Revista Mediação - Número 12

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ISSN 1808-2564

revista de educação editada e produzida pelo colégio medianeira Diretor Pe. Rui Körbes, S.J. Vice-diretor Prof. Adalberto Fávero Coordenador Administrativo e Financeiro Gilberto Vizini Vieira Coord. Comunitário e de Esporte Prof. Francisco Alexandre Faigle Coordenação Editorial e Revisão Nilton Cezar Tridapalli Luciana Nogueira Nascimento (MTB 2927/82v) Projeto Gráfico e Diagramação Sonia Oleskovicz Ilustrações Gilcéia Lutfi Colaboraram nesta edição Adalberto Fávero, André Tezza, Arthur Batista Tortato, Belkiss de Araújo Cardoso Ferrari, Berenice Mendes, Bianca Pierosan Hugen, Carlos Henrique Martins Torra, Caroline Suski Vicentin, Christiane Denardi, Flávio Renê Miranda Pavan, Gloria Kirinus, Helmuth Kirinus, Isabela Bonet Scheffer , João Vitor Vieira de Bittencourt, Letícia Estela Cavichiolo, Luciane Hagemeyer, Roberta de Souza Mansani, Suzana Braga Bertassoni e Tatiana Simas Mielke Tiragem 3.000 exemplares Papel Reciclato Suzano 90g/m2 (miolo) Reciclato Suzano 240 g/m2 (capa) Número de Páginas 52

EQUIPE PEDAGÓGICA Supervisão Pedagógica Claudia Furtado de Miranda Geralda Colen Educação Infantil e Ensino Fundamental de 1ª à 4ª séries Coordenadora Profª Silvana do Rocio Andretta Ribeiro Ensino Fundamental de 5ª e 6ª séries Coordenadora Profª Eliane Dzierwa Zaionc Ensino Fundamental de 7ª e 8ª séries Coordenador Profª Roberta Uceda Vieira Ensino Médio Coordenador Prof. Marcelo Pastre Coordenador de Pastoral Pe. Guido Valli, S.J. Coordenador de Mídia-educação Nilton Cezar Tridapalli Marketing Luciana Nogueira Nascimento Os artigos publicados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião dos editores e do Colégio Nossa Senhora Medianeira. A reprodução parcial ou total dos textos é permitida desde que devidamente citada a fonte e autoria.

Linha Verde - BR 476, Km 130, nº 10546 Prado Velho • Curitiba • Paraná fone 41 3218-8000/ fax 41 3218-8040 www.colegiomedianeira.g12.br mediacao@colegiomedianeira.g12.br

Come(ça)ndo bem Belkiss de Araújo Cardoso Ferrari ................................................................................................... 5

eBlog: O processo de aprendizagem não termina na sala de aula Letícia Estela Cavichiolo e Luciane Hagemeyer ............................................................................ 9

Época de transição; Transição de época Berenice Mendes ..........................................................................................................................

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O Ensino Médio e o mito do porto seguro Adalberto Fávero ..........................................................................................................................

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... E a educação? Como vai? Suzana Braga Bertassoni e Tatiana Simas Mielke ......................................................................

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Disciplina Arte no Ensino Médio: o que e como ensinar e avaliar Christiane Denardi .........................................................................................................................

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Violência contra a criança ........................................................................................................................................................

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Vitória Régia no ciberespaço Gloria Kirinus .................................................................................................................................

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Imperativos éticos e ação André Tezza ....................................................................................................................................

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A narrativa da troca de experiência entre gerações Helmuth Kirinus ............................................................................................................................

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Ensino Religioso e o valor da escolha: um caminho em construção Carlos Henrique Martins Torra ......................................................................................................

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Chão humilde Caroline Suski Vicentin .................................................................................................................

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NOSSO JEITO DE APRENDER

Criança tem cada uma... ........................................................................................................................................................

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Procurar fórmulas prontas para lidar com o conhecimento é um contra-senso em si mesmo. Se o conhecimento é algo dinâmico e tem suas verdades marcadas pelo tempo e pelo espaço em que ele se produz, a facilidade de encontrá-lo limitado a fórmulas e conceitos prontos e pretensamente eternos pode gerar estagnação e embotar a criatividade. Principalmente em uma idade bastante fértil para a criação e o teste de hipóteses, como é o caso de alunos do Ensino Médio, com seus 14 a 17 anos. Em uma idade na qual estão prestes a ingressar na vida universitária, esse empobrecimento pelo qual o Ensino Médio passa, enclausurado no histérico - mas persuasivo - canto da sereia, pode estar trazendo conseqüências ruins: muitos universitários com uma qualidade formal e política abaixo de suas potencialidades. Com uma nova configuração da família, menos coesa e nuclear (e não vai aqui nenhum juízo de valor), esses jovens, vivendo em uma época de muitos estímulos - sejam eles vindos do grupo, das tecnologias, da publicidade dizendo "faça isso", "tenha aquilo", "seja assim", da ditadura com capa democrática de uma mídia que dita padrões de ser e estar no mundo -, muitas contradições habitam a cabeça dessa moçada. Não é o caso de eliminar a contradição - combustível de todos nós e que nos desestabiliza e gera movimento -, mas de criar poder de discernimento que leve em conta, nos pequenos e grandes projetos de vida, a dimensão individual e coletiva. Pois a respeito desses maus tratos que vem sofrendo a educação no Ensino Médio e também sobre um tempo em que os jovens dessa idade se perdem um pouco quanto aos referenciais de comportamento, pesquisa e de trato com o conhecimento é que a Revista Mediação buscou falar em seu tema de capa. Ditar modelos seria uma contradição com a própria crítica que os textos fazem, mas lançar idéias para contribuir com uma discussão coletiva foi o que orientou essa opção por falar do Ensino Médio e dos seus alunos, sem julgamentos moralizantes, mas com possibilidades de horizonte.

Ainda sobre o tema central, falamos também de como a arte é uma grande aliada desse processo de criatividade latente nos jovens dessa faixa etária. Também, com um olhar de outro ponto de vista, mas entrelaçado às demais discussões sobre o tema, falamos de alimentação nessa fase da vida, a começar por um bom café da manhã, responsável por fornecer os nutrientes necessários para enfrentar um dia-a-dia exigente. Além desse tema, Mediação discute muitos outros. A tecnologia e sua relação com o contexto mundial e com a educação - falando sobre o conceito de mídiaeducação e também do uso de blogs aplicados à sala de aula - voltam à baila. E também trata disso com poesia. As antigas musas deram lugar a uma bela reflexão poética sobre o ciberespaço! A ética aparece também fazendo uma tabelinha entre dois textos provocativos e desafiadores do senso comum. A boa consciência basta para a construção efetiva de um mundo melhor? A verdade se pluralizando se abre para a diversidade do pensamento, mas não significa necessariamente uma relativização absoluta e irresponsável. Para vencer os conflitos dos choques geracionais e visões de mundo distintas muitas vezes típicas da convivência entre professor e aluno, uma experiência com a boa e velha prática de contar histórias vai se mostrar uma aliada importante e muito capaz de unir corações e mentes. É disso que fala o artigo sobre a narrativa como troca de experiência. Alunos do Colégio Medianeira também produziram artigos. Você vai encontrá-los aqui, falando sobre violência contra a criança - problema camuflado e ainda cheio de tabus que afeta parte não tão pequena da sociedade e também em uma bela reflexão sobre o comportamento humano a partir da leitura de uma obra de arte. Uma ótima leitura! Depois dela, ajude-nos a mediar as discussões e a dar continuidade à reflexão. Escreva para nós.

Nilton Cezar Tridapalli

mediacao@colegiomedianeira.g12.br Olá

Olá pessoal,

Gostaria de parabenizar a Revista Mediação do Colégio Medianeira pela iniciativa de publicar matérias do interesse comum, neste caso: "Concentração, Disciplina e Saúde - Efeitos do Tai Chi Chuan". Parabéns!

Vim parabenizá-los por mais uma edição da Revista Mediação. Falo por todas as matérias mas, principalmente, pela atenção dada ao Tai Chi. Como praticante há cerca de 2 anos, posso comprovar os benefícios da prática e afirmar que a matéria veiculada certamente contribuirá para a divulgação do Tai Chi ao mesmo tempo que explicita um pouco de sua filosofia e benefícios.

Profa Luci Hayashi Diretora da EBRAMEC-PR: Escola Brasileira de Medicina Chinesa. (41) 9985-2222 / (41) 3274-4647

Parabéns a todos os envolvidos e obrigado ao Professor Levis e ao Colégio Medianeira por proporcionarem a nós, alunos de Tai Chi, a oportunidade do conhecimento e o aprendizado dessa prática na busca de saúde, tranquilidade e equilíbrio. Grande Abraço. Dorival

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Come(ça)ndo

BEM

Por Belkiss de Araújo Cardoso Ferrari

Uma boa ou má alimentação traz conseqüências tanto imediatas quanto de longo prazo. Começar desde cedo a se preocupar com a qualidade dos alimentos é essencial para uma vida mais saudável e feliz. É benefício para o corpo e para a mente.

"A memória do paladar recompõe com precisão instantânea através daquilo que comemos quando meninos, o menino que fomos." Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

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Se estivéssemos aperfeiçoando a eficiência de um carro ou a velocidade de um cavalo de corrida, não desprezaríamos a qualidade da gasolina ou a ração utilizada. Mas nem sempre prestamos muita atenção ao que nossos filhos e alunos estão comendo. Quando se analisam as múltiplas influências sobre o desempenho acadêmico de um estudante de Ensino Médio, por que não começar bem do início, bem no café da manhã? Aliás, já que nem sempre o café está incluído no café da manhã, fica melhor, menos confuso, usar aqui o termo desjejum. Após várias horas, cerca de vinte e cinco por cento do dia, sem se alimentar, o jovem acorda.

Ele está no Ensino Médio, é mais independente, principalmente nas suas opções alimentares. E quando pode escolher o que ingerir no desjejum, muitas vezes ele escolhe não comer nada. Alguns motivos levam-no a isso: por costume familiar, por acreditar que é uma maneira de não engordar ou porque ele dormiu mais do que devia. A mesa de café está posta, defende-se a mãe, ele não come porque não quer. Mas é freqüente ele seguir o exemplo de pais apressados que também não fazem o desjejum em casa. Alguns adultos até vão fazê-lo no trabalho, mas isto os filhos não vêem. E esta correria matinal sem passar pela cozinha ou mesa das refeições vai ser incorpora-

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da pelo adolescente às memórias familiares ligadas à alimentação, e que vão marcar fortemente os hábitos dele. O medo de engordar é outro fator importante para não comer de manhã, mas, má notícia: pular o desjejum não emagrece! Já está bem comprovado que aqueles que não comem pela manhã tendem a ingerir mais calorias e comidas menos saudáveis no restante do dia. Outra causa de não tomar o desjejum está no excesso de sono. É sabido que adolescente gosta de ficar acordado até tarde da noite. Assim, não é fácil ele levantar cedo. Da cama à escola há uma seqüência de passos essenciais rigorosamente seguidos e o único que parece dispensável é o desjejum. Bem, as conseqüências disto não são boas e ultrapassam o âmbito da saúde. Atingem o rendimento escolar. Crianças e jovens que não se alimentam no desjejum estão menos aptos a aprender nas aulas. Já foi documentada queda durante a manhã de até quarenta por cento no raciocínio matemático de alunos sem desjejum em comparação aos que o tomaram. Não há dúvida de que aqueles que fazem o desjejum não só têm mais disposição para participar das atividades físicas como vão melhor na escola. Uma vez aceito que o desjejum deve ser feito, o que beber e o que comer nesta hora? Embora muitos digam: qualquer desjejum é melhor que nenhum desjejum, algumas informações podem nos dirigir para escolhas melhores. Uma bebida indispensável e insubstituível no desjejum de um adolescente é o leite ou o iogurte. A necessidade diária de cálcio de um jovem de onze a vinte anos é de 1200 mg. Dois copos de leite ao dia, um no desjejum e outro mais tarde, perfazem cerca de 500 mg de cálcio. A alimentação diária confere o restante da quantida-

de de cálcio, mas não será nunca suficiente sem o leite. Cinqüenta gramas de queijo contêm 400 mg de cálcio, mas é um alimento muito mais gorduroso e calórico que o leite. Jovens devem ingerir no mínimo dois a três copos de leite por dia para adquirir uma qualidade óssea adequada. O osso vai se fortalecendo desde a infância até um pico atingido aos cerca de vinte e cinco anos. Desta fase em diante, a densidade óssea se estabiliza e não se consegue mais melhorar o osso. Após os cinqüenta anos no sexo feminino e mais tarde e menos intensamente no masculino, o osso começa a se enfraquecer gradativamente. Se a densidade óssea atingida aos vinte e cinco anos já for menor que a normal, a perda que ocorre na senilidade será perigosa. Atualmente, a maioria dos jovens não toma a quantidade necessária de leite e o déficit alimentar de cálcio é agravado pelo uso de refrigerantes, que pioram a densidade óssea. O resultado já aparece nos consultórios médicos, onde o tratamento de osteopenia, osteoporose e fraturas espontâneas é difícil e muitas vezes insatisfatório quando a massa óssea não se formou adequadamente na fase inicial da vida. Tanto os leites integrais quanto os desnatados, semidesnatados e leites em pó possuem a mesma quantidade de cálcio, ao contrário do leite de soja, que não o possui e, mesmo quando este elemento lhe é adicionado, vai estar presente em quantidade muito inferior ao do leite de vaca. A quantidade de cálcio de leites sem lactose é igual, a de iogurtes é discretamente inferior e a de bebidas lácteas é bastante inferior à do leite. Crianças que não ingerem dois a três copos de leite ou iogurte por dia deverão receber reposição de cálcio. Uma boa maneira de se convencer o adolescente a tomar leite é adicionar chocolate em pó a ele. Como é muito engordativo, as opções light, discretamente menos calóricas, são bem vindas, mas deve-se usar em quantidade pequena. O café, nossa bebida nacional, faz com o leite um par já consagrado. Tem a vantagem sobre o achocolatado de não ter calorias. Para quem tem problemas de estômago ou de insônia, o café descafeinado é uma boa opção, de mesmo sabor que o original e prático na forma solúvel. O adoçante artificial não apresenta, do ponto de vista

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científico, inconvenientes para ninguém, apesar do bombardeio de opiniões leigas contra, principalmente via internet. É preferível ao açúcar nesta fase de epidemia de obesidade em que vivemos. O conceito de calorias é bem popular e não há dúvidas quanto aos benefícios de se procurar com opções menos calóricas, mesmo quando o jovem não está acima do peso. Entretanto, há uma outra característica dos alimentos, pouco conhecida mas ainda assim muito importante. É a maneira como um hidrato de carbono é absorvido pelo tubo digestivo. Alguns são absorvidos rapidamente, estimulando a produção de um excesso de insulina que causa fome enquanto outros o são de maneira mais lenta, sem este excesso de insulina. Açúcares simples como o doce, suco de frutas ou pão branco são absorvidos com muita facilidade pelo organismo e freqüentemente levam a uma hipoglicemia reflexa, ou seja, cerca de trinta minutos a uma hora após a sua ingesta, o nível de açúcar no sangue começa a cair rapidamente. Esta queda da glicemia provoca uma variedade de sintomas, entre os quais falta de concentração, sonolência, irritabilidade, fome, dor de cabeça, sudorese e tontura. Às vezes até desmaios. Os sintomas podem surgir isolados ou múltiplos. Nem é preciso comentar sobre o prejuízo que podem causar a um jovem no período letivo. Algumas pessoas já perceberam isto na prática e referem fome ou malestar no meio da manhã quando fazem o desjejum, mas não quando o omitem. Na realidade, a causa está no tipo de desjejum que fazem. Esta queda reflexa da glicemia é uma das razões pelas quais o suco de frutas não é considerado uma boa opção para o desjejum. As frutas são alimentos maravilhosos e não há fruta ruim. Quando comidas, fornecem ao organismo muitas vitaminas, frutose, glicose e fibras; no suco, quando várias frutas são espremidas ou batidas no liquidificador ou processador, aumenta-se a glicose, devido à maior quantidade de frutas presentes, mas, por outro lado, eliminam-se as fibras. Por isso, não há vantagem em usar sucos light ou sem adição de açúcar, pois eles ainda contêm muita glicose oriunda das próprias frutas. Sucos de frutas são rapidamente absorvidos pelo organismo e podem causar hipoglicemia reflexa pouco tem-

po após ingeridos. Um outro grande motivo para desprezar o suco de frutas no desjejum é que ele pode ocupar o importante lugar do leite sem fornecer cálcio para o organismo. Isto porque se costuma beber um copo de líquido no desjejum, mas dificilmente dois. É correto dizer que fruta é para ser comida e não bebida. Suco de soja e chás também são maus substitutos do leite. Consideremos agora o que se come no desjejum. Com muita freqüência, pães e bolachas. A farinha de trigo presente nestes alimentos transforma-se em glicose no tubo digestivo. Como não há diferença nas concentrações de farinha de trigo nas versões tradicionais, light ou diet, não há vantagem em usar pães ou bolachas light. Todos são alimentos muito calóricos e de absorção rápida. Pouco tempo após serem comidos e absorvidos, causam queda brusca da glicemia e fome. De todos, os piores vilões são as bolachas recheadas, pois além de pouco saciarem, são hipercalóricas, devido à grande quantidade de glicose e de gordura. Pães integrais ditos pretos e biscoitos integrais possuem ainda muita farinha de trigo branca, mas diferentes porcentagens de farinha integral e conseqüentemente mais fibras. São tão calóricos quanto os brancos, mas causam maior saciedade e a queda da glicemia após sua absorção é bem menor. Muitos destes produtos enganam o consumidor. Um teor adequado de fibras é percebido não pela propaganda da embalagem, mas pela dificuldade de se mastigar o alimento. Quanto mais fofo o pão, menos fibras ele possui. Quanto mais a bolacha se dissolve na boca, menos fibras ela tem. Torradas escurecem o pão, mas não possuem mais fibras e não oferecem nenhuma vantagem sobre o pão não torrado. Destes alimentos com farinha de trigo, os mais benéficos são os pães integrais; e quanto menos fofos, melhores, devido à maior saciedade que provocam. Deve-se evitar comer pães e bolachas com queijos, presuntos, peitos de peru, patês e salames, todos muito gordurosos e extremamente calóricos, mesmo nas versões branco ou light. É preferível usar margarina, manteiga ou geléia light. Se for perguntado a vários médicos e nutricionistas sobre o alimento ideal para o desjejum, a maioria vai optar pelo cereal, nos mais variados

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tipos: aveia, flocos de milho, inúmeras marcas de granola, muslix, farelo de trigo, germe de trigo, linhaça, etc. Os cereais não são ricos em calorias, não são gordurosos, possuem muitas vitaminas e sais minerais, são riquíssimos em fibras e são absorvidos lentamente, sem provocar queda reativa da glicemia e saciando bem a fome. A absorção da aveia, por exemplo, é lenta e continua a fornecer nutrientes ao organismo muito tempo após sua ingesta. Isto é muito benéfico para o aluno que estuda de manhã. O cereal deve ser acrescido ao leite ou iogurte e fica gostoso e ainda mais nutritivo com pedaços de frutas. Para os jovens que não têm ainda o hábito de comer cereais pela manhã, aqueles com chocolate são mais bem aceitos. Pela estabilidade que conferem à glicose sanguínea, cereais com leite são o alimento ideal para os dias de prova ou de competições esportivas e os melhores para todos os dias. À escola cabe o papel de ensinar a alimentação saudável e aos pais o de apresentar aos filhos um desjejum o melhor possível de uma forma carinhosa e constante, explicando seus benefícios e dando o exemplo. É evidentemente mais fácil ensinar crianças pequenas do que mudar hábitos já bem estabelecidos de jovens. Mas sem stress se eles não aceitarem bem as mudan-

UMA MEDIDA DE PESO - MANUAL DE ORIENT AÇÃO P ARA CRIANÇAS E ORIENTAÇÃO PARA ADOLESCENTES OBESOS E SEUS P AIS PAIS MAURO FISBERG, ANA PAULA FERREIRA VILAR, MARA ANDRÉIA VALVERDE, SANDRA OZELOTO LEMES

Editora Celebris O livro tem como objetivo ajudar a resolver o problema da obesidade na infância e adolescência, bem como prevenir a sua progressão na vida adulta. Ao todo, são quatro capítulos, escritos em linguagem simples, que apresentam passo a passo as melhores estratégias nos campos nutricional, físico e psicológico, além de oferecer dicas valiosas para aprimorar a qualidade de vida no dia-a-dia.

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ças. Alimentos freqüentemente apresentados no lar vão sendo associados à presença da mãe ou do pai e se incorporando à memória afetiva do jovem. Anos depois, quando ele se deparar com um odor, gosto ou visão de alguma comida que lhe lembre sua infância, isto lhe dará uma sensação boa de volta à casa. E é provável que ele então tenha muito prazer em comer este alimento. Assim, pais não são apenas responsáveis pelo presente nutricional dos filhos, mas também por grande parte de seu futuro alimentar. Que tipo de alimento estamos colocando na memória afetiva de nossos jovens? O que lhes ofertamos no começo do seu dia, no começo da sua vida? Ajudá-los para que comecem bem: não é esta a função dos pais e dos educadores? (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Belkiss de Araújo Cardoso Ferrari é ex-aluna do Medianeira, médica pela UFPR, mestre em Endocrinologia pela PUC-RJ, doutora em Fisiologia Endócrina pela UFRJ, ex-estagiária da Clínica Mayo, Rochester, USA, mãe do Bernardo e Ricardo, alunos do Medianeira. leobelferrari@uol.com.br

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO - V V.. 1: NO CAMINHO DE SW ANN SWANN MARCEL PROUST Tradução de MÁRIO QUINTANA

Editora Globo Swann, um dos principais personagens, é um refinado aristocrata conhecedor de literatura, colecionador de objetos de arte e freqüente nos salões parisienses. O narrador o conheceu quando criança em Combray, cidadezinha imaginária onde ele passava as férias de Páscoa. Cada volume - dos sete que compõem Em busca do tempo perdido - e todos se transformam em complexo programa de formação estética e humanística. Neste volume, Proust se dedica principalmente à narração de sua infância e adolescência. Uma experiência de memória gustativa aparece nesse primeiro volume de forma particularmente interessante.

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eBlog: O processo de

APRENDIZAGEM

não termina

na sala de aula

Por Letícia Estela Cavichiolo e Luciane Hagemeyer

A criação de blogs com conteúdos educativos vem confirmar que a tecnologia é uma grande aliada, quando conduzida por profissionais preparados e a serviço das aspirações humanas mais elevadas. Diversão e conhecimento juntos na tela do computador.

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Duas perguntas respondidas provocam dez outras perguntas. As perguntas que fazemos são portas e janelas que se abrem para outras janelas e portas. Não estamos emparedados. A rua tem saída. O mundo do conhecimento não tem porteiras. Gabriel Perissé

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Os recursos das novas tecnologias de informação presentes praticamente em todos os processos da vida social têm ampliado consideravelmente as possibilidades de leitura que o contexto atual oferece e ao mesmo tempo auxiliam a criar novas formas de troca de informações e de estruturação do pensamento. Estamos em tempos em que a relação do homem com o mundo, mediada por meio da linguagem, tem se desenvolvido também em novos espaços e linguagens on-line. Ramal (2000, apud. GARFINKEL, 2005) considera que a multiplicidade de canais de conhecimento e os aparelhos eletrônicos já são extensões do sujeito. Há uma velocidade e quantidade crescente de saberes produzidos, veiculados e substituídos, devido aos novos suportes digitais, produzindo um fenômeno característico das sociedades pósmodernas que tem sido denominado de "era digital" ou "sociedade da informação". Isto confere uma importância singular para as tecnologias da informação pelo seu papel na "formação/apreensão e propagação dos saberes, bem como a própria ação dos sujeitos em conseqüência desse processo cognitivo-comunicacional" (DIAS, 2005). Por outro lado, esta informação configura-se muitas vezes como um material em estado bruto. Isto exige um novo tipo de letramento que inclui a habilidade de encontrar informações, decodificá-las, criticá-las, avaliá-las e organizá-las em bibliotecas digitais personalizadas, encontrando modos significativos de partilhá-las com os demais (FRIEDMAN, 2007). É neste sentido que se constata a necessidade de haver uma preocupação criteriosa com a recepção de imagens e de informações deste mundo que os espaços virtuais oferecem em profusão. Uma preocupação que promova caminhos para que os alunos possam interagir com os mesmos de maneira criativa e gratificante.

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Criativa, no sentido de possibilitar a projeção de experiências imaginativas por meio de conexões. Gratificante, como forma de ampliar os horizontes culturais, de modo que se obtenham maiores recursos e benefícios diante desta crescente tecnologia a que as pessoas têm tido acesso. Neste aspecto, o professor pode potencializar, de forma significativa, o acesso dos alunos a variadas formas de manifestações culturais, através da criação de um blog pedagógico. Etimologicamente falando, a palavra aluno provém do verbo latino álere, que significa nutrir, alimentar. Já o termo Blog ou Weblog referese a uma espécie de diário eletrônico, onde, em geral, textos curtos são organizados cronologicamente. Porém, há muito tempo os blogs deixaram de ser simples diários on-line e se configuraram como mais uma possibilidade de ampliar a difusão e intercâmbio de idéias, textos, imagens e até vídeos, num espaço atrativo e dinâmico (BUGARDT, 2007). Neste contexto, o blog do professor representa uma oportunidade de prover os alunos com informação de qualidade. Hoje temos diversos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) que, como Blogs, são configurados por diversos sujeitos cognoscentes em comunicação por meio da internet. Leite & Behar (2007) destacam a capacidade de socialização e trocas interindividuais ocorridas entre crianças de 9 a 11 anos nos AVAs, que permitem "despertar na criança a consciência de que ela está construindo seu conhecimento em conjunto com o outro" e "acarretar um processo de descentramento da figura do professor e de compartilhamento entre os colegas, possibilitando um espaço propício à articulação de novas idéias". Um blog sempre pode ser comentado pelos seus visitantes, o que amplia as possibilidades de reflexão e reconstrução das colocações e escritas feitas pelo professor "blogueiro". "Também é possível que os professores entrem nos blogs uns dos outros" (BUGARDT, 2007), sem a pressão de o fazerem por obrigação. Quanto aos alunos, estes podem comparar os comentários, sugestões e trabalhos enviados ao blog pelos seus colegas.

Dessa forma, os blogs educativos podem despontar enquanto AVA's potencializadores do encontro entre os sujeitos, sejam eles crianças ou adultos. Podem ainda acentuar as possibilidades de reflexão do conhecimento e interação dialógica e complexa entre professor e alunos ou entre alunos-alunos por meio de atividades instigadoras e facilitadoras do diálogo. Como ambientes virtuais de aprendizagem, tais blogs podem contribuir e também receber contribuições. Visite-os, faça seu próprio blog e ajude a construir ambientes cada vez mais qualificados. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Letícia Estela Cavichiolo é ex-aluna do Medianeira, professora de Ciências da 3ª. Série do Ensino Fundamental, formada em Ciências Biológicas pela UFPR e Mestre em Botânica pela UFPR. Luciane Hagemeyer é professora de Língua Portuguesa da 3ª. Série do Ensino Fundamental, formada em Letras Português/Inglês pela UFPR com pós-graduação em Currículo e Prática Educativa pela PUC-Rio e Mestre em Estudos Literários pela UFPR.

BIBLIOGRAFIA BUGARDT, 2007 - Professor "blogueiro", disponível em: http://www.universia.com.br/ materia/materia.jsp?materia=14193. DIAS, S. R. S., 2005 Dialógica e Interatividade . Educação On-Line. Trabalhos do 12º Congresso Internacional de Educação a Distância da ABED. FRIEDMAN, T. The world is flat. New York: Picador, 2007. LEITE, S.M.; BEHAR, P. A. A construção coletiva com crianças em ambientes virtuais de aprendizagem. Educar, Curitiba, n. 29, p. 173189, 2007. Editora UFPR PERISSÉ, G. A virtude de ensinar. Disponível em: http://www.ipetrans.hpg.com.br/ virtude_de_ensinar.html. RAMAL, A. C. Educação na Cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002. apud GARFINKEL, MIRIAN, 2005. A Dimensão Dialógico-Reflexiva Na Formação De Educadores On-Line : Possibilidades E Limites. Trabalhos do 12º Congresso Internacional de Educação a Distância da ABED.

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Convidamos os leitores deste artigo para conhecer os blogs desenvolvidos por professoras de 3ª série do Ensino Fundamental em suas disciplinas (Ciências, Língua Portuguesa e Geografia):

BLOG DE CIÊNCIAS http://profleticia.zip.net/ Desenvolvido por Letícia E. Cavichiolo para a disciplina de Ciências. É atualizado de acordo com os conteúdos desenvolvidos e as necessidades apresentadas pelos alunos em sala de aula. Possui vídeos, jogos, imagens, textos curtos, apresentações em SlideShow associados à ciências, além de previsão do tempo e fases da Lua atualizados diariamente. Apresenta bate-papo no qual as crianças podem interagir entre si, trocar informações e enviar dúvidas ou sugestões à professora.

BLOG DE LÍNGUA PORTUGUESA http://luciane.hagemeyer.zip.net/ Desenvolvido por Luciane Hagemeyer para a disciplina de Língua Portuguesa. Possui histórias, vídeos baseados em livros infantis e infanto-juvenis, curtas-metragens, jogos, imagens e indicações para sites de contação de histórias on-line e ciberpoesias. Oferece dicas de livros, de estudo da Língua e até glossário para ampliação do vocabulário trabalhado em sala de aula. Instiga os alunos para que participem das discussões acerca de livros lidos em conjunto, através de perguntas que requerem estabelecer conexões entre informações e experiências vivenciadas coletiva ou individualmente.

BLOG DE GEOGRAFIA http://profsoila.zip.net/ Desenvolvido por Soilete Rehme para a disciplina de Geografia. Possui textos, vídeos, imagens e várias e indicações para sites interessantes, nos quais as crianças podem interagir com mapas diversos, revisar conteúdos, aprender com jogos de Geografia e até descobrir como fazer bússolas.

BL OG - ENTEND A A REVOL UÇÃO QUE V AI MUD AR SEU MUNDO BLOG ENTENDA REVOLUÇÃO VAI MUDAR HUGH HEWITT Editora THOMAS NELSON BRASIL O século XXI será o século da internet. A rede mundial é um meio em que todos podem participar, publicar e gerar conteúdos, e os blogs surgiram como a principal ferramenta deste fenômeno, democratizando definitivamente o acesso à comunicação. Mais de 70 mil blogs são criados por dia ao redor do planeta e acredita-se que um em cada quatro internautas brasileiros leiam blogs todos os dias buscando informações ou entretenimento. Segundo o autor deste livro, milhões de pessoas estão mudando seus hábitos no que diz respeito à aquisição de informação. Isso aconteceu muitas vezes antes, com o surgimento da imprensa, do telégrafo, do telefone, do rádio, da televisão e da internet - agora, surgiu a blogosfera, e isso foi tão repentino que surpreendeu até mesmo os analistas mais sofisticados, observa Hugh Hewitt. Na blogosfera, há um mundo com uma platéia quase ilimitada.

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ÉPOCA de

TRANSIÇÃO;

TRANSIÇÃO de

ÉPOCA

Por Berenice Mendes

O predomínio secular da chamada logosfera vai cedendo espaço a novas formas de lidar com o pensamento, o raciocínio e a sensibilidade. E os grandes e diversos mecanismos de controle coletivo assitem à insurreição de formas individuais de produção e recepção de conteúdos e interfaces informativas.

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"A linguagem corrente forma parte do organismo humano e não é menos complicada do que ele" (L. Wittgenstein, Tratactatus logico-philosophicus, 70, 4.0002)

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Talvez a virada do século, talvez a tremenda aceleração do fluxo de informações, a globalização do mercado, a liberalização dos costumes, o avanço da ciência, a autonomia da arte, seja o que for, a verdade é que todos sentimos estar vivendo um período de transição: não somos mais o que foi e não seremos jamais o que vai ser.

Transição vem do latim transitione, que significa passagem de um estado de coisas a outra e quer dizer ir além, transformar, comunicar. Mas exatamente para onde estamos indo? No que estamos nos transformando e o que deveremos comunicar, transmitir a nossos pósteros? E ainda, de que modo se materializa essa sensação transicional? Se a resposta está sempre contida na pergunta, bastaria um rigoroso exercício de lógica para encontrarmos a solução de tais indagações, mas, e se for a própria lógica que está mudando, que padrão de pensamento precisaríamos adotar para chegar à compreensão dos fatos? Passaram-se dezenas de milhares de anos entre o nascimento da sociedade, da arte e da linguagem e o surgimento da escrita. Símbolo de um símbolo, a escrita representa a linguagem que (in)forma o pensamento. Inicialmente ideogramática, a linguagem era formada por símbolos de coisas, ações e idéias que a mera pictografia não permitia reproduzir. Foram os fenícios e os hebreus por volta de 1.500 anos a.C., que empregaram símbolos com valor exclusivamente fonético, dando surgimento ao alfabeto, que se expandiu de modo relativamente rápido. Restrito aos mais elevados estratos sociais, o conhecimento da escrita reforça o poder daqueles que constroem os sistemas semânticos e gramaticais. Ao longo de mais de dois mil anos, uma complexa estrutura de uso da palavra escrita é forjada, consolidando padrões sintáticos e lógicos de construção e interpretação do discurso,

que acabam por transferir-se para a própria organização da sociedade. A distância que separa o homem comum medieval da escrita é a mesma que o separa do senhor das terras onde vive. O invento da prensa mecânica por Gutenberg carrega consigo o revolucionário efeito de disseminar a palavra escrita, de retirá-la das torres em que se encerravam, pulverizando o conhecimento e o poder dele decorrente. Ao mesmo tempo, submete os novos iluminados às regras do pensar assim codificado e proporciona um salto cultural que se materializa violentamente através das revoluções pelas quais se institui o Estado moderno. Esse novo Estado, surgido sob a égide da liberdade e da igualdade, do anseio e da esperança de mundos novos, é erigido sob declarações de direitos, leis e constituições - formas escritas da palavra -, e à sua semelhança: estruturado de modo lógico, hierárquico, linear, com regras de coordenação e subordinação e com a mesma disciplina com que se dispõem palavras numa frase, que forma um parágrafo que compõe um texto. Assim como se lê, se pensa, se relaciona, se age, de modo logocêntrico. As grandes estruturas socializantes - o Estado-nação, as forças armadas, a família, a empresa, a igreja - apresentavam-se todas com um soberano pai, presidente, general, abaixo dos quais sucediam-se patentes de poder diminuído até os simples contribuintes, pecadores, soldados e operários, status que traziam embutidas expectativas de direitos embaladas por grandes ideologias e projetos históricos que efetivamente funcionaram no contexto social de um planeta com cerca de um bilhão de habitantes. Nascida como arte e ferramenta científica, a fotografia, a partir do século XIX, começa a transformar o imaginário social que recebe a contribuição desta mediação tecnológica. A imagem-

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máquina faz a ruptura ao instaurar um novo olhar sobre a representação da realidade, que não mais depende do dom, do talento e da tradição. O cinema, no final daquele século, traz o fascínio da reprodução virtual do mundo e dá início ao novo aprendizado visual da humanidade. Não é modo de pensar, mas dita tendências de moda, costumes, comportamentos, preparando as pessoas para a leitura de novas linguagens em novos textos. O rádio e suas mensagens sonoras estimulavam a imaginação e, finalmente, em meados do século XX, surge a televisão. Se, outrora, o rádio era fonte coletiva de informação e o cinema um objeto ritual de elegância e fruição estética e intelectual, a TV - caixote luminoso e falante, cujo fluxo ininterrupto e caótico de mensagens se coloca ao alcance das mãos e manipulação individual, gerou grande desconforto sensorial nas pessoas mais antigas. Foram cinqüenta anos (a partir do pós-guerra) de universalização de uma linguagem audiovisual que, enquanto se capilarizava pelo planeta, ia modificando a forma de se ler o mundo, de se informar, de se divertir, de consumir, de modo cada vez mais fragmentado, mais efêmero, mas também mais eficiente, mais rápido, mais individualista. Entramos no século XXI com amplos contingentes populacionais providos de informática e telefonia, conectados por internet, via fibras óticas, satélites, microondas e por mais um turbilhão de aparatos e potencialidades digitais ao qual estamos chamando de convergência tecnológica. As ferramentas de comunicação são unificadas e rompe-se a relação espaço-temporal. Podese fazer tudo com a mesma ferramenta: telefona-se, vê-se TV, ouve-se rádio, enviam-se mensagens eletrônicas, capta-se e edita-se texto, imagem estática e em movimento, transmite-se, virtualiza-se a realidade. E tudo isso ao alcance das classes médias inseridas no mercado de produção e consumo. A humanidade, sob essa nuvem de conhecimento e informação interminável e sem finalidade, passa de uma inflexão lógica para uma reflexão estética que a vem transformando. Deixa a milenar logosfera e adentra a videosfera do ter-

ceiro milênio. Não lemos mais as substâncias universais, categóricas, genéricas de todo o sempre. Na videosfera, temos a cada instante o acidente, o particular, não mais o conceito, mas a própria forma. E se o cinema e a TV já traziam estas possibilidades, a não-linearidade, a interatividade e a portabilidade da mal chamada TV Digital trazem também a radicalidade da saída do mundo do conteúdo para o da forma. Não é à toa que sentimos as grandes estruturas de controle social "fazendo água" e ruindo por todos os lados. Somos seis bilhões de habitantes num planeta, com uma ordem econômica calcada na velocidade das tecnologias de comunicação, comunidades de interesses organizadas em redes digitais (nas quais cada indivíduo que a acessa é o centro), e onde, portanto, o pai, o general, o presidente fazem cada vez menos sentido; são, a cada dia, mais incapazes de dar conta da complexidade de um mundo, cujo pensamento não é mais linear, mas rizomático, com novos padrões de reconhecimento das informações advindas da percepção audiovisual, estética, sensorial. Esta mudança, além de cultural, social e psicológica, é fisiológica, pois implica o incremento da atividade do lado direito do cérebro, responsável pelos estímulos visuais e sensoriais. Neste contexto, se há efetivamente uma potencialização do uso criativo da mente a partir das novas mídias, é possível pensar que a autonomia do indivíduo só interessa numa sociedade soberana, na qual este mesmo indivíduo, que é autônomo para consumir e produzir, esteja capacitado criticamente para entender o que faz, o que consome, o que deseja, e assim expressar de modo mais rico o mundo em que vive. O desafio que tal quadro coloca para a inteligentzia é o de desvelar os mecanismos desta transição, buscando uma necessária e possível harmonia entre as novas potencialidades de desenvolvimento propiciadas pela tecnologia e a garantia da liberdade de expressão, da diversidade de informações, da preservação e difusão das artes e das culturas; enfim, de uma ética que possa balizar um novo humanismo. Se a onipresença da TV analógica nas últimas décadas já nos dotou de gerações inteiras imer-

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sas num mundo formatado ostensivamente por imagens e sons, a convergência tecnológica, a navegação no espaço cibernético e a TV digital, ao extinguir o modo de irradiação de um para "n" emissores, ao propiciar a interação que da a todos a condição de autores, ao viabilizar o acesso a múltiplas programações, inclusive de modo simultâneo, acabará por quebrar a grade de programação, paradigma lógico de organização do fluxo narrativo televisual e do modelo do negócio, que se configura ainda hoje como uma prisão dos olhares dos espectadores. Nativos digitais comporão sua própria grade de programação, interferirão na programação, introjetarão o hábito da leitura audiovisual ao molde de hipertextos e de forma cada vez mais aleatória, simultânea, horizontal, virtual, subjetiva, sensorial, heterogênea, metafórica e fugaz, fazendo do novo aparato ferramenta não apenas de recepção, mas de produção de conhecimento autônomo.

DIVERSID ADE CUL TURAL E MUNDIALIZAÇÃO DIVERSIDADE CULTURAL ARMAND MATTELART

Editora PARÁBOLA Em seu novo livro, Armand Mattelart nos guia em meio à trama dos empreendimentos culturais, lembrando-nos dos desafios urgentes de uma diversidade posta em risco por uma produção cultural que se deixa reduzir a seu valor de mercado. A mundialização das indústrias culturais projetou os "produtos do espírito" para o centro das negociações sobre a liberalização total das trocas comerciais. O tema da diversidade cultural, por muito tempo amordaçado, passou a constar da ordem do dia das grandes instâncias internacionais.

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Neste cenário, o crivo da razão se dirige a um plano operacional e passa a ser utilizado no sentido técnico, para garantir a eficiência de processos, enquanto a experiência pessoal é eleita como critério de julgamento. A experiência direta consistirá na nova pedagogia, única capaz de permitir entender e agir em tal mundo. Um mundo sem modelos genéricos e universais, portanto não passível de cópia, um mundo de particulares, de incertezas, a exigir uma abordagem mais orgânica - estética, sensorial - da realidade. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Berenice Mendes é cineasta, doutoranda em Artes pela UNICAMP, membro da executiva nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC www.fndc.org.br).

ELEMENT OS P ARA UMA TEORIA DOS ELEMENTOS PARA MEIOS DE COMUNICAÇÃO HANS MAGNUS ENZENSBERGER

Editora CONRAD Elementos para uma Teoria dos Meios de Comunicação foi escrito em 1970. Seu conteúdo esmiuça e detalha a intrincada relação entre mídia e poder, atacando a falta de tato (ainda presente nos dias de hoje) das organizações de esquerda em relação aos meios de comunicação. É um texto que, por vezes, soa profético, mas que sustenta sua atualidade na força de sua radical lucidez. Indispensável para todas as pessoas que querem entender porque os meios de comunicação não são um instrumento neutro, e, sim, uma verdadeira indústria de consciência, como escreve o próprio Enzensberger.

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o

ENSINO MÉDIO

mito do PORTO SEGURO eo

Por Adalberto Fávero

Entre o Ensino Fundamental (a época de aprender os fundamentos da ciência e da tessitura do conhecimento) e a vida universitária, que é quando o aluno se especializa e refina seu jeito de pesquisar, o Ensino Médio parece muitas vezes refém de apelos fáceis, recebendo conhecimento engarrafado pelas fórmulas estanques, ou em pílulas que prometem a redenção da aprovação no vestibular. Mas o Ensino Médio pode e deve ser mais do que isso.

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"Dois amigos estão conversando na beira da estrada: — É... As coisas melhorando ficam boas. — Em compensação, piorando, ficam ruins. De repente, os dois avistam lá longe, bem longe, na curva da longa estrada, uma pessoa se aproximando. — Olha lá! Está vendo? É o rei! — Estou vendo, sim... É o Ramos! — É o Rei! — É o Ramos! — É o Rei! — É o Ramos! Os dois ficaram assim por um bom tempo... O tal andarilho, então, passou por eles e cumprimentou: — Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Os dois amigos, é claro, não acertaram os palpites. E continuaram conversando: — É... Errei. — Não. Erramos." (Adaptação de uma anedota recolhida por Beatriz AlChediack Kauark Kruschewsky)

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Um jeito de fazer educação que tem tomado conta da mídia e das modas do mercado faz jus à anedota: ou é o Rei ou é o Ramos. Nunca conjuga o verbo erramos. Trata-se de um modo de ver, divulgar e aceitar a educação como se fosse conhecer um mapa. Com desculpas aos navegadores do gênero, para eles conhecer o mapa é descobrir aquilo que já está determinado. Trata-se de um território pronto e acabado, com fronteiras pré-determinadas, ainda canonizando aquele preceito grego de que na natureza nada se cria, tudo se descobre.

Não há lugar nem para o velho Sócrates com sua maiêutica, que se propunha a descobrir a verdade pela argumentação e contra-argumentação, ainda que ele também desejasse apenas provar a sua verdade. Seu "conhece-te a ti mesmo" tinha a virtude de tentar ir além da consciência de si próprio e perceber a própria ignorância. Esse caminho podia se transformar numa fonte de inspiração e inovação cujo movimento não pode ser mais controlado pelas pessoas e nem por quem iniciou esse movimento. Em tempos de crise do mercado desregulado, do estado mínimo antes deificado, da educação para as competências e resultados, talvez seja possível questionar as normas do mercado para a educação e se perguntar por que as questões de Educação foram parar nas mãos poderosas do Banco Mundial, na OMC e/ou seus equivalentes. Para fazer isso, é necessário olhar para a educação de um jeito diferente. Lembrem-se de Homero e da narrativa da volta de Ulisses (o grego), após a vitória sobre Tróia. Navegando por mares desconhecidos, soube que os cantares das sereias eram irresistíveis. Quem os ouvisse mergulhava na loucura das belezas desse canto e ia para o fundo do mar sem possibilidade de retorno, pois estava embevecido pela sua sedução. Ulisses solicitou que o amarrassem no mastro do navio; todos os marinheiros foram obrigados a tampar os próprios ouvidos para não ouvir as maviosas melodias e não deveriam desamarrá-lo mesmo que ordenasse e implorasse. Assim, conheceu o canto maravilhoso das sereias. Quase enlouqueceu. Porém, pôde resistir e não ceder aos seus encantos. O canto das facilidades do mercado e da educação pronta/acabada e distribuída em fatias para o consumo, cujos traços e informes estão todos postos como um mapa que já demarcou seu território, é atraente, sedutor e cheio de facilidades. Não exige que seja necessário pensar muito, criar nada. Basta refletir apenas para confirmar a verdade repassada. Não exige inspiração e nem transpiração. É morno, insalubre e sedutor.

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Nesses tempos de crise e de demandas de autonomia, criatividade e criticidade, penso que seja necessário cantar um outro canto. Trata-se de ser capaz de abrir novas possibilidades, tecer novos territórios e novos e virtuosos mapas. Educação que se preze terá que abrir portas interferindo no saber pensar, na constituição do ser pessoal e coletivo e no agir comprometido com seu espaço e com um novo tempo. A educação e as escolas talvez precisassem fazer renascer os poetas. Seria necessário escolhê-los para indisciplinar as rotas, os ritos e o mercado, recriando a capacidade de pensar livre. Digo isso porque o poeta, "possuído pelas musas", cria e recria. Em outras palavras, é urgente que a educação volte a "fazer poetas." Eles acabam com os portos seguros das mazelas das verdades prontas, do conhecimento acabado, dos cursinhos com seus macetes, do professor artista com suas músicas de fórmulas, do poder da verdade da universidade sobre o Ensino Médio... O atual modelo de competências, os enens e outras medidas não criam poetas. Não criam profissionais interessantes e criativos. Não formam cidadãos ativos. Não possibilitam autonomia de inventividade, de pensar o país e nem de alteridade com o Outro. Se o Ensino Fundamental tem a missão de criar os fundamentos, com o perdão da redundância... Se sua missão são os fundamentos do pensar, do conhecer, do saber escolarizado, da identidade do ser, dos caminhos de método e do hábito de estudo, da passagem da criança para a adolescência e da base para o saber pessoal e com os outros... Se sua missão são esses fundamentos! ... O Ensino Médio, que já foi Clássico, Científico, Segundo Grau, etc, é só rito de passagem? É só um tempo de espera para o vestibular e por isso pode ser reduzido a 1 ou 2 anos, pois o mais importante é a revisão para a prova de acesso ao sonho de ingresso à universidade? É só rito ou se perdeu a rota? Ou é o canto das sereias com suas belezas e facilidades? É o rei? É o ramos? Errei? Erramos?

Nosso estado e cidade tiveram certa precedência nessa história de transformar o Ensino Médio em uma mera passagem para o depois, já que foi no período de um ministro da Educação paranaense e ex-governador que o modelo de cursinho ou "terceirão" tomou corpo e força. Na verdade, é preciso dizer um pouco além disso. Faz parte da cultura mais conservadora de nosso imaginário social e político local a opção ou a tendência pelo trato mais técnico e resistente a mudanças. Cultivamos genuinamente o constituído, a imagem da cidade modelo, do jardim no lugar da estrutura e, por que não dizer, da casca bela e rebuscada. É chato se pensar um pouco conservador, mas esse nosso imaginário urbano é muito forte. Há quem diga que somos o paraíso desse modelo de educação e mercado, quase um grande e exportador supermercado dos ritos de passagens salvadores com seus modelos prontos e acabados. No fundo, seríamos a expressão dos seduzidos pelos cantos das sereias. Afinal, não é pouco comum expressarmo-nos que, até o final do Ensino Fundamental e/ou do segundo ano do Ensino Médio, nossos filhos já

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fizeram sua formação humana e agora é hora de pensar no vestibular. Aí se opta pela receita pronta, pelo velho e surrado manual de memorização, pela apostila resumida, pelo suco espremido da informação descontextualizada e pela morte do conhecimento com significado. É o rito, é o rei, é o ramos... Se os fundamentos são trabalhados no período anterior, qual o espaço que ocupa na escola o Ensino Médio? Qual o seu lugar? Como não ceder ao conto das sereias com seus cantos e atrativos de facilidade e de ventura? Nessa fase escolar, trabalha-se com pessoas, nossos filhos, entre os seus quinze a dezessete/ dezoito anos, o que por si só implica dizer que se trata de um período de maturação para a vida adulta indispensável ao futuro cidadão e ao profissional em formação. Trata-se da constituição da pessoa enquanto pessoa toda e de todas as pessoas. Isso quer dizer que se tece a formação individual e coletiva na autonomia pessoal do pensar, do ser e do agir. Aqui se constitui o sentido de grupo; os laços sociais se estruturam definitivamente; o caminho do pesquisar e ler a realidade de maneira crítica e criativa adquire suas cores; a estrutura acadêmica e a excelência humana se entrelaçam e se tornam interdependentes; a preparação para a vida universitária como pensador e pesquisador tem sua tessitura; a opção vocacional e a profissional se configuram; a pessoa se constitui mais gente com alteridade e senso de justiça; as opções de fé e de vida tomam rumo; o projeto de vida e os sonhos desabrocham... As sereias da Odisséia virtual, midiática e mercadológica cantam contos e cantos diferentes. Elas oferecem um caminho de facilidades, de soluções de receitas e de análises prontas. É mais ou menos como o noticiário entre uma novela e outra que já traz as interpretações de um especialista ou do próprio âncora, o que dispensa o espectador de pensar e analisar. Alguém faz por ele. Basta ser platéia atenta para consumir mais um produto competente e eficaz. Não pense e nem se esforce, pois alguém pode fazer isso por você, cantam as sereias. E o

Ulisses de hoje, de ouvidos atentos e desamarrado, mergulha nas águas profundas da sedução do facilitado. Deixa de ser Ulisses! As universidades que ajudam a espremer o Ensino Médio com a ditadura dos conteúdos necessários ao vestibular denunciam a crescente presença de alunos que não lêem, não sabem pesquisar, não sabem escrever, não sabem estudar e não se envolvem academicamente. As empresas optam por formação interna porque seus funcionários não têm autonomia de ação, de criatividade e de inovação. E, ao longe, os dois amigos enxergam um andarilho: é o Rei, é o Ramos... Erramos! O Ensino Médio ocupa um espaço indispensável para que os alunos construam a leitura crítica e competente do contexto em que vivem, do mundo e do conhecimento contextualizado e significativo para si mesmos e para o país. O ingresso na universidade deverá fazer parte dessa constituição pessoal e coletiva como decorrência desse trabalho. Não se trata de não dar condições a esse passo que faz parte de suas vidas, inclusive com a preparação técnica necessária para que isso aconteça. Trata-se de perceber que o canto das sereias não gera cidadãos com excelência humana ? acadêmica. O canto das sereias do mercado gera espectadores... Auditório. Esse cantar só deseja platéia e não autores. É por isso que se faz necessário reviver os poetas e amantes do pensar livre. Não se trata da loucura da liberdade inconseqüente e do pensar sem método e sem compromisso. Significa recuperar a autoria, a autonomia, a criatividade e a criticidade como sujeitos de seus caminhos e sua história. O Ensino Médio não é o lugar de formação do biólogo, do historiador, do químico, do lingüista, do geógrafo ou do físico, mas sim o da opção por um caminho pessoal e profissional que passa pela maturação pessoal e coletiva e pelo transitar por todos esses campos do conhecimento. Penso que entrar na universidade, enquanto ainda existir o vestibular, cada vez seja o menor

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dos problemas. No momento de transição e agonia desse modelo de ingresso para a vida universitária, já se marca por telefone e pelos sites o dia e a hora das avaliações. No entanto, as mudanças de cursos nas universidades, a incapacidade de acompanhar os níveis exigidos e a preparação profissional e cidadã são a cada dia mais deficitárias e um desafio quase intransponível.

Enfim, quem sabe, como adultos com a responsabilidade de fazer a melhor opção para e com a próxima geração (nossos filhos), devamos parar e olhar ao longe, para o andarilho e não tão desconhecido transeunte. Talvez seja necessário reaprender a conjugar alguns verbos próprios dos que ainda se arriscam a sonhar com um mundo melhor para cada indivíduo e para a coletividade.

Importa, por essas e tantas outras considerações possíveis, pensar o Ensino Médio como um espaço de transição necessária à vida de nossos filhos e não aprofundar as buscas dos mitos dos portos seguros, ainda que esse seja o canto das sereias.

Talvez o verbo estrategicamente difícil de pronunciar e ressignificar seja aquele dos dois amigos do início dessa história: "Errei! Erramos! E melhorando as coisas ficam boas!"

Como Ulisses na Odisséia, talvez seja necessário nos amarrarmos para ouvir o canto das sereias a fim de que seja possível apregoar o renascimento dos poetas, dos cientistas, dos autores, dos pesquisadores, dos cidadãos e das pessoas capazes de sonhar e tecer o novo. Talvez seja necessário fazer tudo isso, sabendo a importância de romper as amarras ditadas pela vontade e tentação de ser igual, pensar igual e só ser platéia.

(Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Adalberto Fávero é Vice-Diretor do Colégio Medianeira; é formado em Filosofia, Teologia e História, com pós-graduação em Filosofia da Educação (PUCPR) e em Currículo e Práticas Educativas (PUCRJ). É mestre em Educação pela PUCPR.

INDÚSTRIA CUL TURAL E EDUCAÇÃO OD A SEREIA CULTURAL EDUCAÇÃO:: O NOVO CANT CANTO DA ANTONIO ALVARO SOARES ZUIN Editora Autores Associados A investigação dos mecanismos psicológicos da indústria cultural torna-se relevante sobretudo para a compreensão da chamada educação danificada. Na sociedade atual, o canto da sereia precisa apresentar ser o mais recente e sedutor possível para que o (pseudo)indivíduo continue a contribuir efusivamente para reprodução da semiformação (Halbbidung) e, portanto, da sua própria dominação. Áreas de interesse: pedagogia, psicologia e filosofia.

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... E a

EDUCAÇÃO? como vai?

Por Suzana Braga Bertassoni e Tatiana Simas Mielke

A adolescência sempre foi um tema carregado de polêmicas. Desvencilhar-se dos chavões e buscar análises mais profundas, no entanto, pode ser uma boa opção para compreendermos esse momento da vida do jovem em que muitas estradas estão abertas à sua frente para serem escolhidas. 22


"Nos últimos anos da adolescência e da juventude a 'turma' é a instituição mais importante de todas, a única que parece dar sentido à vida. Estar junto com os amigos é o prazer maior, diante do qual todo resto perde a cor... Ir à escola, fazer bem os deveres eram atividades em si nem bonitas nem feias, mas desagradáveis, porque consumiam tempo; gastava-se tempo até comendo à mesa de casa. Assim que possível, nos atirávamos 'fora', nos encontrávamos com os amigos e somente então nos sentíamos satisfeitos. Por isso, nenhuma outra experiência posterior pode ser tão perfeita. O mundo era aquele, auto-suficiente, plenamente satisfatório". (LUIGI MENEGHELLO)

V

Vivemos hoje um momento de grandes transformações; a família, antes nuclear, agora é multifacetada, e muitas relações são pautadas pela cultura midiática, visual, uma cultura fast food. Relações repletas de incertezas, imprevistos e diferentes formas de se "receber" a educação "oferecida" pela família e pela escola. A escola desempenha, nesse momento histórico, uma função social mais ampla do que a transmissão de conteúdos programáticos, lida com uma multiplicidade de fatores formativos nunca antes vistos pela sociedade. Diante da superficialidade das relações, observadas por nós, pais e educadores, resta-nos realizar uma síntese de conteúdo de vida dessa geração atordoada pelos ruídos do mundo globalizado, midiático, virtual e de tendência individualista. Os comportamentos muitas vezes - e ao mesmo tempo - são insolentes e frágeis, idealistas e cínicos, hostis e ansiosos de afeto, individualistas e corporativistas, contestadores e cheios de dúvidas, são desafiadores para os educadores que têm pela frente a tarefa de contribuir para a construção de pessoas significativas para o seu tempo. E é nesta relação, geralmente conflituosa, que se constroem as identidades adultas de amanhã, um futuro que exigirá protagonismos profissionais, humanos e sociais. A escola tem participação importante nessa construção, visto que é um espaço decisivo na socialização dos jovens, os quais, interagindo com os outros, adquirem grande parte dos elementos que lhes permite tornarem-se tais protagonistas. O contato com os educadores é um dos poucos relacionamentos significativos que os adolescentes têm com adultos diferentes dos seus

pais. Isso se deve ao fato de que, nesta fase, se colocam distantes dos adultos e principalmente de suas cobranças, como se criassem um mundo próprio e paralelo. Desta maneira, é na escola que os adolescentes experimentam relações múltiplas e diferentes, sejam com relação ao poder que os adultos podem exercer ou com os colegas com quem compartilham muito tempo e uma grande parte das suas atividades do dia-a-dia. Porém, todas estas relações não acontecem à margem de um sistema formativo, mas têm como referenciais as regras sociais, institucionais, que sugerem normas de convivência diferentes das que são apresentadas fora do contexto escolar. Entretanto, é na adolescência que se começa a contestar a autoridade e conseqüentemente as regras, e, assim, a obediência da infância tornase uma recusa às normas de comportamento e até a sua transgressão. Para se trabalhar com os adolescentes é então necessário conhecer um pouco "seu mundo", e principalmente como estabelecem suas relações interpessoais. Geralmente, gostam de viver em grupos ou tribos, procuram em seus amigos características precisas, escolhendo-os pela possibilidade de interagir com eles. Nestes grupos é que freqüentemente se reconhece o conceito de "nós", onde cada um se reconhece no outro, caracterizando a identidade do grupo. Necessidade de diálogo e da certeza de serem ouvidos. Diante desse contexto, torna-se estratégica a abertura ao diálogo crítico e propositivo. Muitas vezes, pode parecer que não estão nem um pou-

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co interessados no que temos a dizer, é a maneira que muitos encontram para mostrar sua recusa à autoridade, mas certamente esses argumentos farão parte de suas vidas em determinada ocasião. Desta forma, os adolescentes não se tornam adultos em um vácuo social: o sentido da sua transição para a vida adulta pode ser compreendido somente em relação ao contexto social e cultural em que se encontram e nas relações interpessoais que estabelecem. Nesta idade, é crescente o interesse por temas não considerados pela escola, e o dia-a-dia escolar é constantemente conturbado pelos fortes apelos que a mídia e a sociedade apresentam a eles. Assim, estabelecem metas externas ao perímetro escolar ou a objetivos estritamente escolares, surgindo conflitos entre a escola e os apelos da vida social. Cabe à escola mostrar que não precisam deixar de ser adolescentes para darem conta de seu papel de estudante, mas que isso implica aprender a administrar seu tempo, compromissos e relações interpessoais. O trabalho dos educadores deve estar voltado ao resgate do valor do conhecimento e do trabalho escolar na perspectiva da sociedade e de sua inserção no mundo do trabalho. Agora, vamos tentar entender um pouco destas relações que eles estabelecem com seus pares - que nem sempre se dá de maneira saudável - e que muitas vezes necessita da interferência dos educadores e exige também que os pais estejam sempre em alerta. Quando o adolescente se insere num grupo, geralmente procura características, desejos e opiniões semelhantes à sua. Passa a viver em função deste grupo, organiza seus compromissos, seus interesses de acordo com que o grupo define como primordial. É como se o grupo tivesse uma identidade única. Uma relação de dependência, na qual se veste, fala de maneira semelhante, ouve as mesmas músicas, critica as mesmas coisas. Porém, nem sempre o grupo se mantém de forma tranqüila. Também ocorrem conflitos, entre eles e consigo mesmo, o que às vezes é en-

carado de forma dolorosa para alguns, que também são extremistas em relação a seus sentimentos. Como cada indivíduo é único e possui sua identidade própria, traz consigo valores específicos de suas famílias, e, quando estes valores começam a ser questionados pelos colegas, surgem conflitos, sentem-se perdidos porque querem continuar com suas amizades, mas também não querem contrariar seus pais. A dificuldade de dizer não a seus colegas muitas vezes é maior do que o fato de terem que obedecer a seus pais. Essa situação demonstra sua fragilidade, pois, apesar, de fazerem parte do coletivo, são extremamente solitários. Muitas vezes são testados por colegas para experimentarem novas sensações e desafios, e a curiosidade, medo de serem considerados como fracos e a necessidade de auto-afirmação os levam a caminhos incertos. Desta maneira, o grupo de amigos acaba se tornando momento de agregação essencial para os adolescentes, no qual fazem suas opções mais importantes sobre sua própria identidade social e sua investida no mundo adulto. Só que nem sempre aceitam a diversidade de outros grupos de forma natural, e por vezes ocorrem competições ora visíveis ora veladas entre grupos distintos. O chamado bullying está presente em suas relações. Acabam confundindo humilhação como uma forma de diversão, usando o outro como se fosse um objeto. As provocações tornam-se momentos de brilhar e de se tornarem por vezes populares. O que fazer diante de tantas "ofertas"? Como nós, educadores (pais e professores), poderemos nos tornar referenciais nesse diálogo? Saber Sentir - Muitas vezes, evitamos o conflito. Conviver significa partilhar alegrias, tristezas, derrotas, cansaços, limites, possibilidades e superações. A dinâmica formativo/educativa se dá numa teia, numa rede, na qual cada fim é um novo começo, uns precisam dos outros, nós crescemos com nossos filhos/alunos que crescem conosco. É importante conseguir comunicar o que sentimos, independente de sermos pais ou professores, e também mostrar o que está em jogo

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quando se estabelece essa relação de pertença, de cuidado uns com os outros. Saber Ver / Saber Ouvir - Nossos filhos e alunos nos mandam recados a todo instante. Quando mentem, estão a nos pedir que os ensinemos o valor da palavra dada. Quando se rebelam, estão a nos comunicar a necessidade dos "nãos" que tanto os fazem crescer. Precisamos superar, ir além do diálogo de resultados; nossos ouvidos, muitas vezes, se tornam utilitaristas. O saber ouvir enriquece a relação, apazigua o coração e faz a mente serena. Saber Dizer - Nossa relação educativa é recheada de palavras não ditas ou ditas de maneira errada, por medo do conflito, da interferência, da conversa longa, do olhar nos olhos, pois se fala também com o olhar! Saber Cuidar - Educar é freqüentemente um caminho de pedras. Exige rigor afetuoso, exige atenção, exige não ter medo da interferência formativa, exige ter cuidado diante de nossas dúvidas e contradições - ora permitimos tudo, ora proibimos tudo. A interferência educativa está exatamente na assertividade e na firmeza de atitudes. Saber Amar - É a síntese de todos os saberes educativos/formativos. Queremos educar nossos jovens para que sejam pessoas íntegras, com-

petentes, solidárias. Diante disso nosso amor se torna incondicional, apaixonado, desmedido. Saber amar é estar situado nesse mundo, mas dele não ser refém. Saber amar é ensiná-los que pessoas e atitudes diante da vida têm valor mas não têm preço - e que a cada minuto é preciso resgatar o que é essencial, o que é importante, o que é precioso na vida. Diante de tantos atritos e conflitos, a escola e a família têm que desenvolver a consciência crítica que fundamenta a tomada de atitudes, a autonomia e a responsabilidade no relacionamento com o outro e com o mundo. É preciso apresentar-lhes subsídios para o enfrentamento de novos desafios, para os quais sejam capazes de fazer escolhas embasadas em valores. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Suzana Braga Bertassoni é graduada em Pedagogia, Especialista em Currículo e Prática Educativa e Mestre em Educação. Trabalha como Orientadora Educacional do Ensino Médio no Colégio Medianeira. Tatiana Simas Mielke é Graduada em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial com ênfase em Inclusão. Trabalha como Orientadora da Convivência Escolar do Ensino Médio no Colégio Medianeira.

A ADOLESCÊNCIA

ÉTICA P ARA MEU FILHO PARA

CONTARDO CALIGARIAS

FERNANDO SAVETER

Publifolha

Editora Planeta

Doutor em psicologia clínica e psicanalista, Contardo Calligaris mostra neste livro a adolescência como uma das formações culturais mais poderosas de nossa época, com todas as suas nuances, enigmas e superações.

Pensado e escrito para os jovens, este livro não é um manual de ética para adolescentes ou um compêndio dos trabalhos dos mais destacados autores e dos principais movimentos da teoria moral. Tampouco traz respostas moralizantes para os problemas cotidianos. Pessoal e subjetivo, como é a relação entre um pai e um filho, e por isso mesmo universal, 'Ética para meu filho' visa a estimular o desenvolvimento de livre pensadores.

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Disciplina

ARTE Ensino Médio: no

o que e como ensinar e avaliar Por Christiane Denardi

Importante para qualquer faixa etária, trabalhar Arte na escola será sempre um exercício de compreensão e leitura aguçada do mundo

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Entendemos que a educação estética (humanização dos sentidos) pode ser trabalhada nas instituições escolares, inclusive no Ensino Médio por meio da disciplina de Arte. Tornar-se e reconhecer-se como humano ocorre quando temos acesso aos bens culturais que a humanidade construiu ao longo dos anos, e entre eles está o conhecimento artístico. Educar esteticamente consiste em ensinar o homem a ver, ouvir, movimentar-se, atuar e sentir, o que não acontece de forma livre e espontânea. Assim, perguntamos: o que ensinar sobre arte nas escolas de Ensino Médio? Como ensinar? E como avaliar? O que e quais são os conteúdos artísticos que necessitam ser trabalhados no Ensino Médio? Conteúdos escolares são os saberes universais que constituem o mundo da cultura, e entre eles está a arte. No contexto escolar, o objeto de estudo da disciplina Arte são os conteúdos espe-

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cíficos contemplados nas diferentes linguagens artísticas, entre elas: música, dança, teatro e artes visuais, em um determinado tempo e espaço historicamente construído pelo homem. Nesta perspectiva, os conteúdos escolares em arte devem ser abordados em direção a uma totalidade e que possa abarcar dois eixos: primeiro, os conteúdos estruturantes (a matéria prima, os elementos formais, a composição e as técnicas de cada uma das linguagens artísticas); e, segundo, a abordagem sócio-histórica (artistas, obras, época, gênero e movimentos e períodos históricos). É fundamental que o professor conheça e organize o conteúdo da disciplina que leciona, para que a partir dele possa construir caminhos para torná-lo mais acessível à apropriação deste pelos alunos. A sistematização e organização curricular dos conteúdos em arte não consistem em uma listagem linear e estanque, mas sim de uma diretriz, um caminho que possa promover a apreensão, subjetivação e objetivação teórica e prática do saber artístico, de forma gradativa e que aos poucos possa ser aprofundada. A ação pedagógica do professor em sala de aula, conforme o encaminhamento metodológico, precisa propiciar a práxis artística (unidade entre a teoria e a prática artística), por meio de vivências e do entendimento histórico e teórico das experiências vivenciadas. O docente de Ensino Médio também necessita vivenciar experiências pedagógicas, didáticas e artísticas, ou seja, é preciso participar deste processo enquanto aluno para que se possa conduzir o processo ensino-aprendizagem como professor com os alunos em sala de aula. Entretanto, também cabe à escola, em conjunto com o professor, promover espaços sociais e tempo para o desenvolvimento das atividades artísticas, de acordo com os instrumentos, técnicas e materiais, considerando-se as seguintes especificidades: a linguagem artística a ser trabalhada e o nível e modalidade de ensino a ser contemplado. A avaliação na disciplina Arte apresenta duas funções: a diagnóstica e a diretiva. Na função diagnóstica, a qual é processual, contínua, permanente e cumulativa, têm-se como ponto de parti-

da os conhecimentos artísticos construídos historicamente pelo homem e expressos na escola como conteúdo artístico. Já como ponto de chegada, está a apreensão destes conteúdos pelos alunos a partir da sistematização e mediação dos mesmos pelo professor na relação ensino-aprendizagem. Na função diretiva, a avaliação baseiase na reflexão e no questionamento da práxis artística que foi desenvolvida no encaminhamento metodológico pelo professor. Desta forma, além de ensinar, também cabe ao docente avaliar o ensinar e o aprender durante o processo de desenvolvimento do trabalho pedagógico da disciplina Arte, tornando consciente ao aluno o que foi aprendido e ao professor o que foi ensinado. Entretanto, avaliar também consiste em construir uma síntese (sistematização do conhecimento apreendido) do que os alunos estão aprendendo, sem nenhum julgamento, a qual pode ser: descritiva e por meio de registro. A avaliação descritiva comunica o andamento do processo ensino-aprendizagem, comparando-se o que o aluno sabia no início do processo e os saberes que adquiriu durante este movimento. Já na avaliação por registro, tudo o que é vivenciado e produzido pelo aluno é registrado de forma concreta e material; por exemplo: fotos, portfólio, obras artísticas produzidas e gravações de vídeo e áudio, entre outras. Toda avaliação das diferentes linguagens artísticas pode ser realizada por duas formas: a informal e a formal. Na informal, o discente manifesta os conteúdos escolares que foram aprendidos e o docente os que foram ensinados; e na formal, o docente seleciona os conteúdos trabalhados e verifica se houve ou não aprendizagem pelo discente, e para tal utiliza-se de diversos instrumentos de avaliação, tais como: ficha de registro e de observação, dramatização, auto-avaliação, relatos, vivências, sínteses, etc. Mas ainda indagamos: como sabemos que o aluno aprendeu? Como ele expressa esta aprendizagem? Acreditamos que, nesta situação, torna-se necessário que critérios de avaliação sejam estabelecidos, para que haja clareza dos conteúdos que o aluno apreendeu ou não, e daqueles que está a caminho de apreender ou não, desde

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que o foco esteja no processo e não no resultado da práxis pedagógica artística. Assim, o aluno expõe os diferentes níveis de apropriação e aprofundamento que efetivou ou que pode vir a realizar. Como critérios de avaliação, destacamos: a vivência e produção de diferentes trabalhos artísticos, o desenvolvimento da sensibilidade do homem, a apreensão de produtos artísticos que o indivíduo construiu em suas práticas sociais e ao longo do tempo e espaço histórico, o desenvolvimento e aprimoramento dos órgãos dos sentidos para compreensão, criação, produção e fruição do trabalho artístico e a valorização da função social do artista, sua obra e seu tempo e espaço histórico, para a coletividade e para si próprio. Desta forma, concluímos que não basta aprender um conteúdo para mensuração de notas e aprovação de ano escolar, embora estas precisem existir no contexto da educação formal; mas é primordial ir além disso, ou seja, aprender um conteúdo escolar em função de uma necessidade social e a compreensão e utilização do mesmo, rumo a uma intervenção e possível transfor-

UMA DIDÁTICA P ARA A PED AGOGIA PARA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA

mação individual e social. Nesta direção, o professor da disciplina Arte necessita formação continuada para promover a educação estética de acordo com os parâmetros aqui apresentados, o que só é possível por meio de oficinas e do uso de materiais de apoio e didáticos desenvolvidos e aplicados por professores e profissionais desta área. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Christiane Denardi é psicóloga, pianista, pesquisadora e professora de música e ensino superior. Mestre em Educação pela PUCPR, Especialista em Magistério do Ensino Superior e Psicologia Organizacional e do Trabalho pela PUCPR e em Educação Musical pela EMBAP. Tem diversos trabalhos publicados, palestras, oficinas e consultoria nas áreas de Educação, Psicologia e Arte. É colaboradora de revistas e sites educacionais. E-mail: cdenardi@hotmail.com

O ENSINO DAS ARTES SUELI FERREIRA

JOÃO LUIZ GASPARIN Editora Autores Associados O livro é uma alternativa de ação docente-discente na qual o professor não trabalha pelo aluno, mas com o aluno. A proposta de trabalho pedagógico consiste no uso do método dialético prática-teoriaprática. Cada um dos cinco passos em que divide a nova didática tem como objetivo envolver o educando na aprendizagem significativa dos conteúdos. Desta forma os conteúdos e os procedimentos didáticos são estudados na interligação que mantém com a prática social dos alunos.

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(ORGANIZADORA)

Editora Papirus Profissionais com experiências no fazer artístico e no ensino das artes visuais, de música, dança e teatro reuniram-se para escrever sobre práticas pedagógicas, procurando oferecer, a estudantes e professores de arte, reflexões sobre o ensino artístico no currículo da educação básica brasileira. Com a intenção de mediar conhecimentos, as autoras não só sugerem atividades, como também apontam caminhos que poderão impulsionar transformações no atual perfil do ensino de arte em nossas escolas. Trata-se de valiosa contribuição para a área educacional, na qual o leitor conhecerá experiências e idéias que enriquecem a literatura especializada. Essa obra instigará os leitores à interação com suas propostas, possibilitando a constituição de novas práticas no ensino das artes.

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VIOLÊNCIA contra a

criança Considerada ainda por muitos como um tema tabu na sociedade contemporânea, a violência de um modo geral - e a contra a criança especificamente - só poderá ser combatida se for identificada e discutida.

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SITUANDO O TEMA

A VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA: O QUE É? Por Flávio Renê Miranda Pavan

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Pense em uma situação qualquer: você está em meio a uma conversa, quando algúem, falando em um tema atual, cogita as palavras "Violência Infantil". Você, em primeiro momento, pausa para relacionar isso com o contexto do que se fala, e acaba por entender o necessário para acompanhar a conversa com bom entendimento. Mas, quando o caso é definir e situar o tema, a tarefa complica. Muitas vezes, as pessoas sabem o que algo quer dizer, o que ele reflete na realidade, mas não sabem expressar isso em palavras. Outras vezes, as pessoas nem sequer sabem o que significa algo, e, ao defini-lo, acabam por cometer erros no que dizem. Sócrates era um pensador que questionava as pessoas, perguntando o sentido do que diziam, sem obter respostas prontas. Violência é um comportamento que causa danos. Nela, negam-se a autonomia, integridade física, psicológica e a própria vida de outra pessoa. A palavra possui derivação do latim violentia, comportamento de força e vigor, geralmente contra algo ou alguém. No entanto, é necessário cuidado: enquanto força - a partir da concepção filosófica, é energia e "firmeza" das coisas -, a violência é caracterizada pela ação corrupta, impaciente e baseada em ira, que não é aberta para diálogo, discussão e troca de idéias. É simplesmente baseada na agressão: física ou psicológica. No caso da violência infantil, a forma de agressão é ainda mais cruel, já que, em muitos casos, a vítima (o menor de idade) é incapaz de se defender. Um exemplo de violência infantil, muito comum nos noticiários, é o abuso sexual de crianças. A violência infantil pode acontecer por parte dos pais (adotivos ou biológicos) ou por outros adultos que tenham contato com a criança (conhecendo-a ou não), como professores, parentes, etc.

Essa forma de agressão pode ser causada por negligência por parte do adulto em cuidar do bem-estar da criança, formas de xingamento ou palavras que tragam danos psicológicos ao menor, ou agressões de caráter físico: espancamentos e queimaduras. Os motivos podem ser vários; geralmente se trata de alcoolismo e uso de drogas ilegais por parte do agressor. As formas são variadas: a violência doméstica física e psicológica, sexual, fatal, de trabalho infantil, e até mesmo a superproteção por parte dos guardiões da criança. Não obstante, definir a violência infantil não é o problema. O problema é o que ela traz à sociedade. Se no passado a agressão de crianças já acontecia, no presente isso não se alterou. E, cada vez mais na atualidade, como mostram a ONU e a Unesco, esses problemas são transparentemente mostrados à população e vistos com repúdio por grande parte dela. Como revelam pesquisas dessas instituições, cerca de 12% das 55,6 milhões de crianças com menos de 14 anos sofrem de algum tipo de violência doméstica, por ano, no Brasil. No mundo inteiro, são 550 milhões de crianças por ano. Do todo, 275 milhões são violentadas nas suas famílias (domesticamente) e 140 milhões sofrem de mutilações genitais, sendo que 80% das agressões são feitas por parentes próximos. Na esfera de abuso sexual, 223 milhões de crianças são vítimas. Por fim, 218 milhões foram escravizadas devido a trabalho infantil. Muitas vezes, esses casos são escondidos da população e ignorados, o que agrava ainda mais o problema ora causado. Muitos países sequer condenam os agressores. E as conseqüências ao jovem ou criança violentados são completamente desumanas.

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VIOLÊNCIA INFANTIL E... FILOSOFIA? Por Roberta de Souza Mansani

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Já vimos que a situação da violência infantil, no Brasil e no país inteiro, é mais do que preocupante. Hoje em dia, nos deparamos com mais e mais notícias de casos de violência contra crianças e adolescentes. Porém, não é só a agressão física que é considerada violência. Se levarmos em conta que violência é tudo o que não permite que a criança e o adolescente possam ter um desenvolvimento pleno tanto físico quanto psicológico, podemos dizer que, quando o indivíduo não tem acesso à educação, saúde, lazer, à convivência comunitária, etc., estamos falando de uma forma de violência. Nesse contexto, a realidade dessas pessoas é complicada, afinal, sem educação e alimentação adequada, por exemplo, não conseguirão ter formação para o futuro, e assim seu desenvolvimento será afetado. Nesse âmbito, até existe o chamado "Estatuto da Criança e Adolescente", que tenta garantir proteção aos menores de idade. Entre alguns trechos, estão: "A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade..." (Art 3°). As leis são muitas... mas, convenhamos... Elas são levadas a sério na realidade, são colocadas em prática de modo efetivo, a fim de evitar crimes contra as crianças e jovens do país? Ao realizarmos uma enquete com alguns alunos do Ensino Médio do Colégio Medianeira (1ª, 2ª e 3ª séries), Ensino Fundamental e parentes, totalizando 50 pessoas entrevistadas, perguntando se "Em sua opinião, as leis de proteção ao jovem e ao adolescente no Brasil são efetivamente aplicadas na convivência social e na realidade

vivida pelas pessoas do país, de modo a combater crimes?", obtivemos como resposta:

As opiniões são muito diferenciadas, e refletem o pensamento da população sobre os casos de violência infantil. Foram vários os escritores e filósofos que trataram dos diversos casos de violência. Éric Weil (1904-1977), um dos maiores filósofos franceses do século XX, fez da violência e da ética um dos principais temas de suas elaborações filosóficas. As várias indagações "weilistas", de reflexão filosófica, eram: "O que distingue uma simples afirmação de fato, arbitrária e violenta, de uma afirmação de direito, justificada e justificante? O que distingue o poder da autoridade legítima? O que distingue a violência da razão?". Segundo ele, sempre houve uma dualidade: violência e discurso, ou violência e razão. Em sua obra, A Lógica da Filosofia, ainda afirma que a linguagem e a razão fazem surgir a violência, portanto só o homem é violento. Os outros animais não são violentos ou organizados entre si; para Weil, só são violentos ou organizados ao olhar humano. Ele ainda finaliza: "o filósofo quer que a violência desapareça do mundo. Ele reconhece a necessidade, ele admite o desejo, ele aceita que o homem permanece animal, mesmo sendo razoável: o que importa é eliminar a violência. É legítimo o desejo que reduz a quantida-

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de de violência que entra na vida do homem; é ilegítimo o desejo que a aumenta."

peito da indiferença da população em relação a

Weil não foi o único: Bertolt Brecht (18981956), poeta alemão, já dizia: "do rio que tudo arrasta, se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem", a res-

vra do Doutor em Filosofia pela Universidade de

uma violência majoritária. Por fim, tem-se a palaSão Paulo (USP), Paulo Ghiradelli: "devemos pensar melhor sobre o caminho da violência [também infantil] no Brasil".

VIOLÊNCIA INFANTIL, FILOSOFIA E ARTE! Por Isabela Bonet Scheffer

Não podemos negar que a violência de um modo geral e, principalmente, a violência infantil são reflexos da realidade em que vivemos. A Filosofia efetua uma reflexão a respeito disso tudo, partindo do pressuposto da análise, reflexão e crítica da realidade, do que o homem vive como personagem de sua história.

Mas não foi somente no cenário das pinturas que o assunto da violência e violência infantil tiveram espaço.

Com um caráter diferente, mas nem por isso distinto da Filosofia, a Arte é, a partir da percepção, sensibilidade, emoção e idéia, uma produção e atividade estéticas do homem, com o objetivo de estimular a consciência de um público. E a parte da Filosofia que se incumbe da função do estudo do belo e dos fundamentos da Arte, é a própria Estética. A violência tem sido uma constante nas artes. Um exemplo é a tela abaixo, de Domenico Zampieri, pintor barroco italiano, do século XVI:

Um anúncio internacionalmente premiado, que continha um poema sobre a violência infantil, ficou conhecido aqui no Brasil via internet. Nos trechos: "O meu nome é Sara / Tenho 3 anos / Os meus olhos estão inchados, / Não consigo ver. / Eu devo ser estúpida, / Eu devo ser má, / O que mais poderia pôr o meu pai em tal estado? / Eu gostaria de ser melhor, / Gostaria de ser menos feia. /... Quando a minha mãe chega, / Eu tento ser amável, / Senão eu talvez levaria / Uma chicotada à noite". Podemos até pensar que o autor exagerou em seu poema, o qual continua relatando as agressões a Sara por seus pais, até a sua morte. Mas, na verdade, ele não exagera nem um pouco: como já relatamos, os dados da violência infantil no Brasil são mais que assustadores, e ela tam-

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bém está presente em cotidianos e nações diferentes ao redor do globo. No cenário musical, a letra de uma canção interpretada por uma artista americana, Martina McBride, retrata o abuso infantil. Chamada de "Concrete Angel" (Anjo Concreto), a música trata de uma menina que sofre violência infantil pelos pais. No refrão: "A professora gostaria de perguntar, mas não pergunta, / É difícil ver a dor atrás da máscara, / Carregando o fardo de um temporal secreto, / Às vezes deseja que nunca tivesse nascido, /... Ela esconde seus machucados com o seu pequeno vestido...". Por fim, não poderíamos deixar de relatar a violência infantil nos filmes. Do cenário nacional, podemos destacar o filme Querô (2006), dirigido por Carlos Cortez e baseado em livro de Plínio Marcos, que aborda a história de um menino cujos pais faleceram cedo, e que passou por uma turbulenta e violenta infância, principalmente após ser preso na FEBEM (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor).

ANJOS DO SOL DIREÇÃO DE RUDI LAGEMANN Anjos do Sol conta a saga da menina Maria, de 12 anos, que, no verão de 2002, é vendida pela família, no interior do nordeste brasileiro, a um recrutador de prostitutas. Depois de ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada para um prostíbulo localizado numa pequena cidade, vizinha a um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos com outras meninas, Maria consegue fugir e atravessa o Brasil na carona de caminhões. Ao chegar ao seu novo destino, o Rio de Janeiro, a prostituição coloca-se novamente no seu caminho e suas atitudes, frente aos novos desafios, tornam-se inesperadas e surpreendentes. Recomendação: acima de 14 anos.

Outro filme de repertório nacional, e muito conhecido, é Anjos do Sol (2006), do diretor Rudi Lagemann. Trata da vida de uma menina pobre que é vendida para um recrutador de prostitutas, e acaba sendo enviada a um prostíbulo, sofrendo inúmeros abusos e violência. Alguns filmes internacionais também tratam desse tema: O Efeito Borboleta, Sobre Meninos e Lobos e Sleepers são bons exemplos, sendo o último a história dos crimes cometidos por quem já foi abusado um dia. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Flávio Renê Miranda Pavan, Isabela Bonet Scheffer e Roberta de Souza Mansani são alunos do segundo ano do Ensino Médio no Colégio Medianeira e os textos acima fizeram parte de um trabalho para a disciplina de Filosofia, sob orientação do professor Loivo Mallmann.

ANÁLISE DA VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE SEGUNDO O CICLO DE VIDA NO BRASIL UNICEF Editora Globo Em busca de uma Plataforma Nacional de Combate à Violência contra a Criança e o Adolescente, o Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência (Unicef) reuniu centenas de pessoas em São Paulo para uma consulta nacional sobre o tema. A base de toda a discussão está nessa obra que, infelizmente, mostra dados surpreendentes e espantosos sobre mortalidade infantil, violência doméstica, trabalho infantil e outros tipos de violência e violação dos direitos da criança e do adolescente no Brasil.

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VITÓRIA RÉGIA no

CIBERESPAÇO

Por Gloria Kirinus

O debate sobre a inclusão escolar no Brasil tem se transformado cada vez mais num verdadeiro embate. O objetivo deste texto é mostrar os desafios da diversidade em sala de aula e quais os recursos para incluirmos os alunos com necessidades educacionais especiais de forma efetiva e não apenas assistencialista.

A LUA É A MESMA

O TEMPO,

DE ANTIGAMENTE.

NÓS SABEMOS,

É O MESMO, O PRÓPRIO SOL.

É MESTRE INQUIETO,

E AINDA É O MESMO

QUE SEMPRE

O MENINO QUE ATIRAVA PEDRAS

INVENTA

NA LAGOA

SEUS PRÓPRIOS CURSOS

SURPREENDENDO

VIRANDO O JÁ VIVIDO

ESTRELAS

PELO AVESSO

*

NAS JANELAS DO VERSO.

AS ONDAS DO MAR

*

AINDA RECEBEM

PIRILAMPOS E BEM-TE-VIS

A VISITA

DIVERTEM-SE

DOS RIOS

COM NOSSA PERPLEXIDADE

E A MENINA AINDA PERSEGUE

DO LONGE QUE FICOU

PARA SER PERSEGUIDA

PERTO

COMO LENDÁRIA

E DA VIRTUDE VIRTUAL

NAIA

EMBALANDO A REDE

ENCANTADA POR JACI

DO CONHECIMENTO.

*

*

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QUANDO CHOVE A CÂNT AROS CÂNTAROS GLORIA KIRINUS Editora Paulinas

RADARES INDISCRETOS

QUE REALIDADE É ESTA

INVADEM

QUE ME CONFUNDE?

CIRCUITOS FECHADOS COMO CATAVENTOS

FAÍSCAS OUSADAS

EM TEMPOS DE FESTA

REACENDEM

PROCURANDO

A FOGUEIRA MILENAR

NOVOS RECANTOS

ENTRE ASSOMBROS DE CABOS

DO PENSAMENTO

E CÉLULAS SEM FIO

*

*

EMARANHADO DE FIOS

E A PALAVRA

ELEVAM RAÍZES

DO QUADRO NEGRO

AÉREAS

APRENDEU A NAVEGAR

NA ESTRATOSFERA

REINVENTADA

E ACORDAM

MULTIPLICANDO LUAS

NAS ENTRETELAS DA NOITE

COM ARES DE

SOMBRAS PARABÓLICAS E

VITÓRIA RÉGIA

ARTÉRIAS

NUMA TELA DE CRISTAL.

DO SENTIMENTO. *

(Poema publicado originalmente no livro: Curso Normal Superior com Mídias Interativas - Um projeto inovador para a formação de professores. Organizado por Célia Finck Brandt e outros. Editora UEPG)

Gloria Kirinus é poeta, autora de livros bilíngües de Literatura Infanto-Juvenil e do livro teórico Criança e Poesia na Pedagogia Freinet. Criadora e ministrante da oficina "Lavra-Palavra", professora de cursos de pósgraduação, em diversas universidades. Ministra oficinas de "Criação Literária" na Fundação Cultural de Curitiba. É pós-doutoranda no CEAQ /Sorbonne/ Paris V.

Quando chove a cântaros é um poema divertido e encantador sobre a chuva, que lava a alma e abençoa as plantações, fazendo brotar a esperança. Quando chove tanto assim, a terra quase se mistura com o céu e o leitor se esbalda nas imagens inusitadas, como a dos astros que se divertem com a confusão provocada pela inundação na cidade. O livro tem apresentação bilíngüe, português e espanhol, e transforma-se numa ótima oportunidade de aprender uma segunda língua. As ilustrações com ares de pintura primitivista de Graça Lima encaixam-se com perfeição nesta produção que atravessa fronteiras de mundos aparentemente distintos, mas que se unem numa mesma realidade latino-americana.

ARANHA CAST ANHA E OUTRAS TRAMAS CASTANHA GLORIA KIRINUS Editora Cortez No Sul do Brasil, poucas coisas causam mais medo do que uma picada de aranha marrom (Loxosceles). Contudo, também vem de lá a Aranha Castanha (Imaginoxosceles Cotidianae Kirinum), cuja picada nos faz capazes de encontrar numa mensagem da internet, numa viagem de avião, num lenço cor de mel, ou num "presente" respondido por um aluno as razões mais profundas do querer viver. Entre na teia desta fiandeira e não procure pronto-socorro para os sintomas de poesia, de filosofia ou de felicidade. Esses, de fato, são fatais. (Marcus Vinicius Santos Kucharski).

www.gloriakirinus.com.br

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Imperativos

ÉTICOS e

ação

O DESAFIO DAS CAUSAS COLETIVAS NA ERA DO HIPERCONSUMO

Por André Tezza

No mundo do hiperconsumo e do hiperindividualismo, precisamos saber se a boa consciência basta para que se construa uma sociedade mais solidária, preocupada com questões coletivas. 36


C

Como estabelecer uma ética que mobilize indivíduos hedonistas, geralmente avessos a causas coletivas, para questões que são inadiáveis, urgentes do nosso tempo, como a questão ambiental? O filósofo Hans Jonas foi um dos grandes interlocutores da ética durante o século XX. Contrastando os princípios humanistas com os perigos de uma sociedade voltada para o consumo e o desenvolvimento, Jonas reformulou e atualizou um dos mais famosos preceitos da história da filosofia, o Imperativo Categórico de Kant. Originalmente, no século XVIII, Kant propunha: "age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal" - isto é, eis a busca de uma ética atemporal, universalizável e guiada pela ação, pelo agir dos homens. Na nova versão, Jonas propõe: "Aja de modo que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana sobre a terra; aja de modo que os efeitos de tua ação não sejam destruidores para a possibilidade futura de tal vida; não comprometa as condições da sobrevivência indefinida da humanidade na terra; finalmente, inclua em tua escolha atual a integridade futura do homem como objeto do teu querer". Por que uma reformulação do Imperativo Categórico? O imperativo original de Kant, que não deixa de ser uma versão filosófica de um conteúdo essencialmente bíblico, apresenta pelo menos dois problemas para o nosso tempo. O primeiro é a aparente não preocupação com o "progresso", mas simplesmente com ação presente entre os homens - durante o iluminismo, não se duvidava do projeto racional da civilização e, conseqüentemente, a ética não fazia previsões para o futuro, porque havia a certeza de que, com a razão, o futuro seria radioso. O segundo é que vivemos em uma sociedade em que não é mais possível pensar em uma moral universal válida para todos os homens - a lógica da modernidade, que, repare bem, é também a lógica do consumo, é em grande parte a lógica das escolhas individuais, das escolhas privadas. Num

belo argumento contra Kant, no palco dos filósofos contemporâneos, o francês André ComteSponville afirma que nem o homossexualismo nem uma vida fora da moral estabelecida estariam garantidos no Imperativo Categórico - e, de fato, Kant, em vida, foi contra os homossexuais, contra o sexo antes do casamento, entre outras escolhas que eram possíveis em um mundo em que a tradição e a autoridade ainda apresentavam forças definitivas sobre o âmbito privado. Mas o grande problema com os imperativos, no nosso tempo, é de outra natureza: não serão somente a educação, a boa vontade ou a "consciência" do homo consumericus que garantirão a ação. Não adianta termos princípios que são admitidos por todos, mas que não conduzem à ação, isto é, que não atravessam os ânimos do hedonismo ou do individualismo. Os imperativos de Jonas são irretocáveis, mas serão inócuos se apartados da práxis - eles servem como plano de vôo para ação, mas não são a ação. Para a ação imediata, e eis aqui um esboço de resposta para o nosso tempo, é mais prudente investigar a lógica que o homo consumericus respeita: a lógica do próprio consumo, regulamentada pelo Estado. Um exemplo simples, para ilustrar o argumento: reflitamos sobre o trânsito de São Paulo. Será possível conceber que algum paulistano não saiba das vantagens do uso da bicicleta ou do transporte público? O problema é que, mesmo com esta consciência, pouquíssimos abnegados largam os carros em favor de um trânsito melhor. Em outras palavras: não é somente um problema de educação ou da consciência de cada cidadão - é essencialmente um problema da ação. Por que o trânsito funciona na Suécia? Sim, os suecos têm educação exemplar, a melhor propaganda de trânsito disponível, uma fábrica de automóveis que deseja construir o carro mais seguro (e não o mais potente ou o mais bonito), mas, sem desmerecer estas conquistas, o que eles de fato têm é uma legislação severíssima. Uma legislação que, por meio de um Estado que funciona, atinge a moeda do consumo: há benefícios financeiros para os que a respeitam; desvantagens financeiras ou, nos casos mais graves, medidas punitivas para os que não a respeitam.

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Nesta lógica de benefícios e desvantagens, voltemos a São Paulo. O problema do trânsito de São Paulo estaria resolvido se a maior parte da população morasse próxima do local de trabalho. Neste caso, numa ação hipotética, a prefeitura poderia dar descontos no IPTU para aqueles que moram nos arredores do trabalho. Ou então, o contrário, o cidadão que declara possuir dois carros ou mais, morando longe do trabalho, deveria pagar um excedente de IPTU. Essas medidas podem ser inócuas - ou até perversas -, num mercado de trabalho de grande volatilidade (e com muitas mudanças nos locais de emprego), mas o importante aqui não é demonstrar a solução, e sim demonstrar a natureza da solução, isto é, aquilo que pode efetivamente funcionar. Não será a simples consciência das grandes causas coletivas que dará as respostas para a ação no tempo do hiperconsumo. E para problemas urgentes, é mais prudente planejar respostas viáveis e que fazem sentido dentro da lógica do

A FELICIDADE PARADOXAL ENSAIO SOBRE A SOCIEDADE DO HIPERCONSUMO

nosso tempo do que apostar as fichas em uma participação cívica intensa, em grandes utopias de reformulação da sociedade, justamente no momento em que a política está desacreditada em todo o mundo. Naturalmente, isto não exclui a esperança e a luta pela política, pelo civismo e pela cidadania. Muito pelo contrário: a grande questão ética do presente é justamente o aniquilamento das causas públicas. Mas é preciso pragmatismo - não se funda um interesse pela política por decreto. Para o futuro, a educação ainda é a melhor resposta. Mas para o imediato, a regulamentação severa das escolhas individuais é a resposta mais efetiva. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

André Tezza é professor de Ética e Legislação Publicitária e Coordenador do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo

ÉTICA E PODER NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO GILBERTO DUPAS

GILLES LIPOVETSKY

Editora UNESP

Companhia das Letras Filósofo da nova geração francesa, Lipovetsky é um especialista na análise do consumo contemporâneo. Este livro faz uma reflexão sobre as possibilidades de felicidade na modernidade tardia (ou hipermodernidade, na definição do autor) e traz respostas originais, diferentes tanto do pessimismo apocalíptico de alguns movimentos sociais quanto do otimismo triunfante do liberalismo.

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O livro do Dupas é um grande apanhado dos desafios éticos do presente: problemas ambientais, vida privada apartada das questões públicas e a falta de perspectiva para novos modelos de desenvolvimento. Destaque para uma bela reflexão sobre os imperativos éticos, incluindo seus desdobramentos na filosofia de responsabilidade de Hans Jonas.

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A

narrativa na

de

TROCA

EXPERIÊNCIAS entre gerações

Por Helmuth Kirinus

A distância entre gerações pode ficar cada vez maior em uma época na qual a velocidade das transformações é assustadora. Assim, como aproximar alunos e professores por meio de denominadores comuns que agreguem beleza e virtude? 39 39


O PONTO DE PARTIDA Em tempos nos quais a imagem é tudo, seria talvez interessante fotografar o instante que deu início a esta série de reflexões que procuro pôr no papel. No entanto, não é possível. A vida é indivisível, já disse o poeta. E foi mesmo gradualmente que foi aumentando em decibéis o tom da minha voz para conseguir chamar a atenção e pedir silêncio em uma sala de aula do ensino médio, em uma escola da rede pública de Santa Catarina. Aliás, falando em imagem, sempre me ocorreu a idéia de que Deus fosse um grande cineasta. Quanto aos seus aspectos mais cotidianos, costumes, manias, relacionamentos, etc., tenho certeza que Ele estava pensando em uma grande comédia. Mas, não sei quando nem porque, a sala de aula havia se transformado em um cenário de filmes de guerra. Para alguns uma guerra declarada e para outros uma história de amor esfacelando-se neste cenário. Mesmo para os colegas que possuíam um perfil militar mais evidente, a luta não estava fácil e o inimigo era sempre um e o mesmo: a indisciplina. Para um sargento preparado, gritar é algo rotineiro; no entanto, notava-se que esta estratégia já não surtia o mesmo efeito. Quanto melhor o exército, costuma-se dizer, pior são os tratos e a comida. No entanto, nem a cara mais fechada e nem as piores provas estavam dando algum resultado. Feliz ou infelizmente, não tenho este perfil e por isso, acredito, juntamente com outros, sofria muito mais. Se houvesse ao menos um

minuto de trégua, um minuto de atenção para que eu pudesse dizer que eu estava do lado deles, que eu estava ali por eles e para eles. Não adianta, era preciso que eles tivessem a capacidade de ouvir. Mas saber ouvir é uma virtude e, afinal, as virtudes podem ou não ser ensinadas? Fui aquela noite para casa com uma dúvida de pelo menos 2400 anos. Sábia é a afirmação que diz que as pessoas gritam para superar a distância entre seus corações. Somente existia uma alternativa então: aproximar. Mas como? Os nossos mundos estavam distante demais. Eis aí talvez o motivo de tanto grito: os nossos mundos estavam muito distantes. Já ouvi no meu tempo de escola a expressão "será que estou falando grego?" Talvez sejamos mesmo em determinados momentos de culturas diferentes. Não falamos a mesma língua. Nesse caso a antropologia pode nos ajudar. Há muito que os teóricos desta ciência descobriram que é preciso despir-se de uma atitude arrogante, que olhava de cima as outras culturas comparando-as com aquelas cientificamente e tecnologicamente evoluídas das quais faziam parte. Mesmo que a experiência nos tenha agregado algum valor não é julgando-se superior que se conseguiria esta aproximação. É preciso começar como se fosse da estaca zero, de novo e sempre. Talvez não seja tão difícil. Aliás, Sócrates e Gonzaguinha já haviam celebrado a atitude de ser um eterno aprendiz. Uma das atitudes filosóficas mais importantes da história foi o colocar em dúvida, abrir mão das certezas. Mas como? Então vou jogar fora tudo o que aprendi? Edmund Husserl foi muito feliz quando utilizou pela primeira vez filosoficamente a expressão "colocar entre parênteses". Ele percebeu que o ser humano era capaz de, através da sua liberdade, abrir mão de suas certezas cotidianas colocando-as entre parêntesis. Desse modo, poder-se-ia experimentar cada situação como se ela fosse nova, inédita, e, assim, espantar-se e maravilhar-se com elas. Poderíamos então compreender muitas das atitudes da nova geração sem sermos arrogantes e ao mesmo tempo (como não jogamos tudo o que aprendemos fora e apenas colocamos entre parêntesis)

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não sermos enganados por elas. Existe um ditado chinês que diz: "se queres mudar o mundo comece por mudar o seu país, se queres mudar o seu país comece por mudar sua cidade, se queres mudar sua cidade comece por mudar a sua casa, se queres mudar a sua casa comece mudando a si mesmo". Tarefa infinita. Talvez seja preciso colocar também entre parêntesis as certezas que tinha sobre mim. E, quem diria, pareciam tão sólidas e eram tão frágeis! Sobre mim restou apenas uma grande interrogação. Somente agora compreendi aqueles versos que há muito tempo li: "Falar sobre mim? Mas isto seria um passo em direção ao silêncio." (Samuel Becket) Por ironia, eu que queria chegar a alguma conclusão construtiva sobre a educação, voltei ao ponto de partida, à página em branco, à estaca zero, à dúvida de mais de 2400 anos. E por isso mesmo, por incrível que pareça, não quero abandonar esta sensação de despertar. Ou melhor, quero retornar sempre a ela. O dia começa e a aurora com suas trombetas douradas inauguram a cada instante uma nova era, uma nova história, um novo começo.

A TRAMA E A CARTILHA Comecemos então do zero. No entanto, será que é possível suspender nossas certezas? Se não é possível, é pelo menos imaginável, e a imaginação é peça fundamental no processo de aprendizagem. Aliás, eu diria que ela é a ponte capaz de transpor a distância entre as gerações e indivíduos. É através dela que posso ouvir e compreender um projeto, uma fórmula, um conselho. Imaginemos então (e na vida real as coisas não são diferentes) que Deus (ou a Vida, a Natureza, a Experiência, os Fenômenos ou o nome que prefiras dar) deu a cada um de nós uma cartilha onde se aprendem as verdades fundamentais ao ser humano, além de uma série de conhecimentos úteis ao nosso dia a dia. Por motivo de troça, ou muito provavelmente por motivo mais nobre, Ele, a cada um, deu uma cartilha diferente. Assim, o que alguém compreende no início da cartilha outro somente irá compreen-

der depois, ou quem sabe só no final da vida, ou ainda, Deus nos livre, morra sem compreender. Sem contar que cada um aproveita sua cartilha - que a partir de agora chamaremos experiência - tão bem ou mal quanto nossa liberdade nos permita. De fato, há os que passam as páginas sem aprender quase nada, há os que aprendem muito e há - aqui entra novamente o papel da imaginação - os que aprendem não só o conteúdo da sua experiência como também a dos outros. Ou seja, através da imaginação somos capazes de trocar experiências e aprender através de cartilhas que não nos foram destinadas. Esse, talvez, seja o conceito elementar de Educação: a troca de conteúdos entre diferentes experiências e gerações superando a distância que exista entre elas. Antes, porém, de pensarmos como compartilhar o que aprendemos e chamamos de experiência, é preciso pensar como e quando aprendemos. Estamos falando é claro do aprendizado das virtudes, da sabedoria, de verdades fundamentais ao ser humano. É fato que em nossa experiência existem diferenças de brilho e intensidade entre seus diversos momentos. Lembre-se das frases do nosso querido poeta lusitano: "O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." (Fernan-

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do Pessoa). Estou quase apostando que é desses momentos inesquecíveis que tecemos a trama daquilo que aprendemos e chamamos experiência e preserva-se na memória individual e da humanidade. Aliás, na origem etimológica das palavras "aprender" e "apreender" está subentendido o sentido de reter ou apropriar-se de algo e é exatamente isso o que neste caso significa ser inesquecível. A história da humanidade está repleta de acontecimentos, fatos, momentos e personagens inesquecíveis e incomparáveis. Da mesma forma, nossa aprendizagem pessoal fazse destes momentos que positiva ou traumaticamente guardamos para nós. No entanto, nossa história pessoal na maioria das vezes interessa somente a nós mesmos e muitas passagens da história da humanidade, se não forem bem contadas, podem dar sono. É preciso então, além de viver, ler, ouvir, imaginar e guardar para si esses momentos, também é preciso saber contar. Voltaremos ainda nesse ponto. Primeiro precisamos descobrir onde encontrá-lo. Para um professor comum não é viável, embora possa parecer interessante, viajar pelo mundo em busca de aventuras. Nossas atividades com seus horários e lugares pré-estabelecidos também não nos trazem nada de excepcional que mereça ser contado. Onde encontraremos então esse excepcional? No prefácio do renomado escritor Isaac Bashevis Singer, encontramos o seguinte depoimento que pode nos levar a uma direção. "Como a maioria de meus trabalhos de ficção, este livro apresenta um caso excepcional com heróis singulares e uma singular combinação de fatos. Se eles se enquadram no cenário geral é porque a exceção tem origem na regra. Na verdade, em literatura a exceção é a regra." Com efeito, ninguém se daria o trabalho de contar ou escrever uma história banal, comum, sem nada de singular ou excepcional. Encontramos então uma direção onde encontrar o excepcional, qual seja, a literatura. Voltemos então à questão do contar. Além de na literatura encontrarmos o excepcional digno de enriquecer nossa experiência e de ser compartilhada, é preciso também sabê-lo contar. Seguindo nessa direção, vamos ao encontro da cha-

mada Literatura Oral e Popular. A tradição oral possui inúmeras histórias que lapidadas pelo tempo (centenas e centenas de anos) possuem uma trama difícil de desvencilhar-se. Quando pensas em distrair-te, o enredo coloca diante de ti algo novo; quando pensas que vais escapar, a história muda o rumo e sua imaginação não resiste à tentação de ver onde vai dar. Como essas histórias preservaram-se no tempo sem precisarem ser transcritas, conclui-se que quem as contou guardava-as todas na memória. Mãos à obra: em uma pequena coletânea de contos populares brasileiros selecionados e compilados pelo grande estudioso desta literatura, Câmara Cascudo, encontramos um excelente conto chamado "Couro de Piolho". Memorizei, entrei na sala, iniciei a aula e quando vi que eles começavam a se dispersar, cocei a cabeça, falei de piolho, perguntei se eles conheciam a história do Couro de Piolho, se queriam ouvir, e contei: "Era uma vez uma princesa que estava sendo penteada pela sua aia quando esta achou um piolho no pente!!! A princesa ficou tão admirada com o achado que resolveu criar o bicho numa caixinha. O piolho cresceu tanto que mudando de caixas em caixas estava enorme (...)"

Foram dez minutos de silêncio absoluto. Como nem eu, nem Sherazade somos bobos, é claro que eu não terminei a história e prometi terminar de contar quando nós conseguíssemos, com a cooperação deles, terminar aquele determinado conteúdo. Terminamos, mas a história que avançou não chegou ao fim antes do término da aula. Na aula seguinte, se conseguíssemos terminar um novo conteúdo, eu prometi contar o final da história com certeza. E assim aconteceu aquilo que eu tanto desejava: a aproximação. Nós que até então pertencíamos a culturas distantes tínhamos algo em comum, conhecíamos uma mesma história, partilhávamos quase todas as aulas de um momento comum. Através da trama de uma boa história percorríamos com nossa imaginação as peripécias de um herói e aprendíamos nela lições de prudência, coragem, perseverança, sabedoria, etc. Mas então as virtudes podem ou não ser ensinadas? Platão há pelo menos 2400 anos já havia esboçado uma

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resposta: o que se pode é despertar uma busca do aprendizado delas em si mesmo. Como? Se ficaste curioso em saber o que aconteceu à princesa e ao piolho, já tens a resposta.

Helmuth Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR e atualmente trabalha como professor de Filosofia no ensino médio da cidade de Itapoá-SC e instrutor de música no projeto social 2º Tempo nesta mesma cidade.

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COURO DE PIOLHO

FACÉCIAS - CONTOS POPULARES DIVERTIDOS

LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

Editora Globo

Editora Globo

Um dia, Câmara Cascudo, perguntado sobre como fazia suas pesquisas, respondeu que se misturava com as pessoas para aprender alguma coisa. E assim... alguém contou para alguém, que contou para alguém... que contou para Luísa Freire, em Macaíba, Rio Grande do Norte, que contou para Câmara Cascudo, que contou para nós, que contamos para... a história de uma princesa que estava sendo penteada pela ama quando esta encontrou um piolho. O conto "Couro de Piolho" acorda a criança que há em todas as pessoas, encantando-a com a capacidade que tem o personagem de acreditar na possibilidade de realizar uma proeza, mesmo que tudo pareça contrário. Além disso, o conto valoriza a pessoa de João - suas atitudes, sua pureza, sua forma de lidar com as pessoas - vencendo, através da inteligência e de uma "ajuda mágica", os obstáculos.

O livro traz histórias que o povo conta, ingênuas, engraçadas e às vezes cruéis. A irreverência e a matreirice do povo brasileiro são resgatadas nessa seleção de pequenas histórias, reunidas por um dos maiores estudiosos da cultura popular brasileira, Luís da Câmara Cascudo.

LITERA TURA ORAL NO BRASIL LITERATURA LUÍS DA CÂMARA CASCUDO Editora Globo Um importante estudo do professor Câmara Cascudo sobre oralidade. Ele apresenta informações precisas e ricas acerca da cultura popular brasileira, transmitida verbalmente e gravada na memória, comprovando que essa forma de comunicação tem grande valor no que diz respeito a revelar a identidade de um povo.

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ENSINO RELIGIOSO eo

VALORescolha: da

um caminho em

construção

Por Carlos Henrique Martins Torra

"O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para nós é no meio da travessia" (Guimarães Rosa)

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A

Após a publicação da edição número 11 da revista Mediação, tive a oportunidade de ler o artigo "Inclusão: uma pauta que é de todos nós", escrito pelas pedagogas Carolina Zanella e Ivana Vicentin, e, por um momento, vi-me pensando e vivenciando mentalmente uma cena do livro Alice no País das Maravilhas ? livro tão presente na minha adolescência e no qual, já na faculdade, percebi o aspecto profundamente humano e valorativo que ele busca refletir. Pude visualizar exatamente a cena em que Alice, maravilhada e encantada com o mundo "estranho" e "confuso" no qual estava vivendo (percebendo o quanto era diferente ver que crianças se confundiam com animais enquanto se perguntava como podia ajudá-los) pára, frente a uma opção enorme de caminhos, e pergunta ao Gatinho Cheshire: — O senhor poderia me dizer, por favor, qual caminho que devo tomar para sair daqui? — Isso depende muito de para onde você quer ir, respondeu o Gato. — Não me importa muito para onde..., retrucou Alice. — Então, não importa o caminho (...) Todos eles levam a algum lugar, disse o Gato. Por alguns instantes, não pude deixar de pensar nos aspectos essencialmente pedagógicos dessa passagem de Lewis Carroll. Entre eles, os diversos caminhos citados, o contato de Alice com um mundo maravilhoso e novo, as crianças com suas características próprias e "desconhecidas" pela protagonista, o vislumbre das escolhas e o mundo que se abre em oportunidades... Como a educação, a consciência da escolha intencional cabe somente à compreensão humana. Para Sartre, filósofo francês (1905-1980), todo indivíduo é capaz de escolher suas atitudes, objetivos, valores e formas de vida. Não há, dessa forma, a idéia de uma absolutização da escolha ou da verdade referente a uma sociedade - da visão inflexível de apenas uma compreensão de mundo, ou mesmo "um" modelo ou padrão de

agir humano ?, mas sim a possibilidade de saber pensar as condições de dialogia possíveis em diversos setores e áreas da realidade humana que estão interligados e inter-relacionados de forma complexa. Hoje, mais importante do que "ter" a verdade, é saber o caminho para se compreender e refletir sobre o real - os vários caminhos para encontrar as verdades na sua expressão plural. E isso tem a ver com as nossas "escolhas". O Hiato presente na sociedade atual demonstra a situação complexa e paradoxal entre uma educação que ensina e aprende; entre o desejo pelo prazer imediato; pela obsessão sem precedentes das vontades e desejos humanos como valores insubstituíveis; pelo sentir-se bem; e, por que não, pela própria liquidez do amor e da alteridade, que se reflete na insignificância e ataraxia coletiva frente o valor da vida, da escolha pelo individual em detrimento do coletivo e do diverso. A escolha pela vida em todos os seus aspectos (a vida como expressão máxima, única e irrepetível de um ser), contempla o valor das relações dos sujeitos, isto é, a relação indivíduo e sociedade; o sujeito real e o sujeito desejável; sujeito e Natureza; sujeito e divino (relação essa de experiência e transcendência). A relação do Homem com a humanidade, nesse contexto, está neutralizada pela supremacia da heterogeneidade que massifica. Será que não é hora de voltarmos a olhar para nós mesmos, como parte de algo que vai além da imanência da vida cotidiana, para podermos, assim, compreender o outro como "outro-eu"? Qual o pressuposto básico para se buscar um caminho adequado às nossas escolhas? Será que basta conhecer algo intelectualmente para que tenhamos impreterivelmente atitudes boas e coerentes em relação ao outro? Será que o bem supremo é o ponto culminante da vida intelectual? Uma coisa é certa: vivemos de escolhas. Na história da humanidade, a construção do conhecimento humano acontece de forma cumulativa e complexa e sempre esteve interligada como vasos comunicantes, mesmo quando pareceu à comunidade acadêmica que cada ciência

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deveria dar conta da formulação do seu próprio método e estruturação. A Ciência religiosa, por sua vez, antes embasada em tradições inflexíveis, hoje fundamenta a sua existência na construção dos conceitos humanos de forma plástica, totalizadora e integradora, visto que a realidade, no contexto atual, está permeada por elementos de transformações constantes e variada, principalmente no tocante à cultura e suas implicações no campo da moral e da ética. Essas escolhas correspondem à busca da utopia (a utopia vista como um lugar "ainda" não alcançado, porém possível de se construir e se buscar): possibilitando uma nova sociedade e um outro ser humano, primando, assim, por uma educação que garanta o conhecimento necessário ao sucesso acadêmico, bem como, à atitude coerente frente ao conhecimento dos muitos caminhos para se chegar às verdades. É nesse sentido que a concepção de autonomia se torna um caminho possível para se construir essa utopia, visto que a transformação acontece somente mediante uma postura intencional do sujeito frente à realidade, considerando todas

as suas dimensões, inclusive sua liberdade para isso. Assim, a concretização de um mundo reumanizado, solidário, fraterno e impregnado pelos valores éticos, tão importantes à construção de uma sociedade que respeite a diversidade, perpassa pela educação de crianças e jovens que primam pela sua liberdade. Porém, tal liberdade deve ser entendida como uma atitude de permanente conquista ? não pela idéia narcisista de que "a minha liberdade termina quando começa a do outro" ? um outro sem rosto, sem sentimentos, sem valor e sem "vida". Essa interação entre as liberdades deve ser garantida por meio da idéia de construção, isto é, de conquista, de relação e sentido de vida para aqueles que buscam uma mudança, uma educação para a humanização, já que a liberdade não começa nem termina, ela está sempre sendo construída e ressignificada. Escolher, portanto, "esta" ou "aquela" forma de se viver só depende de cada um! Por isso, para que essa autonomia seja solidária, é preciso, mais do que nunca, reconstruir a concepção do "outro" como parte integrante e construto de mim. Hoje, o ser humano não mais se identifica/se compreende; nem se percebe a partir do outro. O outro e o sujeito na sociedade contemporânea não travam mais uma relação de vivência suficiente para se integrarem como sujeitos incompletos, buscando a completude. Tal situação se reflete no aspecto social, político e ideológico, como também nos princípios éticos, morais e religiosos, pois a relação de sujeitos também impulsiona a possibilidade de compreensão do Sagrado que perpassa pela relação humana, e a importância que esse tem no projeto planetário da busca por um lugar melhor para se viver. Nesse contexto educacional e civilizatório em que vivemos, o desafio de toda a educação que busca formar sujeitos autônomos, críticos e reflexivos é exatamente possibilitar aos alunos a percepção do rosto do outro sujeito, do outro cultural, como algo que o interpela e que também o convida e revela sua infinitude, da mesma forma que também nos mostramos enquanto sujeitos em constante mutação e desenvolvimento.

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A concretização da construção desse mundo novo tão desejado ainda é viável? Esse parece ser o desafio do Ensino Religioso e da Cultura Religiosa - oferecer condições ao desenvolvimento dos princípios básicos da alteridade e do respeito pelo outro e pela pluralidade, mediante o conhecimento, estudo e aprofundamento dos aspectos culturais, das peculiaridades de grupos e indivíduos e das religiões ? fundamentados na idéia de dialogia e acolhimento entre sujeitos históricos; entre ritos diversos; entre valores comuns às religiões e entre a noção de civilização. A força motriz de transformação social e de humanização se dá exatamente na interação teoria-prática; entre aquilo que estudamos, discutimos, refletimos e aquilo que buscamos vivenciar; colocar em prática. Tal escolha é feita individualmente; porém, é vivenciada comunitariamente. Assim, essa busca pelo bem cotidiano, tão desejado e conheci-

do por vários povos e culturas, contempla uma situação muito próxima de nós e da nossa sociedade, que é a constante busca pela ressignificação do sujeito diante da complexidade e do sentido da vida ? dos atos e da vivência do homem com o homem; do homem com a natureza e do homem com o transcendente. Talvez uma resposta à pergunta inicial feita por Alice ao Gatinho Cheshire, no campo da educação totalizante e integradora, seja entender que: a busca da não-dissociação entre o que aprendemos (no campo científico, filosófico e religioso) e a postura intencional e ética frente ao outro e à sociedade possam ser compreendidos como um caminho coerente para se buscar e se construir esse mundo novo, possível e realizável. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Carlos Henrique Martins Torra é graduado em Filosofia e professor de Ensino Religioso de 6ª série no Colégio Medianeira.

TEOL OGIA NA PÓS -MODERNID ADE TEOLOGIA PÓS-MODERNID -MODERNIDADE AVENTURAS DE ALICE NO P AÍS D AS PAÍS DAS MARA VILHAS MARAVILHAS LEWIS CARROL Summus Editorial Aventuras de Alice no país das maravilhas e Através do espelho e o que Alice encontrou lá, traduzidos por Sebastião Uchoa Leite, revelam ao público adulto os perfis psicológicos e as preocupações políticas de seus heróis de infância. Classificados desde 1865, na Inglaterra, como livros infantis, as obras de Carroll mostram-se, aqui, como leitura para adultos.

PAULO SÉRGIO LOPES GONÇALVES E JOSÉ TRASFERETTI Editora Paulinas O conjunto de estudos reunidos em Teologia na PósModernidade, sob a direção de dois professores de Campinas (SP), procura refletir sobre o impacto do ambiente cultural plural e diversidade em que vivemos sobre o método, a elaboração sistemática e a problemática atual da Teologia, identificando a abrangência histórica e cultural do nascimento da Teologia, sob um aspecto plástico e transformador.

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CHÃO HUMILDE

Por Caroline Suski Vicentin

Chão humilde. Então riscou-o a sombra de um vôo. 'Sou céu' - disse o chão. (Guilherme de Almeida)

A leitura de uma obra de arte surge aqui como ponto de partida para reflexões sobre a vida.

O

O marrom, a cor predominante; do avião, a sombra mais marcante; um riacho dividindo não somente uma imagem, mas talvez duas realidades. Diversos papéis dançando na melodia do vento, palavras neles escritas, seqüenciadas poeticamente. A obra consiste em uma paisagem vista de cima, onde a poesia ali representada faz do chão o personagem principal. Nele encontramos ainda duas pessoas: um garoto sentado como ín-

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dio, com um controle na mão, posicionado exatamente no centro da sombra de seu aviãozinho, por ele comandado, como se realmente fosse o piloto; e do outro lado do riozinho está um homem, cuja idade é misteriosa, pois restritos ao ângulo da imagem, só nos resta imaginar a face coberta pelo grande e amarelo chapéu que o protege do sol. À margem direita das águas correntes encontramos, além do menino, um cachorro e vários brinquedos espalhados: pipa, bilboquê, peão e seu ursinho de pelúcia logo nas suas costas como um passageiro do avião! Já do lado esquerdo percebemos detalhadamente a realidade de um trabalhador, acompanhado por uma ovelha, cercado pela sua horta com tomates, árvores, outras plantas, um ninho, uma tartaruga... Em nenhum momento o céu, como imagem, é representado. Mas o encontramos! Ele está ali. Sim, é uma das palavras dentre as que aparecem nos papéis. Mas 'céu' vai muito mais além, tanto significativamente como atribuindo proporções. O chão é base, é sustento de tudo, algo tão grandioso quanto o céu. As sombras são os reflexos no chão, de algo que está no céu. É uma relação mútua, completa. Dois elementos chaves que podem inspirar tanto um ao outro como a própria vida. Tudo o que somos e fazemos acaba se refletindo, não somente em nós mesmos, mas como em outras pessoas e no mundo também! Todos os nossos atos e ações têm objetivos, finalidades, explicações e, por isso, acarretam conseqüências das mais variadas formas. As sombras das folhas de papel que estão voando não representam somente trechos em que o chão se encontra com menos luminosidade, mas como se fossem o reflexo da poesia que está contida neles, o sentido e as interpretações que podem ser feitas, tentando trazer algo a mais para nós que habitamos este chão, esta terra ou Terra. Devemos ir em busca daquilo que nos faz bem, que traz coisas boas, atitudes as quais possam nos levar a fazer parte da história de alguma forma, refletindo positivamente sobre os outros!

Muitas vezes nos encontramos presos às bolhas que aparecem ao nosso redor, estamos tão acostumados a ver as coisas somente em 'terceira pessoa' e superficialmente, de um modo que julgamos de forma precipitada, assim como no mural podemos ver duas figuras diferentes, dois mundos distintos, separados por fronteiras naturais. Podem não representar nada à primeira vista, mas assim como o céu e o chão, se enxergados com outros olhos, relacionando-os, podemos atribuir-lhes íntimas relações, notar que podem estar presentes mesmo que não estejamos enxergando. Vai de acordo com a nossa imaginação, quem sabe percebemos que um mero pensamento ou qualquer mínimo afazer pode se refletir no outro em algum momento, ou seja, 'a sombra' da criança pode ser encontrada no trabalhador e vice-versa! Portanto, ao observar um painel como este, ou qualquer outra imagem, figura e até mesmo a vida que passa diante dos nossos olhos todos os dias com suas peculiaridades, sentimentos ou detalhes, não devemos somente olhar, visualizar, mas senti-lo! Também não me refiro somente ao tato, olfato, ou qualquer outro dentre os cinco sentidos que nos cabem, pois, para mim, não nos restringimos a isto, podemos ir muito mais além, mesmo partindo das coisas mais simples: chão, terra, marrom, sombra! Dediquemos ao menos um pouquinho do nosso tão precioso tempo e veremos que neste "chão humilde" no qual nascemos, crescemos, brincamos e hoje pisamos e nada mais - é que surge a vida. E então será a nossa vez de riscá-lo com as sombras das nossas atitudes e escolhas. Reflitamos mais sobre nós dentro do mundo como um todo e poderemos ter, no futuro, um chão riscado por muitos, formando uma obra de arte. (Comente este artigo em mediacao@colegiomedianeira.g12.br)

Caroline Suski Vicentin é aluna do 2º ano do Ensino Médio no Colégio Medianeira. O artigo é parte de trabalho desenvolvido na disciplina de Língua Portuguesa, sob orientação da professora Vilma Calixto.

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Nosso Jeito de Aprender

CRIANÇA TEM CADA UMA... Eu e meus super poderes

O meu bichinho de estimação

ama Lilou. Ela estimação se ch de ho in o, ch bi O meu te, como: raçã ntra pela fren co en e qu in o to de br come tudo c. Ela gosta mui et , lie pó de ha casa pantufa, roupin trar dentro de ela gosta de en E e. sa. nt ca ge a de m ro car co ro dent permite cachor o nã ãe m ha in mas a m to safada. A isso ela é mui r po bê be A Lilou é um gosta tanto de um banho. Ela ou m to só a nd vê a gente ela Lilou ai e quando ela qu e nt ge a m zes ela exabrincar co rinho. Mas às ve ca do en er qu vem correndo uco bravas. ficando um po os am ab ac e gera lo bem grosso. ido com um pê st ve re é la de O corpo bem compritem um corpo , ha in ic gü lin do para o Ela é da raça corre de um la a, ad aç gr en has do. Ela é muito ndo eu e min ra onde ir. Qua pa r be m sa ve u m outro se os, a Lilo casa e voltam a ss no . da la os de da vida irmãs saím melhor carinho o r be ce re ra correndo só pa a de nó s qu eeg ou , ca da um ch u lo Li a o Q ua nd id éi a de se r M as eu ti ve a e. nt re fe di e o no m e. ri a um no m or da ra m co m nc co ãs m ir s a pe rf ei Li lo u. A s m in ha m in ha ca sa er a , sa ca a ss no ou E el a fic ou na e a Li lo u go st ge nt e sa bi a qu A u. in lo Li br a a liz , el ta pa ra a es tá be m fe el ue rq po sa da no ss a ca m a ge nt e. ca ba st an te co nm porque a ge ha casa també in m na liz fe el é a para a. A Lilou s damos comid nó , la de te an ue a gente cuida bast inha avó, porq m da sa ca na ou Quando ela fic va comida para avó também da ha in m a , ar aj em, nós íamos te ia vi chegou de viag e nt ge a do va lá, e mesela. E quan ha avó não esta in m a as m u camos no buscar a Lilo gou ela, a colo pe ãe m ha in mo assim, a m para casa. carro e fomos Hugen Bianca Pierosan

Era uma vez um mundo de super heróis. Nesse mundo existia super heróis de todos os tipos: elásticos, congelantes, voadores e muito mais. E existia uma família de super heróis, os nomes deles eram: Carlos Eduardo que é super forte, Doane que voa super rápido, João Vitor que é super forte que nem o seu pai e voa super rápido que nem a sua mãe, e temos o João Guilherme que tinha os poderes iguais aos do seu irmão. Mas um dia apareceu um super vilão e eles lutaram até o fim. E Carlos Eduardo disse: "Temos que usar todos os poderes!" E usaram e venceram e viveram felizes para sempre.

João Vitor Vieira de Bittencourt

As aventu ras do pei xinho O peixinh o se cha

ma Brun lhão e na o, ele é m da no fun uito brin d o d o mar. Ele xes pequ caenos e ou gosta de tr comer pe o s bichos p brincar u iequenos. m monte Ele gosta com os a d migos de e le. Um dia e le viu um tu tubarão v barão, ele iu o Bruno só comia e ele morr peixe. E o longe. E o eu de me tubarão s d o e fugiu para eguiu ele o tubarão com muit era muito a velocid feio, ele ade e se chama E o peixe Daniel. foi para s ua casa o muito feli nde era s z de ficar eguro e fi com sua fa e para es cou mília. Cho quecer is ro u um mo so ficou b nte rincando com seus amigos. Arthur Ba tista Tort ato

Bianca Pierosan Hugen, João Vitor Vieira de Bittencourt e Arthur Batista Tortato são alunos do 2º ano do Ensino Fundamental do Colégio Medianeira.

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