Kennis O conhecimento africano
1. S.O.S! A ÁFRICA ESTÁ DOENTE! – AIDS ataca o continente.
4. APARTHEID – 20 anos de libertação de Nelson Mandela.
2. ESPECIAL DA COPA!
5. Com teto, sem futuro – a questão dos refugiados.
edição especial Novembro/2010
3. ENTREVISTA COM PAUL RUSESABAGINA – Como “Hotel Ruanda” tornou-se uma realidade.
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enocídios, diversidade étnica, pobreza. Essas são as principais associações feitas quando se pensa em África. Isso se deve principalmente aos inúmeros conflitos presentes no continente em questão, conflitos estes, relacionados às mais variadas causas: como exemplo, pode-se citar Ruanda, onde prevalecem fatores étnicos e o Quênia, onde questões políticas assumiram maior importância.
Em antítese às guerras e à pobreza do dia-a-dia de muitos africanos, a Copa do Mundo de 2014, sediada na África do Sul, mostrou ao mundo um povo alegre que nunca perde a esperança de viver dias melhores, a união na hora de torcer por suas seleções e a quebra preconceitos. É por isso, que essa edição é totalmente destinada ao continente africano, que teve todos os seus aspectos (econômicos, sócias, políticos, históricos) sob os holofotes do mundo este ano. Espero que essa edição amplie a visão baseada em senso comum que todos possuem sobre a África, além de ajudar os vestibulandos. Até a próxima edição, Jade Dias de Melo
Palavras De Origem Africana Usadas Na Língua Portuguesa Moleque - Caçula - Axé - Quitute - Cafuné - Cochilar - Pipoca - Cachimbo -Bagunça - Xingar- Batuque- Fuxico - Samba - Fubá - Senzala
Equipe: Thalita Antunes; Jade Melo; Julia Figueira; Beatriz Rossello; Fernanda Marques; Thalita Malachim
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04 06 10 filmes e livros
colonização descolonização
Conflitos africanos
14 18 22 Apartheid
ruanda
Ajuda Humanitária
24 26 28 30 32 36 Aids
Crianças em conflitos aramados
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refugiados
Economia
Tráfico de escravos
Especial da Copa
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divirta-se e saiba um pouco mais
Diamante de sangue (2006) Serra Leoa, final da década de 90. O país está em plena guerra civil, com conflitos constantes entre o governo e a Força Unida Revolucionária (FUR). Quando uma tropa da FUR invade uma aldeia da etnia Mende, o pescador Solomon Vandy (Djimon Hounson) é separado de sua família, que consegue fugir. Solomon é levado a um campo de mineração de diamantes, onde é obrigado a trabalhar. Lá ele encontra um diamante cor-de-rosa, que tem cerca de 100 quilates. Solomon consegue escondê-lo em um pedaço de pano e o enterra, mas é descoberto por um integrante da FUR. Neste exato momento ocorre um ataque do governo, que faz com que Solomon e vários dos presentes sejam presos. Ao chegar na cadeia lá está Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um exmercenário nascido no Zimbábue que se dedica a contrabandear diamantes para a Libéria, de onde são vendidos a grandes corporações. Danny ouve um integrante da FUR acusar Solomon de ter escondido o diamante e se interessa pela história. Ao deixar a prisão Danny faz com que Solomon também saia, propondo-lhe um trato: que ele mostre onde o diamante está escondido, em troca de ajuda para que possa encontrar sua família. Solomon não acredita em Danny, mas, sem saída, aceita o acordo.
Hotel Ruanda (2004) Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram que buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul abrigou no hotel mais de 1200 pessoas durante o conflito.
O Jardineiro fiel (2005) Baseado em um romance de sucesso de John le Carré. O diplomata inglês Justin Quayle (Ralph Fienes) que vive na África tem sua esposa ativista (Rachel Weisz) brutalmente assassinada em uma área remota no Quênia. Quando decide investigar, descobre que sua luta é contra a ganância de uma grande empresa farmacêutica.
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Tiros Em Ruanda (2005) Ruanda. Durante 30 anos, o governo de maioria Hutu perseguiu a minoria Tutsi. Pressionado pelo ocidente, o governo aceitou dividir o poder com os Tutsis, mesmo contra a vontade. Porém em 6 de abril de 1994 tem início um genocídio, que mata quase um milhão de pessoas em apenas 100 dias. Neste contexto um padre inglês e seu ajudante tentam fazer o que podem para ajudar a minoria Tutsi, mesmo tendo a opção de partirem para a Europa.
Muito longe de casa – Memórias de um menino soldado (Ishmael Beah.) Trezentas mil crianças-soldado, lavagem cerebral, entorpecentes, abusos dos senhores da guerra, morte. Muitas hoje ainda sofrem com as conseqüências. Fã de hip hop e de boa literatura, Ishmael Beah, após passar a infância e a adolescência na roda-viva da guerra, foi reabilitado pela Unicef e teve a chance de contar o que qualquer ficção jamais conseguiria recriar. Uma narrativa convincente, de linguagem bem acabada da visão do inferno, por quem esteve lá e conseguiu sair com vida.
Uma temporada de facões (Jean Hatzfeld.) Durante a primavera de 1994, 800 mil tútsis foram mortos a golpes de facão, em Ruanda. Numa rotina que durou quase cem dias, os hútus saíam de casa cantando e vasculhavam os pântanos em busca dos próprios vizinhos. Decepavam até o final do expediente. À noite, bebiam cerveja, trocavam mexericos, contavam piadas e afiavam as ferramentas nas pedraspomes. Dez anos depois, o jornalista Jean Hatzfeld instalou-se em Ruanda para entender o genocídio. Em ‘Dans le nu de la vie’, registrou o testemunho das vítimas sobreviventes. Agora, em ‘Uma temporada de facões’, ouve os matadores. Com enorme franqueza e, muitas vezes, até com candura, dez dos assassinos falam sobre a organização e a execução da matança, a banalidade, o ódio, o arrependimento e o perdão. Discursam sobre o horror e o indizível. Nas conversas, uma angustiante constatação - são pessoas comuns, sem traços de ferocidade. Pais de família, jogadores de futebol, professores e lavradores que deceparam amigos íntimos sem constrangimento e, no final, fariam tudo novamente.
Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias (Philip Gourevich) Entre abril e julho de 1994 mais de um décimo da população de Ruanda foi exterminada, num genocídio comparável apenas ao Holocausto. Patrocinada pelo governo ruandês, a maioria hutu massacrou a minoria tutsi diante da indiferença da chamada ‘comunidade internacional’. A tragédia, supostamente motivada pelo ‘ódio ancestral’ entre as duas etnias, teve na verdade clara origem política e econômica. Durante três anos, o jornalista norte-americano Philip Gourevitch mergulhou na história e na realidade ruandesa para tentar desvendar os acontecimentos. Ouviu centenas de pessoas, reconstituindo o drama dos envolvidos na tragédia, fossem eles sobreviventes, assassinos ou cúmplices. O livro é ao mesmo tempo testemunho e reflexão sobre um dos episódios mais terríveis de nosso tempo. 5
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África é um dos continentes mais extensos (ficando atrás somente da Ásia e América) com cerca de 30 milhões de quilômetros quadrados e é o segundo mais populoso do mundo com aproximadamente 900 milhões de habitantes. No entanto, ter um território bem extenso e uma densidade demográfica alta, nem sempre é muito bom. Sua população foi vítima de fortes discriminações e suas terras sofreram intensos processos de extração de minérios. O subdesenvolvimento dos países africanos, os conflitos entre seus povos e as enormes desigualdades sociais internas, são resultados das grandes modificações que ocorreram durante a colonização, que pode ser dividida em duas fases. A primeira ocorreu entre os séculos XV e XVII, caracterizada pela ocupação da região costeira, onde as potências européias da época
estabeleceram entrepostos comerciais com os objetivos de realizarem o tráfico negreiro encaminhados às colônias americanas e utilizarem como pontos de apoio para as rotas direcionadas à Índia. Com o tempo, a porção subsaariana do continente foi sendo descoberta, proporcionando um maior interesse aos colonizadores, causando uma desestruturação no sistema produtivo local. A partir do final do século XVIII e início do XIX, vários países da América obtiveram sua independência e a escravidão foi abolida, enquanto os países africanos continuavam sofrendo uma intensa ocupação. A Revolução Industrial motivou os países europeus (entre eles Inglaterra, França, Portugal, Espanha, Alemanha e Bélgica) a utilizaram o continente como mercado para produzir produtos manufaturados e explorarem as matérias-primas. Por volta de 1885, na chamada Conferência de Berlim foi
realizado um acordo de partilha da África, dividindo-a em colônias e distribuindo-as entre os dominadores. Essa divisão atendia aos interesses das potências européias e desprezava a diversidade de culturas. Assim, estas colonizações ficaram conhecidas como capitalistas controladas por europeus juntamente com algumas tribos para subjugar os demais povos, reprimir rebeliões internas e muitas vezes provocar conflitos entre tribos rivais como estratégia de dominação do território. Além disso, foi implantado um sistema de exploração da mão-de-obra (plantation), transportando milhões de africanos para as grandes fazendas que abasteciam os mercados europeus. Por fim, transformou-se a força de trabalho em mercadoria, implantaram-se novas estruturas econômicas e delimitou-se fronteiras articificiais dividindo etnias entre Estados e juntaram etnias diferentes e rivais em um único Estado
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É hora de se libertar! Os fatos que mais favoreceram a descolonização da África foram a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria que ocorreram por volta do século XX. Com a guerra mundial, os países que compunham os Aliados (Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra e Fravça) uniram-se à líderes africanos para lutar contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em troca da promessa de independência. No entanto, os Aliados não cumpriram sua parte, desencadeando o nacionalismo africano e consequentemente, movimentos de independência. Com o mundo bipolar, os Estados Unidos e a União Soviética eram a favor da descolonização, para que pudessem exercer influências sobre regiões dominadas pelos europeus. Assim, foram surgindo lideranças nos países que muitas vezes conduziam o processo de independência pacífica que foram obtidos. Contudo, apesar de se tornarem independentes, estes países continuaram tendo sua política e economia ditadas pelo exterior. Como consequência as fronteiras deixadas pelos colonizadores continuaram as mesmas, atendendo aos interesses das ex-metrópoles e de lideranças locais, assim como os conflitos étnicos e territoriais estendem-se até os dias de hoje. Atualmente a África é composta por 54 países independentes e possuí vários idiomas, bem como etnias e culturas diversificadas. Alguns países como, por exemplo, a África do Sul vem crescendo economicamente e ganhando espaço no cenário mundial. Recentemente a África do Sul sediou a famosa Copa do Mundo. Para saber mais leia o Especial da Copa.
Fernanda Marques
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Um mosaico de conflitos:
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possível dizer que existe uma diferença entre divisão de funções em uma sociedade, e apropriação. Pois a primeira consegue ocorrer de maneira igualitária, de modo que a segunda acaba gerando uma desigualdade socioeconômica. São justamente essas diferenças que dividem as pessoas em maioria e minoria, que, por incrível que pareça, acaba dominando. Isso afirmava o inglês Karl Marx, que sempre existe uma exploração, menos quando a pessoa é a dona do meio de produção – o que essa minoria normalmente era, e continua sendo. Não é realmente o motivo da dominação o mais importante, mas saber que é isso o que gera conflitos. Após a Guerra Fria, era esperado um tempo de paz, porém, foram esperanças frustradas. Hoje, a maioria das guerras é interna e todas elas necessitam de apenas dois fatores para ocorrer: uma desavença e um propósito significativo pelo qual lutar. Mas ambos acabam saindo de controle, e se transformam em violência. Compreender guerras não é nada fácil, porque suas causas podem ser variadas, e podem ocorrer em diferentes lugares, onde o cenário político,
econômico e social difere de um pra outro. Há problemas que vêm sido construídos por décadas, outros que explodiram por causa de líderes políticos e movimentos, que necessitavam de apenas uma pequena energia de ativação para acontecer. Ora imprevisíveis, ora planejados. O povo, insatisfeito, alia-se a líderes; as pessoas escolhem o seu lado – direita, esquerda, no meio... Já houve épocas em que essa opção era ideológica, hoje, acreditam e esperam uma chance de reparar a injustiça que persiste nas próprias vidas, não importa quem realmente o faça ou como. Desespero... Leva à guerra. A África, uma região bastante instável, é palco de inúmeros conflitos e muitas são suas causas: etnias, culturas, religiões e línguas bastante variadas, sem contar a intensa ação colonizadora por países europeus, que teve início na primeira metade do século XV.
A época das ideologias “versus” a luta pela sobrevivência Muito se perdeu dos antigos conflitos, e novas características determinam as desavenças dos dias de hoje. Na época da Guerra Fria o mundo estava dividido pela bipolaridade ideológica; o capitalismo em oposição ao socialismo. As grandes potências – União Soviética e Estados Unidos - tinham como objetivo ampliar seus domínios territoriais, impondo o que pensar, mas sempre de modo a parecer “democrático”, uma vez que isto vinha mascarado como ajuda econômica ou política. Essa interferência esteve presente em conflitos africanos, que começavam como algo interno, civil, e acabavam se internacionalizando. Como por exemplo, a Guerra de Biafra, que era um conflito de poderes entre “ibos” e “hausas”, e com o tempo parte recebeu apoio dos Estados Unidos e a outra, da União Soviética. Pois parte defendia a união, por causa do petróleo, e os soviéticos apoiavam o secessionistas nigerianos. Passados os anos, as ideologias esfriaram um pouco e ficou no seu lugar a luta pela sobrevivência. Muitos dos conflitos passaram a ser por
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controle de recursos naturais, como o petróleo e reservas minerais; pela fome e pela desigualdade social, que gera a miséria para muitos. Sudão: Disputa por água e por terra, principalmente por causa da agricultura que virou desavença entre negros e pastores nômades. Houve um genocídio por parte do governo, que realizou a “limpeza étnica”.
Além disso, uma guerra civil, que começou com a independência, em 1956 (Sul X Norte). República Democrática do Congo: Disputa pelas riquezas minerais (reservas de ouro, diamante, estanho, cobre e cobalto), que deu origem à “Guerra Mundial da África”, pois vários países vizinhos se envolveram.
Com a disputa em Ruanda, entre tutsis e hutus, muitas pessoas, em sua maioria hutus, se refugiaram na RDC, gerando desestabilização na região. Somália: Conflitos pela disputa de água, nessa região que é tão árida, e que agravaram ainda mais a fome. A falta de um poder central efetivo prejudica o país, dividido entre o atual governo que controla apenas parte da Somália e a capital. Já boa parte, está nas mãos da milícia islâmica Al Shabab. Nigéria: Dividida entre muçulmanos e cristãos. Há muito desemprego e disputa por terras e recursos minerais que acirram rivalidades. Ainda há grupos rebeldes que defendem a emancipação do Delta do Níger e reivindicam melhor distribuição de petróleo. Alguns poucos exemplos já definem o panorama conhecido, que domina todo o continente Africano, o rico continente pobre – explorados por muitos e esquecido por muitos mais.
Fonte: guia do estudante, atualidades 1º semestre 2010, vestibular + ENEM
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Apartheid Por dentro do
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partheid (significa “vidas separadas” em africano) era um regime segregacionista que negava aos negros da África do Sul os direitos sociais, econômicos e políticos. Embora a segregação existisse na África do Sul desde o século 17, quando a região foi colonizada por ingleses e holandeses, o termo passou a ser usado legalmente em 1948. No regime do apartheid o governo era controlado pelos brancos de origem européia (holandeses e ingleses), que criavam leis e governavam apenas para os interesses dos brancos. Aos negros eram impostas várias leis, regras e sistemas de controles sociais.
Entre as principais leis do apartheid, podemos citar: • Proibição de casamentos entre brancos e negros - 1949. • Obrigação de declaração de registro de cor para todos sul-africanos (branco, negro ou mestiço) - 1950. • Proibição de circulação de negros em determinadas áreas das cidades - 1950 • Determinação e criação dos bantustões (bairros só para negros) - 1951 • Proibição de negros no uso de determinadas instalações
públicas (bebedouros, banheiros públicos) - 1953
Nacional Africano (ANC) de Mandela que encabeçou um comitê de boas-vindas para o ex-presidente
• Criação de um sistema diferenciado de educação para as crianças dos bantustões - 1953
em 1990. Quatro anos após a libertação de Mandela, a África do Sul realizou suas primeiras eleições com candidatos de
Este sistema vigorou até o ano de 1990, quando o presidente sul-africano tomou várias medidas e colocou fim ao apartheid. Entre estas medidas estava a libertação de Nelson Mandela, preso desde 1964 por lutar com o regime de segregação. Em 1994, Mandela assumiu a presidência da África do Sul, tornando-se o primeiro presidente negro do país.
todas as raças, culminando na nomeação de Mandela como primeiro presidente negro do país. Ele deixou o cargo após um mandato de 5 anos, que ajudou a fortificar a democracia na África do Sul.O ex-presidente também é querido por advogar em prol da reconciliação entre raças, assegurando uma transição pacífica que poupou a África do Sul do caos e da destruição das guerras anti-coloniais. Desde 1994, o ANC (Congresso
ÁFRICA DO SUL COMEMORA 20 ANOS DA LIBERTAÇÃO DE NELSON MANDELA
Nacional Africano) minimizou o
No dia 20 de fevereiro (uma quinta-feira), milhares de pessoas se reuniram nas proximidades da Cidade do Cabo, conhecido, em 1990, como Victor Vester, prisão onde os 27 anos de cárcere de Nelson Mandela foram concluídos. A multidão se movimentava em torno da estátua de bronze de 3 metros, erguida em 2008, que mostra os primeiros passos de Mandela como um homem livre.
necessidades, entretanto, continuam
número de pessoas em situação de pobreza, construiu casas, distribuiu água e proporcionou eletricidade e escolas para negros que não os tinham em função do apartheid. As muitas, e a impaciência tem crescido paralelamente à disparidade entre pobres e ricos, dentre os quais estão os novos empresários negros. Mvuso Mbali, 37, fazia parte da multidão daquela quinta, e disse que estava na prisão há 20 anos. “E ainda tenho lembranças marcantes do que aconteceu”, disse, “Hoje estamos reinventando nossa liberdade, e unindo as pessoas que seguem os valores de Mandela”. Outros,
“Sabíamos que a libertação dele
também na multidão, que dizem que
significava que nossa liberdade
a libertação de Mandela, por mais
também tinha chegado”, disse Cyril
que triunfante que tenha sido,
Ramaphosa, um líder no Congresso
trouxe incerteza.
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“Quando Mandela saiu da prisão, nós não sabíamos o que ia acontecer”, disse Nontuntuzelo Faku, presente no evento. Estar na prisão 20 anos depois, comentou ela, faz com que perceba “o quanto o país progrediu”. A libertação de Mandela foi o auge de dias agitados para a África do Sul. No dia 10 de fevereiro de 1990, o então presidente F.W. de Klerk anunciou que ele seria libertado. Se os brancos que se condicionaram a ver Mandela como um inimigo que destruiria suas vidas ficaram chocados, os negros, por sua vez, não tinham certeza de que Mandela, conhecido como Madiba, nome de seu clã, deveria confiar em de Klerk. Uma guerra civil era plausível.
Há 20 anos, o ex-presidente do país deixou a prisão onde permaneceu por 27 anos, fato que marcou o fim do Apartheid.
“Acredito que esse mês esteja profundamente gravado na mente de nossa nação”, disse Mac Maharaj, líder do ANC na época. “A imagem de Madiba e Winnie, deixando Victor Verster, de mãos dadas. Madiba não celebrava, mas andava firmemente. Acho que via um certo espanto nele”. Mandela celebrou o aniversário de sua libertação em casa, lembrando a luta contra o apartheid com outros veteranos para as câmeras da produtora de sua filha Zindzi, que está preparando um documentário chamado “Conversations About That Day” (“Conversas Sobre Aquele Dia”, em tradução livre). Em julho, Madiba completou 92 anos e se encontra aposentado, em grande parte, da vida pública.
Jornal londrino coloca a libertação de Mandela como manchete (1990).
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o abrir a porta de casa na manhã de sete de abril de 1994, Paul Rusesabagina viu homens correndo pelas ruas de Kigali, a capital de Ruanda, empunhando facões lavados em sangue. Caído no quintal ao lado, com o rosto numa poça vermelha, estava Rukujuju, amigo de seu filho, cercado pelos corpos dos familiares. Rastejando, sobreviventes pediam ajuda. Rusesabagina, aterrorizado, fechou a porta. Ele sabia que, se tentasse socorrer os feridos, acabaria como eles. Era o início do genocídio mais intenso da história nunca tantos foram liquidados tão rápido. Tudo começou após a morte do presidente Juvenal Habyarimana, cujo avião fora abatido por um míssil na noite de seis de abril. O líder pertencia à etnia hutu e teria sido vítima de rebeldes de outro grupo étnico, os tutsis. Sob a influência de mensagens de ódio transmitidas pelo rádio, os hutus deram início ao genocídio tutsi. Em 100 dias, mais de 800 mil pessoas morreram.” Muitas pessoas tentam explicar o genocídio ocorrido em Ruanda, país do continente africano, mas poucos conseguem transmitir a verdadeira realidade. Rusesabagina era um gerente de hotéis, e conseguiu chegar a um deles no dia 12 de abril. Junto dele estavam a mulher e os dois filhos, que passaram 76 dias no local, abrigando, também,
centenas de refugiados. No total, chegou a salvar 1268 pessoas, o que equivaleria a quatro horas de carnificina. Tal proeza foi obtida graças às relações cordiais que manteve com os líderes do genocídio, fazendo surgir uma história que ficou famosa em 2004, contada no filme Hotel Ruanda, que de conto de fadas nada tem. A seguir contamos com uma entrevista (adaptada) dirigida ao gerente de hotéis, Paul Rusesabagina:
Qual é a origem do ódio entre hutus e tutsis? Esses são os principais grupos étnicos que vivem em Ruanda, mas é uma questão controversa se essa divisão é meramente política e artificial. Nós falamos a mesma língua, compartilhamos as mesmas crenças, as mesmas tradições e, na maioria dos casos, temos a mesma aparência. Antes de os colonizadores chegarem, no século 19, os tutsis já eram os mais ricos e controlavam o país. Os hutus eram os mais pobres e escravos dos tutsis. Em 1885, ano da Conferência de Berlim, em que as nações européias que reivindicavam partes da África tomaram posse das terras, a região onde está Ruanda ficou sob o domínio dos alemães. Mas, quando eles perderam a Primeira Guerra, o comando foi transferido para a Bélgica.
Para tirar o máximo proveito de Ruanda, levando o mínimo possível de homens para lá, os belgas elegeram os tutsis como “gerentes” de seu domínio. Daí para a frente, a separação racial tornou-se explícita. Cientistas foram enviados para comprovar a supremacia dos tutsis – que seriam mais altos, mais bonitos e mais inteligentes que os hutus. Em 1933, as pessoas de Ruanda receberam cartões que as identificavam como sendo de uma ou de outra etnia. A situação mudou em 1959, quando houve a Revolução Hutu (três anos após o levante, os belgas deixaram o país).
Havia evidências, em 1994, de que um assassinato em massa estava para acontecer a qualquer momento? Os tutsis rebeldes estavam organizando vários ataques em Ruanda, nas proximidades das fronteiras, matando civis e crianças hutus. Por outro lado, o governo de Habyarimana estava matando tutsis civis e qualquer cidadão que fizesse oposição a seu governo. Em outubro de 1993, Melchior Ndadaye, presidente de Burundi, foi morto por oficiais tutsis. Milhares de pessoas de Burundi e Ruanda ficaram assustadas e saíram de seus países. Porém, muitas delas voltaram em novembro do mesmo ano, cinco meses antes de o genocídio começar.
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A ONU havia mandado 2500 soldados para Ruanda. Quando vimos aqueles homens de capacete azul chegando, sentimo-nos muito mais seguros.
De que modo o rádio ajudou a aumentar a tensão? A emissora RTLM foi inaugurada em agosto de 1993 e tocava música congolesa, um ritmo muito alegre. Todos em Ruanda escutavam essa rádio. As mensagens de ódio começaram timidamente, com algumas piadas. Mas aos poucos essas idéias foram entrando na consciência da população. Em abril de 1994, os recados já eram claros, como “matem seus vizinhos”. O que poucos em Ruanda sabiam é que a rádio estava ligada ao governo e que o principal acionista era o presidente Habyarimana. Durante o genocídio, a RTLM divulgava os nomes dos tutsis que deveriam ser mortos e diziam até mesmo onde eles estavam escondidos ou para onde estavam fugindo.
Como o senhor se sentia sabendo que a vida das pessoas refugiadas no hotel dependia quase exclusivamente de sua habilidade com as palavras?
Eu nem sequer tinha tempo para pensar nisso. Eram tantos problemas para resolver que não dava tempo de pensar se o que fazia estava certo ou errado. Nossa situação era precária. Não tínhamos água – precisávamos racionar a água da piscina –, não tínhamos eletricidade, a comida era escassa. Além disso, eu tinha de entreter os homens da milícia e do exército, conversar com eles, oferecer cerveja. Sempre tive em mente que nenhum ser humano é completamente bom ou completamente mau. Então, eu tentava enxergar o lado bom desses homens e usá-lo da melhor maneira possível para que eles deixassem em paz as pessoas no meu hotel. Quando eles ameaçavam os hóspedes, eu costumava dizer a eles: “Sei como você se sente. A guerra faz isso com as pessoas. Tome uma cerveja, vá para casa, descanse e volte amanhã”. Geralmente eles não voltavam.
para Ruanda e abandonou o país. Além disso, não há riquezas naquela terra, não há petróleo lá. Só havia pessoas se matando.
Qual a explicação que o senhor dá para a recusa dos Estados Unidos em intervir no genocídio?
Se o governo não mudar suas políticas, se nada for feito para que haja justiça em Ruanda e se os líderes do genocídio não forem punidos, definitivamente, antes do fim da próxima década, outro massacre acontecerá. Como eu disse, a matança nunca parou. Nós dizemos em Ruanda que a música ainda é a mesma, só mudaram os dançarinos.
Há muitas razões. A África é um continente abandonado. Os africanos estão cada vez mais isolados e esquecidos. Até agora, o mundo inteiro, incluindo os Estados Unidos, não está levando Ruanda a sério. Cerca de 800 mil pessoas morreram em três meses e o que o mundo disse a respeito? Nada. Fechou os olhos
O que ocorreu depois que o genocídio acabou? O genocídio acabou em quatro de julho de 1994, quando os tutsis rebeldes tomaram a capital, Kigali. Os assassinos que escaparam fugiram para o Congo e, de lá, foram para outros países. Alguns foram pegos em Ruanda pelos tutsis. Muitos desses morreram e outros estão na prisão. Agora são os tutsis que estão matando os hutus para se vingar. É o pior problema do país atualmente.
Você tem medo de que um novo genocídio aconteça em Ruanda?
Fonte: http://historia.abril.com.br/guerra/ paul-rusesabagina-heroi-ruanda-435635.shtml 21
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pesar do orçamento restrito, políticos africanos têm a coragem de desviar recursos públicos.
A África é o continente que apresenta os mais graves problemas socioeconômicos do mundo, todos eles decorrem do seu processo de colonização e independência, em que os países colonizadores usaram e abusaram das riquezas africanas e, mais tarde, deixaram o local numa verdadeira bagunça.
A escassez de recursos associada ao aumento das necessidades básicas de uma população cada vez mais pobres demonstra a incapacidade dos governos em suprir tal demanda, gerando reações violentas por parte de setores sociais que se sentem abandonados pelo Estado. Criou-se assim, um ciclo vicioso em que o Estado não fornece à população aquilo que ela necessita e a população se revolta contra o governo, ambos contribuindo para a manutenção da atual situação de pobreza, fome, subnutrição e guerras. Cada vez mais pessoas se sensibilizam com as dificuldades africanas e se engajam aos programas de ajuda humanitária atuantes no continente. A ONU (Organização das Nações Unidas) contribui através de doações de recursos básicos e
de tropas militares que tentam promover o fim dos conflitos; já as ONGs (Organizações Não Governamentais) tentam contribuir de forma mais imediata e desenvolvem um trabalho sem fins lucrativos junto às comunidades afetadas. Embora a existência das organizações de ajuda internacional seja fundamental para a sobrevivência dos habitantes de zonas remotas ou de conflito, seus auxílios nem sempre são vistos com bons olhos. A crítica afirma que as contribuições reforçam a passividade e acompanham interesses geopolíticos e decisões externas, sem participação do povo africano sobre onde, como e quanto aplicar os recursos; é sugerido que os recursos sejam fornecidos à União Africana e eles os administrem, uma vez que os ajudantes têm uma
visão distorcida dos problemas e suas causas. No entanto, as organizações preferem agir por conta própria, pois a credibilidade dos governos africanos é muito baixa ou quase nula. Experiências recentes indicam que boa parte dos recursos repassados ao Estado não foram aplicados de maneira correta, ou seja, foram desviados. Dessa forma, havendo condições de segurança para as equipes de ajuda humanitária, elas se fazem presentes. Obviamente, a África já passou por dias muito piores, mas para a superação da situação atual o combate à corrupção deve ser enfatizado e, com um sistema econômico que não colabora, a solução para os problemas deve partir de dentro do próprio continente africano, de seus líderes, povos e de como o mundo relaciona-se com ele.
vALE A PENA cONfErir O trAbALhO: • Pastoral da Criança (Brasil) • Mirim – Brasil • Unga Ornar (Suécia) • Cruz Vermelha Internacional • Crescente Vermelho
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AIDS — S.O.S!
a África está doente! Por Julia Figueira e thalita antunes Revista_talita.indd 24
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s
índrome da Imunodeficiência Adquirida, em inglês, é causada pelo HIV, vírus que ataca as células de defesa do organismo e torna o corpo mais vulnerável a contrair diferentes doenças – das mais simples às mais graves. S.O.S! A África está doente! A AIDS é vista como uma grande ameaça para o continente africano, uma tragédia sem previsões que assola a maior parte dos países, que é uma das grandes responsáveis pela diminuição das taxas de natalidade. A grande presença de conflitos por toda a África está relacionada com o aumento do índice da doença, já que os integrantes de exércitos, de guerrilhas e grupos rebeldes acabam apelando ao abuso sexual quando invadem alguma região - mulheres e crianças são estupradas. Além de ser transmitida por transfusões de sangue ou uso de drogas, por meio de agulhas descartáveis. Outro fator que implica sérias consequências para a saúde da população é a situação de pobreza das regiões da África, que ainda não fechou as portas até mesmo para doenças que em outros países já foram erradicadas, além da aids, a maior epidemia, iniciada há vinte anos. Os números são bastante altos, por exemplo, na África
Subsaariana, que abriga mais de dois terços dos 33,4 milhões de soropositivos no mundo, e cerca de 72% dos 2 milhões de pessoas que morreram por causa da aids, em 2008, são da região. A doença não afeta apenas adultos, mas vem crescendo cada vez mais entre os jovens – crianças e adolescentes até 15 anos. Uma das consequências foi a diminuição da expectativa de vida, na Suazilândia era de 74 anos e caiu para 37 anos em 2007. E junto com a expectativa de vida despencou a esperança de vida ao nascer.
Botsuana, os medicamentos já atingem 80% da população, o que fez com que mortes relacionadas a aids caíssem pela metade no período de cinco anos. No final do ano de 2009, o atual presidente da África do Sul, Zuma, fez uma relação de esforços entre o combate à aids e à luta contra o apartheid, e prometeu ampliar o acesso aos antirretrovirais – drogas que prolongam a vida do paciente.
Mas nada muda da noite pro dia. Esse cenário vem sido construído por causa da falta de informação da população e do descaso dos governos africanos, que, durante muito tempo, ignoraram a gravidade do problema. Embora tenha havido um crescimento no número de contaminados que passaram a ter acesso aos medicamentos retrovirais, ainda falta investimento em saúde pública, e caso as autoridades direcionassem o dinheiro de empréstimos para esse setor específico, a epidemia seria melhor combatida. É o caso da Uganda, que por meio de um programa de movimentação nacional, conseguiu deter a “peste”, e utilizando tratamentos retrovirais reduziram a mortalidade em 95%. Em
S.o.S! a África aguarda resgate! 25
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Com teto, sem futuro
Conseqüências de todas as guerras, massacres e invasões, os refugiados representam mais uma questão aparentemente insolúvel.
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E
xpulsos de seu país, impedidos de trabalhar e sem perspectivas para o futuro, a questão dos refugiados reflete um dos mais preocupantes problemas sociais. No final do ano passado, havia mais de 17 milhões de pessoas deslocadas no mundo, sendo que 4,3 milhões estão no continente africano, o que representa aproximadamente 0,5% da população local. Este é o índice total constatado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no relatório Tendências Globais 2009, recentemente divulgado. Os motivos do deslocamento forçado de pessoas permeiam desde conflitos armados até as chamadas “limpezas étnicas”, como as promovidas pelo governo árabe que levaram um
enorme número de refugiados à cidade de Johannesburgo, na África do Sul, e em 1992, ao surgimento de Kakuma, um campo de refugiados no Quênia que abriga mais de 100 mil crianças e adolescentes refugiados. Esses “garotos perdidos”, como são conhecidos os moradores de Kakuma, encontraram no campo um refúgio, mesmo sem acesso a luz elétrica e água encanada ainda sim vivem com mais conforto do que os moradores quenianos dos arredores, porém não podem dizer que têm um lar. As crianças contam também com escolas mantidas por organizações não-governamentais, de onde saem alfabetizadas em inglês e sawali, línguas oficiais do Quênia, porém sem planos para o futuro, o conhecimento
adquirido para pouco será usado, já que os refugiados estão impedidos de retornar à sua pátria e nem tampouco podem integrar a sociedade queniana, dos adultos que lá habitam apenas 3 mil têm alguma ocupação remunerada, o resto usufrui dos raros meios de lazer aos quais têm acesso, que no caso, se resumem a uma videohouse, onde são exibidos diariamente filmes de pancadaria no videocassete, enquanto as crianças se distraem fingindo serem soldadinhos e simulando guerras de brincadeira. Para quem já esteve em um ambiente como este, a jornalista e fotógrafa gaúcha Marie Ange diz que a sensação é a de não pertencer a lugar algum “o drama dessas pessoas é a falta de futuro”.
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Alavancando a
Envergonhando
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economia ontem,
o país hoje O
s países africanos, em sua maioria, sofreram com o tráfico de escravos no período colonialista, em especial após a descoberta da América quando o comércio de pessoas se tornou assíduo. Negros retirados da África eram exportados para várias partes do mundo, mas a América, e especialmente o Brasil, eram o principal destino dos navios que transportavam em seus porões centenas de escravos. No Brasil o tráfico negreiro foi alavancado pela produção de açúcar que exigia muita mão de obra. Os africanos que seriam escravizados eram transportados sem nenhuma condição de higiene, o que ocasionava inúmeros problemas de saúde e epidemias.
Nações Africanas como os Ashanti do Gana e os Yoruba da Nigéria tinham as suas economias assentes no comércio de escravos. Da mesma forma que comunidades africanas tinham a economia baseada no tráfico de escravos a economia brasileira dependia também desta prática, uma vez que as atividades que a regiam eram executadas pelos negros africanos. Atualmente fica subentendido que o Brasil se coloca em uma posição de débito perante os negros devido a este histórico de escravidão, como por exemplo exemplo, as cotas que são dadas nas universidades federais. A triste verdade é que o dano que foi causado séculos atrás não pode ser reparado, e esta herança fica apenas como uma vergonhosa prática mundial que foi intensa no nosso país e mancha para sempre sua história.
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continente africano é repleto de conturbações, onde já ocorreram inúmeras guerras civis. Em meio tanta violência e certo desespero para aliciar militantes, crianças são persuadidas, quando não seqüestradas, para lutar. Estas crianças acabam perdendo a ingenuidade precocemente e enquanto “defendem” sua milícia manuseiam armas e artefatos bélicos que deveriam estar longe das suas realidades. Espelho desta infância repleta de violência são cidadãos sem o mínimo de consciência do que é ou não admissível, principalmente em relação a conflitos. O fato é que este processo se torna uma bola de neve, pois a criança que ontem foi para a luta hoje leva outra para a luta e assim os valores continuam a ser invertidos. O direito da criança prevê que este tipo de conduta, aliciar crianças para conflitos armados, é ilegal, o que só confirma a tese de que falta bom senso, ainda hoje, no mundo. Armas devem ser mantidas longe de crianças, que, por sua vez, devem ocupar suas mãos com bonecas e bolas. Além de todo o desequilíbrio emocional causado por isso ainda existem as crianças que não tem tempo suficiente para desenvolver qualquer tipo de problema, pois morrem antes que isso aconteça. Vidas acabam antes mesmo de começar realmente e com elas acabam sonhos, acaba um futuro e morre um pouco da perspectiva de um mundo melhor.
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– será?
Uma mãozinha é sempre bem vinda
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economia africana é considerada frágil e em sua grande maioria, ainda agrícola, mesmo depois de ter criado pólos de desenvolvimento por causa da exploração mineral. Como modelos são encontradas pequenas lavouras de subsistência, que empregam cerca de 70% dos trabalhadores do continente africano, e aliada a essa situação está a monocultura exportadora. Estão entre os principais itens produzidos: café, cacau, algodão, amendoim.
desencadeou uma acentuação da dívida externa, gerando um ciclo de dependência dos países estrangeiros, que perdura até os dias de hoje. Débitos de países como a Libéria, Zimbábue e República Democrática do Congo (RDC), chegam a superar o próprio PIB. Para muitos países, globalização significa desenvolvimento, crescimento econômico e quebra de barreiras, que até
africanos de inserir o que produzem com lucro no mercado mundial, pois os subsídios nos EUA e na EU aumentam a produção global e derrubam cotações, impedindo o lucro para os países da África. Prejudicando pelo menos 15 milhões de pessoas no oeste do continente, cuja principal fonte de sobrevivência é a lavoura algodoeira.
só esquece quem quer
O rico continente pobre tem muito a ser explorado, mas não apresenta a tecnologia necessária para realizar operações por conta própria. Há muitos anos explorado pelas grandes potências, continua sendo o continente menos desenvolvido.
Um fator muito interessante é que, ao contrário de suas etnias, religiões e línguas, a economia é pouco diversificada, tornando os países da África vulneráveis a choques internacionais, por causa de possíveis quedas bruscas nos preços das commodities no mercado mundial, ou, então, a mãe natureza pode acabar não colaborando com os seus filhos africanos, pois períodos de seca ou enchentes arrasam colheitas. Sempre que existe uma causa, seguem consequências. Tal fragilidade levou as nações a recorrerem à ajuda financeira, a partir de 1970, o que
então pareciam “sufocantes”. Porém, para toda regra há uma exceção, e quem ficou com o primeiro lugar foi a nossa querida - e quando querem – esquecida África. Em 1984, as exportações representavam 6,5% do comércio global, que despencou para 2,5%, em 1993, por causa da atual globalização iniciada nos anos 1990. São estabelecidas condições desiguais que impedem os
O continente africano é o berço de muitas reservas de recursos naturais, e por esse motivo atrai cada vez mais olhares de potências mundiais, com o interesse focado em uma das mais importantes fontes energéticas, o petróleo, cuja demanda vem crescendo nos últimos anos.
Sem tecnologia e mão de obra especializada para explorar suas riquezas, as regiões africanas se tornaram dependentes de empresas e governos estrangeiros para cumprir a tarefa, que as transportam a um novo colonialismo, com um modelo extrativista e ainda por cima, retirando a autonomia que os africanos teriam sobre os rumos de sua economia (repito: ajuda... Sempre bem vinda?) 33
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Percebe-se que os investidores que mais crescem na região, são os chineses – sendo a China um dos países com a economia emergente mais importantes. Desde 2000 o comércio entre os dois aumentou quase dez vezes, chegando a 107 bilhões de dólares em 2008. O principal objetivo, não só da China, mas de todos os países estrangeiros interessados, é ampliar o acesso aos recursos energéticos da região. E a resposta que recebem, é o investimento em infraestruturas e em ajuda
econômica para estimular o crescimento e desenvolvimento do continente.
Diminuição de conflitos influencia a economia, mas não deixa de gerar problemas Desde o início dos anos 2000, o PIB da África teve um crescimento anual de 5%, em média. Foi nesse período, também, que começaram com mais força os processos de democratização e, com isso, o número de conflitos diminuiu
em relação a alguns anos, mas não deixaram de existir. A estabilidade política acabou gerando uma melhora na economia, mas trouxe na bagagem o aumento da desigualdade de renda nesses países, onde a grande maioria ainda depende de ajuda humanitária para comer. Além disso, outro vilão ataca: a corrupção. Quando isso acontece, a gestão pública acaba prejudicando na hora de usar os rendimentos obtidos com o petróleo para desenvolver a economia.
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Zakumi é o nome do mascote da Copa do Mundo de 2010. Tal é formado pela sigla “ZA” que significa África do Sul e “Kami” que significa dez em vários idiomas locais. Assim, Zukami seria “África do Sul é dez”, um nome propício para um leopardo que é o maior corredor do mundo. As suas cores também são significativas, representando o espírito do futebol.
Copa do Mun n
Por Thalita Malachim
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undo de 2010
´ na africa do Sul Um novo mundial se inicia em um país surpreendente
A
o fim da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha , foi anunciada o novo país que sediaria o próximo torneiro: “ Copa do Mundo de 2010 na África do Sul”. Em dezembro de 2009, a FIFA realizou o sorteio que separou as 32 seleções classificadas em oito grupos de quatro membros. Os “cabeças de chaves” (país sede, mais sete países que possuem certa tradição e que já foram campeões mundiais) são: África do Sul, Inglaterra, Holanda, Brasil, Itália, Argentina, Alemanha e Espanha. A grande expectativa ficou para o “Grupo da Morte” (Grupo A).
Grupo A África do Sul México Uruguai França Grupo E Holanda Dinamarca Japão Camarões
Grupo B Argentina Nigéria Coréia do Sul Grécia Grupo F Itália Paraguai Nova Zelândia Eslováquia
Grupo C Inglaterra Estados Unidos Argélia Eslovênia Grupo G Brasil Coréia do Norte Costa do Marfim Portugal
Grupo D Alemanha Austrália Sérvia Gana
Grupo H Espanha Suíça Honduras Chile
Algumas surpresas foram presenciadas nas eliminatórias. Seleções como Rússia e Ucrânia foram eliminadas, esfriando o clima desses países do leste europeu. A Rússia perdeu de 1x0 da Eslovênia; o mesmo placar que garantiu a vaga dos gregos sobre os ucranianos. Na América, a Costa Rica cedeu um empate de 1x1 para o Uruguai que foi classificado na repescagem. E após trabalho muito árduo, a França arrancou literalmente um empate com a Irlanda, com um escandaloso gol de mão, garantindo sua classificação. Outra surpresa foi o número recorde de países-sede competindo, totalizando seis seleções africanas: Costa do Marfim, Gana, África do Sul, Camarões, Nigéria e Argélia. A Oceania também ganhou espaço na competição com a ida da Nova Zelândia e da Austrália; que disputou as eliminatórias, pela primeira vez, na Ásia. Em contra partida os asiáticos saíram em desvantagem, pois estão representados por apenas três seleções: Coréia do Norte, Coréia do Sul e Japão. 37
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Rumo aos jogos Conheça as cidades africanas que serão sede do mundial de 2010
O
s jogos da Copa do Mundo de 2010 ocorrerá em terras africanas, concentrados em nove cidades sede. Conheça agora um pouco delas e seus estádios:
de rosas plantados pelas suas ruas. Cidade sede do “Free State Stadium”, que passou por reformas, ganhou um novo andar, renovando sua capacidade para 45 mil pessoas.
Joanesburgo
Pretória
É o centro econômico da África e capital da províncial de Gauteng. Porém ao contrário do que algumas pessoas pensam, não é a capital da África do Sul. É a única cidade que terá dois estádios usados durante o para realização dos jogos do Mundial. É a única cidade que abriga dois estádios: o “Ellis Park Stadium”, com capacidade para 70 mil pessoas, e o “Soccer City Stadium” que comporta 104 mil torcedores e sediou a abertura e a final da Copa de 2010, além de mais sete jogos. Esse último foi reformado e inspirado nas cerâmicas africanas.
Capital administrativa do país, é uma pequena cidade ao norte de Joanesburgo, na província de Gauteng, e tem uma cobiçada, fascinante e envolvente história. Reinaugurado para 45 mil torcedores, o “Loftus Versfeld Stadium” abrigou um total de cinco jogos.
Bloemfontein É a capital judicial da África do Sul e também capital da província do Estado Livre. Seu nome significa “Fonte das Flores”, e tem milhares de pés
Cidade do Cabo É a capital legislativa da África do Sul, formando, junto com Bloemfontein e Pretória as 3 capitais nacional. É a cidade mais velha e amada dos sul-africanos, constituída por belas construções, longas praias de areia clara e uma rica vida cultura, que faz do local, o destino preferido dos turistas. Também conhecida como “Cape Town”, teve um estádio construído especialmente para o mundial; tal chama-se “Green Point Stadium”, tem
cobertura retrátil, capacidade para 70 mil pessoas e foi palco da semi-final entre Uruguai e Holanda (2x3).
Port Elizabeth Cidade da província do Cabo Oriental, localizada na baía de Alagoa, no sul do país. O mártir sul-africano na luta contra o Apartheid, inspirou o nome do estádio que decidiu o terceiro lugar da Copa 2010, “Nelson Mandela Bay Stadium” (6082 lugares).
Nelspruit Capital da província de Mpumalanga, situada no vale do Rio Crocodilo a aproximadamente 300km de Joanesburgo. Dono da menor capacidade de público (pouco mais de 43 mil pessoas), o “Mbombela Stadium” sediou apenas quatro partidas. O Mbombela, em Nelspruit, será o estádio da Copa na África do SUl com menor capacidade de público. Apenas 30 mil lugares estarão disponíveis após o término de sua construção. Quatro partidas da Copa serão disputadas no seu gramado.
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Durban Cidade de clima tropical e banhada pelas águas aquecidas do Oceano Índico, é um dos melhores lugares da África do Sul para se passar o inverno. A cidade tem o maior porto do continente africano. O “Durban Stadium” ou “Moses Mabhida Stadium” tem capacidade para 70 mil pessoas e também sediou a semi-final entre Alemanha e a campeã Espanha (0x1) .O poeta e escritor português, Fernando Pessoa, passou 10 anos de sua juventude em Durban, antes de voltar definitivamente pra Portugal.
Rustenburg Cidade sul-africana localizada nas cadeias montanhosas de Magaliesberg, no noroeste do país, onde pode se encontrar as duas maiores minas de platina do mundo. Com capacidade para 45 mil torcedores, o “Royal Bafokeng Stadium” sediou cinco jogos.
Polokwane Cidade construída a partir de um campo de concentração criado para abrigar mulheres e crianças durante durante a guerra dos boers, é a capital da província de Limpopo e localiza-se próximo ao Parque Nacional Kruger, a maior área de conservação de fauna bravia da África do Sul. O “Peter Mokaba Stadium” foi construído para o mundial com 46 mil lugares.
´ surpreendente Um pais A África do Sul não usufruiu de recursos extra-FIFA na preparação do Mundial de 2010
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ara ser o país sede da Copa do Mundo, a FIFA requisita construções, reformas e adaptações de todos os tipo de arquitetura, desde hotéis até estádios. E para tanto, a maior entidade do futebol disponibiliza recursos. Ao todo o país estima ter gasto por volta de 1,06 milhão de reais em infraestrutura. Com estádios foram gastos por volta de 3,5 bilhões de reais. Todos os recursos foram levantados, ou dos cofres públicos, ou de patrocinadores. Fazendo uma comparação com o comitê organizador da copa passada, que se passou na Alemanha, onde o futebol é muito valorizado e comercialmente importante, com a África do Sul, que não tem tanto apelo em relação ao esporte, e por isso possui a necessidade de maiores obras, é possível perceber o bom desempenho do país ao empregar seus recursos. Na copa de 2006, foram gastos com 12 estádios 4,2 bilhões de reais. Já na África do Sul, 3,5 bilhões de reais foram empregados na construção e reformulação de 10 estádios. Todos eles já estão aprovados dentro das normas. 39
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´ Por dentro da Africa do Sul O país sede apresenta uma infraestrutura surpreendente
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África do Sul é um país de diversas origens, culturas, línguas e credos e sua culinária não poderia ser diferente: variada, exótica e muito saborosa. A unidade monetária sulAfricana é o rand, que vale aproximadamente 0,7 centavos de dólar. É dividido em 100 centavos. Existem moedas de 5c, 10c, 20c, 50c, R1, R2 e R5 e notas de R10, R20, R50, R100 e R200. Devido a favorável taxa de câmbio entre a moeda sul-africana e a de muitos outros países, a África do Sul se torna um destino muito barato para se fazer turismo. Com dez aeroportos internacionais distribuídos por algumas das suas principais cidades, a África do Sul registra ao ano uma média de 200 mil voos que levam cerca de 23 milhões de passageiros. E além desses, outras rotas aéreas, ferroviárias, companhias de ônibus de turismo, e o aluguel de carro ou motoclicleta, dão suporte ao translado dos turistas entre as cidades sedes, resultando em um excelente sistema rodoviário.
preocupação, pois está livre de microorganismos prejudiciais. A higienização em restaurantes e hotéis é de auto nível, e você poderá comer tranquilamente frutas e saladas frescas, sem precisar se preocupar com contaminações. Mais uma vez a África do Sul se destaca entre as melhores do mundo, quando o assunto é especialidade médica. Em todo mundo, há requisição de médicos treinados no país. Tanto hospitais públicos quanto privados espalhados pela nação oferecem serviços de ótimas qualidades, lembrando que para hospitais privados é necessário ter um seguro médico que cubra suas despesas.
do número de casos da doença no país. Medidas como o uso de repelentes e de mosquiteiros são essenciais se proteger contra o mosquito transmissor. O risco de contrair a doença é maior nos meses de temperaturas quentes, ao anoitecer e amanhecer, mas recomenda-se que a prevenção seja mantida durante todo o ano. Hoje em dia a incidência da doença no local é muito pequena. Ao chegar no país, estrangeiros que vêm de regiões com incidência de febre amarela devem mostrar um certificado válido de vacinação contra a doença. Essa regra não se aplica a crianças com menos de um ano de idade.
Um programa extensivo de prevenção da malária desenvolvido pelo governo vem contribuindo para a diminuição
O tratamento de água do país está entre as melhores do mundo, e a água de torneira pode ser bebida sem 40
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~ da Bola A globalizacao , Brasileiros jogam de camisas amarelas, azuis, brancas ou até grenás
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naturalização de jogadores tem sido uma prática recorrente no futebol atual; tanto que o presidente da FIFA, Joseph Blatter afirmou que “se não houver uma limitação à questão das naturalizações, metade dos jogadores das próximas Copas serão brasileiros”.
O Brasil de fato tem servido a muitos selecionados mundo afora. Devemos levar em conta apenas o passado recente, no qual a FIFA só permite a mudança de nacionalidade para atletas que nunca disputaram uma partida na categoria principal por nenhum país. Antigamente a regra era mais maleável, e Puskas, por exemplo, jogou em 1954 pela mítica seleção húngara e em 1962 pela Espanha. Mazzola foi campeão com o Brasil em 1958 e defendeu a Azzurra quatro anos mais tarde. Nesse passado recente, podemos citar o Japão, que contou com Wagner Lopes em 1998, ou a Tunísia que levou Clayton para a Copa de 2002 na Ásia. E evidentemente o caso mais emblemático, o paulista Deco, que junto com Felipão levou Portugal às semifinais da Copa da Alemanha em 2006. A seleção italiana conta com um sulamericano em seu elenco, o meio-campista Camaronesi, argentino de nascimento. No mundial de 2010 na África do Sul , brasileiros naturalizados, convocados em outras seleções chegaram a enfrentar a pátria-mãe, esse é o caso de Deco, Liédson e Pepe. Veja os seis brasileiros naturalizados e suas respectivas seleções:
POrtUgAL
ALEmANhA
Pepe (Képler Laveran Lima Ferreira) Zagueiro alagoano Deco (Anderson Luís de Souza) Meio-campista paulista Liédson (Liédson da Silva Muniz) Atacante baiano
Cacau (Claudemir Jerônimo Barretto) Atacante paulista
jAPãO Marcus Tanaka (Marcus Túlio Lyuji Murzani Tanaka) Zagueiro paulista
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EstADOs UNiDOs Benny Feilhaber Meio-campista carioca 41
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A famosa Jabulani Nunca uma bola foi tão comentada
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steticamente a bola comemorativa é muito apresentável, com oito gomos tridimensionais, traços africanos, onze cores e quatro triângulos, ambos possuindo específicos significados: as cores representando os onze idiomas oficiais falados na África do Sul, as onze tribos que formam a população sul-africana e os onze jogadores de cada seleção, os triângulos, que se destacam no fundo branco, as diversidades étnicas do país. Além do design e sua tecnologia, a bola foi nomeada de Jabulani, que no dialeto Bantu isiZulu (Zulu) significa “celebração”. O lançamento oficial da bola aconteceu na Cidade do Cabo, antes do sorteio dos grupos da Copa. Outras regiões do mundo também receberam o lançamento. No Brasil, a festa ocorreu no estádio do Pacaembu. Durante os treinos da seleção brasileira, jogadores criticaram o desempenho da bola. O atacante Luis Fabiano “atacou” a Jabulani, afirmando ser uma “bola sobrenatural”. O goleiro Júlio César detonou-a dizendo se uma bola
“horrível, horrorosa, muito ruim” e que até parecia “bola de supermercado”. Dentre os brasileiros o único defensor da bola tão tecnológica foi o meio-campista Kaká A Adidas fabricou uma bola esférica com oito gomos, uma preocupação com a estabilidade e pressão. Segundo um físico australiano Derek Leinweber (chefe do Departamento de Física e Química da Universidade de Adelaide que, há seis anos, estuda a aerodinâmica de bolas esportivas), estudou a Jabulani e constatou, a bola está mais rápida, fará mais curvas e se manterá por mais tempo no ar, porque mantém o ar de baixa pressão perto dela. “Para o bem ou para o mal, ela vai sim causar diferenças nas partidas do campeonato”. A grande diferença da Jabulani para sua antecessora são as texturas, que devem criar turbulência o suficiente em volta da bola para que ela sustente seu vôo por mais tempo. Pensando numa bola de 32 painéis, vemos que ela tem irregularidades em sua superfície, diferenças milimétricas nos painéis que fazem com que ela não fique
tão lisa – logo, o ar não “agarra” tanto a bola. “Já com a Teamgeist, o problema era justamente o contrário: ela é super lisa, quase uma esfera perfeita – o que dá um efeito similar ao de uma bola de criança”, diz o professor. A referência são aquelas grandes bolas plásticas, que ganham altura durante o vôo mas caem abruptamente – justamente porque, sem ranhuras que “segurem” o ar, ela não consegue dar “efeitos”. Já a Jabulani, muito mais perfeitamente esférica que a de 32 painéis, porém com pequenas cristas e ranhuras que a tornam menos lisa que a Teamgeist, é radicalmente diferente. A diferença é que a curva acontece no final da trajetória, o que pode surpreender os goleiros preparados para receber a bola em determinado canto do gol. Em números, a Jabulani tem sua resistência de 4 a 5 vezes menor do que a Teamgeist, o que a fará ir muito mais longe. A curvatura da Jabulani também será maior: ela pode ir parar um metro mais para o lado do que a Teamgeist faria nas mesmas condições. 43
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Paul, o polvo profeta O molusco faz sua despedida na Copa do Mundo de 2010 e infelizmente “deixou a vida para entrar na história”
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a Copa da “zebra”, em que seleções favoritas perderam e outras menos renomadas ganharam ou derrotaram as que tinham o favoritismo, surge algo ainda mais inusitado: Paul, um polvo que vive no aquário Sea Life, em Oberhausen, na Alemanha, palpiteiro por profissão, acertou todos os seus palpites e previu a vitória da Espanha . O passado do “polvo profeta” é desconhecido, mas há informações de que ele foi capturado no Atlântico. Paul também é conhecido como “Octopus vulgaris” (nome científico). Tal espécie é solitária e curiosa, não tem vida sexual ativa, não ultrapassa os três anos de vida, habita águas tropicais, subtropicais e temperadas, constitui um dos principais recursos pesqueiros e é utilizado na culinária mundial. Dentre os invertebrados, são os mais inteligentes, pois possuem vários gânglios nervosos e um particularmente enorme (praticamente um cérebro). Paul tem três corações e um braço favorito, que ele usa para funções
específicas mais do que os outros sete. Segundo publicações do jornal alemão Bild, o famoso molusco já tem dois anos e meio de idade. Portanto uma das estrelas da Copa de 2010 não estará viva em 2014 para novas previsões. E na madrugada do dia 26 de outubro, Paul morreu. Algum outro integrante da fauna se habilita para ser a estrela do mundial? Tradicionalmente, o polvo fazia previsões apenas sobre as partidas dos alemães. Previu os resultados das sete partidas da Alemanha no torneio (vitórias sobre Austrália, Gana, Inglaterra, Argentina e Uruguai e derrota para Sérvia e Espanha). Porém, abriu exceção e realizou uma profecia sobre a decisão do Mundial, onde indicou a Espanha como campeã da Copa do Mundo de 2010. Seu último palpite foi transmitido, ao vivo, por mais de 600 canais de televisão ao redor do mundo! O título espanhol também o consagrou, resultando em 100% de aproveitamento em seus palpites.
A brincadeira é feita da seguinte forma: dois recipientes contendo a mesma quantidade de alimento são oferecidos ao animal dentro do aquário. Em cada pote é colocada a bandeira de uma seleção e o recipiente escolhido pelo polvo é o do provável vencedor da partida em questão. Como toda celebridade instantânea, o molusco adquiriu fama, a qual tem seu lado bom e seu lado ruim, e com Paul não foi diferente. Inúmeras mensagens postadas no Twitter e em outras redes sociais por parte de alguns torcedores das seleções derrotadas apontavam as receitas à base de polvo. Quem primeiro divulgou a intenção de ver Paul na panela foram os argentinos, eliminados nas quartas de final. Ao apontar o terceiro lugar da Alemanha, os torcedores alemães, quiseram seqüestrar, fazer churrasco ou grelhar uma das personagens centrais deste Mundial por ele ter acertado a derrota dos germânicos para a Espanha na semifinal.
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“O que vai acontecer com o polvo Paul?”, perguntava o jornal Berliner Kurier. Alguns internautas pediram para que ele seja exilado na Espanha, devido à vitória da sua seleção; ainda bem, pois se a “Fúria” perdesse, os mesmos internautas sugeriram uma especialidade da cozinha ibérica: “polvo à galega”...
Paul, o polvo profeta, previu que a Espanha seria campeã da Copa de 2010
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´ Uma Copa do Mundo inesquecivel A Copa do Mundo de 2010 definitivamente nos surpreendeu em vários momentos, de várias maneiras. Desde zebras históricas e jogos sonolentos até goleadas inesquecíveis e partidas marcantes.
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Mundial da África do Sul chegou ao fim com uma vitória merecida da seleção da Espanha, que levantou o troféu pela primeira vez. Agora que as cortinas do evento histórico estão novamente fechadas, os torcedores refletem sobre os momentos inesquecíveis do torneio.
A Itália, que sempre foi extremamente defensiva e organizada, trouxe consigo um futebol ofensivo, porém ineficiente e completamente desorganizado. A Alemanha, a qual esteve em todos os outros mundiais com selecionados de forte posse de bola e estilo sufocante, compareceu à Copa do Mundo com um futebol de muitos contragolpes e impressionante eficiência. A Holanda, que produz jogadores clássicos, chegou com um futebol pragmático, tático e frio que a levou para mais uma final de Mundial. O Brasil levou o estilo gaúcho, da vontade e da pegada, estilo que não se via entre os “canarinhos” desde 1994. Já a nova campeã Espanha, que tradicionalmente encanta com seu futebol ofensivo e veloz (ganhando o apelido de “Fúria”), levou para a disputa um futebol
envolvente e paciente, que de furioso não tinha nada... Os números não correspondem ao que deveriam de acordo com as análises conservadoras: 4 das 6 vitórias da Espanha foram pelo placar mínimo de 1x0. E ainda, em seu primeiro jogo no mundial, a campeã perdeu para a Suíça pelo mesmo placar. Quando encarou a fraquíssima Seleção de Honduras, fez seu melhor resultado na Copa: 2x0. A Espanha tem 8 gols na campanha vitoriosa. Já das grandes Seleções que foram consideradas defensivas, o Brasil marcou em 4 jogos na Copa o mesmo número de gols da Espanha em toda sua campanha. A Alemanha teve um ataque de 16 gols em 7 jogos, ou seja, o dobro do campeão e o melhor ataque da competição. As surpresas da Copa não ficaram só em alguns resultados e mudanças de estilo das grandes seleções, também na quebra do paradigma de atrelarmos o modo de jogar ao número de gols que uma equipe marca. A partir dessa Copa talvez não possamos mais atrelar futebol ofensivo apenas
a goleadas, nem futebol defensivo apenas a resultados mínimos. A relação da classificação como ofensivo ou defensivo com o número de gols marcados das equipes poderá ser repensada após esse Mundial. Vestidos de vermelho e amarelo da cabeça aos pés, os torcedores da Espanha comemoraram muito ao deixar o Estádio Soccer City pela última vez como os campeões da Copa do Mundo da FIFA 2010. Claro que apenas os espanhóis sentiram o gostinho de levantar a taça, mas muitos torcedores de outros países também viajaram pela primeira vez à África do Sul e voltarão para as suas casas com boas lembranças do país. Muitos torcedores voltarão para casa com uma perspectiva diferente sobre o país anfitrião. Como todos sabem, a Copa do Mundo da FIFA é o ponto máximo do futebol mundial. Omundial oferece aos torcedores a experiência única de assistirem aos maiores astros do planeta mostrando tudo o que sabem dentro de campo; além de vivenciarem e conhecerem diversas raças, tribos, religiões e culturas.
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O orgulho de ser africano
A seleção de Gana mostrou que entrou no jogo para ficar na história
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s Estrelas Negras de Gana deixam a África do Sul com sentimento de missão cumprida. Se a principal intenção da festa do futebol em 2010 era celebrar a humanidade africana, foi exatamente esse o êxito dos ganenses na África do Sul.
Muito mais do que estar entre os oito melhores times da primeira Copa do Mundo realizada no continente africano, ao lado de consagradas equipes como Brasil e Argentina, e à frente de campeão e vice da última edição, os Estrelas Negras trouxeram à população africana um orgulho aparentemente sem precedentes. Se a derrota para o Uruguai no Soccer City Stadium, deixou um gosto amargo na boca do torcedor, a “gana” mostrada pelos jogadores e a energia de apoio vinda das arquibancadas são de se invejar. A seleção de Gana fez jus a toda a torcida não apenas dos sul africanos, mas de toda população do continente. E é por isso que os jogadores foram aclamados por centenas de pessoas em Melrose Arch, nas ruas de Johanesburgo, levando muitos às lágrimas. Os Estrelas Negras foram recebidos por Nelson Mandela, o maior ícone da história sul africana, que os disse para retornarem para casa de cabeças erguidas pelo ótimo papel na Copa. E assim devem seguir, certos de que renovaram a esperança e o orgulho de ser africano.
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^ Voce sabia
• Dentre os pratos típicos africanos estão o lombo de jacaré, cabeças de carneiros e larvas de insetos fritas. No dia-a-dia são mais comuns comidas como torta de carne com batatas, lingüiças feitas à mão, frutos do mar, carne de caça e frango; a carne bovina é muito cara, mas não deixa de ser uma opção. • O tempero Curry(mistura de açafrão-da-índia, cardamomo, coriandro, gengibre, cominho, casca de noz-moscada, cravinho, pimenta e canela) é o mais utilizado nos alimentos e tem um sabor picante, assim como a pimenta. • A “Papa” é o principal acompanhamento das refeições, feito de farinha de milho e água, possui uma forma consistente, um alto valor nutricional e baixo custo, contribuindo para o bom desenvolvimento do porte físico dos nativos. • Os vinhos africanos são de alta qualidade e possuem reconhecimento internacional. Destaque para o Pinotage, um dos vinhos mais procurados e para a Amarula, um licor feito da Marula (fruta sul-africana). •Não é necessário ter visto para entrar na África do Sul. O certificado Internacional de Vacinação contra a febre amarela funciona como tal. • Somente visitantes portadores de uma carteira internacional de habilitação podem dirigir no país. A violação da lei acarreta em multas e interrupção da viagem. • A África do Sul está a 2 horas adiantada em relação ao Meridiano de Greenwich, logo, está 5 horas a frente do Brasil. • A viagem aérea de São Paulo à Johanesburgo dura aproximadamente 8h. • Na maioria das compras feitas em território africano, é cobrado um imposto de valor agregado, o VAT. Os turistas podem ser reembolsados desse imposto se apresentarem os recibos da compra e as mercadorias no aeroporto, no dia da volta da viagem, desde que o valor total da compra ultrapasse os R$250,00.
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“Afrikaanse gevoelens” (sentimentos africanos)
Para mostrar o meu valor, driblei adversários e adversidades, enfrentei o racismo, superei obstáculos e mudei leis, fiquei conhecido mundialmente, tornei-me líder, o maior do mundo. Hoje faço parte dos dois maiores espetáculos da terra, e no continente dos meus antepassados, no país do Apartheid, vejo a copa tornar-se realmente do mundo. As minhas lembranças e recordações nos farão viajar pela história das copas, que se confunde muitas vezes com a história do mundo. Desde os anos trinta, muitas etapas foram superadas, as dificuldades eram colossais, a locomoção das delegações, o pouco aprimoramento técnico e tático do futebol, a segregação do negro, passando pelos períodos pré e pós guerra, culminando com a sua paralisação durante a segunda guerra mundial. A copa ressurgiu em 1950, e pude ver o meu povo se desesperar com a derrota no jogo que ficou conhecido como “Maracanaço”, porém, o mundo passou a conhecer o jeito brasileiro de jogar futebol. Não demorou para alcançarmos a consagração do futebol brasileiro, surgiu o futebol arte, com sua ginga, técnica e malabarismo e o aparecimento do maior jogador de todos os tempos, “O Rei Pelé”, passamos a ser reconhecidos como “o país do futebol”. Terminamos esse período com a conquista definitiva da taça Jules Rimet, que posteriormente foi roubada e derretida. Tenho que citar o período do futebol retranca que coincidiu com a época de muitos regimes autoritários e de repressão espalhados pelo mundo, com ditadores usando o futebol como ópio para os seus povos, época em que grandes seleções, recheadas de grandes craques, como a “Laranja Mecânica – Holanda 74/78” e a “Seleção Brasileira de 82” que não conquistaram nada. Esse fenômeno tornou o futebol robotizado, sem o mesmo brilho de outrora. Finalmente citarei os anos 90, a era das aberturas políticas e da democratização da maioria dos regimes autoritários a globalização do futebol que fez da FIFA a entidade com o maior número de filiados (mais que a ONU); neste período observei também a crescente presença da mídia com a conseqüente exposição e super valorização dos artistas. A copa do mundo representa a exacerbação dos sentimentos nacionalistas (A pátria de chuteira), é o povo nutrindo sua admiração aos gênios da bola, assim como no carnaval nós reverenciamos os grandes gênios da nossa cultura. 51
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