COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Alô Farooq, Carla Lopes, Diogo Nascimento, Frederico Ferreira, Hugo Uelman, Pedro Panetto, Ricardo Riscas, Rui fonseca, Rúben Rosário, STAFF
Ana Ennes - anaennes04@hotmail.com Eduarda Almeida - duda_almeida21@hotmail.com Falcão Filipe - falcaofmdm@gmail.com João Costa - joaofilipecosta91@gmail.com Karen Mia - karen.mia.design@gmail.com Ricardo Pereira - ricardopereira.mof@gmail.com Rita Caferra - ritacaferra@hotmail.com Tiago Carvalho - ti21tascar@gmail.com
COLAGENS BOÉMIAS
colagensboemias@gmail.com colagensboemias.tumblr.com www.facebook.com/colagens.boemias12 https://twitter.com/ColagensBoemias
PERIOCIDADE
Quando bem me apetecer! Fica atento.
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2015, tudo continua na maior normalidade de sempre. Durante o primeiro trimestre do ano, o tempo vai sofrendo algumas mudanças… A princípio graduais, com nuvens de pó que se alastram por todo o lado, com os animais que partem em debandada e com a chuva que se torna cada vez mais intensa, espessa e de cor avermelhada… depois passam a ser mais ferozes, violentas e grotescas… Bumm, Bumm, Bummmm, explodem os trovões numa hipnotizadora e inquietante sinfonia. Chegou finalmente o momento que há muito estava traçado, o momento em que o Universo decidiu dar-nos umas palmadas pelo nosso mau comportamento, o momento que não acreditávamos ser possível… o drama vermelho, o Fim do Mundo, ou quem sabe o começo de um novo Mundo, com novas vidas, novas experiências e novas visões. Certo dia, depois de sermos invadidos por um ensurdecedor e perturbador silêncio decidimos abrir as janelas do esconderijo boémio e ficamos embasbacados a olhar para o horizonte... o mundo como o conhecíamos já não existe, não passa agora de uma efémera lembrança. A pergunta que impera é “Como é agora este estranho e novo mundo?”...
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Lá fora as habitações foram varridas pelo vento - excetuando uma ou outra - como se de meros grãos de pó se tratassem, as árvores que se encontram ainda de pé estão mais nuas que nunca, com os troncos mal tratados e esburacados, o solo está coberto de nuvens volumosas cinzentas e o céu… bem, esse assumiu uma amplitude assustadoramente mais bela e negra, encadeado pelos choques luminosos dos relâmpagos que iluminam e ofuscam tudo à sua volta. Passadas as primeiras impressões, as recordações fugazes uma vez categorizadas de eternas, cravejadas de metal, vidro e plástico é altura de vermos as coisas com olhos de ver. Não soa bem, nem é colorido, mas o tempo e a vida continuam. Paisagens alienígenas, porém familiares. O cinzento que cobria o solo dá agora vez a uma terra ainda mais verde, ainda mais brilhante e com um odor ainda mais intenso e fresco. Cada vez mais sons, cada vez mais luz fazem impor a sua presença. Os animais que conhecíamos sofreram uma metamorfose, reajustaram-se às novas condições, sendo agora donos de um porte mais forte e robusto, como se tivéssemos voltado ao Jurássico Park, contudo o olhar ternurento e enigmático continua lá. Sobrevoam os céus, patrulham as florestas, dão braçadas pelo único oceano que nos resta e, apesar dos males que lhes fizemos na vida passada ajudam-nos e ensinam-nos a viver neste novo mundo.
Todos juntos somos agora um só ser, uma só comunidade, que apesar de anatomicamente diferentes vivemos com o mesmo intuito – desfrutar e sobreviver neste novo e enigmático Planeta. E é aqui que a fantasia e o mistério se revelam… Na possibilidade de emendar erros anteriores, na probabilidade de uma nova alegria nesta nova Utopia.
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Do cinema mudo à era do digital, apenas um Homem o percorreu. Agora de sorriso estampado na cara e refastelado na sua poltrona vê os próximos passos da 7ª Arte, da sua arte. O Homem aclamado pelos festivais e pela crítica internacional, nem sempre conseguiu seduzir os espectadores do seu País, talvez por sermos um tanto ou quanto mesquinhos e não darmos o devido valor e mérito ao que é nosso. Manoel Cândido Pinto de Oliveira, nascido a 1908, na bela cidade do Porto abriu os olhos ao mundo no momento certo… 13 anos após o nascimento do cinema. Coincidência ou apenas acaso do destino? Nós preferimos achar que há estradas que nos indicam o caminho certo, depois cabe-nos a nós seguir o nosso coração. E por falar em coração, isso foi o que nunca faltou ao realizador que, apesar de todas as críticas e elogios manteve-se sempre fiel às suas emoções, àquilo que fazia o seu coração palpitar mais rápido.
“O cinema é um fantasma da vida que não nos deixa senão uma coisa sensível, concreta: as emoções”. – Manoel de Oliveira Avisamos desde já que não tencionamos enumerar a extensa e luminosa obra de Manoel de Oliveira, mas sim a essência e a alma do artista aqui em questão. Um homem cujo olhar vivo e curioso revelam a sua vasta sabedoria e aprendizagem, que conjugada com a sua juventude e irreverência culminam num cinema peculiar, inquietante, profundo e extremamente humanista. 15
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O mestre era um sublime contador de histórias, quer fossem suas, quer fossem dos outros. Quem teve o privilégio de o conhecer confidência que ele era um ótimo conversador, adorava falar sobre as vivências passadas, sobre as experiências mundanas, enfim abria todo o seu livro de memórias. O próprio realizador disse certo dia que
“A vida é de onde se tiram os argumentos, as ações que se vão depois projetar fora, como se fossem verdadeiras, só que não são verdadeiras, são inventadas, são feitas à sombra e à imagem da realidade mas não são reais, são ficção.” Nunca ninguém conseguiu por um freio na sua criatividade, na sua magia, na sua energia e na sua vontade de filmar, filmar, filmar… até que a sua última memória passou para outro plano, para uma nova luz. Certo dia da semana andará ele pelo paraíso celestial do cinema, rodeado pelos olhos atónicos dos seus semelhantes, a recitar sobre a evolução do cinema, sobre os filmes a cores e digitais e, sobre como ele não só presenciou toda esta diversidade, como também foi o único que realizou filmes em todas estas etapas aliciantes. 16
Durante anos Manoel de Oliveira, tal como todos nós, correu lado a lado com o tempo, enganando-o por diversas ocasiões. No seu flanco teve um tempo veloz e efusivo permitindo-o fazer filmes à velocidade da luz, e um tempo calmo e sereno, sem pressas que por cá andou durante 106 anos a ver a criatividade, a beleza e a singularidade de um ser extraordinário.
Obrigada e até já. Vemo-nos do outro lado!
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Produtor e Criativo de um canal pensado para todos os Designers
POR EDUARDA ALMEIDA
Vocês já sabem que nas Colagens Boémias não há barreiras no que toca à criatividade, que adoramos navegar por outros mares… e foi exatamente o que fizemos, fomos ao encontro do nosso país irmão, o Brasil. Lá encontramos à nossa espera o Pedro Panetto, criador e gestor do canal do Youtube de nome homónimo. Aos 23 anos de idade, Pedro aplica os seus conhecimentos e criatividade ao trabalhar como designer gráfico e de produto, bem como na realização dos seus próprios vídeos. Confessanos que, a sua paixão pelo design surgiu com maior intensidade na época da Universidade, onde começou a ter uma perceção diferente, do que é o design e de tudo o que o envolve.
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Inicialmente procurava criar um blog sobre este assunto, mas ao deparar-se com uma qualidade de oferta tão extensa procurou outra solução. Foi aí que se deparou com uma via, que ainda não estava devidamente explorada, “um canal sobre Design
Pedro confessa que: “Eu procuro
2014 o seu próprio canal no Youtube: Pedro Panetto, com a motivação de partilhar não só conhecimentos sobre esta temática, como também estar sempre atualizado, tornando-se assim num profissional melhor.
em relação aos posts dos seus vídeos tem superado as suas expectativas e, dado uma motivaçãozinha extra para continuar o bom trabalho. Através de um contacto mais direto com os “ouvintes” recebe críticas muitos positivas, agradecimentos pelo conhecimento transmitido e, ainda convites para dar palestras.
temas relacionados com dúvidas que eu tinha ou que vejo nas pessoas. Também procuro mostrar o valor do Design na sociedade. Procuro sempre fazer os vídeos de um modo rápido e dinâmico, que abordasse conceitos e temas para que quem assiste aprenda e da profissão”, como o próprio compartilhe o conhecimento com nos explica. Assim, partindo desta necessidade lançou em Fevereiro de facilidade”. O feedback recebido
Quando questionado sobre como faz a escolha dos temas a abordar,
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Ao ser confrontado sobre o que esta arte o faz sentir, este jovem artista confidencianos que para ele o design é um meio único de resolução de problemas, obrigando-nos a ver as coisas de um prisma que os outros não são capazes, atribuindo características que ninguém imaginava ser possível até elas estarem diante dos nossos olhos. Em cada projeto que mergulha a dedicação e o sentimento são sempre os mesmos: primeiro vem a animação pelo novo trabalho, depois o desespero e pânico e finalmente uma enorme realização, por poder ver uma ideia ganhar forma. Aquilo que mais o atrai e enfeitiça nesta profissão é exatamente isso, a possibilidade de criar coisas que existirão num futuro próximo. “Pode ser o futuro de
uma empresa para a qual estou a criar a marca, ou de uma linha de produtos que eu venha a projetar, de qualquer forma sinto-me como um agente ativo no rumo que as coisas irão tomar.”, desabafa por fim.
Pedro Panetto mostrase ansioso e animado por fazer uma visitinha a Portugal, mas, enquanto isso não acontece espera criar uma linha de produtos própria, continuar a imaginar e a criar dia após dia, influenciando e motivando todos aqueles que vêm os seus vídeos e palestras. Acima de tudo sonha continuar a inovar não só para si, como para todos aqueles que o rodeiam, até porque nas palavras do próprio “o Ser Humano é
um dos principais pilares de qualquer projeto de Design”.
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POR ANA ENNES
“Deus lhe pague” é uma expressão utilizada desde há muito tempo atrás, como um agradecimento sincero dito pelos veteranos mais queridos e adorados do nosso país. Este agradecimento mudou de tom, quando a ‘geração 25 de Abril’ munida de liberdade, novos costumes e tradições começou a usar esta mesma nas suas conversas como brincadeira. Uma expressão que se manteve viva pedra sobre pedra...boca sobre boca... geração sobre geração até hoje já tomou muitas formas! Adaptou-se aos tempos e às suas gentes... Há uns anos atrás (não muitos) começou-se a acrescentar mais algumas sílabas nesta emblemática expressão que de repente passou de declaração a confissão – “Deus lhe pague que não tenho como”. Há coisas que nunca mudam, e os portugueses podendo às vezes parecer que não, gostam do que é seu! Por isso não haveria outra forma de mostrar a revolta de uma crise que brotara, senão pegando em algo tão seu como “Deus lhe pague” e temperando com uma pitada de pimenta. Hoje em dia, os portugueses andam ainda mais revoltados e com razão! Tiraram-nos tudo e mais alguma coisa, subsídios, ordenados, pensões, férias e acima de tudo calma para lidar com tanta calamidade politica a reinar. “Deus lhe pague que eu agora não tenho trocos” é a expressão que reina atualmente no meio do povo, até aqueles cuja alma não é católica apelam à identidade desconhecida de um ser omnipresente. Os jovens dizem esta frase com a jovialidade e uma certa arrogância, de quem ainda tem muito para ver... e quem um pouco de tudo já viu carrega-a com um timbre de desespero. O português não tem como pagar, isso é certo! Mas português que é português faz questão de o dizer a rir ou a chorar, muito sério ou com tom irónico. Desde 1974 que as palavras fazem furor em tempos difíceis e, como já se falou aqui há coisas que nunca mudam! 24
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POR JOÃO COSTA
Realizado por Bong Joon Ho
O mundo gelou. A população mundial resume-se a um comboio de viagem eterna que percorre o mundo. Num ecossistema débil e limitado pelas condições extremas de sobrevivência, assistimos ao desenrolar da força e peripécia dos passageiros da última carruagem. Presos e escravizados pelo poder fascista instalado, e guiados por um líder liberalista, tentam vencer as diferentes carruagens hierárquicas até chegarem ao motor eterno que lhes garante o poder de mudança para um “novo mundo”. Um filme de crítica que não pode fugir à tua lista de filmes a ver.
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POR RICARDO PEREIRA cola-te nisto!
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Foi na Escola EB2/3 de Rio Tinto, no 9º ano escolar, que nasceu o projecto 800 Gondomar -, uma banda de garagem baptizada pelo baterista Rui Fonseca e o guitarrista Frederico Ferreira (Fred) que procuravam explorar o mundo musical para além da academia, isto é, ao seu próprio gosto e prazer. Nas palavras de Rui: “Na altura não havia dinheiro para psicólogos, então tivemos de criar uma banda”. Foi sob esta criação que ocuparam os 3 anos seguintes do liceu, a desenvolver e a divulgar este projecto. O primeiro concerto deu-se em Novembro de 2013 na Escola Soares dos Reis, um espectáculo improvisado com um tripé de câmara fotográfica a fazer de suporte para o microfone envolvido em fita-cola ligado a um amplificador de guitarra. Este não passou despercebido, e a sua gloriosa apresentação ainda se pode sentir a ressoar nos destroços dos alicerces que à sua volta ruíram num orgasmo de pura genuinidade.
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Ainda no inicio, a banda lidou com alguns contratempos relacionados com a falta de motivação dos outros dois elementos. Desta forma, Rui e Fred procuraram preencher os lugares que aos poucos foram sucessivamente abandonados, em busca de um guitarrista e de um baixista que acreditassem na causa do projecto. Rui reforça da seguinte forma “ Se
entras na nossa banda, esta é a nossa família, é a nossa causa, quando tens tempo livre é para depositares nela.”.
Diogo Nascimento, um auto didacta da guitarra, que já os conhecia desde a primária, ao aceitar um convite para participar num ensaio, acabou por ficar a fazer parte do projecto. Mais recentemente, em 2014, é apresentado à banda Alô Farooq que, apesar de ter iniciado o seu percurso musical aos 14 anos na guitarra (mais tarde do que os restantes), acabara por ocupar o lugar de baixista neste grupo musical.
“Nenhum de nós é um musico extraordinário, e o Punk é a oportunidade perfeita de fazer música sem ter esta pressão, usufruindo da simplicidade dos 3 ou 4 acordes que nos permitem ser genuínos”
– Alô Farooq
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No que toca a influências musicais, parece não existir limites para esta banda, mas é indiscutível a presença da vertente do Punk Rock. Não deixando de mostrar interesse no Hip Hop, Garage Rock, e até mesmo nas músicas Disco. É em palco que a presença do Punk ganha vida, o seu discurso troca as crises existenciais e as reflexões profundas do “ser”, por uma linguagem mais directa e crua encharcada em vibrações de num ritmo colossal. Nos concertos dos 800 Gondomar não é permitido reflectir só com a mente, ela fica aprisionada a um vaso, esse que também tem vontade própria, a vontade de “partir tudo”. São estas energias negativas acumuladas no dia-a-dia, projectadas numa performance única envolvendo
o público no seu próprio caos interior.
“Não vivemos muito à base daquele discurso da luta contra o sistema, mas tentamos sempre passar algum tipo de mensagem: há sempre um tema e um sentido e penso que ao vivo conseguimos transmitir isso”,
diz Rui Fonseca. Nos seus concertos já houve nudez, pirotecnia, todo o tipo de instrumentos e objectos a voar e, no geral, uma boa dose de caos. A banda começou a ganhar uma base fiel de seguidores, também sedentos de loucura e moches. Rui completa: “Acho
que o público realmente consegue divertir-se connosco, e muitos encontram coisas que já pensavam estar esquecidas dentro deles.”.
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Os 800 fazem parte do colectivo “O cão da Garagem” destinado a impulsionar as novas bandas de garagem. A sua divulgação começou por actuações em bares, salas de estar, parques de campismo. Só mais tarde calcaram o palco do Armazém do Chá no festival Sai do Sofá, no qual acabaram por ser distinguidos como uma das 15 bandas revelações a nível nacional pela fonte “Thereshold”. Com o recente lançamento do seu primeiro EP, dispõem de algumas musicas, que servem perfeitamente como cartão de visita da sua identidade, e as restantes terão que ser apreciadas ao vivo.
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Com um estilo de gravação muito peculiar, classificado como uma produção lo-fi, agem como forma de protesto contra o açúcar para os ouvidos, contra as músicas refinadas pelas grandes produções em massa que se preocupam mais em educar o público a favor do seu interesse financeiro. E também não deixam de ser uma homenagem ao “do it yourself,
e ao surf rock dos anos 60. O lo-fi é também uma óptima ferramenta para eliminar o publico que logo à partida não tem disponibilidade para nos conhecer, desta forma obriga as pessoas a largar os cânones musicais a que estão habituados, para poder desfrutar daquilo que temos para dar.” – Rui A.
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Na oficina do avô, Ricardo, que ainda não era riscas, brincava com madeiras, pregos e martelos. Construía pequenos aviões e carrinhos, alimentando a sua paixão quase genética pela recriação e reciclagem de materiais. Mais tarde, descobre o gosto pelas artes e especialmente pelo desenho, a forma de representação sempre presente na sua vida. Durante a adolescência, Ricardo Riscas aproxima-se da música, aprendendo a tocar guitarra e baixo, tendo até fundado mais que uma banda com os seus amigos, sendo uma delas de covers chamada Road House Blues na qual ocupava o lugar de baixista. Decide seguir Marketing na faculdade, apesar do constante incentivo por parte dos amigos para enveredar pelo mundo das artes. Frequentou o ISCAP, em Matosinhos, onde colaborou como espécie de Director Criativo do jornal universitário “A Coluna”. Conhece Carla Estrada com quem viria a trabalhar nesse mesmo jornal, sobretudo como designers gráficos. Carla estudou na ESAD, trabalhou numa gráfica e deu aulas de música a crianças. Mais tarde, juntos criaram a Romã Design, uma empresa de Design de Comunicação. Hoje trabalham como designers freelancers.
POR JOÃO COSTA
É no Natal de 2010 que Ricardo Riscas decide construir uma guitarra com uma caixa de charutos para oferecer a um amigo. Um instrumento que nasceu em 1840, quando as empresas de charutos e cigarros começaram a embalar o produto em caixas mais pequenas. Foi sobretudo com os Afro-
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americanos que este instrumento, a Cigar Box Guitar ganhou importância considerável, uma vez que a pobreza por eles vivida, impedia-os de adquirirem instrumentos novos. A vontade de Blues obrigara-os a reaproveitar as caixas de charutos para construírem as suas armas. A parte da caixa acústica é concretizada pela caixa e o braço da guitarra feito de madeiras reaproveitadas, três cordas e um microfone de um antigo telefone. Ricardo Riscas demorara apenas uma semana a criar a sua guitarra caixa de charuto.
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O feedback dos seus amigos foi tão bom que Ricardo Riscas tentara amaciar a crueza do som em futuras guitarras. A sua primeira estava funcional, mas verde, muito verde. Depois de perfilhadas, com o nome de Lucky Stripes é que as suas guitarras ganham uma nova estética e, por sua vez, uma nova funcionalidade. ‘Stripes’ seu último nome, e lucky para dar o toque supersticioso à coisa -, lembremo-nos da lenda dos cigarros Lucky Strikes. Carla Estrada é hoje a sua maior ajuda com a alma deste projecto. Em 2014, Ricardo Riscas conhece uma das suas referências musicais, Seasick Steve, um músico de blues, reconhecido por actuar com os seus instrumentos homemade. Há muito que queria conhecê-lo, apesar de ter enveredado pela aproximação a este músico através de um contacto na organização do festival Paredes de Coura, numa tentativa de divulgar a Lucky Stripes. Por obra do acaso, conhece pessoalmente Seasick, enquanto esperava pelos concertos perto dos bastidores. A abordagem foi simples, a prenda foi directamente oferecida. Seasick tocara com a sua Lucky Stripes. É com enorme prazer que as Colagens Boémias apresentam a Lucky Stripes, deixando os contactos necessários para quem queira adquirir uma destas belezas!
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Para combater o frio que ainda se faz sentir, nada melhor que um chazinho para aquecer a alma. Mas melhor que o chá, só mesmo um docinho para aquecer o coração! Esta receita é muito simples, tudo depende da quantidade que desejar! POR RITA CAFERRA
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Ovos (qb) | Açúcar | Farinha | Manteiga Fermento em pó (2 colheres) Natas frescas Compota (ao gosto) Frutos Vermelhos (podem ser trocados por outra fruta)
Ligue o forno e deixe aquecer a 180º.
Primeiramente necessitará de uma balança para pesar os ovos. O peso dos restantes ingredientes separadamente deve ser igual ao peso dos ovos, por isso a receita depende da quantidade de ovos que usar. Seguidamente adicione os restantes ingredientes pela seguinte ordem: Açúcar, farinha, manteiga e fermento. Misture tudo com a ajuda de uma batedeira até ficar cremoso. Revista as formas com manteiga e farinha tal e qual como faz para os bolos e preencha-as até 2/3. Leve ao forno durante aproximadamente 20 minutos. Quando estiverem cozinhados, deixe os queques arrefecer, não queremos que a cobertura derreta! Para decorar, abra os queques ao meio recheando com compota e natas, na cobertura volte a por um pouco de natas ou chantilly, se preferir e cubra com os frutos vermelhos. As natas frescas costumam ter um sabor amargo, se pretende um sabor mais suave, coloque uma ou duas colheres de açúcar em pó para adoçar. E assim ficam prontos os nossos cupcakes, delicie-se desfrutando de um chá quente e uma boa companhia! 37
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coelho na brasa
A Mishevous nasce da iniciativa de dois amigos, Rúben Rosário - Designer de Moda - e Hugo Uelman - licenciado em Jornalismo e Comunicação. Os dois sempre tiveram o sonho de se lançar no mundo da moda e acreditam que chegou o momento. A marca surge com o objetivo de criar roupas e acessórios com um design exclusivo, 100% português, e feito manualmente a partir do atelier que ambos montaram na casa onde vivem. O trabalho destes dois criadores passa essencialmente pela criação de peças com padrões fortes e a utilização de técnicas artesanais, que apesar de darem mais trabalho, segundo os mesmos, fazem toda a diferença. Os jovens têm como principio o “Urban Style” e acreditam que cada esboço que fazem ditará o estilo de alguém por isso dão a garantia de um look irrepetível, no final. Nesse sentido a marca acaba de lançar a coleção “Urban Impresssive”. Uma coleção “urban wear” inspirada no espírito desportivo e rebelde dos bairros norte-americanos. Um mix entre o urban chic e o rebellious fashion dos anos 90. As peças caracterizam-se pela mistura de materiais, padrões e texturas fortes, assente em formas retilíneas, andrógenas e em camada. São utilizados letterings associados às roupas de desporto, no entanto, usando técnicas tradicionais e artesanais, que marcam pela diferença. A coleção tem ainda um conjunto de acessórios práticos, com recurso a materiais inusitados e com um toque único.
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POR ANA ENNES
Fim do mundo, Um díluvio de paisagens. Um grito do céu, Que se prolongou pelas nossas margens. Tudo à nosso volta é cinza e poeira, Tudo à nossa volta é penúria e desgraça. Todo o cuidado é pouco para não cair na ratoeira, Nem todo o fogo lança fumaça. Recordações e certezas de um mundo pleno lá vão... Ruínas e escombros cá ficam... Depois de seis meses de nevão, É o sol a estrela que os novos seres glorificam. Certo dia...entre o desespero e a esperança, Descobrimos entre todos um “ser comum” Assustado, encontrava-se em jejum. Desde então que se alimenta de carinho e quem reina neste novo mundo é a bonança.
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POR ANA ENNES
Depois das ondas de calor das nossas praias do sul me terem aconchegado, recebi vindo da Peneda do Gerês - o que costumo designar como o ‘chamamento da natureza’. Foi assim que em Terras de Bouro conheci Bernardino Ramos numa feirinha onde ele mesmo foi orientador de uma oficina de alimentação macrobiótica, que resultou na sobremesa mais docinha e deliciosa - sem açúcar- que já comi na vida! Com apenas 28 anos Bernardino deixou a cidade para viver no campo. A cidade trazialhe muitas incertezas, “refletia todos os dias
na forma como a sociedade está montada e nas suas repercussões, na monotonia da rotina, na ansiedade de ter de ser mais um ‘escravo’ do sistema”. Assim tornou-se “urgente descobrir novos caminhos para uma vida mais sustentável (...)precisava de sentir a terra com uma ligação diária.” Atualmente, acredita “que é possível viver em pequenas comunidades funcionando num modelo cooperativo, valorizando mais o ecossistema como um todo em que todos dependem de todos.” Há dois anos atrás, Bernardino aliou-se à Associação One Love Family, através do projeto de agricultura sustentável, Grão. Sediada em Fonte Longa, uma aldeia nas proximidades de Coimbra, a associação recebe voluntários de todo o mundo através do movimento WWOOF, “um programa de intercâmbio
de ajuda voluntária a quintas, onde quem recebe oferece alojamento, alimentação e oportunidade de conhecer estilos de vida mais íntegros com a natureza”.
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Desde então, que também ele recebe voluntários em sua casa e partilha com eles as tarefas do dia-a-dia. Recorda-se “de andar
a plantar cebola com umas raparigas Holandesas, acolheitar centeio e fazer o rico sumo de uva com casais austríacos, colher plantas aromáticas e preparar para o processo de secagem com uma rapariga da Alemanha (...) mas também já tivemos algumas pessoas portuguesas”! Apesar
desta afluência de culturas, Bernardino lembra com tristeza os invernos frios em que quase não há voluntários pois quantas mais pessoas houver envolvidas mais motivador é o trabalho, “algo
que construímos para nós, mas, que só faz sentido se partilharmos com o mundo!”
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Desde o início deste projeto, que pela aldeia a informação circula de boca em boca e cada vez mais pessoas vão reconhecendo o valor de projetos como este, que promovem um estilo de vida autossuficiente e consciente. Mas, como o intercâmbio é a base da nossa civilização, e nós só evoluímos quando partilhamos o que está dentro de nós, estes valores também já chegaram à cidade pelas mãos de Bernardino –
partilhar os meus produtos fruto de uma entrega para com a terra o que é muito gratificante!” Quem se junta à One Love Family está à procura de “possuir saberes
para o seu futuro, como produzir os seus alimentos e os transformar, conhecimento geral da agricultura, (...) e principalmente, procuram “cada vez que faço um mercado sentir o estilo de vida sustentável e tenho um enorme prazer em as suas virtudes”.
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Quando se fala do povo português Bernardino diz que acredita que “somos um povo com muito
espírito de partilhas, mas, como muitos outros povos estamos no caminho errado para vivermos em maior harmonia entre todos...”, no entanto, “O futuro será mais propício ao voluntariado, e hoje temos voluntários portugueses em todo o mundo (...) o que simboliza
grande sensibilidade e caráter forte do povo português”! O mundo como nós o conhecemos é algo que muda todos os dias na realidade de quem cultiva a mente e a terra, por isso, não fiquem à espera que algo cresça em solo infértil juntem-se à One Love Family e cultivem o mundo que querem ver amanhã!
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só para os fortes
POR FALCÃO FILIPE
Num belo jantar de carnaval com uns amigos, eu e o “Alberto” ficámos de ir às compras. Ambiciosos nesta aventura decidimos trazer todo o necessário para se fazer a nossa tradicional sangria a duplicar, excetuando a parte dos suminhos. Pois. O jantar ia a meio e já parecia que via tudo através do fundo da garrafa. De repente decidimos que havíamos de tirar fotografias, para mais tarde recordar a noite. Flashes disparavam por todo o lado, cegando aqueles que já pouco viam. O resultado foi estranho, mas muito feliz: fotografias com rostos muito rosadinhos a mostrarem os dentes em sorrisos rasgados, com os olhinhos muito brilhantes a fitar o vazio. Decidimos que tínhamos que sair e lá fomos nós celebrar a noite! A partir do momento em que saímos de casa fica complicado contar o resto da história, mas... De repente acordo daquilo que pareceu ter sido um transe, apercebendo-me que estava a andar em direção a casa e, é neste momento que a coisa se complica. A minha visão parecia afetada por um filtro de “Gaussian blur”. Fazia já muito tempo que não percorria aquele caminho e não sabia as condições em que esse estaria, uma vez que se tratava de um caminho de cabras poderia estar com erva alta. 70
só para os fortes
Tentei perceber onde este começava: missão falhada. Lembrei-me que havia lá uns prédios, e que do outro lado da rua haveria um poste, onde começava o caminho (a minha referência aqui remonta a outras noites onde me agarrei ao mesmo). Lá vi os prédios, lá vi o poste. Mas não via terra batida. “Já não deve passar aqui ninguém há tanto tempo e como é final do inverno a erva cresceu mais” pensei eu. Oh! Como estava enganado. Segui por aquele bocado até que me apercebo que estava no sítio errado, ou o trajeto que tantas vezes havia feito estava muito diferente. Paro. Encontro uns canos a passar a céu aberto. “Estranho” pensei, não me recordava de uns canos, mas depressa percebi porquê. Caio por uma ravina abaixo no meio de plantas estranhas e adormeço. Acordo mais tarde, já meio consciente e com o sol já a nascer, percebo que estou deitado em cima de um monte de silvas, levanto-me dolorosamente e tomo o caminho para a minha bendita casa até que vejo um vulto a aproximar-se de mim. Recordandome de histórias daquele local comecei aos berros: “Oh que Caralho!” - entre os zig zags que eram os meus passos. “Se pensas que me vais assaltar estás muito enganadinho! Passa-te “masé” ao caralhinho, antes que te parta a boquinha toda!” Assaltante ou não, fugiu a correr. Entretanto o sol iluminou a minha escuridão e curou-me a borracheira, e eu cheguei a casa. Neste bonito estado. 71
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