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JOANA FERREIRA
ANA CASPÃO
TANIA CUNHA
ALEXANDRA RAMOS
VICTOR GONÇALVES
JOANA GONÇALVES
FRANCISCO PINTO
CAMILA NOGUEIRA
INÊS OLIVEIRA
MAFALDA REMOALDO
MARIANA CANDIDO
HELENA PINTO
ÍNDICE 10
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Luís Buchinho
Frederico Martins
Entrevista
Entrevista
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Diário gráfico
Destaques
Entrevista a
Jiani Lu, Kate Moross,
Daniela Lino
Miss Led, Luke Dixon e Dima Rebus
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Keith Haring
Horas de calor
Retrospectiva
Selecção
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LUIS BUCHINHO
O que nos leva a afirmar que o trabalho de um designer é bom? Sem correr o risco da redundância e da linguagem emotiva do coração que nos tolhe a visão e dificulta os passos? Talvez o seu percurso firme? Ou o reflexo dos seus exemplos nos outros designers atualmente? Poderia aqui enumerar inúmeras causas. Mas na verdade, o que posso escrever é bem mais simples do que parece. Decidi falar sobre o designer que é, para mim, o melhor exemplo a nível nacional na área da Moda, Luís Buchinho. Este tem, ao longo da sua carreira, construída em cima de premissas fortes e estruturadas, demonstrado como o trabalho de um designer deve ser feito. A Vida profissional do Luís Buchinho tem gramática, sintaxe e léxico acima da média, porque sempre que vem a público verifica-se uma unidade sólida, resultado da sua convicção e maturidade, aliado a uma enorme qualidade técnica e a uma criatividade superior. O Luís Buchinho conhece profundamente os materiais que utiliza, misturando-os de maneiras muito inusitadas. A nível de cor, comprova ser o único que a trabalha sem receio. As suas peças têm uma modelação experimental por um lado mas, por outro, são rigorosas, próximas de uma arquitetura orgânica. Sempre que se observa o resultado do seu trabalho, existe uma pesquisa e uma novidade.
Recordo ter lido, numa das inúmeras entrevistas que deu, uma jornalista a questioná-lo sobre se ele tinha noção de ser em Portugal, como em Itália o é Miuccia Prada, um guru da moda. Apercebi-me que foi inesperada a pergunta. Respondeu que não tinha pretensão a tanto. Eu concordo com a jornalista em que o seu trabalho é seguido por muitos jovens, por isso faz escola e tal como a Miuccia Prada, não segue o que os outros esperam. Quando Luís Buchinho se inscreveu no Citex, sabia ser o local ideal para desenvolver o seu lado ao mesmo tempo pragmático e criativo. Tinha um fascínio muito grande por ilustração e sempre se deu bem na área. Este local era na altura a maior referência a nível nacional na Moda, mas também na indústria têxtil. Aqui, aprofunda e prepara-se, tirando partido dos meios ao seu dispor. Assim, foi destacando-se com prémios e construindo a sua linguagem. Participou sempre em eventos nacionais e em muitas exposições de referência internacional. Com uma vida profissional variada, destacam-se o trabalho na indústria e no ensino e a sua própria colecção, tornado-o sem qualquer dúvida num Designer de excelência. Prova de que o Design, para ser produzido, deve ter o maior número de caminhos diferentes. Sempre que se fala em Luís Buchinho, é unânime o respeito pelo seu trabalho, porque o faz de maneira apaixonada e correta.
Quando estás no teu processo de trabalho, que música ouves? Hoje em dia tenho dificuldade em nomear os intérpretes, estou um pouco por fora do mundo da Música, embora acompanhe grande parte do que vai aparecendo. Tenho bons consultores! E de certa maneira, um ouvido um pouco “duro”, acho que gosto do mesmo género de música desde sempre, rock com uma sonoridade 80’s, com nuances entre o Pop e a eletrónica. Para trabalhar, geralmente opto por podcasts da Antena 3, entre os Bons Rapazes (infelizmente extinto) e o MQ3.
Quais são os teus criadores de referência? Ann Demeulemeester, Sybilla e Helmut Lang.
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Na moda o que te move e apela aos teus sentidos? O desafio constante e a eterna questão de conseguir algo que me (nos) leva a um imaginário diferente. A Moda tem para mim (embora me queixe muito disso sazonalmente) uma rapidez que me agrada. Em adolescente era fascinado pelos visuais dos grupos Pop da altura, eram no fundo os “desfiles” a que tinha acesso. Era muito estimulado cada vez que um grupo ou intérprete mudava de look, queria registar essa mudança em ilustração!
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Faço referência a uma questão colocada por uma jornalista. Hoje que lhe responderias? Continuo um pouco perplexo, mas se pensar no assunto posso perceber o paralelo-sabemos em ambas as marcas como é a mulher que -mas nunca se sabe como será a próxima coleção. Como costumo dizer aos meus alunos, é a diferença entre o conceito que caracteriza a marca (não variável) e o tema da estação (variável). Para mim, este elemento de surpresa é essencial para manter o interesse pela marca vivo e de boa saúde, e sim, perder esta constante assusta-me!
O que achas da Moda Portuguesa? Ainda acho algo imatura. Principalmente, quando falamos em questões como a comercialização das marcas, e de modo geral de toda a parte mais “business” tão necessária para uma marca de Moda vingar. Nunca existiram, na verdade, projetosparcerias-vontades-sociedadescontratos-interesses que fizessem a ponte para pôr a máquina a rolar à séria. Por culpa, um pouco de todos. A nível de conceitos, acho que existem propostas interessantes, poucas e quase todas elas na geração que está agora a começar.
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Tens algum lugar no Porto de que gostes em particular? Da minha casa, das minhas lojas! Gosto do centro da cidade, de Serralves e do Rio. VG
Quais os teus ilustradores de referência? Tony Viramontes, Mats Gustafsson, Antonio Lopez, este último fez com que eu fizesse as minhas primeiras ilustrações!
No meu ponto de vista o teu trabalho está próximo da Escola de Antuérpia. Concordas? Concordo, foi uma grande referência para mim no pós-curso (início de 90). A reviravolta que houve na altura, com o contraponto a uma mulher demasiado “produzida”, demasiado adulta, longe da realidade mais jovem que se identificava, tal como eu, por uma atitude mais urbana, casual e descontraída
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FREDERICO MARTINS
Quando começou a fotografar, começou com filme e a textura da pelicula agrada-lhe bastante. A fotografia sempre foi um interesse, um hobby? Olha, quando era miúdo, na escola primária, fui a uma fábrica de sumos, e foi muito frustrante porque na altura, todas as minhas fotos ficaram tremidas, todas, e na altura pensei que não tinha grande jeito para a fotografia. Só mais tarde, nos meus 17/18 anos o meu pai deixou uma Auto 110 da Pentax, uma máquina muito pequena, é quase uma 35 mm mas em miniatura, e usava uns rolos em cassete, filme 110, uma máquina mais ou menos automática e com ela tirei uma foto do Castelo de Santa Maria da Feira com a lua, com a qual participei num concurso da Câmara Municipal da Feira e fiquei em 3ºlugar, e aquilo foi um grande estimulo, e continuei a fotografar.
E assim, em 1 ano passei dessa Auto 110 para uma UM 40 da Olympus, e mais tarde, com a ajuda da minha mãe e do meu avô comprei uma Nikon, uma F70, e aqui já estava no meu primeiro ano da Faculdade, em Engenharia Agronómica na Faculdade de Ciências da UP. Depois entre começar de facto a fotografar e profissionalizar-me demorei cerca de um ano, foi muito rápido. Como não tinha aprendido numa escola, tudo o que eu conseguisse apanhar sobre fotografia eu lia e relia até que aquilo que lá estava escrito fizesse sentido para mim. Tenho livros, do Ansel Adams, o “The Negative”, “ The Camera” e o “The Print”, que explicam tudo aquilo que uma pessoa precisa de saber sobre a parte técnica, e ainda hoje utilizo o “Sistema de Zonas”, criado por Adams, e creio que isso seja algo que me distingue dos meus colegas, aliado às minhas técnicas fotográficas conservadoras.
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Entretanto fez uma viagem a Angola, onde tirou uma fotografia que viria a ser premiada pela “Photo”... Sim, entretanto, nas férias entre o 1º ano da faculdade e o 2º, fui a Angola, onde o meu pai vivia. Na altura ficava mais barato comprar metros de filme e fazer os rolos em casa. E em Angola, fui numa altura em que haviam bastantes conflitos e violência, e tirei uma foto que foi publicada na “Photo”, que foi um grande estimulo e a partir daí nunca mais parei.
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Mais tarde estudou na Saint Martins College of Art and Design, como foi essa experiência? Muita gente pensa que eu fui para a Saint Martins estudar fotografia, eles tem a Summerschool, Easterschool e Christmas school, que também fiz, e esses pequenos cursos são ótimos para aprender, mas essencialmente fui estudar mais a parte do negócio, ou seja, de gestão da carreira, que faz imensa falta saber que canais é que tens que procurar, não é por acaso que de todos os colegas que trabalham no mesmo patamar que eu, eu sou o mais novo. O saber gerir o negócio é essencial. Nesta área, o talento é importantíssimo, mas é preciso muito trabalho, e ter consciência de que no final do dia temos que satisfazer o cliente, não nos “prostituindo”, digamos assim, mas temos que satisfazer o cliente. Por isso, ter uma perspetiva lúcida da parte comercial do mercado é imprescindível.
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Acha que faz falta, no ensino artístico, ter alguma formação a nível de como gerir a carreira? Nas escolas artísticas, formam muito bem os alunos em termos da arte, mas muito mal no sentido de como é que vocês podem ser bem sucedidos em termos de carreira. Creio que nas Artes, há por vezes uma certa fobia à riqueza, como se ganhar dinheiro fosse mau porque a pessoa se torna demasiado comercial. É como acontece com as bandas, a banda é espetacular e só a conhecem dez pessoas, se a banda ficar conhecida com a mesma música que tocava antes, muitos dizem “agora já não gosto, são muito comerciais”. O mundo da Moda entra muitas vezes em conflito com o mundo Artístico, exatamente por ser na Moda onde a Arte toca no comércio, é uma das zonas de maior contacto, porque num outro campo artístico, só tens contacto com pessoas que querem de facto ver aquele tipo de trabalhos, e na moda não, toda a gente quer moda, é algo que faz parte do dia-a-dia. Por isso, não se pode neste meio ser-se preconceituoso, porque isso é um entrave à criatividade. Há o mundo Artístico e o mundo Comercial e entre eles uma zona confronto.
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Se fores a ver, os artistas mais importantes já ganharam imenso dinheiro com as obras deles, podem dar ou não valor a esse facto, mas a verdade é que assim podem para além de financiar projetos futuros, divulgar novos artistas. Tu não fazes uma exposição no MOMA sem teres dinheiro, o artista tem que ser suficientemente relevante para encher o museu, para que os bilhetes sejam vendidos, senão o museu não vai expor. Por exemplo Serralves, chamam grandes nomes do mundo da arte para atrair o publico ao museu, e com o dinheiro que fazem é que podem fazer pequenas exposições com artistas ainda em inicio de carreira ou ainda não tão importantes. Há uma lógica capitalista, é importante ganhar dinheiro, mas também é preciso ver que o dinheiro não é tudo.
E depois temos outra questão a nível do mundo artístico, muitas vezes dá-se mais valor ao conceito do que à execução do objeto, da obra em si. Eu fui-me formando com o gosto de saber fazer as coisas e de saber como é que elas funcionam, o saber fazer toda a parte técnica, o processo manual. A mim importa-me muito mais a parte técnica do meu trabalho do que o conceito, quero que quando vejam os meus trabalhos pensem, “esta foto está muito boa, está bem executada”. Quando trabalhas comercialmente, não podes ficar à espera de inspiração para uma peça, tens que ter inspiração constante, todos os dias. Por exemplo, queres fazer um trabalho na praia, com a modelo ao sol, chegas ao local, e em vez de sol tens nuvens, tu tens que ser capaz de tecnicamente tirar a foto de modo a que pareça estar sol, saber colocar as luzes para que de modo a que caso o céu mude, a luz se mantenha igual e natural, o que te segura nestes casos é a técnica, depois a criatividade flui. Tu só consegues transmitir a tua criatividade de forma consistente se tiveres a técnica. Uma das áreas da arte que mais tenho visto é a Arquitectura, que também tem uma relação muito grande com o comércio, e onde existe perfeição na obra acabada, uma boa execução, não é só o conceito e o desenho existe algo palpável. Não podemos ser fundamentalistas quanto ao conceito, tem que existir um equilíbrio. O meu grande objectivo é um dia dominar a técnica de tal forma que a consiga dobrar, para a moldar a aquilo que eu quero fazer.
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A Arte nasce connosco? Se pesquisares, muitos dos grandes nomes do mundo da Arte em Portugal não tem Background artístico. A Arte nasce com as pessoas, tu não ensinas Arte, ensinas a ler, a escrever, a interpretar mas não ensinas a pessoa a ser artista. O que podes fazer é potenciar alguém que já tem a Arte dentro dela a desenvolver, a ser melhor. Não é por teres um curso de pintura ou escultura que vás ser pintor ou escultor, ninguém te vai ensinar a ser artista. Acho muito importante que as pessoas se exponham à Arte, principalmente os miúdos, para que eles se questionem, para que se descubram talentos, de um modo geral, as pessoas descobrem que têm talento ou vontade quando são confrontadas com alguma coisa. Hoje em dia em Portugal já existem imensas iniciativas, como Serralves por exemplo, que tem imensas actividades com crianças, no entanto, apesar de todos estes estímulos, temos por outro lado a educação da população, porque ainda há muito aquele pensamento de que ser-se artista é ser-se meio indigente.
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Como é trabalhar em fotografia comercial? O trabalho de fotografia comercial é muito desgastante mentalmente, nós dificilmente nos conseguimos separar do que estamos a fazer. Às vezes, parece que se me disserem que não gostam do meu trabalho, é quase como se dissessem que não gostam de mim, tu investes tanto no teu trabalho que as vezes custa estares constantemente a ser confrontado com a opinião de outras pessoas, tens que ter uma boa estrutura, não é qualquer pessoa que consegue fazer uma carreira comercial, há sempre um risco, o de dececionares alguém durante o processo, o de o cliente não gostar. Há muitos artistas que tem uma ligação muito forte com o seu trabalho, e muitas vezes chegam a um ponto em que tem que parar devido a esse confronto constante. Na moda, muitas vezes, também tens que tentar que as pessoas trabalhem contigo, tu não consegues ter os manequins que queres a partir de certo ponto quando não lhes compensa, porque para revistas não há muito dinheiro, ele vêm fazer o trabalho para portfólio, como tal o manequim tem que escolher uma equipa onde se sente bem e onde resultado o valorize. Temos que conquistar as pessoas, é um processo que dá também algum trabalho.
O que é que mais gosta de fotografar? Pessoas, mas de vez em quando tenho saudades de fotografar umas paisagens.
Ainda existe muito aquele estigma de que ser fotógrafo de moda é um trabalho extremamente glamoroso? A maioria das pessoas não tem noção do desgaste que e ser-se fotografo de moda ou de qualquer outra área. Tens que ser surpreendente todos os dias. É desgastante fisicamente durante o trabalho, porque tens que te mexer e andar com as máquinas, e é um grande desgaste mental, porque todas as fotos são avaliadas. Há aquelas pessoas que ficam deslumbradas com o mundo da moda, mas somos todos normais, as modelos são pessoas normais que nasceram com aquela condição genética e serem especialmente bonitas. A moda também está cheia de banalidades. Claro que para além disso, de facto viajamos e há a roupa e as festas e assim, pessoalmente não ligo muito às festas, mas sim, apesar do desgaste que existe, os trabalhos são divertidos, e é certamente uma profissão bem mais gira do que a maioria, é uma profissão muito compensadora.
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Como é que definiria como fotógrafo? Eu sou o fotógrafo da técnica. Normalmente, traduzo os meus conceitos na estética, há pessoas que trabalham muito em função da disposição dos manequins, da roupa ou dos cenários, eu faço um mix disso tudo, normalmente parto de um filme ou algum outro estímulo visual, vejo algo que gosto num desses estímulos e trabalho a partir daí, não fico a desenvolver um conceito muito profundo. Não me consigo repetir muito, as vezes queria e até me dava jeito, mas não consigo. Sou muito ligado à técnica, e tenho a vantagem de que as marcas dos equipamentos gostam de mim, tenho um relacionamento estreito com a “Phaseone” que é a marca das máquinas que utilizo, são máquinas digitais de médio formato, somos patrocinados pela casa mãe da “Phaseone”, somos caso único em Portugal, e temos o privilégio de trabalhar com estas máquinas porque eles entendem que nós em termos de técnica esprememos ao máximo as capacidades da máquina.
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Qual é a próxima etapa? Agora a próxima etapa é internacionalizar. Neste momento estamos a trabalhar com a “DSECTION” que é uma revista portuguesa que esgota em Nova Iorque e Paris, e está-nos a divulgar muito, o que é muito bom porque agora posso contactar com as agências de modelos de lá e na agência já conhecem o meu trabalho, e é graças à “DSECTION” que estamos a dar um grande salto para a internacionalização, e para já estamos a ter um feedback muito positivo.JG Portfolio Behance Facebook
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DANIELA LINO
Daniela Lino, tem vinte anos e fez um ano em Design de Comunicação e agora está no 2º ano de Artes Plásticas.
Porque escolheste design como primeira opção? E porque mudaste para artes plásticas?
Há quanto tempo desenhas e como começaste?
Design nunca esteve propriamente nos planos. Acho que o interesse surgiu no 12º, quando estava na Soares (EASR) a estudar Ourivesaria. Senti que era uma área a explorar, despertavame curiosidade e era um óptimo complemento para o meu percurso. Ainda assim, andei até à ultima pra me decidir, porque queria muito poder escolher os dois. Mudei para artes plásticas por urgência. Gostei muito de design de comunicação e não me arrependo em nada do ano que lhe dediquei, só me fez bem! Aprendi muita coisa que agora me permite encarar as coisas de outra forma. Mas não me senti capaz de continuar e esperar, ficava inquieta por perceber que não era aquilo que devia estar a fazer. Era uma dúvida ingrata, porque, de certa forma, ambas as hipóteses me interessavam, e uma não anulavam a outra, e só tinha vontade de fazer tudo simultaneamente.
Eu desenho desde que me lembro. Era praticamente instintivo, riscalhava tudo o que me aparecia à frente. Acho que também era uma das únicas formas de os meus pais me terem sossegada durante um bocadinho! Acho que o desenho mais antigo que tenho aí guardado é um do meu pai. Gostava tanto que acabei por nunca parar.
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O que é para ti um diário gráfico? Acho que um diário gráfico pode e deve ser muita coisa. Não sinto que tenha experiência suficiente pra dizer que tenho uma posição firme em relação a esta questão. Neste momento, os meus diários gráficos rondam um misto de companhia, caixote onde esvazio e prato de onde como. Quanto à questão de ser usado diariamente, também não me sinto exemplo fiel, porque como mantenho vários diários ao mesmo tempo, tenho uns que se enchem em dias, e outros que tenho desde o ano passado incompletos. Acho que acima de tudo deve ser uma coisa híbrida.
O que entendes por desenho? Considerá-lo um fim em si mesmo ou uma forma de projectar ideias e conceitos? Pelo que tenho aprendido, eu diria que o desenho é um questionar constante, uma forma de resolver (ou afirmar) inquietações ou afirmações. É uma forma de reacção, uma resposta em si mesmo. Mas fico sempre com a sensação que o conceito fica demasiado reduzido ainda assim. Considero ambos! O desenho vale tanto por si mesmo, como por ponto de partida, estratégia e meio de reflexão pra um fim. Aliás, de ambas as formas acho que ele acaba sempre por ser um fim em si mesmo, sempre que tenha um objectivo.
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Quais as técnicas que mais exploras? Porque motivo é que as escolhes? Gosto muito de trabalhar com grafite, carvão, aguarela, tinta da china, marcadores.. Mas quando é pra extravasar gosto de misturar tudo o que achar que faça sentido, ou que possa traduzir aquilo que quero. Não gosto de me restringir a uma só técnica, mas poder usar os meios que melhor me possam ajudar.
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O que é que mais gostas de representar? Assim de repente diria figura humana. Mas sinto-me feliz em desenhar tudo o que me encante. Desenho muito por amor ao que vejo, ou a uma ideia ou vontade. É aí que sinto que faz mais sentido a representação, que sinto que tenho razões para a fazer.
Quais são as tuas expectativas futuras? Ter oportunidade de estudar/trabalhar naquilo que me faz feliz, ver o mundo e viver pacificamente.
Tens algum lema de trabalho? Não tenho nenhum lema em particular... Acho que a única coisa que tento ter em mente, principalmente quando me sinto frustrada ou desiludida, é que só posso fazer aquilo que me é possível fazer. Por isso não posso sentir que não posso fazer nada, nem sentir que devia fazer muito mais. Não que isso mude a sensação de que devia sempre fazer mais qualquer coisa, mas é uma boa premissa pra respirar fundo e continuar a trabalhar.
Que artistas mais admiras? Alphonse Mucha, Andy Goldsworthy, Michaël Borremans, Olaf Hajek, John Dyer Baizley, ETAM CRU... Ai! há tantos que me interessam! Gosto muito de muita coisa, disperso um bocado. Não me fixo muito em nenhum autor em particular. Por fim, tens algum conselho a dar aos alunos de artes plásticas que estão agora a começar? O meu conselho, pawra quem o quiser é: aproveitem as oportunidades. Já que andam a pagar propinas, façam valer esse dinheiro e preocupem-se, interessem-se, e absorvam tudo o que vos for útil.
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JIANI LU
Designer, fotografa e ilustradora, Jiani Li de 22 anos nasceu em Toronto, Canada. Dentro das suas 3 paixões o design tem um lugar de eleição e está constantemente em aprendizagem e à procura da perfeição. Actualmente vive e trabalha no Dubai.
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Kate Moross
Kate Moross é uma designer de 26 anos a trabalhar em Londres e conhecida pela sua paixão pela tipografia. Para além de ser a directora do estúdio artístico MOROSS, já trabalhou para marcas como Nike, Adidas, Fabergé, Vogue entre muitos outros.
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Miss Led
Joanna Henly é a ilustradora por detrás de Miss Led Illustraion e apenas no seu terceiro ano como Miss Led já ganhou premidos na Europa e em Londres e foi também a única vencedora feminina do concurso ‘Secret Wars’. Actualmente a trabalha e vive no Reino Unido, a ilustradora de 37 anos já realizou trabalhos para diversos clientes dos quais se destacam nomes como Nike Air, Red Bull, Diesel, Reebok.
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Luke Dixon é um jovem ilustrador e artista gráfico. Actualmente, com 25 anos de idade trabalha como freelancer em projectos de design e ilustração nos quais a linha, os espaços em branco e a cor assumem um papel principal.
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Nascido em 1988 numa pequena cidade na Rússia, Dima Rebus é hoje reconhecido pelas suas incríveis ilustrações a aguarela. Tendo, no ano de 2011, completado a sua graduação na escola de arte em Moscovo, actualmente divide-se entre os seus projectos pessoais e ilustrações para revistas e editoras.
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KEITH HARING Artista Plรกstico
Nascido a 4 de Maio de 1958 em Reading, Pensilvânia, Keith Haring cresceu em Kutztown com os seus pais, Joan e Allen Haring, e com os seus três irmãos mais novos. Desde muito cedo desenvolveu um grande interesse pelo desenho, mais especificamente pelo cartoon devido à profissão do pai e à grande cultura que se desenvolvia referente a essa vertente na época, como foi o caso do Dr. Seuss e da Walt Disney. O meu pai fazia cartoons. Desde pequeno que tenho feito cartoons, criado personagens e histórias. Na minha mente, no entanto, havia uma separação entre cartooning e ser “artista”. Ao longo da sua infância e adolescência, a Arte continuou a ser o seu principal interesse. Entre as constantes idas à bilbioteca e a museus, Keith começou a desenvolver uma percepção e interesse acrescido pela arte moderna e, depois de terminar o ensino secundário, entrou para a Ivy School of Professional Art em Pittsburg na Califórnia. Fui convencido a ir [para uma escola artística] pelos meus pais e pelo meu orientador vocacional. Disseramme que se queria mesmo ser artista, deveria ter algum background em arte comercial. Fui para uma escola de arte comercial onde rapidamente percebi que não queria ser ilustrador nem designer gráfico. (...) Desisti da escola.
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Em 1976, involve-se no Arts and Crafts Center de Pittsburg, onde posteriormente consegue a sua primeira exposição de impacto considerável. Nesta altura, procura trabalhar com um vocabulário de pequenas e abstractas formas interligadas, elementos que se tornariam centrais no seu estilo como artista plástico. Keith começa também a descobrir algumas das suas mais importantes influências da arte moderna como Pierre Alechinsky, Dubuffet e Christo. Fui a uma grande retrospectiva de Pierre Alechinsky no Museu de Arte de Carnegie. Foi a primeira vez que vi alguém mais velho e bem estabelecido a fazer algo que era vagamente similar aos meus pequenos desenhos abstractos. Aquilo que mais me cativava era a crença [de Christo] de que a arte deveria chegar a todos os tipos de pessoa, em oposição à visão tradicional que vê a Arte como algo elitista... É então que em 1977, na exibição da Arts and Crafts Center de Pittsburg, um dos participantes desistiu e surgiu um espaço vazio que foi oferecido a Keith Haring. Era algo em grande, especialmente para mim, tendo dezanove anos e expondo no melhor espaço que podia em Pittsburg para além do museu.
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Um ano depois, muda-se para Nova Iorque com uma bolsa de estudo para a School of Visual Arts. Foi aqui que Keith experienciou viver no meio de uma comunidade urbana e multicultural com a sua própria linguagem e criou-se o ambiente ideal para que pudesse explorar e compreender melhor a sua homosexualidade. Mais particularmente, Nova Iorque inspirou-o pela beleza e espontaneidade do graffiti que encontrava no metro. O graffiti traduzia toda uma cultura hip hop, de rua, criativa e underground que ele admirava e da qual pretendia tirar partido. Foi neste ambiente que criou laços de amizade com Kenny Scharf e Jean-Michel Basquiat, como com outros artistas e músicos envolvidos neste universo. Entretanto, as aulas na SVA forneciam a Keith uma importante base artística para desenvolver a sua própria linguagem. Começou a trabalhar obsessivamente e a pendurar desenhos seus nas paredes dos corredores da escola para que toda a gente visse. Aventurou-se também na vertente do vídeo e da performance e dedicou-se também muito à escrita.
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Um dia, ao passar pelo metro, vi este painel preto vazio onde deveria estar publicidade. Imediatamente percebi que este seria o espaço perfeito para desenhar. (...) Continuei a ver mais destes painéis pretos e desenhava neles sempre que via um. Como [os desenhos] eram tão frágeis, as pessoas não interveriam com eles e respeitavam-os; não os limpavam nem estragavam. Isso deu-lhes um outro poder. Era esta coisa frágil a giz branco no meio de todo este poder e tensão e violência que o metro representava. As pessoas estavam encantadas. A visibilidade que ganhou com os graffitis e desenhos no metro fortaleceu-se com exibições paralelas. O seu reconhecimento crescente trouxe-lhe mais dinheiro e oportunidades, mas também mais pressão. Para poder desistir do seu emprego e pintar a tempo inteiro, Keith pretendia vender as suas pinturas, mas para tal precisava de estabelecer um contrato com uma galeria. Esta ideia ia, de certo modo, contra os seus princípios. Como um estudante e sendo, de algum modo, um artista underground, via a galeria de arte tradicional de forma muito cínica, mas muita gente viu no seu trabalho uma forma de ganhar dinheiro. Depois de ter sido desapontado por muitos negociantes de arte que pretendiam pagar uma ninharia pelos seus quadros, Keith decide ser representado por Tony Shafrazi que teve um precioso contributo na visibilidade que o artista atingiu no panorama dos eventos culturais de grande impacto da altura.
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Os anos que sucederam trouxeram a Keith um reconhecimento a nível internacional. Exibiu o seu trabalho em Roterdão, Tóquio, Nápoles, Antuérpia, Londres, Colónia, Milão, Basileia, Munique, Bordéus, Amsterdão, Paris e outras, bem como em inúmeras cidades pelos Estados Unidos. Toda a energia que investia no seu trabalho e todas as viagens que fazia trouxeram-lhe fenomenais oportunidades de cooperação com outros artistas e contribuíram fortemente para o crescimento das suas obras. No entanto, todo este reconhecimento acabou, de algum modo, por interferir no seu trabalho. Em 1984, os meus desenhos do metro começaram a produzir efeitos inesperados porque toda a gente roubava o que fazia. Eu ia lá desenhar e duas horas depois todos os desenhos tinham desaparecido. Estavam a ser vendidos. Surpreendia-me que o meu trabalho (...) já se tivesse espalhado um pouco por todo o mundo. As pessoas viam-no como algo não realmente produzido por um artista mas como um vocabulário disponível a todos. Apareceram t-shirts no Japão e sapatilhas no Brasil e vestidos na Austrália muito antes de eu sequer produzir e comercializar algum objecto assim...
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Em Abril de 1986, Keith abre Pop Shop, uma loja em Nova Iorque para vender o seu trabalho. As suas obras, cada vez mais populares, atingiam preços muito elevados, o que acabava por limitar o público que as podia adquirir. A criação desta loja tinha por intenção manter o seu trabalho acessível a todos. Esta sua postura despertou uma data de opiniões negativas por parte dos críticos de Arte, mas, apesar disso, Keith não se deixou influenciar. Tinha atingido todo o seu sucesso interagindo directamente com o público e tinha encontrando a sua audiência. Por outro lado, tinha o apoio de outros artistas que respeitava e admirava como era o caso de Andy Warhol - e do público que se sentia cativado pela sua arte, pessoas que não tinham nenhum background artístico mas que respondiam com completa honestidade à sua forma de expressão. Keith foi diagnosticado com o vírus do HIV em 1988. Na época, o vírus já tinha atingido de forma considerável o núcleo das artes em Nova Iorque, sendo que Keith não seria de forma alguma um caso isolado. Ao contrário do espectável, a notícia não surgiu como uma surpresa e inclusive Keith anunciou-o publicamente numa entrevista com a revista Rolling Stone. Não importa por quanto tempo trabalhemos, haverá sempre um fim. E haverão sempre coisas deixadas por fazer. E não importaria se vivessemos até aos setenta e cinco anos. Continuariam a haver novas ideias. Continuariam a haver coisas que desejaríamos ter feito. Poderíamos trabalhar por várias vidas... parte da razão pela qual não estou a ter dificuldade em lidar com a realidade da morte é porque não é uma limitação, de certo modo. Poderia ter acontecido a qualquer altura, e irá acontecer qualquer dia. Se vivermos a vida de acordo com isso, a morte é irrelevante. Tudo o que estou a fazer agora é exactamente o que quero fazer. Todas as coisas que fazemos são uma espécie de busca pela imortalidade. Porque estamos a fazer estas coisas que sabemos ter um diferente tipo de vida. Elas não dependem da respiração, por isso duram mais do que qualquer um de nós. O que é uma ideia interessante, que sejam uma espécie de extensão da nossa vida em alguma altura.
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A sua reputação continuou em crescimento até à sua morte a 16 de Fevereiro de 1990, com 31 anos, devido a problemas de saúde relacionados com o vírus da SIDA. Antes da sua morte, Keith fundou a Keith Haring Foundation para poder apoiar as crianças com SIDA. Actualmente, o seu contributo para a arte do século XX é ainda difícil de apreciar por completo por todas as modificações que operou na concepção de arte. Durante a sua breve mas intensa carreira como artista, participou em mais de 100 exposições a solo e colectivas e em 1986 foi assunto principal de mais de 40 revistas e jornais. Foi convidado inúmeras vezes para colaborar com projecto de artistas de vários ramos diversos como Madonna, Grace Jones, William Burroughs, Bill T. Jones, Jenny Holzer, Yoko Ono e Andy Warhol. A sua expressão inconfundível de conceitos como o nascimento, a morte, o amor, o sexo e a guerra utilizando a linha como forma de transmitir uma mensagem tornaram a sua linguagem universalmente reconhecida e Keith num dos artistas mais marcantes do século XX. Quando lhe perguntaram que tipo de ideias ou valores pretendia transmitir com o seu trabalho, Keith respondeu: Uma ideia mais holística e básica de querer incorporar a arte em todos os aspectos da vida quotidiana ao invés de praticar um exercício egoísta. Eu não sei exactamente como o explicar. Tirá-la do pedestral. Estou a dá-la de volta às pessoas, penso eu. MR
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HORAS DE
CALOR Verão. Dias compridos, de estradas calcorreadas à boleia de um vento que teima a vir. Acima de nós, o sol bronzeia a pele hibernada no resto do ano e nem o chapéu proteje a cabeça de um latejar crescente. Calos formam-se nas plantas dos pés como testemunho das aventuras vividas. Isso é o dia pleno, o retornar a casa, como um pseudo-emigrante que não chegou a conhecer bem os lugares visitados nesse dia. Isto é o fim da tarde, que cada vez vem mais cedo e que traz a noite no seu encalce. Eventualmente, surge luz. A névoa achega-se em manhãs que são somente o prolongamento de uma noite fora de casa. Os ouvidos apercebem-se a custo de um tinido distante, memória da romaria de Agosto, do santo local que se celebrou ao realejo, com pimba e desafios.
Jane’s Addiction
Summer Roll
Janis Joplin
Summertime
Matisyahu Seals & Croft Nancy Sinatra & Lee Hazlewood Queens Of The Stone Age The Doors Phineas E Ferb Joe Dassin Grease
Sunshine Summer Breeze Summer Wine Feel Good Hit Of The Summer Indian Summer Inveão L’été Indien Summer Nights
Com as mãos douradas com a gordura das farturas, seguramos nas sandálias que se rebentaram entre um pé de dança e um saltitar imprudente, e o alcatrão ainda tem vestígios do calor do dia. Não é com tristeza que dizemos adeus à noite. O tom rosado que o sol nascente projecta na realidade torna as arestas angulosas de uma noite escura numa indefinição de substâncias quase imaterial. Os candeeiros desligam-se e parecem espectros, as ervas ao longo da estrada agitam-se como serpentes e no entanto nada nos assusta. O tecido da nossa roupa abana-se, carregado com suor e refrigerante entornado. É com alegria que vemos a luz da nossa rua ainda acesa e uma janela iluminada da nossa casa. Um camião apita e com um acenar bêbedo desejamos-lhe sorte, uma boa vida e um carregamento ilimitados de farturas.
Ben-Hur Into the Wild Spirited Away The Big Lebowski Life of Pi 500 Days of Summer The Road to El Dorado Monty Python’s The Meaning of Life X-Men: First Class Nordzee, Texas
William Wyler Sean Penn Hayao Miyazaki Joel Coen, Ethan Coen Ang Lee Marc Webb David Silverman, Don Paul, Bibo Bergeron, Will Finn, Jeffrey Katzenberg Terry Jones Matthew Vaughn Bavo Defurne
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