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Património Mundial de Influência Portuguesa
Walter Rossa*
Ao longo de quase seis séculos, os portugueses partilharam a sua língua e a sua cultura a uma escala global, recebendo e transmitindo influências de diversa natureza, patentes ainda hoje nos nomes de lugares, pessoas e objetos nas mais diversas línguas, na riqueza da gastronomia e em tradições ancestrais que hoje ainda perduram. Essa interação materializou-se igualmente em património de valor universal excecional edificado de diferentes tipologias construído em África, na América do Sul e na Ásia, que faz parte do Património Mundial de toda a Humanidade.
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Destacamos aqui quatro sítios, entre muitos outros, que integram a Lista do Património Mundial da UNESCO que denotam a influência da passagem dos portugueses por aquelas paragens.
A Comissão Nacional da UNESCO disponibiliza uma exposição sobre este tema.
Cidade Portuguesa de Mazagão (El Jadida) (Marrocos)
O bem resulta da construção, em 1541, de um perímetro fortificado para acolher uma pequena povoação. O seu projeto foi alvo de um intenso debate técnico, pois introduzia-se, pela primeira vez em domínios portugueses, mas também fora da Europa, o sistema abaluartado da fortificação moderna. Já na povoação seguiram-se apenas regras básicas determinadas pela existência, no seu centro, de uma pequena torre erguida em 1514 também pelos portugueses. A base dessa torre foi então adaptada a cisterna, que é um dos mais belos interiores da arquitetura portuguesa.
©Walter Rossa
Igrejas e Conventos de Goa (Índia)
(Velha) Goa teve uma existência urbana tão fugaz quanto o mito que de si criou. A monumentalidade da sua arquitetura religiosa foi a grande razão da construção desse mito e, assim, da conservação do sítio e da memória da antiga capital do Estado da Índia Portuguesa, ainda hoje sede de um dos quatro patriarcados católicos. Daí que o bem inscrito seja o conjunto de igrejas e conventos que perduram, algumas em ruína, além das que, tal como a cidade, desapareceram. Tudo pelo meio de um fantástico palmeiral à beira do rio Mandovi que corre para o mundo.
Rio de Janeiro: paisagens cariocas entre as montanhas e o mar (Brasil)
©Ruy Salaverry
Só a excecional paisagem de fusão entre urbano e natureza poderia ter levado ao reconhecimento excecional pela inscrição na Lista de um bem com esta formulação. Séculos de intervenção humana num território com caraterísticas únicas, produziram uma cidade onde o urbano tem expressões paisagísticas muito diversas, sempre contextualizadas pelo meio natural, que também é resultado de intensa intervenção humana. Do que são bons exemplos a Floresta da Tijuca e o Jardim Botânico, mas também as praias do mar e a baía, bem como a lagoa.
Ilha de Moçambique
A Ilha, como basta aos moçambicanos, é um longo (2.9Km) e estreito (m. 0,4Km) afloramento de coral, no qual os portugueses estabeleceram uma importante base de apoio à Carreira da Índia, mas também à gradual instalação colonial, que acabou por determinar a criação do país a que deu o nome. A sua beleza natural pode ser considerada metáfora da extraordinária fusão cultural que em tudo nela se apresenta, desde logo os seus habitantes, mas também das suas variadas arquiteturas, incluindo o forte de S. Sebastião, uma das mais expressivas construções coloniais em África.
*Professor Catedrático, Responsável pela Cátedra UNESCO Diálogo Intercultural em Patrimónios de Influência Portuguesa (2019)
©Walter Rossa