Ir_ao_mar - Nº56 - Novembro 2018

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REVISTA MENSAL SOBRE A ATIVIDADE DO CLUBE NAVAL DA HORTA

Nยบ 56 NOVEMBRO 2018


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MINI-VELEIROS 6 VELEJADORES PARTICIPARAM NA 1ª E 2ª PROVAS DO “TROFÉU TURISMAR 2018”

Foram realizadas 8 Regatas

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oão Nunes, Flávio Pereira e António Pereira partilharam o pódio da 1ª Prova do “Troféu Turismar 2018”, da Secção de Mini-Veleiros do Clube Naval da Horta (CNH), realizada na tarde de domingo, dia 11. Neste mesmo dia decorreu, ainda, a 2ª Prova deste Troféu, que teve como vencedores João Nunes, António Pereira e Mário Carlos. De acordo com João Sequeira, Responsável por esta Secção, realizaram-se 8 Regatas, que contaram com a participação de 6 velejadores. “Registaram-se alguns saltos de vento mas o tempo ajudou”. As avarias surgem quando menos se espera mas dentro do espírito de entre-ajuda existente nesta Secção não constituem entrave, pois todos se disponibilizam para colaborar nas reparações e

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manutenções, partilhando pormenores e descobertas, o que faz deste um grupo verdadeiramente coeso e dinâmico. Como habitualmente, após as competições os participantes conviveram na “70” – quiosque de Mário Carlos – demonstrando que a amizade é tão ou mais importante do que os resultados. Este Troféu é composto por 6 Provas, sendo este o 4º ano em que é patrocinado pela Empresa de Actividades Marítimo-Turísticas “Turismar”, de Mário Carlos, praticante desta modalidade.

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MINI-VELEIROS 3ª E 4ª PROVAS DO “TROFÉU TURISMAR 2018”

A 5ª Prova do “Troféu Turismar 2018” está marcada para o dia 2 de Dezembro

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tivo em que é patrocinado pela Empresa de Actividades Marítimo-Turísticas “Turismar”, de Mário Carlos, praticante desta modalidade.

oram quatro os participantes na 3ª e 4ª Provas do “Troféu Turismar 2018”, promovidas e organizadas pela Secção de Mini-Veleiros do Clube Naval da Horta (CNH), e que decorreram na tarde de domingo, dia 25. João Sequeira, Responsável por esta Secção, refere que “o campo de regata não foi muito vantajoso”. E explica: “Registaram-se muitos saltos de vento e vento de muitas direcções”. Ainda assim, os velejadores deram o seu melhor e realizaram 8 regatas, tendo o pódio de ambas as Provas sido preenchido de forma muito semelhante, como se pode constatar pela Classificação. Recorde-se que o “Troféu Turismar 2018” é composto por 6 Provas, sendo este o 4º ano consecu-

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NATAÇÃO DAVID CARREIRA, EX-ATLETA PARALÍMPICO, VISITA O CNH A CONVITE DO SEU ANTIGO TREINADOR

Tiago Henriques, Treinador e Coordenador da Secção de Natação do Clube Naval da Horta (CNH); Olga Marques, Directora da Secção de Natação do CNH e Vice-Presidente da Direcção do CNH; e David Carreira, ex-Atleta Paralímpico

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hama-se David Carreira, tem 28 anos, nasceu em Leiria e vive em Alqueidão da Serra, Porto de Mós (concelho de Leiria), tendo na Natação a sua grande paixão, onde se iniciou aos 4 anos de idade, por aconselhamento médico. Alcançou cerca de 70 títulos de Campeão Nacional com 57 Recordes Nacionais. A nível internacional, participou no Campeonato da Europa em Eindhoven, no ano de 2014; no Campeonato do Mundo em Glasgow, em 2015; no Campeonato da Europa no Funchal em 2016 e nos Jogos Paralímpicos do Rio em 2016. É licenciado em Condição Física e Saúde no Desporto e ex-Atleta do actual Treinador e Coorde-

nador da Secção de Natação do Clube Naval da Horta (CNH), Tiago Henriques, tendo ambos trabalhado no Clube Bairro dos Anjos, em Leiria. A vontade de conhecer os Açores e de voltar a estar com o seu antigo mestre e grande amigo, trouxeram-no até ao Faial, tendo nadado com os atletas faialenses, na tarde desta sexta-feira, dia 2, poucas horas depois de ter aterrado na ilha. Terminado o treino na Piscina da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), da Horta – a melhor dos Açores – David Carreira partilhou as experiências mais marcantes do seu percurso como Atleta Paralímpico. David entrava às 7 da manhã no Bairro dos Anjos e saía às 7 da noite. Fez esta vida de 2012 até 2016. Conheceu Tiago Henriques em 2011 quando estava a acabar a Licenciatura e a teimosia dos dois levou-o ao patamar mais elevado na carreira de um atleta, tendo terminado com chave de ouro. “Foi o destino termo-nos juntado”, acredita Tiago. Sentindo que era “cada vez mais difícil” conciliar

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“Só soube que ia ao Brasil um mês antes pelo que não havia dúvida de que ia ser difícil”

trabalho e competição, o actual ‘Personal Trainer’ optou pelo mundo do trabalho, embora sempre ligado ao que gosta. “Agora segue-se a minha vida profissional, que é neste momento o mais importante. Sou Treinador, trabalho no Ginásio, sou Instrutor de Fitness, dou aulas, dou treinos personalizados, o meu dia é passado sempre no mundo desportivo e do exercício físico e é por aí que quero seguir agora”. “Quando estão a nadar, o Treinador é tão importante quanto os vossos pais” Na conversa mantida com a Turma de Competição do CNH, David deixou alguns conselhos: “Quando vocês estão a nadar, o Treinador é tão importante quanto os vossos pais. Portanto, se os ouvem, também têm de ouvi-lo. Foi o que eu sempre fiz. Também brinquei muito, mas quando era para trabalhar, era a sério! Eu e o Tiago íamos passear, jantar fora e até fazíamos outras tarefas

“O meu dia é passado sempre no mundo desportivo e do exercício físico e é por aí que quero seguir agora”

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na piscina mas sempre que ele dizia que agora era a sério, era mesmo. E recordo-me de uma vez em que eu não liguei muito a isso e houve um castigo, que foi não treinar, o que me custou ainda mais”. “O David é um perfeccionista com a técnica”, sublinha Tiago, vincando que “tem de haver uma relação de confiança entre Treinador/Atleta”. “De 2012 a 2016 passámos mais tempo juntos do que com as nossas famílias”, destaca, prosseguindo: “O psicológico é muito importante. Têm de acreditar na vossa cabeça, pois o corpo é preguiçoso, mas, também, fabuloso, com capacidade para se adaptar”. “Só soube que ia ao Brasil um mês antes pelo que não havia dúvida de que ia ser difícil. Mas sempre tive a ideia de que só podia dar o meu melhor, pois tinha de aproveitar ao máximo esta oportunidade para estar lá na piscina com 10 ou 11 mil pessoas”, refere David, que continua: “Tinha treinado bem e os resultados tinham de ser bons”. Neste pingue-pongue constante na resposta às questões colocadas pelos nadadores do Clube Naval da Horta, ex-Atleta e Treinador demonstraram a cumplicidade que os une, com concordância de ideias e discurso complementar. E quando a pergunta foi sobre nervosismo, David disse com toda a calma: “O nervosismo é normal quando sabes que a tarefa é grande e tens de dar o máximo. Mas o que é preciso é transformar o nervosismo em resultado”. Já quando se fala em ansiedade é sinal de que “os treinos não estiveram a correr bem”. Falando da sua experiência acumulada, Tiago garante que “a melhor forma de ganhar confiança é nos treinos”. E assinala: “Se sairem cansados mas satisfeitos é sinal de que estão a ganhar confiança em vocês próprios. Vocês têm de acreditar tanto em si quanto eu. E asseguro-vos de que têm muito por onde melhorar e crescer”. Quando instado a explicar o porquê de ter apostado na Natação, David atira: “Foi o desporto que eu sempre pratiquei desde criança. Enquanto tirava o Curso foi mais difícil, porque treinava menos e conciliar o trabalho com os treinos também não foi tarefa fácil, mas quando queremos muito, as coisas acontecem”. E quando o tema são os ídolos, não há que pensar: “Não tenho qualquer ídolo. Vejo o que cada

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CLUBE NAVAL DA H um tem de melhor mas nunca aponto nomes”, remata David. “Ninguém vai nadar como o Phelps. Cada um de vocês que está aqui nesta sala, entende isto de maneira diferente. Por isso é que a Natação é um desporto individual. Pode haver padrão de técnica parecido mas nunca vai ser igual”, assevera Tiago Henriques. E houve alguém na sala que quis saber o truque usado por David quando se sentia menos motivado para treinar. “Muitos dias não me apetecia nada. Fazia muito frio e não me apetecia nada saltar para a piscina. Mas depois pensava que tinha objectivos para cumprir. Para poder ter chegado onde cheguei e ter a oportunidade de estar aqui a contar isto a vocês e depois aos meus filhos e aos netos, tive de trabalhar. Quando entrava na piscina desligava-me de tudo. E quando chegava a casa, jantava e adormecia, porque não tinha forças para mais nada. Mas garanto-vos que há tempo para tudo! Muitas vezes fui a casa do Tiago e ele à minha”. “Bebíamos uma cervejinha juntos como vamos fazer hoje”, gracejou Tiago, sorridente e satisfeito por poder reviver momentos bem passados na companhia de Da-

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Tiago e David passaram mais de uma hora a interagir com a Turma de Competição de Natação do CNH, em que cada um deixou conselhos e partilhou experiências

vid Carreira. “O domingo era o único dia que eu tinha para estudar”, retoma David, que prossegue dizendo: “Gostava de ter objectivos e de melhorar para chegar lá! Vou revelar-vos algo: Aos 14 anos ainda nunca tinha andado de avião. Portanto, dei o meu melhor para poder andar de avião e não tanto para ir ao estrangeiro. Mas depois fui a muitos sítios diferentes. E foi a Natação que me ajudou a ter isto. E pensei: Isto é tão bom que eu tenho de repetir para voltar a andar de avião. E depois estivemos naqueles locais turísticos famo-

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sos a tirar fotografias e a passear, como toda a gente”. “Quando fomos aos Jogos Paralímpicos do Rio, tive meia-hora a procurar o ângulo perfeito para o braço do Cristo Rei parecer o braço do David, mas consegui, e estavam lá uns estrangeiros que se riam com o que estes malucos estavam a fazer”, recorda Tiago Henriques. “Todos vão ficar orgulhosos quando conseguirem algo e depois vão ter histórias para contar. E se calhar sem a Natação isso nunca teria acontecido, pois este desporto permite conhecer outros sítios, novas pessoas e fazer amigos, o que é mais importante do que ganhar taças! Tenho a certeza de que vocês vão gostar muito de passar aos outros as vossas histórias”, sublinha David. Tiago Henriques, que tem igualmente conhecimentos na área nutricional, acentuou que neste conjunto “a alimentação também é muito importante”, ao mesmo tempo que recordou alguns dos sacrifícios impostos a David quando soube que ia ao Rio, tendo emagrecido num tempo recorde. Olga Marques, Directora da Secção de Natação do CNH e Vice-Presidente da Direcção do Clube, aproveitou este momento para, publicamente, agradecer a vinda de David Carreira ao Faial e o seu discurso motivacional aos Nadadores do CNH, o que “é importantíssimo atendendo ao seu percurso e aos resultados alcançados”. Respondendo directamente ao Gabinete de Imprensa do CNH e à questão do esforço necessário nesta modalidade, este profissional do desporto ressalta que “se dermos sempre o nosso máximo e se nos esforçarmos ao ponto de andar no nosso limite ou muito perto disso, qualquer desporto é cansativo”. Embora não possa estabelecer uma comparação com outras modalidades, considera que, “sendo a Natação um desporto individual

há um bocadinho de exigência maior”. David não gosta de se ver como um exemplo mas aprecia dar as suas ideias. “Acho que todos temos de ser exemplo, seja numa característica ou noutra, no desporto ou fora dele. Mas gosto de passar a mensagem e a informação de que se nos esforçarmos e dermos o nosso melhor vamos sempre conseguir os nossos objectivos. Considero-me um privilegiado quando sei que as pessoas vão buscar algumas das minhas ideias e daquilo que é a minha força para tentarem alcançar um determinado objectivo. Por isso é que eu também gosto muito de passar essa informação e essa mensagem aos outros. Seja aos jovens ou aos menos jovens”. A Natação fez parte da vida de David enquanto atleta. Apesar de também possuir formação como Treinador de Natação, de momento não exerce nada nesta área. “A nível profissional têmse proporcionado outras situações e como tem estado a correr tudo dentro daquilo que me satisfaz, não penso em mudar para já. Mas nunca se sabe o dia de amanhã”. Questionado sobre o que falta e gostava de fazer, revela: “Em relação ao que falta fazer não vou indicar nada, porque temos de saber tirar os pontos positivos de tudo aquilo que tivemos e eu participei na maior competição desportiva do mundo, portanto, era injusto se eu estivesse a dizer que tinha ficado a faltar alguma coisa. Se calhar faltou-me trazer de lá uma medalha! Mas eu sabia que isso era muito complicado. Não me vejo ligado a outra área que não seja o desporto e também por isso é que estive a trabalhar na área do exercíco físico, onde quero ficar daqui para frente, porque sei que é isso que me vai dar estabilidade na minha vida profissional e pessoal. Mas nunca se sabe se eventual-

“Ninguém vai nadar como o Phelps, porque a Natação é um desporto individual”

Os Nadadores do CNH com Olga Marques, Tiago Henriques e David Carreira

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“A Natação permite conhecer outros sítios e fazer amigos, o que é mais importante do que ganhar taças!”

“O Tiago é muito trabalhador e empenhado, qualidades que o ajudaram a chegar até aqui”

mente não poderei ainda experimentar uma outra aventura desportiva numa outra modalidade, porque temos sempre de ir criando esses desafios e tentando superar as nossas dificuldades a cada dia que passa. Porque é assim que vamos conseguir atingir sempre o que pretendemos”.

Instado a definir o seu antigo Treinador e amigo do peito, sai um discurso de enaltecimento e admiração, verdadeiramente sentido: “O Tiago é muito trabalhador e empenhado, qualidades que o ajudaram a chegar até aqui. Acho que essa postura foi decisiva e vai continuar a ser, porque tenho a certeza de que ele não vai mudar daqui para a frente. E isso também vai ser muito importante para as pessoas que o rodeiam e que estão directamente ligadas a ele pelo trabalho, aqui no Faial. Aconselho vivamente a que aproveitem isso, porque a força dele e a vontade de trabalhar são inigualáveis. A crença e a vontade de se aplicar ao máximo é que fizeram com que os resultados aparecessem e neste caso os meus resultados também! E é claro que eu só tenho a agradecer por isso”.

“Temos uma amizade muito forte devido ao desporto” Quanto a esta estreia no Faial e nos Açores, David confessa que juntou o útil ao agradável. “Há muito que sentia curiosidade de vir conhecer os Açores. Só vou estar uns dias mas quero aproveitar para conhecer o máximo que puder. Espero ficar curioso ao ponto de voltar para ver o que não for possível desta vez. Naturalmente que também queria muito reviver esta amizade, que é muito forte e eu espero que continue assim. Portanto, vim para conhecer um novo local, aproveitar estes dias de férias e de descanso para estar e conviver com uma pessoa com quem não estava há já algum tempo e falarmos um bocadinho, que isso também é importante”. Não foi necessário muito tempo para assimilar que Tiago Henriques foi marcante na vida de David Carreira e que o contrário também é verdade. “A nossa relação vai muito para além da parte desportiva. Temos uma amizade muito forte devido ao desporto, mas é uma amizade que vai continuar mesmo que estejamos separados. Neste caso, a distância física é bastante grande mas a amizade e a confiança vão manter-se, espero eu, porque o desporto também traz essa componente e às vezes mais importante do que os resultados são estas relações a nível pessoal e estas amizades que ficam para sempre, o que é muito bom”.

“O Tiago é excelente conselheiro e tem um bom ouvido” Tiago é teimoso tal como David. “Por acaso, nesse aspecto somos muito parecidos, mas se calhar por isso é que também nos damos tão bem. A relação pessoal cresceu muito na base da confiança que temos um no outro. Ele é excelente conselheiro e tem um bom ouvido, o que é muito importante. Na nossa prática desportiva por vezes temos fases complicadas em que precisamos de alguém que nos suporte e que nos apoie e nesse aspecto o treinador é sempre uma pessoa muito importante. Claro que a nossa família é o principal, mas, tal como ele referiu, acabamos por passar muitas horas juntos e surge uma confiança muito grande, caso contrário não conseguiríamos chegar a bom porto”. David considera que o seu mestre está bem no Faial. “Isto é um bocadinho diferente daquilo a

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RTA Uma coisa que me foi ajudando é o facto de eu ter tido sempre um bom grupo de amigos e uma família que muito me apoia. Foi essencial, pois sem esse suporte muitas vezes não conseguia chegar a lado algum e foi sempre uma ajuda muito importante. Não tenho nada a apontar”. “Fazer com que as dificuldades nos ajudem a crescer”

“Acabamos por passar muitas horas juntos e surge uma confiança muito grande”

que estamos habituados no Continente, até mesmo em termos de vida. Só aqui estou há umas horas e consigo perceber que é completamente diferente. Eu acho que se ele perceber que as pessoas que o rodeiam estão empenhadas em ajudá-lo a fazer com que o trabalho traga resultados, vai estar satisfeito de certeza absoluta. Ele é um aventureiro. Como tal, aguenta-se em qualquer lado. Espero sinceramente que seja uma mais-valia para o CNH e só tenho que desejar felicidades a todos, porque se todas as pessoas forem empenhadas e o ajudarem, ele também vai ajudar o CNH: elementos da Direcção, Atletas, Pais, porque tudo isso conta. Vou continuar a acompanhar os resultados da Natação do CNH e vou ficar satisfeito quando as boas notícias chegarem ao Continente”. “Há pessoas com muito mais limitações do que eu”

Falando de si, David diz ser focado, tendo adoptado este lema: “É preciso tentar fazer com que as dificuldades não nos deitem abaixo mas que nos façam crescer. É crucial tentar arranjar alternativas e soluções, porque muitas vezes aí é que está a chave do sucesso. Não podemos deixar-nos abater por uma situação menos positiva e a solução é procurar arranjar uma alternativa para combater essa situação”. Deixando o gravador à disposição para aquilo que entendesse acrescentar, David agradeceu “a recepção calorosa” que o CNH teve para com ele, deixando esta garantia: “Vou daqui muito satisfeito. Não prometo voltar tão cedo, porque isto não é assim muito fácil, mas só tenho que desejar as maiores felicidades a todos e enfatizar que, com trabalho e dedicação, os objectivos vão ser sempre alcançados e eu vou estar a torcer por todos lá no Continente e à espera dos bons resultados”. Resumindo o que sente pelo seu ex-Atleta e a admiração que tem por ele e por tudo o que alcançou, Tiago exalta: “O David veio mostar que não há impossíveis”.

David aceitou bem a sua diferença física e crê que é com “naturalidade” que se deve lidar com essa realidade. “A prática desportiva e o facto de ter ido a muitos sítios diferentes fez-me perceber que há muitas outras pessoas com muito mais dificuldades e limitações do que eu. E quando eu tenho alguma dificuldade faço sempre por chegar a esse raciocínio, sabendo que muitos não conseguem fazer coisas básicas que eu sou capaz. Felizmente, consigo ter autonomia e sempre lidei bem com esta minha situação. Claro que há momentos que muitas vezes são criados pelas outras pessoas e que fazem com que não fiquemos tão satifeitos, mas temos de fazer um esforço para tentar mudar isso e fazer perceber às pessoas que há coisas bem piores.

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NATAÇÃO ENTREVISTA AO NOVO TREINADOR E COORDENADOR DA NATAÇÃO DO CNH

“As condições de trabalho são excelentes”

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iz que é exigente, perfeccionista e teimoso no bom sentido. Aceitou o desafio de vir trabalhar para o Faial – terreno totalmente desconhecido – como sendo uma experiência nova, mas, acima de tudo, para ajudar o Clube Naval da Horta (CNH). Estamos a falar de Tiago Henriques, o novo Treinador e Coordenador da Secção de Natação do CNH, natural de Portalegre, um jovem de 34 anos, que começou a nadar aos 5, tendo, por várias vezes, sido Campeão Regional. Sublinha que foi muito bem recebido no CNH e que gosta de estar no Faial. Para trás ficou uma carreira muito ligada ao Clube Bairro dos Anjos e às amizades que lá fez, de quem custou bastante apartar-se. Foi com a disponibilidade e a vontade de trabalhar que o caracterizam, que aceitou o convite para esta primeira Entrevista, que tem como objectivo dar a conhecer um pouco daquilo que é o lado pessoal e o lado profissional deste caranguejo de signo.

“Fui muito bem recebido por todos” - Gabinete de Imprensa do CNH: Como acontece esta mudança? - Tiago Henriques: Eu estava a preparar-me para iniciar mais uma época no clube da minha terra: o Clube de Natação de Portalegre, mas as condições não eram as melhores por não se avizinharem horizontes de estabilidade. Até se punha a hipótese de a Piscina fechar durante muito tempo para obras. Entretanto, através da Federação Portuguesa de Natação (FPN) tive a informação de que o Clube Naval da Horta estava à procura de um Treinador de Natação, tendo recebido o meu currículo já no final de Setembro. Gostei do projecto e encarei esta mudança como um desafio, uma experiência nova, pois é a minha estreia absoluta no Faial e nos Açores. E posso dizer que aqui tenho autonomia para desenvolver as minhas ideias. - Gabinete de Imprensa do CNH: A recepção foi boa? - Tiago Henriques: Fui muito bem recebido por todos, a começar pelo Presidente, o Sr. José Decq

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RTA como acontece com muitos outros por esse país fora, mas a verdade é que não se reflectem muito na Natação, pelo facto de os treinos decorrerem noutro espaço. Campanha “Traz um Amigo!”

“Gosto de me envolver nas actividades dos clubes e normalmente sou prestável”

Mota; pela Vice-Presidente, Olga Marques; e pelos membros da Direcção que fui conhecendo. Tenho sido muito bem tratado. Gosto muito de cá estar e das pessoas de cá. - Gabinete de Imprensa do CNH: A prova disso foi o rápido envolvimento no CNH... - Tiago Henriques: Tenho muito essa postura. Gosto de me envolver nas actividades dos clubes e normalmente sou prestável. A rotina aborrece-me um bocadinho. - Gabinete de Imprensa do CNH: E como são as condições que encontrou? - Tiago Henriques: As condições de trabalho são excelentes! Não há muitos treinadores que possam dizer que têm 8 pistas para trabalhar todos os dias. Não acontece em lado algum. A esse nível é muito bom. Mesmo aqui no Clube, o ambiente de trabalho é saudável. Lidamos todos bem. Estou a entender-me bem com todos mas principalmente com o António Menezes Porteiro (Topê), Técnico de Gestão Desportiva. Há uma boa relação de trabalho e apoiamo-nos mutuamente. Temos estado a organizar questões burocráticas da Escola de Natação. O arranque de um novo ano lectivo implica sempre isso, mas havia outros aspectos sobre os quais eu e o Topê tínhamos uma forma de organização diferente. Estamos a implementar algumas alterações e esperamos implementar outras mais à frente. Para já, está a correr bem. Acho que o CNH está bem organizado. O ambiente é bom e saudável, o que é muito positivo. Naturalmente que o CNH vive com dificuldades

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- Gabinete de Imprensa do CNH: A Secção de Natação do CNH representa mais de 100 Atletas... - Tiago Henriques: Temos 16 Cadetes e 19 Absolutos na Competição. Estou a Coordenar a Escola de Natação e tenho as Turmas de Competição. No total, são mais de 60 nadadores na Escola de Natação além dos da Iniciação, na Piscina Municipal, o que perfaz mais de 100 Atletas. Mas este número tem tendência para aumentar, se tivermos em conta que estamos a tentar desenvolver a Campanha “Traz um Amigo!”, com o intuito de captar novos nadadores. Esta Campanha consiste no convite a alguém que esteja interessado em experimentar a Natação e se gostar e aderir, o atleta que fez este convite no mês seguinte tem um bónus: não paga a mensalidade. Esta ideia pode fazer com que tenhamos turmas maiores. Para a quantidade de população que temos no Faial, podemos crescer. Temos condições para crescer além de que somos o único clube náutico da ilha. O objectivo é aumentar a base e isto é transversal ao país inteiro. Se nós tivermos 30 Cadetes, passado algum tempo vamos ter menos, por factores diversos. É fundamental termos uma pirâmide com uma base muito grande atendendo a que há sempre desistências. Acontece em todos os desportos e este não é excepção. A propósito desta iniciativa, eu gostava de con-

“Acho que o CNH está bem organizado. O ambiente é bom e saudável”

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- Gabinete de Imprensa do CNH: E se eu tiver muita capacidade mas faltar talento? - Tiago Henriques: Tudo se consegue com trabalho. Temos um excelente exemplo em Portugal que é o Cristiano Ronaldo. Todas as entrevistas dele vão bater ao mesmo desde pequenino até agora: era sempre o primeiro a chegar e o último a ir-se embora. E ainda hoje depois de ter conquistado 5 Bolas de Ouro e de já ter ganho tudo o que havia para ganhar, chegou à Juventus e os colegas dizem exactamente a mesma coisa: é difícil acompanhá-lo a treinar. “É mais difícil treinar um miúdo no meio aquático do que no meio terrestre”

versar com a pessoa que é Responsável pela Piscina Municipal no sentido de desenvolvermos esta Campanha em parceria pois, afinal, os Atletas que treinam na Piscina Municipal fazem a inscrição no CNH. Estamos todos inter-ligados. “90% do atleta é feito pelo trabalho” - Gabinete de Imprensa do CNH: Encontrou jovens promessas na Natação do CNH? - Tiago Henriques: Temos aqui alguns Jovens-Talento. Mas não basta ser isso. É preciso trabalhar. E essa é uma questão em que vou ter de incidir muito. - Gabinete de Imprensa do CNH: O que são exactamente Jovens-Talento? - Tiago Henriques: São miúdos com aptidões para crescer, seja pelas características morfológicas, pela capacidade de trabalho ou vontade de aprender. São vários factores a ter em conta. Geralmente os Treinadores têm um tipo de nadador na cabeça: ou por ser mais alto e esguio ou por ter os braços mais compridos. Também acontece por vezes serem miúdos mais pequenos mas que têm muita vontade de trabalhar e que ouvem aquilo que nós dizemos, fazem-nos perguntas, mostram interesse e empenho. - Gabinete de Imprensa do CNH: Qualquer um pode ser um Jovem-Talento? - Tiago Henriques: 90% do atleta é feito pelo trabalho. O talento só não chega. Não adianta de nada ter talento e depois não haver capacidade de trabalho ou não gostar de treinar.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Mas ali há um bocadinho de genética... - Tiago Henriques: Sim. Mas a Natação é diferente de todos os outros desportos só pelo facto de ser no meio aquático. Isso muda tudo! Muda o centro de gravidade, a percepção deles muda, o corpo... A água dificulta! - Gabinete de Imprensa do CNH: Mas é habitual ouvirmos dizer que a água ajuda! - Tiago Henriques: A água ajuda em questões de lesões, como por exemplo quando há impacto. Mas é mais difícil treinar um miúdo no meio aquático do que no meio terrestre. Nós não fomos feitos para estar dentro da água. Essa é a razão pela qual os miúdos da Natação têm de treinar mais do que os outros. - Gabinete de Imprensa do CNH: Os atletass dizem sempre que uma semana sem treinar significa muito trabalho para recuperar. - Tiago Henriques: E é verdade! Um dia sem treinar significa que são precisos três dias para recuperar a sensibilidade na água. O Michael Phelps esteve todos os dias a treinar durante 5 anos para não perder a sensibilidade. Ele era a grande referência, mas agora começam a aparecer outros atletas. - Gabinete de Imprensa do CNH: Um miúdo apercebe-se rapidamente se tem ou não jeito para a modalidade, certo? - Tiago Henriques: Normalmente, os miúdos que acham que não têm muito jeito acabam por enveredar por outro desporto infelizmente, e muita coisa pode mudar nestas idades. Eu já conheci

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e observei isso pela minha experiência nestes últimos anos, que na idade de Cadetes achavam eles e achavam os pais que não tinham jeito e depois constatava-se precisamente o contrário! Quando eu estava em Leiria, alguns pais chegaram a perguntar-me: “O que é que o meu filho está aqui a fazer? Ele não consegue acompanhar os outros. Você acha que ele deve aqui andar?” Lembro-me de um caso em específico, que era o Rodrigo Reis, que foi meu atleta no Bairro dos Anjos, e a mãe dele chegou a fazer-me essa pergunta. Posso adiantar que este ano ele foi chamado à Selecção Pré-Júnior. É difícil prevermos quem vai ou não ser atleta e muitas vezes vejo isso na Natação, que é o caso de miúdos que se evidenciam muito nos Cadetes e mais tarde acabam por não conseguir corresponder. Às vezes por uma questão de maturação ou por uma questão psicológica. Eu não nego ninguém que queira nadar. “Não queiram queimar etapas” - Gabinete de Imprensa do CNH: O que move um atleta a dar tudo por tudo sabendo que não tem futuro no Faial? - Tiago Henriques: Temos de mudar essa mentalidade. Eles normalmente vão-se embora para a faculdade aos 18 anos. Há sempre clubes aptos para os receber, principalmente nas grandes cidades para onde vão estudar. Se eles quiserem continuar todas as grandes cidades têm Clubes de Natação. O sair de cá não é desculpa para não continuarem. A minha missão é prepará-los para chegarem a essa idade em condições de continuarem. Não se trata de querer tirar deles o máximo rendimento enquanto aqui estão e depois estar a queimar etapas e possivelmente prejudicar o futuro deles. A Federação Portuguesa de Natação fez um estudo há relativamente pouco tempo e constatou-se que 100% dos atletas em Portugal, que fizeram recorde nacional como Infantil, não chegaram a Junior. Porque se esgotaram! Um miúdo quando é puxado demasiado cedo a nível fisiológico corresponde, porque tem uma plasticidade e uma capacidade tremenda de se adaptar ao esforço. É fácil pegar num miúdo que nós percebemos que tem algum talento e querer fazer dele o que ainda não é. E depois quando

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“Não vale a pena estar a acelerar o processo, porque vamos pagar a factura mais tarde”

chega a Juvenil, normalmente aqueles miúdos a quem eles ganhavam, vão começar a aproximar-se. E a grande questão é que eles não sabem lidar com a frustração de perder depois. E acabam por abandonar a modalidade. Essa é uma problemática que é discutida há muito tempo. A Federação preocupa-se muito com isto, daí ter feito o estudo. - Gabinete de Imprensa do CNH: Esse estudo vem contra aquilo que é habitual. Essa é também a visão do Tiago? - Tiago Henriques: Digo sempre: não queiram queimar etapas. Cada criança tem o seu tempo de aprendizagem. Nos Cadetes, a idade dos rapazes varia entre os 9 e os 12 anos. As meninas passam para Infantil um ano mais cedo: 8/11 anos. Uma menina de 2004 está à frente de um rapaz de 2004. Lá está, tem a ver com as questões de maturação. O corpo da mulher matura mais cedo, portanto, ela muda de escalão um ano mais cedo. E mesmo no que diz respeito à maturação, temos muitos casos a nível mundial onde isto aconteceu. Estou a lembrar-me da brucista lituana, Ruta Meilutyte, que aos 15/16 anos apareceu nos Jogos Olímpicos e fez Recorde Olímpico. Isto foi em 2012, no Reino Unido. Em 2016 penso que ficou em 7º ou 8º lugar na final. O desporto está cheio de casos destes. Os atletas têm de ter resultados mais à frente. É a partir de Junior que entramos no Alto Rendimento: com 15, 16, 17 anos. Temos de prepará-los. Faço muitas comparações com a Escola, por isso estou sempre a dizer-lhes: “Vocês quando entram

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CLUBE NAVAL DA H para a Escola não vão directamente para a universidade”. O percurso normal é não queimar etapas. Cada idade tem os seus aspectos diferentes que devem ser trabalhados, quer a nível motor quer a nível psicológico. E isso tem que se ter em conta. Não vale a pena estar a acelerar o processo, porque vamos pagar a factura mais tarde. - Gabinete de Imprensa do CNH: Essa pressa também se verifica aqui no CNH? - Tiago Henriques: Sim, eles têm um bocadinho pressa de crescer. Acho que isso pode partir dos próprios miúdos que, quando começam a perceber que têm jeito, querem crescer depressa. Os Cadetes querem treinar com os Infantis, mas isso eu não vou permitir. Cada um tem o seu lugar, por isso é que as categorias existem. O facto de eles continuarem no grupo dos Cadetes não quer dizer que não façam trabalho diferenciado. Se eu tiver um miúdo que se diferencie de outro, é claro que não posso estar a atrasar o desenvolvimento dele. Vai fazer trabalho diferente, mas está incluído no grupo de trabalho dele. E eles, no CNH, já perceberam isso. Tenho aqui um potencial talento, mas já percebeu que é ali que deve estar até por uma questão psicológica, porque ainda são miúdos muito imaturos, que precisam de brincar, necessitando de outro tipo de mimo e de carinho. Estar a incluí-los já no grupo dos grandes é mau, porque eles ainda não têm a capacidade de treinar com os maiores. Eu sei que eles vão querer acompanhar os maiores e vão conseguir e é isso que eu não quero que aconteça. É bom que os mais novos tenham referências nos seus clubes, mas simultaneamente têm de perceber que há um tempo certo para tudo.

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Eu sou muito teimoso em relação a algumas coisas e no que concerne aos Cadetes sei que tenho razão, até porque já experienciei e deu resultado. Eles têm de aprender a nadar. Tenho de preparar os Cadetes para chegarem aos Infantis com bons níveis técnicos a fim de que evitem lesões, estando aptos para treinar mais e melhor. E evitam-se lesões com uma boa técnica. “Tem que se cumprir horários” - Gabinete de Imprensa do CNH: Em que consiste uma boa técnica? - Tiago Henriques: Uma boa técnica é o aquecimento e a própria técnica de nado apoiado. Reparei que na Natação do CNH os atletas não tinham grandes hábitos de trabalho fora da água. Já implementei o aquecimento que têm de fazer todos os dias. Neste momento, têm de chegar à piscina 15 minutos antes, o que inicialmente se revelou complicado, porque chegavam sempre atrasados. Isso é um hábito que me faz um bocado de comichão. Tem que se cumprir horários. É um bom hábito da sociedade e cada vez mais ninguém chega a tempo a nada e eu não gosto disso! Qual é a diferença de acordar 10 minutos mais cedo? Se no treino da manhã sabem que têm de entrar para a água às 7 horas e que não o podem fazer sem aquecer, significa que têm de estar no cais da piscina 15 minutos antes. Os treinos da 7 da manhã mantêm-se à segunda, quarta e sexta. Já quase todos chegam às 6h45. E não defendo isto sequer pelo preciosismo, mas porque se eles chegarem a horas torna possível a parte da comunicação entre nós e permite conhecermo-nos melhor. Às vezes preciso de ter ali um discurso mais motivacional e acabo por perdê-lo por falta de tempo. Ou então acabo por perder tempo de água. Prefiro perder tempo de água e dar importância a outras coisas. Mas se pudermos fazer as duas coisas, melhor. Gosto de conversar às vezes um bocadinho com eles. Eu sou muito perfeccionista, muito mesmo, o que significa quer vou arranjar sempre aspectos para melhorar. E é isso que estou a trabalhar com eles.

“Eu sou muito perfeccionista, o que significa quer vou arranjar sempre aspectos para melhorar”

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- Gabinete de Imprensa do CNH: É bom estar sempre a mudar de treinador? - Tiago Henriques: Não, porque não permite dar continuidade ao trabalhado iniciado. E geralmente dizem que os treinadores de Natação são pessoas muito teimosas e com ideias muito fixas. - Gabinete de Imprensa do CNH: Quer partilhar connosco algum tipo de regra que já tenha estabelecido com o grupo? - Tiago Henriques: Pedi aos Cadetes e aos mais velhos para que ninguém saia da Piscina chateado. O que lhes disse foi: “Se eu fizer alguma coisa de que vocês não gostem, digam-me. Conversem comigo no fim”. E isso já aconteceu e foi bom! É importante não haver mal entendidos.

- Gabinete de Imprensa do CNH: O que é que o Tiago pretende mudar? - Tiago Henriques: A nível de Escola de Natação, gosto das coisas organizadas. E aqui tenho de falar do Bairro dos Anjos, que foi onde fiz a maior parte da minha formação e muitas vezes o sítio onde trabalhamos vale mais do que qualquer canudo ou formação superior. Tive a sorte de naquele Clube terem apostado em mim e de me terem dado a oportunidade de crescer. E é um Clube que trabalha muito bem. Vai ser sempre uma referência no meu percurso, porque estou a falar de 8 anos consecutivos de trabalho em que foram criadas muitas relações pessoais e afectivas. Tive crianças nos Cadetes que nunca conheceram outro professor senão eu. Fui eu que as ensinei a nadar e apanhei-as nos Cadetes.

“A equipa está unida, o que é muito bom!”

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- Gabinete de Imprensa do CNH: A decisão de vir embora não foi bem aceite? - Tiago Henriques: Nada! Foi muito complicado no dia em que me vim embora. A nível emocional, foi um dos dias mais duros da minha vida. Não tenho dúvidas! Organizaram-me um almoço que teve uma carga emotiva muito grande. Estiveram presentes 120 pessoas, entre miúdos e famílias. Foi puxado ao ponto de eu não ter conseguido falar no fim. Era suposto eu ter dito algo, mas cada vez que tentava, chorava ainda mais. - Gabinete de Imprensa do CNH: Os homens também choram! - Tiago Henriques: Tenho o coração no sítio certo! Eu saí de lá como uma oportunidade de crescer também um bocadinho. De Leiria saí para Albufeira. Tive uma época em Albufeira e outra em Olhão. E agora vamos ver como corre aqui. Tenho autonomia e está a ser muito bom. - Gabinete de Imprensa do CNH: O passado continua a fazer parte do presente? - Tiago Henriques: Claro que sim! E quero aproveitar esta oportunidade para dirigir um agradecimento a alguns pais da equipa de Cadetes que orientei em Leiria, pelo apoio e carinho que sempre me deram e continuam a dar nos dias de hoje. Foram criados laços afectivos muito fortes e que jamais se vão perder. Também quero agradecer aos atletas com quem ainda mantenho contacto e para quem de alguma forma fui importante. Sem dúvida que eles foram muito importantes para mim! É com tremendo orgulho que sigo a evolução deles e os sucessos que têm alcançado. “Sempre gostei muito de desporto” - Gabinete de Imprensa do CNH: O que aconteceu antes desses 8 anos? - Tiago Henriques: Fui nadador. Tenho 34 anos de idade e comecei aos 5 na Natação. Fui experimentar e gostei. Sempre experimentei muitos desportos. Durante a minha infância – como atleta federado – sempre pratiquei a Natação e o Futebol conjuntamente.

“Vim para ajudar o CNH. Já tenho experiência suficiente para consolidar o Clube a nível de conteúdo e forma de trabalhar”

Fiz Ginástica no desporto escolar. Sempre gostei muito de desporto. Era daqueles rapazinhos que fazia tudo o que me dissessem para fazer. Acho que é o que falta aos miúdos de hoje. Eu cresci a brincar na rua. Brincava muito na rua a subir e descer árvores. Se eu chegasse a casa um dia em que não tivesse um joelho esfarrapado, a minha mãe punha-me a mão na cabeça a ver se eu tinha febre. Eu tinha jeito para o desporto a nível geral. E mesmo depois na opção do desporto no Liceu, eu tinha jeito para todos os desportos colectivos. Onde as pessoas tinha mais dificuldade eu sobressaía, que era na Natação e na Ginástica. Também me destacava nos desportos individuais, mas aí acho que tinha mesmo a ver com a minha motricidade. E se calhar com um bocadinho de loucura saudável, pois eu não tinha medo de nada. “Desde muito cedo que queria ser Treinador de Natação” - Gabinete de Imprensa do CNH: A Natação foi sempre a grande paixão! - Tiago Henriques: A aposta foi na Natação, mas desde muito cedo que a minha mãe me ouvia dizer que eu queria ser Treinador de Natação. Não acabei a Licenciatura em Educação Física. Entrei em Évora, mas entretanto a vida levou-me para Leiria. Ainda pedi transferência para lá, mas como comecei a trabalhar no Bairro dos Anjos, já não dava. Comecei por fazer substituições e como gostaram do meu trabalho, convidaram-me a ingressar no Clube no ano a seguir.

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Ofereceram-me um horário de 9 horas para começar. Passadas 3 semanas já estava com 25 e no ano a seguir propuseram-me contrato a tempo inteiro. Fui fazendo formações na Federação e sempre tive a felicidade de fazer o que gosto, a tempo inteiro. E assim nunca acabei a Licenciatura, porque não é necessária. Mas um dia acabo isso nem que seja para dizer que tenho o canudo. Houve sempre muita formação e continua a haver. Também dei umas aulas de grupo e acabei por ingressar na competição. Na Natação fui campeão regional muitas vezes. Nunca tive ambição de ser atleta de alta competição, pois prezo muito a minha vida social. “O ensino realiza-me muito!” - Gabinete de Imprensa do CNH: O ensino é o mais importante? - Tiago Henriques: O ensino realiza-me muito! Dá-me um gozo tremendo observar a evolução dos atletas ao longo do ano lectivo, do mais pequenino ao mais velho. Gosto muito! E gosto de trabalhar os pormenores e de lhes ensinar coisas diferentes. Dar umas dicas diferentes. Eu sou muito rigoroso e exigente. Teimoso e obstinado. Não trabalho para mim mas para eles e estou sempre a dizer-lhes isso. Tenho muita confiança naquilo que faço. Acredito muito no que faço e na forma como faço e acabei por ter resultados. Trabalho sempre para os objectivos a longo prazo, que acho que é o importante. Os nadadores do CNH estão no bom caminho e a aceitar o que lhes vou dizendo. Há muitos treinadores que se calhar quando lerem isto vão crucificar-me, mas é muito raro eu fazer dois treinos iguais. Posso repetir tarefas ou séries mas é muito raro repetir exactamente a estrutura de um treino. Acho que os atletas conseguem aprender de outra maneira. Nao é preciso ser tão repetitivo. Desde que o objectivo seja o mesmo, pode-se mudar um bocadinho. - Gabinete de Imprensa do CNH: Os pais são uns grandes parceiros! - Tiago Henriques: Os pais são uns bons parceiros e é bom sentir o apoio deles nas provas. Não me importo que assistam aos treinos desde

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“Eles estão no bom caminho e a aceitar o que lhes vou dizendo”

que não interfiram, pois isso não é bom para os miúdos. Eu também dou muito mimo e carinho aos filhos deles. Mas primeiro sou Treinador. Contudo, estou para o que os atletas precisarem. Posso fazer de padre ou de psicólogo e escutá-los, aconselhá-los. Desde que cá estou, já fiz de psicólogo e acho que aliviou a atleta naquele momento. Virem perturbados para o treino não é bom. - Gabinete de Imprensa do CNH: Veio para o CNH com que propósito? - Tiago Henriques: Vim para ajudar o CNH. Já tenho experiência suficiente para consolidar o Clube a nível de conteúdo e forma de trabalhar. A estrutura organizativa foi o segredo do Bairro dos Anjos. Isso deu e continua a dar em grandes equipas de competição, tanto em quantidade como em qualidade e gostava de estabelecer isso aqui. “Vai haver outra ligação entre as modalidades” - Gabinete de Imprensa do CNH: No fim das provas há convívios? - Tiago Henriques: Fomos jantar no final da primeira competição, que foi o Torneio Ilha Azul, e todos gostaram. Os Cadetes não foram, porque tinham compromissos. - Gabinete de Imprensa do CNH: Estão previstas actividades alternativas? - Tiago Henriques: Quando o tempo estiver melhor, será possível organizar outras actividades que eu gostava de fazer, que era começarmos a treinar, ao sábado, na baía de Porto Pim. Em vez de estarmos sempre enfiados na Piscina da ESMA podemos treinar no mar. Gostava de fazer

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CLUBE NAVAL DA H alguns treinos com a Vela e de proporcionar outra ligação entre as modalidades, partilhando e interligando estes dois desportos. Temos trilhos espectaculares, que podiam ser feitos ao sábado. Não há necessidade de estarmos sempre dentro de água. Aliás, fazer actividades fora de água está a dar-lhes destreza, que é o que eles precisam, pois têm pouca noção do que o corpo pode fazer. O montanhismo também é uma excelente opção, assim como estarmos em sítios complicados, “obrigando-os” a tomar decisões para ultrapassar obstáculos, pois muitas vezes ficam limitados. “Um nadador é um atleta especial” - Gabinete de Imprensa do CNH: O que é um nadador? - Tiago Henriques: É um atleta especial, porque treina muito tempo. Não é fácil passar horas a fio a contar azulejos, que é o que eles fazem. No Atletismo, os desportistas também treinam muitas horas, mas a inter-acção humana é diferente. Um nadador é um solitário durante o treino, por isso é que o papel da equipa é muito importante. É fundamental que a equipa seja unida, o que se verifica no CNH. Acho que a Treinadora anterior trabalhou bem essa parte. Claro que há sempre um ou dois individualistas, mas também espero mudar isso. É bom que eles percebam que toda a gente nalgum ponto da vida precisa de ajuda. Nós não podemos passar a vida a olhar só para o nosso umbigo. E gostava que eles entendessem isso. Uma característica das gerações mais novas é o

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“Quem está na Natação é porque gosta, senão não aguenta aquilo”

egoísmo. É o desenvolvimento tecnológico que os leva a estarem muito centrados no eu. Faz-me uma tremenda confusão estarmos sentados à mesa e eles estarem a conversar entre si com o telemóvel e a mandar mensagens uns para os outros. Aqui ainda não noto muito isso, felizmente. A propósito, recordo que o Topê disse uma coisa engraçada: “Quando a tecnologia serve para complicar, não é avanço é retrocesso”. E eu concordo! Toda a gente me enriquece um bocadinho. O facto de eu ter conhecido muita gente faz com que acabe por saber um pouco de cada coisa, já que cada um tem a sua área e é a conversar que conseguimos isso e não a mandar sms (mensagens). - Gabinete de Imprensa do CNH: A família apoiou-o nesta decisão? - Tiago Henriques: Já quando fui para o Algarve custou separar-me da família e amigos, mas agora custou muito mais! Tenho a felicidade de poder contar com duas grandes mulheres na minha vida: a minha mãe e a minha namorada, mais o Joãozinho, de 10 anos, filho da minha namorada. A minha mãe foi muito importante na minha formação pessoal: passou-me excelentes valores. A minha postura de não desistir e de ir à luta foi herdada dela. A minha namorada é uma grande mulher! Por isso, há que valorizar muito o que tenho.

“Fazer actividades fora de água está a dar-lhes destreza, que é o que eles precisam”

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“A equipa está unida, o que é muito bom!”

- Gabinete de Imprensa do CNH: A adaptação ao Faial tem sido fácil? - Tiago Henriques: Sim! Não sou materialista. Aliás, sou adaptável. Os ‘feedback’s’ que tinha eram muitos bons. Falei com uma amiga minha do Continente, que me diz que a segunda casa dela é o Faial. É a pessoa que organiza “As 7 Maravilhas”, a Eva Mota. Somos do mesmo ano e amigos de infância. Soube que ela costuma vir cá, telefonei-lhe para saber como era isto e ela recomendou-me. Foi uma reviravolta muito grande e muito em cima do joelho. Falei com dois treinadores mais velhos, com quem fui criando uma excelente relação de amizade ao longo do tempo. Um deles é o Bruno Dias, Seleccionador Nacional, que é uma pessoa por quem tenho uma grande estima e que me ajudou muito. Foi uma pessoa importante no meu percurso. Tal como o Rodrigo dos

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Pimpões. O Bruno era o Treinador da Benedita, que pertence ao distrito de Leiria; e o Rodrigo era o Treinador dos Pimpões, e nós tínhamos como norma em Leiria juntarmos os Treinadores na primeira terça-feira de cada mês para almoçarmos juntos. Foram pessoas com quem, além do João Paulo – o Treinador Principal do Bairro dos Anjos – acabei por ter uma relação maior, até por uma questão de identificação de ideias de trabalho e formas de trabalhar. Era uma experiência e uma boa oportundidade. Agora almoço com o Davide Castro, que também me recebeu muito bem. “Era bom que houvesse mais Provas Regionais no Faial” - Gabinete de Imprensa do CNH: O facto de os atletas treinarem num espaço exterior ao Clube dificulta uma ligação mais estreita ao Clube?

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CLUBE NAVAL DA H - Tiago Henriques: Penso que têm a noção do Clube que representam. O CNH é um clube enorme! Pequeno mas grande, como diz o nosso Presidente. Por isso, gostava que os atletas da Secção de Natação se envolvessem mais nas actividades do Clube para também o sentirem de outra maneira. - Gabinete de Imprensa do CNH: A falta de competição no Faial não é um factor limitativo? - Tiago Henriques: Sim, é um pouco estranho o facto de os nossos atletas competirem entre si. Foi um choque para mim, pois não tinha essa noção. Pensava que as provas se realizavam de forma rotativa em todos os clubes, mas já percebi que os atletas do Faial só têm oportunidade de competir em provas regionais. O facto de os nadadores faialenses terem de competir contra si próprios ou contra os colegas de equipa com quem estão todos os dias, pode fazer com que não se superem em termos de auto-motivação e auto-estima. É uma questão delicada e uma experiência nova que vai fazer de mim melhor Treinador, já que vou ter que os motivar de outra maneira. Temos de arranjar forma de os nadadores do CNH competirem em Lisboa, Coimbra, Leiria, etc, angariando apoios para isso. Esta é um proposta que pretendo apresentar à Direcção. Também seria bom que o período das férias fosse mais curto. Eles estiveram parados três meses: Julho, Agosto e Setembro. É muito tempo! Em Leiria, férias é só em Agosto.

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termos competições importantes na Terra. É importante para a visibilidada da modalidade. Para já, vamos ter uma Prova Regional de Cadetes no Faial, no mês de Março, mas gostava que tivessemos aqui uma Prova Regional de Absolutos até, porque, a piscina onde se compete em São Miguel só tem 6 pistas, o que significa que as sessões são mais longas. São menos duas pessoas a nadar em cada série comparativamente com o que acontece no Faial. É sempre benéfico os atletas passarem menos tempo na piscina. O ambiente é mais pesado, cansa mais, satura mais. Ficam mais moles. Quanto mais curtas forem as sessões, melhor.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Neste cenário, o que os move? - Tiago Henriques: Quem está na Natação é porque gosta. Daí sermos poucos. Têm de gostar, senão ninguém aguenta aquilo! - Gabinete de Imprensa do CNH: O que achou da Piscina da Escola Secundária? - Tiago Henriques: Dispomos de condições excelentes! Não conheço escola alguma no Continente que tenha piscina sem ser os colégios privados. Aliás, dizem que a Piscina da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), da Horta, é a melhor dos Açores! Mais uma razão para não perceber porque não se fazem cá mais provas. Uma boa forma de promover a modalidade é

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NATAÇÃO 1º TORREGRI E FESTIVAL DE TÉCNICAS ALTERNADAS

“Objectivos foram cumpridos com sucesso”

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iago Henriques, Treinador e Coordenador da Secção de Natação do Clube Naval da Horta (CNH), revela-se bastante satisfeito com os resultados alcançados no 1º TORREGRI, prova do calendário distrital da Associação de Natação da Região Açores (ANARA), destinado à categoria de Cadetes, e no Festival de Técnicas Alternadas para os Grupos de Formação Desportiva (GFD). A convite do Gabinete de Imprensa do CNH, deixou o seu comentário: “A prova de sábado, dia 17, correu bem, com os objectivos a serem cumpridos com sucesso. O grande desiderato era transpôr para competição as melhorias técnicas que se têm verificado nos treinos, bem como alguns pormenores a que eu dou muita importância. E os pequenos corresponderam bem, muito bem até, o que por si só se traduziu em muitas melhorias de tempo, que

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não sendo o mais importante nestas idades acaba por ser um bom indicador da evolução e eles ficam contentes e motivados com as melhorias. Um bom indicador das melhorias técnicas foi o facto de praticamente não ter havido desclassificações numa competição com maior probabilidade de acontecer, uma vez que tinha provas de estilos. Foi também importante para começar a aferir alguns comportamentos específicos do momento competitivo, como a concentração nos momentos certos, a visualização do que vão fazer e o comportamento a adoptar na bancada. O Festival de Técnicas Alternadas para os Grupos de Formação Desportiva correu também muito bem, com a participação de cerca de 25 crianças, onde para muitas delas foi o primeiro contacto com uma competição, tendo correspondido muito bem. Foi um bom momento desportivo com boa disposição e bom ambiente”.

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NATAÇÃO TORNEIO MONTE DA GUIA - “REGISTARAM-SE 20 RECORDES PESSOAIS”

Tiago Henriques: “Os atletas perceberam o objectivo desta competição e portaram-se à altura”

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Torneio Monte da Guia – realizado este sábado, dia 10 – decorreu dentro do esperado. Os atletas perceberam o objectivo desta competição e portaram-se à altura. Foi um bom teste!!”, revela Tiago Henriques, Treinador e Coordenador da Secção de Natação do CNH. Esta actividade da Secção de Natação do CNH, decorreu na Piscina da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), da Horta, e contou com 11 nadadores. Tiago Henriques sublinha que “o principal objectivo era fazer com que os atletas saíssem um pouco da zona de conforto e também nadar provas que nunca tinham nadado. Registaram-se 20 recordes pessoais, onde o destaque foi para as provas de meio fundo, o que já era um pouco espectável, pois os treinos têm incidido mais no desenvolvimento aeróbio do que propriamente na velocidade, aspecto onde também houve melhorias”.

Perante o que foi descrito, este Técnico destaca: “Estamos todos bem. Houve muito bom ambiente, com os atletas a apoiarem-se mutuamente e foi mais um bom passo nas relações inter-pessoais. Foi também importante para o controlo emocional, principalmente de nervos e ansiedade mas, também, no foco e concentração”. “A evolução está no bom caminho, com os treinos a decorrerem bem. Os atletas compreendem cada vez melhor as minhas ideias e linguagem e só por este factor a evolução acaba por vir naturalmente”, frisa o Treinador. A próxima actividade é para os “danoninhos”: os Cadetes e denomina-se I TORREGRI e Festival de Técnicas Alternadas para os Grupos de Formação Desportiva (GFD).

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VELA DE CRUZEIRO REGATA DA REPÚBLICA CONTOU COM 10 BARCOS

“Rift”, “Soraya” e “Twisted” ocuparam os três lugares do pódio

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Regata da República decorreu com condições de vento favoráveis até à rondagem da primeira bóia; depois o vento acelerou um pouco o que dificultou a manobralidade de algumas embarcações. Mesmo assim, estiveram à partida 10 embarcações de Vela de Cruzeiro, o que deu um brilhante colorido à Baía da Horta e ao Canal Faial/Pico”. Este é o balanço feito por Luís Costa, Director da Secção de Vela de Cruzeiro do Clube Naval da Horta (CNH) à Prova realizada na tarde de domingo, dia 4. Apenas participaram embarcações na Classe OPEN, tendo o pódio ficado assim preenchido:

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“Rift”, com o ‘Skipper’ Carlos Moniz; “Soraya” capitaneado por Frederico Rodrigues e “Twisted” com o ‘Skipper’ João Silva. A Entrega de Prémios decorrerá pelas 18:30 horas de sábado, dia 10.

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VELA DE CRUZEIRO “TWISTED”, “ALÉM MAR” E “SORAYA”, NO PÓDIO DA REGATA DE SÃO MARTINHO

A próxima actividade da Secção de Vela de Cruzeiro do CNH está marcada para 8 de Dezembro

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articiparam 4 embarcações e a Prova decorreu com normalidade. O percurso constou da rondagem de duas bóias, uma situada fora do molhe do terminal de passageiros e a outra localizada fora do Monte da Guia, com duas voltas ao percurso”. É esta a informação deixada por Luís Costa, Director da Secção de Vela de Cruzeiro do Clube Naval da Horta (CNH), à Regata de São Martinho, que decorreu na tarde de domingo, dia 25. Apenas houve inscrições na Classe OPEN, tendo o pódio sido ocupado pelas embarcações “Twisted” (capitaneada por João Silva); “Além Mar”

(tendo como ‘skipper’ Disidério Machado) e “Soraya” (comandada por Frederico Rodrigues). A Entrega de Prémios da Regata de São Martinho bem como da Regata da República terá lugar pelas 18h00 do dia 7 de Dezembro, sendo distinguidos os três primeiros classificados das Classes ORC e OPEN.

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XADREZ ENCONTRAM-SE ABERTAS INSCRIÇÕES PARA AULAS DE INICIAÇÃO

O Xadrez desenvolve a capacidade cognitiva do jogador

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ando continuidade à Secção de Xadrez do Clube Naval da Horta (CNH), em marcha há mais de uma década, e atendendo ao interesse manifestado por alguns Sócios, esta instituição náutica informa que se encontram abertas inscrições para Aulas de Iniciação ao Xadrez (Adultos e Crianças), as

quais serão ministradas por um professor com experiência nesta modalidade. Prevê-se que as aulas arranquem em Janeiro de 2019. Os interessados devem inscrever-se na Secretaria do CNH, onde serão facultadas mais informações sobre esta iniciativa (horário, custos, etc), que decorrerá no Centro de Formação de Desportistas Náuticos (CFDN) do CNH.

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NÁUTICA NO BAR À CONVERSA COM FRANCISCO LUFINHA

“O meu maior medo é ficar sem vento!”

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arte da manhã do feriado de quinta-feira, 1 de Novembro, foi passada no Bar do Clube Naval da Horta (CNH), na companhia de um jovem alfacinha, aventureiro e recordista mundial: Francisco Lufinha. Tendo como pano de fundo a famosa Marina da Horta, este português internacional exibe com orgulho o Certificado da proeza alcançada a 7 de Julho de 2015 e que atesta que ele é o actual detentor do Recorde do ‘Guinness’ da maior viagem de ‘Kitesurf’ do Mundo sem paragens, ao ter percorrido 862 quilómetros durante 48 horas em cima da prancha, entre Lisboa e a Madeira. E antes de continuar a desvendar o que se passou neste dia de Pão por Deus, refira-se que ‘Kitesurf’ é um desporto aquático em que o atleta se desloca com os pés apoiados sobre uma prancha estando preso pela cintura a uma estrutura semelhante a um parapente. A deslocação é impulsionada pelo vento, o que permite mover-se a alta velocidade e fazer grandes saltos sobre a água.

Com o intuito de divulgar estas aventuras muito bem sucedidas – que vão ter continuidade e ser superadas – e, simultaneamente, apelar a atitudes pró-activas nas vidas dos mais novos perante o mar que os rodeia, em 2017 foi criado o Projecto “Lufinha School Tour”. No âmbito desta iniciativa que tem como público-alvo todos aqueles que se encontram em aprendizagem escolar, este consagrado velejador e amante de desportos que envolvam muita adrenalina, já passou esta mensagem a mais de 12.500 alunos. Foi nesse contexto que o atleta esteve na ilha do Faial esta quinta-feira, mas atendendo a que se tratou de um feriado, a escolha recaiu sobre o Clube Naval da Horta (CNH), a única instituição náutica da ilha e com grandes responsabilidades na formação das camadas mais jovens, sendo um exemplo no que à preservação marinha diz respeito. Por isso, a conversa reuniu Dirigentes, Treinadores, alguns Atletas e os Pais, além do Gabinete de Imprensa do CNH e da RTP/Açores.

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Miúdos e graúdos foram convidados a participar nesta conversa informal mas muito enriquecedora

A enraízada tradição do Pão Por Deus – desconhecida para o convidado – fez com que mais atletas do Clube não tenham comparecido, mas todos aqueles que estiveram presentes – expressaram grande entusiasmo e satisfação pelo que ouviram e aprenderam, referindo que valeu a pena! Numa linguagem super-acessível e com um discurso hiper-cativante, este jovem de 35 anos fez questão de pedir a colaboração dos mais pequenos, interagindo com miúdos e graúdos. Habituado que está a andar pelas escolas, vinha munido com fotografias da sua “importante e fantástica equipa”, além de pequenos vídeos dos seus desafios, de algumas etapas da mega-operação de preparação que tudo isto implica e com imagens simplesmente deslumbrantes daquilo que são estas ilhas perdidas no meio do Atlântico chamadas Açores. A beleza era tal, que os naturais ficaram fascinados e boquiabertos com as paisagens que existem por estes lados que, por um lado permitem a prática de desportos e aventuras inesquecíveis e, por outro, fazem com que a preservação deste pedaço sagrado do ecossistema seja uma missão de todos nós. Para que haja futuro! Francisco – que de forma empolgada revelou ter sido pai há 6 semanas de outro Francisco,

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neto de um primeiro Francisco – demonstrou estar muito à vontade não só para partilhar tudo aquilo que experienciou em alto mar, mas, também, para sensibilizar para a preservação dos oceanos, tendo o apoio da “Fundação Oceano Azul” e do “Oceanário de Lisboa”, bem identificados no casaco que envergava. E aqui o foco são os plásticos. “Quanto mais longe de terra estamos, mais limpinha e transparente é a água, mas em contraponto, ao aproximarmo-nos da costa existe mais poluição. Começa-se a ver plástico com fartura. Vi baldes partidos e inteiros e garrafas de coca-cola impecáveis, com o rótulo ainda a brilhar. O plástico é muito prático e foi uma grande invenção, que dura muito, mas não se desfaz, o que é uma chatice. Devemos usar materiais alternativos e, acima de tudo, fa-

A assistência ouviu Lufinha com muita atenção e interesse

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O grupo juntou-se na esplanada do Bar do CNH para uma fotografia em que todos gritaram a uma só voz a garra de ser português

zer separação dos lixos em casa, no sentido de haver reciclagem. É verdade que mesmo assim o plástico vai entrar de novo no sistema, mas usa-se menos. Temos de estar atentos a tudo o que possa atentar contra o ambiente, o que também passa pela nossa alimentação. Aprendi, por exemplo, que não se deve comer sardinhas com menos de 11 centímetros e jaquinzinhos (nos Açores conhecidos como chicharros) com menos de 16, pois, caso contrário, não permitimos que haja desova e o ‘stock’ entra em ruptura”. Anos de preparação Para chegar à realidade, depois do sonho Lufinha teve uma longa preparação! “Comecei a pensar nisto em 2006 mas andei a engonhar até 2013. Por isso aprendi que é preciso acreditar e largar. Mas sem certezas de que vou conseguir. Mesmo assim, há que arrancar, pois a vida é um Campeonato e em quantas mais Regatas eu entrar, melhor. Os pais estão sempre preocupados connosco, porque compete-lhes proteger-nos. Por isso, cabe-nos arranjar maneiras de lhes provar que estamos certos. Comigo também foi assim! E ainda continua a ser... É fundamental termos treino físico fora do ‘Kite’:

andar de bicicleta, nadar, fazer corrida e exercícios. Fazer alongamentos é do mais importante. Nem sempre fazia isso e paguei algumas facturas”. A Alimentação é outro factor a ter em conta, a que se junta a Marinha (autorizações para realizar estes desafios), as Parcerias; a Equipa de Apoio, a Divulgação (patrocinadores precisam de ter notícias/informação), etc. Um a um, Francisco apresentou os elementos da sua dinâmica equipa, que integra um representante da Marinha, um médico, um fisioterapeuta/ massagista, o nutricionista, a pessoa que faz a divulgação nas redes sociais, o responsável pela imagem, o homem que tem como função “elevar a moral” de Lufinha, puxando por ele sempre que este se vai abaixo, entre outros. “A viagem no barco de apoio (semi-rígido) é bem dura. Não sei se aguentava”, alerta o velejador. É vasto o conjunto de requisitos para a montagem de um projecto desta natureza, pelo que Lufinha sublinha que implica um ano de preparação. E destaca: “O dos Açores foram 2 anos de preparação. Há muitas coisas envolvidas e muitos compromissos, por isso o ‘stress’ é grande até partir para o mar. Aí, as coisas já são diferentes! Mas nunca sei a data certa em que vou arrancar. Por causa do vento, só fico a saber três dias antes”.

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“Adoro fazer coisas que nunca foram feitas”

Para perceber como ia reagir, Francisco ficou 24 horas em cima de uma prancha numa piscina, tendo o teste se revelado duro mas, simultaneamente muito positivo. “No percurso entre Lisboa e a Madeira vimos três navios, o que nos dá gozo e anima a travessia. É uma forma de passar 1 ou 2 horas de forma animada e o pessoal dos barcos acena-nos e ficamos despertos. Saímos do Terreiro do Paço que é do pior em termos de vento, mas tinha de ser no sentido de atrair mais atenções, incluindo os próprios Órgãos de Comunicação Social. Havia uma caravana à saída a acompanhar e apoiar, o que é muito importante. Faz muita diferença ter alguém a apoiar. Ao fim de tantas horas de forte impacto e de muita dor, adormeço em pé. É preciso dormir. De duas em duas horas tiro o capacete durante meia-hora”. Mas passada a tormenta, Lufinha esquece a parte dolorosa e está pronto para outro desafio. “Ficamos com ligações para a vida e é isto que eu adoro”. ‘Kitesurf’ oceânico Francisco explica que navega numa prancha como se fosse de ‘surf’. Trata-se de equipamento para ‘Kitesurf’ oceânico. “E porquê no oceano?

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Porque sou bastante ligado ao mar e neste momento somos apenas 4 atletas a nível mundial. Sou quase um barco à vela, desde que haja vento. O meu maior medo é ficar sem vento. A novidade foi o ‘Kitesurf’ à noite, o que implica alguns riscos. Vento/barco/vela. Ganhei esta habituação e somos uns sortudos por termos este azulão, este mar de oportunidades. Para mim, o mar, que representa 97% do planeta, é sinónimo de Descoberta/Infinito/Aventura. Sou muito ligado a este ambiente e também por isso fiz parte da equipa de um grande velejador oceânico solitário, de que vocês já devem ter ouvido falar, que é o Francisco Lobato”. Ainda referindo-se ao mar, Lufinha associa Correntes/Marés/Biologia/Mergulho e Turismo (que deve ser desenvolvido de forma sustentável) a que se juntam os Transportes. O pior momento Francisco recordou que, de todas as travessias feitas até hoje, o momento mais difícil foi a primeira noite, na ida para a Madeira: “Ainda estava muito lúcido – sim, porque ao fim de 36 horas sem dormir, começas a ter alucinações – e íamos muito rápido, mas já eram umas 11 horas da

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CLUBE NAVAL DA H noite e a lua ainda não tinha nascido. Tropecei numa onda, a prancha prendeu e, para não me magoar, saltei para a água e acabei por ficar longe da prancha. Estava escuro e não conseguia vê-la. O barco não me viu nessa altura e prosseguiu. Bastava que alguém tivesse olhado no segundo antes, mas seguiram. Eles iam muito rápido, portanto afastaram-se imediatamente. Fiquei sozinho ali no mar e às escuras. Tinha o comunicador, mas com a velocidade a que eles iam, perdi o contacto e o rádio avariou com a água. À medida que via o barco a afastar-se começava a entrar em pânico. Pensei que ia ficar ali, foi muito mau. Estares no meio do oceano e não veres nada, é mau. Pensas em tudo. Pensas em bichos que ficam por baixo e de repente és um foco. Sabes que tens a tua equipa ali e que te vão encontrar, mas ficas nervoso. Foi um momento muito mau. Tive que passar ao plano B e activar um foguete luminoso que tenho sempre na mochila. Aquilo fica um minuto a arder e não vês nada, ficas completamente encadeado, e eles lá me viram. Tudo isto durou uns 20 minutos até eu voltar a estar com eles. Depois deram-me uma prancha nova e seguimos”. A propósito das comunicações entre ele e o barco de apoio, esclarece: “Temos todos os equipamentos de segurança necessários e ainda temos os extras, que não são obrigatórios. Eu e o barco

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estamos sempre ligados, via ‘bluetooth’ e via VHF (Frequência Muito Alta), e a embarcação tem as comunicações satélite, que são os telefones e as antenas. Todas essas medidas são reforçadas nestes desafios”. Ligar países que falam português Quando questionado sobre o próximo projecto, Lufinha adianta que gostava de construir “um barco/nave, hiper-diferente para andar rápido”. E prossegue: “Ir em pé não dá. Por isso, pretendo construir um barco, que ande rápido e disponha de uma cadeira, com o intuito de ligar países que falam português e virados para os temas portugueses”. O que se pretende é partir do Continente até Cabo Verde e depois ligar o Brasil, Angola, Moçambique, Goa, Timor e Macau, na companhia de uma pessoa de cada um destes sítios. Lufinha confessou que “a dedicação” que coloca na preparação de cada projecto é o que o faz concretizá-lo. “Comprometo-me. Isto é um truque que uso comigo mesmo. Digo que pretendo alcançar um determinado desafio e depois se não faço nada as pessoas vêm perguntar-me quando é que vai acontecer e aí eu fico a perceber que tenho mesmo de avançar e chega a um ponto que já estou de tal maneira comprometido com os parceiros e com uma série de empresas e pes-

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soas que tenho de partir”. Ainda no tempo destinado às questões, Francisco desvendou a questão de como é que no mar vai à casa de banho, satisfazendo a curiosidade dos presentes. Parte do segredo reside no plano alimentar que é seguido antes da prova, a cargo da nutricionista da equipa. “Como alimentos sem fibra, que é o que nos faz ir à casa de banho”. A parte líquida é bem mais fácil de resolver: “Tenho um fato com uma abertura à frente. Bebo um litro e meio de água, que está na mochila, a cada duras horas. Essa água tem de sair e a abertura permite fazer tudo para fora”. O custo de um projecto destes também foi questionado, tendo Francisco dito que depende, afiançando que “a maior fatia vai para o barco de apoio”. Ainda assim avançou que o desafio da Madeira envolveu qualquer coisa como 150 mil euros. Certo, certo é que Lufinha adora fazer coisas que “nunca foram feitas”. Olga Marques, Vice-Presidente da Direcção do CNH, agradeceu a presença de Francisco Lufinha, fazendo votos para que outras iniciativas aconteçam no Faial, com a colaboração e o apoio desta instituição náutica. Desafios realizados Francisco Lufinha, recordista mundial da maior viagem em ‘kitesurf’ sem paragens, realizou um desafio extremo ao ligar os Açores ao Continente português, numa travessia de mais de 1.500

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kms. Este desafio feito em parceria com a também recordista alemã de ‘Kitesurf’, Anke Brandt, que ligou o Bahrain a Abu Dhabi (489 kms em 30 horas) e que em 2017 se juntou para a maior travessia do mundo em dupla de ‘kitesurf ‘alguma vez realizada. Lufinha e Anke partilharam milhas em turnos intercalados de 8 horas. Esta odisseia, que foi levada a cabo pelos dois recordistas, constituiu a derradeira etapa do projecto de Francisco Lufinha designado “Portugal é Mar”, que pretendia ligar o território português por mar em ‘Kitesurf’. Recorde-se que em 2013 este atleta completou a viagem Porto-Lagos (564 kms em 29 horas), em 2014 ligou o ponto mais a Sul do território português, as ilhas Selvagens ao Funchal (306 kms em 12 horas) e em 2015 fixou um novo Recorde do Mundo entre Lisboa e a ilha da Madeira (874 kms em 48 horas). Lufinha não vive do mar ou depende apenas dele. Formou-se em Engenharia e Gestão Industrial no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, mas rapidamente percebeu que “queria fazer coisas diferentes”. Trabalhou em consultoria e auditoria, mas achou “repetitivo”. Montou o seu próprio negócio e tem hoje uma empresa de gestão de eventos náuticos, onde aluga barcos a estrangeiros. Tal decisão surgiu, confessa, porque fazia mais sentido “um negócio ligado ao mar para poder estar mais tempo no mar do que antes”. As palestras de motivação também fazem parte do seu currículo.

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A FIGURA DO MÊS ALZIRA LUÍS: “O CNH TEM SIDO UMA GRANDE ESCOLA DE DIRECTORES”

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em na Vela de Cruzeiro a “menina dos olhos”. Há perto de 30 anos que está envolvida na Organização da maior Regata de Vela de Cruzeiro dos Açores: a “Atlantis Cup”, desempenhando diversas funções. Fazendo parte da “mobília” é tida como um elemento “muito prestável, competente e empenhado”. Pertence a uma família ligada ao mar e a diferentes desportos náuticos. Fala desassombradamente do Clube Naval da Horta (CNH), do papel e das carências desta instituição náutica, que tem contribuído, a diversos níveis, para que o Faial seja aquilo que é dentro e fora de portas. Falamos de Alzira Luís, que simpaticamente acedeu ao convite para ser “A Figura do Mês” de Novembro de 2018.

1. Alzira Luís a bordo do “Açores” na Regata Vannes/Horta/Vannes, no ano de 1994

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“O CNH precisa de Sócios frontais, determinados e interventivos como a Alzira é!” Aproveitando esta oportunidade, José Decq Mota, Presidente da Direcção do CNH, tece algumas considerações sobre esta Faialense, um exemplo na sua dedicação a este Clube. “A Alzira Luís é uma Sócia do CNH, muito empenhada e participativa, que, ao longo de muitos anos, tem dado contributos inestimáveis, quer na realização de eventos fundamentais, quer na discussão, franca e frontal, de muitos problemas da vida do Clube, podendo e devendo dizer-se que contribuiu e continua a contribuir para a consagração de orientações e práticas verdadeiramente associativas na condução da vida do Clube Naval da Horta. Desde que regressou do Continente, no início dos anos 90, Alzira Luís envolveu-se, muito fortemente, em importantes tarefas do CNH, muito especialmente na área da Vela de Cruzeiro. Nesta

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CLUBE NAVAL DA H área, para além de membro activo da Comissão da Secção por algum tempo, tem integrado Comissões de Regata e desempenhado funções fundamentais de Secretariado, tudo isto no quadro de um Voluntariado esclarecido e empenhado. Assume especial importância e significado a sua participação na equipa organizativa da “Atlantis Cup - Regata da Autonomia”, onde, com muito trabalho e rigor, contribuiu, ao longo dos anos, para que fosse construída e consolidada a imagem muito positiva que esta Regata Açoriana tem, por conseguir associar uma verdadeira competição desportiva entre veleiros de cruzeiro, com actividades de conhecimento e divulgação deste Arquipélago. A Alzira Luís é, desde há muitos anos, Membro do Conselho-Geral do CNH, onde tem sempre uma prestação muito lúcida e construtiva, sendo esta participação em Órgãos Sociais eleitos uma opção da própria, que também já foi convidada para integrar Direcções. A Alzira Luís, a par de muitos outros, personifica a verdadeira cultura de Voluntariado activo dos Sócios, que dá vida e sustento às actividades deste Clube Naval. Por seu turno, o CNH para continuar a ser aquilo que é e que quer ser, precisa sempre de muitos Sócios frontais, determinados e interventivos como a Alzira é!”

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- Gabinete de Imprensa do CNH: A que se deveu a sua ligação ao Clube? - Alzira Luís: Saí do Faial muito cedo, em 1974, e só regressei em 1990. Só me fiz Sócia depois de vir definitivamente para o Faial. Terá sido durante o ano de 1990. A ligação ao Clube Naval da Horta foi natural quando vim viver para o Faial. Antes só vinha de férias e era outra coisa. Naturalmente que o facto de os meus irmãos estarem todos ligados a esta “casa” também pesou nesta minha decisão. - Gabinete de Imprensa do CNH: Os seus irmãos sempre estiveram ligados ao Clube e ao mar? - Alzira Luís: Sim, todos passaram pelo CNH: o António, o Hildeberto e o Antero pela Vela e Windsurf, e a minha irmã Ana Paula pelo Remo. - Gabinete de Imprensa do CNH: Praticou desportos no CNH? E fora do Clube? - Alzira Luís: Nunca pratiquei qualquer modalidade no CNH. A nível federado, só na Universidade do Porto: Ténis de Mesa. - Gabinete de Imprensa do CNH: Em que áreas

Hildeberto e António Luís (irmãos de Alzira Luís), na Regata Vannes/Horta/Vannes, no ano de 1994

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Leonor Lourenço e Alzira Luís conquistaram o 2º lugar na Regata das Sereias da Semana do Mar de 1996 (9 de agosto), a bordo do “Tamarin”, que na altura pertencia a José Decq Mota

deu e continua a dar o seu contributo aos Clube? - Alzira Luís: A única modalidade em que tenho colaborado, em contínuo, é na Vela de Cruzeiro. Faço parte do Conselho Geral há já muitos anos, nem sei desde quando. “Quando os projectos são válidos, as pessoas aparecem” - Gabinete de Imprensa do CNH: Por que razão gosta de colaborar com o Clube? - Alzira Luís: Não existem razões para se gostar de colaborar; colabora-se ou não. É uma questão de cidadania. Ou temos disponibilidade, que não é de tempo, porque tempo sempre há, ou não temos disponibilidade. Quando os projectos são válidos, as pessoas aparecem. - Gabinete de Imprensa do CNH: Identifica-se com o CNH? - Alzira Luís: Penso que existe um espírito de CNH, não sei explicar. Só vivenciando.

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- Gabinete de Imprensa do CNH: O que representa para si o CNH? - Alzira Luís: Um espaço de convívio, de camaradagem e muito trabalho. “O CNH tem formado os mais destacados profissionais” - Gabinete de Imprensa do CNH: E para o Faial? - Alzira Luís: A existência do CNH na ilha do Faial tem permitido que os seus atletas, ao longo dos anos, tenham dado origem aos mais destacados profissionais em áreas ligadas ao mar, nomeadamente Pilotos de Barra, Gestão Portuária, Marinha Mercante, Marinha Portuguesa e outros, além de termos neste momento um atleta de Alta Competição, que está no Projecto Olímpico que visa os Jogos de 2020, em Tóquio, no Japão. Tenho a firme convicção de que a passagem pelo CNH foi determinante para as suas opções profissionais. O Clube Naval da Horta tem sido também uma grande “ESCOLA” de directores.

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No CNH, não há modalidade principal, são 13, salvo erro, e são todas principais e todas muito exigentes! “O “barco” está grande e não é qualquer “comandante” que o põe a navegar” - Gabinete de Imprensa do CNH: O que acha do actual Presidente? - Alzira Luís: Digo que tem sido a pessoa certa no lugar certo, nos vários mandatos.

1995: Regata das Sereias, Semana do Mar. Alzira Luís acompanhada por Carlos Fontes

Não esquecendo que, por via das participações em provas fora da Região e do País, o CNH tem levado o nome no Faial e dos Açores por esse mundo fora. - Gabinete de Imprensa do CNH: Fez parte de alguma Direcção? - Alzira Luís: Não. Cheguei a ser convidada, mas na altura estava envolvida noutros projectos. - Gabinete de Imprensa do CNH: Mas gostava de fazer? - Alzira Luís: Nunca tive essa aspiração. Sempre achei que o meu contributo podia ser da mesma maneira válido noutras funções mais operacionais. - Gabinete de Imprensa do CNH: Acha que qualquer pessoa pode ser Presidente do CNH ou é preciso ter um determinado perfil? Qual é, na sua opinião, esse perfil? - Alzira Luís: Qualquer pessoa que tenha perfil de líder pode ser Presidente de qualquer coisa, no entanto, para ser Presidente do Clube Naval da Horta tem que se ter um “gostinho” especial pelo meio onde as actividades se desenrolam, o MAR, e, claro, fazer-se rodear de directores igualmente líderes e conhecedores das modalidades. Não esquecer que em regra os Clubes Desportivos na Região têm em actividade regular duas ou três modalidades, havendo sempre uma modalidade principal.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Entende que ele devia continuar? Vai ser fácil substituí-lo? - Alzira Luís: Sei, porque já o disse, que pretende deixar a Presidência do CNH, e percebo perfeitamente. Não há insubstituíveis, mas talvez não seja fácil encontrar uma pessoa com tanta disponibilidade e conhecimento para o desempenho da função. Mas como costumo dizer, tudo se aprende, haja vontade, e nisso o CNH tem sido uma “ESCOLA” para muita gente que por lá passou, nas diversas direcções. - Gabinete de Imprensa do CNH: Pensa que vai ser fácil encontrar uma nova Direcção? (Há eleições no próximo mês de Dezembro). - Alzira Luís: É uma questão que se coloca sempre que há eleições, principalmente quando o Presidente é considerado o ideal para as funções. Não sei se vai ser fácil ou difícil. Penso que o “barco” está grande e não é qualquer “comandante” que o põe a navegar no rumo certo. Mas com certeza que os Sócios saberão encontrar substituto(a). - Gabinete de Imprensa do CNH: O que leva as pessoas a integrarem listas para o CNH? Isto só dá trabalho, certo? - Alzira Luís: Cada um falará das suas motivações e haverá diversas motivações, com certeza. Dá trabalho, e muito, mas como se costuma dizer “quem trabalha por gosto não cansa”. - Gabinete de Imprensa do CNH: Acha que quem está de fora se apercebe do movimento e do trabalho que esta “casa” representa? - Alzira Luís: Existem várias maneiras de estar de fora. Há os que estão de fora, de tal modo, que quando passam na Avenida Marginal nem

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olham para o mar. No entanto, existe uma grande maioria que, quer por via dos filhos, de familiares, de colegas, de amigos ou conhecidos, da Comunicação Social e mais recentemente das redes sociais, tem conhecimento das actividades do CNH e facilmente se apercebem da envolvência das pessoas e do peso que o CNH tem na sociedade Faialense, Regional e até Nacional. Basta falar com as pessoas de fora que vêm participar nas actividades organizadas pelo CNH para verificar o quão este Clube é considerado fora de portas. Basta olhar para o canal ao fim-de-semana e ver-se-á quase sempre actividade do CNH. Todas as pessoas que passam pelo associativismo, seja desportivo ou outro, sabem o trabalho que é necessário fazer para levar a bom porto os projectos em que estão envolvidos, e no Faial não é diferente.

“Pelo que vi no Projecto para a 2ª fase das Obras do Porto da Horta, nada consta para o CNH” - Gabinete de Imprensa do CNH: O que falta ao Clube? - Alzira Luís: UM EDIFÍCIO-SEDE CONDIGNO, armazéns para as embarcações, salas para a formação teórica. É preciso não esquecer que para o normal funcionamento de várias das modalidades existentes são necessários barcos de apoio. Este tipo de material tem que estar sempre em prontidão. Tem de haver condições físicas para o seu resguardo e trabalhos de manutenção. Importante também são as condições necessárias para a invernia dos Botes Baleeiros. Pelo que vi no Projecto para a 2ª fase das Obras do Porto da Horta, nada consta para o CNH. Ao lado do “Novo” Pavilhão para as Marítimo-Turísticas vai ficar o “Velho” edifício do CNH, isto é como “remendar pano velho com pano novo”. Vai realçar ainda mais o péssimo estado em que se encontra o edifício. É uma vergonha!

2013: Molhe do Porto das Velas - Alzira Luís acompanhada pelo inseparável companheiro destas lutas, o Comandante José Salema, na chegada às Velas da Regata Horta/Velas/Horta. João Silva, assistente de imagem da RTP Açores, também ficou na fotografia

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“Formação para os Voluntários” - Gabinete de Imprensa do CNH: Considera que é possível o CNH fazer mais do que aquilo que já faz? Em que sentido? - Alzira Luís: São as pessoas que fazem as instituições e a sua actividade será sempre aquilo que as pessoas quiserem. Se os Sócios quiserem fazer mais, com certeza que farão. As condições físicas são muito importantes, mas se as pessoas não quiserem, nada feito. As últimas direcções têm-se preocupado em ter técnicos credenciados para a formação nas várias modalidades, o que é fundamental para a evolução dos atletas. Neste sentido, terá sempre que haver essa preocupação de melhoria da oferta técnica. Um tema que considero importante e sei que fazem noutros locais é “Formação para os Voluntários”. Geralmente os Voluntários são pessoas já ligadas às actividades do Clube, no entanto, as especificidades dalgumas provas e as técnicas de apoio no mar com embarcações merecem especial atenção. Por isso, considero este ponto importante em termos de Segurança e Salvaguarda da vida humana no Mar. “Atlantis Cup” = vontade e teimosia - Gabinete de Imprensa do CNH: Há anos que está ligada à Organização da “Atlantis Cup”. O que representa esta Regata para o Faial e para os Açores? - Alzira Luís: A “Atlantis Cup” foi e é a única Regata de Vela de Cruzeiro que tem levado os Açores aos Açores, proporcionando a ligação entre as várias ilhas do Arquipélago. Foram acasos felizes que levaram à realização da 1ª “Atlantis Cup”, em 1988. Os tempos eram outros, não havia Marinas, as embarcações eram bem diferentes. Prevalecia o espírito de aventura duns quantos, que tinham e ainda têm água salgada nas veias. A vontade e a teimosia – também é preciso alguma – fez com que se continuasse a realizar (excepto em 1998, por causa do sismo) até aos dias de hoje. Para o Faial e para os Açores, é com certeza prestigiante ter uma Regata anual que soube, ao

Comissão de Regata da “Atlantis Cup” 2004 e Campeonato Nacional de Cruzeiros Da direita para a esquerda: Sergio Steffani (de camisola vermelha); Nuno Rodrigues; Fátima Menezes; Jorge Rosa; Paulo Martins; Comandante José Salema; Alzira Luís e Jorge Macedo

longo da sua história, cativar patrocinadores oficiais e privados e mais recentemente a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), passando a sua designação para “Atlantis Cup - Regata da Autonomia”. Para o Faial, a Regata tem impacto na justa medida em que traz barcos e pessoas que ficam mais ou menos tempo e em termos económicos representa algum acréscimo. Ao alterar as datas de modo a terminar na Horta no início da “Semana do Mar”, a ideia era trazer mais barcos para as regatas da “Semana do Mar”. Nas ilhas por onde passa, o impacto é maior. Estão todos fora de casa e, portanto, o impacto económico é maior. Em ilhas mais pequenas, como a Graciosa, Santa Maria, São Jorge e Flores, este acréscimo de actividade económica é notório, quer seja por via dos participantes, quer por via dos Eventos Sociais promovidos pelos respectivos Municípios. Penso que a Câmara Municipal da Horta é a única das 19 dos Açores, que até à data nunca “brindou” a “Atlantis Cup”. “Qualquer que seja o figurino, a “Atlantis Cup” será sempre uma grande Regata” - Gabinete de Imprensa do CNH: A “Atlantis Cup” devia ter um novo figurino ou está bem assim? - Alzira Luís: Conheci as várias versões da “Atlan-

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Alzira Luís – que tem sido o rosto do Secretariado da Prova – em medições para o “Rating CNH”, na “Atlantis Cup” de (17 Julho) 1999

tis Cup”. Tive a oportunidade de participar como tripulante do “Ilha Azul II” na última edição, penso que realizada no mês de junho, em 1993, com o percurso Horta/Angra do Heroísmo/Ponta Delgada. Nas outras versões participei em muitas, mas na Organização, o que envolveu em muitas, trabalhos de medições para o “Rating do CNH”. A logística da Organização da “Atlantis Cup” é complexa e está condicionada pelos horários das ligações aéreas, pelas condições existentes nos vários Portos, pelo tráfego portuário, no caso principalmente de Ponta Delgada e Vila do Porto, isto para falar só de algumas. Caberá à futura Direcção definir o que pretende fazer com a “Atlantis Cup”. Depois do que já foi feito, as portas estão abertas para se fazerem novos percursos. Qualquer que seja o figurino que se pretenda utilizar, a “Atlantis Cup” será sempre, com certeza, uma grande Regata. - Gabinete de Imprensa do CNH: Acha que esta Regata pode crescer no sentido de ser mais di-

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vulgada e atrair novos participantes? - Alzira Luís: Durante as 30 edições da “Atlantis Cup” houve altos e baixos na divulgação e atracção de novos participantes, determinados pela visão diversa das várias Direcções. Houve campanhas de divulgação muito eficazes e que permitiram a integração na “Atlantis Cup” de duas “expedições” da Associação Nacional de Cruzeiros (ANC). Estas participações deixaram semente e vários participantes da ANC da altura, voltaram por mais de uma vez por sua iniciativa. As ilhas estão cada vez mais próximas, as embarcações são melhores e mais rápidas, já não existe a mística doutros tempos, a aventura! Os novos participantes, não só as embarcações, são também os tripulantes e tem acontecido o aparecimento de novas tripulações vindas do exterior. É fundamental não esquecer que estamos no meio do Atlântico e que para chegar cá são precisos 7 a 8 dias de navegação pelo menos, mais uma semana para a Regata e mais uma semana de regresso, o que perfaz três semanas, no mínimo dos mínimos. Normalmente tem-se quatro semanas de férias, por isso tem acontecido nos últimos anos virem só as tripulações, que fazem a viagem de avião até cá, realizam a Regata e regressam de avião, e para isso alugam as embarcações cá. No Conselho-Geral de 13-06-2016 sugeri que se fizesse o registo da marca “Atlantis Cup” no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). (De acordo com o que se pode ler na página ofi-

10-06-1995: Alzira Luís na Regata “Volta à Ilha”, no “Ilha Azul”

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CLUBE NAVAL DA H cial do INPI, “uma marca é um sinal usado para distinguir produtos ou serviços de uma empresa no meio comercial. Além da marca, podem ser registados outros sinais de comércio: logótipos, denominações de origem, indicações geográficas, marcas de associação, marcas de certificação e recompensas. Em Portugal, só o INPI é que pode atribuir direitos de exclusividade sobre marcas e outros sinais utilizados no comércio)”. Penso que seria importante o registo para manter a exclusividade do nome. Este registo é um pouco complexo, mas decerto teria ficado concluído antes dos 30 anos. Na altura, a Direcção incluía dois juristas. Foi pena que não se tivesse feito. Teria sido um aniversário bem mais impactante, na minha opinião. Espero que um dia isto possa acontecer. - Gabinete de Imprensa do CNH: A “Atlantis Cup” contribuiu para aquilo que é hoje a Vela de Cruzeiro na Região? - Alzira Luís: Penso que não se pode falar de Vela de Cruzeiro na Região. Actualmente, existe na Região uma frota muito interessante de embarcações de Vela de Cruzeiro, com maior incidência nas ilhas do Faial, Terceira e São Miguel, que ao longo dos anos foi aumentando e actualizando-se. Isto não significa que tenha aumentado a participação das embarcações nas provas organizadas pelos vários clubes navais dos Açores. Houve um “boom”, primeiro em São Miguel e depois na Terceira na sequência da construção das marinas de Ponta Delgada e de Angra do

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Ponta da Doca: Semana do Mar de 1997 - Alzira Luís e Clotilde Duarte, elementos da Comissão de Regata

Heroísmo. No entanto, a Marina das Portas do Mar já não teve influência no crescimento da frota em São Miguel. O objectivo da aquisição duma embarcação de Vela não passa obrigatoriamente pela participação desportiva. Nos últimos anos e fruto dos incentivos financeiros existentes, tem aumentado o número de empresas com embarcações de vela inscritas na actividade Marítimo-Turística, o que tem proporcionado a vinda de tripulações para a “Atlantis Cup”. Neste novo paradigma, já não são só as embarcações que vêm mas, igualmente tripulações, o que é também uma mais valia a nível económico. Como já referi antes, esta nova actividade – aluguer de embarcações à Vela, sem ‘skipper’ – tem permitido a vinda de mais tripulações. Existe também uma nova geração de proprietários de embarcações que participaram como tripulantes e que agora têm como objectivo participar na “Atlantis Cup” com as suas embarcações. Crescimento do Festival Náutico depende das Entidades Locais e Regionais

Alzira Luís no apoio à Regata dos Velhotes, no decorrer da Semana do Mar de 1997, a bordo da embarcação de apoio

- Gabinete de Imprensa do CNH: E o Festival Náutico, tido como o maior de Portugal, pode crescer ainda mais? - Alzira Luís: Sim, dizes bem, tido como o maior de Portugal. A capacidade de crescimento do Festival Náutico está dependente da capacidade financiadora das entidades Locais e Regionais. É um Festival que só tem sido possível graças à

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grande capacidade organizativa e aos inúmeros Voluntários que, ao longo dos anos, colaboram com o CNH, cedendo o seu tempo, as suas embarcações e outros equipamentos. É preciso não esquecer que este Festival envolve mais de 1.000 participantes, a grande maioria jovens, que vêm de fora da ilha. A logística é enorme! “Os eventos são sempre realizados com o maior profissionalismo” - Gabinete de Imprensa do CNH: Considera que estes dois eventos representam aquilo que o CNH faz de melhor e por isso deveriam ser mais apoiados? - Alzira Luís: A “Atlantis Cup” e o Festival Náutico são dois eventos de grande visibilidade e são organizados pelo CNH com a maior responsabilidade e profissionalismo. Todos os eventos, quer Locais, quer Regionais ou Nacionais que o CNH tem sido chamado a

1994: Alzira Luís e Patrícia Lourenço na Ponta da Doca à espera da chegada dos barcos da Vannes/Horta/Vannes

organizar, são sempre realizados com o maior profissionalismo. Dizer que estes são os que representam melhor a actividade do CNH é minorar todo o restante trabalho nas outras actividades ao longo do ano, o que não considero justo. Considero que estes eventos devem ser mais apoiados, ou antes, melhor apoiados. Se os apoios fossem pagos atempadamente, já era um

Alzira Luís, na companhia de Filipe Silva, na Regata “S. Nicolau - um dia depois”, de 26 de Dezembro de 1994

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Um dos momentos do “Rally do Carnaval”, em Fevereiro de 1995, em que se realizou um Concurso de ‘Cocktails’

grande passo. De qualquer modo, os custos reais da Organização destes dois eventos nunca foram contabilizados considerando o grande número de Voluntários que dão o seu tempo, graciosamente, para a sua organização e realização. - Gabinete de Imprensa do CNH: Acha que a classe política está consciente da importância do CNH? - Alzira Luís: Dizem que sim, quando são chamados a falar publicamente sobre o CNH, mas basta olhar para o Edifício do CNH para ter a resposta. “Será sempre necessário trabalhar para arranjar patrocinadores” - Gabinete de Imprensa do CNH: É possível o Faial prosseguir sem um Clube como este? - Alzira Luís: Penso que seria um pouco pretensioso pensar que o Faial não prosseguiria sem o CNH, mas que seria diferente, sim, isso seria sem dúvida!

- Gabinete de Imprensa do CNH: O futuro poderá passar pela diminuição da actividade? - Alzira Luís: O aumento ou diminuição da actividade do CNH dependerá sempre da vontade dos Sócios. É evidente que os apoios públicos e privados são muito importantes. Sabemos que a quotização dos Sócios é uma “gota”. Será sempre necessário trabalhar para arranjar patrocinadores. - Gabinete de Imprensa do CNH: Qual a Secção com que mais se identifica? - Alzira Luís: Tem sido a Vela de Cruzeiro a “menina dos olhos”. - Gabinete de Imprensa do CNH: Com que Presidentes gostou mais de trabalhar? - Alzira Luís: Não tenho preferência, passaram vários, 8 penso eu. Todos diferentes com perspectivas e experiências de vida diferentes mas que procuraram engrandecer o CNH, dando o seu melhor.

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1997: “Ilha Azul II” engalanado por ocasião do 50º Aniversário do CNH

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CLUBE NAVAL DA H “Os organizadores não podiam sonhar a força da semente que estavam a lançar” - Gabinete de Imprensa do CNH: Na sua opinião, quais são os momentos marcantes do CNH? - Alzira Luís: Foi determinante a organização do “Caldo de Peixe” em 1975, de recepção à Regata Portsmouth/Horta/Portsmouth. Os organizadores não podiam sonhar a força da semente que estavam a lançar. As grandes organizações de Provas Regionais e Nacionais que têm prestigiado o CNH, nas várias modalidades, têm levado a sua capacidade organizativa a receber os maiores elogios. A recepção das Regatas Internacionais com organização dos meios humanos e físicos necessários e contando sempre com grande número de Voluntários. As participações de tripulações do CNH na “Route des Hortensias” e na “Horta/Vannes/ Horta” e mais recentemente a participação no “Campeonato do Mundo na Classe J80”, a convite dos franceses de Sables D’Olonne. A visita do Presidente da República, Dr. Mário Soares, em 1989, e mais recentemente, em 2017, a de D. João Lavrador, Bispo dos Açores, são provas do reconhecimento que é dado ao CNH, assim como a atribuição pela ALRAA da Insígnia Autonómica de Mérito Cívico, em 2017. A atribuição do “Prémio de Excelência Desportiva do ano 2011”, em 2012. Grandes festas, como o “Rally do Carnaval” em 1995, com um Concurso de ‘Cocktails’, apresentado pelas diferentes tripulações, e o 1º “São Nicolau, um dia depois” em 1994, em que as tripulações apresentaram momentos natalícios muito imaginativos. A Regata Horta/Velas/Horta, a mais antiga. Mas haverão muitos outros momentos marcantes, muitos mais!... - Gabinete de Imprensa do CNH: O CNH de hoje tem alguma coisa a ver com aquilo que era há 20 anos?

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- Alzira Luís: Nem pensar! Igual continua a ser o espírito que junta uns quantos por pura carolice, para trabalhar e a capacidade de agregar Voluntários para a concretização das suas organizações. Esta enorme capacidade tem permitido ter em actividade, actualmente, 13 modalidades. É obra! São mais de 100 eventos desportivos, por ano, em que participam atletas do Clube, dá mais de dois por semana!... “Só quem acabou de chegar ao Faial não saberá que existe o CNH” - Gabinete de Imprensa do CNH: Fora do Clube, o que dizem sobre esta instituição? - Alzira Luís: “CLUBE NAVAL” com observações elogiosas e de reconhecimento pelo trabalho que desenvolve. - Gabinete de Imprensa do CNH: Ainda há pessoas que no Faial desconhecem o CNH? - Alzira Luís: Só quem acabou de chegar ao Faial não saberá que existe o Clube Naval da Horta. Mesmo assim, muitos que cá chegam já o conhecem. Hoje em dia a informação é globalmente distribuída e quem tem interesses na área procura. Conhecer as actividades, os problemas, o trabalho muitos saberão. No entanto, nunca é demais divulgar as actividades do dia-a-dia, quaisquer que sejam. Nos tempos que correm, de intoxicação informativa, será necessário dar uma particular atenção à forma como a divulgação é feita, para que esta possa ser eficaz. Enquanto que a ‘Newsletter’ e o ‘Site’ serão vistos pelas pessoas mais directamente ligadas ao CNH, as redes sociais têm permitido, com certeza, o aumento da divulgação das actividades do Clube, fazendo-a chegar a mais pessoas. Não esquecer que a globalização da informação tem permitido que muita gente da diáspora e não só acompanhe regularmente a actividade do CNH.

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CNH CONFERÊNCIA ECOTUR 2018

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convite da Câmara Municipal da Horta, o CNH esteve presente na Conferência Ecotur 2018, que se realizou no Teatro Faialense no dia 19 de novembro de

2018. Publicamos a intervenção de José Decq Mota, presidente do Clube Naval da Horta, nesta conferência sobre a importância da náutica e do turismo costeiro e marítimo para o desenvolvimento económico do concelho da Horta, assim como o vídeo apresentado nesta sessão.

Senhoras e Senhores Com o vídeo que acabámos de apresentar procuramos corresponder ao desafio que nos foi posto e que consistia na “Apresentação da oferta das atividades náuticas do Clube Naval da Horta”. Penso que o trabalho apresentado dá a todos, justamente, a ideia nítida da intensa, diversificada, envolvente e aberta atividade do Clube Naval da Horta em muitas modalidades náuticas, em muitos e importantes eventos e na promoção dos Açores e das suas aptidões náuticas no exterior. Agora cabe-me a responsabilidade de, sem repetir a informação veiculada pelo vídeo, procurar, em poucas palavras, explicitar os princípios fundamentais que estão na base da

orientação que leva a toda esta atividade, as questões fundamentais que levam a que o CNH seja uma instituição muito inserida nesta sociedade e no mundo náutico e deixar algumas notas, quer sobre as nossas boas práticas, quer sobre as nossas dificuldades. Antes, porém, de iniciar essa breve exposição permita-se-me que felicite vivamente a equipe que concebeu o vídeo, selecionando temas e imagens, escrevendo os textos, realizando a montagem e a sonorização. Essa equipe é constituída por Artur Simões, Técnico do Gabinete de Informática e Comunicação do CNH, António Menezes Porteiro, Técnico de Gestão Desportiva do CNH, Inês Martins, colaboradora voluntária e contou com a colaboração estreita dos membros da Direção Jorge Fontes e Susana Rosa. A todos eles o meu muito obrigado. Senhoras e Senhores O CNH foi, desde o seu início, um Clube que aspirava a promover, de forma aberta, os desportos náuticos. Muito embora fosse inevitável que estas atividades fossem marcadas pelos paradigmas e imposições da organização social dominante em cada época, é certo que a abertura social do Clube e dos seus sócios, especialmente à juven-

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tude, foi uma realidade presente no passado que se expandiu fortemente, depois da democratização do País, iniciada com o 25 de Abril de 74. A transferência para os Clubes da formação inicial em modalidades como a vela ligeira, a canoagem e a natação e a integração dos quadros competitivos dessas modalidades no movimento associativo e federativo, situação que nos Açores se processou no fim dos anos 80 e no início dos anos 90, trouxe aos Clubes outra e maior dimensão e criou mecanismos diretos de captação juvenil para os desportos náuticos. Pode dizer-se, com rigor, que uma das linhas de orientação mais antiga e sólida na vida do CNH é a de manter uma abertura social muito forte que permite ao conjunto da sociedade, e em especial à juventude, aceder à prática de desportos náuticos. Essa abertura tem ajudado muito a que sejam esbatidas barreiras, nomeadamente as económicas, que se interpõem entre as famílias e modalidades desportivas que são muito onerosas. Pode dizer-se, também com rigor, que as formas de organização adotadas nas várias modalidades, na gestão de contratos programas com as entidades oficiais que enquadram a atividade desportiva, na procura de técnicos credenciados, na gestão dos meios náuticos de apoio às modalidades e principalmente na mobilização de voluntários que enquadram regatas e provas,

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são a base prática viabilizadora dessa abertura e dessa crescente capacidade de mobilização. A ligação dos faialenses ao seu porto, infraestrutura secularmente essencial ao desenvolvimento do Faial, determinou ao longo do tempo a criação de uma forte vontade de acolher bem quem chega por mar a esta ilha. Foi assim ao longo dos anos e foi assim quando começaram a aparecer os chamados “aventureiros”, navegadores que ousavam fazer longas travessias atlânticas em pequenos e, em geral, frágeis embarcações, quase todas de vela. Esta circulação de embarcações de recreio e de aventura foi-se acentuando sempre e a Horta passou a ser, e é hoje, um ponto de escala essencial para aquilo que agora designamos por Náutica Internacional de Recreio e Desporto. O Clube Naval da Horta, constituído por muitas pessoas profundamente ligadas ao mar e que, lucidamente, percebiam e percebem a importância económica, social, desportiva e cultural desse imenso tráfego marítimo específico, desde sempre se associou a ações de receção, convívio e interação com esses navegadores. Foi assim que se começou a receber regatas e rallies náuticos, a organizar provas locais envolventes desses visitantes e a interagir, com muita força e determinação, com toda essa forte realidade desportiva e turística. Nasceu assim e consolidou-se fortemente outra linha de orientação do CNH que é

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CLUBE NAVAL DA H a de contribuir para a promoção dos Açores, do Faial e do porto da Horta como destino náutico de excelência e a de envolver a Horta na competição internacional à vela de alta competição. Essa orientação é desenvolvida pelo Clube com grande intensidade e em parceria com várias entidades, nomeadamente, a CMH, a Portos dos Açores, SA, o Turismo dos Açores e a ARVA. O Clube Naval da Horta participa com intensidade nas várias expressões do associativismo náutico federado e assume, de forma plena, os contributos que tem o dever de dar enquanto clube organizador de provas náuticas regionais e nacionais. O Clube, incentivando a qualidade, apoia sem reservas e com grande empenho, os projetos especiais como são o projecto olímpico do velejador de alto rendimento do CNH Rui Silveira, os percursos dos velejadores do CNH com estatuto de Jovem Talento, as participações em provas internacionais, como aconteceu este ano com o Campeonato do Mundo em J80, realizado em França e no qual participou, tendo por base um projecto de sustentação, uma equipe do CNH liderada por Armando Castro. Este Clube tem demonstrado uma total disponibilidade e vontade de abrir novos horizontes na prática desportiva náutica, sendo exemplos claros disso mesmo a realização sistemática, nos últimos anos, da difícil e exigente travessia do Canal Faial Pico a nado, o empenho posto no Programa Vela para Todos – Faial sem Limites, de vela adaptada a portadores de deficiência, desenvolvido em parceria com a APADIF, bem como todas as ações de formação e promoção da Vela Ligeira, Vela de Cruzeiro, Canoagem, Natação, Windsurf, Apneia, Fotografia Subaquática, Modelismo Teledirigido (Miniveleiros), Pesca Desportiva de Costa, Pesca Desportiva de Barco e Motonáutica. A participação e adesão do CNH ao vasto programa de recuperação, classificação e utilização desportiva do Património Baleeiro Móvel (Botes e Lanchas da Baleia) e o Protocolo feito com Juntas de Freguesia do Faial possuidoras de Botes, introduziram uma muito intensa atividade de prática e competição á vela e remo em Bote Baleeiro, mobilizadora de muitas pessoas de ambos os sexos, de todos os escalões etários e de todas as origens sócio profissionais. Acresce que esta é uma atividade de defesa da existência e utilização de embarcações tradicionais de uma

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grande qualidade náutica. Toda a atividade que o CNH promove e desenvolve revela outra linha de orientação fundamental, presente há mais de 40 anos na vida do Clube, e que se traduz na permanente procura da diversificação das atividades náuticas, no aumento do numero de praticantes, na busca da qualidade desportiva, tudo isto num quadro associativo claro, participado e muito enriquecido com a participação voluntária dos sócios. O CNH dispõe de um pequeno quadro de funcionários e dispõe da colaboração de técnicos nas áreas da Vela, Natação e Canoagem e de Formadores nas áreas da Navegação de Recreio e em outras áreas específicas e que desenvolvem a sua atividade no âmbito do Centro de Formação de Desportistas Náuticos. Dispõe de um serviço administrativo e de um gabinete de informática e comunicação. Dispõe de um serviço de armazém, oficina e abastecimento de combustível. Estes serviços são essenciais à vida do Clube, ao desenvolvimento de todas as rotinas, mas insuficientes para enquadrar toda a atividade que é necessária, no mar e em terra. O CNH é, há 42 anos, a entidade organizadora do Festival Náutico da Semana do Mar, concentrando em pouco mais de 8 dias, um enorme conjunto de regatas, provas e eventos desportivos náuticos, muito participados e, em muitos casos, de complexa organização. O CNH é, desde há 30 anos o Clube Organizador da Regata de Vela de Cruzeiro Atlantis Cup – Regata da Autonomia, que faz navegar nas águas e entre as ilhas dos Açores, veleiros da Região e de muitas outras proveniências. O CNH tem sido organizador, coorganizador, apoiante e colaborador de muitos campeonatos nacionais e regionais, de muitas regatas internacionais, de meetings, de concursos e outras iniciativas em áreas tão diversas como a vela, o windsurf, a canoagem, a natação, a fotografia subaquática, a apneia, a motonáutica e a pesca desportiva. Toda esta enorme atividade, se é verdade que, na sua execução, exige que todos os meios profissionais do CNH estejam envolvidos, também é verdade que não seria possível esta intensidade de atividade sem um claro e assumido voluntariado exercido por quem se identifica com os objetivos do Clube.

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As realidades que acabei de referir permitem isolar mais uma linha de orientação, assumida há dezenas de anos pelo Clube e que consiste na assunção de uma gestão associativa, muito valorizadora das aptidões náuticas dos sócios que voluntariamente enquadram muitas atividades. O CNH tem sabido, e bem, fugir de algumas ideias, por vezes referidas, que tenderiam a substituir as suas práticas associativas de gestão por práticas de tipo empresarial, muito mais onerosas e limitadoras da atividade e da abertura que caraterizam o CNH. O CNH tem conseguido desenvolver, num quadro de boas práticas antigas, as linhas de orientação que sublinhei. Não obstante isso, existem dificuldades sérias das quais destaco a insuficiência e degradação das instalações, que são de tal ordem que me levam a afirmar que o CNH não terá condições, muito proximamente, de manter o volume e variedade de atividade que promove e realiza, se esse problema, ligado à execução de um projecto pronto desde 2013, não for encarado de frente; destaco também as muito sérias carências actuais em equipamentos desportivos e embarcações de apoio, que para serem resolvidas necessitam de maior apoio e maiores patrocínios. A terminar gostaria de frisar três pontos importantes: O Clube Naval desenvolve práticas de pre-

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servação ambiental ativas, coerentes e consequentes, procurando engrossar os recentes movimentos de combate aos resíduos que vão empobrecendo os mares; O Clube dá uma particular e muito forte atenção às questões da segurança no mar, quer nos treinos, quer nas provas. O Clube mantém uma permanente preocupação em relação a tudo o que se prende com o futuro do Porto da Horta, que sendo uma muito importante mais-valia para o conjunto da Região Autónoma dos Açores não pode continuar a ser alvo de erros que diminuam as suas capacidades. Termino reafirmando a minha profunda confiança de que o CNH e os seus sócios, em ligação muito forte com a sociedade de que faz parte, saberá, tal como tem acontecido ao longo da sus vida, encontrar o caminho que permitirá o seu reforço, ao serviço dos interesses do Faial, dos Açores e do País. Fico à vossa disposição. Disse, muito obrigado. Horta, 19 de novembro de 2018 José Decq Mota

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DESDE 1947 PRÉMIO DE EXCELÊNCIA DESPORTIVA 2011 INSÍGNIA AUTONÓMICA DE MÉRITO CÍVICO 2017 WWW.CNHORTA.ORG

MONTAGEM: ARTUR SIMÕES TEXTOS: CRISTINA SILVEIRA


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