geográfico de suma importância, não só por sua formação geológica e morfológica, mas ainda por possuir biomas diversos, importantes bacias hidrográficas, cachoeiras deslumbrantes, reservas naturais e parques de preservação permanente. É um lugar capaz de surpreender profundamente por sua visão de beleza rara, por sua fauna e flora riquíssimas e pela riqueza cultural e histórica que representa.
Serra da Combota
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Foto: Secretaria de Cultura e Turismo/Prefeitura de Barão de Cocais
Além de reunir um conjunto de serras tão importante e de estar nesse histórico corredor de passagem e ligação entre os pontos iniciais da povoação do Brasil, o Nordeste, o Sudeste e o Sul, o “Entre Serras - da Piedade ao Caraça” possui outro aspecto de extrema relevância e diferencial: seu pioneirismo na mineração aurífera em Minas Gerais, motivo pelo qual hoje se tornou um centro de cultura e memória sobre a formação social, econômica e cultural do estado. E um sítio arqueológico e histórico, com grandes condições para que se entendam fatos singulares na formação humana e o ambiente econômico que deram base para a formação cultural de Minas Gerais. Entre outros, um fator específico que possibilitou essa capacidade de difusão, desde o pioneirismo aurífero, mas que se manteve depois dele, foi sua
Na legenda do jornal americano: "Antiga casa em Gongo Soco, uma das mais ricas minas de ouro do Brasil."
posição geográfica, que o fez estrategicamente paulistas e emboabas pelo controle da região, ser cortado pelos principais caminhos que li- na sangrenta Guerra dos Emboabas, que teve gam a região a outras partes do estado e do País. início na cidade de Caeté, ao sopé da Serra da Piedade, responsável por dar início aos procesO trecho chamado “Entre Serras - da Pie- sos que culminariam na criação da Capitania dade ao Caraça” é o ponto geográfico de de Minas Gerais, no ano de 1720, quando foi referência para início do território minerador, desmembrada da Capitania de São Paulo e Mique teve suma importância na formação des- nas de Ouro. se diverso e instigante quebra-cabeças que é o Estado de Minas Gerais. Um território que foi O território “Entre Serras - da Piedade ao guardado bem à maneira dos mineiros, sem Caraça”, como a maioria das cidades, teve iníalarde sobre suas riquezas e em meio à simpli- cio com as vilas, que tiveram a seguinte cronocidade de sua gente. Suas cidades estão entre logia de fundação dos arraiais que originaram as cidades que tiveram um papel sem prece- suas quatro cidades: Catas Altas (Catas Altas dentes na história do estado e do País, mar- de Mato Dentro, 1703), Santa Bárbara (Arraial cando o início da vocação econômica, comer- de Santo Antônio do Ribeirão Santa Bárbara, cial, política e educacional de Minas Gerais. 1704), Barão de Cocais (São João do Presídio Isso já se anunciava por ter sido o território, do Morro Grande, 1704), Caeté (Vila Nova da ainda em 1709, testemunha da disputa entre Rainha, 1714). Na atualidade, se transforma-
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ram nas cidades que hoje estão inseridas no chamado “Quadrilátero Ferrífero”, recorte geográfico e econômico que possui uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo e onde, ainda, o ouro é bastante explorado. Ele foi desde o início um território minerador, que começa quando e onde o próprio Estado de Minas Gerais oficialmente começa, por suas primeiras limitações de fronteiras geográficas e por reconhecimento político e vocação econômica. O território, hoje, começa a se firmar economicamente em outras áreas como o turismo e outras atividades geradoras de renda, além da mineração.
tes, outro fator bem mais sutil, mas não menos claro, chamou a atenção desses pesquisadores, sendo muito relatado em suas escritas. Foram os hábitos particulares e o modo de vida dos habitantes de Minas Gerais. É necessário aqui abrir um parêntese para uma reflexão: o modo de vida, em grego, se chama dieta. Algo bem singular para os mineiros é seu modo alimentar. O modo de vida (dieta), na opinião desses viajantes, se diferenciava de outros lugares do Brasil. Era como se nessas paragens se pudessem sentir características próprias e distintas só existentes nesse lugar, como a hospitalidade mineira, hoje largamente reconhecida e já descrita por esses viajantes como característica da O “Entre Serras” é percebido de forma es- terra, além de pratos especiais como o pão de pecial desde os primeiros relatos históricos inhame, o pão de queijo, os bolinhos e as rosdos viajantes e naturalistas estrangeiros que o cas, além de outros quitutes. visitaram, principalmente durante os séculos XVIII e XIX, e produziram registros detalhaSer um território de passagem desde a prédos sobra sua rica formação de solo e rochas, -história e de ligação das diversas regiões do suas espécies vegetais e animais e seu potencial Brasil não são os únicos fatores capazes de econômico. Mas, além desses fatores eviden- confirmar o talento nato dos mineiros em rece-
Barão de Cocais - 1963
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ber passantes. Há diversos outros, dentre eles, a descoberta do ouro, que provocou a convivência constante com estrangeiros e, ainda hoje, como corredor econômico e de turismo, em que se reconhece com facilidade a hospitalidade simples e natural para com os visitantes nas terras de Minas.
Esse é um sentimento muito reconhecido por aqueles que frequentam o território e sentem a força poderosa que vem de suas serras! Principalmente daquelas que lhe dão nome: Serra da Piedade e Serra do Caraça; as duas são pontos de difusão de religiosidade, cultura, simplicidade e hospitalidade. Esses dois santuários recebem juntos mais de 700 mil turistas por É instigante pensar na hospitalidade e ano, vindos do Brasil e de mais de 50 países noutras razões naturais que tornam o territó- diferentes, conforme dados de 2019. Como me rio agradável aos visitantes. A começar pelo disse uma vez D. Walmor de Oliveira Azevedo, clima, ameno e úmido, com dias ensolarados Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte: e noites e brisas temperadas que são um con- “O homem precisa ver o belo para ser belo!”. vite ao descanso. As serras também dão ao território certo ar de mistério, um lugar que No “Entre Serras”, as serras tiveram innão se abre por inteiro. A geografia das ser- fluência total na formação do território, desde ras apresenta os territórios, mesmo que pró- o primeiro momento, quando atuaram como ximos, em pontos separados, com certo isola- referência para a região das minas e como mento entre os pontos povoados, permitindo uma fortaleza de proteção do território aurífecerta privacidade e intimidade bem-vindas ro. Uma história marcada pela morfologia das principalmente para o turismo e o descanso. rochas que foram responsáveis por fatos essenciais que mudaram o rumo da história do luOutra tendência a ser observada nesses lu- gar, como nos conta Tambasco (2010, p. 21) sobre gares e serras é a busca de superação dos desa- a Serra da Piedade: fios, nos esportes de aventura, como na cidade “Por meio de uma orogênese muito caractede Barão de Cocais, onde acontecem várias rística, formando suas rochas com a metaetapas internacionais destes esportes. Talvez morfização de grãos de quartzo e precipitaseja esse desafio que fortaleça a tendência em ções químicas de solutos concentrados dos povoar alguns desses pontos mais altos, para sais de ferro, sobre os primeiros; disputaram-se em camadas alternadas e de espessuras testar a força e a capacidade do homem, ou por variáveis, onde a proporção entre quartzo e decisões estratégicas, como a de proteção ou óxido de ferro resultante (sob forma mineral pela facilidade de se ver ao longe, entender e, hematita) também variava muito.” se for do interesse, distribuir com mais facilidade, a todo o seu entorno, aquilo que se julEssas estruturas formam muitas das rochas ga importante distribuir, ou preservar quan- ferrosas do “Entre Serras”, principalmente o do não se quer distribuir. E da forma natural maciço da Serra da Piedade. De aspecto parcomo as serras o fazem, usando as leis da físi- ticular e inconfundível, essa formação mica, dentre elas, a da gravidade. neral possui finas lâminas paralelas, de um cinza reluzente, que, nos idos do século XVII, O que de certa forma pode justificar a exisfez com que a Serra da Piedade fosse percebitência dos santuários religiosos do “Entre da de forma diferenciada, a começar por seu Serras” é a boa energia que transmite o lugar. formato cônico, único em seu entorno, o que
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possibilitou que fosse tomada por uma serra de prata, como o Potosí, na Bolívia, serra com alta produtividade de prata do mais elevado teor. Além do formato cônico, o maciço da Serra da Piedade, formado em sua maioria pelo minério hematita compacta, apresenta o brilho acinzentado do minério que lembra a prata. Esse brilho é visto principalmente no paredão rochoso da face da Serra da Piedade que está voltada para o caminho do distrito de Ravena (Sabará). A coloração cinza reluzente causou essa impressão e atraiu os Bandeirantes para seu entorno. Sabarabuçu é o nome indígena que significa “serra resplandecente”, pelo qual foi chamada a Serra da Piedade na ocasião de sua descoberta. Várias foram as serras chamadas Sabarabuçu, muitas serras da cadeia do Espinhaço foram confundidas com ela. Mas foi a Serra da Piedade que realmente assumiu esse papel, não pela prata, ou pelas esmeraldas tão procuradas por lá pelo Bandeirante Fernão Dias Paes, dentre outros, mas pela descoberta do ouro nas fraldas da serra. A cidade de Sabará foi batizada com o nome diminuitivo de Sabarabuçu, a serra resplandecente, citada pelos índios!
de Nossa de Senhora da Piedade, história de fé e religiosidade, que será mais detalhada à frente, como todos os caminhos que esta serra referenciou no “Entre Serras”.
Após ser descoberto o território aurífero do sertão dos Cataguases, Minas Gerais ainda não existia de fato, definida e protegida por lei. Isso só aconteceu quando se percebeu que o lugar seria uma das maiores regiões de exploração mineral do mundo. Antes disso, o território se encontrava sem forma eficiente de administração que o reconhecesse como um território com alta capacidade de produção aurífera. Sem leis, era saqueado por todos os lados, sob o nome de Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, sob a gestão da Coroa Portuguesa. O território por muitos anos teve seus caminhos marcados apenas por pontos distintos, pontos de referência, fato justificado pelo interesse de evitar a difusão da forma de chegar à região aurífera. A Coroa Portuguesa, mesmo com os maiores cuidados em esconder a localização dessas minas, descobriria de forma forçada todo o potencial da riqueza do lugar e que não seria mais possível esconder a localização das lavras auríferas. Foi a partir do ano de 1690, Sabarabuçu foi o ponto de partida, o por- com reconhecimento oficial da descoberta autal temporal de entrada no “Entre Serras”. Por rífera, que Minas teve seu primeiro mapa ofimeio dela, a história do território se confun- cial, no ano de 1705. E, lá estava ela, em toda de com a própria história de Minas Gerias. A a sua deslumbrante simplicidade, o principal Serra da Piedade, nas fases dessa história, irá ponto de referência do território das Minas de fazer parte dela, assumirá outros nomes con- Ouro, no sertão das Gerais: a Serra da Piedade! forme sua função no território: chamada de Não obstante essa forma inicial de particiSabarabuçu (ponto de referência da chegada à região aurífera), depois de Penedia (que marca- pação da Serra da Piedade no conjunto do “Enva o ponto de troca de mercadorias, Caeté), ou tre Serras”, inaugurada por sua capacidade de simplesmente Penha, nome de referência dire- referência geografica à chegada ao território ta ao penhasco (penedia), o rasgado rochoso de minerador, surge outra importante referência pura hematita compacta situado em sua face histórica desse período. Com a premissa do sul, que chamou a atenção dos Bandeirantes, e, comércio de gêneros alimentícios e utilitários, por último, a serra transformada no Santuário a cidade de Caeté teve formação natural como
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ponto de encontro deste tipo de comércio para distribuição na região do ouro e dos diamantes! A responsabilidade desse comércio cabia aos tropeiros, vindos do Nordeste e outros, em grande número, vindos de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo – sim, do Espírito Santo! –, com um importante elo perdido da Estrada Real, pouco difundido, ligado à estrada do gado (Bahia a Minas), mas com trânsito de tropas muito presente na região, chamado na época de “Estrada D. Pedro de Alcântara”.
Essas serras testemunharam fatos inimagináveis, mas alguns deles – os poucos que se sabem – precisam ser registrados e retransmitidos, para que os homens nunca se esqueçam de sua importância. Porque as serras, estas, jamais esquecerão suas histórias, nas marcas do intemperismo natural, que os estudiosos sabem ler, e contar passo a passo e em detalhes as histórias de cada uma das rochas que formam estas serras. Também os homens precisam contar suas histórias de vida, principalmente aquelas próximas de cada luSeria aqui muito simples falar apenas da gar, para que registremos nossa forma de avafunção comercial ou do comércio trazido pelo liar as coisas, para que a ação humana não se tropeirismo à região mineradora. Mas verda- torne cada vez mais imprevisível. Dito isso, deiramente nesse contexto de formação do ter- voltemos à história do surgimento do comércio ritório é importante que se entenda a potência no “Entre Serras”, atividade primordial em um dessas rotas difusas e toda a amplitude da território de passagem, como este! construção do que é entendido como mineiridade e por que aqui dizemos que o “Entre SerPara se ter a dimensão desse comércio, varas - da Piedade ao Caraça” nasce junto com mos falar de um fato curioso, um ponto que Minas Gerais e seu modo de viver, sem deixar nos mostra a abrangência de influência do nunca de crescer com ele, atual em cada época ciclo do ouro e da atuação do comércio históe tempo em Minas Gerais. rico no “Entre Serras” que foi capaz de ligar
Caminhos Entre Serras
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Antiga linha férrea.
distâncias pouco imaginadas como sendo possíveis para a época. Para entendermos essas distâncias vamos até a serra de prata, aquela denominada de Potosí, na Bolívia. Era no “Entre Serras” que a prata retirada pelos espanhóis dessa serra sul-americana acontecia como produto final. No coração da região mineradora ela encontrava seu apogeu de valor. Aqui ela chegava vinda dos frios vales da América do Sul, trazidas por mulas e burros, oriundos da colônia jesuítica de Sacramento, no Uruguai, de onde seguiam pelo Rio Grande do Sul, até Sorocaba e Taubaté, em São Paulo. De lá, pelo Caminho Velho da Estrada Real, atravessavam a Serra da Mantiqueira, até chegar à região mineradora, aos pés da Serra da Piedade no “Entre Serras”, onde tinham parada pontual. Esses animais que representavam a opulência rústica da época chegavam arreados de prata. Neles, a prata era usada às toneladas. Trocada na região mineradora por puro ouro, unia a América do Sul às minas das Gerais por meio dos muares trazidos originariamente da Espanha para a província do Prata. Os muares eram ricamente adornados com tralhas e ornamentos em prata. Trabalhada ao modo espanhol em brasões, símbolos e arreios requintados, reluzia ao sol e o barulho de sinos anunciava a chegada da tropa, mostrando toda a opulência e a importância desse animal e da profissão do tropeiro. Foram as idas e vindas desses tropeiros que mantiveram a circulação da riqueza aurífera no Brasil, e principalmente garantiram o abastecimento dos gêneros alimentícios, principalmente do sal, que era fator fundamental para a sobrevivência dos habitantes da região mineradora.
Desses pontos, alguns eram mais estratégicos, como os mercados de Taubaté e Sorocaba, em São Paulo, Parati, no Rio de Janeiro, ou outros no norte ou leste de Minas. Na região mineradora, havia um lugar onde se encontravam aqueles vindos por muitos desses caminhos da Bahia, de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, encontro que possibilitava trocas que resultavam na variedade de produtos vindos de toda parte. Esse ponto era marcado ainda pela Serra da Piedade, dentro da “mata fechada”, significado do termo tupi “Caeté”, nascida como “Vila da Rainha” (1714) no sertão do minerador. Era ponto de troca, escambo e comércio de destaque, a partir de onde os alimentos seguiam sobre o cintilar da prata latina, no lombo das mulas e dos burros para outros destinos mineradores do entorno, a exemplo dos mercados de Diamantina, de Ouro Preto e Mariana. Na época, o preço da fome era muito alto, o alimento valia ouro e movimentava um comércio milionário. Em vários anos dessa época é verdadeiro informar que alguns gêneros alimentícios chegaram a valer mais que o ouro, o que justificava o preço e as dificuldades de viagens tão longas para se chegar a um local onde o alimento tão raro virasse o puro ouro, conforme nos mostra o pintor Debret, em sua tela “Comércio de gêneros aos pés da Serra da Piedade”. Dessa forma fica fácil entender a tradição de vestir as mulas com adornos de pura prata, fato que reverencia, na prática, o valor e a importância destes animais e seus condutores na construção mais rústica do Brasil e da Minas Gerais colonial. A prata que virava ouro na região mineradora, vinda da Bolívia, foi, sem dúvida, um dos elementos que fizeram a lendária imagem do tropeiro, grande desbravador e A exemplo da prata do Potosí, que vinha de difusor de culturas, deixando suas marcas no longas distâncias, outros produtos vindos de território “Entre Serras” e em Minas Gerais! regiões distintas seguiam por vários pontos de parada para tropeiros e condutores do gado.
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Esse primeiro momento da cultura aurífera, do qual o “Entre Serras” é testemunho importante, mudou paradigmas na sociedade brasileira até aquele momento. A exemplo disso podemos falar sobre a mudança de paradoxo na relação entre escravo e senhor. Não falo aqui em uma diminuição da violência no trato, mas em um modelo diferenciado de convívio, se comparado aos outros territórios do Brasil, principalmente do Nordeste, onde os grandes latifúndios resultavam em um distanciamento efetivo entre o senhor e a pessoa escravizada, ao contrário do acontecido na região mineradora, onde a convivência entre o senhor e o escravo era próxima, devido à lida conjunta nas lavras de ouro, ao número reduzido de escravos que cada senhor possuía e ainda à possibilidade de o escravo poder comprar sua liberdade, fato que acontecia porque, em determinados dias santos, o escravo podia minerar para seu proveito e, se tivesse sorte nestes dias, poderia ter sua liberdade com a carta de alforria, fato não tão raro de acontecer naquela época. Isso sem contar que nessa região mineradora se encontrava o maior número de escravos no período. Esses fatores causaram troca e influência muito maior do africano na cultura mineira, resultando, dentre outras coisas, na influência linguística miscigenada, na influência alimentar e artística presente de forma particular na região do “Entre Serras”, herança que será pontuada quando abordada cada cidade do território e os seus diferenciais culturais.
sacro das outras maravilhosas igrejas barrocas nele existentes, que fomentam até hoje uma religiosidade viva no território. A começar pelo Santuário da Serra da Piedade e sua vocação à espiritualidade, que o consolidou como o santuário da santa que veio a ser proclamada padroeira de Minas Gerais: Nossa Senhora da Piedade. É a partir dessa vocação espiritual e religiosa que a Serra da Piedade e a Serra do Caraça se encontram sob o céu do território “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, em um encontro que, lendário ou não, une seus dois pontos limítrofes: o Santuário do Caraça e o Santuário da Piedade.
Curiosamente, as duas serras, a da Piedade e a do Caraça, estão intimamente ligadas por meio de seus santuários. Com possibilidades de estarem assim mesmo antes da consolidação dos mesmos, desde suas fundações como instituições religiosas, sobre as quais muitos escreveram da forma que os fatos a seguir procurarão apresentar. A criação dos dois santuários é atribuída a dois portugueses, católicos fervorosos, que um dia se encontraram no “Entre Serras”. Mesmo sendo homens bem diferentes em profissão e formação, tinham um objetivo comum, o amor a Nossa Senhora. Por ela um dia se uniram e em outro se separaram para criar, cada um, os referidos santuários. São eles Antonio Francisco, conhecido como Bracarena, fundador do Santuário da Serra da Piedade, e o Irmão Lourenço de Nossa SenhoOutro fator de forte influência nesse modo ra, fundador do Caraça. característico do mineiro foi a intensa heranA primeira fase do ouro aluvial se manifesça portuguesa ligada à religiosidade, e neste aspecto o território do “Entre Serras - da Pie- tou de forma muito intensa, mas de curta duradade ao Caraça” teve uma história única em ção, menos de 100 anos. Esse fato resultou em todo o estado: a existência de dois dos grandes uma rápida decadência do território. Em 1816, santuários religiosos do mundo, os dois funda- Saint-Hillaire, naturalista francês, se referiu a dos por portugueses, além do rico patrimônio algumas cidades do “Entre Serras”, como San-
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Santuário São João Batista em Barão de Cocais Foto: Emerson
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ta Bárbara e Catas Altas, como cidades fantasmas, abandonadas, o que resultou em uma população com poucas opções de subsistência. Sem o ouro, os que ficaram fixaram-se nas atividades da pequena agricultura, nos pequenos engenhos de açúcar e cachaça, em pequenas roças de poucos produtos como mandioca, milho, feijão e queijo. Uma produção diferenciada do território na época era o chá preto, em Caeté, e o óleo de mamona para iluminação. Esse momento de perda para muitos resultou em ganhos para os mineradores de sucesso como o português Irmão Lourenço de Nossa Senhora, que, com seu enriquecimento com os diamantes em Diamantina, veio para o “Entre Serras” em busca de um lugar onde tives-
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Caminho para Morro Vermelho
se condições de erguer um templo para Nossa Senhora. Os relatos nos dizem de seu encontro com o outro português, o Bracarena, construtor por profissão, acontecido em um distrito de Sabará chamado Ravena. Nessa época a Serra da Piedade se chamava Penedia. Essa serra seria um bom lugar para realizar o intento. O Bracarena seria um profissional capaz de realizar a construção do templo, conforme o fez na Matriz de Caeté. O Irmão Lourenço era chamado assim pelo codinome que ele mesmo adotou ao criar uma ordem religiosa que teve como objetivos sua devoção e a possível necessidade de esconder o nome próprio, para proteção contra algum fato sobre o qual as histórias são muitas e cujas descrições não
entraremos. O fato é que a responsabilidade de construção ficaria a cargo do construtor português radicado em Caeté na época, chamado de Bracarena, por referência a seu lugar de origem em Portugal. No entanto, conforme outras narrativas, a hoje Serra da Piedade não possuía água em sua parte mais alta, o que para o Irmão Lourenço inviabilizaria a execução de seu sonho. Por esse motivo o Irmão Lourenço aprovou o início das obras em uma parte mais baixa da serra, local hoje chamado de Cavalhadas, provavelmente porque ali seria mais viável a execução da estrutura de abastecimento de água. No entanto, o construtor Bracarena não comungou dessa opinião e decidiu continuar as obras na Serra da Piedade (Penedia), obtendo licença do bispo de Mariana para esmolar com esse objetivo. O Irmão Lourenço então transferiu seu projeto para a Serra do Caraça, chamada assim por ter o perfil da grande caraça de um gigante deitado na cadeia de serras do Espinhaço. E lá, pelo ano de 1774, fundou a hospedaria, que se chamava na época Hospício: Nossa Senhora Mãe dos Homens. O Caraça, o outro extremo do “Entre Serras”, marca outra fase de Minas Gerais. Com o fim do ouro de aluvião e os rastros deixados por este ciclo, eram necessários motivos para que a evasão das cidades fosse contida. No ano de 1820, o Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens na Serra do Caraça deixa de existir e tem início o Colégio do Caraça, que traria a Minas um dos mais significativos e belos resultados que a educação é capaz de prover. Dessa forma, o território é abençoado não com um santuário, mas com dois, que, com o passar do tempo, se transformariam em referência no Brasil e fora dele.
Assim nasce o “Entre Serras”: há 40 milhões de anos, com suas serras; há 8 milhões de anos, como caminho seguro para os humanos do território Brasil; ao final do século XVII, com os Caminhos dos Currais e da Serra da Mantiqueira; a partir de 1690, com a oficialização do ouro e sua capacidade de ligar e influenciar; em 1720, como berço da fundação de Minas Gerais. Com os santuários da Piedade e do Caraça, o “Entre Serras”, já nascido, seguiu renascendo, várias vezes, durante mais de três séculos. Um território de exemplo e enfrentamento dos seus grandes ciclos econômicos que foram da mata fechada à riqueza, a perdas e à fome, a lutas, alegrias e fartura. Um território que continua com seus caminhos de ligação agora não só econômicos, mas também caminhos de aventura e religiosidade com o Caminho CRER, que liga o “Entre Serras” e a padroeira de Minas a Aparecida e à Padroeira do Brasil. Sob o paradoxo da realidade diária, entre a sobrevivência mineradora e a preservação de suas serras, caminha para continuar sua vocação vinda de milhões de anos, a sua história de hospitalidade guardada “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, em forma de turismo!
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Vista aérea da Serra da Piedade e do observatório astronômico Foto: Secretaria de Turismo de Caeté
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SERRA MILAGROSA
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Serra da Piedade Foto: Miguel Andrade
Nascida sob o signo da fé, da esperança e do renascimento, a Serra da Piedade presta um papel singular a Minas Gerais. Inicialmente, como ponto de referência da região mineradora. Depois, teve início um segundo papel para os mineiros, aquele de ser apoio espiritual à sociedade de uma época quando o ouro de aluvião abruptamente acabou, deixando a fome e a miséria no lugar, agravadas por um processo Toda criação da natureza é divina. Mas al- de abolição, sem o devido preparo das pessoas gumas dessas criações são lugares tão espe- para o fato que deixou milhares de trabalhadociais, que pessoas diferenciadas são forjadas res sem remuneração ou qualquer outro modo especialmente para que toda pujança destina- de sobrevivência, à mercê da própria sorte, em da a este espaço físico se concretize tal como um território que não tinha opções econômicas apropriadas que naquele momento conseguisfoi determinado. Acredito nisto! sem absorver o contingente de trabalhadores. Mais ainda que acreditar, pude sentir na pele Revolta, tristeza e pobreza assolavam o “Entre nos anos em que estive no Santuário da Serra da Serras” e toda a região mineradora nesse períoPiedade. Lá é um desses lugares, fato que afirmo do, ao final do século XVIII. representando a fala comum daqueles que, de A fé, representada pela Serra da Piedade, certa forma, possuem intimidade com esse lugar sagrado. Isso já estava anunciado na inscrição foi uma força especial na reconstrução moral e gravada em sua entrada, no ano de 2010, quan- social do território. A Serra da Piedade teve pado lá cheguei para um trabalho que duraria três pel imprescindível, e pouco conhecido, aquele que aconteceu com a abolição da escravatura, anos, anos de aprendizado e alegria: um tempo de incertezas e sofrimentos que en“Desamarre as sandálias, esta é uma Terra cobria o sentido da liberdade proposta no terSanta!” mo da abolição. “De 1554 a 1675, as mais de vinte entradas exploratórias pelos sertões da Bahia, Espírito Santo e São Paulo, sem falar na primeira em 1531... que, partindo do Rio de Janeiro, estabeleceram o roteiro de passagem pela garganta do Embaú; todas estas entradas tinham como destino os sertões interiores do atual estado de Minas Gerais. Era lá, pois, que se acreditava poder encontrar a Sabarabuçu.” (TAMBASCO, 2010, p. 26)
Simbolicamente assim o faço. Desamarro minhas sandálias, respeitosamente, para falar sobre a Serra da Piedade, lugar sagrado para os mineiros. Casa da mãe padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade. “Magnífica Arquitetura Divina”, nas palavras de Dom João Resende Costa.
Tantos outros enfrentamentos viriam depois, a resistência à mineração, a carência de recursos que sempre acompanhou o santuário, principalmente por ser a Serra da Piedade um lugar de construção e manutenção caríssimos, devido às suas condições climáticas, topográficas e morfológicas, resultantes principalmente por ser um espaço habitado a 1.746m de altitude.
A serra passou por todos esses acontecimen“Um lugar onde o homem aprende a ver o belo, para ser belo”, nas palavras de Dom Walmor de tos históricos e por inúmeras dificuldades para Oliveira Azevedo, Arcebispo Metropolitano de sua construção, até chegar à forma como se encontra hoje, restaurada e ativa pela ação última Belo Horizonte. iniciada em 2008 pela Arquidiocese de Belo
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Horizonte, sob a direção de Dom Walmor de Oliveira Azevedo e seus Bispos Auxiliares e Padres Reitores do Santuário de Nossa Senhora da Piedade.
nhecida como portal de entrada para a região mineradora. Quantos foram os olhares desde esse primeiro contato, de quem lhe pousou a vista com deleite e admiração e certeza de que estava perto do ouro do Sertão dos Cataguases! Houve um desses olhares em especial que mudou a história da hoje Serra da Piedade. Era o olhar de uma menina muda de nascimento, aquele olhar que tudo vê e nada fala. Até o momento em que, ao fitar a Serra da Piedade, viu lá no alto a imagem da Virgem Maria, a Mãe da Piedade, com seu filho nos braços. A partir desse momento, a menina, curada, começou a falar. O fato iria se repetir outras vezes com a mesma menina, quando, de sua casa, tinha essas visões, ao fitar a serra. Sua casa ficava no lugarejo que até hoje é chamado de Penha, como na época, e pertence à cidade de Caeté.
No ano de 2017, completaram 250 anos em que esse santuário representa a fé dos mineiros, fato que foi se consolidando com o passar do tempo. Essa missão teve início em 1767, quando Antônio da Silva Bracarena e Manuel Coelho Santiago foram autorizados pelo Bispado de Mariana a construir uma capela em devoção a Nossa Senhora da Piedade, no alto da então denominada Serra do Caithé. Já no ano de 1960, Nossa Senhora da Piedade foi proclamada como Padroeira de Minas Gerais. Depois seguiram vários outros títulos, que citaremos um pouco mais à frente. Todos esses títulos reforçam a importância histórica da Serra da Piedade e da pequena Ermida de “Não se sabe ao certo a data destes acontecimentos, mas pode-se inferir que a notícia se Nossa Senhora da Piedade, que continua a ser deu entre os anos de 1765 e 1767.” a capelinha no alto da serra, na cidade de Cae(TAMBASCO, 2010, p. 20) té (MG), mas também passa a referenciar de forma grandiosa Minas Gerais e os mineiros, Um milagre! Mesmo que não creiam nele, e como símbolo de sua espiritualidade, preserse busquem justificativas no fato de que nessa vação cultural, patrimonial e natural, berço época a crença era um universo que interagia de primário da fé dos habitantes de Minas Gerais forma direta com o homem oitocentista, muito desde o século XVIII. envolvido com o modo de vida da Idade Média, em que o sagrado era a primeira forma de enEmbora sua beleza e sua espiritualidade transtendimento dos fatos. Portugal era, sem sombra cendente a transformem em um lugar de calma de dúvida, grande representante desse legado natural, na prática, a luta diária que ocorre nesse religioso, fato que se constata pela religiosidade lugar é enorme. Sobre essa luta contaremos ale pela fé intensa de seus habitantes, aquela mesgumas passagens a seguir, conhecimentos pouco ma fé que desembarcou na Terra de Santa Cruz relatados de fatos, pelos quais vários homens e trazida pelas caravelas de Cabral. Se esse fato foi mulheres se dedicaram com afinco à solução dos milagre ou não, não importa. Ele não será o foco impasses para construção do santuário e preserde nossa conversa, ele é só o início dela, o ponto vação da serra. Para isso, muitos deles dedicaram de partida do que aconteceu depois dessa épotoda a vida em trabalhos e soluções que fizeram ca. Partiremos desse dito milagre para contar da serra o que hoje ela é. outros tantos que ocorreram após este aconteciA história da Serra da Piedade tal qual a mento marcante nas escritas e nos relatos sobre conhecemos tem início depois de ela ser reco- o Santuário de Nossa Senhora da Piedade.
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Cruzeiro - Serra da Piedade Foto: Samir Haddad
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Pietá - Serra da Piedade Foto: Samir Haddad
Até esse acontecimento, a Serra da Piedade era conhecida apenas por Penha, ou como nos documentos da época: “a Serra fronteira a Vila Nova da Rainha do Caeté.” (TAMBASCO, 2010, p. 88)
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SANTUÁRIO E SEU CONSTRUTOR: O BRACARENA O executor da façanha de erguer a igrejinha no alto dessa serra foi o português mestre de cantaria Antônio Francisco Bracarena, que se ocupava na época dos trabalhos da construção da Matriz de Caeté, templo dedicado a Nossa Senhora do Bom Sucesso e São Caetano, pelo que se sabe, o único trabalho dele realizado no Brasil, além da construção da Ermida da Serra da Piedade, para a qual dedicou todas as suas posses e sua vida. O Bracarena veio de Portugal, de uma região chamada Freguesia de São Pedro de Barcarena, o que originou seu apelido no Brasil: Bracarena. Era um oficial de cantaria, trabalho muito valorizado na época por se tratar de trabalhar as pedras para o uso em construções diversas. Sua conversão à vida mística se deu enquanto estava nesse trabalho em Caeté, e provavelmente no mesmo período em que a notícia do milagre da menina muda ganhava notoriedade na região, tendo sido escolhida por ele Nossa Senhora da Piedade como a santa para a qual ergueria um templo. Aqui, abrirei um parêntese para um fato curioso que se passou na história de Bracarena e da imagem de Nossa Senhora da Piedade existente na Ermida da Serra. Vários documentos creditavam sua origem à encomenda de uma Pietá, nome europeu desta imagem de Maria com o filho morto nos braços, feita pelo Padre de Caeté, Henrique Pereira, a quem foi atribuí-
da sua importação de Portugal. No entanto, no ano de 1990, ao ser executado um trabalho de restauro nessa imagem, pôde-se constatar o equívoco: a imagem é feita de uma madeira usual no século XVIII em Minas Gerais. Quem seria o escultor de tão bela obra de arte? O Bracarena trabalhava na construção da Igreja Matriz de Caeté, que tinha como projetista o português Manuel Francisco Lisboa, pai de Antônio Francisco Lisboa, o dito “Aleijadinho”. Antonio Francisco Lisboa era aprendiz nessa época e esteve em sua adolescência e parte de sua idade adulta em Caeté, junto a seu pai. É de se admirar que a imagem da Pietá da Serra da Piedade não tenha sido atribuída antes a ele. Os traços, as características e proporções, a expressão e a forma do traçado dos olhos creditam a autoria da obra a Aleijadinho, fato justificado por sua estada em fase de aprendizado em Caeté, como oficial entalhador, em um trabalho conjunto com o oficial de “cantaria” Bracarena. É impressionante o realismo da cena, característica comum ao trabalho do artista. E isso é devidamente registrado pelo viajante Jean de Montlaur, no ano de 1918, que descreve a Pietá da Serra como o “mais impressionante dos quadros”. Lembramos que na época dessa descrição a Serra da Piedade se encontrava em um de seus períodos de abandono dos cuidados de manutenção, mas é importante ressaltar que a Serra da Piedade, desde sua primeira ocupação, mesmo em seus períodos de maior abandono, nunca foi afastada de sua missão, sendo sempre um lugar vivo e atuante no silêncio de sua singular devoção: “A Virgem pálida segura entre seus braços e repousando sobre seus joelhos o corpo divino de Seu Filho, um corpo pálido esverdeado, as chagas estando presentes, e que se deixa ficar, pleno de realismo, costelas salientes e musculatura relaxada, cabeça baixa, pés
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e mãos pendentes. A Virgem com o coração apunhalado por sete espadas descoloridas, fantasmagórica em suas vestes claras às vezes enegrecidas por manchas espalhadas sobre a face e as mãos fixas diante d’Ela, a imensa e muda desolação do seu olhar. Não é a Ele que olha, mas aquele que vem a Ele. E seus olhos falam de uma tristeza infinita.” (MONTLAUR apud TAMBASCO, 1918, p. 118) É bem verdade que esse relato pode parecer demasiado duro. Mas vejo nele a sensibilidade do viajante que desvenda o artista e a obra, até ali sem restauro, guardada no tempo passado. Pensemos nessa cena, no século XVIII, quando a subida da serra por entre as pedras durava algumas horas, por entre a neblina e o vento causticante na subida do íngreme maciço. A noite gelada era passada na própria ermida, toda ela em cantos e orações. Pessoas simples, negros na maioria, no início, ainda como escravos. Nesse início, o que se comia era basicamente cuscuz de fubá e café; até a água tinha de ser levada pelos romeiros ao cume, para no outro dia pegar a descida novamente por entre as pedras, nas mesmas condições. O sofrimento da cena da imagem era um alento ao homem da época, um lampejo entre o divino e o humano. Essa era a dureza da vida da época vestida pela cena da imagem da santa e de seu filho, vistos nessa realidade pelos olhos do artista e, séculos depois, pelo olhar atento do viajante. Hoje, essa cena restaurada está mais viva e harmônica nos tons, mas não menos emocionante. Nela, a dor humana se retrata na dor divina, um exemplo que no alto da serra acolhe e consola milhares de pessoas e suas histórias, na busca incessante da esperança. Encontros, pedidos e agradecimentos pelas graças alcançadas fazem com que gerações seguidas visitem o alto da serra, um ambiente leve, fluido e natural que proporciona um momento de encontro do homem e sua fragilidade com a
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grandeza da natureza e a divindade do Deus criador. Fatos e ponderações atemporais, que existem na serra desde o início nos primeiros séculos de Minas, quando nas comunidades católicas existia um intenso misticismo, sempre fortalecido pelo sentimento de transcendência presente no santuário.
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S PRIMEIROS ANOS DO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE O Santuário de Nossa Senhora da Piedade nasce a partir da fé de um homem e de uma identidade local como referência geográfica junto aos mineiros. Essa referência é fortalecida pela vocação espiritual motivada por um período difícil marcado pelo declínio do ouro nas cidades de Caeté e Sabará e pela busca do sacrifício como forma do perdão dos pecados coletivos, um pensamento português muito presente em um território que sofria sua primeira grande crise econômica que causava fome e pobreza – o fim do ouro de aluvião. A Serra da Piedade agrega à sua história uma missão que carrega até hoje, a de acolher os mineiros, aliviar os sofrimentos, ser alento para a perda do ouro de aluvião e a violência da escravatura em Minas Gerais. Os primeiros habitantes da Serra da Piedade eram eremitas que escolhiam esta vida natural, isolada, cheia de privações, em que o sofrimento era o caminho natural para a purificação em uma vida de eremitério, iniciada por Bracarena. Na construção da Ermida, as celas do eremitério foram erguidas ao fundo da igrejinha barroca, que tem sua data de finalização no ano de 1778. Na Serra da Piedade dessa época, os eremitas viviam com total desinteresse pelas coisas materiais e iluminados pela fé. Essa fase da Serra da Piedade foi
Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais Nossa Senhora da Piedade Foto: Samir Haddad
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Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais Nossa Senhora da Piedade Foto: Samir Haddad
chamada de fase de veneração. Foi nesse período que foram construídos os primeiros caminhos para o cume da serra, que na época não dispunha de água. Sem água ela ficou por vários anos e este foi um dos maiores desafios enfrentados para a ocupação da Serra da Piedade. Por quase dois séculos, toda a água que chegava ao alto da serra vinha em lombo de burros e mulas, animais sem os quais não teria sido possível a construção do santuário.
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ADRE JOSÉ GONÇALVES PEREIRA E FREI LUÍS DE RAVENA
número e local de origem. Essa primeira fase de romarias no Santuário de Nossa Senhora da Piedade foi chamada de fase da expiação. Muitos são os relatos místicos ouvidos sobre o santuário nessa época, mas não entraremos nestes detalhes por trazerem apenas fatos curiosos, muitos dos quais intensificaram essas romarias de expiação e autoflagelo. Para evitar os excessos e seus desdobramentos, presentes nessa época, as romarias nos moldes dessa fase inicial foram desestimuladas a partir do ano de 1840.
Depois do Padre José Gonçalves, os Capuchinhos italianos assumiram a serra. O Frei O Padre José Gonçalves Pereira foi o homem Luís de Ravena foi o escolhido e na época ele se que tomou para si a missão de levar pessoas à ocupou da recuperação do Santuário de Nossa Serra da Piedade. Sua atuação era principal- Senhora da Piedade, ação que não era o foco mente em favor das pessoas escravizadas e ele da administração anterior: as conduzia ao cume da serra pelas difíceis tri“[...] ampliando as acomodações e construinlhas abertas por Bracarena. do uma cisterna nos moldes daquelas do Montes Alpeninos na Itália, para abastecer Era usual que o próprio Padre José Gonçalves de água a Serra da Piedade. Pela primeira vez a água chega ao cume da Serra da subisse a serra com uma enorme cruz de madeiPiedade [...] Trata-se de um fenômeno típico ra nas costas, um sacrifício que era feito por indesta formação itabirítica, foliar e porosa, tenção daquelas pessoas escravizadas. Essa sua interposta aos caminho das nuvens, naqueliderança espiritual sobre os escravos ou mestila altitude; as nuvens depositam umidade sobre estas rochas e esta, por efeito da poroços o fazia não ser bem visto por muitos. sidade própria da rocha, infiltra-se, vindo a aparecer mais abaixo, nos ditos milagres. Por Nessa época, pelas ações do Padre José isso mesmo, esses ‘olhos d’água’ eram ditos Gonçalves, tiveram início as primeiras romamilagrosos, pela gente simples que ali afluía rias da serra que eram feitas por essas pessoas em peregrinações.” escravizadas, principalmente aqueles das fa(TAMBASCO, 2010, p. 97) zendas vizinhas a exemplo da Fazenda Rio Frei Luís de Ravena também adquiriu um São João, hoje moradores da cidade de Bom Jesus do Amparo, onde hoje está o distrito terreno ao pé da serra, onde hoje se encontra o do Felipe, que foi reconhecido pela Fundação Asilo São Luís. Outros freis substituíram o Frei Palmares como remanescente Quilombola, no Luís de Ravena e, com essa fase do Capuchiano de 2013. Essa romaria é realizada anual- nhos, se extingue na Serra da Piedade a fase mente até hoje e é a mais tradicional da Serra de expiação pela penitência, que durou pouco da Piedade. As romarias se intensificaram em mais de 70 anos.
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Outro fator de importância durante a gestão do Monsenhor Domingos foi o retorno das romarias ao santuário, chamadas agora de Jubileu de Nossa Senhora da Piedade e acontecendo, nessa época, entre 15 e 22 de agosto. Monsenhor Domingos teve uma vida de privações voluntárias em prol da manutenção das crianças órfãs. Após seu falecimento no ano de 1924, assume o Padre Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, nascido bem próximo da serra, na cidade de Bom Jesus do Amparo, e que pouco tempo ficou no santuário.
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ONSENHOR DOMINGOS PINHEIRO Após a saída dos Capuchinhos, o Padre Antonio Simplício assumiu o santuário, mas, no ano de 1872, ele deixou a Paróquia de Roças Novas e, com isso, o santuário ficou abandonado. Foi o Padre Domingos Evangelista Pinheiro quem buscou o apoio dos fiéis para a retomada dos cuidados com o Santuário Nossa Senhora da Piedade. Para tal, criou a Irmandade de Nossa Senhora da Piedade no ano de 1875. A irmandade foi criada em um momento de convulsão social gerado pela abolição da escravatura, com o objetivo de cuidar das crianças negras abandonadas sob o signo da Lei do Ventre Livre. Essas crianças eram um custo a mais para seus senhores, além de dificultarem que suas mães trabalhassem, por isso elas eram sumariamente abandonadas pelas estradas, principalmente as meninas. Consternado com essa situação, o Monsenhor Domingos vê na fundação do Asilo São Luís uma forma de proteção para às órfãs da Lei do Ventre Livre.
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Com Monsenhor Domingos tem fim a terceira fase do santuário, aquela que tem como foco a caridade.
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SÉCULO XX NO SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DA PIEDADE Esses novos tempos eram tempos difíceis. O período pós-abolição trazia uma série de dificuldades econômicas para a região mineradora: o fim do ouro, uma agricultura e pecuária ainda embrionárias em um território que possuía o maior número de pessoas escravizadas do País. Não havia ali trabalho escravo, muito menos trabalho remunerado. Houve uma grande migração desses escravos libertos para a nova capital do estado. Belo Horizonte começava a ser construída: uma cidade planejada! Lá, sim, havia muito trabalho para essa população negra, que para lá partiu principalmente para ocupar o espaço e para o trabalho com as pedras na construção da capital. Um dos pontos de destino foi a hoje chamada comunidade da Pedreira Prado Lopes. Outro ponto de destino, para plantio de gêneros alimentícios no entorno da capital, foi a re-
gião hoje conhecida como Morro do Papagaio, dentre outros.
para sustentação da luta humana e espiritual daqueles que a visitavam, calmamente a Serra esperava o que estava por vir no século XX, quando dirigida por um homem, Frei Rosário Jofilly, fosse finalmente reconhecida como patrimônio natural, social e religioso que se tornou. É pela atuação e genialidade deste homem que a Serra da Piedade atravessa o século XX.” (LIMA JÚNIOR apud TAMBASCO, 2010, p. 109)
As Irmãs da Piedade do Asilo São Luís eram as responsáveis pela ajuda durante as romarias à serra e nos períodos de jubileu, além de vender seus quitutes e água na subida da serra. O dinheiro recebido era usado para manutenção do asilo, que mais tarde se tornaria um importante educandário feminino da região. Até o Vários relatos sobre a alimentação na Serano de 1950 a serra ficou assim, sem recursos ra da Piedade nos contam de pessoas que chepara os cuidados necessários, deteriorando. gavam de trem a Caeté no período do Jubileu. Isso aconteceu por mais de dois séculos, e nesA ida à serra ainda era um sacrifício, repetises relatos, como no de Lima Júnior, sempre do anualmente pelas famílias mineiras. O relato existe uma referência ou outra sobre a comido memorialista Lima Júnior em torno do ano da que levavam: cuscuz, frango com farofa, de 1920 nos mostra que as condições de visitação pastéis, tarecos e broas e empadas são os mais à Serra da Piedade não haviam mudado muito frequentes. Também é frequente a distinção com relação ao que acontecia durante o século sobre a qualidade dos quitutes das freiras do XVIII. Ele descreve a cena e a visão da chegada Asilo São Luís, o que nos leva a inferir que dude sua família à serra em dia de Jubileu: rante séculos o Santuário Nossa Senhora da “Do pé da Serra até o cume eram duas ho- Piedade teve seu papel social ampliado como ras de escalada, por trilhas íngremes e pe- difusor de hábitos alimentares tradicionais dregosas, aguardavam os romeiros, sempre dos mineiros, além do incentivo à pratica da carregando suas matulagens e petrechos de partilha, essencial para uma boa hospitalidadormir. Ao chegarem ao cume, na pequena esplanada defronte à Ermida, viam-se cons- de, em que sob um teto comum os alimentos truções de pedra em meias-águas, que eram serviam a um grupo ou família e a quem estialugadas para pernoites desejados pelas fa- vesse a seu lado. mílias. Ao lado destas meias águas, construções precárias de tábuas e caixotes, e caibros roliços coberto de sapé, as barracas ocupadas pelos pequenos comerciantes de artigos religiosos, de comida e principalmente de água.” (LIMA JÚNIOR apud TAMBASCO, 2010, p. 109) Ao final, Lima Júnior nos conta que sua família passava a noite na sacristia da Ermida para retornar no dia seguinte: “A Serra da Piedade era até este momento um lugar quase estático, com poucas mudanças reais nos objetivos de sua fundação pelo Bracarena. Guardava em si o espírito divino
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ram na Serra da Piedade. Um profundo entendedor da importância do santuário e da serra em toda a sua amplitude – histórica, espiritual, religiosa, natural e política. Em seus mínimos detalhes ele compreendeu a Serra da Piedade, desde seu clima extremamente particular, em que em um mesmo dia se pode ter sol causticante, frio intenso, chuva forte, névoa densa ou fina e terminá-lo com um pôr do sol deslumbrante.
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REI ROSÁRIO JOFILLY
Frei Rosário, nascido na Paraíba e descendente de portugueses, também foi Reitor do Santuário Nossa Senhora da Piedade. Ele foi, juntamente com Padre Antonio Gonçalves, um dos gestores que mais tempo permanece-
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Serra da Piedade
Algo muito especial, mas de difícil adaptação humana, principalmente no que se refere às condições técnicas para o trabalho externo. A inversão climática é tão grande, que a depreciação das construções é algo impressionante. Um dos recursos usados pelo Frei Rosário nessas construções para dirimir o problema foi a colocação de lâminas d’água instaladas nas coberturas das construções feitas de concreto, no caso, o grande restaurante Espaço Dom João Resende Costa, de forma a minimizar essa variação de temperatura e causar
estabilidade do acabamento em cimento, para que as construções conseguissem permanecer estáveis sob este alto intemperismo climático existente na serra. Um fato curioso sobre esse assunto são as perguntas constantes dos visitantes sobre o perigo de essa lâmina d’água causar doenças transmitidas por mosquitos, fato também estudado pelo Frei, que constatou que, na altitude de 1.746m, o ar é mais rarefeito e não se torna adequado para os insetos. O lençol protetor feito de água não oferece nenhum risco aos visitantes. Já na igreja nova das romarias, esse recurso não funcionaria pela extensão e pelo formato da cobertura. O cimento a tornaria um peso insustentável para a estrutura prevista pela vontade do Frei Rosário e pela descrição do arquiteto que a projetou em metal. A capacidade dessa igreja prevista pelo frei era de 3.500 pessoas, mas deveria ter uma arquitetura que, mesmo com este tamanho, ficasse incrustada em um vão natural da serra, preservando totalmente seu contorno cônico. A cobertura
adequada para o projeto deveria ser de um metal leve, flexível e resistente: o cobre! Mas como conseguir uma quantidade tão grande desse material caríssimo? Que preço teria essa cobertura tão extensa? Isso seria totalmente irreal para o santuário. Desafios como esse não desanimavam o Frei Rosário em sua confiança em Deus e em seu trabalho, além daqueles que ele chamava de “Amigos da Serra”. E assim aconteceu: em uma situação pouco lógica, um acidente que causou uma pequena avaria em uma carga enorme de cobre que viria a Minas para um fim específico, fim que não admitia nenhuma avaria nas placas de cobre, por menor que fosse. Por uma coincidência, um dia lá estavam eles, os caminhões cheios de folhas de cobre subindo a serra, folha por folha doadas ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade na quantidade suficiente para o trabalho do telhado da Igreja Nova das Romarias, como nos conta o Sr. Zacarias, funcionário antigo do santuário que presenciou o fato. Segundo ele, muitas coisas acontecem assim por lá! Como uma vez em que eu mesma presenciei outro
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acontecimento desse tipo, quando se precisava, para determinado fim, de um pilão de madeira. Por muitos dias se buscou em lojas e outros lugares um pilão grande, do tamanho adequado à necessidade. Em uma manhã, em meio à neblina, lá estava ele, na porta da Ermida, com um pedido de oração sem assinatura do doador, apenas disponível para ser usado nas necessidades do santuário. A ajuda e a caridade para com a Serra da Piedade são fatos comuns em seu dia a dia, sem os quais ela não existiria. O Frei fez do Santuário Nossa Senhora da Piedade um espaço que recebia todos, dando continuidade à proposta inicial de acolhimento presente desde os tempos de Bracarena, intensificado pelos reitores anteriores a ele, como o Padre José Gonçalves com as pessoas escravizadas, Monsenhor Domingos e as órfãs do Asilo das Irmãs da Piedade, servas humildes apoiadoras desta missão do santuário.
cesas. Usou as pedras e a madeira para isso. Lá, criava animais, como galinhas e cabras. O Frei sabia receber como ninguém e usava este talento de forma simples e natural, surpreendentemente com pratos únicos e vinhos. Bons vinhos franceses eram sua paixão, mas servia outros não tão bons, doces, da forma que ele não gostava, mas o que importava é que fosse do gosto do visitante. Às vezes servia um “vinho francês do sul da França”, como gostava de falar; em outras ocasiões, para quem gostava de vinho doce, um vinho de garrafão do sul do País era da mesma forma por ele servido. O vinho só não era mais importante que o queijo que ele servia, especialíssimo, único! Essa forma singular de hospitalidade aproximou o santuário de pessoas de muito poder político e econômico, que tinham em Frei Rosário um conselheiro, e, aos poucos, se tornavam grandes apoiadores das necessidades do Santuário Nossa Senhora da Piedade.
Frei Rosário fez da Serra da Piedade seu lar. Com a originalidade de sua personalidade instigante, construiu a seu modo esse lar, magnífico em simplicidade, sabedoria e genialidade. As atitudes do frei deixavam explícito que nunca pensaria em deixar a serra, a não ser da forma que foi, ao partir deste mundo. Como sua obediência ao Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte foi muito relatada, com certeza ele deixaria a serra se assim fosse solicitado pelo Arcebispo. Mas lá viviam como se essa possibilidade não existisse. No tempo em que Frei Rosário esteve na Serra da Piedade, foram três os Arcebispos que o apoiaram: Dom Cabral, Dom João Resende Costa e Dom Serafim Fernandes de Araújo.
Frei Rosário fez sua formação sacerdotal durante dez anos na França, no mosteiro dominicano de La Touret, na cidade de Lyon, em uma região famosa por seus queijos de mofo azul, maturados com a tradicional técnica que usava as cavernas para uma maturação totalmente natural. Sobre esse assunto, durante o tempo em que estive no santuário, ouvi uma história sobre o tal queijo do frei que acho totalmente improvável: que Frei Rosário tinha esquecido um queijo dentro de um armário e, passado algum tempo, o queijo estava mofado e com um sabor muito agradável. Imagino que essa seja uma forma simplista de os funcionários entenderem o gosto do Frei por tal queijo “cavernoso”.
Especificamente para sua morada construiu Sabendo que ele esteve por 10 anos no terrium cantinho muito parecido com uma pe- tório francês, que possui a maior fama na proquena construção campestre das serras fran- dução desses queijos no mundo, não é difícil
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imaginar de onde vieram seu conhecimento e seu aprendizado neste ofício de afinador de queijo, tendo sido provavelmente o primeiro no Brasil a usar esta técnica. Além destes, outros fatores podem justificar a teoria de que ele sabia muito bem o produto que havia criado na Serra da Piedade. Por exemplo, o fato de que o queijo escolhido para a maturação com fungos foi o queijo da Serra do Salitre, queijo de leite cru, com teor adequado de gorduras, características perfeitas para este processo. Segundo a fala de alguns de seus convivas, o queijo para o uso nessa maturação tinha de ser escolhido a dedo e era sempre o mesmo fornecedor do Mercado Central de Belo Horizonte que os trazia da Serra do Salitre, já que os queijos não eram produzidos na Serra da Piedade. A situação técnica também era extremamente rústica, mas com um processo primoroso, para o qual o ambiente natural e climático da Serra da Piedade era o responsável pela maior parte do trabalho. O uso de panos limpos entre a tábua e o queijo, com troca metódica destes panos, e a forma de lavar e higienizar os panos sem cloro
ou água sanitária também denotam conhecimento técnico apurado no manejo dos fungos que maturam o queijo. Como na França, os queijos entre cinco e nove dias de produzidos eram levados para a “cave” de cura. A legislação brasileira de produção queijeira, dos anos de 1960, nem de longe permitia essa forma de maturação. Frei Rosário sabia disso, fato evidente por ele nunca ter comercializado esse queijo, que era servido apenas como iguaria para seus convidados especiais – mais um motivo que demonstra que ele sabia exatamente o que estava fazendo. A própria personalidade do Frei, perfeccionista, extremamente curioso e estudioso, que preferia estudar a dormir, possuindo uma biblioteca pessoal de 15.000 livros sobre assuntos dos mais diversos, não condiz com o relato da descoberta por acaso do processo de maturação desse queijo. Os olhos mais atentos à morada do Frei Rosário podiam ver que o espaço era uma pequena morada francesa encravada na lateral abaixo do nível da Ermida, que ele chamava
Parte da morada do Frei Rosário. Dormitório das cabras. Foto: Samir Haddad
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de “favela”. O espaço maior era dedicado aos livros, a cozinha tinha um fogão de lenha de onde saíam poucos pratos, mas todos emblemáticos, como dito pelos frequentadores assíduos da casa do Frei. Os mais apreciados eram: o Carneiro a Abraão, nome dado pelo próprio Frei, que consistia na carne ensopada do animal, servida com um pão simples, salgado, feito de trigo sarraceno, chamado de Pão do Frei. Vez por outra o carneiro era substituído por coelho, animal cuja carne era muito apreciada por Frei Rosário. Outro prato comum era macarrão, sempre ao alho e óleo. Tudo sempre acompanhado pelo vinho que podia ser aquele do sul da França ou não, mas que sempre completava bem a conversa que era muito produtiva, na maioria das vezes sobre política ou ciências, como o tema das energias renováveis do qual o Frei era um grande estudioso, tendo, segundo relatos, alguma influência sobre a criação do plano brasileiro de energia renovável na década de 1980: o pró-álcool. De personalidade irrequieta e com inteligência acima da média, o Frei não jogava conversa fora, tudo tinha um porquê. Podia ser um trato dialético apurado com cientistas sobre assuntos diversos, um aprofundamento político ou, o mais usual, as necessidades dos cuidados de que o santuário precisava naquele momento. Quem nos conta esses detalhes sobre Frei Rosário – e o faz emocionado, com lágrimas nos olhos – é o Sr. Zacarias, um dos poucos funcionários do tempo do Frei que continuam lá até os dias de hoje. Ele nos diz que conheceu o Frei Rosário e ainda que se sente criado na Serra da Piedade, pelo Frei, pois aprendeu tudo com ele, inclusive as técnicas de construção usadas propostas pelo arquiteto Alcides da Rocha Miranda e executadas com ajuda do Sr. Zacarias. Essas técnicas de construção
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eram baseadas naquelas feitas para altas altitudes nos mosteiros do Tibet, planejadas pelo arquiteto francês Le Corbusier, que inspirou o arquiteto do santuário, Alcides da Rocha Miranda, em que as formas naturais locais eram preservadas pelo traçado arquitetônico de Alcides, em construções modernas, como era o gosto do Frei Rosário, mas que pouco interferissem na visão pitoresca da pequena ermida barroca no topo da serra, o elemento principal. E, nos veios e nas entradas das pedras, outros espaços foram construídos, de forma que essas construções se integram perfeitamente à paisagem, preservando o contorno cônico e puro do maciço da Serra da Piedade. Um trabalho de mestre do arquiteto Alcides da Rocha Miranda, orquestrado e executado por Frei Rosário e por sua visão única do que seria o Santuário Nossa Senhora da Piedade muitos anos depois. Assim foram construídos o restaurante e a lanchonete, além da Igreja Nova das Romarias, com capacidade para 3.000 pessoas, extremo oposto da ermida original, que tem capacidade média para 40 pessoas. Também foram obra do Frei a Casa dos Romeiros, a Praça da Ermida e a Cripta São José, o Teatro de Arena, a Lanchonete do Santuário e a Lanchonete das Cavalhadas. Dentre suas realizações mais brilhantes, além da reconstrução de vários elementos arquitetônicos da Serra da Piedade, está o fato de ter levado a água e a eletricidade do sopé da serra ao cume, quando adquiriu o terreno da nascente de água do santuário e conseguiu apoio dos “Amigos da Serra”, no caso a “turma da bomba”, voluntários da cidade de Caeté que até hoje ajudam na manutenção da chegada de água à Serra da Piedade, seguindo o legado das gerações, como uma tarefa que passa de pai para filho. Foi implementado
um processo eficiente de bombeamento e construção da caixa d´água, solucionando um problema grave para o santuário existente por mais de 200 anos. Também foram executados os trabalhos da rede elétrica saindo de Caeté para o alto da serra. Não só o trabalho progressista do Frei Rosário era de suma importância, mas sua fé e sua determinação eram exemplos para todos. O Frei era um dinâmico e atuante homem de fé inabalável. Mesmo nos dias gelados da Serra da Piedade, nunca deixou de celebrar a missa diária, muitas vezes sozinho na Ermida. O Frei faleceu no ano 2000, estando no santuário por mais de 50 anos, devido a uma queda que sofreu. O legado do Frei Rosário passou então ao Padre Virgílio Resi, que era italiano.
e oração, também um ideal do Frei. No entanto, faleceu dois anos depois do Frei. O santuário enfrentaria mais seis anos de paralisação em seus projetos de desenvolvimento, até o ano de 2008, quando Dom Walmor de Oliveira Azevedo, já como Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, visita o Santuário Nossa Senhora da Piedade.
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OM WALMOR DE OLIVEIRA AZEVEDO Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte desde o ano de 2004. Mesmo tendo nascido na cidade de Côcos, no interior da Bahia, Dom Walmor possui um profundo conhecimento da alma do mineiro, tendo passado a maioria dos anos de sua formação episcopal em Minas Gerais, nas cidades de São João Del Rei e Divinópolis. Assim que conheceu a Serra, Dom Walmor teve um apreço imediato pelo santuário, talvez pela capacidade histórica do lugar em receber e consolar, missão também escolhida pelo próprio Dom Walmor, como seu ideal episcopal: “Eu vim para curar os corações feridos”. Também sua paixão pela oração se assemelha aos objetivos do santuário. Vez por outra, ele cita uma frase do século IV, da homilia de São Crisóstomo, que diz “a oração é a luz da alma".
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ADRE VIRGÍLIO RESI
“As práticas meditativas são um antídoto para os males do coração” (DOM WALMOR DE OLIVEIRA AZEVEDO)
A Serra da Piedade parece sintetizar o pensaO Padre Virgílio Resi assumiu o Santuário Nossa Senhora da Piedade com o objetivo de mento de vida de Dom Walmor de Oliveira Azedar continuidade aos trabalhos do Frei Rosário, vedo, que, desde seus primeiros anos à frente da principalmente ao projeto da casa de biblioteca Arquidiocese de Belo Horizonte, assumiu para
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si a missão de reconstrução total do Santuário O ano de 2013 foi ponto de início de outro Nossa Senhora da Piedade, reformando todos fato marcante para o “Entre Serras - da Piedade os espaços construídos por Frei Rosário e cons- ao Caraça”. Foi nesse ano que, com o resultado truindo outros. de um trabalho de mobilização de lideranças locais, foi criada uma exposição fotográfica itiNo ano de 2010, a primeira fase das obras nerante com as riquezas turísticas do território. foi entregue aos fiéis: a reforma da estrada e da Partindo do Santuário Nossa Senhora da Piemaioria das construções, com exceção da Ermi- dade, essa exposição lançou o destino turístico da. Em 2017, a Ermida foi inaugurada, depois de “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, inserido ter sido totalmente restaurada. na Estrada Real, fruto do Projeto VER: Vivendo a Estrada Real. Como ponto do início do roDom Walmor implementou toda a condição teiro está a Serra da Piedade, seguindo pelas estrutural para que a Serra da Piedade se tornas- quatro cidades: Caeté, Barão de Cocais, Catas se uma referência da religiosidade mineira no Altas e Santa Bárbara. O Caraça é o ponto de Brasil e no mundo no século XXI, inclusive uma fechamento do roteiro, inserido no Circuito do bem pensada obra de acessibilidade para a Basí- Ouro. Sr. Eberhard Hans Aichinger, na época, lica Ermida da Padroeira. no Instituto Estrada Real, conduziu os trabalhos que criaram esse roteiro. No ano de 2018, Nestes anos em que Dom Walmor se enconpela primeira vez, três das quatro cidades do tra à frente da Arquidiocese de Belo Horizonte, roteiro apareceram entre as cinco mais citadas o santuário foi totalmente renovado, sem perder como demanda turística pela pesquisa estaseu valor como patrimônio a ser preservado. dual do turismo feita pela SETUR. O sucesso No ano de 2011, a Serra da Piedade foi reco- desse roteiro turístico possibilitou a união do nhecida pelo Governo do Estado de Minas como território em um trabalho colaborativo, tendo “Monumento de principal relevância para Minas o turismo como ferramenta de desenvolvimenGerais”. No ano de 2017, ano em que o santuá- to sustentável. Na continuidade das ações, no rio completou 250 anos e com a finalização das ano de 2018 foi lançado na Serra da Piedade o obras de restauro da Ermida, ela recebeu o títu- caminho religioso CRER, entre a Basílica Erlo de basílica menor do mundo, dado pelo Papa mida Nossa Senhora da Piedade e a Basílica de Francisco, passando a ser chamada de Basílica Aparecida, em São Paulo. Ermida de Nossa Senhora da Piedade. Outros títulos além desse foram destinados ao santuário, por atuação direta de Dom Walmor, como os da irmandade com a Terra Santa, e com o Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Portugal. Dom Walmor construiu ainda a via com as Dores de Maria e o Horto das Oliveiras. Foi na sua gestão também que houve o retorno à produção do queijo do Frei Rosário que havia sido extinta no ano de 2002 e foi retomada em 2014.
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Dom Walmor teve e tem a seu lado padres que dedicaram ao santuário sua força de trabalho e seu empenho, para que o trabalho de reconstrução e o trabalho de acolhimento dos fiéis se multiplicasse. Dentre eles, o Padre Nédio Lacerda, sacerdote de Caeté, que assumiu junto a Dom Walmor o desafio de reconstruir o santuário e assim o fez, com toda a dedicação. Junto dele, o Padre Carlos Antônio da Silva. O Padre Alex Favarato; o Padre Fernando César do Nascimento, que intensificou na Serra o espírito de
oração e recolhimento; o Padre Wellington Santos e o Padre Wagner Caligário, que hoje está na QUEIJO QUE MUDOU A HISReitoria do santuário e continua junto a Dom Walmor o trabalho na Serra da Piedade. Como TÓRIA DO QUEIJO MINAS ARTESAde costume, as Irmãs da Serra da Piedade, a NAL E O MOSTROU AO MUNDO exemplo da Irmã Débora Miguel, que lá esteve, e outras fizeram da Serra da Piedade sua vida. Minas Gerais herdou da Europa muito de As Irmãs da Piedade lá continuam com seu prisuas técnicas gastronômicas. Dessas técnicas, moroso trabalho de evangelização em um magmuitas vieram das tradições monásticas e, dennífico empenho de acolher e apoiar as pessoas tre elas, os doces de conventos. As freiras do Asique à serra chegam diariamente. lo São Luís foram grandes difusoras da cultura doceira do “Entre Serras”. A Serra da Piedade segue, no século XXI, se renovando no enfrentamento de novos desafios. Outras heranças monásticas foram o vinho, o A cada um deles, ela se fortalece, nesta que é sua pão e o queijo. Na Serra da Piedade, dessa tríade missão, ser fonte de alimento e renovação espirida mesa, um elemento tem história singular: o tual, casa da Padroeira de Minas Gerais. queijo, lá chamado de “Queijo do Frei Rosário”, ou o “queijo das nuvens” da Serra da Piedade. Que assim o seja, sempre: Serra Milagrosa, morada de Nossa Senhora da Piedade! A partir do ano de 1950, com a chegada do Frei Rosário à serra, não se sabe ao certo o ano no qual o queijo começou a ser produzido, mas S ARTES NA SERRA DA se sabe que, antes de ser construída por ele a PIEDADE “cave” de cura, o frei usava somente um armário de madeira. A “cave” do frei é a primeira de Além da imagem de Antônio Francisco Lis- que se tem notícia no Brasil e na qual ele curou boa, feita em cedro americano, que fica na Basíli- queijos com fungos e ácaros até o ano 2000, ca Ermida da Padroeira, a Serra da Piedade pos- quando veio a falecer.
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sui outras obras de arte importantes: as pinturas azuis da artista mineira Maria Helena Andrés nas laterais da Basílica Ermida da Padroeira; a escultura em bronze de Nossa Senhora da Piedade, do mineiro Alfredo Ceschiatti (1918-1989), guardada durante 30 anos e que hoje pode ser vista a céu aberto na serra; o Calvário do artista Vlad Eugen Poenaru, escultor e Professor da Escola de Belas Artes da UFMG.
Com seu falecimento, a famosa produção do “Queijo do Frei Rosário” foi extinta. É certo que o frei não produzia o queijo, ele maturava queijos de outros produtores, fazendo o que na França é chamado de affineur, palavra que no Brasil deu origem ao “afinador” de queijos, função inexistente no País até então. Durante a gestão do Arcebispo Metropolitano Dom Walmor Oliveira Azevedo e do Padre Nédio Lacerda no Santuário Nossa Senhora da Piedade, o queijo foi refeito com nossa participação em todo o processo, quando fui acompanha-
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da pelo funcionário do santuário Lucas Desidério. No ano de 2014, com o queijo refeito, ele foi mostrado pela primeira vez no Programa Terra de Minas e mudou a realidade queijeira do estado. Muitos produtores do queijo Minas Artesanal passaram a maturar com essa característica, surgindo outro tipo de queijo em Minas Gerais: o queijo com fungos, chamado hoje de queijo de casca florida. No ano de 2015, pela primeira vez, juntamente com o “Queijo do Frei Rosário”, outros queijos participaram de concursos na França, trazendo de lá a primeira medalha internacional dos Queijos Minas Artesanal de Leite Cru, que hoje somam mais de 50 prêmios internacionais. Esse queijo mostrou ao mundo que o queijo Minas Artesanal tem possibilidade de, se maturado de forma especial, concorrer com os melhores queijos do mundo. Além de ter sido o Frei Rosário o primeiro “afinador” de queijo do Brasil, tanto o processo da cura que era executado por ele usando fungos naturais como o trabalho do afinador foram reconhecidos pela Lei Estadual 23.157/2018. Uma nova etapa começará a ser construída, a de criar os métodos regulares para esse produto originado do queijo do Frei Rosário. A Serra da Piedade é um presente de Deus a Minas Gerais, um grande mistério, de beleza rara e força infinita!
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Queijo Frei Rosário Foto: Samir Haddad
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Parte da morada do Frei Rosário. Local onde o queijo é maturado ainda hoje. Foto: Samir Haddad
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Igreja Matriz do Bom Sucesso em Caeté
Guardada há três séculos nas idas do “mato dentro”, uma das formas de traduzir seu nome, vindo da língua Tupi: kaa-eté. No início, território bravio; depois, ponto comum a homens que viveram em tempos em que a coragem se mostrava no espírito desbravador dos caminhos para o sertão do Brasil. Um desses caminhos partia do Nordeste com o gado, mais precisamente do Recôncavo Baiano, e era chamado de Caminho dos Currais do São Francisco: “Caminho do Boi ou ainda Trilha da Bahia, trilha seguida por bandeirantes dos mais antigos: Espinosa,1553, Tourinho, 1572, Adorno, 1576, usado nos séculos XVII e XVIII como abastecimento da região mineradora, e povoamento do norte e nordeste de Minas Gerais.” (QUINTÃO, 2014, p. 18)
superficiais ou desconhecidas ao território. Este é um reflexo marcante da personalidade do caeteense: são senhores de suas definições e de seus atos, os escolhem e os determinam levando em conta os fatores internos ao território, tal como o significado que seu nome registra: “dentro da mata fechada”. Como filha de mãe caeteense, me sinto com permissão para adentrar um pouco mais na profundidade necessária, para que se conheça onde são guardados os quereres, gostos e valores, tais como a religiosidade ou a alegria genuína e simples de seus habitantes, além de sua admirável capacidade de trabalho, traços marcantes dos habitantes da cidade. Hoje o movimento a fazer para conhecer Caeté continua a ser o mesmo movimento de três séculos atrás: vivenciar o território, conhecer o que ele guarda de valor e de herança dos aventureiros que adentraram este território bravio. Experimentar sua religiosidade, seus sabores, conhecer sua história, sua natureza e as diversas possibilidades que o lugar nos apresenta, como economia, turismo, artes e patrimônio arquitetônico, que são pistas importantes e fatos principais para este entendimento.
Outro caminho vinha do Sudeste, aquele que atravessava a muralha em que se constituía a Serra da Mantiqueira, o Caminho Velho da Estrada Real, usado para apreensão de índios e a busca da riqueza mineral. Foi ocupado pelos Bandeirantes Paulistas, famosos por sua coragem e sua audácia em adentrar a “mata fechada” no sertão dos índios Cataguás, estes os primeiros a encontrar o ouro no leito do Rio das Velhas – chamado assim porque, em suas margens, três índias acocoradas Podemos começar esta visita conhecendo foram vistas por um Bandeirante, fato que não passou despercebido pela cultura supers- alguns dos aventureiros que foram primordiais para a existência do lugar, a exemplo de ticiosa comum à época. “Borba Gato”. Não é pretensão fazer deste um livro de his“Manuel Borba Gato, após a morte de Fertória, mas usaremos esses fatos históricos para não Dias, em 1681 assumiu o comando da que se entendam o pioneirismo e a personalisua Bandeira [...] em 1698 o Governador dade peculiar da cidade mineira de Caeté. E Arthur Sá o chamou ao Rio de Janeiro e lhe conferiu a patente para descobrir prata na para que se compreenda, também, um pouco [...] ‘paragem da Sabarabuçu’. Voltando ao de como esses fatos ficaram refletidos até hoje Rio das Velhas, promoveu a divulgação das como características singulares de seus habiminas auríferas que certamente já conhecia.” tantes: hospitaleiros, mas que de forma algu(BOXER apud TAMBASCO, 2010, p. 28) ma se deixam levar por opiniões de análises
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Como bem dito por Boxer, certamente Bor- va como proteção da descoberta aurífera, fato ba Gato já conhecia o lugar, a ordem para voltar expressado no próprio nome da cidade: Caeté a Sabarabuçu (Serra da Piedade), ao Rio das (“dentro da mata espessa”, em outra tradução). Velhas e a Sabará, o que dá indícios de que a “Nessa região que é uma região de tensão formação inicial de Caeté tenha sido ainda no ecológica, pois é o fim da divisa natural entre século XVII, embora a oficialização dos fatos as florestas estacionais tropicais e o cerratenha sido mais tardia, a exemplo da citação do, a floresta era alta e densa [...], o que lhe prestava um aspecto sempre verde e de difícil acima, dentre outras existentes: penetração.” (VELLOSO apud TAMBASCO, 2010, p.30) “É atribuída a Lourenço Castanho Tasques a primeira presença na região entre 1662 e Em 1701, houve o anúncio de que “o sargento1663, segundo Carta Régia de 23/03/1664 -mor Leonardo Nardez, juntamente com seus que o louvou pela descoberta das Minas do irmãos [...] descobrem ouro na região de Caeté” Sertão do Cataguás e dos Sertões de Caeté.” (VELLOSO apud TAMBASCO, 2010, p. 30). (QUINTÃO, 2014, p. 18). Caeté foi um foco importante para a ocupação da região mineradora vinda de dupla vertente: uma do Nordeste, mais precisamente do Recôncavo Baiano, e outra vinda de São Paulo, na época, Capitania de São Vicente. Pode-se dizer que essa ocupação de dupla vertente teve dois motes principais, o gado e o ouro. Esse fato foi evidenciado de forma singular em Caeté, quando nesta cidade teve início a Guerra dos Emboabas, uma disputa entre essas duas vertentes de ocupação do território minerador.
O interesse no território era tal, que mesmo com todas as dificuldades, no ano de 1705, Caeté já contava com uma população de 5.000 pessoas, e desde o início a fama de seus habitantes era de serem duros e fortes em seus preceitos, fama que invadiu os recantos das Minas e das Gerais.
Outro nome marcante para Caeté foi o nome do português Manuel Nunes Viana, criador de gado nos Currais do São Francisco, comerciante de gêneros diversos e de escravos, Alguns fatos colocam essa cidade nesse ce- um homem de personalidade singular, que nário de definição de poderes: o pioneirismo teve em Caeté o ápice dos acontecimentos enno anúncio do ouro; uma situação geográfica volvendo seu nome – e eram diversos. especial central ao território minerador, hoje “’César do Emboabas’ era homem rico e culto “Quadrilátero Ferrífero”; e o local onde se en[...] segundo o inglês Charles Boxer, em The contrava a Penha, penhasco grandioso (Serra Golden Age of Brasil. Depois da contenda da Piedade) que era um marco de referência ‘emboabas’, Viana voltou às suas vastas propriedades no Sertão do São Francisco, mas inicial do Sertão Minerador, ponto de enconnão deixou as Minas [...] Na verdade ele tro dos dois principais caminhos dessa época “apaziguava contendas [...] Um autêntico he- o caminho do Gado, que vinha da Bahia, e o rói de um faroeste mineiro.” (In QUINTÃO, caminho da Mantiqueira (Caminho Velho da 2014, pp. 34-35). Estrada Real), que vinha de São Paulo. Uma dessas contendas envolvendo MaSua localização geográfica também possuía nuel Nunes Viana, em Caeté, foi motivo para uma característica interessante que funciona- que se desencadeasse a Guerra dos Emboabas
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Estátua na Praça de Caeté
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(1708/1709). Essa contenda aconteceu entre aventureiros vindos de São Paulo e aqueles vindos do Nordeste – estes últimos usavam botas compridas e peludas e, por isto, eram chamados de Emboabas (perna peluda, em Tupi). O conflito culminou em sangrenta batalha em um local em que hoje fica a cidade de Tiradentes. Após essa guerra, o território minerador elegeu um governo próprio, não reconhecido pela coroa, como está marcado no pedestal da estátua, na Praça de Caeté: “Nesta terra começou a Guerra dos Emboabas - 1708”.
por exemplo, por personalidades importantes no cenário político mineiro, como o participante da primeira junta do Governo Provisório de Minas Gerais, o Desembargador José Teixeira da Fonseca Vasconcellos, nomeado enquanto tinha sob sua guarda a Jurisdição de Caeté (1767/1838), escolhido como Primeiro Presidente da Província de Minas Gerais (1824/1827). Outra ilustre personalidade de Caeté foi José Pinheiro da Silva, que também foi Presidente da Província de Minas Gerais (1906/1910), fundador da Cerâmica Nacional de Caeté.
E nas palavras de Manuel Nunes Viana:
Caeté também teve destaque em outros momentos econômicos importantes do País, tais como o período da Companhia Ferro Brasileiro, destaque nacional na siderurgia no século XX.
“Conclamo a população das Minas, assegurando que só assumo tão grande responsabilidade para servir nesta conjuntura aos interesses da Paz e da Justiça. Nunes Viana-Governador da Minas - Terra dos Emboabas.” (In: QUINTÃO, 2014, p. 23)
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TURISMO EM CAETÉ
A partir daí, outras rebeliões aconteceram e a coroa, para cessar as desavenças e ter maior controle sobre a região mineradora, decretou a Vários fatores fazem de Caeté um lugar criação da Província das Minas Gerais, no ano muito interessante pela diversidade turística de 1720. que possui. A começar pela Serra da Piedade, monumento de referência do Turismo ReligioNo ano de 2019, quando tiveram início as so do Brasil; o Recanto Monsenhor Domingos, comemorações oficiais do ano do tricentenário com o memorial da Irmã Benigna (a devoção da criação da Província de Minas Gerais, o Go- ao Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiverno de Minas, em reconhecimento ao ro segue paralelamente ao seu Processo de pioneirismo da criação deste título, a partir do Beatificação), além do rico patrimônio barroco início da Guerra dos Emboabas, realizou na rococó de Caeté. cidade de Caeté, em solenidade no dia 13 de setembro de 2019, a abertura das comemorações A natureza exuberante de Caeté também do tricentenário da criação da Província de apresenta, em seu conjunto, um grande valor Minas Gerais. A cidade de Caeté pôde, assim, para o turismo, seja por sua diversidade de oficialmente dizer que: o Estado de Minas Ge- biomas – Cerrado, Mata Atlântica e Campos rais começou aqui! Rupestres –, que criam visões e espaços de grande beleza, principalmente em suas serOs anos se seguiram e a história de Caeté ras, seja pela diversidade de espécies, animais continuou a ser relevante para Minas Gerais, e vegetais, para serem observadas por grupos
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de observadores de pássaros e outros estudiosos. Suas serras, sendo as principais as da Gandarela e da Piedade, propiciam ao território um clima ameno, muito apreciado e apropriado para casas e sítios de fins de semana, procurados principalmente pela população de Belo Horizonte.
Na cidade, também, a natureza se mostra exuberante, seja pela vista da Serra da Piedade ou pela Pedra Branca, esta última um bonito monumento natural que na verdade é uma pedra bem escura e que dá nome a um bairro da cidade. É um belo cartão postal do lugar.
Recentemente, em um projeto de Turismo, Para quem busca na natureza os esportes, o os atrativos religiosos, como a Serra da Piedaterritório oferece trilhas agradáveis para cami- de, o Recanto Monsenhor Domingos, onde está nhadas, boa estrutura de hospedagem, tanto o Memorial da Irmã Benigna, além do circuito na cidade como em vários de seus distritos. Os das igrejas de Caeté, fazem parte de um circuito esportes de aventura fazem do lugar uma refe- de Turismo Religioso na cidade. Outros circuirência no ciclismo e no arvorismo, para os que tos de outros temas também foram desenvolviquerem observar o mundo de cima das árvo- dos para receber de forma especial aqueles que res. A cachoeira de Santo Antônio, no distrito visitam a cidade. de Morro Vermelho, é um cenário ideal para um banho à moda de Minas.
Cachoeira Santo Antônio Foto: Helder Primo
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Igreja Matriz Bom Sucesso
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ATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO E O ARTESANATO DE CAETÉ Os anos do Ciclo do Ouro, embora não tenham oportunizado uma diversidade produtiva, trouxeram para Caeté uma sociedade urbana próspera, mesmo que a época refletisse a instabilidade representada pelo início e pelo término das várias fases de extração do mineral ou por uma população flutuante, vinda de lugares diversos, sob a violência dos aventureiros e da escravidão, esta última retratada pelo pelourinho da cidade. Além da urbanização, a ocupação aurífera trouxe também as condições para uma religiosidade católica portuguesa, que foi fortalecida pelos ciclos distintos de sofrimento, pela difícil vida mineradora do início e ainda pelas fases de perda ou mudança deste tipo de economia, ou pela evolução da religiosidade mineira tal como se encontra hoje, após passar por diversas fases diferentes na forma de entender e praticar o cristianismo católico. Talvez parta dessa cidade o maior reflexo da religiosidade do estado ou, pelo menos, da região mineradora. Caeté possui um patrimônio arquitetônico religioso muito expressivo em suas igrejas, que tiveram suas construções feitas por artífices como Manuel Francisco Lisboa e seu filho, Antônio Francisco Lisboa, o dito “Aleijadinho”, que passou sua adolescência como aprendiz em Caeté. Eles e outros artífices como José Coelho Noronha e o construtor Antônio da Silva, chamado Bracarena, deixaram na cidade obras clássicas do barroco mineiro como a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, com sua imponente fachada, a primeira feita em alvenaria de pedra em Minas Gerais, e seus seis altares interiores, ricamente adornados. Há
outras igrejas centenárias como a Capela e Cemitério de Nossa Senhora do Rosário e a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, situada no Morro Vermelho, esta última a mais antiga de Caeté. Além das igrejas, o já citado Pelourinho, datado de 1722, o Chafariz da Cadeia Velha, de 1800, além do acervo do Museu da Farmácia Ideal, o Museu Regional e o Museu do Solar do Tinoco são destaques. Sobre esse último: “[...] está em uma construção do século XVII, adquirida em 1893, das mãos do Barão de Cocais, pelo Dr. João Pinheiro, cujas múltiplas atividades são relembradas entre as quais a fábrica da Cerâmica Nacional.” (QUINTÃO, 2014, p. 23). No artesanato, os trabalhos dos bordados de Caeté são primorosos, com técnicas como a bainha aberta e outros pontos raros de bordados que são habituais nas famílias da cidade. A produção de imagens de santos e outros objetos religiosos também está entre os artesanatos dos caeteenses. A tradição na música é uma característica marcante nas cidades do Ciclo do Ouro. Em Caeté, ela pode ser apreciada em seus corais, nos grupos de serestas, violeiros, sanfoneiros e em outros tantos grupos que fazem do caeteense um apreciador da boa música. Nas festas públicas, tradições medievais são presença desde o início destes 300 anos de Minas Gerais, como é o caso da Cavalhada do Morro Vermelho, que já foi exportada para outros lugares de Minas, como para a cidade de Santa Bárbara, em seu distrito de Brumal (Cavalhada de Santo Amaro).
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Igreja Matriz de Caeté
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Cemitério Igreja do Rosário
Igreja de Nossa Senhora de Nazaré
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são dessa técnica de produção doceira, entre suas alunas, ou como produto de venda nas ASTRONOMIA romarias da Serra da Piedade. Essas técnicas propiciavam uma doceria de fino acabamento, A economia do ouro não trouxe a Caeté, muito usada para casamentos e nas festividaem primeira instância, uma diversificação de des locais. seus segmentos produtivos, já que seu exceHá, também, doces mais rústicos, como dente era exportado e o que ficava era para o tradicional “Queijão”, do distrito de Morro consumo. Mesmo assim, a morte por fome Vermelho, um pudim feito de doce de leite nesse período era um fato verídico que reque recebeu este nome pela semelhança com sultou principalmente das dificuldades para o formato do queijo, e a rapadura de frutas do uma vida urbana, mas fortaleceu o surgimendistrito de Posses, que chamam atenção pela to de um modelo agrícola e pecuário, comum antiguidade desta receita passada de geração em Minas Gerais e corriqueiro na cidade de em geração, sem sofrer substituição de ingreCaeté e em seu entorno: os quintais produtidientes. Esses produtos nos fazem entender a vos, que sustentavam as casas e geravam renimportância do trabalho das pessoas negras da com a venda dos excedentes da produção na cozinha mineira, o espírito de valorização familiar, como o comércio de ovos, animais, desses saberes tradicionais que Caeté orgulhodoces, frutas, queijos e quitandas. Esse cosamente preserva como assinatura do lugar. mércio era extremamente presente desde os tempos da criação da Vila Nova da Rainha, A casa de doces de D. Nazinha, no distrito em 1714, tradição mantida na cidade e em seus de Roças Novas, nos mostra uma variedade de distritos até hoje, fato que intensificou o tadoces das frutas do quintal, preparados de válento comercial muito ativo no lugar. rias formas, um lugar que vale uma saída da BR-381 para uma visita que, mesmo sendo rápiEm Caeté, um dos Pilares da Cozinha Mida, deixará todos muito felizes. Pode-se dizer neira tem destaque: a Doceria. Para seu increque será como entrar na casa de doces da antimento podemos citar dois fatores. O primeiro ga história de João e Maria. é o trânsito da cana, outro produto muito importante vindo do Nordeste pelos caminhos O Recanto Monsenhor Domingos, antigo dos Currais do São Francisco. No território Asilo São Luís, situado um pouco antes da ciessa doceria floresceu ao se unir a abundância dade de Caeté, é outro ponto para compra desda cana de açúcar ao segundo fator, as técnises deliciosos quitutes do lugar. cas da doceria de convento. Como exemplo, podemos citar a doceria do antigo Asilo São A gastronomia de Caeté preservou preLuís, hoje Recanto Monsenhor Domingos, an- ciosidades que o caeteense busca valorizar, a tes, escola religiosa para moças, onde as frei- exemplo da existência de produtos alimenras produziam, e o fazem até hoje, vários tipos tares muito antigos e expressivos que podem de doces, herança dos conventos portugueses, ser encontrados na cidade, como a tradição da como é o caso do doce mais famoso do lugar, produção do Aluar, fermentado de abacaxi, a ambrosia. Esse lugar ajudou muito na difu- datado de quando as pessoas eram escraviza-
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Museu Casa João Pinheiro e Israel Pinheiro (Casa do Tinoco)
Museu Regional
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das na região em que até hoje é produzido de forma ritual, no distrito do Morro Vermelho. Outros produtos antigos são muito celebrados em Caeté, como seus guisados, que contam com evento próprio, e os maravilhosos bolinhos e caldos. Como rei desses bolinhos está o de feijão e como rei dos caldos podemos eleger o de banana verde. O feijão é um ingrediente que foi essencial para a alimentação do mineiro, e a banana, em forma de caldo de banana verde do distrito da Penha, em Caeté, era um preparo que, como o feijão, salvou inúmeras pessoas da fome e da morte durante os períodos de escassez das várias crises econômicas vividas pelo lugar.
ria do imperador e de seu manjar é fato que se conta pela cidade. Verdade ou não, a combinação do petisco é mesmo maravilhosa!
A produção do Queijo Minas Artesanal, feito de leite cru e curado na tábua de madeira, ficou extinta no território por mais de 150 anos, após o início dos laticínios de queijo pasteurizado. Por meio de um programa de resgate (Primórdios da Cozinha Mineira, do Senac em Minas), a que aderiram produtores da cidade de Caeté, tendo sido a primeira D. Renilda Fonseca, no ano de 2014, hoje, contando com muitos outros, é possível que seja encontrado esse tipo de queijo de leite cru, curado na tábua, fato que faz com que histórias como essa Hoje Caeté vive um processo de reconhe- do imperador e outras várias receitas locais cimento de sua gastronomia de origem, o que feitas com este queijo não sejam esquecidas e pode ser visto em seus restaurantes, em sua que Caeté possa ter um queijo com o gosto do produção comercial de doces e quitandas, seu lugar. festival “Butecando”. Caeté retoma sua história Do Caminho do Gado, além do leite e da por meio de sua gastronomia e revela seus pequenos grandiosos segredos, guardados ciosa- carne, Caeté guarda a história e a tradição da cana e seu uso no caldo de cana, na rapadura, mente, vivos, por mais de 300 anos. nos doces e na cachaça. Também a produção O queijo também é uma história antiga do da geleia de mocotó tem no lugar receitas muito lugar. Uma parte dela que é comum de se ou- especiais. São fatores que mostram que a cidavir é a do “Manjar do Imperador”: em sua vi- de tem ainda uma rica história alimentar que sita ao território minerador no ano de 1881, o pode ser contada por sua gastronomia por meio imperador D. Pedro II e sua esposa, D. Tereza dos caminhos que trouxeram essas origens até Cristina, após a visita à Igreja de Nossa Senho- Caeté. Vamos aguardar os próximos sabores ra de Bom Sucesso, ao observarem sua fachada que virão dessa história e desses caminhos... de alvenaria de pedra, única na época, calmamente sentados na escada da entrada da igreja, se deliciaram com uma combinação típica do lugar: queijo com banana. Tal combinação foi chamada a partir daí em Caeté de “Manjar do Imperador”. Essa é uma das várias histórias contadas pelo mais famoso memorialista do lugar, Sr. Antônio Claret, detentor de um vasto conhecimento, de um acervo de fotos e de conhecimento histórico sobre a cidade. A histó-
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Casa de Doces de D. Nazinha
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ECEITA DO QUEIJÃO
Esta receita faz parte do caderno de receitas de D. Ivone Caetano Pinto, datado do ano de 1960, hoje o registro escrito mais antigo deste doce típico de Caeté: Ingredientes: • 2 litros de leite (integral) • 250g de açúcar • Raspas de 1 limão • 9 ovos Método de preparo: Leve ao fogo o leite e o açúcar e deixe ferver em fogo baixo, fazendo um doce (ponto cremoso). Ao final, acrescente a casca de limão ralada. Deixe esfriar. Bata os ovos inteiros com as gemas sem pele, junte ao doce e bata novamente. Unte em seguida uma forma redonda com calda caramelada, ponha o doce e leve para assar em banho-maria.
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BARÃO DE COCAIS
Praça do Rosário - Cocais
Barão de Cocais é como um prisma! De cada lado que olharmos, o veremos diferente. Pode ser vibrante, colorido e forte ou suave e fresco. Também pode ser quente, calmo e aconchegante. É só escolher qual lado se prefere. De cada lado desse prisma encontramos um DNA diferente. Falo de DNA não na forma puramente científica, mas sim para dizê-lo de forma simbólica, apenas um nome que represente um instrumento para entendimento desta multiplicidade que é Barão de Cocais, uma cidade de 32.619 habitantes na região “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, território cujo ponto central ele ocupa. São espaços muito diversos, é como se por eles pudéssemos ter uma linha do tempo que mostre com clareza muito mais do que o próprio território. É um lugar que, se olharmos bem, pode nos mostrar como funciona o mundo em muitas proporções. E elas estão ali, na nossa frente, de fácil acesso e para análise de cada um. Essas marcas começam nos registros do Sítio Arqueológico de Cocais, em uma época em que o homem e a natureza eram uma coisa só e viviam em busca do alimento para sobrevivência, provavelmente sem cobranças ou expectativas que caminhassem além disto.
fase estão na visão magnífica do alto de uma serra, nas paredes de rochas pintadas por nossos antepassados. As marcas da segunda fase também podem ser encontradas nas rochas, mas, de outra forma, são marcas muito mais profundas que cobram o preço desta história, nas ruínas de alguns lugares, que nos mostram mais que a sensação de passado sentida na Pedra Pintada, um sentimento de algo que foi interrompido. Outras boas sensações que essa segunda fase nos passa estão em sua arquitetura barroca que se faz obra de arte, na história do local. Estão também nas pessoas, na música, nos nomes de alguns personagens inesquecíveis e na religiosidade, marcas boas e ruins que fizeram e fazem parte do lugar.
Mais uma vez, outra mudança, outra fase se sucede na formação de outro lado desse prisma, aquela em que as máquinas mostram um novo momento, produtivo. É a era industrial e Barão de Cocais entra em seu momento do século XX: não mais a coleta, nem só o ouro, agora eram a siderurgia e a mineração em escala industrial, com seu movimento ininterrupto, em turnos de dia e de noite. E novas marcas são deixadas na cidade que vibra nesse mesmo ritmo, diuturnamente, com um parque industrial que recebe quem chega a Barão de Cocais trazendo ao lugar crescimento e emprego, O próximo momento marcante foi trazi- fortalecimento do comércio e da circulação de do pelos caminhos da Estrada Real, quando renda, mas deixando também aquilo que não ainda não tinham este nome. Um tempo em se pode evitar, que é o preço pago pelo proque a fase anterior da vida com a natureza se gresso deste período. transforma totalmente e deixa registrado ali outro modo de vida, bem diferente do primeiO século XXI traz novos tempos, em que é ro. É um período novo, quando o homem vê na preciso avaliar os tempos passados para defiterra outra moeda de troca que não apenas a nir novas formas de viver neste mundo tecnosobrevivência, uma troca bem mais complexa lógico, mas que não deixou de ser dependenpara os dois lados. A riqueza e a opulência en- te da natureza, da mesma forma dos tempos tram em cena, arrancadas dia a dia da nature- da Pedra Pintada. Barão de Cocais tem esses za em forma de metal. As marcas da primeira tempos a seu favor para reunir aprendizados
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passados e trazer o convívio com a natureza que hoje já acontece por meio dos esportes de aventura, projetos de agricultura orgânica, além de maior diversificação produtiva, como produção de queijos, dentre outras possibilidades ligadas ao comércio e aos serviços. Há novos desafios, em que as experiências anteriores podem ser pistas importantes na construção do século XXI, conforme escolha da cidade e de seus habitantes.
serras do Caraça, ladeada pela Serra do Garimpo. Mais precisamente na sua parte central está a Serra da Cambota. São vários nomes que cada trecho das serras da cadeia do Espinhaço recebe enquanto elas seguem pela cidade de Barão de Cocais. Há aquele chamado de Cabaçaco, há a Serra da Conceição, dentre outros pontos elevados, importantes nascedouros de mananciais de águas que atendem à vasta região no entorno da cidade.
A cidade de Barão de Cocais começou em um tempo em que o ouro era o motivo principal que justificava que os aventureiros se embrenhassem por essas paragens. Foi no início do século XVIII, com a chegada dos bandeirantes paulistas às paragens do Rio São João, que esta cidade recebeu seu primeiro nome, São João do Presídio de Morro Grande, com referência a mais uma dessas elevações da cordiÉ olhando por essas gavetas que pretendo lheira do Espinhaço, grande morro que ladeava começar a apresentar, aqui, a cidade de Barão esta parte do rio. O atrativo, além da beleza do de Cocais. Essa cidade foi plantada aos pés das lugar, foi o fato de terem sido ali encontrados Barão de Cocais, como ponto central do “Entre Serras”, é uma síntese dos seus diversos modos de vida e das marcas do tempo no lugar. Se observarmos bem esses diferentes lados do prisma, encontraremos saberes e pistas que ainda podem ser acessados, para orientação e deleite de todos, guardados em algum canto ou gaveta aqui e acolá.
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Cemitério dos ingleses Foto: Acervo Secretaria de Turismo de Barão de Cocais
Ruínas do Gongo Soco Foto: Acervo Secretaria de Turismo Barão de Cocais
veios importantes para extração aurífera. Esses veios, mais tarde, seriam os mais importantes das Minas Gerais, junto aos de Mariana e Ouro Preto. Foi em Barão de Cocais que aconteceu o momento ímpar de grande destaque da produção aurífera do estado: a Mina do Gongo Soco. O nome Gongo Soco, na versão de Agripa de Vasconcelos, em seu livro de mesmo nome, se refere a um escravo vindo do Congo, na África, que ficava sempre acocorado em um mesmo lugar, onde teria sido encontrado o veio de ouro que daria início à mina de ouro mais famosa da região. Esse nome seria uma alusão à posição de cócoras como ato de “chocar”, atribuída a esse escravo. Do nome “Congo Choco” até o nome da mina, Gongo Soco, o “mineirês” pode explicar bem o caminho seguido pelas palavras.
Um bairro chamado de “macacos” foi o núcleo principal de Morro Grande, nome de Barão de Cocais antes que José Feliciano Pinto Coelho, morador do distrito de Cocais, fosse chamado de “Barão de Cocais” e mudasse com sua história o nome da cidade. Quando a notícia do ouro abundante se espalhou no arraial do Morro Grande, como era de costume, logo foi erguida uma igreja. "Em 1764, teve início a construção da atual Igreja Matriz São João Batista do Morro Grande, primeiro projeto arquitetônico de Aleijadinho, que esculpiu a imagem de São João Batista na porta de entrada e projetou o conjunto da tarja do arco-cruzeiro no interior da igreja. Foram gastos 21 anos para a conclusão da Matriz, que foi inaugurada em 1785. O alvará régio de 1752 e a Lei nº 2 de 14 de setembro de 1891 criaram o distrito com a denominação de São João do Morro Grande.
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Pedra Pintada Foto: Acervo Secretaria de Turismo de Barão de Cocais
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ILA COLONIAL DE COCAIS
Com a implantação da Usina Morro Grande, o lugar toma impulso. Em 1938, o nome do distrito foi reduzido para Morro Grande. Através do Decreto-lei estadual nº 1.058 de 31 de dezembro de 1943, é emancipado o distrito de Morro Grande, que se separa de Santa Bárbara, passando a chamar-se Barão de Cocais, em homenagem ao Barão José Feliciano Pinto Coelho da Cunha, que nasceu e viveu na antiga Vila Colonial de Cocais, atual distrito de Barão de Cocais." 1 Dessa época do ouro, um lugar em Barão de Cocais guarda memórias e hábitos que nos contam esta fase da história da cidade.
"Aproximando-se daquele paredão maciço, aparentemente de granito de imensa altura e em sentido vertical, damos de encontro com penhascos gigantescos, sobrepostos uns sobre os outros. Grutas e areias alvíssimas sobre o solo. Em algumas pedras e lajes ao redor, podemos encontrar pegadas humanas ou de símios, de enormes felinos bem como de outros animais. Estes “fenômenos misteriosos” são explicados pelos cientistas como rastros feitos sobre bases de argila, que continham carbonatos de cálcio, convertendo-se assim em uma espécie de cimento. Nas imediações podem ser encontradas caprichosas formações rochosas que nos deixam encantados. Em toda área do terreno em que vivemos nossa infância, a serra vista mais de longe, aquela que terminava em uma curva funda, como uma cambota, da qual ganha o nome: serra da Cambota, vista do Cabaçaco." (FONSECA, 2011, p. 13).
1. PREFEITURA DE BARÃO DE COCAIS. História. Disponível em: https://www.baraodecocais.mg.gov.br/. Acesso em: nov. 2020.
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Aos pés da Serra da Cambota, ao lado de um sítio arqueológico de grande significado para a humanidade, o Sítio Arqueológico da Pedra Pintada, datado de mais de 6.000 anos, quando pessoas em busca de alimentos na época da coleta alimentar nômade tinham neste lugar um ponto de passagem, está o território que no século XVIII passou a abrigar a Vila Colonial de Cocais. Fundada em 26 de julho de 1703, a Vila Colonial de Cocais possui 317 anos, tendo existido mesmo antes da fundação da Província de Minas Gerais. O local foi fundado pelos irmãos portugueses e bandeirantes Antônio e João Furtado Leite, que se instalaram lá e ergueram uma capela. Além da produção mineral, o lugar teve em sua história uma das mais significativas produções agrícolas em roças, quintais, fazendas e sítios do território do “Entre Serras - da Piedade ao Caraça” durante o período colonial da primeira mineração aurífera.
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A Vila Colonial de Cocais, conhecida no território simplesmente como Cocais, teve uma importante participação na formação do território do “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, principalmente por sua localização geográfica central ao território, o que a torna um sítio histórico na ligação dos caminhos da Estrada Real com as cidades do “Entre Serras”, possível motivo para que esta Vila tenha construído um vínculo significativo com as cidades do entorno. Na época do ciclo do ouro, Cocais tinha um trânsito intenso de tropas a partir dos caminhos de Caeté (Caminho do Sabarabuçu), de Ouro Preto e Mariana (caminhos velho e novo da Estrada Real) ou para Diamantina (pelo Caminho dos Diamantes), este último passando pelo Caraça, que era nesta época uma hospedaria, chamada como costume de “hospício” – que nada tinha a ver com doença mental, mas sim com hospitalidade –, “Hospício Nossa Senhora Mãe dos Homens”. Não só
por esses fatores Cocais marcou o território, mas também pela lendária figura do Barão de Cocais, José Feliciano Pinto Coelho, que ali nasceu e viveu do ano de 1792 a 1869. José Feliciano fazia parte do Exército Imperial, com a patente de tenente-coronel. Era primo do primeiro marido da Marquesa de Santos. Em 1842, participou do movimento da independência e depois elegeu-se deputado geral do império. Era homem de personalidade forte, que nunca perdeu uma batalha, tendo participado de várias. Estava entre os homens de alta confiança do imperador e, por isto mesmo, resolveu atender a seu pedido de pacificação e decide, como governador da província, não enfrentar o exército de Duque de Caxias na Batalha de Santa Luzia, embora tenha tido por este motivo seus direitos políticos cassados. Nessa época, o Duque de Caxias o visitou em Cocais. Mesmo depois disso, ele retornou à política, após o cumprimento da penalidade. Em 1883, fundou a Cia. de Mineração Brasileira da Serra de Cocais, em associação com os ingleses da National Mining Company. Por muitos anos após sua morte os herdeiros do Barão de Cocais procuraram por uma suposta fortuna resultante dessa associação do Barão com os ingleses que supostamente estaria em um banco em Londres, herança que nunca foi encontrada. O que restou dessa associação foi a mais próspera cidadela da época, uma vila inglesa, com hospital, cemitério dos ingleses, escola e outros luxos impensados para o lugar, naquela época. E parte desse lugar é hoje tombada pelo IPHAN. A imagem que se faz do distrito da Vila Colonial de Cocais, atualmente, não se refere mais unicamente à memória desses acontecimentos do passado, ao poderio das suas minas de ouro, muito menos à imagem de fidalgo de grande poder e riqueza do Barão de Cocais. Hoje a
Vila Colonial de Cocais representa uma perspectiva bem diferente, muito mais feminina e voltada para o turismo e a natureza. Quando ressalto o feminino, digo que certamente esta presença tenha existido desde a época do ouro e do Barão, mas com menos evidência. Mesmo assim, foi ela que persistiu, no tempo, como “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, e hoje tornou-se muito importante para Cocais. Os tempos mudam, esta é a melhor explicação para que se entenda também esta mudança da força feminina, adquirida, neste caso, sem intenções diretamente feministas, mas de forma natural por seu valor e sua capacidade de gerar renda, autoestima e reverenciar a memória e o modo de vida local. Falo da produção de quitandas que, hoje, faz com que, em alguns dias do ano, Cocais se transforme na “Terra da Quitanda”, título simbólico do lugar, por sua exímia produção de quitandas, que rende ao distrito uma divertida e saborosa festa, com a presença de todos os tipos de qui-
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tandas mineiras das mais tradicionais, feitas principalmente pelas mulheres do lugar – diga-se de passagem, de todas as idades.
lheres só conseguiam chegar à mesa e à sala de debates masculinos por meio de suas quitandas e, agora, são elas, as mulheres, a levarem o território para todo canto, por meio de suas quitandas. O fato é que o hábito local da produção Com elas, conquistam uma forma de sobreviver das quitandas na sexta-feira para atender às com dignidade e levam o território junto. Entre visitas do fim de semana na então movimen- significados antagônicos de uma mesma histótada Vila de Cocais, além de garantir o pão ria, têm um papel singular os quitutes da Minas e os biscoitos de toda a semana, bem guar- colonial ao apresentar as mulheres da casa por dados nas latas como tesouros do gosto do meio da qualidade de suas prendas domésticas, lugar, fez com que a Vila de Cocais tornasse pequenos passos iniciais de um longo caminho, esta produção um ponto de destaque. até os próprios quitutes, hoje, serem o motor para gerar independência a estas mulheres. Por meio da Vila de Cocais, a Goiabada Cascão foi tombada como patrimônio imaterial do Falando em mulheres, foi na Vila Colonial Município de Barão de Cocais. Hoje, o trabalho de Cocais, quando esta ainda pertencia a Sandas mulheres na produção das quitandas é um ta Bárbara, que nasceu a mulher que criaria a diferencial importante na geração de renda no primeira escola particular rural de todo o terdistrito e no orgulho do território. É uma manei- ritório, uma escola primária mista, grande inora de reconhecer que em tempos remotos as mu- vação para a época: a escola de D. Maria José
Festa da Quitanda - Cocais
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Foto: André Mendes Barra - Acervo Emater Barão de Cocais
Goiabada Foto: Joice Marques
da Fonseca, chamada de D. Marica. A escola ficava em um distrito de Santa Bárbara na época, hoje cidade de Bom Jesus do Amparo, para onde ela se mudara após se casar. Essa escola reunia muitos meninos e meninas de Cocais e de outras vilas e cidades do “Entre Serras”. Foi essa mesma mulher que deixou para seus familiares um documento histórico, seu título de eleitor, datado da primeira eleição quando as mulheres puderam votar no Brasil, no ano de 1933, quando ela tinha 56 anos de idade. Mais uma vez, mostra-se o silencioso pioneirismo feminino reinante nessas paragens em tempos ainda bem remotos. Esse pioneirismo feminino histórico do distrito de Cocais se estendeu para toda a cidade, não só pela produção das quitandas, mas hoje também está representado por um grupo de mulheres empreendedoras dos mais variados ramos de negócios. Esse
grupo se chama “Empreendendo de Salto Alto” e tem uma atuação reconhecida na cidade, no fomento de negócios e na prestação de serviços. Outro diferencial do lugar é que hoje ele é o local que mais guarda a memória portuguesa em toda a região do “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”. Isso tem um porquê. Esse porquê está guardado na tradicional forma de vida do lugar, de sua importância do passado, ao hábito de receber muita gente, que chegava por tantos caminhos que passavam por ali. Esses fatos ajudaram a perpetuar, pela transmissão familiar, os modos dos primeiros habitantes do lugar – os portugueses, e mais tarde os ingleses. Em seus primeiros tempos, Barão de Cocais era basicamente formada por minas de ouro e fazendas de portugueses, aqueles dos primeiros núcleos familiares que inaugura-
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ram o território durante e após a primeira fase de ocupação, a dos garimpeiros, bandeirantes e aventureiros. "É deveras curiosa a singularidade daquelas paragens. Senão vejamos: esta localidade que pertencia na época ao município de Santa Bárbara, ao se virar o alto da montanha em questão, já é divisa do município de Caeté; também a Serra divide as bacias do Rio Doce com a do Rio São Francisco. Ainda unem as arquidioceses de Mariana com a de Belo Horizonte. Os terrenos das fazendas Nogueira e Egas também se dividem ali com a Fazenda do Caraça, vulgo Caracinha (Fazenda do Engenho), para não confundir com o Velho Caraça, que também faz parte da mesma cordilheira. Pode-se imaginar que, não tendo esquecido a pátria distante, as cidades, os acidentes geográficos, histórias e acontecimentos encontraram por aqui alguma coisa semelhante com o modo de vida lá deixado, seus gostos e comidas...tais como os nomes
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Goiabada da Cida Foto: Joice Marques
das fazendas como a do Egas, ou das Serras como a do Cabaçaco, por encontrar semelhanças com a pitoresca mata portuguesa do Buçaco, assim teriam denominado serra da mata do Açá-buçaco, que depois de dezenas de anos ou no linguajar do povo passou a ser Cabuçaco, e mais tarde ainda em Cabaçaco." (FONSECA, 2011, p. 14.) Esse DNA português da Vila de Cocais está presente principalmente na comida do lugar: pastéis, empadas, canudos, broas, pães de ló, rocamboles, biscoitos e roscas dos mais diversos tipos, feitos das mais diversas farinhas e féculas, mostram esta forte herança colonial. Essa herança se multiplica pela diversidade de farinhas (batata doce, inhame, farinhas de milho de todas as formas – pubadas, torradas e piladas) encontradas na região para que se fizesse render a farinha de trigo, muito rara na época. São produtos que resultaram na riqueza
cultural local sintetizada na Festa da Quitanda de Barão de Cocais. Em Cocais, as quitandas e os doces têm nome, sobrenome e endereço: a Goiabada da Cida, o biscoito de polvilho com açafrão da Jucinéia, o canudinho de doce de leite da Mirtes, o bolo pubado da Mércia, o pastel da D. Regina, a Rosca da Rainha de D. Gorete e por aí vai... Há uma infinidade de nomes que não são mais só nomes, são pessoas que orgulhosamente ostentam um sabor como sobrenome ou prenome. Não poderíamos aqui deixar de registrar, para que se conheça o que era fazer uma quitanda no século XVIII, uma receita de época guardada na biblioteca Antonio Torres, na cidade de Diamantina, cidade com a qual a Vila de Cocais teve ligação direta pelo caminho dos Diamantes da Estrada Real. Essa receita nos dá pistas do que as quitandas podiam ser no imaginário dessa época. As farinhas usadas eram as mesmas farinhas “pubadas” encontradas ainda em uso na Vila Colonial de Cocais. Nessa receita é ensinado um modo dito pela autora como simples de “pubar” a farinha de milho e que hoje em dia não seria tão simples assim. A receita apresenta, além dessa, outras técnicas também não tão práticas de serem executadas hoje, mas que, para a autora, pareciam ser bem fáceis. Essa receita pode ser considerada uma receita bem recente, se olharmos pela lente dos 317 anos da Vila de Cocais comparados a uma receita que tem “apenas” quase 100 anos. Em todo caso, fica aqui o desafio para quitandeiras de hoje em dia, em Cocais, ou para quem quiser se arriscar a produzir a receita, uma prova de que a cozinha mineira não se fez pelo ingrediente ou por determinado período no tempo, a cozinha mineira foi construída pela técnica primorosa dos preparos à moda de Minas Gerais.
uma moradora de Diamantina que estava em Londres e assina a carta (com a receita) com o nome de M. Guaraná. O envio foi feito a seu compadre, Sr. Antonio Torres, que hoje tem em Diamantina uma biblioteca com seu nome, e que solicitou a receita, provavelmente também por carta, à autora, desejoso de provar a quitanda dos tempos de outrora. A receita descreve a técnica da “pubagem” da farinha de milho, quando a deixam fermentar por três ou mais dias. Ao ser assado o bolo, a farinha do milho desenvolve, com o calor do forno, gases advindos da fermentação que fazem com que o bolo cresça, mesmo sem uso de fermento químico, inexistente na época. O texto nos mostra, além do domínio usual dessa técnica, outras técnicas como aquela de fazer a extração da gordura do coco. A receita traz também algumas curiosidades como o uso bem reduzido da farinha de trigo, o que, de certa forma, é de se esperar, por não haver produção de trigo no estado. A surpresa fica para a quantidade de açúcar, 50g, em um período de fartura deste ingrediente. Em outras receitas da mesma época, em Minas Gerais, é descrito um uso médio, bem maior, de açúcar nos bolos. Por esse exemplo, podemos ver as técnicas apuradas necessárias à produção das quitandas, sentir o cuidado feminino com os detalhes no preparo da receita, além de perceber o que as quitandas representavam no modo de vida da Vila Colonial de Cocais. Vamos então ao bolo de nome Manué! Qualquer semelhança desse nome com a origem portuguesa não é mera coincidência!
A receita é do ano de 1933 e foi enviada por
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Manué (Londres, 1933) Meu caro compadre Torres, .... Isto posto, passo a dar a receita que pedistes e as regras a seguir na confecção do Manué. Antes de tudo, devo esclarecer que esse quitute admirável é feito com milho maduro ralado, como não podemos aqui dispor deste ingrediente indispensável, valemo-nos do fubá de milho seco. Vamos à receita: ½ kg de fubá de milho bem fino, o mais fino que se encontrar. (Põe o fubá de molho dentro d’água por 3 ou mais dias). Não mudar a água, depois do terceiro, quarto ou quinto dia, então se escorre a água, de leve, para não jogar fora o amido. Põe-se a segunda nova água e mexe-se bem, deixando depois assentar. De novo escorre-se a água, devagarinho como na primeira vez. Repetese essa operação pela terceira vez. Obtém-se por esse processo um fubá quase pubo, que muito se assemelha ao milho maduro ralado com que as excelentes matronas de nossa terra elaboram o famoso Manué. Ornado com este ingrediente primordial, vamos tratar dos outros condimentos. b) Um coco ralado em ralo fino. Espremese o leite com água quente, passa-se a água duas ou três vezes de sorte a extrair-lhe todo o suco. A água misturada com o suco do coco deixa-se repousar perfeitamente, numa geladeira. Dentro de algumas horas o leite de coco formará uma camada sólida em cima da vasilha. Joga-se então fora a água toda que estará depositada embaixo e põe-se a manteiga do leite de coco toda dentro do fubá.
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c) Passa-se no ralo de metal 2 espigas de milho verde, espreme-se o caldo e joga-se fora a palha, o creme obtido junta-se ao fubá. d) 250g de manteiga salgada e) 3 gemas de ovo f) 50g de farinha de trigo g) 50g de açúcar Os ingredientes todos de A a G, são reunidos em uma vasilha e mexidos. Quando tudo estiver formando uma pasta uniforme, bem misturada, põe-se na forma de flandres ou semelhante de antemão besuntada com manteiga. Leva-se ao forno quente. A forma não deve estar muito cheia. Apenas até um pouco mais de meia. Depois de assar por trinta minutos estando o Manué dourado, tira-se do forno e deixa-se esfriar para servir. Comese é melhor no dia seguinte. De preferência com uma chávena de café, relembrando uma paisagem, um crepúsculo atrás das nossas alterosas serras, uma cena fugitiva da mocidade, uma palestra com um amigo. Aqui fica, compadre querido, a tua receita. Mande dizer algo sobre os resultados. M. Guaraná
Também em Cocais as quitandas contam histórias, sentimentos e falam das pessoas do lugar, mantêm vivas as memórias dos cocaienses. Essa ligação com suas memórias nos dá a impressão de que a Vila Colonial de Cocais se porta como a irmã mais velha no “Entre Serras”, por sua personalidade altiva, experiente, simples e receptiva, ao mesmo tempo. Talvez
porque preservar esse modo de vida particular, coroado de vivências e experiências passadas de geração em geração, sobre como enfrentar os desafios trazidos pelo tempo, quem sabe, com um bom café com uma quitanda saída do forno, tenha sido eficaz nesse aspecto. Acho isso bem mineiro e, como tal, essa forma alimentar distinta e bem cuidada faz Cocais ser um dos lugares mais “mineiros” do “Entre Serras”. Em outros locais se pode encontrar algo semelhante, mas não com uma memória tão resguardada e viva em sua essência, como na Vila Colonial de Cocais. Podemos considerar o capricho como um ingrediente importante das quitandas e isto as mulheres mineiras têm de sobra, seja nas panelas de alumínio que brilham na prateleira ou nos panos bordados e bem branquinhos. Esse capricho é parte visível na “quitandaria” mineira. Quitanda! Nome de origem africana que, em Minas, significa um arsenal de receitas e técnicas de preparo de tudo que é produto
para uso no lanche, na hora do café e até em sobremesas. Só não se chama de quitanda em Minas aquele alimento que sai do fogão para as refeições de almoço e jantar. Outra característica das quitandas é poderem ser conservadas por alguns dias, depois de preparadas, guardadas em latas, sacos de pano ou em armários tipo guarda-comidas, fato que possibilitava o seu preparo por cada casa. Podemos inferir que foi por esse motivo que as padarias em Minas Gerais só chegaram a partir da segunda metade do século XIX, época da chegada da mecanização. Antes disso não teriam clientes, com certeza. Os doces de leite e as goiabadas também são produtos ligados às quitandas. Com eles se fazem roscas, canudinhos, biscoitos recheados, dentre outros. É a cozinha mineira de fusão, em que a doçaria também se fez com as técnicas da doçaria portuguesa que foi fundida à diversidade de frutas e às receitas locais. A Goiabada Cascão é um dos resultados dessas
Quitandas da Jucineia Foto: Joice Marques
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fusões, sendo hoje o ouro vermelho da Vila de Cocais, patrimônio imaterial do lugar. É possível vê-la no tacho de cobre e ver a destreza das doceiras do lugar em mexer sem parar a goiabada, que pipoca, quente, por todo lado. O cheiro do doce e sua cor, que vai apurando a cada mexida, nos convida a ficar ali de pé, vendo a cena toda e esperando até a hora da “rapa do tacho”. Esse sim, o momento mais esperado, uma tradição familiar, um momento de festa e de encontro em volta do tacho, ou melhor, lá, é “da tacha”, uma peça maior e mais rasa, apropriada para dar o ponto certo da goiabada. É a espera da hora em que a tacha acabar de “parir” a goiabada, um momento em que não se vê sequer uma cara triste! Outros fragmentos e usos de formas alimentares bem característicos dessa herança portuguesa também são sentidos no uso do porco, do leitão assado, de linguiças, de miúdos suínos defumados – estes últimos, que são produtos raros de encontrar hoje até nas terras de além mar, na Vila Colonial de Cocais se pode ter por encomenda e garanto que vale a pena experimentar –, tudo combinado com uma grande variedade de feijão, verduras e milho, fechando o gosto do lugar.
sas para secar farinha... tinha o grande cocho para o polvilho. A tenda para as rapaduras... havia ainda os aparelhos para a ralação de mandioca... Aproximadamente a uns cinquenta metros dali ficava o moinho d’água de onde vinham o fubá e a canjiquinha. Os produtos de milho eram os mais preciosos da época." (FONSECA, 2011, p. 48). Parte desses produtos era para o consumo da família, o excedente virava a renda familiar e, na maioria das vezes, era esta a única renda da família, principalmente depois do fim do período do ouro. "A pequena produção de cereais na lavoura e a fabricação artesanal de queijo, rapadura, farinha de mandioca, polvilho, couros e outros em menor escala eram em média, aproximadamente 50 por cento para o consumo e a outra para a venda." (FONSECA, 2011, p. 32).
Assim é Cocais, uma Vila Colonial do século XVIII, com registros pré-históricos, que passou pelo melhor momento do ciclo do ouro e escolheu preservar um modo de vida para com ele proporcionar ao visitante conhecer como era a vida nos séculos passados, a simplicidade, a tranquilidade e a hospitalidade generosa de sua gente, que hoje é um cartão de visitas de Barão de Cocais. Na cidade é possível experimentar as quitandas, a goiabada e ouEssa intimidade da Vila de Cocais com o alitras delícias, como o queijo Minas Artesanal, mento vem de longe; relatos sobre sua produção e se encontram outros produtos mais atuais, de queijos, farinhas, doces e porcos sempre fizecomo aqueles produzidos pela fábrica de laticíram parte dos registros sobre a Vila de Cocais. nios de Cocais, que atende à região com quei"Ao lado passava tranquilamente um córre- jos frescos, iogurtes e outros derivados do leite. go que em suas curvas guardava um viveiro de peixes. Ao se penetrar no curral... ficava Penso em uma coisa cada vez que me lemo paiol para armazenamento dos cereais. Na bro de Cocais: se todos nós conseguíssemos mesma linha no canto estavam um portão usar nossos saberes para um resultado mais e um chiqueiro... para o outro lado estava a horta com seus canteiros e o pomar. Para o coletivo e colocássemos nisto nossa vibração outro lado havia o galpão, com a fornalha e nosso empenho, estaríamos séculos à frenpara os tachos de cobre e seus cozimentos, te. Falo isso para testemunhar e reconhecer o forno a lenha para os assados e duas pren- maravilhoso trabalho de três pessoas para que
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a Vila Colonial de Cocais tivesse anualmente seus dias de ser a “Terra da Quitanda”, no “Entre Serras”. Não falo aqui das tantas quitandeiras de valor sem igual, de sua força e seu trabalho, que são inegáveis e maravilhosos, ou de tantas outras pessoas que as apoiaram, pois todas são imprescindíveis e estão de parabéns pelo resultado. Falo daqueles que se doaram à causa, suaram a camisa, riram e choraram a cada vitória ou obstáculo. São eles: Marília Ângelo, Rejane Mendes e Wemerson Barra, com seus trabalhos anônimos cheio de dedicação, empenho e vibração, que no dia a dia sonharam junto com as quitandeiras com uma Terra de Quitandas. Os territórios a cada época criam seus personagens, aquelas pessoas que viram mitos, que todos querem conhecer. Em Cocais, na Pousada das Cores, o Everton Lúcio de Paula é um deles, altivo, elegante. O “alquimista”, como é chamado, desenvolve sabores únicos em combinações só dele, feitas diretamente para seus hóspedes. São vinagres de frutas, os mais diversos legumes e temperos feitos em conservas ou em pós variados, são geleias, sorvetes, pimentas, bolos salgados, queijos e muitos outros... Não se intimide em experimentar! O gosto é à moda do Everton, sempre maravilhoso. A Pousada das Cores possui a mesma personalidade diversa do dono, diferenciada em suas obras autorais, e por si só já é uma atração. Isso sem falar no próprio Ever-
ton, já que uma conversa com ele são minutos de grande valor. Além dela, outras pousadas existentes na Vila dão ao lugar a uma estrutura confortável de visitação e hospedagem. Um passeio pela Vila de Cocais e pelos arredores de Barão de Cocais pode proporcionar, além de tudo que já foi dito, boas trilhas para caminhadas e trekking, uma história viva, um conjunto arquitetônico adorável e muitas belezas naturais, como um ponto importantíssimo de se visitar que é a sua cachoeira, aonde se pode chegar por trilha. Essa cachoeira possui dez quedas d'água que descem de um paredão de pedras com mais de 30 metros de altura, proporcionando um espetáculo deslumbrante. Em outra parte, as pedras formam a linda visão de um leão deitado. As trilhas do local oferecem boas opções de passeios, cicloturismo, ecoturismo ou o turismo de aventura, este último com destaque de etapas mundiais nos campeonatos de slackline, uma travessia aérea entre serras, realizada com uso de equipamentos especiais, que possibilita que o esportista passe de um cume a outro na Serra da Cambota – um espetáculo de tirar o fôlego. Para os mais tradicionais, há ainda a opção dos roteiros de turismo rural, com cafés, quitandas e muita prosa.
Slackline Foto: Emerson
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Slack Escalada - Pedra da Tartaruga, Serra de Cambotas Foto: Rafael Augusto Gomes.
Cachoeira da Cambota e Cachoeira de Cocais Foto: Acervo Secretaria de Turismo Barão de Cocais
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ATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO E FESTAS TÍPICAS DE BARÃO DE COCAIS
É nesta festa que acontece no mês de junho sobre a devoção a Santa e também faz referência à cultura portuguesa no município, o pastel é prato principal desta festa." III
O patrimônio arquitetônico da cidade de Barão de Cocais representa uma riqueza cultural única para o munícipio. Um exemplo é o casario de construções do Barroco em estilos diversos, como é o caso da igreja de Nossa Senhora do Rosário, na Vila Colonial de Cocais.
O Sobrado do Cartório e o Sítio Arqueológico da Pedra Pintada são outros bens tombados no distrito da Vila de Cocais. Já na sede do município, várias construções coloniais compõem o conjunto arquitetônico. A começar pela Matriz, o Santuário de São João Batista, que é "A edificação atual é resultado de uma reedi- tombado pelo IPHAN. ficação de meados do século XIX, quando a O Santuário de São João Batista, em Barão igreja passa a ser Matriz do povoado. Trata-se de uma imponente construção cujos de Cocais, completa, junto com os santuários traços mais marcantes são a influência pelo da Serra da Piedade e do Caraça, os três sangosto popular, principalmente na profusão de tuários dessa região, que é uma das regiões de cores vivas nos elementos internos da igreja, na talha do altar e na pintura do forro da maior destaque no turismo religioso no estacapela-mor, onde se vê representada a coroa- do, e também é ligada à rota do Caminho Relição de Nossa Senhora do Rosário; e o uso de gioso da Estrada CRER, que liga o território à soluções arquitetônicas e de elementos orna- Basílica de Aparecida, em São Paulo. Obras de mentais com características do barroco e do neoclássico, predominando o último estilo, no “Aleijadinho” podem ser vistas desde a entrada da igreja: Largo do Rosário, em Cocais." II
Existe, no distrito de Cocais, a Igreja de Santana, onde no mês de julho acontece a festa de Santana, na qual costumam acontecer apresentações de grupos folclóricos, sobre a cultura portuguesa. O pastel é o prato principal dessa festa. "A capela de Santana foi edificada no século XVIII, tendo pertencido à família Feliciano Pinto Coelho - o Barão de Cocais. Em 1830, a edificação sofreu uma série de reformas que promoveram grandes alterações no exterior da igreja. A fachada, em corpo único, apresenta cornija interrompida por um frontão curvo lembrando a Capela de São José de Ouro Preto. Internamente destaca-se a riqueza da talha dos três altares: Nossa Senhora das Dores, Santo Antônio e o Altar-mor, todos contemporâneos, em talha em torcidos, com ornamentação em conchas, destacando-se serafins bojudos, situada no Largo de Santana, distrito de Cocais-Barão de Cocais.
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"O arquiteto Lúcio Costa identificou a caligrafia de Antônio Francisco Lisboa no desenho do frontispício, do arco-cruzeiro e na ousadia inovadora de dispor as torres diagonalmente em relação ao corpo da igreja. O Aleijadinho também participou como escultor, primeiramente na imagem de São João Batista, de pedra-sabão, colocada no nicho da fachada principal e, depois, no interior da igreja, na tarja do arco-cruzeiro, também entalhada na mesma pedra. A Matriz possui altares folheados a ouro, e a pintura do teto é atribuída ao mestre Ataíde." (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL - IPHAN). IV Em frente ao santuário acontece a festa do seu padroeiro, São João Batista, e é uma das mais marcantes de Barão de Cocais, com celebrações religiosas, procissões e manifestações culturais muito ricas. Quem abrilhanta
II - PORTAL IPHAN. Igreja Nossa Senhora do Rosário(Barão de Cocais.MG). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br. Acesso em 27nov. 2021. III - PORTAL IPHAN. Capela de Santana (Barão de Cocais, MG). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br. Acesso em: 27 nov. 2021. IV - DESCUBRA MINAS. Santuário de São João Batista (Barão de Cocais). Disponível em: http://www.descubraminas.com.br. Acesso em: nov. 2020.
Igreja de Santana
igreja de Nossa Senhora do Rosário
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Festa de São João no Santuário Foto: Emerson
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Sontuario São João Batista
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Festa de São João no Santuário Foto: Emerson
esta que é a maior festa pública de Barão de Cocais é a Banda Santa Cecília, registrada como patrimônio cultural da cidade. A banda é um grupo artístico de grande relevância no “Entre Serras”, sendo presença marcante nos eventos das cidades do território. Dessa banda partiram outros grupos artísticos como o Coral dos Querubins de Barão de Cocais. O território, além de vários grupos musicais modernos, possui outra raridade nesta área: uma Orquestra de Violas, única no mundo em que os instrumentistas produzem os próprios instrumentos. Essa orquestra é um projeto social que visa a oportunizar a música como forma de desenvolvimento humano e social, uma iniciativa louvável do município.
beiros Voluntários” de Barão de Cocais que vive de doações e tem grande importância para todo o “Entre Serras”.
Como outras cidades do ciclo do ouro, a cultura musical de Barão de Cocais é muito forte, é um legado continuado a partir do período aurífero. As orquestras barrocas, ligadas às igrejas da época, fortalecidas pela musicalidade dos africanos sofreram também uma fusão com os ritos tradicionais medievais trazidos a Minas pela herança portuguesa. D. João VI, grande incentivador das artes no Brasil, trouxe de Portugal uma banda para o Rio de Janeiro, que foi modelo para as Bandas Militares. Daí para as Bandas Civis foi um pulo e, do desejo, abriu-se espaço para a musicalidade do Falando de iniciativa de apoio à sociedade, povo brasileiro. Pelo caminho novo da Estrada abro aqui um parêntese para citar outra, esta Real, a região mineradora recebia influência fora da música, mas da mesma forma maravi- direta da Corte do Rio de Janeiro. No ano de lhosa, existente na cidade: o grupo de “Bom- 1905 é criada por Antonio Maria Teles, vigá-
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rio de Barão de Cocais, a Banda Santa Cecília, praticamente junto com a sede da cidade, e a fundação, em 1926, da Cia. Brasileira de Usina Metalúrgica, fomenta, a partir de sua criação, a cidade que cresce ao seu redor. A música, como forma de transmissão cultural, é um dos agentes mais eficazes, tornando-se muitas vezes de transmissão familiar, com importância e beleza únicas, dando sentido à vida da cidade. Quem já viu e/ou ouviu uma banda passar tem seu toque genuíno de alegria guardado no coração pelo resto da vida. Quem nunca viu/ouviu uma banda passar, nas palavras de Chico Buarque de Holanda, em sua música A Banda, poderá saber o que ela significa:
A minha gente sofrida Despediu-se da dor Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor O homem sério que contava dinheiro parou O faroleiro que contava vantagem parou A namorada que contava as estrelas Parou para ver, ouvir e dar passagem A moça triste que vivia calada sorriu A rosa triste que vivia fechada se abriu E a meninada toda se assanhou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor Estava à toa na vida O meu amor me chamou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor A minha gente sofrida Despediu-se da dor Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou A moça feia debruçou na janela Pensando que a banda tocava pra ela A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu A lua cheia que vivia escondida surgiu Minha cidade toda se enfeitou Pra ver a banda passar cantando coisas de amor (Trecho da música A Banda, de Chico Buarque de Holanda)
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O largo da Igreja do Santuário São João Batista é o palco da festa de mesmo nome, em Barão de Cocais. Não conheço expressão maior da palavra “Festa” que não sejam as festas do interior de Minas. Isso sim é uma verdadeira “festa”, com convite para todos do lugar, sem exceção, do morador de rua aos mais ricos da cidade, com comida até o fim da noite e muita alegria para todos. É um momento que revive lembranças, em que nascem amores e acontece uma profusão de reencontros: uma FESTA!
pio são a sede da Casa do Artesão, a casa onde está instalada a atual Secretaria de Cultura e Turismo, o prédio do antigo Cine Rex, a Igreja de São Gonçalo do Tambor, a Capela de São Benedito, a casa da Fazenda Soledade, além do Cruzeiro das Almas.
No distrito de Socorro, a Igreja Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro e a imagem de mesmo nome também são bens sob tombamento do IPHAN. Essa imagem de Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro é a única A festa de São João Batista em Barão de Co- existente fora de Portugal no mundo. A festa cais acontece mais ou menos assim (digo “mais de Nossa Senhora Mãe do Socorro tem nas ou menos” porque coisas assim não se descre- procissões e coroações das crianças a Nossa vem, se vivem): começa com a cidade lotada Senhora seu ponto de destaque e fé. desde o dia anterior. No próprio dia, seu iníJá no vibrante centro comercial de Barão cio é com a Alvorada, quando a Banda Santa Cecília toca pelas ruas ao nascer do dia, para de Cocais, festividades como a Festa do Pé de anunciar a festa; logo depois, há a chegada da Pomba trazem as comidas de rua, as porções cavalgada, que vem de todos os lados, vem dos dos bares, animação e muita música, conforme distritos da cidade e de outras cidades do en- o gosto do lugar. A época do carnaval é outro torno até a Praça da Matriz, trazendo o povo momento que atrai muitos visitantes, os foliões para a festa. É chegada a hora dos leilões. É se divertem à noite na folia, outros preferem as bicho de todo jeito, galinhas, patos, bezerros, caminhadas e os banhos nas cachoeiras. Barão alguns são prontos para servir e valem mais de Cocais tem atrativos para todo gosto. de acordo com o nome do cozinheiro, o que é uma estratégia para ajudar a custear a festa ou uma desculpa para uma diversão animada de disputa por lances que se torna muito divertida. Na hora do almoço, as barraquinhas de comida de rua dão conta do recado direitinho, com tropeiro, galinhadas, pastéis e bolinhos de todo tipo. À noite, a festa continua, com a procissão do padroeiro e novamente a Banda Santa Cecília dá o tom para o levantamento do mastro. Depois, vem a dança da festa junina, acompanhada com quentão, vinho quente, milho, pipoca, canjica e pé de moleque. Voltando ao patrimônio material, outros componentes do acervo histórico no municí-
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Com seus cenários, sua história única, além desse centro vibrante da cidade, Barão de Cocais se mostra como palco de muitos atrativos. No dia a dia, também, a cidade tem um comércio ativo e possui feiras locais nas quais a agricultura agroecológica ganha cada vez mais adeptos no território, deixando cada vez mais pistas sobre o que poderá ser um bom futuro para os habitantes de Barão de Cocais – se assim o quiserem.
Coretos em frente ao Santuário Sobrado do Cartório
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1 - Queijo Caraça - Santa Bárbara
2 - Queijo Guedes - Santa Bárbara
Queijo Minas Artesanal do Entre Serras Fotos: 1- Tiago Parreiras • 2- Maurício Guedes • 3- Delmar Macedo
3 - Queijo Fazenda Rancho Novo - Caeté
O QUEIJO E O TREM
fluxo de veículos. Outra solução de acesso é a BR-129, que liga Ouro Preto à cidade de Catas Em termos de importância, o título deste Altas, esta mais usada para o turismo. tema também poderia ser o “O trem e o queiMais uma alternativa ao turismo do territójo”, no entanto, o queijo veio primeiro, por isso abre o título. O gado chegou ao território ainda rio foi implementada no ano de 1907, quando o no século XVII. O trem de ferro chegou mais trem de passageiros da Vale entrou em circutarde ao “Entre Serras”, no século XIX, mas se lação. O trem de passageiros liga as cidades de tornou lendário no estado, trazendo consigo Belo Horizonte e Vitória, passando pelo “Entre uma revolução no ritmo do progresso de Minas Serras”. A cidade de Barão de Cocais, no “EnGerais. O trem de ferro, como era chamado, li- tre Serras”, possui um ponto de parada que fica gava o território ao porto de Vitória e ao Rio na estação Dois Irmãos. A viagem, a partir de de Janeiro. Nesse primeiro período do trem de Belo Horizonte, permeia um trajeto bem aproferro, o “Entre Serras” experimentou seus anos priado ao turismo, atravessando vales, rios e dourados do progresso e do desenvolvimento outras paisagens interessantes que vão surcomercial dos gêneros mais diversos, até que gindo pelo caminho. A estrutura de serviços houve a desativação de várias linhas do trans- do trem conta com restaurante e lanchonete a bordo, além de duas categorias para a viagem: porte ferroviário no estado. a executiva e a econômica, ambas com wi-fi. A BR-381, a rodovia mais importante de li- Já existem pacotes de turismo sendo comergação do território a esses lugares, hoje é um cializados para visita turística ao território, dificultador ao transporte local, devido a seu usando o trem. Nesses pacotes, vários roteiros traçado perigoso e seu trânsito lento, muitas já vêm sendo comercializados pelas agências vezes dificultando e até inviabilizando o seu de viagem e podem ser acessados usando o uso para o turismo nos dias mais pesados de trem, como é o caso das visitas às queijarias do
Trem de passageiros da Vale - região de Caeté
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“Entre Serras”. Com apenas um dia de viagem se consegue conhecer uma queijaria na Vila Colonial de Cocais, almoçar no Caraça, conhecer outra queijaria de Santa Bárbara ou tomar um café nesta cidade em uma cafeteria em seu centro histórico, onde funcionava uma Casa de Câmara e Cadeia no século XIX e retornar, ao fim da tarde, para Belo Horizonte. Em um roteiro de fim de semana, é possível acrescentar a esse roteiro as cidades de Catas Atas, Caeté e até a Serra da Piedade. Um turismo que alia o trem e o queijo é exclusividade do “Entre Serras”! É de grande interesse e significado na representação do modo de vida de Minas Gerais, porque liga dois ativos culturais do estado, o queijo e o trem, uma experiência verdadeiramente mineira, possível no “Entre Serras”. No sentido inverso, todos os dias, às 7h, um trem parte de Cariacica, na Região Metropo-
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Estação Dois Irmãos - Barão de Cocais
litana de Vitória, Espírito Santo, e chega à estação de Dois Irmãos, em Barão de Cocais, em torno das 18h. Esse é um circuito para passar um fim de semana no “Entre Serras”. O fomento do turismo no território tem presença atuante do Circuito do Ouro, na promoção e na divulgação das ações de desenvolvimento ligadas a esse setor. Gostaria de aqui esclarecer um pouco mais sobre a visita a uma das queijarias de Barão de Cocais, mais precisamente na Vila Colonial de Cocais, onde fica a queijaria do Sr. Geraldo Quirino da Fonseca e de D. Regina. Pela manhã, ao sair do trem, esse é o primeiro destino do roteiro para tomar um café com as quitandas da D. Regina e conhecer a queijaria do casal. É um programa que, além do queijo sensacional, torna-se único pela alegria e pelo dinamismo da D. Regina!
UM LUGAR ESPECIAL: IGREJA NOSSA SENHORA MÃE AUGUSTA DO SOCORRO No distrito de Socorro, em Barão de Cocais, se encontra um lugar muito especial do “Entre Serras”: a Igreja Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro. Podemos dizer isso por vários motivos. Em primeiro lugar, é a igreja que marca o início da cidade de Barão de Cocais, quando ainda era São João do Presídio de Morro Grande. Ela está situada bem perto de onde estava uma das primeiras minas do território e uma das mais ricas de todo o período do ouro, a mina do Gongo Soco. Fundada em 1737, desde o ano de 2006 é patrimônio municipal. Essa igreja é também uma das mais antigas do território. Sua longa vivência junto aos habitantes de Barão de Cocais fez dela um ponto de aproximação entre as pessoas desta comunidade e seus visitantes, um marco para o encontro anual daqueles que lá viviam ou que queriam um motivo para voltar à terra natal. É o que acontecia nos dias da festa de Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro, um dia festivo em que os que estavam fora podiam trazer seus amigos de longe para confraternizar com os amigos da terra, e aqueles que ficavam podiam rever os parentes e toda gente que vinha para participar da festa: bandeirinhas, cavalhadas, cantoria, boa prosa e boa comida. Quantas histórias e lembranças de tantas gerações guardam a memória da festa de Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro. A Igrejinha do Socorro, como é chamada, é um orgulho para toda a região, tricentenária e uma raridade: ela guarda a única imagem dessa santa fora de Portugal. Também é a única que dá a Nossa Senhora do Socorro o título de “Augusta”, o que, como a própria palavra, expressa o reconhecimento pelo povo que primeiro habitou este território, que reconheceu a relevância desta santa e a consagrou com o título de venerável e sagrada: “Augusta”. É um
pedacinho da terra de além-mar que tanto significado tinha para os portugueses pioneiros que a trouxeram a esse lugar e souberam passar a seus descendentes esse apreço pela Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro. Um ponto alto dessa celebração é a coroação da Nossa Senhora feita pelas meninas do lugar, homenagem singela que sempre é finalizada com cartuchos de amendoins confeitados de açúcar branco, que tradicionalmente simbolizam as lágrimas de alegria da santa em ver tão lindas meninas cantando em sua homenagem, em um ritual que é repetido anualmente. É de suma importância o apreço dos habitantes de Barão de Cocais pela Virgem Augusta do Socorro, e a igrejinha que a acolhe, tal qual é própria a importância da vida e da saúde das pessoas do Distrito de Socorro. Um modo de vida que precisa ser urgentemente preservado e refeito de forma a levar aos habitantes de Socorro a normalidade de suas vidas e a alegria de viver que essa igrejinha soube tão bem valorizar durante mais de três séculos, enchendo de fé, alegria e comemoração este lugar e sua gente.
Foto:Acervo Prefeitura Barão de Cocais
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Capela Nossa Senohora do Rosário
O maior patrimônio da humanidade são as pessoas! São elas que têm em suas mãos o destino de toda a Terra, o destino da natureza, do patrimônio material e imaterial, construídos por incontáveis anos passados neste mundo como ação humana ou mesmo muito antes disto. As pessoas são chamadas a ser guardiãs dessas heranças e precisam ser preparadas para tal. Por isso há que se cuidar primeiro delas, das pessoas.
dos diamantes. Esse, o comércio mais importante do local, aquele que a ligava ao Caminho dos Diamantes e à rota do Caminho Novo da Estrada Real, que levava à corte portuguesa do Rio de Janeiro, estava estagnado. Foi nesse momento que a educação deu a Santa Bárbara a pista da importância que teria para o território. O fato em questão foi o início do funcionamento do Seminário do Caraça, no ano de 1820, quando a antes hospedagem (Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens - 1774) criada Uma ação é essencial para proteger essa ver- estrategicamente como pouso do movimentadade e, a partir dela, construir harmonia entre do Caminho do Ouro e dos Diamantes, naqueo homem, a natureza e seus bens: a educação! le momento, também se encontrava no mesmo É a partir deste ponto que gostaria de começar abandono e em busca de novos propósitos, a falar da cidade de Santa Bárbara. por desejo de seu fundador, Irmão Lourenço. Pela interferência do Imperador D. João VI, o A necessidade da educação se tornou cres- Caraça se refaz com sentido diferente da casa cente principalmente após o fim abrupto do de pouso anterior: um seminário, para ser um ciclo do ouro de aluvião, que atingiu de forma pouco mais tarde um dos mais significativos avassaladora a economia na cidade durante o colégios do Brasil, por um longo período. E período colonial, quando ela se tornou teste- Santa Bárbara, como cidade berço do Caraça, munha direta do que a educação pode restau- assume para si uma missão educacional de rerar e construir. Além disso, a origem educa- ferência no território. cional desse território pode ser traduzida pela "Da imponente Serra do Caraça, luzes do SAnecessidade de uma estrutura educacional que BER iluminam toda a nossa cidade. A educaatendesse a uma região com a maior concenção é sentida como fonte inesgotável do aperfeitração populacional do século XVIII no Brasil: çoamento humano." (FERREIRA, 2015, p. 12). a província do Rio das Velhas, nome da região durante o ciclo do ouro. Inicialmente, teve início na cidade um mo-
delo educacional nos moldes da educação euA fama de Santa Bárbara como cidade de ropeia da época. destaque na educação vem de longe. Houve um acontecimento que influenciou diretamen"Naquela época, nos primórdios de Santa Bárbara tudo era muito difícil e penoso. [...] Sendo te para que esse conceito se desenvolvesse na assim, as famílias que aqui se formavam e que cidade. No início do século XIX, havia acabatinham um poder aquisitivo mais favorável do o primeiro ciclo aurífero e Santa Bárbara traziam as pessoas letradas, de fora, com o obse encontrava esvaziada. Nas palavras de Aujetivo de ministrar conhecimento a seus filhos, guste de Saint-Hilaire (1816), era como uma ciou seja, ENSINAR. A ESCOLA era mais DOMICILIAR." (FERREIRA, 2015, p. 9) dade-fantasma, nesse momento sem o trânsito das tropas para comércio de gêneros e víveres necessários às pessoas que viviam do ouro e
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A cidade de Santa Bárbara, com o passar dos anos, continuou a implementar a herança educacional recebida do Caraça. Sua proximidade com Mariana, cidade central desse período em Minas Gerais, e suas relações comerciais e religiosas com esta cidade fizeram crescer ainda mais sua forma educacional, quando Santa Bárbara recebeu as suas primeiras escolas, que eram escolas paroquiais.
Ferreira junto ao poder público da cidade e do Estado de Minas Gerais. A cidade sempre foi um celeiro de mestres excepcionais e, para representá-los e homenageá-los, cito a Professora Maria Eunice Alves Martins Poley (in memória). Sua atuação na educação resume tudo que de melhor um mestre pode fazer por meio da educação à vida de cada pessoa que passa por seu caminho.
Muitas foram as dificuldades enfrentadas O reflexo desses capítulos na história de para dar continuidade à proposta educacional na cidade, principalmente para que atingisse Santa Bárbara, hoje, se faz presente além, nas escolas particulares e nas escolas públicas da as pessoas de forma democrática: cidade, que seguem por esse mesmo viés de "O caderno não era para todos, coisa de luxo... qualidade e prioridade. O pioneirismo da eduveja só. Escrevia-se ainda em folhas de papel cação do Caraça ofereceu à cidade de Santa manilha, adquiridas no comércio e amarradas que nem blocos; até mesmo nas folhas largas Bárbara mais este importante legado: a consdas bananeiras. Quanta dificuldade enfrenta- ciência sobre a importância da educação como da, mas quanta alegria em ensinar e aprender... direito de todos, principalmente a educação de Todos eram felizes na sua simplicidade costu- base. Hoje, na cidade e nos distritos se pode meira e gostavam de demonstrar suas capacinotar, por meio de uma simples visita, qual ludades intelectuais nos encontros que faziam: Clubes de Leitura, Teatros, Saraus, e muitas gar a educação de base possui na cidade. Uma outras atividades promocionais. O grande en- escolha sábia, em que a boa formação inicial trosamento das pessoas era, então, altamente desperta o desejo e abre caminho para outras reforçado." (FERREIRA, 2015, p. 11) formações mais específicas – por isso, a educação de base se faz mais importante que o títuFoi no século XX, em 1917, quando Santa lo. O título faz parte de um momento em que Bárbara vivia um momento econômico muito o indivíduo pode contar com sua autonomia favorável, que a educação se modernizou e se formada pela base recebida, se ela tiver sido de tornou marca da cidade, com a criação daquequalidade, diga-se de passagem. la que foi a primeira Escola Pública do Estado de Minas Gerais: a Escola Municipal “Afonso Pena”. Outras escolas importantes, como o Colégio Salesiano do Patronato e a Escola Dom Bosco, também se tornaram referências na região, fazendo da cidade a primeira de Minas Gerais a ter o ensino ginasial, que estendia o ensino nas escolas estaduais às séries do 4° ao 8° ano, uma ação coordenada pela Professora e Diretora Escolar D. Maria Auxiliadora Novais
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A cidade passou por várias fases em sua história econômica, para que chegasse à maturidade neste processo de autoconhecimento e desenvolvimento da consciência sobre quais seriam os verdadeiros patrimônios de seus habitantes. Essas fases tiveram início ainda no século XVIII, sendo a primeira delas a do ouro:
e Santa Bárbara porque era a santa comemorada no dia 04 de dezembro. Uma capela logo é erguida." 1 A capela que marcou o início da cidade é a Capela de Nosso Senhor do Bonfim. Já a Igreja Matriz de Santo Antonio teve o início de sua construção no ano de 1713 e levou praticamente um século para ficar parcialmente pronta, sendo um monumento que é hoje um dos mais belos e significativos do barroco mineiro. Além da sua exuberante Igreja Matriz, a cidade possui um núcleo histórico urbano riquíssimo, composto por seis áreas de preservação: Centro Histórico, Memorial Affonso Pena, Igreja Nossa Senhora das Mercês, Capela da Arquiconfraria do Cordão de São Francisco, Capela de Nosso Senhor do Bonfim e as Ruínas de Pedra do Hospital Velho.
"O bandeirante paulista Antônio Silva Bueno, explorando as margens do ribeirão existente nas fraldas da Serra do Caraça, encontrou ali ricas minas de ouro. A este ribeirão, ele chamou de Santa Bárbara, pois aqui chegara no dia 4 de dezembro de 1704, dia da Santa deste nome, conforme registro no calendário litúrgico. A riqueza das minas descobertas por Bueno às margens do ribeirão Santa Bárbara, desde os primórdios, desperta a cobiça de outros aventureiros mineradores. A esse legado do patrimônio histórico e reliNa esperança de se enriquecerem, fixaram-se nesta promissora região. Assim, desponta o gioso da época do ouro foram somados outros arraial de Santo Antônio do Ribeirão de San- que não dizem respeito à religiosidade, muitos ta Bárbara. Santo Antônio porque era o santo deles muito bem preservados. padroeiro dos bandeirantes recém-chegados,
1- PREFEITURA DE SANTA BÁRBARA. Disponível em: https://www.santabarbara.mg.gov.br/.
UM POUCO DA HISTÓRIA DE SANTA BÁRBARA
Igreja Matriz de Santo Antônio Foto: Francisco Quites
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Igreja Matriz de Santo Antônio
Memorial Afonso Pena
Para se chegar a este momento foram descobertas formas alternativas de preservação: o uso da criatividade para ressignificar e manter esse patrimônio. RESSIGNIFICAR, preservar para o uso! É por meio da ressignificação de muitos desses espaços históricos, que demandam muito mais investimentos na sua recuperação e na sua manutenção em atividade, que se pode justificar e conseguir que continuem vivos, fazendo parte atuante da vida de novas gerações, estendendo assim o interesse em sua preservação aos mais novos, renovando a história. É dessa forma, com conhecimento e educação patrimonial, que a cidade de Santa Bárbara, hoje, mantém tão bem cuidado seu patrimônio, ressignificando-o, como forma de geração de renda, autoestima e turismo. Na verdade, essa foi uma construção cole-
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tiva da cidade, intensificada a partir do século XX. Muitas famílias, pessoas e órgãos públicos não pouparam esforços para, por meio dessa memória, dar a Santa Bárbara, em todas as suas frentes, não só as citadas aqui, uma condição de modernidade, mas sem esquecer a preservação de seu patrimônio - o que resultou em um ideal de preservação que se encontra vivo na cidade. Hoje, é característica da cidade um processo contínuo dessa ressignificação patrimonial. Como exemplo disso podemos citar a restauração do cemitério da cidade, o primeiro biosseguro no Brasil, ação acontecida na gestão do então prefeito Leris Braga, e a Praça da Estação, que hoje está sendo novamente restaurada. Com as restaurações anteriores, essa praça passou a abrigar vários projetos sociais, artísti-
cos e educacionais, como a Escola de Educação Musical “Estação da Música”, uma renomada escola de música que é orgulho da cidade. Outros edifícios próximos à Igreja Matriz foram reformados com um sentido completamente antagônico ao original, como é o caso da antiga Casa de Câmara e Cadeia, que antes funcionava como presídio e hoje abriga o Museu Antoniano. Além do patrimônio material também o patrimônio imaterial foi fomentado por este processo de ressignificação, a exemplo do Queijo Minas Artesanal – QMA do Território “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, a partir de um projeto que tornou possível que este queijo voltasse a ser ofertado no território, por meio de um processo de resgate iniciado pela parceria entre o Santuário do Caraça e o Senac Minas, com apoio da EMATER e do SEBRAE e a centralização das ações feita pela Prefeitura
de Santa Bárbara, contando ainda com o apoio das demais prefeituras do “Entre Serras”: Barão de Cocais, Catas Altas e Caeté. Com o apoio dessas instituições, os investimentos e a capacitação dos produtores foi possível fazer o resgate e o aprimoramento técnico do QMA do “Entre Serras”. No ano de 2016, três dos produtores de Santa Bárbara, nessa época, a Fazenda do Engenho do Santuário do Caraça, Maurício Guedes e José Célio Santos, apresentaram o referido queijo no Torneio Leiteiro de Santa Bárbara, pela primeira vez, após 150 anos. Nesse evento, os presentes puderam sentir o gosto do Queijo Minas Artesanal do “Entre Serras”, feito de leite cru e curado na tábua de madeira, como antigamente. Esse queijo “retornou à vida” com a promessa de dar a todo o território o título de
Prédio central da Casa de Câmara e Cadeia, ressignificado em Museu Antoniano e queijaria
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nona microrregião produtora do Queijo Minas Artesanal em Minas Gerais, sabor esquecido, mas guardado na memória dos descendentes das famílias produtoras, nos registros de venda de queijos para a cidade de Mariana, existentes nos livros-caixa do antigo atacadista local, a Casa Rocha, nas páginas de relatos do naturalista Auguste de Saint-Hilaire, além de relatos de memorialistas como Juvenal da Fonseca, nascido na Vila de Cocais, que também escreveu sobre este queijo antes extinto. Hoje, várias queijarias como a do Caraça estão em plena produção desse tipo de queijo, produto de grande potencial para a geração de renda e o turismo do território.
Por um esforço coletivo da cidade na preservação de sua história, ela já se tornou reconhecida fora do território. No ano de 2018, durante a pesquisa de demanda turística do Governo do Estado de Minas Gerais, a cidade de Santa Bárbara, junto ao “Entre Serras”, foi citada entre as 50 cidades de maior interesse e visitação turística do estado pelos entrevistados deste trabalho de pesquisa, consolidando outra tendência do território para o turismo.
Um bem preservado não é só um lugar agradável e bonito, ele conta a história da cidade, fala de sua economia e do seu modo de vida, mantém o lugar vivo, vibrante, por sua memória. Nesse sentido, o Conjunto FerroviáNão só o patrimônio arquitetônico dá va- rio de Santa Bárbara representa, além da belor à cidade, a sua rica natureza também está leza da Praça da Estação, outro momento ecopresente. A cidade possui vários bens naturais nômico para a cidade. Nascido após o ciclo do tombados, além de um parque verde central, ouro e o posterior período agrícola, representa pronto a fornecer sombra, descanso e saúde a a terceira fase do desenvolvimento econômico da cidade, que aconteceu no século XX e viria todos os passantes.
Queijo Sítio Santos Foto: José Célio
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trazer Santa Bárbara novamente ao centro das atenções e da economia de um vasto território, intensificando e aproximando a cidade da capital do estado e de outras cidades do centro, do norte e do leste de Minas. Esse período foi marcado pela inauguração da estação de trem (1911) de Santa Bárbara, que era o ponto final de um corredor comercial, o que fez da cidade um porto seco de grandes atacadistas e importadores, a exemplo da Casa Rocha. Nessa época, a cidade se consolida como referência regional, fervilham nela o comércio e a indústria, como a Fábrica de Tecidos. Com a abertura da BR-262 e a transferência do ponto final da estação para a cidade de Nova Era, Santa Bárbara enfrentaria mais um desafio econômico, seu esvaziamento comercial, fenômeno paralelo ao fortalecimento econômico do Vale do Aço e do médio Piracicaba. Nesse período, vários distritos de Santa Bárbara se tornam novas cidades impulsionados pelo novo momento econômico, menos centralizado. Como toda perda tem um ganho, após esse período de paralisação do comércio ferroviário, os empresários Sr. José Silvério dos Santos (José Rupico) e Sr. Jesu Caetano implementaram na cidade, de forma pioneira, uma rede de transporte coletivo que ligou Santa Bárbara a seus distritos e às cidades vizinhas, criando possibilidade comercial às atividades de comércio e serviços no município. Em paralelo, Santa Bárbara se volta ainda mais para suas questões centrais: a educação de base, o comércio local, a agricultura e a pecuária. Na educação, já havia na cidade mais um ícone do território: o Colégio das Irmãs Missionárias Capuchinhas Sagrado Coração de Jesus. Muitas foram as famílias que chegaram à cidade, a partir do século XX, para o estudo dos filhos, tornando a educação mais um agente de desenvolvimento econômico local, neste período.
Nesse século, houve ainda uma mudança importante no território, no que diz respeito à forma da educação no Caraça. No ano de 1968, após um incêndio, o Caraça findou suas atividades como colégio, mas não como espaço de atividade educacional, começando outro processo para o mesmo fim. De certa forma, esse novo processo apresenta um modelo diferenciado de educação que antecipa o século XXI e difunde um conceito educacional hoje presente de forma conceitual, também no modelo da educação de Santa Bárbara. Formalmente, o colégio não mais existe ali, mas o ato de educar persiste de várias formas. O Caraça continua a receber grupos de alunos para visitas de curta temporada. Vindos de várias partes do Brasil, eles deixam o Caraça com muitos aprendizados, como a partir do conhecimento de sua riquíssima biblioteca ou pelos passeios em sua RPPN, que fomenta e transfere conhecimento sobre a preservação de espécies animais, vegetais, das águas e do solo, pela experiência de contemplação proporcionada pelas caminhadas. Além disso, as pesquisas científicas nessas áreas geram publicações feitas por pesquisadores de várias partes do mundo. Essas outras formas de educar são uma constante em todos os seus ambientes, como os momentos em seu restaurantes, que são um exemplo sobre a educação para a convivência, quando de forma coletiva as pessoas preparam seu café da manhã ou dividem a mesa com um desconhecido, quando cada um retira da mesa os utensílios após as refeições, quando o cardápio inclui vários insumos que se encontram no quintal, quando cada refeição se transforma em um delicioso bate-papo. O aprendizado e o aprimoramento do ser humano são uma constante no Caraça, casa de educação, cultura, preservação e oração, nascida em Santa Bárbara!
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Outra fase de desenvolvimento econômico tem início com a retomada da extração do minério de ferro a partir do século XX. Em paralelo, o turismo no Caraça se torna realidade. É nesse período que pela primeira vez, também em Santa Bárbara, a diversificação produtiva e a valorização patrimonial local sugerem que também o turismo poderia ser uma forma de distribuição de renda e manutenção do patrimônio da cidade. Os eventos foram o primeiro passo para atrair visitantes e fomentar a valorização da cultura e do patrimônio material e imaterial, reforçando a necessidade de promover a maior preservação do patrimônio e a criação de formas inovadoras de geração de renda propostas a partir do século XX, tais como a produção do mel em escala, a agrofloresta, a agricultura agroecológica e a produção de alimentos, a criação de rede hoteleira bem estruturada, dentre outras possibilidades ligadas ao comércio e aos serviços.
OUTROS PATRIMÔNIOS DA CIDADE: “Patrimônio é tudo aquilo que criamos, valorizamos e queremos preservar.” (Cecília Londres In: CATÁLOGO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE SANTA BÁRBARA, 2018, p. 8). Em Santa Bárbara, o mesmo entendimento vale para o patrimônio imaterial, com destaque para o teatro religioso, com os Passos da Agonia, um conjunto de apresentações teatrais que transformam a cidade em um palco e mostram aos visitantes o talento na arte em representar existente na cidade. O Teatro Religioso local é uma tradição na qual os atores locais reunidos no Grupo de Teatro Âncora, sob a coordenação do Diretor Ênio Reis, apresentam a Paixão de Cristo. As procissões e celebrações da Semana Santa, aliadas às apresentações teatrais, fazem com que toda a cidade esteja envolvida neste momento de profunda devoção. As músicas, os sinos e as luzes das velas, lentamente, conduzem aqueles que seguem iluminados por elas pelas ruas onde se ouvem apenas os passos contritos e respeitosos dos devotos em relembrar um momento singular da vida dos cristãos: a crucificação de Cristo e sua ressureição. Um espetáculo que jamais sairá da memória de quem um dia o presenciou. As artes e a cultura são ponto forte na cidade. A começar pela Corporação Santo Antônio, a banda de música da cidade, o Grupo de Congo Nossa Senhora do Rosário e os corais. Outras expressões culturais como o Modo de Fazer das Bonecas de Palha e a Cavalhada de Santo Amaro são trabalhados cuidadosamente com um objetivo contemporâneo de cada vez mais serem instrumentos de uso, aprendizado e vivência para as pessoas, da comunidade e do turismo.
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Os Passos da Agonia Patrimônio imaterial de Santa Bárbara Acervo Prefeitura de Santa Bárbara
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Corporação Musical Santo Antônio Foto: Acervo Prefeitura de Santa Bárbara
Além dessas riquezas do patrimônio da cidade, há outros bastante emblemáticos como o instigante “Shopping de Bateias”, uma venda antiga, de propriedade do Sr. Nono, preservada no caminho entre Santa Bárbara e Catas Altas. A venda mantém o conceito das vendas antigas, aquelas com uma variedade impressionante de itens, bem à moda do interior mineiro. Ela é referência de um antigo tipo de comércio que nasceu pelos caminhos das Minas e das Gerais. A venda do Sr. Nono, hoje, é atração para os passantes e os praticantes dos esportes de aventura, que lá sempre encontram o que precisam.
Grupo de Congo Nossa Senhora do Rosário Patrimônio imaterial de Santa Barbara Foto: Acervo Prefeitura de Santa Bárbara
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Outra expressão artística curiosa da cidade é a "aldravia". O nome diz respeito a um modo de escrever poesias, nascido na cidade de Mariana, mas que encontrou em Santa Bárbara muitos adeptos, sendo difundido inclusive nas escolas locais. A "aldravia" se caracteriza por usar palavras soltas para formar, apenas
“Shopping de Bateias” Foto: Fernando Biagioni
o doce de Imbaúba, remanescente de tempos de escassez como aquele do final da produção aurífera, mas que, de certa forma, ainda conta esta história. Nas carnes, de forma especial, Alimento podemos citar a linguiça do açougue do sauDesperta doso Arthur. A cidade conta ainda com um Sentimentos diversificado e tradicional cardápio para as UniVersos festas de casamento, aqueles casamentos camSabores pestres, realizados nos distritos. É curioso obSentidos servar que em cada um dos distritos se pode encontrar um cardápio diferente, usados prinNa gastronomia, Santa Bárbara possui al- cipalmente nas celebrações, nos casamentos e guns produtos diferenciados, além do mel nos batizados, todos de dar água na boca! Nas que é o carro-chefe da economia alimentar frutas, a manga "verde madura”, a manga ubá, do lugar. Podemos começar com a broinha além da jabuticaba, são produtos históricos da com mesmo nome da cidade: broinha Santa cidade. Bárbara, uma tradição local, de sabor muito especial; o bolinho de feijão; o curioso bisNo munícipio é destaque ainda a produção coito do Cubas; os doces de Brumal; o doce de milho, mandioca, café, produtos orgânicos e/ de pau de mamão; a rapadura de abacaxi; ou agroecológicos. Nas bebidas alcoólicas, as cae outro doce muito diferenciado e curioso, chaças, dentre elas, a que leva o nome do Caraça. pelo seu sentido, as poesias. É Claydes Araújo, educadora da cidade, que nos apresenta um exemplo de sua autoria:
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Cachaça do Caraça, produzida em Sumidouro
UM HISTÓRICO E DIVERSIFICADO CALENDÁRIO DE EVENTOS
tros se destinam ao fortalecimento das relações comerciais e de serviços para o fomento da economia. Como pano de fundo, eles são uma maneira agradável e divertida de a cidaOs festivais e eventos são fortes agentes pro- de valorizar e receber seus filhos queridos, que motores do turismo e da hospitalidade. Em dali partiram para outras paragens, mas que Santa Bárbara, essa é uma vertente bastante sentem falta de receber o calor amigo de Santa desenvolvida, importante na geração de renda, Bárbara. Esses eventos se distribuem durante no desenvolvimento e no fortalecimento do tu- todo o ano, e possuem um sentido de subjetivo: preservar na cidade sua origem e a capacidade rismo da cidade. de agregar as cidade de seu entorno. No entanto, em Santa Bárbara, esses evenO ano começa com a festa de réveillon, um tos acontecem de forma particular e a grande maioria deles não foi determinada por pro- show para a abertura do novo ano! jeções planejadas, eles foram surgindo e se A comemoração seguinte é o carnaval, que consolidando durante os mais de 300 anos da cidade. Esses eventos representam também a nos últimos anos foi refeito em sua forma antiga cultura do lugar, além de serem uma forma por um grupo entusiasta desta festa, e que hoje de unidade e aproximação das pessoas; ou- conta novamente com: desfiles de blocos, carros
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Festa de Santo Antônio Patrimônio imaterial de Santa Bárbara Foto: Acervo Prefeitura de Santa Bárbara
alegóricos, bailes de salões. E representa bem um dos espíritos da cidade, a alegria, muito presente nas pessoas. A exemplo dessa alegria, cito uma pessoa em especial: Humberto dos Santos Pena – Betão (in memoriam). Seu jeito alegre e acolhedor ficará marcado na cidade.
Em julho, o Torneio Leiteiro é um dos eventos mais importantes da região do médio Piracicaba. Ele acontece há mais de 40 anos. Nos últimos três anos esse evento também abrigou o concurso do Queijo Minas Artesanal do “Entre Serras”, além de trazer à cidade importantes nomes da música e promover o intercâmbio comercial e Em seguida, é a vez da Semana das Dores e econômico entre os produtores rurais de Santa Semana Santa, com suas celebrações religiosas Bárbara e de outras cidades do entorno. especiais e encenações da Paixão de Cristo. Ainda no primeiro semestre há outra festa, Em junho, a tradicional Festa de Santo An- outra herança europeia antiga, trazida ao tertônio revive as comidas típicas das festas juni- ritório pelos padres da Província Brasileira da nas e suas barraquinhas. É uma festa com jeito Congregação da Missão do Santuário do Cadas quermesses coloniais europeias, um even- raça, em que se celebra a partilha. A Festa da to que reúne muitas pessoas que estão fora da Partilha percorre anualmente de forma altercidade. É provavelmente o evento mais antigo nada os distritos de Santa Bárbara e consiste da cidade! na distribuição de quitutes feitos no distrito festeiro do ano, em comemoração à colheita
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anual. Essa festa representa a tradicional FesPara fechar o ano, a cidade organiza uma ta da Colheita, existente em várias partes do linda iluminação de Natal que valoriza ainda mundo, principalmente no mundo cristão. mais Santa Bárbara e sua arquitetura singular. Como na maioria das cidades de Minas, as daEm 7 de setembro, a cidade e vários de seus tas festivas e celebrações religiosas são anundistritos comemoram a Independência do Brasil! ciadas pelos toques dos sinos das igrejas. Eles são um deleite à parte na cidade! As cavalgadas também estão presentes em Santa Bárbara, inclusive uma inédita no esAinda existe na cidade o calendário esportitado, uma cavalhada feminina acontecida no vo, em que são destaques: o futebol, o trekking, subdistrito de André do Mato Dentro: o ciclismo, com vários eventos esportivos du"A cavalgada de Santa Bárbara, realizada em outubro no Parque de Exposições Adilson Melo, é um evento que tem como objetivo maior promover o congraçamento dos amantes de esportes hípicos e dos criadores de cavalo de todas as raças da região. Durante o dia, acontece a eleição da Rainha da Cavalgada, da melhor Amazona, dos melhores cavaleiros e concursos de marchas. Já à noite, são realizados grandes shows." 2 Em outubro, a Associação Comercial e Industrial de Santa Bárbara (ASSISB) promove a Feira Multissetorial do Médio Piracicaba, uma feira de negócios e empreendedorismo que tem grande alcance de resultados comerciais no território. Em paralelo à Feira Multissetorial, acontece na Praça da Estação a Estação Cultural, um evento com foco em cultura, dança, música e artes.
rante o ano. Muitas opções de banhos em cachoeiras são sempre boas atrações existentes em Santa Bárbara. Esse é um calendário de eventos que foi consolidado ao longo dos anos, ele é uma criação do povo do lugar e representa seus interesses e gostos. Eclético, ele valoriza todos da cidade, garantindo sempre o retorno dos visitantes, ano a ano, a essa cidade que é uma expert em receber seus visitantes e filhos. Há uma fala popular que diz: “Família que comemora unida permanece unida”. Talvez essa seja uma forma de a cidade de Santa Bárbara permanecer unida aos que lá nasceram e às cidades do seu entorno que um dia foram seus distritos e hoje são seus valorosos parceiros comerciais e de convivência.
No dia 4 de dezembro é a vez da festa do aniversário da cidade, que também é comemorado em grande estilo, com shows e atividades comemorativas. "A Prefeitura realiza a Outorga da Medalha do Mérito Affonso Penna. A comenda, em homenagem ao filho ilustre, presidente Affonso Penna, é entregue às personalidades que contribuem com o desenvolvimento do município”, mostrando mais uma vez o cuidado e o reconhecimento da cidade com as pessoas e seus feitos de valor." 3
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2- CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA. Sobre o Município. Disponível em: https://www.santabarbara.cam.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/sobre-o-municipio/6578. Acesso em: dez. 2020. 3- CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA. Sobre o Município. Disponível em: https://www.santabarbara.cam.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/sobre-o-municipio/6578. Acesso em: dez. 2020.
SANTA BÁRBARA E SEUS DISTRITOS BRUMAL "O município de Santa Bárbara foi um dos maiores do estado, na época, possuía 11(onze) distritos: Santa Bárbara, Rio São Francisco, São Gonçalo do Rio Abaixo, São João do Morro Grande, Conceição do Rio Acima, Nossa Senhora dos Cocais, São Miguel do Piracicaba, Catas Altas, Conceição do Mato Dentro, Bom Jesus do Amparo, Socorro e Brumado." 4 Hoje, Santa Bárbara possui quatro distritos: Florália, Barra Feliz, Brumal e Conceição do Rio Acima. Cada um deles tem personalidade distinta e um ponto em comum, uma educação de base diferenciada nos moldes da sede da cidade. Diversos subdistritos compõem seu entorno: Sumidouro, Santana do Morro, Galego, Vigário da Vara, Cruz dos Peixotos, André do Mato Dentro, Barro Branco, Cachoeira de Florália, Mutuca e Costa Lacerda.
Brumal é o mais antigo desses distritos, sua fundação remonta ao período aurífero e seu nome se refere a uma condição comum na época, um veio aurífero pouco consistente que transforma o sonho amarelo em brumas, como era dito: “brumado”! O distrito de Brumal possui um organizado processo de valorização de sua cultura e de promoção. Nomes como Dilce Amara Margarida Mendes e Neide Maria da Silva fomentam várias ações para o desenvolvimento sustentável do local. A Associação das Tecelãs de Brumal reúne mulheres que tecem em tear e usam o bordado com os temas culturais do lugar. Elas reforçam o time do artesanato que tem na costura grande destaque. Outro artesanato típico do lugar
Tecelã Maria Geralda tecendo em tear de pente e Liço e pedais. Foto: Dilce Amara
4- CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA. Sobre o Município. Disponível em: https://www.santabarbara.cam.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/sobre-o-municipio/6578. Acesso em: dez. 2020.
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são as bonecas de palha, criadas por meio de processo original desenvolvido por D. Hilda de Jesus da Cunha e aperfeiçoado por sua filha, Maria de Lúcia da Cunha. O distrito de Brumal e os subdistritos do Sumidouro e de Santana do Morro ficam ao sopé do Santuário do Caraça. Essa proximidade com o Caraça lhes deu um legado diferenciado em vários sentidos, como o que diz respeito ao uso das plantas diferenciadas e medicinais, além do desenvolvimento da gastronomia.
lá, uma botica que ajudava na manutenção da saúde local. Nos anos iniciais desse território, esses medicamentos naturais eram os únicos a que essa comunidade tinha acesso. O uso desse conhecimento sobre as plantas ainda é um potencial muito pouco desenvolvido no lugar, seja como farmácia natural ou como seu uso na gastronomia, na produção de chás naturais, sorvetes, doces, sucos e quitandas, além de outros produtos gastronômicos possíveis de serem desenvolvidos por meio deste conhecimento intrínseco ao território.
Com relação ao uso das plantas, os distritos de Brumal e Sumidouro guardam um tesouro. Neles, os saberes das pessoas escravizadas foram mesclados aos saberes dos indígenas locais em tempos remotos e ainda foram fortalecidos pelo uso dessas plantas pelos padres da Congregação da Missão no Santuário do Caraça, a exemplo do Padre Clóvis, que mantinha,
Em Brumal, desde 1937, acontece uma das festas mais famosas de Santa Bárbara, a Cavalhada de Santo Amaro, trazida a Brumal pelo tropeiro Jorge da Silva Calunga, morador do Morro Vermelho, na cidade de Caeté, que trabalhava no Sumidouro. De lá para cá, a Cavalhada de Santo Amaro se tornou, principalmente pela ação do Sr. Divino, uma bonita
Cavalhada de Brumal
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Patrimônio imaterial de Santa Bárbara Foto: Acervo Prefeitura de Santa Bárbara
Artesanato típico - bonecos de palha Patrimônio imaterial de Santa Bárbara Foto: Acervo Prefeitura de Santa Bárbara
tradição em Brumal e um dos eventos mais es- CONCEIÇÃO DO RIO ACIMA, perados todos os anos em Santa Bárbara. Em FLORÁLIA E BARRA FELIZ Brumal, o Memorial da Cavalhada vale ser conhecido pelos visitantes, além de todo o conO distrito de Conceição do Rio Acima é um junto de bens tombados e/ou registrados como importante remanescente da arquitetura copatrimônio imaterial. lonial santa-barbarense, seu principal monu"Além da Praça, que tem como ponto um cha- mento deste período é a Igreja de Nossa Senhofariz em pedra-sabão datado de 1898, com- ra da Conceição, construída pelo Bandeirante põem o acervo histórico urbano de Brumal o Antonio Bicudo no ano de 1712. Há ainda as cemitério da Igreja de Santo Amaro, o carmisteriosas ruínas do Capivari, sobre as quais tório de Brumal, a Festa de Santo Amaro, a Folia de Reis e o Centro Cultural de Brumal e várias lendas instigantes são contadas. Aliás, o Sítio Arqueológico das Ruínas do Barão de esta é uma característica dos distritos de Santa Catas Altas." (CATÁLOGO DO PATRIMÔ- Bárbara: um sem número de lendas e causos NIO CULTURAL DE SANTA BÁRBARA, sobre o período do ouro, que valem as horas 2018, p. 31). passadas para ouvir sobre elas. Uma sugestão seria incorporá-las aos temas de uso dos grupos locais de teatro, para serem apresentadas aos turistas que passam por lá!
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No “Entre Serras”, não só a Pedra Pintada, em Barão de Cocais, comprova que desde tempos remotos o território é um terreno de ligação do Brasil central a seus pontos mais extremos. Um conjunto natural e arqueológico de grande importância existe também em Santa Bárbara, na Serra do Gandarela, um bem natural tombado pelo município e, situado neste distrito: "É o Conjunto Natural Paisagístico e Paleontológico da Bacia do Gandarela, um corredor ecológico, de inúmeros recursos hídricos, paleontológicos e arqueológicos da Fauna e da Flora, está localizado em uma antiga cava de extração de linhito (carvão fóssil), numa área de três hectares, com acesso principal pela cidade de Rio Acima." (CATÁLOGO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE SANTA BÁRBARA, 2018, p. 52)
A CIDADE DO MEL Santa Bárbara tem na gastronomia um grande expoente que é o Mel! Chamada de “Cidade do Mel”, tem uma produção reconhecida deste alimento e possui, neste sentido, um vasto universo ainda a ser explorado, como eventos, fóruns de conhecimento, formas distintas para o maior uso gastronômico do favo de mel, a exemplo dos meles saborizados, ou de texturas diferenciadas, cremosos, crocantes, dentre outras formas de desenvolvimento de produtos diferenciados com base no mel – podendo haver uma produção diversificada deste produto, dentre outras ações para harmonização com outros produtos locais que fortalecerão na cidade o título de “Cidade do Mel”, um grande valor ao turismo e à economia local. Esse formato econômico cresceu com a atuação direta do empresário Sr. José Renato da Fonseca (Renato Macklani). Essa reconhecida produção de mel na cidade favoreceu para que no Santuário do Caraça acontecesse o resgate de um dos produtos antigos ali produzidos: um fermentado alcoólico que é também o mais antigo fermentado do mundo, o Hidromel, um fermentado à base de mel, hoje com produção regular no Santuário.
Os distritos de Florália e Barra Feliz têm sua economia voltada para a produção agropecuária, com produção de queijos, suinocultura e cachaças, além de serem locais com grande potencial para casa de campo e descanso. Esses distritos guardam muitas formas alimentares arcaicas, que possuem um grande potencial para pesquisa em gastronomia. Em Florália, por exemplo, podemos encontrar um método arcaico de clarificação do açúcar por meio do Mas não só de mel vive a cidade! Dentre ouuso da terra de formigueiro no processo de filtras novidades, além do comércio, no territóriotragem das impurezas do melado de cana. pode-se encontrar uma produção de cachaças e cervejas artesanais de boa qualidade, o que hoje torna-se muito valorizado. Há uma vertente crescente no mundo que defende um consumo diferenciado das bebidas alcoólicas, em que se prefere maior qualidade e menor quantidade, condição necessária na atualidade para a sobrevivência desse produto como produto saudável, com melhor qualidade de ingredientes e processos produtivos que desenvolvam diferencial de sabor. Isso hoje é mais valorizado do que o
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consumo abusivo do produto: um consumo consciente, que prefere a qualidade antes da quantidade, como já acontece em programas educativos na Bélgica, Portugal e no Estados Unidos.
Esse futuro chega grandioso à cidade, uma terra amada por seus filhos, aqueles que nela habitam, lembrada com saudade por aqueles que não mais lá vivem, reconhecida por seus nomes ilustres como o ex-presidente do Brasil Afonso Pena, e Mozart Bicalho, representante Há muito mercado para o desenvolvimento na música, ou lembrada com carinho nos noda economia alimentar na cidade. A alimenta- mes dos seus tantos professores e mestres e ção se torna, hoje, mais um ativo na vida das pes- mestras que mantiveram a educação como um soas, altamente influenciado pelo conhecimen- destaque da cidade, aprimorando, com isto, to, essencial a um conceito e a uma maneira de tantas vidas humanas. viver bem e com saúde. Uma forma alimentar saudável está presente, hoje, como um modelo Santa Bárbara é uma cidade diferente no adequado ao esporte pretendido, na prevenção “Entre Serras”. Não apresenta a pujança pridas doenças físicas, mentais e espirituais. Na mária guardada em Caeté, tampouco se asseeducação infantil ela também é parte indispen- melha à pulsante Barão de Cocais, difere-se sável, além do gosto e da lembrança afetiva que também da natural e graciosa Catas Altas. carrega. A alimentação, cada vez mais, se torna Ela é aquela cidade acolhedora, linda e sábia, um fator educacional e de representatividade onde pulsam a arte e a memória. Uma cidade cultural de grande relevância para a evolução da qual nunca se esquece: uma princesa no humana, em que o passado e o presente se en- “Entre Serras”. contram para a construção do futuro.
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"O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer." (BARROS, 2014, p. 21).
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A visão da Praça Monsenhor Mendes, em Catas Altas, inserida na frente do contraforte da Serra do Caraça, é uma das imagens mais impactantes que já presenciei – não só pela beleza da cena. Muitos outros lugares possuem visões naturais esplêndidas em Minas Gerais, mas essa imagem é o próprio reflexo de algo transcendente ao mineiro, que representa a grandiosidade da natureza de Minas Gerais e suas serras, que fazem fundo para um cotidiano humano, representado pelo conjunto do casario colonial que se contrapõe à serra. Esse conjunto, nesse caso, descortina um momento pleno de grandeza da criação em toda a sua elegante simplicidade: a natureza e o homem, a verdadeira síntese de Minas Gerais. As serras de Minas insistem em fazer parte da cultura e do modo de vida do mineiro ou, visto por outro ângulo, refletem um modo de vida que permanece, mesmo com tantos chamados a mudanças. Vejo claramente essa dualidade das coisas, o quão grandiosa, elegante e impactante é a natureza e o quão valorosa é a simplicidade. Ambas estão lá, nessa cena, estampadas em um cartão postal de valor infinito!
que passou a cidade, que vive mais um destes momentos de redescoberta, ao surgir como o estandarte do turismo na região do “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”. Esse novo momento é intensificado por uma proposta que vem unindo a cidade e gerando, como todo processo conjunto, resultados efetivos neste caminho que, embora difícil, tem nesta unidade sua força e já colhe seus frutos no pretendido turismo de Minas Gerais! É um turismo que nasce com uma missão grandiosa: oferecer a seus usuários um conjunto de entretenimento que abrange o ser humano de forma integral, que reúne a real necessidade de integração do homem com seu território e a vida na natureza, para a qual ele foi criado. É um turismo que valoriza o fortalecimento das capacidades de todo ser humano, em busca de um modo de vida que envolve saúde do corpo, da mente e do espírito, com um conceito que mostra que esta saúde integral precisa levar em conta o território em questão, seus alimentos de origem, suas condições climática, geográfica e de relevo, além do modo de vida, em uma visão completa do ser humano e do espaço que ocupa. É uma proposta que busca valorizar a cultura local, equacionar a manutenção do patrimônio histórico, a sobrevivência econômica das pessoas e sua relação com todos os processos de geração de renda local, sem esquecer que é neste lugar que viverão suas futuras gerações. Nessa equação de difícil solução, a pequena Catas Altas se agiganta a cada dia, em buscas de soluções possíveis nesse sentido, para que o desenvolvimento dessa visão integral do ser humano seja uma realidade fortalecida diariamente.
Não só por essa cena, Catas Altas pode ser considerada uma cidade cenográfica e, como tal, deve ser cuidada. A cidade tem o talento de transmitir por um breve olhar seus mais de 300 anos. É como se estivéssemos dentro de um cenário que servisse para emoldurar histórias passadas por esse vasto período, fato que se pode sentir ao pisar nas pedras de seu centro histórico, ao ver o interior de sua Igreja Matriz, que guarda um tempo em que ficou ali, inacabada, ou ao respirar seu ar puro vindo da Serra do Caraça, como se cada pessoa pudesse, ali, escolher o tempo no qual quer estar. É como se isso fosse possível em Não consigo falar sobre momento algum um fechar e abrir de olhos. de um lugar sem entender, um pouco que seja, seus momentos passados, seus caminhos Nesses seus três séculos, vários e diferen- antigos e sobre em que bases surgiu. Para que tes foram os períodos de redescobertas por fique claro esse pioneirismo de Catas Altas no
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turismo do “Entre Serras” nos dias de hoje, é preciso entender que ele não nasce só de sua privilegiada condição natural ou pela vontade de um grupo de empresários atuantes na cidade, mas este resultado é devido a múltiplos fatores, todos importantes e complementares. Para entendê-los e fazer disto mais um motor propulsor dos objetivos que se pretendem alcançar, alguns fatos precisam ser aqui recontados. Então vamos a eles! "Situada aos pés da Serra do Caraça e resguardados pelo contraforte da Serra do Espinhaço, a formação do povoado que deu origem ao atual município começou a ocorrer no final do século XVII, por volta de 1694, com a descoberta de ricas minas auríferas mais tarde denominadas de Catas Altas. Atribui-se a Domingos Borges a fundação do arraial em 1703." 1
principalmente em países como Portugal, Inglaterra e Alemanha, de onde recebeu imigrantes e técnicos em mineração durante os diversos períodos desta extração, o que gerou, juntamente com os africanos e os nativos brasileiros, a base racial da população local. "A história de Catas Altas, assim como de diversas cidades mineiras, está relacionada com o ciclo da mineração no século XVIII. O nome “Catas Altas” provém das profundas escavações que se faziam no alto dos morros. A palavra “catas” significa garimpo, escavação mais ou menos profunda, conforme a natureza do terreno para a mineração. No povoado, as catas, os garimpos, as minas mais ricas e produtivas, estavam situadas nas partes mais altas, no alto da serra e, por isso, a atual cidade ficou conhecida como Catas Altas. [...]" 2
Além da abundância de ouro do período, A mais nova cidade do “Entre Serras” é uma figura se destacou de forma lendária em também a mais antiga delas: sua formação tem Catas Altas e tornou o território ainda mais origem datada em 1703. Não há relatos sobre conhecido. Seu nome? João Batista Ferreira de por que os Bandeirantes resolveram começar, Souza, o Barão de Catas Altas. no exato lugar da atual sede de Catas Altas, a "Conhecido pela sua excentricidade, João formação de um arraial, mas fico imaginando Batista Ferreira de Souza Coutinho herdou de seu sogro as minas de Congo Soco que, como teria sido a visão deles ao se depararem aparentemente, quase nada valiam. A partir com a cena do contraforte da serra vista em desse momento, teve início o ciclo de suas exsua natureza virgem da época, admirada taltravagâncias. vez de um ponto elevado no local onde está João Batista foi nomeado Barão de Catas hoje a Praça Monsenhor Mendes. Deve ter sido Altas por D. Pedro I, quando este esteve em algo esplendoroso para eles! Pode ter sido este terras mineiras pela última vez." 3 o seu desejo: deixar para a posteridade essa viA visita de D. Pedro I ao Barão de Catas Alsão que hoje é o cartão postal da cidade, porque nesse mesmo lugar onde está a matriz de tas, em 1831, fez parte de um momento históriNossa Senhora da Conceição, de frente para a co de suma importância para o país. O objetivo serra, uma pequena igreja pontuava o início do era angariar apoio dos mineradores auríferos arraial, nascido para ser visto e admirado por à sua causa ligada às questões que estavam todos. Além da beleza cênica do lugar, a cidade ameaçando o Imperador. No entanto sua viateve, ainda, uma intensa história ligada ao ci- gem não teve o resultado pretendido nas Miclo aurífero, com uma quantidade descomunal nas Gerais. Ao contrário, no seu retorno, os de ouro encontrada em seu território, fato que resultados dessa viagem culminaram em uma a tornou destaque no mundo naquela época, revolta no Rio de Janeiro, entre absolutistas e
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1- CIRCUITO CULTURAL VIEIRA SERVAS. Município: Catas Altas. Disponível em: https://www.ufmg.br/vieiraservas/municipio/ catas-altas/. Acesso em: dez. 2020. 2- BIBLIOTECA IBGE. Catálogo: Catas Altas. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=3302&view= detalhes. Acesso em: dez. 2020. 3 - DESCUBRAMINAS. Barão de Catas Altas. Disponível em: http://descubraminas.com.br/Turismo/DestinoPagina.aspx?cod_desti no=3&cod_pgi=2748. Acesso em: dez. 2020.
liberais, chamada “Noite das Garrafadas”, o que causou sua ida definitiva para Portugal no ano de 1832. Embora D. Pedro I não tenha obtido o sucesso pretendido em sua viagem, a fama do Barão de Catas Altas se espalhou pelo Brasil, devido principalmente a um suntuoso jantar servido ao Imperador e sua comitiva, como citado por Agripa de Vasconcelos [1966] em seu livro Gongo Soco: "João Batista construiu casarões de grande porte em várias localidades de Minas Gerais, como Brumado, Santa Luzia e Sabará. Em Caeté, ergueu uma das maiores mansões de Minas, um verdadeiro palácio, que adquirida pelo Barão de Cocais, outro proprietário do Congo Soco, hoje abriga o Museu Regional de Caeté. Para se diferenciar dos demais milionários da época, mandou fazer sua própria baixela de ouro. Servia almôndegas em pratos maciços que os convidados, ao final da festa, levavam de presente. Ao oferecer canjica, dentro do caldo temperado colocava alguns grãos de milho feitos de ouro. Quando os convidados, ao mastigarem, percebiam de que eram feitos, também podiam ficar com eles." 4 Relatos como esses, que fizeram a fama do Barão de Catas Altas, mostram também o distanciamento existente nesse período da mineração entre a vida de excesso do referido Barão e a vida cotidiana da cidade. As excentricidades do Barão de Catas Altas eram bem diferentes da vida simples do lugar. Interpretando as palavras de Agripa de Vasconcelos, era como se a vida do Barão refletisse uma finesse que nada tinha a ver com a vida dura e rústica da mineração local. Toda a febre do ouro passa, mas infelizmente deixa em seu lugar o vazio da ilusão perdida. No entanto, como todo mal carrega seu bem, nele se encontra aquilo que reforça, engrandece e valoriza o modo de vida tradicional do lugar. Revendo essa história, penso em um pen-
samento do filósofo humanista Kierkegaard (1813-1855), que divide a vida humana em três “estádios”, sim, estádios – lugar onde o jogo da vida acontece. O primeiro deles se refere ao chamado “Estádio Estético”: refletido pela busca do prazer imediato, com maior importância à possibilidade de realização do que à própria realização. O segundo foi chamado de “Estádio Ético”: quando o homem opta pela lei moral, para si mesmo e para os seus. O terceiro estádio é o “Estádio Religioso”, o homem se volta para Deus e toda a criação. Cada homem pode escolher a seu tempo crescer ou não, mudar ou não de um estágio para outro. É a escolha interior que decide em qual “estádio” se quer finalizar o jogo. Com o esgotamento das catas auríferas e das minas de ouro, o arraial ficou praticamente abandonado. As peripécias do Barão de Catas Altas e o período do ouro ficaram no passado, deixando, como em outras cidades, um patrimônio barroco e uma arquitetura de época. No entanto ficaram poucas heranças que sustentassem o fortalecimento da economia geral do lugar. Mais tarde, outro fato antagônico a essa herança do Barão de Catas Altas marcou o recomeço de uma nova mentalidade de retomada da economia e do valor local, que teve início com a chegada do padre português Monsenhor Manuel Mendes Pereira de Vasconcelos, que iniciou uma cultura diferenciada na cidade: o modo de fazer vinho, técnica que os habitantes de Catas Altas abraçaram e que se tornou um legado para várias gerações. Até hoje o legado do Monsenhor é um fator diferencial do turismo da cidade, além de ser uma opção para aumento da renda local e atração gastronômica para o turismo e os restaurantes, pousadas e eventos locais.
4- DESCUBRAMINAS. Barão de Catas Altas. Disponível em: http://descubraminas.com.br/Turismo/DestinoPagina.aspx?cod_desti no=3&cod_pgi=2748. Acesso em: dez. 2020.
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Primórdios da terra Almôndegas mistas de porco e boi acompanhadas de purê de milho de canjica e compota de jabuticaba. Prato típico da região inspirado no Barão de Catas Altas, que servia almôndegas em pratos de ouro maciço e misturava pepitas de ouro na canjica para surpreender seus convidados.
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Foto: Lili Band Fermentado de jabuticaba e o símbolo de Catas Altas, o Lobo Guará, representado na escultura do artista local Tafé. Foto: @lilibandoficial.
"Em 1868, chega em Catas Altas o Monsenhor Manuel Mendes Pereira de Vasconcelos para ser o vigário do arraial. Logo percebe o estado lastimável em que se encontrava o lugar, além do abatimento moral estampado nos rostos dos poucos moradores que ainda não haviam emigrado. O padre nota a ausência de qualquer forma de cultura de subsistência. Monsenhor Mendes acreditava que, para provocar mudanças drásticas, era necessário educar as pessoas, ensinar a cultura de subsistência e desenvolver o conceito da vida em comunidade. Logo pensa ser possível produzir até mesmo o vinho que necessita nas missas ao encontrar, na casa de um amigo, uma muda de videira americana. Monsenhor Mendes ensina ao povo como plantar as videiras, as épocas das podas, das colheitas, como esmagar as uvas, o período de fermentação, o armazenamento adequado para não acontecer nenhuma alteração. E assim, o vigário conseguiu que a produção do vinho de Catas Altas aumentasse cada vez mais, sempre com melhor qualidade. Em 1884, Monsenhor Mendes publica um manuscrito com "as noções úteis ao fabricante de vinho", contendo informações sobre o feitio da bebida, as diferenças dos vários processos empregados, e a prevenção junto ao fabricante contra práticas que podem estragar o vinho. O padre acaba ganhando a mídia nacional e faz Minas Gerais sair do anonimato na produção de vinhos. A produção do vinho colaborou para que a população elevasse sua autoestima. Uns plantavam as videiras, outros fabricavam o vinho, outros comercializavam o produto, numa cadeia em que o dinheiro girava e todos saíam ganhando. O vinho de Jabuticaba em Catas Altas, surgiu quase 80 anos depois do vinho de uva, em 1949 pelo senhor Anastácio de Souza. Antes as jabuticabas eram utilizadas para licor, o que muito se encontrava nas casas tradicionais do arraial." 5
O início da atuação do Monsenhor foi marcado pelo plantio das uvas e pela produção de vinho, embora várias dificuldades técnicas tenham feito com que, após a morte do Monsenhor, o plantio das uvas fosse praticamente extinto. No entanto, como o saber não ocupa lugar, esse saber sobre o modo de fermentar frutas foi a base para consolidar na cidade a produção de um tipo de fermentado de origem da região mineradora de Minas Gerais: o fermentado de jabuticaba, ao qual os apreciadores se referem como um representante do sabor local. Esse fermentado, além do gosto peculiar da jabuticaba, um fruto muito apreciado, em doses moderadas possui uma qualidade única de saúde, dita até superior à do vinho feito de uvas, fato que já era ressaltado pelo próprio Monsenhor Mendes. O fermentado é uma proposta em crescente valor no território, com vários produtores e instituições como SENAC MG, UFV e EMATER atuantes na melhoria deste produto. Hoje já é possível encontrar na cidade durante todo o ano o fermentado, antes produzido apenas em períodos festivos. Já estão sendo feitos os primeiros fermentados sem acréscimo de açúcar, os ditos secos ou os meio doces. Alguns já passam por algum tempo de envelhecimento, além de estarem sendo testadas novas tecnologias e formas de produção, como a nova adega do Santuário do Caraça. Há um processo de aprimoramento orquestrado pelos produtores reunidos na associação APROVART. Essas ações, além da busca pelo registro do nome oficial da bebida, mostram um novo caminho, totalmente condizente com a formação dos diferenciais para o turismo local. Além da melhoria do produto, buscam-se, com atuações diversas, suas melhores características e harmonizações, inserindo no território um incremento do pensamento da Enologia, focado na paciência e no aprimoramento.
5- BIBLIOTECA IBGE. Catálogo: Catas Altas. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=3302&view= detalhes. Acesso em: dez. 2020.
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Bicame de pedras
A atuação de instituições como Embrapa e Epamig ainda se faz necessária para o desenvolvimento da forma de colheita e manejo da jabuticaba, além de intensificar a pesquisa de métodos produtivos e o estudo das melhores características sobre a bebida. É um caminho longo, mas muito promissor. O território já evidencia o produto por meio das harmonizações com a gastronomia local e a bebida e, principalmente, como diferencial e fortalecimento do turismo de eventos, a exemplo da Festa do Vinho, evento consolidado na cidade que acontece há 20 anos. Isso é uma pequena amostra da permanência dos resultados atingidos, quando se pensa de forma coletiva, humana e sustentável, talvez um pequeno exemplo do terceiro estádio de Kierkegaard.
marcas dos vários períodos minerários, muitos destes por meio de seu Patrimônio Material, que conta de forma diferenciada esta história. O Bicame de pedras é um desses patrimônios capazes de evidenciar o gigantismo que representaram para a época as primeiras fases da mineração aurífera em Minas Gerais: "Eleito uma das 21 maravilhas da Estrada Real, foi construído por escravos por volta de 1792 para captar água da Serra do Caraça até a localidade do Brumado, em Santa Bárbara, onde o ouro era extraído e lavado. Ele é formado por uma muralha de pedras secas, com 5,10 metros de altura na sua parte mais alta. Atualmente, restam apenas 200 metros do monumento. Está localizado a 12 km de Catas Altas." 6
O Centro Histórico, típico do período coloCatas Altas é, sem dúvida, uma das cidades do “Entre Serras” onde as fases da mineração nial, também é um testemunho dos tempos da no território são mostradas de forma mais evi- mineração aurífera. Nele estão, além do casario, dente. A cidade carrega em seu patrimônio as a igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição,
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6- TRIPADVISOR. Bicame de Pedras. Catas Altas. Disponível em: https://www.tripadvisor.com.br/Attraction_Review-g3158935-d 9858446-Reviews-Bicame_de_Pedra-Catas_Altas_State_of_Minas_Gerais.html. Acesso em: dez. 2020.
a Capela de Nossa Senhora do Rosário, a Capela de Santa Quitéria ou de Nossa Senhora do Carmo e a Capela do Bonfim. 7 Dentre esses bens, um monumento curioso em Catas Altas é a setecentista Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, um dos mais belos templos de Minas, que instiga o visitante a conhecer como se davam os trabalhos finais de entalhe dos adornos das igrejas. "O que faz desta igreja diferente de todas as demais do mesmo período colonial no estado é o fato de ela estar inacabada. E o por estar tombada pelo IPHAN desde 1937, não pode ser concluída. Assim sendo, pode ser observado em algumas partes, as etapas de construção das talhas dos retábulos: a madeira crua, com fundo branco e dourada ou pintada. O início de sua obra data de 1729, em substituição à antiga e pequena capela existente no local. Em seu interior existe uma profusão de detalhes e possui imagens belíssimas como o Cristo dos Perdões, atri-
buído ao Mestre Aleijadinho e a de São Miguel, atribuída a Francisco Vieira Servas.... As pinturas dos quatro Doutores da Igreja nas laterais do arco-cruzeiro são atribuídas ao Mestre Ataíde. Igreja para se ver e rever devido ao enorme número de informações colocadas em suas paredes e detalhes. A sua fachada é bastante original apresentando as duas torres em formato mourisco." 8 Essa igreja, além de possibilitar ao visitante que aprecie as etapas de construção de seu interior com várias fases diferentes, nos prova quão abrupta pode ter sido a situação do fim das lavras auríferas no período da Minas Colonial. Por esse motivo ela se tornou hoje um agente de grande interesse turístico. É um exemplo que evidencia como os processos extrativistas podem ser rapidamente interrompidos. Esse é um grande desafio que instiga a cidade a equilibrar seu desenvolvimento sustentável com as ações da mineração.
7- Mais informações sobre o Centro Histórico de Catas Altas estão disponíveis em: http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e -acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/details/1/66/bens-tombados-centro-hist%C3%B3rico-de-catas-altas 8 - TRIPADVISOR. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição – Catas Altas. Disponível em: https://www.tripadvisor.com.br/ ShowUserReviews-g3158935-d12080371-r676379726-Igreja_Matriz_de_Nossa_Senhora_da_Conceicao-Catas_Altas_State_of_Mi nas_Gerais.html
Bicame de pedras
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Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
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URISMO E GASTRONOMIA EM CATAS ALTAS
Hoje Catas Altas conta com uma estrutura turística já bastante desenvolvida, com boas pousadas, bares e restaurantes. O turista já reconhece esse potencial e procura a cidade, fato já sentido e relatado pelos meios de hospedagem e pelo receptivo turístico local. O turismo da cidade é bem completo. Além de seu rico acervo patrimonial colonial, possui uma atuação de destaque nos esportes de aventura, como trekking, escaladas, slackline e canionismo. A cidade conta ainda com uma estrutura significativa no que diz respeito à qualidade da gastronomia local, com produção diferenciada de queijos, doces, geleias, conservas, quitandas, vinhos, fermentados e cervejas, um deleite para os turistas e que movimenta uma cadeia de produção local em franco crescimento. Catas Altas possui, ainda, bares e restaurantes bem ambientados para receber os visitantes. Por meio da ASSETUR e do COMTUR, Catas Altas desenvolve vários programas de incentivo ao turismo e à produção local, treinamento e capacitação para o trade turístico da cidade, com o objetivo de sanar as dificuldades e melhorar cada vez mais o atendimento de diversos tipos de turismo, seja nos esportes de serra, que integram o homem com a serra e o ambiente natural, com o objetivo de usufruir dos benefícios oferecidos à saúde física e mental do visitante, além, é claro, dos atrativos visuais imperdíveis. Em Catas Altas, cada vez mais os esportes de serra ganham contornos especiais em busca do título de “a capital do Turismo de Serras no país”. Esse é o caso de um programa diferenciado de guias que tem como objetivo o tema “Caminhar sem
deixar rastros”, uma proposta que é uma prova de como o homem pode usufruir da serra de forma saudável, divertida e sustentável. O plano propõe uma série de medidas que protegem o meio ambiente e sensibilizam os praticantes desses esportes a serem difusores dessa cultura catas-altense de preservação da serra e de seus atrativos naturais. Com esse trabalho, Catas Altas está sendo reconhecida pelos circuitos mundiais de esportes de montanha, atraindo para suas serras a prática regular de vários deles. Catas Altas tem um calendário que propicia ao turista eventos com diferenciados temas, como eventos esportivos, religiosos e aqueles nos quais a gastronomia é pano de fundo. Como exemplos podemos citar o aniversário da cidade, o Carnaval, a Festa do Vinho, o San Patrick’s Day, a Serra do Caraça Bier Fest, dentre outros, em que a diversão é garantida. Há também as feiras locais com calendário fixo, que garantem uma circulação do visitante das cidades do entorno principalmente nos finais de semana, como é o caso da feira Sabores do Morro, que acontece no distrito do Morro da Água Quente. Essa feira já possui uma clientela cativa de seus produtos, que possuem ótima qualidade, e um ambiente agradável de encontro e conversação. O Morro da Água Quente, além de ter a feira Sabores do Morro, é um lugar muito aprazível para visitação, com arquitetura colonial, os muros feitos de canga de minério e um balneário natural, apropriado para um bom banho nas águas do lugar. Muitos desafios estão sendo vencidos em cada uma das etapas do fortalecimento do turismo local para que a cidade, em seu âmbito geral, que envolve comércio, produção alimentar, educação e saúde, se veja como uma cidade verdadeiramente turística. Um caminho e
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um desenvolvimento contínuo são necessários para que Catas Altas assuma todo o seu potencial ligado ao turismo. A Catas Altas de 2021 é uma cidade com pouco mais de 5.000 habitantes, muito procurada para aluguel de casas de temporada, veraneio e fim de semana. Há muitos apaixonados pelo lugar e por seu modo de vida cheio de atenção, cuidado e capricho. Não é à toa que Fernando Sabino a escolheu para lá escrever sua obra prima: O Encontro Marcado. A Rede Globo também filmou na cidade uma minissérie, estreada por Antônio Fagundes, Mariana Ximenes e Débora Falabella, que se chamou: Se eu fechar os meus olhos agora, no ano de 2018. Uma edição do Globo Repórter também foi filmada lá, em 2016, dando ênfase à condição de saudabilidade do fermentado de jabuticaba, entre outras vezes em que cidade foi apresentada pela mídia, em reconhecimento a seus atributos ligados ao turismo.
Sanduiche da feira Sabores do Morro Foto: Samir Haddad
Altas, além de grande parte da RPPN deste mesmo Santuário, que, por sua grande extensão, se estende por várias localidades do seu entorno. O Caraça representa para Catas Altas um grande diferencial inspirador desse turismo que, como o santuário, já nasce forte. O Caraça oferece à cidade uma referência turística nacional e internacional. As ações de apoio desse santuário à cidade são inúmeras. Elas estão ligadas principalmente à atuação No ano de 2018, Fátima Pinto Coelho escre- proativa de seus diretores atuais: Padre Lauro veu sobre Catas Altas. Seu livro foi chamado Palú, Diretor Geral do Santuário do Caraça, e de Catas Altas do Mato Dentro e mostra a cida- Padre Luís Carlos do Vale Fundão, Diretor Adde em poemas, desenhos e fotografias que a ministrativo do Santuário do Caraça, que são sugerem como interessante destino turístico, apoiadores das ações de desenvolvimento do evidenciando os cenários múltiplos que evo- turismo em Catas Altas. ca. Esse livro, da mesma forma, me mostrou Todos esses fatores colaboram para a conum olhar semelhante aos dos Bandeirantes do solidação do destino turístico Catas Altas. A século XVII, algo que a própria visão do lugar cidade reconhece isso, está mobilizada para instiga em quem o vê. este objetivo: a construção de um turismo que A cidade conta, ainda, com vasta tradição sustente seu legado histórico e sua importânmusical com vários talentos nesta área, como a cia para Minas Gerais. E isso, além da integraLili Band, participante de sucesso em uma das lidade humana, representante de um espaço edições do The Voice Brasil, além de muitos nascedouro da cultura mineira, que reconhece o homem como um ser integral, em busca da outros nomes entre músicos locais. harmonia entre seu corpo, sua mente e seu esÉ importante ressaltar que o Santuário do pírito, integrado na melhor forma de convívio Caraça, hoje, está situado na cidade de Catas com o outro, a natureza e Deus.
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Ciclismo no Bicame de Pedra Foto: Fernando Biagioni
Cachoeira da Santa
Canionismo - Cachoeira do Maquiné Imagem: Liga Rapel - escola vertical
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Pe. Lauro Palú, C. M. Congregação da Missão, ex-aluno do Caraça, diretor do Colégio São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, em dois períodos; durante doze anos foi Assistente Geral da Congregação da Missão, em Roma, e diretor do Caraça de 2014 a 2020. Caraça, 15 de novembro de 2020
Santuário do Caraça Foto: Pe. Lauro Palú
O Caraça. Que lugar misterioso é esse, onde o poeta Carlos Drummond de Andrade quis “ficar ali trabalhando em qualquer coisa simples e pacificadora a exemplo daquele misterioso Irmão Lourenço que, século e meio antes, 'desenganado do mundo, buscou o centro da serra e aí fez uma capela'”?
Do Livro de Ouro do Caraça: “Só o Caraça paga toda a viagem a Minas” (Dom Pedro II, em 1881). “Vivi de perto, com a alma transfigurada de emoção, a santa trilogia do Caraça: o Silêncio, a Solidão, a Santidade” (Alceu Amoroso Lima, 12 de setembro de 1938). “O milagre do Caraça! É o mais impressionante recolhimento que a fé em Deus levantou em terras do Brasil. Porque a piedade incomparável do misterioso Irmão Lourenço (que grande culpa, a exigir tamanha expiação, levava ele aos ombros para estas fragas de Minas!) construiu nas ásperas cumeadas do Caraça o asilo mais solitário - e mais poético – deste país. O monte Atlas da religião brasileira. A sua alpestre cela de cenobita. O santuário mais perto do céu e mais longe da terra, donde até parece que a gente apalpa, nas nuvens, a sombra boa e melancólica do ermitão de 1775... Como o admiramos ao monumento nacional que é este raro Colégio de Nossa Senhora Mãe dos Homens do Caraça” (Pedro Calmon, em 17 de agosto de 1934).
Carlos Drummond de Andrade esteve no Caraça, na década de 1930. Deixou registradas suas impressões no artigo “Henriqueta e o Caraça”, sobre o livro Montanha Viva, de Henriqueta LisboaI: “Quando já homem feito visitei o Caraça, tomei boa nota de sua paisagem alpestre, de sua excelente adega provida de vinho da casa e de sua biblioteca veneranda; diverti-me com o futebol dos alunos da Escola Apostólica jogando de sotaina; os padres lazaristas me trataram como hóspede distinto, pois ia como jornalista na comitiva de Gudesteu Pires; por momentos senti desejo de largar tudo na planície e, passando a jornaleiro, ficar ali trabalhando em qualquer coisa simples e pacificadora a exemplo daquele misterioso Irmão Lourenço que, século e meio antes, 'desenganado do mundo, buscou o centro da serra e aí fez uma capela'. Mas os automóveis me esperavam junto às palmeiras do pátio para a volta. O sonho durou pouco; o bastante para expulsar-me do espírito a primitiva idéia do Caraça, baseada num período em que realmente se usou e abusou da palmatória, mas (dizem), foi só um período. Caracenses de alta categoria na política, nas letras e no clero cultivam gratas recordações do velho colégio...”
I - O artigo de Drummond foi reproduzido pelo Pe. José Tobias Zico em Caraça: Ex-Alunos e Visitantes. Belo Horizonte, Editora São Vicente, 1979, p. 246-247.
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gião de lendas, e eletriza até hoje as conversas. Bento Godóis Rodrigues, passando pela bacia do Caraça com seu bando, conseguiu num só dia mais de uma arroba de ouro. Na ambição I desmedida, correu para São Paulo, para comprar a sesmaria. Voltou, mais dono que bandeirante, e jamais encontrou as alavancas com que marcara o lugar privilegiado. Alguém levou as alavancas, o ponto de referência e os sonhos do bandeirante. Bento Rodrigues é hoje Você chega ao Caraça pela BR 381 (262), indo o nome do distrito pertencente a Mariana, de Belo Horizonte ou de Vitória até o trevo de que ficou tragicamente conhecido por causa Barão de Cocais, depois pega a rodovia esta- do rompimento da barragem da Samarco, que dual para Barão de Cocais e o trevo do Caraça. provocou 19 mortes e a devastação de todo um Do Rio, pode ir por Belo Horizonte ou encur- sistema fluvial, chegando os rejeitos minerais tar 70 quilômetros, entrando em Lafaiete para tóxicos até o Oceano Atlântico... Ouro Branco, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas e Santa Bárbara até o trevo para o Caraça. Outra lenda, a do preto velho que foi conAí começa um verdadeiro mergulho no pas- fessar-se e contou que, cada ano, cortava um sado, sentido já nos nomes por onde se passa: pedaço de ouro, suficiente para suas despesas São Bento ou Barra Feliz, Brumal, Sumidouro, e suas necessidades. O padre lhe perguntou se Arranca Toco, Santana do Morro. São 20 qui- não queria ajudar a construir a igreja para os lômetros de colinas, campos, gado, cana e café, peregrinos no Caraça. O preto velho aceitou, e muito coqueiro macaúba, encostas de cerrado foi à frente, mostrando o caminho, no seu pasagressivo, em certos meses coberto de quares- so normal, como quem vai à roça. Atrás dele meiras anãs roxas, e enfim montanhas cada seguia o bando, no passo aflito dos aventureivez mais altas e desafiadoras. ros. O preto velho baqueou e caiu morto, sem nem ter dito a que distância estavam da maravilha, do veio milagroso.
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M NOME NO MAPA
Outra lenda, a do veio de ouro que os operários viram ao dinamitar a pedra sobre que se ergueria em seguida a igreja. Quando se dissipou a fumaça e assentou a poeira da explosão, o veio de ouro brilhava vivo como um fogo. Correram a chamar o padre arquiteto e o padre mandou cimentar aquele lugar e lançar a base da igreja de Deus.
O nome Caraça aparece pela primeira vez num mapa da província de Minas em 1708. Em 1716 se menciona o Arraial do Inficionado no Caraça. O nome do Pico do Inficionado, além de localizar a região em que havia o arraial de mineradores, indica o tipo do ouro que se encontrava na região: ouro inficionado, impuro, Multiplicam-se as lendas e os “causos” alucitalvez de baixa qualidade, mas tão abundante nantes de pedras preciosas e de ouro, com gente que fascinava os bandeirantes, enchendo a reagindo escondido, com traições e mortes. Com-
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preende-se a existência das lendas numa obra tão necessitada, dada a distância de qualquer casa e pela solidão em que viviam os pioneiros, os peregrinos e o construtor, desesperado de medo de não poder terminar sua obra. Nas águas do Tanque Grande há resíduos de mercúrio, não de garimpos clandestinos, praticamente impossíveis, dado que toda por toda a região passam cada dia turistas e pesquisadores. Serão resíduos dos séculos XVIII e XIX. De fato, perto dos Pinheiros, há poços de formas regulares, onde se minerou o ouro e o diamante. Os montes de cascalho indicam que a lavagem do minério era intensa e exaustiva. Passados duzentos, trezentos anos, ainda não nasceu nos poços um único fio de capim. O laterito é completamente estéril. Encontrou-se uma bateia na Bocaina, antigo lugar de mineração.
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M SUMIDOURO
No pé da serra, antes do portão de entrada, há uma vila chamada Sumidouro. Sumidouro pode ser o lugar onde os rios entram por debaixo das lapas de pedras, os funis, para reaparecer adiante, como acontece com o do Caraça, depois dos Tabuões e antes da Cascatona. Sumidouro também é o homizio, o refúgio ou esconderijo de homicidas, aventureiros, trapaceiros e fugitivos da justiça, de que andavam cheias as estradas de Minas pedregosas. O Caraça foi construído entre 1770 e 1774. Não se conhece a identidade do fundador, Irmão Lourenço de Nossa Senhora. Segundo os documentos mais merecedores de fé, seria Carlos Mendonça de Távora, da família que o Marquês de Pombal eliminou depois do
Santuário do Caraça Foto: Pe. Lauro Palú
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atentado contra Dom José I, pelas aventuras do Rei com uma mulher dessa família. Tendo escapado, Carlos Mendonça de Távora foi queimado em efígie, isto é, teve cassados seus direitos e embarcou para o Brasil, escondido num tonel, onde alguém lhe levava comida e água. Esta história, registrada em livros, corre até hoje na região do Gualaxo, distrito de Mariana. Está documentado que o Irmão Lourenço, em Diamantina, foi subcontratador dos diamantes, trabalhando com João Fernandes de Oliveira, marido da Chica da Silva. Tendo cometido algo grave, tentou esconder-se debaixo do burel da ordem terceira franciscana, tendo feito às pressas, de modo irregular, seu “noviciado” e sendo aceito intempestivamente. Depois foi esconder-se como eremita e penitente no Caraça, que, mais uma vez, ficou sendo um sumidouro.
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Santuário do Caraça Foto: Pe. Lauro Palú
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M HOSPÍCIO
Só Deus sabe o que se passa no coração do culpado, que tenta fugir dos que o caçam por todo lado e sobretudo foge do próprio passado. O Irmão Lourenço tentava esconder-se como penitente. Quem o viu, depois de 1770, subindo as serras do Caraça, percorrendo os campos, derrubando matas, ainda na pujança da saúde física, na plenitude das forças, certamente acreditava no que falavam dele. Mas, desde a chegada ao Caraça, estava totalmente desiludido do mundo (passava esta idéia a quem o visse). Era completamente crível que desejava dar-se a Deus e chorar naquelas terras a vida passada e dedicar a existência à penitência e à religião.
O Irmão Lourenço escolheu o lugar para uma ermida e, para receber os peregrinos, construiu um hospício, como se chamavam, naquele tempo, as hospedarias para viajantes. Depois foi preciso aumentar o espaço e as condições de hospedagem, porque a capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens e de São Francisco das Chagas recebia sempre mais romeiros de toda parte. Para chegar ao Caraça, levavam-se dias e não se podia voltar imediatamente. Havia que descansar, por mais que se quisesse fazer penitência de pecados, roubalheiras, assassinatos e traições. Contribuíram para a fama da ermida primeiro a beleza da imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens, vinda de Portugal em 1784, e depois a relíquia insigne do corpo do mártir São Pio, saída de Roma em 1792 e chegada ao Caraça em 1797. Em 1805, a igreja barroca estava ladeada pela metade de cada um dos atuais dois pavilhões da fachada. A Irmandade de Nossa Senhora Mãe dos Homens, de 1791 a 1885, alistou 23.226 pessoas, por toda a província de Minas Gerais. Os esmoleres recolhiam nos lugares modestas contribuições que mantinham o culto e o mínimo de condições para os peregrinos: dormida e comida e o serviço religioso. Documentos dos juízes das comarcas e dos bispos de Mariana contam das romarias em direção à serra do Caraça. Nem sempre se entendiam e se aceitavam a devoção popular e seus excessos, as confissões e suas penitências. O Caraça ficou visado como centro de romarias e de alguma confusão. Mas o Irmão Lourenço de Nossa Senhora não desanimou nem esmoreceu.
A
CASA
A Casa se ergue sobre a pedra viva, como se vê nas Catacumbas, cuja entrada, sob o claustro e a igreja atual, se faz no chão irregular da própria lapa de pedra em que se apóia a construção, sem alicerces. À frente da Casa, há um espaço portentoso, que já foi jardim, hoje é jardim de um lado e estacionamento do outro, uma esplanada criada para apresentar a obra a quem vem de longe, subindo as serras, pela estrada atual, na Boa Vista, ou vinha pelo caminho velho da Cascatona. Avista-se o conjunto, cravado nas montanhas, todo crivado das verticais das palmeiras. Quando, em 1816, Auguste de Saint-Hilaire visitou o Caraça, herborizou nas matas e pradarias, subiu serras e bebeu de suas águas surpreendentes, ele mesmo contou como ia conversar com o Irmão Lourenço, à sombra rara de uma palmeira: “Eu contemplava aquele ancião, encostado na balaustrada do terraço do seu mosteiro. Uma palmeira o cobria de sua sombra. A cabeça estava inclinada sobre o peito, mas os olhos conservavam o fogo que os animava outrora. Um bastão de jacarandá, mais negro que o ébano, ajudava-o a suster o peso do seu corpo. Parecia absorvido em profundas reflexões e, talvez, consigo mesmo, acusasse menos a rapidez do tempo que a inconstância dos homens. O nome do personagem extraordinário que reinou na França tinha chegado até aos ouvidos do Irmão Lourenço que saiu de seu acabrunhamento para nos perguntar o que era feito de Napoleão depois de entregue às mãos dos ingleses. Os benfeitores da humanidade vivem desconhecidos, mas o temor não tem a discrição da gratidão. A fama dos conquistadores chega até aos lugares mais ignorados. É o ruído do trovão que se faz ouvir ao longe e que espalha o terror por toda parte” (Voyage dans l'intérieur du Brésil. Tome premier, p. 218-225).
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Parece que a idéia original não era a de construir ali a Casa. Na trilha dos Pinheiros, se vê, em toda a majestade e imponência, a Caraça, a inimaginável e inesquecível montanha que deu o nome ao lugar, parte mais alta do maciço. Vista dali, é o perfil de um homem deitado: testa, sobrancelhas, nariz, lábios, queixo, pescoço, gogó e o peito imenso, cheio dos ares que respira. Por distraídos pela visão espetacular, pouca gente percebe, do outro lado da trilha, quase ao nível do chão, perdido entre a vegetação baixa e rala, o muro de uns duzentos metros de comprido. Dizem que era uma horta, abandonada pela pobreza das terras, hoje um cerradão, ao lado de manchas de mata ciliar, um pouco abaixo, e dos bosques que vêm da Canjerana, e do bosque do Pe. Leite. São terras pobres, laterita estéril, que dá pouco mais que um capim duro e samambaias ruins de quiçaça. Pobres terras de hoje... mas terras de sonho e pesadelo, pois ali perto se lavou ouro, até à exaustão. Também dizem que esse muro
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era a base da praça que reunia, em seus três lados, um arraial, todo ele aberto para o panorama portentoso da serra. Dizem que ali ia ser construída a casa do Caraça, plano abandonado, sabe-se lá por quê. Quem conhece a serra, já parou diante dela, a respiração suspensa, o coração batendo de emoção, pode imaginar o que seria essa Casa, frente à Caraça.
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M CENTRO DE ROMARIAS
A primitiva capela do Irmão Lourenço aparece num desenho de 1805, num desenho de Martius, de 1818, num desenho de Rugendas, intitulado “Convento de N. Sra. da Conceição na Serra do Caraça, datado de 1824 e publicado no relato da expedição de Langsdorff ao Brasil, 1821-1829, v. I. Aparece depois em foto da paisagem, de 1870, em fotos de alunos na escadaria frente à igrejinha, na década de 1870. Aparece
Santuário do Caraça Foto: Pe. Lauro Palú
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ainda num desenho do Colégio, de 1876. Saint-Hilaire a descreveu assim: “Após uma marcha de duas horas, chegamos a uma espécie de planície, onde está situada a ermida de Nossa Senhora Mãe dos Homens. (...) O viajante é surpreendido pela súbita e imprevista aparição de um edifício tão vasto, a uma tal altitude e tão longe de toda habitação. Quem chega se acha num terraço, diante do qual foi plantada uma fila de palmeiras que entrelaçam sua folhagem elegante. É neste terraço que se eleva a ermida, dividida em duas partes, face a face uma da outra. Uma escada entre os dois edifícios separados conduz a um patamar, no mesmo piso que o primeiro andar e a igreja. Esta, porém, fica num plano menos avançado e forma o que se pode chamar o corpo da casa, cujas alas seriam as duas construções. Toda a fachada do edifício, de uma a outra extremidade das alas, mede aproximada-
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mente 23 passos e cada uma das alas tem no primeiro andar seis janelas, amplamente espaçadas entre si. A escada tem 18 degraus. Depois dos 4 primeiros, há um largo descanso e os 14 seguintes, mais estreitos, são margeados de cada lado por um corrimão de pedra, obra de bastante bom gosto. Em torno do patamar corre uma balaustrada, semelhante à da escada. Há, diante da porta da igreja, uma espécie de pórtico, formado por dois pilares que sustentam a tribuna, onde está o órgão. A igreja é pequena, mas muito ornada, e possui bela e rica prataria, destacando-se os grandes candelabros de prata dourada, irregularmente torneados como os demais de todos os outros templos. Em torno da igreja foi construído um corredor em forma de ferradura, o qual não comunica com ela e onde se entra por duas portas exteriores. Neste corredor há diversas cape-
las de distância em distância. Sobre o altar de cada uma, vê-se a imagem de madeira pintada, representando Cristo em alguma atitude de sua paixão. Estas estátuas, longe de serem obras-primas, têm, contudo, suficiente expressão para que se possa descobrir a intenção do artista. Merecem a admiração de quem sabe que foram esculpidas por um homem que nunca teve sob os olhos modelo algum e vivia naquela solidão, na fronteira dos botocudos. As duas capelas mais notáveis e mais ricamente ornadas se acham fora do corredor. Estão uma em frente da outra, construídas no fundo mesmo dos edifícios da ermida e no nível do pórtico que faz parte da igreja. Sobre o altar da capela direita há diversas estátuas de madeira que reproduzem alguma circunstância da Paixão. Na capela da esquerda se vê um corpo de cera, mui ricamente vestido, que encerra relíquias vindas de Roma. Tal é a ermida de Nossa Senhora Mãe dos Homens” (Saint-Hilaire, Auguste de. Voyage dans les Provinces de Rio de Janeiro et de Minas Gerais. Tome premier, p. 223)
Desta ermida, quando da construção da igreja neogótica, se conservaram em 1875 “as duas capelas mais notáveis e mais ricamente ornadas”, à direita e à esquerda da porta principal. À esquerda já não está o corpo do Mártir São Pio, transferido à tribuna da esquerda e hoje colocado sob o altar, no centro da abside. O lugar onde ficava o corpo do Mártir está vazio; abrem-se as duas bandas da porta e se veem, como no fundo do altar, as decorações feitas pelo Athayde. Na capela à direita, igualmente encarnada pelo Athayde, se venera a imagem de Nossa Senhora da Piedade e se adora o Santíssimo Sacramento, nas Quintas-Feiras Santas e na noite da Paixão. O altar da esquerda foi desmontado e levado a São Paulo
para a comemoração dos 500 anos do Brasil, em 2000. Ao voltar, para remontarem as peças, os “técnicos” as prenderam com enormes parafusos de aço branco, que espantam os visitantes, que teríamos todo o direito de esperar que um monumento desses, risco do próprio Vieira Servas, não fosse assim desfigurado e comprometido... De toda parte acorriam romeiros, em busca de absolvição para seus pecados, de penitências para suas culpas e de meios para reformar a vida. Os padres de Catas Altas, Santa Bárbara e outras freguesias subiam a serra na quaresma, no advento e nas festas, para celebrar missas, gritar sermões ameaçadores, batizar os filhos de senhores e escravos, casar os amasiados, absolver culpados e preparar agonizantes. No tempo de esplendor, se construiu a capela, se aumentou a hospedaria e se pediram ao rei e ao bispo condições para a continuação da obra benemérita. Assim consta no testamento do Irmão Lourenço feito em 1806 em Mariana e nos requerimentos que enviava à Corte e à Cúria, pedindo continuadores de sua missão. Se, no início, o Caraça foi um centro de missão, ao qual acorriam os peregrinos, transformou-se depois num centro do qual partiam os missionários que iam por todo lado estimulando a conversão e mudança de vida. Muitos acorriam à capela do Irmão Lourenço, depois de ouvir seus esmoleres falarem das belezas do culto e relatarem as bênçãos e graças alcançadas por quem ia rezar aos pés de Nossa Senhora Mãe dos Homens e de São Pio.
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Interior da Capela
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M ENTORNO PRIVILEGIADO QUE OS CIENTISTAS VISITAM A nomeada do centro de peregrinações, a fama do Irmão Lourenço, a admiração das gentes pelo que havia de extraordinário no Caraça, tudo isso acabou levando à serra um tipo inesperado de peregrinos: estudiosos e cientistas que, desde o princípio do século XIX estudaram de modo sistemático a riqueza mineral, a fauna, a flora e as outras extraordinárias realidades do Caraça. Cientistas prestigiosos, vindos da Europa, a chamado de Dom Pedro II, passavam religiosamente pelo Caraça. Fritz Mattick menciona (num texto sobre Edvard Wainio, Auf den Spuren des Lichenologen Wainio in Brasilien: Das Carassa-Gebirge, in Willdenowia, Mitteilungen aus dem Botanischen Garten und Museum Berlin-Dahlem – Bd. I Heft 3, S. 404-432, 24. Februar 1956), os seguintes pesquisadores: Peter Claussen, dinamarquês, em 1843; A Glaziou, francês; Émile Gounelle, francês, em 1885, 1899 e 1903; Georg Heinrich von Langsdorff, alemão (na serra, mas não no santuário), em 1816-1817 e 1824; Auguste de Saint-Hilaire, francês, em 1816-1817; Karl Friedrich Philipp von Martius, alemão, e J. B. von Spix, alemão, em 1818; Friedrich Sellow, alemão, em 1819 e 1830; Frans von Olferz, alemão, em 1818-1819; Ludwig Riedel, alemão, em 1824 e 1825; Johann Emmanuel Pohl, alemão, em 1820 (na serra, não no santuário); Frederik Christian Raben, dinamarquês, em 1836 (também na serra, não no santuário); George Gardner, escocês, em 1840; Francisco Ribeiro de Mendonça, brasileiro, em 1884 e 1885; Edvard Vainio, finlandês, em 1885; Ernst Ule, alemão, em 1892; Carl August Wilhelm Schwarke, alemão, em 1893 (na parte leste da serra do Caraça); Erich Werdermann, alemão, 1932; e ele mesmo, Fritz
Mattick, alemão, em 1953. Também estiveram e têm estado no Caraça: F. C. Hoehne, G. Pabst, Anton de Ghillany, Emerson Pansarin e L. Mickeliunas, Rubens Custódio da Mota, orquidólogos; Herbert Schindler, Marcelo Marcelli e Adriano Spielmann, liquenólogos, Alexandre Salino, João Renato Stehmann, Jefferson Prado, Juliana Ordones Rêgo, Harold E. Strang, botânicos; Sônia A. Talamoni, Paula Cabral Eterovick, Joaquim de Araújo Silva, José P. Pombal Jr., Ney Carnevalli, zoólogos, Helmut Sick, Luiz Pedreira Gonzaga, Marcelo Ferreira de Vasconcelos, ornitólogos; Marcelo Ribeiro de Britto, ictiólogo; Olaf H. H. Mielke, Victor Becker, Pe. Francisco Silvério Pereira, Maria Aparecida Vulcano, Miguel e Marcela Monné, entomólogos, Luís Cláudio Ribeiro-Rodrigues, Filipe Nunes Silva, Ulisses Cyrino Penha, geólogos, etc. Universidades e centros de pesquisa do Brasil e do exterior promovem constantemente estudos no Caraça. Nos levantamentos sistemáticos, notou-se a existência de muitas espécies vegetais e animais ameaçadas de extinção no Brasil e no Estado de Minas Gerais. Foram feitos ou estão em curso estudos sobre borboletas, abelhas, formigas, dípteros, invertebrados cavernícolas, pererecas e rãs, peixes, beija-flores, andorinhões (taperás), aves de rapina, lobo-guará, antas, esquilos, roedores em geral, macacos, mamíferos em geral e grandes mamíferos, pimentas e pimentões silvestres, avencas, samambaias, orquídeas, liquens e musgos, algumas famílias vegetais (cactáceas, gesneriáceas, melastomatáceas), plantas medicinais, grutas, águas brancas e vermelhas, os efeitos da poluição sobre as pedras mais usadas nas construções e nos monumentos em Minas, além de teses sobre o potencial turístico do Caraça. A Reserva tem muitas espécies endêmicas.
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No levantamento feito em Biodiversidade em Minas Gerais. Um Atlas para sua Conservação (Costa, C. M. R., Hermann G., Martins, C. S., Lins, L. V. & Lamas. I. R. Belo Horizonte, Fundação Biodiversitas, Governo de Minas Gerais, IEF e Conservation International, 1998, página 1), a Reserva Particular do Patrimônio Natural do Santuário do Caraça constitui “área de interesse especial à conservação, cuja inclusão se deu em três níveis: - área prioritária para conservação da flora de Minas Gerais, com importância biológica especial, categoria mais elevada em nível de importância; - área prioritária para conservação da avifauna de Minas Gerais, com importância biológica extrema; e – área prioritária para conservação da fauna de mamíferos de Minas Gerais,
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Passiflora organensis Foto: Pe. Lauro Palú
com importância biológica muito alta”. Das espécies existentes no Caraça, 10 mamíferos estão ameaçados de extinção em Minas Gerais; 23 plantas vasculares estão na lista das ameaçadas de extinção no Estado de Minas Gerais (2 provavelmente extintas, 6 em perigo de extinção, 15 consideradas vulneráveis); 12 fanerógamas estão na lista das plantas ameaçadas de Minas Gerais; 9 espécies de orquídeas estão na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais; das aves do Caraça, 47 são endêmicas da Mata Atlântica, 3 endêmicas dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço, 4 endêmicas do Cerrado, 12 globalmente ameaçadas ou quase-ameaçadas, 8 ameaçadas no Estado de Minas Gerais.
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rado pelo fogo e depois pelo descaso e a incúria MA CASA ABANDONADA, MAS (ou pelo desatino) dos proprietários e dos hoVISITADA POR DEUS mens públicos de Minas e do Brasil. Os padres que mantêm heroicamente o santuário e a reA velhice e decadência física do Irmão Lou- serva biológica, dizem que seus alunos hoje são renço ficaram documentadas nos relatos so- os turistas e os pesquisadores que acorrem aos fridos de Saint-Hilaire e do pároco de Catas milhares, cada ano, a gozar e a estudar as maAltas. A obra decaiu, a casa se arruinou, os ravilhas da natureza e da biblioteca, as oportuescravos fugiram ou morreram, os peregrinos nidades de intercâmbio e aprofundamento. rareavam, a acolhida era fria, insatisfatória, e o atendimento, precário e inaceitável. Por falta MA HERANÇA BENDITA do comandante que mantinha a obra em pé, pela decrepitude de quem havia suscitado e formado o primeiro grupo de esmoleres, não O Caraça é propriedade da Província Brasihavia condições de continuidade. O Irmão leira da Congregação da Missão, desde 1820. O Lourenço agonizava e temia o fim. Sentia que Rei Dom João VI por Carta Régia de 31 de janeitoda a sua obra iria fracassar e acabar no nada. ro de 1820 entregou aos Padres Leandro Rebello Assim o ouviu gemer na noite interminável o Peixoto e Castro (1781-1841) e Antônio Ferreira pároco de Catas Altas, quando lhe levou os Viçoso (1787-1875), recém-chegados de Portugal últimos sacramentos. Mas, no meio da noite, para fundar no Brasil uma missão vicentina, o Irmão Lourenço serenou, dormiu e desperas terras e o santuário da serra do Caraça. O tou transfigurado. Tivera uma visão de Nossa Irmão Lourenço havia deixado o santuário, a Senhora, que lhe assegurava que sua obra se sesmaria de terras e os escravos como herança perpetuaria, pela vinda de missionários que ao Príncipe de Portugal, Dom João: “Declaro realizariam seu sonho, uma escola de artes e que sou senhor e possuidor de uma sesmaria línguas e um centro de missões. de terras, sitas na Serra do Caraça, com mais O próprio Irmão Lourenço o contou ao pá- terras anexas à mesma que são notórias a toroco que o relatou por escrito. O quarto do dos e constarão de meus títulos, onde, à minha Irmão Lourenço, cujas tábuas foram pisadas custa e com esmolas dos fiéis, edifiquei uma pela Mãe de Deus, é hoje um museu sacro, Capela com o título de Nossa Senhora Mãe dos cheio de relíquias de santos, cálices de ouro, Homens e São Francisco das Chagas
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paramentos e missais, alfaias e imagens. Os visitantes não têm idéia do que ali se passou. Nem podem imaginar o que significou, para o Irmão Lourenço, a garantia que lhe deu a Virgem Santíssima de que sua obra teria uma esplêndida continuidade.
Após o incêndio de 1968, o Caraça não é mais uma escola nem um centro de missões, pois o prédio da juventude estudiosa foi devo-
(...). Declaro que a minha vontade sempre foi e é de que todos os referidos meus bens fossem para estabelecimento e residência de missionários (...) e não podendo conseguir-se para este fim, que em tal caso servisse para um Seminário de meninos, onde aprendessem as primeiras letras e mais artes, ciências e línguas (...). E assim instituo meu Universal herdeiro ao Príncipe, nosso Senhor” (citado por Sarnelius, in Guia Sentimental do Caraça. Imprensa Oficial, 1953; p. 259-260).
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O Caraça foi dirigido pelo Irmão Lourenço até à sua morte, em 1819. Os Padres da Congregação de São Vicente de Paulo, então chamados lazaristas, tinham vindo para assumir uma missão em Mato Grosso. Chegados ao Rio, em dezembro de 1819, souberam que a missão tinha sido entregue a capuchinhos. Dom João VI lhes ofereceu as terras e a obra do Caraça, com a incumbência testamentária de manter um centro de missões ou uma escola. Os padres aceitaram com dificuldade a troca de última hora, suprindo o rei as licenças dos superiores. Chegados ao local (15 de abril de 1820), tomaram posse das terras e da Casa em 29 de abril, cumpridas as formalidades em presença do Juiz Ouvidor da Comarca de Sabará, Dr. José Teixeira, que veio a ser bisavô do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. Já em junho padre Leandro e padre Viçoso pregaram as primeiras missões em Catas Altas e Barbacena e levaram do Rio de Janeiro quatro rapazes para começar a escola.
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COLÉGIO IMPERIAL
Ainda em 1820 começou o pequeno Colégio que viria a ser o mais famoso de Minas Gerais, no tempo do Império e da primeira República (1820-1842, 1856-1912). Por seus bancos passaram os Presidentes Afonso Pena (de 1859 a 1863) e Artur Bernardes (de 1887 a 1889) e governadores de Minas, como Augusto de Lima, Melo Viana (também Vice-Presidente do Brasil) e Olegário Maciel.
Desde 1824, ostentava o nome de Casa Imperial de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Seu primeiro diretor, Pe. Leandro, foi chamado ao Rio em 1838 para organizar o recém-fundado Colégio Pedro II, de que foi Vice-Diretor. Em 1900 o Colégio do Caraça foi equiparado ao Ginásio Nacional. Por suas salas passaram mais de 10.000 estudantes, de todas as partes do Brasil. E por todo o Brasil levavam uma sóAssim, desde 1770, o Caraça só teve dois do- lida formação cultural, religiosa, moral, humanos: o Irmão Lourenço e a Província Brasileira nística, que lhes abria caminhos na magistrada Congregação da Missão. As terras de Dom tura, na política, no magistério, no governo, na João VI foram aumentadas pelos padres com a medicina, nas artes, na diplomacia, no jornacompra da Chácara de Santa Rita e da Fazen- lismo, na economia, na música. da do Engenho, em 1823 e 1858, e pela doação Nas anotações à margem do livro de matrída Fazenda do Capivari pelo Capitão Manuel culas se lê: Pedro Cotta, em 1870. “foi fazendeiro, criador de gado no Alto São Francisco”, “morreu na guerra do Paraguai”, “é vigário Geral em Diamantina”, “Cônsul na Bolívia, foi comido pelos índios; era irmão do Dr. Eiras da Casa de Saúde”, “aluno gratuito e é médico talentoso”; um “fugiu do Colégio”, outro foi “diretor do Banco do Brasil”, outro é “negociante de escravos”, outro foi “expulso por insubordinação”... (Pe. José Tobias Zico. Caraça. Ex-Alunos e Visitantes, p. 98).
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Os Professores eram os próprios Padres da Congregação, ajudados por Padres diocesanos M CENTRO DE MISSÕES e por leigos. Estudavam-se no Colégio e no Seminário mais de 25 disciplinas. Os alunos cheAs missões de 1820 em Catas Altas e Barbagaram a 400, o que obrigou os Padres a construir uma igreja em lugar da capela do Irmão cena continuaram por toda a Província de Minas, até meados do século XX. Saindo do CaLourenço. raça (e de Mariana e Diamantina), grupos de Recentemente, a direção do Caraça pôs à Missionários inspiravam por toda parte uma venda centenas de livros, especialmente os devoção séria, baseada na instrução e na oramanuais, de que havia dezenas de exemplares, ção, feita em seguida serviço dos Pobres. Por e que tinham sido usados até o incêndio do toda parte surgiram nas décadas seguintes as Seminário em 1968. Ex-Alunos ansiosos com- Filhas de Maria e as Conferências de São Vipraram pedaços vivos de seu passado, alguns cente; apareceram vocações para as Filhas da achando livros que eles mesmos tinham usado Caridade (depois da chegada delas em 1849) quando meninos, 40 anos atrás, ainda com os e para a própria Congregação da Missão. Os nomes deles ou do colega que os encadernou... Missionários retornavam ao Caraça, depois da
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temporada de missões, para descansar, avaliar as missões e preparar as missões seguintes. Vi isso ainda em 1953, quando comecei a estudar no Caraça. A vinda dos Missionários acendia nos corações dos meninos e jovens do Seminário o ideal e o zelo apostólico.
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M SEMINÁRIO
Junto com o Colégio, havia o Seminário que preparava os missionários da Congregação. De 1854 até 1882, também esteve no Caraça o Seminário Maior da Diocese de Mariana. Quando da visita de Dom Pedro II, em 1881, foram seus alunos e seus professores que protagonizaram o episódio da discussão com o Imperador sobre a doutrina do Placet. Centenas de jovens que estudaram no Caraça nesse tempo foram
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ordenados para o Clero de Mariana e de outras dioceses. Quando terminou o Colégio, em 1912, ficou havendo apenas a Escola Apostólica, inaugurada em 1905, que era o Seminário menor da Província, em que estudaram 2.322 alunos, dos quais 176 nos ordenamos padres. A Associação de Ex-Alunos dos Lazaristas e dos Amigos do Caraça (AEALAC) foi fundada em 1945, para ajudar o seminário do Caraça nas dificuldades de depois da guerra. Abriu-se para os Amigos e mais recentemente para as Amigas do Caraça. Agrega também os que vão ao Santuário, para estudos, descanso ou retiros. Os membros atuais da Associação, na sua maioria, são ex-Alunos dos Seminários do Caraça, de Mariana e Diamantina. É reuni-los na caravana que vai à Serra cada ano, e começa o relato minucioso, insistente, obsessivo, dos pequenos fatos que tornavam grande e ines-
quecível a vida do Apostólico no Caraça. Vários publicaram em diversos Estados do Brasil suas memórias, cheias de ternura e de pormenores que mostram como cada um viveu intensamente seu tempo de seminarista, quanto acumulamos para a vida, quanto usamos, ainda hoje, o que aprendemos no salão de estudos do segundo andar e nas aulas do térreo. Quem volta ao Santuário recorda professores e colegas, recupera, no fundo do coração, o que restou de menino em si mesmo, recolhe-se na igreja em oração silenciosa e lágrimas quentes, comemora-o nas rodas em volta das mesas da cantina ou no refeitório, inesgotáveis lembranças, relatos carinhosos e divertidos, lembranças doídas mas benfazejas, vida inimaginável, hoje impossível, patrimônio pessoal, riqueza de que viveremos a vida inteira.
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MAS RUÍNAS...
Na madrugada de 28 de maio de 1968, o incêndio destruiu o prédio onde funcionavam a encadernação, o escritório do disciplinário, o museu de história natural, a farmácia, o gabinete dentário, a enfermaria, as salas de aula e a famosa biblioteca, no térreo, os salões de estudo, o teatro com seus cenários e seus depósitos de trajes de época, no segundo andar, e os dormitórios do terceiro andar. Isso impossibilitou a continuação daquela obra tão meritória. No museu de história natural, havia coleções de insetos, minerais, fósseis, exsicatas de botânica, instrumentos para experiências de física e química, filmes antigos, daguerreótipos e infinitas antigas “novidades”, carinhosamente e às
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vezes custosamente compradas para enriqueNa biblioteca havia uns 50.000 volumes. Do cer o museu, além de obras raras e preciosas, incêndio, salvaram-se 15.000. Com doações e como duas coleções completas da Flora Brasi- aquisições recentes, já são mais de 25.000. Salliensis de Martius. vou-se o fichário dos cimélios, feito pelo Pe. Pedro Sarneel, e por ele se vê que foi preservada O esqueleto do prédio ficou muitos anos a maioria dos livros dos séculos XV, XVI, XVII abandonado, até que se restaurou a parte mais e XVIII. A biblioteca está informatizada, estão nova, cujas paredes grossas de pedra ainda re- trocando suas estantes, limpando e livrando sistiam em pé, depois que ruíram as mais an- dos cupins as coleções, restaurando as obras tigas, contíguas à igreja, que eram de tijolos. mais antigas e preciosas. No museu sacro e no Dentro das ruínas se ergueu um prédio de ci- histórico, inicialmente dispostos (ainda não mento, aço e vidro, apoiado nas ruínas e que organizados) em dois ambientes, restauram-se apoia as ruínas. É impressionante andar pelas as peças de mais valor. escadas, contemplar o conjunto arquitetônico do Santuário através da grande parede frontal No dia 13 de novembro de 2020, presentes de vidro, apreciar a força daquelas paredes de quase todos os Padres e Irmãos da Província quase um metro de grossura, imaginar como Brasileira da Congregação da Missão, inauguas construíram, como levavam as pedras enor- raram-se, no espaço ajardinado ao lado do Mumes até àquela altura, como as encaixavam seu, estátuas em pó de mármore, pó de granito perfeitas e bonitas. e resina poliéster com pigmentos, criadas pelo escultor Hildebrando José de Souza Lima, como Não se restaurou a parte de tijolos, mas há homenagem da Província Brasileira aos Coirque repensar essa opção daqueles anos em mãos que construíram a história benemérita que o Caraça ficou praticamente estagnado, do Colégio e Seminário do Caraça, foram miseu diria quase em estado de choque, bloquea- sionários de Minas e de boa parte do Brasil, imdo pelo desastre, pela incúria, pelo descrédito portantes líderes religiosos e populares, que diem quanto discurso fizessem as autoridades... namizaram muitas povoações, ativando, alem Há que aumentar o museu e a biblioteca, criar das missões, obras sociais, educativas e moum espaço para exposições. Em relação a esta dernizadoras nas comunidades missionadas. restauração ou à construção de mais uma unidade, aplica-se ao Caraça um dito de Murilo Mendes. Para justificar a seleção que fizera de suas poesias completas, Murilo escreveu: “Não sou meu sobrevivente / sou meu contemporâneo”. O Caraça nunca se interrompeu, não pode ser tratado nem conservado como ruínas. É um organismo vivíssimo, ativo, pujante, promissor, esperançoso, capaz, fértil, excepcional e exemplar.
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ESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL O Caraça é Patrimônio Nacional desde 1955II. Depois do incêndio que destruiu a parte onde funcionava o Seminário, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) se interessou pelo Caraça, sem grandes resultados. Em 1980, tentou-se criar uma reserva biológica no Caraça, com ajuda e assessoria da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. Da parte da Província Brasileira da Congregação da Missão, houve várias iniciativas, depois do estado desolador da Casa, na fase imediatamente posterior ao incêndio. O Superior Provincial da época, Pe. José Elias Chaves, definiu as vocações naturais do Caraça, que tem uma tríplice missão: ser um centro de peregrinação, cultura e turismo. É o mais bem cuidado dos parques de Minas.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Santuário do Caraça foi criada dia 1º de setembro de 1994, através da Portaria 32, de 30 de março de 1994, e protege 10.187,89 hectares da área. Outros dolis mil e poucos hectares são zonas de manejo agrícola e pastoril (hortas, roças, gado vacum e suíno, fazenda, pastos, currais, lenha para a cozinha, uma parte reservada ao reflorestamento para venda de matas e obtenção de carvão para as siderúrgicas vizinhas e um terreno para futuras construções). Na RPPN, são protegidas a fauna e a flora do Caraça, sua geologia, suas águas e paisagens, sua beleza e espiritualidade. Com a riqueza da flora, multiplicam-se ao infinito as espécies animais. Já se identificaram 388 espécies de aves, desde a águia chilena até minúsculos beija-flores. No Instituto Butantan e na Universidade Federal do Rio de Janeiro, estão registradas respectivamente 81 e 245 espécies de aranhas do Caraça. Há 49 espécies de anuros (sapos e pererecas) já descritas. Só de coleópteros já se publicou a lista de quase 600 espécies, das quais 192 só se acham lá ou foram encontradas lá pela primeira vez. Nas pesquisa dos útltimos anos, mais umas 200 espécies foram acrescentadas, por estudiosos que continuam identificando os espécimes já coletados, e vêm sistematicamente estudar os besouros e outros insetos, em expedições regulares. Nas matas se veem bandos de sete espécies de macacos: 3 de saguis, 2 de guigós, o macaco-prego e um bugio. Já se registraram mais de 70 espécies de mamíferos pequenos e grandes. Olaf H. H. Mielke, entomólogo de Curitiba, em meia hora descobriu três novas espécies de borboletas perto da Cascatona (Revista Brasileira de Zoologia, 7 (4): 503-524; 15/XII/91).
“Além de fazer parte do rol dos bens tombados pela União, com a Constituição Mineira de 1989, a serra do Caraça foi tombada e declarada monumento natural do Estado de Minas Gerais. (...) A 13ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -IPHAN atesta o excepcional valor cultural do conjunto arquitetônico e paisagístico do Caraça, integrante do Hoje, as ações que se empreendam no Caacervo de bens tombados pela União” (Ofício/ Gab/13ª SP/IPHAN, n. 473/99, com data de raça se regem pelo plano diretor, elaborado Belo Horizonte, 10 de setembro de 1999; p. 2). pela direção da Província Brasileira da Con-
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No dia 27 de janeiro de 1955, segundo o Processo 407-T, o Caraça foi inscrito, sob o n. 309, no Livro Histórico, e sob o n. 15-A, no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Natureza do tombamento: ex officio.
gregação da Missão. Na linha desse plano, há atividades em curso que asseguram para o Caraça orientações firmes e sólidas. É o que levou a celebrar os convênios com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Belo Horizonte e com outras universidades públicas ou particulares e com a SAMARCO Minerações para a construção de um centro de atendimento aos visitantes. Além do plano diretor do Caraça, existem fundamentalmente o Plano de Manejo da RPPN do Santuário do Caraça e projetos que a Associação de Ex-Alunos (AEALAC) estuda e propõe (ou repropõe) à atenção da Congregação. Pela criação da RPPN, o Caraça tem igualmente como objetivo ainda a educação ambiental e a preservação da biodiversidade.
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UADRO FÍSICO E AMBIENTE
A área do Caraça mede 12.475,45 hectares. É formada de montanhas e campos de altitude. Situada no Quadrilátero Ferrífero, traçado entre Belo Horizonte (Sabará), Santa Bárbara, Mariana e Congonhas, o Caraça está cercado por todos os lados de minas de ouro, ferro, manganês, bauxita e dunito. Na divisa leste, há grandes plantações de eucaliptos e pinus. Para preservar sua inigualável riqueza, é urgente reconhecer o Caraça como Patrimônio Natural da Humanidade. Em 2016, o geólogo Filipe Silva Nunes apresentou na Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Minas, Departamento de Geologia, uma “contribuição à estratigrafia e geocronologia U-Pb de zircões detríticos da Formação Moeda (Grupo Caraça, Supergrupo Minas) na Serra do Caraça, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais”, segundo a qual, a datação do Caraça está por volta de 2 bilhões e 600 milhões de anos, mais recentes que os 2 bilhões e 830 milhões de anos do Supergrupo Rio das Velhas (cf. pp. 62-63).
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ONTANHAS E GRUTAS
A Caraça! O primeiro bandeirante que viu a montanha em forma de grande cara deve ter admirado o monumento natural, como o faz parte dos 70.000 turistas que chegam ao Caraça cada ano e vão até os Pinheiros ou ao Mirante, acima da Piscina. A serra do Caraça é o penúltimo contraforte da Cadeia do Espinhaço, que vem desde o norte da Bahia. Os pontos mais altos do Caraça são o Pico do Sol (2.072 metros), o Pico do Inficionado (2.068 metros), a Carapuça (1.955), o Piçarrão (1.939), a Canjerana (1.890 m), os Três Irmãos ou Picos da Trindade, o Conceição (1.800 m).
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Em contraste com essas alturas, há os abismos inacessíveis das grutas. Nas imediações do Pico do Inficionado, estão as entradas das duas maiores e mais profundas grutas do mundo em quartzito III , a do Centenário e a da Bocaina. E existe ali ainda a gruta Alaouf, terceira mais profunda do Brasil, embora não a terceira do mundo. Na Gruta do Centenário (que tem 484 metros de desnível e projeção horizontal de 3.800 m, com desenvolvimento linear de 4.710 m e também é a mais extensa do mundo em quartzito), descobriram-se dois rios subterrâneos e salões de imensas abóbadas; nesta gruta encontra-se o maior lance livre conhecido do Brasil, 120 metros de profundidade, o Abismo da Velósia. Na Gruta da Bocaina (desnível de 404 metros e projeção horizontal de 3.220 metros), há o P116, o segundo maior
Quartzito é “uma rocha de sedimentos formada por areia e cimento silicoso. A formação geológica data do pré-cambriano, o que faz dela uma das rochas mais antigas encontradas na terra, formada mais ou menos há três bilhões de anos! Desde esses tempos longínquos, ela sofreu os assaltos repetidos do vento e da chuva e das condições geológicas difíceis que a fraturaram com uma grande intensidade. Ao contrário do calcário, o quartzito é uma rocha quimicamente pouco solúvel, o que a torna imprópria à formação de cavidades segundo os fenômenos de carstificação conhecidos. Contudo, a combinação das atividades tectônicas e da erosão mecânica consegue, quando se beneficia de um tempo suficiente, formar as cavidades, inclusive no quartzito. E, para nossa grande felicidade, este foi o caso do Caraça” (Marc Faverjon. Alaouf! In O CARSTE, vol. 15, n. 2, abril/2003, p. 71).
lance livre do Brasil (116 metros). Na Alaouf (desnível de 294 metros, extensão de 1.710 metros e projeção horizontal de 1.200 metros), há o abismo P93, terceiro mais profundo do Brasil. Estes desníveis são os três maiores do Brasil em qualquer tipo de rochaIV . É tremendamente sugestivo este contraste entre as alturas das montanhas, as maiores do Quadrilátero Ferrífero, e esses abismos, esses vãos intransponíveisV. Vivi minha adolescência no Caraça e sei do espanto com que sofríamos as tempestades, os ecos formidandos rolando maciços de um lado ao outro do horizonte noturno, já desmesurado. Como reboavam nas alturas os estalos dos raios e os trovões, jogados em abismos para cima, nos precipícios negros cheios do horror das tempestades!
que São Luís e o Tanque Grande, com a usina hidrelétrica hoje depredada, a segunda construída em Minas Gerais), águas brancas, de profundidade, que se bebem no refeitório e se usam para remédios , e “vermelhas”, do ácido húmico, folhas e raízes, material orgânico em suspensão, que descem pelas cascatas. O ribeirão Caraça e o Conceição se unem no rio Santa Bárbara, que cai no Piracicaba, afluente do Doce, que vai formar o Oceano Atlântico...
Os maiores problemas em relação aos solos são as voçorocas e as diversas formas de erosão. Além da contenção de erosões e da recuperação de terrenos destruídos por voçorocas, é necessário criar trilhas alternativas para o período das chuvas e proteger o solo, com trilhas de pedras, passarelas de cimento, pneus Há mais de dez cachoeiras, permanentes usados cheios de cimento, tabuões ou dormenou temporonas, ribeirões, duas lagoas (o Tan- tes (como se fez perto da Cascatinha).
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Auler, Augusto As grandes cavernas do Brasil / Augusto Auler, Ezio Rubbioli, Roberto Brandi. - Belo Horizonte: A. Auler, 2001; p. 176-179, para a gruta do Centenário; p. 180-183, para a da Bocaina. Para a Gruta Alaouf, ver O CARSTE, vol. 15, n. 2, abril/2003, de Marc Faverjon, Alaouf!, p. 70-76, mais a 3ª capa. Novas medidas da Gruta do Centenário, de Ezio Rubbioli, in O CARSTE, vol. 16, n. 3, julho 2004, p. 82-89. V
Pelas dificuldades técnicas, dadas as condições das descidas a esses abismos e sua remontada, essas grutas são consideradas de alto risco e não são de visitação ordinária para entusiasmados inexpertos. As próprias condições do quartzito ameaçam constantemente os melhores espeleólogos, pois as rochas são descritas como friáveis e podres, não permitindo a fixação segura das ancoragens, já que os spits se soltam, com o peso, as cordas, o aventureiro e mais pedaços de pedras caindo sobre os de baixo...
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M PARAÍSO PARA OS BOTÂNICOS O Caraça é em geral descrito e aceito como transição entre Mata Atlântica e Cerrado e tem diversos tipos da vegetação de altitude. Existe mata pluvial de encosta, mata-galeria ou ciliar, ao longo dos rios e córregos, ou do tipo dos bosques do caminho para a Serra do Inficionado. Há matas de candeias, que são as invasoras mais agressivas e bem sucedidas nos terrenos onde houve corte das matas para produção de carvão (no início e no final da primeira metade do século passado). As candeias crescem em terrenos quartzíticos de boa drenagem mas pobres. No Campo de Fora, as candeias estão avançando sobre as encostas, de forma visível e muito rápida, como já ocorreu num morro próximo à Fazenda do Engenho. Há campos naturais de gramíneas e a vegetação típica dos
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morros, rupícola mista: arbustos, gramíneas, canelas-de-ema. Saint-Hilaire (em 1816), Martius (em 1818) e dezenas de outros pesquisadores encontravam cada dia muitíssimas espécies novas de plantas na região. Entre as plantas da medicina popular, citamos carqueja, cipó-de-são-joão, erva-de-santa-maria, alecrim, macela, capim-santo ou erva cidreira, dom-bernardo, congonha-do-campo, cipó-cabeludo, língua-de-vaca, erva-de-são-pedro, chapéu-de-couro, maria-sem-vergonha, etc. Além da candeia, há outras madeiras de lei: pau-d'óleo, sucupira, angico, cedro, peroba-do-campo, peroba, canela, jacarandá, cabiúna (ou jacarandá-cabiúna), braúna, pau-mulato, cedro, cedro-vermelho. Nas serras, conforme a estação, florescem paineiras, ipês, mulungus, quaresmeiras, ingazeiras (sobretudo nas margens dos rios). Há mais de 200 espécies de orquídeas. A Flora Montium de Álvaro da Silveira elencou dezenas de espécies de pe-
palantos nas terras do Caraça. Edward Vainio, finlandês, considerado o pai da liquenologia brasileira, encontrou ali centenas de espécies de liquens e musgos (em 1885), sendo a Reserva uma das maiores concentrações mundiais de tipos de liquens. Trabalha-se para que a Unesco declare o Caraça Patrimônio Natural ou Paisagem Cultural da Humanidade, pela rica biodiversidade, pela importância da fauna, em especial da microfauna (artrópodes, sobretudo os insetos) e da flora, porque abriga muitas espécies ameaçadas de extinção. O projeto, em curso, de sensoriamento do Caraça, via satélite, entrará nesta grande campanha de importância nacional e mundial.
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LOBO-GUARÁ
Há 38 anos e meio, cada noite o Caraça assiste a um ritual mágico, a chegada dos lobos-guarás que vêm comer no adro da igreja. Em 1982, notaram que os guarás reviravam os tambores de lixo. Atraíram-nos, pondo comida nos portões, na calçada, na escadaria e enfim no adro da igreja, onde hoje os turistas os fotografam, impressionados pela beleza e confiança dos animais. Não são selvagens nem ferozes, como o lobo europeu, embora sejam silvestres, muito ariscos, rápidos na fuga e na caça. São os maiores canídeos da América do Sul, gênero e espécie única: Chrysocyon Brachyurus, isto é, um animal dourado de rabo curto. A pelagem é cor de fogo, com uma zona preta no dorso, as pernas pretas e o rabo branco. O macho mede quase um metro de altura, a fêmea uns 90 centímetros. Os adultos pesam entre 25 e 30 quilos. Impressiona a mobilidade das orelhas, es-
pecialmente quando está comendo e controla os arredores com a audição acurada e eficiente, os pavilhões virando-se constantemente em toda direção. Um carro aparece na Boa Vista e o guará logo estremece e corre. Durante dois anos, os guarás foram monitorados por satélite. Descobriu-se que em toda a reserva existe apenas uma família, macho e fêmea e os filhotes do ano. Acasalam-se em abril ou maio; os lobinhos (em média dois) nascem depois de 65 dias e ficam uns três meses escondidos, alimentados pelos pais. O macho, muitas vezes, engole quase inteira aquela enorme quantidade de carne (vinda dos açougues de Santa Bárbara ou da cozinha do Caraça). Sai do pátio, late para chamar a família e regurgita o que comeu. Depois volta para comer o dele. Quando os filhotes crescem, os machos e as fêmeas lutam entre si, ficando um só casal em toda a área do Caraça. No fim de 2002, os guarás mudaram totalmente os hábitos, vindo tarde da madrugada. Um casal de filhotes, dessa vez, foram eles que expulsaram os pais do território. A fêmea anterior já tinha seus dez anos, o macho que foi expulso tinha quatro anos. Os expulsos têm que buscar um território, criar sua família. O casal marca o território com urina e fezes, deixadas sobre partes altas dos caminhos, pedras, cupinzeiros, saliências da estrada. Pelas fezes se vê que comem cobras com freqüência. O macho e a fêmea caçam na mesma trilha em direções opostas, só andam juntos na época de acasalar. Fazem uma média de 30 quilômetros por dia, mais ativos no amanhecer e no anoitecer. Nas trilhas, Cascatinha, Banho do Belchior e do Imperador, Piscina, Bocaina, Tabuões, Engenho, Campo de Fora, você vê o rastro do lobo, pequeno, ovalado, uma almofada e quatro dedos com as unhas claramente marcadas.
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Se o rastro for bem maior, arredondado, sem o e patos. (Se bem que o maior ladrão de galinha sinal das unhas, é onça! é o cachorro-do-mato). Comem jacus, saracuras, passarinhos, patos, cobras, tatus, gambás, Come de tudo, um oportunista generalista, preás, pacas, sapos, insetos. Quase cada noite, mas tem preferência por cheiros fortes: maçã, além da bandeja de restos de carne, derrubam pera, goiaba, gabiroba, araçá, banana. E nos os latões de lixo e fuçam nas sacolas de plásticampings de Ibitipoca e da Serra da Canas- co procurando empadas, pastéis, sanduíches, o tra rouba todo tipo de cosméticos, sabonetes, que possam comer. Vivem em média 16 anos. shampoos, desodorantes, talcos, perfumes. Na natureza, prefere sobretudo uma solanácea, Atualmente, além dos lobos, vão comer da a fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum), cujas carne dos lobos os cachorros-do-mato (Cerdosementes espalha por toda parte. Os Padres cyon thous), já vai para sete anos, desde o final lhe dão carne crua ou cozida e ossos de fran- de 2013; uma anta macha (Tapirus terrestris), a go. Não há perigo de se perfurar estômago ou partir de janeiro de 2015; uma vez foi visto ali, intestino, porque o guará tem dentição mui- comendo na bandeja do lobo um gato mouristo forte, tritura tudo o que come. Além dessa co (Herpailurus yagouaroundi), um dos seis felicarne, os lobos-guarás caçam aves e pequenos nos que temos no território. Durante sete anos, animais, porque precisam das penas e dos pe- nos visitava uma média de três vezes por mês los para ativar o peristaltismo. Também o ati- uma jaratataca (Conepatus semistriatus), que suvam comendo capim, como os cachorros. Às miu a partir de 2013, provavelmente espantada vezes, deixam a bandeja e vão pegar galinhas pelos cachorros-do-mato.
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S JACUS E OS OUTROS
Tão ameaçados de extinção como os guarás, são os jacus (Penelope obscura e P. superciliaris), uma verdadeira praga para as uvas e as alfaces da horta. De manhã, um padre põe no muro do jardim pães e pipocas da véspera. Famílias de quatis bocavam o pão, os passarinhos comiam o farelo e as formigas carregavam a farinha que sobrava. Formiga não vem junto com passarinho... Os jacus comem tudo tão depressa que os quatis já nem sobem da pirambeira: não encontrariam nada. Bem que chamo, jogo broa, pão de queijo dormido ou os piruás das pipocas lá embaixo. Os quatis, nem aí: perderam o costume... Nos últimos meses, às vezes vem unzinho, espanta os jacus, come sossegado, com os esquilos e os passarinhos, depois desce o muro e some nos bambuais.
toda parte. No fim de setembro os sabiás começam a cantar nas manhãs limpas. Além deles, os tico-ticos, os trinca-ferros, os bem-te-vis, os joões-de-barro. O sabiá come figos e amoras para adoçar o canto. Os bem-te-vis, no alto da igreja, estão gritando que o mundo é deles. O joão-de-barro não quer o mundo todo, mas grita que a manhã é dele. Os bicos-de-lacre, os canarinhos chapinhas, os caga-sebos vêm comer quirera no potinho, nos degraus da escada e na mão do menino. As rolinhas, as fogo-apagou, os sanhaços, a maria-preta e o tietinga comem pipoca, farelo de pão e casca de mamão e melancia.
Na hora de esperar o lobo-guará, de noite, besouros e mariposas caem debaixo das lâmpadas, provocando faniquitos nos delicados e nas dondocas. De manhã, antes de fotografar os rastros de bichos nas areias molhadas, gosto de registrar especialmente as borboletas que ficaram na frente da igreja ou na casa de Também vêm as três-potes de perninhas fi- Santa Helena, no topo da escada. A beleza das nas, tietingas de olhos amarelos, sabiás-laran- formas, a riqueza das cores, o capricho das anjeiras e de coleira, sanhaços azuis, verdes, ama- tenas, os quarenta mil olhos fabulosos mal se relos e vermelhos, saíras de todas as cores. No adivinham numa taturana, mesmo nas mais jardim, azulam beija-flores, gritam maitacas soberbas, que parecem trajar casacos de peles. e gaviões, passam em bando cerrado japus de As formigas, as abelhas, as vespas, a cigarra, rabo amarelo, tucanos de bico verde, buscando os besouros de tantas espécies, a casa de barcomida nas janelas dos padres ou nas ingazei- ro das pequenas abelhas ou vespas, a surpresa ras, nos pinheiros e pessegueiros, no chão, por constante da vida, a biodiversidade esplêndida.
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OR QUE TORNAR O CARAÇA UMA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL? Proteger a natureza é proteger a humanidade. O Caraça merece proteção por dois aspectos principais: é excepcional e é exemplar. O Caraça é excepcional, pelo conjunto de belezas singulares. Uma cadeia de altas montanhas, com a extraordinária Caraça, a cara grande. Uma notável diversidade de ambientes, dos altos picos aos socavões onde correm águas rápidas e límpidas. Das matas fechadas aos campos batidos pelos ventos e pelo sol, corridos pelo veado-catingueiro e pelo guará, às vezes atravessados pelo tamanduá-bandeira, palmilhados pela onça pintada, pela onça-preta, pela onça-parda ou suçuarana. A vegetação esplende nos barrancos úmidos das cascatas, nas beiras dos rios e dos lagos, ou se estorrica sobre as lapas de pedras que ardem ao sol. E qualquer um se comove com a pequenina orquídea Pleurothallis prolifera (Acianthera prolifera) que sobrevive com sua gota de orvalho, a neblina matinal, as chuvas da estação, e atra-
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Foto: David Barnabe
vessa o ano florindo humildemente sua coragem e sua presença teimosa. A excepcional pureza do ar, apesar de a região estar cercada de minerações ativas, se vê na variedade espetacular de liquens e musgos que cobrem as pedras, os troncos, os pedaços de chão. E foi comprovada no estudo dos efeitos atmosféricos sobre as pedras, realizado durante anos pelos governos do Brasil e da Alemanha (granito, mármore, pedra-sabão, etc.). O Caraça é exemplar por vários motivos. É um dos grandes parques mais visitados no Estado de Minas Gerais. Todos os visitantes são recebidos na portaria, recebem as normas de segurança, os mapas das trilhas, um saco de plástico para o lixo, depositado depois nos tonéis da coleta seletiva. Hoje, a função cultural é mantida pelo conjunto de visitantes que vai ao Santuário para conhecer sua arquitetura barroca e neogótica, admirar sua biblioteca, apreciar as curiosidades do que um dia vai ser um belo museu ou para pesquisar e fazer descobrimentos sensacionais.
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NFORMAÇÕES ÚTEIS
Você não precisa ser pesquisador. Há 205 leitos, em apartamentos e quartos e nas acomodações das Sampaias, na Casa da Ponte, na do Tanquinho e na Estação Biológica. Nas férias de janeiro e fevereiro, a maioria dos visitantes vem de São Paulo e Rio, de Minas, do resto do Brasil e do estrangeiro. Quando se apagam as luzes, esperando os guarás, dá gosto ver a admiração dos paulistas e cariocas com a quantidade de estrelas do céu caracense. Já não vem mais um dos padres trazendo a luneta para mostrar crateras da lua, satélites de Júpiter, anéis de Saturno... Não se pode acampar na RPPN nem levar animais para lá. Não se podem tirar plantas ou animais; a polícia vai fiscalizar no portão de saída. Se quiser subir aos picos, deve contratar os guias cadastrados no Santuário. O clima é seco e muito frio no inverno, é chuvoso e pode pedir alguma blusa no verão. São úteis o filtro
ou bloqueador solar e os repelentes, sobretudo nas trilhas de mata fechada, contra as mutucas. Cuide do chão, não olhe só passarinhos, borboletas e flores. Leve bota ou calçado fechado e calça comprida para as trilhas. Você está no mato, casa das cobras e dos outros bichos. Comida farta, saborosa, caseira, fogão de lenha. Serviço à americana. Café da manhã com ovos e queijo derretido na chapa... Missa às 18 horas, durante a semana, às 11 nos domingos. Concertos com o órgão do Padre Boavida, no segundo sábado e domingo de cada mês, pelo maestro Lucas Raposo, de Belo Horizonte. As reservas podem ser feitas das 7 da manhã às 5 da tarde, de 2a. a 6a. feira. O portão de entrada do Caraça funciona das 7h30 da manhã às 9 da noite. Telefone para reservas: 0XX31 3942-1656. Por e-mail, acesse: centraldereservas@santuariodocaraca.com.br OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: em tempo de pandemia, muitas restrições foram impostas, para proteção individual e coletiva. Informe-se ao reservar a hospedagem e quando chegar.
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O LIVRO DE OURO:
“O Colégio do Caraça influiu de maneira decisiva na formação espiritual de nossa gente. Nestas montanhas, entre os filhos de S. Vicente, a piedade natural dos nossos pais achou um clima favorável ao seu desenvolvimento; muito da austeridade e da modéstia que distinguem o caráter mineiro tem aqui as suas raízes profundas. Mais velho do que o Império, coevo de Tiradentes e das aspirações libertárias, o Caraça nasceu com a consciência da nação brasileira. Andar por seus corredores é pisar em história. Se o estilo grave do edifício evoca a Minas colonial e o perfume dos tempos idos impregna ainda esta Imperial Casa – se tudo aqui recorda o passado – cumpre, entretanto, apreciar o presente e saber ver o futuro. Nos dias de hoje, cheios de dificuldades de todo gênero, o esforço dos padres Lazaristas sustenta a obra dos antepassados. O Caraça vive: ao invés de descansar sobre os louros, luta e aumenta continuamente o seu patrimônio de glórias. Formando-se aqui, durante anos, a elite da nossa gente, pode dizer-se que um pouco da alma caracense anima o povo brasileiro. Este povo tão intensamente espiritualizado que conserva, no meio do pragmatismo da pseudo-civilização moderna, um alto senso das realidades sobrenaturais. No povo mineiro, em particular, segundo prognóstico de Tristão de Athayde, encontrará a Revolução Espiritual do futuro (a verdadeira e definitiva transformação social e econômica que a nossa Pátria há de forçosamente experimentar) os seus melhores soldados. Daí concluirmos que ao Colégio do Caraça cabe parte da responsabilidade pelo futuro do Brasil. E afirmamos que, embora a sua missão divina desconheça os limites do tempo, mesmo sob o ponto de vista humano não está terminado o papel que lhe cabe representar na vida política e social do Brasil” (Do jornalista Juarez Caldeira Brant, no Livro de Ouro do Caraça, em 10 de fevereiro de 1932; cit. por Pe. José Tobias Zico. Caraça. Ex-Alunos e Visitantes. Belo Horizonte, Editora São Vicente, 1979; p. 275-276).
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A LETTER TO THOSE WHO LIVE “ENTRE-SERRAS” WHERE THE “ENTRE SERRAS” IS BORN MIRACULOUS RIDGE CAETÉ BARÃO DE COCAIS SANTA BÁRBARA CATAS ALTAS SANCTUARY OF CARAÇA- FATHER LAURO PALÚ BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
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A LETTER TO THOSE WHO LIVE “ENTRE SERRAS”
As of 2020, seven years have passed since the launching of the "Entre Serras - da Piedade ao Caraça" tourist itinerary, a circuit that includes the cities of Barão de Cocais, Catas Altas, Caeté, and Santa Bárbara. They had participated in the project VER - Vivendo a Estrada Real [Living the Royal Road], started in 2013 by the government of Minas Gerais. Many people and institutions have dedicated themselves to this purpose; none has been better or more efficient than others. Unitedly, all of them generated a common result, each at its own time and way. Today "Entre Serras - da Piedade ao Caraça" is a reality. And this book is the utter expression of it! It is the right time to understand this territory a deep more to get know more about its history, values, and products which support this sole purpose that bounds these four cities and two sanctuaries together. The bold ambition of combining the entire region as one tourist destination, yet without eliminating or overlapping their identities, whether towns or shrines. On the contrary, we tried to emphasize each difference and potential among them. This book is a landmarking accomplishment to ensure the "Entre Serras - da Piedade ao Caraça"' continuity, but there is still much to be done. After seven years, the time has come to evaluate, rethink, and create paths to reach new places so that this itinerary might last for more 10, 20, and 30 years. I am not proposing any change in what had been done, but I am suspicious of those who do not look back when moving forward. The two largest sanctuaries in the territory prove me right since they do not waste time with deconstruction
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attempts but always build upon the foundation of what has already been done well, inserting some contemporary concepts on the same historical basis. All over the territory, the foundations were well-built, so strongly to carry the region much further. During these seven years of "Entre Serras", the "Entre Serras' Artisan Minas Cheese" was born, bringing forth several cheese-related tourist circuits, events, and publications with it. Business opportunities were created, and territorial unity was formed, respecting and honoring the culture and people. Along with the sanctuaries, each city did its best and was rewarded for its efforts; the heritage is better preserved, and several tourist attractions were inaugurated. The "Entre Serras'' lifestyle was uplifted. New products have emerged. Education initiatives have been reinforced through qualification and training courses that promote and enhances the local culture. It is a driving force for tourist experiences, whether in religious or rural tourism, adventure sports, well-being and contemplation, bird watching, events, gastronomy, and other prospects that might arise in a territory as complete such as this. Let us not forget our primary commitment to preserving our people, to protect Minas Gerais' history; that must be the "Entre Serras" motto. This territory holds the fundamentals of Minas' origins, gold mines, the first school, and cuisine. Regarding the latter, the syntheses of its methods are embodied by the Sanctuary of Caraça. With its nine aspects related to local food production - called the "Nine Pillars'', the sanctuary demonstrates how Minas' cuisine integrates the backyard, the kitchen, and the table. While looking at these nine pillars, we can see beyond the past. The Senac [National Commercial Training Center], in a partnership with the Sanctuary of Caraça, transformed these Minas' riches into a culinary development program called Primórdios da Cozinha Mineira [Minas Cuisine Ancient Ways]. It is a regional gastronomic project aiming to reproduce how our ancestors developed Minas' cuisine. We need to recreate our cooking techniques to ensure that they will still be applied in the future. Its great richness allows us this kind of freedom, even though much had been left on the sidelines. Symbolically, one might think that it is just a matter of going back in time to retrieve it. Like happened with Friar Rosário's Cheese, Artisanal Minas Cheese from "Entre Serras", Caeté's Big Cheese, Caraça's Hydromel, Catas Altas' Cabinet Pudding, Barão de Cocais' ancient flours and others. Nowadays, the "Nine Pillars'' studying led to the emergence of a new production chain in Minas Gerais, representing the unique way that Minas'inhabitants relate to their cuisine.
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This new productive chain includes some traditional activities that were almost invisible and kept within our families. Such as types of vegetables and fruits present in Minas Gerais' backyards since ancient days, sweets and delicacies have officially acknowledged as typical products of Minas Gerais, like a gift for its 300 years (celebrated in 2020). Following the Sanctuary of Caraça's model, with its kitchen garden, orchard, candy shop, and bakery (quitanderia) [where the delicacies are made], the Minas' identity has been recognized and represented along the state's production chain. Moreover, in every production step, the handmade products have earned their place side by side with the industrialized ones. A remarkable accomplishment for Minas' cuisine that today has an official mechanism recognized by the state to create public policies to favor the familiar and artisanal products. All these initiatives are somehow contributions from the "Entre Serras" to Minas Gerais, as expected from a territory that had been through several pivotal events. As the state's borders definition, its economy, education, politics, and food culture; facts that do not belong to only the past, but they continue to happen until now, and everyone needs to hear about them! More than ever, this decisive moment requires from us a collective effort to combine this richness with new projects and effective public policies that might lead our territory further. We need to be innovative too, applying technological and new solutions on a large scale to complement what the region already has and help us offer an exceptional service, full of new details, and counting on the diligence and simplicity ever kept in the "Entre Serras". Provoke change without changing: this is a challenge that, above all, needs to be sensible about the local lifestyle always working in favor of the "Entre Serras" inhabitants. May this innovation come up vibrantly. May it be bold and proper to facilitate and promote a type of development that respects what has been generating so much value and been preserved with so much effort: the "Entre Serras - da Piedade ao Caraça" itself. To re-evaluate a project such as the "Entre Serras", we must have in mind what will be necessary for the long term but currently we have to handle with. What was previously seen as hurriedness, this notion became evident in 2020, when we have seen how vulnerable we are in anticipate what might happen in the face of the unexpected changes that the human being will always be susceptible to. Time continues to be the most valuable resource for humankind, getting amplified when connected to faith, work, and unity.
The pandemic that started in 2020, when Minas Gerais turned 300 years old, has instigated many experts to look for new ways of understanding and learning paths. One of these studies caught my attention, mainly due to its proximity to the concept we address in this book. The Cathedral Theory, by the Australian philosopher Roman Krznarick, enlightens more about what we might miss when focusing solely on here and now. The idea concentrates on developing new technological cycles, and how we perceive these changes is not what matters as far as living beings are concerned. During his reflection, we are led to ask ourselves: What should we learn from the year 2020 to be further applied in the 21st-century reality? What does the construction of cathedrals have to do with all of it? The answer is: not everything has to be immediate; we should give time to time so that it might work its wonders. One might not build a cathedral "in the blink of an eye". If this were so, its highest purpose would be denied: to overcome time itself; to achieve that, it must live with and learn from it. A cathedral is built to be a landmark through centuries on, marking the local history. Krznarick mentions some cathedrals that took 900 years to be finished. Have they become outdated? Never! They have an unparalleled value, becoming much more significant because of it. We cannot forget these pieces of wisdom: construction and persistence; they should be clearly remembered during any further planning. The world has unlearned about long-term plans. Today, trending does not usually consider past experiences or those that come from the core. Yet, the "Entre Serras" has enough background knowledge to proceed differently. Everything must be thoroughly thought and evaluated, avoiding shortcuts and standardized solutions. The construction has to be continuous, reflecting ourselves, our strengths, and weaknesses, leading us to comprehend that God has made us unique beings, not global or isolated. Moreover, we still need to be conscious to impartially select to act up so one might grow along with each other. Nowadays, what might strike everyone's attention? Indeed, the things that are not global but have the globalized quality of being recognized for their excellence worldwide. Do you want an example? We have plenty in "Entre Serras'', but I chose a globalized product to illustrate my point. This list was sent to me by a former student of Caraça, Mr. Rodolfo Baptista Abreu. The article was published in the newspaper Voz do Caraça [Caraça's Voice] (2020), written by Francisco José Emery Quites. Father Lauro Palú, Director of the Sanctuary of Caraça, gives us some fascinating data to be reflected upon, so we might grasp what these facts mean:
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I started taking notes in 2015. In 2015 visitors from 52 different countries visited Caraça, in 2016 also from 52 countries. In 2017 there were 50 countries represented. In 2018 the same 50 countries. An annual average of 51 countries. It is the list of the 85 countries from where some of our visitors came for the last four years, grouped by continents: 29 were European: Germany, Andorra, Austria, Belgium, Bulgaria, Denmark, Donostia (Basque Country), Scotland, Slovakia, Spain, Estonia, Finland, France, Greece, Holland, England, Ireland, Northern Ireland, Italy, Luxembourg, Norway, Wales, Poland Portugal, Romania, Russia, Sweden, Switzerland, and Ukraine. 24 were American: Argentina, Bolivia, Brazil, Canada, Chile, El Salvador, United States, Guadeloupe, Guyana, French Guiana, Haiti, Honduras and Mexico, Nicaragua and Panama, Paraguay, Peru and Puerto Rico, Dominican Republic, Uruguay, and Venezuela. 17 were Asian: Armenia, Kazakhstan, China, South Korea, Philippines, India, Indonesia, Iraq, Israel, Japan, Lebanon, Malaysia, Kyrgyzstan, Syria, Thailand, Taiwan, and East Timor. 12 were African: South Africa, Angola, Cape Verde, Congo, Ivory Coast, Egypt, GuineaBissau, Madagascar, Mozambique, Kenya, Democratic Republic of Congo, and Tunisia. 03 were Oceanian: Australia, New Zealand, and Tahiti (French Polynesia)." So? This list summarizes our long-term goal. It is a long list, isn't it? But it reveals how feasible our plan is. We need to unite ourselves even more, to find out how to reproduce something similar. We have already managed to create "Entre Serras" - and how many people had said it was not possible? We are stepping on the land of faith; we are going to make it! We will raise a type of tourism that effectively gathers religion, nature, biodiversity, health, well-being, sustainability, cultural memory, and cuisine. A genuine example of that Minas Gerais has many of the things that the world is asking for currently. Here is the book that will inaugurate this new trail, taking the "Entre Serras" worldwide through its magnificent images, showing the beauty of a nature that can be only found there, along with its ever-present people. The writing describes a deep understanding of habits, interests, talents, and each city's character. As mentioned initially,
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the book does not want to superficially depict the territory but to distinctively present its beauty, value, and contemporaneity through a particular perspective. More people will look at these lands this way and choose to know and preserve them. To reach this purpose, it is necessary that each of us become increasingly aware of the territory behind it, perpetuating it. Thus, we might achieve superior results in the tourist sector and other areas, promoting social, economic, and human development. This book aims to recognize and inspire the territory to deepen its knowledge about itself: a land that lies between two of the largest sanctuaries in the country, well-known worldwide; next to a world heritage site: Ouro Preto; next to the first town in Minas Gerais: Mariana; next to the Serra da Piedade: the cradle of Minas Gerais' religiosity. The territory is the intersection of the four directions of Minas Gerais' compass, where the state has begun: part of the Iron Quadrangle, one of the six world's most significant mineral production. It is a territory with singular human characters that participated in Minas' and Brazil's history. That is what it truly is, and we must not forget these facts, not to flatter ourselves over them, but to perpetuate and teach them! The society and lifestyle existing in "Entre Serras'' can become a role model if the tourist experiences inside the territory get improved repeatedly, always valuing its natural assets: the individual and his physical, mental, natural, and spiritual wholesomeness. Its aroma should be experienced and appreciated by all. Let it be the way to spread learning, health, joy, faith, beauty, and peace for those who come to visit it. Indeed, that is a feeling that can last forever!
St. John Festival Photograph by Emerson
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WHERE THE “ENTRE SERRAS” IS BORN
An old saying tells us: “it is only possible to know truly a place if you visit its highest land, talk to its eldest resident, and try its most emblematic food.”. I believe this is true. But, likewise, I acknowledge the challenge that is following these steps. Minas Gerais makes me think that way. There are hundreds of ridges to get to know in Minas Gerais’ highlands, or rather, there are entire mountain ranges, one after the other, unveiling themselves on the skyline. Among these ridges, hundred-year-old pieces of wisdom are kept in the simplicity found amid residents of small villages, cities, and the countryside. As for the cuisine, we assure you the same problem will arise. Surrounded by Minas Gerais’ mountains, there are countless numbers of delicious foods enticing us to savor them endlessly. In other words, getting to know Minas Gerais at a deeper level might as well be a nearly intangible task, even for the greatest enthusiast amongst the Mineiros locals themselves! However, to get to know Minas Gerais, there are more uncomplicated ways than the one taught in that saying, or rather, there are some shortcuts. They might lead us to that place just around the corner... as the mineiros locals say, where you want to arrive - indeed, it is not even close. The first piece of advice is simple: start from the beginning! That is precisely where we will start off! We will begin at the geological formation and position of the ridges constituting the “Entre Serras - da Piedade ao Caraça” territory. First of all, let’s think about all the years dating back to these ridges’ origins. It is hard to imagine this period with our limited capacity for visualizing time at such extensive length. But the
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events might get slightly more factual when we look at the archaeological sites in these territories, such as Pedra Pintada, in Barão de Cocais, and some other ones existing in the "Entre Serras". They were cited and studied as routes used for subsistence and transit during the Nomadic period when the American man lived off the land! These prehistoric trails were essential to the native species' migratory characteristics, especially concerning the plants, which benefited the most from this kind of species distribution. And that connects this territory to the beginning of the very human existence there, around 8 million years ago. This ancestral culture certainly reached us through the Cataguases’ hinterland natives. Even though these remains had not been ideally preserved, we cannot deny that much of the Minas’ culture and these wisdoms have intertwined throughout time. It is difficult, though, to translate the timeline of these ridges to the realistically human concept of time. The number of years behind these remote morphological landforms is astronomical: 40 millions! There is an easier way to comprehend these millions of years, considering our narrowly realistic notion of what has passed. Just think about the series of unfathomable events that had to occur so that these uplands could exist nowadays. Undoubtedly, far more than a 40-million-yearold incredible sequence of events had to happen so that we could have such completely fantastic rock formations as the Minas’ ridges on Earth. Their rocks seem alive somehow, increasing and reducing their sizes. They might as well have been a sea that has dried up, has disintegrated, has turned into dust, or just remained there for eons. But what is certain is that they are alive and full of life, like caring mothers spreading liveliness all over the place. They are like channels linking sky and earth, bringing freshness, moisture, water, and heat, representing the sound of life echoing around the earth. These millenary events inserted the ridges from “Entre Serras'' into a mountain chain called Serra do Espinhaço [Espinhaço Mountains], which, as its name suggests, can be considered as the spine of Brazil, an elongated rock formation transversing the states of Bahia and Minas Gerais. The only mountain range in the entire country, one of the walls surrounding the state of Minas. They are the main responsible for what became a useful trail for humans and animals since prehistory, thanks to its particular format that ensured food, water, and safety to travelers from the Northeast to Southeast of Brazil. The prehistoric man incorporated this area while searching for the essentials for his survival. Nowadays, the Serra do Espinhaço continues to be a road, not for the prehistoric man, but rather, among other things,
its unique biodiversity, vital to our biosphere; therefore, a Biosphere Reserve. This status was designated by the United Nations Educational, Scientific, and Cultural Organization, recognizing the zone as one of the world’s most diverse under biological, geomorphological, historical, and cultural contexts, thus participating in an internationally coordinated cooperative effort to protect its biodiversity. "Entre Serras - da Piedade ao Caraça", whose title pays tribute to a couple of mountains ranges, was given that name in 2010 by Minas Gerais government's tourism promotion program called "Viver a Estrada Real" [Living the Royal Road]. It aimed at popularizing tourist destinations surrounded by those emblematic mountain ranges: Serra da Piedade and Serra do Caraça, which today accommodate two religious sanctuaries, natural reserves, and tourist and natural preservation complexes. This highland has a special vocation for peculiar tourist activities - since its impressive nature provides the suitable condition for sports practices, hiking, and waterfalls bathing. Moreover, the natural, healthy, typical foods might nourish one’s physical health; the sanctuaries and its religiousness, as well as the contemplative landscapes, might nourish one's spirituality. The well-preserved artistic and cultural heritage, like music, dancing, folklore, and photography, along with its quality education, and enormous potential to be a subject for scientific investigation, or only as an object of contemplation due to the architectural heritage in its landmarks, might nourish one’s mental capacity. We find all of these in the itinerary. This multifaceted tourist experience sees the man as a wholesome, integral, indivisible being. But these tourist destinations are not the only ones constituting the mountain ridges. Besides those naming this book, there are many more, as the Serra do Gandarela, which became the Serra do Gandarela National Park in 2014. It bounds two of the cities that integrate the “Entre Serras”: Caeté and Santa Bárbara. The national park has other uniquely beautiful mountainous regions and important rivers. The vegetation is composed of a significant area of the Atlantic Forest, occasionally covered by Cerrado and Rupestrian Fields. Serra do Gandarela National Park is essential for preserving the surrounding water bodies, mainly because of its extensive recharge areas. Throughout them, creeks and rivers run to the Doce and Das Velhas river basins, extremely relevant to the Belo Horizonte Metropolitan Region water supply system. Gandarela also has spectacularly beautiful waterfalls, which provide awesome experiences to visitors and nature lovers.
Another one from the “Entre Serras” tourist complex is the Serra do Cambota, situated in the Serra do Garimpo, which also belongs to the Espinhaço Mountain Range. This ridge is predominantly formed of rocks like gneiss and granite. The vegetation mainly consisted of Rupestrian Fields, hundred-year-old flowers, like the one called Canela de Ema (Vellozia squamata), along with rivers and waterfalls forming the Piracicaba River and Das Velhas River basins. Its endemic animals and flowers will be further discussed by an expert with plenty of knowledge about them: Father Lauro Palú, Caraça sanctuary’s General Director, who wrote the chapter on Caraça in this book. Both Serra do Cambota, in Barão de Cocais, and Serra do Gandarela, in Caeté, in addition to Serra do Caraça and Serra da Piedade, constitute the “Entre Serras" primary series of ridges. The region includes four cities: Caeté, Barão de Cocais, Catas Altas, and Santa Bárbara. Along with other landforms, this set constitutes a great area because of its geology and morphology, not to mention various biomes, important river basins, stunning waterfalls, nature reserves, and protected parks. The is a place capable of surprising anyone with its uncommon beauty composed of rich fauna and flora and abundant culture and history. In addition to having these noticeable ridges and being located in the historical trail connecting the earliest settlements on the northeast, southeast, and south parts of Brazil, the “Entre Serras” has another particularity. It was the pioneering goldmining region in Minas Gerais. It has become a memorial and a cultural center related to the state's society, economy, and culture, standing as a historical and archaeological site in such good condition as to elucidate the human and economic facts that resulted in the cultural development of Minas Gerais. Among other enabling factors, this cultural diffusion, that started with its pioneering gold mining activities, and continued even after it, was its geographic location. This factor led the region to become strategically traversed by important routes connecting Minas Gerais to other parts, in and out of the state. The landscape of “Entre Serras - da Piedade ao Caraça” is a point of reference for locating early mining areas being crucial for putting together this diversely exciting puzzle that is the state of Minas Gerais. The observance of Minas’ traditions preserved the territory taking into account the absence of luxury found in their inhabitants’ simplicity. Their towns have held an unprecedented position in the history of the state and the country, which marked the beginning of the economic, commercial, political, and
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educational role of Minas Gerais. This situation was envisioned when the region, in 1709, witnessed a battle between São Paulo inhabitants and locals, the bloody “Guerra do Emboabas”. Originating in Caeté, at the foothills of the Serra da Piedade, these circumstances resulted in the creation of the Capitania de Minas Gerais, in 1720, after its dismemberment from the Capitania de São Paulo and Minas de Ouro. “Entre Serras - do Piedade ao Caraça”, like most cities, started with the foundation of some villages that eventually originated four cities: Catas Altas (Catas Altas de Mato Dentro,1703), Santa Bárbara (Arraial de Santo Antônio do Ribeirão Santa Bárbara,1704), Barão de Cocais (São João do Presídio do Morro Grande,1704), Caeté (Vila Nova da Rainha, 1714), listed in chronological order. The same cities are currently part of the “Iron Quadrangle'', a valuable area with one of the most extensive iron ore deposits in the world and where a considerable amount of gold is still being extracted. Primarily recognized by its mineral resources, the region is intrinsically related to Minas Gerais’ official emergence as a state due to its environmental constraints, political relevance, and economic potential. The territory has been currently consolidating itself through other economic activities aside from mining, such as tourism. The “Entre Serras'' was described distinctively by the early foreign travelers and naturalists who have visited these lands during the 18th and 19th centuries. They wrote detailed registers about the geological and mineral riches, animal and plant specimens, and economic potential. Aside from these shreds of evidence, some other subtle characteristics, but no less evident, instigated and were adequately described as such. It is important to note that the word lifestyle means diet in Greek language. There is an indefinable quality that permeates the local eating habits, setting Minas’ lifestyle (diet) apart from other places in Brazil from the visitors' perspective. As if they could experience, somehow, some uniquely distinctive singularities that only exist in such a place. For instance, there is the widely known regional hospitality, since ancient times, portrayed by visitors as an aspect of the local character; besides, there are the typical foods, such as yam bread, cheese bread, dumplings, and other delicacies. The fact that the land was both a prehistoric trail and a road connection for many Brazilian regions is not the only reason to reinforce the innate inhabitants' talent to welcome visitors. Among many others, the gold discovery period resulted in continuous contact with foreigners. Even now, it is an economic and tourist corridor in
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which it is possible to notice the pure and simple hospitality toward the ones who visit Minas’ lands. It is intriguing to think how the hospitality and other natural features make pace this place a pleasant land for tourists. Firstly, there is its climate, fresh and humid, sunny days, and fresh breezes at night, as an invitation to rest. The ridges also provide a mysterious atmosphere to the territory, yet to reveal itself completely. These highlands’ geography introduces a landscape that, even nearby it, has separate locations, with a certain degree of isolation from populated towns, providing some welcomed privacy and intimacy that are ideal for tourism and periods of resting. Another aspect that we observe in landforms like ridges is an eagerness to overcome challenges, like adventure sports. Some of them are practiced in Barão de Cocais, a city that hosts international events such as these. Perhaps this daring notion reinforces the occupational trends in highlands challenging the human perception of their strength and capability. Strategy-wise, these regions are advantageous, especially for protection purposes during the Middle Ages. These areas also provide the convenience of seeing further around, enabling one to easily share what is important to be shared or protect what it is not. These ridges naturally do all this through the Laws of Nature, such as gravity. The energy flowing throughout this place might somehow explain the existence of religious sanctuaries in “Entre Serras”. This sensation is perceived by those visiting the territory who feel the powerful energy that emanates from the ridges! Mainly, the ones in this work’s title: Serra da Piedade and Serra do Caraça, which transmit religiousness, culture, simplicity, and hospitality. Both sanctuaries welcome more than 700 thousand of tourists a year, according to records, in 2019. D. Walmor de Oliveira Azevedo, Metropolitan Archbishop of Belo Horizonte, once told me: “The man needs to see the beauty to become beautiful!”. In “Entre Serras”, the ridges had strongly influenced the territorial formation since the very beginning, when they acted as a reference for the gold-mining areas as well as a fortress to protect gold reserves. A chronicle marked by its rocks’ morphology causing some critical events that changed the course of its history, as Tambasco tell us about Serra da Piedade: Through a very characteristically orogenic process, their rocks were formed from the metamorphic change of quartz grains and chemical precipitations of concentrated solutions of iron salts over them; assembling alternate layers of various thicknesses which resulted
in a widely varied proportion of quartz to iron dioxide (in the mineral form of hematite).” (2010, p. 21). These geological structures constitute many other iron ore mountains in “Entre Serras”, particularly the massif of the Serra da Piedade. With certain features, this mineral-rich landmass is formed of thin, parallel layers of shiny grey ore that distinguished the Serra da Piedade from other landforms during the 17th century. Its surrounding conical hill is why it was perceived as a silver mountain, like the Potosí, a ridge with high silver content ore and high productivity levels in Bolivia. Besides its conical shape, the Serra da Piedade’s massif is mostly composed of compact hematite, with color and luster like silver. This metallic brightness is mainly seen on the Serra da Piedade’s rocky walls near Ravena district (Sabará). The bright grey impressed and attracted the bandeirantes [explorers]. Sabarabuçu, an indigenous word meaning “resplendent ridge”, was the name by which the Serra da Piedade was called when it was first discovered. Other ridges were called Sabarabuçu, many of them belonged to the Espinhaço Mountains and were mistaken by it. However, Serra da Piedade took this role, not because of the silver, neither the emeralds deposits, which were avidly searched by the bandeirante Fernão Dias Paes Leme, and many others, but rather the discovery of gold mines at the foothills of the ridge. The Sabará city was named after the abbreviation of Sabarabuçu, the resplendent ridge, like the natives called it! Sabarabuçu was the starting point, the gate through time to the “Entre Serras” entrance. Through it, the history of the territory fuses with the history of Minas Gerais. The Serra da Piedade was a part of it during various ages, assuming different names according to its territorial function. Firstly, it was Sabarabuçu (the point of arrival to gold-mining areas); then it was named Penedia (indicating the place where goods were exchanged, in Caeté), or simply Penha, which is directly related to the word cliff (penedia), a rocky crag formed of pure compact hematite on the south-facing slopes that attracted the explorer’s attention. Finally, the ridge has also become the house of the Sanctuary of Our Lady of Sorrows, a path of faith and religious route, which will be discussed in detail later, like all the other trails that this ridge encloses in “Entre Serras”. Even after discovering gold-mining areas in Cataguases’ hinterlands, Minas Gerais did not exist in the legal sense yet. The officialization only happened when some realized that the land could become one of the world’s gest mining regions. Previously, the area was aimlessly adrift without
any efficient administration that could recognize its potentially productive minesoils. Lawlessly, the region, known as Capitania de São Paulo and Minas de Ouro, was consistently plundered by the Portuguese Crown administration. For many years, the land trails were merely acknowledged as random spots, reference points, which is explained by the desire to avoid the spread of the gold mines’ location. Even after taking some extra precautions, the Portuguese Crown was forced to admit the existence of these great riches since they could not hide their place anymore. In 1690, the discovery of gold was officially recognized, and Minas had its first map drawn formally in 1705. And there it was, in all its dazzling simple glory, the Minas de Ouro’s principal landmark, down in the hinterland: the Serra da Piedade! In addition to Serra da Piedade’s initial contribution to the “Entre Serras" and its distinctive quality to orientate people towards the mining area, another historical reference emerged during this period. Promoting the trade of foods and goods, in general, the city of Caeté had the appropriate natural configuration as to concentrate types of businesses dedicated to supplying the land of gold and diamond! The tropeiros [muleteers] were responsible for the trading, many of them came from the Northeast, others from São Paulo, Rio de Janeiro, and Espírito Santo - yes, indeed! They traveled through the almost-unknown roads enclosing the Estrada Real, connected to cattle trails (from Bahia to Minas) where groups of tropeiros transited. It was called, at that time, “Estrada D. Pedro de Alcântara”. It would be easy to discuss just the commercial development brought by the muleteers’ activities to these mining areas. In fact, in the territorial context, it is vital to understand the diverse paths that embody the construction of what we defined as mineiridade [the character of Minas Gerais' inhabitants]. In “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, we believe that this character was born with the emergence of the state and its way of life, constantly developing with it, and becoming actual in every time and period throughout the history of Minas Gerais. These ridges witnessed unimaginable events, some of them - at least the few that we know - must be registered and retold by those who never fail to remember its relevance. These mountains will never forget their past, revealed, or not, in their weathering features that, when examined by experts, can describe in detail the life story of each rock that constitutes the ridges. People must also tell their stories, especially those living nearby each of these places, so we might register their way of assessing situations to avoid
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the unpredictability of life. That being said, let’s return to the emergence of trade in the “Entre Serras”, a primary activity in a passageway such as this one! To understand the dimension of this trade route, let's reveal a curious fact that shows the impact of the gold rush and trading activity in the “Entre Serras'' and its capacity to shorten distances, scarcely imagined being accessible at that time. In order to grasp the extent of these terrestrial distances, let's go to South America, specifically to the silver mountain, the one called Postosí, in Bolivia. It was "Entre Serras” [Among the Ridges], in this South American mountain, that silver was extracted by Spaniards and processed there until it becomes a finished product. In the heart of this mining region, the metal reached its apogee. Here, the silver arrived from the cold valleys of South America, brought by mules and donkeys, originated in the Jesuit reduction of Sacramento in Uruguay. From there, it followed through the state of Rio Grande do Sul, until the cities of Sorocaba and Taubaté, in São Paulo. Then it finally reached the Caminho Velho [Gold Path] via Estrada Real [Real Road], crossing the Serra da Mantiqueira until the mining region at the foothills of the Serra da Piedade, in “Entre Serras'', where they eventually stopped. The animals, representing the time’s rustic opulence, arrived in the region carrying loads of precious metal. Tons of silver pieces ornamenting them. The metal was exchanged for pure gold in the mining region linking South America to Minas Gerais on the back of pack animals brought from Spain to the Río del Prata province. These equines were adorned sumptuously with silver accessories and ornaments and embellished with the elegant Coats of Arms of Spain, luxurious symbols, saddles, and harnesses, glowing under the sunshine. Accompanied by the sound of bells, they announced the arrival of groups of tropeiros, demonstrating all the luxury and importance of both the animal and the profession. These comings and goings kept the gold richness circulating all over Brazil, ensuring food supplies, especially the salt, essential for the mining regions’ survival. Just as the silver from Potosí, which had to travel long distances, other goods coming from different regions flowed through various stopping points for tropeiros and cattlemen. Some of those were strategically positioned, such as the markets in Taubaté and Sorocaba, in São Paulo, Parati, in Rio de Janeiro, and others in the north and east of Minas Gerais. In the mining area, there was a place where people coming from trails in Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, and Espírito Santo crossed each other, an intersection that facilitate various exchanges of goods from several places.
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The crossroad was also characterized by the Serra da Piedade. A “dense forest” surrounded the region, the meaning of Tupi word “Caeté”, which was initially named as “Vila da Rainha” (1714), a mining city in the hinterland. A place for exchanging, bartering, and trading, where the food flowed under the metallic luster of the Latin American silver, riding in mules and donkeys, to other surrounding destinations, such as the markets in Diamantina, Ouro Preto, and Mariana. Back then, the price of hunger was too high; food valued as much as gold and moved a millionaire trade market. Some food items cost more than gold in several of those years, explained by the demanding travels. The journeys were so long that some said that the food was figuratively turned into pure gold, as Debret portrayed in his painting “Comércio de gêneros aos pés da Serra da Piedade'' [Trade of Goods at the Foothills of the Serra da Piedade]. Thus, the tradition of ornamenting mules with silver pieces gets more understandable since it practically recognizes the value and importance of these animals and their herders during the rustic Colonial period in Minas Gerais. The Bolivian silver being transformed into gold was undoubtedly one of the elements that create the legendary image of the tropeiro [muleteer] as the ones who explore and transmit culture, leaving their marks in the “Entre Serras'' and all over Minas Gerais! This first moment of the gold-mining culture, of which the “Entre Serras'' is an important witness, changed some Brazilian society’s paradigms of that time. A fine example that we can discuss is the shift in the relation between the enslaved people and their masters. I am not saying that there was a reduction in the violence perpetrated, but rather a differentiated living arrangement than other territories in Brazil. In the Northeast, the existence of large plantations led to an actual distancing between the master and the enslaved; in the mining region, the opposite happened. There, the relation between master and enslaved was closer since they worked together in the gold mines. Besides, the reduced number of enslaved people that could be own by each master increased the possibility of the enslaveds purchasing their freedom. Also, the enslaved people could extract gold for themselves on some holy days; if they were lucky, they could buy their manumission, which was not uncommon back then, not to mention that this mining region assembled the largest number of enslaved people of this period. All these events caused a cultural exchange and a significant African impact on Minas Gerais’ culture. These circumstances, among other things, resulted in the arousal of a mixed language and influenced the regional cuisine and arts of the “Entre Serras”
area in a very particular way. This heritage will be further discussed when each city’s cultural differences in the territory will be detailed. Another factor that characterizes a typical Mineiro [local] is the Portuguese heritage directly connected to the regional religious habits. In this regard, the people living in the “Entre Serras - da Piedade ao Caraça” have a particularity that sets this region apart from the rest of the state: the Portuguese people established two of the world’s largest religious sanctuaries. Besides the Sacral heritage of these Catholic monuments, wonderful Baroque churches promote spirituality still living in the territory today. Starting with the Serra da Piedade, the ridge’s spiritual vocation consolidates it as the sanctuary of the patroness saint of Minas Gerais: Our Lady of Sorrows. Through their spiritual and religious calling, the Serra da Piedade and Serra do Caraça meet each other under the sky of the “Entre Serras”' territory. This encounter, legendary or not, binds these two frontiers together: the Sanctuary of Caraça and the Sanctuary of Piedade. Curiously, both ridges, Piedade and Caraça, are intimately connected through their sanctuaries. It is possible that they were like that even before their foundation as religious institutions, a fact that had been described by many and will be discussed later. Both sanctuaries are said to have been established by two Portuguese men, ardent, devout Catholics, that had met each other in “Entre Serras”. Even though they had different professions and backgrounds, they had the same devotion to Our Lady. Under Her name, one day, they came together; on the other, they parted aways to establish, separately, each one of the mentioned sanctuaries. These men were Antonio Francisco, known as Bracarena, the founder of the Sanctuary of Serra da Piedade, and Brother Lourenço de Nossa Senhora, the founder of the Sanctuary of Caraça. The first phase of alluvial gold mining was very intense, but it did not last for long, less than one hundred years. This event resulted in the rapid decline of the territory. In 1816, Saint-Hillaire, a French naturalist, described some cities in the “Entre Serras”, such as Santa Bárbara and Catas Altas, as ghost towns, abandoned cities, since their populations had few options of a livelihood. Without any gold piece, those who stayed behind had to earn a living working in smallholdings, small sugarcane, and cachaça [destilled spirit made from sugarcane juice] mills, and small farms, producing cassava, bean, and cheese. At the time, the region also had differentiated productions, like black tea, in Caeté, and castor bean oil, for lighting purposes. This moment of crisis provided many revenues to
some successful miners, such as the Portuguese Brother Lourenço de Nossa Senhora, who got rich with the exploration of diamonds in Diamantina and came to the “Entre Serras” searching for a place to build a temple for Our Lady. The narratives described his encounter with another Portuguese man, Bracarena, a builder, in the Sabará district of Ravena. At this time, the Serra da Piedade was called Penedia. The ridge was the right place to accomplish what the Brother intended. Bracarena was a professional capable of constructing the temple since he had done it before, in Caeté's matrix church construction. Brother Lourenço adopted this name when he created a religious order in accordance with his devotions; probably, he had to hide his given name to protect himself, but this will not be discussed further here. The fact is that the construction was given to a Portuguese builder living in Caeté, called Bracarena, a reference to his native place in Portugal. Bother Lourenço de Nossa Senhora, who provided the funds, was also Portuguese, but his specific origin is unknown. However, according to other narratives, the Serra da Piedade did not have water on its summit, which turned Brother Lourenço’s intention into an impossible dream. For this reason, Brother Lourenço permitted the beginning of the construction in a lower region of the ridge, currently named Cavalhadas. They probably could have access to a water supply, which was necessary to build the structures. Nevertheless, the builder Bracarena disagreed with that and decided to continue constructing the building in the Serra da Piedade (Penedia), obtaining the Bishop of Marianas authorization to collect charitable donations to finance it. So, Brother Lourenço transferred his project to the Serra do Caraça, whose comes from its format that is similar to an enormous face profile (caraça) like a giant was laying down on the Espinhaço Mountains. There, in 1774, he established a lodging, which was named Hospício Nossa Senhora Mãe dos Homens. The Caraça, on the other side of the “Entre Serras”, marked another period for Minas Gerais. As the alluvial gold-mining activities declined and its impacts, it was necessary to control the people’s emigration from the region. In 1820, the Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens in the Serra do Caraça was extinguished, and in its place, the Colégio do Caraça was created. This creation brought to Minas the significantly beautiful results that only education can provide. Thus, the territory got blessed not only with one, but two sanctuaries becoming a landmark in Brazil and, as time went by, also abroad. That is how the “Entre Serras'' was born: 40 million years ago, the ridges were formed; 8 million years ago, safe routes were developed for
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humans within the Brazilian territory; at the end of the 17th century, roads like Caminho dos Currais and Serra da Mantiqueira were designed; as of 1690, the discovery of gold officially recognized its influential characteristics; in 1720, it had become the cradle of the state of Minas Gerais. Through the sanctuaries of Piedade and Caraça, the already born “Entre Serras” territory has born again, over, and over, for more than three centuries. This land faced significant economic changes, from the dense forest to wealth, from the loss, hunger, and struggles to joy and prosperity. It is a territory that remains connecting routes, not only the economic ones but also the adventurous and religious. For instance, the Caminho CRER (Caminho Religioso da Estrada Real) [Religious Route of the Royal Road] connects the Patroness Saint of Minas to the city of Aparecida do Norte, the home of the Patroness Saint of Brazil. Among the contrasting perspectives of everyday life, between the viability of mining activities and the ridges preservation, it continues to progressively follow its calling, which originated millions of years ago. The history and hospitality are being kept there. In the “Entre Serras - from Piedade to Caraça'' on the shape of tourism!
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MIRACULOUS RIDGE
From 1554 to 1675, there were more than twenty exploratory expeditions through the hinterlands of Bahia, Espírito Santo, and São Paulo, not to mention the first one that happened in 1531… departing from the Rio de Janeiro, they established the route through the Garganta do Embaú [a deep cut in the mountain range]; the destination of all these expeditions was a remote hinterland in the current state of Minas Gerais. There, they believed that they would find the Sabarabuçu”. (TAMBASCO, 2010, p. 26). All creations in nature are divine. But some places are so unique that distinguished people are especially destined to them; thus, all the greatness of their physical space becomes true, fulfilling its destiny. I believe that! More than a belief, I have experienced it firsthand during the years that I lived in the sanctuary of the Serra da Piedade. As I say, this spot is one of those, representing the general impression of the ones that are, in a certain way, familiar with this sacred place. This aspect has been already professed in the inscription engraved in its entrance when, in 2010, I arrived there to perform a task that lasted three years, some relishing learning years: “Take off your sandals, for the place where you are standing is Holy Ground!” Symbolically, that's what I do. I respectfully take off my sandals to speak about the Serra da Piedade, a sacred place for Minas’ inhabitants. The house of the Mother, the Patroness of Minas Gerais, Our Lady of Sorrows. "Magnificently Divine Architecture", in Dom João de Resende Costa words. “A place where the man learns how to see the beauty, to become beautiful!” like said Dom Walmor de Oliveira Azevedo, the Metropolitan Archbishop of Belo Horizonte.
The Serra da Piedade was born under the light of faith, hope, and rebirth, performing a particular role for Minas Gerais. Initially, as a reference for the mining region. Secondly, it assumed a position as the spiritual support to the society when the alluvial gold mining was abruptly exhausted, leaving a land full of hunger and misery. The abolition process worsened the situation; without any anticipation, it left thousands of workers unemployed, struggling to find another means of survival. These people were at the mercy of chance, in a territory that did not have the economic resources and, at that time, could not employ all of them. Outrage, sadness, and poverty ravaged the “Entre Serras” and the entire mining region during that period, at the end of the 18th century. As embodied in the Serra da Piedade, the faith strengthened the territory’s moral and social reconstruction. After abolishing slavery, Serra da Piedade was remarkable, unnoticed, connected to what happened during times of uncertainty and suffering that hid the true meaning of freedom as proposed in the abolition law. Later, many other challenges had arisen, including the rejection of mining operations, the lack of resources, which has always been an issue to the sanctuary, mainly because the Serra da Piedade was an expensive place to build with high maintenance costs. The climate, topography, and morphology are related to its high-altitude site at 1,746 meters above sea level. The ridge had been through many historical events and building challenges until it finally becomes what it is today, restored and working. It happened due to the Archdiocese of Belo Horizonte’s initiative, which started in 2008, devised by Dom Walmor de Oliveira de Azevedo, his auxiliary bishops, as well as the rectors of the Sanctuary of Our Lady of Sorrows. In 2017, the sanctuary`s 250th anniversary was celebrated; it symbolizes the local faith, an aspect that has been consolidated throughout time. This mission had begun in 1761, when the Bishopric of Mariana authorized Antônio da Silva Bracarena and Manuel Coelho Santiago to build a chapel of devotion for Our Lady of Sorrows, on the highlands, then called Serra do Caithé. In 1960, Our Lady of Sorrows was proclaimed the patroness saint of Minas Gerais. After that, there have been many other recognitions, which we will describe further. These titles entrenched Serra da Piedade and Ermida de Nossa Senhora da Piedade’s historical relevance. The latter is a small chapel at the top of the ridge, in Caeté (MG). Still, it is also a considerable reference
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to Minas Gerais and its inhabitants as a symbol of their spiritual preservation, maintaining their cultural, architectural, and natural heritage. It has been the primary cradle of faith for Minas Gerais inhabitants since the 18th century. Even though its transcending beauty and spirituality make this place a source of natural peace, in real life, the daily toil here is enormous. We will discuss this struggle in some of the following passages, some stories that are rarely told involving many men and women that had passionately dedicated themselves to solve the impasses related to the construction and preservation of the ridge and the sanctuary. For this purpose, many of them dedicated their entire lives to work and find solutions that converted the mountain into what it currently is. As we know, Serra da Piedade’s history began after it was identified as the entrance to the mining region. Several glances were exchanged from the first contact, full of delight and admiration, certain that they were near to the gold of Sertão [hinterland] dos Cataguases! One of these glances significantly changed the history of the current Serra da Piedade. The look of a girl that was mute from birth, a look that had seen all and spoken nothing. Until the moment when she gazed at the Serra da Piedade and, on top, had a vision of Virgin Mary, the Pious Mother, with her son in her arms. From that moment on, the girl was healed and started to talk. This event would be repeated other times, at home, the same girl had these visions when she looked at the ridge. Her house was at a village, named to this day as Penha, in Caeté. The precise date of these events is unclear, but we can infer that news about it circulated between the years 1765 and 1767.” (TAMBASCO, 2010, p. 20). It was a miracle! Even if some do not believe it, others try to explain it based on religious perspectives at that time. That has directly interacted with the eighteenth-century man's mentality, deeply involved with the Middle Ages’ practices that established religion as the primary source of understanding the world. Beyond a shadow of a doubt, Portugal was a vibrant example of this religious legacy observed in its inhabitants’ religiousness and fervent faith. The same notion of faith landed on the Terra de Santa Cruz brought by Cabral’s caravels. If that was a miraculous event or not, it is not essential here. It is not the focus of our discussion, and it is just the beginning of it, the starting point of what happened after it. We will develop our work beginning with this alleged miracle to describe the several others that occurred after this remarkable occasion, which is
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prominent in the writings and narratives about the Sanctuary of Our Lady of Sorrows. Until that situation happened, the Serra da Piedade was only known as Penha, or, like was described in the documentation of the period, as “the Bordering Ridge, the Vila Nova da Rainha do Caethé”. (TAMBASCO, 2010, p.88).
THE SANCTUARY AND ITS BUILDER: THE BRACARENA The one responsible for building a small church on top of the ridge was the Portuguese master-builder Antônio Francisco Barcarena. During that time, he worked constructing Church of Matrice in Caeté, a temple devoted to Our Lady of Bom Sucesso and São Caetano. As far as we know, this is the only work that he has done in Brazil, besides the construction of the Ermida da Serra da Piedade, to which he dedicated all his resources and life. Bracarena came from Portugal, a region named São Pedro de Barcarena, which originated its Brazilian nickname. He was a master builder, a highly valued occupation at that period, carving stones to build various structures. While working in Caeté, he converted to spiritual life probably because the news about the girl’s miracle spread around the region. Maybe that is the reason why he chose Our Lady of Sorrows as the saint to whom he would build a temple. It is vital to notice a curious detail about the story regarding Bracarena and the religious image of Our Lady of Sorrows housed in the Ermida da Serra. Many documentations suggested that the Father of Caeté, Henrique Pereira, requested a Pietá from Portugal. Pietá is the European name to the depiction of Mary with her dead son on her lap. However, in 1990, somebody noticed the mistake during restoration work. The statue is made of a distinct type of 18th-century wood from Minas Gerais. Who was the sculptor of this beautiful piece of art? Bracarena built the Mother Church of Caeté that the Portuguese Manuel Francisco Lisboa designed. Antônio Francisco Lisboa, widely known as “Aleijadinho'', was his son. Back then, he was just an apprentice and spent his teenage years and part of his adult life in Caeté, living with his father. What is most impressive is that the Pietá statue of the Serra da Piedade has not been attributed to him before. The art style, characteristics, proportions, features, and eyeliner shape reveal that it was nothing but Aleijadinho’s oeuvre. This
evidence supports that he was living in Caeté during his apprenticeship to become a master sculptor and worked together with the masterbuilder Bracarena. The realism of the artwork is noticeable, a common characteristic in others of this artist’s crafts. This image was thoroughly depicted in the writings of the traveler Jean de Montlaur who, in 1918, described the Pietá of Serra da Piedade as "the most impressive painting of all''. Let us have in mind that during this specific time, the Serra da Piedade was half-abandoned, lacking maintenance and care. Nevertheless, since its first settlement, the most critical thing is that Serra da Piedade has never deviated from its mission, even in its most challenging times. It has always been a living and working place by its silent devotion: The pale Virgin holds the divine body of Her Son in Her arms nestling Him on Her lap; a pale greenish body, the wounds were there, so let Him be still, full of realism, protruding ribs and relaxed musculature, head down, hands and feet hanging. The Virgin has Her heart stabbed by seven discolored swords, ghostly wearing Her bright garment that sometimes is shadowed by some dark spots spread over Her face and the hands positioned in front of Her, an enormously silent desolation reflected in Her gaze. She does not look at Him but at those who come to find Him. Her eyes reveal an endless sorrow". (MONTLAUR apud. TAMBASCO, 1918, p. 118). This description may seem extremely painful. But I can see the traveler’s sensibility on it unveiling the artist and his oeuvre, which was still unrestored, kept in the past. So, let us imagine a scenario, in the 18th century, when the hike through the steep mountain took some hours, facing rocky terrains, foggy weather, and strong winds. They spent the entire night singing and praying on the corners of the small chapel. Making this journey were ordinary people, mostly blacks; they were enslaved when it first began. In that period, they essentially ate corn couscous and drank coffee; even the water had to be brought to the summit by the devotees, having to do this troublesome task daily. Then they could find comfort in the suffering portrayed by the statue, a glimpse of the divine and the human. The image of Saint Mary with Her son embodied the harshness of their living conditions, viewed from the artist’s perspective, and some centuries later, carefully noticed by the traveler. This statue was restored, and the scene is now more vivid with harmonic colors but by no means less compelling. All over it, the human pain is found in the divine pain, paralleling what happens when these highlands welcome
and comforts the thousands of stories of those who arrive there searching for hope. Encounters, requests, and thanksgiving prayers for the graces achieved invite many generations to visit the ridge’s peak. The burdenless, smooth, and natural environment arranges a meeting between the man and his vulnerable nature and God’s greatness and divinity, the Creator. Some atemporal events and situations have existed in the ridge since the first centuries of Minas Gerais when the Catholic communities firmly held mysticism. However, this passion has continuously been strengthened by the transcendent feeling surrounding the sanctuary.
THE FIRST YEARS OF THE SANCTUARY NOSSA SENHORA DA PIEDADE The Sanctuary Nossa Senhora da Piedade originated from one man’s faith and the local identity that places it as a geographic reference to Minas` inhabitants. The dark times, motivated by the decline of the gold rush in Caeté and Sabará, reinforced the place's spiritual calling as a location for penitence to atone the collective sins. This Portuguese mentality intensely influenced the territory during its first economic crisis that generated hunger and poverty - the alluvial gold’s exhaustion. The Serra da Piedade has merged its history with the mission of welcoming the locals, relieving their burdens, and being their comfort since they were suffering the decline of the golden era and the violence of slavery in Minas Gerais. Serra da Piedade’s first inhabitants were hermits that had chosen a natural, isolated, simple life in which their suffering was a natural path of purification, like the one initiated by the hermitage Bracarena. During the construction of Ermida, the abbey’s cells were built at the back of the tiny, Baroque church, finished in 1778. Back then, the hermits lived detached from any material possessions and illuminated by their faith. This Serra da Piedade’s period was named the stage of reverence. At this time, primary routes towards the ridge’s summit were created, where there wasn’t any water source, which was the main challenge to be overcome, affecting its occupation. For nearly two centuries, all water had to be carried up the hill by pack animals, like donkeys and mules, without which the sanctuary’s construction would be impossible.
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FATHER JOSÉ GONÇALVES PEREIRA AND FRIAR LUÍS OF RAVENA Father José Gonçalves Pereira was a man dedicated to the mission of guiding others to the Serra da Piedade. His activities favored mainly enslaved people; he led them to the ridge’s top through the rugged trails opened by Bracarena. Usually, Father Gonçalves Pereira hiked up the hill carrying a huge, wooden cross. A sacrifice that he made in favor of enslaved and mixed-race people. His dedication to serving this part of the population was not well received by many. In that time, Father José Gonçalves’ actions sparked the beginning of pilgrimages to these highlands, most of the pilgrims were enslaved people living in close farms, such as Fazenda Rio São João. In 2013, in Bom Jesus do Amparo, the Felipe district was recognized as a quilombo remnant community by Fundação Palmares. From there, a pilgrimage keeps happening annually, the most traditional one to the Serra da Piedade. The voyages intensified in number and origin of devouts that came from various locals. This first pilgrimage phase was called the stage of atonement. Then, there were many mystic rumors involving the sanctuary. Still, we will not discuss them because they are mostly trivia, describing the increasing number of pilgrims looking for atonement and self-flagellation practice. From 1840, to avoid any exaggeration and its possible consequences, this kind of pilgrimage was discouraged. After Father José Gonçalves, the Italian Capuchins assumed the ridge’s sanctuary management. The Friar Luís of Ravena was inducted as administrator and committed himself to the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade’s restoration, which was not the focus of the previous administration: [...] enlarging accommodations and building a cistern molded as those of the Alpine Mountains in Italy, to supply the Serra da Piedade with water. For the first time, water reaches the summit of the Serra da Piedade [...] It is a typical phenomenon of the foliated and porous in itabirite rocky formation, interposing the path of clouds at this altitude; the clouds deposit moisture on these rocks, thus, due to the porosity effect, it infiltrates and streams further down, like it was a so-called miracle. That's why these "olhos d’água" [pounds] were considered as miraculous by the ordinary people who came there on pilgrimages.” (TAMBASCO, 2010, p.97).
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Friar Luís of Ravena also bought a piece of land in the ridge’s foothills, where Asilo São Luís currently is. Other friars replaced him. Under the Capuchin’s administration, the stage of atonement and punishment in the Serra da Piedade, which lasted a few more than 70 years, finally ended.
MONSIGNOR DOMINGOS PINHEIRO After the Capuchins’ departure, Father Antonio Simplício took over the sanctuary’s management, but, in 1872, he left the Parish of Roças Novas; thus, the place was abandoned. Father Domingos Evangelista Pinheiro looked for supportive churchgoers to resume the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade’s conservation. For this purpose, he founded the Brotherhood of Nossa Senhora da Piedade in 1875. It was a moment of social upheaval, the brotherhood’s creation resulted from slavery abolition, aiming to take care of black children born free under Ventre Livre’s law. Those children were considered as additional costs to the masters since they distracted their mothers from work. So, they were abandoned on the roads, mainly the girls. Monsignor Domingos Pinheiro was disturbed by it, seeing the Asilo São Luís’ establishment as an opportunity to protect these orphaned girls. Another important event that occurred during Monsignor Domingos’ administration was the pilgrimages’ return to the sanctuary, back then; it was named Jubileu de Nossa Senhora da Piedade [A Jubilee Festivity] and happened between August 15th and 22nd. Monsignor Domingos had a life of voluntary deprivations dedicated to supporting orphaned children. After his passing in 1924, Father Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, who was born near the ridge in the city of Bom Jesus do Amparo, managed the sanctuary for a short amount of time. Under Monsignor Domingos’ administration, the third stage of the sanctuary ended, focused on charity services.
20TH CENTURY IN THE SANCTUARY NOSSA SENHORA DA PIEDADE This period was a hard time. After the slavery abolition, various economic turmoils emerged in the mining region due to the exhaustion of gold, underdeveloped agricultural and livestock activities in a territory that concentrated the most significant
amount of enslaved people in the country. There was neither enslaved work nor paid occupations. Several freed people migrated to the new capital of the state. The construction of Belo Horizonte had started: a planned city! Over there, a lot of work could be done by the black population, occupying the town while carving the stones that built the capital. One of their destinations was the community, currently named Pedreira Prado Lopes. Another one was a place where food crops were grown in an area surrounding the capital city; nowadays, the region is known as Morro do Papagaio, among other examples. The Sisters of Piedade from the Asilo São Luís were responsible for supporting the pilgrims and, during the jubilee season, selling delicacies and water along their way towards the ridge’s summit. The money raised was used to fund the organization's maintenance, which later became an important school for women in the region. Until 1950, the ridge remained resourceless, in need of care, deteriorating over time. Thus, going up the ridge was a sacrifice, annually repeated by families from all over Minas Gerais. Around 1920, the narrative of the memorialist Lima Júnior described that visiting Serra da Piedade had not significantly changed when compared to the 18th century. He depicted the scene when his family arrived at the ridge on the Jubilee’s day: From the bottom of the ridge to its summit, it took two hours of hiking, through steep and rocky trails, waiting for the pilgrims, who were always carrying their matulagens and petrechos to sleep [hiking gear and sleeping equipment]. Arriving at the summit, the narrow esplanade in front of the Ermida, they could see hut-like stone buildings (meias-água), which families rented to stay overnight. Next to these meias-águas, which were precarious constructions with walls made of planks and wooden crates, and roofs made of sapé [dry grass]; there were tents occupied by small traders of religious items, food supplies, and principally water" (LIMA JÚNIOR apud TAMBASCO, 2010, p.109). Ending his narrative, Lima Júnior writes that his family passed the night at the Ermida’s sacristy, returning to their journey on the following day: "Until now, the Serra da Piedade remains nearly unchanged, with few significant alterations in what Bracarena envisioned when he established it. Sheltering the divine spirit needed to sustain the human and spiritual struggles of those who come to visit it; the Serra [ridge] calmly
awaits what the 20th century has in store when administered by Friar Rosário Jofilly, who worked hard to make sure that the place was finally recognized as natural, social, and religious heritage. Due to this man's activism and geniality, the Serra da Piedade will go through the 20th century". (LIMA JÚNIOR apud TAMBASCO, 2010, p.109). Some culinary narratives regarding the Serra da Piedade describe the people arriving in Caeté by train during the Jubilee season. For more than two centuries, the food brought with them have always stood out in the stories: the most frequent ones were couscous, chicken with farofa [toasted cassava flour], pastéis [pastries], tarecos [biscuits], broas [corn cakes] and empadas [chicken pies]. The attributes of the delicacies sold in the Asilo São Luís' fairs were also often described. We could think about the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade’s social role in popularizing the traditional eating habits of Minas Gerais over these centuries. Additionally, these practices encouraged the sharing tradition, essential to shape the local hospitality, since the food was served under the same roof by families or groups and shared with whoever was close to them.
FRIAR ROSÁRIO JOFFILY Friar Rosário was born in Paraíba, a descendant of Portuguese, and served as the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade rector. Along with Father Antonio Gonçalves, he was one of the administrators that managed the Serra da Piedade for the most extended time, being a great supporter of the sanctuary in all matters, acknowledging its historical, spiritual, religious, natural, and political significance, the ridge as well. He understood the Serra da Piedade thoroughly and completely, including its extremely particular weather; on the same day, the sun could shine brightly, getting freezing cold right after it, with pouring rain, dense or thin fog, ending up with a dazzling sunset. Although extraordinary, its environment can be difficult for humans, mainly due to some technical conditions that make the outdoor work demanding. The temperature changes are so abrupt as to provoke an impressive weathering deterioration. One of the tools used by Friar Rosário during the construction to mitigate this problem was installing water ponds on the roof of the concrete buildings, which was done in the important restaurant Espaço Dom João
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de Resende Costa. The goal was to reduce the temperature variation and stabilize the concrete coverings so that the constructions could remain secure under the ridge’s extreme weathering conditions. A curious fact is that visitors frequently ask if the pond might be a breeding place for mosquitoes that spread diseases. The friar studied this subject and noted that the air is less dense at the height of 1,746 meters, which is not adequate for these insects. So, the protective pond does not offer any danger to the visitors. However, in the Church Nova das Romarias, this technique could not be applied because of its roof’s extension and shape. The metal structure could not sustain the concrete weight that Friar Rosario planned, and an architect projected. According to the friar design, the church should accommodate 3,500 people and yet be placed in such a way to fully preserve its naturally conical contour, even having this design’s size. The appropriate material had to be light, flexible, and resistant metal: like copper! How could he get this amount of such expensive material? How much would this large roof cost? It would cost a lot to the sanctuary. Friar Rosário was not discouraged by these challenges; he trusted in God and himself, and the ones he called “Friends of the Serra”. Here’s what has happened: inexplicably, an accident slightly damaged a considerable amount of copper that was being shipped to Minas for a particular purpose. No damage would be accepted in any copper pieces, no matter how small. Coincidentally, or not, one day they were there, some trucks laden with copper sheets going up the ridge; they donated the entire cargo, every single copper sheet, to the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade. It was just the right amount to get the Church Nova das Romarias’ roof done, as related by Mr. Zacarias, a senior employee of the sanctuary who witnessed the whole event. According to him, many events such as this one take place there! Once, I had personally experienced a similar situation when, for some reason, a set of wooden mortar and pestle was needed. They looked for these utensils in various shops and places for many days, ones adequately sized for their needs. One day morning, surrounded by the fog, they were found at the doors of the Ermida, with a prayer request attached, anonymously donated, just available to be used and fulfill the sanctuary’s needs. The support and charity dedicated to the Serra da Piedade are ordinary events in everyday life, without which it could not exist. The Friar had turned the Serra da Piedade into a shelter that received all people, continuing its initial welcoming purpose as it was devised by Bracarena, since its beginning. The previous rectors have strongly embraced this desire. Father José Gonçalves has done it while helping the
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enslaved people. Monsignor Domingos has done it while housing orphaned girls of Asilo das Irmãs da Piedade, humble servants, and supporters of the sanctuary’s mission. Friar Rosário made himself at home while staying in the Serra da Piedade. He built this home reflecting his instigatingly original personality, magnificently simple, knowledgeable, and clever. The friar’s behavior has explicitly demonstrated that he would by no means leave the ridge, except, as it happened, after his death. Since his obedience to the Metropolitan Archbishop of Belo Horizonte was widely known, he would undoubtedly have left the ridge if requested to do so. However, he lived up there as such a thing could never happen. During the period that Friar Rosário was in the Serra da Piedade, three Archbishops supported him: Dom Cabral, Dom João Resende Costa, and Dom Serafim Fernandes de Araújo. As for his house, he specially built a place like a small country house on the French mountains. He used stones and wood to make it. There, he raised domestic animals, like chickens and goats. The friar knew how to welcome others like no one else; simply and naturally, he used this talent to offer surprisingly excellent meals and wines. He loved good French wines, but served other kinds, not as nearly good, some sweet ones, which he disliked, but what mattered was the visitor’s taste. Sometimes, he served a “French wine from the south of France”, as he used to say; on other occasions, he offered a wine of garrafão [demijohn] from the south of Brazil, for those who liked sweet wine. Although significant, his wine could not be compared to the cheese he served, which was incredibly special, unique! This singular hospitality interlaced the sanctuary to some politically and economically powerful people, of whom Friar Rosário was a counselor; thus, they gradually became great supporters of the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade cause. Friar Rosário has studied to become a priest in France for ten years, in the Dominican monastery of La Touret, Lyon, an area famous for its blue cheese, produced by a traditional technique that used caves to naturally mature it. On this subject, during the time that I have been in the sanctuary, I heard a story about this friar's cheese that I find quite improbable: Friar Rosário had forgotten a cheese inside a cabinet, and, after a while, the cheese was moldy tasting delightfully. I imagine that this is the employees’ simple way of understanding the friar's taste for such "cavernous" cheese. Knowing that he had spent ten years on French soil, a place that holds worldly fame in producing this kind of cheese, it is not difficult to imagine where his knowledge and technique as
a cheesemaker come from; probably, he was the first one in the country to use this method. Besides, other factors could justify the theory that he knew the product he created in the Serra da Piedade very well. He selected Serra do Salitre cheese-type to be ripened with mold, a raw milk cheese with adequate fat content, ideally suited for this process. According to some people who lived around, he carefully picked the cheese to be matured from the same supplier of the Central Market of Belo Horizonte. The chosen ones were brought from Serra do Salitre, since the cheese was not produced in Serra da Piedade. Even though his technical apparatus was extremely rudimental, the process was exquisite, and the natural environment and climate of Serra da Piedade were responsible for most of the work. Placing clean cloths between the boards and the cheese, systematically replacing them, and the washing and sanitizing procedures without any chlorine also denote technical expertise in cheese ripening. As in France, five or nine days after being produced, the cheese was taken to a “cave” to age. The Brazilian cheesemaking legislation, in 1960, did not by any means allow this kind of maturation. Friar Rosário was aware of it since he has never sold any cheese; he only served it as a delicacy to his special guests - which shows that he knew exactly what he was doing. His perfectionist personality, inquisitive and studious, preferring to study than sleep, having a personal library with 15,000 books on various subjects, just does not suit the narrative in which he discovered the cheese's aging process by accident. More careful looks could see that at the Friar Rosário’s residence was a small French house placed on the lower side of the Ermida, which he called "favela" [shanty]. According to his most frequent guests, there was a more prominent space dedicated to his books; a kitchen with a wood stove, where a few, but iconic, meals were made. The most appreciated ones were: Carneiro a Abraão, name given by the friar, which was a lamb stew, served with a simple, salty, buckwheat bread, called Pão do Frei [Bread of Friar]. Sometimes the lamb was replaced by a rabbit, whose meat was immensely appreciated by Friar Rosario. Another usual meal was pasta, always seasoned with oil and garlic. Still, all meals were always accompanied by some wine, the one from the south of France or not, which complemented well their engaging conversations, mainly concerning politics and science, since the friar was an expert in renewable energies. According to some narratives, he had somehow influenced the Brazilian Renewable Energy Initiative in the 1980s: the pró-álcool [pro-ethanol]. With an enthusiastic personality and above-average intelligence, the friar did not like to engage in small talks; everything should have
a purpose. His conversation could be scientifically accurate on diverse subjects, a widening political discussion, or, as it usually happened, a talk about what the sanctuary needed back then. The man telling us these tales about Friar Rosário is Mr. Zacarias, moved to tears, one of the few employees from the friar's period living there until today. He says that he had met Friar Rosário and felt raised by him in the Serra da Piedade. He has learned everything he knows from him, including the building construction techniques that were proposed by the architect Alcides da Rocha Miranda and implemented with Mr. Zacarias’ help. These techniques were based on the ones developed to construct the highaltitude Tibetian monasteries, designed by the French architect Le Corbusier, who inspired the sanctuary’s architect Alcides da Rocha Miranda. Architecture-wise, the local, natural contours were preserved in his modern buildings, just as Friar Rosário preferred, slightly interfering in the small Baroque hermitage’s picturesque view on top of the mountain, the principal element. Furthermore, over stoned cracks and roads, other buildings were constructed and perfectly integrated into the landscape, preserving the conical contour of the Serra da Piedade’s massif purely. A masterwork of the architect Alcides da Rocha Miranda that was conceived and implemented by Friar Rosário and his unique perspective of what the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade should be years later. Thus, a restaurant and a cafeteria were constructed, in addition to the New Church of Romarias, with a capacity of 3,000 people, on the other side of the original hermitage, which can accommodate 40 people, on average. The friar also built the Casas dos Romeiros, Ermida Square, Crypt of São José, Arena Theater, and a cafeteria in the sanctuary and the other one in Carvalhadas. Among his brilliant achievements, besides the reconstruction of many of the Serra da Piedade’s architectural features, he brought electricity and water from the foothills to the ridges’ summit. He acquired the terrain where the spring water that supplies the sanctuary is located with the support of "Amigos da Serra". In this case, the "pumping group”, some volunteers from the city of Caeté, still maintain the water flowing to the Serra da Piedade, a legacy of generations, like a task passing from father to son. A pumping system was implemented, and a water tank constructed, solving which was the sanctuary’s major problem for more than 200 years. Also, the electrical grid was improved, coming from Caeté to the ridge’s summit. Not only Friar Rosário’s progressive work was extremely important, but also his faith and determination made him a role model. He was
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dynamic and engaged, a man of unshakable faith. Even during cold days in the Serra da Piedade, he had never missed one daily Mass celebration, often alone in the Ermida. The friar died in 2000 due to a fall; he had been in the sanctuary for more than 50 years. His legacy was passed on to the Italian Father Virgílio Resi.
FATHER VIRGÍLIO LESSI Father Virgílio Lessi took over the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade to continue Friar Rosário's work, mainly his projects regarding a library and a house of prayer. However, he passed away two years later. The sanctuary had faced another six-year stagnation in its development projects, until 2008, when Dom Walmor de Oliveira Azevedo, then Metropolitan Archbishop of Belo Horizonte, visited the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade.
DOM WALMOR DE OLIVEIRA AZEVEDO Dom Walmor de Oliveira Azevedo has been the Metropolitan Archbishop of Belo Horizonte since 2004. Born in Côcos, in the countryside of Bahia, Dom Walmor has a profound knowledge of the soul of Minas’ inhabitants, since he spent most of his episcopal studying years in Minas Gerais, in the cities of São João Del Rei and Divinópolis. Once Dom Walmor got to know the ridge, he immediately developed an appreciation for the sanctuary, maybe due to its historical welcoming and comforting ability. Indeed, this is also the mission chosen by Dom Walmor, as his episcopal motto says: “He has sent me to bind up the brokenhearted ''. Also, his passion for prayer relates to the sanctuary’s purposes. Occasionally, he cites a 4thcentury quote from the homily of St. Chrysostom that says, “the prayer is the light of the soul.” “Meditative practices are like an antidote to the troubles of the heart.” (DOM WALMOR DE OLIVEIRA AZEVEDO) It seems like the Serra da Piedade might synthesize Dom Walmor de Oliveira Azevedo’s thoughts about life. Since his first years in charge of the Archdiocese of Belo Horizonte, he has accepted the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade’s complete reconstruction mission, renovating all the spaces that were built by Friar
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Rosário and constructing others. In 2010, the first construction phase finished: the renovation of the road and most buildings, except for the Ermida. In 2017, the Ermida was inaugurated after being entirely restored. Dom Walmor gave all the structural base from which the Serra da Piedade could become a reference to Minas’ religiousness in Brazil and the 21st-century world, including a well-planned accessibility work encompassing the Basílica Ermida da Padroeira. In these years in which D. Walmor has been overseeing Belo Horizonte’s Archdiocese, the sanctuary has been fully renovated without losing its importance as a heritage that must be preserved. In 2011, the Serra da Piedade was recognized as a “Great Relevant Monument to Minas Gerais'' by the Minas Gerais Government. In 2017, when the sanctuary celebrated its 250th anniversary and the Ermida restoration was concluded, it received the title of the world’s smallest basilica, given by Pope Francis, now named Basílica Ermida de Nossa Senhora da Piedade. Besides those, the sanctuary received other titles, due to the direct intervention of Dom Walmor, such as the ones from the Custody of the Holy Land and the Sanctuary Nossa Senhora de Fátima, in Portugal. D. Walmor also built the paths Dores de Maria [Sorrows of Mary] and Horto das Oliveiras [Mount of Olives]. Under his management, Friar Rosario’s cheese production, which had stopped in 2002, was resumed in 2014. The year 2013 was the beginning of a remarkable event to the “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”. Due to the local leadership mobilization, an itinerant photographic exhibition with its tourist riches was created. Departing from the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade, this exhibition launched the tourist destination “Entre Serras - da Piedade ao Caraça”, inserted into the Estrada Real [Royal Road], as a result of the Projeto VER: Vivendo a Estrada Real [Living the Royal Road Project]. The itinerary’s initial point is the Serra da Piedade, following four cities: Caeté, Barão de Cocais, Catas Altas, and Santa Bárbara. The itinerary’s destination is the Caraça, integrated into the Circuito do Ouro [Gold Circuit]. At that time, Mr. Eberhard Hans Aichinger was in the Instituto Estrada Real and conducted the works that created this itinerary. In 2018, for the first time, three out of the four cities composing the itinerary were among the five most cited cities as tourist travel demand in a state-wide tourism survey conducted by SETUR. This tourist itinerary’s success enabled a territorial connection in a collaborative effort, having tourism a means to sustainable development. Following these actions,
in 2018, the religious path CRER was inaugurated in the Serra da Piedade, connecting the Basílica Ermida Nossa Senhora da Piedade to the Basílica de Aparecida do Norte, in São Paulo. Dom Walmor had and has some Fathers by his side that dedicated their labor force and commitment to increasing the reconstruction efforts to the sanctuary and welcome the churchgoers. Among them, Father Nédio Lacerda, priest of Caeté, who, along with Dom Walmor, accepted the challenge to rebuild the sanctuary, and so did he, with all his dedication. Along with them, Father Carlos Antônio da Silva, who remains in the Serra da Piedade, spiritually welcoming the visitors until today; Father Alex Favarato; Father Fernando César do Nascimento, who intensified the spirit of prayer and contemplation. Fathers Wellington Santos and Wagner Caligário are currently in charge of the sanctuary’s Rectory and, with Dom Walmor, continue their efforts towards the Serra da Piedade. As usual, the Sisters of Piedade proceed with their exquisite evangelization work and magnificent commitment to welcome and support the people coming to the ridge every day. Serra da Piedade remains in the 21st century, renewing itself to face new challenges. Each of them makes its mission even stronger: being a spiritual source of food and regeneration, the Patroness Saint of Minas Gerais’ home.
ARTWORKS IN THE SERRA DA PIEDADE Besides the image from Antônio Francisco Lisboa, made of American cedar, that is in the Basílica Ermida da Padroeira, the Serra da Piedade has other important artworks: the blue paintings by Minas’ artist Maria Helena Andrés, which are on the sides of the Basílica Ermida da Padroeira; the bronze statue of Our Lady of Sorrows, by Alfredo Ceschiatti (1918-1989), which was kept for 30 years and today can be seen outdoors; the Calvário [Calvary] by f the artist Vlad Eugen Poenaru, professor at the Escola de Belas Artes of the UFMG.
THE CHEESE THAT CHANGED MINAS ARTISANAL CHEESE HISTORY AND SHOWED IT TO THE WORLD. Minas inherited from Europe many culinary techniques. Many of them came from monastic traditions, such as sweets of convents, which
Asilo São Luís’ nuns had culturally transmitted throughout the “Entre Serras”. Other monastic heritage was the wine, bread, and cheese. In the Serra da Piedade, this triad is always on the table, but one element has a singular story: the cheese. There, it is called “Queijo do Frei Rosário” [Friar Rosário’s Cheese], or “queijo das nuvens” [cheese from the clouds] of the Serra da Piedade. As of 1950, when Friar Rosário arrived in the ridge, the cheese production started, yet the exact year is unknown. We know that before building his ripening “cave”, he used just a wooden cabinet. The friar’s “cave” is rumored to be the first one in Brazil, in which he had matured cheese with fungi and mites until 2000 when he passed away. Following his death, the famous production of the “Queijo do Frei Rosário” was extinguished. Indeed, Friar did not produce it; he aged other producers' cheese, what in France is called “affineur”, originating the term “afinador” of cheese in Brazil, an occupation that was nonexistent here till then. During Dom Walmor Oliveira Azevedo administration, Metropolitan Archbishop of Belo Horizonte, and Father Nédio Lacerda in the Sanctuary Nossa Senhora da Piedade, the cheese was recreated with our participation in the entire process, assisted by the sanctuary employee Lucas Desidério. In 2014, after this process, the recreated cheese was revealed for the first time on the TV show Terra de Minas and changed the state's cheesemaking scene. Many producers began to mature the Minas Artisanal cheese following these guidelines, leading to the emergence of a new kind of cheese in Minas Gerais: the fungi cheese, now called queijo de casca florida [bloomy rind cheese]. In 2015, for the first time, along with the “Queijo do Frei Rosário”, other types of cheese participated in French competitions, winning the first international medal for the Minas Artisanal Raw Milk Cheese, that today has more than 50 international prizes. That showed the Minas Artisanal cheese’s potential to compete with the world’s best cheese when adequately matured. Besides being the first “afinador” of cheese in Brazil, the Friar Rosário’s aging process with natural fungi and the legal recognition of “afinador” occupation, by the state law 23.157/2018. A new step will begin to be developed, creating standardized production methods for this product that originated from the Friar Rosário’s cheese. The Serra da Piedade is a God 's gift to Minas Gerais, a vast mystery of unique beauty and infinite strength!
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CAETÉ
For three centuries, there was a place kept in the journeys "into the bush," a way of translating its Tupi name: kaa-eté. At first, a wild territory. A commonplace in which brave men living in that period could show their courage through an exploring spirit toward Brazilian hinterland trails. One of those was a cattle trail originated in the Northeast, precisely the Recôncavo Baiano region; it was called Caminho dos Currais of São Francisco [St. Francis Farming Route]: "Caminho do Boi” [Cow Path] or still “Trilha da Bahia” [Bahia Trail], was a trail followed by the oldest Bandeirantes: Espinosa, 1553, Tourinho, 1572, Adorno, 1576, used during the 17th and 18th centuries to supply the mining region and settlements on the north and northeast of Minas Gerais. (QUINTÃO, 2014, p.18). Another trail came from the Southeast, which crossed the wall-like Serra da Mantiqueira, the Caminho Velho [Old Path] via Estrada Real [Royal Road]. It was utilized to capture natives and search for mineral riches. The Bandeirantes from São Paulo controlled it; they were famous for courageously and audaciously go “into the bush”, Cataguás indigenous hinterland. They were the first ones to find riverbed gold in Rio das Velhas. Due to a Bandeirante description, the river is thus called; he saw three native women on the riverside; back then, this did not go unnoticed because of the generally traditional superstition. Even though we do not intend to be a history book, we will discuss some historical facts to understand the pioneering character of Minas' city of Caeté to comprehend how they are currently ingrained in the singular nature of its inhabitants. Hospitable people, but never influenced by superficial and unfamiliar assessments of their land. That is a significant attribute in the character of Caeté: residents master their definitions and actions; choosing and determining them, considering inner aspects of the territory, just like the meaning of its name: "into the bush". Being a daughter of a mother from Caeté, I feel entitled to discuss this subject further deeply,
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revealing where their wants, tastes, and values lie, such as the local religiousness and simply genuine joy, along with their admirable hard work. All of these are remarkable traits found in the people living there. To get to know Caeté, we must act like those who went there three centuries ago: experience it, discover its hidden treasures, and explore the cultural inheritance left from the brave ones who trailblazed this wildland. The region’s principal features are translated into their religiousness, cuisine, history, nature, and other aspects. By living each one of them, we can broaden our understanding of the city. We can start our visit by getting to know some explorers who were essential to settle this place, such as "Borba Gato". In 1681, Manuel Borba Gato, after Fernão Dias' death, took command of his Bandeira [...] in 1698, Governor Arthur Sá summoned him to Rio de Janeiro and assigned him the patent to discover silver at [...] 'paragem da Sabarabuçu' [Sabaraçu Stop]. Returning to Rio das Velhas, he promoted the gold mines' disclosure, which he certainly knew already. (BOXER apud TAMBASCO, 2010, p.28). As Boxer said, Borba Gato already knew about the place. His return request to Sabarabuçu (Serra da Piedade), Rio das Velhas and Sabará, indicates that Caetés' initial settlement happened in the 17th century, even though it was officially recognized only years later, as described in the following quote, and others: Lourenço Castanho Tasques is credited as being the first presence in the region between 1662 and 1663, according to a Royal Letter from 03/23/1664 that praised him for the discovery of Sertão do Cataguás Mines and Sertões de Caeté. (QUINTÃO, 2014, p.18). Caeté was central to the mining region's occupation which was doubly traversed by one trail starting in the Northeast, precisely the Recôncavo Baiano, and another from São Paulo, back then Capitania de São Vicente. We can say that this occupation had a doubled-distribution purpose: cattle and gold. A fact that is evidenced by the unique foundation of Caeté, which started with the Guerra dos Emboabas [War of the Emboabas], a dispute between both composing elements of the mining settlement. Some circumstances placed the city in a strategically influential position: its pioneering gold mining's announcement; its geographic location, as
the heart of the mining territory, currently known as "Iron Quadrangle''; and its location in Penha, where there was a magnificently high mountain, similar to a cliff (Serra da Piedade), the primary reference in the Mining Hinterland. This place was an intersection between two important trails: a cattle route from Bahia, and the path built through the Mantiqueira Ridge (The Old Path via Royal Route), originated in São Paulo.
an indigenous language). The hostility culminated in a bloody battle in an area that is currently Tiradentes. After the war, the mining territory elected its government, apart from the Crown, as it is inscribed on the statue's pedestal, erected on the Praça de Caeté [Caeté Square]: "In this land, the Guerra dos Emboabas began - 1708". In Manuel Nunes Viana words:
Interestingly, its geographic covered up the gold discovery, which is expressed in the how the city was named: Caeté ("into a dense bush", in another translation).
Calling upon Mina’s population, I assure you that I only assume this great responsibility to serve on the conjecture of Peace and Justice efforts. Nunes Viana- Governor of Minas - Land of the Emboabas". (QUINTÃO, 2014, p.23).
In this region, there is an ecological tension because it is the limit of a natural frontier between the seasonal tropical forests and the cerrado. The forest was tall and dense [...], which provided it an invariably green and almost impenetrable aspect". (VELLOSO apud. TAMBASCO, 2010, p.30).
Henceforth, other rebellions followed, and the Crown, to end these conflicts and better control the mining region, decreed the creation of the Província das Minas Gerais [Minas Gerais Province] in 1720.
In 1701, it was public announced that “sergeant-major Leonardo Nardez, along with his brothers [...] had discovered gold in the region of Caeté" (VELLOSO apud TAMBASCO, 2010, p.30). Even facing many difficulties, in 1705, the interest in the land was such that Caeté already accommodated 5,000 people living there. From the very beginning, its inhabitants were famous for being hard workers and having strong, moral character, a rumor that spread over every corner of Minas Gerais. A prominent person from Caeté was the Portuguese Manuel Nunes Viana, who raised cattle in Currais do São Francisco and worked as a trader of goods and slaves. A man of singular character that involved himself in the unfolding of some famous events that happened in Caeté, for several reasons. "César do Emboabas" was a rich and cultured man [...] according to the English Charles Boxer, during The Golden Age of Brazil. After the 'emboabas' dispute, Viana returned to his vast properties in Sertão do São Francisco but did not leave Minas [...] In fact, he "pacified conflicts [...] An authentic Wild West hero in Minas Gerais. (QUINTÃO, 2014, pp.34-35). One of these conflicts involving Manuel Nunes Viana in Caeté was the spark that initiated Guerra dos Emboabas (1708/1709). This confrontation involved some explorers coming from São Paulo and other ones from the Northeast - the latter usually wore long, hairy boots and, for this reason, were called Emboabas (furry leg, in Tupi,
In 2019, when the 300th-anniversary official celebration of Minas Gerais Province was hold, the government recognized the pioneering impact of Guerra dos Emboabas in Caeté's establishment. For this reason, the ceremony occurred there, on September 13th, the opening of the tricentennial of Minas Gerais' foundation. Thus, the city of Caeté can now officially declare: The State of Minas Gerais started here! During the following years, Caeté's history has continued to be relevant for Minas Gerais, contributing to its political scene. The judge José Teixeira da Fonseca Vasconcellos was a member of the board overseeing the Provisional Government of Minas Gerais, appointed while in charge of the Jurisdiction of Caeté (1767/1838), and chosen as the first President of the Province. (1824-1827). Another illustrious personality from Caeté was José Pinheiro da Silva, who was also selected as President of the Minas Gerais Province (1906-1910) and founded the Cerâmica Nacional de Caeté, a pottery factory. Moreover, Caeté played an important role in Brazilian economic cycles. The Companhia Ferro Brasileiro, a nationwide, relevant steel industry in the 20th century, was headquartered there.
TOURISM IN CAETÉ Many factors make Caeté fascinating place including its wide range of attractions. Starting with the Serra da Piedade, a reference in the Brazilian Religious Tourism; there is also the Recanto Monsenhor Domingos, a retreat house, where Sister Benigna Memorial is - the devotion
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to Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro proceeds in parallel with his beatification process. Besides, the rich Rococo Baroque heritage can be seen all over the buildings in Caeté. In general, Caeté’s exuberantly beautiful nature, boosts its local tourism, mainly because of its diverse biomes - Cerrado, Atlantic Forest, and Rupestrian Fields, which form stunning landscapes and places, primarily the ridges. The diversity of animal and vegetation species is vast, attracting birdwatching groups and other specialists to observe them. Gandarela and Piedade's ridges provide a pleasant climate to the entire territory, very appreciated and appropriate for the establishment of vacation houses and ranches frequently rented, especially by Belo Horizonte's inhabitants. The region offers excellent hiking trails for those looking for a combination of nature and sports; there, the lodging options are plentiful, either in the city or surrounding districts. Adventure-wise, the place is a reference in tree climbing if you want to see the world from the top. In Morro Vermelho district, the Santo Antonio waterfall is ideal for a bath in Mina' style. The city also manifests a natural exuberance, like the Serra da Piedade and Pedra Branca's landscapes, the latter is a beautiful landmark giving its name to both a rocky formation and a district. Despite being called Pedra Branca [White Rock], the geological feature is dark colored. What a picture-postcard beauty! Recently, a tourist project has been taking place in the region, aiming to connect local religious attractions, such as the Serra da Piedade, the Recanto Monsenhor Domingos, where Sister Benigna Memorial is located. Caeté's churches are incorporated into this religious circuit. Many tours have been specially developed to welcome different visitors.
ARCHITECTURAL HERITAGE AND HANDICRAFT IN CAETÉ The golden era did not generate productive diversification but instead brought an urban, prosperous society to Caeté. A circumstance that happened despite the general instability of that time, caused by the beginning and end of several mineral exploration cycles, a fluctuating population coming from diverse places, and the violence perpetrated by explorers and slavery practices, the latter is represented in the city's pillory.
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Besides urbanization, the gold-related occupation fueled a Portuguese Catholic religiousness, strengthened by contrasting economic cycles; that inflicted more suffering in the mining livelihood accustomed to losing or changing it all, depending on what the situation was. After going through many stages in its understanding and practice, Catholic Christianism is still standing in Minas Gerais. This town might be the foremost representation of the state's religiousness or, at least, the one that could be found in the mining region. Caeté has a sacral architecture heritage infused into its impressive churches, constructed by several craftsmen, such as Manuel Francisco Lisboa and his son, Antônio Francisco Lisboa, called “Aleijadinho", who spent his teenage years as an apprentice there. Among others, many artisans adorned the city with some classic Minas Gerais Baroque artworks, such as José Coelho Noronha, and the builder Antonio da Silva, called Bracarena. Nossa Senhora do Bom Sucesso Church [Our Lady of Good Success] is a prime example, with its imposing façade; it was the first one built with stone masonry technique in Minas Gerais, having six richly adorned altars inside. There are other centennial churches such as Chapel and Cemetery of Nossa Senhora do Rosário [Our Lady of the Rosary] and Nossa Senhora de Nazaré Church [Our Lady of Nazareth], located in Morro Vermelho, the latter is the oldest one in Caeté. In addition to the churches and the already mentioned Pelourinho [pillory], from 1722, there are other wonderful monuments, such as Cadeia Velha Fountain, from 1800, Farmácia Ideal Museum, Regional Museum, and Solar do Tinoco Museum. [...] this is a 17th-century construction, purchased in 1893, by the Baron of Cocais, Dr. João Pinheiro, whose multiple achievements are remembered, among which is the Cerâmica Nacional – a pottery factory . (QUINTÃO, 2014, p.23). Craft-wise, the products from Caeté are exquisitely made using various traditional techniques, such as the "bainha aberta", one of the rare embroidery stitches pass on from families in the city. Statues of saints and other religious items are other craftworks produced by locals. Music tradition is a remarkable characteristic in the cities that emerged during the gold era. In Caeté, traditional melodies can be appreciated in choirs, serestas groups [serenade-like performances from groups of people singing accompanied by guitars], viola [Brazilian guitar] players, accordionists, and others, converting the locals into music lovers. Since the beginning of Minas Gerais,
public festivities are present all around the city, such as the Cavalhada [horse riding parade] do Morro Vermelho that spread this tradition to other places, as to Santa Bárbara's district of Bruma (Cavalhada de Santo Amaro).
CUISINE The economic activities generated by the gold extraction did not promote productive diversification in Caeté, since any excess production was exported and what remained there was consumed locally. Nevertheless, death from starvation was a reality during that period, mainly caused by the urban livelihood hardships. This gruesome situation led to the emergence of an agricultural and livestock system that became usual in Minas, especially Caeté and its surroundings: the kitchen gardens that supplied the household and generated revenue by selling the family production surplus, such as eggs, domestic livestock, sweets, fruits, cheese, and some delicacies. This type of trade was extremely active at Vila Nova da Rainha's creation in 1774. Until this day, this activity has remained in the city and its districts, still enhancing the local commercial talent. In Caeté, one of the essences of Mina's cuisine is present: the confectionery. Two factors have taken the local cuisine to another level. The first one is the transportation flow of sugar cane, an essential product, from the Northeast through the Currais do São Francisco trails. Therefore, the abundance of sugar in this territory has interlaced with the second factor: convent-based confectionery techniques. For instance, we can name the Asilo São Luís' confectionary, presently Recanto Monsenhor Domingos, that used to be a religious school for girls, where nuns made, and still do today, several kinds of sweets. This heritage came from the Portuguese convents, like its most famous candy, the ambrosia. This place helped spread the candymaking techniques among its students and the pilgrims that bought the sweet confections during their visits to the Serra da Piedade. These culinary arts developed a tasteful confectionery in Caeté that is often seen in weddings and local festivities. D. Nazinha's local sweet shop, in Roças Novas district, has a variety of sweets made with fruits from her own backyard and prepared in many different ways. The place is worth a visit, just take a quick exit from BR-381 highway, and you be delighted. It will be like entering the candy house in Hansel and Gretel's story. The Recanto Monsenhor Domingos, former Asilo São Luís, located just outside the city of Caeté,
is another place where you can buy delicious, local delicacies. Caeté cuisine preserves some gems in the form of some old, impressive dishes deeply appreciated by locals. The traditional production of Aluar, a fermented pineapple drink created by enslaved people in the region, as an example, is still being ritually produced nowadays, in the Morro Vermelho district. Other ancient dishes are famous in Caeté, like stews, which have their festival, and delightful dumplings and broths. Bean dumplings and the green banana broths are considered the cream of the crop. The first ingredient has been essential to Minas' alimentation, and the latter is very versatile. Both green banana broth from the Penha district, and the bean crops, saved thousands of people from starvation and death during food shortage times and the local economic crisis. Nowadays, Caeté acknowledges its authentic cuisine, which is seen in local restaurants, regional production of sweets and delicacies, and food festival, such as "Butecando". Caeté is retelling history through its culinary arts, silently revealing the incredible, little secrets hidden there for more than 300 years. Cheese is also part of this place's ancient stories. Among them, there is one tale about the "Manjar do Imperador". In 1881, the emperor D. Pedro II and his wife, D. Tereza Cristina, toured the mining territory. After their visit to Nossa Senhora de Bom Sucesso Church to observe its unique stone masonry façade, they calmly seated by the church entrance and were delighted when they ate a typical food combination: cheese with banana. Hence, in Caeté, this food mixture began to be called "Manjar do Imperador" [the Emperor's Delight]. This tale is just one of many told by a famous local memorialist, Mr. Antônio Claret, who has an extensive collection of photographs and historical knowledge about the city. We do not know whether this tale is true or false, but the snack is truly terrific! For more than 150 years, Minas Artisanal cheesemaking method, with raw milk and aged using wooden boards, was extinct in the territory after the introduction of the pasteurized cheese. This culinary tradition was revived through a program called Primórdios da Cozinha Mineira, sponsored by Senac in Minas, and supported by the cheesemakers from Caeté. In 2014, D. Renilda Fonseca was the first one, and various producers had joined her after; today, it is possible to acquire raw milk cheese and aged on wooden boards. A fact that inspires tales, such as the emperor's one, in which local, unforgettable dishes are prepared with this type of cheese, that might taste like Caeté. By the Cow Path, Caeté keeps the sugar cane's
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history and tradition alive using its juice producing rapadura [sugarcane sweet], candies, and cachaça [sugarcane liquor]. Let us not forget the mocotó [calf's foot jelly], a fantastic recipe. So, this local, rich culinary history is still getting told by its typical cuisine that developed the roots of what became the city of Caeté today. Let us wait and see what flavors will emerge from these historical routes...
QUEIJÃO [BIG CHEESE] RECIPE This recipe was written on D. Ivone Caetano Pinto's cookbook, dated the year 1960. It is considered today as the oldest known written record of this typical sweet of Caeté. Ingredients: 2 liters of milk (whole) 250g of sugar Zest of 1 lemon 9 eggs Instructions: Heat the milk slowly with sugar over a gentle heat until it reaches a fudge-like texture (creamy point). After, add the lemon zest. Let it cool down. Stir the eggs, without their yolk membranes, and add them to the fudging sweet, mixing them. Grease a round cake pan with caramelized syrup, pour the mixture on it and bake it in a water bath.
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BARÃO DE COCAIS
Barão de Cocais is just like a prism! From each side that we look at, it seems different. The city can be either lively, bright, and colorful, or cool and refreshing. At the same time, it is warm, calm, and comforting. The matter is choosing which side you prefer. At each side of this prism, we find a different DNA. Not only in the scientific sense but also symbolically, that is a word that might clarify our understanding of Barão de Cocais' multiplicity. A city with 32,619 inhabitants, in the "Entre Serras - da Piedade ao Caraça" region, a central point of this territory. The sites are multiple; we could trace a timeline clearly showing some traits that characterize more than just one region through each one of them. When we look closer, it is a place that reveals how the world works in its many different sides. They are all over there, in front of us, easily accessible to be analyzed by everyone. These trademarks were initially registered on its Archaeological Site. Back then, man and nature were one, searching for food and the means of survival, probably without any living demands nor expectations beyond surviving one more day. The following period arrived with the remarkable development of the Estrada Real Royal Road - when it did not have this name yet. From the previously communion stage with nature, a quite different lifestyle emerged, and some traces were left behind. This new dawn began when humans realized that he could use the land for more than just surviving, the progress conundrum surfaced. Riches and luxury were brought into view starting to be regularly extracted from earth in the form of precious metals. Those initial marks remain depicted over these ridges' magnificent landscape, on the rocks painted by our ancestors. In a different way, the second phase was also recorded leaving some deeper marks throughout history. Time has taken its toll, only remains were left the past that Pedra Pintada experienced. There
is a lingering feeling over the site like something was left unfinished. The same felling arises in us when we get in touch with Barão de Cocais' Baroque architecture, an element of the local art and history. This energy also emanates from its inhabitants, local music, and unforgettable characters; it is expressed in their religiousness. Some positive and negative traits that define the place still. Just like before, another change arrived in the city. Another phase that progressively formed a new face of this prism, its machinery pointing to a new productive age. It was the industrial era coming to Barão de Cocais on the cusp of the 21st century. An economic activity that was not based on foraging or gold extraction, yet on the steel industry and large-scale mining, moving on uninterruptedly through daily and nightly shifts. These vibrating activities set the city at constant pace, daily, as the industrial park received those arriving there. It brought economic growth and jobs, improving trade and local money circulation, but left the inevitable price we must pay for progress. The 21st century brought with it the necessity of evaluating the past practices to define new ways to deal with the technological world while we still depend on natural resources like it was before, during the Pedra Pintada period. Barão de Cocais might thrive in times such as these, gathering its old pieces of knowledge to bring nature back into our lives, presently through local activities as adventurous sports and organic food projects. Moreover, local products are getting diversified, the cheesemaking, for instance, along with other increasing opportunities related to trade and services. New challenges are coming, so that prior experiences might be crucial to raising the city to the 21st-century era, just like its inhabitants had chosen to do so. Barão de Cocais, the center of the "Entre Serras'', is defined by its lifestyles and weathering marks. When we observe these sides of the prism more closely, we find reliclike pieces of wisdom ready to be retrieved for our orientation or delight. They are being kept around the corners or inside drawers, here and there, all over the city. Here, looking into these drawers, I intend to present Barão de Cocais. The city settled at the foothills of Caraça’s ridges, surrounded by Serra do Garimpo; precisely in its central part, the Serra da Cambota. There are many different names for each portion of the hills composing the Espinhaço Mountain Range while it encircles Barão de Cocais. There is one mountainous portion called Cabaçaco, the other one is Serra da Conceição, among other highlands, important headwaters
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that supply the vast region surrounding the city. Barão de Cocais was settled when gold was the main reason that instigated explorers to go into these wildlands. At the beginning of the 18th century, some Bandeirantes from São Paulo stopped by Rio São João. Hence, the city got its first name, São João do Presídio de Morro Grande, as a reference to the highlands of the Espinhaço Mountain Range, a large hill that flanked this part of the river. Besides its beauty, the place attracted people because of gold deposits on its stream beds. Later, these deposits would become the most important ones in Minas Gerais, along with Mariana and Ouro Preto. In Barão de Cocais, a singular event concerning gold production struck the entire state: the Gongo Soco Mine. The name Gongo Soco, according to Agripa de Vasconcelos in his book entitled as such, is a reference to an enslaved person from Africa that would always crouch at where they later found the stream bed that started the most famous mine in the region. An allusion to the squatting position that would look as like the enslaved person were hatching something. The title "Congo Choco" [Congoe Hatching] originated the mine name Gongo Soco; only the "mineirês" [Minas' vernacular language] can explain how these words had changed over time. The core of Morro Grande was a district called "Macacos" [monkeys], the Barão de Cocais' name before José Feliciano Pinto Coelho, a resident of Cocais district, had been sanctioned as "Barão de Cocais" [Baron of Cocais] changing the name of the city. When the news of abundant gold spread over the Morro Grande settlement, they built a church following the tradition. In 1764, the construction of the current Mother Church São João Batista of Morro Grande had begun, the first architectural project of Aleijadinho. He sculpted the statue of St. John the Baptist placed at the church's entrance door and designed the set of tarjas [adornments representing a coat of arms] on the arco-cruzeiro [archway] inside it. It took 21 years to complete the Mother Church; the inauguration was in 1785. Both a Royal Act of 1752 and Law No. 2 from September 14, 1891, officially created a district named São João do Morro Grande. With the implementation of the Morro Grande Mill, the land began to develop. In 1938, the district name was shortened to Morro Grande. Through the State Decree-Law
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No. 1.058 of December 31, 1943, the district of Morro Grande was emancipated, getting separated from Santa Bárbara, and renamed Barão de Cocais; in honor of Baron José Feliciano Pinto Coelho da Cunha, who was born and lived in the old Colonial Village of Cocais, now a district. 1 Since the gold era, there is a site in Barão de Cocais that has kept memories and habits that tell this period of the city.
COLONIAL VILLAGE OF COCAIS As we approach that massive wall, apparently made of granite, immensely wide and tall, we encounter gigantic cliffs, superposing one another. Caves and white sands on the ground. We may find human or great apes footprints, along with some from giant felines and other animals on some rocks and surrounding slabs. These "mysterious phenomena" are explained by scientists as traces made on clay bases, which contained calcium carbonates, thus becoming a sort of cement. In the vicinity, we may find intricate rock formations that amaze us. At all this area where we lived during our childhood, the ridge is seen from afar abruptly curving at its end, like a cambota [wooden pipe support], from which it gets its name: Serra da Cambota, viewed from Cabaçaco. (FONSECA, 2011, p.13). In Serra da Cambota's foothills, there is an archeological site of utmost importance for humankind's history, the Sítio Arqueológico da Pedra Pintada [Pedra Pintada Archeological Site]. It dates back over 6,000 years, when humans lived as nomads foraging for food, therefore these human ancestors had to use this site as routes through the mountains. Nearby, there is the region where Colonial Village of Cocais was settled in the 18th century. On July 26th, 1703, theColonial Village of Cocais was founded; this 317-year-old village came to existence even before Minas Gerais' Province. The settlement was stablished by two Bandeirantes, the Portuguese brothers Antônio and João Furtado Leite, who built a chapel there. Besides mining, the region primarily produced crops in kitchen gardens, backyards, farms, and ranches. This agricultural activity was vital to "Entre Serras - da Piedade ao Caraça'' territory during the Colonial gold-mining times. The Colonial Village of Cocais, simply known as Cocais, was a significant factor for the
1- PREFEITURA DE BARÃO DE COCAIS. História. Disponível em: https://www.baraodecocais.mg.gov.br/. Acesso em: nov. 2020.
"Entre Serras - da Piedade ao Caraça"'s territorial formation and occupation. Mainly because of its central geographical location, enabling it to become a historical link between the Royal Road's paths and the cities in the "Entre Serras"; possibly, that is the reason why the Village is intrinsically bound to its surrounding towns. Back in the gold era, many groups of tropeiros [muleteers] coming from the Caeté's routes (Caminho do Sabarabuçu) [Sabarabuçu Paths], Ouro Preto and Mariana - Old and New Paths via Royal Road, respectively - and Diamantina (Diamond Path) actively transited through Cocais. The latter route passed by the Sanctuary of Caraça that was a lodge at that time, commonly called "hospice" - which is not related to a mental health facility, but rather to hospitality "Hospício Nossa Senhora Mãe dos Homens" [Our Lady, Mother of Men, Hospice]. These intriguing pieces of information are correlated not only to the establishment of Cocais, but to the existence of a legendary character, José Feliciano Pinto Coelho. He was born and lived there, from 1792 to 1869. José Feliciano served the Brazilian Imperial Army, raking as Lieutenant Colonel. He was family related to the first husband of Domitila de Castro Canto e Melo - the Marchioness of Santos; they were cousins. In 1842, he joined the independence movement and was elected general deputy of the Empire afterward. José Feliciano was a man of resolute will that has never lost a battle, even after fighting so many. He was one of the emperor's most trusted men and, for this very reason, decided to comply with the imperial peace order when, as the provincial governor, did not engage in the Battle of Santa Luzia against the Duke of Caxias' army. For this embroilment, however, he had his political rights temporarily revoked. At the time, the Duke of Caxias visited him in Cocais. After serving his sentence, he returned to politics. In 1883, he founded the Cia. de Mineração Brasileira da Serra de Cocais [Brazilian Mining Company of Serra de Cocais], partnered with the English company named National Mining Company. Long after his death, his heirs kept looking for a supposed fortune that resulted from his partnership with the Englishmen. Allegedly, he secured his money in a London bank, but this large inheritance has never been found. From this cooperation, a prosperous town was born, an English like village, with a hospital, a cemetery, schools, and among examples of impressive facilities, which were unlikely to be seen in such places during that period. Nowadays, some fractions of it are protected by IPHAN [Brazilian National Institute for Historic Preservation]. The Colonial Village of Cocais is not strictly defined by the memory of past events, e.g. powerful gold mines, or by the grand Baron
of Cocais' authority and riches. Nowadays, the Colonial Village presents itself through an entirely different perspective, more feminine, and touristic. When emphasizing this femininity, I genuinely believe that this female characteristic has been around since the gold era, though less evident. Nevertheless, like in the old saying "Water dripping day after day wears the hardest rock away", this feminine presence has recently become omnipresent in Cocais, resisting over time. Times have been continuously changing. So, the local dynamic balance is now leaning toward the feminine side, a role that was hard acquired. Not only due to the feminism, but also the local women's intrinsic empowerment, originated in their values, ability to generate income, and selfesteem, as well their reverent memory and lifestyle. I am speaking about the quitandas [delicacies] that transform Cocais into the "Terra da Quitanda" [Delicacies Land], for some days in the year. This Typical Food Festival is a symbolic recognition for the female expertise in preparing many amusingly delicious treats all over the districts. Many kinds of Minas' traditional delicacies are served during the festival and prepared with love by local women by the way, from different ages. There is a local practice of making delicacies on Fridays to be offered to visitors on the weekends, which are the busiest days in Village of Cocais. Besides, all this cooking ensures a supply of loaves of bread and biscuits for the entire following week. They are stored inside jars as treasures that taste just like the place, making this Cocais Village culinary tradition so strong as to be called the "Delicacies Land" all over the "Entre Serras". Because of the Village of Cocais, the Goiabada Cascão [rustic guava sweet] was recognized as an immaterial heritage of Barão de Cocais municipality. The delicacies food festival happens every year in the first trimester, attracting many visitors. The women's exquisite work making these delicacies is now generating revenues and bringing recognition to the territory. Long ago, local women were only allowed at the table where male debates took place by way of their delicacies. Now, they are finally being acknowledged everywhere, through their treats, honestly obtaining their means of surviving and carrying the region along with them. Historically, the women's role in the Colonial Minas had been quite contrasting since they were initially perceived as just skilled housekeepers. Through small steps, they had been reaching their independence gradually, using delicacies to lead them along the way. In Village of Cocais, when it was part of Santa Bárbara yet, a strong female protagonist
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was born that later created the first private mixed-gender rural school in the region. The one responsible for such groundbreaking innovation was D. Maria José da Fonseca, nicknamed D. Marica. The school was in a Santa Bárbara district; presently, Bom Jesus do Amparo, to where she moved to after getting married. The institution received both boys and girls from Cocais and other towns in "Entre Serras''. This same woman also left an important historical document for posterity, her electoral identity, dated from when women could vote for the first time in Brazil in 1933 when she was 56 years old. Once more, female pioneers silently prevailed in these lands, even if long time ago. These women's pioneering ideas took over the entire city concerning historical delicacies making and the current female entrepreneurship in various business segments. This group of women is called "Empreendendo de Salto Alto" [Entrepreneurship on High Heels], being well-known for promoting business and services all over the city. Interestingly, this is the place that most preserves the Portuguese heritage in the entire "Entre Serras - da Piedade ao Caraça" region. And there is a reason for it - the ancient practice of welcoming many people coming from the several routes that crossed the territory. So regional family traditions basing on the previous inhabitants' habits - the Portuguese - were carried on. In old times, Barão de Cocais consisted of gold mines and farms that extended from Cocais to Bom Jesus do Amparo, from Caeté to Santa Bárbara, mainly Portuguese farms. Miners, Bandeirantes [explorers], and adventurers formed these first families that established the territory during and after the early occupation process. The singularity of those places is definitely curious. Let's see, the location that belonged to Santa Bárbara city at that time, when you go over this particular mountain top, is already Caeté's municipal limits, the mountain also divides the Doce and São Francisco Rivers Basins. It also connects both the Archdioceses of Mariana and Belo Horizonte. The Nogueira's and Egas' farmlands are also divided by it along with Fazenda do Caraça [Caraça Farm], commonly known as Caracinha (Mill Farm); not mistake this mill with the Velho Caraça, which is also placed in the same mountain range. As they have not forgotten their homeland, the local cities, geographical features, stories, and events here find something quite like ancient lifestyles, with their tastes, and foods... such as farms called Egas, or the mountains' names like Cabaçaco, since the settlers found similarities with the Portuguese picturesque Buçaco forest, they named it Açá-buçaco, which decades
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later or because of the vernacular language, became Cabuçaco, and eventually Cabaçaco. (FONSECA, 2011, p.14.) Village of Cocais' Portuguese DNA is mainly translated into the local food: pastéis [pastries], empadas [chicken pies], canudos [cannoli-like dessert], broas [corn cakes], pães de ló [sponge cakes], rocamboles [cake rolls], biscoitos [cookies], and roscas [braided sweet bread], prepared with a wide variety of flours and starches, showing how strong is this Colonial inheritance. The various regional flours amplify this heritage (sweet potato, yam, corn flours in many different forms - pubada [fermented], roasted, and pilada [ground using a typical set of mortar and pestle]). Locals used them to complement the usage of wheat flour, which was exceedingly rare at the time. These ingredients lead to the cultural richness synthesized during the Festa da Quitanda [Delicacies Food Festival] in Barão de Cocais. In Cocais Village, the delicacies and sweets have name and surname: Cida's Goiabada [guava sweet], Jucinéia's biscoito de polvilho com açafrão [cassava starch biscuit with saffron], Mirtes' canudinho de doce de leite [cannoli stuffed with milk jam], Mércia's bolo pubado [fermented cassava cake], D. Regina's pastry, D. Gorete's braided sweet bread, and so on... We could not let out of the record the instruction to prepare an 18th-century delicacy. This historical recipe was kept in the Antonio Torres' library in Diamantina, with which the Village of Cocais is directly connected through the Diamond Path via Royal Road. This recipe leaves us hints, so we can try picturing how the delicacies were in that period. The flours used were the same "pubadas" - fermented ones - found in the Village. The author describes a simple method to "pubar" the corn flour in the letter, which it cannot be considered simple anymore. Besides this, the recipe teaches other techniques that are not so practical today, but that seemed relatively easy to her. Considering the age of Cocais Village, 317-yearold, this 100-years-old recipe can be perceived as recent. Anyhow, a challenge is proposed here to all current pastry chefs in Cocais or anyone who wants to try to reproduce this dish. This delicacy proves that Minas' cuisine is not determined by either one ingredient or period; there is an exquisite preparation technique ingrained in Minas Gerais traditions. These cooking instructions are from 1933; the letter was mailed - with the recipe enclosed by a Diamantina resident living in London who signed as M. Guaraná. She sent the recipe to her friend, Mr. Antonio Torres, who has a library with
his name in Diamantina. He requested the recipe, probably also by mail since he wanted to taste this ancient times' delicacy. The recipe describes the corn flour "pubagem" when they let it through a fermentation process that last for three or more days. While the cake is baking, the corn flour develops; the oven's heat generated gases and make the cake grow, even without chemical yeast, non-existent at that time. Besides showing how customary these techniques were, the instructions demonstrate us others such as extracting coconut's fat. The recipe also features some curiosities, such as the reduced amount of wheat flour used, which, somehow, was expected since there was no wheat production in the state. The real surprise is the amount of sugar, 50g, because this ingredient was abundant back then. In Minas Gerais, other recipes from the same period describe averagely more significant amounts of sugar being used to make other cake batters. Through this example, we can see how elaborated the processes to prepare delicacies are and feel the attentive female touch that this detailed instruction requires. Moreover, this recipe helps us understand what these treats meant to the Colonial Village of Cocais' lifestyle. So, let's jump into the cake named Manué! Any resemblance between this name and its Portuguese correspondent is not a mere coincidence! Manué (London, 1933) My dear compadre [friend] Torres ... Having said this, I will send you the recipe you asked for along with the instructions on how to prepare Manué. First, I must clarify that this admirable delicacy is made with grated ripe corn, and since we do not have this indispensable ingredient here, we will use dried cornmeal. Let us move to the recipe: ½ kg of very fine cornmeal, the finest you can find. (Put the cornmeal to soak for three or more days). Do not change the soaking water after the third, fourth, or fifth days, then drain the water - slowly so you do not throw the starch away. Add the second batch of fresh water and mix it well, then let it soak. Again, drain the water as gently as the first time. Repeat this process for the third time. This method produces an almost "pubo" [fermented] cornmeal, which is remarkably like the grated mature corn with which our land's excellent mothers prepare the famous Manué.
With this primordial ingredient in hand, let us look at the other spices. b) A finely grated coconut. Squeeze the milk out using hot water [through a piece of cloth], repeat the process two or three times until extracting all the juice. The water will be mixed with the coconut juice, so leave it to rest perfectly in a refrigerator. After a few hours, the coconut milk will form a solid layer on the bowl's top. Then throw away all the water deposited underneath it and mix all the extracted coconut butter from the milk with the cornmeal. c) Grate 2 green corn cobs using a metal grater, squeeze the juice out and throw the rest away; add this cream to the cornmeal. d) 250g of salted butter e) 3 egg yolks f) 50g wheat flour g) 50g sugar Put all the ingredients from A to G in a bowl and stirred together. When everything has formed a uniform paste, well mixed, pour it in a cake pan or similar, greased with butter beforehand. Bake it in a hot oven. The cake pan should not be too full, just a little more than a half. After baking it for thirty minutes, if the Manué is golden brown, take it out of the oven and let it cool to serve. It is best to eat on the next day. Preferably with a cup of coffee, remembering a landscape, the sun setting behind our beautiful mountain ranges, a brief scene from youth, a chat with a friend. There you go, dear compadre, your recipe. Send a word about your results. M. Guaraná In Cocais, the delicacies also tell stories, embracing the local feelings and maintaining its inhabitants' memories alive. The link between the Village and its memories gives us the impression that Colonial Village of Cocais might be the "Entre Serras'' oldest sister because of its proud, experienced, simple, receptive personality. Maybe due to its preserved lifestyle, full of living experiences that are passed on from generation to generation teaching them to face the challenges that time changes always bring. Who knows, if these experiences are shared while drinking a cup of coffee and eating a fresh delicacy, this might be a highly effective way of doing it. I think this is very "Mineiro"-like tradition and, as such, these distinctively meticulous eating habits make Cocais the most "Mineiro" among all "Entre Serras''
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locations. One might find something similar in other places, but not with the memory as well-kept and alive as they are in Colonial Village of Cocais. We might consider diligence as an important ingredient when someone is preparing delicacies. That characteristic is abundantly found in Minas' women, either in their aluminum pans ever shining on their shelves or embroidered, white kitchen towels. This diligence is noticed all over Minas' "quitandaria" [confectionery and pastry]. Quitanda [delicacy]! This African word means an arsenal of recipes and techniques to prepare various foods from snacks, breakfast food to even desserts. In Minas, the only foodstuff that is not called quitanda [delicacy] are the meals cooked for lunch and dinner. Another important attribute of quitandas is that, after preparation, they can be stored in jars, cloth bags, or pantries for a few days, which made it possible to prepare them in large scale for the entire household. Maybe that is why bakeries only arrived in Minas Gerais in the 19thcentury second half, during the mechanization period. Indeed, they would not have customers before that. Furthermore, some crucial ingredients for "quitandas" confection are doce de leite [milk jam] and "goiabada" [guava sweet]. They are incorporated in "roscas" [braided sweet loaves of bread], "canudos" [cannoli stuffed with milk jam], stuffed cookies, etc. The Minas' cuisine is a fusion of Portuguese confectionery and pastry techniques, a wide diversity of local fruits, and traditional recipes. The Goiabada Cascão [Rustic Guava Sweet] resulted from this combination; nowadays, it is the Colonial Village's red gold, a local immaterial heritage. You may observe it crystallizing inside a copper pan while local sweet makers stir the guava skillfully and constantly, which boils and spills all around. The sweet's smell and color, which get more tasteful after each stir, entice us to keep standing right there watching the entire process and waiting until the time for the "rapa do tacho" comes - the moment to eat what remained in the copper pan after the sweet had been transferred to another one. That is the most anticipated moment of all, a family tradition, a celebration time to gather around the "tacho"; or rather, in this case, around the "tacha" - a larger and flatter cooking pot, more appropriate to make the guava reach the right consistency. When this longanticipated moment arrives, just after the "tacha" had "given birth" to the guava sweet, not even one unhappy person can be found around! Other culinary aspects and cooking methods very characteristic of the Portuguese heritage are indicated in the pork preparations, e.g., roasted suckling pig, pork sausages, and smoked pork
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entrails. Nowadays, the latter is rare and difficult to find, even overseas. In Colonial Village of Cocais, you can order smoked entrails previously, and I assure you that is worth tasting. Now, consider that all these dishes are combined with a wide variety of beans, vegetables, and corn. That is what makes the local cuisine even more delicious. The intimate relationship between Cocais and foodstuff is ancient; narratives about the local production of pieces of cheese, flours, sweets, and pork have always been in the Village's descriptions. Next to it, a creek calmly flowed, and by one of its curves, there was a fishpond. When you enter the farm ... there was a barn to store grains. When you go straight forward, there was a gate and a pigsty in the corner... on the other side, there was a kitchen garden with seedbeds and an orchard. On the opposite side, there was a shed with a wood stove to cook with copper pans, a wood oven for baking, and two presses to dry flour... there was a large trough with cassava starch. A tent for rapaduras [sugar cane sweet] ... There were also some pieces of equipment to grate cassava... Approximately fifty meters away, there was the water mill where the cornmeal and corn grits were produced. Corn products were the most valuable at the time (FONSECA, 2011, p. 48). A fraction of these products was for family consumption; the surplus was usually sold; most of the time, the farm sale was the only source of family income, especially after the gold era. The small-scale production of cereal grain crops and artisanal cheese, rapadura [sugar cane sweet], cassava starch, leathers, among others, were, on average, approximately 50 percent for consumption and the other part for sale. (FONSECA, 2011, p. 32). That is Cocais, an 18th-century Colonial Village with prehistoric vestiges. It experienced the gold era's finest moments and chose to preserve its lifestyle. Thus, the Village allows visitors to experience how life was centuries ago, characterized by its people's simplicity, tranquility, and generous hospitality, which nowadays are the trademarks of Barão de Cocais. It is possible to savor local delicacies in the city, e.g. guava sweet, and other delights, such as the Artisanal Minas Cheese. Pasteurized products are still being produced by Cocais' dairy factory that supplies the region with fresh cheese, yogurts, and other products along with modern goods. Whenever I think about Cocais, I wonder: if all of us could collectively use our wisdom,
putting our energy and effort into it, we would be centuries ahead. Speaking thus, I want to testify and recognize the extraordinary three people that endlessly work so that the Colonial Village of Cocais might become the "Terra da Quitanda'' annually in "Entre Serras". I am not referring to the quitandeiras' [sweet makers] unparalleled values and their undeniably remarkable work. Not to mention the many others who support them, acknowledging how indispensable they are; they should all be praised for their accomplishments. I am referring to the ones that gave themselves to the cause, breaking their sweat, laughing, and crying together at every victory achieved or obstacle faced: Marilia Angelo, Rejane Mendes, and Wemerson Barros and their anonymously dedicated work, commitment, and energy. Incessantly, they materialize the Terra de Quitandas together with the sweet makers. Every territory creates idiosyncratic characters; living myths that everybody wants to meet. At Pousada das Cores situated in Cocais the elegantly proud Everton Lúcio de Paula is one of these characters. The so-called "alchemist" develops unique flavored combinations exclusively made for his guests. He prepares bottles of fruit vinegar, jams, and powders, made with different types of vegetables and spices, besides jellies, ice creams, peppers, salt cakes, cheese, among others... Do not hesitate to taste them! The flavor follows Everton's style, consistently tasteful. The Pousada das Cores is as unusual as its owner, distinguished in its original features, which is already an attraction. Not to mention Everton himself, since any conversation with him is time worth spending. Besides that, other lodges in the Village make the place comfortable for accommodating visits. Moreover, you may find some good hiking and trekking trails while touring the Village of Cocais and Barão de Cocais surroundings; both locations hold a living history, a lovely architectural complex, and many other natural wonders. One example is the waterfall, a significant tourist attraction, you can get there by hiking. This waterfall has ten cascades streaming on a stone wall heightening more than 30 meters, which is a breathtaking spectacle. In another part, the rocks form a beautiful image of a lion lying down. The local trails offer good options for hiking, cycling, ecotourism, and adventure tourism. Adventurewise, it is worth mentioning the world's slackline championships and the mountain crossing, performed using special equipment, allowing the athlete to go from one top to another in the Serra da Cambota - a stunning scenario. There are rural tourist itineraries for the most traditionalists ones, always accompanied by coffee, delicacies, and pleasant conversations.
ARCHITECTURAL HERITAGE AND TRADITIONAL FESTIVALS IN BARÃO DE COCAIS The Architectural Heritage of Barão de Cocais presents a singular, cultural richness for the entire municipality. Such as its Baroque buildings in various styles, as the Church of Nossa Senhora do Rosário [Our Lady of the Rosary] in the Colonial Village. The current construction resulted from a rebuilding work performed during the midnineteenth century when it became the Mother Church of the Village. It is an imposing building in which its remarkable features are influenced by popular culture, especially the abundance of bright colors in the indoor elements, such as its altar carving and its chancel's headliner painting, where the coronation of Our Lady of the Rosary is depicted. Some architectural solutions and characteristically ornamental elements of the Baroque and Neoclassical designs are present there, the latter predominant in Largo do Rosário, Cocais.2 The Church of Santana [Saint Anne] stands in the Cocais district. Every July, the Saint Anne Festival happens there. The festival holds many Portuguese folkloric presentations. The pastel [pastry] is this festivity's main dish. The Chapel of Santana was built during the 18th century and belonged to the Feliciano Pinto Coelho family - the Baron of Cocais. In 1830, the building went through a series of renovations that promoted significant changes on the church's exterior side. The façade, a single structure, has its cornice interrupted by a curved pediment resembling the Chapel of São José in Ouro Preto. Interiorly, it features three richly carved altars: Nossa Senhora das Dores [Our Lady of Sorrows], Santo Antônio [Saint Anthony] and its High Altar, all contemporary, on intricately carved woodwork with shell-shaped ornamentation, in particular its corpulent seraphim, located in Largo de Santana, Cocais district - Barão de Cocais.3 Both the Registry Office's Colonial building and Pedra Pintada Archaeological Site embody the cultural heritage of the Village of Cocais district. In downtown, many other Colonial buildings compose a architectural complex. The Mother Church of São João Batista [Saint John, the Baptist] is one example and is protected by
2- PORTAL IPHAN. Igreja Nossa Senhora do Rosário (Barão de Cocais, MG). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_ consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1266. Acesso em: 27 nov. 2021 3- PORTAL IPHAN. Capela de Santana (Barão de Cocais, MG). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema consulta. asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1267. Acesso em: 27 nov
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IPHAN [Brazilian National Institute for Historic Preservation]. The Sanctuary of São João Batista, in Barão de Cocais, along with the ones in Piedade and Caraça Ridges, compose the three shrines of the region, which are the most prominent buildings in religious tourism in the state. They are also tied up with the Caminho Religioso CRER [Religious Path], linking this territory to the Basilica of Our Lady Aparecida in Aparecida do Norte, São Paulo. The "Aleijadinho''s oeuvres can be identified at the sanctuary's entrance: The architect Lúcio Costa identified the Antonio Francisco Lisboa trademarks in the façade design, the [archway] arco-cruzeiro, and the bold innovation of arranging the towers diagonally to the church center. Aleijadinho also participated as a sculptor, firstly producing St. John, the Baptist's statue, made of soapstone, placed in the alcove by the main entrance, and later, in the church indoors, making its archway, which was also carved in the same stone type. The Mother Church has gold-plated altars, and its ceiling paintings are attributed to the master painter Ataíde. 4 In front of the sanctuary, the festival of its patron saint, St. John, the Baptist, takes place, one of the most unforgettable events in the city, which includes religious celebrations and processions and some other culturally vibrant manifestations. Barão de Cocais' largest public festival is uplifted by the Santa Cecília Band, musically representing the local heritage. The band is highly relevant artistically in the entire "Entre Serras" territory, widely present in various events promoted by the cities. From this iconic band, other cultural groups emerged as the Coral dos Querubins [The Cherub Choir]. Besides other modern musical groups, there is a regional rarity: The Orchestra of Brazilian Guitars, the only one in the world, in which the players manufacture their instruments. This orchestra is part of a social program that aims to use music for human and social developments, an admirable municipal initiative. Socially, I will mention another initiative that is equally wonderful even though it is not related to music. In Barão de Cocais, there is an organization called "Voluntary Firefighters" funded by donations and greatly important to the "Entre Serras." Like other cities erected during the gold era, Barão de Cocais' music culture is robust, a legacy that has been carried on since that time. The Baroque orchestras associated with historic churches, magnified by African musicality,
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were combined with some medieval traditions introduced in Minas by the Portuguese. King João VI was a great promoter of arts in Brazil even bringing a Portuguese band to Rio de Janeiro, which modeled to Military Bands' formation. Then, Civil Bands followed the lead, so the appropriate condition for the creation of Brazilian musicality was met. Through the New Path via Estrada Real [Royal Road], the mining region was directly influenced by the Portuguese court established in Rio de Janeiro. In 1905, Antonio Maria Teles, a vicar in Barão de Cocais, created the Santa Cecília Band almost immediately after the City Hall foundation. In 1936, the creation of the Cia. Brasileira de Usina Metalúrgica [Brazilian Metallurgical Company] fueled the town's development. Music is a way of cultural transmission, a highly effective one, frequently becoming a family tradition that makes the city music scene even more meaningful, overflowing this uniquely important beauty. The ones who have ever seen or heard a band marching have a joyous feeling lingering inside their hearts for the rest of their lives. In Chico Buarque words, on the song A Banda [The Band], those who have never seen or heard a band marching would not fathom the meaning of this: My poor people Bid farewell to pain To see the band marching Singing about love A serious man who was counting his money had to stop A lighthouse keeper who was bragging around had to stop A girlfriend who was counting the stars Had to stop to see, listen, and let the bandpass A sad girl who was silent had to smile A sad rose that was closed had to bloom And all the kids got excited To see the band marching Singing about love I was just hanging around My love called me To see the band marching Singing about love My poor people Bid farewell to pain To see the band marching in Singing about love A weak elder forgot his tiredness and thought that He was still young enough to go to the terrace and dance
4- DESCUBRA MINAS. Santuário de São João Batista (Barão de Cocais). Disponível em: http://www.descubraminas.com.br/Turismo/DestinoAtrativoDetalhe.aspx?cod_destino=3&cod_atrativo=4378. Acesso em: nov. 2020
An ugly girl leaned against the window Confident that the band was playing for her The merry marching song spread all over the avenue and persisted The full moon that was hidden away had to come out My whole city got adorned To see the band marching, singing about love (Excerpt translated from the song A Banda, by Chico Buarque de Holanda) The square of the Church of St. John, the Baptist is the main stage of a festival with the same name, in Barão de Cocais. I haven't yet known any expression of the word "Festa" [party] that are greater than the celebrations held in Minas Gerais' countryside. That is the real meaning of throwing a party, an open invitation, with no exceptions, from the homeless to the wealthiest one in town, with plenty of food over the entire night, bringing lots of joy for the community. It is a moment to relive the memories that created love bonds, where a series of new encounters takes place: a real PARTY! St. John Festival in Barão de Cocais is almost exactly like that (I say "almost" because things such as these cannot be described, only experienced). All starts with the city getting crowded a day before. On the festival day, the festivity initiates with the Alvorada [Dawn] when St. Cecilia Band plays on city streets to announcing the arrival of the celebrations along with the beginning of the day. There is a horse-riding parade immediately after, the riders coming from various districts and surrounding cities inviting people to celebrate at the Mother Church Square. Hence, the auctions begin. There, you can buy all kinds of animals, e.g., chicken, cows, ducks; some of their meats is ready to be served, and their auctioning value varies according to the cooker's reputation. One might think that this is done strategically to help to finance the party. Maybe it is just an excuse to make the bidding contest even more fun. At lunchtime, the fair's tents offer various food options, such as tropeiro [a dish prepared with beans, bacon, sausage, and cassava flour], galinhadas [chicken stews], pastéis [pastries], and many types of dumplings. At night, the party goes on with a religious procession honoring the patron saint, including Santa Cecília Band that plays during the pole raising ceremony. After that, it's time for the June Festival dancing, accompanied by quentão [a ginger-lime cider with cachaça], vinho quente [hot wine], milho [corn], pipoca [popcorn], canjica [Brazilian hominy pudding], and pé de moleque [brittle peanut bar].
In relation to the local Immovable Heritage, we can name other buildings that compose the city's historical complex, for instance, the current house where the Secretary of Culture and Tourism is, the former Cine Rex building, Church of São Gonçalo do Tambor, Chapel of São Benedito [St. Benedict], the Soledade Farmhouse, and the Cruzeiro das Almas [Cross of Souls]. In the Socorro district, the Church of Nossa Senhora Mãe Augusta do Socorro and a statue with the same name are both protected by IPHAN. This saint statue is the only one existing out of Portugal. Also, a festival and a religious procession honor the same patroness, and the children performing the saint's coronation ceremony is the apex of the local faith demonstration. Within the vibrant commercial center of Barão de Cocais, there are festivities like the Pés de Pomba [Pigeon Feet] Festival furnishing the community with street food, bar snacks, entertainment, and lots of music, just how the locals enjoy. The carnival season is another special occasion that attracts many visitors, some revelers enjoy themselves at night parties, and others prefer to hike and bathe in waterfalls. Barão de Cocais has attractions for every taste. Barão de Cocais reveals itself as a stage where many attractions can be performed, wrapped in its distinct landscapes, singular history, its vibrant downtown. In everyday life, the city also has dynamic commerce filled with local street fairs selling agroecological products, gaining more and more supporters in the territory. These some of the numerous indications of a promising future for the Barão de Cocais inhabitants - if they chose so.
THE CHEESE AND THE TRAIN If it were a matter of importance, the title could also be "The train and the cheese"; however, the cheese came first, that why it lays ahead. Cattle production was introduced in the territory during the 17th century. Some years later, in the 19th century, the steam locomotive arrived there, becoming legendary, which set an impressively revolutionary pace that brought progress to Minas Gerais. As it was called, the iron train connected the territory to the Vitória's harbor and Rio de Janeiro. During this first period, the locomotive experienced its golden era bringing development to all kinds of goods trade, until the shutdown of several railway lines around the state.
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The BR-381 highway is the most critical connection joining the territory to several other places. Local transportation is currently complicated because of the danger and slow traffic on the road, making it hard and even impossible to use it as a tourist route on the busiest days. Another solution is to get to the region by the BR129 highway, which connects Ouro Preto to Catas Altas, that is vastly used for tourist purposes. In 1907, Vale's passenger train became another transportation option for tourists. This train connects Belo Horizonte to Vitória going through all "Entre Serras"' cities. Barão de Cocais has a stopping point called Dois Irmãos [Two Brothers] station. From Belo Horizonte, the journey has a very touristic itinerary, crossing valleys, rivers, and other landscapes that emerges on the journey. There is a restaurant and a cafeteria aboard, and two service classes: economic and business, both with wi-fi. Tour packages by train covering several itineraries are already being commercialized, such as visits to typical cheese stores in "Entre Serras" territory. On the same day, you are able to visit a cheese store in Cocais Colonial Village, have lunch at the Sanctuary of Caraça, visit another cheese store in Santa Bárbara, or go to a coffee shop in its historical center - where there used to be Casa de Câmara [City Council] and Cadeia [Jail], in the 19th century. Then, at the end of the day, you may return to Belo Horizonte. It is possible to add Catas Altas, Caeté, and even the Serra da Piedade if you willing to make a weekend trip. Tourist attractions that combine the train with the cheese is an exclusivity of "Entre Serras"! This itinerary completely embodies Minas Gerais' lifestyle because it connects two cultural traditions typical of the state. It is Minas' authentic expression, that can be experienced only in the "Entre Serras". On the other side of the railroad, every day, there is a train departing at 7 am from Cariacica, in the Metropolitan Region of Vitória, Espírito Santo. It arrives at the Dois Irmãos [Two Brothers] station around 6 pm. It is an itinerary to be enjoyed over a weekend in "Entre Serras". The Circuito do Ouro [Gold Circuit] funded tourist initiatives in the region, promoting and disseminating strategies to develop this sector. Here I would like to detail a bit more a visit to a cheese store in Barão de Cocais, more precisely in Colonial Village of Cocais, where Mr. Geraldo Quirino da Fonseca and Ms. Regina's shop is located. In the morning, when you get right off the train, this is the first place you will see on the itinerary where you might have a cup of coffee with Ms. Regina's delicacies, as well as visiting the couple's cheese shop. Besides the delicious cheese, what makes this tour splendid is Ms. Regina's joy and energy!
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SANTA BÁRBARA
The most relevant cultural heritage for humankind is the people! They hold the entire Earths' fate in their hands, the Nature's destiny, and their immaterial and immovable heritages, built countless years ago by their own intervention, or even before their own existence. Thus, people are being called now to become the keepers of their own heritage and they must be ready for this task. That is why we must care for us first, the people. One action that needs to be taken to protect this truth and, from there, build a harmonic relationship between man, Nature, and its assets is to educate ourselves! As of this point, I would like to start talking about the city of Santa Bárbara, which embodies this truth. Santa Bárbara has held an excellent reputation related to its educational practices for quite some time now. And there was an occurrence that directly influenced the city's academic development. At the beginning of the 19th century, when the first gold cycle was over, the town got sparsely populated. In Auguste de Saint-Hilaire (1816) words, it looked like a ghost town without any people, troops, or goods transiting by to supply the gold and diamond mining areas. Previously the most important commercial route in the region connecting the Caminho dos Diamantes [Diamonds Path] to the Caminho Novo via Estrada Real [New Path via Royal Road] and leading both trails to the Portuguese court that was stablished in Rio the Janeiro, it got utterly deserted. At this moment, to get educated became something customary in Santa Bárbara, what proved itself useful in the future. In 1820, the Seminary of Caraça was installed where once was a lodge (Nossa Senhora Mãe dos Homens Hospice - 1774). This shelter was a strategic stop-off point by the Caminho do Ouro and dos Diamantes [Gold and Diamonds Paths]. Both routes got as abandoned as the Sanctuary of Caraça itself, which also needed to find a new reason for its existence, as its founder's Brother Lourenço wished. By King D. João VI's intervention, the Caraça was rebuilt, receiving
a different mission: to host a seminary, which became one of Brazil's most prominent learning institutions for a long time. So, Santa Bárbara, as the cradle of Caraça, took over its legacy of being an education reference for the territory. From the imposing Serra do Caraça [Caraça Ridge], a beacon of KNOWLEDGE illuminates our city entirely. Education is perceived as inexhaustible energy that fuels human development. (FERREIRA, 2015, p.12). Initially, the city implemented an educational program based on the European guidelines. At that time, during Santa Bárbara's early days, everything was complicated and difficult. Thus, the well-off families that settled there brought educated people from outside to tutor their children, that is, to TEACH them. Their SCHOOL was at their HOME. (FERREIRA, 2015, p. 9). Over the years, Santa Bárbara enjoyed the educational inheritance left by the Seminary of Caraça. Since it was near Mariana, the central location in Minas Gerais back then, both cities got religiously and commercially related. Because of that, Santa Bárbara grew even more in its educational aspect when the town received its first learning centers, which were Parish schools. Many problems had to be overcome to maintain this educational initiative in the city, especially its democratic aspect: The notebook was not affordable for everyone; it was a luxurious item... as we can see. Students wrote on sheets of manilla paper bought in stores and tied up like bundles or even on the large leaves of banana trees. How great was the trouble they had to face, but much more extraordinary was the joy they found in teaching and learning... Everyone was happy in their usual simplicity and liked to show their intellectual abilities off during the classes they had: Book Clubs, Theater Groups, Poetry Reading, and many other activities. Thus, they straightened their bond. (FERREIRA, 2015, p. 11). In the 20th century, Santa Bárbara found itself in a favorable economic condition; then, they modernized their education system, which became its distinctive feature. There, it was created the first public school in Minas Gerais: the “AFONSO PENA" MUNICIPAL SCHOOL. Other important schools were inaugurated such as Patronato Salesian School and D. Bosco School, both became references, making the city the first
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one in Minas Gerais to have a junior high school. State Schools got their system extended including the 4th to 8th grades (middle school), an action coordinated by the teacher and principal D. Maria Auxiliadora Novais Ferreira, together with the city's public sector and the state of Minas Gerais. The city has always been a source of outstanding mentors, and to represent and honor all of them, I must mention teacher Maria Eunice Alves Martins Poley (in memoriam). Her educational method summarizes what is best in life-changing mentorship that impacts students' lives forever. These chapters' influence the history of Santa Bárbara till today, besides its private and public schools that primarily follow a quality standard. The innovative education that started with the Caraça has given to Santa Bárbara city another perspective: an overall awareness of how important it is to ensure that education gets rightfully accessible to everyone, particularly its fundamentals. Currently, these aspects are noticed both in town and its districts revealing the importance of education. A wise choice, in which a good initial formation sparks students' educational desire and opens their ways for more specific training - thus, their basic education might be seen as more important than any formal qualification. The diploma is just a figurative part of a moment that represents an individual reaching ones autonomy through the educational foundation that someone has received, if it has been of quality, by the way.
A BRIEF HISTORY OF SANTA BÁRBARA The city went through many economic cycles until it became fully developed. By selfknowledge and awareness processes, it could finally understand the inhabitants' true heritage. During the 18th century, the first phase started with the gold era: The explorer Antônio Silva Bueno from São Paulo, while looking over the riverbeds around the Serra do Caraça, found some rich gold mines. He named this creek as Santa Bárbara [St. Barbara] because he had arrived there on December the 4th, 1704, the saint's day, as recorded in the liturgical calendar. The wealth found in Bueno's mines over Santa Bárbara creek's riverbeds, from the very beginning, incited greed in other adventurous miners. In hopes of getting rich, they settled on this promised land. Thus, Santo Antônio do Ribeirão de Santa Bárbara village
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emerged. Santo Antônio [St. Anthony] because he was the patron saint of the newly arrived explorers, and Santa Bárbara because she was the saint celebrated on December the 4th. Soon after, a chapel was built.1 Capela de Nosso Senhor do Bonfim [Chapel of Our Lord of the Good End] is the church that marked the city's establishment. On the other hand, the construction of the Matriz de Santo Antonio [The Mother Church of St. Anthony] began in 1713 and practically took a century to be partially finished. Nowadays, it is one of the most significant Baroque monuments in Minas Gerais. Besides the exuberant Mother Church, the city has an opulent urban historical center composed of six preservation areas: Centro Histórico [Historical Centre], Memorial Affonso Pena [Affonso Pena School Memorial], Igreja Nossa Senhora das Mercês [Church of Our Lady of Mercy], Capela da Arquiconfraria do Cordão de São Francisco [Chapel of the Archconfraternity of the Cord of St. Francis], Capela de Nosso Senhor do Bonfim [Chapel of Our Lord of Good End], and Ruínas de Pedra do Hospital Velho [Old Hospital Ruins]. The historical and religious heritage developed during the gold era unfolded many others, secular ones, most of them very well preserved. To get to this point, some alternative methods for preservation of monuments have been discovered: using creativity to redefine and protect the local heritage. REDEFINITION, usefully preserving them! Through their repurpose, many of these historical sites, which would require enormous investments to be restored and maintained, are being redefined and kept alive, becoming a genuine part of new generations' lives. Therefore, enhancing public interest related to historic building preservation specially from the young ones, thus history is renovating itself. Thus, through heritage education programs, the city of Santa Bárbara is keeping its patrimony very well protected, redefining it as a way to generate revenue, self-esteem, and tourism. Indeed, this concept is a collective construction of the city, intensified as of the 20th century. Many families, citzens, and public organizations have spared no effort to, through its memorial aspects, fully give Santa Bárbara its modern condition, not only the ones mentioned here. Without forgetting its heritage, the city has found an ideal preservation tool. Nowadays, the continuous process of heritage redefinition is a city's characteristic. For example, we can mention the restoration of the cemetery - the first biosafety in Brazil, an action that took place during the administration
1- PREFEITURA DE SANTA BÁRBARA. Disponível em: https://www.santabarbara.mg.gov.br/.
of the then-mayor Leris Braga, and the Praça da Estação [Station Square], which today is being restored again. Due to several previous renovation works, the Praça da Estação can now host many social, artistic, and educational projects, such as the "Estação da Música" Musical School. It is a renowned music school that became the apple of the city's eyes. Near the Igreja Matriz, other buildings have been restored and repurposed, assuming roles very different from their original ones. Such as the former Casa de Câmara [City Hall] e Cadeia, a building complex where a jail was installed that currently hosts the Antoniano Museum, a cheese store, and a coffee shop, the latter was created by the businessman Vinícius Tassis. In the cheese store, you can taste local delicacies and the Queijo Minas Artesanal [Artisanal Minas Cheese] - QMA of the "Entre Serras - da Piedade ao Caraça'' territory. The project enabled the return of this type of cheese's production through a partnership between the Sanctuary of Caraça and Senac Minas, sponsored by EMATER and SEBRAE. The project central office is situated in Santa Bárbara City Hall, receiving total support from other "Entre Serras'' cities: Barão de Cocais, Catas Altas, and Caeté. With the aid of all these organizations, their investments, and producers' training, it was possible to relive and technically improve the QMA from "Entre Serras". In 2016, three Santa Bárbara's cheesemakers: Fazenda do Engenho [Farmer's Mill] from the Sanctuary of Caraça, Maurício Guedes and José Célio Santos, presented this cheese at the Torneio Leiteiro de Santa Bárbara [Santa Bárbara's Dairy Products Competition] for the first time after 150 years. In this event, the visitors can taste the genuine Artisanal Minas Cheese made in "Entre Serras", prepared with raw milk and matured over wooden boards, the same way it was done ages ago. The cheese "came back to life," promising to give the title of the 8th productive microregion of Artisanal Minas Cheese in Minas Gerais to the territory. A flavor that had been long forgotten, but it was kept inside the memories of cheesemakers' descendants, on the records of cheese sales in Mariana, on a former wholesaler's cash books, the Casa Rocha, on the naturalist August de SaintHilaire's travel writings. The memorialist Juvenal da Fonseca, born in the Village of Cocais, along with others, wrote about the cheese before its extinction. Today, several cheese stores, such as the one in Caraça, are extensively producing this particular cheese, a product with a great potential for bringing sales and tourism to the territory. It is not only the architectural heritage that uplifts the city but also its rich natural resources. The town has several protected natural assets, besides the in-town central park, always ready to
provide shade, rest, and health to all visitors. There is a collective effort in the city to preserve its historic heritage that has already been recognized outside of it. In 2018, a Minas Gerais Government's tourist demand survey ranked the town of Santa Bárbara, along with others from the "Entre Serras", among the top five most-cited cities as a tourist site people want to know and visit inside the entire state, consolidating its territory as a tourist trend. A well-preserved asset is not just pleasant and beautiful; it tells the city's history, depicting its economy and way of living, keeping the site's memory lively and vibrant. In this regard, the Conjunto Ferroviário de Santa Bárbara [Railroad Complex] represents, besides the beauty of the Praça da Estação, another economic era of the city: its third development stage. After the gold age, the town had restabilized economically through agriculture and livestock activities. During the 20th century, a new economic and political period started and brought Santa Bárbara back to the center of this vast territory, intensifying and approaching the city to the capital city and other towns, on the Central, North, and East sides of Minas Gerais. It was marked by Santa Bárbara's train station inauguration (1911), the final destination of a commercial railroad, establishing the city as the core of big wholesalers and importers, as the Casa Rocha. Back then, the town consolidated itself as a regional reference and thrived through trade and industrial activities, such as its textile factory. The inauguration of BR-262 highway and the transference of the final railway station to the city of Nova Era instigated another economic turmoil in Santa Bárbara, bringing eventually its commercial decay, parallel with Vale do Aço and Piracicaba's economic strengthening. During this era, several districts of Santa Bárbara became emancipated cities which revitalized the local economy, decentralizing it. As every pain has a purpose, after the railroad trade was suspended, the businessmen José Silvério dos Santos, Mr. José Rupico, and Mr. Jesu Caetano pioneeringly implementtd a public transport bus service in the city. The transport system connected Santa Bárbara to the neighboring towns and districts, creating commercial and service possibilities for the municipality. Similarly, Santa Bárbara focused on other important issues: basic education, local trade, agriculture, and livestock. Educationwise, another iconic institution emerged within the territory: Irmãs Missionárias Capuchinhas Sagrado Coração de Jesus School [Capuchin Missionary Sisters of the Sacred Heart of Jesus]. As of the 20th century, many families came to the
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city looking for good schools for their children, so quality education also became an agent of local economic development. During that century, another change happened in the territory regarding Caraça's educational model. After the fire in 1968, the Sanctuary of Caraça ended its school program, but not its teaching work, starting other activities with the same purpose. In a way, this situation created a differentiated pedagogic model that anticipated the 21st-century demands, divulging the educational concept that is currently present in the territory, including in Santa Bárbara. Formally, the school do not physically exist anymore, but learning activities are still there in many different ways. The Sanctuary of Caraça continues to receive groups of students for short-term visits. Students coming from every region of Brazil learn a great deal while in touch with the Caraça's history and nature, through the diverse knowledge kept in its wealthy library or their hiking tours around its RPPN - Private Natural Heritage Reserve. These activities nurture and raise their awareness about preserving animals, plants, water bodies, and soil while they contemplatively hike the trails. Besides that, scientific investigations about the regional biodiversity produce research papers that are published all around the world. Constructive teaching methods have been continuously applied at every opportunity, as at the cafeteria, during the meals, which exemplify the education for coexistence, when people collectively prepare their breakfast or share their table with a stranger. Also, when they have to clear their table after meals, or when they are exposed to a menu that includes several ingredients which could have found in any regular backyard. Each meal turns into a delightful conversation and a learning experience. Human learning and improvement had never stop to be pursued by anyone on Caraça's grounds, a house of education, culture, preservation, and prayer, born in Santa Bárbara! Another development period began with the return of mining operations in the 20th century. Meanwhile, the tourism in Caraça became a reality. Santa Bárbara's citizens general awareness of their historical and natural heritages ensured the conservation of several pieces of equipment that became precious cultural assets. For the first time, both the product diversification and heritage appreciation led to the emergence of tourist activity as a way of income distribution and patrimonial preservation in the city. Local events were the first step to attract visitors and foster cultural, immobile and immaterial heritage's valorization. In addition to make the city acutely aware of the need for conservation programs and to create innovative ways of income generation
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as the 20st century requires. Like large-scale honey production, agroforestry, agroecological agriculture, and food production, including the creation of a well-structured hotel system, among other prospects related to commerce and services.
OTHER MUNICIPAL HERITAGE EXPRESSIONS: Heritage is everything that we create, value, and want to preserve.” (Cecília Londres. In: CATÁLOGO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE SANTA BÁRBARA, 2018, p.8).
In Santa Bárbara, there is a full appreciation of its immaterial heritage, especially its religious theatre. The Passos da Agonia [The Stages of Agony]; a series of theatrical performances transforms the city into a stage, showing its artistic qualities to the visitors. The local religious theatre became a tradition, in which actors from the Âncora Theater Group, directed by Ênio Reis, enacts the Passion of Christ under the open sky. Together with the theatrical presentations, the processions and Holy Week celebrations move the entire city towards a moment of deep devotion. Songs, ring of bells, and lights of candles accompany those who walk on the streets where only the sound coming from the contrite, respectful steps of the devotees might get heard. A remembrance of this singular moment for every Christian: the crucifixion of Christ and His resurrection. The memory of this spectacle never fades inside the mind of those who have already watched it. Art and culture are the strengthens of the city. Starting with the Corporação Santo Antônio [The Society of St. Anthony], the town’s music band, the Rosary's Congado Group [an Afro-Brazilian religious practice], and choirs. Other cultural expressions are the art of making straw dolls and Cavalhada de Santo Amaro [a Horse-riding parade]. These practices had been contemporarily redesigned to be tools and sources of knowledge, and experience for people, community members, and tourists. Besides the riches involving the city's heritage, there are some emblematic others, such as the instigating "Shopping de Bateias" [Gold Panning Shop], an old store owned by Mr. Nono situated on the road between Santa Bárbara and Catas Altas. This place keeps the old stores' concept, those with an impressive variety of items, in Minas' countryside style, in reference to several ancient shops stablished along the ways of Minas
Gerais. Today, Mr. Nono's shop is an attraction for travelers and adventure sports enthusiasts, who always find whatever they need there.
A HISTORICAL, DIVERSIFIED EVENTS CALENDAR
Another curious cultural expression is the ALDRAVIA. The name refers to a poetry style, created in Mariana, that found many enthusiasts in Santa Bárbara, spreading even to the local schools. The ALDRAVIA is characterized for the usage of single words to form poems connected through their meanings. Claydes Araújo, a city's teacher, presented us with a poem of her own that was translated:
Festivals and cultural events promote local tourism and hospitality heavily in the region. Many businesspeople and organizations dedicate themselves to create and encourage these types of events. In Santa Bárbara, this is a very developed, profitable segment, which incentivizes and increases tourist flux there.
Food Awakens Feelings UniVerses Flavors Senses Santa Bárbara's gastronomy has other unique products besides honey, which is the local food economy's flagship. We can begin citing the "Broinha" [cornmeal cookie] that carries the name of the town: Santa Bárbara's Broinha, a local tradition of exceptional flavor, bean dumplings, the curious Cubas' biscuits, Filinha's pastel [pastry], sweets from Brumal, papaya stem's sweet, pineapple's hard sweet. Another distinctively curious candy is: the Imbaúba (Cecropia angustifolia) sweet, a food habit remnant from scarcity times such as those experienced when the gold production ended, somehow this candy keeps telling this part of history. Regarding meats, we can especially mention the sausage from Arthur's butchery. The city also has a diversely local menu for the receptions after the traditional country wedding celebrations that are held in all its districts. Interestingly, we can observe that each community has a different menu for weddings and christenings celebrations, all of them are mouthwatering! Full of fruits, "green-ripe" mango, ubá mango, besides jabuticaba, which are considered historical products of the city. The municipality has also an outstanding production of corn, cassava, coffee, organic and/or agroecological products. The alcoholic beverages include cachaça, among them there is one that carries the name of Caraça.
However, in Santa Bárbara, these celebrations occur in a very particular way. Most of the events were not planned; they just emerged and consolidated themselves over more than 300 years. As expected, some events embody local traditions in such a way as to unite and bring people together, while other ones aim to strengthen commercial and service relationships to stimulate the economy. In fact, they are a pleasant and fun way that the city must receive its beloved sons and daughters back into its arms, those who had to leave to different places but dearly miss Santa Bárbara's friendly warm embrace. These parties, scheduled all over the year, have a subjective element: to preserve its origin and ability to aggregate the surroundings cities. The year starts with the New Year's Eve celebration. An opening show for the new year's arrival! Next, there is the Carnival that has recently retaken its old ways because of a group of enthusiasts. This festivity now has street blocks, parades, and Carnival balls, once again. Truthfully, the party represents one of the city's features: its peoples' joy, which can be spotted everywhere. To exemplify this happiness, I will mention a notable person: Humberto dos Santos Pena (Betão) (in memoriam). His cheerful and welcoming manner will remain imprinted all over the city. Then it is time to remember the Seven Sorrows of Mary and the Holy Week. During these religious celebrations, the Passion of Christ is theatrically reenacted. In June, there is the traditional Saint Anthony festival in which typical foods are sold at tents on the streets. This celebration is like the European Colonial kermesses, bringing many people from outside the town. Probably, it is the oldest festivity in the city! In July, the Torneio Leiteiro, one of the most important Piracicaba Mid-Region events, takes place. It has been happening for more than 40 years. Over the last three years, the event held
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the Artisanal Minas Cheese competition involving competitors from the "Entre Serras" region. Besides music attractions, this dairy food competition also promotes commercial and economic exchange between the rural producers from Santa Bárbara and the others who live in the surrounding areas. During the first semester still, there is another festival inspired by the European inheritance. The priests that form the Congregação Brasileira da Missão do Santuário do Caraça [Brazilian Province of the Congregation of the Mission in Sanctuary of Caraça] remember and celebrate the food sharing tradition. The Food Sharing Festival happens annually in one of Santa Bárbara districts, alternatively. To celebrate the annual harvest, the chosen community distribuite the delicacies made by them throughout the entire year. This feast is similar to the traditional Harvest Festival that is celebrated worldwide, especially by Christians. On September the 7th, the city and many of its districts celebrate the Independence of Brazil! Horse-riding parades are also present in Santa Bárbara, including the unprecedented women's horse-riding parade that happens in André do Mato Dentro subdistrict: Santa Bárbara's Horse-riding Parade, organized in October at the Parque de Exposições Adilson Melo [Exhibition Centre], is an event whose primary purpose is promoting the integration of equestrian sports lovers and horse breeders in the region. There is the coronation of the Queen of Horse-riders [a beauty pageant contest], best horsewoman and horseman elections, and many riding competitions during the day. At night, great exhibiting shows are performed.2 In October, the Associação Comercial e Industrial de Santa Bárbara (ASSISB) [Santa Barbara Commercial and Industrial Association] promotes the Piracicaba Mid-Region MultiSectoral Business Fair. This corporative event has been responsible for some commercially significant deals involving the territory. In parallel to the Multi-sectorial Business Fair, the Estação Cultural is realized at the Praça da Estação; an event focused on culture, dance, music, and arts. On December the 4th, the time to celebrate the city's anniversary arrives, which is handsomely entertained with shows and other commemorative activities. The City Hall holds the ceremony of Affonso Penna Medal of Merit Award. In honor of the illustrious president Affonso Penna's son, the commendation is given to local personalities that have contributed to the city's development,
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showing once more its care and recognition toward people and their valuable achievements.3 Finally, the City Hall put beautiful Christmas lights decorations all over the place, highlighting Santa Bárbara's singular architecture. As in most towns in Minas Gerais, local festivities and religious celebrations are always announced by the church bells. What a delightful joy! Also, there is a sportive calendar with some notable events involving soccer, trekking, cycling, etc. There are always plenty of bathing spots with waterfalls, some of the most fantastic attractions in Santa Bárbara. Local citizens have created and consolidated these dates throughout the years, typifying their interests and preferences. Eclectically, the calendar intends to value every resident in the city, always ensuring the visitors' return, year after year, to a town that is an expert in receiving tourists and former residents alike. Like in the saying: "A family that celebrates together stays together". Perhaps this is how Santa Bárbara reunites with those born there and surrounding cities, once districts, and now valued business partners and land mates.
SANTA BÁRBARA: CITY AND DISTRICTS Back then, Santa Bárbara was one of the largest cities in the state and consisted of 11 (eleven) districts: Santa Bárbara, Rio São Francisco, São Gonçalo do Rio Abaixo, São João do Morro Grande, Conceição do Rio Acima, Nossa Senhora dos Cocais, São Miguel do Piracicaba, Catas Altas, Conceição do Mato Dentro, Bom Jesus do Amparo, Socorro, and Brumado. 4 Nowadays, Santa Bárbara has four districts: Florália, Barra Feliz, Brumal, and Conceição do Rio Acima. Each one of them with its singular character and a common feature: the quality basic education modeled after the main city. Several subdistricts compose their surroundings: Sumidouro, Santana do Morro, Galego, Vigário da Vara, Cruz dos Peixotos, André do Mato Dentro, Barro Branco, Cachoeira de Florália, Mutuca, and Costa Lacerda.
2, 3, 4 - CÂMARA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA. Sobre o Município. Disponível em: https://www.santabarbara.cam.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/sobre-o-municipio/6578. Acesso em: dez. 2020.
BRUMAL The oldest district is Brumal, founded during the gold era. Its name refers to a common situation at that time when some adventurers were mistakenly led to the region's stream beds in hopes of making their golden dreams true. Like it was said: their dreams were "brumado!" [they vanished into thin air]. Brumal district has been through an organized process of cultural appreciation and promotion. People like Dilce Amara Margarida Mendes and Neide Maria da Silva have been fiercely advocating many actions to promote local, sustainable development. Brumal's Weavers Association organizes women who weave on looms and use their embroidery to illustrate the local culture. They exemplify handcrafting practices that also include sewing techniques. Another local handcraft is the art of making straw dolls, which were initially created and developed by D. Hilda de Jesus da Cunha and elaborated later by her daughter, Maria de Lúcia da Cunha. Brumal and its subdistricts, Sumidouro and Santana do Morro, are situated at the foothills of the Sanctuary of Caraça. Their proximity to Caraça has given them a singular legacy, especially regarding medicinal plants, herbs, and culinary. As far as herbal medicine is concerned, the local knowledge was derived from enslaved people and merged with local indigenous practices. Its application was further developed by priests from the Congregation of the Mission responsible for Sanctuary of Caraça, as Father Clóvis. He maintained a botanica there - an herbal shop - to medically assist others. In the early years of the territory, natural medicine was the only health treatment available for the local community. The herbal knowledge's application and usage are still under-explored, both medically and culinarily. Many food products might potentially be developed through this local wisdom, such as natural teas, ice creams, sweets, juices, delicacies, and others. Since 1937, Brumal has been hosting the widely famous Santa Bárbara Festival, and St. Amaro Cavalhada [Horse-riding Parade], introduced in the district by the tropeiro [muleteer] Jorge da Silva Calunga, a Morro Vermelho resident, from Caeté, who was working in Sumidouro at that time. Since then, mainly because of Mr. Divino's involvement, St. Amaro Cavalhada has become a beautiful tradition and one of the most anticipated events in Santa Bárbara. The Cavalhada Memorial Museum located in Brumal is worth visiting
along with the local array of elements that have been protected and/or officially recognized as immaterial heritage. Besides the Square, which has a soapstone fountain dating from 1898, Brumal historical urban heritage includes the Igreja de Santo Amaro Cemetery [Church of St. Amaro], Brumal Notary's Office, St. Amaro Festival, The Feast of Three Wise King, and Brumal Cultural Center, and the Ruins Baron of Catas Altas Archeological Site. (CATÁLOGO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE SANTA BÁRBARA, 2018, p. 31).
CONCEIÇÃO DO RIO ACIMA, FLORÁLIA AND BARRA FELIZ Conceição do Rio Acima district keeps the Colonial heritage of Santa Bárbara, its main historical monument is the Igreja de Nossa Senhora da Conceição [Church of Our Lady of the Conception] built by the Bandeirante [explorer] Antonio Bicudo, in 1712. There are also the mysterious Capivari Ruins, about which many fascinating legends are still being told. That is a common characteristic in all Santa Bárbaras districts: there are countless tales about the gold era, all of them are worth your attention. I suggest incorporating them to plots to be performed by local theatrical groups to entertain tourists that visit the region! In the "Entre Serras", not only the Pedra de Pintada in Barão de Cocais, proves that since remote times the territory has been a land connecting the central region of Brazil to its extremes. A natural and archaeological site of great importance also exists in Santa Bárbara, in Serra do Gandarela, a natural asset protected by the city, located in Rio Acima district: It is the Conjunto Natural Paisagístico e Paleontológico da Bacia do Gandarela [Gandarela River Basin Natural Landscape and Paleontological Complex]. An ecological corridor, with countless water resources, paleontological and archaeological diversity in Fauna and Flora, where a former lignite (coal) extraction site is located, over an extensive area of three hectares. The main entrance is through the Rio Acima town. (CATÁLOGO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE SANTA BÁRBARA, 2018, p. 52). Florália and Barra Feliz's districts have their economy based on agriculture and livestock
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productions, along with cheesemaking, pig farming, and chacaça [sugarcane licor] production. Their areas are suitable for country and rest houses construction. These districts keep many ancient food traditions, which have great potential for culinary research. In Florália, for example, we find an ancient technique in which they use anthill's soil to filter sugar cane syrup.
THE HONEY CITY Santa Bárbara's cuisine has a great product: honey! Known as "Honey City", the town is widely recognized for the production of this ingredient. That is a great prospect yet to be explored further, through the organization of events, forums, amplification of its usages, as of using honeycombs more extensively, producing honey with flavors or different textures, such as crunchy and creamy; among other activities that might diversify this product even more. Another culinary option is to harmonize it with local foods, thus strengthen the title of "Honey City", which is vital to local tourism and economy. This economic concept has evolved with the active participation of a businessman, Mr. José Renato da Fonseca (Renato Macklani). The widely known honey production helped the Sanctuary of Caraça to rescue an ancient product. The world's oldest fermented beverage: mead, a honey-based drink, now regularly produced by the sanctuary. But the city does not depend on honey alone! Amid other innovations, excellent craft beer and cachaça production is emerging in the territory. There is an increasingly worldwide consumption trend that prizes quality over quantity of these alcoholic products, a necessary condition for them being recognized as healthy products. By using prime quality ingredients and well-designed production processes, novel tastes will be achieved, which is more valued than any reckless consumption. Consumers are now prefering to cultivate a mindful drinking habit, as it is already happening in Belgium, Portugal, and the USA because of educative programs. There is much room for food market development in the city. Today, food habits had become essentials in people's lives, highly influenced by their knowledgable notion of promoting general well-being and acquiring healthy lifestyle. A healthy eating habit is fundamental to sports practice, preventing physical, mental, and spiritual illnesses. Also, nourishment is indispensable in primary education
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for children; besides flavor and nourishment, it creates comforting memories. Food is increasingly becoming educational and cultural factor, which is truly relevant for human progress. Thus way, past and present intertwined themselves to construct a common future. A future as huge as the city itself, a land beloved by its residents, those who live in it, and nostalgically remembered by the ones who no longer live there. It has been recognized through its illustrious figures, like Brazil's former president Afonso Pena, and in Mozart Bicalho's music. It has been remembered with affection through the names of its many teachers and professors who kept education as a distinctive feature of the city, improving many lives along this way. Santa Bárbara is one of kind in the "Entre Serras". It does not have the instinctive drive kept in Caeté, nor it is like the vibrant Barão de Cocais. It also differs from the naturally graceful Catas Altas; it is just that welcoming, beautiful, wise city where art and memory are always present. An unforgettable town: the princess in the "Entre Serras".
CATAS ALTAS The philosopher Kierkegaard taught me that culture is the path one walks to get to know oneself. (BARROS, 2014, p. 21)
The landscape from the Monsenhor Mendes Square, in Catas Altas, situated on the Serra do Caraça's foothills, is one of the most impressive views that I have seized - and that is not only because of its beauty. Many places are blessed with magnificent landscapes in Minas Gerais. Still, none of them look so transcendental for Minas' inhabitants as this one, depicting the natural greatness of the state and its ridges, which forms a background to the everyday human life embodied in a set of Colonial buildings contrasting with the hills. In this case, the buildings unveil the great moment of creation's magnitude in all its elegant simplicity: Nature and humankind, the authentic synthesis of Minas. The ridges are still a part of their culture, and lifestyle or, from a different perspective, they reflect a lifestyle that keeps, after all, calling for changes. I can see this dualism clearly: how significant, elegant, and impressive Nature is and how valuable in its simplicity. Both are there, in this scenario, registered on an infinitely precious postcard! Because of this scene, Catas Altas can be considered a cinematic city and, as such, must be taken care of. It has the talent of transmitting its more than 300 years of existence through a simple glimpse. While there, it might feel like we were into a living picture used to frame stories that happened during its extended lifetime, an insight that you have as soon as you set foot on the stone street in the historical center. We feel the same while looking at the Mother Church's interior features that keeps time frozen still inside it, in an unfinished state. Similarly, when you breathe the fresh air coming from the Serra do Caraça, as if every single person could, there, choose the time they want to experience. As if this could happen in a blink of an eye. Over three centuries, the city has been through many rediscovering cycles and is currently experiencing another one, again, with its ascension
as the tourist reference in the "Entre Serras - da Piedade ao Caraça" region. The new stage has been enlightened by a engaging concept that has been generating, as a whole, effective results for the city. The tourist development, however challenging, is empowered by this oneness, and the outcomes are already being seen throughout Minas Gerais! A sort of tourism that has emerged with a great mission: offering the visitors an array of entertainment options that might satisfy the human being integrally, binding their absolute need for integration down to the land and natural lifestyle, for which humankind was created for. It's a tourism form that fully appreciates human abilities in their search for something that might connect the health of the body, mind, and spirit. An idea that shows this integral health must consider the territory in question, its local foods, its climate features, geography, and landforms, in addition to its lifestyle in a complete view of the human being and the space he occupies. It is a tourist project that exalts the local culture, pondering historical heritage preservation, economic viability, and all revenue generation processes, never forgetting that this place will be the house of future generations. Such a complicated equation, yet the small Catas Altas has been trying to solve it, day after day. Thus, the integral human perspective might become a reality enhanced daily. I could never discuss about any place without understanding its past, even if only a little, the track records upon which it was based on. Nowadays, to clarify Catas Altas' pioneeringly tourist position in the "Entre Serras"; first, we must understand that its rank comes not exclusively from its privileged natural environment or the willpower of a group of entrepreneurs in the city. This condition is the result of multiple factors, important and complementary. To understand them, we will retell some stories, using them to reach our comprehensive objectives. Let's jump into them! Located at the Serra do Caraça's foothills and sheltered by the Espinhaço Mountain Range, the settlement that originated the current city began at the end of the 17th century, approximately 1694, with the discovery of rich gold mines later called as Catas Altas. Domingos Borges is believed to be the village's founder in 1703.1 The youngest city in the "Entre Serra" is also the eldest one: the settlement dates back to 1703. There are no descriptions of why the Bandeirantes decided to start a village precisely in Catas Altas. Still, I wonder how they reacted when they contemplated the mountain's foothills landscape and its untouched nature, at that time;
1- CIRCUITO CULTURAL VIEIRA SERVAS. Município: Catas Altas. Disponível em: https://www.ufmg.br/vieiraservas/municipio/catas-altas/. Acesso em: dez. 2020
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they possibly admired it from a high ground where the Monsenhor Mendes Square is placed today. It must have been something splendid! That may have been their motivation: to leave for posterity the landscape scene that is the city's postcard today since at the same place the Mother Church of Nossa Senhora da Conceição [Our Lady of Conception] is situated, facing the mountains, the construction of a small church marked the beginning of the village, there erected to be seen and admired by all. Besides the local cinematic beauty, the city has its history intensely connected to the gold era, when they found a colossal amount of gold in the territory. At that time, this was a wellknown fact worldwide, especially in countries like Portugal, England, and Germany, from where immigrants and mining technicians came during the various extraction cycles, which formed, along with Africans and native Brazilians, the racial composition of the local population. Like many other mining towns, Catas Altas' history is related to the mining period in the 18th century. The name "Catas Altas" comes from the deep excavations made on top of the hills. The word "catas" means "garimpo", a relatively deep mining pit, depending on the terrain. In the village, the "catas", the "garimpos", the wealthiest and most productive mines, were located in the highest spots, on top of the mountains, and that is why the current town became known as Catas Altas [...]. 2 Besides the gold abundance, another thing became a legend in Catas Altas, making the territory even more famous. Who was it? João Batista Ferreira de Souza, the Baron of Catas Altas. Known for his eccentricity, João Batista Ferreira de Souza Coutinho inherited from his fatherin-law the Congo Soco mines which apparently were worth almost nothing then. From that moment on, his series of extravagances began. João Batista was bestowed as Baron of Catas Altas by D. Pedro I when the latter had been in Minas Gerais for the last time.3 In 1831, D. Pedro I visited the Baron of Catas Altas during a historically critical moment for the country. His goal was to gain the gold miners' support over some delicate issues threatening the Empire. However, his trip did not accomplish what he intended in Minas Gerais. Quite the opposite, right after this trip, a rebellion between absolutists and liberals started in Rio de Janeiro, called "Noite das Garrafadas" [Bottle-Throwing Night], which resulted in the definitive departure of the Emperor to Portugal in 1832. Although D. Pedro I did not achieve his trip's desired success,
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the Baron of Catas Altas' fame spread throughout Brazil. Mainly because of a sumptuous dinner that he served to the Emperor and his entourage, as Agripa de Vasconcelos described in his book Gongo Soco (1966). João Batista built many large mansions all over Minas Gerais, such as in Brumado, Santa Luzia, and Sabará. In Caeté, he constructed one of the largest estates in Minas. This real palace was acquired by the Baron of Cocais, another Congo Soco's mine owner, and nowadays it hosts the Museu Regional de Caeté [Caeté Regional Museum]. At the time, to distinguish himself from the other millionaires, he got himself custom-made gold tableware. He used to serve meatballs on pure gold plates, and his guests could take them as tokens at the end of the party. When he offered the canjica [Brazilian hominy pudding], he would put some corn grains made of gold inside the seasoned broth. If the guests, while chewing, realized what was inside the food, they could also keep them. 4 Narratives like these made the Baron of Catas Altas famous and highlighted the distance between his luxurious excesses and hard daily life in the mining period. The Baron of Catas Altas' eccentricities were quite different from the simple local lifestyle in this place. From the Agrippa de Vasconcelos words' interpretation, it was like the Baron's life reflected a finesse that was not related to the mining lifestyle's harsh reality in the slightest. Every gold fever cools down, alas, leaving the empty feeling of lost hope in its place. However, every evil brings forth some good; therein lays what refills, ennobles, and values the traditional and local practices. While reviewing this history, I reflect upon a thought from the German humanist philosopher Kierkegaard (1813-1855), which divides human existence into three "stadiums", yes, a stadium - the place where the game of life is played. The first one is the "Aesthetic Stadium": it reflects our search for immediate pleasure, giving more importance to its possibility rather than completion. The second one is called the "Ethical Stadium": where the man chooses the moral law that will rule over himself, and his relations. The third one is the "Religious Stadium", the man moves towards God and His creation. Each man can choose in his own time to grow up or not, to move or not from one stage to the other. There is an inwardly choice that decides in which "stadium" the game will be over. With the exhaustion of the gold pits and mines, the village got practically forsaken. The Baron of Catas Altas' flamboyant adventures and the gold extraction period went by, leaving behind,
2- BIBLIOTECA IBGE. Catálogo: Catas Altas. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=3302&view=detalhes. Acesso em: dez. 2020 3, 4- DESCUBRAMINAS. Barão de Catas Altas. Disponível em: http://descubraminas.com.br/Turismo/DestinoPagina.aspx?cod_destino=3&cod_pgi=2748. Acesso em: dez. 2020
as in other cities, a Baroque heritage and historic architecture. However, these few legacies were not be enough to stimulate the local economy. Later on, opposing the Baron of Catas Altas' past behavior, a new mentality sparked in town, consolidating a renewed value for the local economy. It began with the arrival of the Portuguese Father Monsignor Manuel Mendes Pereira de Vasconcelos, who nourished a different culture: wine production, a technique that Catas Altas' inhabitants embraced, becoming a legacy for several generations further. Nowadays, Monsignor's contribution is a city's tourist particularity, generating revenue and gastronomic attraction for restaurants, lodges, and local events. In 1868, Monsignor Manuel Mendes Pereira de Vasconcelos arrived in Catas Altas to be the village's vicar. He soon noticed the terrible state the place was in and the low morale stamped on few residents' faces who had not emigrated yet. The Father discerned the absence of any form of subsistence culture. To make drastic changes, Monsignor Mendes believed that it was necessary to educate the people, teach them how to use subsistence farming, and develop community life. Then he thought that could produce even the wine he needed for his Masses when he found an American grapevine seedling at a friend's house. Monsignor Mendes taught the people how to plant, prune the vines, harvest, crush the grapes, and how the fermentation process and proper storage worked so that no favor deviation could occur. Thus, the vicar managed to increase the wine production in Catas Altas over time, continually improving its quality. In 1884, Monsignor Mendes published a manuscript called "as noções úteis ao fabricante de vinho [practical winemaking notions], assembling pieces of information about the beverage production, differences among the various processes implemented, and how to prevent some winemakers' practices that could spoil the beverage. The Father ended up gaining national attention and made Minas Gerais' wine production overcome anonymity. The production of wine helped the population to raise their self-esteem. Some planted grapevines: others produced wine; others sold the final product creating a productive chain where the profit money would flow, and everyone wined in the end. The Jabuticaba [Brazilian berry] wine appeared almost 80 years after the grape drink, in 1949, by Mr. Anastácio de Souza. Before it, jabuticabas were used to produce liquor, common in the settlement's traditional houses.5
Monsignor's actions initiated the grapevine planting and wine production, yet many technical constraints had practically extinct the grape production after his passing. However, as intangible as wisdom might be, the knowledge about fruit fermentation was fundamental to consolidate the production of another type of fermented beverage from Minas Gerais' mining region: the jabuticaba fermented drink, whose lovers consider it as the local flavor. Besides the peculiar taste of jabuticaba, which is a very appreciated fruit, this fermented beverage, if moderately consumed, offers health benefits, even superior to grape wine. Monsignor Mendes had already pointed this fact out early on. It is a growing value opportunity for the territory; several producers and institutions such as SENAC MG, UFV, and EMATER are working to refine the fermented juice of jabuticaba. Nowadays, we might find the drink around town during the whole year; previously it was only produced for festivities. The first varieties with no sugar are already being made, so-called dry or semi-sweet ones. Some bottles are being stored to undergo the aging process; moreover, new technologies and manufacturing methods have been developed and tested, respectively, like the new cellar installed in the Sanctuary of Caraça's. An overall enhancing project is coordinated by the producers from the APROVART association. Besides registering the drink's official name, their innitiatives are leading to a new path, totally aligned with the formation of differentiated tourist attractions. In addition to the product's refinement, its optimal characteristics and harmonizations are being researched, divulging and amplifying some Oenological concepts related to patience and quality. The assistance of institutions as Embrapa and Epamig are necessary to make jabuticaba's handling and harvest more effective, and support research on more productive methods and optimal characteristics definition of the drink. However long, this is a promising approach. The territory has already elevated the product so that it can harmonizes perfectly with the local cuisine as the uniquely regional event tourism strengthens, like the Festa do Vinho [Wine Festival] that have been happening there for 20 years. A small sample of the permanent results achieved when the community thinks collectively, humanly, and sustainably, perhaps a small example of the Third Stadium defined by Kierkegaard. Undoubtedly, Catas Altas is one of the "Entre Serras''' territories where the mining cycles' traces are most visible. The city carries many marks from the mining periods in its inheritance, many of them as Intangible Cultural Heritage, which tells a completely different history. The Bicame de Pedra aqueduct is one of
5- BIBLIOTECA IBGE. Catálogo: Catas Altas. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=3302&view=detalhes. Acesso em: dez. 2020
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these heritages capable of showing the massive impact that the first stages of Minas Gerais' gold mining had in the city. Elected as one of the 21 wonders of the Estrada Real [Royal Road], it was built by enslaved people around 1792 to collect water from Serra do Caraça to Brumado's location, in Santa Barbara, where gold was extracted and washed. It is formed by a drystone wall, 5.10 meters high at its highest spot. Currently, only 200 meters of the monument remains. It is located 12 km from Catas Altas. Typically Colonial, the Centro Histórico [Historical Center] also evokes the gold mining period. Besides the houses, there are the Mother Church of Nossa Senhora da Conceição, the Chapel of Nossa Senhora do Rosário [Our Lady of the Rosary], the Chapel of Santa Quitéria [St. Quiteria] or Nossa Senhora do Carmo [Our Lady of the Mount Carmel], and the Chapel of Bonfim. Among these heritage assets, there is a curious monument in Catas Altas, the 17th-century Mother Church of Nossa Senhora da Conceição, one of the most beautiful temples in Minas Gerais. It instigates the visitors to know the carving work technique applied on the church's ornaments. What makes this church different from the other Colonial ones is its unfinished state. Because IPHAN has been protecting it since 1937, the work will not be finished either. Thus, we can observe altarpieces' carving work stages scattered around: the raw wood, with a white and gold background or paintings. The beginning of its construction dates back to 1729, replacing the small old chapel that existed there. Interiorly, the details are plentiful, and there are beautiful images such as the Pardoning Christ, attributed to Master Aleijadinho, and São Miguel [St. Michael], attributed to Francisco Vieira Servas... The four Doctors of the Church's paintings on the sides of the arco-cruzeiro [archway] are attributed to Master Ataíde. It is a church to be visited and revisited due to the enormous amount of detailed artwork impressed on its walls. Its façade is entirely original, with two towers in Moorish style In addition to contemplating its construction phases, this church allows us to grasp how abrupt the exhaustion of gold mines was in the Colonial Minas. For this reason, it has increasingly gained tourist interest today, serving as an illustration of how the extraction activities might be suddenly interrupted. Therefore, the city's urging challenge is reconciling its sustainable development and mining operations.
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TOURISM AND GASTRONOMY IN CATAS ALTAS Nowadays, Catas Altas has a well-developed tourist infrastructure, with good lodges, bars, and restaurants. Tourists have already recognized the city's appealing attractions and there is a growing interest in visiting it, which had been already noticed and reported by the lodgingaccommodation local industry. Tourism in town is a rather complete experience. Besides its rich Colonial heritage, adventure sports alternatives, such as trekking, climbing, slackline, and canyoning, are offered. The city has a significant food culture with unique cheese, sweets, jams, jellies, delicacies, fermented wines, and beers, typical of the outstanding local cuisine. It is such a delight for the tourists who have been promoting the ascendant local production chain. In Catas Altas there are also well-furnished bars and restaurants ready to welcome visitors. By ASSETUR and COMTUR projects, the city has sponsored many tourism incentives and local production programs, training, and teaching its citizens about the tourist trade, aiming to solve their doubts and improve the diverse services provided. Whether by mountain sports or not, the overall objective is integrating man with the ridge and its Nature; thus, visitors might enjoy its natural benefits for their physical and mental health, besides, of course, the unforgettable landscape view. Catas Altas is exceptionally suitable for mountain sports what powers its aim to become “the Country's Ridging Tourism Centre". That is the case of a differentiated guideline called ''Leave No Trace Hiking", a proposal showing how the man can enjoy the mountains in a healthy, fun, and sustainable way. This plan proposes a series of recommendations that protect the environment and educates the sports lovers to advocate Catas Altas' culture of preserving the ridge and its Nature. Catas Altas has an event calendar that provides tourists with different themed options, such as sports, religion, and gastronomy. For example, the city's anniversary, the Carnival, the Festa do Vinho, the Saint Patrick's Day, the Serra do Caraça Bier Fest [Beer Festival], among others. At any of these festivities, you will undoubtedly have fun. There are also local fairs regularly scheduled, which guarantee the flux of visitors from surrounding towns, especially on weekends, with the Sabores do Morro [the Hill Flavors] fair, which takes place in Morro da Água Quente's district. Loyal customers come to this
fair for its excellent quality products and the cozy environment suitable for informal meetings and conversations. Besides hosting Sabores do Morro, the Morro da Água Quente is a delightful place to visit, with Colonial architecture, walls made of canga [iron ore rejects], and natural bathing places Many challenges are being overcome, enhancing each layer of local tourism, which generally involves trade, food production, education, and health. So, the city might gradually perceive itself as a genuine tourist destination. It’s a long way of continuous advancements, so Catas Altas might fully embody its tourist role. As for 2021, Catas Altas is a city with more than 5,000 inhabitants, sought-after for houses' rentals over holidays, weekends, and season. Many people are getting passionate about the place and its very attentive and diligent lifestyle. It's no wonder that Fernando Sabino chose to write his masterpiece: "O Encontro Marcado" [A Time to Meet] on these lands. The Rede Globo, a television network, also filmed a TV miniseries in the city, starring Antônio Fagundes, Mariana Ximenes, and Débora Falabella, called: Se eu fechar os olhos agora [If I close my eyes now], in 2018. In 2016, the Globo Reporter - a travel TV show - broadcasted an episode showing Catas Altas and emphasizing the health benefits of jabuticaba's fermented drink; on many other occasions, the city apperead in the media because of its tourist qualities.
General Director of the Sanctuary of Caraça, and Father Luís Carlos do Vale Fundão, who advocates for the tourist development of Catas Altas. All these factors consolidate Catas Altas as an authentic tourist destination. The city acknowledges and is engaged on this purpose: constructing a form of tourism that maintains its historical legacy and importance to Minas Gerais. Besides the human wholeness, the location is a cradle of Minas' culture, which understands the man as an integral being in need for harmonizing their body, mind, and soul by incorporating a better way of living together, along with Nature and God.
In 2018, Fátima Pinto Coelho wrote about Catas Altas. Her book is entitled “Catas Altas do Mato Dentro” and depicts the city through poems, drawings, and photos, recommending it as a tourist destination while describing its multiple landscapes. This book somewhat gave me a glimpse similar to what the 17th-century Bandeirantes experienced, a feeling evoked in those who had contemplated it. Furthermore, the city is full of music tradition. There are many talented performers living around there, as the Lili Band, which successfully participated in one of The Voice Brazil's edition, among other local musicians. It is important to point out that the Sanctuary of Caraça lies on the grounds of the city of Catas Altas, along with a large part of its RPPN, which, due to its great extension, reaches over several other neighboring cities. The Caraça deeply inspires tourists bringing them to Catas Altas, thus its bond with sanctuary has been strong from the beginning. The Caraça tourist reference secures the city with national and international tourists. The supportive actions from the shrine are innumerable. They derived from the current directors' proactive measures: Father Lauro Palú,
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SANCTUARY OF CARAÇA Father Lauro Palú, C. M.
Oh, the Caraça. What mysterious place is this? Where the poet Carlos Drummond de Andrade wanted to "stay there working on something simply peaceful, like the mysterious Brother Lourenço had done it a century and a half before; disillusioned with the world, he went to the core of the mountain and built a chapel there Excerpts from the Caraça Visitors' Book: The Caraça alone is worth a trip to Minas (Dom Pedro II [Emperor of Brazil], 1881). I have experienced, with my soul full of emotions, the Holy Trinity of Caraça: Silence, Solitude, and Sacredness (Alceu Amoroso Lima, September 12th, 1938). "The Caraça is just like a miracle! The most impressive shelter that the faith in God could have placed on Brazilian lands. Through the incomparable piety of mysterious Brother Lourenço (what unbearable remorse would have demanded such a great expiation act, carrying on his shoulders the stone fragments of Minas!). He built upon the harsh summits of Caraça the most solitary - and poetic - refuge in this country. The Atlas Mountains [a series of mountain ranges in northwestern African] of the Brazilian religion. A cloister for a cenobite, way up high. The closest sanctuary to the sky and farthest one from the earth, on the clouds, it might see that we could touch the hermit's benevolently miserable ghost from 1775... How admirable this national monument is, the priceless Colégio de Nossa Senhora Mãe dos Homens do Caraça [Our Lady, Mother of Men, Caraça School. (Pedro Calmon, August 17th, 1934). Carlos Drummond de Andrade had been in Caraça, in the 1930s. He registered his impressions on the article “Henriqueta e o Caraça”, when wrote about the book Montanha Viva [Living Mountain], by Henriqueta Lisboai.1
When I was a grown man, I visited the Caraça; I took good notes of its alpine scenery, excellent cellar stocked with homemade wine, and venerable library. I enjoyed myself watching how the Apostolic School's students played soccer wearing their cassocks; the Lazarist Fathers treated me as a distinguished guest, since I was going as a journalist in Gudesteu Pires' committee. At some moments, I felt like leaving everything behind, and become a newspaper delivery man only to stay there working on something simply peaceful, like that mysterious Brother Lourenço had done it a century and a half before; "disillusioned with the world", he went to the core of the mountain and built a chapel there. However, the cars were waiting for me, next to the palm trees on the patio, ready to take me back. My dream was short-lived, but long enough to drive my mind away from some primitive ideas of Caraça, like the period in which corporal punishment was usual, but (some people say), it was just a phase. Former students in Caraça, now high-ranking people in politics, literature, and the clergy, express grateful memories from their old School....
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You can go to Sanctuary of Caraça through the BR 381 (262) highway, departing from Belo Horizonte or Vitória, you drive until the roundabout in Barão de Cocais, then take the exit onto state highway to Barão de Cocais, go straight and take the exit at the roundabout to Caraça. From Rio, you can go through Belo Horizonte or shorten the trip by 70 kilometers by taking the exit in Lafaiete going towards Ouro Branco, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, and Santa Bárbara until you reach the roundabout exit to Caraça. From then on, you will start driving into the past, which is felt even in the places' names: São Bento [St. Benedict] or Barra Feliz [Happy Barrage], Brumal [Mist], Sumidouro [Sinkhole], Arranca Toco [Tree Stump], Santana do Morro [St. Anne of the Hill]. It will be a 20-kilometers ride surrounded by hills, fields, cattle, sugar cane and coffee plantations, many macaúba coconut palms, extensive cerrado's slopes, sometimes covered by princess flowers (Tibouchina urvilleana). Finally, some high, challenging mountains will start to gradually appear on the horizon.
1 - Drummond's article was reproduced by Fr. José Tobias Zico on his book entitled Caraça: Ex-Alunos e Visitantes [ Caraça: Alumni and Visitors]. Belo Horizonte, Editora São Vicente, 1979, p. 246-247.
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A NAME ON THE MAP
The name Caraça first appeared on a Province of Minas' map in 1708. In 1716, the Arraial do Inficionado [Contaminated Settlement] in Caraça was mentioned. Besides locating the region where there was a mining village, the name Pico do Inficionado [Contaminated Peak] indicated the type of metal that was found in the area: contaminated gold, impure, perhaps of low quality, yet abundant. The Bandeirantes [explorers] got so fascinated about the land as to create legends that inspire conversations to this day. Bento Godóis Rodrigues, while crossing the Caraça river basin with his group, collected more than one arroba of gold in just one day. Immoderately ambitious, he rushed to São Paulo to buy a sesmaria [a land grant from the Portuguese Crown]. When he returned to Minas, being more of a landowner than a Bandeirante, he never found the stakes he had used to mark the privileged place. Someone took the stakes off, the references, thus destroying the Bandeirante’s dreams. Nowadays, Bento Rodrigues is the name of a district in Mariana municipality, which became tragically known after the Samarco dam failure that caused 19 deaths and devastated an entire river ecosystem, liberating toxic mineral waste as far as the Atlantic Ocean. Another legendary story tells us of a black elder who, during his confession, told a Father that every year he would to a place and extracted a gold nugget, big enough to cover his expenses and needs for a year. The Father asked if he didn't want to help build a church for the pilgrims in Caraça. The black elder agreed and went right ahead to show the way, walking at a calm pace. Right behind, there was a gang of adventurers hurriedly following them. Suddenly, the black elder tripped down and fell drop dead, without telling how far they were from the wonderful gold deposit, the miraculous river stream bed. Another tale says that a gold deposit was found on a river stream bed after some workers blasted a rock on which a church would be constructed. When the smoke cleared and the dust from the explosion settled, the gold nuggets shined bright like a fire all over the place. They ran to call the Father, who was also the architect, and he indifferently ordered them to cover up the place to construct the House of God right there. There are many stories and the fantastic "causos" [tales] involving precious stones and gold, full of people hiding, betrayals, and deaths. We
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might comprehend these legends' existence as something inevitable, since the houses were far from each other, or as a consequence of the solitude in which pioneers, pilgrims, and story tellers lived, desperately afraid that they might not finish their work there. On Tanque Grande waters, the mercury residue does not come from a clandestine mining operation, which is practically impossible given the number of tourists and researchers that walk through the region every day. They are wastes from the 18th and 19th centuries. In fact, near Pinheiros, there are regular-shaped pits, from where some people extracted gold and diamond years ago. Gravel piles demonstrate that ore washing activity was exhaustingly intense. After two or three hundred years, not a single strand of grass has grown in the mining pits' region yet. The laterite soil, waste product from mining, is intrinsically infertile. Also, a gold pan was found in Bocaina, a former mining site.
A SINKHOLE At the foothills, before the entrance to the sanctuary’s Natural Reserve, there is a village called Sumidouro [sinkhole]. A natural sinkhole is a place to where rivers flows, the water stream goes under the stones, or through holes, and suddenly reappear in another location, more ahead. This is what happens in the Caraça’s sinkhole, located before the Tabuões [a part of the river]; only after the Cascatona [waterfall], the water stream continues to flow under open sky. Sumidouro is also a den, a refuge or hiding place for murderers, adventurers, cheaters, and fugitives. Minas rocky trails were full of those. The Sanctuary of Caraça was built between 1770 and 1774. The founder's real identity is unknown, he was called Brother Lourenço of Nossa Senhora. According to reliable documentation, he could have been Carlos Mendonça de Távora, the one who the Marquis of Pombal supposedly condemned after he attacked Dom José I. The King had had an affair with a woman from the Távora family. After scaping, Carlos Mendonça de Távora was burned in effigy, had his civil rights revoked, and had to embark to Brazil, hidden inside a barrel, where someone brought him food and water. This story, registered on books, is told today by the people in the Gualuxo region, Mariana. While in Diamantina, it is documented that Brother Lourenço was a subcontractor of diamonds, working with João Fernandes de
Oliveira, Chica da Silva's husband. He committed a serious offense and tried to hide under the Third Order of Saint Francis' vestment. Erratically, he went through his "novitiate" period and was suspiciously accepted by the religious order. Then he went into hiding disguised as a penitent hermit in the Caraça region, which, once again, became a sumidouro [hiding place].
bishops of Mariana describe the pilgrimages to the Serra do Caraça. These registers reveal that popular devotion and its eventual excesses during confessions and penances were not always wellcomprehended. The Caraça was seen as a center of pilgrimages, and sometimes troubles. But Brother Lourenço de Nossa Senhora got neither disheartened nor discouraged by any of this.
A HOSPICE
A HOUSE
Only God knows what lies on the heart of a remorseful man, who is trying to escape from the ones that are after him and, above all, wants to run away from his past. Brother Lourenço attempted to disguise himself as a penitent. After 1770, the ones who had seen him, going up the hills, running on the fields, deforesting the woods, still at the peak of his health, fully capable, could certainly believe what was said about his suspicious past. However, when he arrived at Caraça, he was utterly disillusioned with the world (or just gave this impression to those who saw him). It was completely believable that he wanted to give himself to God totally, crying over his past life while on this land, and dedicating himself to the atonement of his sins and to religion.
The House was erected upon the stone surface, as it is visible in the catacombs located under the cloister and the current church, whose entrance is on the uneven floor that supports the construction, without any foundations. There is an imposing area in front of the House, where once was a garden; today, a half-part is a garden, and the other half is a parking lot. An esplanade was created to display the architectural artwork to those coming to the sanctuary, going up the mountains, through the main road, in Boa Vista, or the old one in Cascatona. From afar, you can see the building complex, embedded into the hills, ornamented with palm trees vertical rows. In 1816, Auguste de Saint-Hilaire visited the Serra do Caraça on a herborizing mission, going into the forests and meadows, climbing the mountains and drinking from the clear waters. He described how a conversation with Brother Lourenço went, under the rare shadow of a palm tree:
Brother Lourenço chose a location for a hermitage and, to receive the pilgrims, built a hospice as lodges for travelers were called back then. After that, the facilities had to be extended and more accommodations constructed because the Chapel of Mãe dos Homens [Mother of Men] and São Francisco das Chagas [St. Francis, the Wounded] started to receive many pilgrims from everywhere. The journey to get to Caraça was days long, and you couldn't go back immediately. You had to rest, even if you wanted to atone your sins, robberies, murderers, and treasons through this penance. In contribution to the hermitage's renown, there is primarily the beauty of Our Lady Mother of Men' statue, which came from Portugal in 1784, then the sacred relic of a martyr's body sent by St. Pio, which left Rome in 1792 and arrived in Caraça in 1797. In 1805, both sides of the Baroque church were half the size of the two current pavilions on the façade. From 1791 to 1885, the Brotherhood of Our Lady Mother of the Men commissioned 23,226 people all over the Province of Minas Gerais. The brotherhood helpers collected modest contributions to maintain the pilgrims' minimum conditions: food, accommodation, and religious service. Documents written by county judges and
I gazed upon the old man, leaning against the balustrade of his monastery’ terrace. A palm tree was covering him with its shadow. His head was bent over his chest, but in his eyes, there was a fire that once lit them up. A rosewood staff, blacker than ebony, helped him to support his body weight. He seemed absorbed in profound reflections, and, perhaps, inside himself, he was more inclined to blame the speed of time than the human inconstancy. The name of the extraordinary character who ruled France reached Brother Lourenço's ears, who came out of his stupor to ask us what had become of Napoleon after he was handed over to the English. Humankind benevolent ones live unknown, but fear is not as discreet as gratitude. The fame of conquerors reaches even the most ignored places. It is like the noise of thunder that is heard from distance spreading terror everywhere (Voyage dans l'intérieur du Brésil. Tome premier, p. 218-225).
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Apparently, the original idea was not to build the House over there. By the Pinheiros trail, you can see, in all its majestic grandeur, the Caraça, the unimaginable and unforgettable mountain that named the place the massif's highest spot. From that perspective, it looks like a laid man's profile: forehead, eyebrows, nose, lips, chin, and neck. So distractingly spectacular that only a handful of people realize a two-hundredmeter wall on the other side of the trail, on the ground level, lost among the meadowy vegetation. Some people say that there was a kitchen garden there, which was abandoned due to soil infertility; today, it is covered with cerradão [cerrado's typical vegetation], next to some riparian forest sections, further down. In the same region, there is the forest from where Canjerana wood (Cabralea canjerana) is extracted and Father Leite's grove. These are lands of poor soil, composed of infertile laterite, where no more than hard grass and ugly quiçaça ferns can grow. Sterile soil now... before it was the dream and nightmare land; nearby, people washed gold till their exhaustion. It is also said that this wall was part of a square that had, around its three sides, a settlement right in front of the imposing mountain's panorama. Others say that the House of Caraça would be built there, but they had to abandon the plan for whatever reason. People who have known these hills having already stopped in front of them, holding their breaths, with their hearts skipping beats, might imagine how wonderful would have the House been positioned before the Serra do Caraça.
A PILGRIMAGE CENTER
Brother Lourenço's chapel original design was portrayed on an illustration in 1805, on a Martius' drawing from 1818, another time on a Rugendas' picture entitled “Convento de N. Sra. da Conceição na Serra do Caraça" [Convent of Our Lady of Conception at Caraça Mountain] dated from 1824 and published on Langsdorff's writings about his expeditions to Brazil, 1821-1829, v. I. Later, it appeared on a landscape photo in 1870 and on students' pictures taken in front of the small church's stairs in the 1870s. Once more, it was depicted on a drawing of the School in 1876. SaintHilaire described the chapel this way: After a two-hour walk, we reach a kind of plateau, where the hermitage of Our Lady Mother of Men is situated. (...) The traveler is suddenly taken aback by the large building's unexpectedly
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appearance, exceedingly high and extremely far from any habitation. The ones who arrived at the terrace see in front of them a row of palm trees, winding their elegant foliage. Upon this terrace, the hermitage is erected, divided into two parts, facing one another. A stairway between the two separate buildings leads to an area on the same level as the first floor and the church. The latter, however, it is further away forming what could be called the main hall, whose wings would be the two buildings. The entire façade of the building measures approximately 23 paces from one end to the other, each wing has six windows on the second floor, widely spaced from each other. The staircase has 18 steps. After the first four steps, there is a large area, then the next narrower 14 ones, with a stone handrail on both sides, a considerably tasteful work. Around the interior balcony, there is a balustrade, similarly designed as the one on the stairs. Something similar to a porch is situated in front of the church door, formed by two pillars supporting the gallery, where the organ is placed. The church is small yet well ornamented with beautifully rich silverwork; the large silver-gilt candelabras stand out, irregularly shaped like those in other temples. There is a horseshoe-shaped hall around the church, with which it is not connected, and whose entrance is through two exterior doors. Along the hall, there are several chapels scattered. On the altar of each one of them, there is a painted wooden statue representing Christ in some station of His Passion. Even though they are far from being masterpieces, these statues have enough appeal, so you are able to understand the artist's intention. They deserve the admiration of those who know they were sculpted by a man who never had a model under his eyes and lived solitarily on the Botocudos' border [indigenous territory]. The two most remarkable and richly ornamented chapels are outside the corridor. On opposite sides, they are built at the very back of the hermitage building and on the front porch level, which is part of the church. On the altar of the right chapel, several wooden statues reproduce the ways of the Cross. A wax-covered body is on the left chapel, richly dressed, the Rome’s relic. This is the hermitage of Our Lady Mother of Men (Saint-Hilaire, Auguste de. Voyage dans les Provinces de Rio de Janeiro et de Minas Gerais. Tome premier, p. 223).
In 1875, from the original hermitage and Neo-gothic chapel, "the two most remarkable and richly ornamented chapels" were preserved on the main entrance's right and left sides. On the left one, there is no longer the Saint Pius' martyr; it was transferred to the left gallery and today is placed under the altar in the center of the apse. The place where the martyr's body was is now empty; when you open both doors, all you can see is the ornaments by Athayde on the the altar background. On the right chapel, also adorned by the same painter master, Our Lady of Sorrows statue is revered, and the Blessed Sacrament is adored on Holy Thursdays and during the Passion's night. The left altar was dismantled and sent to São Paulo during the 500 years-old celebrations of Brazil in 2000. When it returned, to reassemble it, some "experts" joined the pieces using huge white steel screws, which shock the visitors, who have every right to expect that such a monument, a Vieira Servas' design, would not have been so deformed and damaged… The pilgrims came from everywhere, looking to atone for their sins and reform their lives through penances. Several priests from Catas Altas, Santa Bárbara, and other parishes have climbed the mountains during Lent, Advent, and other religious festivities to celebrate masses. They preached threatening sermons, baptized the children, both from masters and the enslaved people, got those who were cohabiting married, absolved the guilty ones, and prepared the nearly dead. During its splendorous time, they built the chapel, extended the lodges, and even asked the King and bishops for support to continue the charitable work. Brother Lourenço wrote his will in Mariana in 1806 and requested the Court and the Curia to send people to continue his mission. If, in the beginning, the Caraça was a mission center to where pilgrims went, afterward, it became a center from where the missionaries departed to go to other places, inspiring conversions and life changes. Many would come to Brother Lourenço's Chapel after hearing his helpers talking about the beauty of the celebrations and the blessings and graces achieved by those who went to pray at the feet of Our Lady Mother of Men and Saint Pius.
AN ENVIRONMENTALLY PRIVILEGED SITE THAT SCIENTISTS VISIT Being widely known as a center of pilgrimages, a fame brought by Brother Lourenço, the widespread admiration for what was extraordinary in the Caraça attracted an unexpected type of pilgrim to the sanctuary: experts and scientists. Since the beginning of the 19th century, they have been systematically studying its mineral riches, fauna, flora, and other extraordinary features of the Caraça land. From Europe, renowned scientists accepted the invitation of D. Pedro II and religiously crossed the region. Fritz Mattick mentions it (in a text about Edvard Wainio, Auf den Spuren des Lichenologen Wainio in Brasilien: Das Carassa-Gebirge, in Willdenowia, Mitteilungen aus dem Botanischen Garten und Museum Berlin-Dahlem - Bd. I Heft 3, S. 404-432, 24. Februar 1956), along with the following scientists: Peter Claussen, Danish, in 1843; A Glaziou, French; Émile Gounelle, French, in 1885, 1899, and 1903; Georg Heinrich von Langsdorff, German (visited the mountain, not the sanctuary), in 1816-1817 and 1824; Auguste de Saint-Hilaire, French, in 1816-1817; Karl Friedrich Philipp von Martius, German, and J. B. von Spix, German, in 1818; Friedrich Sellow, German, in 1819 and 1830; Frans von Olferz, German, in 1818-1819; Ludwig Riedel, German, in 1824 and 1825; Johann Emmanuel Pohl, German, in 1820 (visited the mountain, not the sanctuary); Frederik Christian Raben, Danish, in 1836 (also visited the hill, not the sanctuary); George Gardner, Scottish, in 1840; Francisco Ribeiro de Mendonça, Brazilian, in 1884 and 1885; Edvard Vainio, Finnish, in 1885; Ernst Ule, German, in 1892; Carl August Wilhelm Schwarke, German, in 1893 (visited the eastern region of the Caraça mountain range); Erich Werdermann, German, 1932; and himself, Fritz Mattick, German, in 1953. Others tthat went and have been to Caraça: F. C. Hoehne, G. Pabst, Anton de Ghillany, Emerson Pansarin and L. Mickeliunas, Rubens Custódio da Mota, orchidologists; Herbert Schindler, Marcelo Marcelli and Adriano Spielmann, lichenologists, Alexandre Salino, João Renato Stehmann, Jefferson Prado, Juliana Ordones Rêgo, Harold E. Strang, botanists; Sônia A. Talamoni, Paula Cabral Eterovick, Joaquim de Araújo Silva, José P. Ney Carnevalli, zoologists, Helmut Sick, Luiz Pedreira Gonzaga, Marcelo Ferreira de Vasconcelos, ornithologists; Marcelo Ribeiro de Britto, ichthyologist; Olaf H. H. Mielke, Victor Becker, Fr. Francisco Silvério Pereira, Maria Aparecida Vulcano, Miguel and Marcela Monné,
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entomologists, Luís Cláudio Ribeiro-Rodrigues, Filipe Nunes Silva, Ulisses Cyrino Penha, geologists, etc. Many universities and research institutes from Brazil and abroad constantly promote studies on the Caraça. Their systematic research noted the many endangered plant and animal species in Brazil and Minas Gerais living there. There are studies on butterflies, bees, ants, Diptera, cave invertebrates, tree frogs and toads, fish, hummingbirds, andorinhões birds [Apodidae], birds of prey, maned wolves, tapirs, squirrels, rodents in general, monkeys, mammals in general, and large mammals, peppers and wild peppers (studies on them have been written or are in progress), avencas plants [Adiantum], ferns, orchids, lichens and mosses, some plant families (Cactaceae, Gesneriaceae, Melastomataceae), medicinal herbs, caves, white and red waters, the effects of pollution on the most used stones in buildings and monuments in Minas, and theses on the touristic potential of Caraça. The Natural Reserve has many endemic species. On the map about Biodiversity in Minas Gerais: An Atlas for its Conservation (Costa, C. M. R., R. Hermann G., Martins, C. S., Lins, L. V. & Lamas. I. R. Belo Horizonte, Fundação Biodiversitas, Governo de Minas Gerais, IEF e Conservation International, 1998, página 1), the Private Natural Heritage Reserve is described as "special interest for conservation area, whose importance is separated in three levels: - priority area for Minas Gerais' flora conservation, with special biological importance, the highest category; - priority area for Minas Gerais' birdlife conservation, with extreme biological importance; and - priority area for Minas Gerais' mammal fauna conservation, with very high biological importance.". From the species living in Caraça, 10 mammals are threatened with extinction in Minas Gerais; 23 vascular plants are on the list of endangered in the state of Minas Gerais (2 are probably extinct, 6 are endangered, 15 are considered as vulnerable); 12 phanerogams [Spermatophyta] are on the list of endangered plants of Minas Gerais; 9 orchids species are on the Red List of Endangered Species in Minas Gerais' flora; regarding the birds in Caraça, 47 are endemic to Atlantic Forest, 3 are endemic to the Rupestrian Fields of the Espinhaço Mountain Range, 4 are endemic to the Cerrado, 12 are globally threatened or nearly threatened, 8 are threatened in Minas Gerais.
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AN ABANDONED HOUSE, YET VISITED BY GOD The painful writings of Saint-Hilaire and a Catas Altas' priest registered Brother Lourenço's old age and physical decay. The work decreased, the House was in ruins, the enslaved people either escaped or died, the pilgrims were rare, the welcome was unsatisfactorily cold, and service unacceptably precarious. With no commander to coordinate the project, because of the infirmity of their leader, who formed and organized the first group of helpers, there was no way to go on. Brother Lourenço have agonized and feared the imminent end. He felt that all he had hard worked for would fail and vanish into nothing. That is what the priest of Catas Altas parish heard him groaning in the endless night when he brought him the last rites. However, in the middle of the night, Brother Lourenço calmed down, slept, and awake transfigured. He had a vision of Our Lady, who assured him that his work would be perpetuated by future missionaries who would fulfill his dream to build an art and language school and a mission center. He told his vision to the priest who wrote it down. Brother Lourenço's room, whose floorboards were stepped on by the Mother of God, is today a sacred museum, full of relics of saints, gold chalices, vestments and missals, ornaments, and statues. The visitors have no idea what has happened there. They cannot imagine what it meant to Brother Lourenço the Blessed Virgin's assurance that his work would splendidly continue. After the 1968's fire, the Caraça is neither a school nor a mission center anymore. The students' building was first consumed by fire and after discarded by the neglect and disregard (or insanity) of landowners and public men from Minas and Brazil. The priests who heroically maintain the sanctuary and the biological Reserve say that their students today are the tourists and researchers who arrive by the thousands each year to enjoy and study the wonders of nature and the library rarities, providing opportunities for intellectual exchange and cultural enrichment.
A BLESSED INHERITANCE Since 1820, the Caraça's region has been owned by the Brazilian Province of Congregation of the Mission. King Dom João VI, by a Royal Letter dated from January 31st, 1820, donate the lands and Sanctuary of Caraça to the Fathers Leandro Rebello Peixoto e Castro (1781-1841) and Antônio Ferreira Viçoso (1787-1875), who had recently arrived from Portugal to stablish a Vincentian mission in Brazil. Brother Lourenço left the shrine, the sesmaria [land grant from the Portuguese Crown], the enslaved people as an inheritance to the Prince of Portugal, Dom João: "I hereby declare that I am the rightful lord and owner of the lands, located in the Serra do Caraça, with more lands annexed to it, as is publicly known and will appear in my titles, where, at my own expense and with donations from the faithful believers, I built a chapel under the name of Our Lady Mother of Men and St. Francis, the Wounded (...). I declare that my will has always been and still is to use all my referred possessions for the support and residence for missionaries (...) and if it is not possible to apply it for this purpose, it might serve to fund a Seminary for boys, where they might learn their first letters and more about arts, science, and languages (...). Thus, I thereby appoint the Prince, our Lord as my Universal heir." Thus, since 1770, Caraça's grounds have known only two owners: Brother Lourenço and the Brazilian Province of the Congregation of the Mission. D. João VI' lands were extended by the priests. They bought the Chácara de Santa Rita [St. Rita's Ranch] and Fazenda do Engenho [Mill's Farm] in 1823 and 1858, respectively; also, Captain Manuel Pedro Cotta donated the Fazenda do Capivari [Capivari Farm], in 1870, to the Congregation.
AN IMPERIAL SCHOOL
of Brazil), and Olegário Maciel have sat. In 1824, the building held the name of the Imperial House of Our Lady Mother of Men. Its first principal, Father Leandro, was summoned to Rio in 1838 to manage the newly founded Pedro II School, of which he was vice-principal. In 1900, some would compare the Caraça School to the National School [the Pedro II title came after the Proclamation of Republic]. More than 10,000 students from all over Brazil have passed through these classrooms. They have influenced the country with their robustly cultural, religious, moral, and humanistic education. That intellectual formation opened paths for them in the judiciary, politics, teaching, government, medicine, arts, diplomacy, journalism, economics, and music fields. We may read some annotations on the page borders of the Student Registration Book that say: became a farmer, cattle breeder in Alto São Francisco", "died in the Paraguayan War", "is the vicar general of Diamantina", " Consul in Bolivia, was eaten by the natives; "Dr. Eiras' brother from the Casa de Saúde [a Heath House]", "scholarship student and talented doctor"; one "ran away from the School", another was "director of Banco do Brasil [Bank of Brazil]", other was a " slave trader", another one was "expelled for insubordination The teachers were the Fathers of the Congregation, supported by the diocesan priests and laypeople. They taught more than 25 subjects at the School and Seminary. Since the number of students reached 400, the Fathers were forced to build a church in place of Brother Lourenço's chapel Recently, the Caraça administration have put hundreds of books up for sale, especially dozens of handbooks that were used until the Seminary's fire in 1968. Eagerly, former students bought these living pieces of their past; some found the books that have belonged to them when they were boys, 40 years ago, with their names or classmates still written on them…
A MISSION CENTER In 1820, the small School started its teaching work, which would later become a renowned institution in Minas Gerais during the Empire and the First Republic of Brazil (1820-1842, 18561912). In its classrooms, Presidents Afonso Pena (from 1859 to 1863) and Artur Bernardes (from 1887 to 1889) and governors of Minas Gerais, such as Augusto de Lima, Melo Viana (also Vice-President
The 1820's missions in Catas Altas and Barbacena spread throughout the Minas Province until the mid-20th century. Parting from Caraça (Mariana and Diamantina), missionary groups inspired a profound devotion wherever they went, a faith based on instructions and prayers at
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the service to the poor. In the following decades, Daughters of Mary and Society of St. Vincent missions appeared all around; many people attended the calling from the Daughters of Charity (after they arrived in 1849) and the Congregation of the Mission as well. After a round of missions, the missionaries returned to Caraça to rest, evaluate their work, and prepare themselves for the next services. I have personally seen this in 1953 when I started to study in Caraça. Inside the Seminary walls, the Missionaries' return lighted up the hearts of boys and youngling with the zealous, apostolic ideal.
themselves, inside their hearts. When they retire to the church in silent prayer, they are accompanied by heartwarming tears. During conversations around the tables in the cafeteria or dining hall, they celebrate while endlessly recollecting affectionately amusing stories, in addition to some sad yet blessed memories. An unimaginable lifetime, impossible to be experienced today. A personal inheritance, memorial treasures that we will relive in our minds throughout our entire lives.
SOME RUINS…
A SEMINARY Along with the School, a Seminary was stablished to train the Congregation's missionaries. Between 1854 and 1882, Caraça also housed the Major Seminary of the Diocese of Mariana. In 1881, during Dom Pedro II's visit, students and professors intellectually debated on the concept of Placet [Place] with the Emperor. Hundreds of the young ones who studied in Caraça became clergymen in Mariana and other dioceses. When the College closed its doors in 1912, an Apostolic School remained there, inaugurated in 1905, the Minor Seminary of Province, where 2,322 students studied, of which 176 were ordained as priests. The Lazarists Student Alumni Association and Caraça Fellowship was founded in 1945, to help the Seminary during the post-war difficult period. The association opened firstly to fellow men [advocates] and more recently to fellow women, both somehow attached to Caraça. The Fellowship also includes those who frequently go to the shrine for studying, resting or retreating purposes. The current members of the Association are mostly former students from the Seminaries in Caraça, Mariana, and Diamantina. As expected, when they gather together for their annual reunion, several meticulous, insistent, constant narratives are shared while they go up the mountains, describing in details what have made their lives in the Apostolic School in Caraça unforgettably great. Many of them have published their memoirs in various states in Brazil, tenderly demonstrating how incredible their lives as seminarians were. The experiences lived while inside Caraça walls were numerous. Even today, the knowledge acquired from what we have learned in the secondfloor study room and the ground floor classrooms have been helping us in our lives. Those who return to the sanctuary remember their teachers and classmates, finding the child lost within
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On May 28th,1968, a fire destroyed the building where the bindery room, discipline office, the Natural History Museum, pharmacy, dental office, nursing ward, classrooms, and a famous library were on the first floor. On the second floor, it also consumed the study rooms, a theater with its sets and historical costumes, and the third floor's dormitories. This tragedy made it practically impossible to continue the teaching work. Inside the Natural History Museum, there were collections of insects, minerals, fossils, exsiccated botanical specimens, instruments for physic and chemical experiments, old films, daguerreotypes. Also, countless old "gadgets", carefully, sometimes expensive, bought to enrich the museum, as well as preciously rare works, such as two complete collections of Martius' Flora Brasiliensis. For several years, the building remains were abandoned until the restoration of its most recent side, made of thick stone walls, which resisted the fire; however, the old bricky part, annexed to the church, crumbled down. A concrete, steel, and glass building have been constructed within the ruins to support them. The walk up the stairs is impressive, you can contemplate the sanctuary's architectural complex through the glass, appreciate the strength of those walls almost one meter thick. Just imagine how they were built; these huge stones had to be carried up until this high spot, and after beautifully and perfectly fitted together. The brick walls were not restored, but it is necessary to rethink this poor choice that reminds us of those years in which Caraça's activities had to be practically stopped. I would say that the situation got close to a collective state of shock associated with general paralysis induced by the disaster. While all that our negligent, unreliable, verbose authorities did was talk about it... Potentially, the museum and library
can be extended to create an exhibition lounge. Regarding the restoration or even the construction of another building complex, a saying of Murilo Mendes might apply to Caraça. When asked to explain how he selected his complete poetry work, Murilo wrote: "I am not what will outlive myself / I am my own contemporary". Caraça was never interrupted; it cannot be treated or preserved just as ruins. It is a lively, thriving, promising, hopeful, capable, fertile, exceptional, fantastic organism. There were approximately 50,000 books in the library. From the fire, fifteen thousand writing pieces were saved. Nowadays, there are more than 25,000 books among donations and recent acquisitions. A compendium with the cimelia relic collection- has been kept, organized by Father Peter Sarneel. We might see that most of the books from the 15th, 16th, 17th, and 18th centuries have been preserved on their pages. The library now has a computerized catalog system, its bookshelves are being cleaned up and replaced, the collections are getting fumigated, and the most precious and old books are being restored. Both the sacred and historical museums have been arranged in two environments, yet they are not completely organized. The most valuable artworks are repaired to be displayed there. On November 13th, 2020, attended by almost all the Fathers and Brothers of the Brazilian Province of the Congregation of the Mission, in the garden area next to the museum, an event inaugurated the statues by the sculptor Hildebrando José de Souza Limamade, made of marble, granite powders, with polyester pigments and resin. It is an act of the Brazilian Province to honor all Brothers who helped build the benevolent history of School and Seminary in Caraça. They spread missions in Minas Gerais and most of Brazil, they were influential clergymen, and popular leaders, whose presence impacted many, promoting social, educational, and modern activities in their missional communities.
II
PRIVATE NATURAL HERITAGE RESERVE The Caraça territory has been a National Heritage site since 1955II. After the fire that destroyed the Seminary area, the Brazilian National Institute for Historic Preservation (IPHAN) became interested in the Caraça, with few practical contributions. In 1980, the institute tried to create a biological reserve enclosing the Caraça's territory in a partnership with the Brazilian Foundation for Nature Conservation. The Brazilian Province of the Congregation of the Mission tried to take some actions to mitigate the House's desolating condition immediately after the fire. The Provincial Superior at that time, Father Elias Chaves, established Caraça's natural vocation as a threefold mission: to be a center for pilgrimage, culture, and tourism. Presently, it is the best-preserved park in Minas Gerais. Besides being part of the list of assets protected by the state, according to the 1989's Minas Gerais State Constitution, the Caraça Ridge is legally preserved and declared as a natural monument of the state of Minas Gerais. (...) The 13th Regional Superintendence of Brazilian Institute for Historic Preservation - IPHAN testifies the exceptional cultural value of the architectural and landscape complex situated in the Caraça region, thus integrating it to the collection of preserved assets by the federal republic". (Ofício/Gab/13ª SP/IPHAN, n. 473/99, com data de Belo Horizonte, 10 de Setembro de 1999; p. 2). The Private Natural Heritage Reserve (RPPN) of Sanctuary of Caraça was created on September 1st, 1994, under Decree-Law 32, from March 30th, 1994, which protects its 10,187.89 hectares. The other two-thousand-hectare region is agricultural and pastoral areas (with kitchen gardens, small plantations, cattle and pig farms, agricultural farms, pastures, forests for firewood acquisition. A part of the region is reserved for forest plantation for wood supply and charcoal production for the neighboring steel industries and land for future real state constructions). Within the RPPN, Caraça's fauna and flora are protected,
II - On January 27th, 1955, Process 407-T, the Caraça was registered, under the number 309, on the Historical Registration Book. Under the number 15-A, on the Archeological, Ethnographic, and Landscape Registration Book by the Brazilian Institute for Historic Preservation (IPHAN). Protected by the Federal Legislation as ex officio [which means that the states and municipalities have to abide by the federal heritage protection regulations]
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along with its geology, bodies of water, landscape, beauty, and spirituality. Research-wise, 388 species of birds have already been identified, including the Chilean eagle and tiny hummingbirds. The Butantan Institute - a biological research foundation - and the Universidade Federal do Rio de Janeiro - a public university - have identified 81 and 245 spider species from the Caraça, respectively. There are 49 species of anurans (frogs and toads) already described. Almost 600 species of Coleoptera were enlisted alone, of which 192 are only found or were firstly found there. In research papers from the last few years, scientists included more than 200 species and continued examining the collected specimens, systematically studying beetles and other insects in regular research expeditions. People can spot seven monkey species in Caraças forests: three marmosets, two guiguós [Callicebus], the capuchin, and howler monkeys. More than 70 species of small and large mammals have been registered as well. Olaf H. H. Mielke, an entomologist from Curitiba, in half an hour discovered three new species of butterflies near the Cascatona [waterfall]. Nowadays, any intervention in Caraça has to obey the directives described in a plan elaborated by the Brazilian Province of the Congregation of the mission's administration. In this regard, there are several initiatives in progress to establish solid guidelines for the Caraça exploration. Among them, there are academic partnerships with the Pontifícia Universidade Católica (PUC) of Belo Horizonte [a Catholic University], and other public universities, also the cooperation with the SAMARCO Minerações - a mining company - aims to build a visitor service center. Besides Caraça's directive plan, there are other regulations in the Caraça's Environmental Management Plan and projects conducted by the Alumni Association (AEALAC) to elaborate and propose (or re-propose) actions to be appreciated by the Congregation. Because of the creation of the RPPN, the Caraça aims to equally provide environmental education and biodiversity preservation, increasing public awareness.
PHYSICAL AND ENVIRONMENTAL CHARACTERISTICS The Caraça area encloses 12.475,45 hectares of mountains and highlands. Located in the Iron Quadrangle, the region is bordered by Belo Horizonte (Sabará), Santa Bárbara, Mariana, and Congonhas; the region is surrounded by mines of gold, iron, manganese, bauxite, and dunite. On its eastern border, there are large eucalyptus and
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pine plantations. To preserve its unique richness, the Caraça lands must be recognized as a Natural World Heritage site. In 2016, the geologist Filipe Silva Nunes presented a study at the Federal University of Ouro Preto, School of Mines, Department of Geology, a "contribution for the stratigraphy and geochronology of detrital zircons U-Pb of the Moeda Formation (Caraça Geological Group, Minas Supergroup) in the Caraça Ridge, Iron Quadrangle, Minas Gerais". According to this paper, the Caraça is around 2 billion and 600 million years old, younger than the 2.830-billion-year-old Rio das Velhas Geological Supergroup. (cf. pp. 62-63).
MOUNTAINS AND CAVES Oh, the Caraça [Big Face]! The first Bandeirante [explorer] who has seen this mountain shaped like a giant face have certainly admired this natural monument, likewise the 70,000 tourists that arrive in Caraça every year and go to Pinheiros or the Mirante [observation deck], above the Piscina [a lagoon]. The Serra do Caraça is the penultimate mountain of the Espinhaço Mountain Range, which starts at the northern Bahia. Its highest peaks are the Sol [Sun] Peak (2,072 meters), the Inficionado [Contaminated] Peak (2,068 meters), the Carapuça [Hat] Peak (1,955), the Piçarrão [Slate] Peak (1,939), the Canjerana [a type of wood] Peak (1,890 m), the Três Irmãos [Three Brothers] or Trindade [Trinity] Peaks, the Conceição [Conception] (1,800 m). In contrast with these highlands, there are inaccessible chasms inside the caves. Near the Inficionado Peak, there are the entrances of the world's two most expansive and deepest caves of quartzites III, the Centenário, and the Bocaina. And there is also the Alaouf cave, the third deepest in Brazil, although not the third deepest in the world. The Centenário [Centenary] Cave is 484 meters deep, with a horizontal projection of 3,800 meters, linear development of 4,710 m, and the world's longest quartzite cave. There, two underground rivers and galleries with immense domes were found; this cave has the largest interspace known in Brazil, 120 meters deep, the Velósia Chasm. In Bocaina Cave (with 404 meters of depth and horizontal projection of 3,220 meters), there is P116, the second-tallest interspace in Brazil (116 meters). At Alaouf (294 meters underground, 1,710 meters long, and a horizontal projection of 1,200 meters), there is the chasm P93, the third deepest one in Brazil. These are the three most profound
III - Quartzite is "a sedimentary rock formed of sand and siliceous cement. This geological formation dates back to the Precambrian Era, making it one of the oldest rocks found on earth, approximately three billion years ago! It has been weathered by wind and rain, and other harsh geological conditions that ended up fracturing the rock down intensively from remote times. Unlike limestone, quartzite is a rock with low chemical solubility, making it unsuitable for cave formation by the well-known karst phenomena. However, the combination of tectonic activities and mechanical erosion might form cavities, even in quartzite, when time is long enough. And, fortunately, that happened to the Caraça." (Marc Faverjon. Alaouf! In O CARSTE, vol. 15, n. 2, abril/2003, p. 71).
levels in Brazil considering any rock type IV. The contrast between the mountains' height, the highest on the Iron Quadrangle, and these chasms and its impenetrable interspaces, is tremendously evocative V. I have lived my teenage years in Caraça. I know the terror that one might experience during the storms, the formidably loud sound echoing from one side to the other over the night skyline, already unmeasurable. In the heights, great bursts of lightning and thunder reverberate, resonating throughout the abyss and then upwards, the black cliffs surrounded by the feeling of storms' horror. There are more than ten waterfalls, permanent or seasonal streams, two lagoons (Tanque São Luís and Tanque Grande, where there is currently a degraded hydroelectric complex, the second one built in Minas Gerais). Their clear waters are also used in the cafeteria or for medicine. Also, there is the "red" waters, with humic acid generated by leaves, roots, and suspended organic material flowing down the cascades. The Caraça and Conceição creeks flows to Santa Bárbara River, then join the Piracicaba, river Doce's affluent, till it reaches the Atlantic Ocean… Soil-wise, the most significant issues are gullies and other forms of erosion. Besides the erosion control and the gullies' restoration, it is necessary to create alternative trails during the rainy season and protect the ground, building stone and concrete walkways, using cement-filled tires, boards, or railway ties (how it is done near the Cascatinha).
A PARADISE FOR BOTANISTS Generally, Caraça's vegetation is described as the transition between the Atlantic Forest and Cerrado, with many high-altitude plants. There are pluvial tropical forests on the hillsides, gallery or riparian forest, alongside the rivers and creeks, or in the kind of woods found on the way to the Inficionado Ridge. There are forests of candeias (Eremanthus erythropappus), an invasive species successfully used to recover areas where there was deforestation due to coal production (an economic activity developed during the beginning and end of the last century' first half). The candeia trees grow
on well-drained quartzite soils, yet poor. In Campo Fora, these trees are visibly and quickly growing over the hillsides, like what happened in another hill near the Fazenda do Engenho [Mill's Farm]. There are natural grass fields and mountain plants mixed with rock outcrops vegetation: bushes, grasses, and Canela-de-ema (Vellozia squamata). Saint-Hilaire (in 1816), Martius (in 1818), and dozens of other researchers discovered new plant species daily around the region. Among the plants used in popular medicine we can mention carqueja (Baccharis trimera), cipó-de-são-joão (Pyrostegia venusta), erva-de-santa-maria (Dysphania ambrosioides), rosemary, macela (Achyrocline satureioides), capimsanto or erva cidreira (Melissa officinalis), dombernardo (Palicourea rigida), congonha-do-campo (Luxemburgia polyandra), cipó-cabeludo (Mikania hirsutissima), língua-de-vaca (Elephantopus scaber), St. John's Wort, chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus), small balsam, etc. Besides the candeia trees, there are other hardwood sources: paud'óleo (Copaifera langsdorffii), sucupira (Pterodon emarginatus), angico (A. colubrina), peroba-docampo (Paratecoma peroba), peroba (Aspidosperma polyneuron), cinnamon, Jacaranda, cabiúna (or jacaranda-cabiúna) (Dalbergia nigra), Brauna, paumulato (Calycophyllum spruceanum), cedar, and red cedar. Over the mountains, depending on the season, the flowers bloom on the trees of paineiras (Ceiba speciosa), ipês (Tabebuia), mulungus (Erythrina verna), quaresmeiras (Tibouchina granulosa), ingazeiras (Mimosoideae) (especially along the riversides). There are more than 200 species of orchids. Álvaro da Silveira's Flora Montium Catalogue list dozens of species of paepalanthus in the lands of Caraça. The Finnish Edward Vainio, considered as the father of Brazilian lichenology, found hundreds of species of lichens and mosses there (in 1885), and the Natural Reserve has one of the world's largest concentrations of lichen species. Currently, there are applications submitted to UNESCO to nominate the Serra do Caraça as a Natural World Heritage or Cultural Landscape, due to its rich diversity and important fauna, especially the microfauna (arthropods, especially the insects) and flora, to protect many endangered species. The current project of scanning the Caraça region via satellite will add more relevance to this incredible national and international campaign.
IV - Auler, Augusto As grandes cavernas do Brasil / Augusto Auler, Ezio Rubbioli, Roberto Brandi. - Belo Horizonte: A. Auler, 2001; p. 176179, para a gruta do Centenário; p. 180-183, para a da Bocaina. Para a Gruta Alaouf, ver O CARSTE, vol. 15, n. 2, abril/2003, de Marc Faverjon, Alaouf!, p. 70-76, mais a 3ª capa. Novas medidas da Gruta do Centenário, de Ezio Rubbioli, in O CARSTE, vol. 16, n. 3, julho de 2004, p. 82-89. V - Due to the technical constraints, descent, and climb up' conditions, these caves are labeled as high risk and are not ordinarily visited by inexperienced enthusiasts. The very characteristic of the quartzite rock constantly threatens the best speleologists, as the rocks are described as crumbly and weathered, not allowing the secure fixing of the anchors since the spits break down with the weight of ropes, adventurers, and more pieces of rock might fall on those below...
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THE MANED WOLF For the last 38 years and a half, a magical ritual happens in the Caraça every night: the maned wolves arrive to feed themselves outside the church. In 1982, sanctuary people noticed that maned wolves were turning over some trash cans. For this reason, the animals were attracted by a food trail firstly deposited on the sidewalk, after on the staircase, and finally right outside the church, where the tourists can currently take pictures of them, astonished by their beauty and trust. The maned wolves are not as ferocious or savage as the European ones, although they are still wild, skittish, quick when escaping and hunting. They are the largest canids in South America, representing a unique genus and species: Chrysocyon Brachyurus, a short-tailed golden animal. Aesthetically, they are covered with fire-colored fur, with a black spot on their back, have black legs and whitetails. The male is almost one meter tall, and the female is about 90 centimeters. Adults weigh around 25 and 30 kilos. It is impressive how mobile their ears are, especially while they are eating. They recognize their surroundings using their accurate and efficient hearing, with their ears constantly turning in all directions. When a car appears in Boa Vista, the maned wolf immediately startles and runs away. For two years, the maned wolves were monitored by satellite. It was discovered that in the whole Reserve, there is only one family, a male, a female, and their annual cubs. They breed in April or May; the maned wolf cubs (averagely, two) are born after 65 days of pregnancy and stay hidden for three months, being fed by their parents. Often, the male eats an enormous amount of meat (sent by Santa Bárbara's butcheries or Caraça's kitchen). It leaves the church yard, barking to call his pack; then, it regurgitates what was eaten for them. Then, it returns to feed himself. When the cubs grow up, the males and females engage in a territorial fight until only one couple is left in the whole Caraça area. At the end of 2002, the maned wolves completely changed their habits, coming to the church early in the mornings. This time, the offspring drove the parents away from the territory. The previous female was ten years old, and the male was four years old. The outcasts had to look for another domain to live with their pack. The couple marks their territory with urine and feces, excreted on highlands by the trails, stones, termite mounds, and road holes. The male and female wolves hunt on the same path, going in opposite directions; they walk together
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only during the mating season. On average, they cover 30 kilometers per day and are more active at dawn and dusk. On the trails, Cascatinha, Banho do Belchior and Imperador, Piscina, Bocaina, Tabuões, Engenho, Campo de Fora, you can see the wolf tracks, a small, oval, pad, and four fingers with claws marks. If the footprint looks much larger, rounded without the claws' mark, be aware that there is a jaguar nearby! They eat just about anything, an opportunistic and generalist species, favoring fruits with strong smells: apple, pear, guava, gabiroba (Campomanesia xanthocarpa), araçá (Psidium), and banana. In Ibitipoca and Serra da Canastra campsites, they steal all kinds of cosmetics, soaps, shampoos, deodorants, talc, perfumes. They prefer above all the Solanaceae fruits in the wilderness, called the Fruta-do-Lobo [wolf-fruit] (Solanum lycocarpum), whose seeds they spread all over the place. The priests feed them with raw or cooked meat and chicken bones. This food is not harmful to their stomach and intestine, there is no risk of any perforation because the maned wolf has strong teeth that triturates everything before he swallows it. Besides meat, maned wolves hunt down birds and small animals since they need their feathers and furs to activate their peristalsis. They also consume grass, like dogs. Sometimes they ignore the platter to chase down chickens and ducks. (Although the biggest chicken thief is the crab-eating fox). They eat dusky-legged guans, slaty-breasted wood rails, birds, ducks, snakes, armadillos, opossums, Brazilian guinea pigs, pacas, frogs, insects. Almost every night, besides the meat leftovers on the platter, the maned wolves turn over the garbage containers and plastic bags looking for empadas [chicken pies], pastéis [pastries], sandwiches. On average, these animals live for 16 years. Nowadays, besides the maned wolves, other animals come over to eat the meat that is offered. Since 2013, crab-eating foxes (Cerdocyon thous) have been a continuous presence for seven years straight. Also, a male tapir (Tapirus terrestris) started eating there as of January 2015. A jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi) was once spotted, one of the six felines living in the territory. For seven years, we were visited thrice a month by a striped hog-nosed skunk (Conepatus semistriatus), which disappeared in 2013, probably scared off by the crab-eating foxes.
THE DUSKY-LEGGED GUANS AND THE OTHER ANIMALS As endangered as the maned wolves, the duskylegged guans (Penelope Obscura e P. superciliaris) are a real pest to grapes and lettuce present in the kitchen gardens. Every morning, a priest lay bread and popcorn from the previous day on the garden wall. Some South American coati families used to feed themselves with the bread, then the birds ate the crumbs left, and the ants carried the remaining flour. Ants don't come along with the birds... Now, dusky-legged guans devour everything, then South American coatis do not bother themselves to climb up the hill anymore: they would find nothing anyways. I try to attract them, throwing down some broa [cornbread], cheese bread leftovers, or popcorn piruá [the kernels that had not popped]. The South American coatis do not care, they lost the habit… Over the last months, sometimes a single one comes up, scares the dusky-legged guans away, eats quietly, accompanied by squirrels and birds, then climbs down the wall and disappears into the bamboo groves. Other birds come along, like grey-cowled wood rails, magpie tanagers, Rufous-bellied thrushes, white-necked thrushes, blue, green, yellow, and red tanagers, buntings of all colors. In the garden, hummingbirds flies, maitacas [a Pionus parrot], and hawks scream, flying in-group over the crested oropendolas, green-billed toucans, searching for food on the priests' windows or ingazeiras trees, on the pines and peach trees, on the ground, everywhere. When September ends, the thrushes start to sing in the clear morning skies. Besides them, the rufous-collared sparrows, the green-winged saltators, great kiskadees, rufous horneros are heard everywhere. The thrush eats common figs and blackberries to sweeten its melodies. On the church's rooftop, the great kiskadee screams that the world is theirs. The rufous hornero does not want to own the world but shouts that the morning belongs to it. The common waxbills, the saffron finches, the bananaquits come to eat quirera [grind corn] in small recipients, on the staircase steps, and a boy's hand. The turtle doves, scaled doves, tanagers, crested black-tyrant, and magpie tanagers eat popcorn, breadcrumbs, and the peels of papaya and watermelon. At night, when the time to wait for the maned wolf arrives, beetles and moths fall off from the lamps making the delicate people and ladies’ fuss around. In the morning, before photographing the tracks of animals on wet sands, I like to particularly register the butterflies that remained in front of the church, near Saint Helena's House, on the top of the staircase.
The beauty of their shapes, the richness of their colors, the antennae's fanciness, the forty thousand fabulous eyes barely visible in a taturana [Lonomia], superb insects, which seem to wear fur coats. The ants, bees, wasps, cicada, beetles of so many species, the clay house of the little bees or wasps, the splendid biodiversity in constant awe of life.
WHY MAKE THE CARAÇA REGION AN ENVIRONMENTAL PRESERVATION AREA? Preserving nature is preserving humankind. The Caraça deserves protection due to two main aspects: it is exceptional, and exemplar. The Caraça is exceptional for its set of unique beauties. A chain of high mountains, with an extraordinary Caraça, an enormous face. There are uniquely diverse environments from high peaks to deep caves where crystal clear streams run through. From dense forests to windy and sunny open fields, where the brown brocket deer and the maned wolf walks by, sometimes the land is also crossed by the giant anteater, trodden by the jaguar, black jaguar, puma, or suçuarana [wild felines]. Vegetation covers the cascades' humid ravines, on the riversides and lagoons, or is burnt under the sun over the stoned slabs. Anyone gets moved by the tiny orchid Pleurothallis prolifera (Acianthera prolifera) that survives with its dewdrop, through the morning mist and seasonal rains, persisting throughout the year, humbly blooming its courage and stubborn presence. Even though the region is surrounded by working mines, its exceptionally pure air can be perceived in the lichens and mosses proliferation that cover the stones, logs, and parts of the ground. This fact has been proven in a study about the atmospheric effects on rocks, carried out for years by the Brazilian and German governments (granite, marble, soapstone, etc.). The Caraça is exemplar for many reasons. It is one of the most visited large parks in the state of Minas Gerais. Every visitor is welcomed at the entrance, receiving the safety regulations, the trails' map, a plastic bag to be disposed later in the container for selective waste collection. Nowadays, its cultural purpose is maintained by the visitors who come to the sanctuary to see its Baroque and Neo-gothic architecture, admire its library. They appreciate the trivialities of what will eventually become a beautiful museum or research and make sensational discoveries on its grounds.
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HELPFUL INFORMATION You do not need to be a researcher to go there. There are 205 beds, scattered over apartments and rooms in the accommodations of the Sampaias, Casa da Ponte, Tanquinho and Estação Biológica. Most visitors came on January and February vacations from Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, the rest of Brazil, and abroad. When the lights are turned out in wait for the maned wolves, it is a pleasure to see the admiration from São Paulo and Rio de Janeiro's people with the numerous stars on the Caraça's sky. The priests do not come anymore carrying a telescope to show the lunar craters, Jupiter's satellites, Saturn's rings… You cannot camp inside the RPPN - Private Natural Heritage Reserve - or take your pets there. You cannot extract any plants or animals; be aware that the police will inspect you at the exit. If you want to climb the peaks, you must hire the guides registered at the sanctuary. The climate is dry and very cold in the winter; rainy and cool, occasionally requiring a long-sleeve shirt, during the summer. Sunscreen or sunblock and repellents are very handy, especially on closed bushed trails, to protect you from horseflies. Pay attention to the ground, not only to the birds, butterflies, and flowers. You are within a forest, the home of snakes and other animals. There will be tasty, homemade food prepared on a wood stove - American-style service. Breakfast with eggs and cheese melted on the grill... Mass at 6 pm during the week, 11 am on Sundays. Father Boavida's organ concerts are played every second Saturday and Sunday of each month, by maestro Lucas Raposo, from Belo Horizonte. You can make reservations from 7 am to 5 pm, Monday to Friday. The entrance gate to Caraça is open from 7:30 am to 9 pm. Telephone for reservations: 0XX31 3942-1656. Please contact us via e-mail: centraldereservas@santuariodocaraca.com.br IMPORTANT NOTE: Due to the pandemic, many restrictions have been imposed to ensure individual and collective protection. Please inform yourself when booking your reservation and as soon as you arrive.
FROM THE VISITORS' BOOK: The Caraça School decisively influenced the spiritual formation of our people. Upon these mountains, among the children of St. Vincent, the natural piety of our fathers found a favorable climate for their development; much of the austerity and modesty that distinguish the Minas' character is deeply rooted here. Older than the Empire, contemporary of Tiradentes and his freedom aspirations, the Caraça was born with a Brazilian Nation's notion. To walk through its corridors is to step into history. The building's severe style evokes the Colonial Minas while the ancient times' perfume still impregnates the air of this Imperial House. If everything around here recalls the past, it is necessary to seize the present moment and predict what will come next. Nowadays, facing all kinds of difficulties, the Lazarist Fathers' efforts sustain their predecessors' work. The Caraça lives: instead of resting to bask in its past glory, it keeps striving to increase its glorious heritage. For years, the elite of our people was taught here; thus, one might say that there are tiny bits of the Caraça's soul encouraging the Brazilian people. These people are so spiritual as to conserve within themselves a sensibility towards whatever is supernatural in our reality, even amid this pseudo-modern civilization's pragmatism. Notably, according to Tristão de Athayde's prediction, the future Spiritual Revolution will find the best soldiers among the Minas Gerais' people, (to bring the genuinely definitive transformation that our country will inevitably go through, both socially and economically). Thus, we conclude that the Caraça School is partially responsible for the future of Brazil. Although its divine mission does not abide within the limits of the time dimension, we might assure that, even from our human perspective, the Caraça's role in the Brazilian political and social spheres is not finished yet." (By Juarez Caldeira Brant, journalist, written on the Caraça Visitors' book, February 10th, 1932; quoted by Fr. José Tobias Zico. Caraça. Alumni and Visitors. Belo Horizonte, Editora São Vicente, 1979; p. 275-276). Caraça, November 15th, 2020 Father Lauro Palú, a member of the Congregation of the Mission, Caraça School's former student, director of St. Vincent de Paul School in Rio de Janeiro for two terms; for twelve years, worked as Assistant General of the Congregation of the Mission in Rome and has been the director of Sanctuary of Caraça from 2014 to 2020.
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O Território Entre Serras – da Piedade ao Caraça, é formado pelas cidades de Caeté, Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara. Nascido a mais de três séculos, surge com grande riqueza e um diferencial: ser um espaço de passagem ou, melhor podemos dizer, de ligação, que unia um centro minerador, aos caminhos do Brasil. Histórico, ele reflete a mais pura origem do estado, quando pelos anos passados os Caminhos de Entradas e Bandeiras, se transformaram em Caminhos das Estradas Reais, Caminhos do Comércio, Caminhos Religiosos e Caminhos de Esportes, sempre adornados por natureza e singulares paisagens. O ouro ainda segue sendo riqueza! Do dourado passa a ser negro, do negro cinzento da hematita compacta, ou do vermelho da canga de minério e da terra fértil, onde brilha o ouro amarelo que é o mel puro, ou o ouro de todas as cores: verduras, doces, frutas, grãos, quitandas. Um ouro cristalino continua a jorrar nas suas cascatas e cachoeiras, outros tipos podem ser vistos por toda parte, como músicas, sinos, arte, cultura, memória e patrimônio.
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