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Guimarães: 20 anos de Património Mundial

Acelebração do vigésimo aniversário da inscrição do Centro Histórico de Guimarães na lista do Património Mundial da Unesco decorreu no passado mês de dezembro, através da realização de vários eventos: exposições de fotografia, concertos, palestras, edições de livros, entre os quais uma compilação de testemunhos subordinados à efeméride; ou o rebate dos sinos das igrejas da cidade, às 13 horas e 12 minutos, lembrando a data da decisão na Convenção do Património Mundial, em Helsínquia, a 13.12.2001.

2021 foi um ano especial para o Património Mundial em Guimarães por vários motivos. Foi o ano em que se concebeu, discutiu e aprovou o Plano de Gestão 20212026. É o primeiro Plano de Gestão em Guimarães e, hoje, entende-se a sua pertinência: como instrumento para comunicar o valor universal excecional do Bem e a relevância de conceitos como autenticidade e integridade (e a sua verificação); tal como a clarificação de como se prevê cuidar, gerir e valorizar o Bem. A explicitação de ações concretas contribui também para tornar palpável de que modo (e com que recursos) se planeia, a curto, médio e longo prazo, alcançar os objetivos estipulados. Guimarães passou a ter um instrumento que permite uma mais clara monitorização do Bem e do sentido da sua transformação. Estão já em implementação muitas das ações e conjuntos de ações previstas no Plano de Ação, que integra o Plano de Gestão. Uma das ações já desenvolvidas foi a constituição de uma Comissão de Acompanhamento a quem competirá avaliar o desenvolvimento do Bem e o cumprimento do Plano de Gestão, os respetivos desvios e/ou ajustamentos a proceder em função das necessidades. O Bem Centro Histórico de Guimarães coincide com uma parte significativa do centro da cidade de Guimarães e, nesse sentido, a sua gestão patrimonial coincide com a gestão geral de uma cidade contemporânea, viva. Bem se entenderá a complexidade de uma tal gestão que tem de compatibilizar sentidos que são, não raras vezes, antagónicos. Também a esse nível a existência de um instrumento de gestão, de caráter estratégico, que clarifica linhas de desenvolvimento e de ação, e reforça aspetos que são fundamentais para a salvaguarda dos critérios e atributos que conferem o estatuto excecional de Património Mundial, é um elemento que acrescenta valor operativo. Como é sabido, a inscrição na lista Património Mundial não constitui estatuto irrevogável, pelo contrário, aumenta o nível de responsabilidade e de exigência sobre a sua conservação, salvaguarda e valorização, altamente escrutinadas atendendo à visibilidade dos bens Património Mundial. No caso de Guimarães, o cuidado sistemático sobre a área mais antiga da cidade remonta à primeira metade da década de oitenta do século passado. O Município assumiu essa tarefa e, desde 1983, não a terminou mais. Na verdade, tem vindo até a dar sinais de reforço desse sentido agregador e ampliador das áreas de sensibilidade patrimonial. O ano de 2021 foi também neste aspeto um ano especial para Guimarães, na medida em que foi o ano da conclusão da versão final da candidatura do Centro Histórico de Guimarães e Zona de Couros (entregue, na versão impressa e revista, no início do ano de 2022). A proposta de alargamento da área é significativa, duplicando a atual área classificada. Mas não se trata, evidentemente, de uma questão de ampliação de superfície classificada. Trata-se da constatação de uma necessidade de incorporação, na leitura e compreensão da cidade histórica, de um conceito fundamental ao desenvolvimento de Guimarães, de Portugal e da sociedade, em geral: o Trabalho. A Zona de Couros e envolvente representa um lado menos divulgado e reconhecido historicamente nas cidades: os espaços primitivos de trabalho. Há muito se sabia que Couros é, per se, especial: pela paisagem urbana que oferece, com os milhares de metros quadrados de tanques de curtimenta, os secadouros, as casas dos operários, o rio de Couros; e, em especial, a sua interrelação com o restante “centro histórico”. No entanto, é comum considerar Couros como uma zona marginal, um arrabalde. E de facto, assim foi. Mas hoje sabemos que quando o aglomerado urbano reconhecido atualmente como Guimarães começou a formar-se, há mil anos, é altamente provável que naquele mesmo local, dos Couros, e com sensivelmente as mesmas técnicas que usavam há poucas décadas atrás contemporâneos nossos; a Zona de Couros já existisse. Ou seja, se já sabíamos que Guimarães é indissociável da História de Portugal, hoje sabemos que Couros é indissociável de Guimarães. E, como tal, da História de Portugal. Em síntese, que bom é celebrar estes 20 anos de missão com a responsabilidade de reconhecer (ainda) mais Património Mundial a Guimarães. (Ricardo Rodrigues, Câmara Municipal de Guimarães)

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