clínica veterinária n. 80

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G uarรก

ISSN 1413-571X

Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009 - R$ 15,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts

www.revistaclinicaveterinaria.com.br



Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts

Cibele Figueira Carvalho

Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice Diagnóstico por imagem - 20 Características ultrassonográficas da meningoencefalite granulomatosa em cães Tilde Rodrigues Froes

Ultrasonographic features of granulomatous meningoencephalitis in dogs Características ultrasonográficas de la meningoencefalitis granulomatosa en perros

Diagnóstico por imagem - 28 Imagem em Doppler colorido e pulsado do mesmo animal

Diagnóstico clínico e ultrassonográfico da pitiose gástrica canina: relato de caso

André Fonseca Romaldini

Clinical and ultrasonographic diagnosis of canine gastric pythiosis: case report Diagnóstico clínico y ecográfico de pitiosis gástrica canina: reporte de caso

Diagnóstico por imagem - 34 Contribuições da tomografia computadorizada (TC) de tórax em cão com nódulos pulmonares - relato de caso Chest Computed Tomographic (CT) contributions in a dog with lung nodules - case report Contribuciones de la Tomografía Computarizada (TC) de tórax en perro con nódulos pulmonares - relato de caso

Diagnóstico por imagem - 40

Imagem ultrassonográfica demonstrando corte transversal do estômago de cão acometido por pitiose gastrintestinal Serviço Diagnóstico por Imagem HOVET - FMVZ/USP

Avaliação da discopatia em cães por métodos de imagem. Parte 1 - Radiografia convencional: revisão de literatura

Tomografia computadorizada. Corte 68 com nódulo diminuto em lobo pulmonar caudal esquerdo e massa

Imaging diagnostic techniques in the evaluation of dogs with disc disease. Part 1 - Radiographic exam: literature review Evaluación de la discopatía en perros por métodos de imagen. Parte 1 - Radiografía convencional: revisión de literatura

Serviço Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Diagnóstico por imagem - 48

Imagem digitalizada de exame radiográfico simples em projeção laterolateral da região cervical

Avaliação da discopatia em cães por métodos de imagem. Parte 2 - Tomografia computadorizada revisão de literatura Imaging diagnostic techniques in the evaluation of dogs with disc disease. Part 2 - Computed tomography - literature review Evaluación de la discopatía en perros por métodos de imagen. Parte 2 - Tomografía computarizada - revisión de literatura

Diagnóstico por imagem - 54 Utilização da ultrassonografia no diagnóstico das nefromegalias em pequenos animais - revisão de literatura

Regina Celia R. da Paz

Ultrasound in the diagnosis of renomegaly in small animals - literature review El uso de la ecografía para el diagnóstico de las nefromegalias en pequeños animales - revisión de literatura

Diagnóstico por imagem - 60 Ultrassonografia testicular em onças pintadas (Panthera onca) Testicular ultrasonography in jaguars (Panthera onca)

Ultrassonografia testicular em onça pintada (Panthera onca): parênquimas testiculares isoecogenicamente homogêneos

Ultrasonografía testicular en jaguares (Panthera onca)

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor)

devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada

Simone Cristine Monteiro

Imagem tomográfica indicando severa compressão medular delimitada por meio de contraste causada por material hiperatenuante localizado ventralmente à medula e calcificação do disco intervertebral

Imagem ultrassonográfica de um rim de cão da raça red hiller, parasitado por Dioctiophyma renale. Imagem de emaranhado de linhas e círculos ecogênicos dentro do órgão

a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009

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Seções Editorial - 7

Pesquisa - 68

Opnião - 8

• Alternativas contra a leishmaniose • Dinâmica da síndrome pulmonar

• Tratamento de otites 68 70

Aprendendo a ensinar radiologia veterinária

Livros - 72 Notícias - 12 • Posse da nova diretoria da SBDV é realizada na ANCLIVEPA-SP • A Rio Vet Feira de Negócios Pet informa fato relevante • Labyes assume operação no Brasil • Merial e WSPA Brasil juntas contra a cinomose

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Ecologia - 66 Tamanduaí, o menor dos tamanduás

Manual de Emergências e Afecções Frequentes do Aparelho Reprodutor em Cães

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Mercado pet - 77

14

Bem-estar animal - 16 Maus-tratos a animais são foco de comissão instalada na Câmara Municipal de São Paulo

• Suplemento para cães, gatos, roedores e pequenas aves

Muitas expectativas para a Pet South America e o WSAVA Manual Saunders Terapêutico Veterinário

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Negócios e oportunidades - 78 Ofertas de produtos e equipamentos

Lançamentos - 76 • Soro polivalente

Serviços e especialidades - 79 Prestadores de serviços para clínicos veterinários

Agenda - 88 • Estimulante da hematopoiese



Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL

Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10159

PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER Pulga, cadela SRD, encontrada em via pública e que passou a receber a guarda responsável da médica veterinária Luciana Corazza Cury CRMV-SP 17.717. Fotografia: Alexandre Corazza - alexandre.corazza@terra. com.br

IMPRESSÃO / PRINT Copypress www.copypress.com.br

TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@smail.ufsm.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexandre Mazzzanti UFSM mazzal@smail.ufsm.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch Yale Univ. School of Medicine christina.joselevitch@yale.edu Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra/com.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br

Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos UFLA iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br

Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@ffalm.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/UNESP/Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br

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Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br

Rafael Costa Jorge Clínica Veterinária Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet-Pompéia duart7e@gmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University ronaldodacosta@cvm.osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internat.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Viviani de Marco UNG, H. V. Pompéia vivianidemarcoterracom.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


Editorial E

sta edição de maio/junho circula durante o período de uma importante data: 5 de junho, dia mundial do meio ambiente e da ecologia. Neste período está em andamento em São Paulo, SP, a “Comissão de Estudos para Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos, Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a População Humana, os Reflexos na Saúde Pública e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo”. A instalação desta comissão é um marco histórico e demonstra preocupação com os seres sencientes e com o meio ambiente. Muitas são as expectativas de que os maus-tratos e crueldades contra os animais sejam coibidos por meio dos resultados obtidos pela comissão. Detalhes sobre este assunto podem ser encontrados na seção de Bem-estar animal desta edição (páginas 16-18). Porém, ao mesmo tempo que a cidade de São Paulo passa por todo esse processo de evolução no qual os seres sencientes são merecedores de atenção, tramita no Congresso Nacional o projeto de lei número 4548/98 que está apensado ao projeto de lei número 3981/00 e que propõe que seja removida do artigo 32 da lei federal número 9605/98 (Lei de Crimes Ambientais) a criminalização de atos de maus-tratos a animais domésticos ou domesticados. Há mais de dez anos, esse é o principal recurso legal que garante a punição de pessoas que cometem atos de maus-tratos contra animais. A aprovação desse novo projeto de lei implicaria a remoção da caracterização de crime para aqueles que maltratam animais, basicamente denotando tal comportamento como aceitável. Vamos impedir este retrocesso. É fácil colaborar. Basta fazer, durante o período das 8h às 20h, uma ligação gratuita para o telefone 0800-61.96.19 (Disque-Câmara - Central de Comunicação Interativa - www2.camara.gov.br/ disquecamara) e dizer ser contra o PL 4548/98 do ex-deputado José Thomaz Nonô, que exclui os animais domésticos e domesticados do artigo 32 da lei 9605/98 de crimes ambientais, e participando do abaixo-assinado que está disponível no endereço www.petitiononline.com/artigo32/ petition.html. O documento será entregue ao Congresso Nacional e usado na campanha, em conjunto com outras ações. Contribua aderindo e repassando o endereço eletrônico do abaixo-assinado. Leva apenas alguns segundos e pode fazer uma grande diferença para milhares de animais que são torturados, espancados, humilhados etc. Importante: ao preencher o formulário, digite com atenção o seu nome, e-mail e cidade. Use um endereço de e-mail válido, do contrário a sua assinatura será removida pelo servidor. Ao final, certifique-se de clicar em Approve Signature para que a sua assinatura seja efetivada. Você receberá uma mensagem de e-mail em inglês (a petição está hospedada em sítio estrangeiro) apenas informando “De modo suave, você que a sua assinatura foi registrada. Não é necessário respondê-la. pode sacudir o mundo” – Mahatma Gandhi Juntos, podemos fazer a diferença. Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

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OPINIÃO Aprendendo a ensinar radiologia veterinária

H

á 13 anos estudo e pratico a especialidade de diagnóstico por imagem. Fiz estágios, freqüentei cursos de atualização e formação, obtive os títulos de mestre (MSc), doutora (PhD) e atuei como profissional liberal, sempre nessa área. Em 2005 retornei à vida acadêmica, na condição de docente da disciplina de Diagnóstico por Imagem do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPr). Atualmente, além de ser responsável pela disciplina (Diagnóstico por Imagem) na qual ingressei por concurso, respondo pelo Setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário (HV) da mesma instituição (UFPr). Estes três anos de docência, atividade que me apaixona a despeito da (in)experiência, foram significativos para que eu me desse conta do desafio que é atrair o aluno para a área. Este texto é dirigido àqueles que escolheram, ou que têm tendência para a área de diagnóstico por imagem. Ao longo desta trajetória de atividade na área verifiquei que, além do conhecimento técnico – como se forma uma imagem radiográfica ou ultrassonográfica, como detectar uma alteração e seus possíveis diagnósticos diferenciais – o profissional deve ser dotado daquilo que alguns radiologistas médicos denominam “competência adicional”. Mas, o que é a “competência adicional” ? A competência adicional é a capacidade de interagir com o outro, de efetivamente se comunicar (compreender e fazer-se compreender). Ou seja, para ser um bom imaginologista, não basta ter um “olho de rei”, profundo conhecimento, ou grande competência radiológica. O bom imaginologista é aquele que se inter-relaciona, tanto com o paciente quanto com o clínico ou o cirurgião que busca a sua colaboração. E por que esse atributo é tão importante? Porque, quando conseguimos nos integrar aos nossos pares, a nossa prática clínica se torna mais divertida e gratificante. Assim, para auxiliar os novos radiologistas, apresento seis características essenciais para o bom exercício da atividade.

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Essas características, apontadas por um professor de radiologia médica – que livremente transcrevo para a medicina veterinária –, são: curiosidade, honestidade, capacidade de servir, afabilidade, coleguismo e pontualidade. Curiosidade Um radiologista não é um técnico de radiologia e sim um “consultor”. Essa palavra é originária da expressão latina consulere, que tem como significado “ser chamado”. Assim, dentre os significados de consultar, inclui-se “aconselhar, emitir parecer”. Um famoso consultor, sem dúvida, foi Sherlock Holmes, denominado “detetive consultor”. Antes de emitir opinião sobre qualquer caso, esse detetive investigava profundamente todas as possibilidades e meandros da situação, revelando a lógica de raciocínio de uma mente extraordinariamente curiosa. O consultor radiologista, então, é aquele a quem os proprietários e outros médicos veterinários recorrem para auxiliá-los a firmar um diagnóstico ou planejamento terapêutico. Sob essa óptica, uma requisição de exame não se constitui em uma simples ordem de serviço. É necessário ter curiosidade para ir além do pedido, pois a impressão diagnóstica é calcada em informações previamente obtidas. Ocorre que, para isso, é preciso conversar e criar elos com o clínico/cirurgião solicitante, fazendo-o sentir que você não é uma ameaça, não está desconfiando dele, pelo contrário, vocês são aliados... De vez que em serviços de diagnóstico esse contato geralmente se dá por telefone, você terá que se tornar um curioso exacerbado, até para evitar erros decorrentes única e simplesmente da falta de informações. Outro aspecto a ser destacado quando o foco é curiosidade é a necessidade de conhecer a medicina veterinária como um todo, aí se incluindo os demais métodos diagnósticos e as possibilidade de tratamento de alterações encontradas rotineiramente no cotidiano da atividade clínica. Afinal, freqüentemente lhe perguntarão: “E aí? O que faço agora?” A competência de ajudar faz você ser mais

requisitado, mas há que saber com clareza até que ponto você pode ir. Finalizando, a curiosidade de obter informações sobre os avanços e/ou descobertas da especialidade – consultando publicações nacionais e internacionais –, também faz de você um melhor radiologista/ultrassonografista. Portanto, atualize-se cada vez mais! Honestidade O imaginologista deve ser honesto, pois a arrogância não é companheira do conhecimento. Quando confrontado com um problema cuja resposta você desconhece admita isso porque, se encobrir a situação, perderá a oportunidade de aprender. A honestidade é igualmente importante no caso de erros. Lembre-se de que a postura de onisciência não resolverá a situação; aceitar os erros e tentar corrigi-los faz parte do aprendizado. Além do mais, os melhores clínicos/cirurgiões reconhecem que também comentem erros e, evidentemente, não esperam que a radiologia sempre garanta um diagnóstico impecável. Quando errar, reflita sobre o que aconteceu e o que poderia ter feito para impedir que isso acontecesse; agindo assim, você poderá corrigir eventuais condutas inadequadas, e, no futuro, minimizar suas conseqüências. Pergunte a si mesmo: “Onde eu errei? O que poderia ter feito para impedir esse erro? O que posso mudar para evitar o que ocorreu?” Capacidade de servir Essa é verdadeiramente uma característica difícil, até porque nem sempre estamos dispostos a servir. Além disso, a crescente demanda por radiologistas veterinários pode levar o profissional já inserido no mercado a assumir uma postura intolerante e refratária a tudo aquilo que não esteja estritamente relacionado à rotina da especialidade. Você nunca tem tempo para ler o filme do clínico no plantão, não o ajuda a imobilizar o animal para a coleta de sangue, mas você quer no mínimo quatro estagiários do hospital contendo o animal para realizar o seu importante

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OPINIÃO exame sonográfico? Cuidado, pois até mesmo o melhor radiologista (ou o melhor ultrassonografista) pode ter problemas por ser intolerante! Se você jamais está disponível para o “corpo a corpo” da rotina clínico-veterinária, essa rotina prosseguirá, ainda que sem você. Colabore com os colegas, procure atender as demandas da equipe... É evidente que alguns pedidos são realmente inconvenientes, mas a maneira de lidar com essas situações, a forma de contorná-las, fazem toda a diferença: a disponibilidade para auxiliar, a boa vontade de servir são as bases da consultoria eficaz... Afabilidade A sobrecarga de trabalho tende a fazer com que profissionais das mais diversas áreas percam a civilidade. Não poucas vezes, situações de pressão levam-nos aos destempero e até mesmo à truculência com os colegas. Se esse tipo de incidente é compreensível em momentos específicos, a sua perpetuação revela falta de profissionalismo e destrói a rotina de trabalho. Portanto, se em um dado momento você – literalmente – “perdeu as estribeiras”, “partiu para um confronto” desnecessário e inútil, não hesite em reconhecer que errou, reaproxime-se... Lembre-se de que o resultado de uma empreitada (seja ela qual for) é fruto das ações de cada membro da equipe que recebeu a incumbência. Mas, para agregar essas ações de maneira produtiva, a interação deve ser pautada pela gentileza, pela amabilidade e pela afabilidade. Coleguismo Ninguém vive em uma bolha. Assim, o egoísmo e o oportunismo inescrupulosos terminam por se voltar contra aquele que os desenvolve e pratica: pensar somente em si próprio faz mal a você mesmo. A sua vida foi marcada por relações de coleguismo, os coleguinhas do ensino básico, os colegas da graduação e os colegas que trabalham com você, aqueles que lhe pedem ajuda, aqueles a quem você solicita ajuda... No âmbito da medicina veterinária – como em todas as áreas do trabalho 10

humano –, a falta de coleguismo é permeada pela ausência de escrúpulos. Embora calcado em fatos constatados na rotina profissional, o exemplo apresentado a seguir é tão somente uma ilustração da falta de coleguismo entre os imaginologistas médico-veterinários. Para destacar o seu caráter ilustrativo, o relato foi pessoalizado. “Sou imaginologista de uma clínica médico-veterinária que conta com dois especialistas nessa área. Cumprimos horários (turnos) diferentes, recebemos um valor fixo pelo plantão (turno), além de pró-labore pelos exames realizados. Esgotados os exames agendados para mim, ainda tenho algum tempo de turno e, assim, 'puxo casos' da agenda do meu colega para o meu horário. Além disso, permito – e colaboro para – que o recepcionista agende exames de cães grandes sempre para o outro ultrassonografista porque, nesses pacientes, o exame demanda maior período de tempo”. Uma das formas de contornar tal situação é unir os ganhos, ou seja: todos os exames realizados naquele dia são somados, e a remuneração deles oriunda é repartida igualmente entre os especialistas da área. Vale destacar que esse acordo só terá êxito se todos os especialistas envolvidos tiverem a mesma disposição para o trabalho. Outro aspecto importante do coleguismo é o respeito profissional. Sempre que possível, evite tecer comentários desairosos sobre outro imaginologista. Você não estava ao lado dele quando o exame foi realizado e, portanto, não sabe quais dificuldades que encontrou; você não conhece o equipamento que o colega utilizou. Assim, o mais adequado é proceder ao novo exame e emitir o seu laudo. Não lhe cabe estabelecer juízo de valor sobre o trabalho alheio. Evite transtornos e poupe o seu colega, até porque você poderia estar na posição dele. Pontualidade O tempo, precioso para o especialista, também é precioso para o clínico e para o proprietário. Você não se irrita quando, depois de agendar uma consulta médica para determinado horário e “encaixar” esse compromisso na sua

rotina – o que implica a verificação rigorosa da agenda profissional, da rotina familiar e dos possíveis percalços que possam dificultar e/ou impedir esse evento –, ainda tem que aguardar a chegada do profissional? Tanto quanto você, os clínicos veterinários e os proprietários de animais sofrem e se irritam por ter que aguardar... Portanto, tenha em mente que ao prestador de serviços não é dada a possibilidade de descumprir horários: a concorrência é grande, e se o proprietário e o clínico se irritarem você perde o exame e a indicação. Para o clínico, mais vale um profissional menos experiente que esteja presente no horário combinado, do que o super-radiologista que submete o paciente e seu proprietário a uma espera de duas horas. Portanto, seja pontual, tanto nos horários agendados quanto na emissão dos laudos. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje, pois amanhã algum aspecto importante do exame realizado hoje pode ser esquecido. E os prejuízos dessa impontualidade recairão sempre – e somente – sobre você. Acredito que a imaginologia seja uma arte e, como tal, merece ser cultivada e refinada dia a dia. A medicina veterinária aconteceu antes. Em função desta vocação apaixonada, que é quase uma missão, procuro referenciais que excedam os limites técnicos. Médica veterinária especialista em diagnóstico por imagem – e professora responsável pela disciplina de Diagnóstico por Imagem – que sou, por vocação com certeza, e por ofício em função dessa vocação, sempre peço a Deus que continue me abençoando com a capacidade de praticar com destreza a medicina veterinária diagnóstica e que me ilumine no exercício da docência. Deus abençoe a todos. Tilde Rodrigues Froes MV, profa. adj.- DMV-UFPR tilde9@hotmail.com Referência base para este texto: GUNDERMAN, R. B. Consultation: a vital skill for radiologic education. Academic Radiology. v. 8, p. 651-655, 2001.

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Posse da nova diretoria da SBDV é realizada na ANCLIVEPA-SP

Diretoria e conselheiros da nova gestão da SBDV

Alexandre Corazza

o dia 14 de abril de 2009, na sede da ANCLIVEPA-SP, em São Paulo, SP, ocorreu a posse da nova diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária – SBDV. A gestão anterior (2006 - 2009) foi presidida pelo prof. dr. Ronaldo Lucas. A gestão atual (2009 - 2012) tem como presidente o prof. dr. Prof. dr. Carlos Carlos Eduardo Eduardo Larsson Larsson. A SBDV foi fundada em 16 de março

Alexandre Corazza

Alexandre Corazza

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Cerimonia de posse da gestão 2009-2012 da SBDV

de 2000 e contava com aproximadamente 30 sócios. Atualmente, este número aumentou bastante, passando a contar com o incremento de associados de SP, MG, RJ, ES, CE, SE, RS, PR, MS, DF e também do exterior (Uruguai, Argentina, Chile, Portugal e Espanha). Durante a cerimônia de posse da nova diretoria, foi ressaltado pelo novo presidente, o dr. Larsson, que a entidade evoluiu muito: “de caixa devedor passamos a um supravitário, de desconhecidos a conhecidos e respeitados, de hesitantes legisladores transformamonos em executivos cumpridores de estatuto criado em 2000 e ora modificado, nesta gestão 2006-2009, para atender novel legislação cívil”.

O dr. Larsson também frisou as atividades realizadas pela entidade durante os 9 anos que se passaram: “os eventos técnico-científicos ‘Cutis in Totum’, ‘Noite e Tarde do Tegumento’, ‘ciclos e foros nacionais e internacionais’, duas edições do curso de especialização em dermatologia veterinária, pioneiro nas Américas, encampado pela melhor universidade brasileira e já reproduzido, neste ano de 2009, por universidade privada de capital majoritário estrangeiro”. A nova gestão começa seu mandato com uma série de metas a serem cumpridas, entre elas: a implantação, no sítio da entidade, de sistema integrado de busca, pela sociedade, de dermatólogos, associados adimplentes, egressos de cursos de especialização homologados ou apenas dedicados à especialidade, distribuídos por país, estado, município, zona e/ou bairro, atendendo, assim, às dezenas de solicitações telefônicas mensais de clientes em potencial, que buscam profissionais competentes; a incorporaração de novas modalidades de reciclagem on line; a manutenção e realização de diversos eventos científicos. SBDV: www.sbdv.com.br

A Rio Vet Feira de Negócios Pet informa fato relevante Em todas as situações, mesmo as mais complexas, nós da RIO VET temos por característica olhar para a frente e avançar na direção do resultado que queremos. Neste momento não será diferente e acreditamos que este contratempo abrirá a oportunidade para que parceiros e clientes que não tinham possibilidade de participar por motivos diversos possam estar conosco na Rio Vet em setembro. RioVet: www.riovet.com.br

E

aceitar a mudança sugerida. Para a direção da Rio Vet abrir mão da qualidade e da visibilidade do evento ou de parte dele está fora de questão. O impacto dessa decisão de mudar ficou menor pela resposta firme de nossos principais clientes, que em 100% dos casos confirmaram suas reservas para as novas datas, bem como de todos os parceiros nos projetos e seus patrocinadores.

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m atenção à solicitação da ANCLIVEPA-RJ, responsável pela programação científica da 9ª Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária, estamos modificando a data de nosso evento para 24, 25 e 26 de setembro de 2009. Nosso compromisso de manter em alto nível a relação com nossos parceiros e atender ao padrão ético que sempre norteou nossa atitude frente ao mercado nos leva a



Labyes assume operação no Brasil

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Labyes, fabricante de renomados produtos, tais como Osteocart Plus, Ciprovet, Crema 6 A, dentre outros, informa que, desde abril último, assumiu as operações comerciais no país através da Labyes do Brasil. "Somos muito gratos a Koala Comercial (importadora exclusiva dos produtos Labyes e Deltavet até então) por todos esses anos em que esteve conosco. Sem essa parceria, certamente não teríamos alcançado e conquistado vários de nossos objetivos e superado

inúmeros obstáculos. Bem como não seria possível que o laboratório seguisse o seu fluxo normal de crescimento e construísse uma operação própria. Depois de 10 anos de atuação, e com crescimentos constantes e motivadores, é chegado o momento de trazer ao mercado brasileiro investimentos de maior porte, brindando o médico veterinário com algo que sempre foi a nossa característica: trazer produtos inovadores e diferenciados, que facilite o exercício da clínica, ao mesmo tempo em que

agregue valor tanto financeiro, como conceitual a ele", informou Jefferson Talarico, diretor executivo da empresa. Aproveitou também para acrescentar que: “Brevemente lançaremos no mercado vários produtos, a ponto de dobrarmos a nossa linha a médio prazo, todos eles produtos inéditos no Brasil. E em especial um, que chegará ainda este ano, de conceito totalmente inovador, para cuja especialidade alguém jamais deu a atenção devida - a geriatria”. Labyes: (11) 3774-8363 www.labyes.com.br

Merial e WSPA Brasil juntas contra a cinomose

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uando se fala sobre a saúde dos cães, muita gente sabe o que quer dizer raiva, doença do carrapato e sarna. No entanto, quando se fala em leishmaniose, parvovirose e cinomose nem todos conhecem essas enfermidades, mesmo que elas afetem grande número de animais. Pensando nisso, a Merial está lançando a campanha “Cinomose Aqui Não”, por meio da qual irá doar à WSPA Brasil 5% do total das doses vendidas nos meses de abril e maio da vacina Recombitek contra a cinomose. “A Merial tinha a vontade de contribuir com a saúde animal através da doação de vacinas e tomou a iniciativa de fazer uma pesquisa para identificar ONGs renomadas capazes de fazer bom uso desse material. Foi assim que conhecemos a WSPA, que possui história, atuação nacional e trabalhos voltados para o bem-estar dos animais de companhia”, conta Marta Helena Cintra, Analista de Marketing da área

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de animais de companhia na Merial. A campanha será realizada em abril e maio em todo o Brasil. O objetivo é alertar médicos veterinários e donos de cães sobre a imCartaz utilizado na campanha nacional portância da va"Cinomose Aqui Não" cinação anual e a necessidade de se eliminar essa doença grave (praticamente fatal) que ainda mata milhares de cães no país. Para se ter uma idéia, apenas 7 milhões de cães são vacinados anualmente contra a cinomose, dentro de uma população estimada em 30 milhões de cães. Sendo assim, a Merial se propôs a doar 5% do total das doses vendidas durante esses meses de suas vacinas contra cinomose (Recombitek C4/CV

para filhotes e Recombitek C6/CV para cães adultos). As vacinas serão encaminhadas para ONGs afiliadas à WSPA Brasil que trabalham com cães e contam com médico veterinário. O veterinário de cada uma dessas ONGs selecionadas irá, então, aplicar as vacinas e fornecer ao cliente um cartão de identificação devidamente preenchido, com carimbo, número do CRMV do veterinário responsável, assinatura e etiqueta da vacina aplicada. Ele também informará sobre a necessidade da vacinação anual. Além da doação, dezenas de milhares de panfletos e cartazes de conscientização serão distribuídos por clínicas espalhadas por todo o Brasil, anúncios serão publicados em revistas e pessoas interessadas no bem-estar dos animais também serão informadas sobre a campanha via newsletter. Fonte: WSPA Brasil www.wspabrasil.org

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Abr/09

PARASITAS e ZOONOSES


Bem-estar animal Maus-tratos a animais são foco de comissão instalada na Câmara Municipal de São Paulo por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto - CRMV-SP 6871

Vereadores Aurélio Miguel, Gilberto Natalini e Roberto Tripoli, membros da comissão instalada na Câmara Municipal de São Paulo para averiguar a atual situação dos animais no município

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o dia 18 de fevereiro de 2009 foi aprovada, por meio do requerimento 06-0004/2009, a “Comissão de Estudos para Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos, Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a População Humana, os Reflexos na Saúde Pública e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo”, proposta pelo vereador Roberto Tripoli, do Partido Verde (PV). O acontecimento foi oficializado pela sua publicação, no dia 19 de fevereiro de 2009, no Diário Oficial da cidade de São Paulo. Há tempos, vereadores, protetores e médicos veterinários tentam negociação com a Secretaria da Saúde do município para solução de diversos problemas relacionados ao convívio da população com os animais. Porém, como não havia tendência à solução dos problemas, foi essencial a instalação da comissão. O vereador Roberto Tripoli preside os trabalhos e integram também a comissão os vereadores Atílio Francisco (PRB), como vice-presidente; Aurélio Miguel (PR), relator; Ítalo Cardoso (PT) e Gilberto Natalini (PSDB). O objetivo da comissão é levantar a situação da fauna na cidade, iniciando pelos domésticos e domesticados; fazer visitas oficiais a órgãos e instituições; convidar para expor assuntos pertinentes aos temas as autoridades, ONGs, protetores de animais, técnicos, médicos veterinários, o CRMV-SP e todos que, de alguma forma, possam contribuir para debater os temas e trazer soluções e propostas. O relatório preliminar da comissão (www.robertotripoli.com.br/site/images/ pdf/com-estudos-relatorio-preliminar. pdf) coloca a situação da cidade como 16

caótica. Esta realidade pode ser conferida em dois vídeos que mostram ações da comissão. Um dos vídeos mostra a diligência que a comissão formou para averiguar a atual situação do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo (CCZ/ SP). Lamentavelmente, durante essa diligência foram encontrados: cão que desde agosto de 2008 desenvolvia uma miíase na cabeça em estado tão avançado que teve que ser eutanasiado; e fezes de ratos no local de preparo das rações para os animais do CCZ/SP. Outro vídeo registrado pela comissão mostra irregularidades no comércio A diligência ao CCZ/SP formada comissão pode ser assistide ani- pela da no YouTube no endereço mais em www.youtube.com/watch?v= pet shops. dVOlCIUy0JU

Registrada pelo Jornal da Câmara, a blitz em pet shops pode ser conferida no You Tube no endereço www.youtube.com/watch?v=-wu5SlCjUYQ

Na sessão realizada na Câmara Municipal de São Paulo no dia 1º de abril de 2009, o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Francisco Cavalcanti de Almeida, convidado a se pronunciar, destacou a falta de ações da prefeitura, frisando que o sistema está totalmente esfacelado. Explicou que quando há denúncias de estabelecimentos veterinários irregulares, ne-

nhum órgão municipal assume a responsabilidade. Exemplificou com o fato de 72 estabelecimentos veterinários fiscalizados pelo CRMV-SP não terem a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e que a comunicação disto às subprefeituras não produziu nenhum resultado. “É uma vergonha! Tantas secretarias e na hora que queremos uma resposta para levar à sociedade uma decisão política e de execução, nós não a temos!”, disse o dirigente. “São Paulo possui aproximadamente 3.000 pet shops e apenas 684 têm registro no CRMV-SP!”, acrescentou o presidente. Apesar disso, destacou que o CRMV-SP está empenhado na realização de campanhas educativas que alertem a população da necessidade de que todo pet shop, banho e tosa, e todos os estabalecimentos veterinários devam ter registro no CRMV-SP e médico veterinário responsável.

Foto de campanha educativa do CRMV-SP veiculada na TV Minuto, mídia que atinge, aproximadamente, 3,4 milhões de usuários/dia do metrô de São Paulo. Na mensagem transmitida o CRMV-SP alerta para que a população denuncie pet shops irregulares. No sítio da entidade, www.crmvsp.org.br, encontra-se disponível uma ferramenta de pesquisa para que o cidadão possa consultar se o estabelecimento está ou não devidamente registrado

Com relação às funções do CCZ, Francisco Cavalcanti de Almeida frisou que a atividade principal do órgão deve ser a saúde pública e não o abrigo de animais e sugeriu a criação de um órgão que cuide da sanidade, da inspeção e do bem-estar animal, reunindo todos os médicos veterinários que estão integrados à

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rede municipal, otimizando recursos. O presidente do CRMV-SP também comentou sobre os avanços da leishmaniose visceral e defendeu a portaria interministerial que proíbe o tratamento de cães. Ressalta-se, porém que antes da publicação dessa portaria, havia outra que estava sendo elaborada pelo Ministério da Saúde (MS) com a participação da Associação Nacional de Clínicos de Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa Brasil), regulamentando o tratamento seletivo de cães com leishmaniose visceral. Infelizmente, ela foi engavetada, dando lugar à portaria atual. Lamentavelmente, além de nunca se ter promovido discussão equilibrada sobre o tema, medidas básicas de prevenção são ignoradas. Não há fiscalização, por exemplo, da sanidade de cães que transitam entre municípios e entre os estados. As medidas de prevenção da leishmaniose visceral canina (LVC) felizmente foram destacadas na sessão por médica veterinária da comissão do bem-estar animal do CRMV-SP, Vânia Fátima Plaza Nunes. Estas medidas, que compreendem repelentes e vacinas, com o objetivo de saúde pública, foram utilizadas apenas em municípios que foram foco do desenvolvimento de pesquisas, como é o caso de Andradina, onde foi largamente utilizada a coleira de deltametrina. A leishmaniose visceral é amplamente conhecida como doença negligenciada e que acomete a população carente e sem recursos, tanto no Brasil quanto em outros países, como, por exemplo, na Índia. Por isso, é vital que a população carente também seja assistida por médicos veterinários. Esta opção tem sido bastante defendida pela Associação Brasileira de Saúde Pública Veterinária (ABSPV - www.abspv.org.br) por meio da inclusão dos médicos veterinários no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), que foi criado pelo MS para ampliar o atendimento e a qualidade dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, o NASF é formado por diversos profissionais da área da saúde, com exceção do médico veterinário. Como 75% das doenças emergentes são consideradas zoonoses

e, entre elas, doenças negligenciadas, é vital que o MS reveja o assunto, assuma sua responsabilidade e inclua o médico veterinário no NASF. Esta ação federal é vital para fortalecer o sucesso das ações municipais. Além disso, no Estado de São Paulo, existe o Qualis, criado no ano 2000 pela Secretaria de Estado da Saúde, que é um programa semelhante ao NASF, mas que também não conta com a participação de médicos veterinários, mesmo tendo a cidade de Araçatuba contemplada pelo projeto, que se destaca nas estatísticas nacionais pelos elevados números de leishmaniose visceral canina. O controle populacional de cães é vital tanto para o controle das zoonoses quanto para a prevenção de acidentes e agressões por mordeduras que podem acontecer com a multiplicação dos cães na ruas. Esta missão não pode ser exclusividade dos munícipios. O governo federal e os estados precisam somar esforços e aproveitar os resultados obtidos para o desenvolvimento e aprimoramento de programas nacionais. Porém, no momento, ainda não houve sinalização de vontade política para que este caminho seja seguido. Um exemplo real e recente desse cenário foi a realização, nos dias 21 e 22 de abril de 2009, em Florianópolis, SC, do III Encontro Nacional de CCZs, onde foram apresentados os programas de controle de vetores, roedores, culicídeos, leishmaniose, raiva, entre outros que compõem atividades permanentes dos diferentes serviços existentes no país. No transcorrer do evento, uma mesa de debate sobre programas de controle de populações de cães e gatos ocorreu sem que a platéia pudesse promover uma discussão sobre esse tema, tão importante na atualidade, decepcionando grande parte dos presentes. Havia muitas expectativas para este evento de amplitude nacional. Porém, a falta de espaço para discussão e encaminhamentos de propostas, frustou a expectativa de vários médicos veterinários presentes, uma vez que os resultados do debate poderiam ter contribuído muito para o avanço no controle da leishmaniose, outras enfermidades e agravos onde o controle animal de forma ética é indispensável.

Terceirização de serviços e parcerias Há anos as ONGs de proteção animal têm desenvolvido papel vital na evolução dos programas de controle de natalidade e identificação animal tanto no município de São Paulo quanto fora dele. Porém, é fundamental que estas parcerias sejam solidificadas e que os esforços sejam somados. Um exemplo de ONG que tem desenvolvido um trabalho excelente na questão da adoção é a ONG Quero Um Bicho (Q1B) – www. queroumbicho.com.br. Esta ONG possui um banco de dados on line com fichas detalhadas de cada animal para adoção, seja ele cão, gato ou equino. A abrangência do Q1B é nacional e qualquer CCZ pode participar adicionando seus animais para adoção, basta seguir os procedimentos descritos no próprio sítio da ONG para obtenção de log in e senha e passar a cadastrar os animais sempre que necessário.

No Q1B, os animais aptos à adoção são divulgados com fotos e detalhes como comportamento, cor, raça, sexo, idade e os dados de contato para os interessados

A prefeitura de São Paulo também possui uma campanha de adoção de animais: a “Adote um Amigo” – http:// portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/ saude/vigilancia_saude/adoteumamigo/ 0001. Porém, falta visibilidade, dados

O Projeto Natureza em Forma – www.naturezaemforma.org.br é outro exemplo de excelentes serviços sociais prestados à comunidade

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Bem-estar animal

dos animais e popularização, fato difícil de acontecer tendo-se um endereço eletrônico sensivelmente grande e de difícil memorização. Outro exemplo de excelente serviço que pode ser aproveitado pela cidade de São Paulo é o de identificação animal por meio da microchipagem de animais que é promovido pela Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de São Paulo (ANCLIVEPASP). O sistema foi apresentado aos vereadores da comissão no dia 22 de abril de 2009 pelo presidente da entidade, o prof. dr. Marco Antonio Gioso. Gioso destacou que o sistema funciona mundialmente e está disponível a qualquer pessoa que possa acessar os endereços eletrônicos www.petlink.net (internacional) ou www.petlink.net/brasil (em português). A integração, por exemplo, desse sistema com o banco de dados dos animais microchipados pelo CCZ/SP ofereceria um enorme benefício à população, pois independentemente de onde o animal tenha sido encontrado e de onde tenha sido microchipado, seja em clínica particular ou por órgão público, a localização do proprietário é bastante rápida, bastando acessar o endereço eletrônico do sistema e lançar no campo ‘Localizar microchip’ o seu respectivo número. Esta integração de dados também é extremamente salutar para todos os envolvidos no trabalho de coibir o abandono de cães, pois uma vez microchipado pode-se saber a origem do animal, se veio de região endêmica de leishmaniose visceral canina, se foi vacinado etc.

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Acima, página principal do sistema Pet Link – www.petlink.net/ brasil. Ao lado, leitora de microchip utilizada em aeroportos de países desenvolvidos. Abaixo, leitoras manuais de microchips

Estas informações são fundamentais para o direcionamento que será dado ao animal encontrado e também para a economia de insumos, como, por exemplo, vacinas e vermífugos. Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos no Município de São Paulo No dia 4 de abril de 2009 foi publicada no Diário Oficial da Cidade de São Paulo a portaria 692/2009-SMS-G que institui o Programa de Proteção e

Bem-estar de Cães e Gatos no Município de São Paulo. O art. 2 da portaria determina que: O Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos do Município de São Paulo tem por objetivo estabelecer parcerias com entidades de proteção animal, organizações não governamentais e governamentais, universidades, empresas públicas e/ou privadas, nacionais ou internacionais, e entidades de classe ligadas aos médicos veterinários, visando colaborar com o Centro de Controle de Zoonoses da Coordenação de Vigilância em Saúde, na execução dos Programas de Registro Animal, Controle Reprodutivo de Cães e Gatos, Saúde Animal e de Educação continuada de conscientização da população a respeito da propriedade responsável de animais domésticos. No dia 22 de abril, durante sessão na Câmara Municipal de São Paulo, a responsável pelo programa, a médica veterinária Rita de Cássia Garcia, apresentou suas propostas destacando os 3R’s do controle animal: recuperar os animais que chegam no CCZ necessitando de cuidados; reabilitar animais que possuem problema comportamental e ressocializá-los por meio de educação/adestramento; e recolocar os animais na sociedade pela adoção. As ações desse programa precisam ser rápidas e efetivas, pois os ativistas e protetores dos animais prometem não silenciar enquanto não constatarem mudanças imediatas no CCZ/SP. Mais informações sobre as negociações entre os órgãos públicos e todos os demais atores da sociedade que participam no bem-estar dos animais, bem como sobre os avanços da comissão instalada na Câmara Municipal de São Paulo, serão publicadas na próxima edição da revista Clínica Veterinária.

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Raquel Braga Perez

Características ultrassonográficas da meningoencefalite granulomatosa em cães

Médica veterinária autônoma raqbperez@yahoo.com.br

Cibele Figueira Carvalho MV, profa. - UniCSUL Ultrassonografista - PROVET cibelefcarvalho@terra.com.br

Ultrasonographic features of granulomatous meningoencephalitis in dogs Características ultrasonográficas de la meningoencefalitis granulomatosa en perros Resumo: A meningoencefalite granulomatosa (MEG) é a segunda doença inflamatória mais comum do sistema nervoso central em cães depois da cinomose. Afeta principalmente cães de raças pequenas e miniaturas com média de idade de cinco anos, com maior incidência nas fêmeas. Este trabalho teve como objetivo avaliar as alterações encontradas na ultrassonografia transcraniana em Modo-B, no Doppler colorido e no Doppler pulsado, de onze cães com meningoencefalite granulomatosa. As alterações mais comuns encontradas foram: parênquima encefálico com diminuição generalizada da ecogenicidade e/ou aspecto heterogêneo, ventriculomegalia bilateral simétrica, presença ou não de lesões focais em parênquima encefálico, evidência dos vasos sanguíneos do círculo de Willis e IR (índice de resistividade) normal a aumentado. O diagnóstico final de MEG foi confirmado pela necrópsia e histopatologia. Unitermos: doenças, sistema nervoso central, ultrassom

Abstract: Granulomatous meningoencephalitis (GME) is the second most common inflammatory disease of the central nervous system in dogs after canine distemper. It affects mainly dogs of small and toy breeds at an average of five years of age; incidence is higher in females. This report aims to evaluate sonographic findings in eleven dogs suspected to have granulomatous meningoencephalitis, which were subjected to B-mode transcranial sonography, color Doppler and pulsed Doppler. The most commom alterations encountered were: encephalic parenchyma with reduction of echogenicity or heterogeneous aspect, symmetrical bilateral ventriculomegaly, presence or absence of focal lesions in the encephalic parenchyma, evident vessels of Willis circle and normal to higher resistivity index values. The final diagnosis of GME was confirmed by necropsy and histopathology. Keywords: disease, central nervous system, ultrasound

Resumen: La meningoencefalitis granulomatosa (MEG) es la segunda enfermedad inflamatoria más común del sistema nervioso central en perros después de la cinomosis. Afecta principalmente los perros de razas pequeñas y miniatura con media de edad de cinco años y ocurre más en hembras. El objetivo del estudio fue evaluar las alteraciones encontradas en ultrasonografía transcraneal en Modo-B, en Doppler color y en Doppler pulsátil, en once perros con meningoencefalitis granulomatosa. Las alteraciones más comunes encontradas fueron: parénquima cerebral con disminución generalizada de la ecogenicidad y/o aspecto heterogéneo, ventriculomegalia bilateral simétrica, presencia o no de lesiones focales en parénquima cerebral, evidencia de los vasos sanguíneos del círculo de Willis e IR (índice de resistividad) normal a aumentado. El diagnóstico final de MEG fue confirmado a través de necroscopia e histopatología. Palabras clave: enfermedad, sistema nervioso central, ultrasonido

Clínica Veterinária, n. 80, p. 20-26, 2009

Introdução A ultrassonografia Doppler transcraniana para avaliação do sistema nervoso central é um exame relativamente novo em medicina veterinária. É mais rápida, de menor custo e menos invasiva do que a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Além disso, como não requer a sedação do animal, constitui-se em um exame complementar seguro 9. Permite avaliar simultaneamente o encéfalo pela imagem bidimen20

sional e o fluxo sanguíneo cerebral pelo Doppler, mesmo que a calota craniana esteja intacta. Como a calota craniana é uma barreira óssea à passagem do feixe sonoro, somente cães com calota craniana não muito espessa podem ser avaliados por esse tipo de exame, o que se constitui em limitação da técnica. Portanto, cães de porte pequeno são os mais indicados para tal análise. A região de escolha da calota craniana como janela acústica é a transtemporal, porção

anatomicamente menos espessa e cujos tamanho e localização variam em cada paciente, dependendo da conformação craniana. Essa janela é menor em animais braquicefálicos do que em animais meso e dolicocefálicos 8. A qualidade da imagem também depende de outros fatores, correlacionados com o ajuste apropriado dos controles do aparelho de ultrassom. O ganho em modo-B, o ganho colorido, o tamanho da caixa colorida e o ajuste da PRF (frequência de repetição de pulso) devem ser corrigidos, de modo a permitir uma boa qualidade de imagem 13. Esses fatores estão relacionados ao domínio da técnica pelo operador do aparelho, o que torna esse tipo de exame operadordependente. Outra limitação é que os fluxos sanguíneos com velocidades muito lentas não são detectados pelo Doppler pulsado, o que impossibilita uma boa avaliação da perfusão. Além disso, o paciente deve ter temperamento cooperativo, pois animais com temperamento agitado dificultam a realização desse exame. Mesmo com tais limitações, a técnica sonográfica ainda deve ser considerada como uma alternativa complementar na avaliação do encéfalo de cães de pequeno porte. A meningoencefalite granulomatosa (MEG), também conhecida como reticulose, é uma doença inflamatória não supurativa do sistema nervoso central (SNC), de caráter agudo e progressivo, com curso geralmente fatal 1.

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Para alguns autores, é a segunda doença inflamatória mais comum do sistema nervoso central de cães, depois da cinomose 2. Os cães com maior predisposição são aqueles de raça pequena e miniatura, principalmente terriers e poodles 3. A doença apresenta maior incidência em animais jovens à meiaidade (média de idade de cinco anos), mas pode ocorrer entre seis meses e doze anos de idade, portanto em qualquer idade 4. Ambos os sexos podem ser acometidos pela MEG, porém esta parece ter maior prevalência em fêmeas 4. As lesões são, em sua maioria, restritas ao SNC (cérebro e medula) e as regiões mais acometidas são o cérebro, a porção caudal do tronco cerebral e a medula cervical cranial 5. A etiologia permanece desconhecida, embora algumas causas tenham sido propostas (infecciosa, imune ou neoplásica). A MEG é classificada sob três formas diferentes, de acordo com o local da lesão: 1) focal: forma crônica, com curso lento e progressivo (três a seis meses) e que se apresenta como lesão granulomatosa

no córtex cerebral, responsável pelos episódios de convulsão 2; 2) multifocal ou disseminada: forma aguda, com curso rápido, progressivo (duas a seis semanas), que se apresenta como lesões focais na porção ventral do tronco cerebral, na região cervical da medula e nas meninges, responsável por sinais neurológicos como dor cervical, disfunção vestibular, estado mental alterado, paralisia e convulsões 2; 3) Ocular: forma aguda, progressiva ou estática, que pode afetar um ou ambos os olhos. É a menos comum e pode causar perda visual aguda devido à neurite óptica, ocasionalmente acompanhada de uveíte e, mais raramente, de hemorragia ou descolamento de retina 6. Pode ocorrer exclusivamente na região ocular ou estar acompanhada pela doença focal ou disseminada 2. O diagnóstico presuntivo da MEG é geralmente baseado no histórico do paciente, nos sinais clínicos e na análise do líquor. Mesmo assim, a lista de diagnósticos diferenciais a ser considerada é muito grande.

A detecção clínica de doença difusa do SNC é sugestiva de doença infecciosa, inflamatória ou neoplásica. Sinais clínicos de doença focal do SNC podem ocorrer por qualquer lesão que produza efeito de massa, como neoplasia, granuloma inflamatório, cisto ou infarto 5. Além disso, há muitas outras causas de neurite óptica 5. A análise do líquor na MEG frequentemente indica pleocitose mononuclear com elevado nível de proteína 2, característica correlacionada ao diagnóstico embora não patognomônica. A tomografia computadorizada e a ressonância magnética, embora úteis para diagnosticar a presença de lesões cerebrais 2, não permitem perfeita diferenciação entre uma lesão de efeito massa e uma lesão neoplásica 5,12 Embora não seja realizada com frequência na rotina médico-veterinária, a biópsia cerebral pode ser uma ferramenta diagnóstica de grande importância na obtenção de diagnósticos diferencias de lesões focais encefálicas 4. Portanto, o diagnóstico definitivo da MEG é confirmado pela necrópsia e


posterior análise histopatológica 2, que indica infiltrado perivascular de monócitos, macrófagos, linfócitos e células do plasma no tecido cerebral 2. Esses infiltrados perivasculares geralmente se agrupam próximos aos vasos cerebrais, transformando-se em granulomas nodulares que mimetizam efeito de massa 7. O prognóstico para a MEG é ruim. Cães com a doença multifocal têm menor sobrevida (até seis semanas após o diagnóstico) do que os portadores de doença focal, cujo tempo de sobrevida é de aproximadamente seis meses a três anos 5. O objetivo deste estudo é avaliar os achados da neurossonografia do Doppler colorido e pulsado em cães com diagnóstico de meningoencefalite granulomatosa confirmado por exames de necrópsia e histopatológico, a fim de demonstrar a utilidade do ultrassom Doppler transcraniano como exame auxiliar no diagnóstico da MEG. Materiais e métodos Foi realizado um estudo retrospectivo dos exames ultrassonográficos transcranianos realizados pelo serviço de diagnóstico por imagem do Provet, no período de agosto de 2005 a setembro de 2006. Nesse período, foram encaminhados ao setor 116 animais com sinais clínicos de doença neurológica. Foram definidos como critérios de inclusão para esta pesquisa: cães de pequeno porte, sem predileção de raça ou sexo, com sinais clínicos de doença neurológica de origem central e suspeita clínica de meningoencefalite, submetidos à ultrassonografia Doppler transcraniana e cujo diagnóstico definitivo foi confirmado à necrópsia e ao exame histopatológico, após óbito ou eutanásia. Onze cães preencheram todos os critérios de inclusão, constituindo assim a amostra do presente estudo. Os exames ultrassonográficos Doppler transcranianos foram realizados por um único operador, em aparelho de ultrassom Doppler com transdutor convexo de baixa frequência (2-5MHz). O paciente era colocado sobre a mesa de exame em decúbito esternal ou lateral e contido manualmente por um auxiliar, não sendo necessário nenhum tipo de sedação. A tricotomia foi realizada nos cães de pelagem muito densa. A região do osso temporal foi utilizada como janela acústica em todos os animais. 22

Cada exame foi realizado inicialmente em modo-B, para avaliação do parênquima cerebral (quanto à ecogenicidade e aspecto), identificação do sistema ventricular, determinação da espessura do manto encefálico e análise quanto à presença ou não de lesões focais. Parênquimas com ecogenicidade mediana, aspecto homogêneo, ventrículos laterais simétricos com dimensões até 0,35cm de altura e espessura mínima do manto encefálico de 1,25cm 8 foram considerados normais. Em seguida o Doppler colorido foi acionado, na tentativa de identificar os seguintes vasos intracranianos, determinados como vasos do círculo de Willis: artérias cerebrais rostrais direita e esquerda (ACRD e ACRE), artérias cerebrais médias direita e esquerda (ACMD e ACME) e artérias cerebrais caudais direita e esquerda (ACCD e ACCE). Essa análise se deu mediante a realização de cortes coronais, conforme descrito na literatura 9,10, sempre angulando o transdutor a fim de otimizar o sinal Doppler. Os vasos sanguíneos do círculo de Willis foram considerados normais quando detectados com ajuste mínimo no ganho colorido, sem borramento da imagem colorida. Quando possível, após realizada a identificação das artérias intracranianas pelo Doppler colorido, o cursor do Doppler pulsado foi colocado em cada vaso para estudo da onda espectral. As velocidades de fluxo – velocidade de pico sistólico (VPS) e velocidade diastólica final (VDF) – foram registradas. O índice de resistividade (IR) para cada vaso foi calculado a partir dessas velocidades. O IR é o índice mais utilizado para medir a resistência cérebrovascular. Para a determinação do IR, divide-se a diferença entre VPS e VDF pela VPS. Neste estudo, o cálculo do IR foi realizado automaticamente pelo próprio aparelho. O espectro normal de Doppler das artérias intracranianas mostra um padrão de baixa resistência com fluxo diastólico elevado, e o valor normal do IR para as artérias intracranianas em cães varia de 0,55 ± 0,05 9. Resultados e discussão Os onze cães selecionados tinham meningoencefalite granulomatosa confirmada por exames de necrópsia e histopatologia realizados após a eutanásia

ou óbito. Destes, sete (64%) eram fêmeas e quatro (36%) eram machos, com faixa etária entre três e quinze anos. O resultado da distribuição racial desses animais foi: yorkshire (5/11), poodle (3/11), maltês (2/11) e schnauzer (1/11). Todos os cães eram de raças pequenas ou miniaturas, com média de idade de seis anos, e houve maior número de fêmeas acometidas (7/11). Tais resultados assemelham-se aos encontrados por outros autores, que afirmam que essa afecção é mais frequente em fêmeas, em raças pequenas, miniaturas ou terriers, e na faixa etária de cinco anos. Todavia, não foi realizada análise estatística comparativa com toda a casuística, razão pela qual esses dados epimiológicos devem ser interpretados com cautela 3,4. Como não há, na literatura médicoveterinária, referências sobre o aspecto sonográfico das alterações da meningoencefalite granulomatosa, os achados sonográficos em modo-B e de Doppler foram correlacionados às alterações encontradas à necrópsia e ao exame histopatológico (Figura 1). Os resultados (macroscópicos e microscópicos) obtidos são relatados por outros autores e consistem em achados característicos da MEG 7,11. Em nove cães (9/11), o parênquima cerebral apresentou diminuição generalizada da ecogenicidade. Essa alteração foi correlacionada com a presença de congestão leve a moderada e mudanças inflamatórias severas, com infiltrado perivascular no tecido cerebral 7,11. Em dois cães (2/11), o parênquima encefálico foi considerado normoecogênico, mas esses cães apresentavam alterações histopatológicas compatíveis com meningoencefalite. Assim, há possibilidade de resultados falso-negativos. Apenas três cães, todos da raça yorkshire, tinham fontanela aberta (3/11). Sabe-se que essa condição pode estar associada à presença de hidrocefalia, doença muito frequente em cães dessa raça. Com relação à avaliação do sistema ventricular, a literatura cita a ocorrência de hidrocefalia em cães com MEG, mas não há estudos sobre a frequência com que ela aparece 4. A ventriculomegalia pode ser consequência da doença inflamatória, pré-existente ou concomitante

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a esta, uma vez que a grande maioria das raças miniaturas apresenta alta prevalência de tal característica. Embora a literatura não forneça dados sobre a correlação entre esse achado sonográfico e a MEG, dos onze cães avaliados pelo ultrassom neste estudo, oito (8/11) apresentaram ventriculomegalia lateral, a grande maioria (7/8) simétrica. Em três cães (3/8), além da ventriculomegalia lateral, observou-se aumento das dimensões do terceiro ventrículo. A presença de lesões que ocasionam efeito de massa pode alterar a drenagem no sistema liquórico, ocasionando esses quadros. Quanto à mensuração do manto encefálico, não existe, na literatura especializada um padrão definido de espessura mínima normal para cada raça. Sabe-se que em filhotes de até doze meses de idade, a espessura mínima normal não deve ser inferior a 1,25cm 8. No presente trabalho, a espessura do manto encefálico variou entre 0,52cm e 2,36cm, porém observou-se espessura menor que 1,25cm em quatro cães (4/11), o que, sonograficamente, sugeria atrofia do parênquima cerebral, posteriormente confirmada pela necrópsia. O resumo desses dados encontra-se na figura 2. Também a presença de lesões focais foi investigada ultrassonograficamente e constatada em seis cães (6/11), o que posteriormente foi confirmado pelos exames macro e microscópico. Dentre as alterações histopatológicas encontradas em portadores de MEG, incluemse lesões ovais com margens irregulares ou bem-delimitadas 4. As lesões visibilizadas ao exame sonográfico dos seis animais (6/11) em questão tinham margens mal definidas e tamanhos variados. Quanto ao aspecto ultrassonográfico das lesões encontradas, foram observados Caso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

raça yorkshire maltês yorkshire schnauzer poodle maltês poodle yorkshire poodle yorkshire yorkshire

idade (anos) 5 15 3 6 6 7 7 3 6 4 6

aspecto hiperecogênico em um cão, aspecto hipo/anecogênico em três cães, e aspecto misto em outros dois cães. Essas lesões, geralmente detectadas pela TC e pela RM 4, não podem ser caracterizadas como específicas da MEG 10. Assim, embora também detectadas pelo exame ultrassonográfico, não podem ser consideradas patognomônicas da MEG. Prefere-se a ressonância magnética à tomografia computadorizada quando há suspeita de MEG, pois a ressonância permite a visibilização do cérebro sem artefatos oriundos dos ossos do crânio, melhorando a qualidade dos detalhes anatômicos 2. Os poucos trabalhos realizados com tomografia e ressonância na pesquisa de MEG referem que lesões com efeito de massa não podem ser diferenciadas de lesões neoplásicas, limitação esta também existente na técnica sonográfica 5. As massas/lesões focais podem invadir e comprimir o parênquima encefálico adjacente, resultando em necrose e edema 4, o que parece contribuir ainda mais para a diminuição da ecogenicidade dessa região. O estudo Doppler colorido foi realizado em todos os onze animais da amostra. Em dez cães (10/11), os vasos do círculo de Willis apresentaram-se muito evidentes mesmo com pouco ganho na coloração, sugerindo possível aumento do calibre desses vasos cerebrais. Mas, ainda que esse achado possa indicar que o processo inflamatório característico da meningoencefalite granulomatosa ocasiona aumento do calibre dos vasos cerebrais, facilitando a detecção do sinal Doppler colorido, estudos mais aprofundados são necessários para confirmar a sua verdadeira aplicabilidade. O estudo Doppler pulsado de todas as seis principais artérias cerebrais foi sexo

fontanela

fêmea fêmea macho fêmea macho fêmea macho fêmea fêmea macho fêmea

aberta fechada aberta fechada fechada fechada fechada fechada fechada fechada aberta

realizado em sete cães (7/11). Em dois cães (2/11), não foi possível avaliar uma das artérias cerebrais. Em outro cão (1/11), foi possível avaliar somente duas artérias cerebrais. A não detecção de alguns vasos cerebrais pode ser explicada pela provável estenose severa ou oclusão destes, ocasionada pelo efeito de massa das lesões ou mesmo por uma dificuldade operacional durante o procedimento. Somente em um cão (1/11), de temperamento agitado, não foi possível a realização do estudo Doppler pulsado. O cálculo do IR foi realizado automaticamente pelo aparelho utilizado. De acordo com a literatura, existe uma correlação significativa entre o IR e a pressão de perfusão cerebral ou pressão intracraniana, ou seja, IR aumentado indica aumento da pressão intracraniana 10. Na MEG, a pressão do fluido cérebro-espinhal tende a ser normal a aumentada 4. O IR das artérias cerebrais dos cães que constituíram a amostra utilizada neste trabalho variou entre normal e aumentado (Figura 2). É provável que granulomas e alterações vasculares localizados em diferentes sítios e de diferentes graus, ocasionem aumento indefinido da resistividade do leito vascular correspondente. Resumindo, as principais alterações sonográficas encontradas em modo-B foram: parênquima encefálico com diminuição generalizada da ecogenicidade ou aspecto heterogêneo, ventriculomegalia lateral simétrica e presença ou não de lesões focais em parênquima encefálico. Quando presentes, essas lesões focais tinham ecogenicidade variada (hipo ou anecogênica mais frequentemente) (Figura 3), mas vale ressaltar que pesquisas voltadas à correlação entre MEG e outras enfermidades

tamanho dos ventrículos (cm) 1,33 1,36 0,47 0,48 1,17 0,80 0,29 0,29 0,25 0,25 0,38 0,38 0,62 0,60 0,43 0,48 0,53 0,55 0,25 0,25 1,70 1,70

espessura do manto encefálico (cm) 0,62 0,84 0,93 2,36 2,02 2,21 1,95 1,76 2,26 1,83 0,52

Figura 1 - Distribuição dos resultados das características clínicas e características da ultrassonografia transcraniana bidimensional em 11 cães examinados entre agosto de 2005 e setembro de 2006. São Paulo, SP, 2008

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Caso ecogenicidade do parênquima encefálico

lesão focal

Doppler colorido

IR HCD * ACR ACM ACC

IR HCE ** ACR ACM ACC

achados histopatológicos

1

hipoecogênico difuso

ausente

círculo de Willis evidente

0,52 0,55 0,43

0,47 0,55 0,67

presença de aglomerados de monócitos, macrófagos e linfócitos perivasculares formando granulomas típicos de MEG

2

hipoecogênico heterogêneo

hipo e hiperecogênicas em transição cortico-subcortical temporal esquerda e frontoparietal direita

círculo de Willis evidente; presença de vasos em região mais externa da cortical

0,72 0,87 0,68

0,53 0,58 0,60

cérebro e vasos meningeanos congestos; meninges hemorrágicas; infiltrado mononuclear multifocal característico de meningoencefalite

3

hipoecogênico heterogêneo

hipo e anecogênicas em região parietal esquerda

círculo de Willis evidente

4

hipoecogênico heterogêneo

hipo anecogênicas em todo HCD

círculo de Willis evidente

0,55 0,81 não obs.

0,44 0,76 0,65

cérebro e vasos meningeanos congestos; infiltrado mononuclear multifocal característico de meningoencefalite

5

hipoecogênico heterogêneo

hipoecogênico em tronco encefálico

círculo de Willis evidente

0,64 0,52 0,60

0,68 0,55 0,84

cérebro e vasos meningeanos congestos; espessamento do tronco encefálico e extenso infiltrado mononuclear compatível com meningoencefalite

6

hipoecogênico difuso

0,51 0,68 0,64

0,58 0,34 0,45

vasos meningeanos congestos; aglomerado de linfócitos, monócitos e macrófagos infiltrado em zonas periféricas e perivasculares compatível com MEG

7

hipoecogênico heterogêneo

ausente

círculo de Willis evidente

0,65 0,60 0,66

0,51 0,51 0,51

cérebro com vasos circundados por células epitelióides e vários linfócitos principalmente na substância branca formando granulomas típicos de MEG

8

normal

ausente

círculo de Willis evidente

0,50 0,33 0,50

0,58 não 0,55 obs.

extenso infiltrado mononuclear multifocal e perivascular formando granulomas típicos de MEG

9

hipoecogênico difuso

ausente

círculo de Willis evidente

0,53 0,63

10

hipoecogênico heterogêneo

ecogênicas de contornos pouco definidos

normal

0,59 0,64 0,55

0,38 0,54 0,70

cérebro congesto; vasos circundados por células epitelióides e linfócitos formando granulomas típicos de MEG

11

normal

ausente

círculo de Willis evidente

0,52 0,45 0,61

0,59 0,60 0,55

espaço subaracnóide infiltrado por grande número de linfócitos; vasos meningeanos congestos compatível com meningoencefalite

hipo e anecogênico círculo de em cortical; lesão Willis evidente; hiperecogênica presença de em tronco trajeto de vasos encefálico até região cortical

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

infiltrado de histiócitos e linfócitos perivasculares formando granulomas típicos de MEG

cérebro e vasos meningeanos congestos; infiltrado mononuclear nas meninges compatível com MEG

* IR = índice de resistividade; HCD = hemisfério cerebral direito; ACR = artéria cerebral rostral; ACM = artéria cerebral média; ACC = artéria cerebral caudal ** IR = índice de resistividade; HCE = hemisfério cerebral esquerdo; ACR = artéria cerebral rostral; ACM = artéria cerebral média; ACC = artéria cerebral caudal

Figura 2 - Resumo dos resultados obtidos com a realização da ultrassonografia triplex Doppler transcraniana, correlacionados aos respectivos achados histopatológicos da MEG, de 11 cães examinados entre agosto de 2005 e setembro de 2006. São Paulo, SP, 2008.

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Cibele Figueira Carvalho

Figura 3 - Imagem em Modo-B do parênquima encefálico de um cão da raça maltês, fêmea com oito anos de idade. Nota-se a presença de lesões hipoecogênicas em parênquima encefálico Cibele Figueira Carvalho

Figura 4 - Imagem em Doppler colorido e pulsado do mesmo animal. No modo colorido observam-se evidência dos vasos sanguíneos do círculo de Willis e efeito de massa devido à lesão. No modo pulsado observam-se as velocidades de pico sistólico e diastólico final da artéria cerebral caudal esquerda e o cálculo automático do índice de resistividade (IR)

cerebrais devem ser realizadas, para a obtenção de informações mais precisas sobre o possível auxílio da técnica ultrassonográfica em diagnósticos diferenciais de pacientes com sinais clínicos neurológicos. Como a doença geralmente acomete cães de pequeno porte, diferentemente de outras doenças do sistema nervoso central, que afetam cães de maior porte, a ultrassonografia é uma modalidade realmente interessante de diagnóstico complementar.

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O mapeamento colorido mostrou maior evidência dos vasos sanguíneos do círculo de Willis e o Doppler pulsado demonstrou IR normal a aumentado em todos os animais (Figura 4). Esses achados ultrassonográficos permitem que o médico veterinário direcione a conduta clínica, auxiliando-o na decisão sobre a necessidade ou não de outros exames complementares. Conclusão Embora não haja, na literatura especializada, trabalhos que contemplem as alterações sonográficas bidimensionais encontradas na MEG, os achados sonográficos do presente estudo são semelhantes às alterações macroscópicas (da necropsia) e microscópicas (histopatologia) descritas por outros autores em artigos sobre a doença. Por ser uma doença de difícil diagnóstico in vivo, a ultrassonografia Doppler colorida transcraniana pode ser uma ferramenta útil na avaliação do sistema nervoso central quando se suspeita de MEG, pois é mais rápida, barata e segura do que outros exames complementares. Embora a ultrassonografia Doppler transcraniana não forneça o diagnóstico definitivo da MEG, em conjunto com os achados clínicos e laboratoriais essa técnica pode auxiliar o clínico, provendo dados sobre as estruturas e os vasos cerebrais e indicando aumento do fluxo, provavelmente correlacionado ao processo inflamatório ocasionado. Agradecimentos Aos médicos veterinários João Pedro de Andrade Neto, Sylvia de Andrade Diniz, Carolina Dias Jimenez, Helena Arantes, Thais Cristina Santos Souza e Marcos Migliano. Referências 01-ADAMO, F. P ; O'BRIEN, R. T. Use of cyclosporine to treat granulomatous

meningoencephalitis in three dogs. Journal of American Veterinary Medical Association, v. 225, n. 8, p. 1211-1216, 2004. 02-FISHER, M. Disseminated granulomatous meningoencephalomyelitis in a dog. Canadian Veterinary Journal, v. 43, n. 1, p. 49-51, 2002. 03-MUÑANA, K. R. ; LUTTGEN, P. J. Prognostic factors for dogs with granulomatous meningoencephalomyelitis: 42 cases (19821996). Journal of American Veterinary Medical Association, v. 212, n. 12, p. 19021906, 1998. 04-BRAUND, K. G. Inflammatory diseases of the central nervous system. International Veterinary Information Service, Ithaca NY (www.ivis.org), n. A3228.0205, 2005. Acessado em 20/05/2008. 05-O'NEILL, E. J. ; MERRETT, D. ; JONES, B. Granulomatous meningoencephalomyelitis in dogs: a rewiew. Irish Veterinary Journal, v. 58, n. 2, p. 86-92, 2005. 06-GELATT, K. N. Diseases and surgery of the canine posterior segment. In: __ Essentials of Veterinary Ophthalmology, p. 253-294, 2000. 07-SUZUKI, M. ; UCHIDA, K. ; MOROZUMI, M. ; HASEGAWA, T. ; YANAI, T. ; NAKAYAMA, H. ; TATEYAMA, S. A comparative pathological study on canine necrotizing meningoencephalitis and granulomatous meningoencephalomyelitis. Journal of Veterinary Medical Science, v. 65, n. 11, p. 1233-1239, 2003. 08-CARVALHO, C. F. Ecoencefalografia. Ultrasonografia em pequenos animais, 1. ed. , Roca, p. 265-277, 2004. 09-SEO, M. ; CHOI, H. ; LEE, K. ; CHOI, M. ; YOON, J. Transcranial Doppler ultrasound analysis of resistive index in rostral and caudal cerebral arteries in dogs. Journal of Veterinary Science, v. 6, n. 1, p. 61-66, 2005. 10-FUKUSHIMA, U. ; MIYASHITA, K. ; OKANO, S. ; HIGUCHI, S. ; TAKASE, K. ; HAGIO, M. Evaluation of intracranial pressure by transcranial Doppler ultrasonography in dogs with intracranial hypertension. The Journal of Veterinary Medical Sciense, v. 62, n. 3, p. 353355, 2000. 11-SUMMERS, B. A. ; CUMMINGS, J. F. ; DE LAHUNTA, A. Inflammatory diseases of the central nervous system. In: __ Veterinary neuropathology. 2. ed., Mosby, St Louis, p. 95177, l995. 12-CHERUBINI, G. B. ; PLATT, S. R. ; ANDERSON, T. J. ; RUSBRIDGE, C. ; LORENZO, V. ; MANTIS, P. ; CAPPELLO, R. Characteristics of magnetic resonance images of granulomatous meningoencephalomyelitis in 11 dogs. The Veterinary Record, v. 159, n. 4, p. 110-115, 2006. 13-CARVALHO, C. F. ; CHAMMAS, M. C. ; CERRI, G. G. Princípios físicos do Doppler em ultra-sonografia. Ciência Rural, v. 38, n. 3, p. 872-879, 2008.

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009



Diagnóstico clínico e ultrassonográfico da pitiose gástrica canina: relato de caso

Tilde Rodrigues Froes MV, profa. adj. DMV-UFPR tilde9@hotmail.com

Sávia Calline Carneiro Santos Paiva MV em treinamento HV-UFPR saviacalline@bol.com.br

Leandro Lima MV em treinamento HV-UFPR

Clinical and ultrasonographic diagnosis of canine gastric pythiosis: case report

mandaproleandro@yahoo.com.br

Daniela de Oliveira Afonso MV em treinamento HV-UFPR

Diagnóstico clínico y ecográfico de pitiosis gástrica canina: reporte de caso

danielavetpr@gmail.com

Juliana Werner MV, patologista Laboratório Werner & Werner

Resumo: A pitiose é uma doença piogranulomatosa crônica causada pelo Pythium insidiosum. É pouco frequente em cães e, quando os acomete manifesta-se predominantemente sob a forma gastrintestinal. Um cão da raça labrador, de um ano e seis meses de idade, com queixa de vômitos e perda de peso foi atendido no hospital veterinário da Universidade Federal do Paraná. Ao exame ultrassonográfico, evidenciaram-se severo espessamento da parede gástrica e perda de estratificação parietal. Devido a esses aspectos sonográficos e às características clínico-epidemiológicas do paciente, a pitiose gástrica foi incluída no diagnóstico diferencial. A biópsia gástrica, o exame histopatológico e a reação em cadeia da polimerase (PCR) comprovaram a etiologia do quadro. O objetivo do presente relato é descrever as características clínicas e diagnósticas da pitiose gástrica em um cão. Unitermos: cão, gastrintestinal, ultrassonografia, Pythium

Abstract: Pythiosis is a chronic pyogranulomatous infection caused by Pythium insidiosum. It is fairly uncommon in dogs and usually appears in this species in the gastrointestinal form. A 1 1/2-year-old Labrador dog was attended at the Veterinary Hospital of the Federal University of Paraná. The ultrasonographic features were thickening of the gastric wall with obliteration of the normal layered appearance. The sonographic and clinical-epidemiological characteristics of the patient led to the inclusion of gastric pythiosis in the differential diagnosis. Etiology was confirmed through results from gastric biopsy, histopathological examination and polymerase chain reaction (PCR). The aim of this report is to describe the clinical and diagnostic features of gastric pythiosis in a dog. Keywords: dog, gastrointestinal, ultrasound, Pythium Resumen: Pitiosis es una enfermedad crónica piogranulomatosa causada por el Pythium insidiosum. Es poco común en perros y, cuando ocurre, suele ser la forma gastrointestinal la predominante. Un perro, Labrador, con un año y seis meses, fue atendido en el Hospital Veterinario de la Universidad Federal de Paraná. El examen ecográfico evidenció gran espesamiento de la pared gástrica con pérdida de la estratificación parietal. Con los resultados ecográficos y debido a aspectos clínicoepidemiológicos del paciente, se incluyó la pitiosis gástrica en el diagnóstico diferencial. La biopsia gástrica, el examen histopatológico y la reacción en cadena de la polimerasa (PCR) confirmaron la etiología del cuadro. El objetivo de este reporte es describir las características clínicas y diagnósticas de pitiosis gástrica en un perro. Palabras clave: perro, gastrointestinal, ultrasonografía, Pythium

Clínica Veterinária, n. 80, p. 28-32, 2009

Introdução A pitiose é uma doença granulomatosa crônica causada pelo fungo zoospórico Pythium insidiosum, que afeta principalmente o tecido subcutâneo de equinos, mas tem sido descrito em outras espécies, aí se incluindo os cães. Nessa espécie, a moléstia atinge machos de raças de grande porte, com menos de três anos de idade e, em geral, apresenta-se sob a forma gastrintestinal. 1,2 Ocorre em regiões temperadas, tropicais e subtropicais, especialmente na Costa Rica, na Austrália, na Índia, na Tailândia e no sul dos Estados Unidos. No Brasil, há relatos de pitiose equina 28

em vários estados e acredita-se que o Pantanal Mato-Grossense seja o local de maior prevalência da doença no mundo, já que o fungo geralmente vive em pântano 1,3. Casos esporádicos de pitiose canina têm sido relatados no Brasil, mas os aspectos ultrassonográficos da moléstia não são mencionados nesses relatos 1,4. Em seres humanos foram descritos casos de pitiose cutânea, subcutânea, vascular, oftálmica e um caso de pitiose cardiopulmonar 1. O primeiro registro de pitiose humana no Brasil descreve o caso de um homem de meia idade que, em uma pescaria no interior do estado de São Paulo, havia mantido as pernas

Juliana@werner.vet.br

submersas. Esse paciente apresentava lesões ulceradas crônicas no tecido cutâneo e raras estruturas fúngicas coradas pela prata, posteriormente identificadas por PCR como P. insidiosum 5. Embora os cães também possam desenvolver a forma cutânea da pitiose a forma gastrintestinal é mais prevalente na espécie em decorrência da ingestão de água contaminada com o microorganismo em açudes ou banhados 1,6,7. Quando atinge o trato gastro-entérico, as manifestações são distúrbios digestivos, como êmese, anorexia crônica, perda de peso, diarréia e presença de massas nodulares à palpação abdominal 1,2. A pitiose é mais identificada em cães machos e jovens de raças grandes, especialmente naqueles que permanecem em ambiente externo e frequentam regiões de banhados, como o labrador 3. O diagnóstico baseia-se nos aspectos clínicos, ultrassonográficos, histopatológicos e no isolamento e identificação do agente. Os diagnósticos diferenciais incluem doença obstrutiva intestinal (como a resultante de presença de corpo estranho), histoplasmose, doença intestinal inflamatória crônica e neoplasias gastrintestinais. 8 A ultrassonografia é uma modalidade diagnóstica frequentemente utilizada na avaliação do trato gastrintestinal de pacientes com vômitos ou diarréia crônica 9,10,

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constituindo-se em ótimo auxílio para o diagnóstico diferencial, principalmente no que tange a obstruções ou processos neoplásicos 10. As características ultrassonográficas da pitiose gastrintestinal advêm da invasão e da infiltração granulomatosa do fungo na parede intestinal, que promovem severo espessamento da parede gástrica ou intestinal, associado à perda da estratificação de suas camadas 11. Na presença desse tipo de lesão, a indicação de biópsia e de exame histopatológico é imprescindível para a elucidação diagnóstica, já que as neoplasias gastrintestinais apresentam características sonográficas similares 10,11. Recentemente, dez casos de pitiose gastrintestinal em cães foram descritos na Califórnia, o que demonstra a ocorrência da moléstia em regiões geográficas que até então não haviam sido mencionadas. Dois dos dez cães citados no estudo apresentavam lesões em esôfago e os exames laboratoriais permitiram a constatação de eosinofilia, hipoalbuminemia e hiperglobulinemia, com sobrevida média de 26,5 dias. 12

Os dados macroscópicos da pitiose gastrintestinal incluem aumento severo da espessura da parede do estômago, do intestino delgado, do cólon ou do reto e, eventualmente, podem haver alterações em mais de um desses segmentos. Também são observadas linfonodomegalia mesentérica, inflamação da submucosa, aderências e peritonite 3. No exame histopatológico verificam-se reação granulomatosa difusa – com áreas contendo inflamação granulomatosa –, eosinofilia e presença de linfócitos 1. Além disso, é possível verificar piogranulomas com áreas focais de necrose envolvidas por neutrófilos, eosinófilos e células gigantes 3,14. Na coloração usual de H&E, ocasionalmente se identificam hifas como sombras, sendo necessária a utilização de coloração especial GMS ou PAS para a observação clara de hifas irregulares, raramente septadas, medindo 4-7µm de diâmetro 3. De vez que os achados histopatológicos da pitiose em cães são similares àqueles encontrados em infecções, causadas por zigomicetos da ordem Entomophtorales – como Conidiobolus

coronatus e Basidiobolus ranarum – e Oomicetos – como o Langenidium ssp –, a conduta mais adequada é o isolamento, a cultura e a identificação do agente. O PCR também pode ser utilizado para a identificação do agente e, para tal, deve-se proceder à extração de DNA da amostra, à amplificação e ao sequenciamento do material extraído, observando analogia com sequências de P. Insidiosum depositadas no Genbank 1,2. A pitiose gastrintestinal canina apresenta prognóstico desfavorável. A excisão cirúrgica é recomendada quando possível e outros potenciais tratamentos da moléstia incluem o uso de antifúngicos – como anfotericina B, itraconazol ou cetoconazol – ou a imunoterapia 1-3,12,14. O objetivo do presente relato é descrever as características clínicas e diagnósticas da pitiose gástrica em um cão, discutir as formas de intervenção diagnóstica, os diagnósticos diferenciais e demonstrar as características ultrassonográficas, histopatológicas e terapêuticas do caso referido.

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Tilde Rodrigues Froes

Figura 1 - Imagem ultrassonográfica demonstrando corte longitudinal do estômago de cão acometido por pitiose gastrintestinal; grave espessamento da parede e perda de estratificação parietal. Transdutor 5MHz

Figura 4 - Foto demonstrando acesso cirúrgico para execução da biópsia gástrica de cão acometido por pitiose gastrintestinal Juliana Werner

Tilde Rodrigues Froes

Figura 2 - Imagem ultrassonográfica demonstrando corte transversal do estômago de cão acometido por pitiose gastrintestinal; grave espessamento da parede e perda de estratificação parietal. Transdutor 5MHz

Figura 5 - Foto demonstrando fragmento gástrico retirado para o exame histopatológico, de cão acometido por pitiose gastrintestinal Juliana Werner

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Relato de caso Uma cadela da raça labrador, de um ano e seis meses de idade, com aproximadamente 12kg e histórico de vômitos crônicos, perda de peso e emaciação progressiva havia vinte dias, foi atendida no hospital veterinário da Universidade Federal do Paraná. Embora alerta, ela estava caquética e apresentava pelame seco e desidratado. O animal frequentava sítio com áreas alagadas periféricas à região metropolitana de Curitiba. O proprietário relatou a ocorrência de vômitos frequentes, embora com presença de apetite voraz. O cão havia sido previamente atendido por médico veterinário que, após o exame sonográfico, diagnosticou gastrite e instituiu terapia para controlar os vômitos. Os exames laboratoriais apresentaram resultados dentro dos padrões de normalidade. Para excluir as hipóteses de corpo estranho ou obstrução gástrica parcial, foram solicitados novos exames ultrassonográfico e radiográfico. Ao exame radiográfico verificou-se diminuição do contraste entre os órgãos abdominais (sugerindo caquexia) e a possível presença de corpo estranho radiopaco nas vísceras ocas foi excluída. No exame ultrassonográfico foram observados grave espessamento difuso da parede gástrica (2cm), parede com perda da arquitetura das camadas, hipoecóica e com moderado grau de preenchimento gástrico gasoso (Figuras 1, 2 e 3). Constatou-se, ainda, aumento dos linfonodos perigástricos – periportais. O aspecto sonográfico das alças intestinais, bem como do restante dos órgãos abdominais, estava dentro da normalidade. Detectou-se pequena quantidade de efusão peritoneal. Com base nos achados ultrassonográficos, que levantaram suspeitas diagnósticas de neoplasia gástrica ou pitiose – que, embora objeto de poucos relatos no Brasil foi aventada –, recomendou-se ao proprietário a realização de biópsia gástrica por laparotomia. O animal foi preparado para a cirurgia e a laparotomia confirmou o espessamento da parede em toda a extensão do estômago e o aumento da vascularização periférica gástrica e dos linfonodos, indicativos de invasão linfática (Figuras 4 e 5). O exame histopatológico possibilitou a identificação de intensa infiltração inflamatória mista, rica em neutrófilos, eosinófilos e macrófagos na submucosa.

Figura 3 - Imagem ultrassonográfica demonstrando corte longitudinal do estômago de cão acometido por pitiose gastrintestinal; grave espessamento da parede e perda de estratificação parietal. Transdutor 10MHz

Figura 6 - Foto microscópica coloração PAS c/d, demonstrando reação inflamatória e hifas de fungos com septações discretas de cão acometido por pitiose gastrintestinal. Gastrite eosinofílica causada por fungo - Pitium

O resultado da coloração especial para fungos (PAS c/d) foi positivo, evidenciando a presença de múltiplas hifas de fungos com septação discreta entre reação inflamatória, confirmando o diagnóstico de gastrite piogranulomatosa rica em eosinófilos de causa fúngica – as características histopatológicas das hifas eram compatíveis com Pythium (Figura 6). A amostra semeada em ágar Sabouraud e BHI evidenciou cresci-

mento – após dois dias – de cultura finamente filamentosa aderida ao meio, apresentando coloração branca e aspecto de estrias de fibrina. A microscopia da cultura revelou hifas irregulares em forma e septação, sem evidência de estruturas de reprodução. A amostra da cultura foi encaminhada para diagnóstico molecular pela técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR), no qual visualizou-se um amplicon de 105 pares

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de base utilizando-se primers específicos da região do DNA ribossomal compatível com Pitium Insidium. O proprietário foi alertado sobre a gravidade do quadro clínico, sobre o prognóstico reservado e informado sobre a inviabilidade da ressecção total da lesão. Mesmo assim, instituiu-se terapia constituída por: administração de drogas antifúngicas – terbinafina a (10mg/kg SID) e o itraconazol b (10mg/kg SID) –, drogas antieméticas, restrição alimentar e tentativa de imunoterapia com vacina (Pitium Vac TM) c. Após 45 dias de terapia não se verificou melhora clínica do quadro e procedeu-se à eutanásia do animal. Na necropsia constatou-se, macroscopicamente, que o estômago apresentava lesões em sua face dorsal, em região de curvatura maior, fundo e piloro. Ao corte, a camada muscular demonstrava consistência firme e aspecto nodular, coloração avermelhada, associada a espessamento intenso da parede (1cm). A mucosa, por sua vez, apresentava intensa quantidade de úlceras, principalmente em região pilórica, associada a áreas de hemorragia e necrose tecidual profunda, que progrediam para a região de duodeno. O exame histopatológico dos fragmentos dos órgãos obtidos à necropsia indicou gastrite crônica ativa com necrose e reação inflamatória granulomatosa de causa fúngica, peritonite fibrinopurulenta, hepatite crônica, pancreatite ativa focal e linfadenite granulomatosa severa de causa fúngica. Discussão e conclusão Como mencionado na literatura, as características epidemiológicas e clínicas do cão objeto do presente relato sinalizavam a necessidade de investigação mais aprofundada quanto à pitiose: o histórico e a anamnese desse animal demonstravam fatores predisponentes à doença, tais como a raça (o labrador aprecia o contato com a água), a idade (o animal era jovem), a exposição a áreas alagadas (o animal frequentava um sítio que tinha áreas alagadas) e a manifestação de distúrbios digestivos como vômito incoercível e perda de peso 3. O exame ultrassonográfico constituise em importante ferramenta para a avaliação do trato gastrintestinal de pacientes a) Cloridrato de terbinafina - Lamisil ®. Novartis. São Paulo, SP b) Itraconazol - Sporanox ®. Brainfarma. São Paulo, SP c) Vacina contra pitiose - Pitium Vac ®. Lapemi UFSM/ Embrapa. Santa Maria, RG

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que apresentem vômitos crônicos, perda de peso e diarréia crônica, pois fornece informações relevantes sobre a espessura e a arquitetura das camadas do trato gastrintestinal 9-11. Sabidamente, o espessamento da parede – com perda de estratificação parietal – é um importante indicativo da existência de grave processo inflamatório ou neoplásico. Tais achados devem sempre ser considerados pelo ultrassonografista pois, muitas vezes, constituem-se em fortes subsídios para a indicação de conduta exploratória, como no caso ora relatado 9-11. Achados dessa natureza devem ser detalhadamente explorados, com o auxílio de técnicas até mais invasivas – como a laparotomia exploratória e o exame histopatológico – para o estabelecimento do diagnóstico 10,11. Vale ressaltar que o clínico e o cirurgião devem estar cientes da inclusão da pitiose como diagnóstico diferencial em cães com sinais ultrassonográficos compatíveis com gastrite crônica ou neoplasia gástrica. Na presença de características epidemiológicas e clínicas suspeitas, deve ser indicada a coloração histopatológica para fungo, bem como a possível cultura e PCR para elucidação diagnóstica 1,3. No caso aqui relatado, como reportado na literatura, o prognóstico foi desfavorável. A maioria dos cães afetados apresenta um estágio avançado da doença no momento do diagnóstico, já com disseminação linfática, sendo impossível realizar a ressecção cirúrgica da área afetada 1-3,11,12. A ressecção cirúrgica é indicada devido à característica de resistência desse fungo. De acordo com estudos taxonômicos que incluem a espécie P. Insidiosum da classe Oomicetos, essa espécie está mais próxima da classe das algas do que dos fungos, apresentando diferenças na parede celular e composição de sua membrana. Uma dessas importantes diferenças está na presença do ergosterol, componente presente na parede dos fungos, porém não dos Oomicetos, o que explica o comportamento refratário da pitiose a tratamentos à base de antifúngicos 1,2. A lesão tem caráter progressivo, prognóstico ruim e, em geral, leva o paciente à morte mesmo após a tentativa terapêutica 1,2,12. Assim, a pitiose deve ser incluída no diagnóstico diferencial em

casos de espessamento de parede gastrintestinal associados à perda de estratificação em camadas detectados ao exame ultrassonográfico e outros meios de diagnóstico por imagem 9,10,11. Agradecimentos Ao dr. Janio Moraes Santurio por ceder amostras da vacina Pitium Vac® Referências 01-SANTURIO, J. M. ; ALVES, S. H. ; PEREIRA, D. B. ; ARGENTA, J. S. Pitiose uma micose emergente. Acta Scientiae Veterinarie, v. 34, n. 1, p. 1-14, 2006. 02-GROOTERS, A. M. Pythiosis, lagenidiosis and zygomycosis in small animals. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. v. 33, n. 4, p. 695-720, 2003. 03-GROOTERS, A. M. ; FOIL, C. S. Pythiosis in a dog miscellaneous fungal infections. In: GREENE, C. E. Infectious disease of the dog and cat. 3. ed. St. Louis: Saunders. p. 637-650, 2006. 04-RECH, R. R. ; GRAÇA, D. L. ; BARROS, C. S. L. de. Pitiose em um cão: relato de caso e diagnóstico diferencial. Clínica Veterinária, Ano 9, v. 50, p. 68-72, 2004. 05-MARQUES, S. A. ; BAGAGLI, E. ; CAMARGO, R. M. P. ; MARQUES, M. E. A. ; BOSCO, S. M. G. Pythium insidiosum relato do primeiro caso de infecção humana no Brasil. Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 81, p. 483-485, 2006 06-DYKSTRA, M. J. ; SHARP, N. J. H. ; OLIVRY, T. ; HILLIER, A. ; MURPHY, K. M. ; KAUFMAN, L. ; KUNKLE, G. A. ; PUCHEU-HASTON, C. A description of cutaneus-subcutaneus pythiosis in fifteen dogs. Medical Mycology, v. 37, p. 427-433, 1999. 07-LARSSON, C. E. ; MENG, M. C. ; NAHAS, C. R. ; MICHALANY, N. S. ; NEWTON, J. ; ROSA, P. S. ; BONAVITO, D. ; GAMBALE, W. ; SOARES, E. S. Pitiose canina - aspectos clínicos e epidemiológicos de caso em São Paulo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 25, 1997, Gramado, Brasil, Anais, p. 155. Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 1997. 08-WILLARD, M. D. Disorders of the stomach. In: NELSON, R. W. ; COUTO, C. G. Small animal internal medicine, 3. ed. St. Louis: Mosby, p. 418-425, 2003. 09-PENNINCK, D. G. Gastrointestinal tract. In: NYLAND, T. G. ; MATTOON, J. S. Small animal diagnostic ultrasound. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 2002, p. 207-230. 10-PENNINCK, D. G. ; SMYERS, B. ; WEBSTER, C. R. L. ; RAND, W. ; MOORE, A. S. Diagnostic value of ultrasonography in diferrentiating enteritis from intestinal neoplasia in dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 44, n. 5, p. 570-575, 2003. 11-GRAHAM, J. P. ; NEWELL, S. M. ; ROBERTS, G. D. ; LESTER, N. V. Ultrasonographic features of canine gastrointestinal pythiosis. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 41, n. 3, p. 273-277, 2000. 12-BERRYESSA, N. A. ; MARKS, S. L. ; PESAVENTO, P. A. ; KRASNANSKY, T. ; YOSHIMOTO, S. K. ; JOHNSON, E. G. ; GROOTERS, A. M. Gastrointestinal pythiosis in 10 dogs from Califórnia. Journal of Veterinary Internal medicine, v. 22, n. 4, p. 1065-1069, 2008.

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009



Contribuições da tomografia computadorizada (TC) de tórax em cão com nódulos pulmonares - relato de caso

André Fonseca Romaldini MV, prof. tit. Depto. Diagnóstico por Imagem, FCC/A andreromaldini@gmail.com

Adriana H. de Campos Nogueira MV, MS. FOA/Unesp adrihcnogueira@ig.com.br

Maria Luiza Valério Médica veterinária autônoma

Chest Computed Tomographic (CT) contributions in a dog with lung nodules - case report

mluizavalerio@hotmail.com

Contribuciones de la Tomografía Computarizada (TC) de tórax en perro con nódulos pulmonares - relato de caso Resumo: A tomografia computadorizada (TC) é um método de diagnóstico por imagem de grande relevância para o diagnóstico, a evolução e o prognóstico de diversas doenças. Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo verificar a contribuição da TC para a condução clínica e o estabelecimento do prognóstico de doenças pulmonares em cães. Para tanto, os campos pulmonares de um cão com massa única visibilizada na radiografia torácica foram avaliados pelo método. A TC mostrou nódulos, que não haviam sido observados na radiografia de tórax, em várias regiões dos campos pulmonares, além de massa com áreas calcificadas, medindo 6,6 x 8,6cm, situada no lobo pulmonar caudal esquerdo, já observada na radiografia. A TC demonstrou ser técnica mais sensível do que a radiografia. Associando a grande extensão da doença pulmonar revelada pela TC ao quadro clínico do animal estabeleceu-se um prognóstico reservado, que não justificava a lobectomia pulmonar caudal esquerda, tendo-se optado pela eutanásia do animal. Unitermos: lobectomia, massa, pulmão, diagnóstico por imagem Abstract: Computed tomographic scan (CT) is a very important imaging diagnostic method in the diagnosis, follow-up and prognosis of many diseases. The aim of this report is to evaluate the contribution of the chest CT scan to the clinical treatment and prognosis of lung diseases in dogs. To accomplish this goal, the lung fields of a dog with a solitary mass at the chest X-ray surveys were evaluated with this method. The CT scan showed several nodules in many regions of the lungs that were not detected at the chest X-ray surveys and a mass with calcification sites located at the left caudal pulmonary lobe that was already seen at the chest X-ray surveys and measuring 6,6 x 8,6 cm. In this sense, the chest CT scan proved to be a more sensitive technique than the ordinary radiographic exam. The results obtained with the CT scan and the clinical findings led to the establishment of a severe prognosis, which did not justify the left caudal pulmonary lobectomy. Rather, these results led to the decision of euthanizing the animal. Keywords: lobectomy, mass, lung, imaging diagnosis

Resumen: La tomografía computarizada (TC) es un método de diagnóstico por imagen que se ha ganado papel destacado en diagnóstico, pronóstico y acompañamiento de desarrollo de diversas enfermedades. El objetivo de este trabajo fue evaluar el efecto de la TC sobre la conducta y el pronóstico de enfermedades pulmonares en perros. Para eso, un perro con campos pulmonares con masa solitaria evidenciada en radiografía toráxica fue evaluado por TC. La técnica mostró nódulos en diversas regiones de los campos del pulmón, que no se habían observado en radiografía y masa con áreas calcificadas situada en lóbulo caudal izquierdo, con 6,6 x 8,6cm, ya observada en radiografía. El TC ha demostrado ser técnica más sensible que la radiografía. La gran extensión de la enfermedad pulmonar observada en TC asociada al cuadro clínico resultó en el pronóstico reservado, no justificando la lobectomía del pulmón izquierdo, optándose por la eutanasia del animal. Palabras clave: lobectomía, masa, pulmón, diagnóstico por imagen

Clínica Veterinária, n. 80, p. 34-38, 2009

Introdução Desde o início da tomografia computadorizada (TC), ocorrido em 1972, diversos avanços e aperfeiçoamentos tecnológicos influenciaram significativamente as estratégias diagnósticas empregadas na aquisição de imagens torácicas 1,2. As indicações da TC torácica em pequenos animais são similares às dos humanos. Graças aos avanços tecnológicos e à maior experiência clínica, estas se difundiram nos últimos anos 3. Entre os atributos básicos de aquisição de imagens em que se baseia a 34

eficácia diagnóstica da TC estão: - A redução do problema de sobreposição anatômica de estruturas, inerente aos métodos de aquisição de imagens por projeção, como a radiografia simples; - Nos exames transaxiais e de cortes finos, há uma discriminação muito maior da densidade radiográfica por parte da TC; - A preservação de resolução espacial suficientemente boa e a capacidade de gerar conjuntos de dados tridimensionais (3D) e multiplanares, que podem ser usados para mostrar todo o tórax ou estruturas

específicas de maneira interativa 4,5. Em virtude desses atributos, a interpretação diagnóstica da TC é geralmente mais didática. No âmbito da radiologia diagnóstica, a radiografia de tórax continua a ser o estudo mais eficaz, devido ao contraste naturalmente alto das estruturas torácicas 6. A TC é usada como estudo diagnóstico complementar aos exames radiográficos 6,7. Abaixo seguem exemplos de indicações da TC: A) Na medicina humana a TC é utilizada para avaliar o mediastino, caso uma possível anormalidade seja detectada nessa região pelas radiografias torácicas e mesmo em casos onde haja suspeita clínica sem alterações no exame radiográfico. Assim, quando da suspeita de alterações do mediastino e/ou do contorno hilar, a TC contrastada é recomendada. As possibilidades de alterações mais frequentes nessa região são: doença vascular, como aneurisma de vasos da base ou dissecção de aneurisma, anomalia congênita, linfoadenopatias, tumor e/ou distorção por tumor 8. B) Nódulos, massas tumorais e/ou infiltrado no parênquima pulmonar. Nesses casos, pode ser necessária a caracterização por TC para análise morfológica mais precisa. A determinação completa do estadiamento pode ser feita se houver suspeita de neoplasia maligna 9,10. C) Alterações difusas em radiografias simples. Nessa categoria incluem-se anormalidades sugestivas de doenças do parênquima ou difusas das vias aéreas, nas quais sejam necessárias a determinação da extensão e a caracterização do

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009


Devido ao tamanho da massa torácica verificada no exame radiográfico, julgou-se necessário avaliar detalhadamente os campos pulmonares. Dessa forma, indicou-se o exame de TC de tórax, que foi realizado após 24 horas do exame radiográfico. Para realizar a TC, o animal foi anestesiado com infusão intravenosa de propofol a (5mg/kg) e posicionado em decúbito esternal. Utilizou-se tomógrafo Toshiba®, modelo Auklet® b, “single-slice” (fileira única de detectores), com técnica 140mA, 120kV, FOV (“field of view” ou campo de visão) 312mm, realizou-se “scout” (planejamento dos cortes) da região torácica (Figura 3) e foram planejados 87 cortes axiais de 3mm x 3mm 1,16 (Figura 4). André Fonseca Romaldini

Figura 1 - Radiografia laterolateral com presença de massa em lobo pulmonar caudal

Figura 2 - Radiografia ventrodorsal com presença de massa em lobo pulmonar caudal esquerdo

Figura 3 - Tomografia computadorizada. Região avaliada (Scout) André Fonseca Romaldini

André Fonseca Romaldini

Material e métodos Um animal da espécie canina, macho da raça boxer, com quinze anos de idade, foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade Comunitária de Campinas – Unidade 3 – e encaminhado para exame de TC de tórax no Hospital Veterinário Santa Inês, em São Paulo, para avaliação dos campos pulmonares.

Na anamnese verificou-se que o animal havia sido submetido à orquiectomia havia um ano e meio devido a um leydigoma diagnosticado em exame histopatológico. No retorno do animal, depois de um ano e meio da orquiectomia, a avaliação física demonstrou dispnéia, cansaço e emagrecimento. Dessa forma, foram solicitados radiografias de tórax e ecocardiograma. Ao exame radiográfico, foram observadas uma imagem ovalada de radiopacidade água com 6 x 7cm localizada em região dorsolateral, entre a silhueta cardíaca e a cúpula diafragmática na projeção laterolateral, e imagem semelhante, sobreposta à silhueta cardíaca no lobo pulmonar caudal esquerdo, na projeção ventrodorsal 15 (Figura 1 e 2). O ecocardiograma revelou cardiomiopatia dilatada de grau moderado a grave e discreta insuficiência mitral. André Fonseca Romaldini

processo. Técnicas tomográficas de alta resolução são indicadas nesse contexto 11,12. D) Casos complexos de doenças pleurais e parenquimatosas combinadas. Muitas vezes, é difícil diferenciar os componentes pleurais dos parenquimatosos. Nesses casos é indicada a TC contrastada. E) Doenças da parede torácica e da medula espinhal. Devido à curvatura da parede torácica, nenhuma projeção radiográfica simples é adequada para a avaliação integral. Os cortes transaxiais da TC possibilitam melhor análise da localização e extensão desses processos 6. F) Doenças envolvendo as regiões de junção cervitorácica ou toracoabdominal. Como as radiografias simples podem não ser esclarecedoras nas regiões abdominais craniais e cervicais, a TC é frequentemente indicada para esclarecer doenças que envolvem o tórax adjacente e essas regiões anatômicas 6. G) Para avaliar animais cujas radiografias de tórax não são esclarecedoras, mas que apresentam condição clínica fortemente indicativa de doença intratorácica oculta, como nódulos metastáticos em animais com condições malignas extratorácicas – especialmente aquelas com grande propensão a metástases pulmonares –, para investigar infecção de origem desconhecida em pacientes imunologicamente comprometidos, para esclarecer suspeitas de embolia pulmonar e de doenças das vias aéreas, bem como para verificar a potencial redução do volume pulmonar por ressecção cirúrgica 13. H) Para guiar punções intratorácicas para coleta de amostra pelas técnicas de citologia aspirativa por agulha fina e/ou biópsia, indicadas nos casos de lesões periféricas, lesões pouco definidas por radiografias ou fluoroscopia, lesões circundadas por ar, as quais não podem ser identificadas pelo ultrassom, e lesões muito pequenas e consideradas inacessíveis a outros meios 14.

Figura 4 - Tomografia computadorizada. Cortes axiais planejados

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Figura 9 - Tomografia computadorizada. Corte 55 com filtro para osso apresenta áreas calcificadas da massa André Fonseca Romaldini

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Figura 8 - Tomografia computadorizada. Corte 49 com massa em lobo pulmonar caudal esquerdo e nódulo em lobo pulmonar médio direito

Figura 6 - Tomografia computadorizada. Corte 37 com presença de nódulo de 1,3cm em lobo pulmonar cranial direito

Discussão e conclusão A detecção de nódulos não verificados na radiografia propiciada pela TC permitiu que se avaliasse com precisão a extensão e a gravidade da doença. As incontáveis variações nas apresentações das doenças tornam cada vez mais frequentes as indicações da TC de tórax 1. O radiologista veterinário deve sempre rever os dados clínicos e os exames de imagens disponíveis, para determinar com precisão quais estruturas devem ser demonstradas na TC de tórax e estabelecer a melhor estratégia para o exame, ajustando-o assim à tarefa diagnóstica à qual ele se destina. a) Diprivan ® 1%. Astrazeneca. Cotia, SP b) Toshiba ® Toshiba Corporation, modelo Auklet ®. Japão. Imagem produtos radiológicos Ltda., Barueri, SP c) Henetix ® 300. Guerbet Produtos Radiológicos Ltda. Jacarepaguá, RJ

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Figura 5 - Tomografia computadorizada. Corte 22 com presença de nódulo em lobo pulmonar cranial direito André Fonseca Romaldini

Resultado O exame de TC dos campos pulmonares apresentou, no corte 22, um nódulo de 1,5cm x 1,6cm no lobo pulmonar cranial direito (Figura 5). No corte 37, observou-se um nódulo de 1,3cm x 1,3cm no lobo pulmonar cranial direito (Figura 6). No corte 43, visibilizou-se o início da massa do lobo pulmonar caudal esquerdo (Figura 7). No corte 49, identificaram-se a massa no lobo pulmonar caudal esquerdo e nódulo diminuto no lobo pulmonar médio direito (Figura 8). O corte 55, com filtro para osso, revelou áreas calcificadas da massa e, com filtro para pulmão, a maior extensão da massa, com 8,6cm x 6,6cm (Figura 9 e 10). No corte 62, observou-se nódulo de 1cm x 1cm em lobo pulmonar caudal direito e massa no lobo pulmonar caudal esquerdo (Figura 11) e, no corte 68, nódulo diminuto no lobo pulmonar caudal esquerdo e massa (Figura 12) 17,18. A TC mostrou nódulos que não haviam sido observados na radiografia de tórax em várias regiões dos campos pulmonares e uma massa com áreas calcificadas e medindo 8,6cm x 6,6cm, situada no lobo pulmonar caudal esquerdo já observada na radiografia.

André Fonseca Romaldini

Administrou-se contraste intravenoso de baixa osmolaridade não-iônico, iobitridol c, volume 60mL e o exame com “delay” (atraso para o contraste atingir a área de interesse) de 45 segundos. As imagens foram interpretadas com filtro para pulmão, mediastino e osso 1.

Figura 7 - Tomografia computadorizada. Corte 43 com imagem de massa em lobo pulmonar caudal esquerdo

Figura 10 - Tomografia computadorizada. Corte 55 com filtro para pulmão apresenta maior extensão da massa

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Figura 11 - Tomografia computadorizada. Corte 62 com nódulo em lobo pulmonar caudal direito e massa em lobo pulmonar caudal esquerdo

animal, que afetam a qualidade da técnica. Uma vez conhecidos, esses parâmetros básicos devem ser combinados com uma estratégia que some os princípios de máximo valor diagnóstico com risco e custo mínimos. No caso relatado neste artigo, a TC demonstrou ser técnica mais sensível do que a radiografia. Associando a grande extensão da doença pulmonar revelada pela TC ao quadro clínico do animal estabeleceu-se um prognóstico reservado, que não justificava a lobectomia pulmonar caudal esquerda, optando-se pela eutanásia do paciente.

André Fonseca Romaldini

Agradecimentos Ao professor Milton Kolber pela atenção e incentivo com o presente trabalho. Referências 01-NÓBREGA, A. I. Manual de tomografia computadorizada. São Paulo: Ed. Atheneu/ Centro Universitário São Camilo, 2005. 90p. 02-WEBB, W. R. Técnicas de TC torácica. In: WEBB, W. R. ; BRANT, W. E. ; HELMS, C. A. Fundamentos de tomografia computadorizada do corpo. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2000. p. 3-5.

Figura 12 - Tomografia computadorizada. Corte 68 com nódulo diminuto em lobo pulmonar caudal esquerdo e massa

Nos aparelhos modernos, o tempo de reconstrução instantâneo das imagens facilita essas tarefas, devendo-se estabelecer o diagnóstico conclusivo antes de retirar o animal da mesa de TC 1,19. Evidentemente, não existe uma técnica que seja ideal para todas as indicações da TC torácica. Para otimizar a TC torácica, de forma a garantir a sua contribuição diagnóstica, é necessário ter conhecimento operacional dos diversos parâmetros, relacionados ao aparelho e ao

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03-PRATHER, A. B. ; BERRY, C. R. ; THRALL, D. E. Use of radiography in combination with computed tomography for the assessment of noncardiac thoracic disease in the dog and cat. Veterinary Radiology and Ultrasound, v. 46, n. 2, p. 114-121, 2005. 04-KOHL, G. The evolution an state-of-the-art principles of multislice computed tomography. Proceedings of the American Thoracic Society, v. 2, n. 6, p. 470-476, 2005. 05-SELTZER, S. E. ; JUDY, P. F. ; ADAMS, D. F. ; JACOBSON, F. L. ; STARK, P. ; KIKINIS, R. ; SWENSSON, R. G. ; HOOTON, S. ; HEAD, B. ; FELDMAN, U. Spiral CT of the chest: comparison of cine and film-based viewing. Radiology, v. 197, n.1, p. 73-78, 1995. 06-KANEKO, M. ; EGUCHI, K. ; OHMATSU, H. ; KAKINUMA, R. ; NARUKE, T. ; SUEMASU, K. ; MORIYAMA, N. Peripheral lung cancer: screening and detection with low-dose spiral CT versus radiography. Radiology, v. 201, n. 3, p. 798-802, 1996. 07-COSTELLO,

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009



Avaliação da discopatia em cães por métodos de imagem. Parte 1 Radiografia convencional: revisão de literatura Imaging diagnostic techniques in the evaluation of dogs with disc disease. Part 1 - Radiographic exam: literature review Evaluación de la discopatía en perros por métodos de imagen. Parte 1 - Radiografía convencional: revisión de literatura Resumo: A presente revisão objetivou destacar a importância dos métodos de diagnóstico por imagem convencionais (exame radiográfico simples e mielografia) no diagnóstico da discopatia. O exame radiográfico simples é o método de imagem essencial na suspeita de discopatia e frequentemente fornece informações que caracterizam essas alterações. Entretanto, pode revelar múltiplas lesões ou até mesmo a ausência delas, devendo ser complementado com a mielografia para se diagnosticar, confirmar ou excluir alterações e obter informações quanto a localização, aspecto e extensão das lesões. O exame radiográfico simples e a mielografia são ferramentas importantes que se complementam para o diagnóstico da discopatia, contribuindo com informações valiosas para o tratamento clínico-cirúrgico. Unitermos: deslocamento do disco intervertebral, mielografia Abstract: This review intends to emphasize the importance of conventional imaging diagnostic methods in the diagnosis of disc disease. The radiographic exam is the essential imaging method when there is suspicion of disc disease, and it frequently supplies information that characterizes such alterations. It can, however, reveal multiple lesions or even the absence of injuries. This raises the need of complementation by myelography to confirm or exclude alterations and to get information about the localization, aspect and extension of the injuries. The conventional radiographic examinations are important and complementary tools for disc disease diagnosis, giving valuable information for clinical and surgical procedures. Keywords: intervertebral disc displacement, myelography Resumen: La presente revisión tuvo como objetivo destacar la importancia de los métodos de diagnóstico por imagen convencionales en el diagnóstico de la discopatía. El examen radiográfico simple es el método de imagen esencial en la sospecha de discopatía y frecuentemente provee informaciones que caracterizan estas alteraciones, no obstante, puede presentar múltiples lesiones o inclusive ausencia de las mismas, pudiendo ser complementado con mielografias con el fin de llegar al diagnóstico, confirmar o excluir alteraciones y para obtener informaciones sobre la localización, aspecto y extensión de lesiones. Los exámenes radiográficos convencionales son herramientas importantes en el diagnóstico de la discopatía que se complementan aportando valiosas informaciones para el tratamiento clínico y quirúrgico. Palabras clave: desplazamiento del disco intervertebral, mielografía

Clínica Veterinária, n. 80, p. 40-46, 2009

Introdução A discopatia em cães é frequente na clínica de pequenos animais. Essa afecção pode ou não comprometer a medula espinhal ou as raízes nervosas em variados graus e causar sinais neurológicos diferentes, que variam desde dor até tetraplegias. Dependendo da localização da lesão, a discopatia pode resultar em manifestações clínicas distintas, de acordo com a região da coluna vertebral em que ela ocorra. Portanto, para um diagnóstico conclusivo ou diferencial, é necessário que o exame físico e neurológico do 40

paciente seja seguido de exames complementares. Dentre os exames complementares para avaliação da coluna vertebral, os exame radiográfico simples e a mielografia são essenciais, não somente para identificar, mas também para localizar e verificar a extensão das lesões, além de contribuir com informações quanto à eficácia ou não do tratamento preconizado. Doença degenerativa do disco intervertebral A compressão medular secundária à

Luciana Fortunato Burgese MV, mestre Núcleo Diagnóstico Veterinário e Provet lucianaburgese@hotmail.com

Ana Carolina B. de C. Fonseca Pinto MV, profa. dra. Depto. Cirurgia - FMVZ/USP anacarol@usp.br

doença degenerativa do disco intervertebral é uma afecção comum que causa alterações neurológicas 1,2. A doença do disco intervertebral é comumente dividida em duas categorias, baseadas no tipo de degeneração e no modo do mecanismo de degeneração, classificadas como Hansen tipo I e Hansen tipo II. A herniação de disco do tipo I ocorre mediante a degeneração e a ruptura do anel fibroso dorsal e a extrusão do núcleo pulposo para o canal vertebral. Ela é comumente associada à degeneração discal condroide. A protrusão de disco, classificada como Hansen tipo II, caracterizase pela saliência do disco intervertebral, sem que ocorra uma ruptura completa do anel fibroso e está mais comumente associada à degeneração discal fibroide. 2-7 Na hérnia de disco tipo II, a calcificação do disco pode ocorrer, mas tal eventualidade é rara 8. Incidência A metaplasia condroide do núcleo pulposo e a extrusão ocorrem mais frequentemente em cães condrodistróficos 8. Os animais da raça dobermann são os cães de grande porte não condrodistróficos que apresentam discopatia com mais frequência, estando essa condição associada à espondilomielopatia cervical 9. Animais de raças pequenas, especialmente as condrodistróficas, têm alta incidência de hérnia de disco, principalmente na região cervical 10,11. As raças que têm sido designadas como condrodistróficas são: teckel, beagle, pequinês, shih-tzu e lhasa apso; já o poodle miniatura e o cocker spaniel possuem tendências condrodistróficas 3,6,8,11-16. A degeneração discal condroide com extrusão secundária pode ocorrer em qualquer raça, incluindo as raças de grande porte 8. A degeneração condroide e a extrusão de disco ocorrem mais comumente em cães com três anos de idade ou mais,

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mas podem ocorrer em animais mais jovens 3,8,13,15. A degeneração fibroide e a protrusão de disco ocorrem com maior frequência em cães com mais de cinco anos 8,15. Não parece haver predisposição de gênero para a doença do disco intervertebral 8,13,17. Entretanto, em um estudo com 105 cães, foi observada uma variação significativa entre raças, predisposição de gênero em algumas raças e local anatômico de envolvimento, sendo que a idade das fêmeas da raça dachshund (teckel) com comprometimento cervical foi maior que a das que apresentaram lesão toracolombar 12. Etiologia A causa da degeneração do disco intervertebral é desconhecida. Aparentemente, o trauma não desempenha um papel importante na degeneração condroide, mas pode ser um fator atuante na extrusão aguda 2,8. Provavelmente os fatores mecânicos e anatômicos são importantes, pois as extrusões de disco são mais comuns nas regiões cervical e de T11 a L3 da coluna vertebral 6,8. Acredita-se que os fatores genéticos tenham um papel na degeneração acelerada dos discos em raças condrodistróficas, mas não se conhece a influência exata desses fatores 3,8. Os fatores osteogênicos genéticos provavelmente desempenham um papel importante. Os diâmetros mediossagital e interpedicular dos aspectos cranial e caudal dos forames do segmento cervical da coluna vertebral (C3-C7) são relatados como significativamente maiores em raças pequenas do que em raças grandes e dachshunds, com aparente e potencial predisposição para compressão medular cervical 18. Sinais clínicos A protrusão ou extrusão do disco intervertebral pode ocorrer numa direção ventral, dorsal ou lateral mas, na maioria dos casos, apenas as protrusões ou extrusões dorsais têm significado clínico, pois pode ocorrer uma irritação das meninges e compressão de raiz nervosa e/ou compressão da medula espinhal. Ocasionalmente, uma protrusão ou extrusão discal lateral pode resultar numa compressão de raiz nervosa ou de nervos espinhais, com seus sinais clínicos associados 8. Das extrusões, 85% ocorrem no segmento toracolombar 2 e 15% na região cervical 2,5. Na região cervical, onde o canal

vertebral é maior que na região toracolombar 2,8,19,20, podem ocorrer extrusões laterais e intraforaminais, bem mais comuns que em outras regiões da coluna vertebral, produzindo mais compressão de raiz do que medular 2. O ligamento longitudinal dorsal é espesso e amplo na região cervical, podendo resistir à herniação dorsal do material nuclear e desviar o material lateralmente para as raízes nervosas. Isso produz uma dolorosa radiculopatia, em vez de severos sinais clínicos associados a compressão medular. Essa situação é diferente da que ocorre nas regiões torácica caudal e lombar, onde o ligamento longitudinal dorsal é fino e permite a herniação dorsal do material nuclear, causando severa compressão medular 5. Raramente, o material de disco pode herniar para as placas cartilaginosas, indo para dentro do corpo vertebral e resultando em uma herniação intravertebral ou em nódulos de Schmorl 20,21, ou até indo para dentro da própria medula espinhal 22. O início dos sinais clínicos pode ser agudo (minutos), subagudo (horas) e crônico (vários dias ou semanas). Esses sinais podem ter progressão rápida, lenta ou permanecerem estáticos. Os sinais clínicos podem sofrer remissão e recorrer somente mais tarde, sendo os sinais recorrentes geralmente mais severos que os de crises iniciais 2. Geralmente os sinais associados com Hansen tipo I (extrusão) são agudos e severos 2,5,8. Ao contrário, as hérnias do tipo II (protrusões) apresentam caráter crônico e progressão lenta 5,8. A gravidade da lesão na medula espinhal depende da velocidade de aplicação da força compressiva, do grau e da duração da compressão 8. O tamanho da hérnia de disco parece ter em muitos casos pouca importância nos sinais clínicos 17. A estimulação dos nervos das camadas externas do ânulo fibroso e do ligamento longitudinal dorsal pode ser responsável pelo fenômeno de “dor discogênica” que algumas vezes parece ocorrer em cães 20. Diagnóstico radiográfico O diagnóstico de protrusão e extrusão é confirmado pelos exames radiográfico simples e mielografia2,5-8,10,19,22-24. Exame radiográfico simples As radiografias simples devem ser realizadas após minucioso exame clínico.

Um exame neurológico completo deve resultar na tentativa de localização da doença e até mesmo supor uma descrição anatômica ou etiológica. As radiografias devem ser realizadas de acordo com uma série de projeções de rotina prédeterminadas ou com um estudo seletivo baseado no diagnóstico diferencial derivado do exame clínico e neurológico 25. É recomendável que o animal esteja sedado ou anestesiado, o que facilitará o posicionamento adequado para a avaliação radiográfica da coluna vertebral 6,7,16,25-30. O exame radiográfico simples deve incluir todas as regiões da coluna vertebral que possam ser a sede da lesão e deve incluir as projeções laterolateral e ventrodorsal 6,7,25-28,30. As projeções oblíquas são necessárias para demonstrar extrusões de disco lateral ou intraforaminal 23,31, indicando a opacificação do forame intervertebral, mais evidente na presença de material calcificado 23. O diagnóstico definitivo da doença do disco intervertebral necessita de confirmação radiográfica demonstrando a presença de material ou, na ausência desse tipo de lesão, evidências de características que indiquem alterações junto ao disco intervertebral 2. Os aspectos típicos de doença do disco intervertebral incluem a calcificação do disco intervertebral; a diminuição do espaço intervertebral; a diminuição do tamanho ou a alteração da forma do forame intervertebral; o aumento da radiopacidade no canal vertebral, geralmente sobrepondo o forame intervertebral 5-7,10,11,32 (Figura 1); e a esclerose das epífises vertebrais, com colapso do espaço intervertebral, indica um processo crônico, podendo também Serviço de Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Figura 1 - Imagem digitalizada de exame radiográfico simples em projeção laterolateral, indicando grande quantidade de material radiopaco em forame intervertebral de C4-5, estendendo-se para o canal vertebral, com diminuição do espaço e calcificação do disco intervertebral (setas brancas) – extrusão de disco. Calcificação do disco intervertebral de C2-3 (seta escura) – discopatia

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apresentar espondilose ventral associada 5-7,10,32. Em alguns casos, geralmente em uma extrusão aguda, pode não haver alterações ao exame radiográfico simples 2,6,7. A calcificação do disco intervertebral por si só já é um processo degenerativo, mas não indicativo de uma protrusão ou extrusão. Quanto à diminuição do espaço intervertebral, este pode aparecer uniformemente diminuído ou pode apresentar aspecto de cunha, em que a porção mais dorsal neste caso apresenta-se mais estreita, indicando que houve comprometimento da porção dorsal do disco e que sua porção mais ventral ainda está intacta 6 (Figura 2). A diminuição do espaço intervertebral, embora possa sugerir a herniação do disco, não é um achado que deva ser avaliado isoladamente 33. Serviço de Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Figura 2 - Imagem digitalizada de exame radiográfico simples em projeção laterolateral da região cervical, demonstrando diminuição do espaço intervertebral de C2-3 e da porção ventral do espaço de C6-7 (setas)

Em alguns casos, particularmente em extrusões agudas, os achados ao exame radiográfico simples podem ser mínimos ou equivocados e a mielografia poderá ser necessária para definir a extensão e a localização da compressão medular. Em um estudo, a acurácia do exame radiográfico simples para determinar os locais de protrusão ou extrusão foi de somente 51-61% 34. O diagnóstico radiográfico de hérnia de disco pode ser comprometido por radiografias simples de qualidade ruim, devido ao posicionamento do paciente, à exposição incorreta ou ainda pela presença de artefatos. A mielografia deve ser realizada somente após radiografias simples de qualidade satisfatória e que tenham sido cuidadosamente examinadas 35. Mielografia A mielografia consiste na introdução de um meio de contraste no espaço 42

subaracnoide para definir anormalidades relacionadas à medula espinhal e tem sido utilizada rotineiramente em cães, gatos 6,7,33,36-42 e equinos 37. Indicações, contraindicações e reações adversas A mielografia deve ser realizada quando há suspeita de uma hérnia de disco, mas esta não pode ser confirmada por radiografias simples; quando radiografias simples sugerem um local de lesão de disco que produz sinais clínicos diferentes daqueles encontrados no exame neurológico e se múltiplas hérnias de discos estão evidentes radiograficamente 11,23. Devido à extrema variedade das posições assumidas pelas extrusões de disco, a mielografia é recomendada 5 por fornecer informações precisas na localização e na extensão da lesão, orientando o planejamento cirúrgico e ainda por demonstrar o grau de envolvimento da medula, contribuindo para o estabelecimento de um prognóstico 6,7,11,26,27,29. Em casos de evidência de doença infecciosa, a mielografia não deve ser realizada 42. Ela deve ser evitada em pacientes nos quais a análise do líquido cerebroespinhal indique doenças inflamatórias ou infecciosas 6,7,27,36,39,43, pois nesses casos pode potencializar desnecessariamente os sinais clínicos ou disseminar a infecção através do espaço subaracnoide 6,39. A realização de mielografia é contraindicada imediatamente após um incidente traumático, quando o animal pode estar ainda em estado de choque. O status epilepticus também é uma contraindicação 36,40. Em caso de desidratação do animal, esta deve ser corrigida antes da mielografia, caso contrário, além dos riscos anestésicos ocorre reabsorção retardada do meio de contraste, resultando em neurotoxicidade desnecessária 37,39. Apesar da evolução dos meios de contraste, a mielografia não é um procedimento inócuo e pode provocar reações adversas. O efeito adverso mais comum é a ocorrência de convulsão, podendo ainda ocorrer apneia durante a punção e injeção do meio de contraste, exacerbação de desordens neurológicas pré-existentes, hipertermia, hiperestesia, vômitos e, menos frequentemente, meningite asséptica e morte 30,37. As convulsões representam 75% das complicações ocorridas 44, principalmente quando as aplicações de contraste são feitas através da

cisterna magna 37 e quando o animal apresenta espondilomielopatia cervical caudal 45. Além disso, existem riscos inerentes à técnica, como o trauma medular com a agulha, devendo esse procedimento ser realizado somente por profissionais treinados 37,39. Não é recomendada a realização da mielografia a não ser nos casos de cirurgia ou quando um tratamento definitivo esteja sendo considerado. A mielografia é sempre um risco 46. Meios de contraste, técnicas e interpretação O iohexol a, o iopamidol b e o ioversol c são meios de contraste que possuem características aceitáveis para serem utilizados na mielografia 37,40,41 e podem ser injetados no espaço subaracnoide através das punções na cisterna magna, na região lombar 6,7,25,30,36-39,41 e na região lombossacral 42. A mielografia realizada através da punção da cisterna magna é a mais frequente 25,36 – cerca de 85% das mielografias são realizadas por essa via 36 . A escolha entre uma região e outra vai depender do local de suspeita da lesão e do tipo de afecção, da facilidade da técnica, dos riscos de efeitos adversos e da preferência pessoal 39,40. Diferentes concentrações de meios de contraste estão disponíveis (180mg, 240mg, 300mg e 350mg de iodo/mL). Alguns autores preconizam a utilização de meios de contraste de baixas concentrações 37,38,39, por serem isosmolares 25,37, mas a concentração de 240mg de iodo/mL, que é levemente hiperosmolar, fornece melhor radiopacidade do espaço subaracnoide 7,16,27,37. Altas concentrações de iohexol estão disponíveis (240mg, 300mg e 350mg de iodo/mL); entretanto, estas podem predispor mais a convulsões 37,38. A alta concentração do meio de contraste (alta gravidade específica) facilita a fluidez para a região anatômica de interesse 37,38. Isso pode ser útil quando se suspeita de uma lesão toracolombar e é realizada mielografia com punção cervical, devido à dificuldade de se obter qualidade de imagem com punção lombar 38. As altas concentrações de iohexol e iopamidol, mesmo sendo hiperosmolares, a) Ominipaque®. Sanofi Wintrhop Farmacêutica Ltda. Rio de Janeiro. RJ d) Iopamiron®. Schering do Brasil, Química e Farmacêutica Ltda. São Paulo. SP c) Optray®. Humana Produtos Hospitalares Ltda. Rio de Janeiro. RJ

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podem ser seguramente utilizadas na realização de mielografias em pequenos animais 39,47. O volume mínimo para gatos e cães de raças pequenas é de 1,5 a 2mL para se obter uma opacificação de alta qualidade do espaço subaracnoide 25,30,47. A dose do meio de contraste administrada depende do tamanho do animal e da região a ser examinada. O volume recomendado para a avaliação de toda a extensão da coluna vertebral é de 0,45mL/kg e, para um segmento da coluna, 0,3mL/kg 6,7,25,27,37-39,43 de iohexol na concentração de 180 a 240mg de iodo/mL 16,27,38, 300mg de iodo/mL 7,39,47 e de iopamidol na concentração de 200mg de iodo/mL 16,38. O volume de 0,5mL/kg de ioversol na concentração de 240mg de iodo/mL tem sido considerado apropriado e seguro na realização de mielografias em cães 41. A dosagem utilizada independe do meio de contraste escolhido (iopamidol, iohexol ou ioversol) 40. A dose total do meio de contraste não deve exceder 8-9mL 7,47 ou 10mL 25. A punção para a introdução do contraste no espaço subaracnoide é realizada com agulha fina de 20 a 22G, dependendo do tamanho do animal e da região a ser puncionada 7,16,25,26,30,39,43,47. Para cães obesos e na realização de punção lombar, algumas vezes são necessárias agulhas de maior comprimento 39. É de suma importância a retirada do líquido cerebroespinhal antes da introdução do meio de contraste para realização de exames laboratoriais 6,7,26,30,36,43. Alguns autores preconizam a retirada do líquido cerebroespinhal aproximadamente na mesma quantidade do volume de contraste a ser injetado, para não haver aumento da pressão no espaço subaracnoide 6,25,36. Em um estudo no qual foi comparada, além dos diferentes meios de contraste utilizados, a influência do aumento da pressão subaracnoide sem a retirada do líquido antes da administração do contraste, não foram encontradas reações desfavoráveis 48. No momento da injeção do meio de contraste, para haver a mistura adequada do contraste com o líquido cerebroespinhal e obter a qualidade mielográfica necessária, deve-se gentilmente puxar o êmbolo da seringa ou retirar pequenos volumes, para criar turbulência e melhorar a mistura do meio de contraste com o líquido cerebroespinhal. 44

Logicamente, qualquer manipulação durante a injeção deve ser realizada sem causar qualquer movimento da agulha, para que não ocorra traumatismo da medula espinhal 35. A velocidade de injeção deve ser lenta, para evitar a ocorrência de apneia 25,30,37,39,47. Após a administração do meio de contraste a agulha é retirada e a cabeça e o pescoço devem ser inclinados, para facilitar o fluxo caudal do meio de contraste e impedir que ele alcance os ventrículos cerebrais 6,7,26,37,38,40,47. Os meios de contraste não permanecem com qualidade diagnóstica no espaço subaracnoide por mais de sessenta minutos. Quando o meio de contraste for injetado na cisterna magna, as radiografias cervicais e toracolombares devem ser realizadas nos primeiros dez minutos. Entretanto, deve-se manter a cabeça do paciente elevada até que ele recobre a consciência, de forma que o deslocamento de contraste para o espaço subaracnoide encefálico seja mínimo 26,38,40. Devem ser obtidas as radiografias de rotina 6,38, nas projeções lateral e ventrodorsal 6,26,40 e projeções complementares (dorsoventral, oblíqua, estendida e flexionada laterais) quando necessárias 6,39. As projeções oblíquas, tanto pelo posicionamento do paciente como da ampola do aparelho radiográfico, podem ser utilizadas como complemento das duas projeções padrão e podem ser utilizadas de modo eficaz para isolar as lesões lateralizadas 23,39,43. Em um estudo em que se avaliaram as diferentes projeções no exame mielográfico, as oblíquas foram melhores que as ventrodorsais no diagnóstico de lesão compressiva por material de disco e somente elas contribuíram para o diagnóstico de 45% das extrusões toracolombares 49. A hérnia de disco é a causa mais frequente das lesões extradurais, provocando desvio dorsal e adelgaçamento do espaço subaracnoide e da medula espinhal adjacente à lesão 2,8,35,39 (Figura 3). Dependendo da severidade da lesão e do grau de compressão medular, o espaço subaracnoide pode apresentar adelgaçamento ou ausência do meio de contraste. O grau e a direção do desvio da coluna de contraste são mais bem visibilizados em radiografias que tangenciem as lesões 39, podendo ser observados nas projeções laterais ou ventrodorsais.

O material de disco pode se estender por mais de um segmento da coluna vertebral, resultando em um desvio da coluna de contraste maior que o comprimento de uma vértebra; em alguns animais, o material pode estar espalhado ao longo do canal vertebral, sem que ocorra uma distorção mecânica óbvia da medula 8. A presença de linha dupla de contraste na projeção lateral (Figura 4) e o desvio medial da coluna de contraste na projeção ventrodorsal caracterizam lesões extradurais laterais 16. Tanto as extrusões como as protrusões podem resultar em desvio dorsal do espaço subaracnoide e da medula espinhal 8,16 (Figuras 3, 4 e 5). Serviço de Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Figura 3 - Imagem radiográfica digitalizada em projeção laterolateral de exame contrastado (mielografia). Note que a coluna de contraste passa pelo espaço intervertebral de C2-3 sem indicar processo compressivo, apesar da sua diminuição. Entretanto, entre C6-7 há um discreto desvio dorsal da coluna de contraste ventral no espaço intervertebral correspondente, indicando compressão extradural (seta) Serviço de Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Figura 4 - Imagem radiográfica digitalizada ampliada da lesão entre C6-7, que demonstra linha dupla de contraste indicando lateralidade da lesão. Caracterizada como hérnia de disco pela dificuldade de diferenciação entre protrusão e extrusão, devido ao aspecto de imagem apresentado

Em alguns casos, a extrusão aguda gera edema medular, causando interrupção da coluna de contraste cranialmente à lesão (Figura 5). Isso pode ocorrer em qualquer segmento vertebral e resulta na não visibilização da lesão extradural 2,35,39. Frequentemente as

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009


Serviço de Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Figura 5 - Imagem digitalizada de mielografia em projeção laterolateral, demonstrando acentuado desvio dorsal da coluna de contraste ventral por material radiopaco; a interrupção da coluna indica severa compressão medular entre C4-5 (seta branca). Adelgaçamento com discreto desvio dorsal da coluna de contraste ventral entre C2-3 promovendo discreta compressão extradural (seta vermelha) – indicativo de protrusão com calcificação do disco intervertebral associada

extrusões de disco estão associadas à ruptura dos seios venosos vertebrais e uma hemorragia do espaço epidural pode aumentar o grau de compressão medular 8. Os problemas técnicos que podem afetar a qualidade da mielografia em animais que possuam alterações compatíveis com hérnia de disco incluem a

qualidade radiográfica ruim, o volume inadequado do meio de contraste, local incorreto de injeção, opacificação epidural e a ausência de mistura do contraste com o líquido cerebroespinhal. Os problemas anatômicos, causados por uma variação anatômica e patológica devido a um deslocamento atípico do material do disco e por edema medular, por exemplo, podem dificultar a avaliação de animais com hérnia de disco 35. Devido aos potenciais efeitos colaterais, o uso da mielografia é reservado somente para os animais que serão submetidos a procedimento cirúrgico 50. A ausência de anormalidades na mielografia é uma contraindicação para a realização de cirurgia 35. Conclusão O exame radiográfico simples e a mielografia são ferramentas essenciais no diagnóstico da discopatia e devem estar sempre associados para o diagnóstico conclusivo, fornecendo informações relevantes quanto a localização, o aspecto e a extensão das lesões.

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Clínica Veterinária, Ano XIV, 80,março/abril, maio/junho,2014 2009 Clínica Veterinária, Ano XIX, n. n. 109,

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009


NOTÍCIAS

IV Simpósio Agener União – Neurologia Veterinária

A

Agener União realizou nos dias 21 e 22 de setembro de 2013 o IV Simpósio Agener União – Neurologia Veterinária, com o prof. dr. Ronaldo Casimiro da Costa (MV, MSc, PhD, Dipl. ACVIM – Neurologia). Foram 16 horas dedicadas a vasto conteúdo sobre importantes tópicos da neurologia veterinária presentes tanto no atendimento clínico quanto cirúrgico. O dr. Ronaldo Casimiro da Costa é professor e chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia Veterinária da The Ohio State University, em Columbus, EUA, e referência mundial em neurologia veterinária, ministrando palestras em congressos internacionais, como ocorreu no Congresso do Colégio Americano de Cirurgiões Veterinários (ACVS), em outubro de 2013, no Texas, EUA. No IV Simpósio Agener União, o professor começou sua apresentação frisando conceitos básicos da neurologia veterinária: “É comum ouvir dizer que neurologia é muito difícil e complicada. Este dogma tem se disseminado e talvez por isso a neurologia é frequentemente deixada por último plano nos currículos acadêmicos. O fato é que a neurologia não é mais difícil ou mais fácil que outras especialidades, mas requer, diferentemente de outras áreas, que se aborde o paciente iniciando pelo mais importante fundamento da neurologia clínica que é a localização de lesões. Quando se aborda o paciente suspeito de ter um problema neurológico usando um exame rápido e tentando estabelecer logo de início o diagnóstico ou possíveis diagnósticos, muitas vezes o diagnóstico final é equi-

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Prof. dr. Ronaldo Casimiro da Costa no IV Simpósio Agener União

vocado. De nada adianta ter o melhor recurso diagnóstico possível (por exemplo, ressonância magnética) quando não se sabe a região a ser examinada. Portanto, para que se obtenha sucesso no diagnóstico e tratamento de problemas neurológicos é fundamental que o processo se inicie pela localização das lesões”. O simpósio foi realizado no Hotel Blue Tree Morumbi, em São Paulo, SP, e pode-se afirmar que foi mais um evento de sucesso realizado pela Agener União, pois contou com a participação de 500 veterinários de todo o Brasil e obteve alto índice de satisfação dos participantes: 95%.

"Durante a abordagem clínica de pacientes com sinais neurológicos é muito importante avaliar a locomoção do animal. Ela é normal ou anormal? Se anormal, quais membros estão afetados? Pélvicos, todos, ipsilaterais?", destacou o prof. dr. Ronaldo Casimiro da Costa

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 107, novembro/dezembro, 2013


Avaliação da discopatia em cães por métodos de imagem. Parte 2 Tomografia computadorizada - revisão de literatura Imaging diagnostic techniques in the evaluation of dogs with disc disease. Part 2 - Computed tomography - literature review Evaluación de la discopatía en perros por métodos de imagen. Parte 2 - Tomografía computarizada - revisión de literatura Resumo: O presente estudo teve o objetivo de realizar breve revisão técnica da tomografia computadorizada (TC), método em expansão na medicina veterinária, demonstrando sua indicação, os aspectos da imagem associados com a discopatia e sua importância no diagnóstico. A TC fornece informações relevantes quando associada aos exames radiográficos simples e contrastado (mielografia), por indicar com precisão a localização, a extensão das lesões e o grau de compressão medular. A TC veio complementar os métodos de diagnóstico por imagem convencionais e não os substitui, sendo de extrema valia no diagnóstico da discopatia e uma ferramenta importante para o direcionamento cirúrgico. Unitermos: Canis familiaris, deslocamento do disco intervertebral, anatomia transversal, raios-X Abstract: This article reviews technical aspects of the computerized axial tomography or CAT scan, which is method of increasing importance in veterinary medicine. We hereby demonstrate its indication and its importance in the diagnosis, as well as which aspects of the resulting images are associated with disc disease. The CAT scan supplies relevant information when associated with plain radiography and myelography, since it indicates precise localization and extension of the injuries and the degree of medullary compression. Computed tomography complements the conventional methods of diagnostic imaging without replacing them, being of extreme value in the diagnosis of disc disease and an important tool for surgical guidance. Keywords: Canis familiaris, intervertebral disc displacement, transversal anatomy, X-ray Resumen: La siguiente revisión de literatura tiene como objetivo realizar una breve descripción técnica de la tomografía computarizada (TC), método en expansión en medicina veterinaria, discutiendo sus indicaciones, los aspectos de la imagen asociados con discopatias y su importancia en el diagnóstico. La tomografía computarizada ofrece informaciones precisas en el diagnóstico cuando se asocia a los exámenes radiográficos simples y a la mielografía, para indicar con precisión la localización, extensión de lesiones y el grado de compresión medular. La tomografía computarizada complementa los métodos de diagnóstico por imágenes convencionales. No obstante no los substituye, siendo de extrema ayuda en el diagnóstico de discopatía y una herramienta importante en el direccionamiento quirúrgico. Palabras clave: Canis familiaris, desplazamiento del disco intervertebral, anatomía transversal, Rayos-X

Clínica Veterinária, n. 80, p. 48-52, 2009

Introdução A tomografia computadorizada (TC), método de imagem em expansão ainda incipiente no nosso meio, veio para incrementar o diagnóstico, fornecendo informações valiosas e complementares às obtidas pelos exames radiográficos convencionais, por produzir imagens secionadas de uma região do corpo, apresentar uma grande sensibilidade a pequenas diferenças de atenuação dos raios-X e ser isenta de sobreposição de estruturas. Na avaliação da discopatia, a TC associada com a mielografia é 48

considerada superior à mielografia convencional na localização de compressão medular e é de extrema valia para o direcionamento cirúrgico. Tomografia computadorizada A idealização da TC foi decorrente da dificuldade de se documentar uma estrutura oculta dentro da cavidade craniana. Suas bases se referenciam em instrumentos matemáticos de reconstrução de um objeto por múltiplas projeções, utilizadas desde a primeira metade deste século, principalmente em astronomia.

Luciana Fortunato Burgese MV, mestre Núcleo Diagnóstico Veterinário e Provet lucianaburgese@hotmail.com

Ana Carolina B. de C. Fonseca Pinto MV, profa. dra. Depto. Cirurgia - FMVZ/USP anacarol@usp.br

A invenção do método é atribuída a Godfrey Newbold Hounsfield, um engenheiro inglês da empresa EMI, que iniciou seus trabalhos no final da década de 1960 e em 1973 apresentou os primeiros resultados clínicos, juntamente com o neurorradiologista Ambrose, num congresso radiológico. Em um estudo independente, Allan Cormack, um médico sul-africano, trabalhando na Tufts University, Massachusetts, chegou às mesmas conclusões, sendo que ele e Hounsfield foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina por sua contribuição para a medicina e a ciência 1. A TC é um método de diagnóstico por imagem que produz cortes secionais de uma região do corpo fazendo o uso de raios-X e computadores, com a vantagem, sobre a radiografia convencional, de apresentar uma grande sensibilidade a pequenas diferenças de atenuação dos raios-X e ser isenta de sobreposição de estruturas 2,3,4,5. Um tomógrafo é formado por um gantry – no interior do qual estão localizados em posições opostas o emissor do feixe de raios-X e os detectores 6,7 – que gira 180° ou 360° em torno do paciente (dependendo da geração a que o aparelho tomográfico pertença) para obter a imagem. Uma mesa motorizada faz avançar o paciente através do gantry. Os cortes são realizados quando o tubo de raios-X gira ao redor do paciente. A mesa é movimentada pelo computador do tomógrafo, que também controla a espessura dos cortes e os intervalos entre eles. O gantry pode ser inclinado, quando necessário, para ajustar a angulação do corte através da região anatômica de interesse. Os detectores posicionados do lado oposto do tubo de raios-X registram a quantidade de radiação que atravessou o paciente. O operador que comanda o tomógrafo controla a técnica, a kilovoltagem (kV) e a miliamperagem (mA),

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009


a espessura/intervalos dos cortes, o tamanho da área a ser examinada, o tamanho da imagem a ser exibida, o número de cortes 1,6,7 e o tempo de aquisição de imagem 1,6. Em relação às imagens, existe uma convenção para traduzir os valores de voltagens detectados em unidades digitais. Dessa forma, temos valores que variam de -1000, onde nenhuma voltagem é detectada (o objeto não absorveu praticamente nenhum dos fótons de raios-X e se comporta como o ar); ou um valor muito alto, algo como +1000 ou mais, caso poucos fótons cheguem ao detector (o objeto absorveu quase todos os fótons de raios-X). Sendo assim, a escala correlaciona valores com os tons de cinza, onde -1000 é mais escuro, 0 é um cinza médio e +1000 ou mais é bem claro. Os operadores podem ajustar o contraste (abertura de janela) e o brilho (nível da janela) das imagens de acordo com a necessidade de melhor visibilização dos tecidos de interesse 2,3,5,7,8. A mesma imagem pode ser visibilizada com diferentes ajustes da janela, de modo a evidenciar as diferentes estruturas de cada vez, permitindo, por exemplo, o estudo dos ossos com distinção entre cortical e medular óssea ou o estudo das partes moles correspondentes. O uso de uma só janela para avaliar estruturas com atenuações diferentes pode levar a erros de interpretação 6,9. Uma vantagem da TC sobre a radiologia convencional é o contraste superior dos tecidos. Isso é denominado resolução

de contraste e consiste na habilidade de detectar diferenças na composição dos tecidos. Os filmes e écrans convencionais podem perceber diferenças no tecido de atenuação dos raios-X de menos de 5%, enquanto a TC percebe diferenças bem menores 2,5, de 1% ou menos 2. Como na radiografia convencional o que está sendo analisado são diferenças de densidade, estas podem ser medidas em unidades Hounsfield (UH). Para descrever diferenças de densidade entre dois tecidos é utilizada uma nomenclatura semelhante à utilizada na ultrassonografia: isoatenuante, hipoatenuante ou hiperatenuante. Isoatenuante é utilizada para atenuações tomográficas semelhantes; hipoatenuante, para atenuações menores do que o tecido considerado padrão; e hiperatenuante, para atenuações maiores que o tecido padrão 1,8. Geralmente, o órgão que contém a lesão é considerado o tecido padrão – ou, quando isso não se aplica, o centro da janela é considerado isoatenuante 8. Indicações A aplicação mais comum da TC para avaliação da coluna vertebral inclui a suspeita de doença de disco intervertebral, estenose espinhal e massas vertebrais. A TC é frequentemente menos sensível que a ressonância magnética para discriminação de tecidos moles dentro do canal vertebral. Entretanto, a TC é mais sensível que a ressonância magnética para calcificação de partes moles, osteófitos e alterações degenerativas

nos processos articulares 7. É essencial que a lesão seja estudada previamente por exame neurológico e radiográfico simples e/ou mielografia, tendo em vista que o exame tomográfico deve ser realizado em um local préestabelecido e não percorrer toda a coluna vertebral. Quando corretamente utilizada, a TC complementa as radiografias padrão e não as substitui, sendo essencial em todos os casos que ela seja precedida por esses exames 6,10. Técnica tomográfica As imagens tomográficas podem ser obtidas em dois planos básicos: o transversal (perpendicular ao maior eixo do corpo) e o dorsal (paralelo à sutura coronal do crânio). Depois de obtidas as imagens, os recursos computacionais podem permitir reconstruções no plano sagital ou reconstruções tridimensionais 6 em aparelhos mais avançados, que também podem apresentar imagens coloridas 7. Para a realização do exame tomográfico da coluna vertebral preconiza-se a utilização do decúbito esternal 6; entretanto, o decúbito esternal pode ser utilizado para o segmento cervical e o decúbito dorsal na realização dos segmentos torácico, lombar e lombossacro, para minimizar os artefatos de moção relacionados com a respiração 7. É importante que a região de interesse esteja orientada perpendicularmente ao plano de corte. O posicionamento oblíquo pode dar margem a um falso diagnóstico positivo de assimetria anatômica 7.

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009

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Tomografia computadorizada x mielografia na avaliação da discopatia A anatomia óssea da coluna vertebral pela TC é retratada com excelente detalhamento. Os discos intervertebrais e ligamentos não são consistentemente visibilizados. A gordura epidural é vista como hipoatenuante em relação às estruturas da medula espinhal. O saco dural, que consiste em medula espinhal, vasos sanguíneos e meninges, aparece como uma estrutura oval uniforme com atenuação de partes moles. A discriminação desse conteúdo não pode ser feita 7,11. A TC sem contraste não é considerada valiosa na diferenciação de estruturas com atenuação de partes moles da medula espinhal (Figura 1a) – a não ser quando se verifique a presença de gordura epidural – e não é capaz de discriminar

Figura 1 - A) Imagem tomográfica digitalizada de corte do espaço intervertebral de C5-6 em decúbito dorsal, com ausência do meio de contraste em espaço subaracnoide e de gordura epidural, impossibilitando individualização da medula espinhal. B) Imagem tomográfica digitalizada do espaço intervertebral de C5-6 em decúbito dorsal, demonstrando meio de contraste no espaço subaracnoide e aspecto normal da medula espinhal (seta branca). Há discreta calcificação do disco intervertebral correspondente (seta vermelha)

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Figura 2 - Imagem tomográfica digitalizada de corte do espaço intervertebral de C4-5 com animal em decúbito dorsal, demonstrando grande quantidade de material hiperatenuante localizado ventralmente à direita do canal vertebral (seta vermelha), com ausência de meio de contraste no espaço subaracnoide e calcificação do disco intervertebral (seta branca) - compatível com extrusão de disco

moles (Figura 3) não pode ser evidenciado nas imagens de TC sem contraste 10,13. Cada vez mais a TC é utilizada na medicina veterinária para esclarecer achados ambíguos obtidos na mielografia convencional, particularmente quando há edema medular. Nesse caso, a TC pode discriminar lesão intramedular primária de causas extradurais de edema e ajudar na determinação definitiva da localização da hérnia de disco 15,16, sendo importante na documentação de extrusões de disco laterais, tanto no homem como no cão 17,18. A utilização de menor quantidade de contraste iodado no espaço subaracnoide pode também fornecer sensibilidade para a TC, minimizando os efeitos colaterais do meio de contraste 13,18. Serviço Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

B

Serviço Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Serviço Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

A

deformidade reversível de atrofia da medula 12. Por esse motivo, quando a TC é utilizada para avaliar a medula espinhal, é frequentemente necessária a injeção de contraste iodado no espaço subaracnoide ao mesmo tempo 2,6,9,12,13, porque a medula espinhal não pode ser claramente individualizada de outras estruturas com a mesma atenuação das imagens tomográficas simples 7,11,12,13. Assim sendo, na avaliação dessas afecções, a TC é considerada pouco vantajosa sobre a mielografia convencional 12. Entretanto, a TC associada com a mielografia é considerada superior à mielografia convencional na localização de compressão medular assimétrica 12,14, por possibilitar que a avaliação do espaço subaracnoide (Figura 1b) e das anormalidades extradurais 6,9 seja mais detalhada – e por isso é de extrema valia para o direcionamento cirúrgico 12,14. A presença de material de disco herniado calcificado no canal vertebral é aparente mesmo sem a injeção de contraste no espaço subaracnoide ou intravenoso (Figura 2). Há várias vantagens na utilização da TC sem o meio de contraste na identificação de hérnias de disco. É uma técnica diagnóstica não invasiva, livre das complicações que podem ocorrer na mielografia com o meio de contraste. O tempo gasto no diagnóstico também é um fator positivo para animais sob anestesia geral, minimizando o tempo de anestesia. O material de disco calcificado pode ser claramente visibilizado nas imagens tomográficas; entretanto, o material de disco herniado com características de atenuação de partes

Serviço Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

Os pacientes devem ser colocados no plano anestésico de rotina para que se possa colocá-los no posicionamento exato e para que os artefatos de moção sejam minimizados 6,7. É recomendável que os cortes sejam realizados incluindo um espaço intervertebral cranial e caudal ao local da lesão de interesse. É preferível que sejam realizados cortes de pequena espessura da lesão quando esta for bem localizada (1,5mm), ou cortes mais espessos (3mm), quando há necessidade de avaliar um segmento maior da coluna vertebral. Como alternativa, alguns cortes podem ser feitos através de múltiplos espaços intervertebrais, omitindo segmentos dos corpos vertebrais que não sejam desejados 6.

Figura 3 - Imagem tomográfica do espaço intervertebral de C6-7, demonstrando compressão medular ventrolateral à direita por componente com atenuação de partes moles (seta), impossibilitando diferenciação entre extrusão e protrusão mesmo com presença de meio de contraste no espaço subaracnoide - hérnia de disco

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Serviço Diagnóstico por Imagem - HOVET - FMVZ/USP

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Disponível em: <http://www.ivis.org/special_ books/Braund/jones/chapter_frm.asp?LA=1> Acesso em: 27 jun. 2006. 08-LEITE, C. C. ; AMARO JUNIOR, R. E. ; OTADUY, M. G. Física básica da tomografia computadorizada. Disponível em: < http:// www.hcnet.usp.br/inrad/departamento/graduacao/aula/Fisica%20basica%20da%20tomografia%20computadorizada.doc> . Acesso em: 22 jun. 2006.

B

A

Figura 4 - A) Imagem radiográfica contrastada (mielografia) indicando desvio dorsal da coluna de contraste ventral por material radiopaco, com interrupção entre C4-5 (seta branca) e calcificação do disco intervertebral correspondente (seta verde). B) Imagem tomográfica de corte realizado no mesmo espaço intervertebral de C4-5, indicando severa compressão medular delimitada por meio de contraste (seta vermelha), causada por material hiperatenuante localizado ventralmente à medula (seta branca), e calcificação do disco intervertebral (seta amarela), compatível com extrusão de disco intervertebral

A TC é ainda de grande valia em casos em que ocorre uma interrupção completa ou incompleta do meio de contraste à mielografia. A melhor resolução da TC possibilita a visibilização de menor quantidade de meio de contraste no espaço subaracnoide que pode ser encontrado posteriormente ao ponto da interrupção indicado pela mielografia 10,15 (Figura 4). A TC associada com mielografia também tem sido utilizada para avaliar a eficácia da descompressão medular e as mudanças na forma da medula após a remoção da lesão compressiva. Essa modalidade de imagem tem sido considerada importante, por fornecer mais informações que a mielografia convencional pós-operatória 12. Em comparação com a TC, a mielografia convencional é mais vantajosa por fornecer uma imagem panorâmica da coluna vertebral e facilitar a avaliação da natureza dinâmica da lesão 13,20. A utilização da TC ainda é restrita a algumas instituições de ensino e a poucos centros particulares de diagnóstico. O custo e a falta de disponibilidade do método para o uso efetivo no diagnóstico de hérnias constituem fatores limitantes para muitos veterinários, principalmente nos casos de hérnias agudas que necessitem de cirurgia imediata 13. Considerações finais A TC, quando associada aos exames radiográficos simples e à mielografia prévios para o direcionamento do exame, constitui uma ferramenta importante no diagnóstico das discopatias, por fornecer informações precisas quanto ao grau de compressão medular, à localização e à 52

extensão da lesão, sendo mais precisa que a radiografia convencional na avaliação de extrusões calcificadas e na ausência ou diminuição da quantidade de meio de contraste. Portanto, exames radiográficos simples, mielografia e TC se complementam, fornecendo informações e orientações preciosas para o planejamento clínico-cirúrgico. Agradecimentos À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pela bolsa concedida (Processo nº 04/11048-5). Referências 01-ELIAS JUNIOR, J. Aspectos técnicos da imagem em tomografia computadorizada. RCG319 - Ciência das Imagens e Física Médica - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://cci.fmrp.usp.br/siaenet/novo_siae/download/Tomografia.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2006. 02-SANDE, R. D. Radiography, myelography, computed tomography, and magnetic resonance imaging of the spine. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, n. 4, p. 811-831, 1992. 03-HATHCOCH, J. T. ; STICKLE, R. L. Principles and concepts of CT. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 23, n. 2, p. 399-415, 1993. 04-OWENS, J. M. ; BIERY, D. N. Spine. In:___. Radiographic interpretation for the small animal clinician. 2. ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1999. p. 127-146. 05-TIDWELL, A. S. ; JONES, J. C. Advanced imaging concepts: a pictorial glossary of CT and MRI technology. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 14, n. 2, p. 65-111, 1999. 06-STICKLE, R. L. ; HATHCOCK, J. T. Interpretation of computed tomographic images. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 23, n. 2, p. 417-435, 1993. 07-JONES, J. C. ; BRAUND, K. G. Clinical neurology in small animals - localization, diagnosis and treatment. International Veterinary Information Service, Ithaca NY, 2002.

09-ADAMS, W. H. The spine. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 14, n. 3, p. 148-159, 1999. 10-BURGESE, L. F. Radiologia convencional e tomografia computadorizada na avaliação de cães portadores de discopatia cervical: estudo comparativo. São Paulo, 2006. 152 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. 11-JONES, J. C. ; CARTEE, R. E. ; BARTELS, J. E. Computed tomographic anatomy of the canine lumbosacral spine. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 36, n. 2, p. 91-99, 1995. 12-SHARP, N. J. H. ; COFONE, M. ; ROBERTSON, I. D. ; DE CARLO, A. ; SMITH, G. K. ; THRALL, D. E. Computed tomography in the evaluation of caudal cervical spondylomyelopathy of the Doberman pinscher. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 36, n. 2, p. 100-108, 1995. 13-OLBY, N. J. ; MUÑTANA, K. R. ; SHARP, N. J. H. ; THRALL, D. E. The computed tomographic appearance of acute thoracolumbar intervertebral disc herniations in dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 41, n. 5, p. 396-402, 2000. 14-HARA, Y. ; TAGAWA, M. ; EJIMA, H. ; ORIMA, H. ; FUJITA, M. Usefulness of computed tomography after myelography for surgery on dogs with cervical intervertebral disc protrusion. Journal of Veterinary Medical Science, v. 56, n. 4, p. 791-794, 1994. 15-PARK, R. D. Diagnostic imaging of the spine. Progress Veterinary Neurology, v. 1 n. 4, p. 371-386, 1990. 16-BAGLEY, R. S. ; TUCKER, R. L. ; MOORE, M. P. ; HARRINGTON, M. L. Intervertebral disk extrusion in a cat. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 36, p. 380-382, 1995. 17-BAGLEY, R. S. ; PLUHAR, G. E. ; ALEXANDER, E. Lateral intervertebral disk extrusion causing lameness in a dog. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 205, n. 2, p. 181-185, 1994. 18-BAGLEY, R. S. ; TUCKER, R. ; HARRINGTON, M. L. Lateral and foraminal disk extrusion in dogs. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 18, n. 7 p. 795-804, 1996. 19-SEIM, H. B. ; WITHROW, S. J. Pathophysiology and diagnosis of caudal cervical spondylomyelopathy with emphasis on the doberman pinscher. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 18, p. 241-251, 1982. 20-YU Y. L. ; DU BOULAY, G. H. ; STEVENS, J. M. ; KENDALL, B. E. Computed tomography in cervical spondylotic myelopathy and radiculopathy: visualization of structures, myelographic comparison, cord measurements and clinical utility. Neuroradiology, v. 28, n. 3, p. 221-236, 1986.

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Utilização da ultrassonografia no diagnóstico das nefromegalias em pequenos animais - revisão de literatura

Simone Cristine Monteiro MV, mestranda CCV/UFPR simomonteiro@hotmail.com

Tilde Rodrigues Froes MV, profa. adj. DMV/UFPR tilde@ufpr.br

Ultrasound in the diagnosis of renomegaly in small animals - literature review El uso de la ecografía para el diagnóstico de las nefromegalias en pequeños animales revisión de literatura Resumo: A nefromegalia em pequenos animais pode resultar de diferentes distúrbios fisiopatológicos, desde doença renal infiltrativa a alteração neoplásica ou processos obstrutivos do trato urinário. A ultrassonografia é um método valioso na avaliação das doenças renais. É uma técnica não invasiva, requer pouca preparação do paciente e não possui efeitos colaterais ou reações adversas. O reconhecimento ultrassonográfico das alterações renais que causam nefromegalia auxilia o clínico a estreitar a sua lista de diagnósticos diferenciais e compreender o prognóstico do paciente. Esta revisão de literatura compila informações sobre os aspectos ultrassonográficos das diferentes causas de nefromegalia em cães e gatos. Unitermos: rim, nefropatias, trato urinário, ultrassom

Abstract: Renomegaly in small animals can result from different pathophysiological processes, such as inflammatory renal disease, neoplastic alterations or obstructive processes of the urinary tract. Ultrasonography is a valuable method to evaluate kidney disease. This technique is noninvasive, does not require extensive patient preparation and has no side effects. Ultrasound recognition of the renal disorders that underlie renomegaly may assist the clinician to narrow down the differential diagnosis and to understand patient prognosis. This review gathers information about ultrasonographic aspects and different causes of renomegaly in dogs and cats. Keywords: kidney, nephropathy, urinary tract, sonography Resumen: La nefromegalia puede ser el resultado de distintas alteraciones fisiopatologicas, desde una enfermedad renal a una alteración neoplásica o procesos obstructivos del tracto urinario. La ecografía es un método valioso en la evaluación de las enfermedades renales en pequeños animales. Es una técnica no invasiva, requiere poca preparación del paciente y no tiene efectos colaterales o reacciones adversas. El reconocimiento ecográfico de las alteraciones renales que causan nefromegalia, nos proporciona información que puede auxiliar al clínico a reducir la lista de diagnósticos diferenciales. Esta revisión de literatura reúne la información sobre los aspectos ecográficos de las posibles causas de nefromegalia en perros y gatos. Palabras clave: riñón, nefropatías, tracto urinario, ultrasonido

Clínica Veterinária, n. 80, p. 54-58, 2009

Introdução A ultrassonografia do trato urinário tem sido amplamente utilizada na medicina veterinária em diversas situações clínicas. A técnica é eficaz e complementa informações obtidas por outros métodos, quer sejam clínicos (palpação abdominal), laboratoriais ou radiográficos, sendo de fundamental importância na análise de diferentes enfermidades renais em cães e gatos 1,2. Dentre essas enfermidades, podem ser enfatizadas aquelas que causam aumento de tamanho dos rins, observados nos exames clínico e radiográfico 2. A nefromegalia é também reconhecida 54

pelo exame radiográfico simples e pela urografia excretora, técnica esta que, durante muito tempo, foi considerada de escolha para tal análise. Apesar dos efeitos limitantes de magnificação, o exame radiográfico possibilita o estabelecimento de correlações com outras regiões anatômicas – como corpos vertebrais – na definição das nefromegalias, o que é especialmente importante em cães, cujas diferenças raciais dificultam o diagnóstico sonográfico de tal alteração 3. Todavia, a observação das diferentes estruturas renais, como cápsula, cortical, medular, pelve e divertículos, só é possível com a ultrassonografia.

Ou seja, a ultrassonografia é um método não invasivo que, independentemente da função renal, possibilita a avaliação interna do parênquima sem efeitos colaterais, como a radiação ionizante 1,2,4-6. A ultrassonografia permite a mensuração dos rins com alto grau de precisão e reprodutibilidade, refletindo as verdadeiras dimensões desses órgãos, posteriormente constatadas à necrópsia 7. Estudos realizados em seres humanos confirmam que a mensuração do comprimento bipolar é um indicador bastante confiável do tamanho renal 8. Essa mensuração é aparentemente mais fidedigna em gatos do que em cães porque, como na primeira espécie há menor variação de porte, o tamanho normal do rim varia de 3 a 4,3cm de comprimento 9. Em cães, estudos de correlações entre peso corporal e volume ou comprimento bipolar ultrassonográfico indicaram a viabilidade da técnica. Entretanto, existem divergências sobre a sua real aplicabilidade, pois alguns pesquisadores acreditam que o desvio padrão entre as correlações ainda é muito alto, o que poderia limitar o seu uso 1,2,10. Uma investigação recente relata a utilização da correlação do comprimento renal com o diâmetro da aorta (R/Ao) como método sonográfico alternativo e aparentemente bem reprodutível para a análise do tamanho dos rins de cães, sugerindo ser esta uma melhor forma de análise. Após confirmar a reprodução

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dessas medidas em 92 cães sem sinais evidentes de doença renal, observou-se que as razões R/Ao obtidas dos lados direito e esquerdo são satisfatoriamente similares e que, com base em um intervalo de confiança de 95%, o tamanho renal pode ser classificado como diminuído quando o R/Ao é < 5,5 e aumentado quando o R/Ao é > 9,1 11. Por ser um exame que permite a avaliação interna do parênquima, possibilitando diferenciar lesões cavitárias, císticas e massas sólidas, bem como distinguir lesões perinéfricas de outras massas retroperitonais, o ultrassom se constitui em uma valiosa modalidade diagnóstica. Todavia tem limitações, como fornecer pouca informação sobre a função renal e ser extremamente dependente da competência do avaliador 1,2,6,12.

Nefromegalia e ultrassonografia As causas da nefromegalia podem ser classificadas em três categorias: doenças do parênquima renal (difusa, focal e

Doenças parenquimais As alterações parenquimais difusas que causam aumento do tamanho renal em gatos incluem o linfoma renal e a nefrite piogranulomatosa secundária à peritonite infecciosa felina (PIF) 3,6. Nos cães, merece destaque a amiloidose renal, além da hipertrofia renal e da insuficiência renal aguda, desordens predisponentes nas duas espécies citadas. O grau de aumento correlaciona-se à severidade da lesão, embora se acredite que o linfoma renal nos gatos usualmente gera nefromegalias mais severas 3,6. É muito difícil diferenciar o linfoma renal e as alterações correlacionadas à PIF nos rins dos gatos, pois as duas enfermidades podem apresentar aspectos sonográficos muito semelhantes, como nefromegalias em conjunto com o aumento severo da ecogenicidade da camada cortical renal ou a presença de nódulos hipoecóicos 1,13. Vale destacar que, habitualmente, essas afecções são bilaterais. Entretanto, a presença de efusão subcapsular tem sido descrita como um achado preditivo para o linfoma renal, o que pode se constituir no grande diferencial entre as duas afecções (Figura 1). A efusão subcapsular pode estar correlacionada a um hematoma subcapsular que causa aumento ainda maior do órgão, aumento este que é identificado somente pela ultrassonografia. Evidentemente, o diagnóstico definitivo e, principalmente, o diagnóstico diferencial entre o linfoma e a PIF, só podem ser estabelecidos com o auxílio do Tilde Rodrigues Froes

Diagnóstico da nefromegalia Acredita-se que o reconhecimento da presença de nefromegalia ao exame sonográfico, associado a informações como história e sinais físicos, permite ao clínico estreitar a sua lista de diagnósticos diferenciais 13. Sabe-se que a nefromegalia resulta de diferentes processos fisiopatológicos, como infiltração do parênquima renal por doença inflamatória ou neoplásica, anormalidades estruturais do desenvolvimento, que geram injúria renal, ou alterações secundárias a processos obstrutivos no sistema coletor 1,2,6,13. Ressalte-se que o bom exame sonográfico sempre deve estar correlacionado às características clínicas do paciente. Sabidamente, algumas raças de cães e gatos estão mais sujeitas a enfermidades que causam nefromegalia, como o sharpei, frequentemente acometido por amiloidose renal; o pastor alemão, que tende a desenvolver cistadenocarcinoma renal associado a dermatofibrose nodular; o cairn terrier e o bull-terrier, suscetíveis a doença renal policística (DRP); assim como os gatos persas e mestiços dessa raça 2,5,6,13,14. Os diferentes aspectos ultrassonográficos das principais enfermidades renais que podem culminar em nefromegalia são apresentados a seguir.

multifocal), desordens subcapsulares e peri-renais, e afecções do sistema coletor 13.

Figura 1 - Imagem ultrassonográfica de corte transversal de um gato, sem raça definida, com linfoma renal e efusão subcapsular (cabeça de seta vermelha). Aumento da ecogenicidade da cortical, aumento de tamanho renal e área hipoecogênica em cortical renal (seta branca)

exame cito-histopatológico. Assim, a punção ecodirigida do hematoma subcapsular é indicada para a elucidação do quadro desses pacientes 13,15,16. Outros diferenciais do hematoma subcapsular serão discutidos posteriormente. Em cães, outras doenças parenquimatosas que podem predispor à nefromegalia devem ser destacadas, como a leptospirose e a hipertrofia renal decorrente de desvio porto-sistêmico congênito (como consequência da hipertensão portal). Ainda assim, outros achados sonográficos na silhueta renal – e em outros órgãos da cavidade abdominal destes pacientes – geralmente estão presentes e devem ser investigados durante o exame 17,18. A hipertrofia renal compensatória, que pode ser difusa ou focal, é uma variação que pode acometer todas as espécies. Resultado da nefrectomia unilateral ou da perda funcional de um dos rins, usualmente a forma difusa está correlacionada ao aumento da dimensão renal (rim hipertrofiado), sem a evidenciação de outras alterações sonográficas 4. Dentre as doenças focais renais que podem causar nefromegalia estão os cistos renais simples (CRS), a doença renal policística, os neoplasmas, os hematomas e os abscessos 13. Em cães, gatos e humanos, os CRS geralmente são achados incidentais em exames ultrassonográficos abdominais realizados por outra suspeita. Há relatos sobre essa alteração em necropsias ou autópsias. Os CRS são benignos e, na maioria dos casos, assintomáticos, não requerendo tratamento 19. Já a doença renal granulocística e as doenças císticas crônicas podem provocar insuficiência renal crônica e morte 20,21. Uni ou bilaterais, os CRS são constituídos por uma estrutura bem delimitada por uma camada de tecido epitelial, localizam-se na região cortical renal ou medular e têm conteúdo líquido em seu interior. No exame ultrassonográfico, são visualizados como lesões de forma arredondada ou oval, com conteúdo anecóico, parede fina e hiperecogênica associada ao reforço acústico posterior (Figura 2). Variam de tamanho e largura. Quando grandes podem deformar os rins e a sua fisiopatologia ainda é incerta e discutível 5,22,23. Já na doença renal policística, mais comum em gatos porém descrita também

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Simone Cristine Monteiro

Figura 2 - Imagem ultrassonográfica de um rim de cão, sem raça definida, portador de doença renal policística. Presença de cistos em cortical renal (setas brancas)

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Desordens subcapsulares e peri-renais Outros diferenciais para as nefromegalias são as desordens subcapsulares e peri-renais, dentre as quais se incluem os hematomas subcapsulares – anteriormente descritos – e as lesões peri-renais, como os abscessos, os urinomas e os pseudocistos perinéfricos. Essas afecções não causam aumento do parênquima propriamente dito e dificilmente são diferenciadas das outras causas de nefromegalias somente à palpação ou ao exame radiográfico 2,13. O acúmulo peri-renal de fluido pode ser resultado do extravazamento de urina, hemorragia, abscesso, pseudocistos ou neoplasmas. Quando se utiliza somente o exame sonográfico é difícil diferenciar tais fluidos, ainda que existam características que, eventualmente, auxiliem nessa distinção. Os hematomas e os abscessos apresentam-se como componentes anecogênicos, hipoecogênicos ou hiperecogênicos, variação esta que é influenciada pelo tempo de existência da lesão 29,30. O aspecto ultrassonográfico dos hematomas depende também da fase evolutiva dos mesmos. Os hematomas agudos são ecogênicos, tornando-se anecogênicos com o passar do tempo, conforme se processam a retração e a lise do coágulo. Nas fases subsequentes, essas lesões são evidenciadas como coleções líquidas com material amorfo e ecogênico de permeio (coágulos) ou com efeitos de massa de natureza mista, dependendo de seu grau de organização. Já a característica sonográfica dos abscessos perinéfricos são as coleções Tilde Rodrigues Froes

em algumas raças de cães, como o bull terrier, os rins têm seu tamanho aumentado e podem conter centenas de cistos de diferentes tamanhos com conteúdo líquido. O tamanho dos cistos depende da idade do animal – geralmente, animais mais velhos apresentam cistos de maior tamanho e em maior número. Os cistos de tamanhos variáveis podem ser encontrados no córtex, na medula e na papila renal 5,13,23. A compressão do parênquima normal pelos cistos é o principal fator desencadeante da doença renal crônica. O ultrassom é um método diagnóstico definitivo e não invasivo para determinar a presença da doença. Cistos de 2mm podem ser vizibilizados com transdutor de alta frequência (7,5 a 10MHz). O ideal é que o diagnóstico sonográfico seja realizado antes que a doença renal crônica se instale. Confirma-se o diagnóstico quando da identificação dos cistos em ambos os rins, principalmente em gatos de raças e famílias predispostas 5,6,23,24. Outras doenças – como hematomas, abscessos e tumores – devem ser incluídas no diagnóstico diferencial sonográfico dos cistos, principalmente se as paredes dessas estruturas forem espessas e irregulares – com septações em seu interior – ou, ainda, se o conteúdo não for totalmente anecóico. O diagnóstico conclusivo deve ser associado à história clínica, ao exame físico, a testes laboratoriais e, evidentemente, à drenagem dessas estruturas, guiada pela ultrassonografia 1,2,23,25,26. A aparência ultrassonográfica dos neoplasmas renais focais ou multifocais é variável. A maioria das massas é invasiva, expansiva e destrói a arquitetura normal do parênquima 6. Geralmente, tais

massas são heterogêneas e apresentam áreas de necrose, edema, mineralização ou hemorragia no tecido neoplásico 1,6,13,27. Entre os neoplasmas primários que acometem o parênquima renal incluemse o adenocarcinoma, o nefroblastoma, o adenoma renal, o adenoma papilar e o tumor de células mistas, que usualmente afetam cães e frequentemente são unilaterais. Dentre os neoplasmas metastáticos, mais comuns do que os neoplasmas primários, incluem-se o hemangiossarcoma, o osteossarcoma, o melanoma, o mastocitoma e os carcinomas pulmonar, mamário ou gastrintestinal 13. O neoplasma renal primário é raro em pequenos animais, correspondendo a cerca de 1,7 % dos tumores relatados em cães 1,3,6,12,13. Em um estudo retrospectivo observou-se que, de 82 cães com neoplasma primário, 49 apresentavam carcinoma renal, 28 tinham sarcomas e cinco, nefroblastomas. Os tumores ocorreram com igual frequência em cada lado, e somente 4% dos animais acometidos desenvolveram tumores bilaterais. Destes, 16% apresentavam metástase pulmonar e 77% tinham sinais de doença metastática ao final do curso da doença 28. Como reportado anteriormente, o linfoma é o neoplasma renal mais comum em gatos e é caracterizado pelo envolvimento difuso do parênquima renal 1,12,13,15,28. As massas uniformemente hipoecogênicas são também relacionadas aos linfomas renais 27. A síndrome cistoadenocarcinoma e dermatofibrose nodular (CA/DN) é uma doença rara, de origem hereditária autossômica dominante, que também causa nefromegalia e acomete quase que exclusivamente cães da raça pastor alemão. Alguns autores relatam que as lesões renais estão associadas à metástase dos nódulos cutâneos, caracterizada por dermatofibrose nodular. As lesões renais – que podem deformar o parênquima renal – são usualmente císticas, atingem os rins bilateralmente, têm tamanho variável e são tipicamente múltiplas (Figura 3). Os cistos em região cortical renal podem atingir 25cm de diâmetro e conter líquido claro a marrom escuro. O parênquima perde sua forma, contorno e característica habituais 14.

Figura 3 - Imagem ultrassonográfica de um rim de cão da raça pastor alemão com cistoadenocarcinoma nodular. Aumento de tamanho e perda de estrutura renal, áreas cavitárias com conteúdo hipoecogênico e celular (setas brancas) e área nodular de ecogenicidade mista (seta vermelha)

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Figura 5 - Imagem de necropsia demonstrando o aumento de tamanho de um dos rins de cão da raça poodle com hidronefrose (seta branca), em relação ao rim contra-lateral, de tamanho normal (seta amarela) Simone Cristine Monteiro

Figura 6 - Imagem ultrassonográfica de um rim de um cão da raça pastor alemão com nefrolitíase. Estrutura hiperecogênica produtora de sombra acústica em região da pelve renal (seta amarela) e hidronefrose (seta vermelha) Simone Cristine Monteiro

Alterações do sistema coletor Dentre as alterações do sistema coletor que provocam aumento da silhueta renal, a mais significativa é a hidronefrose, embora a pionefrose e a pielonefrite aguda também possam causar aumentos nesse órgão 13. A hidronefrose é caracterizada pela dilatação da pelve e dos divertículos renais em consequência de obstrução mecânica ou funcional do fluxo urinário, uni ou bilateral. As causas da hidronefrose são os processos obstrutivos da bexiga, como o carcinoma de células transicionais, a nefrolitíase e as obstruções ureterais e uretrais (ex: ureter ectópico, cálculos, compressão externa por massas, fibrose etc.). Em algumas das situações mencionadas, o exame sonográfico auxilia na busca dessas ocorrências (Figuras 4 , 5 e 6). Quando unilateral, geralmente os aumentos são mais evidentes. Todavia, animais com hidronefrose bilateral usualmente morrem por uremia após a nefromegalia tornarse severa e haver completa perda do parênquima renal 1,4,6,13,36. A obstrução ureteral com destruição parenquimal e hidronefrose causada pelo parasitismo renal – como nos casos de Dioctiophyma renale – deve ser lembrada pois, apesar de ser pouco comum, sua evidência atinge as regiões de focos geográficos conhecidos, nas quais há maior prevalência da doença 35 (Figura 7).

Figura 4 - Imagem ultrassonográfica de um rim de cão da raça sharpei, com silhueta aumentada de tamanho, perda da diferenciação córticomedular e dilatação de pelve renal (hidronefrose) (seta amarela) Simone Cristine Monteiro

ultrassonográfica do pseudocisto perirenal é a presença de conteúdo anecogênico entre a cápsula e o parênquima renais. Em cães, gatos e humanos, os achados clínicos do acúmulo de fluido entre a cápsula renal e o rim incluem distensão abdominal progressiva e massa palpável na região renal (aumento de tamanho). O pseudocisto pode chegar ao dobro do tamanho do rim afetado ou mais 26. A presença de fluido com ecogenicidade mista sugere a possibilidade de outros diagnósticos diferenciais, como hematomas, abscessos perinéfricos e efusões neoplásicas 24,33,34. Embora as causas do pseudocisto perinéfrico ainda não estejam bem estabelecidas, alguns autores sugerem que, além das nefrites intersticiais crônicas, os carcinomas de células de transição devem ser incluídos na lista de diagnósticos diferenciais em casos de pseudocisto perinéfrico em felinos 34.

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líquidas de ecogenicidade complexa, contendo debris 4,23. O diagnóstico ultrassonográfico diferencial com outras coleções líquidas é inviável, sobretudo em hematomas em fase de organização, o que torna imprescindíveis a correlação com outros dados clínicos e a análise do material por aspiração do conteúdo líquido 4,23. Os hematomas subcapsulares ou perirenais geralmente ocorrem após um trauma abdominal fechado ou em decorrência de uma complicação de biópsia renal ou um distúrbio de coagulação. A intoxicação por um tipo de cumarínico, o Brodifacoum, proporcionou o aparecimento de hematomas subcapsulares em um cão, confirmando que os distúrbios de coagulação são uma das causas de hematomas renais 30. Recentemente, um estudo retrospectivo demonstrou que a insuficiência renal aguda, decorrente de nefrotoxicidade, leptospirose, obstrução ureteral, linfoma renal, ureteronefrolitíase, obstrução uretral prostática e nefrite-uretrite intersticial, também pode estar correlacionada ao acúmulo de efusão perirenal, o que dificulta ainda mais o estabelecimento de diagnósticos diferenciais 31. Os abscessos peri-renais de cães e gatos geralmente são unilaterais e, aparentemente, as fêmeas são mais acometidas 25,26. Gatos podem apresentar abscessos associados à pielonefrite crônica 29. Há relatos de presença de abscessos renais em cães com diabete mellitus e nefrolitíase 25,26. Nos casos de pielonefrite, o aumento de tamanho dos rins pode ser brando ou moderado durante a fase aguda. A presença de pionefrose, termo que se refere à distensão da pelve renal por conteúdo purulento, pode estar relacionada a quadros de uropatia obstrutiva. Frente a essa alteração, pode ocorrer perda parcial ou total da função renal e da característica sonográfica renal 13,32. Os pseudocistos perinéfricos, comuns em gatos e raros em cães, consistem em acúmulo de fluido seroso delimitado por um saco fibroso, em um ou em ambos os rins. O termo pseudocisto é utilizado porque, embora tenha aparência similar à de um cisto, o pseudocisto não é delimitado por uma camada de tecido epitelial, como ocorre no cisto verdadeiro 1,4,13,24,33. A característica

Figura 7 - Imagem ultrassonográfica de um rim de cão da raça red hiller, parasitado por Dioctiophyma renale. Imagem de emaranhado de linhas e círculos ecogênicos dentro do órgão (seta branca)

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Considerações finais De acordo com as informações obtidas nesta revisão, o aumento da silhueta renal pode ser consequência de doenças frequentemente encontradas na rotina da clínica médico-veterinária ou de desordens raramente detectadas nesse âmbito. Em ambas as situações, os achados do exame ultrassonográfico são determinantes para a tomada de decisões clínico-cirúrgicas em relação a pacientes com nefromegalia. Assim sendo, a ultrassonografia é o método diagnóstico de escolha para a diferenciação das enfermidades relatadas, além de se constituir em valiosa ferramenta de auxílio às punções dirigidas. Referências 01-NYLAND, T. G. ; MATTOON, J. S. ; HERRGESELL, E. J. ; WISNER, E. R. Urinary tract. In: Small animal diagnostic ultrasound. 2. ed. Philadelphia, Saunders. 2002, p. 158-195. 02-GROOTERS, A. M. ; CUYPERS, M. D. ; PARTINGTON B. P. ; WILLIAMS, J. ; PECHMAN, R. D. Renomegaly in dogs and cats. Part II. Diagnostic approach. The Compendium of Continuing Education for Practicing Veterinarian, v. 19, n. 11, p. 1213-1229, 1997. 03-FEENEY, D. D. ; JOHNSTON, G. R. The kidneys and ureters. In: Textbook of veterinary diagnostic radiology. 5. ed. Philadelphia, Saunders. 2007, p. 693-707.

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Ultrassonografia testicular em onças pintadas (Panthera onca)

Regina Celia Rodrigues da Paz MV, MSc, PhD, profa. adj. DCBPA/FAMEV/UFMT reginacrpaz@gmail.com

Adauto Luis Veloso Nunes Médico veterinário, MSc PZMQB anunes@directnet.com.br

Renato Campanarut Barnabe

Testicular ultrasonography in jaguars (Panthera onca)

MV, MSc, PhD, prof. tit. aposentado VRA/FMVZ/USP rcbarnabe@usp.br

Ultrasonografía testicular en jaguares (Panthera onca) Resumo: O objetivo deste estudo foi verificar a eficiência da ultrassonografia testicular na seleção de machos para planos de manejo reprodutivo. Foram realizados exames andrológico e ultrassonográfico em quatro machos de onça-pintada (Panthera onca). O exame andrológico indicou consistência normal dos testículos e pênis com quantidade reduzida de espículas em todos os animais. Três animais apresentaram produção e qualidade espermáticas normais e testículos sem alteração ao exame ultrassonográfico. No quarto animal, observou-se elevado índice de anormalidades e baixa concentração espermática, e o exame ultrassonográfico indicou alterações degenerativas em processo inicial. Por ser uma técnica não-invasiva, a ultrassonografia testicular é um método diagnóstico auxiliar na seleção de machos a integrar planos de manejo reprodutivo para espécies ameaçadas de extinção. Unitermos: animais silvestres, reprodução, diagnóstico por imagem, exame andrológico Abstract: The aim of this study was to evaluate the efficiency of testicular ultrasonography in the selection of males for reproductive management plans. Four male jaguars (Panthera onca) underwent andrological and ultrasonographic exams. The andrological examination revealed normal testicular consistence and few spines. Three animals presented normal sperm quality and production, without testicular alterations at the ultrasonographic exam. In the fourth animal, a high degree of abnormalities was found, as well as low sperm concentration and initial degenerative alterations. The non-invasive character of testicle ultrasonography makes it suitable as an auxiliary diagnosis tool that can be used in the selection of endangered animals for reproductive management plans. Keywords: wildlife animals, reproduction, diagnostic imaging, andrological exam Resumen: El propósito de este estudio fue evaluar la eficiencia de la ultrasonografía testicular en la selección de machos para planes de manejo reproductivo. Cuatro jaguares machos (Panthera onca) fueron evaluados con examen andrológico y ultrasonográfico. El examen andrológico evidenció en todos los animales consistencia normal de los testículos y pene con cuantidad reducida de espículas. Tres animales mostraron producción y cualidad normal de semen y testículos normales en la ultrasonografía. El cuarto animal demostró elevadas anormalidades, baja concentración espermática, con alteraciones degenerativas testiculares en proceso inicial evaluadas por la ultrasonografía. Por ser una técnica no invasiva, la ultrasonografía testicular es un método diagnóstico auxiliar en la selección de machos para planes de manejo reproductivo de especies amenazadas. Palabras clave: animales silvestres, reproducción, diagnóstico por imagen, examen andrológico

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Introdução A onça pintada é atualmente classificada como próxima da extinção pela Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza 1. Em cativeiro, o reduzido número de animais e o alto grau de parentesco têm sido barreira para a sobrevivência da espécie. Considerando a importância da manutenção de animais em cativeiro para a preservação da espécie, a reprodução de indivíduos geneticamente viáveis torna-se um componente indispensável. Para o manejo reprodutivo adequado da espécie é necessária a seleção de fundadores aptos à reprodução. A seleção de 60

machos reprodutores inicia-se pelos dados do histórico reprodutivo, com posterior exame físico e análise de sêmen, sendo estes os primeiros passos para se iniciar um programa investigativo. Quando tais exames são inconclusivos, pode-se utilizar técnicas de biópsia testicular. No entanto, por não ser um procedimento totalmente isento de riscos, a utilização desse método pode trazer consequências indesejáveis à vida reprodutiva do animal, sendo portanto, de uso desaconselhável em animais ameaçados de extinção, principalmente quando linhas genéticas não podem ser perdidas 2. A citologia aspirativa por agulha fina

(CAAF) é um método simples, rápido e mais seguro para a obtenção de amostras de órgãos e tecidos 3, surgindo como método alternativo na determinação da atividade espermatogênica 4. Essa técnica pode ser utilizada como parte do exame andrológico, indicada nos casos de aumento de volume testicular, oligozoospermia ou azoospermia 5,6,7, mas também é um método invasivo. Atualmente, os exames ultrassonográficos testiculares em humanos têm sido utilizados para o diagnóstico de casos em que apenas os exames iniciais mostram-se insuficientes e deseja-se evitar alternativas mais invasivas 8. Por não ser um método invasivo, esse exame pode ser utilizado na seleção de animais geneticamente importantes para espécies ameaçadas de extinção. Nesse sentido, animais geneticamente importantes, porém com problemas reprodutivos previamente diagnosticados, poderiam participar de programas utilizando-se as biotecnologias da reprodução, como a fertilização in vitro (FIV) ou a injeção intra-citoplasmática (ICSI). Com o objetivo de verificar a eficiência da ultrassonografia testicular em onças pintadas (Panthera onca), na tentativa de identificar alterações morfológicas imperceptíveis aos exames físico e andrológico, esta metodologia foi aplicada. Material e métodos Foram utilizados quatro machos de onça pintada (Panthera onca), com idades entre dez e doze anos, mantidos no Bosque dos Jequitibás, Campinas/SP

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B

A

Figura 1 - Biometria testicular realizada por ultrassom em testículo direito (A) e esquerdo (B) de onça pintada (Panthera onca)

depositada sobre lâmina de vidro para microscopia, coberta com lamínula e avaliada ao microscópio óptico binocular (BHK) em escala de 0 a 100% para motilidade e 0 a 5 para vigor 11. A morfologia e a concentração dos espermatozóides foram avaliadas por meio da fixação do ejaculado (1:3) em formol salino 10%. A concentração foi realizada utilizando-se câmara hematimétrica (câmara de Neubauer), sob microscopia óptica em aumento de 400x 12. Para determinação da morfologia espermática foi utilizada preparação em câmara úmida. Foram contadas 100 células por lâmina em microscópio de contraste de fase (ZEISS), em aumento 1000x. As anormalidades foram classificadas em defeitos maiores e defeitos menores, apresentadas em porcentagem 13. O teste t de Student foi utilizado para avaliar as diferenças entre biometria testicular por ultrassom e por paquímetro 14. Para descrição dos resultados, foram empregadas as médias e os desvios-padrão das médias. Resultados Em três dos quatro animais avaliados sonograficamente os parênquimas testiculares mostraram-se isoecogenicamente homogêneos, com funículos espermáticos, cabeças, corpos e caudas dos epidídimos hipoecogênicos, entremeados por áreas anecóicas arredondadas, sem alterações estruturais ou aumentos de

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a) Zoletil 50 ®. Virbac. do Brasil Ind. e Com. Ltda. São Paulo. SP

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(n = 2), no Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, Sorocaba/SP (n = 1) e na Fundação Parque Zoológico de São Paulo/SP (n = 1). Os animais foram anestesiados por dardos contendo a associação Tiletamina Zolazepan a, na dose 10mg/kg 9, lançados com o auxílio de zarabatana. Para realização do exame ultrassonográfico foram utilizados aparelho de ultrassom modo B em tempo real Aloka modelo SSD 210 DXII, transdutor linear de 5MHz Aloka e vídeo printer Sony modelo UP 890 MD. As áreas testiculares foram analisadas transversal e longitudinalmente quanto a forma, contornos, parênquima e tamanho. Os parênquimas testiculares foram avaliados ultrassonograficamente sob padrões e critérios de ecogenicidade relativa. Cabeça, corpo e cauda dos epidídimos e funículos espermáticos foram avaliados transversal e longitudinalmente. As imagens obtidas, tanto de aspectos de normalidade quanto de alterações, foram gravadas e impressas em papel térmico apropriado, após as medições pertinentes. A biometria testicular foi realizada ultrassonograficamente por calipers eletrônicos e externamente por paquímetro (Figuras 1 e 2). Foram aferidos comprimento e largura dos testículos direito e esquerdo. Os resultados obtidos foram analisados segundo a fórmula: V = C x L2 x 0,524, onde V é o volume a ser calculado, C é o comprimento do testículo e L é a largura do testículo 10. Obtém-se, dessa forma, o volume do testículo medido. Para aferição do volume total foram somados os volumes de cada testículo. Exame físico e palpação testicular foram realizados em todos os animais. Colheita de sêmen foi realizada por eletroejaculação utilizando-se aparelho Torjet 65C (Eletrovet) e eletrodo retal bipolar com 2,3cm de diâmetro e 9cm de comprimento, contendo três tiras longitudinais em cobre. A série de eletrochoques seguiu protocolo internacional utilizado em carnívoros selvagens 11. Para a obtenção do pH, uma gota do material obtido foi colocada sobre tira reagente (Sigma). Para avaliação imediata do sêmen, uma alíquota do ejaculado foi

Figura 2 - Biometria testicular realizada por paquímetro em onça pintada (Panthera onca)

ecogenicidade. Sacos escrotais e rafe apresentaram-se livres de aderência ou soluções de continuidade (Figura 3). Os valores de volume testicular obtidos por biometria ultrassonográfica foram 15; 16,2 e 23,3 cm3, e por paquímetro foram 33,8; 39 e 41,6 cm3 (Figura 4). À palpação, a consistência dos testículos apresentou-se normal e o exame do pênis indicou presença reduzida de espículas (Figura 5). Quanto à avaliação espermática, os animais avaliados apresentaram valores semelhantes aos descritos na literatura quanto a volume, pH, concentração, motilidade, vigor e morfologia espermáticas 9,15,16 (Figura 6). No quarto animal, o estudo ultrassonográfico revelou parênquima testicular esquerdo com áreas de hiper e hipoecogenicidade heterogêneas, ocupando aproximadamente 40% da área testicular total em plano longitudinal (Figura 7).

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Animais

Biometria ultrassonográfica (cm3) 15 16,2 23,3 26,3 20,2 ± 5,47 a

1 2 3 4 Média ± desvio padrão

Biometria com paquímetro (cm3) 33,8 39 41,6 34 37,1 ± 3,84 b

a e b - Significativamente diferentes ( p < 0,05)

Figura 4 - Comparação do volume testicular obtido por biometria ultrassonográfica e por paquímetro, em onças pintadas (Panthera onca) mantidas em cativeiro

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Figura 3 - Ultrassonografia testicular em onça pintada (Panthera onca): parênquimas testiculares direito e esquerdo isoecogenicamente homogêneos (secção longitudinal)

À secção transversal, tais áreas representaram aproximadamente 50% da área testicular total. Funículos espermáticos, epidídimos, sacos escrotais e rafes mostraram-se isentos de alterações ultrassonográficas. O volume testicular obtido por biometria ultrassonográfica e com paquímetro foi, respectivamente, 26,3 e 34 cm3 (Figura 4). À palpação, a consistência dos testículos apresentouse normal e o exame do pênis indicou presença reduzida de espículas. A avaliação espermática desse animal apresentou valores semelhantes aos encontrados na literatura quanto o volume, pH, motilidade e vigor 9, mas maior índice de anormalidades (Figura 8) e concentração espermática inferior àquela dos demais (Figura 6 ). Discussão Este estudo representa a primeira avaliação testicular por ultrassonografia realizada em onças-pintadas (Panthera onca), animal atualmente classificado Animais 1 2 3 4 Média

Volume (mL) 6 6,5 5,1 6 5,9 ± 0,6

Motilidade 70 60 50 70 62,5 ± 9,6

Figura 5 - Exame físico do pênis indicando presença reduzida de espículas

como “vulnerável” pela Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza 1. A reprodução de animais selvagens em cativeiro é considerada importante para a conservação de espécies ameaçadas, no entanto, nenhum relato sobre a realização de ultrassonografia testicular para diagnóstico de infertilidade em machos de onça-pintada (Panthera onca) foi encontrado na literatura. Diante da dificuldade de obter dados relacionados a exames ultrassonográficos em machos de onça-pintada (Panthera onca) e sendo esse um método diagnóstico não invasivo e isento de risco, o presente trabalho vem abrir um grande leque de possibilidades para o diagnóstico de problemas reprodutivos em felinos selvagens. Em estudo conduzido em homens, 40% de 658 indivíduos inférteis apresentaram, à ultrassonografia, afecções como varicoceles (21%), hidroceles (7%), anormalidades epididimárias Vigor (%) 4 4 3 3 3,5 ± 0,6

pH 8 8 8,5 8,5 8,25 ± 0,3

Concentração (x 106/mL) 1,2 1,8 1 0,2 1,05 ± 0,7

(6%), espermatoceles (6%), alterações intratesticulares hiper e hipoecogênicas (4,5%), cistos intratesticulares (1%) e tumores ou carcinomas in situ (0,6%) 17. O exame ultrassonográfico dos testículos de cães com marcantes alterações espermáticas demonstrou massas teciduais não palpáveis que, ao exame histológico, revelaram-se tumores de células de Sertoli 18. Em estudo realizado em caprinos da raça Alpina, um animal que tinha testículos atrofiados, degeneração testicular e diversas alterações espermáticas apresentou parênquima testicular heterogêneo com abundantes áreas ecodensas à ultrassonografia 19. Com a utilização da ultrassonografia foi possível diagnosticar 41 alterações no trato reprodutivo de um total de 100 garanhões reprodutores, determinando as seguintes alterações: varicocele (n = 9), hidrocele (n = 5), cisto (n = 21) e aderência da túnica vaginal (n = 6) 20. Em humanos, o exame ultrassonográfico testicular mostra-se uma técnica diagnóstica altamente sensível, podendo detectar problemas como infertilidade, prostatite ou orquialgia 21. Inicialmente, a ultrassonografia em animais de zoológico foi indicada como método auxiliar de diagnóstico. Posteriormente, muitas descrições do exame em várias espécies selvagens foram publicadas, mas o desenvolvimento de técnicas sonográficas para uso em animais exóticos tem sido esporádico. Nas espécies silvestres, o uso da ultrassonografia Defeitos maiores (%) 29 27 27 37 30 ± 4,8

Figura 6 - Análise do sêmen de onças pintadas (Panthera onca) mantidas em cativeiro

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Defeitos menores (%) 12 8 8 41 17,25 ± 15,9


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B1 Regina Celia Rodrigues da Paz

A B2 Figura 7 - Ultrassonografia testicular em onça pintada (Panthera onca): parênquima testicular esquerdo com 40% da área com hipoecogenicidade heterogênea (secção longitudinal)

é a ferramenta ideal para o estudo reprodutivo, pois permite a exploração nãoinvasiva da anatomia e da fisiologia desses animais 22,23. Embora a literatura não mencione estudos ultrassonográficos em testículos de onça pintada (Panthera onca), e tampouco sobre a biometria ultrassonográfica, foi possível constatar que tais avaliações são semelhantes aos dados obtidos em humanos e espécies domésticas como caninos, caprinos e equinos. Isto porque os parênquimas testiculares normais observados neste estudo mostraram-se isoecogenicamente homogêneos, analogamente às outras espécies, com presença de mediastino testicular central e hiperecogênico. Da mesma forma, a hipoecogenicidade heterogênea observada unilateralmente em um dos animais aqui avaliados indicou a ocorrência de alterações degenerativas em processo inicial, o que foi confirmado pela citologia aspirativa por agulha fina. O exame da CAAF realizado no animal em questão apresentou elevada porcentagem de células teratológicas (14%) 2. O referido animal também apresentou baixa concentração espermática (0,2x106/mL) e elevado índice de anormalidades espermáticas (78%). A presença de elevada porcentagem de defeitos menores (41%) pode estar relacionada ao aumento de temperatura do epidídimo 23. Com relação aos

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Figura 8 - Morfologia espermática de sêmen de onça pintada (Panthera onca): A) espermatozóide normal; B) defeitos maiores: B1) cauda fortemente enrolada, B2) tricefálico, B3) bicefálico, B4) cabeça lanciforme

defeitos maiores (37%), suas principais causas envolvem fatores genéticos, nutricionais e ambientais, sendo originados durante a espermatogênese 24. A pobre qualidade do sêmen em felinos selvagens brasileiros mantidos em cativeiro pode estar associada à baixa variabilidade genética, como descrito em guepardo (Acinonyx jubatus) 25 e onça-parda (Puma concolor) 26. No entanto, a literatura traz poucos registros sobre avaliação reprodutiva em onçaspintadas (Panthera onca) 9,11,15,16,27. Em estudo realizado em onças-pintadas, foi possível verificar que a qualidade do sêmen de animais mantidos em zoológicos brasileiros é inferior à

encontrada em zoológicos norte-americanos 11. O alto índice de anormalidades espermáticas observado em onças mantidas em cativeiro no Brasil pode estar associado a deficiências nutricionais. A adição de suplemento vitamínico-mineral na alimentação de onças-pintadas mantidas em cativeiro no Brasil determinou a diminuição significativa na porcentagem dos defeitos maiores inicialmente observados 28. No entanto, deficiência prolongada de vitamina E pode causar danos irreversíveis aos testículos e o restabelecimento adequado dessa vitamina não determina melhora na morfologia espermática 29. Além desses, vários são os fatores

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que interferem na reprodução de animais cativos, entre os quais se incluem ambientes inadequados, tamanho do recinto, número de animais por recinto e interação tratador-animal 30. Utilizando o teste t de Student (dados parelhados), verificou-se que as médias de biometria testicular obtidas por ultrassonografia e por paquímetro são significativamente diferentes (p < 0,05), o que indica que a ultrassonografia pode realizar biometria testicular com maior acurácia por desprezar as medidas de pele e tecido subcutâneo, o que não ocorre com a utilização do paquímetro. Em estudo realizado em alpacas (Vicugna pacos), houve correlação entre a mensuração testicular ultrassonográfica dos testículos e o peso testicular aferido após a castração. No entanto, essa correlação não foi verificada entre os dados obtidos pela aferição dos testículos com paquímetro, a qual determinou um valor superestimado do peso testicular 31. Neste estudo, o exame ultrassonográfico mostrou ser uma técnica segura e passível de ser utilizada em animais silvestres ameaçados, já que o exame histopatológico, que poderia revelar com exatidão a causa efetiva de alterações no sêmen, poderia causar maiores danos à vida reprodutiva desses animais. Com estes resultados, é possível sugerir que a ultrassonografia é uma técnica auxiliar na avaliação do parênquima testicular quanto à sua densidade tecidual, propiciando a avaliação de alterações de caráter cístico ou tecidual. Nesse sentido, o exame ultrassonográfico testicular pode ser incluído no exame andrológico de rotina para auxiliar na seleção de machos a integrar planos de manejo reprodutivo para espécies ameaçadas de extinção. Essa técnica é indicada por ser uma técnica não invasiva, que pode diagnosticar de maneira prévia animais inférteis, para os quais se recomendaria a utilização de biotecnologias reprodutivas como FIV e ICSI. Agradecimentos Aos técnicos do Bosque dos Jequitibás, Campinas/SP, do Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, Sorocaba/SP e da Fundação Parque Zoológico de São Paulo/SP. Apoio financeiro FAPESP 64

Referências 01-International Union for Conservation of Nature. The IUCN Red list of threatened species. Disponível em: www.iucnredlist.org/ Acesso em 19 jan. 2009. 02-PAZ, R. C. R. ; LEME, D. P. ; ZÜGE, R. M. ; PESSUTI, C. ; SANTOS, E. F. ; BARNABE, R. C. Citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) em testículos de onça pintada (Panthera onca) utilizada como ferramenta no diagnóstico de infertilidade. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 40, n. 2, p. 100-107, 2003. 03-DE NICOLA, D. B. ; REBAR, A. H. ; BOON, G. D. Cytology of the canine male urogenital tract. In: __ Abnormal cytology in the male urogenital tract. St. Louis: Ralston Purina, 1980. p. 17-25. 04-PAPIC, Z. ; KATONA, G. ; SKRABALO, Z. The citologic identification and qualification testicular cell subtypes. Acta Cytological, n. 32 , p. 697-706, 1988. 05-DAHLBOM, M. ; MÄKINEN, A. ; SUOMINEN, J. Testicular fine needle aspiration cytology as a diagnostic tool in dog infertility. Journal of Small Animal Practice, v. 38, p. 506-512, 1997. 06-FORESTA, C. ; VAROTTO, A. Assesment of testicular cytology by fine needle aspiration as a diagnostic parameter in the evaluation of the oligospermic subject. Fertility & Sterility, v. 58, p. 1028-1033, 1992. 07-FORESTA, C. ; VAROTO, A. ; MIONI, R. ; ROSSATO, M. ; ZORZI, M. Citologia testiculare per agoaspirazione nella diagnostica dellínfertilità maschile. Padova: Piccin Nuova Libraria, 1993. 152 p. 08-HAIDL, G. Andrologic diagnosis today. Fortschritte der Medizin, v. 114, n. 34, p. 465469, 1996. 09-MORATO, R. G. ; GUIMARÃES, M. A. B. V. ; NUNES, A. L. V. ; CARCIOFI, A. C. ; FERREIRA, F. ; BARNABE, V. H. ; BARNABE, R. C. Semen collection and evaluation in the jaguar. Brazilian Journal Veterinary Animal Science, v. 35, n. 4, p. 178-181, 1998. 10-JOHNSTON, L. A. ; ARMSTRONG, D. L. ; BROWN, J. L. Seasonal effects on seminal and endocrine traits in the captive snow leopard (Panthera uncia). Journal of Reproduction and Fertility, v. 102, n. 1, p. 229-236, 1994. 11-HOWARD, J. G. Semen collection and analysis in carnivores. In: FOLWER, M. E. Zoo & wild animal medicine current therapy. 3. ed. Philadelphia : Saunders, 1993. p. 390-399. 12-FELDMAN, E. D. ; NELSON, R. C. Clinical and diagnostic evaluation of the male reproductive tract. In: __ Canine and feline endocrinology and reproduction. Philadelphia,: W. B. Saunders Company, 1996. p. 673-690. 13-BLOM, E. On the evaluation of bull semen with special reference to the employment for artificial insemination. Det Kgl Vetrinaer-og LandbohSjskole. Kopenhagen, 1950. Thesis. 223p. 14-STATISTIC ANALYSES PROGRAM. 99. 2. ed. STAT SOFT INC, 1999. 15-MIES-FILHO, A. ; TELECHEA, N. L. ; BOHRER, J. L. ; WALLAWER, W. P. Produção espermática de Panthera onca. Arquivos da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 2, n. 1, p. 55-65, 1974. 16-CARVALHO, C. T. Sêmen em grandes felinos. Revista de Medicina Veterinária, v. 2, n. 4,

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Ecologia Tamanduaí, o menor dos tamanduás

Por Flávia Miranda fmiranda@wcs.org Projeto Tamanduá Global Health Programs Wildlife Conservation Society www.wcs.org www.tamandua.org

Recentemente, o tamanduaí (Cyclopes didactylus) foi separado da família Myrmecophagidae, sendo hoje classificado como Cyclopedidae. Possui pelagem de coloração amarela dourada, mas se torna progressivamente mais cinza e com uma lista escura no dorso quanto Para se locomover com facilidade pelas copas das árvores o taman- mais ao sul de sua disduaí utiliza sua forte cauda preênsil, que possui tamanho maior que o tribuição. É arbóreo, mas seu próprio corpo, e suas garras fortes e recurvadas. Infelizmente, ele é traficado como animal pet. Porém, sua alimentação em cativeiro é não possui o dedo polegar, cada mão tem apenas extremamente difícil e ele acaba morrendo de inanição dois dedos, mas com gartamanduaí é o menor dos tamanduás ras fortes e recurvadas para agarrar-se com existentes, pesando cerca de 400 gra- facilidade. Além disso, o tamanduaí é provimas, de hábitos exclusivamente arborícolas do de uma forte cauda preênsil, maior que e noturnos, que explicam o fato de ser um seu corpo. Esta tem a função de sustentação dos animais menos estudados da ordem e equilíbrio, principalmente quando ele utiPilosa (antiga ordem Edentata). Embora as liza as garras para se defender ou para escapopulações da espécie sofram com o rápido var ninhos de formigas. desflorestamento e perda de habitat em toda Visivelmente possui boca maior e focia América Latina, a espécie não é considera- nho menos curto em relação a outras espéda ameaçada pela IUCN, desde que ocorre cies de tamanduás. Raramente se alimenta de na Floresta Amazônica, a maior área de flo- cupins e, embora besouros tenham sido relaresta tropical preservada do planeta. tados em sua dieta, seu alimento preferido são as formigas. Além disso, tem o hábito de regurgitar o alimento para os filhotes recémdesmamados. Projeto Tamanduá

populações de animais selvagens, inclusive a do tamanduaí. Da mesma maneira, os processos de fragmentação de habitat expõem populações naturais a novos parasitas e doenças infecciosas, assim como aumentam a possibilidade de transmissão destes às populações humanas. A substituição da Mata Atlântica nordestina pela cana-de-açúcar é um exemplo. Os processos de extinção local ou diminuição das populações podem acarretar efeitos deletérios nos ecossistemas, causando interrupções de alguns processos ecológicos-chave e eventualmente comprometendo, a longo prazo, a sua integridade. Da mesma maneira, processos de extinção local também podem acabar com populações importantes para a preservação da diversidade genética das espécies e até mesmo com populações distintas, que podem ser consideradas subespécies.

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Projeto Tamanduá

Projeto Tamanduá

Projeto Tamanduá

Projeto Tamanduá

Expedição na região amazônica para localização de tamanduaís

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Projeto Tamanduá

Encontrar exemplares de tamanduaí é uma tarefa bastante difícil, principalmente por ele ser muito pequeno. Para isso o Projeto Tamanduá optou pela elaboração de um cartaz educativo buscando a informação sobre este animal. Este cartaz continha uma solicitação de informação e toda pessoa da comunidade que soubesse de algo sobre este animal poderia entrar em contato com o Instituto Chico Mendes. Este trabalho também foi realizado em escolas e associações comunitárias. Muitas informações populares foram compiladas sobre a espécie por meio desta ação

Extinção A acelerada destruição e fragmentação do habitat em grande parte das áreas da sua distribuição está contribuindo para a extinção de várias

Projetos O Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil está desenvolvendo projeto na Amazônia que visa levantar dados básicos de ecologia e comportamento, além das doenças que acometem a espécie. Ele está sendo financiado pela Fundação O Boticário de proteção à Natureza e conta com o apoio do Instituto Chico Mendes e da IUCN Edentate e WCS- Wildlife Conservation Society. Além deste projeto, há um trabalho de comparação genética entre as populações da região da Amazônia e as da Mata Atlântica nordestina que está sendo realizado em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.

Biometria sendo realizada em tamanduaí adulto

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Para o monitoramento do tamanduaí foi desenvolvido um protótipo em parceria com a Universidade de São Paulo e a Trapa-câmera. O rádio (cinta amarela) pesa em torno de 10 gramas e sua duração é de 10 dias. Esta é a primeira vez que esta espécie é monitorada



Pesquisa Alternativas contra a leishmaniose * Cientistas do Instituto Adolfo Lutz descobrem que medicamento utilizado em pacientes de isquemia cerebral tem potente atividade contra parasita da leishmaniose: ação é quatro vezes mais eficiente que a do fármaco padrão usado atualmente para tratar a doença. Na imagem de microscopia eletrônica de transmissão, a leishmânia tratada com nimodipina

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m estudo realizado por pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, revelou que um medicamento genérico utilizado como vasodilatador para pacientes com isquemia cerebral apresenta potente atividade contra o parasita causador da leishmaniose. A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista Parasitology Research, mostrou que a nimodipina, uma substância inibidora dos canais de cálcio, em ensaios in vitro, teve ação quatro vezes mais efetiva contra a leishmaniose visceral – a forma fatal da doença – que o glucantime, o fármaco-padrão hoje utilizado para o tratamento. Coordenado por André Tempone, do Laboratório de Toxinologia Aplicada, do Departamento de Parasitologia do Instituto Adolfo Lutz, o estudo teve apoio da Fapesp na modalidade Auxílio à Pesquisa. Os outros autores do artigo são Noemi Nosomi Taniwaki e Juliana Quero Reimão. De acordo com Tempone, a leishmaniose é considerada uma das doenças negligenciadas que, por serem típicas de regiões de baixa renda, não despertam o interesse da indústria farmacêutica para o desenvolvimento de novos medicamentos. Dados do Ministério da Saúde mostram avanço da leishmaniose visceral no Brasil: houve um aumento de 61% entre 2001 e 2006, quando foram registrados 4.526 casos. Em julho de 2007 já haviam sido registrados mais de 3 mil casos da doença, fatal em mais de 90% dos casos sem tratamento. “Como instituição do governo, acreditamos que temos a missão de buscar novos fármacos para doenças negligenciadas, por isso focamos nossas pesquisas nelas, tanto na vertente da inovação, com o desenvolvimento de protótipos farmacêuticos com base em produtos naturais, como também na adaptação de fármacos já existentes no mercado”, disse Tempone à Agência Fapesp. Os estudos, no entanto, estão apenas

começando, segundo o cientista. Na próxima etapa serão estudadas formulações nanotecnológicas que permitirão a liberação controlada do fármaco, dirigindo-o diretamente aos macrófagos – as células onde se abriga o parasita. “Com isso poderemos diminuir muito a quantidade de medicamento administrada, amenizando assim a toxicidade e otimizando a terapia”, declarou. Segundo Tempone, os estudos de adaptação de fármacos já existentes – conhecidos como piggy-back chemotherapy – embora não tragam inovação, são importantes do ponto de vista da saúde pública devido à possibilidade de colocar fármacos no mercado com maior rapidez. “Investimos também na linha de inovação, que é muito importante. Mas o desenvolvimento de um medicamento a partir desses estudos tem custo muito elevado e exige muitos anos para testes clínicos e estudos de toxicidade, até que o produto possa entrar no mercado”, explicou. O custo e o tempo de desenvolvimento, no entanto, seriam muito mais reduzidos para um fármaco feito com base na nimodipina, segundo ele. As triagens, de acordo com o cientista, são feitas com medicamentos genéricos para evitar futuros entraves com patentes. “Os testes in vitro foram muito promissores. Agora passaremos para testes in vivo e, funcionando no animal, a próxima etapa é o estudo clínico em humanos”, disse. Tempone explicou que o único fármaco desenvolvido e testado especialmente para a leishmaniose é o antimônio, descoberto em 1912 pelo brasileiro Gaspar Vianna – um aluno do sanitarista Oswaldo Cruz. Esse metal, altamente tóxico, é a base do glucantime, o fármaco-padrão usado clinicamente para o tratamento da doença até hoje. “Há outros medicamentos também utilizados contra a doença, mas nenhum deles foi desenvolvido originalmente para a leishmaniose e todos esbarram

na extrema toxicidade. Muitos pacientes chegam até a morrer em decorrência da medicação. Por isso a necessidade do desenvolvimento de novos fármacos é tão urgente”, afirmou. Entre os medicamentos utilizados como alternativa ao antimônio, Tempone cita a pentamidina, que era utilizada como hipoglecimiante, a anfotericina-B, originalmente sintetizada e utilizada para tratamento de doenças fúngicas, e a miltefosina, um antitumoral que está em fase clínica 4 de testes na Índia, onde já é a droga-padrão para o tratamento da leishmaniose. Nanotecnologia farmacológica Na próxima etapa, com apoio da Fapesp e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o grupo coordenado por Tempone fará estudos em modelos animais e trabalhará com as nanoformulações para liberação controlada do fármaco, usando lipossomas – um vetor de transporte não-viral de genes em formato de pequenas vesículas esféricas. “Usaremos nanolipossomas e, com isso, poderemos dirigir o fármaco com maior precisão à célula infectada, minimizando a toxicidade no organismo e aumentando a eficácia do tratamento”, disse. Nessas nanoformulações, segundo Tempone, o fármaco é encapsulado e enviado pela corrente sanguínea. “Além dessas formulações, estamos estudando também combinações terapêuticas. Poderemos, por exemplo, combinar a nimodipina com o antimônio. Dessa maneira, se não for possível eliminar o antimônio, poderemos talvez reduzir expressivamente sua dose”, declarou. Para ler o artigo Antileishmanial activity and ultrastructural alterations of Leishmania (L.) chagasi treated with the calcium channel blocker nimodipine, de André Tempone, Noemi Nosomi Taniwaki e Juliana Quero Reimão, publicado na Parasitology Research, acesse www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/193527 09?dopt=Abstract .

* Fonte: Agência FAPESP(por Fábio de Castro) - http://www.agencia.fapesp.br/materia/10378/especiais/alternativas-contra-a-leishmaniose.htm

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Pesquisa Dinâmica da síndrome pulmonar * Estudo de pesquisadores brasileiros, publicado no Emerging Infectious Diseases, mostra que o Hantavírus Araraquara, causador da hantavirose, comum no interior de São Paulo, pode ser o mais letal do país

P

esquisadores da Rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN), em trabalho publicado no Emerging Infectious Diseases, apresentam fortes evidências de que o Hantavírus Araraquara, comum no interior de SP, MG, GO e no DF, é mais letal do que os hantavírus encontrados em todas as outras regiões do país. A Síndrome Pulmonar por Hantavirus (HPS, na sigla em inglês), ou hantavirose, é um problema de saúde crescente no Brasil devido à expansão urbana, agrícola e de gado em ecossistemas que contêm espécies de roedores da subfamília Sigmodontinae, que servem como reservatórios do hantavírus. Existem aproximadamente 540 espécies conhecidas de roedores Sigmodontinae. De acordo com o trabalho, o Hantavírus Araraquara está associado a áreas que têm sofrido maiores mudanças antropogênicas devido ao crescimento desorganizado da população.

Os pesquisadores identificaram os principais vírus causadores de hantaviroses que circulam em uma área delimitada no Brasil e, com base na distribuição geográfica desses vírus e no pressuposto de que nenhuma outra linhagem desconhecida estaria afetando os seres humanos, eles sugerem que o Hantavírus Araraquara seja responsável por 80% dos casos de hantavirose notificados no Brasil. “Tudo indica que o Hantavírus Araraquara é o mais virulento do Brasil por ter um nível de letalidade muito alto. Agora é muito importante comprovarmos se isso ocorre por ele estar colonizando muito rapidamente diferentes espécies de roedores no país”, disse o virologista Paolo Zanotto, um dos coordenadores do trabalho e professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP.

Para chegar a tais conclusões e compreender a prevalência do Hantavírus Araraquara no território nacional, o estudo cobriu a biogeografia dos hantavírus em uma área de 2,5 mil quilômetros quadrados no Brasil, onde foram coletadas amostras de anticorpos para hantavírus de 89 seres humanos e de 68 roedores. O ácido ribonucleico (RNA) foi isolado de amostras de soro humano e do tecido pulmonar dos roedores para, em seguida, serem analisados por transcrição reversa por meio da técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR). As sequências dos genes e proteínas de 22 indivíduos e 16 roedores indicaram a presença de linhagens do Hantavírus Araraquara, além de a taxa de letalidade por hantavirose ser maior nas áreas que apresentaram o vírus. De 1993 a 2007, um total de 877 casos de hantavirose foram notificados no Brasil, com uma taxa de letalidade de 39%.

* Fonte: Agência FAPESP (por Thiago Romero) - http://www.agencia.fapesp.br/materia/10385/especiais/dinamica-da-sindrome-pulmonar.htm

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MANUAL DE EMERGÊNCIAS E AFECÇÕES FREQUENTES DO APARELHO REPRODUTOR EM CÃES anual de Emergências e Afecções Frequentes do Aparelho Reprodutor em Cães, de autoria de Carlos E. Sorribas, é uma obra recém-lançada pela Med Vet Livros. Com este manual o autor pretende oferecer ao clínico e ao estudante uma ferramenta simples e fácil de ser manejada, na qual podem encontrar as afecções mais frequentes e as emergências do aparelho reprodutor em cães. Cada uma das afecções descritas conta com imagens fotográficas que ajudam na identificação dos sintomas, diagnóstico, elementos auxiliares do diagnóstico e tratamentos mais utilizados. Os meios auxiliares de diagnóstico e tratamentos empregados são métodos e procedimentos simples, que estão ao alcance de qualquer profissional que faça clínica geral. Os capítulos não estão ordenados

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Muitas expectativas para a Pet South America e o WSAVA Em sua 8ª edição, a principal feira do segmento na América Latina sediará o WSAVA 2009

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o s dias 22 a 24 de julho de 2009, São Paulo será a capital mundial dos animais de estimação ao abrigar dois dos maiores eventos direcionados aos profissionais dessa área: a Pet South America 2009 e o WSAVA 2009. Organizados pela Nielsen Business Media, os eventos acontecerão no Transamérica Expo Center e no Hotel Transamérica, respectivamente. Com uma área 10% maior comparada à edição anterior, os cerca de 270 expositores da Pet South America 2009 apresentarão os lançamentos voltados aos segmentos de saúde animal, nutrição, equipamentos, aquarismo, especialidades veterinárias, acessórios, publicações e serviços. A previsão é que 22 mil profissionais

da área, como veterinários, donos de pet shops e representantes das indústrias de rações, acessórios, medicamentos e cosméticos, visitem a feira nos três dias de duração. “A escolha do Brasil como sede do encontro global de veterinários consolida a Pet South America no mercado mundial voltado ao segmento de pequenos animais”, afirma Ligia Amorim, diretorageral da Nielsen Business Media para a América Latina.

“Com a presença de um público qualificado, o evento possui ações estratégicas de marketing que atendem tanto às necessidades dos participantes quanto às dos expositores, sempre com o objetivo

de gerar negócios”, explica Ligia. As parcerias firmadas com entidades de classe do setor, como a Anclivepa-BR e a Anclivepa-SP, também possibilitam a realização conjunta da feira com os principais congressos e simpósios, fato que se torna um atrativo a mais para os profissionais do setor pet e veterinário. Posição de destaque Com as segundas colocações nos rankings mundiais de produção de artigos pet e da população de animais domésticos, além de ser o sétimo país em faturamento e consumo, o Brasil destaca-se no mercado mundial. “Isso já é comprovado pela qualidade dos visitantes que vão à Pet South America, onde recebemos profissionais de aproximadamente 21 países, como Estados Unidos, França, Alemanha, Portugal, Argentina, México, Chile, China, entre outros”, diz Ligia.


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www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL 16 e 17 de maio São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária - módulo 2 (11) 2331-2450 16 e 17 de maio São Paulo - SP I Vet Fair: Integrando empresas e a universidade (11) 3091-7702 16 de maio a 4 de julho Rio de Janeiro - RJ Curso de formação de adestradores (21) 9826-2214 18 a 21 de maio São Paulo - SP I SEVAM - Semana de extensão veterinária da Anhembi-Morumbi sevam2009@hotmail. com

18 a 22 de maio União da Vitória - PR IV Semana acadêmica de medicina veterinária josielen_jm@yahoo. com.br 19 de maio Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária patologia (31) 3281-0500

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19 a 23 de maio Curitiba - PR V Jornada grupo Fowler encontro nacional de medicina de animais de estimação não convencionais (41) 3024-1761 21 a 23 de maio São Paulo - SP CIPO - Curso intensivo prático de ortopedia - módulo avançado (11) 3819-0594 21 a 23 de maio Alegre - ES Secomv 2009 (28) 9939-1780 22 a 24 de maio Vitória – ES III Fórum de dermatologia veterinária da ANCLIVEPA-ES e SBDV www.sbdv.com.br 22 a 24 de maio Bandeirantes - PR Simpósio de nutrição de animais de companhia (43) 8808-7799 23 e 24 de maio Florianópolis - SC Oftalmologia em pequenos animais (48) 3035-4388 25 a 29 de maio Valença - RJ VI SEMAVET (24) 8829-0208

30 e 31 de maio São Paulo - SP 1ª Jornada Provet - Med Vet. Curso diagnóstico citológico e hematologia. Realidades para o dia-a-dia do consultório veterinário www.provet.com.br 1º a 4 de junho Belo Horizonte - MG Curso de atualização em endocrinopatias e distúrbios metabólicos do cão e do gato (31) 9213-1411

6 e 7 de junho São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária módulo 3 (11) 2331-2450 6 e 7 de junho São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia (11) 3082-3532 10 a 13 de junho João Pesso - Recife 1º Congresso nacional de educação ambiental (83) 3243-7264

1º a 5 de junho Florianópolis - SC Curso perícia judicial ambiental (53) 3231-3622

20 e 21 de junho São Paulo - SP Curso completo dos Florais de Saint Germain (11) 4121-4107

4 de junho Maceió - AL Utilização de células tronco na cirurgia ortopédica de cães e gatos (82) 3221-2086

20 de junho a 20 de agosto Pedra de Guaratiba - RJ Curso de formação de adestradores - cães de resgate (21) 9826-2214

5 a 6 de junho Botucatu - SP Curso internacional de ortopedia e traumatologia em animais de companhia (14) 3813-4697 6 e 7 de junho Londrina - PR Terceiro simpósio de dermatologia em animais de companhia (43) 9151-8889

21 de junho a 12 de julho São Paulo - SP Curso teórico de felinos (11) 2995-9155 21 de junho a 23 de agosto São Paulo - SP Curso de cardiologia (11) 2995-9155 22 e 23 de junho Belo Horizonte - MG Gastroenterologia (31) 3297-2282

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009

27 e 28 de junho Florianópolis - SC Anestesiologia no paciente crítico (48) 3035-4388 5 a 19 julho Piracicaba - SP Segredos da interpretação de exames radiográficos e laboratoriais na clínica de pequenos animais (19) 3432-2704 12 de julho a 30 de agosto Osasco - SP Curso de auxiliar de enfermagem na clínica de pequenos animais módulo II - centro cirúrgico (11) 2995-9155 18 e 19 de julho Belo Horizonte - MG VI Simpósio internacional de leishmaniose visceral canina (31) 3297-2282

21 a 24 de julho São Paulo - SP Congresso Mundial WSAVA 2009 (11) 4613-2019 22 a 24 de julho São Paulo – SP 8ª Pet South America (11) 4613-2023


26 a 31 de julho Búzios - RJ IVRA 2009 International Veterinary Radiology Association (21) 3974-2012 27 a 31 de julho São José do Rio Preto - SP Cardiologia clínica (17) 3011-0927 30 de julho a 1 de agosto São Paulo - SP CIPO - Curso intensivo prático de ortopedia - módulo básico (11) 3819-0594 Agosto de 2009 a setembro de 2010 - FMVZ/USP São Paulo - SP Curso de especialização em dermatologia veterinária - CEDV (11) 3091-1330 1º e 2 de agosto São Paulo - SP Princípios e aplicações do ultrassom doppler (11) 3069-7067 1º de agosto a 31 de outubro São Paulo - SP Emergências em clínica e cirurgia de pequenos animais (11) 3673-9455 2 a 30 de agosto Osasco - SP Curso teórico-prático de emergência (11) 2995-9155

3 a 7 de agosto Brasília - DF Curso perícia judicial ambiental (53) 3035-3622 4 de agosto a 10 de dezembro São Paulo - SP Curso de especialização em radiodiagnóstico veterinário (11) 3034-5447 12 a 16 de agosto Araçatuba - SP XV SEMEV Semana de estudos em medicina veterinária semev@fmva.unesp.br 12 de agosto Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária geriatria (31) 3281-0500 15 e 16 de agosto Florianópolis - SC Odontologia (48) 3035-4388 24 e 25 de agosto Belo Horizonte - MG Curso de hematologia de pequenos animais (31) 3297-2282 27 a 29 de agosto São Paulo - SP Cirurgia em coluna vetebral (11) 3819-0594

28 de agosto São José do Rio Preto - SP Análise de Holter (17) 3011-0927 28 e 29 de agosto São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária - módulo 4 (11) 2331-2450 29 de agosto São Paulo - SP "Tarde do tegumento" - "Up to date em dermatite atópica" (11) 5051-0908 29 e 30 de agosto São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia (11) 3082-3532 31 de agosto a 4 de setembro São José do Rio Preto - SP III Semana acadêmica de medicina veterinária de Rio Preto - SAMVERP (17) 3201-3360 1 a 4 de setembro Recife - PE II Encontro internacional de medicina da conservação (81) 8631-2827 10 a 12 de setembro São Paulo - SP Curso intensivo prático de ortopedia - módulo básico (11) 3819-0594

12 e 13 de setembro São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária módulo 5 (11) 2331-2450 12 a 20 de setembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de afecções cirúrgica da coluna vertebral (11) 2995-9155 13 de setembro a 4 de outubro São Paulo - SP Curso teórico de dermatologia (11) 2995-9155 14 a 17 de setembro Seropédica - RJ VIII Semana de dermatologia em pequenos animais & IV Simpósio de oncologia veterinária (21) 2682-1637

15 de setembro Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária endocrinologia (31) 3281-0500

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 80, maio/junho, 2009

19 de setembro Maceió - AL Interpretação rápida do eletrocardiograma (82) 3221-2086 21 e 22 de setembro Belo Horizonte - MG Curso de cardiologia de pequenos animais (31) 3297-2282 23 a 26 de setembro Búzios - RJ 8º Congresso brasileiro de bioética www.congressodebioetica2009.com.br

24 a 26 de setembro Rio de Janeiro - RJ RioVet 9ª feira de negócios Pet & Vet (21) 2580-3125 26 e 27 de setembro Florianópolis - SC Reprodução em pequenos animais (48) 3035-4388 29 de setembro a 2 de outubro Campo Grande - MS IV Congresso brasileiro de homeopatia veterinária (67) 8451-2004

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www.agendaveterinaria.com.br 5 a 9 de outubro Salvador - BA Curso perícia judicial ambiental (53) 3035-3622

25 a 28 de outubro Bonito - MS III Congresso nacional de saúde pública veterinária (67) 3301-8915

16 a 18 de outubro Maceió - AL Simpósio norte nordeste de leishmaniose visceral canina (82) 3221-2086 19 a 23 de outubro UENF - Campos dos Goytacazes XII SACAMEV sacamev2009@gmail. com

23 e 24 de outubro São Paulo - SP Cirurgias em cabeça e pescoço (11) 3819-0594 24 e 25 de outubro São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária - módulo 6 (11) 2331-2450 24 e 25 de outubro Belo Horizonte - MG II Forum Latinoamericano de dermatologia e endocrinologia veterinária de pequenos animais (31) 3297-2282

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26 a 29 de outubro São Paulo - SP VI Curso de emergências e terapia intensiva (11) 5572-8778 30 de outubro a 2 de novembro São Carlos - SP 5º Encontro pesquisa em educação ambiental 5epea@epea.tmp.br novembro (data a confirmar) São Paulo - SP III Simpósio BVECCS www.bveccs.com.br 2 a 6 de novembro Natal - RN Curso perícia judicial ambiental (53) 3035-3622 5 a 7 de novembro Bonito - MS V CONCEVEPA - MS (67) 3026-1414

INTERNACIONAL

17 a 20 de maio Lexington, KY - EUA 25th Annual International Animal Health and Nutrition Symposium www.alltech.com

25 a 29 de agosto Bogota - Colombia II Congreso Latino-americano de Neurologia Veterinária www.neurolatinvet.com

21 a 23 de maio Uppsala University, Suécia Meet Animal Meat www.genna.gender.uu.se/ Animals/Events/Meet_Animal _Meat/

30 de agosto a 3 de setembro Roma - Itália 7th World Congress on Alternatives & Animal Use www.aimgroup.eu/2009/ WC7

17 a 20 de junho Madri - Espanha WAVLD - 14th International Symposium for World Associaton of Veterinary Laboratory Diagnosticians www.wavld2009.com

16 a 20 de julho Los Angeles - EUA Animal Rights 2009 www.arconference.org

1 a 4 de outubro Barcelona - Espanha SEVC Southern European Veterinary Conference 44th Congesso Nacional AVEPA www.sevc.info

2 a 5 de setembro 16 a 19 de outubro León - México Austin - Texas - EUA 2º Congresso Latino2009 Annual Conference americano de Emergência e VCS Veterinary Cancer Cuidados Intensivos Society www.laveccs.org www.vetcancersociety. org

22 e 23 de junho Bristol - Reino Unido Universities Federation for Animal Welfare - International Symposium 2009 www.ufaw.org.uk 13 a 18 de julho Newcastle - Austrália Minding Animals 2009 - The 2009 International Academic and Community Conference on Animals and Society www.mindinganimals.com

24 a 27 de setembro Barcelona - Espanha Iberzoo - Feira Internacional de Animais de Companhia www.iberzoo.com

16 a 19 de outubro Lima - Peru LAVC 2009 www.tnavc.org

9 a 13 de setembro Chicago - IL - EUA IVECCS 2009 www.veccs.org

29 a 31 de outubro Edinburgh, Escócia - UK 7th International Veterinary Behaviour Meeting - IVBM www.behaviourmeeting. co.uk

15 a 17 de setembro 3 a 5 de novembro Mandalay Bay - Las Vegas - Bangkok - Tailândia EUA 2nd FASAVA 2009 Super Zoo 2009 www.fasava2009.com www.superzoo.org

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