NÚMERO 1 • ANO I ISSN 1808-2564 revista de educação do colégio medianeira
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Diretor Pe. Raimundo Kroth, S.J. Vice-diretor Prof. Adalberto Fávero Coordenador Administrativo e Financeiro Gilberto Vizini Vieira Coord. Comunitário e de Esporte e Cultura Prof. Francisco Alexandre Faigle Coordenação Editorial e Redação Luciana Nogueira Nascimento (MTB 2927/82v) Nilton Cezar Tridapalli Revisão Nilton Cezar Tridapalli Projeto Gráfico e Diagramação Sonia Oleskovicz Ilustração da Capa Luiz Rettamozo Seleção de Imagens Nilton Cezar Tridapalli Sonia Oleskovicz Fotografias Arquivo Medianeira e Levis Litz Colaboraram nesta edição Adalberto Fávero, Angela Cristina Raimondi, Júlio Schneider, Rosiclea Mariano de Camargo, João Carlos de Oliveira, Denilson Schena, Danielle Mari Stapassoli, Martinha Vieira, Edilson Ribeiro, Laryssa Titon, Mauro Michelotto Braga, Vilma Lenir Calixto, Liliam Martinelli, Eliane Zaionc, Suzana Braga Bertassoni, Roberta Uceda Vieira, Elzério da Silva Júnior, Sérgio Luis do Nascimento, Tânia do Rocio Andretta, Luciane Hagemeyer, Leandro Guimarães. (ilustrações) Luiz Rettamozo e Cláudio Kambé. Tiragem 3.500 exemplares Papel Reciclato Suzano 90g/m2 (miolo) Reciclato Suzano 240 g/m2 (capa) Número de Páginas 60 CTP SERZEGRAF Impressão e Acabamento SERZEGRAF EQUIPE PEDAGÓGICA Educação Infantil e Ensino Fundamental de 1ª à 4ª séries Coordenadora Profª Silvana do Rocio Andretta Ribeiro Ensino Fundamental de 5ª e 6ª séries Coordenadoras Profª Eliane Zaionc (manhã) Profª Carolina Queiroz Lopes de Araújo (tarde) Ensino Fundamental de 7ª e 8ª séries Coordenadora Profª Liliam Maria Born Martinelli Ensino Médio Coordenador Prof. Rudi Isidoro Rabuske
ISSN 1808-2564
revista de educação editada e produzida pelo colégio medianeira
Aventura desenhada - os heróis de papel Júlio Schneider .................................................................................................................. 6
Informática Educativa – Desafios e Horizontes Rosiclea Mariano de Camargo e João Carlos de Oliveira ......................................... 12
100 anos da teoria da relatividade Angela Cristina Raimondi ................................................................................................. 15
História: ciência que estuda o passado? Denilson Schena ................................................................................................................ 19
A criança e a pesquisa: a curiosidade como ponto de partida Danielle Mari Stapassoli ................................................................................................... 23
Improviso (mas nem tanto), em versos (mas nem tantos) Martinha Vieira ................................................................................................................... 27
Educação e cultura solidária Edilson Ribeiro ................................................................................................................... 30
Quem é esse viajante, quem é esse menestrel? Laryssa Titon ....................................................................................................................... 34
... E a propósito do Fórum Social 2005... Mauro Michelotto Braga .................................................................................................... 36
Por um olhar investigativo... Vilma Lenir Calixto e Adalberto Fávero ......................................................................... 40
“Nosso cérebro não é xerox” Entrevista com Pedro Demo ............................................................................................. 48
Entre um rosto e um retrato Luciane Hagemeyer ........................................................................................................... 52
Coordenador de Pastoral Prof. Edílson Ribeiro Centro de Espiritualidade Prof. Fernando Guidini Comunicação e Marketing Luciana Nogueira Nascimento Os artigos publicados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião dos editores e do Colégio Nossa Senhora Medianeira. A reprodução parcial ou total dos textos é permitida desde que devidamente citada a fonte e autoria.
Geografia na escola: (re)definindo caminhos Leandro Guimarães ............................................................................................................ 57
Semente de educação entre os empobrecidos Jesús Orbegozo, S.J. ........................................................................................................ 60
Poemas Francisco Carlos Rehme ................................................................................................... 62
BR 476, Km 130, nº 10546 Prado Velho • Curitiba • Paraná fone 41 3262-7511/ fax 41 3264-7272 www.colegiomedianeira.g12.br www.colegiomedianeira.com.br mediacao@colegiomedianeira.g12.br
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Parabenizamos a Diretoria e toda a equipe pela excelente revista. Sugerimos contato especial com o Centro Pedagógico Pedro Arrupe de nossa Província e CEAP e também com a AEC Nacional para uma integração cada vez maior entre nossas edições pedagógicas. Pe. Paulo D’Elboux, S.J. Colégio Santo Inácio Rio de Janeiro/RJ
Quero agradecer pelos exemplares da revista Mediação, que gentilmente nos foram enviados, e parabenizar toda a equipe pela bela publicação. Tratase de uma produção cuidadosa com o seu conteúdo e apresentação. Bem sei do trabalho e do significado de uma iniciativa como esta, o que torna maior ainda minha admiração. Parabéns e uma caminhada de aprendizagem e sucesso. Um abraço, Zulamar Aurélio Coordenadora editorial Presente! revista de educação Salvador/Ba
A Revista do Colégio Medianeira vem mostrar que é possível editar um veículo voltado às informações para o público interno e, ao mesmo tempo, refletir sobre questões do mundo contemporâneo, especialmente voltadas à educação, à arte e à cidadania! Vida longa à Revista! Dulcinéia Tridapalli Jornalista da Justiça Federal do Paraná
Parabéns ao Colégio Medianeira, mais uma vez justificando porque é uma das melhores escolas do Brasil! Parabéns a toda equipe editorial, de redação e comunicação da revista! Arnoldo de Campos Coordenador de Geração de Renda e Agregação de Valor Ministério do Desenv. Agrário Brasília/DF
Por ser jornalista, penso que o Medianeira completou mais um pequeno ciclo com sua recémnascida revista. Para uma instituição que propaga o saber, nada mais adequado que se voltar também à informação, uma forma valiosa de conhecimento. E Mediação é mais, pelo que percebi em sua leitura. É uma ponte que permite aos seus leitores avançar até o outro lado do caminho, para conquistar uma nova margem nessa interminável exploração pela experiência do pensamento humano. Desejo vida longa a Mediação (e espero continuar recebendo exemplares da revista). Marcio Achilles Sardi Câmara dos Deputados Rádio Câmara Voz do Brasil Brasília/DF
O primeiro número da revista Mediação é uma delícia. A produção gráfica é primorosa, de uma elegância irrepreensível. E, claro, há tempos não lia uma reflexão local tão sofisticada e estimulante sobre educação. Em especial, gostaria de parabenizar o artigo sobre a excelência no ensino, que ilumina o caminho que sempre achei imprescindível e necessário para todas as escolas. Faço votos para que a revista tenha vida longa. A cidade precisa. André Tezza Consentino. Publicitário e professor
Fico muito feliz em saber que o Colégio Medianeira está publicando uma revista, cujo objetivo transpassa as paredes da sala de aula ao discutir temas extra-curriculares, tais como cinema, música e literatura. Contudo, pouco valor ela terá se o acesso ficar restrito a apenas os alunos e funcionários da instituição. Desse modo, espero que a “Mediação” ganhe espaço nas bancas e nas casas dos curitibanos. Se continuar com a proposta de provocar ação, propor discussões e reflexões, enfim, construir pontes e derrubar muros, como diz o editorial do primeiro número, tenho certeza de que obterão o sucesso. Mais uma vez, parabéns pelo bom trabalho que fizeram. Abraços. Ricardo Kanayama Ex-aluno do Medianeira e acadêmico de Direito (UFPR)
Recebemos e agradecemos o envio da publicação Mediação.
Agradecemos o envio da Revista Mediação e parabenizamos a todos pela excelente publicação.
Parabenizamos e desejamos que a iniciativa contribua para a constante renovação do processo pedagógico.
Cordialmente,
Parabéns!
Pe. Nelson Lopes da Silva, S.J. Diretor Geral Colégio Loyola Belo Horizonte/MG
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Sou curitibano, moro em Brasília e trabalho no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Sinto orgulho de ser curitibano quando iniciativas como a de lançar Mediação são tomadas. Infelizmente, poucos têm essa ousadia...
Pe. Domingos Mianulli, S.J. Diretor Colégio Antônio Vieira Salvador/Ba
Caro leitor leitor,, escreva para a revista Mediação enviando seus comentários sobre as matérias e artigos lidos aqui. Não deixe de participar participar.. Mande sua mensagem para
nilton@colegiomedianeira.g12.br ou mediacao@colegiomedianeira.g12.br
Antes, o ser humano se engalfinhava com as feras na batalha pela vida. Era matar ou morrer. Para continuar vivo, precisou usar mais do que a força, que era em muitos casos menor do que a de muitos outros rivais. Heureca! Com uma pedra grande usada contra um dos animais, poderia atingi-lo! Depois: quanto mais pontuda fosse a pedra, maior seria a possibilidade de subjugá-lo. Depois ainda: se amarrasse um cabo a essa pedra, a força proporcionada pela alavanca daria mais potência e maior precisão aos golpes, além de ajudar a manter uma distância recomendável. E, aos pouco, o homem foi acumulando conhecimentos e dominando, por meio da inteligência, necessidade e curiosidade, a natureza à sua volta. Veio o fogo, veio a agricultura e veio a domesticação dos animais, veio a construção de habitações, vieram os impérios, vieram as revoluções filosóficas, vieram os satélites etc e tal. Quem assistiu lembra da cena inicial de 2001, uma odisséia no espaço, quando um osso é jogado para cima por um dos primatas e, em slow motion, o osso vai se transformando em uma sonda espacial, ou algo do gênero. O que há ali, naquela cena que dura alguns segundos? Há toda a história da humanidade, movida pela – vamos repetir – inteligência, necessidade e curiosidade do bicho-homem. Sem elas, estaríamos, quem sabe, ainda dentro das cavernas, disputando nossos alimentos no tapa (algo que, vamos e venhamos, infelizmente ainda acontece hoje, às vezes). Houve inovação, houve o tempo em que essa inovação tornouse obsoleta. Mas, a partir dela, o conhecimento se reconstruiu, trouxe novidades que aperfeiçoavam a vida do Homem sobre a terra. E assim foi, e assim é. E assim seja. Por esses e outros motivos, o artigo de capa da nossa Mediação traz o tema da Pesquisa na escola.
Ora, o conhecimento não se constrói nem se renova de forma mágica, sem lastros com o conhecimento já construído. E quem trabalha com o conhecimento já construído e propõe revisitá-lo? Nós acreditamos que esse seja, sim, um papel vital da educação, seja ela infantil, fundamental ou média. Porque não basta transmitir conhecimento e avaliar a repetição. É preciso instigar, reler a aventura humana e reescrever suas páginas. Por isso, falamos de pesquisa em todas as faixas etárias que freqüentam a escola. Por isso também, entrevistamos o professor Pedro Demo. Porque acreditamos que a pesquisa na escola seja a grande oportunidade de fazermos do conhecimento um instrumento de humanização, e não de desumanização, como, infelizmente, vemos por aí. É o espaço da excelência acadêmica visto com os óculos da excelência humana. Porque conhecimento é poder, e ele não é, em si mesmo, do “bem” ou do “mal”. Dele pode nascer a cura de doenças; dele pode nascer a bomba atômica. E qual dos caminhos acima queremos trilhar na escola? A resposta é fácil. Além desse tema central, Mediação traz também diversos artigos de fundo educativo, das mais diversas áreas, da Química aos quadrinhos, da literatura de cordel, do rock e da poesia à informática educativa, da História e da Geografia ao Fórum Social Mundial. Como diz o psicólogo estadunidense Michael Michalko, “quando só se pensa como sempre se pensou, só se vai manter o que sempre se manteve – as mesmas velhas idéias”. As mesmas velhas idéias não devem, obviamente, ser postas na lata do lixo; mas, a partir delas, o conhecimento nasce reconstruído. Boa leitura. E não esqueça: escreva pra gente!
Nilton Cezar Tridapalli
aluno do 2º ano do EM
Mas anda difícil ser sujeito hoje em dia...
Guilherme Souza -
Desde os tempos remotos, o homem busca ser o SUJEITO de sua história...
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Júlio Schneider
Uma das mídias mais antigas que conhecemos são as Histórias em Quadrinhos, ou HQ, para os íntimos. Faça o tempo que fizer, elas estão sempre vivas e renovadas, mesmo com o surgimento das mais novas tecnologias. Afinal, seus enredos, seus desenhos, e os conflitos humanos que elas desnudam continuam capazes de atrair as pessoas e arrebanhar aficionados em todos os cantos do mundo.
TV a cabo, internet, videogames... há não muitos anos, nada disso fazia parte das formas de distração visual da criançada – criançada dos 8 aos 80 anos, mas também dos 7 aos 70, ou com menos ou mais anos de idade. Há não muitos anos havia apenas a TV aberta, o cinema, livros... e gibis! Sim, gibis, aquelas revistas com histórias fantásticas, cheia de imagens em quadradinhos seqüenciais,
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com temáticas ora engraçadas, ora aventurosas, ora de terror... em suma, para todos os gostos. É um material difundido no mundo todo, como o americano comics (“cômico”, porque os primeiros gibis dos Estados Unidos traziam apenas histórias engraçadas), as francesas “bande dessinée” (“tiras desenhadas”), as portuguesas “histórias aos quadradinhos” ou “banda desenhada”, as “strips” (“tiras”) da Europa Oriental, ou os italianos “fumetti” (analogia com os balões de diálogos, que parecem fumacinhas, fumetti). No Brasil, são chamados de “quadrinhos” ou HQ (Histórias em Quadrinhos) ou simplesmente “gibis” (“Gibi”, que significava “moleque”, era uma revista de HQ dos anos 40, e fez tanto sucesso que seu nome virou sinônimo do gênero). Na Europa, HQ é coisa séria, é vendida em livrarias de renome, é discutida em universidades, edições antigas são expostas em museus, teses de mestrado sobre o assunto ajudam a conquistar diplomas, e grandes nomes são leitores confessos. No Brasil, os quadrinhos sempre tiveram leitores ilustres, como Ruy Barbosa e Carlos Drummond de Andrade – sem contar um dos primeiros tradutores de gibis importados, Olavo Bilac – e grandes incentivadores, como Roberto Marinho (que criou várias revistas e uma editora) e Leonel Brizola (quando governador do Rio Grande do Sul quis criar um sindicato para distribuir gibis por todo o país). E autores/atores que levaram aos quadrinhos seus trabalhos, como Chico Anísio, Renato Aragão, Beto Carrero, Ziraldo (o “pai” do Menino Maluquinho), Maurício de Sousa e tantos outros. Muito antes da “era internet”, os verdadeiros instrumentos de globalização foram os gibis, que, ao serem difundidos em vários cantos do planeta e mostrarem a cultura de um país a outro, deixaram nosso mundo menor e, principalmente, mais humano. Existem gibis para todos os gostos como os infantis da Disney (Pato Donald, Tio Patinhas, Mickey); os do Maurício de Sousa (Chico Bento, Cebolinha, Mônica); os “da TV” (Cartoon, heróis japoneses e afins); os juvenis da DC (Batman, Super-Homem, Mulher Maravilha) e da Marvel (Homem-Aranha, X-Men), e há as HQ italianas destinadas ao público juvenil e adulto, que se diferenciam de todas as outras por serem verdadeiros “romances com imagens” em aventuras que literalmente prendem o leitor na poltrona, com tra-
mas inteligentes e com conteúdo. Não é raro ver um leitor, em seu primeiro contato com essas edições, exclamar meio decepcionado algo como “ah, que pena, é em preto e branco”, mas basta folhear meia dúzia de páginas para se sentir vivendo as mais incríveis aventuras, que nada ficam a dever aos melhores romances ou filmes. É justamente na beleza do preto e do branco que reside um dos segredos dessas edições, pois se observa o profissionalismo, a técnica (e – por que não? – eventuais defeitos do desenhista, que por vezes poderiam ser “mascarados” com a colorização). Cada um desses “livros em quadrinhos” garante uma boa hora, hora e meia, de saudável distração e “viagem mental”, afastando-nos da dureza do dia-a-dia. Estes heróis têm em comum o fato de não possuírem superpoderes e, sendo seres humanos como qualquer um de nós, nos fazem sentir mais próximos. São heróis porque, graças à sua inteligência, perspicácia e senso de justiça, fazem prevalecer o certo sobre o errado, nos fazendo imaginar como seria bom o nosso mundo se efetivamente vivessem no nosso meio.
TEX Tex Willer é um Ranger do Texas, e suas aventuras são ambientadas no Velho Oeste, uma terra selvagem e sem lei. Homem íntegro, justo e decidido, não olha para a cor da pele ou para o tamanho da conta bancária dos vilões: corruptos, assaltantes, ladrões, qualquer que seja a categoria do bandido, todos têm que acertar as contas com Tex. Ao se casar com Lilyth, filha do chefe Flecha Vermelha, Tex torna- se o chefe dos índios navajos, após a morte do velho cacique, e ganha o apelido de Águia da Noite, o sábio chefe branco, e, como agente do governo para a Reserva Navajo, cuida para que nada falte à tribo. Tex vive suas aventuras junto ao velho parceiro Kit Carson, com quem protagoniza bate-bocas memoráveis, ao amigo índio Jack Tigre, e ao filho
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Kit Willer. Quatro parceiros inseparáveis, como os mosqueteiros de D’Artagnan. Criado em 1948 pelo romancista Gianluigi Bonelli e pelo desenhista Aurelio Galleppini, o mito surgiu com base nos filmes americanos que invadiram os cinemas italianos após a Segunda Guerra mundial, com as fascinantes histórias de índios e caubóis. Verdadeiro objeto de culto na Velha Bota, seu público se conta na casa do milhão. Ao lado de Mônica e Pato Donald, é um dos personagens mais longevos da editoria brasileira.
ZAGOR Patrick Wilding adotou o nome de Za-gor-tenay (“o espírito da machadinha” em dialeto algonquino) para proteger os índios, manter a paz e combater injustiças na fronteira americana da primeira metade do Século XIX (por volta de 1830). Seu território de ação é a lendária Darkwood, uma região de florestas, montanhas, rios e pradarias, um verdadeiro paraíso das tribos indígenas, mas onde podem ser encontrados todos os tipos e personagens das histórias, lendas e contos aventurosos. De vez em quando, Zagor também viaja por vários cantos do mundo, sempre acompanhado do amigo Chico Felipe Cayetano Lopez Martinez y Gonzales etc., ou simplesmente Chico, um mexicano baixinho, gorducho, bigodudo e atrapalhado, que é quem garante uma boa dose de comicidade às aventuras. Criado em 1961 por Sergio Bonelli (sob o pseudônimo de Guido Nolitta, para não ser confundido com seu pai Gianluigi Bonelli, o criador de Tex) e pelo desenhista Gallieno Ferri, é fruto da paixão de seu criador pela aventura e por seus heróis preferidos, como Tarzan, Fantasma, Batman. Toda a sua epopéia editorial, com desenhos inéditos e capas de todas as edições, foi contada numa revista especial colorida, em 2003, que comemorou seus 25 anos em nosso país.
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MISTER NO Jerry Drake ganhou seu apelido durante a Segunda Guerra, por seu gênio rebelde e inconformado que sempre diz não à violência da chamada civilização. Partiu para a Guerra como idealista, ficou marcado pelos acontecimentos bélicos, voltou como inconformado, e decidiu viver num mundo distante da sua Nova York, indo morar em Manaus. Com uma técnica infalível para se envolver em encrencas contra sua vontade, sempre cercado de amigos e belas garotas, ganha o pão de cada dia como piloto de um Piper – que quase sempre o deixa na mão – levando turistas e as famosas encrencas pelos céus da selvagem Amazônia de 1950. Simpático e imprevisível, tenaz e corajoso, Mister No nunca se rende, e na manga de sua camisa sempre se destaca o trevo de quatro folhas, símbolo da sorte e da fortuna que persegue e da liberdade que busca defender a qualquer custo. Foi criado em 1975 por Guido Nolitta e Gallieno Ferri como um herói “pé no chão”, que vive num lugar feito por pessoas, cenário e culturas reais, a nossa Amazônia. Um dos pontos que impressionam na série é o detalhismo com a História e a Geografia, fruto de muita pesquisa.
MARTIN MYSTÈRE Martin Mystère mora em Nova York, é arqueólogo, antropólogo, perito em arte, colecionador de objetos incomuns e incansável viajante. É chamado de “Detetive do Impossível” porque não investiga casos policiais comuns, mas sim os grandes enigmas que a ciência oficial não explica, como o Triângulo das Bermudas, o monstro do Lago Ness, as pirâmides, os mistérios de Atlântida. Homem
culto e moderno, um dos primeiros personagens de HQ a usar computador, precursor de Indiana Jones, MM une racionalidade e aventura fantástica, caçando a verdade nos vários mistérios que envolvem a história da humanidade – sempre com o parceiro Java, um homem de Neandertal que sobreviveu à extinção. Recentemente inspirou uma série de TV, mas nela o herói foi “rebatizado” para Martin Mystery e tornou-se um personagem juvenil. Criado em 1982 pelo escritor Alfredo Castelli e pelo desenhista Giancarlo Alessandrini, suas histórias são fruto de pesquisas extremamente minuciosas, que por vezes nos deixam em dúvida se os relatos não são mesmo verdadeiros. Não por acaso, a série conquistou grande parcela de seus leitores entre professores universitários e pessoas que amam a leitura e a cultura geral.
DYLAN DOG Dylan Dog tem seu estúdio na Craven Road, em Londres. Sua profissão: investigador do pesadelo! Numa Londres mágica e enevoada, capital do fantástico e do horror, DD investiga nossos medos e desejos, os monstros que existem dentro de nós: fantasmas, magias, estados de alucinação, outras dimensões e esquisitices várias. Dylan investiga os pesadelos de seus clientes com a ajuda de seu assistente Groucho – que, com seu bigodão e as piadas que
dispara sem parar, é a perfeita imagem de Groucho Marx. E um alerta: se você é uma garota bonita, melhor ainda... Dylan Dog se apaixona por todas as suas clientes! Criado em 1986 por Tiziano Sclavi e pelo desenhista Angelo Stano, revelouse o maior sucesso editorial europeu nos anos seguintes, em histórias cujos elementos típicos do gênero horror são usados para representar os males de nossa sociedade.
NICK RAIDER Nick Raider é investigador da Divisão de Homicídios de Manhattan, Nova York, uma cidade violenta onde são cometidos quatro homicídios por hota. Prender os culpados é a missão de Nick. Duro, tenaz, incorruptível e corajoso, ele trabalha com seu parceiro Marvin Brown, investigador negro e piadista, o informante Alfie, o sábio e experiente tenente Art Rayan e todos os homens da Divisão. Foi criado em 1988, pelo roteirista Claudio Nizzi.
MÁGICO VENTO Ned Ellis é um soldado da cavalaria americana, único sobrevivente da explosão de um trem sabotado, que lhe custou uma farpa de metal encravada no cérebro. Para os brancos, é um rebelde, um renegado; para os índios sioux, que o acolheram depois da explosão, é um xamã, um guerreiro e um espírito inquieto. A farpa em seu cérebro apagou todas as
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lembranças de seu passado, mas lhe deu uma extraordinária capacidade de intuir o futuro, por meio de perturbadoras visões e premonições. Poderes que o fazem viver extraordinárias aventuras, sempre prensado entre a cultura branca e a indígena. Um personagem imprevisível como o vento, em viagem para além da última fronteira, aquela entre a realidade e o desconhecido. Criado em 1997 por Gianfranco Manfredi (romancista, autor teatral, roteirista de cinema e de séries de TV, além de cantor e compositor), MV vive suas aventuras num Velho Oeste não muito comum, onde temas épicos do faroeste tradicional se encontram com o fantástico, onde são enfocados fatos históricos e outros que “poderiam” ter feito parte da História. Um dos pontos de destaque é o modo de vida dos índios americanos, que é mostrado de forma real, sem estereótipos, fruto de muitos estudos e pesquisas histórico-geográficas.
JÚLIA Júlia Kendall vive em Garden City, próximo de Nova York. É consultora da polícia e professora de criminologia na universidade. E tem uma profissão especial: é uma criminóloga, especializada numa ciência que estuda o crime em todos os seus aspectos, com base na antropologia, psicologia, psiquiatria, psicanálise, sociologia. O objetivo de Júlia, além de ver os culpados responderem na Justiça, é, principalmente, o de entender (entender, não justificar) o que os leva a agir de forma ilícita, atuando como uma “investigadora da alma”. A sensibilidade feminina com que a heroína se envolve nas mais variadas situações é impressionante, em tramas originais, coerentes e imprevisíveis. Criada em 1998 pelo escritor Giancarlo Berardi, a série
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logo cativou estudantes e profissionais ligados à área do Direito (promotores, juizes, advogados) pela realidade com que o sistema é retratado nos episódios. Durante a preparação da série, o autor freqüentou o Instituto de Medicina Legal de Gênova, na Itália, como observador, e um curso universitário de criminologia.
DAMPYR Harlan Draka é filho de um vampiro e de uma mulher humana, e – como conta uma crença popular dos Bálcãs – isso faz dele um dampyr, um guardião da humanidade contra os Mestres da Noite, uma raça vampírica que não teme cruzes ou a luz do sol. Harlan descobre sua condição – e sua missão – somente depois de adulto e, de sua base em Praga, corre o mundo para descobrir a verdade sobre si próprio, sobre seu pai e sobre seus adversários, numa cruzada contínua com seus dois parceiros: Tesla, uma jovem alemã que foi vampirizada por um Mestre da Noite, e Kurjak, um ex-mercenário sérvio que se cansou das barbáries de guerras que não eram suas e decidiu lutar contra os verdadeiros inimigos da humanidade. Criada em 2000 pelos roteiristas Mauro Boselli e Maurizio Colombo, a série aborda um mito clássico do cinema e da literatura, mas de um jeito novo e sem clichês. Dampyr é um verdadeiro “horror de ação e aventura”, vivido em lugares que existem de verdade e que aborda tradições que realmente fazem parte da cultura de vários povos. Dos velhos bairros de Praga, Moscou, Paris, passando pelos ensolarados desertos africanos e chegando até a América do Sul, todos os lugares são retratados com fidelidade.
Além de suas séries próprias, alguns destes personagens foram reunidos numa publicação especial recém-lançada no Brasil chamada Tex e os Aventureiros. A série bimestral, com mais de 200 páginas, se mostra uma chance excelente para se conhecer (ou rever) alguns dos heróis de uma das maiores editoras da Europa, a Sergio Bonelli Editore (Bonelli Comics), chamada carinhosamente de “Fábrica dos Sonhos de Papel”, cujos títulos são publicados no Brasil pela Mythos Editora, de São Paulo.
Júlio Schneider (tex@texbr.com) é advogado, pai de alunos do Colégio Medianeira, e atua na área editorial como consultor, tradutor e articulista de HQ para revistas e sites da Itália e do Brasil, como o www.texbr.com .
DESVENDANDO OS QUADRINHOS AUTOR:
Scott Mccloud EDITORA M. BOOKS O livro ‘Desvendando os quadrinhos’, de Scott McCloud, utilizando a própria linguagem desse tipo de história, examina a sua forma artística e funcionalidade. De maneira leve e divertida, o autor conta como definir os elementos básicos dos quadrinhos e como a mente processa sua linguagem. A obra aborda, também, a influência do tempo nas histórias, o que acontece entre um quadro e outro e a interação entre palavras, figuras e narração. Além disso, o autor teoriza sobre o processo criativo e suas implicações na arte em geral.
HISTÓRIA EM QUADRINHOS NA ESCOLA AUTOR:
Flávio Kalazans EDITORA PAULUS A obra serve como instrumento fundamental de combate ao preconceito que envolve as histórias em quadrinhos como elemento educativo eficiente. O autor nos mostra que, ao contrário do lugar comum defendido por alguns (de que as chamadas HQs seriam meros meios de entretenimento fácil), é possível utilizar esse recurso como apoio didático, por meio de uma revisão da literatura brasileira ou de apresentação de exemplos concretos – o Projeto “500 Anos da Descoberta do Brasil em Banda Desenhada”, por exemplo. O livro apresenta uma face importantíssima dos quadrinhos no processo educativo e comprova a eficácia no ensino e a excelente aceitação por parte dos alunos.
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Por Rosiclea Mariano de Camargo e João Carlos de Oliveira
A informática, o mundo virtual, a rede de computadores conectada a todo o planeta representam uma ameaça? É necessário proteger-se deles ou dominá-los? A informática entrou sorrateiramente no Brasil e vem hoje se espalhando por amplos segmentos da sociedade, fazendo com que a necessidade de conhecê-la criticamente se torne instrumento da construção de nosso conhecimento.
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O Brasil, nos quinhentos anos de história após a chegada dos portugueses, sofreu um processo de exploração de suas riquezas. Esse processo começou com o pau-brasil, depois o ouro de Minas Gerais, a cana-de-açúcar, a borracha, o café. Hoje temos a soja, o minério de ferro, além da grande invasão de empresas estrangeiras em nossos nichos de produção. Chamamos de exploração, porque na maioria das vezes as riquezas geradas ou foram direcionadas para o exterior ou foram centralizadas em poucas mãos, não resultando no desenvolvimento industrial de nosso país. No início da colonização portuguesa, esse desenvolvimento foi, inclusive, tolhido pela falta de incentivo em nossas terras para a instalação de teares, engenhos e outros processos manufaturadores. “Em fins do século XVI, o Brasil tinha não menos de 120 engenhos, que somavam um capital próximo a
dois milhões de libras, mas seus donos, que possuíam as melhores terras, não cultivavam alimentos. Importavam-nos, como importavam uma vasta gama de artigos de luxo, que chegavam, do ultramar, junto com os escravos e bolsas de sal.”, descreve o escritor Eduardo Galeano, em As Veias Abertas da América Latina. Todo produto tinha de ser importado de outros países, principalmente da Inglaterra. Esse processo continua em toda nossa história pós-descobrimento, influindo em todas as atividades nacionais, agricultura, comércio, indústria e principalmente no nosso caminhar político. Isso nos faz recorrer aos nossos sentimentos mais nacionalistas sempre que nos defrontamos com situações em que se torna evidente a influência externa em nossas riquezas. Assim foi com a exploração do petróleo que levou à criação da Petrobrás: não impediu que grandes empresas estrangeiras (Shell, Esso, Atlantic, Fox etc) dominassem quase toda a distribuição de combustíveis dentro de nossas fronteiras. A partir da década de 80, começamos a nos deparar mais intensamente com uma nova “ameaça”: a informatização. Praticamente tudo o que se refere à tecnologia de ponta relacionada à informática é importado. Mesmo com a criação de uma lei de proteção à informática nacional, que perdurou durante 12 anos, não conseguimos criar uma indústria capaz de competir à altura com as empresas estrangeiras. A nossa primeira reação é a de nos proteger contra essa avalanche estrangeira que está cada vez mais presente em nossas empresas, escolas e lares. Nossa dependência da tecnologia externa nunca foi tão grande quanto hoje. Por outro lado, toda essa tecnologia nos trouxe um novo meio de interconexão, muito mais fácil e barato, pelo menos para aquela classe que consegue manter essa tecnologia. Apesar de não ser acessível a todos, estamos começando a vislumbrar uma nova era, em que as fronteiras não serão mais empecilhos para a circulação de idéias. A maior representante dessa avalanche é a Internet, que nos entope de produtos estrangeiros, nem sempre saudáveis. Isso nos tem preocupado muito, pois cada vez mais temos cada vez menos controle daquilo que nos atinge. No entanto, a humanidade nunca se deparou com um horizonte de possibilidades tão vasto como o
que nos é apresentado hoje. Pierre Lévy, em A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência, nos diz que “Pela primeira vez, a idéia de uma Terra sem fronteiras não aparece como uma aplicação de um princípio abstrato ou como um devaneio utópico, mas como o prolongamento realista de uma tendência que cada um pode observar”. As novas gerações estão cada vez mais “interligadas”, comunicando-se com pessoas de diversos cantos do mundo, transferindo arquivos de imagens, de som, entrando em salas virtuais de conversação, em fóruns de discussão, criando páginas pessoais, fazendo compras de diversas empresas, nacionais e internacionais, além de diversos outros serviços que a Internet nos oferece. A escola se defronta com todas as contradições que a informática traz, mesmo assim não podemos nos dar ao luxo de simplesmente descartá-la. Temos que fazer o melhor uso dela e ao mesmo tempo manter e criar em nossos alunos uma consciência crítica a seu respeito. Temos que dar aos nossos alunos acesso a todos os seus recursos educativos e ao mesmo tempo cuidar para que ela não se torne um meio de risco à sua formação. Com todas as mudanças que estão acontecendo na tecnologia, estamos cada vez mais interativos, o professor deve acreditar no novo, refletir, aprender a melhorar a sua postura diante da contemporaneidade. Nós, educadores, devemos assumir a tarefa de estar envolvidos dentro de uma proposta pedagógica séria, para que possamos ajudar no desenvolvimento dos conteúdos de cada disciplina utilizando estas ferramentas. O primeiro passo na utilização destas ferramentas é o aprendizado. É preciso que se tenha um conhecimento mínimo do que é a Informática, do que ela é capaz de fazer e quais são as suas limitações; temos que pensar como vamos educar nossa sociedade diante de toda e qualquer situação. Papert (1994) diz: “Para encontrar os princípios correspondentes para a aprendizagem, temos que olhar para dentro de nós mesmos tanto como para dentro dos computadores: princípios como ‘assumir a responsabilidade’, ‘identidade intelectual’ e ‘apaixonar-se’”. Como educadores, diante das novas tecnologias, temos que nos adaptar a estas ferramentas e fazer uso delas para um conhecimento maior. A Internet é um
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exemplo bem abrangente, pois o educador poderá utilizá-la como suporte eletrônico, enriquecendo o conhecimento do aluno e o seu próprio. Uma analogia para entender a Internet é defini-la como sendo similar a uma malha de rodovias (federais e estaduais) por onde trafegam bytes sob a forma de pacotes TCP/IP. A informação contida em textos, som e imagem, trafega em alta velocidade entre qualquer computador conectado a essa rede. Por esta razão, a internet é também chamada da “Super Rodovia da Informação”. Os recursos e possibilidades desta ferramenta envolvem, além da pesquisa, criação de debates sobre temas trabalhados em sala, um espaço hipertextual para colaboração dos educadores e alunos; materiais didáticos, projetos interdisciplinares, entre outras coisas. A internet é uma ferramenta preciosa para trabalhos com conteúdos curriculares, mas, é claro, exige que o educador pesquise antes e selecione endereços que abordem a temática trabalhada em sala, pois diante de tantas informações armazenadas no www, algumas nem sempre são “verdadeiras”. Por isso, o educador deve sempre planejar como irá aplicar a pesquisa na internet sabendo o que os alunos irão fazer e o que devem pesquisar, para não desviar o foco do conteúdo aplicado.
Utilizando estes recursos, poderemos estimular os alunos para a construção de uma autonomia e pensamento críticos diante do horizonte de conhecimento que as redes oferecem. Não podemos esquecer que hoje boa parte das crianças vive num mundo fechado, individual, onde suas brincadeiras e conversas são virtuais através da internet, deixando de lado as brincadeiras em grupo, como a bola e a boneca, para jogarem seus “joguinhos” e se divertirem com outros atrativos no computador e/ou no videogame.
A internet, sem dúvida, é um ambiente que possibilita a troca e armazena informações. Cabe nova-
Sabemos que não será uma tarefa fácil, mas, diante dos avanços tecnológicos, a solução certamente não é fugir deles, mas, ao contrário, dominá-los, criando possibilidades de envolver mais nossos alunos para que possam criar diante do novo e da realidade virtual, sem perder a sensibilidade e a visão do concreto.
Rosiclea Mariano de Camargo é formada em Tecnologia em Processamento de Dados pela FARESC e pós-graduada em Tecnologias Educacionais pela PUCPR. É responsável pela Informática Educativa do Jardim à 4ª série do Ensino Fundamental do Colégio Medianeira.
João Carlos de Oliveira é formado em Ciências e em Física pela UFPR, pós-graduado em Currículo e Prática Educativa pela PUC-RIO. É responsável pela Informática Educativa da 5ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio do Colégio Medianeira.
DO GIZ À ERA DIGITAL AUTOR:
Maria Lúcia Santos EDITORA ZOUK
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mente a nós, educadores, saber utilizar desta teia os recursos pedagógicos para trabalhar com as disciplinas curriculares. Hoje, não só os alunos, mas todos os que trafegam em uma rede interligada com o mundo inteiro, estão bem mais avançados em conhecimentos tecnológicos. As crianças vivem uma era virtual na qual têm acesso livre a várias informações, e muitas vezes não sabem nem como digerilas. É aí que entra o educador para mostrar as diversidades que esta rede oferece e educá-los para um melhor aprendizado, dentro e fora de sala de aula.
Estudo que se destina a professores e educadores preocupados em se atualizar com as novas tecnologias, principalmente o computador. As tecnologias educacionais vêm se impondo rapidamente, mudando a prática docente e a dinâmica das aulas, o que torna necessário o aperfeiçoamento da formação dos educadores. Este livro é uma importante contribuição para atingir esta meta.
INFORMÁTICA EDUCATIVA – DOS PLANOS E DISCURSOS À SALA DE AULA AUTOR:
Ramon de Oliveira EDITORA PAPIRUS
Esse livro descreve a trajetória da política brasileira de informática educativa, desde os momentos de sua formulação até uma experiência concreta de uso de computador no processo de ensinoaprendizagem. Com essa obra, o autor busca contribuir para que as atividades de inserção de computadores no ensino sejam integradas ao cotidiano escolar, como instrumento que propicia a melhoria da qualidade de ensino nas escolas públicas.
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da
Por Angela Cristina Raimondi
“Daqui a poucos anos, praticamente todas as grandes constantes da Física terão sido estimadas, e... a única ocupação que restará aos homens de ciência será aumentar em uma casa decimal a precisão das medidas.” James Clerck Maxwell (físico e matemático escocês), em 1871.
Não se assuste! Vamos falar de Física Quântica. Ao invés de sair correndo, leia atentamente esse artigo e acompanhe as contribuições e os novos desafios da Física e da Química numa época em que se comemora o centenário de Albert Einstein. Aos poucos, você verá que o que parece ser um tema inacessível está, na verdade, bem mais próximo do nosso dia-a-dia do que imaginamos.
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Maurits C. Escher, Relatividade, 1953, litografia
Inicialmente, pensei em escrever um artigo que discorresse essencialmente sobre minhas experiências científicas, no sentido amplo do termo, ao longo de minha vida acadêmica no campo da Química, como sugestão de meus pares da área de ciências naturais. Entretanto, escolhi outro pano de fundo, em que minha trajetória acadêmica, sem maiores minúcias, fizesse parte de um tema maior: um olhar sobre a ciência, num momento em que se comemoram cem anos da teoria da relatividade. De início, um receio momentâneo pode ocorrer aos menos afeitos às ciências exatas, diante de uma proposta de se falar de Einstein e do risco de se confinar a discussão no campo da Física. A intenção aqui, porém, é a de tratar o assunto de maneira ampla e apontar alguns reflexos desta tão importante teoria no conhecimento científico do século XX. Não se pretende aprofundar ou detalhar assuntos de física relativística (ufa!), mas fazer um apanhado das idéias principais que nortearam e das que emergiram dos estudos de Einstein (numa linguagem acessível), do contexto em que se situava o conhecimento científico de Física na época de sua divulgação e das influências e aplicações nos dias atuais. Considerado o “Homem do Século” pela revista norte-americana Time, a mente brilhante do alemão Albert Einstein (1879-1955) veio para contestar, de forma elegante, o pensamento vigente no início do século XX, refletido nas palavras de Maxwell em 1871 (Maxwell, aliás, não era partidá-
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rio deste pensamento). Em 1905, aos 26 anos, Einstein divulgou suas novas idéias sobre espaço e tempo e lançou sua teoria da relatividade, causando uma verdadeira revolução no mundo científico. Retomando uma questão que era fruto de sua curiosidade desde os dezesseis anos de idade (queria saber qual o aspecto que teria uma onda luminosa para alguém que a observasse viajando com a mesma velocidade que ela!), sua teoria se adequava e respondia a várias interrogações que as teorias da Física clássica não conseguiam explicar. Rompendo com o conceito de simultaneidade que se tinha, Einstein soube expressar, através de uma expressão matemática simples e completa, que espaço e tempo não são mutuamente independentes. Finalizada em 1916, sua teoria revelou-se uma ferramenta poderosíssima com a qual a Física redefiniu conceitos como, por exemplo, as leis da gravitação de Newton. No campo do estudo sobre a estrutura da matéria, as descobertas de Einstein e suas considerações sobre a natureza da luz financiaram importantes avanços na física quântica – que passava por um momento de intensas discussões acerca da inesperada estabilidade do átomo e buscava uma nova teoria unificada que permitisse definir sua estrutura – e lhe renderam o Prêmio Nobel de Física em 1921. A teoria atômica vigente não levava em conta a movimentação de elétrons em órbitas atômicas, e era necessário ser capaz de entender, explicar e prever uma série de fenômenos atômicos sem resposta naquele contexto. Se a grande “sacada” na teoria da relatividade foi a redefinição de simultaneidade e a consideração de que não existe velocidade maior que a da luz [c] (hoje já se sabe que existem feixes energéticos que se propagam com velocidades maiores que c), para a quântica foi a aceitação da natureza dual da luz, que pode ser considerada tanto ondulatória quanto corpuscular. Aceitar esta idéia rompia com a filosofia clássica da ciência do exato e do absoluto, que não admitia contradições ou duplas interpretações. Emplacar uma nova teoria num contexto tão tradicional e conservador significava mudar drasticamente paradigmas científicos considerados como definitivos por muito tempo, e não era nada fácil. Prova disso, vale a pena mencionar que o físico alemão Max Planck (este mesmo, o da cons-
tante de Planck), após anos investigando o espectro da radiação do corpo negro, havia chegado a uma conclusão que ele próprio considerou tão absurda que se negou a divulgá-la. Em 1900, entretanto, apresentou ao mundo científico sua equação que descrevia o espectro em questão. A conclusão bombástica de Planck era de que toda absorção ou emissão de energia no átomo não ocorria de maneira contínua, mas apenas em unidades discretas (pacotes de energia), que foram denominadas quanta (plural de quantum). Levando em conta a existência de órbitas eletrônicas nos átomos, um elétron só consegue “saltar” de uma órbita para outra mais energética se absorver um quantum de energia, que é emitido quando este elétron retornar à órbita de origem. Aí é que está a questão, um elétron não consegue transitar entre as órbitas com múltiplos fracionários de quantum, assim como, ao subir uma escada, não conseguimos subir meio degrau. Para explicar os fenômenos e apresentar os resultados que lhe renderam o Nobel (a explicação do efeito fotoelétrico), Einstein usou a teoria de Planck como pressuposto. Graças a estes estudos, foi possível desenvolver dispositivos como células solares e os sensores de imagens das câmeras digitais. As discussões calorosas que nortearam a elaboração do cerne da teoria quântica perduram por anos, e ainda há postulados a serem comprovados e mesmo aparentes incoerências a serem revisadas e corrigidas. Às custas de embates catedráticos (discussões que só vieram a enriquecer ainda mais a construção do conhecimento), o campo das ciências exatas, especialmente a Física e a Química, experimentou uma revolução conceitual cujos reflexos nos proporcionaram um avanço tecnológico colossal. Não há como pensar na existência de equipamentos como os de ressonância magnética de imagem, leitores de CD ou mesmo microchips de computador sem reverenciar a física quântica. Especificamente no meu campo acadêmico de atuação, minha curiosidade acerca da compreensão dos fenômenos naturais e a descoberta de novos materiais me levou a escolher a Química como área de estudo. Um dos desafios que nos cercam hoje, na área de Química Bioinorgânica, situa-se justamente na busca de sistemas químicos sintéticos que desempenhem funções análo-
gas às de sistemas biológicos, como enzimas, por exemplo. Investigar a natureza em grau microscópico e mimetizar suas atuações em laboratório sempre fascinou os químicos e, se o objetivo final algumas vezes não é a mera demonstração de tal capacidade, muitas vezes se está interessado nos segredos dos processos, na compreensão dos enigmas microscópicos que viabilizam o observável, a busca das causas por trás de instigantes efeitos. E vale enfatizar que o desenvolvimento de ultramicroscópios e equipamentos avançados de análise em nível molecular (frutos das contribuições de Einstein e da mecânica quântica) é que tornaram cada vez mais viáveis estudos neste sentido. E começamos este texto falando de Einstein, justamente por 2005 ser um ano que coroa o centenário de seu “ano miraculoso” (1905). Mas, nos cem anos que revolucionaram o mundo científico, atuaram muitos outros nomes de peso, físicos, químicos e matemáticos que acreditavam que não há evolução sem rupturas, que a superação exige empenho, debate, utopia (mesmo numa Alemanha em guerra, o berço da física quântica ainda contava com a dedicação incondicional e incansável de seus pensadores). O desafio maior para a física dos dias de hoje, e que já era perseguido pelos pais da quântica, é o de se chegar a uma teoria unificada, em outras palavras, uma teoria do tudo, que abarque todos os fenômenos naturais, permitindo suas descrições e previsões. Sabe-se que uma teoria-mãe como esta seria essencialmente pautada em equações matemáticas e teria que comportar tanto as leis de mecânica gravitacional quanto as leis da mecânica quântica. Esperamos que os avanços científicos derivados destes estudos só venham a trazer benefícios para a humanidade, uma vez que as descobertas que a todo o momento estão sendo feitas e divulgadas no campo da ciência pura, e seus reflexos traduzidos em invenções e inovações da ciência aplicada, ajudam o conhecimento a construir a história do homem.
Angela Cristina Raimondi é laboratorista e professora de Química do 2o. ano do Ensino Médio no Colégio Medianeira. É Licenciada, Mestre e Doutoranda em Química pela UFPR.
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EINSTEIN O REFORMULADOR DO UNIVERSO AUTOR:
AP ARTE E O TTODO ODO PARTE AUTOR:
Werner Heisenberg CONTRAPONTO EDITORA Autobiografia intelectual de um dos mais importantes cientistas do século XX. Heisenberg relembra os debates sobre física, filosofia, religião e política - que travou com Einstein, Bohr, Planck, Dirac, Pauli e outros. Narra sua experiência pessoal durante o regime nazista e o esforço alemão para dominar a energia atômica ainda durante a guerra.
O LIVRO DO CIENTISTA AUTOR:
Marcelo Gleiser EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS O físico Marcelo Gleiser conduz o leitor numa viagem pela história da ciência a partir de sua própria experiência. Gleiser refaz a história do pensamento científico no Brasil e no mundo, apresentando os principais pesquisadores de áreas como a astronomia, a matemática, a química, a biologia e a genética. Essa história começa antes do surgimento da ciência, quando as discussões sobre o Universo e sobre a matéria ainda eram ligadas à filosofia e à religião. Gleiser explica as idéias de cientistas e pensadores como Platão, Aristóteles, Galileu, Newton, Darwin e Einstein, entre outros. O livro da ciência traz fotos de satélite, mapas, pinturas antigas, gráficos e outros elementos que ajudam a entender a fascinante história das descobertas.
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Marcelo Gleiser EDITORA ODYSSEUS O professor e jornalista Cássio Vieira Leite desvenda, neste livro, as teorias revolucionárias e a personalidade fascinante daquele que é considerado o maior gênio científico da Era Moderna: Albert Einstein. O leitor de Einstein, o reformulador do Universo vai entender, através de uma linguagem clara e acessível, por que o pensamento einsteiniano transformou completamente nossa concepção de tempo e espaço.
SOBRE OS OMBROS DE GIGANTES AUTOR:
Alexandre Cherman EDITORA JORGE ZAHAR
O livro traça um paralelo entre a evolução da física e a nossa própria história social. A física de que esse livro trata não é aquela da escola, repleta de fórmulas e conceitos a decorar, mas uma ‘ciência da natureza’, como os antigos gregos a definiram. Alexandre Cherman apresenta ao leitor os primeiros físicos da Grécia antiga, o desenrolar dos conhecimentos físicos durante a Idade Média, as novas propostas de Isaac Newton e daí por diante, chegando até os conceitos e problemas atuais. Procura esboçar assim uma história da disciplina com ênfase nas figuras humanas que realizaram as grandes descobertas. Combatendo a visão comumente deformada que temos do conhecimento científico, esse livro aborda as grandes questões que fundamentam o desenvolvimento da física e mostra que do diálogo entre necessidades práticas e formulações teóricas é que nasce a beleza desse campo de saber, com sua busca de explicações para o universo em que vivemos.
Por Denilson Schena
O homem pode ser vítima da história. Mas pode ser, também, agente responsável pela sua construção. O que divide uma postura da outra? Foi-se o tempo em que aprender História estava limitado ao pseudo-aprendizado de algumas datas e heróis internacionais ou pátrios. Ao perceber que a organização social teve e tem diversos matizes, estabelecemos parâmetros para nos situar como sujeitos marcados historicamente, mas também como sujeitos que pensam e constroem o seu mundo individual e coletivo.
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O que o ensino da História tem a ver hoje com uma grande parcela de jovens adolescentes entre 15 a 17 anos de idade identificados com a chamada geração alunos.com, mac alunos, mac filhos? Jovens vestidos com as mais famosas marcas esportivas da cabeça aos pés, freqüentadores compulsivos de shopping centers, pertencentes a uma das diversas “tribos” urbanas, consumidores confessos dos fast foods da era da economia e da cultura globalizada? O que a História tem a ver com o atual momento em que a sociedade discute as cotas para negros no ingresso à universidade pública? E o que tem a ver com a violência urbana que nos afeta de alguma forma todos os dias? Afinal de contas, por que estudar História? Muitos de nós em algum momento da vida escolar nos perguntamos: por que motivo estudar o passado se o que importa para grande parte das pessoas, na maioria das vezes, é a compreensão (ou melhor, a simples informação) do presente? É possível concordar com o senso comum que insiste em afirmar que a História consiste simplesmente em estudar o passado? Perguntas como essas são ouvidas com certa freqüência dentro e fora da escola, o que leva certamente à inquietação e reflexão de alunos, pais e professores. Quando essas perguntas partem dos alunos, evidenciam a falta de sentido nos conteúdos que lhes são ensinados na escola. Infelizmente, é muito comum ainda nos dias de hoje o ensino de História ser visto pelas diferentes gerações escolares como tedioso e sem muita ou nenhuma importância. O presente consegue ocupar todas as “manchetes”, todos os sites, enquanto o passado ainda é visto como algo já superado, artigo de museu. O preconceito contra o passado representa um dos fatores extremamente prejudiciais ao ensino da História. Por outro lado, felizmente, ainda há aqueles que acreditam que a história é um saber escolar fundamental para compreender o homem e a sociedade no presente e a sua relação com o passado.
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O desafio dos professores de História tem sido, ultimamente, o mesmo de outros tempos, qual seja, o de despertar o interesse dos alunos pelas suas aulas. Há professores que acreditam que os novos recursos e as modernas tecnologias podem tornar as aulas mais dinâmicas. Alguns professores entendem que os vídeos e computadores ampliam o acesso a informações que os alunos procuram e se interessam. Mas a grande questão é: o que exatamente os alunos procuram? Outros professores adotam uma postura mais crítica ao utilizarem debates e discussões de temas polêmicos em sala de aula. Os programas curriculares nos últimos anos vêm se atualizando para que as escolas abordem novos conteúdos, de acordo com o interesse e a motivação dos alunos. Em cumprimento à atual legislação educacional brasileira e de acordo com as modernas tendências pedagógicas, o ensino de história busca enfocar novos temas para estudo, visando à ação dos diferentes agentes sociais. Nesse sentido, os professores têm contemplado a perspectiva do novo conceito de documento histórico, em que as chamadas novas linguagens (oral, gestual, sonora e pictórica) são utilizadas nas aulas de História. O diálogo da História com as demais Ciências Humanas vem favorecendo o desenvolvimento de novas abordagens interdisciplinares. Esta perspectiva permite a utilização dessas diferentes linguagens no ensino de História, representando nos últimos anos um grande avanço metodológico para a concretização do trabalho em sala de aula. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de História destacam a seguinte perspectiva: As pesquisas históricas desenvolvidas a partir da diversidade de documentos e da multiplicidade de linguagens têm aberto portas para o educador explorar diferentes fontes de informação como material didático e desenvolver métodos de ensino, que no tocante ao aluno, favorecem a aprendizagem de procedimentos de pesquisa, análise, confrontação, interpretação e organização de conhecimentos históricos escolares. Essas são experiências e vivências importantes para os estudantes distinguirem o que é realidade e o que é repre-
sentação, refletirem sobre a especificidade das formas de representação e comunicação utilizadas hoje e em outros tempos e aprenderem a extrair informações de documentos (das suas formas e conteúdos) para o estudo, a reflexão e a compreensão de realidades sociais e culturais. (BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: História – Brasília: MEC/SEF, 1998. (Parâmetros Curriculares Nacionais, 4)).
O trabalho didático-pedagógico desenvolvido pelos professores de História nesses últimos anos tem procurado superar a memorização, operação mental que predominou durante
muitas gerações na aprendizagem do conhecimento histórico. Hoje, cada vez mais, há muitas estratégias didáticas que são capazes de levar o aluno a ler e a compreender as entrelinhas do fato histórico, sem, contudo, fazer com que o aluno recorra à tradicional “decoreba”. Dessa forma, tem-se em vista a valorização da leitura, da análise, da contextualização e da interpretação das diversas fontes e testemunhos do passado e do presente. O uso dos mais diversos recursos pedagógicos tem sido bastante eficaz quando o professor relaciona o passado com o presente, o conhecimento histórico com o saber do aluno. Ao relacionar fatos do passado com o presente, o professor permite ao aluno identificar semelhanças e diferenças, permanências e mudanças ao longo do processo histórico. Outro procedimento fundamental é permitir ao aluno diferenciar as noções gerais das particulares, o que contribui para a compreensão dos fatos históricos. Entende-se, portanto, que o ensino de História tem por finalidade preparar o jovem aluno para o exercício pleno da cidadania, aprimorando-o como pessoa verdadeiramente humana, com sólida formação ética, autonomia intelectual e pensamento crítico. Sendo assim, os professores de História consideram que o ponto de partida para uma educação significativa é a leitura da própria realidade do aluno. Portanto, os conteúdos e temas abordados em sala de aula procuram levar o aluno a compreender os acontecimentos contemporâneos. A História sempre será uma disciplina escolar essencial para o desenvolvimento da leitura do mundo, para a formação de valores e para a construção da cidadania. Professores e aulas de história, mais do que importantes, são vitais à sociedade para permitirem que essa sociedade compreenda a si mesma, fazendo com que determinados indivíduos, grupos sociais e instituições deixem de insistir, embora contrariados, em ter “memória curta”.
Denilson Schena é professor graduado em História, especialista em Ensino de História e mestre em História da Educação (UFPR).
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O QUE É HISTÓRIA CULTURAL? AUTOR: Peter Burke EDITORA JORGE ZAHAR O que é história cultural? A pergunta, formulada há mais de um século, até hoje não obteve resposta satisfatória. Sem a pretensão de esgotar um tema tão complexo, o autor procura explicar a emergência, a partir da década de 1970, dos aspectos culturais do comportamento humano como centro privilegiado do conhecimento histórico, o que ele chama de “virada cultural”. Esse modo de compreender a história resultou em um certo abandono dos esquemas teóricos generalizantes, com a valorização de grupos particulares, em locais e períodos específicos. Assim, surgiram trabalhos sobre gênero, minorias étnicas e religiosas, hábitos e costumes, incorporando metodologias e conceitos de outras disciplinas. Burke é um historiador cultural que põe em prática algumas das diferentes abordagens discutidas nesse livro - como a recusa do conceito de civilização, a expansão da idéia de cultura e a concepção da história como narrativa. São aqui tratadas, em ordem cronológica, as principais formas pelas quais a história cultural foi e ainda é escrita, com especial atenção para as tradições comuns aos atuais historiadores, assim como para seus conflitos e debates. Ao final do volume, o autor apresenta uma lista de obras que marcaram o desenvolvimento da disciplina e sugestões de leitura sobre o tema.
O ENSINO DE HISTÓRIA E A CRIAÇÃO DO FATO AUTOR: Jaime Pinski EDITORA CONTEXTO Esta obra é uma discussão muito atual sobre as formas dos historiadores ´criarem´ o fato histórico, dos livros didáticos reproduzirem essas ´verdades´ e de muitos professores apresentarem-nas como definitivas. Vários desses trabalhos foram apresentados no seminário ´Perspectivas do ensino de história´, realizado na USP. Embora com posições teóricas diferentes, os autores colocam-se numa postura antipositivista e ressaltam a importância da historicidade e até do subjetivismo como ingredientes da ´leitura´ do passado.
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Revista mensal vendida nas bancas e livrarias, publicada pela editora Duetto.
NOSSA HISTÓRIA www.nossahistoria.net
A Fundação Biblioteca Nacional está empreendendo projeto de publicação de uma revista ilustrada de História do Brasil, voltada para o grande público e vendida em banca de jornal. A revista Nossa História (lançada em Novembro de 2003) pretende mensalmente desempenhar papel importante na difusão da História Nacional, tornandose um veículo privilegiado de divulgação dos acontecimentos do passado do país e permitindo a seus leitores uma reflexão crítica sobre suas origens e sobre a sociedade à qual pertencem. Especializada em História do Brasil, Nossa História se dirige a todos os interessados em temas que marcaram a formação do Brasil nos últimos 500 anos.
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CRIANÇA ea
pesquisa:
CURIOSIDADE como ponto de partida Por Danielle Mari Stapassoli
Criança pesquisa? Às vezes, somos culturalmente condicionados a entender pesquisa e ciência como tarefa dos eruditos, das universidades, ou dos cientistas com jeito de maluco. Mas, se a curiosidade é a base para a pesquisa e para a efetiva construção do conhecimento, quem melhor do que a criança para nos dar aula disso tudo?
“A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade (...).” Paulo Freire
A curiosidade indagadora é o que desenvolve no ser humano o seu conhecimento sobre o mundo e sua capacidade criadora de inovação. Foi esta curiosidade como fenômeno vital que fez com que os europeus, além dos interesses próprios da época – século XV – se lançassem pelo oceano Atlântico e acabassem por “descobrir” novas terras, novos povos, novas culturas. Hoje, é também esta curiosidade que lança o homem ao espaço à procura de novas formas de vida.
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Com certeza, esta inquietação indagadora trouxe muitas inovações tecnológicas, novos conhecimentos que a cada dia são reelaborados a partir de novas descobertas, e trouxe, também, o autoconhecimento. Trabalhando com educação nas séries iniciais do Ensino Fundamental, é possível perceber nas crianças o quanto a curiosidade as movimenta e as incentiva a descobrir, a experimentar, a conhecer o mundo que as cerca. Paulo Freire observa que “o exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa, mais metodicamente ‘perseguidora’ do seu objeto. Quanto mais a curiosidade espontânea se intensifica, mas, sobretudo, se ‘rigoriza’, tanto mais epistemológica ela vai se tornando.” Assim, podemos considerar a curiosidade como ponto de partida para o desenvolvimento da pesquisa científica dentro do espaço escolar. Saber estimular a curiosidade nas crianças é saber que a partir dela estaremos desenvolvendo o gosto pela pesquisa, que passa pelo gosto de ler, de comunicar, expressar, compartilhar descobertas... Intensificando a curiosidade e estimulando a forma pela qual a expressamos, estaremos, processualmente, desenvolvendo também a pesquisa científica. O ato de pesquisar é considerar a incompletude do conhecimento humano, é considerá-lo como indissociável do ensino, pois não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esta é uma atitude que faz parte da natureza da prática docente, esteja ela na figura do professor, na escola, ou na dos pais, em casa. O hábito de ler e discutir os mais diferentes assuntos em casa e na escola estimula nas crianças o desejo de querer saber mais para participar e dialogar mais. Para desenvolver o ato de pesquisar, será necessário também que elas tenham como referência a figura de um pesquisador-leitor que as incentive à busca, à investigação, à curiosidade, à produção... Neste caso, pais e professores. Na escola, trabalhar com a pesquisa exige do professor uma atitude de constante investigação para viabilizar com os alunos a troca de conhecimentos, relacionando-os com outros conhecimen-
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tos e entre as disciplinas, a fim de compreender melhor o mundo em que vivem, ensinando-os a observar, descrever, comparar... Esta proposta de trabalho “enxerga” a construção do conhecimento a partir das relações estabelecidas com o mundo para criar e recriar conceitos, hipóteses, reflexões, críticas, análises e sínteses sobre o próprio conhecimento. O que muitas vezes acontece na escola ou na forma como lidamos com o conhecimento é que o dividimos em “gavetinhas” e, como se houvesse um arquivo mental, o aluno assiste a uma aula de história e arquiva os conhecimentos históricos em uma gaveta e depois, em outra gaveta, os conhecimentos matemáticos; em outra, os conhecimentos geográficos, e assim por diante. Como cada gaveta está separada, o aluno não consegue perceber que todos os conhecimentos são perspectivas diferentes de uma mesma e única realidade. Em tais condições, o aluno perde sua aptidão natural para contextualizar os conhecimentos e integrá-los em conjunto. A fragmentação do conhecimento implica a fragmentação da realidade. Mas, o que dizer de todo o acesso que as crianças têm hoje às informações, nas mais diferentes formas? Será realmente possível dividir o conhecimento ou a realidade? Ou ainda, separar o que é mais importante ou mais interessante para este ou para aquele aluno, ou para esta e para aquela idade? Hoje, considerando a complexidade do mundo em que vivemos, a concepção de conhecimento se aproxima muito da idéia de uma grande “rede” ou “teia”, onde cada conhecimento liga-se a outros sem necessariamente existir a supremacia de um sobre o outro. Propostas metodológicas como a pesquisa procuram considerar a religação e contribuição de todas as ciências na construção de um conhecimento globalizante e significativo. E, utilizando-se da grande quantidade de informações a que estamos submetidos na internet, nas revistas, nos jornais, nos telejornais, estaremos auxiliando a criança, desde cedo, na leitura e interpretação da realidade de maneira competente, tornando-se, ela mesma, sujeito do seu próprio conhecimento.
A pesquisa de que trato aqui certamente não é a mesma que conhecemos dos meios acadêmicos, formal e com rigor científico. Mas, para chegarmos a ela, na forma de monografias, dissertações ou teses, será necessário que alguém, por algum momento ou vários, nos ensine passo a passo o “caminho das pedras” e o gosto por esta estruturação e expressão do conhecimento. Não pretendo descrever receitas prontas de como trabalhar a pesquisa em sala de aula, até porque escrever sobre o assunto faz parte de uma reflexão teórica e prática ainda inacabada diante de tantos estudos e relatos já realizados e a serem considerados. Mas, já temos um ponto de partida que é natural do ser humano: a curiosidade. Porém, ainda não existirá a pesquisa se não houver questionamentos, se não houver uma busca por respostas em uma ou mais fontes, se não houver o relato destas respostas... Portanto, além da curiosidade precisamos também considerar a importância da linguagem. Trabalhar com pesquisa nas séries iniciais do Ensino Fundamental é, digamos, “processualizála” de acordo com a aquisição da linguagem oral e escrita da criança. É ter presente a necessidade da “dosagem” desta pesquisa conforme a série, a necessidade de orientação constante por parte dos professores e dos pais, e linguagem adequada à criança. Fontes de pesquisa, por mais interessantes que sejam do ponto de vista do adulto, devem ser de fácil leitura para as crianças nesta fase de desenvolvimento. Quando não o são, corremos o risco de tornar o tema e o próprio ato de pesquisar desinteressantes. No início, na educação infantil, a pesquisa poderá estar presente em pequenas perguntas e respostas orais. Nesta fase, muitas vezes o relato dos familiares serve como fonte de pesquisa. Já em processo de aquisição da linguagem escrita, a criança poderá ser motivada a realizar pequenas pesquisas através da busca por respostas curtas a perguntas lançadas pela professora durante a aula e sobre um assunto, em forma de roteiro, que tenha despertado a curiosidade dos alunos. A pesquisa poderá estar presente também na leitura de pequenos textos curiosos do tipo Você sabia? e em livros emprestados da biblioteca es-
colar, em jornais, em documentários... Mais tarde, quando a criança já domina a linguagem escrita, estas respostas poderão ser registradas no caderno após uma discussão coletiva sobre o assunto. A pesquisa avançará conforme o domínio que a criança vai demonstrando sobre a leitura e a produção textual. Assim, conforme a série, podemos aumentar e aprimorar as perguntas a serem respondidas sobre um assunto, bem como a consulta às fontes bibliográficas. Isto porque a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças estão intimamente ligados ao sucesso deste processo de investigação, ao conhecimento sobre a relação entre os seres vivos e o meio ambiente, entre as diferentes formas de organização social, na diversidade religiosa e cultural... Neste momento, é importante também que a criança perceba que sobre um mesmo assunto podem existir diferentes opiniões. A orientação do professor é fundamental nas séries iniciais, pois é lá que observamos também a intencionalidade no desenvolvimento de algumas habilidades cognitivas, como a capacidade de selecionar informações que respondam às questões apresentadas, análise, síntese, organização e seqüência. Neste momento, a cópia ainda se faz bastante presente. Porém, é interessante orientar os alunos para que pelo menos algumas partes da pesquisa possam ser elaboradas com textos de própria autoria, com suas próprias palavras e opiniões, com uma introdução e uma conclusão. O assunto não se esgota aqui. É bem provável que você mesmo tenha outras experiências sobre a pesquisa e como ela poderia ser encaminhada com as crianças. De qualquer maneira, explorar a curiosidade da criança e ampliá-la já é uma forma de pesquisa que merece uma contínua reflexão sobre sua importância na escola, em casa e na sociedade.
Danielle Mari Stapassoli é professora de História e Geografia a da 4 . série do Ensino Fundamental no Colégio Medianeira. É graduada em Pedagogia pela PUC/PR, com especialização em Organização do Trabalho Pedagógico pela UFPR, e em Currículo e Prática Educativa pela PUC/RJ.
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A CIÊNCIA NO COTIDIANO COMO APROVEIT AR A CIÊNCIA NAS A TIVID ADES DO DIA APROVEITAR ATIVID TIVIDADES AUTOR:
Len Fischer EDITORA JORGE ZAHAR
Aqui vão algumas sugestões de consulta para ajudar a saciar a curiosidade das crianças!
LIVROS: Todos os que interessarem às crianças, que tenham linguagem acessível e sejam de bons autores, como Ziraldo, Lygia Bojunga, Ana Maria Machado...
‘A Ciência no Cotidiano’ mostra como um cientista encara as atividades de um dia comum - do café da manhã à cerveja com os amigos, assim como nos esportes, nas compras do supermercado etc. Em meio a casos engraçados e explicações precisas, o autor nos propõe uma forma divertida e acessível de saber como as leis da ciência tornam possíveis pequenos atos do nosso dia-a-dia. Sem trivializar a ciência, aproxima o método científico do nosso cotidiano e humaniza os pesquisadores, ao revelar como suas interrogações se aproximam das nossas.
A CURIOSIDADE PREMIADA Coleção: P ASSA ANEL PASSA
O importante é que elas possam comentar a leitura, fazendo uma apreciação. Em muitos livros de literatura, é possível encontrar conhecimentos da história, da geografia, de ciências, que poderão contribuir com o que estiverem estudando, no momento, na escola.
AUTOR: Fernanda Lopes de Almeida EDITORA ÁTICA Glorinha pergunta sobre tudo, incomoda todo mundo. Mas logo todos percebem que este é um bom jeito de descobrir o mundo.
SITES para crianças: www.recreioonline.abril.com.br www.oportaldosestudantes.com.br www.ibge.gov.br- IBGE teen www.nestle.com.br/maisdivertido
CURIOSIDADE E PRAZER APEL D A CURIOSID ADE NA DA CURIOSIDADE DE APRENDER O PPAPEL APRENDIZAGEM CRIA TIV A CRIATIV TIVA
www.ziraldo.com.br AUTOR:
Hugo Assmann EDITORA VOZES
Estes sites auxiliam na pesquisa, ampliam conhecimentos através de curiosidades, e alguns apresentam diferentes atividades recreativas e de raciocínio lógico.
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O livro leva o leitor a construir pacientemente a sua própria percepção acerca do tema curiosidade e sua relevância em todo o processo de aprendizagem criativa.
Por Martinha Vieira
Muito diferente da cultura de massa, pronta para o consumo irrefletido, o cordel tem suas raízes cravadas na tradição popular, rica de sabedoria e vivência. Trata-se de uma literatura que influenciou e influencia até hoje segmentos importantes da nossa música, com uma combinação de versos que se embalam na hora da leitura.
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Uma dica: leia o texto abaixo em voz alta! Meu senhor, minha senhora, vou agora lhes contar que já desde outrora havia o verso popular. Sempre rimado, beirando o rumo do sertanejo, o cordel vem coroado de quase tudo que eu vejo. De sertão afora, de tantas vidas severinas, nem só de peleja, nem só de agonia, que o cordel também representa a voz da maioria. Voz que nasce da necessidade de dizer, voz que celebra o desejo de ser, abrindo a estrada do pensamento, e aquele que ouve leva adiante pra não cair no esquecimento. E a memória popular desperta na próxima geração o desejo de conversa, de prosa e de criação. E acordando o passado pressente as rugas do tempo, e sem ressentimento prepara o chão, semeando no presente os frutos que virão.
sob ela dura e endurece o caroço de pedra”1 . “Verso feito a foice, do cassaco cortar cana, sendo de cima pra baixo tanto corta como espana, sendo de baixo pra cima voa do cabo e se dana”.2 “É canção de lavadeira, peixeira de Lampião, as luzes do vagalume, alpendre de casarão, a cuia do velho cego, terreiro de amarração, o ramo da rezadeira, o banzo de fim de feira, é janela de caminhão.”3 Histórias contadas, histórias cantadas, desejo de literatura: e nasce o alfabetizado pela leitura do cordel cantado na viola do caboclo menestrel. Muito mais que a assinatura, versos e rimas escritas no papel, é ele agora quem vai escrever o próprio cordel. Poder de dizer e deixar escrito é muito mais que fazer bonito, é fazer valer a linguagem da gente de todas essas paragens, de rio seco e cabo de enxada, de folia colorida e mão calejada, de calor do sol e do abraço, da força do pensamento e do braço de quem não come o que planta, de quem não almoça e não janta. De fantasia e realidade, do sertão ou da cidade, de amores ou de crueldades, das lendas aos problemas sociais, do sobrenatural, de Deus ou do fogo infernal, de histórias perdidas no tempo ou de fatos do momento se faz a poesia popular, narrativa em versos de impressão artesanal, pendurada num barbante e vendida num instante nas feiras do local. Entre veredas do grande sertão brasileiro, entre sujeitos e objetos, entre diversos fazeres, olhares e falares, entre parabólicas e parábolas, um jeito global de ser, de fazer, de olhar se insinua. Mas entre global e local a proposta do fazer e sentir poético local nos versos e canções de sujeitos que propõem a existência (ainda) de um povo brasileiro. “É pelo resgate da cultura local que se reafirma hoje uma cultura brasileira no mundo globalizado”. (Chico Science, no Programa da TV Cultura “Globalização, Arte e Cultura”, exibido em 1996).
Assim se diz a literatura de cordel, rimando de começo a fim as palavras do sertanejo, palavraspedra, palavras-confeito, palavras sem jeito, palavras sem terra, palavras sem pão, palavras de tantas bocas, palavras de qualquer João. E o sertanejo falando tem seu próprio jeito, calado pelo preconceito de tanta gente que vê como defeito a fala popular. Mas o cordel vem perpetuando o direito do sertanejo se expressar: sua fala “lisa adocicada,
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1 João Cabral de Melo Neto, no poema O Sertanejo Falando. 2 Manoel Chudu, versos de Cordel. 3 Lirinha, do Grupo Cordel do Fogo Encantado.
Martinha Vieira é professora de Língua Portuguesa da 8a. série do Ensino Fundamental, no Colégio Medianeira. É formada em Letras pela UFPR e especialista em Currículo e Prática Educativa (PUCRJ). De 1993 a 1995, foi produtora cultural do programa “Todos os cantos”, da rádio Educativa do Paraná.
Alguns trabalhos de resgate da cultura local na poesia e na música:
Líricas - Zeca Baleiro (CD MZA Music – 1999)
Da Lama ao Caos – Chico Science & Nação Zumbi
(CD Chaos- Sony Music)
Domínio Público – Caboclada (CD MCD – 2000)
A CORDEL ADOLESCENTE, O XENTE AUTOR:
Sylvia Orthof ILUSTRADOR:
Tato EDITORA QUINTETO EDITORIAL Neste livro um valentão do nordeste, um cangaceiro muito do sedutor, mas metido que só ele tirou um barato de Bertulina, uma moça nordestina que estava caidinha por ele, depois do primeiro beijo. Mas coitado do valentão, porque a menina não é de tirar farinha não. Nem queira saber o que aconteceu na volta do bonitão.
Na Pressão – Lenine (CD – BMG 1999)
CORDEL - PATATIVA DO ASSARÉ AUTOR:
Patativa do Assaré COLEÇÃO:
Fuá na Casa de Cabral – Mestre Ambrósio
(CD Chaos- Sony Music – 1999)
Biblioteca de Cordel EDITORA HEDRA O que faz a força e o sabor da poesia de Patativa do Assaré é o vínculo existente entre o poeta, o sertão e a cidade. Seu canto nasce da matéria cotidiana, com seu labor, suas alegrias e seus sofrimentos. A afeição com que é tratado pelos sertanejos que vêm visitá-lo, o sucesso de suas excursões e os cordéis escritos em sua homenagem são prova irrefutável de que ele se tornou um personagem-chave do panteão nordestino.
Cordel do Fogo Encantado (CD – REC BEAT Produções Artísticas)
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Por Edilson Ribeiro
O progresso de uma civilização se mede pelo aumento da sensibilidade pelo outro. (Teilhard de Chardin)
Muitas vezes, a vontade de mudar o mundo esbarra no desânimo de quem se acha a única pessoa com essa intenção. Com o trabalho voluntário, descobrimos o outro, descobrimos sua humanidade e, assim, nos vemos também mais belos, mais fraternos. E a ajuda voluntária, além de uma grande descoberta da alteridade, acaba revelando muito de nós mesmos... 30
Educação é um processo muito complexo que ultrapassa o espaço da escola e da sala de aula, ainda mais em uma época com tanta velocidade e acesso ao mundo da informação. Todo aprendizado se dá numa rede de relações complexas que supõe implicações culturais, ambientais e genéticas. Educar é ensinar o encanto da possibilidade para que cada um desenvolva seu projeto de vida. Quando você tem um projeto de vida, você é autônomo e se você é autônomo, é solidário, é o sujeito da ação. Por força do mercado, a tendência das escolas é a de formar os seus alunos para a competição, que se inicia no vestibular e continua depois no mercado de trabalho.
A educação é um método de produção de sentido para a vida, no qual buscamos introduzir novos modos de ser, agir, pensar, imaginar, reagir e sonhar. Produzir sentido é ensinar crianças e jovens a se interrogarem, manifestarem dúvidas, colocarem certezas em xeque, cultivarem a vida interior, abraçarem o itinerário que conduz às fontes e aos limites da existência. O pragmatismo moderno aposta no consumo o sentido do existir e atrela o ser humano ao jogo das vaidades e ambições que abrem um profundo fosso entre a nossa existência e nossa essência. Todas as escolas deveriam ter programas comunitários que estivessem vinculados ao conjunto de disciplinas. Toda escola deveria estimular o voluntariado, a associação de idéias, o choque cultural. No trabalho comunitário, tudo tem que ser um lugar de aprendizado, qualquer um pode ser um educador, qualquer um pode ser um aprendiz. A escola reproduz, muitas vezes, uma forma de encarar o conhecimento de maneira reducionista, pela qual o conhecimento é um grupo de matérias, de informações das quais você tem que dar conta em um prazo x de tempo. Isso não forma pessoas em uma sociedade que exige muita criatividade, intuição, trabalho em grupo, muitas habilidades relacionais e cognitivas. O conhecimento teórico não é suficiente para levar as pessoas a uma atitude solidária. A solidariedade não é um problema pontual que pode ser resolvido com alguma matéria específica ou com a introdução de temas transversais. Há uma interdependência entre o trabalho de cada disciplina em sala de aula e a atitude solidária do aluno. Uma visão fragmentada do conhecimento, das disciplinas e da educação – ou seja, matérias entendidas como autônomas e independentes – não considera a inter-relação entre os fenômenos. Tudo isso é fruto de uma cosmovisão fragmentada e mecanicista do mundo que apostou na especialização das ciências como caminho para encontrar verdades definitivas e que vê na escola o meio de transmitir estas verdades. Todos os espaços de aprendizagem devem ser planejados a partir de uma matriz multidisciplinar e interdisciplinar, buscando não apenas mudanças nos conteúdos, mas no próprio conceito de ciência e, portanto, da educação. Pen-
sar uma epistemologia solidária é buscar um modo de conhecer, refletir e inter-relacionar o conhecimento de maneira complexa e aberta desde a sua mais profunda raiz, e ao longo de todo o processo ensino-aprendizagem. O pensamento solidário deve ser complacente com os paradoxos, respeitar as diferenças não só como uma dialética de opostos rígidos, mas como harmonização das ações e dos conflitos, da finitude, do pluralismo e da transitoriedade. Como diz Edgar Morin: As mentes formadas pelas disciplinas perdem suas aptidões naturais para contextualizar os saberes, do mesmo modo que para integrá-los em seus conjuntos naturais. O enfraquecimento da percepção do global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade (cada qual tende a ser responsável apenas por sua tarefa especializada), assim como ao enfraquecimento da solidariedade (cada qual não mais sente os vínculos com seus concidadãos).
Por isso, a comunidade-escola pode ser transformada num espaço comunitário de aprendizagem. A praça pode virar uma sala de aula, um beco pode virar uma galeria, os galpões viram espaço de arte, dança, música, esporte. Para que esta realidade escola-comunidade se torne possível, é preciso investir na capacitação dos professores para saberem fazer a articulação com a comunidade, de pais e professores na escola, para saberem aproveitar toda a riqueza de uma comunidade. Este trabalho exige tempo e diálogo com as lideranças locais e a organização própria de cada instituição ou projeto social. Cada lugar vai ter que criar os seus espaços de integração de acordo com as necessidades locais. Há diferentes formas de ser solidário. Uma delas são as campanhas humanitárias imprescindíveis nas situações de miséria, injustiças sociais e calamidades públicas. Por outro lado, o exercício da cidadania, a participação no espaço público, na vida política, a defesa dos direitos individuais e coletivos são outras formas de ser solidário. Ser solidário é tanto ajudar o amigo doente como lutar pela qualidade de vida da coletividade. É preciso ter conhecimento das questões sociais mais urgentes do país, sensibilizarse por elas, refletir sobre os valores e princípios
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a serem assumidos coletivamente. Conhecimento, vivências e reflexão são espaços que devem estar entrelaçados para gerar uma consciência solidária. O voluntariado efetuado gratuita e solidariamente leva, naturalmente, o jovem a dar um novo e profundo significado à própria vida e à dos demais, acelerando o processo da construção da sua identidade e fazendo-o compreender que, ajudando os outros, ajuda a si mesmo. O voluntariado: • Propicia a descoberta de si mesmo, de suas riquezas humanas e de suas potencialidades; • Desperta para o espírito de liderança e trabalho em grupo; • Contribui para o aumento da autonomia, orientada para a responsabilidade pessoal e social; • Favorece o amadurecimento afetivo por meio do exercício do aperfeiçoamento na capacidade de amar e na disponibilidade de doar-se; • Orienta para o futuro, propiciando o desenvolvimento da capacidade positiva de projeção, que funciona como eixo estruturador da personalidade e como motivação para a elaboração de projetos, a reconsideração das próprias escolhas, o empenho no bem do próximo, a reflexão sobre o sentido da vida etc.
• Organização de espaços de atuação, campanhas de saúde e preservação do meio ambiente ajudam o aluno a responsabilizar-se pelo espaço público e a buscar alternativas aos problemas reais da comunidade; • Pesquisa no bairro ou na cidade para averiguar o número de crianças que não estão estudando e fazer campanhas de matrículas; • Monitoria nas diversas disciplinas para ajudar os colegas; • Reforço escolar; • Escolinha de instrumentos musicais, canto, danças; • Organização de grupos que lutem pela melhora na qualidade de ensino; • Preservação do meio ambiente: reciclagem do lixo, cuidado das plantas, horta comunitária; • Rádio escolar; • Organização de bibliotecas e murais escolares; • Formação de grupos para discussão da cidadania; • Divulgação de ONG’s que atuam na cidade; • Atividades em creches ou instituições que acolhem crianças carentes; • Leitura para cegos – doação da voz;
Outros aspectos do voluntariado como escola de educação sócio-política:
• Contadores de histórias; • Visitas aos idosos, em asilos;
• A educação para a responsabilidade como exigência moral, destinada a despertar a consciência do educando de modo a sensibilizá-lo em relação ao próprio destino do outro a ele confirmado; • A educação para a cultura da solidariedade como compromisso ético para com a eqüidade social; • A educação para o empenho político, que significa colocar-se a serviço do outro, solidarizar-se com ele e comprometer-se na defesa e promoção dos direitos humanos. Dentre as muitas possibilidades de programas comunitários, que podem ser desenvolvidos nas escolas, podemos dar alguns exemplos:
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• Atividades circenses para divertir crianças; • Monitoramento em museus e conservação dos bens culturais; • Palhaços que atuem nos setores infantis dos hospitais. Além disso, é possível organizar, durante as férias ou feriados prolongados, os Campos de Estágios Sociais, onde grupos de alunos se reúnem, partindo para lugares pobres que precisem de ajuda e formação. Durante dez ou quinze dias, organizam-se atividades com as crianças, os jovens, idosos, com as pastorais, movimentos sociais e a comunidade. Ao mesmo tempo, durante um período do dia, esses voluntários se reúnem para estudar, capacitar-se e refletir sobre as atividades que es-
tão desenvolvendo. O importante é que essa ação sensibilize toda a comunidade e mexa com as autoridades locais, a fim de motivá-las a promover a dignidade e o direito social dessa gente. Com essas atitudes, estaremos contribuindo para que se consolide a cultura da solidariedade e para que a sociedade se transforme, na medida de seus sonhos!
Edilson Ribeiro é filósofo pela PUCPR, especialista em Currículo e Prática Educativa pela PUCRJ e coordenador de Pastoral do Colégio Medianeira.
COMPETÊNCIA E SENSIBILIDADE SOLIDÁRIA EDUCAR P ARA A ESPERANÇA PARA AUTOR: Hugo Assmann e Jung Mo Sung EDITORA VOZES Pode a humanidade superar a brutal exclusão social que marca o nosso tempo? Os autores deste livro apostam que sim. É um desafio imenso e difícil, mas possível. E a educação tem um papel central nessa verdadeira virada de civilização que a humanidade está atravessando. Uma educação que abra horizontes de esperança e que seja capaz de articular competência e sensibilidade social. É fundamental que o desejo de solidariedade comece a fazer parte da dinâmica do desejo das pessoas e da sociedade. Para isso, a sensibilidade solidária precisa fazer parte intrínseca do modo de educar, aprender, conhecer e viver das pessoas e de grupos sociais. Este livro é uma contribuição ao tema tão fundamental e complexo que é educar para a esperança.
PRÁTICAS DE CIDADANIA ORGANIZADOR: Jayme Pinsky EDITORA CONTEXTO Que importantes ações, no sentido de estender a cidadania a todos, estão sendo executadas em nosso país - e por quem? Quais os obstáculos que estão sendo enfrentados para que essas ações se concretizem? Em ‘Práticas de cidadania’, cidadãos narram suas próprias experiências e, a partir delas, oferecem exemplos valiosos, com o objetivo de auxiliar a elaboração de novas políticas públicas, novas ações coletivas e novas práticas empresariais mais comprometidas com a responsabilidade social. Um livro que, por meio da multiplicidade de respostas oferecidas por seus autores, aponta os vários caminhos possíveis para a criação de uma sociedade mais digna, mais solidária e mais cidadã. José Renato Nalini, Gilberto Dimenstein, Galeno Amorim, Claudia Costin, Stephen Kanitz, Oded Grajew, Marina Silva, Cândido Malta, entre outros, são alguns dos cidadãos que relatam suas experiências, reunidas nesta obra organizada pelo professor Jaime Pinsky.
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Quem é esse
viajante,
quem é esse
menestrel?
Por Laryssa Titon
Mediação presta uma breve homenagem a um dos grandes poetas de todos os tempos e lugares, que cantou sobretudo o amor, mas também tomou posturas políticas marcantes na defesa de uma sociedade mais justa. Você sabe quem é ele? Você sabe quem é Neftalí Reyes Basoalto?
O Chile, país de grande diversidade geográfica, com seus desertos, suas muralhas de pedras e o frio do Oceano Pacífico, tem a vocação para ser um território de hombres fuertes e o berço de grandes poetas. A Neftalí Reyes Basoalto o destino lhe presenteou com um fato memorável: o encontro com a grande poetisa, Nobel de Literatura, Gabriela Mistral. Essa mulher alta, de rosto araucano, chegou a Temuco, povoado onde morava Neftalí, para ocupar a posição de diretora do Liceu. Timidamente, ele lhe ofereceu seus poemas gravados em seus cadernos escolares. Após a leitura dos poemas de Neftalí, Gabriela Mistral chamou o menino de então 16 anos e profetizou: “eu estava doente, mas comecei a ler seus versos e melhorei, porque tenho certeza de que aqui existe um poeta de verdade e uma afirmação desta natureza eu nunca fiz antes”. Esse rapaz, nascido em 12 de julho de 1904, não só confirmou como transcendeu a profecia de Gabriela Mistral. Além de Nobel de Literatura, foi cônsul na Birmânia, Ceilão, além de outros países asiáticos. Filiou-se ao Partido Comunista, pelo qual foi candidato, veja só, à presidência de seu país em 1969! Renunciou à empreitada em favor de Salvador Allende, que o nomeou embaixador em Paris assim que venceu as eleições. Neftalí... ou melhor, chega de mistério e formalidade, não é? Você já percebeu que esse menino poeta ficou mundialmente conhecido como... Pablo Neruda, o poeta do amor. Neruda foi lírico e épico. Sua obra é o reflexo de sua vida, de seus amores, de suas viagens, de
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seus ideais, de sua postura política muitas vezes polêmica. Cantou em verso e prosa a beleza de sua terra, as moléstias sociais dos nossos tempos e, como nenhum outro, utilizou-se de metáforas belíssimas para cantar o amor. Um amor que apenas os homens de grande sensibilidade são capazes de sentir. Um amor intenso, que caminha pelos extremos, algumas vezes visita contradições e, em outras, atinge a serenidade.
Yo te soñé u na tarde Mujer, hech a de todas mis ficciones Has vibrado reunidas en mis nerv ios como un Llorando en a realeza, los senderos de la ilusión Siempre he sentido el ro perdida ce de tu igno ta belleza. Marchitando mis sueños y mis buenas Te he forjado quimeras a pedazos ce lestes y carn Como un re surgimiento, ales como una pr En la selva imavera de tantos es túpidos idea les. He soñado tu carne divi na y perfum En medio de ada un morboso torturar de m Y aunque er i ser, es imprecisa, sé como eres Ficción hech , amada, a realeza en carne de m uj er. (de Cuadern os de Te m uc o)
El esperar doliente No ha venido la amada ni vendrá todavía, No han llegado las manos que debían llegar. Y para cuando llegue florecerán los días Alumbrando la suave dulcelumbre de amar...
O poeta morreu em 23 de setembro de 1973, ainda a tempo de ver o golpe de estado que depôs o governo do Presidente Allende. Porque Neruda fue muchas cosas o, muchas personas desde sus comienzos... se escogemos un Neruda en desmedro de otro, nos quedamos con una visión incompleta de su personalidad y, en consecuencia, de su obra. Hay que seguirlo, por el contrario, en todo su viaje... (Jorge Edwards)
A obra de Neruda pode ser encontrada nas grandes livrarias de todo o mundo, traduzida em diversos idiomas; porém, seus versos na língua de Cervantes têm um ritmo e uma sonoridade que fazem com que o sentimento do poeta chegue sem dúvida de maneira mais intensa. Sobre o seu trabalho de “fazedor de metáforas”, também o cinema nos brinda com uma pequena obra-prima sobre o autor. Trata-se do filme El Cartero y el poeta, com a direção de Michael Redford. O filme está disponível em qualquer locadora. Não deixe de assistir!
Obras principais: A canção da festa (1921), Crepusculário (1923), Vinte poemas de amor e uma canção desesperada (1924), Tentativa do homem infinito (1925), Residência na terra [vol.I, 1931; vol.II, 1935; vol.III,1939, que inclui “Espanha no coração” (1936-1937)], Ode a Stalingrado (1942), Terceira residência (1947), Canto geral (1950), Odes elementares (1954), Navegações e retornos (1959), Canção de gesta (1960), ensaios (Memorial da ilha negra, 1964) e a peça teatral Esplendor e morte de Joaquín Murieta (1967). Em 1974, foi publlicado o volume autobiografico Confesso que vivi. (Prêmio Nobel de Literatura, 1971). Laryssa Titon é professora de Espanhol no Ensino Médio do Colégio Medianeira. Graduada em Letras-Espanhol pela UTP.
Y todos los dolores se apagarán. La luna Saldrá mucho más bella tras el monte ideal, La mirarán los ojos extasiados en una Comunión de sentires alta y espiritual. No ha venido la amada ni vendrá todavía, Pero, mientras que llega, vivamos la alegria De tener en la vida una esperenza más. Ahora por encima de dudas y temores Y engañando la herida de los viejos dolores Esperemos la amada que no vendrá jamás.
CONFESSO QUE VIVI – MEMÓRIAS AUTOR: Pablo Neruda EDITORA BERTRAND BRASIL
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... e a propósito do
Por Mauro Michelotto Braga Fotos Levis Litz
“O Fórum Social Mundial, além de representar o mais significativo espaço de resistência organizada contra a imposição unilateral da mundialização econômica neoliberal, arquitetada pelos poderosos de Davos, é o embrião de uma nova sociedade-mundo fundamentada em valores de cidadania planetária. Estar ali entre os milhares de “INGs” (“indivíduos não-governamentais” – conforme a expressão talhada por Frei Betto), acima de tudo, encheu-me do orgulho do pertencimento a algo muito, muito importante.”
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Freqüentar as ruas, oficinas, feiras, exposições, debates, shows e tudo o mais dentre as centenas de espaços e atividades que compõem esse evento absolutamente estonteante que é o Fórum Social Mundial – ao lado de duzentas mil pessoas de mais de cem países diferentes – antes de tudo me trouxe duas certezas: a de ainda estar vivo e a de perceber o quanto ainda há de gente viva por aí... E foi com essa felicidade de sentir o sangue vivo pulsando nas veias que me dei conta de algumas reflexões, as quais simplesmente relaciono aqui, sem qualquer hierarquização: Quisera toda essa gente guerreira, que nunca esmorece diante de tudo de ruim que está tão bem instalado e alicerçado nesse nosso mundo, assimilasse a fundo aquele que talvez tenha sido o ensinamento maior de Ghandi: “seja você mesmo a transformação que você pretende realizar”, e assim se ocupasse primeiro da mais difícil tarefa: a do próprio renascimento... Para só então se preocupar em contagiar os outros e ter legitimidade em exigir deles. Quisera cada um ali se tornasse um verdadeiro instrumento vivo de todas as reivindicações pleiteadas. Quisera todos esses intelectuais bem intencionados, que não se esqueceram da dívida social incorporada às oportunidades formativas que desfrutaram, tivessem claro que, se para eles um outro mundo é possível, para os dois bilhões de famintos do planeta – que, aliás, não estavam em Porto Alegre (e nem poderiam estar...) – um outro mundo é urgentíssimo, tem que ser imediato, ou ainda, que para os que já acordaram para a gravíssima situação da ecologia, um outro mundo é uma questão de vida ou morte para a humanidade. Tudo, ao que parece, é uma questão de perspectiva – e isso ficou explícito no desabafo da moça palestina que veio de Ramalah (Cisjordânia) na oficina sobre os países que vivem sob ocupação: “estamos fartos de discussão: esse já é o 5º fórum onde todos discutem e se indignam, mas nada foi feito e Israel continua a nos massacrar impunemente!”
e menos pelo velho “sexo, drogas e rock n’roll”. Até porque estes – símbolos clássicos da eterna rebeldia transgressora da juventude – sem a devida fundamentação ideológica, ficam restritos a mero entretenimento a serviço da construção da mesma apatia política e social contra a qual os jovens buscam rebelar-se. Desconectar-se do propósito de tudo isso só facilitaria o trabalho dos que controlam o mundo, que querem perpetuar exatamente essa apatia. Com maior cuidado para não incorrer nesse erro, talvez o espetáculo de abertura desse magnânimo evento, no belíssimo, energético e democrático espaço do anfiteatro “Pôr do Sol”, tivesse mais a cara e a solidez de um ato cívico e desafiador contra os poderosos do mundo, e menos a de uma reunião de “alternativos” – fortalecendo exatamente aquela imagem “irresponsável” que as elites tentaram divulgar... Quisera que os pretensiosos “donos da verdade” da pseudo-intelectualidade midiática brasileira, que se divertem fazendo o jogo da extremadireita e “zoando” com os desmandos da esquerda – embora jamais admitam o quanto são decisivos no que se refere a contribuir para que um outro mundo nunca seja de fato possível (leiam-se aqui desde os Bóris Casoy/Diogo Mainardi da vida, até os piores momentos de quem já mereceu créditos, como Arnaldo Jabor, entre dezenas de outros...) – trocassem temporariamente de papel com os grandes pensadores que arrastavam multidões no Fórum (como em qualquer outro lugar no planeta onde exponham suas idéias), tais como os palestrantes Eduardo Galeano, José Saramago, Frei Betto, Leonardo Boff, Ignacio Ramonet ou os ausentes (mas ainda assim sempre presentes) Chomsky, Hobsbawn, Capra, Kurz. Seria interessante a visão inversa: esses últimos com todo o
Quisera cada um desses jovens – e eles eram a maioria no FSM, transformando o Acampamento Internacional da Juventude quase que num evento à parte – sedentos por ocupar o papel histórico que sempre lhes coube e por inventar o seu próprio Woodstock ou maio de 68, fossem todos atraídos mais pelo ato político que o Fórum representa
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espaço e financiamento da mídia, invadindo todos os lares e levando sua mensagem livremente a todos os povos, e ao mesmo tempo aqueles outros, baluartes da mediocridade, desentocando-se da segurança da telinha ou das frias páginas das revistas, e experimentando a sensação de enfrentar e inflamar uma multidão verdadeiramente crítica – pois falar para cabos eleitorais e enganar ignorantes é ligeiramente mais fácil. Viver, quem sabe, a experiência vivida por Frei Betto no Fórum, falando para duas mil pessoas e levandoas a deixar de lado as polêmicas inquietações com a atual política econômica e a explodirem de alegria numa manifestação espontânea de orgulho por viver num país onde – como ele disse, contando aos colegas franceses da mesa – “ um miserável provou a teoria de Paulo Freire: tornou-se um verdadeiro sujeito histórico e hoje é Presidente da República! Isso aconteceu no meu país!”. E olha que o próprio Lula não havia sido poupado anteriormente num outro evento do Fórum Social. Fica aqui o desafio, então: querem trocar um pouco de papel com os verdadeiros intelectuais, senhores? Quisera alguns políticos de carreira que adoraram participar das mesas ao lado de tantas feras, mas que têm os péssimos hábitos de também adorarem microfones e holofotes, e de fingirem que não reparam quando são descaradamente inconvenientes, lembrassem mais o velho ditado: “Deus nos deu dois ouvidos e uma boca para ouvirmos mais e falarmos menos” e compreendessem de fato o quão importante é o seu papel nesse projeto de transformação. Quisera fossem “contagiados” pelo Fórum a ponto de cada um perceber a urgência de rever compromissos, prioridades e atitudes. Quisera todos aqueles cidadãos que gostam de conversar sobre política e atualidades em suas rodinhas de amigos, muitas vezes alfinetando a tudo e a todos com o sarcasmo despretensioso de quem adora reclamar (mas que a cada quatro anos repete sempre os mesmos velhos votos, com
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medo de colocar em risco o maior ou menor conforto que desfrutam), construindo argumentos a partir das “informações” (?) que obtiveram pela mídia (e como é traiçoeira a confiança cega nas fontes de informação...), pudessem compreender como a discussão política que dá espaço à contradição, ao contraponto, à discordância, e que se ocupa em ouvir as histórias reais contadas por pessoas reais – cada qual uma fonte preciosa de dados – pode ser enriquecedora. O Fórum é um espaço privilegiado para isso: ouvidos atentos podem sintonizar-se tanto na fala inflamada e desafiadora de Hugo Chavez contra os EUA – evento grandioso – como também nas pequenas e riquíssimas informações sobre a realidade das lutas em todos os cantos desse planeta, que são obtidas “olho no olho” em cada uma das vielas e esquinas do Fórum. É incrível como a boa vontade em partilhar experiências supera qualquer dificuldade com idioma: é o angolano sorridente que se torna sério ao descrever a situação das minas terrestres em seu país, é o ativista basco que não se intimida diante da pergunta marota sobre o ETA, é o vietnamita que tenta trazer de volta alguma atenção às seqüelas vividas até hoje por sua gente, mesmo depois da vitória na guerra contra os EUA. Como é diferente discutir a situação do atual governo do Zimbabwe diretamente com cidadãos daquele país e diversos outros ativistas de ONG’s africanas, ao invés de “fundamentar-se”, por exemplo, numa matéria de meia página de uma revista como a Veja. É rico! Muito rico! Me fez lembrar e vivenciar a letra daquela canção dos Mutantes: “Não sou daqui, nem sou de lá, eu sou de qualquer lugar / meu passaporte é espacial, sou cidadão da Terra”. Quisera eu me transformar numas 50 pessoas para conseguir estar em todos os lugares do Fórum, falando com todos com quem eu conseguisse... Não! Acho que eu teria que ser 100... No mínimo... Quisera que todos aqueles que assumem discursos ou se propõem a encaminhar projetos de transformação não ignorassem o espaço conquistado pelo Fórum Social. Ali é a troca, o ponto de encontro, a reavaliação de experiências e, acima de tudo, a injeção revigorante de ânimo. Negar isso ou afastar-se disso constituem-se equívocos estratégicos imperdoáveis, afinal a empreitada é extremamente árdua (é lógico: nenhuma elite detém o poder por acaso, pois capacitou-se para dominar todas as técnicas imagináveis para se per-
petuar), e só lograremos algum êxito se bem organizados, conscientes de que somos ativistas heterogêneos de lutas heterogêneas, porém que se afinam numa convergência vital: um imenso “NÃO!” ao modelo que aí está. O Fórum Social nos traz a sensação do real. Teorizar em excesso, ignorando os ensinamentos dessa overdose de realidade, é um convite ao fracasso de qualquer iniciativa isolada, por mais bem intencionada que seja. Quisera ainda que lá em Davos e em todas as demais esferas de poder que conduzem essa globalização neoliberal assassina (pois condena milhares à fome e às guerras), mentirosa (pois promete o irrealizável), desrespeitosa (pois busca a massificação, ignorando a linda diversidade de povos, culturas, religiões, etc...) e insana (pois nos obriga, como humanidade, a marchar diretamente para o caos total – ecológico e/ou social), as elites abandonassem momentaneamente a sua soberba, saíssem um pouco de seu estado catatônico inebriado pelas posses, riquezas, confortos e convicções, e pudessem enxergar Porto Alegre sem o olhar míope imposto pela mídia tendenciosa. Vissem de fato as articulações ali traçadas. Quem sabe a visão lhes despertasse, lhes tocasse um pouco a alma tão endurecida pelo capital, e assim viessem engrossar os cordões dos que clamam por vida, justiça, paz, solidariedade, amor, e tudo mais. Ou então quem sabe, caso o sarcasmo e o cinismo ainda prevaleçam, a visão faria com que de fato tremessem, se apavorassem, diante da verdade histórica inquestionável que o Fórum Social mais uma vez evidencia: estamos vivos, senhores. Vivos, articulados, e cada vez mais numerosos.
O geógrafo Mauro Braga, que no Medianeira leciona na 8ª série do Ensino Fundamental e 2º ano do Ensino Médio, foi um dos milhares de “INGs” (“indivíduos não governamentais”: ativistas autônomos que não representam ou não estão vinculados a nenhuma ONG ou instituição) presentes ao Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em janeiro de 2005.
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL: MANUAL DE USO AUTOR:
Boaventura de Sousa Santos CORTEZ EDITORA O Fórum Social Mundial é a manifestação mais consistente e global da resistência contra o neoliberalismo. Nele se congregam movimentos e associações dos mais diversos países, atuando nas mais diversas áreas de intervenção, irmanados na luta contra a exclusão, as desigualdades e as discriminações sociais e a destruição da natureza produzidas ou intensificadas pela globalização neoliberal. Fazem-no em nome da aspiração comum de que um outro mundo é possível, um mundo mais justo, mais solidário e mais equilibrado nas suas relações com a natureza. O FSM é um fenômeno político novo, e este livro procura dar conta das suas principais novidades nos domínios cultural, político e organizativo. Analisa-se em detalhe a evolução do FSM desde a sua criação em 2001, as tensões que o atravessam e os principais desafios com que se confronta.
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL A HISTÓRIA DE UMA INVENÇÃO POLÍTICA COLEÇÃO:
Brasil Urgente AUTOR:
José Correa Leite EDITORA PERSEU ABRAMO O Fórum Social Mundial é uma das grandes inovações políticas do começo do século XXI, o lugar em que, desde janeiro de 2001, boa parte do movimento global se encontra e articula suas lutas seguindo um método inovador. Ele estabelece uma nova forma de fazer política, que tem como referência a idéia de rede, estruturada horizontalmente, e não a pirâmide hierárquica, de modo a reduzir os pontos de disputa e potencializar a dinâmica de encontro, diálogo e colaboração. É um espaço aberto e não uma organização ou uma instituição, em que a quase totalidade das atividades é auto-organizada pelos participantes, os partidos políticos são deslocados do centro da cena para a condição de coadjuvantes. É a invenção e o aprimoramento dessa nova forma de ação política que nos mostra este livro de José Corrêa Leite, membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial.
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Por Vilma Lenir Calixto e Adalberto Fávero
Saber o que a humanidade já sabe é importante; saber o que as diversas civilizações construíram com suas invenções, descobertas e conhecimentos também é, sem dúvida. Mas todos somos também parte de um determinado contexto construído historicamente, ou seja, também temos um papel de construir nosso saber, inventar, descobrir, conhecer. Por isso, a escola deve procurar ser um amplo espaço de pesquisa, pois é a pesquisa – instigada pela curiosidade – a força motriz para novas contribuições ao mundo que nos envolve.
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Não fossem cinco minutos, Brasília teria o formato de dois quadrados e um retângulo. Em um dia quente e chuvoso – 12 de março de 1957 –, um carro estacionou desajeitadamente na frente do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Desceram duas estudantes, Maria Elisa, de 22 anos, e Helena, de 16. Era o último dia de inscrições para o concurso que escolheria o projeto urbanístico para a nova capital do país. Esbaforidas, as duas entraram no prédio e correram pelos corredores. Faltavam os tais cinco minutos para o guichê fechar quando elas entregaram um relatório de onze páginas datilografadas, recheado por um desenho colado com rolinhos de fita adesiva. Missão cumprida, Maria Elisa e Helena voltaram para o carro, onde as esperava o pai, o arquiteto e urbanista Lúcio Costa, autor do relatório. Do outro lado do guichê, alguns dos seis arquitetos que escolheriam o projeto vencedor olharam para o texto como se estivesse escrito em sânscrito. Parecia mesmo. Era a descrição de uma cidade maluca. Não havia centro, esquinas, calçadas nem cruzamentos. Revisado e corrigido pelo poeta Carlos Drummond de Andrade – o primeiro a ler o relató-
Leste, Sul, apenas o mar e o que havia de superposição a isso: o céu. Imaginemos que foi em respeito a esse céu infinito e misterioso que a criação de Brasília se fez como uma borboleta (como queria Lúcio Costa – não um avião, como a que ficou consagrada) – muito mesmo uma visagem – uma cidade que não existia – um olhar criativo (sem dúvida a partir do que Lúcio Costa já sabia e havia vivido), mais um olhar para o que estava ainda para existir. Quem faz isso? Quem é capaz desse olhar diferente sobre as coisas e o mundo? A maioria de nós diríamos “ah, os gênios”, ou “ah, os artistas”! Tolice! Olhar muito limitador sobre a realidade que vivemos. Nós realmente temos um povo maravilhoso que não se conhece (olhar cheio de ufanismo – vai lá – como não ser?). Somos criaturas singulares, mesmo com todos nossos defeitos e incompletudes (quais seriam?).
rio – o texto pouco lembrava o projeto de urbanismo. Era belíssimo, falava de um lugar desenhado a partir de uma cruz, como “quem assinala um lugar ou dele toma posse”. Três dias depois, Lúcio Costa ganhou o concurso. Brasília levou o formato de um avião, ou de uma borboleta, como proferia o autor. Em segundo lugar, ficou o projeto que queria a capital na forma de quadrados e retângulos. (Revista Veja, 13 de janeiro de 1999.)
Ao pensarmos a origem/gênese de Brasília, sem sabermos oficialmente qual foi a primeira idéia, o que achamos é que seria de um trabalho longo, formal, extenuantemente pré-preparado, apresentado assim em pastas – formal – com cópias – com formatação (a palavra ainda não existia...), índice, objetivos, bibliografia... Não foi assim. Primeiro imaginemos o autor Lúcio Costa em viagem de navio. Algum tempo sem referências terrestres. Nada de nada das nossas referências geográficas normais, de Norte,
O que há é que em tudo de diferente que temos e criamos há uma idéia criativa. Brasília é uma grande e luminosa criação. Não criamos Brasílias todos os dias, mas todos os dias, para todas as inúmeras dificuldades que vivemos, há muitas Brasílias criadas. Somos criativos, não há dúvidas. Somos filhos de pessoas cheias de vontades, pois só com muita vontade e trabalho para vencer a floresta, o clima, a incompetência e corrupção administrativa de vários governos e todos os outros males e dificuldades para se fazer o Brasil. E o mundo esta aí, feito Frankstein a querer saber de seu criador para que veio ao mundo. E para que estamos aqui no mundo? Aí somos muitos de nós com muitas respostas, mas com uma egoísta verdade: para sermos felizes! Como ser feliz nesse nosso mundo? Outras tantas possibilidades, porém aponto e assumo agora um eu: Só com o coletivo em 1º lugar. Não sou feliz se não vejo felicidade e possibilidade de vida plena do meu lado/comigo. Posso estar feliz por alguns vários momentos (tenho sorte?!), mas não sou. Aí vem Paulo Freire, dizendo que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. Essa crise de não ser é já nossa velha conhecida. Não somos mais de esquerda (o que seria isso, hoje?), mas não sou mais jandaiense, não sou curitibana, não somos mais católicos, não somos mais solidários, não somos... E o que somos?
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Talvez a coisa mais indispensável que possamos fazer no nosso dia-a-dia, enquanto seres humanos, seja recordar a nós próprios e aos outros a complexidade, a fragilidade, finitude e singularidade que nos caracterizam. É claro que essa não é uma tarefa fácil: tirar o espírito de seu pedestal em algum lugar não localizável e colocá-lo num lugar bem mais exato, preservando ao mesmo tempo sua dignidade e sua importância; reconhecer sua origem humilde e sua vulnerabilidade e ainda assim continuar a recorrer à sua orientação e conselho. Uma tarefa indispensável e difícil, mas sem a qual talvez seja melhor que o erro de Descartes fique por corrigir. (Antonio Damásio).
Na maioria das vezes uma soma de quereres não totalmente realizados, porque muitos desses se mostram impossíveis! Impossíveis pelo próprio sistema que na verdade quer matar a possibilidade de que o querer se realize. Não! O que interessa é o querer que não se acabe e queira e consuma e queira, queira... Voltaremos ao ser feliz – nosso motor/mote. A busca pela felicidade pressupõe conhecer-se, inquietar-se, procurar, perguntar, duvidar – pesquisar. Pesquisar o que somos, o que queremos agora, o que queremos ser pelos próximos anos – na vida. Talvez estivesse aí o olhar de Lúcio Costa ao criar Brasília: uma cidade em que houvesse o urgente ritmo de busca – aquela de sempre, a mesma: a busca pela felicidade. Pensemos o que tal-
TRABALHO COM PROJETOS DE PESQUISA do Ensino Fundamental ao Ensino Médio AUTOR:
Jorge S. Martins
vez Lúcio Costa sentiu depois de criar Brasília (“pensada em doze horas, enquanto cruzava o Atlântico numa viagem de navio”). Teve um momento de felicidade...? O que tudo isso tem em comum com Pesquisa como atitude e como projeto? É simples: ser feliz. Mas ser feliz não a partir de um olhar fácil e tolo, nada que recupere ludicidade. Ser feliz não é brincadeira. É busca nossa muito antiga e deverá ir para a eternidade. Nós somos egoístas antes de tudo. Nesse egoísmo é que se deve pensar o que pesquisar com os alunos. Como fazer pesquisa nas várias áreas do conhecimento? Qual a via para instrumentalizar o aluno do ensino fundamental e médio na perspectiva de ser leitor da realidade, do livro, da prática, da vida e da felicidade? Ora, temos ousado sonhar que no ensino fundamental e médio seja possível ir além da mediocridade da transmissão de informações e fatos... algo que a mídia tem buscado dar a impressão de que faz bem. Temos sonhado ir além da informação, do fato, do texto, do pré-texto, da imagem e buscar a criticidade e criatividade da Brasília de todos nós. Certamente, não é nessa faixa etária que estarão concentradas as grandes descobertas científicas da humanidade, mas aqui poderá ser encontrada e reconstruída a humanidade das grandes descobertas.
PESQUISA ESCOLAR PASSO A PASSO AUTOR:
Sonia Marta Junqueira EDITORA FORMATO
EDITORA PAPIRUS
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Esse livro apresenta uma proposta pedagógica baseada no princípio de que é fundamental mobilizar e envolver o aluno para que seu aprendizado seja significativo. O autor explica como utilizar atividades calcadas em projetos de trabalho escolar, integrando diversos conteúdos das disciplinas regulares e do cotidiano da comunidade.
Neste livro, o aluno irá aprender passo a passo a realizar uma pesquisa escolar. A autora Sônia Junqueira ensina às crianças o que é uma pesquisa e como pesquisar em diversas fontes como jornais, revistas, internet entre outros.
O aluno, nessa faixa etária, e o educador fazem uma audaciosa trajetória de aventura com o conhecimento, primeiro com o motor da afetividade que motiva e aproxima e depois com a busca de ousadia em ser feliz ao reconstruir esperanças e sonhos de presente e de futuro. Nesse momento da vida, a atitude de pesquisa é o projeto de desafiar para a pesquisa e precisa, por isso mesmo, ter a ousadia de formar na esteira da criatividade e criticidade competente e humana. O que quer dizer isso? Formar pessoas inquiridoras da realidade; sensíveis à dor da periferia, do sinaleiro, da casa sem pão e sem educação; abertas à construção do novo; repletas de tempo, história de família, de cidade e de país; sujeitos pesquisadores da vida, da ciência e da felicidade. Não se pesquisa sem sonhar, pois não é possível viver sem sonhos. A imaginação, a fantasia, a ousadia, o sentir-se poeta por um significativo e insubstituível momento, o sentir-se sabedor de coisas, conhecedor de novidade, reconstrutor de saberes, farol de futuro para alguém, pensador de um novo país, brilhante “olhador” da realidade, ilustre conhecedor da vida e da felicidade... tudo contribui para a construção das Brasílias de cada dia. Muitos seriam os exemplos de como fazer educação com essas características, desafiar novos sujeitos do presente e do futuro, caminhar abrindo caminhos... Pensamos em alguns deles, buscando transitar entre a simplicidade do dia-a-dia e a experiência fascinante da construção pessoal e coletiva de uma escola.
Vilma Lenir Calixto é professora de Língua e Literautra do Ensino Médio do Colégio Medianeira; formada em Letras e pós-graduada em Currículo e Prática Educativa (PUCRJ) Adalberto Fávero é vice-diretor do Colégio Medianeira; é formado em Filosofia, Teologia e História e pós-graduado em Filosofia da Educação (PUCPR) e em Currículo e Prática Educativa (PUCRJ)
Os ea
CICLOS
PESQUISA
Desejamos um aluno com o perfil de quem precisa aprender durante toda a vida, renovando sempre o que aprendeu, desconstruindo as próprias certezas, convivendo com a instabilidade que obriga a rever o que faz, mantendo-se flexível e aberto diante de novos desafios, cultivando a formação continuada. A pesquisa, então, é a estratégia ideal para viabilizar este perfil. Assim, em 5ª. e 6ª. séries, dadas as características próprias dessa faixa etária, do nível de envolvimento afetivo e, em respeito a uma verticalidade/espiralidade de conceitos que se constroem, o trabalho pode ser um pouco diferenciado dos demais ciclos que se seguem; isto é, talvez não seja o caso de, de fato, produzir um projeto de pesquisa, com toda a formalização que este exige. Nesse ciclo, há dois grandes desafios: a motivação para a pesquisa e a percepção da importância do trabalho coletivo, percorridos a partir de um tema comum, que será desenvolvido ao longo do ano. No primeiro semestre, os alunos de ambas as séries devem entrar em contato com estratégias diversificadas: ora palestra, ora atividade fora do espaço escolar (aulas de campo), ora assistindo a um filme... Estas estratégias visam à motivação para o ato de pesquisar e à desmistificação do cientista como alguém inalcançável e distante do mundo real. Paralelamente, cada disciplina deve fazer o aluno “pôr a mão na massa”: ler muito para aceitar, refutar, construir, desconstruir... reconstruir de modo significativo; em outras palavras: é o momento da pesquisa individual e da elaboração própria. Dados estes passos, os alunos já têm maiores condições de desenvolver o trabalho, agora em equipe, nas diferentes disciplinas e em conformidade com os conteúdos centrais delas. Já na 6ª série, os alunos desenvolverão o trabalho em equipe, mas agora definidos por linhas de pesquisa que lhes podem ser oferecidas. Percebe-se, assim, uma gradação no desenvolvimento da pesquisa da 5ª. para a 6ª. série. Enquanto naquela a preocupação com o aspecto formal não é relevante, nesta aparecem as primeiras preocupações, isto é, os alunos devem apresentar um pré-projeto, com problematização, justificativa para o problema e os anexos do trabalho. As de-
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mais etapas de um projeto serão apreendidas no ciclo seguinte. Em suma, neste ciclo, o preponderante é fomentar a prática da pesquisa, como atitude constante no aluno, vinculada à percepção da importância do trabalho individual e coletivo para viabilizá-la. No ciclo de 7ª e 8ª séries, é importante desenvolver ainda mais a atitude de pesquisa e o fortalecimento do trabalho individual em função do coletivo. Levando em conta a faixa etária e suas características, é interessante trabalhar com temas que propõem um olhar cuidadoso sobre o adolescente, o seu mundo particular, o mundo em geral e suas aflições, enfatizando a questão da violência e a possibilidade de posicionar-se criticamente diante dessa realidade. O início do ano letivo é sempre um momento definidor de caminhos possíveis. Após a apresentação das linhas de pesquisa de cada série, o aluno pode se inscrever em uma delas, produzindo um texto individual em que justifique de forma qualificada a opção que deseja fazer. A avaliação destes textos definirá sua permanência na linha ou não. Neste ciclo, inicia-se o trabalho com as questões formais da apresentação de um trabalho de pesquisa. A 7ª. série estará mais voltada para a produção qualificada do projeto até a formulação de hipóteses. A 8ª. desenvolverá o projeto completo, fazendo uso de normas básicas de apresentação de trabalhos acadêmicos.
É importante salientar que o desenvolvimento do projeto deve ser conduzido por meio de trabalhos específicos de orientação aos grupos e também de produção. Diante das experiências com o método científico, vividas nas séries anteriores, a proposta do Ensino Médio se baseia na capacidade de o aluno realizar múltiplas sínteses de conhecimento. Essas sínteses presentes na etapa de terminalidade da educação escolar geral aparecem na pesquisa como a capacidade de se levantar a questão proposta pelo tema do ciclo, que pode ser um tema já ligado à juventude e à própria construção do conhecimento, envolvendo o ciclo numa discussão que passa por questões de ordem formal e política. A 1ª. série do EM será pioneira nesta modalidade de trabalho por ciclo, o que fará com que tenha mais tempo para leituras de base para o desenvolvimento do tema do ciclo e também reencaminhe questões metodológicas que ficaram pendentes no que se refere à construção de significado e de escrita propriamente dita. A 2ª. série do EM parte do mesmo princípio, porém com encaminhamentos e sistematizações diferenciadas e específicas da série, ou seja, trabalha com o mesmo tema – o tema do ciclo – mas neste momento realiza sistematizações mais completas e complexas, até porque já passou pelo processo de estudo sobre a pesquisa científica desde a 5ª. série do Ensino Fundamental.
Colaboraram Liliam Martinelli e Suzana Bertassoni, integrantes do Serviço de Orientação Educacional e Eliane Zaionc, coordenadora de 5ª e 6ª séries, do Colégio Medianeira.
A pesquisa em
Matemática... Pedro Demo costuma salientar pelo menos quatro pressupostos para a pesquisa científica na escola:
vo com qualidade formal e política é o cerne do processo de pesquisa;
• A educação pela pesquisa é a especificidade mais própria da educação escolar;
• Há necessidade de fazer da pesquisa atitude cotidiana no professor e no aluno;
cia Matemática pode focar a reali-
• O questionamento reconstruti-
• É preciso buscar definir a edu-
das possibilidades de se trabalhar
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cação como processo de formação da competência histórica humana. Para realizar tal utopia, a Ciêndade social brasileira. Assim, uma
a pesquisa na educação escolar é o trabalho com a conscientização desta realidade. A Matemática pode, por exemplo, fazer uma leitura do mundo que gravita ao redor do aluno enfocando a problemática das habitações populares da cidade em que vive. A partir daí, podem-se lançar algumas questões, esperando também questões propostas pelos próprios alunos. Como exemplo: qual o perfil da família com acesso a uma casa popular? Qual a porcentagem de brasileiros com casa própria? Quais motivos levam à multiplicação do valor da casa, desde a construção até o valor de sua prestação? O que é o Movimento dos Sem Terra? E o Movimento dos Sem Teto? Quais suas reivindicações? Esse projeto pode ser uma ponte interessante, pois possibilita o trabalho de conteúdos cen-
trais da Matemática de determinada série – como proporcionalidade, álgebra, geometrias plana e espacial, desenho geométrico e números – e também conteúdos periféricos – como estatísticas, gráficos e noções de informática (planilha eletrônica) –, além, é claro, de usar esse conteúdo formal e investi-lo de qualidade humana. Em um primeiro momento, os alunos podem fazer os projetos das casas (plantas, cortes e vistas), orçar todos os custos e construir as maquetes. Até este momento, não se fala em pesquisa científica. Esta é a rotina de sala, pois os conteúdos centrais e periféricos são trabalhados ali. Num segundo momento, como motivação para a pesquisa científica, podem ser feitas visitas a conjuntos habitacionais populares, a favelas espalhadas pela cidade. Os alunos, mergulhados
na realidade e tomando consciência das reais condições de vida de vários moradores da mesma cidade em que ele vive, vivenciam o lugar e tomam nota de alguns aspectos relevantes, como ofício dos moradores, aspectos e dimensões das moradias, acesso à rede de água e esgoto, condições gerais de saúde, alimentação e vestuário. Esse conhecimento pode, posteriormente, ser pensado teoricamente e, alimentada por essa teoria, a pesquisa pode propor soluções práticas. O terceiro momento é o de aprofundamento destas relações sociais. Ou seja, são delimitados os aspectos sociais que serão desenvolvidos na pesquisa. Assim, a pesquisa científica pode se tornar uma atitude cotidiana de professor e aluno, ajudando a ler o mundo e a propor novas escrituras para ele.
Colaborou o Prof. Elzério da Silva Junior, da área de Matemática do Colégio Medianeira
O sentido da pesquisa no
Ensino Religioso... O pressuposto que fundamenta a pesquisa na área de Educação Religiosa deve ser, ao que parece, a abertura ao diálogo interreligioso, possibilitando assim o conhecimento, a compreensão, a tolerância e o respeito ao outro, que possui liberdade de pensamento, de expressão e de manifestação de sua compreensão de mundo. O diálogo inter-religioso baseia-se na consciência viva do valor da alteridade, da riqueza da diversidade cultural e da percep-
ção de que ela se manifesta de diferentes formas, no tempo e no espaço. Utiliza-se, como ferramenta principal para essa compreensão, o conhecimento, não como uma Verdade que não possibilita o confronto, a troca de idéias, a inquietude, o inusitado, mas sim a verdade enquanto um ponto de partida para uma nova busca de respostas para indagações e especulações. Na medida em que ocorre o confronto de verdades, que são
distintas, mas não necessariamente contraditórias, processa-se uma transformação em cada um dos interlocutores. Eles são provocados a descobrir uma nova fórmula de apropriação, de posicionamento diante da realidade que irá impulsionar uma ruptura em relação ao que está posto, ao que está dado, proporcionando assim posicionamentos éticos para a construção de um mundo melhor, através de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
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A pesquisa na área de Educação Religiosa deve provocar no estudante a abertura e acolhida aos sinais dos tempos, a disponibilidade para a alteridade e a sensibilidade dialogal da compreensão e
leitura da realidade enquanto fato, bem como pensar a sua superação. Nesse sentido, a pesquisa deverá instigar todos os estudantes a apontar caminhos e soluções para construir um mundo melhor.
Cabe também ao Ensino Religioso a discussão de alguns dos temas mais relevantes no que concerne aos problemas existenciais: a diversidade religiosa, as relações interpessoais, a ética, a cultura...
Colaborou o Prof. Sérgio Luis do Nascimento, da área de Ensino Religioso do Colégio Medianeira
A pesquisa em
Ciências... Pensando, de modo geral, nas Ciências da Natureza, pode-se partir, por exemplo, de um objeto de estudo que esteja em bastante evidência na agenda das preocupações locais e mundiais: a água. Mais do que substância inorgânica e composta de seus respectivos átomos, ela é fonte de vida. Por meio de aulas práticas, pode-se demonstrar a eletrólise da água e as mudanças de estado da água x temperatura. Aos poucos, o aluno vai percebendo essa relação de proporcionalidade entre os dois fatores, começando a ter condições de transferir essa experiência para fora da sala de aula, problematizando o meio ambiente. Através do estudo da hidrosfera, destacam-se características, importância e propriedades, bem como o ciclo da água, suas aplicações e seus agentes poluidores. Para reflexão das ações no cotidiano, pode-se estimular o aluno pesquisador a buscar respostas para algumas perguntas sobre o consumo e o desperdício da água, assim como também do lixo
e dos resíduos e sobre os combustíveis e energia, traçando, desse modo, um perfil de consumo.
ambiente promovidas pelo homem estão repercutindo na conservação desses rios.
Finalmente, como construção coletiva, é importante recorrer às fontes bibliográficas também, que já trazem grandes contribuições para que se entenda o problema e se apontem caminhos para soluções. A leitura é tão fundamental quanto o trabalho prático. Portanto, é vital ler sobre vários temas: água como recurso natural, tipos de água, consumo atual, o ciclo da água e, mais diretamente, as várias formas de poluição. Nessa pesquisa, é inevitável – e saudável – transitar também por outras ciências, como a Política e a Filosofia, para que se discutam questões como progresso e conservação, a despoluição como questão de cidadania...
Mesmo as aparentemente distantes Artes e a Matemática podem participar do processo, na coleta de imagens, na recriação dessas imagens, nos cálculo de áreas, de volume de água etc.
Pode-se ainda trabalhar em conjunto com a disciplina de Geografia, organizando aulas de campo, nas quais é possível constatar a realidade dos nossos rios e nascentes, perceber também como as alterações no meio
Também não se pode esquecer do quão importante é a coletivização do processo. Como toda pesquisa, ela será tanto mais válida quanto maior for o público que toma conhecimento de seus resultados. Para isso, podem ser chamados os pais, os alunos de outras séries, enfim, pessoas convidadas a partilhar desse conhecimento. Assim, ao se pensar a pesquisa em Ciências, parte-se do entendimento desta prática como processo diário de investigação, reflexão e análise. O desenvolvimento de espírito crítico e criativo, na perspectiva de busca de alternativas que visem à superação das dificuldades percebidas, deve aparecer nos próprios conteúdos objetivados pela disciplina na série.
Colaborou a Profa. Carmen Lúcia Martins, da área de Ciências do Colégio Medianeira
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A pesquisa em
História... A pesquisa, nesse caso, visa a proporcionar instrumentos de análise, interpretação e ação para que alunos e professores possam assumir, individual e coletivamente, atitudes de sujeitos pesquisadores, adquirindo conhecimentos, habilidades, competências e comportamentos. Priorizando a autonomia, a metodologia científica é aplicada de acordo com o nível de desenvolvimento da série em questão, objetivando o exercício da cidadania e da crítica social. Leitura e pesquisa individuais são muito importantes para o processo de formação do sujeito crítico e criativo, fazendo com que o aluno interaja com os colegas do grupo e se torne agente atuante e transformador, relevando não a simples coleta de dados, mas uma postura reflexiva frente aos desafios propostos. O acesso a leituras, coleta de dados, elaboração de textos, aulas de campo e à utilização de recursos audiovisuais são oportunidades que fazem o professor e os alunos exercerem o aprimoramento de uma conduta ativa, crítica e elaborada. A prática da leitura deve ser abordada como processo dialético de compreensão, reflexão, crítica e transformação. “A escola precisa estar alerta à não submissão ao texto, ler é transcender estruturas castradoras, livro é zona de luta”. (Paulo Venturelli)
O professor deve estar atento, pois todo momento na escola é um momento educativo, que incentiva o uso de mapas, dicionário, explora a oralidade dos alunos, como a clareza da fala, a postura etc. Um exemplo ilustrativo: nas aulas de História, pode-se, em primeiro lugar, estudar como trabalha o historiador, quais as fontes que utiliza, buscando compreender a importância e preservação da memória e da história oral. Há alguns materiais audiovisuais (documentários, por exemplo) sobre paleontologia e topografia que desenvolvem uma nova teoria da ocupação do continente americano. Paralelamente a isso, também podem ser trazidos à sala de aula, estudiosos sobre assuntos afins ao do documentário Este trabalho perpassa os conteúdos de Pré-História, para que se percebam as transformações (especialização do trabalho, estratificação social, centralização do poder etc) que consolidaram um novo modo de vida, passando do nomadismo – dando relevo aos diferentes tempos e culturas – ao sedentarismo – com a origem das cidades e a revolução urbana. A partir de um conhecimento que começou a se construir teoricamente, a aula de campo seria uma oportunidade para se visualizar, in loco, o estudo desenvol-
vido na sala de aula. No Paraná, há o Parque Estadual de Campinhos. Uma visita a esse parque é um momento de extrema riqueza, pois além de contar com o conhecimento de um espeleólogo, tem-se a oportunidade de estar em um local que fornece elementos para uma exploração mais detalhada da formação de espeleotemas, do ambiente cavernícola, desenvolvendo consciência crítica referente às transformações estabelecidas na interação homem-natureza e na administração do espaço urbano. A compreensão do que é uma rocha calcária, a influência da formação dos Andes, fossilização em rochas sedimentares, exploração calcária, a pedra carbureto, são algumas descobertas que nos auxiliam no processo da pesquisa. Vários subtemas nascem daí, como a sustentabilidade turística, a segurança para os visitantes, ordenamento das atividades desenvolvidas, condições de preservação do patrimônio natural (ação de mineradores e visitantes sem consciência ambiental e preservacionista). Para a reconstrução do conhecimento histórico, é vital partilhar dados coletados em revistas, mapas, livros, internet, fotos e documentos, o que ajuda a caracterizar aspectos sociais, culturais e econômicos de diversas realidades históricas.
Colaborou a Profa. Tânia do Rocio Andretta, da área de História do Colégio Medianeira
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com
Pedro Demo
Ninguém poderia falar melhor sobre Pesquisa e Educação que o catarinense Pedro Demo. Seu incansável e contínuo trabalho com os temas pode ser encontrado nas mais variadas formas como artigos, livros, palestras e atividade docente. Nosso espaço seria pequeno para apresentar o professor Pedro Demo. Ele próprio faz uma breve e prática apresentação de si mesmo, no site www.pedrodemo.sites.uol.com.br :
Bem Vindos, Estudantes e Amigos Sou PhD em Sociologia pela Universidade de Saarbrücken, Alemanha, 1967-1971, e pósdoutor pela University of California at Los Angeles (UCLA), 1999 - 2000. Atualmente, sou Professor Ti-
tular da Universidade de Brasília (UnB), Departamento de Sociologia (Mestrado e Doutorado em Sociologia). Minhas áreas de atuação sistemáticas são: POLÍTICA SOCIAL e METODOLOGIA CIENTÍFICA.
Política Social
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Metodologia Científica
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Pobreza Política e Combate à Pobreza
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Dialética da Realidade
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Educação e Cidadania
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Dinâmica não linear
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Emancipação e Redistribuição
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Pesquisa Qualitativa
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Exclusão Social e Sociedade Capitalista
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Débito social da ciência
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Aprendizagem Reconstrutiva Política
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Discutibilidade
Antenado aos seus leitores e produzindo sempre, Pedro Demo também possui um blog (www.pedrodemo.blog.uol.com.br), espaço de discussão sobre o tema Educação. Ele é, entre outras coisas, o que se poderia chamar de um “pesquisador da pesquisa”, propondo a substituição do ensino baseado meramente na reprodução das informações (algo que nossa sociedade já faz em abundância, sem precisarmos de um professor para isso) pelo ensino e prática da pesquisa como princípio educativo. É algo sobre o que Pedro Demo já fala há vários anos: a pesquisa é matriz para o conhecimento reconstrutivo. Procurado por Mediação, o professor foi objetivo: Pesquisa? Vamos conversar. E foi sobre esse tema, a pesquisa, a entrevista de Mediação com o professor Pedro Demo.
MEDIAÇÃO: Na educação que ainda trabalha, em geral, com uma tendência reprodutiva, qual o espaço para a metacognição, ou seja, como fazer para o aluno, de fato, aprender a aprender e criar autonomia para pensar o próprio pensar? Pedro Demo: Permito-me dizer que não se trata de “metacognição”, mas de aprendizagem adequada, com base em procedimentos autopoiéticos, reconstrutivos, interpretativos, que mantêm o aluno como sujeito de sua autonomia. Em vez de aula, é preciso introduzir pesquisa, elaboração própria, leitura assídua, feitura de textos, argumentação... O senhor fala bastante da pesquisa como um “princípio educativo”. Para que esse princípio se instale efetivamente, como deve ser, na sua opinião, a relação entre o professor e o aluno? Pedro Demo: Primeiro, o professor precisa saber pesquisar, também para evitar a banalização do que seria pesquisa. Depois, se ele souber pesquisar,
pode ter condições mínimas para fazer o aluno pesquisar. A relação é “maiêutica”, na posição de orientação, provocação, cuidado. Para o senhor, que viaja por diversas partes do Brasil, já é possível perceber uma certa mudança de paradigma educacional, ou seja, já existem escolas que estão – além de trabalharem com a transmissão do conhecimento – caminhando em direção à pesquisa e à construção (mais do que repetição) de um conhecimento reconstrutivo? Pedro Demo: O paradigma dominante é terrivelmente instrucionista, porque é nossa tradição, é nossa “pedagogia”, é nosso atraso. Mas existe, em todo o país, a discussão em torno da aprendizagem do aluno, movida também pelos dados muito negativos do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica)*. Cada vez mais os professores percebem que suas aulas não levam a nada: aumentamos os dias letivos e diminuiu o aproveitamento escolar. Ainda há uma sensação – não sabemos se real ou estereotipada – de que o lugar da pesquisa é na universidade, enquanto à escola caberia a tarefa de transmitir o conhecimento historicamente acumulado. O senhor acha que essa ainda é uma idéia forte atualmente? Pedro Demo: Confunde-se pesquisa como princípio científico (sofisticação metodológica) com princípio educativo. Faz parte do entendimento autopoiético pesquisar, porque representa a habilidade do aluno de fazer seu próprio conhecimento. Transmitir conhecimento, a rigor, sequer é viável, porque o reconstruímos naturalmente – nosso cérebro não é xerox. Às vezes, os educadores têm dificuldade para trabalhar a pesquisa com seus alunos. Parece realmente difícil criar alunos leitores/pesquisadores/reflexivos se o educador não é nem leitor, nem pesquisador, nem tem uma postura reflexiva, não lhe parece? Pedro De mo: O professor pode ser problema, mas Demo: é sobretudo a grande solução: o aluno pesquisa se o professor pesquisa, aprende se o professor aprende, faz texto se o professor faz texto. É preciso investir forte e sistematicamente no professor, para que ele seja a imagem viva da aprendizagem adequada.
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Quando o senhor fala do ser humano como um “eterno aprendiz”, há uma aproximação bastante grande entre a educação e a poesia, já que a poesia busca sempre trazer olhares novos sobre o mundo. Como o senhor vê essa aproximação entre o encantamento poético e o encantamento proporcionado pelo saber?
nas). Em algum sentido, o aluno está desinteressado, porque a escola não é interessante. Seria bom vestir esta carapuça. Mas há muitos outros problemas, é claro, porque a infância e a adolescência vivem hoje ambientes muito diferentes, disparatados, agressivos etc.
Pedro Demo: O eterno aprendiz sempre se encanta com o mundo e suas vibrações e mudanças. Sempre busca ver além da colina e procura sentido nas coisas. Percebe que nada se esgota, porque na história não há ponto de partida e de chegada. Sempre estamos nos fazendo e desfazendo. É preciso estudar sempre, até porque quem não estuda não tem aula para dar.
A tecnologia que existe hoje e parece já ter um grande trânsito por toda a parte, inclusive na escola, precisa ser incorporada de modo sistêmico na educação. Como o senhor acha que essas novas tecnologias podem ajudar a criar um novo jeito de ser, pensar, agir e ensinar?
O mundo contemporâneo é marcado pela fragmentação, em que se fala de tudo, mas, ao mesmo tempo, não se fala de nada com profundidade. Como trabalhar hoje com essa imensa quantidade de informações à nossa disposição, de modo que não nos sobrem apenas retalhos descontextualizados dessas informações? O pensamento complexo seria uma alternativa? Pedro Demo: Abundância de informação é, de si, um legado pertinente e motivador. É preciso superar o instrucionismo que apenas informa, instrui, ensina. A idéia da complexidade pode ser banal também, porque muitas vezes não vai além da “complicação”. Mas, bem entendida, coloca o desafio de dar conta de uma realidade da qual nunca se dá conta inteiramente. Muitas vezes, o aluno, mergulhado em uma profusão de estímulos extra-sala de aula, apresenta dificuldades na hora de concentrar sua atenção em terrenos mais áridos da pesquisa e da leitura. Como canalizar a atenção desse aluno de modo que possa também enfrentar situações mais complexas na construção de seu conhecimento? Pedro Demo: É complicado reter a atenção dos alunos, por vários motivos. Primeiro, porque aula é invenção do professor para o professor. Nada tem a ver com aluno. Para um cérebro de sete anos de idade, aula não é referência nenhuma. Segundo, porque a motivação do aluno é bem diferente da nossa; não é que não se motive, mas tem outras motivações (por exemplo, não gosta de ler; mas se receber um manual de instruções para um jogo eletrônico, lê tudo, mesmo que tenha 300 pági-
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Pedro Demo: É fundamental saber lidar com isso, também porque é motivante. Entretanto, esta tecnologia é da ordem dos meios. Aprender não é gesto tecnológico, mas autopoiético. Sabendo usar, a tecnologia nos oferece um meio muito interessante para a reconstrução do conhecimento. Na educação à distância – dizem os mais azedos – geralmente só há distância! Falta educação, aprendizagem, tudo se copia, nada se cria. Mas isto é o abuso.
Acompanhe alguns dados sobre leitura apontados pelo Saeb em junho de 2004 e perceba que, apesar da melhora em alguns índices, o resultado ainda é abaixo do satisfatório (fonte: www1.folha.uol.com.br/ folha/educacao):
Prova de leitura do Saeb apresenta melhora inédita LUCIANA CONSTANTINO
da Folha de S. Paulo, em Brasília
Pela primeira vez desde 1995, a média de desempenho dos alunos da 4ª série do ensino fundamental na prova de leitura do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) melhorou em relação ao exame anterior. Porém, ainda ficou abaixo do satisfatório.
Na prova de 2003, a última feita, a média ficou em 169,4 (o máximo é 500 pontos) – os alunos acharam informações explícitas em textos narrativos mais longos e em anúncios de classificados, além de reconhecerem o tema de um texto simples. Mas não compreenderam textos mais complexos e informativos. Para ser considerada satisfatória, a média deveria ficar em 200 pontos. Em 1995, a média foi 188,3. Caiu para 186,5, em 1997, e chegou a 165,1, em2001. Nas outras séries avaliadas – 8ª. do ensino fundamental e 3ª. do médio – e em matemática, a média dos alunos de escolas públicas e particulares se manteve estável.
Veja mais esses dados de setembro de 2003, também retirados do Saeb por meio da Folha Online:
Mais de 50% dos alunos da 5ª série não sabem ler nem escrever da Folha Online
A educação mundial vem se desenvolvendo a cada ano, mas o Brasil não está acompanhando essa evolução. O desempenho de alunos com até 15 anos foi avaliado em 32 países e o Brasil ficou com uma das piores posições, superando apenas a Macedônia, Indonésia, Peru e Albânia. Segundo pesquisa do Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico, do Ministério da Educação), do total das crianças brasileiras que cursam a quinta série do ensino fundamental, 64% não sabem ler, nem escrever.
Confira alguns livros do autor:
EDUCAR PELA PESQUISA Coleção: EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA AUTOR: Pedro Demo EDITORA AUTORES ASSOCIADOS
COMPLEXIDADE E A dinâmica não linear APRENDIZAGEM do conhecimento AUTOR: Pedro EDITORA ATLAS
Demo
A complexidade tem ocupado lugar central do debate epistemológico e teórico, representando emblema principal da mudança de paradigma. Significa o reconhecimento de que é impraticável devassar o real, já que toda dinâmica complexa contém componentes refratários ao ordenamento metodológico. Essa idéia de complexidade é fundamental tanto para a epistemologia, que precisa aprender a adaptar ao real não linear, colocando o método a seu serviço, quanto para processos educativos, em particular para a aprendizagem. Recomeça a superação do instrucionismo para possibilitar ao educando estilos formativos de dentro para fora, capazes de gerar autonomia. A Inteligência Artificial tem abusado da perspectiva linear dos computadores atuais, ao insistir, por exemplo, em hipertextos não lineares, quando, na prática, são procedimentos tipicamente algorítmicos.
POBREZA DA POBREZA AUTOR:
Pedro Demo EDITORA VOZES
O texto realça a “pobreza política”, que não é outra pobreza, mas face política. Assim como a fome é substancialmente questão política, não apenas agrícola ou técnica, a pobreza é a face mais negra de uma sociedade injusta que ainda pretende viver no privilégio de pequena minoria contra grandes maiorias. O livro é dirigido aos estudiosos e interessados em analisar a realidade brasileira de maneira mais interdisciplinar, sociólogos, antropólogos, assistentes sociais, educadores, economistas, dispos51 tos a rever as idéias surradas sobre pobreza no Brasil.
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Entre um e um Por Luciane Hagemeyer
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“As revistas, As revoltas, As conquistas da juventude São heranças, são motivos Pras mudanças de atitude...”
Quando nos debruçamos sobre um assunto que para nós é novo, é sempre bom procurarmos estabelecer um diálogo com o que já sabemos e nos é significativo. Isso nos faz descobrir que um discurso pode ter várias faces. Às vezes, “basta a cara e a coragem, a cor, o corpo, o coração, uma canção da banda preferida, uma descida ao porão...”
1986. Último ano do “antigo” magistério. Estava em dúvida entre fazer Letras ou Publicidade. Apesar das aulas de Literatura serem as minhas favoritas, achava que fazer Publicidade teria mais a ver comigo. Queria trabalhar com a linguagem. Contudo, era necessário decidir logo, afinal o vestibular já estava chegando e eu tinha que tomar a fatídica decisão. Bem, confesso que optei por fazer o vestibular para Publicidade e Propaganda. E aí, não passei. Resultado: mais um ano de estudos. Ainda continuava me interessando por tudo o que tivesse por base a palavra, só que dessa vez, acabei mudando de opção. Tentei Letras. Descobri, um tanto tardiamente, que a minha professora de Literatura havia me influenciado muito mais do que eu imaginava. Foi por meio dela que comecei a me dar conta do profundo significado que a poesia tinha para mim. E observava que naquele contexto, havia mais gente pensando como eu. Era o final da década de 80 e havia muita poesia no ar. Quer dizer, não só no ar, nas rádios também. Naquele momento surgiam novos letristas e compositores que faziam parte de uma geração que marcou história. Uma galera que trouxe um grande fôlego à MPB veiculada pelas rádios daquela época. Este período, que se configurou como o boom do Rock Nacional, foi chamado por Arthur Dapieve de “BRock”. Foi um movimento que, de forma geral, revelava uma atitude punk que chegava da Inglaterra, embora de forma atrasada por
aqui. Era um novo rock, que falava dos problemas comuns de uma geração que começava a encontrar espaço para veicular suas idéias sobre política, governo, religião, amor e sexo num momento em que o Brasil vivia um processo de redemocratização, decorrente do Movimento das Diretas. Carregava em si diversas vozes, fruto de discursos anteriores, e com elas dialogava. Mais do que isto, foi uma época que influenciou de alguma forma todos aqueles que cresceram ouvindo as canções de Cazuza, Renato Russo, Herbert Vianna, Arnaldo Antunes, Nando Reis (e os demais Titãs) e Humberto Gessinger. Este último, mesmo tendo sido sempre o mais alvejado pela crítica, me parecia o que mais se diferenciava dos demais. Curiosamente, o segundo LP da banda formada por Humberto Gessinger, Augusto Licks e Carlos Maltz – os Engenheiros do Hawaii – foi intitulado A Revolta dos Dândis, nome que havia sido retirado de um capítulo do livro O Homem Revoltado, do escritor e filósofo franco-argelino Albert Camus. Este mesmo autor também havia escrito um ensaio intitulado O Mito de Sísifo baseado na lenda grega do mesmo nome. De fato, esta era a lenda mais rock’n roll da Grécia Antiga, pois se tratava de uma descrição do homem condenado eternamente a empurrar uma pedra para o alto de uma colina, de cujo topo ela sempre rolaria, obrigando-o a um trabalho exaustivo e infinito. Assim, neste e nos subseqüentes quatro discos da banda, os Engenheiros do Hawaii, cuja figura principal foi e continua sendo a de Gessinger, o que se revelou foi a presença de um grande “time do contra” no cenário do Rock Brasil. De um lado, porque de punks eles nada tinham (e nada têm). Suas referências melódicas mais imediatas eram as bandas Pink Floyd e Rush, denotando, segundo Sílvio Gessinger, “uma aversão à modernidade da música pop e aos lances previsíveis dos seus contemporâneos”. Isto fez do grupo liderado por Humberto “uma espécie de reserva moral da música jovem brasileira”, conceito definido por Silvio Gessinger, em 10.000 destinos ao vivo. Na verdade, talvez fosse justamente esta aversão à modernidade presente nas temáticas das letras de Gessinger, um dos seus principais diferenciais. Mas havia outros. Algumas de suas letras, tomando por base outros exemplos contidos nos demais LPs, eram evidências de uma qualida-
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de formal surpreendente, caracterizada por variados recursos de linguagem, como as aliterações fascinantes de “Somos quem podemos ser ” (“Quem ocupa o trono tem culpa/ quem oculta o crime também/ Quem dúvida da vida tem culpa/ quem evita a dúvida também tem...”), de “Alívio Imediato” (“Que a chuva caia como uma luva, um dilúvio, um delírio/ que a chuva traga alívio imediato...”) ou da impecável “O Papa é Pop” (“...o pop não poupa ninguém...”), que, além das aliterações, também envolviam o uso de trocadilhos, outra marca genial de Gessinger. Como se não bastasse, Humberto tinha uma incrível habilidade para subverter clichês e ditados populares, revigorando-os, e atribuindo-lhes novos e ambíguos significados, como em “Tribos e Tribunais”, em parceria com Augusto Licks (“Isso me sugere/ muita sujeira/ isso não me cheira nada bem/ tem muita gente se queimando na fogueira e muito pouca gente se dando muito bem...”). As letras sempre têm como tema recorrente o ser humano, percebendo a cena urbana de forma irônica, num contexto de incertezas pós-modernas. Acredito que estes fatores já lhe inspiravam tantas imprecisões diante das “rápidas transformações” que ocorriam na sociedade daquela época. Com o passar do tempo, comecei a perceber que as letras das canções de Gessinger possuíam um traço típico das poéticas modernas, como a cidade, a contradição, a solidão inerente ao ser humano. E estas eram sempre retomadas, quase como se fossem organismos autônomos, “variações” sobre estes temas. Curiosamente, foram estas composições de que me chamaram a atenção para um poeta bastante distante do nosso tempo e espaço: um dos primeiros e grandes poetas líricos que refletia sobre a condição humana na modernidade, Charles Baudelaire. E quem era ele? Bem, vamos dar uma “descida ao porão”. Baudelaire nasceu em 1821, era parisiense e... um dândi! Um dândi, segundo Ana Balakian, corresponderia em meados do século XIX, a um homem um tanto egocêntrico, de meia-idade, bem vestido, é claro, embora excêntrico e entediado, e que por ter experimentado todas as idéias e tido muitas experiências, reduziu-as a um vazio de sentido. Na verdade, Baudelaire escreveu as primeiras poesias cosmopolitas. Através da sua poética, denunciava as dissonâncias existentes nas gran-
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des cidades, a ironia da condição humana, a beleza que provinha do que não era comumente considerado belo. Sua principal obra? As Flores do Mal. Para ele, a escrita da poesia era uma atividade intelectual, era trabalho, mais do que inspiração. Talvez, daí, a sua genialidade. Foi assim que comecei a perceber certa aproximação entre as duas poéticas que me chamavam a atenção. Mas como confrontar duas linguagens tão distantes no tempo e no espaço, a de um poeta do século 19 e a de um compositor do século 20? E mais, não poderia desconsiderar o fato de que quando se trata de falar em composição, corremos sempre o risco de mutilar a criação artística, detendo-nos mais sobre um de seus aspectos, sejam eles ou só a letra, ou só a melodia. É sempre um risco. Acreditando que estabelecer este diálogo valeria a pena, encontrei primeiramente alguns elos na cadeia que ligava os dois artistas em questão: a filosofia existencialista de Jean Paul-Sartre, e o movimento beatnik, da década de 50, nos Estados Unidos, que foi fortemente influenciado pela poética de Baudelaire. Um dado interessante neste diálogo é que, para Hal Chase, a chave para o movimento beatnik foi o tédio, da mesma forma que a temática do “enfadado” era recorrente em Baudelaire. E assim, influenciados pelo livro-símbolo do movimento beatnik, On the Road, de Jack Kerouac, muitos jovens de classe média largaram tudo “e pegaram a estrada”. Era uma geração que vinha surgindo entre as décadas de 30 e 40 e foi chamada por Jean-Paul Sartre de “’The Lost Generation”, a geração perdida. Uma geração que passava o sentimento do desespero, do abandono e da angústia presentes naquele período. O mais legal de tudo isso é que a literatura beatnik começou a chegar por aqui na década de 80. Seria uma simples coincidência? A partir daí, a “Infinita Highway” passou a fazer cada vez mais sentido. Era puro movimento beatnik! ...Mas não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir Não queremos ter o que não temos Nós só queremos viver Sem motivos, nem objetivos Estamos vivos e isto é tudo É sobretudo a lei/ Da infinita Highway... Eu vejo um horizonte trêmulo, eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado Eu posso estar correndo pro lado errado Mas “a dúvida é o preço da pureza” E é inútil ter certeza Eu vejo as placas dizendo não corra Não morra/ Não fume Eu vejo as placas cortando horizontes Elas parecem facas de dois gumes...
É importante ressaltar aqui toda a simbologia destes versos de Infinita Highway, pois as placas, simbolizando as proibições, nos “cortam os horizontes”, mas não de maneira a nos fazer “enxergar” alguma novidade; pelo contrário, multiplicam-se num contexto que nos restringe a liberdade cada vez mais. Assim, seria perceptível em Infinita Highway um exemplo claro do diálogo com a lírica moderna, onde a criação se dirige, em uma instância, a um destinatário em especial, o futuro incerto. Neste sentido, a visão de um “horizonte trêmulo” dispensaria comentários. Vale lembrar ainda que o verso “a dúvida é o preço da pureza” foi tomado emprestado de um dos textos de Sartre. Mas havia outros aspectos dominantes na poética moderna e em algumas composições de Gessinger. Um deles era a relação entre os temas que apareciam constantemente contrapostos, assimilando e sinalizando o mesmo viés paradoxal de Baudelaire, perceptível na canção título do LP, A Revolta dos Dândis: Entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato Entre a loucura e a lucidez entre o uniforme e a nudez Entre o fim do mundo e o fim do mês Entre a verdade e o rock inglês Entre os outros e vocês Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem Que não passa por aqui, que não passa de ilusão Entre gritos e gemidos, entre mortos e feridos (A mentira e a verdade, a solidão e a cidade) Entre um copo e outro da mesma bebida Entre tantos corpos com a mesma ferida Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem Que não passa por aqui, que não passa de ilusão
Entre americanos e soviéticos, gregos e troianos Entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos...
A canção “A Revolta dos Dândis”, plena de significados, evidenciava o paradoxo entre os elementos da canção, denotando uma moral em transição, um estado intermediário entre uma coisa e outra. A música denotava a ausência de um salto necessário para sair de uma determinada situação, embora o “estrangeiro” não se identificasse com ela. Esta falta de impulso para uma transformação também denunciava algumas assimilações características da lírica inaugurada por Baudelaire, porque manifestava o ceticismo diante de uma época entendida mais como uma civilização técnica. Daí a sugestividade da capa do LP e do próprio símbolo incorporado à imagem dos Engenheiros, as engrenagens, marca da revolução industrial: “o homem transforma-se numa peça de engrenagem, e sua tarefa, em que não há mais o caráter artesanal, pode ser realizada indiferentemente por qualquer indivíduo. O automatismo é o preço do progresso”, afirma A. GOMES, no livro O poético: magia e iluminação. Vale lembrar também que o “estrangeiro” a que Gessinger se referia não apenas possuía uma relação direta com o personagem de Camus, de O Homem Revoltado, mas também denotava a falta de enquadramento de alguém num sistema como este. Enfim, Gessinger, Licks e Maltz sempre se diferenciaram por sublinhar a contradição e o paradoxo na condição humana. Talvez seja por isso mesmo que eles nunca foram uma unanimidade, até mesmo porque, se assim fosse, os Engenheiros não teriam a menor graça. Mas é sempre bom dar uma olhada por aí e ficar atento ao que as novas “e as velhas” bandas de rock estão acrescentando hoje no cenário do BRock. Ou será que a juventude continua sendo “uma banda numa propaganda de refrigerantessss... ?” “Se for, já era”... * Ah, mais uma curiosidade. Humberto Gessinger estudou no colégio jesuíta de Porto Alegre, o Anchieta.
Luciane Hagemeyer é professora do Ensino Fundamental no Colégio Medianeira, formada em Letras Português/Inglês pela UFPR, com pós-graduação em Currículo e Pratica Educativa pela PUC-Rio e mestranda em Estudos Literários pela UFPR.
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PERGUNTE AO PÓ AUTOR: John Fante EDITORA JOSÉ OLYMPIO No clássico que influenciou Charles Bukowski, John Fante relata o sentimento de exclusão de um jovem escritor que, no auge de seus 20 anos, utiliza o submundo de Los Angeles como laboratório de vida. Arturo Bandino, protagonista de Pergunte ao Pó, vive em um hotel barato de LA e se apaixona por uma garçonete mexicana, Camila Lopez. Juntos, os dois compartilham uma história complicada regada a amor, ódio, liberdade e loucura. Embora tudo aconteça na década de 30, os conflitos de Bandino e sua busca pelo autoconhecimento e realização pessoal são atuais e reais na vida de qualquer jovem de 20 e poucos.
GUIA DE ROCK EM CD ORGANIZADORES: Arthur Dapieve e Luiz Henrique Romanholli EDITORA JORGE ZAHAR Esse ‘Guia de Rock em CD’ não apenas indica e comenta os 300 discos essenciais do gênero como conta resumidamente a história dos 170 intérpretes ou grupos que os gravaram, do AC/DC ao Yes, de Arnaldo Baptista ao Ultraje a Rigor. Os críticos de rock Arthur Dapieve e Luiz Henrique Romanholli selecionaram para esse guia CDs de todas vertentes do rock. O leitor encontrará nas páginas deste livro tanto textos sobre Cake, Hüsker Dü e Sepultura, quanto nomes obrigatórios como Beatles, The Clash e Nirvana. Sinopse disponível em: http://saraiva.com.br
TITÂNICOS CAMINHOS AUTOR: Felipe Mendes EDITORA GRYPHUS
Trotta
O livro comenta, segundo Jamari França, “a trajetória sonora dos Titãs que foi do new wave para o mais radical trash metal, num direcionamento que levou a banda a um estouro de massa e depois reverteu para um mercado segmentado. (...) Os Titãs são um dos melhores exemplos da alquimia sonora do rock: oito personalidades fortes que souberam administrar suas diferenças em proveito da criação de uma personalidade musical comum, de impecável qualidade sonora e cultural.”
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ON THE ROAD AUTOR: Jack Kerouac EDITORA L&PM Quem já assistiu a Diários de Motocicleta, longa dirigido pelo brasileiro Walter Salles, baseado na viagem de Che Guevara pela América Latina, vai entender como ninguém a essência de On The Road. Ao se deliciar com os textos de Jack Kerouac, o pai da geração beatnik, a vontade que se tem é a de sair correndo, sem rumo e sem compromisso algum. Em Pé na Estrada, título traduzido para o português, o escritor conta a história de dois amigos que decidem viajar de uma costa à outra da América do Norte em busca de um estilo de vida totalmente controverso ao “american way of life”. Embalados pelo jazz vigoroso do final de década de 50 e entorpecidos por estimulantes e álcool, Dean Moriarty e Sal Paradise curtem aquilo que seria e foi - a viagem de suas vidas. Alguém duvida? Sinopse disponível em: www.igeducação.ig.com.br.
BROCK O ROCK BRASILEIRO DOS ANOS 80 AUTOR: Arthur EDITORA 34
Dapieve
Escrito de forma brilhante pelo jornalista Arthur Dapieve, o livro foi lançado em 1995 pela Editora 34 e está em sua terceira edição. Chamado por Dapieve de Brock, o pop-rock brasileiro que se consolidou naquela década é retratado e analisado em vários detalhes. Do começo de tudo, passando pela Jovem Guarda, Raul Seixas e Mutantes até a explosão roqueira nos anos 80, o autor dá um panorama social e político do Brasil daqueles tempos. E os clássicos são todos devidamente homenageados. Titãs, RPM, Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Blitz, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e Engenheiros do Hawaii têm capítulos próprios, tamanha sua importância à frente do movimento.
GEOGRAFIA na escola: (re)definindo
caminhos
Por Leandro Guimarães
Nenhuma ciência é neutra. Ela está sempre se posicionando diante do mundo por meio de seu objeto de estudo, impregnado de discursos que desnudam ou acentuam os enigmas do homem. Como a Geografia ocupa o seu território? Como é capaz de subverter o papel destinado a ela nas épocas difíceis de uma educação conservadora? Como ela se renova e encara os desafios de buscar coordenadas para a leitura do mundo contemporâneo?
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O que a Geografia anda fazendo nas escolas? Preenchendo o horário dos alunos, apenas desenvolvendo a capacidade de memorização e transformando-os em mini-Atlas ambulantes ou ainda estimulando discursos vazios, sem nenhuma base de preparação? Não se pode saber exatamente o andar da carruagem dentro das salas de aula em todos os colégios, mas é sabido que, há muito tempo, o ensino recebido por nossos tios, pais e avós passa por mudanças profundas. É extensa a lista de estudiosos que, ao longo do tempo, refletem a respeito destas mudanças. Germán Wettstein, um renomado geógrafo uruguaio, acredita que essa disciplina deve, em alguns casos, é claro, fazer uso de termos usados em medicina, como a “geografia curativa” e a “geografia preventiva”. Aproveitando o gancho desta concepção, muitas vezes a disciplina realmente precisou passar por um verdadeiro tratamento médico. Jean-Michel Brabant, por sua vez, afirmava de forma muito curiosa: a crise da geografia na escola se resume essencialmente na crise de sua finalidade. Aliás, como foi comum o termo “crise” não só ao mencionar o ensino de geografia, mas seu próprio estabelecimento como ciência. Por vários anos, a geografia constituía-se nas salas de aula como uma disciplina neutra, sem postura e sem foco. O que não é muito difícil de se compreender, bastando ver nosso passado histórico de repressão à liberdade individual e até mesmo a falta de espaço de trabalho por certos profissionais de ensino. Claro, em um ambiente mergulhado profundamente nas águas de um sistema capitalista, estes acabavam aderindo à mesma estrutura escolar que preparava (e ainda prepara) alunos “domesticados” para o mercado de trabalho. Muito bem, detectado o fato de que realmente passamos por crises (pode-se comparar a um relacionamento. Isso, por sinal, é bom, pois muitas vezes foi passando por elas que acabamos descobrindo nossas falhas e nos conhecendo melhor), a geografia da sala de aula se identifica com o quê? Propõe-se aqui uma atividade: ligar a televisão (talvez nem isso seja preciso, pois ela parece possuir uma tendência natural a permanecer ligada!) e observar o conteúdo dos programas “informati-
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vos” (lamento dizer a muitos, mas as novelas não entram nessa categoria). É impressionante como quase tudo aquilo que pode ser conectado ao ensino de geografia se assemelha a efeitos catastróficos. Imagens aéreas de uma região urbana mostram um moto-boy esfacelado no chão. Critica-se o moto-boy por perambular como um louco nas cidades, mas não se comentam as horrorosas condições de trabalho pelas quais passa. Muito menos fornecem os dados de quantos outros se encontram torcendo realmente pelo seu tombo, porque a fila de emprego destes motociclistas (que no futuro provavelmente também tombarão) é maior do que a quantidade de moto-boys trabalhando. Ainda: vítimas de alagamento são filmadas tentando desesperadamente se agarrar a um poste ou a algo do gênero. Critica-se a administração local em um verdadeiro jogo político, mas dificilmente se esclarecem as condições e os efeitos que desencadeiam as cheias dos rios nas regiões urbanas. Os deslizamentos que ocorrem sempre são acompanhados de uma maca carregando o corpo enlamaçado daquela criança que estava dormindo no momento. Ah, mas a ocupação era ilegal. Ilegal por quê? Por opção destes moradores? Um tsunami atinge a Ásia e a maioria dos telespectadores fica horrorizada com o fenômeno, quando sequer sabe quais regiões e sob que circunstâncias isso pode ocorrer (mesmo os recentes documentários oferecidos na TV paga apresentam situações de tragédia, como corpos empilhados e cenas reais de uma pessoa sendo arrastada pelas ondas. Raramente discute-se a degradação do meio ambiente como agente causador de tragédias). Notícias alarmantes ressaltam os problemas da seca em determinadas regiões, mostrando produtores que necessitaram negociar toda sua infra-estrutura para pagar as dívidas existentes. Os sistemas de crédito agrícola prevêem eventos econômicos atípicos como este? O risco-país aumenta! Pronto, o PIB vai cair, os investimentos desaparecem, o dólar sobe. É um verdadeiro “vai-e-vem” de “altos e baixos”, tudo no mais belo linguajar econômico. É neste ambiente de informação imprecisa, desordenada e manipuladora que acabam por proliferar seres apáticos, sem perspectivas, incrédulos e maniqueístas de toda espécie. E pode apostar, proliferam-se na sala de aula. Entretanto, a sociedade caminha sob estas circunstâncias, mes-
mo que “aos trancos e barrancos”. E o crescimento e queda desta atinge todas as esferas: seja do ponto de vista econômico (e isto preocupa a maioria das pessoas, por mais que não entendam como a alta da SELIC interfere no preço do pão que elas irão comprar amanhã na padaria), seja social, cultural e moral. O mesmo Germán Wettstein afirmava que a vida cotidiana é um grande livro com o qual se pode aprender sempre. Entretanto, árdua tarefa essa do professor de geografia: filtrar o que é instrumento de manipulação, sensacionalismo e argumentos vazios (aliás, a internet colabora muito para isso, especialmente porque os jovens de hoje formam uma nova geração, extremamente conectada sob todos os sentidos ao computador) e o que definir como parâmetros sólidos para a verdadeira compreensão do espaço geográfico. Um recente filme do diretor argentino Adolfo Aristarain, Lugares Comuns, conta a história de Fernando Robles, um professor que é obrigado a se aposentar por determinação do governo, justamente por causa da crise econômica pela qual o país vinha (e podemos ainda dizer que vem) passando. Em determinado momento, num de seus últimos dias de trabalho, o personagem se dirige aos alunos – que se tornarão futuros professores – afirmando que não devem jamais ensinar algo que, ao simples sair da sala de aula, já irá cair no esquecimento. Este é um espaço muito importante para ficar fadado ao mero desperdício de tempo (do professor e o aluno). E conclui de forma magnífica: o que os alunos devem aprender é a “dor da lucidez”. Pode apostar que a geografia, apesar de seus desvios de percurso ao longo de sua história, anda fazendo isso muito bem!
GEOGRAFIA DA FOME O DILEMA BRASILEIRO: PÃO OU AÇO AUTOR:
Josué de Castro EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA Um ensaio sobre o fenômeno da fome generalizada, numa época em que esta se torna cada vez mais visível em tempos de globalização. Josué de Castro foca seu estudo no continente americano, dando especial atenção à fome no Brasil.
GEOGRAFIA HUMANA SOCIEDADE, ESPAÇO E CIÊNCIA SOCIAL AUTOR:
Graham Smith, Derek Gregory e Ron Martin EDITORA JORGE ZAHAR A progressiva globalização da produção, das finanças e da cultura; os desafios enfrentados pela nação-estado; a importância do ambientalismo; a forma como determinadas regiões e suas identidades cultural e política vêm sendo resgatadas na esteira da internacionalização e do localismo; estes são alguns dos temas de ‘Geografia humana’, livro que coloca o leitor a par da drástica reorientação por que vem passando esta disciplina, símbolo da pós-modernidade.
Leandro Guimarães é geógrafo, professor da 1a. série do Ensino Médio, no Colégio Medianeira. É graduado pela UFPR.
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Fé y Alegria
SEMENTE de Educação
entre os
EMPOBRECIDOS
O “Movimento Internacional de Educação Popular Integral e Promoção Social Fé e Alegria” nasceu há 50 anos, na Venezuela, da indignação diante da situação de injustiça educacional dos pobres. A visão audaz de seu fundador e a colaboração de inúmeras pessoas e organizações, cristalizaram uma obra de história rica de proteção ao futuro. Hoje são 1,232 milhão de alunos na educação formal e programas comunitários. A Fundação Fé e Alegria foi concebida como um instrumento para melhorar as condições de vida dos homens e mulheres marginalizados pela sociedade. Assim, começou a trabalhar, em 1955, o Pe. José Maia Velaz, S.J., acompanhado por um grupo de estudantes da Universidade Católica Adrés Bello, nos bairros de Caracas, Venezuela. No contato direto com os pobres, surgiu a percepção de que a causa fundamental de todas as injustiças sofridas pelo povo é sua própria ignorância. Se constatou a necessidade da Educação. Fé e Alegria se propõem a contribuir para a melhoria dos níveis de educação da população mais pobre e para uma melhor qualidade de vida deste povo. E a educação dos pobres exige um projeto próprio, a partir da cultura da pobreza que é seu pão de cada dia. Esta é a proposta do Fé e Alegria que se define como “movimento de educação popular integral”. O projeto educativo da Fundação está construído a partir da periferia e da marginalização. “Onde termina o asfalto, começa Fé e Alegria”, se descreve o projeto de uma forma tanto gráfica quanto dramática. As estratégias de trabalho fundamentais têm sido a educação e a organização das comunidades; dizer aos sujeitos individual e socialmente, que são capazes de assumir em sua mão as decisões de suas vidas, sua própria história. Desde o começo, com a criação de escola e a extensão de trabalho comunitário, se promove um estilo parti-
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cipativo e responsável, que se traduz em relações abertas e diretas entre os que constituem os centros educativos. Hoje, Fé e Alegria tem experiência reconhecida de mais de 40 anos de trabalho. A Fundação encontrou terra fértil para expandir-se: Equador (1964), Panamá (1965), Peru (1966), Bolívia (1966), El Salvador (1968), Colômbia (1972), Nicarágua (1974), Guatemala (1976) e Brasil (1980). Mais tarde se funda Fé e Alegria na República Dominicana (1991), Paraguay (1992) e se organiza o surgimento do projeto na Argentina (1995). Sentindo a necessidade de estruturarse como instituição, é criada uma Federação Internacional, com estatuto e regulamento. Hoje a Fundação atua como organização consultora da UNESCO e da UNICEF. A unidade da missão de Fé e Alegria tem sustentação nas reuniões internacionais, realizadas todos os anos, que servem para troca de experiências e qualificação dos processos. Fé e Alegria formula sua Proposta Pedagógica como resposta à dramática realidade em que vivem as populações mais pobres. A Fundação, portanto, se caracteriza pela criatividade na busca de metodologias e modalidades educativas, formais e não formais, que respondam à problemática das comunidades e pessoas atendidas. Sua estrutura organizativa é baseada na autonomia funcional de países, regiões e centros. Neste sentido, se busca o desenvolvimento de uma democracia real, com mecanismos participativos que permitam a justiça, a igualdade e a solidariedade. Em respeito à diversidade, às características regionais e locais, assim como aos problemas e necessidades particulares, se justifica a autonomia funcional da gestão administrativa. E para que isto seja possível, fomentamos o exercício da participação responsável em todos os níveis – escolas, centros, regiões, país. Fé e Alegria como edu-
cação popular é impossível sem participação. A nível de Instituição global, o projeto participativo preserva a autonomia institucional de cada país e, de acordo com os Estatutos da Federação Internacional, se vinculam diversas instâncias organizativas e diretivas do Movimento com o projeto: leigos, comunidades religiosas, em particular a Companhia de Jesus, fundadora e incentivadora do Movimento. A concepção e prática de um Estado Docente tem sido tradição arraigada nos países da América Latina. Fé e Alegria, desde o começo e até hoje, luta contra o monopólio paralisante do Estado que impede o desenvolvimento de iniciativas sociais. A gestão privada da Fundação Fé e Alegria não se contrapõe ao caráter de “educação pública” que professa. Se considera educação pública porque persegue direitos para o bem comum de todos os cidadãos, estabelecidos nas Constituições dos respectivos países, e luta para que se leve educação àqueles que são sistematicamente discriminados e excluídos dos benefícios sociais básicos de nossas sociedades. E é de gestão privada porque em sua administração goza de independência com respeito a participação do poder público. Fé e Alegria estabelece convênios com diversos governos, diretamente ou por meio de associações de educação católica, para ter acesso a fundos que permitam o funcionamento dos centros existentes e a expansão de novos centros. Os financiamentos de fontes não governamentais tem
sido decisivo para a construção, dotação e financiamento dos centros. Educação pública, gestão privada, iniciativa social são a chave para a multiplicação de eficiência, e de fortalecimento das instituições sociais. Autonomia funcional, participação responsável, democratização dos níveis locais de gestão são a chave para elevar a qualidade educativa. O sentido universalista é uma marca que caracteriza Fé e Alegria. Sua vocação de serviço às maiorias empobrecidas transcende as fronteiras geográficas, étnicas e culturais. A experiência de trabalhar em 13 países com uma mesma missão, em contextos culturais distintos, com autonomia de ação, mostra que se pode dar unidade mantendo e respeitando profundamente a diversidade que caracteriza cada um de nossos países. Esta é a experiência de Fé e Alegria. Em mais de 40 anos de existência, o movimento tem se revelado como um modelo pedagógico válido, e um exemplo concreto do “serviço da fé e promoção da justiça” no âmbito da cultura e educação popular.
Jesús Orbegozo, S.J. (Anuário da Companhia de Jesus)
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w w w. f e y a l e g r i a . o r g )
falando do
ZÉ RIBAMAR
ferreira
Sim, Gullar é singular. ____ x ____
Ah... essa vontade de escrever tão grandes letras arrastar o prego na parede até rasgar o reboco, não arrepiar não tremer não encobrir desenrolar a língua afrouxar a gravata e então..... ............... .?.!..!.?.!..? ............... tudo está consumado
Minha dieta é direta: eu masco os erres.
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ha n a r t s e ORTE na
M cidade
. L. No I. M m o peito ira lhe abr ção aberto ra e no co grava – an – que s am rar encont de voz. to um res
Francisco Carlos Rehme (o Chicho) é geógrafo, professor da 3a. série do Ensino Médio no Colégio Medianeira. Além de poeta, é claro.
Mande seus poemas, contos, crônicas... para 62
MEDIANEIRA
Alunos da 2ª série do Colégio Medianeira, ano de 1960
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