CHAMA NO PASSINHO! uma tarde de domingo no Sesc Campo Limpo
CHAMA NO PASSINHO! uma tarde de domingo no Sesc Campo Limpo
Este caderno de estudos é resultado de uma série de ações investigativas realizadas pelo coletivo Micrópolis e pelo Sesc Campo Limpo com os jovens que ocupam a unidade Campo Limpo do Sesc esporadicamente aos domingos. Por meio de mobilizações nas mídias sociais (principalmente via Facebook e Instagram), esses eventos reúnem até três mil jovens entre dez e dezoito anos de idade. A maior motivação para o encontro desses jovens é a música, a dança e a construção e o fortalecimento de redes de afeto entre os participantes. Os mapeamentos a seguir compilam informações sobre as origens do rolezeiros, suas referências estéticas e modos de ocupação do espaço.
04 DE ONDE VÊM OS ROLEZEIROS. 06 ONDE ESTUDAM OS ROLEZEIROS. 08 O QUE ESCUTAM OS ROLEZEIROS. 18 COMO SE VESTEM OS ROLEZEIROS. 26 NETNOGRAFIA: COMO OS ROLEZEIROS SE EXPRESSAM ONLINE. 30 O QUE ACONTECE NO SESC CAMPO LIMPO AOS DOMINGOS. 36 CONVERSAS COM OS ROLEZEIROS.
DE ONDE VÊM OS ROLEZEIROS. TABOÃO SERRA O mapa reproduzido ao lado é resultado de consulta com sessenta e dois jovens rolezeiros no dia 23 de setembro de 2018 no Sesc Campo Limpo. Os jovens presentes foram convidados a preencher o mapa da cidade de São Paulo com dois tipos de adesivo: uma casa e um caderno. A casa deveria indicar o bairro onde o participante reside e o caderno, o bairro onde está localizada a escola onde cada jovem estuda. Em seguida, pedimos que os jovens informassem o nome da escola, cuja relação se encontra na próxima página, ao lado de gráficos quantitativos sobre as localidades mais recorrentes.
EMBU DAS ARTES EMBU DAS ARTES
TABOÃO SERRA
CAMP LIMP
CAPÃO CAM REDONDO LIMP
CAPÃO REDONDO
CIDADE DE SÃO PAULO
JARDIM ÂNGE
JARDIM ÂNGE Legenda: Escola Casa
4
VILA ANDRADE
PO PO
ZONA SUL SANTO AMARO
JARDIM SÃO LUÍS SOCORRO
ELA
GRAJAÚ 5
ONDE ESTUDAM OS ROLEZEIROS. Lista das escolas: 1. Escola Adventista de Campo de Fora - Parque Maria Helena 2. EE Professor Francisco Antônio Martins Junior - Jardim São Bento 3. EMEF Professora Maria Rita de Cássia Pinheiro Simões Braga -Parque Ligia 4. EE Professora Davina Aguiar Dias - Jardim Imbé 5. EE Antonio Manoel Alves de Lima - Jardim Novo Santo Amaro 6. EE Inspetor Raimundo Serafim de Lima - Jardim São Francisco de Assis 7. EE Professora Marilsa Garbossa Francisco - Jardim São Luís 8. EE Professor Luiz Gonzaga Pinto e Silva - Jardim São Luís 9. EE Professor Renato Braga - Jardim Casablanca 10. EMEF Procópio Ferreira - Jardim Casablanca 11. EMEF Cyro Albuquerque – Jardim São Januário 12. EE Clóvis de Oliveira - Jardim Santa Efigênia 13. EE Dib Audi - Jardim Elizabeth 14. EMEF 22 de Março - Parque Regina 15. EE Dona Zulmira Cavalheiro Faustino - Jardim Mirante 16. Externato Elvira Ramos - Jardim Germânia 17. Colégio Açoreana - Parque Santo Antônio 18. EMEF M`Boi Mirim II – Parque Santo Antônio 19. EE Prof. Arnaldo Laurindo - Parque Santo Antônio 20. EE Reverendo Denoel Nicodemo Eller – Jardim Scandia 21. EE Laurita Ortega Mari - Jardim Clementino 22. CEU EMEF Cantos do Amanhecer - Jardim Eledy 23. EE Jardim da Luz - Embu das Artes 24. EMEF João Sussumu Hirata - Jardim Ofélia 25. EE Professor Napoleão de Carvalho Freire - Indianópolis 26. EE Pastor Cícero Canuto de Lima - Morro do Índio 27. EE Professor Herculano de Freitas - Alto da Riviera 28. EE Professor Caran Apparecido Gonçalves - Vila das Belezas 29. CEU EMEF Casa Blanca - Vila das Belezas 30. EMEF Francisco Rebolo - Vila Andrade 31. EMEF Fagundes Varella - Jardim Maria Sampaio 32. EE Washington Alves Natel - Bairro Parque Residencial Cocaia 33. EE Samuel Wainer - Conjunto Habitacional Brigadeiro Faria Lima 34. EE Loteamento das Gaivotas II - Jardim Gaivotas 6
Bairros mais recorrentes: EMBU DAS ARTES
VILA ANDRADE
SOCORRO
GRAJAÚ
SANTO AMARO
CAPÃO REDONDO
JARDIM ÂNGELA
JARDIM SÃO LUÍS
TABOÃO DA SERRA
CAMPO LIMPO
TOTAL DE RESPOSTAS:
62
53
7
O QUE ESCUTAM OS ROLEZEIROS. As capturas de tela a seguir foram geradas a partir dos vídeos escolhidos pelos rolezeiros durante ação investigativa no dia 23 de setembro de 2018. A ação investigativa consistiu na montagem de um palco em frente aos contêineres azuis do Sesc Campo Limpo, onde os jovens geralmente se aglomeram para dançar passinho. O palco, de 20 cm de altura, era equipado com um sistema de som conectado a um computador online por meio do qual os jovens podiam escolher músicas no Youtube para dançar durante a tarde.
3.
Suave Suavão
Esse movimento Megatron
4.
Beat do Bob Marley
Beat do Koringatron
5.
Vai deslizando
Quando as letras das músicas escolhidas apresentavam conteúdo sexual, objetificação de mulheres e/ou linguagem ofensiva, as músicas eram interrompidas e seu conteúdo problematizado pela equipe de educadores presente. Essa análise está presente neste mapa sob a seguinte legenda: Conteúdo sexual
1.
2.
8
Objetificação da mulher
Linguagem ofensiva
Jhury Machado e MC DG
Paredão sem limite
Mc Arraia
MC 7Belo, MC Denn
DJ Lindão e MC Lor
y
ny e MC Rafa 22
rran
6.
Ritmo do pam pam
7.
Baile tรก pocando
8.
Putaria malocada
9.
Vai pegando a visรฃo
MC Rafa 22
NGKS
Mc Alysson
MC GW
9
10
10.
Chama no passinho
14.
Tacamento
11.
Aquecimento da Tainá Costa
15.
Respeita nois
12.
Tão, tão, tão
16.
Vai com rabetão no
13.
Beat do Berimbau
17.
Nitro Point MC Kitinho e MC Lek
MC Kekel e NGKS
Tainá Costa
MC Lagoa
MC 7Belo e MC Kitinho
MC Danny e MC Ma
NGKS
MC Menininho e MC
agrinho
o chão
C TH
kão
18.
Eu sei ser DJ
19.
Eu vou pro baile da gaiola
20.
21.
MC GW, MC Larissa, MC Murilo
MC Kevin O Chris
Soca soca
MC Bomba, MC GW e MC Flavinho
Que bonde é esse
DJ Guuga e DJ Cassula
11
12
22.
Bonde dos malandrão
23.
4 elementos
MC Brinquedo
26.
Pega pega
MC Marcelinho e M
27.
Olha a explosão
24.
Beat do reloginho
28.
Treme o bumbum
25.
Terremoto de bumbum
29.
Crazy in love
MC GW e MC Flavinho
MC DM, MC Robby SP
MC Japa
MC Kevinho
DJ Guuga
Beyoncé
MC GW
Recorrências: Conteúdo sexual 15/29 músicas Objetificação da mulher 12/29 músicas Linguagem ofensiva 12/29 músicas 13
Capturas de tela dos vídeos resultantes da ação investigativa realizada no dia 23 de setembro de 2018 no Sesc Campo Limpo.
14
15
16
17
COMO SE VESTEM OS ROLEZEIROS. EXEMPLO #01 Chapéu
o Cata Ov
Cam listr iseta L ac ada arco oste -íris
Caixa
de
JBL rtátil o p som
Mochila de
Berm
poliéster
uda ta
18
ctel
is Tên
A
s dida
Star
Os diagramas abaixos reúnem as peças de vestuário, os acessórios e os penteados mais populares entre os jovens que ocupam a unidade Campo Limpo do Sesc aos domingos. Tais padrões circunscrevem a estética da ocupação do espaço pelos jovens rolezeiros, o que pode ser observado tanto no espaço quanto nas referências compartilhadas online.
EXEMPLO #02
Choker de courino
Argola prateada Top nadador
Caixa de som portátil
Tênis Adidas Star
Calça de ginástica saruel
19
EXEMPLO #03
Camiseta dos grupos de dança
a rad
u e do t n orre
C
reta a b ea
éd
Bon
Garrafa d’água (com pequeno furo na base) consumida de cabeça para baixo
Tênis Van s 20
da tac
u Berm
ada
tamp tel es
a Meia esportiv cano alto
EXEMPLO #04
Brinco de argola
Camiseta
de algodã
o decotad
a
Bandana estampada
Caixa de som portátil
Calça jeans Mom pants
Tênis Nike 21
EXEMPLO #05
s Juliet o r u c s ulos e
Óc
Relógio Casio dourado ou prateado
a portiv
es Viseira
Camisa e s de marca portiva s ou time s
Calça jea
ns baggy
Tênis Mizuno 22
EXEMPLO #06 Cami
seta c
Moleton
Copo p
roppe
d esta
mpad
a
amarrad
lĂĄstico
o na cin tura
Short je
ans rasg
colorid o
ado
Star TĂŞnis All e Convers o cano alt
23
PENTEADOS
24
25
NETNOGRAFIA: COMO OS ROLEZEIROS SE EXPRESSAM ONLINE? Após coletar os contatos de Instagram e Facebook de alguns dos participantes do rolê, encontramos um ponto de partida para pesquisarmos os canais de comunicação utilizados pelos jovens para expressar suas opiniões e referências estéticas. Muitos dos jovens que dançam passinho se associam em grupos e, para divulgar seus passos de dança, utilizam canais no Youtube. O mapeamento a seguir reúne uma coletânia de imagens tiradas diretamente desses canais, que estão todos hiperlinkados e registram a cultura do passinho dos maloka, oriunda da zona sul de São Paulo.
CAPÃO RECORDS
A Capão Records é uma produtora musical do bairro do Capão Redondo que cria videoclipes, elabora trabalhos publicitários, realiza produções musicais, agencia artistas e faz gerenciamento de imagens e eventos dos grupos locais.
JEFERSHOW
Jefferson Lima (Jefershow) é um ator chave do rolê do passinho que acontece no Sesc Campo Limpo. Seu canal possui cerca de 14 mil pessoas inscritas e seus vídeos contam com mais de 300 mil visualizações. Os vídeos tratam desde temas relacionados a sua vida pessoal até tutoriais de como fazer cada passo dos passinho dos maloka, variedade de dança de funk muito recorrente em São Paulo. 26
KGKS
O NGKS (sigla para NeGrosKiS) é um grupo de passinho que foi criado no carnaval de 2017, por um pessoal que se conheceu na escola e dançava em bailes na zona sul da cidade de São Paulo. No total, eles são em 16 jovens, entre 17 e 22 anos, que têm em comum o gosto pela dança, pelo funk e uma atenção especial no estilo de cabelos e roupas. Após fazer sucesso em um bloco carnavalesco na Avenida Faria Lima, o grupo decidiu gravar alguns vídeos dançando passinho e hoje eles acumulam milhões de visualizações no Youtube e no Facebook, tendo músicas gravadas com o famoso produtor KondZilla e agenda de shows. Por ter sido formado no Capão Redondo e ter alcançado sucesso rapidamente, o NGKS é referência para os grupos mais novos que frequentam o Sesc Campo Limpo tanto estética quanto musicalmente.
RITMO DOS FLUXOS
Paredão Megatron Canal do Youtube que cria set de músicas para dançar passinho dos maloka. A seleção dessas músicas ocorre de acordo com as que mais tocam no paredão Megatron: caixas de som automotivo empilhadas formando uma parede de som muito potente, usadas primeiramente nos bailes de rua e posteriormente levada para dentro das casas de show paulistanas. 27
A amostragem abaixo reúne alguns canais de Youtube de grupos de passinho dos maloka que, muitas vezes, utilizam o Sesc Campo Limpo como espaço para ensaiar, batalhar ou, simplesmente, para encontrar os amigos. Assim como o famoso grupo NGKS, os grupos utilizam siglas formadas pelo conjunto de consoantes do seu nome.
NGNT
NGTJ
NGDR
28
NGTS
EDSM
LGDM
29
O QUE ACONTECE NO SESC CAMPO LIMPO AOS DOMINGOS. Os mapas a seguir registram os grupos e as atividades sociais que compartilham o espaço do Sesc Campo Limpo com os jovens organizadores e frequentadores do rolê aos domingos. Os mapas também trazem narrativas de ocupação do espaço ao longo do dia, assinalando a maneira como a dinâmica de ocupação do espaço se transforma temporalmente e os conflitos e agenciamentos gerados pela intensa ocupação do espaço.
Os mapas se dividem em duas partes: 1. Grupos e atividades sociais 2. Narrativas de ocupação
Oficinas
Comedoria & Shows Banheiros Oficinas & Brincadeiras Parklet
Administração
Atendimento & Loja Carreta
30
Horta
Teatro
Quadra de areia
Ginástica e Expressão Corporal Parquinho
Estacionamento
Futebol, Vôlei e Basquete Slack Line
Skate
31
1. Grupos e atividades sociais
1 9
1 1
8
7
7 10
10 7
1
1 7
6 5
2 Jogadores de
3 Jogadores de
7 Moradores do
8 Crianças em
9 Artistas e público
entorno a passeio
32
oficina
1 6
1 Rolezeiros
basquete
1
pingue-pongue
de apresentações
1
7
12
3
1
2
11
1 4
1
4 Usuรกrios de
5 Skatistas
6 Usuรกrios de bicicleta,
10 Pessoas comendo
11 Usuรกrios do
12 Usuรกrios da quadra
slackline
parquinho
patins e patinete
de areia
33
2. Narrativas de ocupação
Namoro atrás dos contêineres amarelos.
Entrada do banheiro como ponto de encontro.
9
4
7
Jovens assistindo ao show de domingo promovido pelo Sesc. Jovens descansando e se alimentando na comedoria.
11
10
Jovens descansando nos pontos de ônibus do Sesc .
1
5 Jovens passando bebida pela grade. Quando o horário de fechamento do Sesc se aproxima, os jovens começam a se dispersar e vão para o Shopping Campo Limpo.
6
12
Encontro prévio no shopping, (onde os jovens almoçam) no parklet e no ponto de ônibus na Rua Nossa Senhora do Bom Conselho, local onde os jovens começam a beber. 34
1 1
2 Ao entrarem na unidade, passam pela checagem da equipe do Sesc, que confere se os jovens estão portando garrafas de vidro e/ou bebidas alcóolicas.
9
8
8
5 8
3
Agrupamentos espontâneos e efêmeros pulverizados por todo o espaço para batalhas de passinho. Footing na pista de corrida (ao longo de todo o dia, com mais intensidade no início e meio da tarde), por meio da qual os jovens se espalham pela unidade, vendo e sendo vistos e se aglomerando a partir de então em pontos específicos.
5
Jovens dançando nas proximidades dos contêineres ao lado da carreta e também ao lado da quadra.
Início da tarde Meio da tarde Fim da tarde/ noite
35
CONVERSAS COM OS ROLEZEIROS. Como você fica sabendo do rolê? Os frequentadores do rolê de domingo do Sesc Campo Limpo ficam sabendo das datas e informações sobre os eventos de passinho pelas redes sociais. Eventos no Facebook, grupos de WhatsApp e perfis pessoais de Instagram são os meios mais utilizados para divulgação.
Respostas:
36
“Ficamos sabendo do rolê do passinho do Sesc Campo Limpo pelos eventos divulgados no Facebook. O de hoje, por exemplo, chama Tchau pros que namoram. Não conhecemos o grupo que cria e divulga os eventos no Face, mas sabemos que o nome deles é Os Aliados.”
Grupo de meninas frequentadoras do rolê
“Tem uma menina que divulga no stories do Instagram dela. Ela é conhecida aqui porque faz vídeos pra divulgar os meninos dançando.”
Menina frequentadora do rolê
“Nós ficamos sabendo dos rolês que acontecem aqui no Sesc pelas redes sociais. Existe um grupo no WhatsApp onde são postadas todas as informações.”
Meninos integrantes de grupo de passinho
Como e por que você começou a dançar? A grande maioria dos jovens que frequentam o rolê de domingo do Sesc dança passinho. Para aprender a dançar, eles buscam vídeos em canais do Youtube e ensaiam com os amigos. A partir daí, muitos fizeram seu próprio canal e inventaram seus próprios passos de dança. Enquanto alguns encontram no passinho um jeito de se divertir e encontrar os amigos, outros encaram a dança e a exposição nos canais como uma possibilidade de carreira a ser seguida, como aconteceu com o grupo NGKS.
Respostas: “Eu vou descobrindo passos no Youtube. Eu assisto aos canais NGTD, BNGS, NGKS.”
Menino integrante de grupo de passinho
“Assim como eu tenho meu canal para mostrar minha dança, outras pessoas tem seus canais. E lá eu aprendi a dançar, me espelhei nessas pessoas. Eu ficava dançando e caindo em casa até que uma hora eu aprendi e hoje eu ensino.”
Menino integrante de grupo de passinho
“A gente não dança passinho dos maloka não, só rebolamos a bunda. Não temos um grupo, só saímos para os rolês e começamos a dançar. Eu comecei a dançar quando minha vida deu uma revirada por causa da minha homossexualidade.”
Grupo de meninos e meninas LBGT
“Eu já dancei passinho do romano e até tinha um grupo de oito pessoas que chamava Bonde dos Nascimento. Isso foi em 2012, agora chegou essa onda do passinho dos maloka e então eu fui procurar tutorial no Youtube para ver como era e aprendi a dançar também.”
Menino integrante de grupo de passinho
37
Do que você mais gosta no rolê? O clima de paquera e o espaço propício para dançar e gravar vídeos foram os pontos positivos mais citados pelos rolezeiros. Por outro lado, as eventuais brigas e conflitos configuram o maior motivo de descontentamento entre os jovens.
Respostas:
38
“O que eu mais gosto de fazer aqui é conhecer as pessoas e dançar junto”
Meninos que dançam passinho
“O que mais gostamos daqui do Sesc é que é um espaço muito bom para dançar. O que menos gostamos é do pessoal mal educado que esbarra de propósito ou daqueles que mexem com a gente e, quando ouvem não, xingam.”
Grupo de meninas que dança passinho mas não pertencem a um grupo oficial
“O melhor daqui do Sesc é o passinho! O que eu menos gosto daqui são os moleques folgados, que vêm só pra zuar o rolê! E isso muitas vezes dá em briga...”
Meninos que dançam passinho
“O que eu mais gosto do rolê aqui no Sesc é pegar mina. Gosto que aqui também é um lugar legal pra gravar meus vídeos de passinho. O que eu menos gosto é ter que ir para casa a pé estando cansado de tanto dançar.”
Meninos que dançam passinho
Por que tem mais homens dançando do que mulheres? Em geral, existe uma quantidade maior de meninos do que meninas dançando. Em menor número, muitas dessas meninas afirmaram se sentirem inseguras, e “com vergonha” de dançar por medo de críticas por parte dos meninos. Algumas acreditam que os meninos simplesmente tem “mais habilidade para o passinho”, o que evidencia a reprodução de práticas sexistas e machistas no rolê.
Respostas: “Acho que tem muito mais homem do que mulher aqui dançando passinho porque, querendo ou não, a nossa sociedade como um todo é machista em relação a tudo e isso daqui é só mais um exemplo. Por isso as meninas acabam ficando menos motivadas, com medo da rejeição.”
Menina jogadora de vôlei
“Acho que tem mais menino do que menina dançando aqui porque a maioria delas tem vergonha. Mas, depois que algumas ficaram mais famosas, muitas perderam a timidez. Agora vejo muita menina que dança pra caramba!”
Menino integrante de grupo de passinho
“Eu acho que tem mais menino dançando passinho dos maloka do que menina porque é mais fácil para eles aprenderem, acho que homem tem mais habilidade na perna e no pé.”
Menina frequentadora do rolê
39
Você se sente segura aqui? Grande parte dos rolezeiros entrevistados afirmam se sentirem seguros no rolê do Sesc. A sensação de insegurança que foi relatada por parte dos jovens tem origem em brigas e abordagens abusivas por parte dos meninos.
Respostas:
40
“Me sinto super segura aqui, essa é a minha segunda casa! Venho desde que abriu esse Sesc. Mas já presenciei algumas brigas. Na verdade, não é literalmente aqui dentro do Sesc porque os seguranças não deixam a briga rolar aqui dentro, eles levam os meninos lá pra fora. O que eu acho certo porque essas fitas tem que ser resolvidas lá fora mesmo.”
Menina LBGT frequentadora do rolê
“Não nos sentimos muito seguras aqui porque tem muita gente mal educada que não sabe ouvir não. Eles ficam bravos e começam a nos xingar! Não depende só da nossa palavra, depende da atitude deles. Hoje mesmo quando a gente estava vindo pra cá passamos na frente de um bar. Tinha um monte de homens mais velhos que começaram a mexer com a gente. Eles tem idade para serem nossos pais e aposto que não gostariam que isso acontecesse com as filhas deles.”
Grupo de meninas frequentadoras do rolê
Quais tipos de conflito acontecem aqui no Sesc? Os conflitos se dão, na grande maioria das vezes, por três razões: a abordagem abusiva dos meninos, o acaloramento das disputas de passinho (as chamados “ralinhas”) e o descumprimento de regras de uso do espaço.
Respostas: “A maioria das brigas que eu vejo, na verdade, é dos meninos com os seguranças porque eles barram os que querem entrar com bebidas ou por estarem dançando demais. Já vi também uma briga que aconteceu por causa de paquera. A mina tava comprometida, o namorado dela saiu, daí veio um outro cara e começou a chegar nela. Isso já aconteceu comigo também: veio cara dar em cima de mim e minha namorada não gostou.”
Menina LBGT que dança passinho
“O que mais tem de briga no rolê do passinho é quando rola uma brincadeira sem graça durante o ralinha. O ralinha é quando você desafia um amigo ou conhecido seu pra dançar, tipo um contra o outro. Aí você vai lá e manda o melhor passinho que você sabe e depois a outra pessoa manda o melhor passinho que ela sabe, até que as pessoas que estão em volta assistindo decidem qual foi melhor. Você pode até achar que seu passinho foi melhor mas é quem ta em volta que decide. Quando a gente tira ralinha, a gente faz na amizade, mas tem uns caras que ficam de palhaçada, que abaixam as calças do adversário, mostram o dedo do meio, tiram o boné do outro, e tem gente que resolve na briga.”
Meninos integrantes de grupo de passinho
“Tem muito homofóbico aqui também. Eles não ficam na deles, estão sempre procurando arrumar briga com lésbicas e gays. Eles tem medo do desconhecido e do diferente, e portanto julgam como errado. Então eles olham pra gente de um jeito estranho e, às vezes, nos xingam.”
Grupo de meninos e meninas LBGT frequentadores do rolê
41
Como você se aproxima de novas pessoas no rolê? A abordagem dos meninos frequentadores do rolê do passinho do Sesc muitas vezes reproduz práticas machistas e abusivas. Muitos dos meninos se mostraram respeitosos mas, muitos outros nos descreveram, de forma naturalizada, abordagens desrespeitosas e até violentas, que envolvem puxar o cabelo de meninas e beijá-las à força.
Respostas:
42
“Quando quero conhecer alguém, chego direto na pessoa para conversar.”
Menino frequentador do rolê
“Para chegar nas minas eu chego fazendo muitas perguntas para confundir a mente delas.”
Menino integrante de grupo de passinho
“Pra chegar nas mina tem que ter um bom papo, o que as vezes é difícil. Então às vezes eu chego aproximando fazendo um passinho!”
Menino integrante de grupo de passinho
Em quais outros espaços da cidade você gosta de dançar? O encontro de jovens que dançam passinho dos maloka não é exclusivo do Sesc. Os rolês também acontecem também no Masp, no Ibirapuera, no parque Vila Lobos e em muitas escolas e bairros da zona sul de São Paulo. Apesar da grande maioria dos frequentadores do Sesc Campo Limpo residirem nas proximidades, o rolê atrai jovens de lugares mais distantes, desde o Grajaú e até Guarulhos.
Respostas: “Além do Sesc, o pessoal dança muito passinho na escola. Tem também o parque Vila Lobos, o MASP e o Ibirapuera.”
Meninos integrantes de grupo de passinho
“Geralmente vamos mais para o MASP, mas o rolê acontece também no parque Vila Lobos e no Bosque Maia. Estou achando aqui mais agitado do que o MASP! O som aqui está mais alto, além de ter um palco. Lá acontece só com caixinha de som individual. O piso aqui também é melhor pra dançar, lá é de paralelepípedo, o que estraga o tênis todo.”
Meninos integrantes de grupo de passinho de Guarulhos
“Dançamos aqui no Sesc, lá no nosso bairro, o Jardim São Luís, e no CEU Casa Blanca. Dançar aqui é diferente de dançar nos outros lugares, tem bem mais gente e é um lugar legal para gravar vídeos. Fora o Sesc, a gente dá preferência pra lugares que tem pixo nas paredes para fazer vídeos.”
Meninos integrantes de grupo de passinho
43
O que falta na programação do Sesc? As sugestões de programação dos rolezeiros para o domingo no Sesc mostram uma vontade de impulsionamento do rolê do passinho que já acontece ali. Muitos tem vontade de participar ou realizar oficinas tutoriais desse estilo dança enquanto outros desejam ver grupos famosos de passinho dos maloka se apresentando no palco da unidade.
Respostas: “Se eu pudesse escolher alguma coisa para a programação de domingo do Sesc eu chamaria grupos famosos de passinho, como o NGKS e o NGTD, para se apresentarem no palco.”
Menino integrante de grupo de passinho
“Se tivesse uma aula de dança de passinho dos maloka eu iria todo domingo, iria lotar.”
Grupo de meninas frequentadoras do rolê
“Seria legal ter um festival com show de rap e música para dançar.”
Grupo de meninas frequentadoras do rolê
“Eu montaria um palco grandão aqui no meio pra todo mundo dançar passinho dos maloka junto!”
Meninos integrantes de grupo de passinho
“Super apoio de fazer um encontro LBGT aqui!”
Grupo de meninos e meninas LBGT
“Eu traria os MCs que eu gosto para fazer show aqui.”
Grupo de meninas que dança passinho
“Eu colocaria umas caixas de som e umas luzes pra chamar bastante atenção. Acho que com isso o Sesc ia crescer mais do que já cresce porque isso de rolezinho já está ficando pra trás. Os rolezinhos começaram lá no Ibirapuera, foi pro parque Vila Lobos e agora veio aqui pro Sesc e pro Masp. Já deu.”
Menina LBGT frequentadora do rolê
“Adoraria ver uma batalha de rima aqui no Sesc.” 44
Grupo de meninas frequentadoras do rolê
Qual a diferença entre o Sesc e os outros espaços que você e seus amigos frequentam? O encontro dos jovens do passinho no Sesc Campo Limpo permite que eles se sintam livres e, ao mesmo tempo, seguros para dançar e se encontrar.
Respostas: “Aqui no Sesc você conhece mais gente, e o povo fica livre dançando. No shopping você é expulso se começar a dançar. Aqui dá pra fazer amizade na fila do banheiro ou quando você esbarra em alguém sem querer... É mais livre do que no shopping.”
Grupo de meninas que dança passinho mas não pertencem a um grupo oficial
“Aqui no Sesc é melhor para dançar passinho do que na rua porque aqui é mais seguro. Na rua ninguém sabe o que pode acontecer, pode ser que alguém não goste da música e critique ou até mesmo jogue alguma coisa na gente. No Sesc estarmos em um espaço em que as pessoas entendem e respeitam o que nós estamos fazendo.”
Menino integrante de grupo de passinho
Recorrências: Mulheres
29 dos 72 entrevistados se identificam como mulheres
02 das 29 entrevistadas se autodeclaram LGBT Homens
04 das 29 mulheres entrevistadas estavam na unidade do Sesc CampoLimpo por outros motivos e não participam do rolê.
43 dos 72 entrevistados se identificam como homens
01 dos 43 entrevistados se autodeclara LGBT 13 dos 43 homens entrevistados estavam na unidade do Sesc Campo limpo por outros motivos e não participam do rolê.
Esse trabalho é resultado de uma série de pesquisas realizadas pelo Micrópolis no contexto do rolê do passinho dos maloka realizado aos domingos no Sesc Campo Limpo.