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EHA - Oficina de Estética e História da Arte do Colégio Oswald de Andrade História da arte e feminismo Lara Tchernobilsky
Renascimento 5 Beatriz Delfim
Mensagem implícita 8 Flávia W. Meme
Subjetividade
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Alice Lobo Pontual
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Deus disse: "Que as águas que estão sob o céu se reúnam numa só massa e que apareça o continente" e assim se fez. Deus chamou ao continente "terra" e à massa das águas "mares", e Deus viu que isso era bom. Deus disse: "Que a terra verdeje de verdura: ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem sobre a terra, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente" e assim se fez. A terra produziu verdura: ervas que dão semente segundo sua espécie, árvores que dão, segundo sua espécie,frutos contendo sua semente, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia. Gênese 1: 9-14 A "grisaille" de Bosch sobre as tábuas do tríptico Jardim das delícias ilustra o terceiro dia da criação segundo a narrativa bíblica, sugerindo a hipótese de que a pintura retratasse como seria a história religiosa se não houvesse pecado original, queda e expulsão do Paraíso.
História da arte e feminismo
Representação do feminino na pintura italiana do século XIV Os afrescos da Alegoria do Bom e do Mau Governo são a obra mais importante de Lorenzetti, marcam o último momento artístico criativo de Siena antes que a cidade fosse dizimada pela peste de 1348. Foi produzida em 1338 em Siena, onde está exposta até hoje, no Palazzo Pubblico. No afresco o pintor descreve o que, para ele, era o Bom Governo, e os efeitos deste governo justo na cidade, contrariando constantemente o que a igreja acabava impondo como Bom Governo.
Lara Thernobilsky
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Alegoria e efeitos do bom governo na cidade e no campo (detalhe da obra de Ambrogio Lorenzetti, 1338)
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Lara Thernobilsky, história da arte e feminismo
Chamamos de “Bom Governo”, aquele em que você pode andar tranquilo(a) na rua, neste caso. Em sua pintura, Ambrogio desprende-se muito da religiosidade, mostrando como “Bom Governo” exatamente o contrário do que a igreja apontava. No cenário, optou-se por construir uma “praça laica”, ao invés de um clérigo, ou algum funcionário real, os protagonistas são os burgueses e cidadãos, com seu dia-a-dia de trabalho e lazer. Já podemos enxergar o começo de suas críticas. Ele afirma que efeitos do “Bom Governo” não tem nada a ver com a igreja, o que ajuda a romper com o poder eclesiástico. A cidade é posta como o reino da construção, à direita, vemos os trabalhadores, que transportam cereais e feno em mulas e representam uma certa minoria da sociedade. No centro, o professor leciona a seus alunos, o que faz jus a educação. Ao lado, temos uma pequena sapataria, que representa as corporações em atividade. Sobretudo, o pintor destaca principalmente dez donzelas, que dançam ao ar livre numa roda, cantando e tocando grandes pandeiros (à esquerda, na parte inferior). Essa é visivelmente a parte que chama mais atenção na pintura, inclusive porque ela é a que apresenta maior controvérsia à igreja.
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Lara Thernobilsky, história da arte e feminismo
No século XIV, mulheres só podiam andar na rua enquanto crianças, a partir dos 14 anos tinham que ficar em casa, e só saíam de lá quando se casassem, para a casa do marido. A igreja considerava isso como o correto, que as mulheres eram inferiores e deveriam apenas permanecer em casa, o fato de que, em sua pintura, Ambrogio pintou mulheres livres e dançando, e denominou a obra como “Efeitos de um Bom Governo”, ele está automaticamente criticando a igreja, e esta sua visão sobre as mulheres, pois diz que para um governo ser bom, as mulheres devem poder ser como em sua pintura. Pelo menos para mim, essa cena das dez donzelas foi o que me chamou mais atenção, pois alguém com tal pensamento durante o século XIV é algo quase que impensável, e surpreendente, ainda mais quando retratado em uma pintura. Podemos considerar que é uma obra, de uma certa forma, à frente de seu tempo, uma vez que Lorenzetti tira esse peso de religiosidade, e critica a sua forma de “pensar”. Também acabei considerando uma obra muito importante para a história das mulheres, e suas representações na arte, já que defende nosso direito de liberdade em uma época tão antiga, é um flash de luz para o feminismo. O engraçado, é que a obra fica exposta no Palazzo Pubblico, um lugar de poder secular. Ambrogio critica a igreja e seus pensamentos e exalta o poder político.
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Renascimento
O Davi de Michelangelo foi construído entre 1501 e 1504 em um bloco de mármore inteiro retirado das pedreiras de Carrara, no norte da Toscana. A escultura foi feita inicialmente para uma série de estátuas de heróis bíblicos e profetas. A obra tem 5 metros e 17 centímetros, está na Academia de Belas Artes de Florença e foi esculpida por Michelangelo. Foi feita para ser exposta no Palazzo della Signoria de onde foi retirada por entrar em um processo de erosão.
Beatriz Delfim
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Davi (Michelangelo, 1501-1504)
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Beatriz Delfim, Renascimento
Davi é uma estátua que quase não ocupa espaço. O corpo de Davi está todo tensionado, percebemos isso principalmente na mão direita dele, conseguimos visualizar movimento na obra principalmente no punho dele que está bruscamente flexionado, sua cabeça está virada para o lado, seu braço está dobrado, a testa repuxada, sua testa está franzida e as veias da mão direita são aparentes. Pelo seus olhos e sobrancelhas conseguimos entender que o herói está muito focado, minutos antes de comprir sua missão de matar Golias, contrariando as esculturas de Donatello que mostram Davi em seu momento vitorioso, depois de matar o gigante. A escultura foi esculpida no Renascimento e influenciou bastante a vida intelectual e a filosofia, literatura, arte, política, ciência, história e religião.
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Mensagem implícita
Jardim das delícias de Hieronymus Bosch apresenta com sarcasmo aquilo que não quer ser visto No início do século XVI, Bosch trazia um tom irônico à grande obra de sua vida, satirizando os ideais católicos, que podem passar despercebidos a olhos desatentos. Sua crítica se dá devido aos ideais renascentistas ocorrentes na Europa nessa época, que tentavam derrubar o catolicismo.
Flávia W. Meme
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Obra de Bosch gera conflitos atĂŠ hoje a respeito de seu significado.
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Flávia W. Meme, mensagem implícita
A Obra “O Jardim das Delícias Terrenas” foi feita pelo artista holandês Hieronymus Bosch entre os anos de 1503 e 1515 (não tendo data definida ao certo) e está exposto hoje em dia no Museu do Prado em Madrid, Espanha. A pintura é feita com tinta óleo sobre carvalho e foi entregue à dinastia Nassau que governava a Holanda na época Não é à toa o tempo que esta demorou para ser composta, pois é extremamente rica em detalhes. A obra é um tríptico (ou seja, dividido em três parte que se fecha como um livro), a primeira parte mais para a esquerda representa o paraíso, a do meio representa a Terra e a da ponta direita representa um inferno. Na primeira parte da obra conseguimos ver destacados Adão e Eva, junto com Deus, podemos presumir que Eva acabou de surgir, pois Deus quase que a corteja em direção a Adão o que nos leva a pensar que os está apresentando. Já nesse pedaço vemos algo importante que é o olhar de desejo de Adão em relação a Eva o que nos leva a pensar que ele não é puro. Podemos ver que o formato de seus corpos não são muito humanizados e sim super idealizados, o que traz certo ar fantástico à obra. Ainda nessa parte vemos na parte superior central uma espécie de máquina que podemos concluir que é a máquina da vida, praticamente toda a vida presente no quadro rodeia essa máquina, que está sobre a água que é o símbolo da fertilidade, além do fato que esta fornece a água que é a base da vida tanto das plantas quanto dos animais. Além do fato de que a máquina simula o formato de um útero (parte inferior) e ao mesmo tempo de algo fálico (parte superior) atribuindo a ela o papel de gerar a vida. Ela representa a criação contínua da natureza. Porém em seu centro conseguimos ver a presença de uma coruja que na época era associada com perigo e morte, isto representa que algo de errado já estava ocorrendo ali, acabando com a harmonia da natureza personificada pela fonte. Conseguimos ver distribuído ao longo desse quadro diversos animais de variadas espécies, todos rodeando essa fonte. Ao canto direito vemo répteis saindo da água o que poderia ser interpretado como a evolução animal muito depois explicada por Darwin. Aos pés de Eva vemos coelhos que são animais associados à fertilidade o que a coloca nesse lugar bíblico e patriarca de objeto de reprodução igualando-a ao animal.
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Flávia W. Meme, mensagem implícita
Com esse quadro podemos analisar que a partir do momento em que Adão e Eva surgem ao paraíso, eles quebra a ordem harmônica que nele havia devido ao desejo despertado na face de Adão, deixando-o impuro e deixando assim o paraíso impuro também. A presença da coruja nessa caso seria um sinalizador do corrompimento de Adão a partir de Eva. Isso reverbera no resto do paraíso no qual vemos bichos comendo uns aos outros. Vemos também mais ao topo uma quantidade excessiva de pássaros que podem ser vistos como uma metáfora de algo sexual. Ou seja, o desejo sexual de Adão corrompeu o paraíso. Na segunda parte de obra notamos a presença de diversas informações e conseguimos notar que todas estão voltadas para o pecado. Olhando superficialmente vemos diversas pessoas, com a maioria delas envolvidas em relações sexuais e todas nuas. Por mais que todos os detalhes e figuras do quadro são de tamanha importância discutirei apenas os principais deles. Podemos ver espalhados pelo quadro, algumas figuras cometendo alguns dos pecados capitais. A primeira delas, a gula é exemplificada a partir da figura na parte inferior do quadro comendo um enorme morango. A luxúria nem precisa citar, pois ela está presente no quadro inteiro. A preguiça também é presente vista em vários pontos, mas o que mais chama atenção é o aglomerado de pessoas deitadas dentro de uma flor. Além disso vemos um grupo de pessoas colhendo maçãs em macieiras claramente citando o pecado inicial de Eva. Além disso vemos espalhados ao longo do quadro diversas figuras que lembrar ou se relacionam ao útero sempre trazendo essa ideia de fertilidade que é estritamente relacionada ao ato sexual. Também vemos a presença de diversos animais, principalmente pássaros, que novamente fazem menção ao ato sexual, mas há a presença também de diversos peixe que está nessa época associado ao fálico. Além disso há novamente a presença da coruja alertando o perigo, dessa vez representada em maior escala o que nos traz a pensar que o perigo cresceu, pois o pecado também.
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Flávia W. Meme, mensagem implícita
Vemos ao topo várias fontes agora ao invés de uma só, a central substituiu o lugar daquela que criava a vida e podemos dizer que essa agora cria a vida terrena, esta é agora a máquina do mundo. No centro da máquina, no qual na anterior via-se a coruja, agora se vê um homem acariciando uma mulher. Ou seja, o mal não e o pecado não estão mais escondidos como antes, eles estão agora no centro do mundo. O que nos leva a pensar que se trata de uma crítica de como o homem se corrompe na vida terrena. A similaridade espacial entre o paraíso e a Terra, além da presença dos mesmos animais e mesmos objetos (máquina/fonte) nos faz pensar que uma possível interpretação da obra é que não é uma divisão entre o paraíso, Terra e Inferno, mas que sim a transformação deste. O paraíso foi corrompido e transformado na Terra e depois virá a ser o Inferno, ou seja não há salvação, pois o ser humano destruiu o paraíso com sua ganância e egoísmo. Na terceira parte do quadro vemos o inferno na qual majoritariamente há a representação do humano sendo castigado e torturado. No canto inferior esquerdo vemos vários indivíduos aterrorizados e amedrontados, provavelmente aqueles que acabaram de chegar ao inferno. Mais a direita vemos um pássaro comendo os seres humanos e os defecando, trazendo a ideia de que est3es estão pagando pelos seus pecados sexuais. Vemos mais ao fundo vários instrumentos musicais e pessoas endo torturadas a partir deles, isso ocorre devido à rejeição da Igreja a qualquer tipo de música que não fosse religiosa. Na parte superior do quadro vemos várias formas esquisitas e diversos tipos de tortura trazendo o ar caótico e horrendo do inferno. No fundo conseguimos ver uma guerra ocorrendo e vários mortos devido a esta. Ela representa o conflito muito antigo que ocorria entre dois grupos da Holanda. A partir da análise da obra, podemos concluir que ela exprime a corrente de pensamento da época, o Renascentismo, que ocorre no mesmo período da Reforma Protestante, ou seja, há uma descrença com os ideais da Igreja Católica e um crescimento enorme de outras vertentes do cristianismo. Devido a isso, começa-se uma produção de conteúdo crítica á Igreja e aos seus dogmas religiosos.
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Flávia W. Meme, mensagem implícita
Analisando o quadro, chego a duas possíveis análises a respeito deste. Uma que já foi introduzida anteriormente, de que não há mais o paraíso, pois o ser humano o degradou até transformá-lo no inferno, que seria o que vivemos hoje em dia, sem ter ciência disso. Outra análise possível é a de que o ser humano peca constantemente e ainda assim possui a esperança de que irá ao paraíso. Ele afirma então que o único destino ao ser humano é o inferno, pois desde o nosso surgimento pecamos, tendo a proeza de sermos expulsos do paraíso e não podemos esperar que esses nossos pecados sejam esquecidos e perdoados que nosso únicos destino é o inferno. Ambas as visões cabem na mesma crítica em relação à Igreja Católica, pois ela prega que tudo bem pecarmos contanto que confessemos. Bosch faz o quadro então ironizando esse estigma e o ridicularizando, mostrando que não podemos ter uma vida cheia de pecados e esperar no fim dela ir para o paraíso, que o único destino ao homem pecador é o inferno. Esta obra é de demasiada importância, pois além de mostrar como era feita a arte europeia naquele período, ela exprime também toda a situação política, religiosa e cultural da época. Além disso é uma obra incitadora a respeito daqueles que possuem fé (sendo que na época que a obra foi feita era quase todos) se suas ações realmente são de boa índole, o que mostra um posicionamento ético do artista e crítico em relação às pessoas na sociedade do século XIV. É importante lembrar que a religião era um dos principais norteadores sociais da época, então alguém questionar a fé das pessoas e sua ética diante de seus Deus era algo realmente enorme e desestabilizador.
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Subjetividade
Caravaggio choca o público da época com sua versão de Judith decapitando Holofernes
O quadro Judith decapitando Holofernes de Caravaggio, pintado em 1599 na Itália, fogedo tipo de pintura tradicional de sua época contando uma história apresentada anteriormente por outros artistas de forma inédita.
Alice Lobo Pontual
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No
quadro,
podemos
ver
Judith
decapitando
Holofernes acompanhada de sua ajudante
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Alice Lobo Pontual, subjetividade
A pintura a óleo Judith decapitando Holofernes foi feita em 1599, por Michelangelo Merisi, mais conhecido como Caravaggio (nome do lugar onde nasceu, na Itália). Judith decapitando Holofernes representa um episódio do Antigo Testamento, no qual o povo judeu da cidade de Betúlia, na Judéia, estava encurralado pelo exército grego de Holofernes. Para salvar seu povo, Judith vai até o acampamento do homem, o seduz e depois de um tempo, o decapita no meio da noite. A pintura captura o momento exato no qual Judith está decapitando-o. Várias obras de diversos artistas representaram este episódio antes e depois de Caravaggio, mas ele a produziu de forma que houvesse uma quebra com o esperado e produzido no período clássico. Caravaggio é um pintor anticlássico - citando expressão formulada por Giulio Carlo Argan. Algo que nos mostra isso é o fato de que este pintor usava pessoas da rua como modelos, em lugar de atores. Além disso, ao contrário dos famosos quadros renascentistas, que tinham como grandes características a paisagem no fundo e o foco no meio da pintura, Judith decapitando Holofernes é composta com um fundo preto e um manto vermelho, que parece estar sendo balançado pelo vento. Entretanto, esta obra, vai além de contar uma história bíblica e de mostrar a individualidade de Caravaggio. Ela é uma pintura sobre a subjetividade. As expressões dos personagens nela apresentados são distintas e é possível que pudéssemos entender o que estava sendo contado pelo quadro mesmo sem conhecermos o conto de Judith. A face de Holofernes nos apresenta surpresa: ele não esperava ser morto naquela noite, muito menos por uma mulher. A velha ao lado de Judith, que está segurando o saco no qual a cabeça do homem morto será depositada, não apresenta nenhum sinal de remorso: quer que o trabalho seja concluído logo, mas tem a preocupação de que as duas fossem pegas. Já Judith tem uma expressão que parece mostrar sentimentos mais complexos do que as outras duas pessoas do quadro.
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Alice Lobo Pontual, subjetividade
Além de estar matando um homem, ela não se sente bem por ter usado seu corpo, sua sexualidade. Mesmo assim, sabia que era fazer aquilo, mesmo que contra sua vontade, era necessário. Uma curiosidade sobre a subjetividade de Judith é que uma radiografia feita da pintura prova que inicialmente Caravaggio representou a mulher com seus seios nus. Mesmo que o episódio representado neste quadro já tenha sido pintado e até esculpido muitas vezes por outras pessoas, a importância dessa versão de Caravaggio para a atualidade se dá principalmente por conta de como o artista conseguiu representar a história de Judith com um certo olhar crítico em relação a certas questões, como o fato de Holofernes não esperar ser morto por uma mulher e que a moça não está feliz em matar o homem e o que ela precisou fazer para que isso acontecesse. É importante valorizar quadros tão complexos, bonitos e bem pensados como Judith decapitando Holofernes.
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Oficina de Estética e História da Arte do Colégio Oswald de Andrade 2o Semestre de 2019