1 minute read

Entre céu e concreto

por João Francisco Aguiar e Thiago Campolina

Da República ao Largo da Batata, da Paulista ao CEAGESP, da Mooca à Sé. A capital paulista tem cada vez mais seus espaços públicos preenchidos por pessoas em situação de rua. Em 2022, o Ipea estimou 281 mil pessoas vivendo assim no Brasil. São Paulo abriga quase um quinto desse total, segundo o CadÚnico. O Censo Municipal da População em Situação de Rua de 2021 aponta o centro como o maior polo, especialmente Santa Cecília, onde essa população chega a 5.006, e a República, com 2.656.

Advertisement

Gustavo Brito, 35, começa mais um dia pedindo um salgado na Consolação. Quando inicia a conversa, pede um cigarro, que queima em sua mão enquanto conta sua vida. O pó o levou à rua, o crack o deixou lá. Morador há quatro anos, ele fala que o centro é atraente pela maior oferta de comida, empregos, políticas públicas e apoios –até só tomar um banho. A urbanista Jussara Martins explica como pequenas ajudas são um possível paliativo, já que as políticas de assistência não atendem à crescente demanda.

Perto dali, Juliano Soares está deitado em seu colchão em uma esquina na Oscar Freire, falando no telefone enquanto faz sua sesta. Nascido na rua e conhecido pelos vizinhos, arranjou um “bico” em uma loja e quer comprar uma barraca para ficar na segurança da rede de apoio que achou no bairro e em seus moradores.

Entretanto, a sorte de Juliano não é a de todos. Arranjar um emprego sem endereço e sem a higiene hoje em dia é impossível, conta Gustavo, que anda com um saco plástico caso encontre latinhas para reciclar. Para muitos dos que vivem na rua, a falta de um suporte como o de Juliano os debilita mais ainda.

Gustavo relata como viver exposto à cidade sem essa rede é um inferno diário. Passar por bancos feitos para impossibilitar seu descanso, seguranças para mantê-lo longe de áreas “nobres”, elementos visíveis a todos, mas feitos para hostilizar o mundo para alguns. Enquanto a cidade de São Paulo tem notificados milhares de imóveis vazios e segue com seus paliativos, Gustavo, Juliano e outros 48 mil continuarão dormindo sob o mesmo céu exposto.

DIAGRAMAÇÃO: Bianca Camatta

ARTE: Caroline Kellen

This article is from: