DIREÇÃO ARTÍSTICA LUÍSA TAVEIRA
GISELLE Abril dias 29 (dia mundial da dança) e 30 às 21h Maio dias 2, 8 e 9 às 21h dias 3 e 10 às 16h Escolas 7 de maio às 15h Ensaio Geral Solidário 28 de abril às 21h
Georges Garcia coreografia, recriação e encenação segundo Jean Coralli, Jules Perrot, Marius Petipa e Théophile Gautier
ORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESA Pedro Carneiro direção musical
Adolphe Adam música Ferruccio Villagrossi cenários Guarda-roupa tradicional figurinos gentilmente oferecidos pela Fundação Calouste Gulbenkian
Cristina Piedade desenho de luz Ana Lacerda Barbora Hruskova Fátima Brito Fernando Duarte Rui Alexandre ensaiadores
Estreia absoluta Paris, Teatro da Academia Real de Música, 28 de junho de 1841 Estreia CNB Lisboa, Teatro Nacional de São Carlos, 28 de outubro de 1987
A FUNDAÇÃO EDP É MECENAS PRINCIPAL DA COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO E MECENAS EXCLUSIVO DA DIGRESSÃO NACIONAL
GISELLE ATO I A cena tem lugar em frente à casa de Giselle, numa aldeia junto ao Reno. Giselle é uma camponesa de compleição frágil que tem duas paixões na vida, uma é dançar e a outra é o seu vizinho Loys. Giselle ignora, no entanto, que Loys é na verdade o Duque da Silésia de nome Albrecht, e juntos dançam e trocam palavras de amor. Não se apercebem que estão a ser constantemente vigiados por Hilarion, um caçador que ama Giselle mas que é por esta repudiado. Na aldeia festeja-se entretanto o final da estação das vindimas onde todos dançam alegremente, incluindo Giselle e Albrecht. Berta, mãe de Giselle, lembra a filha que dançar excessivamente só lhe trará fadiga, e conta a história das wilis, espíritos de raparigas que morreram solteiras e que, na escuridão da noite, se vingam dos seus amados fazendo-os dançar até à morte. Mas Giselle não toma muita atenção à advertência da mãe e continua a dançar. Ao ouvirem-se as trompas que anunciam a chegada dos caçadores, Hilarion repara que Albrecht e o seu escudeiro se escondem na cabana de Loys, facto que ele estranha. Vem mais tarde a descobrir, precisamente dentro da cabana (e que virá de resto a ser o seu trunfo para desmascarar Albrecht), uma espada com características tais que só pode pertencer a um homem de elevada condição. Ao terminarem uma caçada, o Duque da Curlândia, a sua filha Batilde e a respetiva comitiva visitam a aldeia onde vive Giselle. Esta fica impressionada com a beleza de Batilde que por sua vez lhe oferece um colar. Os camponeses continuam a dançar, Giselle é coroada rainha das vindimas e é no auge destes festejos que Hilarion desmascara Albrecht, revelando a sua verdadeira identidade. Albrecht ajoelha-se perante Batilde
de quem na realidade está noivo e beija-lhe as mãos. Giselle fica destroçada e desmaia. Ao despertar e perante tal infelicidade, perde a razão e dança tragicamente, acabando por morrer.
ATO II A cena tem lugar na floresta, no reino das wilis. Hilarion encontra-se aos pés do túmulo de Giselle, amargurado e arrependido. À meia noite aparece Myrta, rainha das wilis, acompanhada por outras wilis, e juntas executam uma dança de acolhimento à recém-falecida, Giselle. Hilarion sucumbe ao feitiço destas sedutoras e perigosas criaturas, e estas arrastam-no para uma dança mortal. Surge Albrecht, com um ramo de lírios brancos, que deposita aos pés do corpo da sua amada. Giselle, agora uma wili, levanta-se do túmulo e dança com Albrecht, deixando-o completamente enfeitiçado. Cresce a intensidade dramática. O jovem tenta resistir à exaustão e Giselle apela a Myrta que poupe o seu amado a tão terrível destino. Em vão porém... Giselle continua a dançar com Albrecht até que o romper da madrugada faz desvanecer o encanto das noivas mortas, salvação de Albrecht. Giselle retorna à sua tumba e lança um último adeus ao seu amado.
FOTOGRAFIA © RODRIGO DE SOUZA
Irina de Oliveira
GEORGES GARCIA COREOGRAFIA
ADOLPHE ADAM MÚSICA
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Natural de Cuba, formou-se sob a orientação de Fernando e
Nasceu em Paris a 24 de julho de 1803. Estudou no Conserva-
Alicia Alonso, no Ballet Nacional de Cuba. A diversidade do
tório de Paris, órgão e harmónio, com Benoist e mais tarde com
repertório da companhia de Havana e o contacto com mestres
Boïeldieu. Um amigo de seu pai, Ferdinand Hérold, compositor
russos são a base do seu trabalho na área do bailado clássico,
do bailado La Fille Mal Gardée, encorajou-o a compor, especial-
designadamente na preparação pedagógica na linha das esco-
mente para o teatro. Aos 22 anos, Adam ajudou Boïeldieu na
las do Bolchoi e do Kirov. Estudou arte dramática e técnica de
orquestração da sua ópera La Dame Blanche e transcreveu-a
cena. Em 1964 coreografou Majísimo, o seu primeiro bailado
para piano o que lhe permitiu vendê-la mais facilmente. Com
para o Ballet Nacional de Cuba, que se mantém em repertório
o lucro deste negócio, Adam viajou pela Europa onde conhe-
nesta e noutras companhias. No ano seguinte criou Amazónia
ceu Eugéne Scribe, com quem viria a trabalhar em inúmeras
(Reingold Gliere). Radicado na Europa desde 1966, fez parte do
óperas nos 30 anos que se seguiram. A sua primeira ópera em
elenco do Ballet Nacional de Marselha e foi primeiro bailarino
3 atos, Danilowa, obteve sucesso no ano de estreia, mas os
da Ópera de Lyon. Trabalhou, sucessivamente, como bailarino
últimos espetáculos foram cancelados por causa da Revolução
principal, mestre de bailado e coreógrafo no Ballet de Való-
de Julho. Nesse mesmo ano Adam escreveu, em colaboração
nia, no qual, para além da Noite de Walpurgias, coreografou
com Casmir Gide, o seu primeiro bailado Chatte Blanche. Fausto
Sinfonia 39 (Mozart) e Tanagras e remontou Les Sylphides e
foi a sua primeira composição a solo para bailado, em 1833,
A Bela Adormecida. Como mestre de bailado e coreógrafo
para o coreógrafo André Deshayes, em Londres. Em 1836 cria
colaborou com o Ballet Gulbenkian, para o qual coreografou
para a bailarina Marie Taglioni, e para a Ópera de Paris, La Fille
Três Movimentos, Duo e Variações e Giselle, 1973. Posterior-
du Danube. A encomenda do bailado Giselle, pelo professor e
mente, remontou Giselle para o Ballet do Teatro Municipal do
coreógrafo francês Jules Perrot foi o trabalho que mais fama lhe
Rio de Janeiro, o Ballet de Marselha, sob a direcção de Roland
trouxe. Esta obra tinha como característica notável a introdução
Petit, e em 1987 para a Companhia Nacional de Bailado, para
de leitmotifs, motivos musicais associados a diferentes perso-
a qual criou também a sua versão de La Fille Mal Gardée em
nagens do bailado, que permitiam assim a sua identificação
1995. Em 1976 foi convidado pela Fundação de Teatros do Rio
no decorrer da ação. Foi após o sucesso de Giselle que Adam
de Janeiro a reorganizar e dirigir o Ballet do Teatro Municipal.
começou a ter problemas com o novo diretor da Ópera de Paris,
Em 1979 foi mestre de bailado do Ballet Teatro Francês de
o que o levou a demitir-se e a abrir o seu próprio teatro, e em
Nancy e do Ballet Nacional de Marselha e, posteriormente,
1847, o Théâtre National em Paris, criado para formar jovens
professor e coreógrafo convidado do Ballet Real do Winni-
talentos. Devido à Revolução, este projeto só funcionou durante
peg, Balletto do Teatro Alla Scala, Balletto del Teatro di San
um ano, deixando Adam com dívidas enormes e obrigando-o
Carlo, Ballet Gulbenkian, Companhia Nacional de Bailado e
a retomar a profissão de jornalista, para conseguir ganhar
do Boston Ballet, onde permaneceu duas temporadas. Entre
algum dinheiro. Em 1849 Adam aceita o cargo de professor de
1991 e 2010 foi professor e coordenador da área de técnica de
Composição no Conservatório, mantendo-o até ao fim da vida.
dança clássica na Escola de Dança do Conservatório Nacional.
Continua a compor, sendo de destaque o bailado O Corsário,
Colabora regularmente com a Companhia Nacional de Baila-
que estreou em 1856. Adolphe Adam faleceu em Paris, a 3 de
do, o Ballet da Ópera de Lyon e os Ballets de Monte-Carlo. —
maio de 1856, tendo escrito 40 óperas, 14 bailados e um grande número de operetas e vaudevilles. —
FERRUCCIO VILLAGROSSI CENÁRIOS
CRISTINA PIEDADE DESENHO DE LUZ
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Criador de cenários e figurinos para espetáculos de ópera
Nasceu em Lisboa. Diretora técnica da CNB desde 2004, estu-
e teatro declamado, destaca-se ainda como um espetacu-
dou Iluminação em Portugal, Espanha e nos EUA. Foi convidada
lar desenhador e decorador de interiores. Italiano, nasceu
a lecionar Iluminação a técnicos, coreógrafos e bailarinos em
em Milão, a 14 de maio de 1937, onde fez os seus estudos
Portugal, Inglaterra e Finlândia. Desempenhou funções de di-
no Liceu Artístico Beato Angélico e na Academia Cimabue.
retora técnica, programadora, operadora, colaboradora técnica
Colabora como assistente do professor Atillio Colonnello.
e desenhadora de luz de espetáculos no Royal Festival Hall,
Estreou-se na ópera Il Trovatore, no Teatro Social de Como.
Londres em 1998 e Encontros Coreográficos de Bagnolet, em
Como autor de maquetas teatrais, estreou-se no Teatro
1994, festivais de teatro e dança, como Miradas Atlânticas, Ex-
Nuovo, em Milão, em 1970, neste mesmo ano foi-lhe atri-
posição ARCO Madrid, Navegar é Preciso em São Paulo e ainda
buído o prémio Noce D’Oro, na cidade de Lecco. Poucas
concertos de Björk e Madonna, apresentados por toda a Europa,
são as cidades de Itália onde não tenha apresentado os
Estados Unidos da América e Austrália. Das criações de luz para
seus magníficos trabalhos de cenarista, destacando-se:
dança e teatro distinguem-se: O Cansaço dos Santos, de Clara
Génova, Parma, Roma e Arena de Verona. A sua fama es-
Andermatt; O Sorriso da Gioconda, Leonardo, Puro-Sangue/Mu-
tende-se até Espanha, Barcelona e Estados Unidos da Amé-
lheres e Realidade Real, de Lúcia Sigalho; Encaramelado, de Al-
rica. Em Portugal, em 1977, monta a ópera D. Carlo, à qual
dara Bizarro; Um golpe de sorte numa mera crise não é suficien-
se seguiram colaborações assíduas nas temporadas do Teatro
te, Babilónia, de Teresa Prima/João Galante; Espiões Agentes
Nacional de São Carlos, recebendo do público e dos críticos
Duplos e outros carácteres suspeitos, de João Galante, Carlota
os maiores elogios. —
Lagido e Filipa Francisco; Ever Wanting, de Paula Castro; Primeiro nome, Le (baseado no desenho original de Miran Sustersic), D. São Sebastião, Gust, More e À Força, de Francisco Camacho; e em co-criação, Apetite, Pop Corn, de António Feio; Conversas da treta, de António Feio e José Pedro Gomes; Ao Vivo e Comédia Off, de Paulo Ribeiro; Jump-up-and-Kiss-me, Confidencial, O Amor ao canto do bar vestido de negro, Nortada, 7 Silêncios de Salomé e A Cidade de Olga Roriz. Para além dos já citados, desde 1988 até hoje, destacam-se ainda colaborações com coreógrafos e encenadores como Vera Mantero, José Laginha, João Fiadeiro, Sílvia Real, Sofia Neuparth, Rui Nunes, Amélia Bentes, Madalena Vitorino, Fiona Wright, Howard Sonenklar, Jessica Levy, Joana Providência, João Fiadeiro, Margarida Bettencourt, Nigel Chernock ou Miguel Pereira. Para a CNB desenhou as luzes de Pedro e Inês, Noite de Ronda e Orfeu e Eurídice de Olga Roriz, Giselle, de Georges Garcia, Requiem de Rui Lopes Graça, Lento para Quarteto de Cordas, de Vasco Wellenkamp, Romeu e Julieta, de John Cranko, Cinderela, de Michael Corder e A Perna Esquerda de Tchaikovski de Tiago Rodrigues. —
O TEMPO SUSPENSO
GISELLE OU LES WILIS ¯¯¯ Miguel Lyzarro, ¯¯¯ in Revista São Carlos, ¯¯¯ nº5, Jul/Out 1987
O Romantismo é uma provocação e os seus homens dados a estados de espírito. Individualizado e ressentido da realidade exterior, o homem romântico afirma-se pela criação de um mundo em suspensão. Para ele o tempo existe – mas parado, não se sucedendo. É a cristalização da ocorrência feita ideal romântico. A atracção e o fascínio concorrem na sua imaginação, despoletando impasses e quedações. E se a sua acção não é senão errância, o seu universo ... n’est qu’ ordre et beauté, luxe, calme et volupté! Será pelo outro lado da paixão – o tempo – que o romântico, esse evadido da História, é conduzido ao suicídio, à pobreza ou à Grécia. E assim se resolvem!
da ideia fantástica que é o momento, inteiro e temporal, do humano e do divino a nivelarem-se no amor sem medida. São as sílfides ou as wilis, os gnomos e os elfos, as náiades, as ondinas e as salamandras, os duendes e as péris..., invadindo Paris e a fantasia dos mestres de bailado. Na representação do romantismo, os seus autores não hesitam em ultrapassar a mitificação da mulher, inerente a qualquer ideal de cavalaria: de natureza aparacional (veja-se a Sílfide ao insinuar-se junto da lareira ou a Giselle elevando-se da campa), ela fica agora descarnada de todos os seus atributos humanos. A ânsia e o ocidental gozo comprazem-se na contemplação desse farrapo-de-além em suspenso – infinitamente belo, infinitamente terrífico. E predisposta à glorificação, a mulher assume-se etereamente, não se opondo ao vazio biológico da sua nova imagem. A Taglioni, por exemplo, esfumava a sua corporeidade vestindo-se de musselina branca, dentro e fora do palco. Por sua vez, os protagonistas destas cruzadas para o abismo desta infinita felicidade dispõem-se à união contra-natura que é a do ser humano com o semi-divino. No entanto, reconhecendo-se como heróis, actuam em condição que nunca será própria de deuses – o heroísmo.
Não foi sem alguma inquietação e total estupefacção que pela primeira vez encarei a possibilidade de um homem ter como anátema o dançar até morrer. Antes direi perecer e não até morrer, já que de coisa romântica se trata, acontecendo o caso na história de Giselle.
Apesar da quase religiosa bofetada que os românticos pretendem desferir ao sofrimento e à morte, não os contemplando na sua fixação do universo, será por aí que os iremos recolher.
Emergindo das proximidades germânicas e anglo-saxónicas, em cujos abismos habitava, surge toda uma população de seres dançantes, natureza feminina e sexualidade potencialmente desvirtuada, ao serviço
Mortal ou indiferentemente, James e Albrecht, depois da sua aventura em La Sylphide e Giselle, jazem por terra. Nem o vaticínio quiromante, nem o exorcismo da cruz, os impediram de soçobrar na paixão desenfreada.
Não será ultrajante pensar que, na sua alada errância, o tema romântico se desenvolva em um ciclo representado coreograficamente pelos bailados La Sylphide, Giselle e Les Sylphides. Se La Sylphide, em 1832, estabelece a estrutura paradigmática de um enredo dançado a almejar o espírito romântico (todas as produções do bailado romântico que se lhe seguiram favorecem o envolvimento e confronto entre um homem e um ser sobrenatural feminino, v. G. La Péri, Ondine, Éoline e mesmo O Lago dos Cisnes), Giselle ou Les Wilis, em 1841, explicita – clara e concludentemente – o dilema em que vive o romântico: o objecto do seu desejo ora está reduzido à dimensão humana (1º acto), ora se evola no real (2º acto). Em La Sylphide, o mesmo objecto era exibido ao nível do sonho desde o início do bailado. Situação que o neo-romantismo de Les Sylphides, em 1909, e ainda em Paris, viria finalmente a contornar: tão-só poeta, esse o humaníssimo herói que, já sem profissão de príncipe ou rico herdeiro, acabará por resgatar o romantismo, ilibando-o de qualquer culpa e conduzindo-o ao seu domínio de redenção, a Poesia. Tempo suspenso, Les Sylphides é apenas sonho, exclusivo e onírico produto das visões e íntimos devaneios do poeta. Numa época de benefício para a ideia e pretérito para o sonho, a concepção de Les Sylphides dificilmente se poderia imaginar. Da facto, durante as românticas décadas de 30 e 40, a relevância do sonho era aferida pelo seu estravasamento no quotidiano e contributo para o real fantástico. Não só por si próprios, mas também pela novidade do seu tratamento (v. g. o vaporoso figurino de Eugène Lami a substituir as túnicas de cintura alta do tempo do Império, a observância de um intervalo entre o 1º e o 2º actos ou a execução de passos sur les pointes), os temas
apresentados no que ficaria conhecido por ballet branco viriam a ser confirmados nas várias capitais europeias e a despertar para o triunfo durante o segundo quartel do século passado. Em Lisboa, Giselle ou Les Wilis, ponto culminante da representação romântica na dança teatral, só seria consagrado no início da década de 70. Ramalho Ortigão dizia e escrevia, em 1891, no álbum de seu filho, que o acaso fizera dele um crítico. Fora um desvio de inclinação a que se conservara fiel. O seu fundo era o de poeta lírico. O príncipe das Farpas que ficara para todo o sempre – intimamente o reconhecia – um tanto frade, um tanto soldado; a quem, de pequeno, lhe ficaram indestrutíveis gostos de ordem, de disciplina, de solidão, assistiu, no dia 8 de dezembro de 1870, a uma récita em São Carlos onde se cantou a Sonâmbula e dançou a Giselle “no meio de grandes e repetidos aplausos”. E tanto admirou o baile que não pôde “deixar de referir aos leitores o assunto dele”. Os leitores eram os do jornal O Progresso do Porto. Numa síntese de impressionante economia, Ramalho resume o primeiro acto do bailado a duas frases: ”Gisela é uma noiva. A falsa notícia do seu amor traído produz-lhe a loucura e a morte.” O segundo acto, porém, será objecto de uma narrativa onde predominam o enleio e a divagação. Giselle, amortalhada com um “prestígio de amor e morte” comparado ao de Ofélia, é sepultada “no meio de uma dessas paisagens” em que sombras, arvoredos, rouxinóis cantando languidamente e luar nas cascatas e lagos se casam com o vago, impalpável e feérico das febris concepções de Heine, Poe e Baudelaire. A lua surge de entre ”o silêncio estático das trevas” e “na orla escura e vaporosa das montanhas como um crescente rutilo de opala por cima do turbante muçulmano de um guerreiro negro.”
Depois dos fogos-fátuos são as wilis, “filhas da noite”, que nessa “hora de solidão e tristeza” se levantam “de entre a espessura dos mirtos” e começam as suas danças, ”ora voluptuosas e dolentes, ora amantes e cândidas, umas vezes ternas e brandas, outras vezes vertiginosas e febris como a série das iluminuras dos textos sobrenaturais de Dante Alighieri desenhados pelo lápis infinitamente imaginoso de Gustave Doré.” A superfície das águas desprende “vapores diáfanos, luminosos, deslumbrantes”; as estrelas deixam cair electricidade e luz em jorros ”inundantes”, enquanto as fontes são lágrimas que cantam, o orvalho pérolas que suspiram, os cedros e as murtas misteriosas harpa gemendo e os rosais em flor estão espalhadas “flautas invisíveis” que soluçam. ”Gisela é evocada do seu túmulo por meio de um ramo encantado”, surgindo “dentre os goivos que a cobriam, bella e bianco vestita como a musa da Divina Comédia”. Deixando cair o largo véu que a envolvia , “é outra vez a vida, a vida dos sonhos, a vida em plena posse do que ela tem de mais inefável – o paraíso da esperança na sua imagem mais querida!”. Giselle é agora uma wili entregando-se “à voz omnipotente da fantasia” e a “energia da sua nova existência” vibra-lhe as “asas que lhe nasceram nos ombros”. Surge, no entanto, o elemento humano, só, triste, alheado e saudoso, o herói, o noivo que vem, “pelo silêncio da noite, depor-lhe uma coroa na sua campa. Ela, que anda então erradia e solta nos ares, (...) lança-lhes flores baloiçada na extremidade dos ramos das árvores como os antigos túmulos egípcios”. “Por fim, poisa no chão, toca a terra em que ele caminha; foge-lhe primeiro, evita-o, esquiva-se como se não pudesse sem quebra do encanto sujeitar a sua essência etérea ao contacto impuro dos entes vivos. Finalmente cede ao amor, ao amor que a deprime ou que a exalta, como que nivelando tudo, humanizando o que é divino ou tornando divino o que é humano: Deixa-se prender nos êxtases do esposo (...) e
segura-o nesse abismo da infinita felicidade pela força divina das suas asas”. “Mas os sonhos não duram sempre.”. E é a vez da realidade. Um “debrum azul” ilumina os “píncaros dos montes” e a estrela da manhã surge. ”é a hora de recolherem os mortos aos seus túmulos e de se erguerem os vivos daqueles em que jazem.” Giselle, afundando-se na sua campa, “à proporção que o dia aparece desaparece ela.” ”Ao noivo nada mais resta senão cair morto de saudades e de amor.” E, fazendo recuar a lembrança, lá encontrarei, a nítida, a visão de uma manifestação primordial – a Dança. Ângulo de tule, evolutivo, intangível, branco hierático; dançar até ao fim, penalidade e maldição anunciada pela idealização do que já foi mulher agora nada mais senão fantasma e wili, pura, adejante e fria – Mirta, morta-viva; e o condenado estonteando-se no amor inacessível... Porém, contundente, a realidade! O dealbar do dia, reprovando o sonho e anulando o seu mortal desfecho, desperta o herói para os escaninhos da solidão enquanto a cortina da memória, pesada e inexorável, sobre ele se abate. Giselle, para além de constituir exemplo acabado da expressão romântica na arte coreográfica, apresenta-se, também, como caso ímpar de performance de grupo, tendo em conta o tempo que levou a ser concebido e posto em execução. Assim como o célebre tenor Adolphe Nourrit havia recorrido ao conto de Charles Nodier, Trilby ou Le Lutin d’Argail, para compor o argumento do histórico e revolucionário La Sylphide, Gautier deixou-se impressionar pela leitura do livro de Heinrich Heine, De l’Allemagne. Heine faz referência à lenda das wilis, seres que, segundo uma tradição eslava, são donzelas noivas que morreram antes do dia do casamento e que, não podendo repousar em paz nos seus túmulos, à meia-noite se
levantam e juntam em bandos pelas estradas. E mantendo, ainda, a paixão que não satisfizeram em vida – a dança – ”ai do jovem que as encontrar, pois que será obrigado a dançar até cair morto”. Gautier, imaginando o belo bailado que o tema poderia proporcionar, decide-se a engendrar uma história que lhe assegure a morte da heroína no final do 1º acto, para que no 2º acto possa surgir como wili. Inspirada em Victor Hugo (Fantômes /Les Orientales), a acção decorreria num belo salão de festas. Pela madrugada, Mirta tocaria, com a sua mão de gelo, o coração de Giselle, já excitada pelo chão que a rainha das wilis, previamente, encantara com a sua varinha de condão. Não satisfeito com esta concepção, Gautier encontra-se com Vernoy de Saint-Georges, o qual, adaptando a ideia daquele, em três dias escreve e faz aceitar o argumento definitivo de Giselle, apresentando-a, primeiro, como a camponesa duma aldeia no vale do Reno, depois, como wili. E no fim da semana, Adolphe Adam improvisara a música que o tornaria célebre (utilizando o princípio de leitmotiv, toda a partitura obedece a quatro temas: dos vindimadores, da cena de amor, das wilis e da caça); os cenários de Ciceri, famoso pelas suas reproduções de paisagens, estavam quase prontos; Coralli punha a obra em ensaios e Perrot, marido e professor de Grisi, compunha todos os passos a executar por sua mulher na figura de Giselle. Como exemplo oposto, em tempo de maturação, refira-se Les Sylphides que, até ser apresentado como tal (Paris, Junho de 1909), foi objecto de várias concepções, tendo a sua primeira apresentação (Chopiniana) ocorrido em Março de 1908. Neste caso, só o Nocturno e a Mazurca representavam cenas tão diversas quanto o são o próprio Chopin entregue à composição no inte-
rior de um mosteiro abandonado e um casamento de uma jovem com um velho na Polónia. Em Portugal, Giselle foi apresentado pela primeira vez, numa versão de Gustave Carey, em Novembro de 1843 no Teatro Nacional de São Carlos. Dançou a americana Augusta Mabille, a primeira bailarina da Opéra. A estreia foi tempestuosa devido a uma pateada organizada por artistas despedidos e a recepção ao bailado caracterizada por relativa e generalizada indiferença. Na maior parte das cerca de vinte representações de Giselle o que se deram nesta altura, apenas o 2º acto era executado. Esta obra voltou a ser dançada, desta vez com êxito imediato, e igualmente em São Carlos, em 1870, pela companhia austríaca de Katti Lanner. Verificar-se-ia um interregno de quase oitenta anos, antes da apresentação seguinte do mesmo bailado em Lisboa, o que sucedeu com os Grands Ballets de Monte Carlo, em 1947, após o que não mais deixaria de ser incluído no repertório de grande parte das companhias que, desde o pós-guerra, nos vieram visitando. A primeira produção portuguesa de Giselle deve-se ao Grupo Gulbenkian de Bailado que a apresentou na temporada de 1966/67, sob a direcção de Walter Gore, no Cinema Tivoli em Lisboa. Por fim, quase cento e trinta anos depois da sua estreia absoluta, Giselle foi objecto de uma produção nacional (Grupo Gulbenkian de Bailado) em que o desempenho das principais personagens era confiado a intérpretes portugueses. Tal aconteceu a 18 de Julho de 1970 no Teatro-Cine da Covilhã. O bailado, remontado por Anton Dolin, exibia uma distribuição onde se incluía Isabel Santa Rosa (Giselle), Armando Jorge (Albrecht), Ulrica Caldas (Myrtha) e Carlos Trincheiras (Hilarion). —
Filipa de Castro e Carlos Pinillos
FOTOGRAFIA © RODRIGO DE SOUZA
PEDRO CARNEIRO DIREÇÃO MUSICAL
ORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESA
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Considerado pela crítica internacional um dos mais importan-
A direção artística da Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP)
tes percussionistas e dos mais originais músicos da atualida-
é assegurada por Pedro Carneiro, que lidera a mais recente
de, Pedro Carneiro toca, dirige, compõe e leciona. Em 2013
e virtuosa geração de instrumentistas. O CCB acolheu a OCP,
foi solista com a Los Angeles Philharmonic sob a direção de
primeiro como orquestra associada e, desde 2008, como or-
Gustavo Dudamel, professor convidado do Zeltzman Festival,
questra em residência, desafiando-a para o concerto inaugural
dirigiu no Round Top Festival, no Texas, EUA e colaborou com
das temporadas 2007/08 e 2010/11 e com presença anual nos
o realizador João Viana. Apresenta-se regularmente como
Dias da Música de Belém, abrindo espaço a novos solistas e
solista convidado de algumas das mais prestigiadas orques-
maestros. A OCP já trabalhou com os compositores Emmanuel
tras internacionais: Los Angeles Philharmonic, BBC National
Nunes e Sofia Gubaidulina e tocou com solistas internacionais
Orchestra of Wales, Vienna Chamber Orchestra, sob a direção
como Jorge Moyano, Cristina Ortiz, Sergio Tiempo, Gary Hof-
de maestros como Gustavo Dudamel, Oliver Knussen, John
fman, Filipe-Pinto Ribeiro, Carlos Alves, Heinrich Schiff e An-
Neschling e Christian Lindberg. É cofundador, diretor artís-
tónio Rosado, entre outros. A internacionalização deu-se em
tico e maestro titular da Orquestra de Câmara Portuguesa
2010 no City Festival of London, com 4 estrelas no The Times.
(OCP), que dirigiu no City of London Festival. Foi bolseiro da
A OCP tem como visão tornar-se numa das melhores orquestras
Fundação Gulbenkian na Guildhall School (Londres), em per-
do mundo, afirmando-se como um projeto com credibilidade e
cussão e direção de orquestra. Seguiu os cursos de direção de
pertinência social e cultural, que nasce de uma ação genuína de
Emilio Pomàrico, na Accademia Internazionale della Musica
cidadania proativa, promovendo diversos projetos sociais inova-
de Milão. Recebeu vários prémios, destacando-se o Prémio
dores: a OCPsolidária, a OCPdois e a OCPzero-Jovem Orquestra
Gulbenkian Arte 2011. —
Portuguesa, sendo esta o primeiro representante português na Federação Europeia das Orquestras Nacionais Juvenis (EFNYO), com sede em Viena. A OCP conta com a colaboração e apoio de diversos parceiros, entre os quais a Linklaters Portugal e Reino Unido, a DGArtes, a Fundação Calouste Gulbenkian, a everis, a PwC e os Municípios de Lisboa e Oeiras. —
DIREÇÃO ARTÍSTICA Luísa Taveira BAILARINOS PRINCIPAIS Adeline Charpentier; Ana Lacerda; Barbora Hruskova; Filipa de Castro; Filomena Pinto; Inês Amaral; Peggy Konik; Solange Melo; Alexandre Fernandes; Carlos Pinillos; Mário Franco; BAILARINOS SOLISTAS Fátima Brito; Isabel Galriça; Mariana Paz; Paulina Santos; Yurina Miura; Andrea Bena; Brent Williamson; Luis d’Albergaria; BAILARINOS CORIFEUS Andreia Pinho; Annabel Barnes; Catarina Lourenço; Henriett Ventura; Irina de Oliveira; Maria João Pinto; Marta Sobreira; Armando Maciel; Dominic Whitbrook; Freek Damen; Miguel Ramalho; Tom Colin; Xavier Carmo CORPO DE BAILE África Sobrino; Alexandra Rolfe; Almudena Maldonado; Andreia Mota; Carla Pereira; Catarina Grilo; Charmaine Du Mont; Elsa Madeira; Filipa Pinhão; Florencia Siciliano; Inês Ferrer; Inês Moura; Isabel Frederico; Júlia Roca; Leonor de Jesus; Margarida Pimenta; Maria Santos; Marina Figueiredo; Melissa Parsons; Patricia Keleher; Shanti Mouget; Sílvia Santos; Susana Matos; Tatiana Grenkova; Zoe Roberts; Christian Schwarm; Dukin Seo; Filipe Macedo; Frederico Gameiro; João Carlos Petrucci; José Carlos Oliveira; Kilian Souc; Lourenço Ferreira; Nuno Fernandes; Ricardo Limão; Tiago Coelho BAILARINOS ESTAGIÁRIOS Calum Collins; Joshua Earl;
MESTRES DE BAILADO Fernando Duarte (coordenador); Maria Palmeirim ENSAIADOR Rui Alexandre ADJUNTO DA DIREÇÃO ARTÍSTICA João Costa COORDENADORA MUSICAL Ana Paula Ferreira COORDENADORA ARTÍSTICA EXECUTIVA Filipa Rola COORDENADOR DE PROJETOS ESPECIAIS Rui Lopes Graça INSTRUTOR DE DANÇA NA PREVENÇÃO E RECUPERAÇÃO DE LESÕES Didier Chazeu PROFESSORES DE DANÇA CONVIDADOS Nathalie Caris** PIANISTAS CONVIDADOS Humberto Ruaz**; Jorge Silva**; Hugo Oliveira**
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO OPART Presidente José de Monterroso Teixeira; Vogal Sandra Simões; Vogal Adriano Jordão DIRETOR GERAL Carlos Vargas DIREÇÃO DE ESPETÁCULOS CNB Diretora Margarida Mendes; Carla Almeida (coordenadora); Bruno Silva (digressão e eventos); Natacha Fernandes (assistente) ATELIER DE COSTURA CNB Paula Marinho (coordenadora); Adelaide Pedro Paulo; Ana Fernandes; Cristina Fernandes; Conceição Santos; Helena Marques DIREÇÃO TÉCNICA CNB Diretora Cristina Piedade; Sector de Maquinaria Alves Forte (chefe de sector); Miguel Osório; Carlos Reis* Sector de Som e Audiovisuais Bruno Gonçalves (chefe de sector); Paulo Fernandes Sector de Luz Vítor José (chefe de sector); Pedro Mendes Sector de Palco Ricardo Alegria; Frederico Godinho; Marco Jardim DIREÇÃO DE CENA CNB Diretor Henrique Andrade; Vanda França (assistente / contrarregra) Conservação do Guarda Roupa Carla Cruz (coordenadora) DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO CNB Cristina de Jesus (coordenadora); Pedro Mascarenhas Canais Internet José Luís Costa Vídeo e Arquivo Digital Marco Arantes Design João Campos** Bilheteira Anabel Segura; Ana Rita Ferreira; Luísa Lourenço; Rita Martins ENSAIOS GERAIS SOLIDÁRIOS CNB Luis Moreira*** (coordenador) DIREÇÃO FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA OPART Diretora Vanda Simões; António Pinheiro; Edna Narciso; Fátima Ramos; Marco Prezado (TOC); Susana Santos Limpeza e Economato Lurdes Mesquita; Maria Conceição Pereira; Maria de Lurdes Moura; Maria do Céu Cardoso; Maria Isabel Sousa; Maria Teresa Gonçalves DIREÇÃO DE RECURSOS HUMANOS OPART Diretor Paulo Veríssimo; Sofia Teopisto; Vânia Guerreiro; Zulmira Mendes GABINETE DE GESTÃO DO PATRIMÓNIO OPART Nuno Cassiano (coordenador); António Silva; André Viola; Armando Cardoso; Artur Ramos; Carlos Santos Silva; Daniel Lima; João Alegria; Manuel Carvalho; Rui Rodrigues; Sandra Correia e Sandro Cardoso (estágio) GABINETE JURÍDICO OPART Fernanda Rodrigues (coordenadora); Anabela Tavares; Inês Amaral; Juliana Mimoso** Secretária do Conselho de Administração Regina Sutre SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA CNB Fisiogaspar** SERVIÇOS DE INFORMÁTICA OPART Infocut
* Licença sem vencimento
** Prestadores de serviço
*** Regime de voluntariado
BILHETEIRAS E RESERVAS Teatro Camões Quarta a domingo das 13h às 18h (01 nov – 30 abr) das 14h às 19h (01 mai – 31 out) Dias de espetáculo até meia-hora após o início do espetáculo. Telef. 218 923 477
PRÓXIMOS ESPETÁCULOS TEATRO CAMÕES 21 MAI — 23 MAI
Teatro Nacional de São Carlos Segunda a sexta das 13h às 19h Telef. 213 253 045/6 Ticketline www.ticketline.pt Telef. 707 234 234 Lojas Abreu, Fnac, Worten, El Corte Inglés, C.C. Dolce Vita
CONTACTOS Teatro Camões Passeio do Neptuno, Parque das Nações, 1990 - 193 Lisboa Telef. 218 923 470
INFORMAÇÕES AO PÚBLICO Não é permitida a entrada na sala enquanto o espetáculo está a decorrer (DL n.º 23/2014, de 14 de fevereiro); É expressamente proibido filmar, fotografar ou gravar durante os espetáculos; É proibido fumar e comer/ beber dentro da sala de espetáculos; Não se esqueça de, antes de entrar no auditório, desligar o seu telemóvel; Os menores de 6 anos não poderão assistir ao espetáculo nos termos do DL n.º 23/2014, de 14 de fevereiro; O programa pode ser alterado por motivos imprevistos. Espetáculo M/6
CAPA © BRUNO SIMÃO
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CICLO DE CONFERÊNCIAS
TEATRO CAMÕES 12 MAIO ÀS 18H30 ENTRADA GRATUITA
EU NÃO PERCEBO NADA DE DANÇA TEMA 4: CRIAÇÃO
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CRISTINA PERES CURADORIA E MODERAÇÃO
FILIPE MADEIRA ANA MARQUES GASTÃO CONVIDADOS