1 minute read

À primeira vida

Next Article
olhares todos os

olhares todos os

por Larissa Leal

A dúvida veio para incomodar. Tudo que ouvia parecia ser sobre isso, até uma das muitas conversas que escutei disfarçadamente no metrô. Enquanto uma moça contava para a amiga que se sentia presa a uma outra pessoa, esperei ansiosa pelo conselho. A resposta não era bem o que imaginava. “Talvez você esteja de fato presa, só não consegue ver”.

Advertisement

O ponto de interrogação apenas ficou maior. A resposta veio ao assistir um filme sobre dois jovens que, presos ao destino, precisavam ultrapassar a lógica do tempo para se encontrar. Era como me sentia – presa e sem saber porquê. De clique em clique, cheguei à possível solução: regressão. Sim, dessas que voltamos para outros momentos, até outras vidas, a fim de entender o inexplicável.

DIAGRAMAÇÃO: Lara Paiva

ARTE: Caroline Kellen

Deixei o ceticismo de lado e fui em busca de uma explicação. A regressão funciona como uma hipnose, e o terapeuta ajuda a entender sentimentos que podem ter se originado há muito tempo. Aí tudo se esclareceu. De fato, não foi algo que surgiu de repente, foi um sentimento carregado por anos, mesmo que a memória não me permitisse lembrar. A faísca estava ali e o tempo foi a gasolina. O que pensei que seria um alívio descobrir, me deixou ainda mais inquieta. Saber que esse alguém – e o sentimento atrelado a ele – estavam presentes, não só comigo, mas em outras versões de mim, explicava muita coisa, porém era desesperador. Mesmo assim, precisava aceitar, estávamos presos um ao outro até estarmos prontos para desatar esse nó. Nós dois precisávamos estar dispostos a resolver e mesmo que carregar esse sentimento não seja fácil, enfrentá-lo parecia pior. Resolvi deixá-lo ali. Talvez o tempo, assim como o ajudou a crescer, ajudaria a esquecer essas quatro letras. Ah, sim, essas quatro letras. Ó-D-I-O. Com todas as minhas forças, te odeio. Quem sabe em outra vida?

COLABORADORES: Bruno Sabino, hipnoterapeuta; Rodrigo Prado, dirigente da Tenda Ubandista e Espiritualista Pai Onofre; uma fonte preferiu ficar anônima junho 2023

This article is from: