editorial Nova revista, novas questões
É com muito prazer que entregamos ao leitor o segundo número da Revista do Oswald. Em 2009, nossa publicação anual teve como foco uma investigação sobre a juventude contemporânea. Nela apresentamos uma entrevista com o psicanalista Joel Birman, um debate com nossos alunos sobre os desafios cotidianos dos jovens em São Paulo e um ensaio fotográfico sobre esse mesmo tema, além de outros conteúdos. A boa recepção e acolhida desse primeiro número nos incentivou a continuar esse projeto, no qual a escola se coloca em um importante papel de fomentar debates e discussões sobre temas contemporâneos relevantes para nossos alunos, famílias, profissionais e também para a comunidade extraescolar. O tema dessa edição que você acaba de receber é Mundo Digital, e foi escolhido a partir da nossa vontade de problematizar e discutir os diversos impactos da tecnologia no nosso cotidiano e sobre as formas de construção de conhecimento. Você terá a oportunidade de ler uma entrevista com Marcelo Tas, comunicador e ativista digital, sobre as redes sociais; também conversamos com a professora da PUC Ivelise Fortim, que falou sobre os potenciais e riscos da internet, e André Meller, coordenador de Comunicação e Projetos do Oswald, apresenta um texto sobre os desafios que cenário digital traz para a instituição escolar. Além disso, fizemos um mapa de sites interessantes para você destacar e usar nas suas navegações pela rede. Tenha uma ótima leitura! Maria de Lourdes Trevisan Diretora do Colégio Oswald de Andrade
Oswald Digital Blogs, comunidades virtuais e produção de conhecimento na rede
Mantendo a tradição de ser uma escola sempre ligada aos processos de inovação, o Colégio Oswald tem desenvolvido uma série de ações ligadas ao mundo digital. Usando os mais diferentes recursos existentes em cada plataforma, o projeto Oswald Digital tem como foco difundir o conhecimento que é produzido pelos profissionais e alunos da escola, e criar espaços de interação na rede com a comunidade escolar e com os outros usuários da rede e das ferramentas digitais. Conheça e navegue por esses outros espaços oswaldianos.
Prefácio Cultural
Oswald no Facebook
Blog sobre livros, arte e cultura, escrito por Adriano de Almeida, professor de Língua Portuguesa e Literatura.
Blogs do Oswald
O Facebook é a maior comunidade virtual do mundo, com mais de 400 milhões de usuários. Uma comunidade virtual é um interessante espaço para troca de opiniões, divulgação de trabalhos, compartilhamento de idéias e produção conjunta de conhecimento. O Oswald está presente nessa comunidade, em constante debate com alunos, pais, profissionais da educação e outros interessados em conhecer e dialogar sobre o projeto da escola.
(sabernarede.wordpress.com)
Os blogs surgiram, na história da Internet, como uma ferramenta simples para compartilhar idéias, e seu primeiro uso foi muito semelhante aos antigos “diários”: um lugar para colocar reflexões e pensamentos, porém com uma diferença central, o seu caráter público. No Colégio Oswald essa qualidade do blog foi a base para a criação do Projeto Blogs do Oswald, no qual está sendo formada uma rede de blogs produzidos por profissionais da escola e que abordam diferentes campos do conhecimento, de interesse geral e que vão muito além do espaço da sala de aula.
(prefaciocultural.wordpress.com)
12ª. Dimensão
(12dimensao.wordpress.com) Blog sobre ciência e tecnologia, escrito por Jacó Izidro Moura, professor de Física.
Saber na Rede
Blog sobre o conhecimento no mundo digital, escrito por André Meller, coordenador de Comunicação e Projetos.
Oswald no Twitter
(twitter.com/colegiooswald) Comunicação em 140 caracteres: esse é o desafio proposto pelo Twitter, que se configura como mais uma importante plataforma de interação na internet. É uma outra forma da escola ouvir os alunos, criar diálogos e propor projetos que dialogam com o trabalho cotidiano em sala de aula, expandindo possibilidades e recursos.
(facebook.com/colegiooswald)
Canal de vídeos no Youtube (youtube.com/colegiooswald)
O Youtube é um dos sites que está mudando a forma como as pessoa se relacionam com a produção audiovisual: ao invés de esperar por um determinado programa passar na tv, é possível visitar o site e assistir aos mais variados conteúdos. Filmes, séries, clips, produções caseiras...e o Oswald também está presente, com vídeos que mostram atividades da escola, palestras com convidados e trabalhos de alunos.
entrevista
debate as Redes SOCIais no Oswald Recebemos no Colégio Oswald de Andrade, em 2010, dentro do ciclo de palestras Biscoito Fino, no qual a escola debate temas contemporâneos com a comunidade, o repórter, ator e apresentador Marcelo Tas. Conhecido do público desde o personagem Ernesto Varella, na TV Gazeta, Tas trabalhou também como ator e apresentador em outras emissoras, como a Rede Globo, TV Cultura e Rede 21. Atualmente é apresentador do programa CQC (Custe o Que Custar). Tendo sempre o humor como uma das marcas de seu trabalho, Tas pode ser considerado um ativista digital, estando sempre atento às novas plataformas da internet e as novas possibilidades trazidas por cada uma. Na palestra, Marcelo Tas discutiu o uso e impactos das Redes Sociais na atualidade e as mudanças que estão acontecendo no mundo do conhecimento. Leia a seguir alguns momentos da palestra e, para assistir na íntegra, acesse o canal do Colégio Oswald no Youtube: www.youtube.com/colegiooswald
Um primeiro contato Meu primeiro contado com o mundo foi através do rádio. Ele era uma espécie de internet a lenha pra mim. Comecei a navegar pelas rádios do Rio de Janeiro, e portanto, adquiri informações que não tinha. Aos poucos comecei a navegar por ondas de rádios que falavam outras línguas. Até que chegou o momento da televisão. A televisão foi o primeiro veículo de altíssimo impacto na minha vida. E minha família foi comprar a
Maria Shirts
televisão por que ia acontecer uma coisa muito especial: o homem ia chegar na Lua. Estávamos no ano de 1969, e nós íamos não só ver televisão pela primeira vez como íamos ver o homem chegando na Lua, o que eram duas emoções muito fortes. Por esse motivo o aparelho de televisão provoca um encantamento quando chega; mas, como o rádio, continua sendo um aparelho com uma direção apenas, onde seu conteúdo caminha em direção ao indivíduo.
As relações mudaram; o consumidor, o cidadão, o telespectador, o leitor, os alunos, todos têm poder de apresentar a sua opinião.
Hoje é diferente. Temos um novo controle remoto em que nós vamos até o conteúdo. Podemos acessar as notícia a hora que quisermos. Baixamos a notícia, podemos publicá-la, isto é, produzimos a nossa própria notícia como estamos fazendo nesse momento: gravando e transmitindo na internet um evento no colégio Oswald de Andrade, que pode ser assistido por pessoas que se encontram muito longe daqui. Dessa forma, produzimos um conteúdo, e
não esperamos ele vir até nós, como antigamente. Pode-se perceber que acontece uma inversão, o que deixa o mundo totalmente de cabeça pra baixo. Consequentemente, as relações mudaram; o consumidor, o cidadão, o telespectador, o leitor, os alunos, todos têm poder de apresentar a sua opinião, a opinião de uma pessoa, como nunca havia sido feito antes. Se compararmos as épocas, temos que antigamente o consumo se restringia a aparelhos de rádio, TV, telefone, toca-discos, toca-fitas e jornal. Hoje o leque é mais variado, e composto por internet, games, celular, MP3, MSN, comunidades. As diferenças entre esses aparelhos são básicas: a rapidez, a interação e a variedade são incomparáveis. Hoje, todos os equipamentos funcionam como uma via de duas mãos, isto é, o consumidor excerce mais de um papel, que não só receptor daquela informação. É importante lembrar, no entanto, que esse foi um processo gradativo. Temos que olhar para essa mudança em perspectiva.
O ínicio
Um dos maiores responsáveis por essa mudança foi um cientista chamado Arthur Clark. Entre outros trabalhos, escreveu, em 1945, um artigo chamado “extra-terrestrial-relays” para a revista “Wirelles World”, o mundo sem fio, em português. Neste artigo, sugere que se fossem colocados certos artefatos fora da atmosfera terrestre, que por sua vez permitissem uma cobertura de ondas em todo planeta, ficaríamos todos interligados através de ondas eletromagnéticas. Sua sugestão inspirou outros cientistas, que criaram o primeiro satélite alguns anos depois. Em homenagem ao cientista e seu artigo, a zona do espaço onde ficam os satélites – 36 mil quilômetros daqui, na órbita geo-estacionária – é chamada “Cinturão de Clark”. Por causa dele estamos, hoje em dia, ligados à uma rede de alta velocidade.
Mudanças
FOTOS: ROBERTO OYA
A principal diferença entre a minha época enquanto aluno e a atual é que, antes, havia apenas um provedor de informação, o professor. Sua função era fazer um download de toda a matéria para o aluno. Atualmente, nós vivemos uma mudança. O aluno de hoje em dia tem vários provedores de informação, antes, durante, e após o período escolar. O professor passou a assumir um papel de mediador, de estimulador do conhecimento, que debate e agrega toda matéria disponível, para que esta seja processada pelo aluno.
O professor passou a assumir um papel de mediador, de estimulador do conhecimento, que debate e agrega toda matéria disponível, para que esta seja processada pelo aluno.
E esta é uma das grandes virtudes da vida em rede que nós temos hoje: a informação pode ser compartilhada com mais facilidade, transformandose em conhecimento, sabedoria, no que quisermos. A comunicação não caminha mais em uma só direção; ao contrário. Vivemos uma troca de imputs visuais, de conhecimentos, ideias e informações. É nesse mundo que vivemos: as pessoas se comunicam em rede, independente do espaço ou tempo em que se encontram.
Virtudes e Problemas A cada dia que passa faz-se uso mais
intenso da internet. Para tanto, é importante evidenciar algumas virtudes dela; a primeira, colaboração: através das redes sociais podemos compartilhar uma quantidade de informação surpreendente, inimaginável; a segunda, transparência. Para o meu trabalho isso é muito importante. Através da internet eu consigo saber a repercussão do programa que apresento, o CQC, como melhorar ou mudar, segundo a exigência do meu público. Quem trabalha com televisão, um veículo totalmente surdo, ou mesmo em outras mídias, nunca teve a chance desse tipo de aperfeiçoamento. O público (seja ele o consumidor, o cidadão, o telespectador ou o aluno) tem mais voz, atualmente, mais espaço para colocar a própria opinião. Se eu pudesse resumir, diria que as redes digitais existem para aprendermos a ouvir – prática essa que o mundo analógico não nos deu. Não podemos ignorar, no entanto, que a internet pode trazer problemas. A quantidade de ruído, por exemplo, é muito grande na rede. Cabe aos seus usuários saber filtrar a informação. Quanto melhor estes usuários se relacionarem, mais fácil será de otimizar esses filtros. Precisamos lembrar, também, que a internet é uma ferramenta e, como toda, é preciso saber usá-la. Essa velocidade intensa – irremediavelmente – nos força a pensar no futuro. A nossa geração foi sempre estimulada a pensar no futuro. Os governos, inclusive, incentivam essa máxima com o slogan: “O Brasil é o país do futuro!”. A questão é que quanto mais ansiosos ficamos com o futuro, ou angustiados com o passado, não nos encontramos no presente. E é no presente que podemos, de fato, atuar. Por isso, eventos como esse me animam muito. Temos que viver esse presente. Do contrário, perdemos a oportunidade de crescer com pessoas que estão do nosso lado; pessoas da sala de aula, os colegas, professores, todos que fazem parte da nossa formação. É preciso aproveitar o presente, único momento em que descobrimos nossos talentos, vontades e vocações.
oswald indica Duas páginas que trazem um mundo de informação
Banco de Teses www.capes.gov.br Teses e dissertações apresentadas no Brasil desde 1887. Great Images in Nasa http://grin.hq.nasa.gov Imagens históricas da agência espacial americana. Internet Anciente Sourcebook www.fordham.edu/halsall/anciente/ asbook.html Diversos documentos da Antiguidade. Online Literature Library www.literuture.org Obras emblemáticas da literatura inglesa, de Lewis Carroll a Charles Darwin. The British Library www.bl.uk Um acervo com cerca de 14 milhões de livros, 900 mil títulos de jornais e revistas e 3 milhões de músicas. Dá para passar um tempo, né? Agência Fapesp www.agencia.fapesp.br Pesquisas publicadas em revistas estrangeiras, projetos, editais, convênios, licitações, eventos e programas especiais. Biblioteca Digital de Obras Raras www.abrasraras.usp.br Livros completos digitalizados, como o de Lavoisier editado no século 19.
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações www.teses.usp.br Textos integrais de teses e dissertações apresentadas na USP. Ícone de pesquisa, procura por teses pessoais, propostas a serem defendidas e as últimas publicações. Biblioteca Mário de Andrade w w w. p r e f e i t u r a . s p . g o v. b r / mariodeandrade Acervo, eventos e história da principal biblioteca de São Paulo. Informações sobre publicações, catálogo eletrônico, programação, serviços, notícias e dados sobre o colégio São Paulo. Domínio Público www.dominiopublico.gov.br Biblioteca digital do Governo Federal. Disponibiliza acervos de obras literárias, artísticas, musicais e científicas que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil www.cpdoc.fgv.br Fonte de pesquisa com ênfase no período republicano. Textos de pesquisadores e entrevistas de personagens históricos como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck . Escola do Futuro www.futuro.usp.br Traz todo o histórico do laboratório
interdisciplinar da USP que investiga a atuação das novas tecnologias da comunicação. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Teen www.igbe.gov.br/ibgeteen Desenvolvido para estudantes de 13 a 19 ano, fornece informações coletadas pelo IBGE, como censos demográficos, artigos e ensaios. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) www.inpe.br Imagens de satélites da Amazônia, informações sobre atmosfera, estágios, biblioteca, previsão do tempo, orientações sobre pós-graduação em áreas como astrofísica, engenharia e tecnologias espaciais. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) www.sbpcnet.org.br História da sociedade, estatuto, regimento, sociedades associadas, publicações, grupos de discussão, eventos, notícias. Jornal da Ciência e acervo digital de documentos. Memória Viva www.memoriaviva.com.br Publicações que marcaram a história da imprensa brasileira. Museu de Arte de São Paulo (Masp)
www.masp.art.br Possui a coleção mais importante do Hemisfério Sul. Obras de Clouet, Poussin, Nattier, Delacroix, Cézanne, Monet, Renoir, entre outros. MUSeU De ARTe MODeRnA (MAM) www.mam.org.br Acervo onlline, histórico do museu, exposições, cursos, programação do Cine MAM, biblioteca. MUSeU De ARTe MODeRnA DO RIO De JAneIRO www.mamrio.com.br Principais obras do acervo, exposições temporárias, eventos e programação da cinemateca, serviços como visitas guiadas de grupos, educação no MAM e galeria virtual. MUSeU DO LOUVRe www.louvre.fr Mostras, fotos e exposições no museu. MUSeU MeTROPOLITAn www.metmuseum.org Imagens de exposições permanentes, exibições especiais e calendário de eventos. É possível adquirir os produtos da loja do Museu pelo site. MUSeU nACIOnAL DeL PRADO www.museoprado.mcu.es O museu Nacional Del Prado, em Madri, Espanha, possui um dos maiores e mais completos acervos de artes plásticas da Europa e do mundo.
neWSeUM – The InTeRACTIVe MUSeUM OF neWS www.newseum.org Portal de museu do jornalismo, localizado em Washington. Oferece notícias históricas, memorial dos jornalistas e as primeiras páginas dos principais jornais do mundo diariamente. PInACOTeCA DO eSTADO De SãO PAULO www.pinacoteca.org.br Acervo dividido por ordem alfabética. Programação e agenda de exposições e outros eventos. BBC BRASIL www.bbcbrasil.com.br Noticiário nacional e mundial sobre esportes, política e economia. Colunistas, cursos de inglês, vídeos, fotos e conexão com o portal BBC em diversos países e idiomas. COMITê PARA DeMOCRATIZAçãO DA InFORMáTICA www.cdi.org.br Visa à inclusão digital. É possível ver onde o comitê atua dentro e fora do país. Links para boletim informativo, mapa da exclusão digital, terceiro setor, entre outros. RITS www.rits.org.br Rede de informações sobre organizações não-governamentais.
entrevista
Professora da PUC e pesquisadora das questões do mundo digital aborda a relação dos jovens com a Internet A psicóloga Ivelise Fortim de Campos é professora da faculdade de Psicologia da PUC-SP, na qual é pesquisadora do Núcleo de Pesquisas de Psicologia e Informática da clínica de Psicologia da PUC-SP. O Núcleo tem como uma de suas linhas de investigação a cybercultura, um dos assunto abordados em nossa entrevista. Este centro de pesquisa está envolvido com a produção de textos, artigos e outras publicações que procuram estimular a reflexão e a orientação da população sobre a relação entre Interface, Psicologia e a Informática, seus riscos e benefícios gerados pela difusão das comunicações mediadas pela Internet. Na entrevista para a Revista do Oswald, a professora e psicóloga aborda os benefícios e riscos da internet, as mudanças na relação com o conhecimento e o papel dos videogames nesse cenário digital. Como você se interessou pelo mundo digital? Eu sou uma websaura, isto é, comecei a usar a web antes do ano 2000, ainda em 97; navegava pelas salas de bate-papo do IRC (Internet Relay Chat), salas muito antigas, que vieram muito antes do chat da Sala UOL, para ter uma ideia. Desde então comecei a me interessar pela web, e comecei a pesquisar, ainda na faculdade, os jogos eletrônicos, como funcionavam essas interações. Fiz a minha monografia sobre esse tema e também dediquei meu mestrado nele. Pesquisei, principalmente, o World of Warcraft, um RPG online em que os jogadores controlam uma personagem
avatar dentro de um mundo virtual, explorando a paisagem, lutando, completando missões e interagindo com outros personagens e jogadores. Quando comecei a me interessar pelo assunto, o jogo tinha 2000 membros. Hoje em dia, tem mais de 12 milhões de membros pagantes no mundo todo, de todas as idades. Como a Internet beneficia crianças e adolescentes? De muitas maneiras. O RPG online, por exemplo, ensina como devemos
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respeitar os outros, uma vez que o jogo simula uma comunidade; eles vivem as regras da sociedade, mas em um nível virtual. Além disso, existem vários games que estimulam o raciocínio lógico das crianças, ensinam, de outras maneiras, a matemática, por exemplo. Alguns jogos até propõem a construção de problemas matemáticos. Por isso, acredito que a escola, uma instituição que costuma ser resistente às mudanças, deva se adequar a esse (novo) mundo digital. Caso contrário, irá se afastar cada vez mais de seus alunos – não só as escolas do Ensino Fundamental e Médio, mas também a Universidade.
É nesse sentido que o TIDD, programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUCSP opera.
também, por outros motivos.As crianças passam muitas horas no computador sem perceber, e isso é muito prejudicial. Outra questão que é – infelizmente – cada vez mais comum é o cyberbulling.
E quais os riscos que a internet apresenta? Um grande problema que eu percebo na universidade é que os alunos não querem mais ler, e acabam por não se aprofundar. Outro problema recorrente é o plágio. Já recebi trabalhos integralmente copiados da web. Por esse e outros motivos, acredito que os pais e os professores terão cada vez mais que ensinar seus filhos e alunos a usar a internet da maneira correta e com segurança. Eu percebo que as pessoas ainda não sabem como educar para o uso da internet, e por isso proíbem as crianças e adolescentes de usá-la, mas esse não é o caminho correto. Essa educação é necessária, Interface do warcraft
O RPG online ensina como devemos respeitar os outros, uma vez que o jogo simula uma comunidade; eles vivem as regras da sociedade, mas em um nível virtual Você considera a internet um espaço democrático? Considero que sim, é democrático uma vez que todos têm voz. A questão que me preocupa é: até onde vai essa voz? A abertura existe, mas as pessoas não usufruem dela. É uma rede onde os usuários podem se pronunciar, mas não o fazem, porque ainda não têm informação suficiente. É só analisar o exemplo da rede social Orkut: é integrado por mais de 20 milhões de brasileiros, que utilizam a internet para se relacionar, e que poderiam usá-la para outras finalidades.
Jogadores do mundo todo interagem através de chat ou voz.
Plágio Um problema comum nas universidades
opinião Desafios para a escola no mundo digital
André Meller
Quem assistiu ao belo filme As melhores coisas do mundo, da diretora Laís Bodanski, viu cenas que retratam interessantes aspectos da relação das crianças e dos jovens com o mundo digital contemporâneo. No filme temos os jovens nos intervalos das aulas usando seus celulares para tirar fotos dos amigos, olhar emails e mandar mensagens de texto (SMS); um dos personagem escreve um blog no qual expõe pensamentos íntimos e muitas de suas angústias e a internet e as novas mídias são cenários e personagens da história. Aqueles que têm contato com jovens não devem ter se surpreendido com esses aspectos do filme. A diretora, assim como em outros de seus filmes - Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade – partiu de uma vasta pesquisa de campo para montar o roteiro e construir as histórias de seus personagens. O Colégio Oswald de Andrade foi uma das escolas onde ela e sua equipe fizeram essa pesquisa, conversando com os alunos e observando o cotidiano. Assim, ver o filme é olhar para um certo retrato da juventude contemporânea, com todas as múltiplas possibilidades de olhares sobre ela. O fascínio pela tecnologia não é algo exclusivo de nossos tempos atuais. Para não irmos muito longe, basta lembrarmos dos textos de Júlio Verne, que sempre despertaram a seguinte questão: até onde a tecnologia poderá nos levar? Essa pergunta está presente, de maneira mais ou menos explícita, em parte significativa da produção cinematográfica do século XX: Blade Runner – o caçador de andróides,
2001 – Uma Odisséia no Espaço, Jornada nas Estrelas e Matrix são alguns exemplos disso. É curioso notar que, em boa parte dessas e de outras produções culturais que abordam essa relação entre o Homem, a Ciência e a Tecnologia, sempre existe uma dúvida subjacente: a tecnologia nos libertará ou nos tornará prisioneiros de nós mesmos? Quais os benefícios desse crescente aparato tecnológico e de que forma
ele pode mudar a nossa maneira de pensar e de nos relacionarmos com a produção de conhecimento? Quando falamos das inserções da tecnologia nas escolas, todas essas questões estão mais do que presentes: são questões urgentes de serem tratadas e pensadas dentro de um determinado projeto político pedagógico. Porém, é interessante notar que a escola, como instituição social, muitas vezes se vê frente aos mesmos dilemas trazidos pelos filmes e livros, sem saber se a tecnologia irá salvá-la de todas suas dificuldades cotidianas ou se irá colocar uma camisa de força nas práticas pedagógicas. São boas preocupações. A idéia da tecnologia como instrumento de controle das sociedades totalitárias está em 1984, de George Orwell, escrito em 1949, e também está presente em
situações muito atuais, como na questão do acesso à Internet em países como a China e na questão da privacidade dos dados pessoais de cada um de nós no Facebook. Ou seja: não existe uso neutro da tecnologia. Pensar em como trabalhar com todos esses aspectos do mundo digital é algo que deve ter uma direção, um sentido e um objetivo dentro do projeto escolar. Tudo isso levando em conta, como mostra o filme de Laís Bodanski, que o jovem de hoje é um nativo digital, que nasceu e cresceu
Em boa parte dessas e de outras produções culturais que abordam essa relação entre o Homem, a Ciência e a Tecnologia, sempre existe uma dúvida subjacente: a tecnologia nos libertará ou nos tornará prisioneiros de nós mesmos?
em um mundo no qual a principal fonte de informações é a Internet, e não mais a Enciclopédia Britânica. Aqui talvez esteja o principal desafio para as escolas: enquanto temos alunos que são nativos digitais, a escola como instituição é uma migrante digital. Ser migrante permite um olhar de estranhamento e de curiosidade frente ao novo. Porém, para que o diálogo seja possível com os nativos, estar aberto a compreender esse novo mundo é imprescindível. E, se esse mundo novo será admirável ou não, nós é que iremos construí-lo.