Revista de educação do Colégio Medianeira NÚMERO 36 | 2024 |
O COLÉGIO MEDIANEIRA
como Centro de Aprendizagem
INTEGRAL INACIANO MEDIANEIRA SCHOOL AS CENTER OF INTEGRAL IGNATIAN LEARNING
ISSN 1808-2564
20 anos da Revista Mediação Debates, discussões e preservação da memória TEDx Colégio Medianeira Youth: Aprendizagens visíveis, inspirações para a cidadania global TEDx Colégio Medianeira Youth: Visible learning, inspiration for global citizenship
Orlando Azevedo: fotografia, música e poesia Orlando Azevedo: photography, music and poetry
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Diretor Geral Padre Nereu Fank, S.J.
Diretor Acadêmico Profº. Dr. Carlos Henrique Martins Torra Helvig
Diretor Administrativo Henrique Weidlich
Coordenação editorial Carlos Henrique Martins Torra Helvig, Liliane Grein e Mayco Delavy
sumário
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Revista Mediação – 20 anos. Debates, discussões e preservação da memória Por Ketilyn Castro de Almeida
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O itinerário de Engenharia das Cidades Inteligentes: estudantes como protagonistas de mudança Por Maria Fernanda da Rocha Castro, Luara Fabro Bohner e Luiza Campanholi Barbosa. Orientação: Ricardo Buturi
O Colégio Medianeira como Centro de Aprendizagem integral Inaciano: 13 um projeto inovador de excelência
Redação Mayco Delavy
Jornalista responsável Ketilyn Castro de Almeida
Medianeira School as center of integral Ignatian learning
Estagiária de jornalismo
Por/By Carlos Torra
Ana Carla Bavutti
Revisão Daniele Beneli
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Tradução Danielle Soler Chella
Projeto gráfico e diagramação Liliane Grein
Ilustrações e imagens Acervo do Colégio Medianeira, Milena Muller, Miriane Figueira, Orlando Azevedo, Rafael Corsi e Wagner Roger
Colaboraram nesta edição Angélica Matais Laurino, Brunna Hyara Figueiredo, Carlos Torra, Daniel Zanella, Fabiana Hitomi Ono Ishiruji, Francisco Carlos Rehme, Gabriela Muniz Rabito, Karolina Marianni Vargas, Ketilyn Castro de Almeida, Liane Costacurta Preti, Luara Fabro Bohner, Luiza Campanholi Barbosa, Maria Fernanda da Rocha Castro e Suzana Fernanda Ferreira de Brito
Coordenação da Educação Infantil ao 7º ano Juliana Heleno
Coordenação do 8º ano ao Ensino Médio Eliane Dzierwa Zaionc
Centro de Inclusão Débora Cristina da Silva Borin
Centro de Formação Cristã e Espiritual
relação com o outro e com a natureza
expediente
Revista de educação editada e produzida pelo Colégio Medianeira ISSN 1808-2564
SER 31
MAIS
Amazônia:
SER MAIS Amazônia: relação com o outro e com a natureza Por Ketilyn Castro de Almeida TEDx Colégio Medianeira Youth - Aprendizagens visíveis, inspirações para a cidadania global | TEDx Colégio Medianeira Youth - Visible learning, inspiration for global citizenship
Por/By Ketilyn Castro de Almeida Orlando Azevedo: fotografia, música e poesia
43 Orlando Azevedo: photography, music and poetry Por/By Ketilyn Castro de Almeida
PROJETO
FOME de
QUÊ?
Fome de Quê? A fome no Brasil: um desafio urgente 51 Projeto Por Angélica Matais Laurino e Suzana Fernanda Ferreira de Brito
A FOME NO
BRASIL: UM DESAFIO URGENTE
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Entrelaçando cuidado e educação. A cultura do cuidado à maneira Inaciana Por Fabiana Hitomi Ono Ishiruji e Karolina Marianni Vargas
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Minimundo e sala habitat. Um contexto investigativo para inspirar um convite ao brincar Por Brunna Hyara Figueiredo e Liane Costacurta Preti
Padre Agnaldo Barbosa Duarte, S.J.
Centro de Arte e Esporte Vinícius Soares Pinto
Midiaeducação Vinícius Soares Pinto
Tiragem 2300
Papel Capa: papel 180g Miolo: papel 90g
Bem mais do que medalhas (mas elas podem vir também!)
64 Por Francisco Carlos Rehme
Número de páginas 68
Impressão
“Treina o nosso time?”
Gráfica Radial Tel: 3333-9593
66 Por Daniel Zanella
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião dos editores e do Colégio Nossa Senhora Medianeira. A reprodução parcial ou total dos textos é permitida desde que devidamente citadas fonte e autoria.
70 Por Marcelo Weber
Linha Verde - Av. José Richa, nº 10546 Prado Velho - Curitiba/PR fone 41 3218 8000 www.colegiomedianeira.g12.br comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Olimpíada solidária, vitória de todos.
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editorial
Duas décadas, em números, equivalem a 240 meses, 20.365 dias, 488.760 horas... Do ponto de vista histórico, testemunhamos a eleição de dois papas na Igreja Católica e dois Superiores Gerais da Companhia de Jesus, cinco corridas presidenciais ao Palácio do Planalto, cinco Copas do Mundo (com um amargo e eterno jejum à Seleção Brasileira de Futebol), eleição de Barack Obama à Presidência dos EUA em 2008 e reeleição em 2012, a grande crise do capitalismo global em 2007 que culminou na recessão de 2009, Primavera Árabe, ascensão das Redes Sociais que transmutaram a morfologia das relações societárias e , de modo recente, a Inteligência Artificial pondo em cheque o futuro da inteligência e racionalidades como atributo original do Homo Sapiens. Tudo isso num caldo temperado de grandes guerras, intermináveis, desde os conflitos no Oriente Médio, Europa, África....até as guerrilhas milicianas, silenciosas em um Brasil que ceifa milhares de vidas anualmente em função da omissão do Estado e do avanço dos grupos paramilitares. Este cenário, um tanto “catastrófico”, não foi ignorado pelos educadores e educadoras do Medianeira. Ao contrário, foi lido, repensado e transformado cotidianamente e conceitualmente com a nossa Mediação. Educar é um ato político que não dicotomiza o ensino da aprendizagem e o estudante do contexto social que o cerca. Como nas celebrações festivas, formaturas, aniversários, bodas, o ideal seria compartilharmos com você leitor/a as “fotografias” desses 20 anos de trabalho. No entanto, essas imagens compostas de mais de 360 artigos, charges, poesias e entrevistas ultrapassam o espaço limitado de um editorial. Sendo assim, a título meramente metodológico, dividimos os momentos celebrativos da Mediação em três eixos: a primeira década e a construção de um novo século; a segunda década desde um pensamento decolonizado, coroando, ao fim, com o alvorecer da terceira década e a utopia coletiva. Vamos lá. Os primeiros dez anos de Mediação caminham juntos com a chegada do Século XXI. Foram anos de muita instabi-
lidade conceitual e mudanças profundas na cultura. Um século que já começou com a ameaça do Bug do Milênio desvelador de uma sociedade em rede, dependente de fluxos contínuos de informação e de sistemas operacionais com tendências universais no gerenciamento do conhecimento. A entrevista com Leonardo Boff, na revista Nº 0, Ano 1, dá bons indício das preocupações desse primeiro ciclo: O conhecimento deve servir para a comunhão, para aproximar o ser humano do objeto conhecido (conhecer em francês é connaître, isto é, nascer junto) e aproximar entre si os seres humanos que formam a comunidade aprendente. Essa lógica é mantida se o conhecimento surgir a partir do diálogo, da troca, da construção coletiva de todo o saber (2004, p. 27). Até então, o conhecimento como posse de uma classe ou grupo gerou, globalmente, uma divisão social do trabalho que, em linhas gerais, separou os detentores dos dependentes tendo na classe intermediária a posse provisória – não o domínio – de determinados bens e benefícios. Com o avanço já premente do capitalismo informacional, o conteúdo desloca-se ao campo do global, gerando um grande banco de dados acessível a “todos” mas, paulatinamente, gerenciado por uma ínfima parcela sempre voraz pela destruição da comunhão das comunidades aprendentes. Sabiamente, antecipa Boff, “A educação deve ser adequada aos desafios que nos vêm da nova fase da humanidade, a fase das interligações de todos com todos, da consciência planetária” (2004, p. 27). As edições posteriores deste primeiro ciclo responderam muito bem ao desafio proposto, ora discutindo o campo educacional sob uma ótica da tecnologia, ambiente, sustentabilidade e consciência planetária – edições 6, 10 e 14 – ora mergulhando no campo de leitura política e formação para a pesquisa, o conhecimento e uma lógica de mundialização, ou globalização, cada vez mais suprassumida por um viés de consumo como sinónimo de felicidade e poder – edições 2, 15, 16, 18, 19 e 23. Neste novo mundo, os Direitos Humanos passam a ocupar um lugar de resistência frente aos desmandos da desigualdade.
Envie sugestões e comentários para: comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
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Nossa segunda década emergiu desde um pensamento decolonial em um mundo cada vez mais judicializado em suas relações. O jornalista e escritor José Castello concluía seu artigo na Edição nº 27, afirmando: ”O homem está em contínuo e perpétuo movimento e tudo o que a sociologia e literatura podem fazer é correr atrás dele” (2014, p. 32). Compreender o mundo líquido é tarefa também da escola. Por isso que currículo e aprendizagem, sob uma perspectiva da educação e formação integral, estiveram tão presentes em nossas páginas – Edições nº 28, 29, 31, 34 e 35. Esse currículo integral está sendo plasmado em um mundo de justiçamentos e defesa do ódio. A justiça e a reconciliação – Edição nº 33 – tão caras à educação jesuíta, devem nos servir de modelo à construção de um outro mundo possível, sempre coerente com a tradição e inovação que são marcas de excelência do projeto amoroso de Inácio de Loyola. Enfim, agora já adultos e com 20 anos completos, o alvorecer da terceira década e o sonho de uma utopia coletiva batem forte em nosso coração. Neste 36º volume, os artigos reforçam o caráter transformador da escola a partir das práticas capazes de sensibilizar o olhar – você tem fome de quê? Um convite para investigarmos e brincarmos desde as infâncias – gestar as cidades do futuro. Nos abrem, ainda, um campo para a cultura do cuidado como DNA de uma instituição Jesuíta, com destaques aos novos projetos SER MAIS Amazônia e TEDx Colégio Medianeira Youth, concluindo a viagem com uma visita à vasta obra fotográfica, poética e musical do sempre aluno Orlando Azevedo. Os dois últimos textos que coroam essa edição comemorativa são de um sempre educador “escrevinhador de crônicas: desimportâncias” e de um professor e sempre aluno que gentilmente nos brinca com suas “lembranças olímpicas vestidas de aurinegro” em sua primeira Olimpíada Medianeira. Deixamos a você, leitor e leitora, a continuidade desse exercício que dá o que pensar e o(a) convidamos à construção dos próximos dez anos que recém se desvelam diante dos nossos olhos e sonhos. Boa leitura, Mayco Delavy
Esta e outras edições podem ser lidas na íntegra no nosso site: www.colegiomedianeira.g12.br
Revista de educação do Colégio Medianeira
Debates, discussões de ideias e preservação da memória Por Ketilyn Castro de Almeida Saiba mais sobre o ANO INACIANO Mediação
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m duas décadas, novas tecnologias surgiram, as redes sociais invadiram o dia a dia de jovens e adultos, novas guerras assombraram o mundo, filmes e livros memoráveis foram produzidos e o mundo sentiu o efeito disso tudo. Durante esses mesmos 20 anos, a Revista Mediação nasceu e colocou todos esses assuntos em pauta. Uma revista sobre educação dentro de uma instituição educativa, que mantém a premissa de que a educação vai muito além do ensino de sala de aula e que está presente na troca de conhecimento através de debate, preservação da memória e fomento de novas ideias. Porém é importante frisar que a Mediação não foi criada para ficar dentro dos muros do Colégio Medianeira, nossos educadores, estudantes, comunidade SempreMedianeira e autores convidados escrevem para todos, para quem se interessar em ler. Afinal, compartilhar ideias é multiplicar o conhecimento. Cezar Tridapalli, Sempre-educador, escritor, tradutor e psicanalista, foi um dos idealizadores desse projeto e lembra que o objetivo, desde o início, foi trazer assuntos sobre educação no sentido mais amplo e com uma linguagem acessível a todos. “Queríamos trazer a interação entre educação e sociedade, fosse em artigos que ajudassem a pensar a sociedade através do viés da educação, claro, mas pensar também sobre o consumo, o modo de produção atual, a importância das artes. Enfim, fazer um grande diálogo entre as disciplinas e a sociedade”, comenta Cezar.
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Diálogo entre disciplinas e conhecimento para todos Para produzir a Revista Mediação, Cezar e outros educadores inspiraram-se em outras publicações existentes como a Superinteressante, que aborda conteúdos de ciência, mas com um vocabulário simples e popular. “Durante a infância, eu era um leitor da ‘Ciência Hoje’, uma revista acadêmica, apesar de não entender nada do que eu lia, eu a achava bonita e tinha um encarte para crianças. Aliás, sempre pedimos para que na Mediação, os autores cuidassem com a linguagem na escrita dos artigos, para que não fossem demasiadamente acadêmicos e não utilizassem muitas notas de rodapé”. O Sempre-educador lembra que é um sinal de sabedoria conseguir se comunicar de forma clara, levando em conta diferentes públicos. “A própria palavra ‘comunicação’ significa tornar comum algo. Não sugere que todas as pessoas vão entender exatamente da mesma maneira, cada um tem sua subjetividade. Mas o objetivo é estabelecer um diálogo em que a pessoa possa ler aquilo e pensar sobre o assunto”. A Revista sempre foi um espaço aberto para discussões de diversas disciplinas. Por isso, entre os autores não estão apenas educadores de ciências humanas, mas professores de física e química, por exemplo, que também têm muito a compartilhar.
Para o Diretor Acadêmico, Carlos Torra, a Revista Mediação nasceu do desejo de entrelaçar sujeitos propositores de saberes e conhecimentos no cenário curitibano, garantindo interlocuções para dentro e para fora do espaço escolar sobre temáticas culturais, educacionais, políticas, contextuais, locais e globais. “A inspiração que impulsionou a proposta de uma Revista mantida como referencial de ciência, mundo e sociedade em uma escola de Educação Básica sempre esteve vinculada à intenção de construir pontes e, ao mesmo tempo, de propalar diálogos e mediações, valores, estes, caros à educação da Companhia de Jesus”, comenta.
Por que “Mediação”? O Colégio sempre teve orgulho de quem passou por aqui e deixou a sua marca. Por isso, não temos ex-professores, mas sim sempre-educadores. E foi de um sempre-educador, José Lorenzatto, que surgiu a ideia do nome da Revista, que permanece o mesmo até os dias de hoje. Mediação é a ação de auxiliar como intermediário entre indivíduos ou grupo de pessoas, mas seu significado na prática vai muito além desse. “Na época, pedimos indicações de nomes para os educadores, mas quando surgiu ‘Mediação’ parecia que nenhum outro se encaixaria. Tem todo o contexto de provocar uma mediação entre a educação e o diálogo com as pessoas, com as outras ciências, com os outros campos do saber.
Leia as outras edições da Revista Mediação
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Sempre-educador Cezar Tridapalli
Além disso, lembra Medianeira, né? Tanto o nome do Colégio quanto Nossa Senhora Medianeira que é aquela que faz a mediação entre Deus e os homens. E que legal ter um nome dado pelo Lorenzatto, uma pessoa fantástica”, lembra Tridapalli. A memória de Lorenzatto não se mantém viva apenas dentro dos muros do Colégio. O professor, que se tornou nome de rua no bairro Cajuru, é também um exemplo para os educadores de todo o país que seguem a sua missão de fazer do estudante o protagonista de sua vida acadêmica e profissional.
E os próximos 20 anos? Duas décadas já passaram desde a publicação da primeira edição, aquela que trazia como artigo principal um texto sobre excelência humana e acadêmica. Aliás, assunto que ainda é discutido e trabalhado com grande
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entusiasmo dentro do Colégio Medianeira. E mesmo depois de todos esses anos, ainda há muito a escrever e compartilhar, por isso, há planos para manter a Revista Mediação ativa por muitos e muitos anos. Durante esse período de existência, além dos nossos educadores e estudantes, muitos pensadores, pesquisadores e artistas contemporâneos compartilharam suas ideias nas folhas da Mediação, que apesar de contar com uma versão digital, ainda mantém a tradicional publicação impressa, como esta que você tem em mãos. Entre os autores podemos destacar os escritores Luís Henrique Pellanda, Cristóvão Tezza, Ricardo Azevedo, Leonardo Boff, Pedro Demo e Paulo Venturelli. Atualmente, o Medianeira também investe na tradução dos textos para levar o conteúdo para um público ainda maior. “Para os próximos 20 anos de Revista Mediação, queremos que,
com muita ousadia e excelência, ela se mantenha fiel à matéria-prima com a qual foi forjada, enquanto mobiliza para o diálogo, para trocas e na construção de utopias coletivas a serviço do bem-comum. Projetamos e queremos, em 2044, que a Mediação seja uma Revista Poliedro, onde a multiplicidade de sujeitos, a diversidade cultural e a riqueza criativa e existencial humana encontrem ressonância nas suas páginas e ofereça, à sociedade local e global, uma contínua expressão da beleza presente na interligação e interação das vidas e saberes para a transformação do mundo em um lugar mais democrático, ético, justo e solidário”, comenta o Diretor Acadêmico. comente este artigo: comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Ketilyn Castro de Almeida é jornalista, pós-graduada em Mídias Digitais pela Universidade Positivo (UP). Atualmente trabalha no Colégio Medianeira com produção de conteúdo digital.
O itinerário de
ENGENHARIA DAS CIDADES INTELIGENTES:
estudantes como
protagonistas de mudança Por Maria Fernanda da Rocha Castro, Luara Fabro Bohner e Luiza Campanholi Barbosa Orientação: Ricardo Buturi
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uero, de verdade, que o itinerário de Engenharia de Cidades Inteligentes seja significativo, que dê certo. É um novo campo de estudo para mim, afinal, como trabalhar matemática fora das contas e dentro de um contexto diário? Com isso, aprendi também a quebrar paradigmas: enxergar a matemática além dos cálculos.”
Ricardo Buturi, professor do componente de Matemática e do itinerário de Engenharia das Cidades Inteligentes, no Ensino Médio do Colégio Medianeira. O itinerário
Desde 2022, com o início do Novo Ensino Médio, incluiu-se em nossa grade curricular de estudantes, além das matérias de formação geral, os itinerários formativos, que permitem um maior aprofundamento e vivência das diferentes áreas do conhecimento. Dentre eles, em especial para a 2ª Série do EM, foi introduzido o de Engenharia das Cidades Inteligentes - lecionado pelo professor Ricardo Buturi. Segundo o educador, a ideia surgiu muito antes da existência de itinerários: “Foi em 2007, em
proposta, então, consolidou-se na grade curricular. Aos olhos dos jovens do Colégio Medianeira, a mudança no Ensino Médio, surge como oportunidade deles colocarem em prática aquilo que aprendem em sala de aula. À luz disso, as experiências englobam experimentos, aulas de campo, pesquisas e desenvolvimento de projetos de intervenção. Como parte dessa vivência, aprendemos a tirar os conteúdos do papel e a acreditar e persistir em nossas próprias ideias. O itinerário de Engenharia das
cartões de crédito com grande
Cidades Inteligentes, por sua vez, visa tornar a geometria um conhecimento aliado na construção de uma cidade. Dessa maneira, os
época, isso me incomodou e trouxe a ideia para o Colégio, como
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com a reforma do Ensino Médio, a
uma ocasião em que recebi dois desperdício de embalagem. Na
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trabalho de pesquisa”. Mais tarde,
estudantes têm vivenciado, além do aprofundamento na matemática, práticas que permitem conhecer a própria cidade e buscar maneiras de mudar a realidade. Uma das principais metodologias é a realização de pesquisas para identificar as fragilidades dos diferentes bairros de Curitiba e, então, desenvolver projetos que visem a solução dos problemas encontrados, dentro da perspectiva de uma cidade inteligente. Mas afinal, o que essa perspectiva significa? Segundo o professor Buturi: “várias pessoas afirmam que essa concepção tem relação apenas com a tecnologia envolvida. Eu discordo. Busco mais um conceito envolvendo a qualidade de vida das pessoas que estão nesse espaço”. Ou seja, uma cidade inteligente é aquela
que concilia sustentabilidade com qualidade de vida, gerando eficiência nas dinâmicas sociais. Ações com esse objetivo podem ser observadas, inclusive, na própria cidade de Curitiba. O Vale do Pinhão, criado em 2019 pela Agência Curitiba de Desenvolvimento e eleito um dos três ecossistemas mais consolidados do Brasil pelo Prêmio Nacional de Inovação (PNI), é alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Por isso, é um ótimo exemplo da união do avanço econômico e tecnológico da cidade com a preocupação com o bem-estar de seus cidadãos. Nesse sentido, esse projeto busca melhorias em diversos setores, por meio de alguns pilares de ação: reurbanização e sustentabilidade; educação e empreendedorismo; tecnologia; legislação e incentivos fiscais; e integração e articulação.
dantes que, independentemente da profissão escolhida, sejam capazes de enxergar as possibilidades de melhoria de si mesmos e, mais além, tornarem-se a própria mudança. “Primeiro, eu gostaria que o coração dos estudantes fosse tocado pela qualidade de vida. Depois disso, é necessário fazer a leitura da realidade macro e micro de onde a gente vive”, comenta Buturi.
Os agentes de mudança
Como alunos, pais e professores, quantas vezes nos encontramos imaginando possibilidades de melhoria nos diferentes contextos urbanos? Frequentemente pensamos em mudanças sociais, ecológicas, políticas etc. Através deste itinerário, nós, como estudantes, deixamos de ser apenas telespectadores e assumimos o papel de agentes transformadores. As ideias de intervenção deixaram, então, de ser apenas ideias e tornaram-se propostas de solução para problemas reais da nossa cidade.
A partir do contexto apresentado, a principal intenção do professor do itinerário é formar estu-
Nosso grupo de estudantes desenvolveu o projeto Catadores Construindo Curitiba (CCC):
Coletando, Criando & Cooperando. Nosso trabalho possui dois principais pilares: a promoção do aproveitamento dos resíduos recicláveis e não recicláveis da capital, e a integração dos catadores no processo de reciclagem. Dessa forma, a proposta é a criação de uma cooperativa capaz de abrigar os resíduos, incentivar sua separação e encontrar uma utilidade a todos os tipos de resíduo. Em especial, em relação aos não recicláveis, a cooperativa irá transformá-los em materiais de construção ecológicos, por exemplo, telhas e tijolos. Além disso, buscando valorizar os catadores, o projeto atua incluindo-os em todas as etapas do processo, visando, assim, transformar Curitiba em uma cidade sustentável, inclusiva, limpa e inteligente. Assim, desde o início do ano até seu amadurecimento e aprimoramento, o itinerário de Engenharia de Cidades Inteligentes foi capaz de expandir a vivência dos estudantes e colocá-los na posição de protagonistas na construção de uma cidade inteligente.
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“Temos que viver de uma forma que possibilite entendermos qual é nossa contribuição para a sociedade, descobrindo o que pode ser mudado e o que é possível ser transformado. Mesmo que a mudança para melhor seja pequena, eu tenho que ir em busca disso. Esse é o meu sonho de profissão”, afirma o professor. Por fim, essa oportunidade vem transformando o ambiente escolar e, principalmente, a maneira como enxergamos as dinâmicas urbanas em que estamos inseridas - ampliando, assim, nossa visão crítica sobre as problemá-
ticas atuais. Com isso, além de identificarmos os problemas da nossa cidade, nos tornamos capazes de enxergar os diferentes caminhos e, então, planejar possíveis soluções. A possibilidade de melhoria através das nossas iniciativas está se tornando realidade. Dessa forma - apesar da fonte do projeto ser o itinerário de Engenharia das Cidades Inteligentes - as ideias, as invenções, as intervenções e as mudanças vêm de nós, alunos.
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Para saber mais sobre os diferentes campos de intervenção sustentável de Curitiba, acesse o nosso trabalho, produzido no itinerário de Engenharia de Cidades Inteligentes, através do QR-Code ao lado.
Maria Fernanda da Rocha Castro é estudante da 3ª Série do Ensino Médio do Colégio Medianeira, apaixonada por poesia e por números. No futuro, pretende seguir na área das Engenharias. Luara Fabro Bohner é estudante do Colégio Medianeira há 11 anos e atualmente está cursando a 3ª Série do Ensino Médio. Desde sempre, encanta-se pela biologia e pelos estudos como ferramenta para o entendimento do mundo. Luiza Campanholi Barbosa é estuda há 10 anos no Colégio Medianeira e está na 3ª Série do Ensino Médio. Sempre muito dedicada aos estudos, tem interesse pelas relações interpessoais e adora estar cercada por aqueles que ama. Ricardo Buturi é matemático e professor de matemática. Especialista em Ensino da Matemática, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC - PR) . Atualmente, é professor de matemática da 2ª e 3ª série do Ensino Médio no Colégio Medianeira.
Indicações Negócio das Arábias (2016) Dirigido por Tom Tykwer, Negócio das Arábias pode parecer um simples filme “hollywoodiano”, porém, ele aborda diversas temáticas sobre tecnologia e a construção de cidades inteligentes. O personagem principal, Alan (estrelado por Tom Hanks), um homem de negócios falidos, que vai para a Arábia Saudita com tentativas de vender sua ideia de construir uma enorme cidade no meio do deserto, com todas as estruturas básicas para atender uma população.
Cidades Inteligentes: Guia para Construção de Centros Urbanos Eficientes e Sustentáveis (2018) Escrita por Vicente Soares Neto (editora Érica), a obra aborda os principais conceitos envolvidos no estudo e na construção de uma cidade inteligente, além de retratar a evolução da sociedade. Sua maneira de abordar o assunto estimula os leitores a buscar novas soluções que possam ser aplicadas na construção de uma cidade inteligente.
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UM PROJETO INOVADOR E DE EXCELÊNCIA AN INNOVATIVE AND EXCELLENCE PROJECT
o COLÉGIO MEDIANEIRA
como Centro de Aprendizagem
INTEGRAL INACIANO MEDIANEIRA SCHOOL AS CENTER OF INTEGRAL IGNATIAN LEARNING Por/By Carlos Torra
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a experiência do hoje, o conhecimento
O poeta Manoel de Barros, no seu belíssimo Livro Sobre Nada, ao afirmar que o Desejar Ser é o maior apetite do ser humano, escreveu os seguintes versos:
A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá mas não pode medir seus encantos. A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá. Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare Os sabiás divinam
Ao arriscarmos uma leitura pedagógica das linhas citadas, propositadamente desatenta a qualquer premissa pautada na Teoria Literária, poderíamos afirmar ser esta uma compreensão perspicaz e bastante atual do potencial, mas também dos limites da ciência. É possível dizer que, se, por um lado, o saber científico contribui para que a sociedade avance em soluções para problemas humanos profundos, situados em tempos e espaços dos mais diversos, por outro, esse mesmo conhecimento, por si só, não é capaz de mobilizar a percepção do ser humano para o todo sistêmico, orgânico e complexo da realidade das coisas do mundo. Embora esteja no âmago da experiência científica toda e qualquer compreensão genuína da realidade do mundo, é necessário supor que esta somente será possível na sua inteireza quando as habilidades e dimensões da pessoa forem fomentadas no processo educativo e desenvolvidas para as sensibilidades provenientes das interações do ser humano com o mundo natural, com os outros e com o sagrado.
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oday, we will talk about learning
The poet Manuel de Barros, in his lovely book “Sober Nada” (About Nothing), stated that “to be” is the human being's greatest desire and
came up with the following verses: The science may classify and point organs of a thrush Nevertheless, it cannot measure its charm. Science cannot calculate how much horsepower Exists in a thrush charm. Someone who accumulates too much information misses the ability of guessing: “divinare” Thrush “divines”
By risking a pedagogical reading of the lines quoted, purposely disregarding any premise based on Literary Theory, we could state that this is an insightful and very current understanding of the science potential, but also of its limits. It is possible to say that, while on one hand, scientific knowledge contributes to society's progress in finding solutions to profound human problems, related to the most diverse times and spaces. On the other hand, this same knowledge, on its own, is not capable of mobilizing the human being's perception of the systemic, organic and complex of regarding of things in the world. Although any genuine understanding of the world reality is at the heart of scientific experience, it is necessary to assume that this will only be possible in its entirety when the person’s skills and dimensions are fostered in the educational process and the sensibility arising from the human being's interactions with the natural world, with others and with the sacred.
Na concepção educativa inaciana, fundamento epistemológico do Projeto Educativo Comum (PEC) da RJE, a escola tem o papel de articular dimensões existenciais, cognitivas, volitivas, socioemocionais e espiritual-religiosa capazes de promover vínculos autênticos e significativos dos/as estudantes com a vida dentro e fora dos muros da escola.
In the Ignatian educational conception, the epistemological foundation of the Jesuit Fundamental Education System (JFES) Common Educational Project (CEP). The school has the role of articulating existential, cognitive, volitional, socio-emotional and spiritual-religious dimensions capable of promoting authentic and meaningful links between students’ life inside and outside school.
Por isso, além de propor análises quantitativas,
Therefore, besides proposing quantitative analy-
estudos empíricos, cálculos precisos, resultados pau-
ses, empirical studies, precise calculations, fact-based
tados em fatos para mensurar, classificar e nomear
results to measure, classify and naming the beings
os seres do mundo natural e as interações humanas,
of natural world and human interactions, as well
bem como tantos outros aspectos e objetos de estudos cabíveis à ciência e à ciência pedagógica, a proposta educativa do Colégio Medianeira provoca, da mesma forma, os/as estudantes a questionarem relações para além do quantificável, fomentando problematizações, tais como: quantos “encantos”, próprios das relações com as pessoas e com a natureza, são desperdiçados no dia a dia agitado de trabalho, estudo, consumo material e de informações? Quantos “encantos” são pulverizados pelas (des) informações avassaladoras e descontextualizadas produzidas e absorvidas diariamente por cada um/a e por todos/as nós? Quantos “cavalos de força” não percebemos no “divinar” da beleza da vida, da estética do existir e das convivências que se descortinam na nossa frente? Como projeto educativo, a emergência dos saberes conectados, integrados e transformadores são indutores de uma consciência pessoal atenta à velocidade das experiências (não) vividas. Nesta dialogia formativa, saborear o conhecimento proveniente das experiências oportuniza criatividade intelectual situada, aportada pela cognição e metacognição, na atenção ao espaço circundante. É neste tempo de aprofundamento dos saberes, quando cada estudante sente e toma consciência da
as so many other aspects and study subjects that are suitable to science and pedagogical science; Colégio Medianeira's educational proposal also make students to question relationships beyond the quantifiable, encouraging questions such as: how much “charm", typical of relationships with people and nature, are wasted in the hectic daily routine of work, study, material consumption and information? How much "charm" is pulverized by the overwhelming and decontextualized (mis)information produced and absorbed daily by each and every one of us? How much “horse power” we do not perceive when “divining” life beauty, the existence and coexistence aesthetics that is unfolded in front of us? As an educational project, the emergence of connected, integrated and transformative knowledge induces a personal conscience that is attentive to the speed of (un)lived experiences. In this formative dialog, savoring knowledge that comes from experiences provides an opportunity for situated intellectual creativity, supported by cognition and metacognition, in attention to the surrounding space. It is during this time of deepening knowledge that each student feels and becomes aware of Estudantes da Educação Infantil
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necessária interdependência e inseparabilidade entre conhecimento e experiência; entre ciência e aprendizado; entre vida e beleza. No Centro de Aprendizagem Integral,
At the Integral Learning Center,
a integração dos saberes
the integration of several knowledge
A categoria da integralidade dos saberes, an-
The integrality knowledge category anchors pedagogical meaning to the human dimensions, overpassed by the formative, epistemic and methodological scopes, which, at Colégio Medianeira, undertake integral learning as a mobilizing force, since knowledge, learning and interrelationships expected in our formative proposal intentionally aim to reduce the distances among the roots of logical-scientific thinking and training for innovation and unpredictability, empowering students for socio-environmental transformation through transferable knowledge.
cora sentido pedagógico às dimensões humanas, transpassadas pelo âmbito formativo, epistêmico e metodológico que, no Colégio Medianeira, assume como força mobilizadora o aprender integral, pois o conhecimento, as aprendizagens e as interrelações previstas na nossa proposta formativa querem intencionalmente diminuir as distâncias entre as raízes do pensamento lógico-científico e a formação para a inovação e imprevisibilidade, empoderando os/as estudantes para a transformação socioambiental, através do conhecimento transferível. Como “Centro”, propomos a organicidade entre componentes, campos de experiência, núcleos de conhecimento e itinerários formativos, no sentido de estes subsidiarem a capacidade potencial dos/ das estudantes para responderem aos desafios do mundo de modo consciente, ético e competente, tornando suas aprendizagens visíveis e aplicáveis a contextos e tempos diversos, ecoando em práticas transformadoras no local com decorrência global.
The definition of "Integral Learning" privi-
vilegia o estado de mutualidade no percurso for-
leges the state of mutuality in each student's for-
mativo de cada estudante acerca dos saberes, dos
mative journey in terms of knowledge, feelings and
sentires e dos agires (PEC, 2021), catalisado pela
actions (PEC, 2021), catalyzed by the condition of
condição de inteireza e presencialidade daquilo que
wholeness and presence of what the student is able
o/a estudante consegue fazer com aquilo que apren-
to do with what they have learned. Thus, the in-
deu. Assim, a integralidade formativa (re)constitui o
tegrality of formation (re)constitutes the subject, in
sujeito, na condição da excelência pessoal, como
the condition of personal excellence, as a transfor-
transformador da realidade para melhor.
mer of reality for the better.
educativa da Companhia de Jesus que tem por máxima pedagógica a centralidade do estudante, a reflexão como guia e a ação como fim de todo e qualquer projeto e processo formativo (Aprender por Refração, 2022). Deste modo, o Colégio Medianeira como um Centro de Aprendizagem Integral Inaciano materializa as excelências humana e acadêmica que fundamentam sua proposta curricular, responsivas ao contexto
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As a "Center”, we propose organicity among components, fields of experience, knowledge core and training itineraries, in the sense that these subsidize the potential capacity of students to respond to the world challenges in a conscious, ethical and competent way, making their learning visible and applicable to different contexts and times, echoing in transformative practices in the place with global results.
O definidor da "Aprendizagem Integral" pri-
O qualificativo "Inaciano" expressa a proposta
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the necessary interdependence and inseparability between knowledge and experience; between science and learning; between life and beauty.
The term "Ignatian" expresses the educational proposal of the Society of Jesus, whose pedagogical precept is the student’s centrality, reflection as a guide and action as the end of each and every project and formative process (Aprender por Refração, 2022). Thus, Colégio Medianeira, as an Ignatian Integral Learning Center, materializes the human and academic excellence that underpins its curricular proposal, responsive to the current context
and the present educational challenges. Our integral formation project aims to mobilize students to be surprising by the new, undertaking uncertainty as a condition of life and scientific quality, thus seeking learning that enables innovative solutions to current and real problems.
Como Centro de Aprendizagem Integral, o princípio formativo das excelências encontra significado prático no dia a dia, ou seja, no compromisso de integrar as dimensões da vida dos estudantes por meio da profundidade intelectual, perpassada pela condição existencial, espiritual, socioemocional e cognitiva dos sujeitos aprendentes, razão pela qual a ciência e o conhecimento entrelaçados são concebidos como sujeitos imprescindíveis e, ao mesmo tempo, agregadores de saberes emancipadores; formadores de pessoas competentes, assim como, conscientes, críticas, comprometidas e compassivas.
As a Center for Integral Learning, the training principle of excellence finds practical meaning in everyday life, which is, in the commitment of integrating the dimensions of students' lives through intellectual depth, permeated by the existential, spiritual, socio-emotional and cognitive condition of learners, which is, why intertwined science and knowledge are conceived as indispensable subjects and, at the same time, aggregators of emancipating knowledge; teachers of competent people, as well as conscious, critical, committed and compassionate.
Todos os tempos e espaços educativos, num
All the educational times and spaces in a Learning Center are permeated by the practices of a project to develop the person for the encounter, and its implementation brings together affection in the dynamics of teaching and learning, as they consider the existential complexity of each sub-
Centro de Aprendizagem, são perpassados pelas práticas de um projeto de desenvolvimento da pessoa para o encontro e, sua efetivação, congrega o afeto na dinâmica do ensinar e aprender, uma vez que considera a complexidade existencial de cada
CEA - Centro de Educacão Ambiental do Colégio Medianeira - Piraquara/PR
atual e aos desafios educacionais próprios do hoje. Nosso projeto formativo integral visa mobilizar os/as estudantes para se espantarem com o novo, assumindo as incertezas como condição de vida e qualidade científica, buscando, assim, aprendizagens viabilizadoras de soluções inovadoras para problemas atuais e reais.
Mediação
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Estudantes do Ensino Fundamental 1
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Mediação
sujeito envolvido no fluxo educativo como convergência e desdobramento pedagógico de tudo o que os/as estudantes são naquilo que fazem. O currículo e a abordagem metodológica vigente no Colégio Medianeira, ao impulsionar a dimensão espiritual-religiosa, cognitiva e socioemocional, tornam-se promotores da vida, da cidadania local e global, da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do conhecimento profundo, comprometido e transformador do mundo com e para as pessoas.
ject involved in the educational flow as the convergence and pedagogical unfolding of all that the students are in what they do. The curriculum and methodological approach in force at Colégio Medianeira, by boosting the spiritual-religious, cognitive and socio-emotional dimension, become promoters of life, local and global citizenship, intuition, imagination, sensitivity and deep, committed and transformative knowledge of the world with and for people.
Esta interação metodológica e epistemológica, ao ser politotalizante na sua concepção de realidade e ciência, subsidia um ecossistema das e para as aprendizagens, configurado a partir de elementos emergentes sobre e com a formação integral dos/ as nossos/as estudantes e professores/as, ambos sujeitos protagonistas na consolidação de aprendizagens emancipadoras, libertadoras e humanista.
This methodological and epistemological interaction, by being politicalizing in its conception of reality and science, supports an ecosystem of and for learning, configured from emerging elements about and with the integral formation of our students and teachers, both protagonists in the consolidation of emancipatory, liberating and humanist learning.
Assim, como Centro de Aprendizagem Integral Inaciano, o Colégio Medianeira quer dar acento e fortalecer:
Thus, as an Ignatian Integral Learning Center, Colégio Medianeira wants to reinforce and consolidating:
- a centralidade da aprendizagem e, consequentemente, do estudante: a ênfase recai sobre
- the centrality of learning and, consequently, of the student: the emphasis is on the appli-
a aplicabilidade das metodologias inovadoras e ativas, partindo da ideia-força pedagógica de que tão importante quanto saber o que fazer, é saber o porquê fazer. Como exercício de inovação, as aprendizagens visíveis e transferíveis se consolidam como indicadores teórico-práticos de sucesso das aprendizagens, empoderando os/as estudantes para a resolução de problemas que permeiam a vida humana, social, profissional, econômica e ambiental.
cability of innovative and creative methodologies, based on the pedagogical idea that as important as knowing what to do is knowing why to do it. As an exercise in innovation, visible and transferable learning is consolidated as theoretical and practical indicators of learning success, empowering students to solve problems that permeate human, social, professional, economic and environmental life.
- os mediadores das aprendizagens (professores e famílias): acentuamos a busca por mais e melhores entrelaçamentos colaborativos entre os professores e equipes, sujeitos centrais no acompanhamento e mediação de aprendizagens significativas, em interface propositiva e fluída com estudantes e famílias. É na ação pedagógica consciente, intencional e profunda promovida pelos/as professores/as que se dá a leitura dos contextos e das subjetividades, garantindo assim, com maior excelência a formação integral para a cidadania global a todos/as os/as nossos/as estudantes. Ser um Centro investigativo da realidade, requer professores/as e estudantes mais protagonistas da sua própria aprendizagem, sempre situados no âmbito da construção de uma sociedade mais justa e impulsionadora dos Direitos Humanos.
- the role of teaching mediators (teachers and families): we emphasize the search for more and better collaborative links between teachers and teams, who are essential to monitor and mediate meaningful learning, in a purposeful and fluid interface with students and families. It is in the conscious, intentional and in-depth pedagogical action promoted by teachers those contexts and subjectivities are read, thus guaranteeing integral training for global citizenship to all our students with greater excellence. Being a Center that investigates reality requires teachers and students to be more protagonists in their own learning, always situated within the scope of building a fairer society that promotes human rights.
- o acompanhamento inaciano: a inacianidade, na proposta formativa do Centro de Aprendizagem Integral expressa o cuidado com a mediação das aprendizagens. O acompanhamento ao/a estudante assume lugar singular, tendo em vista a importância do “estar junto” e “caminhar com” para orientar o desenvolvimento das pessoas para as excelências (EE).
- Ignatian accompaniment: Ignatian, in the Integral Learning Center's training proposal, expresses care with the mediation of learning. Accompanying students takes on a unique role, given the importance of "being together" and "walking with" to guide people's development towards excellence (EE).
- qualidade da formação integral: as Preferências Apostólicas Universais (TV, 2019) concebem os Colégios da Companhia de Jesus como espaços para os jovens criarem e cocriarem um futuro promissor e de esperança. No Centro de Aprendizagem Integral Inaciano Medianeira, o eixo de ação está no cuidado com a diversidade das juventudes, levando em consideração seus sonhos e incluindo a todos/as na construção de futuros pessoais e coletivos referenciados nos valores de vida, abertos ao novo e dispostos a superarem as fragmentações formativas (PEG, 2020).
- quality of integral formation: the Universal Apostolic Preferences (TV, 2019) conceive the schools of the Society of Jesus as spaces for young people create and co-create a promising and hopeful future. At Medianeira Ignatian Integral Learning Center, the axis of action relies on looking after the diversity of young people, taking into account their dreams and including everyone in the building of personal and collective futures based on life values, open to new ones and willing to overcome formative fragmentation (PEG, 2020).
- colaboração para coaprendizagens e colide-
- collaboration for co-learning and coli-
rança: o foco se dá na constituição de Projetos de
derance: the focus is on the constitution of soli-
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volvimento compartilhado e ético.
dary Life Projects, based on connected, collaborative and networked learning. Cooperation instigates and promotes local and global interactions in order to bring learners closer together, considering the technology of affection in the human-human and human-nature relationship, as a premise for shared and ethical development.
No Paradigma Pedagógico Inaciano (PPI), a expressão inovadora do Centro de Aprendizagem Integral Inaciano
In the Ignatian Pedagogical Paradigm (IPP), the innovative expression of the Ignatian Integral Learning Center
As cinco categorias destacadas abarcam a pers-
Pastoral, de Inclusão e de Midiaeducação. Toda a pluralidade de estratégias formativas em curso dentro do Colégio Medianeira quer viabilizar a formação para a unicidade do/a estudante em seu potencial de desenvolvimento na interrelação das dimensões do ser, considerando a raiz pedagógico-metodológica da Paradigma Inaciano.
The five categories highlighted cover the perspective of the Center for Integral Learning, of Ignatian conception, from Early Childhood Education to Senior High School, including the proposals for Research Work, Formative Itineraries, Components and Areas of Knowledge, TEDx, Pastoral Centers, Inclusion and Media Education. All of the plurality of training strategies underway at Colégio Medianeira aims to enable training for the unicity of the student in his development potential in the interrelation of the dimensions of being, considering the pedagogic-methodological roots of Ignatian paradigm.
Paradigma
As a referential proposal, the Ignatian Pedago-
Pedagógico Inaciano, uma proposta prática (1993), é
gical Paradigm, a practical proposal (1993), is the
resultado de uma necessidade explicativa e didática,
result of an explanatory and didactic need, arising
proveniente do documento das Características
from the document of the Jesus’ Society Educa-
da Educação da Companhia de Jesus, escrito em
tional Characteristics (Características da Educação
1986, o qual sintetizou princípios indicadores para
da Companhia de Jesus), written in 1986, which
as características da Educação Jesuíta no mundo. O
synthesized principles indicating the characteristics
PPI, que em agosto de 2023 completou 30 anos, traz
of Jesuit Education in the world. The PIP, which tur-
consonâncias sobre o estilo do trabalho pedagógico
ned 30 in August 2023, is consistent with the style
para a promoção das aprendizagens dentro das
of pedagogical work to promote learning within
instituições educativas jesuítas, fundamentado na
Jesuit educational institutions, based on faith and
fé e na atenção personalizada ao estudante. Os
personalized attention to the student. The articu-
elementos articuladores do Paradigma, contexto-
lating elements of the paradigm, context-expe-
experiência-reflexão-ação-avaliação tornam-se
rience-reflection-action-assessment, become
centrais para a formação integral e se estabelecem
central to integral education and they are establi-
como
shed as guidelines in pedagogical work, applicable
Vida solidários, pautados em aprendizagens conectadas, colaborativas e em rede. A cooperação instiga e promove interações locais e globais no intuito de aproximar os sujeitos aprendentes, considerando a tecnologia do afeto na relação humano-humano e humano-natureza, como premissa de um desen-
pectiva do Centro de Aprendizagem Integral, de concepção Inaciana, desde a Educação Infantil até o Terceirão, passando pelas propostas do Trabalho de Pesquisa, Itinerários Formativos, dos Componentes e Áreas de Conhecimento, do TEDx, dos Centros de
Como
proposta
orientadores
referencial,
no
trabalho
o
pedagógico,
aplicável a diversos contextos. Nutrido pela espiritualidade de Inácio de Loyola, o PPI tem sua razão de existir nos Exercícios Espirituais (EE) e sua dinâmica, com os cinco momentos, são propositivos de aprendizagens visíveis, significativas,
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to different contexts. Nourished by Inácio of Loyola spirituality, the PIP has its raison d'être in Spiritual Exercises (SE) and its dynamic, with its five moments, are propositions for visible, meaningful, integral and integrating lear-
integrais e integradoras; recursivas e não lineares e,
do estilo pedagógico que nos move.
ning; recursive and non-linear and, as an Ignatian Integral Learning Center, the educational project of Colégio Medianeira wants to propose, with ever greater innovation, the interrelationships between learning and the transformative potential of the pedagogical style that moves us.
Como Centro de Excelência, nossa ação formativa propõe práticas de mediação e acompanhamento das aprendizagens no intuito de estimular o/a estudante a transformar-se em sujeito do seu próprio desenvolvimento, sensível às várias manifestações da vida; cuidadoso/a no reconhecimento do acorde uníssono das existências e das inteligências que gritam, por vezes inaudíveis, à insensibilidade da razão humana.
As a Center of Excellence, our formative action proposes practices of learning mediation and monitoring in order to encourage students to become subjects of their own development, sensitive to the various manifestations of life; careful to recognize the unison chord of existences and intelligences that cry out, sometimes inaudible, to the insensitivity of human reason.
Com uma concepção educativa criadora e poten-
(TORRA, 2023).
With a creative and powerful educational concept, Ignatian pedagogy is viscerally intertwined with praxis, with action. Within the paradigm's own dynamics, excellence (academic and human) is found at the point of contact between what the student does (action) and what he has learned through understanding (reflection) on the context, driven by empathy (experience) and responsive to current challenges, capable of proposing creative and compassionate solutions to build a more inclusive, socially fair and ethical society, significantly working in the context in which he is (TORRA, 2023).
A prática transformadora, premissa do Paradigma Pedagógico Inaciano, privilegia momentos e tempos não lineares de aprendizagens, quando os/ as estudantes trabalham, constroem conhecimento e aprendem na interconexão com outros sujeitos. A raiz inovadora dos cinco operadores contidos na dinâmica do Paradigma evidencia e oportuniza o exercício transformador, por meio da experiência educativa promovida dentro e fora do espaço escolar, de maneira ativa, consciente e contextualizada.
Transformative practice, a premise of the Ignatian Pedagogical Paradigm, favors non-linear moments and times of learning, in which students work, build knowledge and learn in interconnection with other subjects. The innovative root of the five operators contained in the paradigm's dynamics highlights and provides the opportunity for transformative exercise, through the educational experience promoted inside and outside the school space, in an active, conscious and contextualized way.
A inovação vinculada ao modelo pedagógico inaciano está em proporcionar, intencionalmente, o desenvolvimento de habilidades aprendentes para a desnaturalização das raízes das injustiças sociais e da atuação competente dos/das estudantes, onde estiverem, mas sempre referenciados nos valores evangélicos. Assim, no Centro de Aprendizagem Integral Inaciano Medianeira, o/a estudante, ao aprender fa-
The innovation linked to the Ignatian pedagogical model relies on intentionally providing for the development of learning skills to uproot social injustices and for students to work competently wherever they are, but always based on Gospel values. Thus, at the Medianeira Ignatian Integral Learning Center, students learn by working with the teacher’s mediation and
como Centro de Aprendizagem Integral Inaciano, o projeto educativo do Colégio Medianeira quer propor, com cada vez maior inovação, as interrelações entre as aprendizagens e o potencial transformador
te, a Pedagogia Inaciana entrelaça-se visceralmente à práxis, à ação. No conjunto da dinâmica própria do Paradigma, as excelências (acadêmica e humana) encontram-se no ponto de contato entre o que a/o estudante faz (ação) com aquilo que aprendeu por meio da compreensão (reflexão) sobre o contexto, movido pela empatia (experiência) e responsivo/a aos desafios atuais, capaz de propor soluções criativas e compassivas na construção de uma sociedade mais inclusiva, socialmente justa e mais ética, atuando significativamente no contexto em que está
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Estudantes de teatro do Colégio Medianeira
zendo com a mediação e proposições do/a professor/a, desenvolve projetos em vista da resolução consciente de problemas complexos, gerando saberes, métodos e técnicas promotoras de novas aprendizagens. Nesta interação entre os operadores presentes no PPI
(contexto-experiência-ação-reflexão-avalia-
ção) e as metodologias ativas, algumas interfaces se apresentam e outras se consolidam:
proposals, developing projects to consciously solve complex problems, generating knowledge, methods and techniques that promote new learning. In this interaction between the operators of IPP (context-experience-action-reflexion-assessment) and the active methodologies, some interfaces are introduced and others are consolidated:
- Contexto: é onde as dimensões do/a estudan-
- Context: it is where the student’s dimen-
te estão plenamente empenhadas para a solução dos
sions are fully committed for the solution of real
problemas reais. Por isso, o modelo prático de aula
problems. For this reason, the practical class-
mobiliza os/as estudantes: (i) para fazerem perguntas
room model mobilizes students: (i) to ask deep
profundas e sensíveis; (ii) para identificarem a rele-
and sensitive questions; (ii) to identify the re-
vância do conhecimento e sua importância acerca das
levance of knowledge and its importance from
muitas perspectivas do aprender integral; (iii) para a
many perspectives of integral learning; (iii) to
construção ativa das aprendizagens e a leitura crítica
actively build learning and critically read local
de problemas locais e globais, oportunizando tempo
and global problems, providing time and space
e espaço para o/a estudante visibilizar e transferir suas
for students to visualize and transfer their lear-
aprendizagens, aplicando-a de modo teórico ou práti-
ning, applying them in a theoretical or practical
co, em outros espaços e contextos.
way in other spaces and contexts.
- Experiência: (i) mobiliza a razão (cognitivo) em
- Experience: (i) it mobilizes reason (cogniti-
unicidade com o socioemocional e o espiritual-religio-
ve) in unicity with the socio-emotional and spiritu-
so; (ii) exercita a empatia e permite ao educando ser
al-religious; (ii) exercises empathy and allows the
protagonista nas soluções propostas sobre os proble-
student to be a protagonist in the proposed solu-
mas humanos, além de ser ativo na sua aplicação (te-
tions to human problems, as well as being active
órica ou prática).
in their application (theoretical or practical).
- Ação: impulsiona a experiência na relação com
- Action: boosts experience in relation to the
o contexto, assim: (i) possibilita a construção cola-
context, thus: (i) enable the collaborative cons-
borativa de soluções inovadoras para resolução de
truction of innovative solutions to solve multifa-
problemas multifacetados de efeitos locais e globais
ceted problems with interconnected local and
interconectados. Esta construção passa pelo saber
global effects. This construction involves know-
comprometido com a justiça e com o espírito crítico,
ledge committed to justice and critical thinking,
sempre referenciado nos valores de vida, pois, (ii)
always based on life values, because it (ii) em-
empodera para solucionar; (iii) instiga a colaboração
powers in order to solve; (iii) instigates collabo-
para transformar; (iv) motiva a aplicação da aprendi-
ration in order to transform; (iv) motivates the
zagem para inovar.
application of learning in order to innovate.
- Reflexão: operador essencial do processo de formulação pessoal do conhecimento e do protagonismo para a ação consciente e intelectualmente profunda, possível em todas as etapas da vida formativa das crianças e jovens: (i) promove profundidade Intelectual (no âmbito do cognitivo, do espiritual-religioso e do socioemocional), articulando à capacidade de transformação e a aprendizagem pela prática social; (ii) viabi-
- Reflection: essential operator in the process of personal formulation of knowledge and protagonism for conscious and intellectually profound action, possible at all stages of the formative children and young people’s lives: (i) it promotes intellectual depth (in cognitive, spiritual-religious and socio-emotional scopes), articulating the capacity for transformation and
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liza a autocompreensão para a aprendizagem ativa, isto é, constrói significado junto com o/a estudante acerca do que aprendeu (conceito); do como aprendeu (metacognitivo) e do por que aprendeu (transformação pessoal); (iii) oportuniza um processo de interiorização da aprendizagem (consciência crítica e discernimento). - Avaliação: tem seu sentido de ser na condição de busca permanente pela excelência. Por isso, num Centro de Aprendizagem Integral Inaciano, a avaliação toma lugar epistemo-formativo, ou seja, (i) avaliar a aprendizagem expressa o intuito de; (ii) avaliar para e com a aprendizagem, em vista de gerar; (iii) mais e melhores aprendizagens, mirando a excelência. Nas relações teórico-práticas entre metodologias inovadoras e ativas e o PPI, entendemos este como uma fonte inspiradora de inovações, pois desinstala a razão calculante, potencializando-a em direção à sensibilidade do saber comprometido, significativo e transformador. Sua aplicação consciente e intencional nos move para a consolidação do Centro de Aprendizagem Integral e Inaciano, como presente e futuro de um projeto educativo situado e comprometido com as pessoas, com o mundo e com o conhecimento. Portador de esperança, o Centro de Aprendizagem Integral Inaciano Medianeira se mantém fiel aos valores educativos da Companhia de Jesus e quer continuar a responder, com muito protagonismo, aos desafios deste tempo. Ao entrelaçar saberes, unir vidas e inovar em aprendizagens, seguimos a edificar colaborativamente uma sociedade onde os encantos do sabiá e toda vida por ele inspirada sejam tesouros do conhecimento humano assimilado, sentido e, igualmente, admirado.
learning through social practice; (ii) it enables self-understanding for active learning, which is, it builds meaning along with the students regarding what they have learned (concept); how they learned (metacognitive) and why they learned (personal transformation); (iii) it provides an opportunity for a process of internalizing learning (critical awareness and discernment). - Assessment: it has its meaning in permanent search for excellence. Therefore, in an Ignatian Integral Learning Center, evaluation takes an epistemic-formative role, i.e. (i) evaluating learning, expressing the intention to; (ii) evaluating for and with learning, in order to generate; (iii) more and better learning, aiming for excellence. In the theoretical-practical relationship between innovative and active methodologies and the IPP, we see the latter as an inspiring source of innovation, since it uninstalls calculating reason, empowering it towards the sensitivity of committed, meaningful and transformative knowledge. Its conscious and intentional application moves us towards the consolidation of the Center for Integral and Ignatian Learning, as the present and future of an educational project that is situated and committed to people, the world and knowledge. As a bearer of hope, Medianeira Ignatian Integral Learning Center remains faithful to the educational values of the Society of Jesus and it wants to continue responding with great leadership to the actual challenges. By interweaving knowledge, uniting lives and innovating in learning, we continue to collaboratively build a society where the charm of the thrush and all life inspired by it are treasures of human knowledge that is assimilated, felt and equally, admired.
Carlos Torra é graduado em Filosofia e Letras, é Mestre e Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professor da Educação Básica desde 2007, atualmente é membro da Equipe Pedagógica do Colégio Medianeira, exercendo a função de Diretor Acadêmico. comente este artigo | comment this article: comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
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He has a degree in Philosophy and Literature, a Master and a Doctorate in Education from the Pontifical Catholic University. Chief Academic Officer of Elementary Education Teacher since 2007, and he is currently a member of the Pedagogical Team of Medianeira School, working as a CEO.
Indicações Aprender por Refração: um guia de Pedagogia Inaciana do século XXI para docentes. Learning by Refraction: a XXI Ignatian Pedagogical Guide for professors. Johnny GO, SJ; Rita ATIENZA A versão original deste livro, "Aprendendo por Refração", foi publicada em 2018, no 25º aniversário do documento Pedagogia Inaciana: uma Proposta Prática (1993), no qual a Companhia de Jesus promulgou oficialmente o "Paradigma Pedagógico Inaciano" (PPI), destinado principalmente, mas não exclusivamente, às escolas jesuítas. Este trabalho apresenta o desenvolvimento e a aplicação deste paradigma de ensino-aprendizagem para o século XXI. Surge das experiências e reflexões de professores que têm utilizado o PPI em suas aulas ao longo dos anos e incorpora os avanços pedagógicos mais recentes que podem ajudar a pedagogia inaciana a alcançar sua plena capacidade transformadora nos professores e alunos que a utilizam. The original version of this book, "Learning by Refraction", was published in 2018, on the 25th anniversary of the Ignatian Pedagogy document: a Practical Proposal (1993), in which the Jesus’ Society officially promulgated the "Ignatian Pedagogical Paradigm" (IPP), aimed mainly, but not exclusively, for Jesuit schools. This work presents the development e application of this teaching-learning paradigm for the XXI century. It arises from the teachers’ experiences and reflections of teachers who have used the PIP in their classes over the years, and it incorporates the latest pedagogical advances that may help Ignatian pedagogy achieve its full transformative capacity in teachers and students’ who use it.
O Referencial Epistemológico Biocêntrico na Formação de Professores: das convicções docentes às práticas formativas nas licenciaturas. The Biocentric Epistemological Referential in Teacher Training: from Professor Training to teaching practices in undergraduate degrees. Carlos Torra Este livro propõe um exercício necessário e esclarecedor sobre a dinâmica atual na formação de professores, fundamentado em conceitos que expressam práticas de abertura reflexiva ao contexto, tematizando as convicções daqueles que estão na linha de frente da atividade educacional. Romper paradigmas requer problematização, pesquisa e trabalho com práticas desafiadoras. Este movimento contínuo em meio a uma realidade educacional em constante transformação, viva e aprendente. This book brings a necessary and understanding exercise about the current dynamics in teacher training, based on concepts that express practices on reflective opening to the context, thematizing the convictions of those who are on the front lines of educational activity. Breaking paradigms requires problematization, research and working of difficult practices. It is a continuous movement and effort amidst of an opening, learning and alive educational reality.
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MAIS
Amazônia: Por Ketilyn Castro de Almeida
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relação com o outro e com a natureza
SER
uem passa ou passou pelo Colégio Medianeira, sem dúvidas já ouviu falar em “Magis”. Uma palavra pequena, utilizada como adjetivo, que engloba um grande concepção. O termo em latim significa “o mais”, “o melhor”, porém ser Magis não é tornar-se melhor que o outro, mas ser a sua melhor versão, tanto para si mesmo, quanto para o outro, em diversas dimensões. É preciso conhecer esta concepção para entender o Projeto “SER MAIS Amazônia”, porque ele é também uma forma de “Ser Magis”.
Q
A Amazônia é preferência apostólica da Companhia de Jesus no Brasil e o cuidado com a Casa Comum é uma preferência da Companhia Universal. Por isso, a missão é uma iniciativa da Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE), com o objetivo de marcar presença significativa e incidir nesta região de diversas formas. O convite aos estudantes dos colégios da Rede para participar do projeto é para despertar consciência da necessidade de preservação da Casa Comum, para que sejam competentes na defesa da vida, compassivos com os povos tradicionais e comprometidos com a promoção da Justiça Socioambiental. Geograficamente, a Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, ela é também um lugar de grandes riquezas naturais, e só essas duas características já mostram sua importância; mas além disso, a proposta da RJE é a de olhar esse espaço como casa, morada de povos que guardam cultura, tradições e cuidado com a casa comum.
“A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados setores da atividade humana, trabalham para garantir a proteção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão àqueles que lutam, com vigor, para resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo.” (LAUDATO SI Papa Francisco) O P. Agnaldo Duarte, SJ, coordenador do Centro de Formação Cristã e Pastoral, foi um dos líderes do Colégio Medianeira nessa missão. Ele reforça o cuidado com o espaço. “Esse território é solo sagrado de comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, por isso há tanta mística e cultura presentes nas atividades do cotidiano, em como as pessoas vivem, celebram as tradições e expressam a sua identidade. Dessa forma, esses espaços se tornam uma grande sala de aula para os jovens que estão no processo de amadurecimento e que através dessas experiências saem de sua zona de conforto e aprendem a tomar decisões conscientes que impactarão nas futuras gerações. Saem de uma realidade de isolamento e de uma cultura individualista e aprendem a pensar em quem está no seu entorno e nas suas necessidades. Cuidar da casa comum é pôr toda vida do planeta diante dos nossos olhos com muito respeito, atenção e cuidado”, lembra o Padre.
Para a primeira participação do Medianeira no Projeto “Ser Mais Amazônia” foram escolhidos quatro estudantes que cursavam a 1ª e a 2ª série do Ensino Médio: Heloisa Gbur, Milena Muller, Pedro Farias e Rafael Corsi. As escolhas foram feitas com a parceria da Supervisão Pedagógica (SOP) com a Pastoral e a Direção, levando em conta o trabalho ativo desses jovens com atividades relacionadas ao “ser Magis” e a excelência acadêmica. Os quatro passaram nove dias imersos em comunidades da Ilha do Marajó no Pará, como Aranaí, Chipaiá, Bacuri e Camará.
É tempo de encontrar o outro O processo de encontro com o outro iniciou dentro dos muros do Colégio, quando quatro estudantes que não se conheciam formaram um grupo para uma missão e acolheram um ao outro para viver essa experiência. E seguiu quando esses mesmos jovens curitibanos encontraram estudantes do Colégio Loyola de Belo Horizonte e, em tão pouco tempo, construíram laços tão fortes que ultrapassaram os mais de mil quilômetros de distância entre essas duas cidades. “Sou uma pessoa muito fechada no meu dia a dia, mas quando eu coloquei os pés em Belém tentei ser diferente, estar aberta a viver a experiência e me aproximar das pessoas que estavam comigo. E quando a gente sai da zona de conforto, se vê em um lugar diferente, com pessoas que até então não conhecia, acaba tendo que aprender a se apoiar no outro, percebe coisas que você
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não vê no seu cotidiano”, comenta a estudante Heloisa. Já sobre respirar ar puro, o padre comenta: “quando chegamos em Marajó, uma grande ilha, com muitos rios e uma biodiversidade rica, isso mexe com a gente. É uma espécie de respirar um ar puro e eu sinto que precisamos disso. Afinal, saímos de uma pandemia, onde fomos impedidos de respirar e tínhamos o desejo de retirar a máscara. Na ilha, conseguimos tirar tudo que impede a respiração, todas as máscaras, e enfim respirar bem”. Muito além do processo de inspiração e expiração do ar, respirar também está no sentido figurado de manter conversas simples do dia a dia, conhecer uma realidade diferente da sua, fazer novas amizades e estar em contato com a natureza. Mas sem esquecer que, apesar das riquezas naturais, essa região tem suas feridas que podem ser observadas, por exemplo, na estrutura precária das escolas e do ensino. Heloisa comenta que a maioria das comunidades não possuem escolas ou a estrutura é tão precária que os moradores pre-
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cisam se deslocar até municípios maiores como Retiro Grande. “A aula acontece apenas no período da tarde, porque há alunos que precisam andar por até quatro horas para chegar até a escola, então eles teriam que acordar muito cedo se as aulas fossem no período da manhã”, comenta.
Viver como se vive lá e contar aqui Em uma viagem de turismo é normal experimentar comidas típicas e conhecer os chamados cartões postais da cidade. Mas a missão “Ser Mais Amazônia” convida a olhar mais de perto, não apenas experimentar o suco do açaí natural, mas ver um açaizeiro de perto, subir no seu tronco e entender a importância dessa árvore para a região e para os seus moradores. Entre dormir em redes, mergulhar nos rios e sentir na pele o calor da região, os jovens conheceram histórias que na volta foram compartilhadas com amigos, familiares e educadores do Colégio, com o intuito de trazer um pouco da Amazônia para mais pessoas.
“Sozinho, aqui de Curitiba, talvez eu não consiga fazer muito para melhorar a realidade dessa região, mas se eu puder conscientizar mais pessoas sobre a verdade deles eu vou fazer. Porque apenas ver uma foto das queimadas no jornal, não dá a proporção do quanto a população de lá sente isso na pele”, lembra Rafael Corsi.
Transformações: relatos dos estudantes Vivemos em um mundo de bolhas sociais e elas ficam ainda mais evidentes com as redes sociais. Ou seja, pessoas que possuem as mesmas vivências, experiências e interesses são unidas por essa semelhança, mas quem é diferente fica de fora. “Todos nós necessitamos de uma origem, de saber de onde somos, mas estar aberto e atento ao outro é importante. Esse tipo de experiência possibilita deixar a zona de conforto por um momento, afastar-se da proteção seja ela financeira, de bens materiais e até dos pais, nesse momento conseguimos mostrar aquilo que realmente somos”, resume o padre.
“Fizemos um trabalho de intercâmbio de informações, levamos um pouco sobre a nossa cultura e aprendemos muito sobre a deles. O Brasil é grande e plural, agora eles também podem falar que conhecem um pouco da região Sul, a partir dos nossos testemunhos", comenta Pedro.
Milena lembra que a falta de informação afeta até mesmo a saúde dessas pessoas. “É normal ver meninas de 15 anos com dois
delas de diversas formas, o que
ou três filhos porque não têm in-
ajuda de voluntários para criar
formação sobre preservativo ou
campanhas de vacinação e doa-
anticoncepcional. Para cuidar das
ção de preservativos, mas ainda é uma ação tímida que não vence a demanda.
crianças, elas acabam deixando de estudar e isso influencia a vida
acontece também em diversos outros locais do país”, lembra. Algumas comunidades possuem
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“Essa vivência me fez sair da bolha, percebi que eles vivem de uma forma simples, porque não faz sentido ter algo além disso, eles não precisam de muito. Isso me fez perceber que damos valor para muita coisa que não tem valor, só por status. Então, na verdade, a bolha maior é a nossa”, opina Corsi. “A experiência na Ilha do Marajó foi transformadora na vida de todos nós, voltamos com um novo olhar diante das coisas e com muitos questionamentos: Quanto tempo do meu dia passo em contato com o mundo ou na tela do meu celular? Quanto
tempo uso as redes sociais preocupado com a minha imagem, ao invés de ajudar quem precisa da minha ação solidária? Que tempo de qualidade tenho para conversas profundas e sensíveis ou o tempo gasto em conversas banais no WhatsApp? A experiência Magis restitui-nos um sentimento de profunda sensibilidade com as diversas realidades encontradas na região norte que nos levam a mudanças de hábitos e a buscar novos meios de cuidado com a casa comum”, conclui P. Agnaldo.
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Ketilyn Castro de Almeida é jornalista, pós-graduada em Mídias Digitais pela Universidade Positivo (UP). Atualmente trabalha no Colégio Medianeira com produção de conteúdo digital.
Indicações Ideias para adiar o fim do mundo | Ailton Krenak | Companhia das Letras Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. Neste livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”.
A vida não é útil | Ailton Krenak | Companhia das Letras Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada “civilização”: consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.
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Aprendizagens visíveis, Visible learning, inspirações para a inspiration for global cidadania global citizenship Projeto promoveu o protagonismo dos jovens com troca de conhecimento entre os estudantes
The project has promoted the protagonism of young people by allowing the exchanging of knowledge among students.
Por/By Ketilyn Castro de Almeida
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s TED Talks conquistaram um público mundial com palestras rápidas e instigantes de pensadores contemporâneos. Com a proposta de espalhar boas ideias, as apresentações ficam disponíveis para todos no canal do YouTube do projeto e de forma gratuita. Mas, tão importante quanto pensar de forma global é conhecer e apoiar iniciativas que acontecem próximas a você, para isso nasceu o TEDx.
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ED Talks have won over a worldwide audience with short, thought-provoking talks by contemporary thinkers. With the aim of spreading good ideas, the presentations are available to everyone on the project's YouTube channel, free of charge. However, just as important as thinking globally is knowing about and supporting initiatives that are happening next to you, and that's why TEDx was born.
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O TEDx é um programa que auxilia instituições a organizarem seu evento de forma local e independente, mas seguindo o modelo de conferência já consolidado do TED. Ou seja, o objetivo ainda é o de compartilhar ideias e inspirar pessoas, mas de forma mais acessível, compartilhando iniciativas locais que podem se tornar globais.
TEDx is a program that helps voluntary institutions to organize their own event locally and independently, but following TED's well-established conference model. In other words, the aim is still to sharing ideas and inspiring people, but in a more accessible way, sharing local initiatives that may become global.
A primeira edição do TEDxColégioMedianeira Youth teve como tema “Aprendizagens visíveis, inspirações para a cidadania global”. Com a ajuda de professores e orientadores, nossos estudantes palestrantes, chamados de speakers, escolheram temáticas que demonstram o respeito à diversidade e à interculturalidade, desenvolvendo uma visão de mundo mais empática.
The subject of the first edition of TEDxColégioMedianeira Youth was "Visible learning, inspiration for global citizenship". With the help of teachers and mentors, our student speakers have chosen subjects that demonstrate respect for diversity and interculturality, developing a more empathetic worldview.
“Realizar um TEDx no Colégio Medianeira surge do desejo de oportunizar novos espaços de divulgação científica aos estudantes. Espaços, inclusive, de alcance global, e que inspirem o jovem pesquisador a falar para o grande público”, comenta Vinicius Soares Pinto, coordenador do setor de Midiaeducação e educador responsável pela organização do evento.
“Caring out a TEDx at Colégio Medianeira arises from the wish to provide students with new spaces for disseminating science. Spaces, including the ones who have a global reach and inspire young researchers to speak to the general public," says Vinicius Soares Pinto, coordinator of the Media Education department and educator responsible for organizing the event.
Para Fabiano Maia, professor orientador do projeto, essa também é uma forma de integração entre os estudantes. Afinal, dessa forma, um jovem do Ensino Médio pode conhecer o trabalho que um estudante do Ensino Fundamental está elaborando, por exemplo. “Conseguimos desenvolver a troca de experiências e olhares sobre diferentes faixas etárias, muitas vezes sobre uma mesma temática, ampliando o conhecimento de cada um deles”, comenta.
For Fabiano Maia, the project's supervising teacher, this is also a way of integrating the students. After all, in this way a high school student can get to know the work that an elementary school student is doing, for example. "We've managed to develop an exchange experiences and views on different age groups, often on the same subject, broadening the knowledge of each one of them," he says.
Estudantes como protagonistas do próprio conhecimento
Students as protagonists of their own knowledge
The protagonism of the students at Colégio MeO protagonismo dos alunos do Colégio Medianeira dianeira is reinforced every day and is part of the Iné reforçado todos os dias e faz parte do Projeto de tegral Formation Project. After all, when children and Formação Integral. Afinal, quando a criança ou o young people take part in the various stages of the jovem participa das várias etapas do próprio processo teaching and learning process themselves, they get a de ensino e aprendizagem tem uma dimensão real real sense of what learning is and understand that this do que é o aprender e entende que essa habilidade Por Mônica Diva Barddal Tonocchi e Danielle Mari Strapassoli ability is with them even outside the walls of the eduos acompanha mesmo fora dos muros da instituição cational institution. de ensino. “A proposta formativa do Colégio Medianeira visa garantir a integração progressiva das várias dimensões do desenvolvimento dos/as nossos/as estudantes, incluindo a cognitiva, socioemocional, ética, política, estética e espiritual-religiosa. Priorizamos o uso de abordagens e métodos inovadores de ensino, empoderando os/as educandos/as para promoverem a transformação social por meio do conhecimento, capacitando-os/as para contribuírem na constituição de uma sociedade mais empática, democrática, justa e colaborativa”, lembra o Diretor Acadêmico, Carlos H. Torra.
"Colégio Medianeira's educational proposal aims to guarantee the progressive integration of the various dimensions of our students' development, including cognitive, socio-emotional, ethical, political, aesthetic and spiritual-religious. We prioritize the use of innovative teaching approaches and methods, empowering students to promote social transformation through knowledge, enabling them to contribute to the creation of a more empathetic, democratic, fair and collaborative society," says Academic Director Carlos M. Torra.
O trabalho de pesquisa está presente no Colégio desde o 6º ano e estimula os jovens a exercitar o senso crítico, a busca pelo conhecimento e a curiosidade. A partir desses trabalhos, muitos estudantes encontraram o tema para suas palestras. Afinal, o TEDx também desenvolve o protagonismo quando coloca o jovem como partícipe na compreensão e explicação sobre determinado assunto.
Research has been part of the school since the 6th grade and encourages young people to exercise their critical sense, their search for knowledge and their curiosity. From these works, many students found the subject for their lectures. After all, TEDx also develops protagonism when it places young people as participants in understanding and explaining a given subject.
“O TEDx surgiu como uma oportunidade para divulgar o trabalho de pesquisa que é desenvolvido dentro de sala de aula e muitos alunos vieram com propostas de temas a partir disso, mas o que me deixou surpreso e feliz é que as propostas tomaram um novo rumo. A partir do momento que eles criaram familiaridade com o tema, tornaram-se referência no assunto e foram muito além na pesquisa, o trabalho serviu como um trampolim para algo maior”, lembra Prof. Fabiano.
“TEDx arose as an opportunity to release the research work that is carried out in the classroom and many students came up with proposals for topics based on this, but what surprised and pleased me was that the proposals took a new course. From the moment they became familiar with the subject, they became reference on the subject and they went much beyond in their research. The work served as a springboard for something greater," recalls Prof. Fabiano. Mediação
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Mas o protagonismo não está restrito às luzes do palco, muitos estudantes também trabalharam na organização do evento. Entre as atividades estão a montagem das palestras, o suporte de som e a captação de imagens e vídeos tanto nos dias de treinamentos quanto no evento.
But the protagonism is not restricted to the stage lights, many students also worked on the organization of the event. Activities include setting up the lectures, providing sound support and capturing images and videos both on the training days and at the event.
Para essa primeira experiência foram selecionados 19 estudantes que cursavam do Ensino Fundamental até os Anos Finais. Para as próximas edições do TEDx a estratégia quer incluir temáticas e participantes ainda mais jovens.
For this first experiment, 19 students, who attended classes at this school since elementary up to the final years, were selected. The strategy for future editions of TEDx is including even younger subjects and participants.
Preparação para o TEDx
Preparation for TEDx
Em março de 2023, o professor Fabiano definiu um planejamento de encontros quinzenais com os estudantes selecionados. Durante esse tempo, eles tiveram treinamentos para desenvolver técnicas importantes para o dia da apresentação. Entre elas estão as estratégias de storytelling, linguagem corporal, presença de palco, entonação de voz, oratória e outras habilidades pessoais voltadas para apresentações de grande impacto. Além disso, eles também assistiram às palestras oficiais do TED para conhecer o formato e aprender como compartilhar suas ideias, e realizaram duas simulações de apresentações.
In March 2023, Professor Fabiano planned fortnight meetings with the selected students. Along this time, they had training to develop important techniques for the day of the presentation. These include storytelling strategies, body language, stage presence, voice intonation, oratory and other personal skills aimed at high impact presentations. Moreover, they also watched official TED talks to get to know the format and learn how to share their ideas, and held two mock presentations.
Fabiano lembra que durante a realização de atividades para desenvolver novas formas de expressão, os estudantes ampliaram seu repertório. “A partir do aprendizado desses treinamentos, duas estudantes optaram em fazer a apresentação não no formato comum de palestra, mas como uma dança artística. O que mostra como eles estão utilizando a oportunidade do TEDx para expressar sentimentos e opiniões”, lembra.
Fabiano recalls that during the activities to develop new forms of expression, the students broadened their repertoire. "As a result of these training sessions, two of the students chose to present the activity differently from the usual lecture format, but as an artistic dance. This shows how they are using the opportunity TEDx opportunity to express their feelings and opinions," he recalls.
Conheça nossos speakers
Get to know our speakers
Os 21 estudantes protagonizaram um dia especial de troca de conhecimento no TEDxColégioMedianeira Youth que aconteceu dia 27 de outubro de 2023. Confira um pouco mais sobre cada um dos palestrantes e suas temáticas:
The 22 students led a special day of knowledge exchange at TEDxColégioMedianeira Youth, which took place on October 27th, 2023. Find out more about each of the speakers and the topics they are going to talk about: Luara Fabro Bohner
Anna Paula Negrello Tema: Aceleração do Pensamento: Inimigos invisíveis da Modernidade Subject: Accelerated Thinking: Invisible Enemies of Modernity Estudante do Ensino Médio, Anna desejava entender como nos autossabotamos em um mundo tão rápido e dinâmico, que também é cheio de oportunidades. Sua palestra foi focada em compreender como as pessoas podem alcançar o sucesso e quais aspectos as impedem de conquistar seus objetivos. A high school student, Anna, wanted to understand how we self-sabotage in such a fast-paced and dynamic world, which is also full of opportunities. His talk was focused on understanding how people can achieve success and what aspects prevent them from reaching their goals.
Antônio Gonçalves Mattos Beltrão Tema: O poder do celular: é possível resistir? Subject: Mobile phone: is it possible to resist? Estudante do Ensino Médio, sua palestra trouxe alguns questionamentos para o público: Será que somos totalmente livres ao fazer escolhas na internet? Se o livre arbítrio existe, ele está presente no mundo virtual? Como podemos fazer para que nossas decisões sejam verdadeiramente nossas? A high school student, his speech raised some questions for the audience: Are really totally free when chosen something on Internet? If free will does exist, is it present in the virtual world? How can we really make our own decisions?
Barbara Castelan Steibel Tema: Estratégias locais que Promovem a Sustentabilidade Subject: Local Strategies that Promote Sustainability Estudante do Fundamental Anos Finais, Bárbara gosta de pensar em formas para ajudar a preservar a natureza. E foi dessa predileção que surgiu sua temática do TEDx, afinal a poluição do planeta e a falta de moradia são problemas que afligem o mundo inteiro. Por isso, projetos de sustentabilidade são soluções para esses dois fatores adversos. Bárbara, a student from fundamental until the final years, likes thinking in ways to help preserving nature. Moreover, it was from this predilection that his TEDx subject arose, after all pollution of the planet and the lack of housing is problems that afflict the whole world. That is why sustainability projects are solutions for these two adverse factors.
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Beatriz Almeida Hadler Tema: O Maravilhoso Mundo da Mente Subject: The Wonderful Mind World Estudante do Ensino Médio, Beatriz acredita no poder das linguagens para o desenvolvimento social, tanto que participa de atividades de dança, artesanato e espiritualidade. Sua palestra foi focada na temática da comunicação de impacto social como meio de articulação da sustentabilidade nas comunidades locais e globais. A high school student, Beatriz believes in the power of languages for social development, so much so that she takes part in dance, craft and spiritual activities. His talk focused on social impact communication as a means of articulating sustainability in local and global communities.
Beatriz Nievola Missau Tema: Integração nacional de refugiados venezuelanos no Brasil Subject: National integration of Venezuelan refugees in Brazil Estudante do Ensino Médio, Beatriz tem profundo interesse pelo estudo dos idiomas, os quais a permitiram – especialmente o espanhol, ter um contato ainda mais direto com populações vulneráveis e perceber a necessidade de maior acolhimento e integração delas na sociedade brasileira. A high school student, Beatriz has a deep interest in studying languages, which have allowed her - especially Spanish - to have even more direct contact with vulnerable populations and realizing the need for greater acceptance and integration of vulnerable people into Brazilian society.
Drieli Cristine Breda Tema: Como a tecnologia, a engenharia e o design podem ter um “S” de sustentabilidade? Subject: How can technology, engineering and design have an "S" for sustainability? A curiosidade pela busca de conhecimento e pelo crescimento pessoal levou a estudante do Ensino Médio a perceber um interesse por resolver problemas de forma prática e misturar criatividade nestas resoluções. Ela compartilhou como a tecnologia, a engenharia e o design podem, em conjunto, ser mais sustentáveis. Curiosity for the pursuit of knowledge and personal growth led the high school student to be interested in solving problems in a practical way and mixing creativity in these resolutions. She shared how technology, engineering and design can together be more sustainable.
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Eduarda Gomes Soffientini Martins Leite e Luna Beatriz Romão Rohsig Tema: Você influencia ou é influenciado? Subject: Do you influence or are you influenced? Através da dança, as estudantes demonstraram como as pessoas são influenciadas pelos sentimentos, pensamentos e hábitos, tanto os próprios, quanto também os de outras pessoas. Through dance, students demonstrated how people are influenced by feelings, thoughts and habits, both their own and those of other people.
Gabriela Muniz Rabito Tema: O futuro começa aqui! Subject: Future starts here! Gabriela aprecia muito a leitura como forma de disseminação de conhecimento e sempre está à procura de algum novo livro. Em seu TEDx, a estudante do Ensino Médio abordou a inserção da disciplina ONU Colegial no modelo do Novo Ensino Médio e suas variadas vertentes na busca pela formação de um cidadão global a partir da realidade local. Gabriela really enjoys reading as a way of disseminating knowledge and is always looking for a new book. In her TEDx talk, the high school student discussed the inclusion of the subject UN Collegiate in the New High School model and its various aspects in the search for the formation of a global citizen based on the local reality.
Gabrielle Ramos Viante Tema: Meninas roseira Subject: Meninas roseira Em seu TEDx, a estudante do Ensino Médio mostrou como a relação mãe-filha influencia nos transtornos alimentares e a visão psicanalítica dessas perturbações. Seu objetivo foi mostrar como os problemas manifestam-se no comportamento humano, para que meninas possam encontrar refúgio e apoio na relação com seus pais. In her TEDx talk, the high school student showed how mother-daughter relationship influences eating disorders and the psychoanalytic view of these disorders. Its aim is to show how problems are manifested in human behavior, so that girls can find refuge and support in their relationship with their parents.
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Maria Julia de Moraes Buturi e Gabriel Magnani Cruz Tema: O caminho até a "perfeição" Subject: The way to “perfection” Os estudantes do Ensino Fundamental palestraram sobre alguns pontos do dia a dia escolar, que são relacionados com criatividade, imaginação, hobbies, múltiplas inteligências e sobre o ambiente escolar, a partir de uma teoria da Nova Escola. O objetivo principal foi motivar e inspirar pessoas a desenvolverem suas habilidades criativas. The elementary school students lectured some of the points of everyday school life, which are related to creativity, imagination, hobbies, multiple intelligences and the school environment system, based on a theory from the New School. The main objective was motivating and inspiring people to develop their creative skills.
Henrique Gonçalves Mattos Beltrão Tema: A arte do WORLDBUILDING: 3 passos essenciais para a escrita ficcional Subject: WORLD BUILDING art: 3 essential steps for fiction writing Estudante do Ensino Fundamental, sua palestra apresentou técnicas para construir histórias, criar cenários e personagens. Ele também mostrou que todos podem utilizar essas estratégias para criar uma narrativa, seja para fazer um conto, um livro ou um jogo de RPG. An elementary school student, his talk presented techniques for building stories, creating scenarios and characters. He also showed that everyone may use these strategies to create a narrative, whether to write a short story, a book or a roleplaying game.
Henrique Salmazo Zavadniak Tema: Descentralização da Informação na Internet Subject: Decentralization of Information on the Internet A rede global conecta-se com grandes monopólios e imensas empresas para obter e compartilhar dados. Por isso, o estudante do Ensino Médio mostrou como transparecer a informação, começando com a de nossos arredores até o nível global. The global network is connected with large monopolies and huge companies in order to obtain and share data. That is why the high school student showed us how to convey information, starting with our surroundings and working up to the global level.
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Maria Fernanda da Rocha Castro, Luara Fabro Bohner e Luiza Campanholi Barbosa Tema: A transição da inteligência humana para a inteligência artificial Subject: Transition from human intelligence into artificial intelligence. As estudantes do Ensino Médio utilizaram como base o trabalho de pesquisa desenvolvido no ano anterior. A pesquisa tinha como objetivo a análise do impacto da internet na maneira como o cérebro humano aprende. Dessa forma, esse TED Talk mostrou como a inteligência humana se transformou em inteligência artificial. The high school students used the research work carried out the previous year as a basis. The aim of the research was to analyzing the impact of Internet on the way the human brain learns. Thus, this TED Talk showed how human intelligence has been transformed into artificial intelligence.
Maria Luiza Goularte Sklaski Tema: As influências invisíveis do dia a dia Subject: The invisible influences of daily life Em 2022, a atual estudante do Ensino Médio participou da Olimpíada Paranaense de Filosofia, na qual apresentou um texto que serviu de base para a produção do seu TEDx. Atualmente, está escrevendo um livro e cursando o itinerário formativo da ONU colegial. In 2022, the current high school student took part in the Paranaense Philosophy Olympics, where she presented a text that served as the basis for the production of her TEDx. Nowadays, he has been writing a book and studying at NU high school.
Sofia Costa Cherubino Dias Tema: Como se infiltrar no mundo da leitura? Subject: How do you enter the world of reading? Estudante do Ensino Fundamental, Sofia falou sobre como se infiltrar no mundo da leitura. No TEDx, ela contou um pouco sobre a sua experiência com a leitura, com o intuito de estimular essa prática em outras pessoas, mas de um jeito criativo e divertido! An elementary school student, Sofia, talked about how to break into the world of reading. At TEDx, she told us a little about her experience with reading, with the aim of encouraging other people to read, but in a creative and funny way!
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Sophia Cruz Zignani Tema: Como um refugiado (não) sobrevive em seu país destino? Subject: How does a refugee (does not) survive in his destination country? A estudante do Ensino Médio sempre gostou muito de geopolítica e história, componentes que a motivaram a fazer parte do projeto do TEDx, trouxe uma apresentação sobre um tema atual: a importância da identidade para refugiados. Pensando na crise dos imigrantes, como são recebidos no Brasil e qual a necessidade de serem reconhecidos aqui. The high school student has always loved geopolitics and history, components that motivated her to take part in the TEDx project, bringing a presentation on a current subject: the importance of identity for refugees. Thinking about the immigrant crisis, how are they received in Brazil and what is the need for them to be recognized here.
Estudantes da Equipe Técnica / Students from Technical Team Gabriel Muntsberg Azevedo Rodrigo Gabriel Moisa Disconzi Pollyanna Faria Molinari Plinio Tortelli Helena Sophia Tremarin de Andrade Rafael Rabuske Corsi Marcelo Leyser Santin Rebeca Andrade Cintra Mercadante Larissa Cristina Alves da Rocha
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Ketilyn Castro de Almeida é jornalista, pós-graduada em Mídias Digitais pela Universidade Positivo (UP). Atualmente trabalha no Colégio Medianeira com produção de conteúdo digital. She is a journalist, specialized in Digital Media (lato sensu) from Universidade Positivo (UP). She currently works at Colégio Medianeira, focusing on digital content production.
Minha experiência no TEDX My experience in TEDX
Por/By Gabriela Muniz Rabito
No início do segundo trimestre de 2023, iniciei minha jornada no TEDx em parceria com os professores Fabiano Maia e Paulo Miguel. Durante todo esse tempo, tive a oportunidade de vivenciar uma experiência única.
At the start of the second quarter of 2023, I began my TEDx journey in partnership with professors Fabiano Maia and Paulo Miguel. During all this time, I have had an opportunity to experience something unique.
Tudo teve início com a escolha do tema, decidi me aprofundar sobre a inserção da ONU Colegial como disciplina do Novo Ensino Médio. Escolhi esta temática, pois as simulações da ONU no ano de 2022 fizeram parte da minha rotina escolar. A partir do momento da definição do tema, iniciei um longo processo de pesquisa, no qual pude aprimorar as habilidades de análise de dados, o que me auxiliou tanto no âmbito acadêmico quanto na vida pessoal.
Everything started by choosing the subject. I decided to go deeper into the insertion of UN Collegiate as a subject at the New High School. I chose this subject because UN simulations in 2022 were part of my school routine. From the moment the subject was defined, I began a long process of research, in which I was able to improve my data analysis skills, which helped me both academically and in my personal life.
Ao longo desse caminho, aprendi não apenas sobre o meu tópico de pesquisa, mas também desenvolvi técnicas de apresentação em público, trabalho em equipe e compartilhamento de ideias. A experiência de preparação para o TEDx foi uma lição de vida que mudou minha visão sobre a educação e a participação da figura do jovem nesse meio.
Along the way, I learned about not only my research subject, but I also developed techniques for public speaking, teamwork and sharing ideas. The experience of preparing for TEDx was a life lesson that changed my view on education and the participation of young people in it.
Espero que minha apresentação inspire outras pessoas a explorarem novas ideias e a se envolverem ativamente na construção de um futuro melhor. Afinal, meu TED Talk foi mais do que uma simples exposição de informações e ideias, mas também um convite à reflexão e à ação. Minha esperança é inspirar outras pessoas a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades.
I hope my presentation inspires others to explore new ideas and get actively involved in building a better future. After all, my TED Talk was more than just an exposition of information and ideas, but it was also an invitation for reflection and action. I hope it inspires other people to become changing agents in their own communities.
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Gabriela Muniz Rabito é estudante da 3ª Série do Ensino Médio do Colégio Medianeira, apaixonada por livros e por culinária. No futuro, pretende seguir na área da saúde. She is a 2nd year high school student at Colégio Medianeira, passionate about books and cooking. In the future, he intends to work in the health sector.
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Orlando Azevedo: photography, music and poetry
fotografia, música e poesia
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Conheça o Sempre-aluno Medianeira que tem mais de 50 anos de produção fotográfica Meet the Medianeira lifelong, which is over 50 years of photography production Por/By Ketilyn Castro de Almeida Mediação 43
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m 1500, uma expedição portuguesa que seguia em direção às Índias encontrou outra terra, afastada da Europa, mas ainda assim com muitas riquezas. É verdade que a história do “descobrimento” do Brasil não foi assim tão simples, clara ou até mesmo justa. Mas o fato é que os portugueses chegaram em uma expedição e encontraram o coração do Brasil. Cerca de 500 anos depois, outro português também percorreu o Brasil em uma expedição para procurar pelo seu coração pulsante. Mas, diferente do ocorrido na primeira viagem, ele o encontrou nos olhos de uma criança que brinca no rio em uma cidadezinha afastada das grandes metrópoles. Orlando Manuel Monteiro de Azevedo nasceu em 1949 na Ilha Terceira em Açores, Portugal. Vive no Brasil desde 1963 e dedica sua vida à fotografia documental. Ele é especializado em expedições e projetos de longa duração, como o mencionado anteriormente, toda essa dedicação resultou em três volumes da obra “Expedição Coração do Brasil: Homem, Mito e Terra”, publicados em 2002 e esgotados nas livrarias.
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n 1500, a Portuguese expedition heading for the Indies found another land, far from Europe, but still with many treasures. It is true that the story of "discovery" of Brazil
was not so simple, clear or even fair. However, the fact is that Portuguese arrived on an expedition and found the heart of Brazil. Around 500 years later, another Portuguese also traveled through Brazil on an expedition in order to find its beating heart. However, unlike the first trip, he found it in the eyes of a child playing in the river in a small town far from the big cities. Orlando Manuel Monteiro de Azevedo was born 1949 in the Ilha Terceira in Açores, Portugal. He has lived in Brazil since 1963 and he devotes his life to documental photography. He specializes in expeditions and long-term projects, such as the one mentioned above. All this dedication has resulted in three volumes of the work "Expedição Coração do Brasil" (Heart of Brazil Expedition): Man, Myth and Earth “Homem, Mito e Terra”, published in 2002 and sold out in bookstores.
Para colocar a expedição em prática, seu grande projeto de vida, Orlando vendeu dois carros para levantar o valor necessário e percorreu cerca de 70 mil km por pequenas cidades brasileiras com a meta de revelar o Brasil oculto à margem. Com apenas um notebook como equipamento, a pequena equipe atualizou o site diariamente com novas imagens e recebeu mensagens de diversas cidades e até mesmo países, como Japão e Austrália. Seria um precursor do que vimos hoje nas redes sociais, mantendo a qualidade de um artista apaixonado pelo seu trabalho.
To carry out the expedition, his great life project, Orlando sold two cars to raise the necessary funds and traveling around 70,000 km through small Brazilian towns with the aim of revealing the hidden Brazil on the fridges. With only a laptop as equipment, the small team updated the site daily with new images and received messages from various cities and even countries such as Japan and Australia. He would be a forerunner of what we see nowadays on social media, maintaining the quality of an artist who is passionate about his work.
“Quem foram os primeiros - os autênticos descobridores do Brasil? Que visão tiveram do território - em que época e a partir de que região? As respostas ainda estão longe de ser conclusivas. Uma coisa, porém, é certa: quanto mais sabem, mais os arqueólogos descobrem quanto ainda falta saber. A complexa e fascinante questão sobre quem foram os primeiros seres humanos a colonizar o que viria a ser chamado de América?” (Brasil uma História - Eduardo Bueno)
“Who were really - the authentic ones - which discovered Brazil? What did they think of the territory - at what time and from what region? The answers are still far from being conclusive. However, one thing is for sure: the more they know, the more archaeologists discover how much there is still to know. The complex and fascinating question on who were the first human beings to colonize what would come to be called America." (Brazil, a History - Eduardo Bueno)
Foto retirada do livro "Mestiço - Retrato do Brasil" (2019)
Foto retirada do livro "Expedição Coração do Brasil: Homem, Terra e Mito" (2002)
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O jornalista Eduardo Bueno, grande pesquisador da história brasileira, escreveu os textos do prefácio do livro “O Mestiço”, finalista do Prêmio Jabuti de 2020. São retratos de brasileiros anônimos, registrados por Orlando, cuja grandeza está na sua mestiçagem, uma síntese do Brasil, em sua diversidade e multiplicidade.
Journalist Eduardo Bueno, a great researcher of Brazilian history, wrote the preface of the book “The Mestizo”, the finalist for the 2020 Jabuti Prize. They are portraits of anonymous Brazilians, recorded by Orlando, whose greatness lies in their mixed race, a synthesis of Brazil in its diversity and multiplicity.
Um retrato de Orlando Azevedo
An Orlando Azevedo’s portrait
Atualmente, Orlando é morador de Antonina, uma pequena cidade litorânea no Paraná, que já teve seus quase 20 mil habitantes retratados pelo artista. “Em quatro anos, eu já produzi 50 mil fotos só usando a câmera do celular, tenho imagens de personagens, figuras e paisagens. Aliás, há pessoas dessa região que eu até já fotografei mais de uma vez”.
Orlando currently lives in Antonina, a small coastal town in the state of Paraná, which has already had its almost 20,000 inhabitants portrayed by the artist. "In four years, I have already taken 50,000 photos just using my cell phone camera. I have images of characters, personalities and landscapes. In fact, there are people from this region that I have even photographed more than once".
Entre suas imagens de paisagens, dentro ou fora de Antonina, a figura da água é sempre presente. “Eu nasci em uma ilha, e quem nasce em uma terra com água para todos os lados sempre quer atravessar o horizonte, ir mais além e depois retornar. A água sempre foi muito presente na minha vida”.
Among his images of landscapes, whether inside or outside Antonina, the image of water is always present. "I was born on an island, and anyone who was born in a land with water all around always wants to cross the horizon, go beyond and then return. Water has always been very present in my life".
Orlando celebra mais de 50 anos de produção fotográfica incansável. Além disso, ele fundou o Museu da Fotografia Cidade de Curitiba, a Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba e ainda teve tempo para se tornar baterista de uma banda de Rock nacional. Mas vamos começar a contar essa história pela fotografia.
Quando ingressou na área como profissional, a sua fiel companheira foi a Leica e seus filmes 35mm. A fotografia digital fica por conta do seu iPhone, que depois de muito tempo em negação, nos dias de hoje também faz parte do seu equipamento de foto.
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Foto: Wager Roger
A mãe era uma pianista de mão cheia, mas as referências artísticas dentro da sua casa não eram vastas como as de tantos outros fotógrafos que conheceram a arte direto do próprio berço. Mesmo assim, aos nove anos de idade, Orlando já ganhava a sua primeira câmera fotográfica, uma Franka. “Eu assumi minha identidade com a fotografia. Não é todo mundo que é convocado para a arte, até porque paga-se um preço por essa convocação e ele é alto”. Orlando Azevedo
Orlando celebrates more than 50 years of non-stoppable photographic production. He also founded Curitiba City Photography Museum, Curitiba City International Photography Biennial
Fotos retiradas do livro "Expedição Coração do Brasil - Paranaguá - Lagamar" (2012)
Afinal, o que realmente importa é o que está por trás do obturador ou da pequena lente do celular: o olhar e a experiência do artista. “O problema de simplificar a fotografia com os celulares é que todo mundo se diz fotógrafo. O ato de fotografar se tornou banal e ele é grandioso”. Orlando lembra que a técnica da fotografia se resume a controlar o obturador, o diafragma, a profundidade de campo e o foco. “Se souber essa base já é meio caminho andado. Por isso que eu não quero mais aprender, minha principal preocupação é desaprender”. O fotógrafo também se apoia em outras áreas para inspirar-se, como música, literatura e, principalmente, poesia, ainda mais se for de autoria de Fernando Pessoa. Quem visita seu ateliê no bairro Mercês surpreende-se com a quantidade de trabalhos realizados. São fotografias que brotam a cada gaveta aberta, que estão penduradas nas paredes, encostadas nas prateleiras, em cima da mesa, nas páginas de livros e por todos os espaços que elas encontrarem para ali estarem. São pessoas fotografadas em cada canto do Brasil e pelo mundo afora, natureza e imagens abstratas. Muitas delas estão registradas em seus treze livros publicados e muitas aparecerão nos próximos treze livros, talvez mais, que ele ainda publicará. São pessoas e paisagens, preto e branco e cor, que dizem muito sem precisar falar, mas também é bom ouvir as histórias que o fotógrafo tem para contar. É a obra do homem que sobrevive mesmo depois do homem, mas Orlando afirma não se preocupar com o depois. “Quando eu não estiver mais aqui, não quero que falem sobre mim ou sobre meus trabalhos. Estamos aqui só de passagem, essa é a realidade,
and he had time to become the drummer in a national rock band. But let's start telling this story through photography. Her mother was a talented pianist, but the artistic references in his home were not as vast as those of so many other photographers, who learned about art straight from the cradle. Even so, at the age of nine, Orlando was given his first camera, a Franka. "I acknowledged my identity with photography. Not everyone is summoned to the arts, even because the person pays a high price for it". When he became a professional photographer, his faithful companion was his Leica and its 35mm film roll. Digital photography is taken with his iPhone, which after a long time in denial, is now also part of his photo equipment. After all, what really matters is what's behind the shutter or the small lens of the cell phone: the artist's gaze and experience. "The problem with simplifying photography with cell phones is that everyone calls themselves a photographer”. “Photographing has become banal to him and it is great". Orlando points out that photography technique come down to controlling the shutter, diaphragm, depth of field and focus. "If you know the basics, you're halfway there. That's why I don't want to learn anymore; actually my main concern is not learning anything". The photographer also relies on other areas for inspiration, such as music, literature and, above all, poetry, especially the ones written by Fernando Pessoa. Those who visit his studio in Mercês neighborhood are surprised by the amount of work
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ninguém leva nada. A pessoa morre e a gente esquece, foi assim com vários nomes importantes do Brasil”. Mas, ao mesmo tempo, é possível notar uma preocupação em categorizar seu acervo, seus próprios trabalhos e os quase 4 mil exemplares de livros que possui em sua biblioteca particular, para que o conteúdo não se perca, para que mais pessoas possam ter acesso a ele. “A fotografia é assim, tem que registrar na hora, aproveitar o momento”. Esse é o seu lema, e deve ser por isso que, entre as milhares de fotos, ele não consiga escolher uma, ou pelo menos algumas, como favorita. “A melhor fotografia é aquela que eu não fiz e guardo na alma e no olhar”. “Cada retrato é uma vida, é uma longa história” Mas a carreira de Orlando não começou com foco no trabalho documental, seu nome também era destaque no mercado publicitário. “Eu abandonei a fotografia publicitária quando percebi que ela é uma mentira. Porque precisamos utilizar as técnicas aprendidas para vender algo que nem sempre é verdade”. Para se manter fiel com a verdade, um dos seus principais focos é extrair o que há de mais puro e sincero no momento de fazer um retrato. “Essa é a prova dos nove, conseguir registrar a essência de quem está na frente da câmera. É algo muito íntimo, precisa ter cumplicidade. Um retrato não mente jamais, ou ele é bom, com expressão e olhar naturais, ou não é, não existe um meio termo”. E para trazer o foco do espectador para traços, olhares e sentimentos, na maioria dos seus retratos, Orlando se abstém da cor. É uma maneira de direcionar o nosso olhar, com poesia e densidade, sem nenhum obstáculo que sobressaia, como a cor da roupa que a senhora fotografada utilizava, por exemplo. Diferente do fotômetro da câmera que mostra a luz ideal para cada imagem, não há uma técnica pronta para fazer um bom retrato. “Cada retrato é uma vida, é uma longa história”, resume Orlando. É por isso que, quando questionado sobre o futuro da fotografia, levando em conta as novas tecnologias como a inteligência artificial, Azevedo deixa o pessimismo de lado e mostra sua esperança. “A gente vive um momento de grande ficção, mas vão sobre-
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he has done. They are photographs that spring out of every opened drawer, which are hung on the walls, leaning against shelves, on the table, on the pages of books and in every space they can find to be there. They include people who are photographed in every place of Brazil and around the world, nature and abstract images. Many of them are registered in his thirteen published books and many will come up in the next thirteen books, perhaps more, which he will publish. They are people and landscapes, black and white and color, which say a lot without having to speak, but it is also good to listen to the stories the photographer has to tell. It is a man’s work, which survives even after the man, but Orlando says he doesn't care about afterwards. "When I am 'm no longer here, I do npt want people talking about me or my work. We are here just passing through. This is the reality; nobody takes anything from here. The person dies and we forget the same has happened with several important names in Brazil." But, at the same time, it is possible to notice a concern to categorize his collection, his own works and the almost 4,000 copies of books he has in his private library, so that the content does not get lost, so that more people may have access to it. “Photography is like that; you have to register the scene at the right time, enjoy the moment”. That is his motto, and that is probably why, among thousands of photos, he cannot choose one, or at least a few, as his favorite. "The best photograph is the one I did not take and I keep it in my soul and in my mind's eye". "Each portrait is a life, it's a long story" But Orlando's career did not begin with a focus on documentary work; his name was also prominent in the advertising market. "I abandoned advertising photography when I realized it was a lie. Because we need to use techniques we have learned to sell something that is not always true." To remain faithful to the truth, one of his focuses is to extract what is most pure and sincere when taking a portrait. "That's the litmus test, to be able to capture the essence of who is in front of the camera. It's very intimate, complicity is really needed. A portrait never lies, either it is good, with
Foto retirada do livro "Expedição Coração do Brasil - Paranaguá - Lagamar" (2012)
viver as poéticas verdadeiras. O Sebastião Salgado, por exemplo, sempre será um grande fotógrafo, independente das tecnologias que surgirem”. Um Sempre-Aluno que descobriu o Rock O ano era 1964, o Colégio Medianeira era dividido entre o Curso Colegial Clássico e o Científico. O primeiro deles era mais focado em filosofia e no estudo de línguas, como latim, espanhol e grego. Já o científico tinha matérias mais direcionadas para ciências e exatas. Foi nesse período que Orlando tornou-se um estudante do Clássico e dividiu as aulas com outros garotos que se tornariam políticos e grandes empresários locais. “Guardo com muito carinho a minha chegada no Medianeira. Entre as histórias engraçadas, está o primeiro dia de aula. Eu fui para o Colégio de terno e gravata, afinal tinha recém-chegado da Europa, esse foi o divertimento dos outros alunos. O ensino era muito rígido, os professores eram mestres no saber e no ensinar e como as turmas eram pequenas, éramos muito unidos”, relembra. Esse mesmo português que hoje tem um quê de paranaense, entre aulas de filosofia e religião, conheceu outros estudantes que, assim como ele,
a natural expression and look, or it is not, there is no middle ground." And to bring the viewer's focus to the features, looks and feelings. in most of his portraits, Orlando refrains from color. It is a way of directing our gaze, with poetry and density, without any obstacles standing out, such as the color of the clothes worn by the lady photographed, for example. Unlike a camera's light meter, which shows the ideal light for each image, there is no ready-made technique for taking a good portrait. "Each portrait is a life, a long story," summarizes Orlando. That's why, when asked about the future of photography, taking into account new technologies such as artificial intelligence, Azevedo puts pessimism aside and shows his hope. "We are living in a time of great fiction, but true poetics shall survive. Sebastião Salgado, for instance, shall always be a great photographer, regardless of emerging technologies”. A lifelong student who discovered rock In 1964, Colégio Medianeira was divided into Classical and Scientific High School. The first was more focused on philosophy and the study of languages
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eram apaixonados por Rock. Poderia ser a história de tantos outros meninos dos anos 60 ou 70 que juntaram uns amigos para formar uma banda de garagem, mas a diferença é que “A Chave” foi um sucesso, apreciada por grandes músicos e até citada como a banda predileta da grande Rita Lee.
such as Latin, Spanish and Greek. Scientific course, on the other hand, was more focused sciences and exact sciences. It was during this period that Orlando became a student at the Classical School and shared classes with other boys who would become local politicians and great businessmen.
Ao lado de Orlando Azevedo estavam Paulo Teixeira, Ivo Rodrigues e Carlão Gaertner, além de Paulo Leminski com algumas participações especiais na composição de letras. Os jovens atuavam na vanguarda da contracultura e andavam de mãos dadas pela Rua XV de Novembro como forma de protesto.
“I treasure my arrival at Medianeira. The first day at school is among several funny stories. I went to school wearing a suit and tie, after all, I had just arrived from Europe. That was fun for the other students. Education was very strict; the teachers were masters of knowledge and teaching and as the classes were small, we were very united," he recalls.
Em 1967, Orlando concluiu o Ensino Médio e retornou a Portugal, para iniciar a graduação em Direito, mal ele sabia que a música tinha ido junto na bagagem. “Eu fiquei sozinho em Lisboa, então eu saía à noite para ouvir Blues. O pessoal da banda insistia para eu voltar para o Brasil, acabei largando tudo e retornando”, lembra. Mais tarde, Azevedo finalizou a graduação em Curitiba. Mesmo nunca trabalhando na área, os ensinamentos de sala de aula sempre os acompanham pela fotografia. “O Direito tem grande relação com as ciências humanas e o meu trabalho é humanitário, afinal eu fotografo pessoas e paisagens, basicamente”.
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Ketilyn Castro de Almeida é jornalista, pós-graduada em Mídias Digitais pela Universidade Positivo (UP). Atualmente trabalha no Colégio Medianeira com produção de conteúdo digital. Ketilyn Castro de Almeida is a journalist, specialized in Digital Media (lato sensu) from Universidade Positivo (UP). She currently works at Colégio Medianeira, focusing on digital content production.
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This same Portuguese man, who is now a bit of a native of Paraná, between philosophy and religion classes, met other students who, like him, were passionate about rock. It could be the story of so many other boys from the 60’s or 70’s who got together with some friends to set a garage band, but the difference is that "A Chave" (The Key) was a success, appreciated by great musicians and even cited as Rita Lee’s favorite band. Alongside Orlando Azevedo were Paulo Teixeira, Ivo Rodrigues and Carlão Gaertner, as well as Paulo Leminski with some special participation in the composition of lyrics. Young people were at the forefront of the counterculture and walked hand in hand down Rua XV de Novembro as a form of protest. In 1967, Orlando finished high school and returned to Portugal to start his law degree. Little did he know that music had come with him. "I was alone in Lisbon, so I went out at night to listen to blues. The band insisted for me to go back to Brazil, so I ended up dropping everything and returning," he recalls. Later, Azevedo finished his degree in Curitiba. Even though they have never worked in the field, the lessons they learned in the classroom have always accompanied them through photography. "Law has a great relationship with the humanities and my work is humanitarian, after all I basically photograph people and landscapes."
A FOME NO
BRASIL:
URGENTE
UM DESAFIO
Por Angélica Matais Laurino e Suzana Fernanda Ferreira de Brito
PROJETO
FOME de
QUÊ?
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o vasto território brasileiro, onde a riqueza cultural e a diversidade natural se entrelaçam, infelizmente, também encontramos uma dura realidade: a persistente presença da fome. A desigualdade social, as disparidades econômicas e as adversidades enfrentadas por muitas comunidades ao redor do país têm como resultado a fome, um problema que persiste como uma ferida aberta na sociedade brasileira. Em um país abundante em recursos naturais e potencial econômico, é uma ironia cruel que a fome ainda aflija uma parcela significativa da população.
justiça e do amor, fundamentados no Evangelho, e sua mensagem ressoa com o compromisso educacional jesuíta. Essa abordagem educacional está firmemente alinhada com a cidadania global, como delineado no documento "Uma Tradição Viva no Século XXI", que estabelece os identificadores globais das instituições de ensino Jesuítas. “A preparação dos estudantes para uma identificação mais profunda com a família humana como um todo, transcendo fronteiras nacionais e grupos sociais”, é um dos pilares desse compromisso, como destacado na página 66 do documento.
Neste contexto desafiador, surge o projeto "Fome de Quê?". Esta iniciativa é uma resposta direta à realidade da fome que afeta todo o Brasil. É uma iniciativa que transcende as paredes da sala de aula, focando na conscientização e no poder da empatia, permitindo que os estudantes experimentem uma realidade diferente daquela que conhecem. O projeto foi concebido a partir da inquietação dos professores do quarto ano, motivados pelo tema da Campanha da Fraternidade de 2023: "Fraternidade e Fome. Dai-lhes vós mesmos de comer!" Nesta campanha, ao destacar a relação entre fraternidade e fome, ecoa a necessidade premente de ações concretas para combater a carência alimentar que assola nosso país.
Assim, o projeto "Fome de Quê?" nasce como uma resposta ao chamado à fraternidade e à ação social, indo além da compreensão da fome. Seu objetivo fundamental é contribuir para a formação dos estudantes, inspirando-os a se envolverem de maneira consciente e solidária na construção de um mundo mais justo. Esta inquietação inicial dos professores desempenha um papel crucial na sensibilização dos estudantes, expandindo perspectivas para além dos limites da escola e incentivando-os a reconhecer sua responsabilidade como cidadãos globais.
N
A Campanha da Fraternidade tem como base os princípios da
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Essa iniciativa tem como missão explorar a complexidade da questão da fome em suas múltiplas dimensões: social, econômica, emocional, política e ambiental. Para atingir esse objetivo, o projeto
oferece uma variedade de oportunidades para aprimorar o trabalho pedagógico, conforme indicado no Mapa de Aprendizagens. Esse mapa não apenas visa à formação da identidade estudantil no contexto jesuíta, mas também à conscientização do papel de cada aluno na sociedade em geral, inserindo-os como agentes históricos capazes de efetuar mudanças. Ao concentrar-se em situações concretas, o projeto explora a dimensão socioemocional por meio da análise da fome em Curitiba, permitindo que os estudantes investiguem ações de combate à fome, projetos sociais e iniciativas solidárias na cidade. O foco especial é dado à Comunidade Vila Torres, a comunidade local, onde os alunos podem compreender que suas ações individuais estão intrinsecamente ligadas ao bem coletivo. Esta dimensão é enriquecida por meio de situações que exigem habilidades de escuta, argumentação, análise e resolução de conflitos, estimulando a capacidade de lidar com diferentes perspectivas. Além disso, a dimensão espiritual-religiosa, baseada na ética cristã do amor ao próximo, é cultivada por meio de recursos visuais como imagens, vídeos e notícias, incentivando a empatia e a compreensão da sacralidade da vida e do planeta. Essa abordagem resulta em atitudes de responsabilidade, solidariedade e engajamento concreto no combate à fome, incluindo a horta solidária, onde os
alunos cultivam vegetais e trocam por itens de cesta básica, e a produção de sabão a partir de óleo reciclado, cujas vendas financiam doações de alimentos. Ao explorar a aprendizagem sobre a fome em diferentes contextos, os estudantes não apenas adquirem conhecimento, mas também expandem seu repertório e desenvolvem pensamento crítico, criativo e comprometido. Isso ocorre por meio de componentes interligados e abordagens científicas, com a integração entre os conteúdos curriculares e o tema central permitindo a construção de conhecimento em áreas como produção, distribuição e consumo de alimentos, desigualdade social, história da alimentação, educação financeira e custos de uma cesta básica. Em resumo, o Projeto Integrado "Fome de Quê?" é uma iniciativa educacional que não apenas aborda a questão da fome em suas várias facetas, como também enriquece a formação dos estudantes, desenvolvendo competências interdisciplinares, éticas e sociais.
AÇÕES DE SOLIDARIEDADE E ENGAJAMENTO CONCRETO Campanha de coleta de óleo usado
Anualmente, o Centro de Educação Ambiental (CEA) realiza uma campanha de arrecadação de óleo usado com o objetivo de promover a preservação ambiental. A professora Letícia Cavichiolo, responsável pelo CEA, destaca que são coletados, aproximadamente, de 200 a 300 litros de óleo, o que tem um impacto significativo na preservação do ambiente, economizando de 4 a 6 milhões de litros de água a cada ciclo de coleta. Os estudantes do quarto ano se uniram com muito entusiasmo a essa campanha, direcionando-a de forma especial para o projeto "Fome de Quê?". A opção foi reutilizar o óleo coletado, transforman-
do-o em sabão. Toda a produção, conduzida pelas próprias crianças, foi vendida pelos estudantes e os resultados da venda foram usados para comprar alimentos destinados às famílias que fazem parte da instituição SOS Vila Torres. Essa nobre iniciativa, enriquecida pela participação ativa das crianças, não apenas evidencia o comprometimento e a criatividade, como também ressalta o potencial transformador que a educação ambiental pode ter na construção de um futuro mais sustentável e solidário.
Educação financeira A integração da educação financeira nas aulas de matemática desempenhou um papel notável no desenvolvimento de nossos alunos, dotando-os de habilidades
Estudantes e famílias participando de atividades do Projeto "Fome de Quê?"
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Atividade da coleta de óleo usado que é transformado em sabão
práticas que lançam luz sobre suas vidas diárias. No entanto, é essencial observar uma perspectiva crítica em relação a essa experiência. Durante uma visita ao Hipermercado, situado nas proximidades do nosso Colégio, as crianças tiveram a oportunidade de explorar a realidade dos variados preços dos alimentos essenciais que compõem uma cesta básica. Essa experiência revelou as disparidades e desafios financeiros que muitas famílias enfrentam. Ao envolvê-los na pesquisa de preços dos alimentos, os alunos calcularam o montante necessário para arrecadar com a venda do sabão a fim de adquirir os alimentos necessários para a montagem das cestas básicas. Essa abordagem não apenas evidenciou a aplicação prática dos conceitos matemáticos, como também estimulou um
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senso de responsabilidade social, capacitando os estudantes a compreenderem como suas habilidades em matemática podem ser empregadas para realizar mudanças positivas em projetos sociais direcionados ao combate à fome.
propósito de cultivar vegetais para trocar com suas famílias. Essa ação tinha como objetivo reunir itens para compor cestas básicas destinadas à instituição SOS Vila Torres, como parte do esforço conjunto para combater a fome nessa comunidade. A liderança na organização da horta com as crianças ficou a cargo da professora Caroline Ribeiro, sendo fundamental para a essência dessa abordagem. Num sistema de rodízio, os estudantes do quarto ano assumiram plenamen-
Horta solidária
te a responsabilidade pela horta,
No âmbito do projeto "Fome de Quê?" e com base em estudos sobre solos, fatores bióticos e abióticos, as crianças do quarto ano se comprometeram com mais uma iniciativa inspiradora: a produção de uma horta solidária, com o
desde a preparação do solo até à colheita. Cada fase do processo foi abordada com entusiasmo e dedicação, começando pela seleção criteriosa das sementes, pelo controle de pragas, até as regas estratégicas, todas contribuindo
para o nosso compromisso com o objetivo final do projeto. Essa atividade vai além do cultivo de alimentos. Ela abraça a solidariedade e o sentido de comunidade. Ao trocar os vegetais colhidos por itens que integrarão as cestas básicas, os alunos não apenas demonstraram seu comprometimento, como também criaram um ciclo de auxílio mútuo e apoio. A essência do projeto "Fome de Quê?" permeou cada passo dessa jornada, ligando conhecimento acadêmico a uma ação concreta e impactante. O coração desse esforço reside na colaboração com a instituição SOS Vila Torres. As cestas básicas resultantes dessa empreitada não foram apenas pacotes de mantimentos, mas símbolos tangíveis de
esperança e cuidado. Ao canalizar seus esforços para ajudar a combater a fome em sua comunidade, as crianças mostraram um entendimento profundo da importância da fraternidade e da ação social. Assim, o projeto "Fome de Quê?" dá origem a uma bela jornada em que as crianças do quarto ano não apenas adquirem conhecimento sobre solos e ecossistemas, como também internalizam valores de solidariedade, responsabilidade e compaixão. Com mãos na terra e corações comprometidos, eles estão provando que mesmo os gestos mais simples podem ter um impacto duradouro na luta contra a fome e na construção de um mundo mais justo.
Angélica Matais Laurino é pedagoga e professora responsável pelo componente de Matemática do 4º ano do Ensino Fundamental I. Especialista em Educação Infantil e Fundamental I (Faculdades Integradas Espírita) e em Inovação e Tecnologias na Educação (UTFPR). Atualmente, é professora regente do 4º ano. Suzana Fernanda Ferreira de Brito é pedagoga e professora responsável pelo Núcleo de Ciências Humanas no 4º e 5º ano do Ensino Fundamental I. Especialista em Gestão e Orientação Escolar (UNIBAGOZZI) e Psicomotricidade Relacional (CIAR). Atualmente, é professora regente de 4º ano e professora do Núcleo de Humanas.
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Indicações Torto Arado | Itamar Vieira Junior | Todavia Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.
Sem Gentileza | Futhi Ntshingila | Dublinense Em meio ao apartheid, nos guetos da África do Sul, mãe e filha precisam sobreviver em um ambiente marcado pela pobreza e pelo medo da aids. Este romance traz uma história de superação de cruéis adversidades, mas também conta a trajetória de libertação pessoal de uma mulher orgulhosa e de uma menina que se torna adulta cedo demais. Diante de uma sociedade machista que tenta anular suas existências, Zola e Mvelo lutam para que suas vozes sejam ouvidas.
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Entrelaçando Cuidado e Educação
A Cultura do Cuidado à maneira Inaciana Por Fabiana Hitomi Ono Ishiruji e Karolina Marianni Vargas
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uidado é a raiz primeira do ser humano, segundo Boff (1999) o cuidado é o que constitui o ser humano, antes que ele faça qualquer coisa, e, se fizer, esta coisa vem acompanhada de cuidado e imbuída de cuidado. Nessa perspectiva, o cuidado é um modo-de-ser essencial, sempre presente e irredutível, é um modo de ser e dar-se a conhecer (BOFF, 1999).
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Assim, o termo Cultura do Cuidado, que nos últimos anos tem tomado grande proporção, provoca-nos a pensar em ações e práticas no ambiente escolar que garantam esse cuidado, ou seja, um ambiente seguro, em que todos se sintam protegidos e livres de qualquer tipo de violência. Um ambiente em que a escuta e as individualidades sejam consideradas. Um ambiente em que cada um, de sua forma, jeito e modo de ser, possa ser valorizado e acolhido. A Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE) acredita que os processos educativos podem ser transformadores de vidas e realidades. Por meio de uma educação que garanta o cuidado de todos e cada um, assim as instituições da RJE têm como um dos seus Princípios e Valores o Cuidado com a Pessoa, ou seja: Postura acolhedora expressa por meio do diálogo e da abertura ao outro, respeitando a dignidade de cada um, de modo que todos se responsabilizem mutuamente e aprendam uns com os outros. Desse modo, agir segundo a perspectiva do cuidado é pressu-
posto da ação formativa integral das Instituições Jesuítas. O Colégio Medianeira como instituição educativa da Companhia de Jesus tem como compromisso garantir que toda sua comunidade educativa sinta-se protegida e segura no espaço escolar. O Colégio Medianeira tem, em sua essência, a missão de cuidar. No decorrer das nossas práticas, não apenas cuidamos, mas ensinamos o cuidado consigo, com o outro e com a Casa Comum. Valorizamos as relações, o respeito e a dignidade humana, crendo que amor, acolhimento e responsabilidade são pilares para uma vida mais justa e saudável. Corrobora com esse conceito: O cuidado envolve questões intrínsecas e extrínsecas em torno do ser humano. Somos convidados/as a estimular o cuidado no contexto da escola, a fim de desenvolver a cidadania e autonomia dos/as estudantes, o ato de cuidar emana a necessidade de comprometimento e confiança, para assim desenvolver um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado. O cuidado deve ser um princípio indissociável nas ações pedagógicas, que nos leva a contemplar a realidade dos/as alunos, compreender seus tempos e espaços, e suas demandas de vida. (DICIONÁRIO DO PACTO EDUCATIVO GLOBAL, 2021, p. 59). Outra característica que revela o nosso modo de proceder em relação à Cultura do Cuidado refere-se à promoção da escuta e diálogo com todos os sujeitos da Comunidade Escolar, seja nos atendimentos às famílias, nas reu-
niões pedagógicas com professores e na resolução de conflitos com estudantes. Além disso, existem estratégias intencionalmente elaboradas para qualificar as relações interpessoais, e podemos citar como exemplo o Grupo Focal de Pais, Grupo de Reflexão, Assembleias, Aulas de Formação Cidadã e Atividades Formativas, com vistas ao fortalecimento do sentimento de pertença, adesão e a corresponsabilidade dos educadores e educandos. Como resposta aos compromissos e desafios apostólicos atuais, a Província do Brasil da Companhia de Jesus, por meio da Fundação Fé e Alegria (FeA) e da Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE), lançou em 2020 a Política Interna de Proteção aos Direitos da Criança e do Adolescente, decorrente da exigência de uma nova política de cuidado e de solidariedade, que promova e proteja a integridade e salvaguarde os direitos de crianças, adolescentes e pessoas em situação de vulnerabilidade. Como parte da política de proteção está o cuidado permanente contra toda e qualquer forma de abuso. À vista disso, foi instituído em todas as unidades da RJE uma Comissão Permanente do Cuidado, composta por um professor, psicólogo, gestor, representante do serviço jurídico e do serviço de comunicação (POLÍTICA INTERNA DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2020, p. 5). A Comissão do Cuidado do Medianeira tem como objetivo garantir a promoção da Política
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Interna de Proteção aos Direitos da Criança e do Adolescente, por meio do trabalho preventivo, a fim de assegurar um ambiente seguro e sadio para todos. Deste modo, a Cultura do Cuidado abarca as dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa. Os aspectos-chaves para essa abordagem, incluiem: • Discernimento: A pedagogia inaciana enfatiza a importância de ajudar os estudantes a discernir suas escolhas e caminhos de vida. Isso envolve ouvir atentamente suas preocupações, desafios e aspirações, auxiliando-os a tomar decisões informadas e alinhadas com a construção de mundo mais justo, reconciliado, fraterno e solidário. • Cuidado com a pessoa: Os educadores inacianos buscam estabe-
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lecer um relacionamento próximo com os estudantes, conhecendo suas histórias, necessidades e potenciais. Isso permite um acompanhamento mais individualizado, assertivo e cuidadoso, em que os educadores podem oferecer orientação, apoio socioemocional e encorajamento conforme contexto social. • Formação integral: A cultura do cuidado reconhece que a educação vai além do desenvolvimento acadêmico. Os educadores inacianos se preocupam com o crescimento cognitivo, socioemocional e espiritual-religioso dos estudantes, trabalhando para criar um ambiente que promova essa formação integral. • Amor e Serviço: A pedagogia inaciana baseia-se na crença de que cada indivíduo é criado à
imagem e semelhança de Deus, e, portanto, merece respeito e cuidado. Esse princípio orienta a interação entre educadores e estudantes, promovendo um ambiente de confiança e empatia. • Serviço aos outros: A cultura do cuidado inaciano também enfatiza a importância de desenvolver uma consciência social e um compromisso com o serviço aos outros. Os educadores buscam inspirar os alunos a se tornarem cidadãos conscientes e compassivos, capazes de contribuir positivamente para a sociedade. Agir segundo o cuidado, no Colégio Medianeira, é garantir atenção e zelo aos nossos estudantes, considerando-os como indivíduos únicos e valiosos. Trata-se de cuidar da pessoa, porque ela é sempre o centro da nossa
ação educativa, e, ao mesmo tempo, garantir o alcance dos resultados nos processos que são nosso compromisso institucional com estudantes e famílias (PEC 75, 2021, p. 50). Essa abordagem vai além da simples transmissão de conhecimento, buscando criar um ambiente de aprendizado onde os estudantes se sintam respeitados, apoiados e estimulados a crescer em todas as dimensões do aprender. Portanto, além do aprendizado acadêmico, a pedagogia inaciana busca formar pessoas integrais, capazes de discernir valores, tomar decisões éticas e contribuir para o bem da sociedade. Isso implica em uma abordagem
complexa que considera as três dimensões da aprendizagem. O cuidado vai além do ensino de conteúdos acadêmicos, ele envolve a formação integral, com o intuito de enfatizar o desenvolvimento da consciência social e um compromisso com o serviço para os demais. Os educadores buscam inspirar os estudantes a se tornarem cidadãos competentes, conscientes, compassivos, comprometidos e criativos, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e solidária. Nesse contexto, a palavra cuidado, segundo o Dicionário do Pacto Educativo Global, “engloba o conceito de cuidar, pertinente à condição humana. Cuidar e ser
cuidado compõe as características do ser humano, cuidado é o suporte para a manutenção humana, onde é possível identificar valores e atitudes que respeitam a vida.” comente este artigo comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Fabiana Hitomi Ono Ishiruji é bacharelada e licenciada em Química pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestra em Química pela UFPR, atuou como professora de Química e Física na Educação Básica e, atualmente, é Orientadora de Aprendizagem do 9º ano no Colégio Medianeira. Karolina Marianni Vargas é psicóloga, especialista em Educação Especial e Inclusiva pela Universidade Positivo. Além disso, é Mestra em Gestão Educacional pela UNISINOS. Atualmente, é orientadora de aprendizagem do 5º ao 7º ano e integrante da Comissão do Cuidado do Colégio Medianeira.
Indicações Patch Adams - O Amor É Contagioso (1998) | Diretor: Tom Shadyac Em 1969, após tentar se suicidar, Hunter Adams (Robin Williams) voluntariamente se interna em um sanatório. Ao ajudar outros internos, descobre que deseja ser médico, para poder ajudar as pessoas. Deste modo, sai da instituição e entra na faculdade de medicina. Seus métodos poucos convencionais causam inicialmente espanto, mas aos poucos conquista a todos, com exceção do reitor, que quer arrumar um motivo para expulsá-lo, apesar de ele ser o primeiro da turma.
Ernesto | Blandina Franco | José Carlos Lollo (ilustrador Editora Companhia das Letrinhas Dizem que este livro é esquisito, que ele tem a capa feia e que é melhor você não ler. Dizem que essa história é mentirosa, e que seu protagonista não é grande coisa. Eu não li ainda, mas todo mundo está falando coisas deste livro, então não vou ler e acho melhor você ficar longe dele também. O que você acha? Às vezes as pessoas dizem coisas sobre as outras sem nem saber direito o que estão dizendo. É o que acontece na vida do Ernesto: ninguém gosta dele, só porque ele não é igual a todo mundo. Nesta história você vai ver o que faz dele tão diferente e pensar: será que ele merece mesmo toda essa solidão?
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MINIMUNDO E SALA HABITAT
Um contexto investigativo para se inspirar um convite ao brincar Por Brunna Hyara Figueiredo e Liane Costacurta Preti
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“A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.” Larrosa Bondía
o criarmos contextos investigativos ou, ainda, “convites para brincar”, envolvemos as crianças de maneira prática e simples em um processo complexo que pressupõe o uso de uma diversidade de materiais manipulativos e que mobiliza as suas múltiplas combinações.
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Os minimundos, enquanto contextos investigativos, são recriações de espaços geográficos com animais e personagens tridimensionais em miniatura que levam as crianças a experimentarem a multissensorialidade e a imaginação, pois esse contexto cria um cenário onde a criança pode transportar sua consciência, projetando ali pensamentos e sentimentos. (DAVIES, 2021). Já a sala habitat, como escolhemos chamar, assemelha-se ao minimundo, ampliado para um espaço além das bacias e caixas. Um espaço como a sala de aula, que se transforma no habitat escolhido conforme o interesse das crianças. E tem como desafio a criatividade para compor esse ambiente integralmente com elementos que o
transformem na temática escolhida, dando espaço ao protagonismo infantil e a viver e aprender dentro desses espaços. Nessa proposta, há uma série de aprendizagens para as crianças, como: imaginação e concentração; vocabulário e habilidades de comunicação; desenvolvimento da coordenação motora fina; inteligência sensorial – emocional e social; persistência e autonomia; compreensão do mundo; criação de jogos, regras e histórias; solução de problemas; experimentação científica e brincar livre. NOSSAS VIVÊNCIAS COM ESSE CONTEXTO INVESTIGATIVO Fevereiro de 2022 - Início das aulas... Hora de pensar, de refletir e planejar a melhor forma de acolher nossos pequenos. Nossas turmas, em especial, apesar da diferente faixa etária (Infantis 2 e 3), têm a mesma característica: primeiro ano na escola, após a pandemia e o isolamento, curiosas e com vontade de explorar o desconhecido, o diferente... Aquilo que não viveram nesse período. Um período tão
longo, mesmo para eles ainda tão pequenos, tão novos! Sentimos a preocupação em olhar para essas crianças de maneira ainda mais sensível e cuidadosa, percebendo seus desejos, mas também suas necessidades e interesses. Um período longo, pois sabemos que essa fase da primeira infância é fundamental e completamente decisiva na formação do ser humano, e suas experiências vividas impactam diretamente em seu potencial ao longo de toda a vida. Planejamos as vivências e os espaços da sala de aula para acolher essa motivação própria das crianças em aprender. O pedagogo italiano Loris Malaguzzi, idealizador do projeto de escolas infantis da região de Reggio Emilia no norte da Itália, sintetiza essa ideia de ambiente preparado, afirmando que: o “ambiente educa” (HOYUELOS, 2020), “documenta as experiências das crianças, seus modos de se organizar, suas memórias, suas projeções tornando visíveis e compartilhadas as suas ações e as suas aprendizagens.” (VANTI; PLASZEWSKI, 2022, P.82)
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Os contextos investigativos, que também se caracterizaram em nossa prática como as “sessões”, onde preparamos espaços de vivências e investigações, são um convite ao brincar, uma inspiração para explorar, experimentar e aprender. E podem ser organizados de diversas e ricas maneiras. Um desses contextos foi a construção dos minimundos. Coincidentemente, ambas as séries (Infantil 2 e 3) planejaram essa experiência, porém de formas diferentes. No Infantil 2, as crianças utilizaram o espaço do solário para a construção de uma praia. Esse movimento surgiu a partir do pedido de uma criança que gostaria que a professora fizesse um mar para sua sereia, o espaço foi ampliado e a sala se tornou o fundo do mar. As crianças já traziam seus repertórios sobre esse ambiente, pois muitas já estiveram lá. Então, a cada novo dia uma nova aventura acontecia e esse espaço era modificado. Um barco de verdade ocupou o centro da sala e ganhou a sua tripulação de marinheiros, capitães, sereias, piratas. As luzes ganharam cor com papel celofane. Pés de pato, bússolas, areia, animais de pelúcia, cadeira de praia e até água de coco... No teto, sombras de animais projetados, e então o oceano tomou
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conta da sala! A biblioteca da turma foi renovada com livros que traziam imagens reais dos animais marinhos e muitas curiosidades da vida e anatomia desses animais, dando espaço à pesquisa e novos conhecimentos. As crianças exploraram a argila, areias, água, tinta, culinárias, massinha, riscantes, mesa de luz, tela de pintura, retroprojetor e projetores, entre outros. Todas as propostas e vivências foram pensadas e elaboradas para que essas aprendizagens se concretizassem de forma significativa e transformadora. Já no Infantil 3, a proposta foi um pouco diferente, explorávamos os 4 elementos da natureza (água, ar, terra e fogo) possibilitando maior experimentação dos pequenos com a diversidade de materiais que a natureza oferece. Fizemos então a proposta da construção/recriação de alguns espaços da vida cotidiana ou habitats reais em pequena escala, com animais e personagens em miniaturas e, claro, os elementos característicos desses espaços, sempre com foco na natureza. As crianças sugeriram os temas que as interessavam (dinossauros, animais da fazenda e construção com tratores e caminhões). Separamos os materiais,
passeamos pela escola procurando outros temas que caracterizassem as criações, como areia, pedras, madeiras, gravetos, terra/lama, folhas, tocos de árvores, água e outros. Levamos todos a um espaço, e dividiram-se em três grupos conforme seus interesses para a construção. Puderam ampliar curiosidades e sentidos, cuidados com os outros e com o meio ambiente, bem como construir noções de um sentimento de pertencimento e respeito para com todos os seres. Foi incrível ver a organização das crianças durante a montagem. Disponibilizamos todos os materiais no centro, e as crianças naturalmente foram separando as miniaturas e levando às caixas. Conversavam e escolhiam o que mais iria compor aquele espaço: “Aqui na fazenda precisa separar os bichinhos! O porco gosta de brincar na lama, sabia? Precisa colocar água na terra, profe! O cachorro pode cuidar de todos os bichos, então ele fica solto. Vamos colocar essas pedrinhas brancas para separar os cavalos?” No espaço dos dinossauros, uma das crianças concluiu que “na época em que viviam não tinha muitas coisas... Era pedra, terra e folhas, porque os dinossauros
comiam folhas”! Quiseram colocar um vulcão que havíamos construído numa experiência e assim fizeram! Já no espaço de construção, quiseram colocar muitas pedras e gravetos para as escavadeiras e tratores. Foram observando os outros espaços e então resolveram colocar muita terra e areia também, “porque a escavadeira precisava cavar, era esse o seu trabalho nas construções”! E assim formaram seus minimundos, com organização, comunicação e trabalho em grupo, levantamento de hipóteses sobre suas vivências e experiências, identificando atitudes MAGIS com a natureza e os espaços comuns, respeitando às ideias uns dos outros e descobriram, por meio das brincadeiras e interações, possibilidades de aprendizagem. Pois para viver
nesses contextos era preciso sair deles, para então voltar com novas problemáticas que logo iriam se transformar em aprendizagens. Atualmente, a proposta chegou ao primeiro ano do Ensino Fundamental, trazendo novas possibilidades e diferentes aprendizagens, integrando os diversos componentes da série. Por fim, concluímos esse artigo trazendo a reflexão de que não basta apenas olhar e escutar os interesses, desejos e necessidades das nossas crianças, é preciso também nos reconhecermos como educadores potentes, que saibam reconhecer sua importância e responsabilidade diante delas. Ocupamos um papel fundamental diante de todos esses contextos e não podemos nunca perder a nos-
sa capacidade de olhar, admirar, inspirar, encantar, pesquisar e dar sentido ao que fazemos! Seguimos refletindo e inspirando, para que a graça e o encantamento nunca se percam de nós. comente este artigo comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Brunna Hyara Figueiredo é professora de Educação Infantil desde 2011. Formada em Pedagogia pela Universidade Santa Cruz de Curitiba e cursando Pós-Graduação em Neurociências, Educação e Desenvolvimento Infantil pela PUC-RS. Atualmente, é professora do infantil 2 Educação Infantil no Colégio Medianeira.
Liane Costacurta Preti é formada em Pedagogia e pósgraduada no curso de Modalidades de Intervenções de Aprendizagens, ambos pela PUC-PR. Atualmente, é professora do 1º ano do Ensino Fundamental no Colégio Medianeira
Indicações A Estética no Pensamento e na Obra Pedagógica de Loris Malaguzzi | Alfredo Hoyuelos Phorte Editora O foco do educador espanhol Alfredo Hoyuelos nesta obra é descortinar a estética educativa do criador da abordagem Reggio Emilia, o educador italiano Loris Malaguzzi. Para tanto, desenvolve três princípios estéticos, isto é, de que a escola é um âmbito estético habitável, de que construir pedagogia é sonhar a beleza do insólito e de que educar implica desenvolver as capacidades narrativas da sedução estética.
A Ética no Pensamento e na Obra Pedagógica de Loris Malaguzzi | Alfredo Hoyuelos Phorte Editora O texto procura esclarecer que Malaguzzi sempre ensinou que as escolas devem estar em contínuo movimento, em contínua evolução com a capacidade de transgredir a si próprias, sem nunca se trair, sabendo acolher os desafios da sociedade e de cada nova criança, a cada momento.
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Bem mais do que medalhas (mas elas podem vir também!) Lembranças olímpicas vestidas de aurinegro de um estudante que gostava de futebol, mas adorava mesmo era a companhia do pai Por Francisco Carlos Rehme
s melhores salas de aula estão lá fora. E como um geógrafo não iria chegar a essa conclusão? Afinal, acreditem: as paisagens com seus telões em 360 graus são mais interativas do que as digitalmente mostradas nas telinhas que nos hipnotizam. Creio que grande parte dos alunos do Medianeira tem no topo do ranking da afetiva memória escolar as apresentações
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musicais na tenda da FLIM ou em alguma quadra do pátio, as noitadas astronômicas para ver a lua e a nebulosa de Órion, aulas de campo na Serra do Mar ou nas cavernas calcárias ao norte de Curitiba... e, é claro, as semanas olímpicas que participou. As minhas lembranças como aluno são muitas. Mas, calma, pouparei seu tempo e respeitarei sua paciência. Contarei apenas
uma, a primeira...afinal a primeira olimpíada a gente não esquece! Em 1975, no quinto ano, entrei no time de futebol. Eu era dos ruinzinhos, por isso, um dos reservas. Verdade seja dita: o time era muito bom (ganhamos o ouro) e me deixaram entrar em todos os jogos, embaixo de sol ou de chuva ... e chovia: era setembro ou outubro. Mas, se fosse em julho, como mais tarde passaram a ocorrer os jogos, também choveria um ou outro dia em nossa curitibritânica cidade. (Menos... menos... há algumas olimpíadas em que o tempo firme tem se segurado quase a semana inteira, num sacro acordo entre Pedro e Inácio, em alguma Tordesilhas dos céus). Mas, a curtição da olimpíada começou alguns dias antes: coube-me a honra (logo eu, um tímido aluno na turma) de escolher o uniforme do time. Fui à loja de esportes que ficava na Ébano Pereira, quase na XV: a Fedato. Ao chegar no setor dos uniformes esportivos, precisava definir a camiseta, calção e meião que nosso time iria jogar. Percebam que ainda não havia uma cami-
seta comum que representasse a turma (no caso a 5ª série B). Cada time de esporte coletivo tinha seu próprio uniforme e as cores variavam para uma mesma turma (um carnaval na primavera curitibana!). Francamente, a escolha não foi tão difícil assim. Fui pego pela emoção da memória. Pasmem: um garotinho de 11 anos já tinha saudades gravadas na memória de apenas 6 anos antes, quando foi com seu pai ao Estádio Belfort Duarte, no Alto da Glória. Pois quando meus olhos distinguiram um uniforme similar ao do ... bem... do JEC, o Jandaia Esporte Clube, não tive outra opção: era esse mesmo! Foi contra o Jandaia que assisti, ao lado do Seu Chico, o meu pai, pelo campeonato paranaense, o meu primeiro jogo de futebol ao vivo, num estádio. A vitória de meu time, no entanto, não me impressionou mais do que o galante uniforme do Jandaia: camiseta listrada verticalmente em preto e amarelo (como o do Peñarol, do Uruguai). Não tive dúvida, era esse mesmo. Mais do que a medalha, o que me fascinou, naquela primeira experiência olímpica no Medianeira,
foi o clima da semana. E acredito que isso é o que mais encanta ainda hoje: o ambiente, o ritual, o espaço e o tempo escolar subvertidos em jogos, vitórias, derrotas (e empates), torcida para a turma, conversas e brincadeiras, cantina... e Pipoteca já há algum tempo! Senti claramente que os laços de velhas amizades se fortaleciam ao mesmo tempo que novos se atavam. Sem saber, vivenciava aquilo que hoje tenho convicção: a pedagogia passa pelo conhecimento de cada ciência, pelas aventuras das descobertas dentro da sala de aula, e também pelos passeios escolares, no Campão (infindável, quando criança), nas quadras e nos palcos. Independente dos resultados, o fato é que no peito batia em sístoles e diástoles mais do que uma medalha de bronze, prata ou ouro. comente este artigo: comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Francisco Carlos Rehme é geógrafo e professor de geografia. Especialista em Geografia Física - Análise Ambiental, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Currículo e Prática Educativa, pela PUC-Rio. Além disso, é Mestre em Geografia, em Dinâmica da Paisagem, pela UFPR. Atualmente, é professor de geografia da 3ª série do Ensino Médio no Colégio Medianeira.
Indicação Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra | Mia Couto | Companhia das Letras O retorno de Marianinho a Luar-do-Chão não é exatamente uma volta às suas origens. Ao chegar à ilha natal, incumbido de comandar as cerimônias fúnebres do avô Mariano - de quem recebeu o mesmo nome e de quem era o neto favorito -, ele se descobre um estranho tanto entre os de sua família quanto entre os de sua raça, pois na cidade adquiriu hábitos de um branco. Aos poucos, Marianinho percebe que voltou à ilha para um renascimento.
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“TREINA o nosso TIME?"
Táticas para o esporte, aprendizagens para a vida. Por Daniel Zanella
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ornalista, editor, escrevinhador de crônicas: desimportâncias. O que sempre quis, mesmo, era um dia passar pela experiência de treinar um time de futsal. Diferentemente do futebol de campo, o futsal me interessou desde pequeno pelo viés matemático, pelo improviso metódico, pelo esforço realizado com inteligência, o jogo como a vida: uma tentativa esforçada de dominar o caos – de suplantar as tristezas. Adendo: decidi logo cedo que este seria um sonho para ser realizado com um time de futsal feminino. Pois bem. Certa vez, Pablo Neruda escreveu que o sonho tem asas terríveis e é feito de um barro obscuro. Em uma madrugada, uma amiga veio com uma conversa sobre a dificuldade de conseguir treinadores para organizar o time dela, alguém que não ficasse xingando na lateral da quadra e parecendo à beira de um surto psicótico. Então veio a proposta: “Treina o nosso time?” Não, amiga, não... Uma coisa é o sonho, outra é a manufatura assustadora da realidade, o barro que se converte em forma. Quase amanhecia. Aceitei. Treino, há mais de dois anos, este time amador de futsal feminino chamado Sem Chance FC, uma homenagem ao folclórico enfermeiro Sem Chance, interpretado por Gero Camilo em Carandiru. Se não me engano, o time foi fundado em 2014, aqui em Araucária, e disputa amistosos e campeonatos na região. Os jogos são semanais e geralmente disputados na Quadra do Pady, nome
do simpático cidadão que também tem um time de futsal feminino na cidade. Tudo tem sido uma experiência fascinante; em certos momentos, é comovente. São aproximadamente dez jogadoras, que se alternam em três perfis: a) aquelas que jogam todos os jogos e colocam rapidamente o nome na lista, b) aquelas que aparecem em um e outro amistoso, com as dificuldades de conciliar trabalho e tempo livre e c) aquelas que somente vão para os campeonatos ou que são contratadas apenas para os campeonatos. Em linhas gerais, o nosso time não é o mais entusiasmado quando se trata de treinar, o que me incomoda, ao mesmo tempo em que me parece lógico: treino é chato, treino é repetitivo, treino é o contrário da felicidade. Também aproveito para contar que o meu perfil, agora, é do técnico que vai para os campeonatos, sobretudo depois que passei a morar em Curitiba. Foram 25 anos morando na cidade mais conhecida como “aquela da Petrobras”. Entendi a missão como um chamado para o conhecimento, e comecei a estudar o jogo, a ver tutoriais, a seguir contas de jogadores e técnicos. Passei também a carregar uma prancheta de controle do número de finalizações, passes errados, assistências e, claro, gols durante os amistosos. Ao lado da fundadora do time, criamos uma espécie de cartilha de convicções, que divido logo abaixo:
1. Participação em treinos e amistosos: é o critério de escalação nos campeonatos a fre-
quência em treinos e amistosos semanais, além da aplicação dos principais conceitos técnicos e táticos ao longo das atividades. Os treinos e os amistosos são ferramentas de avaliação, em que aprimoramos a parte coletiva, vemos virtudes individuais e buscamos testar formações que ressaltem nossas qualidades e escondam nossas deficiências do adversário.
2. Titulares e reservas: não utilizaremos o conceito de time titular. Buscaremos estabelecer rodízio por tempo de quadra de 10 minutos e duas formações com quatro jogadoras, para que cada formação tenha picos de intensidade, tempo de descanso e de receber novas orientações, além de variações táticas. O comportamento positivo das jogadoras no banco também refletirá na escalação das duas equipes. 3. Aplicação defensiva: aplicaremos o padrão de marcação meia-quadra, por zona, nos concentrando em anular o ataque adversário a partir do momento em que a bola entrar em nosso território defensivo. Quando a bola entrar em nosso miolo de zaga, entenderemos que a primeira fase do nosso sistema defensivo caiu. Cada jogadora nossa se ocupará de evitar que a sua marcadora crie jogadas, se movimente sem ser acompanhada, e ainda buscará cobrir outras jogadoras da equipe, dobrando marcações, atrapalhando a adversária que conduz a bola e gerando desconfortos, como chutes com menos espaço, finalizações travadas e diminuições no tempo de decisão de quem está com a
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posse de bola. A marcação pressão alta será utilizada apenas em fins de jogo que estivermos atrás do placar ou em treinamentos para estabelecer posicionamentos de cobertura ou mudanças de ritmo. Não serão toleradas as marcações-torcida (em que a nossa jogadora mais adiantada não participa da ação defensiva), nem retorno lento do ataque após uma bola perdida, assim como reclamações por passe não recebido. Nos laterais em nosso campo defensivo, faremos a marcação-ferrolho, em que todas as jogadoras ficam atrás da linha da bola. Nos escanteios, a marcação é individual, com apoio por zona da nossa marcadora que estiver mais adiantada.
4. Jogo de associação: priorizaremos o passe mais curto, baixo e seguro, no pé, em vez do lançamento longo, alto ou em profundidade. Quem receber a bola precisará ter ao menos duas opções de passe, sem realizar o passe que atravessa de uma ala à outra por ser considerado de alto risco. Em nosso campo defensivo, a meta é sair jogando com apenas dois passes, sendo desaconselhado o drible na faixa 1. Na faixa 2, dribles para a lateral, com menor risco de perda da posse de bola, são boas soluções. No campo ofensivo, mantemos a lógica do jogo de associação, buscando, diante da goleira ou na área adversária, ter sempre uma opção de passe. No scout, a assistência terá sempre peso 2 em relação ao gol, de peso 1. Sempre iremos privilegiar a distribuição de gols. Melhor vencer com 5 jogadoras marcando apenas 1 gol do que com 1 jogadora fazendo 5 gols.
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5. Saída de bola: a equipe terá uma movimentação padrão para o início das jogadas, a partir do momento em que a goleira estiver com a bola na mão para a reposição. Teremos três chamadas de movimentação e que envolvam as quatro jogadoras. A equipe não jogará com pivô fixa. A goleira priorizará o passe no chão e próximo. O passe longo e alto será realizado para as alas em caso de marcação pressão da adversária. Não é aconselhável o lançamento rasteiro no meio de quadra. 6. Jogadas ensaiadas: a equipe terá ao menos três jogadas ensaiadas para escanteio, três jogadas para lateral e três jogadas para cobranças de falta. Cada jogada será executada pensando no posicionamento das adversárias. É importante que as nossas jogadoras tenham capacidade de executar todas as funções das jogadas, mas tenhamos especialistas em cada jogada, pensando em quem tem o melhor passe, a melhor finalização e a melhor movimentação em cada uma das duas formações.
7. Velocidade do jogo: a equipe não acelerará o jogo e buscará uma transição organizada, compacta e simplificada. As cobranças de lateral e de escanteio serão realizadas sem pressa para que todas as jogadoras possam ocupar a posição das jogadas ensaiadas e não seja iniciada a contagem de tempo da arbitragem. Mesmo atrás do placar, a equipe não abdicará da velocidade controlada das ações.
8. Administração de emoções: a equipe buscará não aparentar as emoções negativas durante as partidas, pensando em, assim,
não fortalecer as adversárias. Também evitaremos as reclamações exaltadas entre as jogadoras da nossa equipe, sobretudo quando estivermos perdendo.
9. Arbitragem: a equipe não dirigirá a voz ao árbitro, exceto a capitã, e não terá a prática de reclamar de faltas não recebidas ou de marcações duvidosas. A meta será jogar bem para que a arbitragem não seja um fator decisivo no placar. Caso seja, reconheceremos que não fizemos o suficiente para que a arbitragem não interferisse no jogo. Zanella 10. Provocações:Daniel a equipe é formado em Jornalismo e fundador do não em discussão com jornalentrará RelevO, impresso mensal de literatura adversárias, não responderá pro-É em circulação desde setembro de 2010. mestre e doutorando em Teoria Literária vocações nem fará exaltação de pela Uniandrade. Atualmente na jogadas individuais oué professor agirá de Universidade Positivo. modo desrespeitoso com as ad-
versárias. Em casos de jogos com vantagem elástica para o nosso time, não serão estimuladas jogadas de efeito e sem objetividade, nem comemoração de drible, podendo a ação resultar em substituição da jogadora envolvida. Em casos de jogos em que estivermos perdendo por muitos gols, não serão toleradas jogadas violentas que coloquem em risco a integridade física das adversárias.
11. Importância dos números: a equipe observará o scout dos amistosos e dos jogos oficiais para que possamos entender melhor o nosso volume de jogo, os erros e os acertos de cada partida. As informações dos scouts são um fator decisivo na composição dos dois times principais e permite que saíamos do terreno da impressão do que foi o jogo e discutamos nossas escolhas e momentos dentro de cada partida.
Nestes dois anos, aprendi muitas coisas sobre gente, como:
a) a rodagem de elenco, por
um time de mulheres, mas vocês sabem melhor do que eu sobre as implicações disso.
exemplo, é um gerenciamento
c) As jogadoras me mostraram
constante de expectativas, de
como o senso de competição feminino é mais caloroso, mais inclusivo, que a paixão pelo jogo pode ser realmente coletiva, desprendida. O futsal amador masculino é um trânsito constante de tensões desinteligentes. As mulheres respeitam o jogo.
comparativos. Não se trata apenas de rendimento, de gols feitos, de dias melhores: existe uma linha tênue entre o resultado e a responsabilidade pelo resultado. É um exercício de encaixe com o cronômetro em contagem regressiva, tentando ainda dar minutagem adequada para todas as jogadoras dentro das condições da partida.
b) Pude perceber que a habilidade de comunicação é muito mais importante do que o conhecimento do jogo. A forma respeitosa e educada de falar tem muito mais importância do que o que é realmente dito. Poderia destacar aqui que sou homem à frente de
d) As jogadoras são muito mais generosas quando sentem que alguém se importa com elas. Os jogadores amadores do masculino, parece-me, não consideram a importância dos treinadores na capacidade de execução de seus feitos. Na verdade, a maioria nem aceita ou quer ter técnicos. Assim, é muito satisfatório ver o crescimento técnico, tático, o processo de ouvir e ser ouvido.
No campeonato mais recente, em que fizemos uma campanha abaixo da nossa média – fomos eliminados na primeira fase –, mas competimos de maneira muito digna, endurecendo todos os jogos, um amigo veio, assim, meio de lado, e me contou um segredo que poderia melhorar o desempenho do time: “Tem que gritar com elas, para elas se espertarem. Não pode ser muito bonzinho”. Não sei, não sei: o jogo não é como a vida, uma tentativa esforçada de organização, de controle do acaso, de tentar não perder muitos gols, de tentar não derreter o amor?
comente este artigo: comunicacao@colegiomedianeira.g12.br
Daniel Zanella é formado em Jornalismo e fundador do jornal RelevO, impresso mensal de literatura em circulação desde setembro de 2010. É mestre e doutorando em Teoria Literária pela Uniandrade. Atualmente é professor na Universidade Positivo.
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41 3218 8000 colmedianeira colegiomedianeiractba www.colegiomedianeira.g12.br Linha Verde – Av. José Richa, nº 10546 | Prado Velho - CEP 81690 100 Fone 41 3218 8000 - Curitiba - PR
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