Revista de educação editada e produzida pelo Colégio Medianeira ISSN 1808-2564
expediente sumário
Diretor Geral
Padre Agnaldo Barbosa Duarte, S.J.
Diretor Acadêmico
Profº. Dr. Carlos Henrique Martins Torra Helvig
Diretor Administrativo
Henrique Weidlich
Coordenação editorial
Carlos Henrique Martins Torra Helvig, Liliane Grein, Ketilyn Castro de Almeida e Mayco Delavy
Redação
Mayco Delavy
Jornalista responsável
Ketilyn Castro de Almeida
Estagiária de jornalismo
Beatriz Camargo Dias
Revisão
Leticia Stier Niehues
Tradução
Danielle Soler Chella
Projeto gráfico e diagramação
Liliane Grein
Ilustrações e imagens
Acervo do Colégio Medianeira, Miriane Figueira, Shutterstock, acervo pessoal da Libera Venturelli e Wagner Roger.
Colaboraram nesta edição
Alessandro França Quadrado, Alexandre Rafael Garcia, Ana Paula Correia, Ana Paula Timoteo da Rocha Valiente Gomes, Anna Paula Negrello, Carlos Torra, Catarina da Costa Ribeiro, Dâmeri Bochnia R. Escalante, Giovanna Mendes Curto dos Santos, Gracilene Zen, Katia Luciana L. Sampaio, Ketilyn Castro de Almeida, Letícia Estela Cavichiolo Espindola, Marcelo Weber e Nicolas Castellano Venetikides.
Coordenação da Educação Infantil ao 7º ano
Juliana Heleno
Coordenação do 8º ano ao Ensino Médio Alessandro França Quadrado
Centro de Inclusão
Débora Cristina da Silva Borin
Supervisor do Centro de Formação Cristã e Pastoral
Ir. Gabriel Cavalcante, S.J.
Centro de Arte e Esporte
Vinícius Soares Pinto
Midiaeducação
Vinícius Soares Pinto Tiragem 2300
Papel
Capa: papel 180g
Miolo: papel 90g
Número de páginas 68
Impressão Gráfica Radial Tel: 3333-9593
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião dos editores e do Colégio Nossa Senhora Medianeira. A reprodução parcial ou total dos textos é permitida desde que devidamente citadas fonte e autoria.
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Encontro de Formação Integral: espiritualidade, liderança e a formação de jovens transformadores
Por Ketilyn Castro de Almeida
10 anos do Centro de Educação Ambiental (CEA): da aprendizagem integral inovadora à formação de lideranças socioambientais
Por Letícia Estela Cavichiolo Espindola
Pesquisa e inovação como mobilizadoras para aprendizagem
Research and innovation as inciters for learning
Por/By Carlos Torra
Além das Fronteiras: a experiência do intercâmbio no Canadá
Beyond Borders: exchange experience in Canada
Por Gracilene Zen
Por uma práxis educativa jesuíta: a formação de jovens
pesquisadores na educação básica comprometidos com a transformação social
For a jesuist educational practice: the education of young researchers in basic education committed to social transformation
Por Alessandro França Quadrado
Literatura Infantil na sala de aula como proposição de inovação e pesquisa na Educação Infantil na formação do leitor e do mediador de leitura
Por Ana Paula Correia e Ana Paula Timoteo da R. V. Gomes
Fé e poesia na Direção Geral do Colégio Medianeira: conheça a trajetória do Pe. Agnaldo Barbosa Duarte
Por Ketilyn Castro de Almeida
Dias Perfeitos
Perfect Days
Por/By Alexandre Rafael Garcia
Libera e Paulo Venturelli: uma história de vida, livros e educação
Por Ketilyn Castro de Almeida
O Mapa das Aprendizagens e a Formação Integral
Por Katia Luciana L. Sampaio e Dâmeri Bochnia R. Escalante
Marcando touca
Por Ketilyn Castro de Almeida
Charge
Por Marcelo Weber
Querido leitor, querida leitora, “Uma sociedade boa é aquela em que faz sentido ser bom.” A frase do escritor inglês Ian McEwan é a melhor definição do eixo norteador que dá corpo a edição da Mediação que você, leitor e leitora, tem agora em mãos. Entretanto, podemos atualizar o aforismo do livro Amor sem fim, pois é preciso lembrar que, dentro do léxico jesuítico, é necessário ser Magis, ou seja, ser o melhor possível para si e para os demais. Se de pronto essa parece ser uma causa quixotesca nos tempos velozes, de inteligência artificial e desumanização do próprio sujeito, não podemos esquecer que é das utopias que nascem as mudanças e as revoluções.
Foi a partir da sua essência utópica que Santo Inácio concebeu a Companhia de Jesus – e que anos mais tarde seria também o princípio da Rede Jesuíta de Educação (RJE). E esse é o mesmo espírito que ainda permeia todas ações e obras jesuítas espalhadas mundo afora, espírito este alimentado pelas novas gerações em iniciativas como o Encontro de Formação Integral (EFI), um tempo e espaço de imersão na espiritualidade, mas também de desenvolvimento de novas lideranças dentre os jovens. Não à toa, o texto que mapeia essa experiência de fé e autoconhecimento é a abertura deste número da revista. Ali, como um inventário desse importante evento, não se tenta definir estética e conceitualmente o que é o EFI, e sim
oferecer pista de um encontro que tem, em sua natureza, ser sempre um work in progress, algo que não conhece seu fim.
Da mesma forma, como moto perpétuo, o cuidado com a Casa Comum é uma tônica fundamental na Educação Básica da RJE, pensando a criação de uma sociedade capaz de lidar com os desafios socioambientais em suas muitas dimensões e variações. E, antevendo tais questões e, posteriormente, inspirado pela encíclica papal Laudato si', o Medianeira criou o Centro de Educação Ambiental (CEA), que em 2024 completou a sua primeira década. Obviamente, a história do Colégio com o espaço é antiga, e já faz parte da memória afetiva de muitas gerações de Sempre-alunos, porém, em 2014 temos um marco nessa relação: a transformação da área – com 2 milhões de metros quadrados – na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Morro do Bruninho, ajudando a protagonizar práticas fundantes na formação de lideranças socioambientais e de estudantes que possam ler o mundo ao seu entorno com mais pluralidade e fraternidade. Diante disso, o CEA é um personagem de destaque nesta Mediação e, certamente, estará presente na vida de muitos estudantes da nossa instituição.
E, se falamos em pensar a educação como um projeto de futuro, o professor e pesquisador português António da Nóvoa é um dos articuladores de um fazer educacional
que ultrapassa o pragmatismo e a mecanização da sociedade contemporânea. Sua entrevista, que é a capa desta edição, nos leva a caminhos menos sombrios e mais lúcidos, em que o tecnicismo pode dar lugar, mais uma vez, ao humanismo. E para isso, Nóvoa diferencia aprendizagem de educação, oferecendo uma perspectiva de valorização do estudante, de seu contexto e das trocas com todos ao seu redor. Não é um caminho simples, mas cada vez mais possível, sobretudo no que diz respeito a educar para além dos muros da escola e alicerçado na parceria entre as famílias e as instituições de ensino.
O resultado de toda essa equação é preparar os estudantes para o mundo, para que sejam cidadãos globais. Não por acaso, os leitores da Mediação poderão acompanhar as experiências vivenciadas por 13 estudantes do Colégio Medianeira durante intercâmbio no Canadá. Como afirma o texto, muito mais que conhecer novos lugares, o intercâmbio é um mergulho do educando em si mesmo, descobrindo o mundo e o seu papel nele. É a dialética da educação integral em sua prática. Quando o autor catalão Enrique Vila-Matas diz que “caminhar é desenhar”, ele está, justamente, reafirmando a nossa geografia pessoal e afetiva nos espaços que ocupamos com o conhecimento e a curiosidade que trazemos conosco, e que, querendo ou não, deixamos como legado aos que virão.
Por sinal, é a curiosidade que nos move em direção ao futuro, como fica evidente no artigo Por uma práxis educativa jesuíta: a formação de jovens pesquisadores na educação básica comprometidos com a transformação social. Ou seja, não é o saber fechado em si, encerrado em uma sala de aula, ao contrário, é o conhecimento sendo usado para “amar e mudar as coisas”, para citar a canção de Belchior. Afinal, o desejo é sempre a evolução consciente e justa. E não é possível tal empenho sem colocar sentimento e dedicação, para além de todas as teorias. Perceba que esse é o fio que conduz o texto seguinte, debatendo a importância da literatura infantil em sala de aula não como mero conteúdo curricular, mas como mediador entre a criança e as dimensões socioemocional, socioambiental, cognitiva e espiritual-religiosa.
São elas, as crianças, uma semente plantada, que frutificará para trazer novas esperanças e soluções à guisa do que observamos em Dias perfeitos, filme de Wim Wenders, que parece ser uma excelente antítese aos estímulos excessivos da hiperconexão. A vida do protagonista do longa, que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2024, é como um bonsai: por trás da simplicidade de atos e pureza de pensamento há uma complexa teia de abnegações e silêncios – no exato
momento em que se espera superprodutividade e muito barulho.
Ah, se você acha que uma história assim, de amor ao que parece ser uma causa perdida, saiba que a história de Libera e Paulo Venturelli, o casal de Sempre-educadores do Medianeira, é a prova cabal de que ela existe. Apaixonados, um pelo outro e também pela educação e pela cultura, são uma esfinge sem segredo: um livro aberto que inspira a todos com uma força inigualável. O perfil de Libera e Paulo Venturelli é uma deliciosa viagem a um mundo à parte, que vale a leitura com um bom café, como uma conversa entre amigos.
Veja, que tudo o que tratamos até aqui nos leva à sensibilização do sujeito, um desafio que começa desde os anos iniciais da Educação Básica, e que está muito bem elaborada no artigo O Mapa das aprendizagens e a formação integral, que vai apresentar as experiências da Educação Infantil, 1º e 2º anos para o desenvolvimento de estudantes igualmente integrais.
Nesta edição, você também conhecerá melhor o Padre Agnaldo Barbosa Duarte, o novo Diretor Geral do Colégio Medianeira. Ele já é de casa e conhece muito bem nossos espaços, educadores e educadoras, e está preparado para assumir essa missão.
E, por fim, como é de praxe na Mediação, encerramos a revista com uma prática da sensibilidade: a Arte, com "a" maiúsculo. Nesta edição,
você, leitor e leitora, mergulhará no universo da singeleza e do invisível, daquilo que está escondido atrás do cotidiano, mas que se transporta para a matéria-prima de uma belíssima crônica, um gênero literário tão brasileiro e que espelha tão bem a nossa identidade.
Espero que você possa ler esta edição da Mediação com o mesmo carinho que a produzimos, sempre tentando estimular novas formas de fazer educação e de estar em sociedade, deixando de lado os clichês de tecnicidade e da lógica efêmera do algoritmo. Aqui, o que nos une é o espírito de sermos reais.
Boa leitura!
Colégio Medianeira.
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Esta e outras edições podem ser lidas na íntegra no nosso site: www.colegiomedianeira.g12.br
ENCONTRO DE FORMAÇÃO INTEGRAL:
ESPIRITUALIDADE, LIDERANÇA E A FORMAÇÃO DE JOVENS TRANSFORMADORES
Por Ketilyn Castro de Almeida
espiritualidade
liderança
transformador
Encontro de Formação Integral: espiritualidade, liderança e a formação de jovens transformadores. Uma experiência de fé, autoconhecimento e compreensão das emoções.
OEncontro de Formação Integral (EFI) é uma das principais iniciativas da Rede Jesuíta de Educação (RJE) para promover o desenvolvimento pessoal, espiritual e socioemocional dos estudantes do Ensino Médio. Desde sua criação, em 2015, o EFI vem se consolidando como uma oportunidade onde jovens de diferentes regiões do país podem vivenciar um processo formativo baseado na espiritualidade Inaciana.
Pedro Risaffi, Secretário Executivo da RJE, destaca que o EFI foi inspirado em atividades intercolegiais da antiga Associação de Colégios Jesuítas do Sudeste e no modelo dos Cursos-Taller promovidos pela Rede Jesuíta da Colômbia, uma espécie de workshop, caracterizado pela integração de teoria e prática.
"O desejo que levou ao desenvolvimento do EFI surgiu em uma reunião de Diretores Gerais, ainda no contexto de criação da RJE. Entendemos que, diante do novo cenário da Rede, seria necessário criar uma proposta que reunisse os estudantes do Ensino Médio, adequada aos desafios contemporâneos", explica Risaffi.
A partir dessa ideia inicial, foi constituído um Grupo de Trabalho (GT), em 2015, com educadores e
ex-alunos que participaram da experiência na Colômbia para que, assim, fosse criada a “versão brasileira” do Taller Arrupe, que inicialmente teria o nome de Encontro de Formação de Lideranças. A primeira edição do EFI aconteceu em 2016, com a participação de 45 estudantes, número que aumentou para 63 nas edições seguintes.
Os exercícios espirituais
Liderança Inaciana
O EFI fortalece as dimensões espiritual-religiosa e socioemocional dos estudantes ao oferecer um aprofundamento no processo de conversão de Inácio de Loyola. "Os estudantes vivem uma introdução aos Exercícios Espirituais, adaptada ao seu contexto de vida. Isso possibilita uma experiência de fé, de autoconhecimento e de compreensão das emoções", ressalta Pedro. Ele também explica que o EFI cria um ambiente seguro para que os jovens possam reconhecer e compartilhar suas vivências, favorecendo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
Mudanças que permanecem
sobre métodos de oração e exames de consciência, mobilizando cada um a deixar-se conduzir por Deus na missão de Cristo. Risaffi nomeia os EE como uma escola dos afetos.
“Em todas as atividades do EFI, convidamos os estudantes a reconhecer, nomear e compreender os sentimentos que possam emergir e, num segundo momento, compartilhar essas vivências e acolher a experiência dos seus pares. Em síntese, o EFI possibilita uma experiência de fé, autoconhecimento, compreensão das emoções, além de trazer à tona os desafios relacionais, seja nas dinâmicas ou na própria convivência diária entre os presentes”, afirma.
Relato de estudantes: como é participar do EFI? De jovem a monitor
O futuro do EFI
Uma experiência de fé, autoconhecimento e compreensão das emoções
Os Exercícios Espirituais (EE) são uma jornada de profunda identificação com Jesus e seu modo de viver. Eles oferecem orientações práticas
O EFI conta com a metodologia do "Curso-Taller", trazida da experiência colombiana, porém o mais importante é a aplicação em sintonia com o Paradigma Pedagógico Inaciano (PPI). A conexão entre teoria e prática é uma prioridade, como detalha Risaffi. "Todas as atividades do EFI são conduzidas a partir da dinâmica metodológica de Experiência-Reflexão-Ação, proposta pelo PPI." Essa abordagem permite que os estudantes não apenas reflitam sobre suas experiências, mas também transformem essas reflexões em ações concretas.
Os exercícios espirituais
Liderança Inaciana
No contexto das atividades, a Liderança Inaciana é uma temática central, mas abordada de maneira particular. "Nos primeiros dias do EFI, evitamos usar o termo 'liderança' para não gerar confusões com conceitos que diferem da visão de Inácio", esclarece. O objetivo é que os jovens compreendam, ao longo do encontro, o que significa a liderança no seguimento de Jesus Cristo, fundamentada nos Exercícios Espirituais e nas Constituições da Companhia de Jesus.
Mudanças que permanecem
Relato de estudantes: como é participar do EFI?
dades sociais. "Nossos estudantes já chegam ao EFI com um senso crítico bastante apurado. O que temos tentado avançar nas edições recentes é fomentar um maior comprometimento com as causas que mais os sensibilizam", comenta Risaffi.
De jovem a monitor
O futuro do EFI
Os exercícios espirituais
Os exercícios espirituais
Uma experiência de fé, autoconhecimento e compreensão das emoções
Liderança Inaciana
Liderança Inaciana
Mudanças que permanecem
Santo Inácio, em seus escritos, revela uma concepção de liderança que vai além do modelo popular, pois não é equiparada a um conjunto de técnicas e táticas. Para ele, o líder não deve agir apenas em momentos fortes e isolados, pois as oportunidades para o exercício de liderança não acontecem apenas nesses momentos extraordinários, com forte tensão, por exemplo, mas também nas atividades cotidianas. Em outras palavras, o que caracteriza a liderança não é a grandeza das oportunidades, mas sim a maneira como cada um lida com os desafios do cotidiano.
Os exercícios espirituais
Liderança Inaciana
Os impactos do EFI são notáveis e vão além do período em que os jovens participam do encontro. "Os alunos costumam voltar do EFI irradiantes, com projetos a serem aplicados e um desejo de transformação. Muitos ex-participantes retornam anos depois como monitores, testemunhando o impacto positivo que o EFI teve em suas vidas, tanto em suas relações pessoais quanto em suas escolhas profissionais", lembra.
Mudanças que permanecem
O futuro do EFI
O futuro do EFI
Uma experiência de fé, autoconhecimento e compreensão das emoções
O desafio de adaptar o EFI às novas gerações é constante, especialmente após a pandemia, que trouxe novas sensibilidades e demandas. "As gerações recentes têm outras necessidades emocionais, espirituais e sociais. Por isso, reavaliamos anualmente tanto as atividades quanto a forma de conduzi-las", destaca.
Uma experiência de fé, autoconhecimento e compreensão das emoções
espiritualidade inaciana no contexto escolar e pessoal dos estudantes.
Ketilyn Castro de Almeida é jornalista, pós-graduada em Mídias Digitais pela Universidade Positivo (UP). Em 2024, teve uma de suas crônicas publicada no livro Ampliando Horizontes: Poesia e FicçãoCrônicas. Atualmente, trabalha no Colégio Medianeira, onde se dedica à produção de conteúdo.
Relato de estudantes: como é participar do EFI?
Relato de estudantes: como é participar do EFI?
Por Anna Paula Negrello, Catarina da Costa Ribeiro e Giovanna Mendes Curto dos Santos.
De jovem a monitor
De jovem a monitor
Relato de estudantes: como é participar do EFI?
Mudanças que permanecem
Despertar nos estudantes um olhar crítico e comprometido é uma das premissas da Rede Jesuíta de Educação (RJE). Por isso, no Encontro de Formação Integral, questões sociais e éticas contemporâneas estão sempre presentes em rodas de conversa, como temas que envolvem mudanças ambientais e iniqui-
O futuro do EFI
De jovem a monitor
Para o futuro, a expectativa é que o EFI continue inovando e se reinventando. "Se quisermos que o EFI permaneça impactante na vida dos jovens e educadores, precisamos continuar criando novas dinâmicas e adaptando as atuais, sempre atentos às demandas das novas gerações", conclui Pedro Risaffi.
Uma experiência de fé, autoconhecimento e compreensão das emoções
Com uma trajetória de quase uma década, o EFI reafirma seu compromisso com a formação integral de jovens líderes, conectando gerações e fortalecendo os valores da
A Rede Jesuíta de Educação tem como um dos seus principais pilares o modo de Ensino Inaciano, o qual envolve uma formação acadêmica, pessoal, espiritual e humana. Pensando em uma experiência de imersão, a rede tomou a iniciativa de criar um programa intercolegial, o qual integra todos os colégios jesuítas do Brasil, que acontece uma vez por ano, o Encontro de Formação Integral (EFI). O projeto propõe dinâmicas, momentos de reflexão e partilha, inspirados na vida de Santo Inácio de Loyola e à luz dos Exercícios Espirituais, trabalhados em uma linguagem própria para os jovens de 14 a 17 anos. Os principais temas trabalhados são: autoconhecimento, liderança, técnicas de oratória, sustentabilidade, meios de comunicação, condições sociais, além de experiências de voluntariado e imersão sociocultural. A partir disso, o intuito é desenvolver o autoconhecimento com base na vida de Santo Inácio e assim buscar a integração de novas culturas, experiências e conexões entre os participantes de várias cidades de todo país.
Foi em 2016 que ocorreu a primeira edição do programa na Rede Jesuíta. Até agora, foram concretizadas 7 edições que já passaram por: Belo Horizonte, Bahia e Rio Grande do Sul. Infelizmente, por conta da pandemia, o projeto se estagnou por um tempo e pouco se falava sobre ele. Mas em 2022, após o isolamento social, ele foi colocado em prática novamente. “Quando eu e Catarina fomos chamadas para participar do EFI 5 nunca tínhamos ouvido falar sobre a iniciação, mas decidimos confiar na proposta”, comenta Anna Paula. Assim, é relevante destacar que a experiência é limitada para um certo número de estudantes selecionados pelo corpo docente do colégio, além de ser uma vivência sigilosa. Isso torna a oportunidade ainda mais intrigante e imperdível, para aqueles que tiveram a chance de serem selecionados.
Todos os anos, quando são revelados estudantes que irão participar, é iniciado um processo de acolhimento de pré-viagem entre nós. Ocorrem bate-papos sobre a experiência com ex-participantes, reuniões para preparação e criação de laços entre o grupo. Todas as etapas, desde o momento em que foram selecionadas até a viagem, foram muito gratificantes. “É incrível relembrar, que ainda nos preparativos, era possível sentir que algo grande nos esperava e que isso, com certeza, mudaria quem éramos e realmente mudou.”, revela Giovanna.
Após todos esses passos, é iniciado, de fato, o Encontro. Nós, Anna Paula e Catarina fomos participantes do EFI 5, e a Giovanna do EFI 6, ambas as viagens foram realizadas em Porto Alegre (RS), na chácara do Co-
légio Anchieta e duraram, no total, 10 dias. Logo no início do encontro, organizado por participantes das edições anteriores, os monitores trazem como reflexão que “é decisão de vocês mergulhar ou ficar na superfície”. E, a partir disso, convidam os participantes a se jogarem em uma nova perspectiva sobre a vida. A experiência foi extremamente imersiva e parecia que vivíamos em outra realidade, na qual se é constantemente desafiado, por si, pelo mundo, pelas pessoas e até pelas situações mais comuns do cotidiano. O EFI é perspectiva, a todo momento é preciso se entregar 100% a tudo o que se sente, pensa e age e isso é o que move a experiência individual de cada um. Ser vulnerável, mas também forte; ser alegre, mas se permitir a sentir tristeza e raiva; viver com intensidade, mas levar tudo com paciência. Mas, principalmente, sentir amor constantemente, por tudo e todas as coisas. O EFI é amor.
Voltar, com certeza, foi uma parte desafiadora para todos, habituar-se à rotina normal e nos separarmos de pessoas tão importantes depois de termos vivido algo tão forte é muito difícil. Isso porque, para todo mundo, a rotina não mudou, era só mais um dia, porém quem participou desse evento estava diferente, passaram por algo que ninguém mais entendia. Por isso, Anna Paula comenta, que nas primeiras semanas de volta era essencial encontrar os colegas que passaram pela mesma experiência e sentir que a chama do EFI ainda estava acesa neles. Mesmo indo em anos diferentes, a troca de partilhas entre estudantes de outros encontros é muito enriquecedora. Cada um vive a própria experiência, mas ela é moldada pelas pessoas
que a estão compartilhando. “O EFI marcou todo mundo, mas por mais incrível que sejam as dinâmicas, o que mais marca são as pessoas que encontramos aqui e com quem nos conectamos”.
Além disso, nós voltamos com objetivos, além dos pessoais, para a comunidade. Uma das propostas do EFI é a criação de um projeto que melhorasse o bem comum do Colégio Medianeira. Pensando no que mais sentimos falta e acreditamos que seria necessário melhorar no Colégio, nós que participamos do EFI 5 e 6 desenvolvemos o projeto CHAMA. O nome refere-se ao “fogo” que foi acendido neles e agora, por meio desse projeto, tem o objetivo de espalhá-lo. Por outro lado, também está relacionado ao verbo “chamar”, integrar diferentes pessoas em um mesmo mundo e meio social. Sua ideia principal é trazer uma perspectiva completa sobre todas as áreas da vida (semelhante ao EFI) entre os jovens dentro do Colégio. Para isso, são realizadas tardes de integração, cada encontro possui um tema relacionado a uma área da vida, abordando-o de forma dinâmica e reflexiva. A intenção é trazer ao Colégio um pouco do que se aprendeu no EFI e que os estudantes sejam “Um fogo que acende outros fogos”.
Além das vivências dentro da casa de retiro na Vila Oliva, o encontro nos mudou como pessoas. Todas concordam que o que vivemos lá foi muito complexo e que é difícil colocar em palavras algo que apenas nós sentimos.
“Depois de passar uma vida inteira tentando entender os outros, esse encontro me alertou que, acima de
tudo, o autoconhecimento é crucial para a evolução pessoal de um indivíduo.” – Catarina.
“O EFI foi sobre acreditar mais em mim, ir atrás dos meus sonhos e ajudar os outros a conquistarem os deles. É sobre deixar futilidades e medos para trás e aprender a ser você mesmo, é sobre se apaixonar e amar pessoas novas e os pequenos detalhes.” – Anna Paula.
“É muito fácil transparecer e repassar o EFI nas pequenas coisas, com amor, empatia, cuidado e autenticidade.” – Giovanna.
Esse é o propósito dessa missão: ser transformado, mas também
transformar. Ao contrário das viagens comuns, que acabam quando se volta para casa, o EFI não termina. Na verdade, ele é um novo começo para descobrirmos “quem somos?” e junto a isso se leva relações interpessoais para a vida, relações que nunca se imaginaria encontrar
Anna Paula Negrello estudou no Medianeira por 13 anos e recentemente finalizou o último ano do Ensino Médio. Sempre foi engajada nos projetos que o Colégio propunha que pudessem ajudá-la a evoluir como pessoa e auxiliar a comunidade. Agora deseja graduar-se em psicologia.
Catarina da Costa Ribeiro ingressou no Medianeira na 1º Série do Ensino Médio e recentemente finalizou o terceirão. Mesmo com poucos anos no Colégio, sempre se interessou muito por participar dos projetos propostos pelo Medianeira e pela pastoral. Sempre dedicada às pessoas ao seu redor e aos estudos, que cresceram junto com sua paixão pela leitura, a aluna deseja ingressar no curso de Medicina.
Giovanna Mendes Curto dos Santos estudou no Colégio Medianeira por 11 anos e recentemente finalizou a 3º Série do Ensino Médio. Desde sempre é encantada por escrever e interessada em participar de projetos de inclusão e comunicação como forma de se conectar com o mundo.
De participante a monitor
O Encontro de Formação Integral (EFI) reúne estudantes dos diversos colégios jesuítas do Brasil, em uma proposta de desenvolvimento integral. Essa abordagem visa fortalecer as dimensões afetivo-emocional, espiritual-religiosa, ética, comunicativa e sociopolítica, por meio de uma experiência profunda de Deus pelo modo de proceder inaciano.
Acredito que há a mão de Deus na minha indicação como monitor do EFI de 2024. Ser monitor é ser instrumento de Deus para que Ele, por intermédio de nós, atue nos caminhos pessoais dos jovens. Trata-se de uma missão de escuta, de acompanhamento das partilhas de cada participante e nós, monitores, somos muito gratos pelo privilégio de acompanhá-los e acolhê-los.
Indicações
Eu me senti como um irmão mais velho dos participantes, um protetor e um cuidador. Eles se inspiram muito em nós, veem os monitores como referência e exemplo. Sinto que a experiência dos participantes é mais voltada às dinâmicas e reflexões e a dos monitores em saber escutar e se deixar ser tocado pelos participantes para ajudá-los a viver um encontro profundo com seu eu interior. Acabamos criando laços muito fortes com eles e ao partilharem, desenvolvem confiança e segurança em nós, monitores.
Além da missão de acompanhar, precisamos ajudar nas dinâmicas e ter uma flexibilidade para lidar com situações não previstas. Ser monitor é improvisar também. A missão dos monitores é bastante intensa e fisicamente exigente. Acordamos antes e vamos dormir depois, é um cronograma cheio em que sempre es-
tamos ajudando na preparação das dinâmicas seguintes.
Portanto, além de ter aprendido a fazer uma escuta ativa, exercitei estar atento ao outro e a acolher as situações que se apresentavam. Tive a oportunidade de me tornar referência para outros jovens e me inspirei nos monitores que acompanharam a minha experiência no EFI V. Exercitei a liderança inaciana, fortaleci valores inacianos e laços de amizade. Retorno com o coração agradecido e fortalecido por essa rica experiência de amar e servir.
Nicolas Castellano Venetikides é estudante de engenharia civil na Universidade Federal do Paraná, Semprealuno do Colégio Medianeira, escoteiro, ex-atleta de rendimento de tênis do Clube Curitibano e monitor da crisma do Medianeira. Participou como jovem do EFI V em 2022 e como monitor do EFI VII de 2024.
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O Avesso da Pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.
Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Casada com o deputado Rubens Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a seguir torturado e morto. Em meio à dor, ela se reinventou. Voltou a estudar, tornou-se advogada e defensora dos direitos indígenas. Nunca chorou na frente das câmeras.
ANOS DO CENTRO DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL (CEA)
Da aprendizagem integral inovadora à formação de lideranças socioambientais
Histórico da RPPN
Morro do Bruninho
Em 2024, comemoramos 10 anos do CEA e da criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Morro do Bruninho. Poucas são as instituições de ensino que se preocupam tanto com o cuidado da casa comum e sustentabilidade ao ponto de possuir uma unidade de conservação voltada para a educação ambiental vivenciada pela experiência prática, como é o caso do Colégio Medianeira. Essa é uma das joias da instituição, revestida de muitos significados para o cuidado com a criação de Deus e a promoção da justiça socioambiental. Isso tem imediata sinergia com a o posicionamento explicitado pelo Padre Arturo Sosa na quarta Preferência Apostólica Universal (colaborar com o cuidado da Casa Comum) a qual explicita a necessidade de participar dos esforços para a pesquisa e análise profundas que apoiem a reflexão e o discernimento necessários para tomar as decisões certas e capazes de sanar as feridas já infringidas ao equilíbrio ecológico.
Até 2014, esta área com mais de 2 milhões de metros quadrados de área verde era conhecida como Chácara do Colégio Medianeira. Nela, eram realizadas muitas atividades de aprendizado, de socialização e de espiritualidade Inaciana. Com o passar do tempo, esse trecho preservado de transição entre a Mata Atlântica e a Mata de Araucárias se revestiu de outras possibilidades pedagógi-
cas, sendo cada vez mais utilizada para a promoção da conscientização ambiental, da formação integral e de estudos práticos junto às mais diversas áreas do conhecimento.
Desde 2010, um grupo de educadores começou os estudos sobre a possibilidade da criação de uma RPPN, ou seja, uma unidade de conservação (UC) do tipo Reserva Particular do Patrimônio Natural. O Morro do Bruninho, ponto mais alto dessa área do Medianeira e local da trilha mais esperada pelos estudantes, serviu de inspiração para a escolha do nome da RPPN, que passou a se chamar RPPN Morro do Bruninho. Sua criação oficial reflete o compromisso real e permanente do Colégio Medianeira junto a preservação ambiental, conservando a flora e fauna nativas.
O Centro de Educação Ambiental (CEA)
No mesmo período é criado o Centro de Educação Ambiental (CEA), refletindo o compromisso ético do Colégio Medianeira na busca pela promoção da justiça socioambiental, no desenvolvimento da consciência ecológica e no cuidado com a casa comum. A busca pela reconciliação com Deus, com a humanidade e com a criação por meio de práticas sustentáveis, incentivando práticas sustentáveis rumo à promoção da justiça socioambiental.
“Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise
sócio-ambiental” Papa Francisco, Encíclica Laudato Si (139).
As atividades do Centro de Educação Ambiental (CEA) do Colégio Medianeira permeiam projetos de longo e curto prazo por meio da aplicação prática do aprender jesuíta por refração, aliando inovação e processos educacionais democráticos à valorização do protagonismo dos estudantes de diversos anos. O aprender por refração se refere ao aprender na prática, refratando no conhecimento as suas próprias experiências como praticantes da pedagogia inaciana (Go e Atienza, 2019).
De um modo inovador, o CEA desenvolve aulas práticas, projetos e campanhas de gestão de resíduos que dialogam com diferentes séries e ciências, numa elaboração conjunta, dinâmica e democrática das aulas. A reciclagem de óleo usado, por exemplo, fundamenta a reflexão sobre as problemáticas socioambientais e tipos de fome no Brasil por meio do Projeto Fome de Quê?, do 4º ano do ensino Fundamental. Em seguida, a comercialização das barras de sabão produzidas com esse óleo, somadas à colheita de vegetais produzidos na horta orgânica, permite a doação de cestas básicas às comunidades carentes.
Ao longo desses 10 anos de CEA, a gestão consciente dos resíduos passou gradativamente a ter maior caráter pedagógico e solidário, ultrapassando as salas de aula. Este é o caso das
demais campanhas de resíduos, que assim como o Projeto Fome de Quê? dos 4º Anos, compõem o Programa Eco Solidariedade: a campanha da tampinha solidária, dos 3º Anos, que auxilia no cuidado de animais abandonados por meio da coleta de tampas plásticas junto a estudantes e famílias do Medianeira; a campanha do resíduo eletrônico e a produção da tabela periódica tridimensional da 1ª Série do Ensino Médio, dentre outras iniciativas.
A formação de lideranças socioambientais
Perpassando pelas aprendizagens dos mais diferentes componentes, os projetos do CEA fornecem respostas inovadoras frente às crises atuais, contemplando as dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa do aprendizado. Desse modo, os alunos vivenciam a aprendizagem integral profunda e significativa, garantindo que o conhecimento seja contextualizado e aplicado no cotidiano para sua transformação pessoal e do mundo, colaborando no cuidado com a casa comum.
A educação ambiental inserida ao longo da vida escolar dos estudantes os motiva a se perceberem enquanto agentes da transformação de suas realidades. Animados para colaborar no cuidado com a casa comum, parte dos estudantes constituíram lideranças socioambientais que buscam mudar seus contextos por meio de projetos inovadores de suas autorias. Esse é o caso do Projeto É Pra Ontem do Ensino Médio e o Projeto Andrômeda da 2ª Série do EM.
Por meio do Projeto Fome de Quê?, 300 litros de óleo foram convertidos em 1100 barras de sabão, permitindo a doação de 46 cestas básicas para as famílias carentes da Vila das Torres, em CuritibaPR. Como cada litro de óleo pode poluir até 25.000 litros de água (SABESP, 2024), a iniciativa do Medianeira evitou a contaminação de cerca de 7,5 milhões de litros de água.
Produção de sabão com os estudantes e famílias.
Venda de sabão na Feira do Conhecimento.
“Esse experimento de reciclagem e reutilização de óleo para novas finalidades foi algo muito importante para o Colégio, pois cada um fez sua parte. Com ele, conseguimos ajudar o próximo, com um ato de solidariedade e, durante o ano, vimos a sustentabilidade acontecer nas aulas de Química observando todas as suas reações e os passos do processo.”
Valentina Corradini Pires Estudante do 9º ano.
Campanha da tampinha solidária
3º Ano - Ensino Fundamental 1
• Sensibilização e investigação sobre a poluição ambiental.
• Prática sobre microplástico na cadeia alimentar.
• 190kg de plásticos (108.500 unidades de tampinhas) doadas para auxiliar animais abandonados.
Campanha do óleo usado - Projeto Fome de Quê?
4º Ano - Ensino Fundamental 1
• Investigação sobre os tipos de fome.
• Sensibilização quanto a poluição ambiental.
• Reflexão-ação: produção de 1.100 sabões ecológicos.
• Educação financeira e comercialização.
• Doação de itens de 46 cestas básicas.
• Proteção de cerca de 7,5 milhões de litros de água.
Por meio do Projeto É Pra Ontem, estudantes preocupados com a perda da biodiversidade, planejaram o plantio de espécies ameaçadas de extinção da Mata de Araucárias. O início do plantio de pinheiros-do-paraná foi marcado pelo evento pinhão com poesia, agregando caráter cultural ao projeto. Já Projeto Andrômeda consiste na resposta das lideranças socioambientais do CEA em resposta às mudanças climáticas, buscando montar uma estação meteorológica na unidade de conservação do Medianeira (RPPN Morro do Bruninho).
“O cuidado para com a Casa Comum não perpassa somente pela mudança das mentes, mas também dos corações. Acredito que este é o papel da educação ambiental que, utilizando-se do processo de reflexão-ação, do
Indicações
modo Jesuíta de aprender por refração, sensibiliza estudantes, famílias e educadores na construção de realidades socioambientalmente mais justas. Ações simples, como a coleta de óleo usado, mostram o poder das ações coletivas e da aprendizagem integral na transformação de pessoas e de contextos.” Letícia Estela Cavichiolo Espindola.
As ações do CEA consistem em respostas concretas ao Pacto educativo Global, no qual o Papa Francisco nos convida a colocar as pessoas no centro dos processos educativos, ao cuidado com a casa comum e a ouvir os mais jovens para a construção de um futuro cheio de esperança e paz.
A espontaneidade das lideranças socioambientais estudantis na proposição e condução de
Filme: O menino que descobriu o vento|Chiwetel Ejiofor
projetos, como os citados anteriormente, refletem o papel transdisciplinar da educação ambiental na promoção da justiça socioambiental e no aprender por refração inaciano, bem como na busca da ecologia integral que nos convida a uma mudança de paradigma, ou seja, que transforma como organizamos nossa relação conosco, com as demais pessoas e com o conjunto da realidade na qual estamos inseridos (Follmann, 2020).
comente este artigo. comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Letícia Estela Cavichiolo Espindola, é bióloga pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Mestre em Botânica pela mesma instituição. É Sempre-aluna do Colégio Medianeira, onde leciona há 20 anos. Atualmente é responsável pelo Centro de Educação Ambiental do Medianeira.
O Menino que Descobriu o Vento (2019) é uma inspiradora história real sobre William Kamkwamba, um jovem do Malawi que, enfrentando a fome e a falta de recursos, cria um aerogerador com materiais reciclados para trazer eletricidade à sua aldeia. O filme destaca o poder da educação e da criatividade na busca por soluções sustentáveis, e mostra que a inovação e a criatividade podem ser motores de mudança, mesmo em circunstâncias desfavoráveis.
A Viagem do Beagle | Charles Darwin Autor | Editora Edipro
Esta obra traz o diário de Charles Darwin sobre a expedição de cinco anos realizada a bordo do navio HMS Beagle. As observações registradas pelo naturalista inglês resultariam, anos mais tarde, na elaboração da Teoria da Evolução, que transformaria a ciência para sempre. A par do histórico de depressão e suicídio do primeiro capitão do Beagle, o novo capitão, Robert FitzRoy, almejava ter uma companhia erudita que amenizasse a solidão em sua viagem. Por
esse motivo, convidou o jovem Darwin para acompanhá-lo em sua jornada pela América do Sul. Um lance de sorte para a história das ciências naturais.
António da Nóvoa
Pesquisa e inovação como mobilizadoras para aprendizagem
Research and innovation as inciters for learning
Por/By Carlos Torra
Em entrevista, António da Nóvoa partilha a sua visão sobre os desafios e transformações necessárias na educação moderna, destacando a importância do professor, mas também da cooperação com os alunos e do ato de educar que acontece fora dos muros da escola.
When interviewed, António da Nóvoa shared his point of view regarding the challenges and transformations needed in modern education, highlighting the teacher’s importance, as well as the cooperation with students and the education process that takes place outside the walls of school.
António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa é reconhecido mundialmente como um grande pensador da educação atual. Nascido em Portugal, é professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, foi também Reitor da mesma universidade entre 2006 e 2013 e Embaixador de Portugal na UNESCO entre 2018 e 2021.
António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa is worldwide acknowledged as a great thinker of modern education. Born in Portugal, he is a full professor at the Institute of Education of Lisbon University. He was also a Dean at the same university between 2006 and 2013 and Ambassador of Portugal to UNESCO between 2018 and 2021.
O professor nos concedeu uma entrevista, na qual refletiu sobre os principais desafios da educação e quais são as transformações necessárias, seja dentro ou fora da sala de aula. Aliás, ele defende que a sala de aula deve ser alargada para novos ambientes educativos em que professores e alunos possam trabalhar em cooperação. "Talvez a escola do futuro se pareça mais com uma grande biblioteca ou laboratório, do que com uma escola", afirma.
Nóvoa é doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra e em História Moderna e Contemporânea pela Universidade ParisSorbonne. Além disso, também é autor de mais de 150 publicações, entre livros, capítulos e artigos, publicadas em 12 países.
“Talvez possa haver máquinas de aprendizagem, mas não é possível existirem máquinas de educação. Há muitas aprendizagens que se podem fazer a sós, mas a educação exige a presença, o diálogo e o encontro com os outros. Não há educação sem relação humana."
António Nóvoa
Acompanhe a seguir a entrevista completa com António Sampaio da Nóvoa e descubra mais sobre suas ideias transformadoras para a educação.
1. No seu livro "Professores Imagens do Futuro Presente" (2009), o senhor aponta para o transbordamento da escola na modernidade.
The professor, who was interviewed by us, thought over the main educational challenges and which changes are needed, both inside and outside the classroom. Actually, he argues that the classroom should be expanded into new educational environments in which teachers and students can work cooperatively. “Perhaps the future school shall look more like a large library or laboratory than a school,” he states.
Nóvoa holds a doctorate in Science Education from the Geneva University and in Modern and Contemporary History from Paris-Sourbonne University. Moreover, he is also the author of more than 150 publications, including books, chapters and articles, published in 12 countries.
“Perhaps
there may be learning machines, but there cannot be education machines. There is a lot of learning that people may achieve by themselves, but education requires presence, dialog and meeting others. There is no education without human relationship."
António Nóvoa
Read the full interview with António Sampaio da Nóvoa below and find out more about his transformative ideas for education.
1. In his book "Teachers: Images of the Actual Future" (2009), is highlighted the overflow of school in modernity. This concept
Esse conceito remete tanto à dimensão utópica da escola que sonhamos ser quanto à perspectiva dos limites do que poderia ser a função social, ética, política e pedagógica da escola. Após mais de 15 anos da publicação dessa obra, as suas perspectivas conceituais sobre os “limites” da escola (e do professor) ganharam quais novos contornos?
É uma questão muito complexa, mas que tentarei simplificar. A escola está sobrecarregada com uma série interminável de funções que deveriam ser da responsabilidade das famílias e da sociedade: alimentação, cuidados de saúde, combate à violência e às drogas etc. Claro que a escola não pode ignorar esses problemas e, enquanto outras instituições não assumirem as suas responsabilidades, temos a obrigação de criar as melhores condições para que as crianças aprendam e se eduquem. Mas não podemos permitir que as famílias e a sociedade continuem a enviar para dentro da escola todos os problemas, demitindo-se das suas responsabilidades.
A educação implica, obviamente, uma compreensão da totalidade do ser humano, da totalidade das dimensões cognitivas, emocionais, motoras e espirituais das crianças. Provocativamente, podemos dizer que a missão de um professor de Matemática não é ensinar Matemática, mas sim formar um ser humano por meio da Matemática. Somos uma unidade inseparável e a educação deve construir-se nessa multiplicidade de dimensões. Mas isso não se pode confundir com a atribuição sistemática à escola de missões que competem a outras instituições.
2. Ainda nessa perspectiva, quais os modelos de cidadania e construção de conhecimento nascem nesta escola do presente-futuro, muitas vezes pressionada pela maquinária dos modelos generativos de inteligência artificial e de uma concepção cada vez mais reforçada de substituição do humano pela produção técnica da humanidade?
Talvez possa haver máquinas de aprendizagem, mas não é possível existirem máquinas de educação. Há muitas aprendizagens que se podem fazer a sós, mas a educação exige a presença, o diálogo e o encontro com os outros. Não há educação sem
refers both to the utopian dimension of the school we dream of and the perspective of the limits of what the school's social, ethical, political and pedagogical function could be. More than 15 years after the publication of this work, what new perspectives do you have regardomg the “limits” of school (and the teacher)?
It's a very complex issue, but I'll try to make it simpler. School is overloaded with an endless series of tasks that families and society should be the responsible for: nutrition, health care, combating violence and drugs, etc. Of course that school cannot ignore these problems and, until other institutions take on their responsibilities, we have to create the best conditions for children to learn and educate themselves. But we cannot allow families and society to continue sending all the problems to school and shirking their responsibilities.
Education obviously implies an understanding of human beings, as well as children's cognitive, emotional, motor and spiritual dimensions as a whole. Provocatively, we may say that the mission of a math teacher is not teaching math, but building up a human being through math. We are an inseparable unit and education must be built up on this multiplicity of dimensions. But this cannot be mistaken to school of taskes that falls to other institutions.
2. Still from this perspective, what models of citizenship and knowledge building are born in this present-future school, often pressured by the machinery of generative models of artificial intelligence and an increasingly reinforced conception of the replacement of human beings by the technical production of humanity?
Perhaps there may be learning machines, but there cannot be education machines. There is a lot of learning that people may achieve by themselves, but education requires presence, dialog and meeting others. There is no education without human
relação humana. Por isso, as escolas são tão importantes – para criarem as condições desse encontro. Por isso, os professores são tão importantes – para organizarem e promoverem esse encontro.
Os humanos não se educam sozinhos. Precisam de mestres e de colegas. Só no encontro e no diálogo é possível educar uma criança. A autoeducação é importante, mas tem limites. Vale a pena recordá-lo num tempo pós-pandêmico sobrecarregado de ilusões tecnológicas, à distância e virtuais, com aprendizagens ditas “personalizadas”, feitas fora de um espaço de partilha.
3. No relatório da Unesco, "Reimaginar Nossos Futuros Juntos", do qual o senhor participou como membro da comissão internacional, está explícito que “para formar futuros pacíficos, justos e sustentáveis, a própria educação deve ser transformada”. Qual estilo/prática de educação possível, realista e situada já é/pode ser inspiradora e mobilizadora de transformação da própria escola e da realidade, para além dos inovismos mercadológicos atuais?
Dizemos, muitas vezes, que a educação é transformadora. Sim. Mas só uma educação transformada pode cumprir o seu papel transformador na sociedade. Talvez se possam usar cinco Cs para falar dessa outra educação.
1.º Praticar uma pedagogia da Cooperação, isto é, conceber a escola não apenas como um lugar de aulas, mas como um lugar de trabalho cooperativo, como um espaço para o trabalho conjunto entre alunos e entre professores e alunos.
relationship. That is why schools are so important –to create proper conditions for this encounter. That is why teachers are so important – to organize and promote this meeting.
Human beings do not educate themselves. They need teachers and colleagues. Just through meetings and dialog a child may be educated. Self-education is important, but it has its own limits. It's worth remembering we are living in a post-pandemic time overloaded with technological, distance and virtual illusions, with so-called “personalized” learning, which happens outside a shared space.
3. In UNESCO report, Reimagining Our Futures Together, in which you participated as a member of the international committee, it is explicitly stated that “in order to shape peaceful, just and sustainable futures, education itself must be transformed”. What style/practice of possible, realistic and placed education is already/may be inspiring and mobilizing for transforming school itself and reality beyond the current market innovations?
We often say that education is transforming. Yes, it is. But only a transformed education may fulfill its transformative role in society. Perhaps five Cs could be used to talk about this other education.
1st. Practicing Cooperation pedagogy, conceiving school not just as a place for classes, but as a place for cooperative work, as a space for joint work among students and among teachers and students.
2.º Desenvolver um currículo da Convergência, isto é, ir além da tradicional grade curricular por disciplinas separadas e compreender a importância de trabalhar os grandes temas e problemas da humanidade, do conhecimento, da cultura e da ciência, a partir de uma convergência das disciplinas.
3.º Organizar a profissão docente de forma Colaborativa, isto é, concebendo o trabalho educativo e pedagógico não de forma isolada, cada professor dentro da “sua” sala de aula, mas de forma conjunta, com vários professores a trabalharem simultaneamente com vários grupos de alunos em novos ambientes educativos.
4.º Construir uma escola Convivial, isto é, uma escola onde se aprende a conviver, a viver com os outros, no respeito pelas diferenças e diversidades, construindo ambientes escolares democráticos, inclusivos e participativos, de vida e de trabalho em comum.
5.º Promover uma educação ligada à Cidadania, isto é, compreender que há mais educação para além da escola e ligar o trabalho escolar à cidade, à cidade educadora, a um espaço público de educação que é mais amplo do que o espaço escolar.
4. No seu livro Professores: "Libertar o Futuro", o senhor identifica ser o professor sujeito transformador da escola. Quais os denominadores o senhor entende, no papel docente, como fundamentais para uma transformação significativa da educação em que a aprendizagem aconteça de maneira inclusiva e de qualidade para todos os estudantes?
Nada substitui um bom professor. Nada. Nada mesmo. Nada o substitui para apresentar o mundo, todos os mundos, aos mais novos. Nada o substitui para dar aos alunos a possibilidade de chegarem mais longe, aonde nunca chegariam sem o seu trabalho, sem a sua dedicação.
Em tempos do digital, é preciso dizer que a relação humana é insubstituível. É preciso dizer que os professores têm uma responsabilidade maior, a maior de todas: colocar a sua autoridade a serviço da liberdade dos alunos. Para isso, precisamos de professores inteiros, seguros, confiantes. E aqui surge um primeiro problema, que se arrasta há anos. Como construir
2nd. Developing a Convergence curriculum, going beyond the traditional curriculum which has separate subjects and understanding the importance of working on great subjects and problems of humanity, knowledge, culture and science, based on a convergence of disciplines.
3rd. Organizing teaching in a Collaborative way, which is, conceiving educational and pedagogical work jointly, with each teacher in “their” classroom, but together, with several teachers working simultaneously with several groups of students in new educational environments.
4th. Building a Convivial school, which is, a school where people learn to live and working together, to live with others, respecting differences and diversity, building democratic, inclusive and participatory school environments.
5th. Promoting education linked to Citizenship, understanding that there iseducation beyond school and linking school work to the city, to the educating city, to a public educational space that is broader than the school space.
4. In your book "Teachers: Releasing Future", you say the teacher is the one responsible for transforming school. What denominators you identify, in the teaching role, as fundamental for a meaningful transformation of education, in which learning takes place in an inclusive and quality manner for every student?
Nothing replaces a good teacher. Nothing. Nothing indeed. There is no substitute for introducing the world, all the worlds, to younger people. There is no substitute for giving students the chance to go further, where they would never go without his/her work, without his/her commitment.
In digital times, it is necessary saying human relationship cannot be replaced. It has to be said that teachers have a greater responsibility, the greatest of all: using their authority at the service of their students' freedom. For this, we need teachers with integrity, security and confidence. And here the first problem, which has been going on for years,
essa confiança num tempo em que os professores parecem culpados de todos os males, de todas as dúvidas, de todas as hesitações que a escola vive?
Nada substitui um bom professor. Na construção pública da educação, na construção de um espaço habitado por todos os alunos. As famílias podem, e devem, dar aos seus filhos a educação que considerem mais adequada. As religiões, também. As comunidades, também. Mas a educação escolar – e sobretudo a escola pública – é de um outro tipo: aqui apresenta-se a humanidade toda, e não apenas uma parte da humanidade, uma dada visão familiar, religiosa ou comunitária. Por isso, a ciência é tão importante como matriz do currículo. E as artes, também.
5. Em uma palestra recente, o senhor afirma ser necessário “sairmos da sala de aula”. Em que medida a pesquisa, a inovação, a aprendizagem crítica, criativa e a transformação social dependem desse movimento de saída da escola e das concepções de ensino?
Há dois movimentos: sair da sala de aula e alargar a escola à sociedade.
A questão central da transformação da escola passa pela criação de novos ambientes educativos. Tradicionalmente, o modelo escolar organiza-se em torno do núcleo “sala de aula”, no qual um professor
arises. How can we build this trust at a time when teachers seem to be blamed for all the illnesses, all the doubts, all the hesitations that school is experiencing?
Nothing replaces a good teacher. In the public construction of education, in the construction of a space inhabited by all the students. Families may, and have to, give their children the education thought as the most suitable one. As well as religion and communities. But school education – and especially public school education – is a different kind of education: here the whole humanity is introduced, not just a part of humanity, a given family, religious or community point of view. That is why science is so important as a curriculum matrix. As well as art.
5. In a recent lecture, you said we need to “leave the classroom”. To what extent do research, innovation, critical and creative learning and social transformation depend on this movement away from school and teaching concepts?
There are two movements: leaving classroom and expanding school to society.
The main issue in school transformation is the creation of new educational environments. Traditionally, the school model is organized
dá lições aos seus alunos. Hoje, precisamos de novos ambientes educativos, mais abertos e diversos, nos quais professores e alunos possam trabalhar em cooperação. Talvez a escola do futuro se pareça mais com uma grande biblioteca ou laboratório… Do que com uma escola!
Por outro lado, as mudanças em curso têm uma dimensão pedagógica, interna à realidade escolar, mas têm também uma dimensão externa, na construção do que designo por espaço público da educação. Não se trata, apenas, de repensar a relação escola-sociedade ou de defender uma maior abertura das escolas às famílias e à sociedade. Trata-se de compreender a necessidade de consolidar uma rede de compromissos e de responsabilidades para realizar a educação numa diversidade de tempos e lugares. Este “espaço público” não se resume a organizar, de modo diferente, as atividades escolares; tem de corresponder, sobretudo, à inscrição de novas modalidades de participação, de cidadania e de deliberação no domínio da educação.
Indicações
around the core “classroom”, in which a teacher gives lessons to his or her students. Nowadays, we need new, more open and diverse educational environments where teachers and students can work together. Maybe the future school seems more to be a huge library or laboratory than a school!
On the other hand, the changes underway have a pedagogical dimension, internal to school reality, but they also have an external dimension, in the construction of what I call "public space for education". It is not just a matter of rethinking schoolsociety relationship or advocating that schools have to be more open to families and society. It is about understanding the need to consolidate a commitment and responsibility network to carry out education in different times and places. This “public space” is not just about organizing school activities in a different way; it has to be related, above all, to the inclusion of new forms of participation, citizenship and deliberation on education.
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O livro inaugural da Editora Diálogos Embalados: Professores Libertar o Futuro, de António Nóvoa, constrói uma ponte entre o passado da Escola e suas perspectivas de futuros. Sim, futuroS - no plural - pois o futuro é uma escolha que seres humanos, como indivíduos ou organizados em diferentes coletivos, devem fazer dentro de um urgente novo contrato social. Chega com o propósito de contribuir para uma reflexão sobre os professores e a profissão
docente, e como diz o professor Nóvoa, "num tempo de profundas mudanças na educação e nas escolas". De acordo com o autor, na apresentação de sua obra, "estamos a passar por um momento de grandes dúvidas e incertezas, que não nos devem arrastar para o desânimo, mas para uma mobilização coletiva e para a abertura de novos caminhos."
This book aims to inspire teachers to reflect on their professional journeys, the way they perceive the connection between the personal and the professional, and how they have evolved throughout their careers. Perhaps this renewed interest in "life stories" will help stimulate new research and studies, contributing to the development of a truly pedagogical perspective (and not merely an anthropological, historical, psychological, or sociological one)
on the teaching profession. This profession needs to be expressed and narrated: it is a way to understand it in all its human and scientific complexity. Being a teacher requires constant choices, intertwining our way of being with our way of teaching and revealing, in how we teach, who we are.
Além das Fronteiras: a experiência do intercâmbio no Canadá
Beyond borders: exchange experience in Canada
Por Gracilene Zen
“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós." “You have to leave the island to really see it. We cannot see ourselves if we do not leave ourselves.”
José Saramago, O Conto da Ilha Desconhecida.
The Tale of the Unknown Island
As palavras de José Saramago resumem perfeitamente o que vivemos ao longo do intercâmbio no Canadá. Quando nossos 13 estudantes do Ensino Médio deixaram o Brasil rumo à Fanshawe College, em London, Ontário, não se tratava apenas de visitar um novo lugar. Eles saíram de suas próprias "ilhas" para se descobrirem, para enxergarem o mundo com novos olhos e, assim, encontrarem uma nova versão de si.
Durante três semanas, entre julho e agosto de 2024, o grupo participou do Youth Summer Camp ESL + Career Exploration, onde puderam aperfeiçoar as habilidades comunicativas do inglês, explorar novas áreas de conhecimento e vivenciar a importância da pesquisa e da inovação para o aprendizado. Imersos em um ambiente multicultural e dinâmico, cada experiência foi uma oportunidade de crescimento pessoal e acadêmico, marcando o início de muitas descobertas.
Um novo olhar sobre o mundo
Logo que chegamos à cidade de London, em Ontário, fomos muito bem recepcionados pela equipe do Programa para Estudantes Internacionais da Fanshawe College. Com mais de 200 programas de estudo, a instituição nos proporcionou uma imersão em diversas áreas do conhecimento. Nossos estudantes tiveram a oportunidade de vivenciar oficinas em escolas especializadas, como as de Aviação, Artes Digitais, Ciências da Saúde, Segurança Comunitária, entre outras. Nessas escolas a teoria e prática se encontram em espaços modernos e muito bem equipados.
José Saramago's words perfectly sum up what we experienced during our exchange in Canada. When our 13 high school students left Brazil to go to Fanshawe College in London, Ontario, it was not just about visiting a new place. They left their own “islands” to discover themselves, to see the world through new eyes and thus finding a new version of themselves.
For three weeks, between July and August 2024, the group took part in the Youth Summer Camp ESL + Career Exploration, where they were able to improve their English communication skills, explore new areas of knowledge and experiencing the importance of research and innovation for learning. Immersed in a multicultural and dynamic environment, each experience was an opportunity for personal and academic growth, determining the beginning of many discoveries.
A new view of the world
As soon as we arrived in London, Ontario, we were warmly welcomed by the staff of the International Student Program at Fanshawe College. With more than 200 learning programs, the institution has provided us with an immersion in several areas of knowledge. Our students had the opportunity to experience workshops in specialized schools, such as Aviation, Digital Arts, Health Sciences, Community Safety, among others. In these schools, theory and practice meet in modern, well-equipped spaces.
Essas oficinas foram uma forma de explorar novas áreas acadêmicas e uma ótima oportunidade para os alunos descobrirem quais campos despertavam seu interesse e quais não se alinhavam às suas expectativas. Essa experiência prática permitiu uma visão mais clara dos caminhos acadêmicos e profissionais que desejam trilhar no futuro.
Além disso, a vivência nesses ambientes foi enriquecida pela diversidade cultural, pelo aprendizado colaborativo e pelo contato direto com o diálogo intercultural. O encontro com estudantes de países como China, Japão, Rússia, Turquia, Guatemala, Cazaquistão e México ampliou suas percepções sobre cidadania global.
These workshops were a way of exploring new academic areas and a great opportunity for students to discover which fields piqued their interest and which were not aligned with their expectations. This practical experience has given them a clearer view of the academic and professional paths they wish to follow in the future.
Moreover, their experience in these environments was enriched by cultural diversity, collaborative learning and direct contact with intercultural dialog. Meeting students from countries such as China, Japan, Russia, Turkey, Guatemala, Kazakhstan and Mexico broadened their perceptions on global citizenship.
Criatividade em ação
O intercâmbio proporcionou uma imersão nas possibilidades criativas e inovadoras que o futuro pode oferecer. O grupo teve acesso a uma variedade de experiências práticas que expandiram seus horizontes profissionais, indo além do que eles conheciam ou imaginavam ser possíveis. As visitas às áreas de Aviação, Turismo e Hospitalidade e Artes Digitais permitiram que os estudantes visualizassem novas oportunidades e carreiras em potencial.
Um destaque especial foi a visita à Escola de Mídias Contemporâneas, onde os alunos tiveram a oportunidade de conhecer de perto o funcionamento da Radio Fanshawe. Eles participaram de todo o processo criativo de produção de conteúdo, desde a concepção das pautas até a experiência emocionante de apresentar ao vivo em um programa na rádio. Essa vivência despertou o interesse de alguns em explorar mais a fundo as carreiras relacionadas à comunicação e à mídia, permitindo que compreendessem o impacto que a criação de conteúdo ao vivo pode ter em um ambiente profissional.
Creativity in action
The exchange provided an immersion in the creative and innovative possibilities that future may offer. The group had access to a variety of practical experiences that expanded their professional horizons, allowing them to go beyond what they knew or imagined it was possible. Visits to Aviation, Tourism and Hospitality and Digital Arts areas allowed the students to see new opportunities and potential careers.
A special highlight was the visit to the School of Contemporary Media, where the students had the opportunity to learn how Radio Fanshawe works. They took part in the entire creative process of producing content, from designing guidelines to the thrilling experience of presenting a live radio show. This experience sparked an interest in some of them to further explore careers related to communication and media, allowing them to understand the impact that creating live content may have in a professional environment.
Além disso, nos espaços de inovação, como o Makers Space, nossos estudantes participaram de atividades que testaram sua criatividade e capacidade de solucionar problemas. Ao confeccionar ecobags e interagir com o robô Pepper, eles puderam experimentar na prática o processo de inovação, desde a concepção de uma ideia até sua materialização. Esses momentos estimularam o pensamento criativo, reforçaram a importância de investigar profundamente as questões ao seu redor e buscar soluções originais e colaborativas.
Cada atividade prática trouxe consigo lições significativas: a importância de enxergar desafios como oportunidades e o poder da inovação para transformar realidades. Mais do que desenvolver habilidades técnicas, nossos jovens saíram dessas experiências com um senso ampliado de curiosidade, autonomia e uma nova forma de observar e interagir com o mundo ao seu redor.
Furthermore, in innovation spaces such as Makers Space, our students took part in activities that tested their creativity and problem-solving skills. When making ecobags and interacting with Pepper robot, they were able to experience the innovation process in practice, from the conception of an idea to its materialization. These moments stimulated creative thinking, reinforced the importance of thoroughly investigating issues they faced and seeking original and collaborative solutions.
Each practical activity brought meaningful lessons: the importance of seeing challenges as opportunities and the power innovation has to transform realities. More than developing technical skills, our students have come away from these experiences with an expanded sense of curiosity, autonomy and a new way of observing and interacting with the world around them.
Uma língua, muitas vozes
Para boa parte do grupo, estar imerso em um ambiente onde o inglês era a principal língua foi um desafio. No entanto, à medida que os dias passavam, as dificuldades deram lugar à confiança. Um dos aspectos mais ricos dessa experiência foram as práticas de translanguaging, onde os estudantes utilizaram criativamente tanto o português quanto o inglês (e às vezes até outras línguas) para facilitar a comunicação. Ao misturar os idiomas de forma fluida, seja para traduzir uma palavra desconhecida ou para explicar melhor uma ideia, eles conseguiram garantir que a comunicação ocorresse de forma natural.
A combinação de gestos, uso do celular para buscar imagens ou possíveis traduções e até mesmo a colaboração entre colegas, que ajudavam uns aos outros a completar frases ou esclarecer conceitos,
A language, many voices
For a great part of the group, being immersed in an environment where English was the main language was a challenge. However, as days went by, difficulties were replaced by confidence. One of the richest aspects of this experience was the translanguaging practices, where students creatively used both Portuguese and English (and sometimes even other languages) to make communication easier. By mixing languages fluidly, whether to translate aunfamiliar word or to better explain an idea, they were able to ensure that communication took place naturally.
The combination of gestures, the use of cell phones to search for images or possible translations and even collaboration between colleagues, who helped each other complete sentences or clarifying concepts, further
enriqueceu ainda mais o processo de aprendizagem. O translanguaging reforçou o domínio do inglês e permitiu que os alunos construíssem pontes entre as línguas, aumentando sua flexibilidade linguística e sua capacidade de adaptação a diferentes contextos.
Com o tempo, os alunos perceberam que estavam se fazendo entender e sendo compreendidos de maneira plena, independentemente da mistura de idiomas. Viver em inglês, tanto em situações cotidianas quanto em atividades mais complexas, proporcionou um avanço significativo no domínio da língua, reforçando a confiança e a autonomia de cada um no processo de aprender.
enriched the learning process. Translanguaging strengthened the students' command of English and allowed them to build bridges between languages, increasing their linguistic flexibility and their ability to adapt to different contexts.
Over time, the students realized they were making themselves fully understood, regardless of the mixture of languages. Living in English, both in everyday situations and in more complex activities, has led to meaningful progress in their mastery of language, reinforcing their confidence and autonomy in the learning process.
Crescendo juntos
Essa jornada não foi apenas sobre aprender uma nova língua ou conhecer novos lugares. Ela foi, também, sobre amadurecer. Longe das famílias, nossos estudantes tiveram a chance de caminhar com suas próprias pernas, aprender a lidar com suas emoções e enfrentar, com coragem e independência, os desafios diários que surgiram. O crescimento que vivenciaram foi tão amplo quanto o aprendizado acadêmico, transformando-os de dentro para fora.
A experiência no Canadá ampliou suas perspectivas sobre o futuro, abrindo portas para novas possibilidades de estudos e carreiras. Além disso, eles aprenderam a valorizar a diversidade, a respeitar o outro em sua singularidade e a perceber o mundo como um campo infinito de possibilidades e encontros.
Eu, como professora de Língua Inglesa, pesquisadora e entusiasta da educação bilíngue como um meio de transformação, de promoção da justiça social e da cidadania global, senti um imenso orgulho ao ver nossos estudantes brilharem. Ver o quanto eles aprenderam e se desenvolveram ao longo dessa jornada foi emocionante. Foi um privilégio teste -
Growing up together
This journey was not just about learning a new language or seeing new places. It was also about maturing. Far away from their families, our students had the chance to walk on their own feet, learn to handle their emotions and face daily challenges that arose with bravery and independence. The growth they experienced was as broad as their academic learning, transforming them from inside out.
The experience in Canada broadened their perspectives on future, opening doors to new study and career possibilities. In addition, they learned to value diversity, respect others in their uniqueness, and perceiving the world as an infinite field of possibilities and encounters.
As an English teacher, researcher and enthusiast of bilingual education as a means of transformation, promoting social justice and global citizenship, I felt immense pride when observing our students shine. Seeing how much they have learned and developed throughout this journey has been exciting. It has been a privilege to
munhar os frutos do trabalho conjunto entre escola e famílias na formação de excelência humana e acadêmica de nossos alunos.
Lições que permanecem
Se há uma lição que o intercâmbio no Canadá nos ensinou é que a educação vai muito além da sala de aula. Pesquisa e inovação caminham lado a lado e devem ser parte constante de nossas vidas, impulsionando nosso crescimento e nos ajudando a compreender melhor o mundo e a nós.
Os laços de amizade criados, as descobertas que surgiram a cada dia e as lições aprendidas são parte de uma jornada contínua que nunca termina. O que nossos 13 estudantes vivenciaram no Canadá permanecerá com eles para sempre, influenciando suas escolhas e moldando suas trajetórias. Essa experiência reafirma que, com educação e curiosidade, somos capazes de ultrapassar qualquer fronteira — seja ela física ou dentro de nós.
witness the fruits of joint work between school and families in shaping our students' human and academic excellence.
Lessons that remain
Exchange in Canada taught us that education goes far beyond classroom. Research and innovation go hand in hand and should be a constant part of our lives, driving our growth and helping us to better understand the world and ourselves.
Friendship bonds built, discoveries made every day and lessons learned are all part of a continuous journey that never ends. What our 13 students experienced in Canada shall remail with them forever, influencing their choices and shaping their trajectories. This experience restates that, with education and curiosity, we are able to cross any boundary - be it physical or within ourselves.
Gracilene Zen é licenciada em Letras Português-Inglês pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional UNINTER. Possui especialização em Metodologia para Educação Bilíngue pelo Centro Universitário OPET (UNIOPET). Possui mestrado em Gestão Educacional pela Unisinos. Atualmente é professora de inglês do 9º ano do Ensino Fundamental no Colégio Medianeira e professora de inglês da Rede Estadual de Ensino do Paraná.
holds a degree in Portuguese-English Literature from the Pontifical Catholic University of Paraná (PUCPR) and a degree in Pedagogy from the UNINTER International University Center. She holds a specialization degree in Methodology for Bilingual Education from OPET University Center (UNIOPET). And she also holds a master degree in Educational Management from Unisinos. She is currently a 9th grade English teacher at Colégio Medianeira and an English teacher at the Paraná State Education System.
Indicações
O Filho de Mil Homens | Valter Hugo Mãe | Editora Biblioteca Azul
The Son of a Thousand Men | Valter Hugo Mãe
Aos quarenta anos, o pescador decide buscar o que lhe falta. Vai encontrar no jovem Camilo, órfão de uma anã, a chance de preencher a metade vazia. Com personagens tão excêntricos quanto humanos, que carregam suas tragédias com lirismo e ingenuidade, o festejado Valter Hugo Mãe povoa o vilarejo litorâneo onde a vida é levada com singela tristeza e a esperança do amor faz surgir uma alegria pequena, mas firme, porque
construída com o possível. At his forties, a fisherman decides to find what he needs. He shall find in young Camilo, orphaned by a dwarf, the chance to fill his empty half. With characters as eccentric as human, who carry their tragedies with lyricism and naivety, the celebrated Valter Hugo Mãe populates the seaside village where life is lived with simple sadness and the hope that love gives rise to a small but firm joy, because it is built on what is possible.
Por
uma práxis
educativa jesuíta: a formação de jovens pesquisadores na educação básica comprometidos com a transformação social
For a jesuist educational practice: the education of young researchers in basic education committed to social transformation
Opresente artigo tem como base minha tese de doutorado. Nela, como pano de fundo, abordei algumas questões elaboradas por Michael Apple (2017) em seu livro “A Educação pode mudar a sociedade?”, as quais procurei responder ao longo do texto daquele estudo. Em sua obra, o autor questiona: “para que serve a educação? Quem se beneficia da atual sociedade? Que tipo de sociedade queremos? Qual é meu papel na construção e defesa de uma sociedade melhor?” (APPLE, 2017, p. 85).
This article is based on my PhD thesis. In it, as a backdrop, I addressed some questions raised by Michael Apple (2017) in his book “Can Education Change Society?”, which I tried to answer throughout the text of that study. In his book, the author asks himself: “what is education useful for? Who benefits from today's society? What kind of society do we want? What is my role in building and defending a better society?” (APPLE, 2017, p. 85).
Diante dessas questões e a partir da análise dos documentos, valores e princípios da Companhia de Jesus, assim como por meio de uma metodologia de pesquisa que envolveu, via círculos de cultura freirianos, estudantes egressos, professores e ex-professores do Colégio Medianeira, foi possível elaborar reflexões e proposições acerca da práxis educativa jesuíta e seus possíveis potencializadores.
Neste artigo, portanto, realizo uma síntese do ideário e questionamentos da tese que, em seus resultados, expôs a elaboração de indicadores que pudessem identificar a existência de uma correlação entre a formação de jovens pesquisadores na educação básica e seu comprometimento com a transformação social.
Nesse sentido, o desafio de uma Instituição Jesuíta Brasileira de Educação Básica (IJBEB) residiria em efetuar um movimento persistente para que seus documentos, concepções educacionais e princípios pudessem ser ativados em seu cotidiano escolar, evidenciando uma proposta educativa voltada para a formação para a transformação social.
Sendo assim, importante destacar que, historicamente, as IJBEB buscam distinguir-se, em sua especificidade, por sua preocupação com uma educação humanista e humanizadora, formadora de “cidadãos competentes, conscientes, compassivos, criativos e comprometidos” (REDE JESUÍTA DE EDUCAÇÃO, 2021, p. 14).
Nessa concepção, o apostolado educativo da Companhia de Jesus indica objetivos para a IJBEB do século XXI: (1) formar corações abertos ao sofrimento dos demais; (2) desenvolver consciência crítica para as causas da desigualdade e opressão; (3) adquirir competência para efetuar mudanças positivas na cultura
These questions and from the analysis of documents, values and principles of Jesus Society, as well as through a research methodology that involved, via Freirean circles of culture, graduated students, teachers and former teachers of Colégio Medianeira, made possible to develop considerations and propositions regarding Jesuit educational praxis and its possible potentializers.
Therefore, in this article, I summarize the ideas and questions of the thesis which, in its results, set outs the development of indicators that could identify the existence of a correlation between the training of young researchers in basic education and their commitment to social transformation.
In this sense, the challenge for a Brazilian Jesuit Institution of Basic Education (IJBEB) would be to make a persistent move so that its documents, educational concepts and principles could be activated in its daily school routine, highlighting an educational proposal aimed at training for social transformation.
Therefore, it is important to note that, historically, the IJBEB has sought to distinguish itself, in its specificity, through its concern with a humanistic and humanizing education, which forms “competent, conscious, compassionate, creative and committed citizens” (JESUIST EDUCATION NETWORK, 2021, p. 14).
In this conception, the educational apostolate of Jesus Society highlights objectives for the IJBEB of the 21st century: (1) to form hearts that are open to other people’s suffering; (2) to develop critical awareness of causes of inequality and oppression; (3) to acquire the competence to
local e no mundo e (4) ter coragem para enfrentar críticas (ICAJE, 2019).
Dessa forma, transformações na comunidade acadêmica, na instituição e na comunidade — local e global — dependeriam da formação de jovens estudantes da comunidade escolar, em um ambiente de ênfase à sua autonomia e autoria, em permanente desenvolvimento de/na liderança para e com os demais.
Nestas diretrizes, busca-se elevar os estudantes para uma condição ativa de protagonismo compartilhado com os professores. Assim, almeja-se intensificar uma práxis educativa jesuíta que contribua para uma visão aberta de aprendizagem. Logo, abre-se espaço para a construção de uma escola jesuíta produtora de conhecimento de modo solidário, não solitário e transformadora de pessoas e contextos locais, globais e históricos.
Sob esse viés, Padre Arturo Sosa orienta que as instituições jesuítas sejam “espaços de pesquisa pedagógica e verdadeiros laboratórios de inovação”, além de serem locais formadores de “consciência crítica e inteligente diante de processos sociais injustos (CPAL, 2019, p. 58).
Para tanto, desde a contextualização à experiência e reflexão, a práxis educativa jesuíta traz o foco na ação que, para Santo Inácio de Loyola, seria a prova mais categórica do amor, que “demonstra-se com fatos, não com palavras” (COMPANHIA DE JESUS, 1993, p. 59). Por esse motivo, a reflexão inaciana começa com a experiência da realidade de maneira a agir sobre essa mesma experiência para transformá-la (COMPANHIA DE JESUS, 1993).
Com base nessa perspectiva inaciana, defendo que existem três potencializadores inter-relacionados dialogicamente, que são, de acordo com o pesquisado, os principais propulsores de uma práxis educativa jesuíta
make positive changes in the local culture and in the world and (4) to have the courage to face criticism (ICAJE, 2019).
Thus, transformations in academic community, institution and community — local and global — would depend on the training of young students from the school community, in an environment that emphasizes their autonomy and authorship, in permanent development of/in leadership for and with others.
In these guidelines, the aim is leading students to an active position of shared protagonism with their teachers. The aim is intensifying a Jesuit educational praxis that contributes to an open view of learning. Thus, this opens up space for building a Jesuit school that produces knowledge in solidarity, not in solitude, which transforms people and local, global and historical contexts.
Under this bias, Father Arturo Sosa recommends that Jesuit institutions be “spaces for pedagogical research and true laboratories of innovation”, as well as being places that form “critical and intelligent awareness before unjust social processes (CPAL, 2019, p. 58).
For this purpose, from contextualization to experience and reflection, Jesuit educational praxis focuses on action which, for Saint Ignatius of Loyola, would be the most categorical proof of love, which “is showed with deeds, not words” (JESUS COMPANY, 1993, p. 59). For this reason, Ignatian reflection begins by experiencing reality in order to behave on this same experience to transform it (JESUS COMPANY, 1993).
Based on this Ignatian perspective, I argue that there are three dialogically interrelated potentializers, which are, according to the researcher, the main drivers of a Jesuit educational praxis capable of
capaz de formar jovens lideranças críticas e comprometidas com a transformação social: (1) a constituição de um ethos curricular jesuíta voltado à formação de jovens comprometidos com a transformação social; (2) a educação pela pesquisa como o principal elemento metodológico na educação básica, visando à formação de investigadores críticos e corresponsáveis por (re)interpretar o mundo e transformá-lo; e (3) um processo de formação de lideranças jovens, sob uma perspectiva inaciana, capazes de proporem e liderarem transformações sociais para/com os demais.
O desafio para a implementação de tais potencializadores residiria em efetuar um movimento diário para ativá-los no cotidiano das IJBEB. Nessa acepção, educar para transformar exigiria deslocar-se da apatia homogeneizadora da educação em geral e aprofundar-se na utopia de uma escola que não somente o mundo precise, mas, principalmente, que o mais próximo necessita. Especialmente, se for aquele que está a um muro de distância de nossas instituições.
Para tanto, seria necessário romper esse muro, adicionando-lhe portas e janelas abertas aos invisibilizados do mundo, eventualmente curando-nos da hipermetropia educacional que nos faz enxergar além-fronteira, ao mesmo tempo em que nos nubla a visão do não-cidadão junto aos nossos olhos. Seria necessário buscar conexão com os “descartados do mundo” (JESUÍTAS BRASIL, s.d), enxergando-os, integrando-os e humanizando a formação e a atuação de todos que compõem nossas escolas.
Com novas lentes, a escola observaria que os melhores indicadores de resultados educacionais deveriam ser discernidos por meio de quanto seus estudantes e egressos conseguem comprometer-se com a transformação das condições de vida da
educating critical young leaders committed to social transformation: (1) the constitution of a Jesuit curricular ethos aimed at training young people committed to social transformation; (2) education through research as the main methodological element in basic education, aimed at training critical researchers who are co-responsible for (re) interpreting the world and transforming it; and (3) a process of training young leaders, from an Ignatian perspective, capable of proposing and leading social transformations for/with others.
The challenge in implementing these potentializers would lie in making a daily move to activate them in daily life of IJBEB. In this sense, educating to transform would require moving away from the homogenizing apathy of education in general and delving deeper into the utopia of a school that not only the world needs, but above all, that people who are closest to us need. Especially if they are just a wall away from our institutions.
In order to do so, it would be necessary to break through this wall, adding doors and windows open to the ones who are invisibilized by the world, eventually curing us of educational hyperopia that makes us seeing beyond the border, while it clouds our view regarding people who are non-citizen next to us. It would be necessary to seek a connection with the “discarded of the world” (JESUITAS BRASIL, n.d.), by seeing them, integrating them and humanizing the education and work of all those who make up our schools.
With new lenses, school would observe that the best indicators of educational results should be discerned by how much its students and graduates are able to commit themselves to transform the community and non-citizens’
coletividade, dos não-cidadãos, e não apenas pelo ranqueamento alcançado em exames externos padronizados, que muitas vezes apenas autenticam o sucesso de quem nele sempre habitou.
Portanto, sob novas lentes, a instituição de educação básica deveria redefinir o conceito de sucesso e bons resultados educacionais, vinculando-os à capacidade de articular, influenciar e impactar mudanças em tudo que desestabiliza e inviabiliza a promoção humana, o ser mais. Deveria estabelecer indicadores que mensurem quão humanizadora sua formação é, a ponto de não descansar enquanto estudantes ainda estejam sendo formados sem efetivamente comprometerem suas vidas com o bem de todas as vidas, humanas ou não.
Para que isso ocorra, a via principal estaria voltada para a constituição de uma comunidade que tenha como eixo central a educação pela pesquisa, havendo maior integração entre os tempos e espaços pedagógicos, em oposição à fragmentação que compartimentaliza o conhecimento e massifica sua abordagem para grandes públicos. Nesse viés, é mister proporcionar que o currículo formal seja colocado sob a permanente lente questionadora, capaz de desmontá-lo, denunciá-lo e confrontá-lo com saberes outros, especialmente aqueles não catalogáveis oficialmente e associados a matrizes epistemológicas descolonializadas e interculturalmente críticas. Tal movimento, de ênfase a um ethos curricular jesuíta, seria crucial para uma escola que tenha como objetivo formar para transformar a sociedade.
Como forma de potencializar esta dinâmica transformadora, seria vital fazer da liderança, sob uma perspectiva inaciana, uma atitude capilarizada no cotidiano de todos os sujeitos da comunidade escolar, sendo capaz de aguçar olhares para a gera-
living conditions, and not just by ranking achievements in standardized external exams, which often only authenticate the success of those who have always lived there.
Therefore, under new lenses, the basic education institution should redefine the concept of success and good educational results, linking them to the ability to articulate, influence and impact changes on everything that destabilizes and makes human promotion being more unfeasible. It should establish indicators that measure how humanizing its training is, to the point of not resting while students are still being trained without effectively committing their lives to the good of every life, human or otherwise.
So that this happens, the main way would be to build a community that has education through research as its central axis, with greater integration between teaching times and spaces, as opposed to the fragmentation that compartmentalizes knowledge and massifies its approach for large audiences. In this respect, it is necessary to ensure that formal curriculum is placed under a permanent questioning lens, capable of dismantling it, denouncing it and confronting it with other knowledges, especially those not officially catalogued and associated with decolonialized and interculturally critical epistemological matrices. Such a movement, emphasizing a Jesuit curricular ethos, would be crucial for a school that aims to educate in order to transform society.
As a way of enhancing this transformative dynamic, it would be vital to make leadership, from an Ignatian perspective, a capillary attitude in daily lives of all the subjects in the school community, capable of sharpening gazes to generate more
ção de mais humanidade e melhor conhecimento solidário, para e com quem é alvo do apagamento de uma sociedade excludente e exclusivista.
Finalmente, em meio a todo esse ideário, questionamentos podem ser realizados: não haveria neste modo de pensar a educação um olhar romantizado que não compreendeu que tal visão estaria a caminhar no sentido oposto a algo perenemente posto e imutável? Não seria esta uma visão um tanto quanto otimista, ingênua e desvinculada da grande resistência, apresentada por todo um sistema educacional que secundariza a formação para a transformação, preocupando-se prioritariamente em sustentar-se?
A essas questões poderíamos responder que uma educação que se pretenda efetivamente transformadora, centrada no estudante e em suas potencialidades, deve rumar na direção da problematização da realidade, seguindo na linha do “inédito viável”, de uma “futuridade revolucionária” (FREIRE, 2019).
Consequentemente, o desafio que limitaria a utopia de uma educação como tal estaria em proporcionar que redes de “futuridade revolucionária” (FREIRE, 2019) pudessem construir uma cultura voltada ao esperançar, de modo a gerar fissuras nos muros que represam a sociedade e evitam seu transbordamento para um outro mundo absolutamente viável e inédito. Pois, que os propósitos de uma teoria da práxis educativa jesuíta e seus potencializadores possam ser efetivamente materializados nos tempos e espaços das escolas e, principalmente, na atitude mobilizadora e revolucionária daqueles que delas fazem parte. Que seus professores, gestores, estudantes e egressos possam
humanity and better knowledge in solidarity, for and with those who are the target of the erasure of an exclusionary and exclusivist society.
Finally, amidst all these ideas, questions may be asked: isn’t this way of thinking about education a romanticized way which has not understood this view would lead education to the opposite direction to something perennially set in stone and unchangeable? Wouldn't this be a somewhat optimistic, naïve view, disconnected from the great resistance presented by an entire educational system that sidelines training for transformation and is primarily concerned with sustaining itself?
We could answer these questions by saying that an education that is intended to be effectively transformative, centred on students and their potential, must move towards problematizing reality, along the lines of the “feasible unprecedented”, of a “revolutionary futurity” (FREIRE, 2019).
Consequently, the challenge that would limit education utopia as such would be enable networks of “revolutionary futurity” (FREIRE, 2019) to build a culture of hope, so as to create cracks on the walls that dam up society and prevent it from overflowing into another absolutely viable and unprecedented world. Well then, may the purposes of a theory of Jesuit educational praxis and its potentializers be effectively materialized in times and spaces of schools and, above all, in the mobilizing and revolutionary attitude of those who are part of them. That its teachers, managers,
comprometer-se com a transformação social, ante ao grave apagamento que o status quo contemporâneo parece promover a tudo que busque esperançar e desvelar um outro e desejável amanhã mais humano, solidário e includente.
Alessandro França Quadrado é coordenador pedagógico do 8º Ano a 3ª Série do Ensino Médio, é Sempre-aluno do Colégio Medianeira, licenciado em letras português/inglês, especialista no ensino de línguas estrangeiras modernas, mestre em gestão educacional e doutor em educação.
Alessandro is the pedagogical coordinator for elementary school (8th and 9th grades) and high school. He is lifelong student at Colégio Medianeira. He holds a degree in Portuguese/ English, a specialization in teaching modern foreign languages, a master's degree in educational management and a PhD in education.
students and graduates may commit themselves to social transformation, before the serious erasure that the contemporary status quo seems to promote of everything that seeks to hope for and unveil another and desirable tomorrow that is more humane, supportive and inclusive.
Referências:
APPLE, Michael. A educação pode mudar a sociedade? Petrópolis: Vozes, 2017.
CPAL (Conferência de Provinciais Jesuítas da América Latina e Caribe). A Companhia de Jesus e o direito universal a uma educação de qualidade. Lima: EduRed, 2019.
COMPANHIA DE JESUS. Pedagogia inaciana: uma proposta prática. São Paulo: Edições Loyola, 1993.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 84. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.
ICAJE (Comissão Internacional do Apostolado da Educação Jesuíta). Colégios jesuítas: uma tradição viva no século XXI. Roma: Secretariado para a Educação Secundária e PréSecundária, Companhia de Jesus, 2019.
JESUÍTAS BRASIL. Preferências apostólicas universais da Companhia de Jesus. Disponível em: jesuitasbrasil.org.br/preferencias-apostolicas/. Acesso em: 20 fev. 2024.
REDE JESUÍTA DE EDUCAÇÃO. Projeto educativo comum da rede jesuíta de educação básica: 2021-2025. São Paulo: Rede Jesuíta de Educação, 2021.
Indicações
Metamorfose do Mundo: novos conceitos para uma nova realidade | Ulrich Beck
Editora Zahar | Metamorphosis of the World: new concepts for a new reality | Zahar publisher
No livro, Ulrich Beck desenvolve uma teoria original para entender por que vivemos num mundo cada vez mais difícil de compreender. Para tanto, introduz a distinção entre mudança e metamorfose ou, mais precisamente, entre mudança na sociedade e metamorfose do mundo. In the book, Ulrich Beck develops an original theory to understand why we live in a world which is increasingly difficult to understand. To this end, he introduces the
distinction between change and metamorphosis or, more precisely, between change in society and metamorphosis of the world.
Aprender Como Autor | Pedro Demo | Editora Atlas
Learning as an Author | Atlas publisher
Livro destinado a professores, pesquisadores e estudantes de educação (pedagogia e licenciaturas), bem como a todos os professores universitários que pretendem cuidar da aprendizagem de seus estudantes, não apenas do repasse instrucionista de conteúdos. This book is aimed at teachers, researchers and students of education (pedagogy and degree courses), as well as all the university professors who want to take care of their students' learning, not just the instructional transfer of content.
Literatura Infantil na sala de aula como proposição de inovação e pesquisa na Educação Infantil na formação do leitor e do mediador de leitura
Por Ana Paula Correia e Ana Paula Timoteo da Rocha Valiente Gomes
“Se a criança não lê é porque não lhe estão contando a história ou não lhe estão apontando caminhos para o desfrute de bons e belos textos... Que existem (tantos...) e são fáceis de achar... Literatura é arte, literatura é prazer.” Fanny Abramovich.
Na Educação Infantil e em todas as etapas de ensino, a contação de histórias e a literatura estão sempre presentes. Essa é uma linguagem pela qual os pequenos se encantam e cada vez que um adulto lê para uma criança, abre-se um leque de possibilidades. Dessa forma, com as histórias, podemos ressignificar situações, emoções, posturas e tantas outras relações.
A literatura faz parte do cotidiano educativo, enriquecendo a linguagem, seja pela perspectiva como fonte de pesquisa, fruição ou contexto. Dessa maneira, proporcionamos momentos, durante a rotina, para a exploração de várias possibilidades com o tema, como: dos livros, autores, função social da escrita, escrita espontânea, oralidade, imagens, representações, criações, imaginação, escuta, reconto, interpretação e inferências.
Assim, o projeto Tecendo Memórias, é um exemplo de como a literatura é significativa para as crianças. Essa experiência aconteceu em 2023, no Infantil 2, um projeto que perdurou durante todo o ano. Cada criança recebia uma caixa que continha um livro, um pedaço de tecido de algodão cru, tintas, pincéis, agulha e linha. A ideia era simples, registrar no retalho de tecido algo que a criança achasse relevante sobre o livro, desse modo cada um foi costurando sua parte, dando vida a um tapete de memórias cheias de significados e sentimentos.
O tapete foi ganhando muitos traços e formas, fazendo parte do
momento mais especial do dia: a hora da história, em que cada um se aconchegava na parte do tapete que mais gostava. As crianças passaram a utilizá-lo diariamente, mesmo que ainda não fossem leitoras de palavras, realizando a pseudoleitura, isto é, uma interpretação das imagens, criando a sua própria narrativa. Os livros eram lidos diariamente, resultando na intensificação do gosto pela leitura. Nosso canto da literatura estava diferente, as crianças passaram a estar mais presentes. Era natural ver nesse espaço da sala um grupo ouvindo o amigo recontar a história. O sentimento de pertença também surgiu com essa proposta, pois o processo de participação e protagonismo das crianças estavam presentes.
Aos poucos o tapete foi ganhando forma, um pedacinho de cada um se transformou em algo significativo para todos. A trajetória literária deles, vivenciada no Infantil 2, traz-nos a memória de uma frase de Plorsky: “O todo é
entendido a partir de uma unidade e depende da sua totalidade para existir, depende de um mistério para ser. E viver é desbravar o todo, sondar esse mistério (....)”. Um tapete pode ser um simples tapete, mas esse não, ele é único, exclusivo, uma memória construída e foi parte de um momento muito significativo na vida dos pequenos: a transição para o Infantil 3.
Para muitos, o Infantil 2 foi a primeira experiência no ambiente escolar e a mudança traz um sentimento particular para cada um. Alguns conseguem lidar bem com as trocas, em específico, de professores, auxiliares, sala e andar do prédio, mas isso tudo, para outros, não soa simples. Assim, planejamos estratégias de transição, como na primeira semana de aula em que as crianças, já no Infantil 3, receberam nossa visita. Sentamo-nos em roda e pudemos relembrar nossa trajetória literária, memórias, desejos, emoções e potencialidades. Estávamos unidos por aquele elemento. O tapete
ganhou espaço na sala nova e as memórias permanecem e sequenciam-se com novas aprendizagens.
Outro exemplo de estratégia aconteceu em uma turma do Infantil 5, a partir de uma observação no cotidiano em que várias crianças estavam pegando folhas de rascunho para fazer livros. Colavam uma folha em cima da outra, desenhavam e mostravam a produção final:
— Profe, olha o meu livro de monstros, pinóquio, princesas!
— Vamos emprestar para a biblioteca?!
A partir disso, era hora de ampliar o olhar dos pequenos, fazendo com que se sentissem escritores de verdade e que percebessem os processos de criação de um livro.
Para isso, ampliamos o repertório de histórias infantis em que os personagens eram escritores, possibilitando a relação entre o real e o simbólico. Assim como rodas de conversa direcionadas para a reflexão de alguns aspectos como: "Onde encontramos as histórias? Para que serve um livro? O que as histórias contam?"
Outros elementos do tema foram explorados, como as partes físicas do livro (capa, contracapa e miolo); título e tema da história; escritor e ilustrador. Investimos em recontos e a sequência das histórias. A partir desses elementos, com um olhar diferenciado, a turma teve contato com uma escritora, a educadora Marcele Martins. Ela compartilhou em primeira mão todo o seu material enquanto escritora, mostrando como foi o seu processo de criação e as ilustrações do seu novo livro. Esse repertório deu suporte para a criação das próprias histórias. A partir disso, as crianças começaram e escolher os temas e fazer os rascunhos.
Ao longo da estratégia, isso gerou reflexões sobre o comprometimento com a proposta, pois algumas crianças não queriam dar continuidade ou mudavam constantemente de tema. Ainda, com os trabalhos em grupo, os conflitos gerados e o respeito à produção do colega. Dessa forma, criamos momentos de escuta para que as crianças pudessem refletir sobre a importância de assumir responsabilidades, dar o melhor de si nas tarefas assumidas e respeitar as produções dos colegas. Esses espaços também per-
O que é uma criança? | Beatrice
mitiram abordar questões relacionadas à dimensão socioemocional e espiritual-religiosa, reforçando valores como empatia, cooperação e compromisso coletivo.
Desse modo, a escuta atenta aos interesses da criança protagonizou um cenário riquíssimo para fomentar a formação do sujeito leitor, com experiências que levaram em conta o protagonismo infantil e a literatura como tema central.
comente este artigo. comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Ana Paula Correia é pedagoga e formada em Letras. Especialista em Alfabetização e Letramento, Educação Jesuítica e Educação Infantil na abordagem Reggio Emília, com 14 anos de experiência como educadora. Em sua prática, busca a formação integral e o diálogo constante entre as dimensões das aprendizagens. Acredita no conhecimento enquanto prática social, fazendo referência ao cotidiano, espaços e tempos. Ainda, trazendo a autonomia do pensar, processos investigativos e afeto.
Ana Paula Timoteo é pedagoga, psicomotricista relacional, especialista em Alfabetização e Letramento, com 12 anos de experiência na Educação Infantil e uma paixão ardente pela literatura. Acredita que os livros são ferramentas poderosas para o desenvolvimento das crianças, estimulando a imaginação e a criatividade. Ana dedica-se a criar ambientes de aprendizagem inspiradores, onde cada criança possa explorar, descobrir e se apaixonar pelo conhecimento.
Alemagna | Editora Martins Fontes
Uma criança tem mãos pequenas, pés pequenos e orelhas pequenas, mas nem por isso tem ideias pequenas. Na verdade, este é o tema central deste livro. O texto e as ilustrações falam de pequenas coisas que parecem óbvias mas nas quais poucas vezes prestamos atenção. De maneira singela e comovente ele responde à pergunta do título.
PE. AGNALDO BARBOSA DUARTE, S.J.
Fé
Pe.
Agnaldo Barbosa Duarte, S.J., é uma figura querida e conhecida pela comunidade educativa do Colégio Medianeira. Antes de ser nomeado Diretor Geral, já desempenhava um papel fundamental como coordenador do Centro de Formação Cristã e Pastoral. Sua presença, no entanto, transcende as funções administrativas: é marcada por um olhar atento ao outro e por palavras de acolhimento que refletem tanto a essência da pedagogia inaciana quanto um lirismo poético, expressão genuína de sua espiritualidade. Para ele, a poesia combina beleza literária e profundidade espiritual, promovendo conexão e inspiração.
Comprometido com a formação integral, Pe. Agnaldo acredita que, mesmo em tempos desafiadores – especialmente neles – reside a oportunidade de transformação. Para ele, a beleza e a criatividade são ferramentas poderosas para abrir novos caminhos de crescimento humano. Em seus momentos livres, dedica-se à arte e ao estudo da teopoética, um campo que une diferentes formas de leitura literária e interpretação de textos religiosos. Além disso, a corrida é uma de suas atividades favoritas, um momento de superação pessoal e cuidado com o corpo e a mente.
O novo Diretor Geral tem o dom da leveza. Suas conversas são marcadas por tons suaves e, muitas vezes, por um toque de bom humor. Com um sorriso sempre presente e um vasto conhecimento sobre diversos temas,
ele ilumina os ambientes por onde passa, cativando as pessoas ao seu redor.
Natural de São Miguel Paulista (SP), Agnaldo é o terceiro de seis filhos do casal baiano Jerônimo Barbosa Duarte (in memoriam) e Maria José Barbosa Duarte. Aos oito anos, sua família se mudou para Senhor do Bonfim (BA), onde o contato intenso com a natureza, a vida no campo e as vivências da Igreja Católica local alimentaram sua espiritualidade e moldaram profundamente sua visão de mundo.
Desde sua juventude no distrito de Carrapichel, P. Agnaldo Duarte demonstrava um profundo interesse pelos mistérios da vida e uma forte conexão com a comunidade de fé local. Participando ativamente de grupos de catequese e encontros de jovens, ele começou a refletir sobre sua vocação. Inspirado por amigos e líderes religiosos, decidiu seguir o chamado para a vida religiosa na Companhia de Jesus. Após terminar o Ensino Médio, iniciou o acompanhamento vocacional e, em 1999, ingressou na formação jesuíta. Sua trajetória de formação incluiu o noviciado em Feira de Santana (BA), o Juniorado em João Pessoa (PB) e os estudos em Filosofia e Teologia em Belo Horizonte.
Após treze anos de formação, P. Agnaldo Duarte foi ordenado sacerdote em 2012 e direcionou sua missão pastoral para o trabalho com jovens. Atuou como coordenador da Pastoral na Escola Santo Afonso Rodriguez, em Teresina, e como diretor do Centro MAGIS Inaciano, em Fortaleza.
Em 2018, mudou-se para Curitiba, onde deu continuidade aos estudos acadêmicos, especializando-se em Teologia com ênfase na Educação Jesuítica e obtendo um MBA em Gestão Educacional. Dois anos depois, em 2020, passou a liderar o Centro de Formação Cristã e Pastoral do Colégio Medianeira, fortalecendo o compromisso com a formação integral e os valores da tradição inaciana.
Com 24 anos dedicados à Companhia de Jesus e 12 anos de sacerdócio, Pe. Agnaldo recebe essa nova missão com entusiasmo e senso de propósito. Consciente dos desafios e oportunidades à frente, ele reafirma seu compromisso de promover uma educação que una excelência acadêmica, espiritualidade e o cuidado com cada pessoa e com a Casa Comum, características que definem a tradição jesuíta. Confira a entrevista com o novo diretor.
Quais valores e inspirações você leva consigo ao assumir o desafio de ser o novo Diretor Geral do Colégio Medianeira?
Desde que a proposta de assumir a direção geral do Colégio me foi feita, dois sentimentos têm me acompanhado de maneira constante: gratidão e confiança. Agradeço a Deus, à Companhia de Jesus e à Rede Jesuíta de Educação por me confiar em tão grande responsabilidade e respondo a esse convite com ânimo e liberalidade. No contexto inaciano, ânimo e liberalidade são elementos essenciais para um caminho espiritual autêntico. O ânimo nos mantém firmes e confiantes no propósito
assumido, enquanto a liberalidade nos convida a uma vida generosa e voltada para o serviço aos outros, na busca da maior glória de Deus.
Durante esses dias, pedi a Deus a graça de seguir firmemente pela estrada da confiança. Muitos medos surgem, mas essa confiança não faltou. Não será fácil, mas como declara o poeta Carlos Drummond de Andrade, “A confiança é um ato de fé”. E mesmo que no caminho haja pedras, como sugere Gilberto Gil, “andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar”. Dessa forma, sigo confiante nesse novo caminho que se abre e sei que não estou sozinho. Há muita gente ao meu lado. Confio na corresponsabilidade de todos aqueles que fazem dessa instituição um centro de aprendizagem, representando verdadeiramente o espírito da educação jesuíta, com sua capacidade de inovar, criar, acompanhar e de pensar os problemas pedagógicos atuais, encontrando novas soluções, sempre tendo em vista pessoas, tempos e lugares.
Como você vê sua trajetória até agora na instituição jesuíta?
Eu cheguei aqui em fevereiro de 2018, vou fazer sete anos trabalhando no Colégio. E aprendi bastante. Aprendo cada dia com cada um, principalmente com a experiência na Pastoral, entendo a escola como um espaço da missão e um lugar de transformação. Olho para o meu trabalho como um serviço, colaborando com a comunidade educativa na formação dos estudantes. Tantos
lugares aonde nós fomos nas missões, até na Ilha do Marajó, tantas experiências que vivemos, que são essenciais para que os estudantes se tornem cidadãos conscientes e comprometidos com o cuidado da criação e com a construção de uma sociedade mais fraterna e solidária.
Assumir a Direção do Colégio
Medianeira é, portanto, habitar uma história bonita de esperança e, ao mesmo tempo, dádiva e tarefa. Contemplo o futuro recordando não apenas os 67 anos de nascimento deste Colégio, mas também a longa trajetória jesuíta no mundo da educação.
Como você acolhe a responsabilidade de assumir a Direção Geral do Colégio Medianeira e quais são os principais desafios e esperanças que orientam sua jornada à frente?
Recebo como um desafio. Acolho como uma missão e assumo com esperança. Desafio porque um colégio da Companhia de Jesus, segundo os nossos documentos, está comprometido com a formação católica e com a oferta de uma profunda formação na fé em diálogo com outras religiões e visões de mundo, comprometido em criar um ambiente seguro e saudável para todos, comprometido com a cidadania global, com o cuidado da criação e com a justiça, comprometido em ser acessível a todos com a interculturalidade, em ser uma rede global a serviço da missão, enfim, comprometido com a excelência humana e com uma aprendizagem para toda a vida.
Em um mundo em transformação, devemos preparar nossos estudantes para lidar com os desafios globais, com a crise ambiental, as desigualdades sociais. Também devemos criar espaços de diálogo entre as diferentes vozes presentes nesta instituição, promovendo um ambiente de respeito e escuta, algo cada vez mais necessário em um mundo polarizado. A busca por soluções inovadoras, a capacidade de trabalhar em rede e de aprender uns com os outros é essencial para enfrentar os desafios contemporâneos.
Recebo a gestão do Colégio Medianeira como uma missão. Portanto, minha atitude primeira é de profunda gratidão pela herança recebida. Recebo uma instituição sólida, uma comunidade madura e com uma dinâmica vigorosa de crescimento e abertura. O processo de transição foi sereno, realizado de maneira gradual, por meio de um diálogo aberto e franco com a equipe diretiva e com as lideranças do Colégio.
Quais os principais valores e ações que farão parte sua gestão?
Prometo procurar fazer o melhor movido pelo espírito dos Exercícios Espirituais. Segundo o nosso documento, Colégios Jesuítas: Uma Tradição Viva no Século XXI, todos nós, em todos os colégios jesuítas, devemos acolher o sentido de admiração, surpresa e esperança, valorizando a tradição e discernindo as necessidades do mundo.
Estamos em um tempo de crise, mas essa crise é uma oportunidade para transformação, em que a beleza, a criatividade e a arte podem abrir novos caminhos. A esperança aqui está em perceber que as dificuldades podem ser uma oportunidade para inovação e para a busca por novos paradigmas alinhados com as tarefas do mundo contemporâneo. Dessa forma, a nossa esperança está na solidariedade e no trabalho conjunto, construindo uma comunidade onde a colaboração supera a competição e as diferenças se tornam uma riqueza.
Qual mensagem você gostaria de deixar para a comunidade educativa do Colégio Medianeira?
Desejo que o nosso Colégio continue a ser um espaço de acolhida e promoção do saber integral, onde o respeito, a empatia e valores humanos sejam cultivados e valorizados como uma grande riqueza e diferencial da nossa instituição. Que possamos unir as nossas diferenças em torno de um mesmo ideal, de uma educação que forme homens e mulheres com e para os demais, cultivando a comunhão e o respeito mútuo, aprendendo uns com os outros.
Que, juntos, sejamos capazes de buscar novas respostas e formas de ensinar, preparando nossos estudantes para um futuro de esperança, que exige criatividade e reflexão profunda e cuidado com o outro. Que tenhamos a coragem de enfrentar os desafios com esperança e compromisso com uma educação que promova a vida.
Uma Escola é...
Lugar onde se promove nascimentos,
Em que os olhos se abrem em espanto e grande contentamento
Lugar onde cada um aprende a voar, Com mapas e com grandes sonhos: “ser ou não ser” amar e servir é o grande ensinamento.
Lugar oportuno para o aprender através dela damos significação ao mundo, maturando os diversos conhecimentos, é a casa do saber
E o que tudo isso quer dizer?
Não é o lugar apenas da aprendizagem mecânica
Nem consiste em decorar o ABC
Quer dizer, sim, antes de tudo sociabilidade, Casa de fraternidade, Lá se aprende a viver.
(Pe. Agnaldo Barbosa Duarte, S.J.)
Ketilyn Castro de Almeida é jornalista, pós-graduada em Mídias Digitais pela Universidade Positivo (UP). Em 2024, teve uma de suas crônicas publicada no livro Ampliando Horizontes: Poesia e Ficção - Crônicas. Atualmente, trabalha no Colégio Medianeira, onde se dedica à produção de conteúdo.
Gosto muito de pensar o cinema não só como um meio de expressão artística, mas como um meio de registro: de lugares e de pessoas em momentos específicos, de acontecimentos, de existências. Isso nos leva àquela compreensão de que absolutamente qualquer filme, por mais irrelevante que seja, é um objeto de valor no sentido de que registrou determinadas situações em um lugar e em um tempo específico. Desse modo, podemos fazer a pergunta: é possível haver um filme – interessante – sobre banheiros públicos?
A resposta mais direta e assertiva: sim, é. E se quisermos expandir a reflexão podemos afirmar que: principalmente se esses banheiros forem verdadeiras obras de arte da arquitetura e do design contemporâneos.
Dias perfeitos, de 2023, escrito e dirigido por Wim Wenders, é um grande filme sobre banheiros! É também um “filme de encomenda”, realizado a partir da oferta de um produtor interessado em promover a boa reputação de Tóquio, transformando a imagem dos banheiros públicos da cidade em vitrines da arte e da maestria higiênica japonesas.
Em uma matéria publicada no New York Times, em 4 de fevereiro de 2024, a jornalista Motoko Rich afirma que a partir de 2020 o empresário Koji Yanai liderou o projeto de transformação dos banheiros públicos na região do distrito de Shibuya, um dos principais centros comerciais e financeiros do mundo. O projeto The Tokyo Toilet é baseado no desenho e na (re)construção de 17 banheiros totalmente distintos visualmente, planejados por 16 arquitetos renomados mundialmente, para ser uma exibição arquitetônica a céu aberto do "orgulho japonês", com uma estética distinta que os tornaria tanto arte quanto utilidade pública. O que vemos no filme nos convence totalmente sobre o sucesso do empreendimento: os banheiros são um espetáculo visual de design e arquitetura, que se tornaram verdadeiros cartões postais (ou, usando um termo mais coerente com os dias de hoje, “espaços instagramáveis”).
Após a inauguração dos espaços, o cineasta Wim Wenders recebeu o convite-oferta-de-trabalho para realizar um filme sobre o The Tokyo Toilet, com total liberdade para exercitar seu estilo. Wenders é um dos mais respeitados e admirados artistas do cinema alemão
Ireally like thinking of cinema not only as a way of artistic expression, but also as a way of recording: places and people at specific times, events, existences. This leads us to that understanding that absolutely any film, no matter how irrelevant, is an object of value in the sense that it recorded certain situations in a specific place and time. Thus, we can ask the question: is it possible to have an interesting movie about public toilets?
The most direct and assertive answer is: yes, it is. And if we want to expand the reflection, we may state that: especially if these bathrooms are true works of art in contemporary architecture and design.
Perfect Days, from 2023, written and directed by Wim Wenders, is a great movie about toilets! It is also a “commissioned film”, made on the offer of a producer interested in promoting Tokyo's good reputation by transforming the image of city's public toilets into showcases of Japanese art and hygienic mastery.
In an article published in the New York Times on February 4, 2024, journalist Motoko Rich states that from 2020, businessman Koji Yanai led the project to transform public toilets in the Shibuya district, one of the world's main commercial and financial centers. The Tokyo Toilet project is based on the design and (re)building of 17 totally visually distinctive toilets, planned by 16 world-renowned architects, to be an open-air architectural display of “Japanese pride”, with a distinctive aesthetic that would make them both art and a public utility. What we see in the movie fully convinces us regarding the success of the project: the bathrooms are a visual spectacle of design and architecture, which have become real postcards (or, using a term more consistently used nowadays, “instagrammable spaces”).
After the opening of spaces, filmmaker Wim Wenders received an invitation-job-offer to make a movie about The Tokyo Toilet, completely free to exercise his style. Wenders is one of the most respected and admired artists in German cinema
nos últimos 50 anos, tendo dirigido filmes canônicos como as ficções Paris, Texas (1984) e Asas do Desejo (1987), os documentários Buena Vista Social Clube (1999) e Pina (2011). Além desses, ele também dirigiu Tokyo-Ga, de 1985, que mostra uma viagem do cineasta a Tóquio em busca da cidade vista nos filmes de Yasujirô Ozu, um dos mais importantes cineastas do país, conhecido por seu deslumbrante minimalismo estético e narrativo. As credenciais foram suficientes e Wenders foi contratado para o trabalho.
A trama de Dias perfeitos acompanha o dia a dia de Hirayama, um homem na casa dos 50 ou 60 anos, que é faxineiro nos banheiros da The Tokyo Toilet. A história, basicamente, é sobre ele acordando, arrumando-se, cuidando de suas plantas, indo trabalhar, trabalhando (e trabalhando e trabalhando), comendo, lendo, ouvindo música, tirando fotos, dormindo... E tudo de novo por uns 10 dias seguidos. Todos esses momentos são fascinantes pela maneira como Wenders & Cia. filmam (com sensibilidade, delicadeza e reverência) e pela atuação magnética do protagonista Koji Yakusho (que, não à toa, foi premiado como melhor ator no Festival de Cannes de 2023). Contribui para a beleza do longa-metragem ficcional, sem dúvida, o espetáculo que são os modernos banheiros: um totalmente de vidro translúcido (mas que quando alguém tranca a porta o vidro se torna opaco), um que lembra um iglu, outro que parece inteiro de concreto, outro que parece feito de bambu, outro inteiro branco, outro inteiro vermelho... Enquanto assistimos, passamos longos minutos acompanhando Hirayama limpando com delicadeza e dedicação esses espaços inusitados.
Talvez o filme fosse ainda mais encantador se a história fosse exatamente isto: os dias perfeitos, repetitivos e aparentemente banais de Hirayama, transformados em longa-metragem. Mas eventualmente a trama é invadida por personagens que buscam e forçam apelos dramáticos e atrapalham a rotina do protagonista: um inconveniente colega de trabalho, uma mulher com quem ele troca olhares durante os almoços, uma jovem sobrinha, o ex-marido de um potencial interesse amoroso... E tudo isso nos tira da banalidade do cotidiano, que é tão bonita e admirável quando respeitada por si só. A dúvida narrativa
over the last 50 years. He has directed canonical films such as the fictions Paris, Texas (1984) and Wings of Desire (1987), the documentaries Buena Vista Social Club (1999) and Pina (2011). Moreover, he has also directed Tokyo-Ga, from 1985, which shows the filmmaker traveling to Tokyo in search of the city seen in the films of Yasujirô Ozu, one of the country's most important filmmakers, known for his dazzling aesthetic and narrative minimalism. His credentials were sufficient and Wenders was hired for the job.
The plot of Perfect Days follows the day-to-day life of Hirayama, a man in his 50’s or 60’s who is a cleaner at The Tokyo Toilet. The story is basically about him waking up, getting ready, looking after his plants, going to work, working (and working and working), eating, reading, listening to music, taking photos, sleeping... And all over again for 10 consecutive days. All these moments are fascinating because of the way Wenders & Co. film (with sensitivity, delicacy and reverence) and the magnetic performance of the protagonist Koji Yakusho (who, not by coincidence, was awarded Best Actor at the 2023 Cannes Film Festival). The beauty of the fictional feature film is undoubtedly enhanced by the spectacle of the modern toilets: one made entirely of translucent glass (but when someone locks the door, the glass becomes opaque), one that resembles an igloo, another that looks like it is made entirely of concrete, another that looks like it is made of bamboo, another that is entirely white, another that is entirely red... While we watch it, we spend long minutes following Hirayama cleaning these unusual spaces with delicacy and commitment.
Perhaps the movie would be even more enchanting if the story was exactly that: Hirayama's perfect, repetitive and seemingly banal days, transformed into a feature film. But eventually the plot is invaded by characters who seek out and force dramatic appeals and disrupt the protagonist's routine: an inconvenient coworker, a woman he exchanges glances with during lunches, a young niece, the ex-husband of a potential love interest... And all these moments takes us away from the banality of everyday life, which is so beautiful and admirable when respected in its own right. The strongest narrative doubt arises when we
mais forte que é colocada surge quando conhecemos a personagem da sobrinha: ela é filha da irmã rica do protagonista. Ou seja, ele é/poderia ser rico, se quisesse? E escolheu levar uma vida singela e banal, limpando os banheiros públicos? Nesse momento o filme parece se trair, porque tanto as perguntas quanto as respostas não são importantes, porque os personagens mais interessantes em Dias perfeitos, sem sombra de dúvidas, continuam sendo Hirayama e os banheiros – ambos maravilhosos!
Nos últimos tempos ando pensando na ideia-conceito de “filme-turismo”, que me surgiu depois de assistir A ilha de Bergman, filme de 2021 dirigido por Mia-Hansen Løve. Ao conversar com um amigo a respeito, dei-me conta de como eu gosto desses filmes em que as personagens são turistas em um lugar e se fascinam com as diferenças – arquitetônicas, geográficas, comportamentais, idiomáticas, idiossincráticas etc. É possível identificar uma constelação desse tipo de filme – Viagem à Itália (1954), do italiano Roberto Rossellini; Viagem do balão vermelho (2007), do taiwanês Hou Hsiao-Hsien, Cópia fiel (2010), do iraniano Abbas Kiarostami; Meia noite em Paris (2011), do estadunidense Woody Allen, entre outros –, mas por ora vamos resumir que há filmes-turismo em que (1) as personagens são turistas; (2) as cineastas são turistas; (3) personagens e cineastas são turistas.
Dias perfeitos se enquadra na segunda opção: Wim Wenders é o turista em Tóquio. E é por meio dessa fascinação por algo tão especial e único do local (banheiros!), processada pela sensibilidade e criatividade do cineasta, combinado com o carisma e a performance de Koji Yakusho, que nos deparamos com esse filme tão singular – que registra a existência de algo tão peculiar na década de 2020.
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meet his niece character: she is the protagonist rich sister's daughter. In other words, is he could be rich if he wanted to? And has he chosen to have a simple, banal life, cleaning public toilets? At this point the movie seems to betray itself, because both questions and answers are not important, because the most interesting characters in Perfect Days, without a shadow of a doubt, are still Hirayama and the toilets – both wonderful!
Por/By Gabriela Muniz Rabito
Lately I have been thinking about the ideaconcept of “tourism film”, which came to me after watching Bergman's Island, a 2021 film directed by Mia-Hansen Løve. Talking to a friend about it, I realized how much I like these films in which the characters are tourists in a place and are fascinated by the differences - architectural, geographical, behavioral, idiomatic, idiosyncratic, etc. It is possible identifying a constellation of this type of film - Roberto Rossellini's Journey to Italy (1954), Taiwanese Hou Hsiao-Hsien's Voyage of the Red Balloon (2007), Iranian Abbas Kiarostami's Faithful Copy (2010); Midnight in Paris (2011), by the American Woody Allen, among others – but for now let's summarize that there are tourist films in which (1) the characters are tourists; (2) the filmmakers are tourists; (3) characters and filmmakers are tourists.
Perfect days falls under the second option: Wim Wenders is the tourist in Tokyo. And it is through this fascination for something so special and unique about the place (toilets!), processed by the filmmaker's sensitivity and creativity, combined with Koji Yakusho's charisma and performance, which we come across this very unique film – which records the existence of something so peculiar in the 2020's.
Alexandre Rafael Garcia é professor na Universidade Estadual do Paraná (Unespar), pesquisador, doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Multimeios pelo Instituto de Artes da Unicamp, bacharel em Cinema pela Faculdade de Artes do Paraná e Sempre-educador do Colégio Medianeira.
Alexandre is a professor at the State University of Paraná (Unespar), researcher, PhD in History from the Federal University of Paraná (UFPR), Master in Multimedia from the Institute of Arts at Unicamp, BA in Cinema from the Faculty of Arts of Paraná and a regular teacher at Colégio Medianeira.
Em meio a muitas histórias, relembramos outras tantas. O cenário é esse: um apartamento que guarda com zelo mais de 15 mil livros e outras centenas de CD’s e discos. Acompanhado de tantos personagens e narrativas, sentado em uma poltrona confortável está Paulo Venturelli, ao seu lado, em um sofá amplo, encontra-se Libera Venturelli e no chão, sobre um tapete, descansa Nino, o fiel poodle de 13 anos de idade, completando a cena intimista.
O casal de Sempre-educadores ainda não era um casal quando começou sua trajetória no Colégio Medianeira. Foi dentro dos muros da instituição jesuíta que se conheceram, apaixonaram-se e se casaram. A Libera foi a primeira a chegar, realizou a entrevista para a vaga de estágio no dia 28 de outubro de 1974, poderia dizer que esse dado foi extraído dos arquivos do Medianeira, mas a verdade é que estava na memória dela e na ponta da língua durante a nossa conversa.
Formada em Ciências Sociais, foi na Educação Infantil que encontrou sua verdadeira vocação, começou como estagiária e alcançou a coordenação escolar. Sua presença serena e atenta aos detalhes da vida de cada criança ecoa até hoje nos corredores do Colégio, contagiando a todos com a certeza de que cada desafio, por mais complexo que pareça, encontrará uma solução. O orientador de aprendizagem, Kleber Klos, conta que quando se depara com um problema, pensa: “o que a Libera faria nessa situação?”.
Esse é só um pequeno exemplo do legado que ela deixou.
A história do Paulo com o Medianeira começou em 1979, como professor de Língua Portuguesa e Literatura. Dentro da sala ou em qualquer outro espaço do Colégio, Venturelli promovia uma pequena revolução que gostava de chamar de aula. Desde muito cedo, ele entendeu que sua missão era transformar estudantes em leitores, porque quem lê entende o mundo, o outro e a si.
Em suas aulas, ele não pedia aos estudantes que escrevessem uma redação. “Redação, essa palavra já reprime logo de cara”, comenta. O que ele realmente gostava era de criar uma experiência imersiva, muitas vezes ao som de Pink Floyd, e ao final pedia para cada um colocar no papel o que havia sentido. A partir dessas produções – que não eram redações – ele selecionava alguns dos erros gramaticais mais comuns, como a concordância nominal e assim conduzia uma aula de gramática sem que ela tivesse esse nome.
Com essa proposta educativa diferenciada, os estudantes foram desenvolvendo um senso crítico e se aproximando dos livros, a ponto de montarem uma biblioteca própria em sala de aula. “Eu tinha uma estante com um aparelho de som e vários livros. Uma aula por semana era dedicada apenas à leitura e eu não cobrava ninguém. No entanto, eles sabiam que quem lesse teria ideias, participaria dos debates e saberia escrever e se comunicar melhor. Essa participação em sala era o que eu mais levava em conta na hora de
dar notas”, recorda Paulo. Mas se você está pensando nos alunos que não gostavam de ler, Venturelli explica: “Ler não depende de gostar ou não; é um hábito. A leitura é uma prática”.
Quando falamos em leitura, Libera sorri modestamente e diz que quem é mestre no assunto é o Paulo. Mas logo mostra uma pilha de livros que leu recentemente, entre eles, muitas biografias, como a de Maya Angelou, uma das maiores ativistas negras dos Estados Unidos. Aliás, a lembrança de muitos professores é ver a Libera com um livro “debaixo do braço”, sempre se mantendo atualizada, com obras pedagógicas.
Libera se lembra de uma história engraçada entre seus anos de trabalho no Medianeira, um pai que, no meio do ano, havia matriculado seu filho no Colégio. O menino todo vestido de branco, arrumado, já o pai, preocupado, perguntava: “será que o meu filho vai se adaptar?”. A educadora avisou: “primeiro ele vai ter que começar a se sujar, a brincar com os amigos". Ela reencontrou o Sempre-aluno muitos anos depois e ele disse que nunca havia esquecido do conselho que ela deu ao seu pai: "criança tem que brincar, explorar e se sujar".
Seus olhos claros e tímidos escondem muitos dos seus feitos, mas entre os orgulhos que tem coragem de declarar está a felicidade em ver os pequenos estudantes que foram alfabetizados em suas aulas tornarem-se dentistas, médicos, professores e destacarem-se em tantas outras profissões. Paulo
fala com propriedade que muitos de seus alunos seguiram pela carreira da escrita, entre eles, Otto Leopoldo Winck.
Em 1979, em um almoço em comemoração ao Dia dos Professores, Paulo e Libera se conheceram. Em 1982, eles se casaram na Capela Nossa Senhora Medianeira. Com o Colégio de cenário de fundo, a cerimônia foi celebrada pelo Pe. Dionísio Sebel. O sentimento comum do casal quando falamos da instituição jesuíta é saudade.
Uma emoção que também é refletida entre os educadores atuais que conviveram com os dois.
Discussões atuais
Literatura x Inteligência
Artificial
Em uma entrevista para os Sujeitos Leitores, um projeto de literatura do Colégio Medianeira, Venturelli comentou sobre a tecnologia e as possibilidades para o seu futuro. Treze anos depois, o futuro chegou e como se lesse a mão do destino, Paulo acertou em suas previsões. Na época, ele disse: “daqui a pouco, a tecnologia
vai ser tão vasta, que ao apertar um botão, vamos ter tudo o que precisamos. Então, o que vai diferenciar o humano da máquina é a sua bagagem literária”.
Atualmente, o sistema é esse. Um comando para a Inteligência Artificial, um clique no botão e o seu pedido foi atendido com sucesso. É verdade que a eficácia dos resultados pode ser discutida, mas em pouco tempo essa inteligência avançou muito. Quando questionado novamente, agora não mais sobre o futuro, mas sobre o presente com tamanha tecnologia, Paulo começa com um alerta. “Eu acho que a tecnologia é interessante, porque ajuda a humanidade em grandes e profundos aspectos. Mas ela sozinha é alienante”.
“A literatura e as artes, de um modo geral, são essenciais, mais agora do que nunca. É por meio do teatro, cinema, música, pintura e literatura que o ser humano cria sensibilidade, intuição e criatividade. Sem isso, o ser humano é um robô. Quando eu leio um livro, eu dialogo com o autor e ele dialogou
com diversos outros, esse ciclo faz a cabeça funcionar”, lembra. Indo um pouco além da leitura, Venturelli fala sobre a linguagem, a verbal, e a chama de o “grande útero do cérebro”.
“Nós nascemos duas vezes, nascemos de uma mulher e de uma língua. É a língua que faz quem nós somos, desde a religiosidade até o erotismo. Nós somos fruto da linguagem e a tecnologia também é. Ela é a extensão do nosso braço, do nosso raciocínio, mas não é a salvação de tudo, até porque se fosse, nós não estaríamos vivendo na idade média como estamos hoje, com guerras e tantos outros problemas”, afirma. Venturelli questiona a democracia vivida atualmente, rebatendo-a com as desigualdades sociais, a fome, a miséria e a falta de acesso geral à cultura e à educação. “Grande parte da população não tem acesso a saneamento básico, é tratado pior que animal, porque um animal como o Nino é super bem tratado, ele escuta música comigo todos os dias.”
O leitor e o escritor
Quando era só um adolescente em um colégio interno, ele escutou de um professor: quem quiser ser inteligente na vida, tem de ler um livro por semana. O filho de pai operário e de mãe semianalfabeta viu nessa frase uma oportunidade. “Eu era gago, não jogava futebol, como fazia a maioria dos meninos da minha idade, era um verdadeiro zero à esquerda. Aí eu comecei a ler, me encontrei na leitura, meus textos foram ganhando destaque como produções bem escritas”.
Com uma infância longe dos livros, o único exemplar que tinha em casa era de histórias da Bíblia ilustradas para crianças. Sua relação com a literatura começou só na adolescência. E quando ele diz que leitura é prática, podemos dizer que o seu treino é de um atleta olímpico. No período da manhã, Venturelli lê poesia até se sentir inspirado para escrever, escreve um ou dois textos, dependendo do dia. À tarde, é o período de ler ensaios até às 16h, depois desse horário ele fica livre, livre para ler literatura até cansar. Não é à toa que em menos de oito meses em 2024 ele havia lido 111 livros.
De tanto ler, Paulo também decidiu escrever. Seus textos ganharam destaque nas aulas de redação, para o terror do menino tímido que estava se descobrindo escritor. Mas a timidez foi saindo de cena e dando espaço para a confiança que brotava junto com os elogios de colegas e professo -
res. Seu primeiro livro solo, Admirável Ovo Novo, foi uma obra infantil lançada em 2011. No universo infantojuvenil, a carreira de escritor ganhou ainda mais destaque com Visita à Baleia (2012), que conquistou o segundo lugar no Prêmio Jabuti na categoria Infantil e foi eleito como o melhor livro do ano pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Contudo, entre as dezenas de obras publicadas, ele revela que seu verdadeiro apreço está em um de seus livros de contos: Fantasmas de Caligem (2006).
Nascido em Brusque e radicado em Curitiba desde 1974, ele também lecionou no curso de Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No entanto, confessa que se sentiu mais realizado como professor escolar do que universitário: “os estudantes do Medianeira eram mais interessados em aprender”.
É difícil conversar com Paulo sobre qualquer tema que não passe pela literatura e ao mesmo tempo, é fácil, pois ela abrange tanto e oferece repertório para qualquer conversa, mesmo que o assunto surja disfarçado de livro. Não por acaso, o escritor mantém um apartamento dedicado à sua vasta, mas impecavelmente organizada, biblioteca. Ali, ele realmente se sente em casa. Entre livros e quadros, surge outra paixão: o Club Athletico Paranaense. Entre os vários souvenirs, destaca-se uma carteirinha de sócio com o contrato de número 141, válida de 1993 a 1998".
Linha do tempo literária
Paulo elencou os livros mais marcantes em sua carreira de leitor, desde a adolescência até os dias de hoje.
Adolescência
- O Diário De Dany (Michel Quoist)
- A Entregadora de Pão (Xavier de Montépin)
Juventude
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
Vida adulta
- A Montanha Mágica (Thomas Mann)
Terceira idade
- Meu Michel (Amós Oz)
- A câmara de inverno (Anne Michaels)
- Manicômio (Patrick McGrath)
- Coração Apertado (Marie Ndiaye)
- Derrubar árvores: Uma irritação (Thomas Bernhard)
Bondade, generosidade e cuidado
Libera tem origem italiana e pode ser traduzido como “livre” para o nosso bom e velho português. Seu nome composto vem acompanhado de Regina, que tem origem no latim e significa “rainha”, também associado a qualidades como bondade, generosidade e cuidado com os outros. O título de “rainha da liberdade” combina perfeitamente com a sua elegância, suas roupas sempre impecáveis, sua beleza e o trabalho que desempenhou com tanto esmero ao longo de sua vida. Durante mais de quatro décadas, ela abrilhantou o Colégio Medianeira com seu conhecimento, sua dedicação e sua generosidade, marcando profundamente a história da instituição e das pessoas que cruzaram seu caminho.
Uma carreira que se entrelaça com a própria vida. O Medianeira não foi apenas o lugar onde Libera exerceu o fazer pedagógico, mas também onde construiu amizades duradouras, conheceu seu marido e conviveu com tantas pessoas especiais, assim como ela. Ao olhar para trás, a educadora afirma com convicção: “valeu a pena dedicar a maior e melhor parte da minha vida às crianças”. Essa frase reflete não apenas a força de uma mulher que acredita no poder transformador da educação, mas também sua crença nos valores da tradição jesuíta e na busca constante pela excelência acadêmica e humana. Sua atuação contribuiu para a formação de inúmeras gerações de cidadãos competentes, conscientes, compassivos, comprometidos e criativos, sempre à luz de princípios éticos e do cuidado com o próximo.
Educar, de fato, é um ato que transcende os muros da universidade e o currículo formal de qualquer graduação. Nenhuma formação acadêmica é capaz de preparar por completo um educador para os desafios, as incertezas e, principalmente, as riquezas que surgem no dia a dia escolar. O contato direto com crianças e jovens, as trocas com colegas de profissão e as vivências compartilhadas são as verdadeiras bases de uma educação transformadora. Para Libera, essa jornada foi vivida intensamente no Colégio Medianeira, onde ela aprendeu não apenas a ser professora, mas a se tornar uma verdadeira educadora. “Foi o melhor lugar para aprender a lecionar. Nesses anos, vivi diferentes tempos de formação: o saber da experiência, o saber da pedagogia, o saber das disciplinas e a formação continuada”, relembra com carinho.
Em 2016, quando decidiu encerrar formalmente sua trajetória no Medianeira, Libera escreveu uma carta de despedida. Nesse documento, ela refletiu sobre os anos de dedicação, os desafios enfrentados e as conquistas alcançadas. Um trecho, em especial, resume bem o impacto que a instituição teve em sua vida e como ela própria marcou a história do Colégio:
“Escrevo a minha história no lugar no qual me situo: o de educadora. Esse é o meu ofício de 41 anos de trabalho. Tempo marcado por muitas histórias de sucesso e insatisfação, sonhos e realidades, esperanças e frustrações, momentos de realização e impotência. Estas histórias também colaboraram na minha formação. Vou sentir falta dos alunos que me ajudaram a ser melhor a cada dia, com os olhares inquietos, cheios de indagação, olhando de frente para a
vida, dando brilho às coisas simples e transmitindo viço aos meus olhos. Trabalhar no Colégio foi uma aprendizagem constante que estará presente por toda a minha vida, tanto no aspecto intelectual, como no humano.”
Poderíamos mencionar tantos outros educadores e educadoras que também sentem saudades do viço, da energia e do brilho que Libera trazia para o dia a dia escolar, mas a verdade é que ela continua presente. E não me refiro apenas às suas raras visitas à instituição jesuíta, mas, sobretudo, ao legado duradouro que ela deixou. Suas marcas estão por toda parte: nas mesas do bosque, que serviram de cenário para tantas conversas, brincadeiras e lanches de crianças ao longo dos anos; nas árvores plantadas no parquinho do Fundamental I, que hoje oferecem sombra e aprendizados sobre o cuidado com a natureza e nos corações dos colegas e estudantes que carregam consigo os valores que ela ajudou a cultivar.
Seu nome é lembrado nas histórias que os colegas mais antigos compartilham com os novos, nos
valores transmitidos a seus estudantes – muitos deles hoje adultos, que formam famílias e constroem carreiras – e até na inspiração que ela deixou para projetos pedagógicos que ainda florescem e se transformam. É como se a Libera estivesse presente em cada canto do Medianeira, no verde das árvores que ela ajudou a plantar, no riso das crianças que ela amava ensinar e na essência da própria instituição. Sua trajetória reflete a importância de uma educação pautada no amor, no respeito e na busca por um mundo mais justo e humano.
Nessa mesma carta de despedida, Libera finalizou sua escrita com uma citação do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Se ela escolheu as palavras desse grande autor brasileiro para encerrar sua trajetória no Medianeira, nada mais justo do que encerrar este texto da mesma forma. Assim faremos:
"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
comente este artigo. comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
OMAPA DAS APRENDIZAGENS
e a Formação Integral
(Experiência da Educação Infantil, 1º e 2º anos)
ESPIRITUALRELIGIOSA
COGNITIVA
SOCIOEMOCIONAL
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Cecília Meireles
Apoesia de Cecília Meireles nos faz refletir sobre a nossa vida, que é feita de escolhas e para escolher é preciso avaliar. Em todas as nossas tomadas de decisões passamos por um processo de escolhas que consequentemente remete a um processo avaliativo seja ele de forma rápida ou mais elaborada. Portanto, damo-nos conta de que o ato de avaliar, envolve selecionar, comparar, julgar, reavaliar, tomar decisões e fazer escolhas: ou isto ou aquilo?
Se em nosso cotidiano estamos o tempo todo avaliando e fazendo escolhas, o que pontuar, então, quando tratamos de educação? O conjunto dessas ações no âmbito da educação, resulta-se no processo de avaliação das aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Porém, ressaltamos que essas ações não devem se dar de maneira isolada, para que não se minimize a ação educativa.
Educar é um processo complexo, contínuo, diversificado, imerso
no seu tempo e contexto; uma construção que se faz a cada dia com a participação pessoal e coletiva de todos os envolvidos. A avaliação precisa estar respaldada em um conjunto de pressupostos que dialogue com o currículo e da pedagogia que segue, nesse caso a Pedagogia Inaciana.
Sendo assim, a avaliação não deve ser estanque e pontual, mas sim se preocupar com a totalidade e com a especificidade das crianças e do conjunto de atividades desenvolvidas. Portanto, versa-se sobre um processo avaliativo composto por um conjunto de atividades metodológicas desenvolvidas para formar, diagnosticar, qualificar e quantificar o ensino-aprendizagem.
Nessa perspectiva, o Colégio Medianeira postula uma educação de excelência humana e acadêmica, em que a formação integral seja um processo contínuo, permanente e participativo que busca formar homens e mulheres para os demais e com os demais (ARRUPE), que pensem por eles
mesmos, que sejam críticos, criativos e que atuem de forma consciente de seu papel na escola e na sociedade, reafirmando que:
(...) toda ação educativa converge para a formação da pessoa, enfatizando a necessidade de reconhecer as potencialidades do indivíduo e garantindo o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, socioemocional e espiritual-religioso. Nesse sentido, é importante promover a aprendizagem de modo que capacite o estudante a perceber o valor do aprendizado ao longo da vida e possibilite o desenvolvimento dos talentos individuais e coletivos. (PEC, n. 40-41, 2021, p.39) (grifo nosso)
Para atender uma demanda de acompanhamento sistemático e de tornar visível as aprendizagens das crianças, em 2018, elaborou-se o primeiro documento do MAPA DAS APRENDIZAGENS (MA) tendo em vista as três dimensões das aprendizagens: cognitiva, espiritual-religiosa e socioemocional. Nessa construção instituímos parâmetros para as séries na busca do desenvolvimento integral visando às relações entre o conhecimento, o
sujeito e o meio. Tais dimensões balizam nossas práticas pedagógicas, estratégias metodológicas e avaliativas, na busca de novas abordagens, respondendo à visão integral do ser humano promovida pela Pedagogia Inaciana.
Após a primeira versão do Mapa, que foi elaborada pela equipe pedagógica, os critérios passaram pela análise e revisão dos professores, para que pudessem contribuir a partir das suas experiências e vivências, se as aprendizagens elencadas correspondiam a faixa etária de cada série. Sendo assim, a partir da especificidade de cada segmento optou-se pela seguinte constituição: do Ensino Fundamental ao Ensino Médio o mapa foi constituído por série. Na Educação Infantil, a priori, decidiu-se pela sua constituição somente para última série dessa etapa, o Infantil 5. Porém, em diálogo com os professores e tendo como premissa que as aprendizagens se constroem num continuum pedagógico, o grupo de professores propõe que a composição do mapa da Educação Infantil seja em dois ciclos: um
abrangendo as séries do Infantil 2 e 3 e outro as séries do Infantil 4 e 5, garantindo o acompanhamento processual das dimensões das aprendizagens das crianças pequenas. Esse processo contribuiu para uma retomada dos critérios já existentes e a constituição de uma espiralidade entre os ciclos. Ressaltamos que em 2022, além dessa retomada, os mapas de todas as séries foram revisitados e reavaliados possibilitando uma retroalimentação dos critérios de acordo com o contexto atual.
Em consonância a esse processo o Colégio estava discutindo e reelaborando a matriz avaliativa da Educação Infantil ao Ensino Médio, o que contribuiu para dar significado e direcionamento a implementação e efetivação do uso do Mapa das Aprendizagens nos processos metodológicos-avaliativos das séries.
Na Educação Infantil e no 1º ano, em que o processo avaliativo é predominantemente qualitativo, o Mapa das Aprendizagens desempenhou um papel essencial na definição dos indicadores de desempenho para a análise qualiquantitativa das aprendizagens dos estudantes, subsidiando a elaboração do relatório das aprendizagens da Educação Infantil, do parecer semidescritivo do primeiro ano e da Nota de Acompanhamento (NA) no 2º Ano do Ensino
bricas, contribuindo para uma clareza dos resultados em relação às aprendizagens das crianças.
Refletir sobre os indicadores, os critérios elencados no mapa e relacionar com as estratégias, critérios avaliativos dos componentes curriculares e objetivos de aprendizagem nos garantiu um olhar mais minucioso e qualificado sobre as evidências das aprendizagens em cada série, além de gerar dados quantitativos sobre as aprendizagens nas séries em que a avaliação se constitui por um processo predominantemente qualitativo.
A materialização e utilização do mapa como referencial para observação e análise das aprendizagens dos estudantes nas três dimensões, têm contribuído para subsidiar as discussões de elaboração dos planejamentos e na sua retroalimentação. Portanto, os critérios do mapa passaram a compor os planejamentos no sentido de garantir que as estratégias propostas tenham maior intencionalidade no processo pedagógico. Neste caso a escuta, a mediação e o conhecimento específico de cada professor e de cada ciência foram fundamentais para dar sentido ao uso do Mapa nas práticas pedagógicas, metodológicas e avaliativas.
Os relatórios do 2º trimestre da Educação Infantil e os pareceres semidescritivos dos primeiros anos passaram a ser estruturados com base numa avaliação em ru-
Além desse processo ressaltamos que os critérios do Mapa têm subsidiado as discussões e tomadas de decisões, nos pré-conselhos, nos conselhos trimestrais e de final de ano como referenciais macro das três dimensões das aprendizagens, no sentido de
acompanhar e mediar de forma contínua a aprendizagem integral das crianças em cada ciclo e em cada série.
Garantir a aprendizagem integral exige da escola, hoje, a compreensão de que o contexto mudou, os estudantes aprendem de formas e em tempos distintos, em espaços que não se limitam ao escolar, exigem respostas individualizadas, diversos modos de fazer e de mediar a construção do saber, oportunizando vivências que atendam a diferentes necessidades. (PEC, n. 41, 2021, p. 39)
Avaliar é um longo percurso e parte fundamental do método de toda instituição educativa que atinge crianças, professores e famílias. Segundo o PEC n.43 (2021) é essencial que se avalie tanto o ensino quanto a aprendizagem, num processo de acompanhamento tanto da criança quanto da equipe pedagógica. Sendo assim, consideramos favorável instituir um processo de autoavaliação com as crianças e as famílias do Infantil 5, primeiros e segundos anos, respaldados pelas dimensões e critérios do mapa das aprendizagens, assim como pelo paradigma Inaciano (experiêncianreflexãonação).
Entendemos que a autoavaliação é um processo que aproxima os estudantes de uma contínua interrelação de EXPERIÊNCIA nREFLEXÃOnAÇÃO e que a introdução da reflexão nas etapas de ensino mencionadas, seja a base para que a criança “‘aprenda como aprender’ [...] ativando a memória, o entendimento, a imaginação e os sentimentos, para captar o significado e o valor
essencial do que se está estudan do para relacioná-los com outros aspectos do conhecimento e ati vidade humana” (COMPANHIA DE JESUS, 2008, p. 37). Portanto, considerar a voz das crianças em seu processo de aprendizagem é permitir um “conflito cognitivo”, em diálogo com os pares e tendo como mediadores os professores, pois aprendemos a nos tornar conscientes dos nossos próprios processos e, assim, assumir o con trole e o desenvolvimento cogniti vo.” (HATTIE, 2017, p.37)
avaliação com as crianças, utiliza mos o questionário impresso, em que puderam sinalizar sua auto percepção, pintando o emoji que mais se adequava ao seu processo e escrevendo sobre sua autopercepção ou, quando necessário, tendo o professor como escriba. Durante esse procedimento foi instigante perceber a autopercepção de cada criança, alguns com um grau de exigência elevado, outros conseguindo ter uma percepção clara sobre si e já conseguindo fazer apontamentos na perspectiva de uma ação futura e outros ainda num processo de constituição do eu em relação ao outro e ao meio social em que está inserido, evidenciando ao professor os pontos de atenção no processo da formação integral.
Ressaltamos que estamos sistematizando essa prática enquanto instituição e que é necessário tempo e espaço para estabelecermos as primeiras análises e impactos na aprendizagem integral de nossos estudantes.
metodologias e avaliações do pro cesso de ensino e das aprendizagens dos estudantes, visando à formação integral.
Como instrumento de escuta, elaboramos um questionário no Forms (plataforma digital).
Nesse aspecto, salientamos que os questionários físicos tiveram uma maior adesão por parte das famílias no preenchimento. Essa escuta tem contribuído para qualificarmos os processos pedagógicos e organizacionais além de estabelecer um vínculo de parceria entre escola e família ajudando no processo qualiquantitativo com relação aos nossos objetivos de evidenciar as aprendizagens das crianças nas três dimensões.
A construção do Mapa das Aprendizagens e sua implementação no Colégio Medianeira refletem a busca contínua por práticas pedagógicas que promovam a formação integral dos estudantes, alinhando-se ao compromisso éti-
co de avaliar não apenas o ensino, mas também a aprendizagem. Conforme Ghisleni e Dalla Zen (2022), a verdadeira inovação pedagógica está em fazer com que o estudante aprenda mais e melhor, exigindo da instituição uma avaliação criteriosa que assegure o desenvolvimento pleno das crianças. Nesse contexto, o Mapa das Aprendizagens se torna um instrumento essencial para sustentar o processo avaliativo como parte integrante e indissociável do ato educativo, promovendo um olhar atento e sistêmico para as aprendizagens.
Além disso, o protagonismo coletivo na gestão educacional e nas práticas pedagógicas, destacado por Ghisleni e Dalla Zen (2022), foi fundamental na elaboração e aprimoramento do Mapa das Aprendizagens. Esse processo colaborativo envolveu professores, estudantes, gestores e famílias, reconhecendo que a inovação só é possível por meio do diálogo e da construção conjunta. Esse esforço reforça o entendimento de que a avaliação é uma ferramenta viva e dinâmica, adaptada às especificidades de cada etapa e série, garantindo que o currículo atenda às reais necessidades dos estudantes e os prepare para uma vida de aprendizado contínuo.
Por fim, ao incorporar a autoavaliação como prática pedagógica desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, o Colégio Medianeira reafirma sua missão de formar estudantes conscientes, competentes, compassivos, comprome -
tidos, críticos e criativos, capazes de refletir sobre seus processos de aprendizagem. Essa abordagem está em consonância com o Paradigma Inaciano "EXPERIÊNCIAnREFLEXÃOnAÇÃO", promovendo o desenvolvimento integral e fortalecendo a interação entre escola, família e estudantes. Assim, a avaliação não se limita a medir resultados, mas se torna uma prática transformadora, que considera o potencial de cada estudante, valoriza suas percepções e contribui para um processo educativo ético e significativo.
INDICADORES DE DESEMPENHO DAS APRENDIZAGENS DOS ESTUDANTES
Educação Infantil
- Autonomia.
- Função social da escrita e dos números.
- Oralidade/escuta.
- Interação.
- Corpo.
- Linguagem gráfica.
- Identidade.
- Cuidado.
1º Ano
- Lê textos verbais e não verbais.
- Escreve em letra de caixa alta e com autonomia.
- Expressa suas ideias por meio de diferentes linguagens: corporal, musical, desenho e oralidade.
- Estabelece a relação número – quantidade.
- Busca estratégias para resolver problematizações. desenvolvendo o raciocínio lógico.
- Mediado pelo educador, percebe seus limites e potencialidades.
- Reconhecimento do corpo, emoções e sentimentos.
- Sentimento de pertença ao grupo.
- Compreensão dos combinados.
- Escuta ao outro.
- Busca do MAGIS.
-Atitudes de cuidado.
- Sacralidade da vida.
2º Ano
- Comunica suas ideias por meio da escrita, registrando de forma legível, utilizando a letra escolhida (cursiva ou caixa alta).
- Realiza produções escritas com ideias completas, espaçamento entre as palavras, expansão de ideias e ampliação do vocabulário.
- Lê e compreende pequenos textos com autonomia.
- Compreende o sistema de numeração decimal.
- Interpreta, busca soluções e compartilha suas ideias para resolução de situaçõesproblema com os conhecimentos matemáticos sistematizados.
- Resolve seus conflitos com maior autonomia.
- Reflete sobre suas emoções e sentimentos buscando ter atitudes Magis.
- Organize-se com seus cadernos e materiais.
- Expõe suas ideias e escuta a opinião dos demais, respeitando-os.
Autoavaliação com as crianças do Infantil 5
DIMENSÃO COGNITIVA
Você participa de atividades com tentativas de escrita?
Autoavaliação com as crianças do 1º e 2º ano
SOBRE SUA
APRENDIZAGEM
NA DIMENSÃO SOCIOEMOCIONAL
Brinco com meus colegas de sala com respeito?
Indicações
Katia Luciana Luz Sampaio é formada em Pedagogia pela Universidade Positivo (UP). É especialista em Modalidades de Intervenção no Processo de aprendizagem pela PUCPR, em Psicopedagogia Institucional e Clínica pelo Instituto Superior do Litoral do Paraná (ISAL). Também é mestre em educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutoranda em Educação pela Unisinos. Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Educação Infantil ao 2º ano do Ensino Fundamental do Colégio Medianeira.
Dâmeri Bochnia Rosa Escalante é graduada em Pedagogia pela Faculdade Padre João Bagozzi (2012), especialização em Abordagem Reggio Emilia - Educação Infantil (2023), especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional (2015), especialização em Psicomotricidade Relacional pelo Centro Internacional de Análise Relacional (2021) e Magistério - Formação de Docentes pelo Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto (2008). Mestranda Profissional em Gestão Educacional pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2024). Atualmente é Orientadora de Aprendizagem da Educação Infantil no Colégio Medianeira.
Referências
COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA. A Avaliação e o método que adotamos., 1993.
COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA. Do Conhecimento – Da Metodologia/avaliação. Coletânea Geral - Estudos das áreas, 2009.
COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA. Projeto Político Pedagógico. Curitiba, 2006/2008.
COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA. Mapa de Aprendizagens. Curitiba, 2023. (Documento interno).
COMPANHIA DE JESUS. Pedagogia Inaciana: uma proposta prática. São Paulo: edições Loyola, 8 ª ed. 2008.
COMPANHIA DE JESUS. Projeto Educativo Comum 2021-2025. Rio de Janeiro: Rede Jesuíta de educação, 2021. Edições Loyola (Impressão)
DALLA ZEN, L. H; GHISLENI, A. C. [Quase] Dez tópicos para pensar a inovação na educação. In: MELLO, Elena Maria Billing; FREITAS, Diana Paula Salomão de.. (Org.). Inovação Pedagógica: investigações teórico-práticas no contexto educacional. 1ed. São Paulo: Pimenta Cultural, 2022, v. 1, p. 147-169.
HATTIE, John. Aprendizagem visível para professores: como maximizar o impacto da aprendizagem. Tradução: Luíz Fernando Marques Dorvillé: Porto Alegre: Penso, 2017.
Aprender por refração: Um guia de pedagogia inaciana do século XXI para docentes
Johnny C. Go S.J. e Rita J. Atienza | Edições Loyola
Esta obra apresenta um desenvolvimento e uma aplicação desse paradigma de ensino-aprendizagem para o século XXI. Procede das experiências e das reflexões de professores que utilizaram o PPI em suas aulas durante todos esses anos, e incorpora os mais recentes avanços pedagógicos que podem ajudar a pedagogia inaciana a alcançar toda a sua capacidade transformadora nas vidas dos docentes que a utilizam e nas de seus alunos. O livro oferece um roteiro para qualquer educador que busque ir além do mínimo exigido e queira
provocar em seus alunos uma autêntica experiência de aprendizagem em profundidade.
Aprendizagem Visível para Professores: Como Maximizar o Impacto da Aprendizagem John Hattie | Editora Penso
Como maximizar a aprendizagem na escola? John Hattie responde a essa e a outras questões sobre o que, de fato, funciona para aumentar o impacto da aprendizagem nas escolas. A partir de sua vasta experiência e de pesquisas que envolveram milhões de estudantes no mundo todo, o autor apresenta conceitos pioneiros e ensina como aplicar os princípios da aprendizagem visível em qualquer sala de aula.
Marcando TOUCA
Entre a névoa que paira no ar e água no chão, muitas mulheres se escondem atrás de toalhas. Não acobertam apenas a nudez do pós-banho, mas também todas as inseguranças e histórias de seu próprio corpo. Assim é o retrato de um vestiário feminino.
Acompanho o movimento rápido e geral de vestir a roupa. O corpo ainda úmido reclama da falta de jeito. A pele prende a calça, enrola a blusa, pede calma e faz cada pobre mulher suar debaixo de sua toalha.
Mas essas preocupações parecem não alcançar as meninas da hidroginástica. Para cada adolescente envergonhada há duas velhinhas que não dão a mínima e desfilam sem roupa e sem toalha pelo vestiário. Sem pressa, procuram pelo chinelo na bolsa, trocam fofocas e falam de doenças, de receitas milagrosas (e suspeitas) para se baixar o colesterol e controlar a diabetes.
Enquanto inicio o malabarismo de me vestir sem tirar muito da toalha, sinto uma leve cutucada no ombro. Me viro e vejo que é a mais quietinha das senhoras da hidro. Não sei seu nome, mas ela tem olhos azuis e uma beleza que os anos não conseguiram levar.
Ela me chama para mais perto com um gesto de mão, como se fosse me contar um segredo, e então pergunta: “Você acha que eu posso nadar com uma touqui-
nha dessas?”. Ela estica o braço direito e, na palma da sua mão, vejo uma touca de banho toda amassada, daquelas de plástico, que se compram em lojas de R$ 1,99, isso quando existiam essas lojas e elas vendiam coisas de R$ 1,99. Respondo que não é a melhor escolha e pergunto se ela esqueceu a touca de natação em casa.
“Não, ela rasgou quando fui colocar, agorinha mesmo.”
Alcanço minha touca extra na mochila e digo que posso lhe emprestar. Seus olhinhos azuis ficam pequenos com o sorriso que ela dá. Preciso repetir que não é incômodo nenhum, que ela poderá me devolver a touca na próxima semana. Ela aceita, veste a cabeça com aquele pequeno pedaço de pano, o tecido preto cobrindo seu cabelo branco, e segue animada para a aula.
Na semana seguinte, enquanto participo do ritual da vergonha, escuto a porta do vestiário se abrindo e imediatamente vejo os olhos azuis me procurando. Ela vem firme em minha direção, carrega a bolsa do lado direito, mas a mão esquerda permanece fechada, protegendo algo escondido. Quando chega bem perto, pega na minha mão, despeja nela o conteúdo que trazia em segredo e me diz: “Isso aqui é para você, obrigada por me salvar na última aula. Contei para todo mundo, minha filha falou que você é um anjo”.
Abro a mão e, para a minha surpresa, vejo um pequeno bombom de chocolate branco e baunilha. Entendo que é um presente, faço todo o ritual de falar que, imagina, não precisava, mas agradeço e guardo meu mimo. No entanto, penso: e a minha touca? Provavelmente, ainda está no fundo da sua mochila, junto com os seus chinelos e logo ela vai me entregar, com mais sorrisos e agradecimentos.
A senhora veste seu maiô azul, veste a touca preta (a minha touca preta) e comenta: “Não ficou ótima em mim?”. Devo ter levado uns três segundos para entender que naquele momento eu havia perdido o meu apetrecho de natação. Sorrio sem graça e confirmo que sim, realmente combina com ela. Ganho um abraço, mais um olhar de gratidão e ela segue rumo à piscina.
Ketilyn Castro de Almeida é jornalista, pós-graduada em Mídias Digitais pela Universidade Positivo (UP). Atualmente, trabalha no Colégio Medianeira, onde se dedica à produção de conteúdo. A crônica Marcando Touca foi escrita durante a oficina do projeto Ampliando Horizontes, conduzida pelo escritor Luís Henrique Pellanda, que resultou na publicação de uma coletânea de textos com o mesmo nome do projeto.