ENOGASTRONOMIA Conheça o percurso de Collio na fronteira com a Eslovênia
RIO 2016 A tecnologia italiana da fornecedora oficial das piscinas olímpicas
CAFÉ GOURMET Marcas investem no segmento, que cresce no país www.comunitaitaliana.com
Rio de Janeiro, julho de 2015
Ano XXI – Nº 204
ISSN 1676-3220
R 9,00 R$ 14,90
1994 - 2015
Os segredos do sofá
Pasquale Natuzzi, que democratizou o mercado das poltronas de couro nos anos 1980, revela por que continua investindo no Brasil, cuja crise não o assusta
Um roteiro para curtir a Itália com os filhos
J u l ho de 2015
A no X X I
N º204
Nossos colunistas 07 | Cose Nostre Giorgio Armani assina o uniforme olímpico da Itália nos Jogos do Rio 2016
10 | Fabio Porta La vittoria dei “no” al referendum in Grecia riapre la discussione sul modello di integrazione europea
11 | Domenico De Masi Mas será verdade que exercer o poder torna mais felizes do que fazer amor?
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37 | Ary Grandinetti Nogueira Sobre amigos,
O maior arquivo italiano de artes e espetáculos do século XX fica numa catedral da periferia de Parma e abre seu acervo de 12 milhões de peças a visitantes e pesquisadores
CAPA 26 | O rei do sofá
Turismo 22 | Enogastronomia
Grupo que revolucionou o mercado mundial de sofás de couro não se intimida diante da crise econômica brasileira e anuncia a abertura de novas lojas ainda em 2015
Na fronteira com a Eslovênia, um percurso milenar inclui degustações de Pinot e Sauvignon, castelos medievais e marcas da Primeira Guerra
Turismo
Atualidade 12 | Digitale Sia in Brasile che in Italia gli smartphone sono il mezzo principale per il reperimento delle notizie
18 | L’Italia dei bambini Dicas e dez roteiros para você programar sua viagem com os filhos e se divertir (e aprender) muito com eles
14 | De Mântova Fornecedora oficial das piscinas dos Jogos Olímpicos do Rio é italiana e revela à Comunità outros projetos em andamento no Brasil
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16 | Conferência
Sociedade 34 | Um presente para o Rio Graças a uma iniciativa do Consulado italiano, praça esquecida no centro da cidade vira um animado ponto de encontro, com música e gastronomia
família, carreira e os olhares tolerantes, respeitosos, mas impávidos
39 | Guilherme Aquino Mostra interativa sobre a tecnologia alimentar do pavilhão japonês encanta o público da Expo
42 | Claudia Monteiro De Castro Viver em uma cidade como Roma me fez desenvolver a arte de ser zen
Gastronomia 28 | Café gourmet Espressos e cafés especiais passam a cair no gosto dos brasileiros, e marcas investem cada vez mais nesse segmento
Com a presença de chefes de Estado, sétima edição de evento em Milão reforçou intercâmbios entre a Itália e os países da América Latina e Caribe
Mostra 33 | Não é de hoje Mostra em Roma comprova que a globalização e o deslocamento da produção já eram práticas comerciais adotadas pelo Império Romano
julho 2 0 1 5 | c o m u n it à it a lia n a
35 | Praticidade Jovens empreendedores da Campânia lançam um kit para produzir cogumelos em casa
Moda 38 | Italian Style A elegância dos últimos modelos de botas e sapatos das grifes italianas cai bem no inverno brasileiro
Editorial
Expediente
FUNDADA
Mais Europa!
A
União Europeia foi criada para que nunca mais dali por diante o continente passasse por guerras que durante séculos tingiram os países de sangue. Quando o primeiro ministro grego sobe o tom ao decidir não pagar as dívidas do país e ameaça clara de abandonar o euro, volta o temor de que o que é hoje uma sólida instituição em bloco se dissipe. O sentido de irreversibilidade da União Europeia pode ir por água abaixo com uma saída da Grécia. Isso preocupa e afeta a todos nós. Dias atrás, os gregos reivindicaram inclusive o pagamento por danos da Segunda Guerra a Berlim. As razões para estar juntos em paz são numerosas e muitos de nossos pais e avós sabem disso porque sobreviveram ou se foram em tempos difíceis que culminaram com a grande epopéia migratória. E essas razões esmorecem com egoísmos nacionais como o de países que recebem gigantescos recursos europeus, porém fecham suas portas para milhares de refugiados e não querem dividir os problemas e as responsabilidades. A UE está sufocada por regras que tornam a amizade insuportável. O rigor sacrossanto das contas públicas não prevê um bom senso pela enorme mas natural diferença entre os países. Com esse ambiente, uma faísca pode queimar o sonho europeu. Em 23 anos de união, até hoje lutam pelo ensinamento de matérias que façam parte de um programa didático comum. Não basta uma bandeira igual aos participantes tremulando no alto dos edifícios públicos. É fundamental que uma geração de estudantes aprendam o sentido dessa relação, o que são o Parlamento e a Comissão europeia e, sobretudo, o significado de serem cidadãos europeus desde criança. Pietro Petraglia Editor
Que nenhuma intolerância seja maior que as conquistas sociais européias vitais para o equilíbrio mundial. Boa leitura!
EM
MARÇO
DE
1994
DIRETOR-PRESIDENTE / EDITOR: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) PUBLICAÇÃO MENSAL E PRODUÇÃO: Editora Comunità Ltda. TIRAGEM: 70.000 exemplares ESTA EDIÇÃO FOI CONCLUÍDA EM: 10/07/2015 às 07h30 DISTRIBUIÇÃO: Brasil e Itália REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 E-MAIL: redacao@comunitaitaliana.com.br REDAÇÃO: Guilherme Aquino; Gina Marques; Cintia Salomão Castro; Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi; Aline Buaes; Giuseppe Bizzarri SUBEDIÇÃO: Cintia Salomão Castro REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br CAPA: Divulgação COLABORADORES: Pietro Polizzo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Venceslao Soligo; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola; Lisomar Silva; Ary Grandinetti Nogueira CORRESPONDENTES: Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Quintino Di Vona (Salerno); Gianfranco Coppola (Nápoles); Stefania Pelusi (Brasília); Janaína Pereira (São Paulo); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); PUBLICIDADE: Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 comercial@comunitaitaliana.com.br REPRESENTANTES: Central de Comunicação contato: Cláudia Carpes tel. 61.3323-4701 / Cel. 61.8218-5361 brasilia@centralcomunicacao.com.br SCS QD 02, Bloco D, Salas 1002/1003 Edifício Oscar Niemeyer - Brasília ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.
La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220
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julho 2 0 1 5 | c o m u n it à it a lia n a
cosenostre Sophia Loren diva do cinema mundial virá ao Brasil em
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setembro, acompanhada do filho e diretor Edoardo Ponti, para participar da primeira edição da mostra de cinema italiano Belíssima, no Teatro da FAAP, em São Paulo. O evento fará uma retrospectiva dos 65 anos de sua carreira. No ano passado, Loren foi homenageada em Cannes, quando foi lançado o curta-metragem La voce umana, dirigido pelo filho e tendo Loren como protagonista. A última vez que a atriz esteve no país foi durante o lançamento do Calendário Pirelli, em 2012, no Rio.
Calendário Pirelli 2016 or falar em Calendário
P
Pirelli, após 15 anos, a fotógrafa americana Annie Leibovitz volta a assiná-lo. As fotos para o próximo ano foram feitas, no maior segredo, no estúdio da própria Leibovitz, no bairro de Meatpacking, em Nova York.
Bertolucci e Bellocchio ois dos mais importantes cineastas ita-
D
lianos, Bernardo Bertolucci (O Último Tango em Paris) e Marco Bellocchio (Bella addormentata), confirmaram presença no 11º Festival de Cinema Italiano no Brasil, em São Paulo. Os diretores (que já atuaram juntos em Amor e Raiva, de 1969) serão recebidos com uma festa no Auditório Ibirapuera, na abertura do evento, no dia 24 de novembro. Além da exibição de filmes de ambos, o festival 2015 vai trazer as principais produções italianas da atualidade.
Coliseu moderno
Juve no cinema
O
capitão giallorosso Francesco Totti definiu o novo estádio do clube como Coliseu moderno. “A nossa Roma terá um estádio que a representará no mundo, como a nossa história merece”, declarou durante apresentação do projeto ao prefeito da capital italiana Ignazio Marino. O clube já divulgou as primeiras fotos do estádio, com capacidade para 52,5 mil pessoas, com a possibilidade de expansão para 60 mil. A nova arena deverá substituir o Estádio Olímpico. O financiamento de 300 milhões de euros é totalmente privado, com previsão de inauguração para 2016/17. Haverá também restaurante, anfiteatro, lojas e um centro de treinamento.
Foz-Itália
O
presidente da Embratur, Vinícius Lummertz, a vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti, e o prefeito de Foz do Iguaçu, Reni Pereira, se reuniram para discutir a criação de um voo entre a cidade paranaense e a Itália, sem escalas. A rota seria operada pela Alitalia. “Essa ligação direta pode transformar Foz do Iguaçu em um grande hub, distribuindo passageiros para cidades como Brasília, Florianópolis, Curitiba e outros municípios da região”, declarou Lummertz.
A
G
iorgio Armani é o fornecedor do vestuário formal e de lazer das equipes olímpica e paraolímpica da Itália para os Jogos do Rio 2016, como já tinha feito para as Olimpíadas de Londres 2012 e os Jogos de Inverno em Sochi, em 2014. O kit inclui casaco impermeável com capuz e zíper central; polo na variante branca, com gola tricolor e o verso do hino italiano Fratelli d’Italia; bermudas; calças curtas e longas com bolsos amplos para melhorar a funcionalidade; dois modelos de tênis branco e azul e com as cores da bandeira italiana. O uniforme destinado ao pódio se destaca com as inserções gráficas brancas. Atrás, aparece a palavra Italia, em dourado.
A casa de Da Vinci
A
fortaleza de luxo com vista para o mar projetada pelo gênio do Renascimento, Leonardo da Vinci, situada em Piombino, na província de Livorno, está à venda. Em 1800, o local se tornou residência da irmã de Napoleão, a princesa Elisa Bonaparte. A casa é conhecida como Vila Vitoria e seu valor está estimado entre 5 e 10 milhões de euros.
Olhar sobre o cotidiano
O
fotógrafo ítalo-brasileiro Giancarlo Giannelli apresenta, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas José Pancetti, a exposição “Trotamundos ou mirando minhas desconhecidas cidades”, que vai até 2 de agosto. As fotografias de diversas cidades brasileiras e estrangeiras oferecem um passeio sensorial por paisagens e cenas. Giannelli morou na Itália, onde começou a fotografar a arte contida no cotidiano. Seu trabalho foi exibido na Mostra Itália: 150 Anos, em Castelraimondo (2011 e 2012).
história da Vecchia Signora virou filme: um longa foi apresentado no festival Kicking and Screening de Nova York. Os autores de Black and white stripes: the Juventus story são os irmãos ítalo-canadenses Mauro e Marco da Villa que, após a morte do pai, torcedor fanático, decidiram fazer o projeto. A obra traz entrevistas com personagens importantes, entre dirigentes e jogadores, além de imagens de arquivos. Por enquanto, está sendo apresentado somente em festivais.
Uma rua de presente
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construtora Italiana deu um presente à população do interior de São Paulo: edificou gratuitamente a Avenida Brasil, na cidade de Cachoeira Paulista. O evento de inauguração reuniu a vice-cônsul de São Paulo, Francesca Maria Orsini, e o prefeito João Luiz Ramos. “O mirante do Padre Leo se beneficiou, pois a posição permite que os visitantes tenham um panorama do Vale do Paraíba. A estrada era de terra e em dias de chuva era perigosa. Agora, cidadãos e turistas têm fácil acesso”, explica o diretor da empresa, Edoardo Pozzi, um torinese que mora no Brasil há apenas quatro anos.
com unit àit aliana | j ulho 2015
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Opinião enquete
frases
Varas de Infância e Justiça do Trabalho divergem sobre autorizações para empregar menores. Você acha que deveriam trabalhar?
Sim - 70% Não - 30% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 15/06/15 e 22/06/15.
cartas
“M
inha filha está cursando Medicina na Università di Pavia, graças a uma notícia veiculada na revista. Ela procurou mais informações na internet e seguiu todas as etapas necessárias. Proponho que Comunità aprofunde o tema para auxiliar principalmente os oriundos. Grazie!” MARCOS SICILIANO ROSI, por e-mail
“A
revista, da qual sou assinante, enriquece minha alma todos os meses com excelentes reportagens e artigos, levando-me a compartilhar do quotidiano do povo italiano, da arte, literatura e culinária, deixando em mim o desejo de voltar. Abbracci a tutti.” TANIA FATTORI, por e-mail
“Per mio figlio vorrei una vita più facile, e non c’è dubbio che per un ragazzo gay la vita è più complicata. Gli adolescenti si vestono tutti uguali, guardano tutti le stesse cose e un omosessuale sarebbe visto come una diversità”,
“O bom de escrever um romance é isso, é como colocar as peças sobre o tabuleiro e, depois, sentar-se ali tranquilo e ver que as peças se movem sozinhas e ganham”,
Daniela Santanchè, onorevole di Forza Italia intervistata da Radio24
“A ópera lírica é o paraíso da música. Permite expressar o inexprimível, educandonos à beleza. Abre o coração e a mente. Acende em nós no agora o desejo sensual (...). O canto lírico é um bem de inestimável valor”,
Umberto Eco, escritor italiano ao apresentar seu novo livro Número Zero, em entrevista à GloboNews
“O jovem soldado não pensa. Vai para o campo de batalha sabendo que vai viver ou morrer. Não pensa que pode perder um pé, uma perna. Como todo imbecil, também pensei: ou me matam ou sobrevivo. Eles não me mataram, mas não me deixam viver”,
Andrea Bocelli, cantor italiano
“Não contará a história de um santo, mas de uma vida extraordinária, para o bem e para o mal”,
Roberto Saviano, escritor italiano que cancelou a vinda à Flip 2015, no Brasil, devido a ameaças à sua integridade, jurado de morte pela máfia desde 2006
Alan Friedman, jornalista norte-americano que escreveu a primeira biografia autorizada de Silvio Berlusconi, que será publicada no início do outono na Itália
“Existem casos em que a separação é inevitável, inclusive moralmente necessária, para tirar os filhos da violência e da exploração e até da indiferença e do estranhamento”,
“Gostaria de fazer política até o dia 22 de fevereiro de 2024. Depois vou estudar e quero ser professor”, Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, em entrevista ao jornal The New Yorker
Papa Francisco, em audiência na Praça São Pedro, no Vaticano
redes sociais
Fim de tarde na encantadora Veneza, Piazza San Marco! 8
Regina Clelia Pontoglio: A única coisa nada encantadora é esse bando de pombos transmitindo doenças. O lugar é lindo, mas correr risco de levar uma carimbada de pombo não é legal.
A movimentada noite de sábado em Belluno no verão da região do Vêneto!
julho 2 0 1 5 | c o m u n it à it a lia n a .c o m | f acebook .com / com unit ait alianapage
Joao Annibale: Terra di mia bisnonna, nata a Lentiai. In veneto “se dise - L’è bea, l’è granda, me piase da murir. Me piaseria ritornar. ‘Ndemo tutti noialtri!”
Serviço agenda
XIII Festa do Vinho Organizada pela Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo de São José dos Pinhais (PR), o evento tem como objetivo fomentar o turismo rural na região do Caminho do Vinho, na Colônia Mergulhão, e busca ainda resgatar tradições típicas, com apresentações de grupos folclóricos italianos, poloneses, ucranianos, gregos, alemães e de outras etnias. Os visitantes poderão consumir a culinária tipicamente italiana e conferir apresentações de coral italiano, mostras folclóricas e bandas convidadas. De 14 a 16 de agosto Rua Júlio Cesar Setenareski São José dos Pinhais (PR)
Mostra Arte da Itália de Rafael a Ticiano O Masp inaugurou a exposição no dia 25 de junho. São 30 peças que vão do século XIII ao XVIII, passando pelos períodos Medieval, Renascimento e Barroco. Inclui obras Rafael, Andrea Mantegna, Giovanni Bellini, Jacopo Tintoretto, Sandro Botticelli, Ticiano e Alessandro Magnasco. Integram a mostra documentos, correspondências de doações e aquisições. Até 20 de setembro MASP - São Paulo http://masp.art.br Marino Marini – do arcaísmo ao fim da forma Depois de passar por Porto Alegre, a retrospectiva internacional do pintor e escultor italiano Marino Marini segue para São Paulo. São 89 obras, entre pinturas, desenhos e 34 esculturas em bronze provenientes de Pistoia e Florença.
Marini (1901 – 1980) é um dos principais nomes da arte moderna italiana no século XX. De 18 de julho a 27 de setembro Pinacoteca do Estado de São Paulo www.pinacoteca.org.br
Salone Nautico Internazionale O International Boat Show de Gênova é o evento anual mais aguardado pelos velejadores. A cada ano, apresenta novidades sobre navios, equipamentos, vestuário e esportes aquáticos. Assim como no ano passado, a edição de 2015 vai contar com uma série de eventos paralelos de entretenimento e esporte. De 30 setembro a 5 outubro Piazzale Kennedy – Gênova www.salonenautico.com Sapori Italiani 2015 Feira de produtos alimentares típicos do Vêneto e das
naestante
montanhas Dolomitas. A Associação Italiana Sommeliers promove degustações dos principais vinhos produzidos na região, assim como um concurso para eleger os melhores rótulos. De 3 a 5 outubro Longarone Fiere Via del Parco, 3, Longarone www.longaronefiere.it World Retail Congress 2015 Trata-se do evento de maior destaque mundial da indústria varejista. Desde que foi criado, em 2007, recebeu mais de 350 participantes. O
congresso vai proporcionar às principais marcas varejistas uma oportunidade de se reunirem para participar de debates e compartilhar ideias. De 8 a 10 de setembro Rome Cavalieri - Roma www.worldretailcongress.com
clickdoleitor
Número Zero O novo best-seller de Umberto Eco é um romance que aborda o mau jornalismo. Um grupo de redatores, reunido ao acaso, prepara um jornal. Não se trata de um jornal informativo; seu objetivo é chantagear, difamar e prestar serviços duvidosos a seu editor. Um redator reconstitui 50 anos de história sobre um cenário que gira em torno do cadáver putrefato de um pseudo-Mussolini. Fazem parte do ambiente de fundo a loja maçônica P2, o assassinato do papa João Paulo I, o golpe de Estado de Junio Valerio Borghese, a CIA e terroristas. Editora Record, 208 páginas, R$ 27,65
Arquivo pessoal
Italia: Civilta e Cultura A obra oferece uma descrição abrangente do desenvolvimento histórico e cultural na península italiana. O projeto foi desenvolvido com o objetivo de dar a alunos e professores um livro de referência, fácil de ler, sobre a civilização e a cultura italianas, sendo também apropriado para aulas de literatura. Cada capítulo apresenta itinerários temáticos para promover discussões em classe e para a compreensão textual. Contém perguntas que ajudam a orientar os alunos. Editora UPA, 222 páginas, R$ 255
“E
stá foto foi feita no Coliseu por uma amiga. Minha risada era pelo fato de um amigo ter que pagar 45 euros a três atores que estavam ali, fantasiados de guardas romanos, ao invés de 15, que era o preço para se fazer a foto com um ator.” DIEGO QUEIROZ Rio de Janeiro (RJ) - por e-mail
f a c e b o o k.c o m / com unit ait alianapage | comunit àit aliana.com | j ulho 2015
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opinione FabioPor ta
Sarà “Grexit”?
La vittoria dei “NO” al referendum sull’Europa in Grecia riapre la discussione sul modello di integrazione europea Fabio Porta è il Presidente del Comitato italiani nel mondo e promozione del “Sistema Paese” della Camera dei Deputati italiana; laureato in sociologia economica, vive in Brasile dal 1995
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L
a chiara vittoria dei “NO” nel referendum che si è tenuto in Grecia sull’adesione alle dure misure di austerità imposte dall’Unione Europea costituirà senz’altro un punto di non ritorno relativamente al futuro del lungo e complesso processo di integrazione del “vecchio continente”. Sbaglierebbe però chi pensasse che la grande maggioranza dei greci abbia voluto chiudere la porta all’Europa con questo “NO” al quesito referendario; in Grecia, come in Italia del resto, la stragrande maggioranza della popolazione ritiene ormai ineludibile e assodata l’appartenenza all’Unione Europea e considera l’Euro come una conquista, come la loro moneta e dei propri figli. Ciò a cui si dice “NO”, sicuramente in Grecia ma probabilmente anche in Italia, è ad un’Europa fatta solo di vincoli e di divieti, soprattutto in materia economica; un’Europa del rigore alla quale negli ultimi anni non ha corrisposto un’altra Europa che stimolasse la crescita, lo sviluppo, l’espansione della produzione e dei consumi di un mercato di oltre trecento milioni di consumatori. Quando Matteo Renzi, più di un anno fa, si pose alla guida del nostro Paese, disse chiaramente che avrebbe dedicato gran parte dei suoi sforzi in politica estera al cambiamento del paradigma che fino ad allora aveva caratterizzato l’unione dei 28 Stati dell’Unione Europea: il rigore è l’austerità. Attenzione ! Nessuna persona di buon senso, a partire dal nostro Presidente del Consiglio, pensa che tenere in ordine i conti pubblici e sotto controllo l’inflazione sia un’eresia; al contrario, siamo tutti convinti che per procedere su una vera strada di integrazione sociale ed economica questi siano due dei presupposti fondamentali per garantire coerenza e stabilità all’unione politica e monetaria europea. Ciò che Renzi voleva dire, e che i greci hanno probabilmente “urlato” con il risultato del loro referendum, era un’altra cosa: l’Europa deve tornare ad essere concepita dai suoi cittadini come un sogno, un’aspirazione, una speranza di futuro in grado di muovere passioni ed energie; non quindi un elenco di regole e paletti ai quali attenersi. Nonostante questo, però, il nostro Renzi (e noi con lui) non avrebbe votato “NO” al referendum greco, anche se ciò potrebbe apparire paradossale; potrebbe ma non lo è perché se è vero che l’Europa di questi ultimi anni non ci convince, crediamo meno ancora nell’Europa degli egoismi e degli individualismi, dell’anarchia e della mancanza di regole e del rispetto degli impegni presi. La nostra Europa, in sostanza, è — né più né meno — una grande famiglia, una grande comunità nella quale entrando ciascun integrante si impegna a mantenere gli impegni presi, anche a costo di imporre qualche sacrificio ai propri cittadini. Onori ed oneri, in altre parole. Sì, perché fare parte dell’Europa dovrebbe riempirci tutti
julho 2 0 1 5 | c o m u n it à it a lia n a
Dalla Grecia e dall’Italia potrebbe nascere un nuovo modello di Europa d’orgoglio ma anche di responsabilità, e questi sentimenti sono oggi sentiti da milioni di persone da Londra ad Atene, da Berlino a Roma, da Parigi a Lisbona. Per il sogno europeo, che è un sogno fatto di pace e di civiltà, e soprattutto di uno dei più elevati livelli di qualità della vita, centinaia di migliaia di persone rischiano ogni anno la propria vita provando a varcare frontiere spesso inaccessibili e affrontando viaggi a volte rischiosissimi. A queste donne e a questi uomini non sempre i Paesi dell’UE riescono a garantire accoglienza e ospitalità; anzi, molto spesso rispondono con politiche ostili se non addirittura xenofobe. Anche qui noi italiani siamo in prima linea e anche in questo caso chiediamo all’Europa più solidarietà e meno rigidità. Ancora una volta la lotta è tra il buon senso e l’ottusità, la ragionevolezza e la cecità. Ci consola una speranza: dalla Grecia e dall’Italia potrebbe forse nascere una nuova Europa; non è un caso che greci e italiani siano i discendenti delle più grandi civiltà del mondo classico, le patrie del diritto e della filosofia, in una parola: del buon senso!
opinione
DomenicoDeMasi
Poder e felicidade Os antigos nos ensinam que é possível ser feliz no poder somente quando este é exercido de maneira justa e criativa
D
iz um provérbio da Itália do sul que exercer o poder torna as pessoas mais felizes do que fazer amor. Procurei na história algum testemunho que pudesse confirmar este provérbio. Qual teria sido a felicidade de Don Juan de Áustria quando derrotou os turcos em Lepanto? E a de Napoleão quando venceu a batalha em Austerlitz? E a de Hitler, enquanto milhares de jovens desfilavam debaixo de seus olhos no estádio de Nuremberg? E aquela de Stalin, Churchill e Roosevelt reunidos em Yalta para dividir entre si o mundo? Como decifrar o entusiasmo de um papa enquanto benze milhões de fiéis ajoelhados a seus pés? O delírio da onipotência de um chefe que vende e compra, contrata e demite? A torva volúpia de um torturador enquanto sevicia suas vítimas indefesas? Depois, pensei no conforto que deve ter provado De Gasperi quando, diante da assembleia das Nações, defendeu a Itália derrotada. E o alívio de Kennedy quando, diante do muro de Berlim, lembrou que nunca, nenhuma nação antes da sua, tinha mantido longe da pátria tantos filhos, não para trazer a guerra, mas para manter a paz. Hoje temos a impressão, talvez não infundada, que depois da morte de personagens como Mao, De Gaulle, Adenauer, o mundo ficou órfão de grandes líderes carismáticos. Só resta a comparação entre Papa Francisco e seus recentes antecessores. Portanto, só nos resta contentarmos com o passado mais remoto, voltando a testemunhos imortais, como aquele em que Tucídides descreveu a sã e consciente felicidade proporcionada pelo poder embasado na sabedoria. Estamos na Atenas de 430 antes de Cristo. A hegemonia da cidade está ameaçada pela rival Esparta, e a guerra do Peloponeso já causou as primeiras mortes. Tucídides conta que, na cerimonia solene para o sepultamento dos jovens heróis, Péricles é chamado a pronunciar seu elogio fúnebre. Ele sobe em um alto palanque, assim que sua voz possa alcançar mesmo os que estão mais longe, e lembra ao seu povo, que ali estava reunido de forma ordenada, que os guerreiros de Atenas têm que defender um patrimônio muito mais precioso do que aquele que as cidades inimigas possuíam. Precisam defender a democracia: uma forma de governo em que todos são iguais perante a lei; em que os cargos públicos são atribuídos não com base nos partidos aos quais pertencem, mas na base do merecimento; em que o cidadão que se desinteresse da política não é considerado pacífico, mas inútil; em que se discute antes de tomar decisões; em que a ousadia se casa com o cálculo, sem ser nem afoitos, nem hesitantes. Uma forma de vida em que o decoro social advém da contribuição que cada um, mesmo o mais pobre, pode dar à cidade; em que todos os cidadãos obedecem às leis escritas e até àquelas não escritas, quando todos as considerarem respeitáveis; em que uns ajudam os outros “não por um cálculo de utilidade,
mas por uma confiante liberalidade”. Inclusive, graças à sua importância, Atenas possui bens de todo tipo, que lá chegam de todas as partes do mundo. Estamos diante do esquife de jovens mortos para defender a pátria, diante de seus parentes em luto, diante do inteiro povo ateniense, compacto no silêncio e na dor. Mesmo assim, Péricles não se limita a elencar os méritos políticos, próprios de sua cidade. Logo depois, e com igual ênfase, acrescenta: “Além disso, como alívio para o cansaço, providenciamos para o nosso espírito muitos tipos de lazer, celebrando, segundo os costumes de nosso povo, jogos e festas que se sucedem o ano inteiro, e morando em casas que dispõe de todo o conforto, que afastam de nós a tristeza”.
Domenico De Masi, um dos mais importantes sociólogos italianos, é conhecido pelo conceito de “ócio criativo”, título de um de seus livros mais vendidos no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação
Mas será verdade que exercer o poder torna as pessoas mais felizes do que fazer amor? Atenas nada tem a esconder: mesmo quando prepara as guerras, permite a qualquer estrangeiro entrar e sair da cidade a seu bel-prazer. Conta com o valor, não com estratagemas; não educa os jovens para o heroísmo militar, embora depois ganhe pontualmente as guerras. Seus cidadãos amam “enfrentar os perigos com nobre autoconfiança, em vez de ser um incômodo exercício, e com uma coragem que não é fruto de leis, mas de uma determinada maneira de viver”. E, depois, Péricles nos oferece o suco da felicidade coletiva: “Nós amamos o belo, mas com moderação; amamos a cultura do espírito, mas sem frouxidão. Usamos a riqueza mais pela oportunidade que oferece à ação, que por uma tola forma de nos vangloriarmos da palavra, e não reconhecer a pobreza é vergonhoso entre nós, porém mais vergonhoso é não fazer qualquer coisa para afugentá-la”. Eis, em síntese, a consciente, serena, profunda felicidade que pode brotar do poder: só quando é justo e criativo. com unit àit aliana | j ulho 2015
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Attualità
Rivoluzione digitale Le notizie corrono sugli smartphone, mentre crollano le vendite dei giornali: i brasiliani, al contrario degli italiani, si fidano dei mezzi d’informazione Stefano Buda
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Da Roma
talia e Brasile ai tempi dell’informazione digitale. Il Reuters Insitute for the Study of Journalism, in collaborazione con la Oxford University, realizza ogni anno uno studio approfondito sulle abitudini di consumo dell’informazione in 12 nazioni del Globo. Tra i Paesi monitorati attraverso il Digital News Report, che quest’anno ha prodotto un rapporto lungo 112 pagine, figurano l’Italia e le aree urbanizzate del Brasile, insieme a Stati Uniti, Gran Bretagna, Germania, Spagna, Francia, Irlanda, Danimarca, Finlandia, Giappone e Australia. La ricerca restituisce uno sguardo che, per quanto parziale, risulta ampio, approfondito e significativo. Numerose le affinità che, nel bene e nel male, avvicinano Italia e Brasile. Emergono anche alcune discrepanze: la più evidente è legata all’elevato grado di fiducia che i brasiliani, a differenza degli italiani, continuano a riporre nei mezzi d’informazione. Tra i trend convergenti, invece, quello che colpisce di più è che i due Paesi risultano ultimi per livello di penetrazione della rete Internet tra le rispettive popolazioni (59% nel caso dell’Italia e 54% nel caso del Brasile). Il ritardo, nei confronti delle altre realtà esaminate, appare
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abissale: non solo i primi in graduatoria (Danimarca e Finlandia con il 97%), ma anche la Spagna (terz’ultima con il 75%) sono molto più avanti. Nonostante il web non abbia ancora raggiunto quote particolarmente ampie delle popolazioni italiana e brasiliana, sia lungo lo Stivale che nella Terra verde-oro l’informazione viaggia principalmente sugli smartphone: in entrambi i Paesi, infatti, sono le app e i siti online, consultati tramite cellulare, le prime fonti per il reperimento delle notizie. Una tendenza in linea con gli altri dieci Stati presi in esame: l’accesso al sistema dell’informazione tramite smartphone vede in testa Australia (59%), Danimarca (57%) e Irlanda (52%), con Italia (44%) e Brasile (41%) che si piazzano sorprendentemente davanti a Paesi altamente digitalizzati come Giappone (33%), Germania (34%) e Francia (37%).
Molto più limitato, invece, l’approvvigionamento di notizie attraverso i tablet: sia i Paesi al vertice della graduatoria, (Danimarca e Australia, rispettivamente con il 39% e il 35%) sia i fanalini di coda Italia e Brasile (entrambi fermi al 19%) evidenziano performance piuttosto deludenti. L’importanza della televisione resiste all’irruzione digitale in tutto il mondo, soprattutto da parte degli anziani Il riflesso più immediato, prodotto dall’irruzione delle tecnologie digitali nell’ambito del sistema dell’informazione, è il crollo verticale e generalizzato della carta stampata: i giornali sono la prima fonte di informazione soltanto per il 14% dei finlandesi e dei giapponesi, mentre negli altri Paesi le cose vanno perfino peggio, con l’Italia inchiodata all’8% e il Brasile ultimo in classifica
con appena il 4%. Resiste, al contrario, l’informazione televisiva, che continua a giocare un ruolo preminente nella maggior parte delle aree del globo: il record appartiene alla Francia (58%), con Germania (53%), Italia (49%) e Giappone (49%) che seguono a ruota. Il piccolo schermo si conferma primo fornitore di notizie anche nel Regno Unito e in Spagna, mentre in Brasile, come negli Stati Uniti, in Irlanda, in Danimarca, in Australia e in Finlandia, l’informazione online ha superato quella televisiva. Quanto ai notiziari televisivi, in Italia i cinque telegiornali tradizionali (Tg1, Tg2, Tg3, Tg4 e Tg5), tutti insieme, occupano il 61% dell’intero segmento, seguiti da TgCom 24 (al 32%), Tg La7 (al 31%) e Rai News (al 30%), mentre in Brasile è Globo News, da sola, a fare la parte del leone (50%), con Jornal do SBT (40%), Record News e Band News (entrambe con il 33%) che faticano a tenere lo stesso passo. Le dinamiche legate alla scelta dei media, per il reperimento delle informazioni, risultano certamente influenzate da aspetti di tipo
Sia in Brasile che in Italia l’informazione viaggia sugli smartphone: sono le app e i siti online, consultati tramite cellulare, le prime fonti per il reperimento delle notizie
sociale, economico e geografico, ma a giocare un ruolo determinante sono anche i fattori anagrafici e generazionali: un po’ ovunque l’informazione online è in larga parte prerogativa dei giovani (il 60% nella fascia di età 18-24 anni), mentre l’informazione televisiva è sempre più appannaggio degli anziani (il 54% nella fascia degli over 55). Per quanto riguarda la fiducia dei cittadini nei mezzi di informazione, il panorama appare molto diversificato. I brasiliani sono tra coloro che si fidano di più (62%): soltanto i finlandesi (68%) evidenziano un maggiore livello di fiducia nei mezzi d’informazione del proprio Paese, mentre i tedeschi si piazzano in terza posizione (60%). Discorso diametralmente opposto per gli italiani, terz’ultimi in graduatoria con il 35% di fiducia nei mezzi d’informazione nazionali. I più scettici e disillusi sono però gli spagnoli (34%) e gli statunitensi (32%). Il Digital News Report, infine, fornisce una panoramica relativa ad ognuno dei 12 sistemi nazionali presi in esame. Soffermandosi sulle realtà dell’informazione di Italia e Brasile, nel primo caso i siti d’informazione online più visitati sono quelli del quotidiano La Repubblica (22%), di Google News (19%), dell’agenzia Ansa (19%) e del quotidiano Il Corriere della Sera (18%), mentre nel secondo caso si impongono G1 online (38%), UOL online (34%) e R7 online (30%). Restando nel campo dell’informazione online, il Brasile è il Paese in cui si registra la più alta quota di popolazione che ha accettato di pagare per accedere alle notizie sulla rete (23%), mentre l’Italia, nello stesso ambito, si piazza in quarta posizione (con il 12%).
Condividono notizie su Facebook il 70% dei brasiliani e il 55% degli italiani Anche i social network, sia in Italia che in Brasile, hanno assunto un ruolo fondamentale nella diffusione dell’informazione: su Facebook condividono notizie il 55% degli italiani e il 70% dei brasiliani, su Youtube il 25% degli italiani e il 34% dei brasiliani e su Whatsapp il 18% degli italiani e il 34% dei brasiliani. Ancora bassa, sia in Italia che in Brasile, la diffusione delle notizie tramite Google Plus e Twitter.
Il sistema dell’informazione, in sostanza, si sta ridefinendo a livello globale. L’esplosione del web ha certamente aperto nuove frontiere e offerto ulteriori opportunità, a partire dall’immediatezza e dall’interattività. E’ anche vero, però, che non sempre il web fornisce garanzie sufficienti sul piano dell’attendibilità e dell’indipendenza delle fonti. Ed è vero anche che un’informazione personalizzata e in pillole, come quella che si va profilando sulla rete, rischia di inaridire e limitare lo sguardo dei cittadini. ComunitàItaliana, in linea con la propria storia ultraventennale, cerca di svolgere la propria funzione informativa con completezza e professionalità, continuando a rivolgersi ai lettori con rispetto e onestà intellettuale.
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Tecnologia italiana a nado
Diretora da Piscine Castiglione conta à Comunità por que a empresa italiana foi escolhida pela quinta vez para ser a fornecedora das piscinas dos Jogos Olímpicos e revela outros projetos em andamento no Brasil Stefania Pelusi
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contagem regressiva já começou e falta cada vez menos para o grande evento internacional que será realizado no Rio entre 5 e 21 de agosto de 2016. E na modalidade tecnologia em natação, a Itália já ganhou medalha de ouro: a Piscine Castiglione acaba de assinar o contrato para fabricar as piscinas do evento. Esta é a quarta vez que as piscinas olímpicas têm a assinatura da empresa. Em 1996 (Atlanta), 2008 (Pequim) e 2012 (Londres), a empresa foi a escolhida. — A nossa tecnologia é particularmente adequada para as piscinas de competição e as referências que obtivemos ao longo dos anos são uma testemunha disso — afirma à Comunità Annalisa Colletto, engenheira e diretora da empresa, do seu escritório em Castiglione delle Stiviere, na província de Mântova, na Lombardia. No Rio de Janeiro, a empresa vai construir 12 piscinas, que vão custar cerca de 10 milhões de euros. — Entre essas, instalaremos a piscina de 50 metros, onde acontecem todas as competições de natação, e a piscina dedicada ao aquecimento dos atletas, também com 50 metros — detalha Colletto. Ambas as piscinas serão instaladas no Estádio Olímpico de Desportos Aquáticos. Outra, com as mesmas dimensões, para a natação sincronizada, vai ficar no Centro aquático Maria Lenk. Além dessas, haverá piscinas como as do centro de treinamento dos atletas. Colletti explica que todas as piscinas utilizam a exclusiva Tecnologia Myrtha — um sistema modular de painéis de aço inoxidável laminado a quente, com uma membrana de PVC. — É um sistema que permite alcançar uma precisão milimétrica, com uma instalação extremamente rápida, que precisa de pouquíssima manutenção — frisa a engenheira. Além disso, a qualidade e a transparência perfeita da água são garantidas graças a um sistema inovador de filtragem e reciclagem que não interfere no desempenho dos nadadores, altamente sensíveis a qualquer movimento da água. 14
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Excelência italiana do made in Italy há 54 anos, empresa também vai assinar a gestão das instalações Nos Jogos de 2016, a companhia não será apenas construtora e fornecedora: ficará responsável pela gestão das instalações durante todo o período dos Jogos. A escolha é resultado da experiência e do conhecimento acumulados ao longo dos anos da empresa de tipo familiar, fundada por Giorgio Colletto em 1961 em Castiglione delle Stiviere, perto do Lago de Garda, e atualmente administrada pelos filhos. De início, as atividades se concentravam nas piscinas residenciais do território nacional, ao longo dos anos, e se especializaram no mercado das grandes instalações. As atividades foram expandidas no exterior a tal ponto que, hoje, mais de 70% da receita é resultado da exportação. Piscine Castiglione está presente fora da Itália com a marca Myrtha Pools, nome da tecnologia desenvolvida pela empresa. De acordo com o administrador delegado Roberto Colletto, investir em pesquisa e inovação é a chave para se destacar no mundo e para fazer da marca “uma garantia de que o made in Italy ainda sabe oferecer recursos de qualidade e capacidade únicas”. A relação com o mundo do esporte é central para o desenvolvimento da empresa, escolhida como parceria pelas federações de natação no mundo inteiro, entre as quais a Federação Internacional de Natação (FINA) e a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).
Além dos Jogos Olímpicos, a empresa tem outros projetos no Brasil. — Estamos realizando instalações no Centro de Formação Olímpica do Nordeste, em Fortaleza; no Clube Pinheiros, em São Paulo; e no Centro Paraolímpico Brasileiro de São Paulo, que, com seis piscinas, será o maior do mundo — destaca a diretora Annalisa Colletto. Apesar das dificuldades relacionadas principalmente aos impostos de importação, os empresários frisam que decidiram investir no Brasil por ser “um país extremamente interessante do ponto de vista comercial e também por serem apoiados por uma equipe local extremamente valiosa”.
Os números da empresa em 2015 Receita: 70 milhões de euros Mercados: 70 países no mundo Funcionários: 300 Distribuidores: 150 na Itália e 300 no mundo
Meio ambiente
Ventos a favor Apesar das dificuldades, Brasil e Itália usam seu potencial eólico para gerar energia elétrica Rodrigo Silva
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ano de 2014 trouxe bons resultados para a indústria de energia eólica brasileira, que finalizou o ano com 2,5 GW de novas instalações, mais que o dobro da capacidade registrada em 2013 quando foram instalados 958 MW. Em um contexto mundial, os números mostram a boa colocação do país em 2014, tendo em vista que a potência de 2,5 GW adicionada ao sistema foi o recorde nacional. Esse número também fez do Brasil o décimo país do mundo em capacidade instalada e o quarto que mais acrescentou potência. Espera-se, até 2019, atingir a marca de 15,2 GW. Para 2015, está prevista a instalação de 166 novos empreendimentos eólicos por todo o território, o que corresponde a uma potência de cerca de 4 GW. Tais números representam um aumento de 50% de capacidade instalada, passando dos atuais 6,6 GW para 9,8 GW. Segundo a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), que congrega 91 empresas, hoje, o país conta com sua maior capacidade instalada na Bahia, onde há 210 parques eólicos, seguida pelo Rio Grande do Norte, que reúne 177 parques. Na região Sul, o estado que lidera a capacidade instalada é Rio Grande do Sul, com 92 parques. A porta-voz da ABEEólica, Elbia Gannoum, cita, entre os fatores que impulsionam a industria eólica nacional, a crise hídrica e a redução do nível da água dos reservatórios. Por isso, o papel de outras fontes de geração de energia “ganha cada vez mais importância para a garantia do suprimento de energia e o aproveitamento ótimo do potencial disponível, inclusive por meio do uso da complementaridade”. — O regime de ventos demonstra que a fonte eólica é essencial para o Sistema Interligado Nacional (SIN), não somente pela geração efetiva, mas principalmente pela sua maior geração, justamente no período de seca,
o que permite uma maior otimização do parque hidrelétrico, pois garante a energia no sistema no período seco, e/ou preserva o nível dos reservatórios — avalia. Apesar dos avanços, o país ainda enfrenta algumas dificuldades, como a falta de planejamento e o atraso na entrega das linhas de transmissão. A causa é o descompasso entre os cronogramas das linhas e das usinas, o que leva a uma falta de sincronia entre a geração e da transmissão da energia produzida. Esse gargalo tem sido minimizado, principalmente, com os novos leilões de transmissão e a antecipação das licitações. A região da Campânia, onde fica o município com a maior capacidade instalada, se destaca no setor Na Itália, a história da energia eólica começou em 1995, quando os primeiros parques eólicos foram instalados na Puglia e na Campânia. A indústria teve um sólido crescimento até 2013, com uma média de 1 GW por ano. Apesar das condições para produção de energia eólica não serem favoráveis como acontece no Brasil, devido à forma alongada e estreita e pela presença das montanhas, como os Alpes, o país sempre ocupou posições de destaque nos rankings mundiais de produção e instalação de novas plantas.
Porém, a construção de novas usinas sofreu uma redução em 2013 e em 2014, ano em que o país foi ultrapassado por França e Grã-Bretanha em números absolutos referentes a novas instalações. Alguns desafios são a ineficácia dos incentivos e o fato do país ainda não possuir nenhuma instalação offshore. No entanto, os mapas mostram a expansão fora do âmbito territorial tradicional, que sempre foi do apenino meridional até Puglia, Campânia, Basilicata, Sicília e Sardenha, sobretudo, no caso das pequenas plantas com potência de até 200 KW. Um levantamento da Legambiente cruzou os dados da Gestore Servizi Elettrici (GSE), Associazione Nazionale Energia del Vento (ANEV) e informações de empresas. O município com maior capacidade instalada de geração de miniusinas é Bisaccia, na província de Avellino, na Campânia, com 26 torres e 2,9 MW de potência. A Legambiente conclui que o desafio para o desenvolvimento do setor na Itália está no estabelecimento de regras para incentivar a construção de novas plantas, acompanhar a manutenção e a ampliação das existentes, com equipamentos de maiores dimensões e potência, e melhorar a integração paisagística. O crescimento do setor não apenas contribuiria para amenizar o efeito das mudanças climáticas, como também atenderia às necessidades das famílias.
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Política
Por uma visão em comum
Sétima edição da Conferência Itália-América Latina e Caribe em Milão reforçou intercâmbios comerciais, investimentos e a cooperação entre os países participantes Stefania Pelusi
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Conferência Itália-América Latina e Caribe foi criada em 2003 e, desde então, a cada dois anos, é o encontro em que os países participantes dialogam e colaboram em assuntos de interesse em comum. Nesta sétima edição, os líderes das nações latinas e caribenhas se reuniram entre os dias 12 e 13 de junho. Em função da Expo, o palco escolhido foi a capital lombarda e não Roma, local do evento em 2013. — Consideramos este evento muito significativo e relevante. E é especialmente importante fazê-lo este ano em Milão, na cidade onde existe algo mais do que apenas uma hospitalidade geográfica, que é realmente de nível muito elevado. Antes de tudo, existe a ideia de que a Expo é um grande evento que fala especialmente das questões que unem Itália e América Latina. Não é apenas um evento comercial, nem um evento turístico, mesmo tendo resultados comerciais extraordinários e sendo muito bem sucedida no plano turístico. É algo a mais para nós, é um ideal — afirmou o primeiro-ministro Matteo Renzi, durante o discurso de abertura da Conferência no Palácio da Região Lombardia. Com o tema “Para uma visão comum”, o evento teve como objetivo debater assuntos de interesse entre os países envolvidos e contou com a participação dos presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, da Bolívia, Evo Morales, e de
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Honduras, Juan Hernández; além da vice-presidente do Panamá, Isabel Malo e de 15 ministros de Relações Exteriores, entre os quais o italiano Paolo Gentiloni e o brasileiro Mauro Vieira. O presidente do Senado italiano, Pietro Grasso, e das principais organizações regionais e dos Bancos de Desenvolvimento também compareceram. De acordo com o vice-ministro das Relações Exteriores italiano, Mario Giro, a numerosa presença dos representantes da América Latina e Caribe é um sinal de grande interesse na Conferência e no vínculo com o país, consolidado por “uma relação institucional de longa duração que, no entanto, diminuiu ao longo dos últimos 20 anos e, em seguida, foi retomada com decisão e vigor nos últimos dois anos”. Giro apontou as entidades e as empresas que se afirmaram, sobretudo, no campo econômico nos
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Brindam, juntos, o premier italiano Matteo Renzi, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos Calderón, e o presidente da Bolívia, Evo Morales Ayma
últimos anos. Citou em particular a importância da Enel e das sociedades do setor de energia, além das empresas empenhadas na ampliação do Canal do Panamá, “uma obra faraônica quase inteiramente realizada por companhias italianas”. Renzi instou os chefes de Estado e os ministros latino-americanos a caminharem juntos rumo ao futuro e ressaltou a importância da cooperação no âmbito da universidade, pesquisa e inovação. O ministro Gentiloni lembrou que as áreas de colaboração são inúmeras e amplas, do combate ao crime organizado à energia renovável, e assegurou que, para a Itália, trata-se de “um continente com o qual multiplicar as relações e tomar como exemplo, não apenas colaborar”. A este respeito, o ministro italiano ressaltou o sucesso dos países latino-americanos no âmbito da erradicação da pobreza, do desenvolvimento social e da resolução pacífica de conflitos — a exemplo da relação problemática entre Estados Unidos e Cuba que, segundo ele, está sendo resolvida. No dia 13 de junho, a sessão conclusiva do seminário teve como cenário o auditório do Pavilhão Itália da Expo, onde foi apresentada a declaração final, cujo texto enfatiza a importância estratégica das relações entre a Itália e os países da América Latina e do Caribe, a partir dos históricos laços culturais, sociais e econômicos. A Conferência foi ainda uma oportunidade para reafirmar a importância fundamental da próxima Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), entre 30 de novembro e 11 de dezembro, em Paris, e do II Fórum Internacional para Pequenas e Médias Empresas Itália-América Latina, de 30 de novembro a 2 de dezembro, no México. Além disso, nos dias 5 e 6 de outubro, o Senado e a Câmara italiana dos Deputados vão realizar o I Fórum Parlamentar Itália-América Latina.
Notícias
Os mais famosos
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e acordo com a pesquisa Pantheon do MIT Media Lab, os italianos mais famosos são o cantor lírico Luciano Pavarotti, o escritor Umberto Eco e o físico Enrico Fermi. A análise foi feita com base no número e nos tópicos de Wikipedia e pretende explicar o quanto cada país contribuiu para a história da cultura humana. Segundo os pesquisadores, desde 1900 até hoje, a principal contribuição italiana se deu com os jogadores de futebol, especialmente Mario Balotelli e Giuseppe Meazza; atores como Sophia Loren, Bud Spencer, Terence Hill e Marcello Mastroianni; e políticos como Silvio Berlusconi, Romano Prodi e Aldo Moro.
Parmalat volta ao Brasil
A
empresa italiana anunciou o seu retorno ao Brasil e preparou uma campanha de 30 segundos, cujo mote é “Todo mundo é fã de Parmalat”. Como nos anos anteriores, crianças aparecem fantasiadas de mamíferos. A campanha pretende resgatar o sucesso da década de 1990. De acordo com o CEO no Brasil, Patrick Sauvageot, “esta nova fase é desafiadora, pois a Parmalat deixou o posto de líder de mercado há um longo período e a nossa estratégia é retomar esta colocação a médio e longo prazo”. Fez parte do processo de reestruturação a compra do setor de lácteos do grupo brasileiro BRF por 700 milhões de dólares. A aquisição incorpora uma gama de marcas muito conhecidas, como Batavo, Elegê e Santa Rosa.
Búfala alterada
U Universidade do Panetone
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ara os amantes do doce natalino, uma ótima notícia: no início de 2016, será inaugurada, na Itália, a primeira Universidade do Panetone, onde será possível estudar as melhores técnicas de produção não só do panetone, como de outros doces italianos fermentados. A universidade fica em Vighizzolo d’Este, na província de Padova, e é promovida pelo Antico Molino Quaglia. Os cursos serão divididos em três níveis: técnicas de fermentação aplicadas a diferentes tipos de farinha, estruturas e formas de bolos fermentados e técnicas de cozinha e cristalização.
Expo: seis milhões até agora
O
comissário-único da Expo Milão 2015, Giuseppe Sala, afirmou em uma conferência do grupo industrial Finmeccanica que o evento já recebeu mais de seis milhões de visitantes desde a inauguração, no dia 1º de maio. “Superamos os seis milhões de visitantes em dois meses. A Expo é um sucesso, e nosso nível de satisfação é muito alto”, disse. Somente em maio, o número de pessoas que passaram pelo evento foi de 2,7 milhões.
Giugiaro deixa o estúdio
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m dos principais nomes da criação automotiva acaba de anunciar a sua saída do estúdio que criou em 1968, o Italdesign Giugiaro. No próximo dia 7 agosto, Giorgetto Giugiaro completa 77 anos e quer dedicar mais tempo a outros projetos e interesses pessoais. Além de vender os restantes 9,9% das ações do estúdio ao Grupo Audi, renunciou ao cargo de presidente honorário. O grupo Volkswagen agora é o controlador total da Italdesign e reúne as empresas Lamborghini, Ducati e a marca de luxo Audi. O conglomerado faz parte do esforço da empresa de ampliar participação no mercado de luxo.
m dos mais tradicionais produtos da gastronomia italiana, a mussarela de búfala é alvo de falsificações no Brasil. Segundo um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os queijos de nove entre 17 marcas analisadas são, na verdade, feitos com leite de vaca. Encomendada pela Associação Brasileira de Criadores de Búfalo (Abcb), a pesquisa avaliou o DNA de amostras coletadas diretamente em pontos de venda. De acordo com a entidade, as marcas aprovadas foram certificadas com um selo de pureza. As reprovadas, que omitem a presença de leite de vaca, são: Bufalat (100% de leite de vaca), Yema (93%), La Bufalina (70%), Biancolatte (50%), Montezuma (30%), Brava (10%), Vitalatte (5%), Buffa (5%) e Nacon (1%). Os produtores aprovados são: Bom Destino, Búfala Almeida Prado, Bufalíssima Natal, Búfalo D’Oeste, Búfalo Dourado, Di Búfalo, Estância Alambari e La Vera.
Nascimentos zerados
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m estudo do Instituto Italiano de Estatísticas (Istat) revelou que a população italiana registrou crescimento zero no ano passado. O país bateu recorde negativo na comparação de nascimentos/mortes, com um saldo negativo de quase 100 mil pessoas. Atualmente, a Itália tem 60.795.612 habitantes — 12.944 pessoas a mais em relação a 2014. Este ano aumentou também o fluxo imigratório para o país, o que elevou o total da população estrangeira para pouco mais de cinco milhões de habitantes.
Greve de fome
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Itália é o único país da Europa Ocidental a não ter uma norma para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O vice-ministro italiano para as relações com o Parlamento, Ivan Scalfarotto, começou uma greve de fome em 29 de junho para exigir a aprovação da união civil para gays. Apesar do apoio da maioria dos parlamentares italianos, permanece parado o projeto de lei aprovado por Matteo Renzi. Os opositores apresentaram muitas alterações ao texto. O vice-ministro decidiu manter a greve até se ter a certeza de que acabará essa “violação dos direitos humanos”.
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Turismo
Um país para os
pequenos curtirem
com os pais Repleta de castelos, parques cercados de natureza e museus com programação didática, a península italiana é um prato cheio para as crianças de todas as idades, que aprendem se divertindo ao lado dos pais
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Cintia Salomão Castro
prender brincando. Esse é o eterno lema das crianças e os viajantes que têm filhos sabem que o melhor é entrar nesse ritmo. A Itália oferece inúmeras opções para quem vai passar férias em família, de norte a sul, e em todas as estações do ano. Conversamos com especialistas, reunimos as dicas de mamma e papà e traçamos um roteiro com dicas valiosas. Os pais de (literalmente) primeira viagem podem ficar um pouco apreensivos e perdidos antes de arrumar as malas. Porém, Daniela Celli, autora do blog Mammagiramondo, do alto de sua experiência de quem visitou 26 países com o marido e o filho, hoje com sete anos, afirma que o item mais importante para levar na bagagem é a serenidade. — Meu conselho número um aos pais é partir sem ansiedade. As crianças,
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especialmente as pequenas, sentem muito o nosso humor. E elas se comportam muitas vezes melhor do que a gente diante de imprevistos. Portanto, o principal é non farsi problemi. Viajar serenamente. Quanto aos caprichos e às manhas, as crianças fazem sempre, em casa ou fora. Depois de tanto tempo viajando, para tantos lugares, aprendi que o mais importante de tudo é o nosso estado de ânimo. A partir daí, se resolve o resto — diz a toscana, revelando uma arte que pratica desde que criou o seu blog: a de tranquilizar as mães, sobretudo as italianas, que ela classifica como “muito apreensivas” em comparação às americanas, francesas ou inglesas. Para a jornalista e autora dos livros Viaggiare in Italia con i bambini e Bicicletta in famiglia (Touring), Laura Ogna, é fundamental que os pais escolham um destino que agrade a todos, e não apenas aos pequenos.
— O mais importante é organizar férias que satisfaçam as exigências de toda a família, crianças, mãe e pai. Não deve ser uma viagem “só” para as crianças, e sim “com” as crianças. Para isso, não faltam opções na Itália, do mar à montanha, passando pelo campo e pelas cidades de arte. Além disso, hoje, com a internet, há diversos meios para se pesquisar, inclusive blogs de pais viajantes que compartilham suas experiências — constata a bresciana Laura, autora de Leggere in famiglia (La Scuola Editrice), dedicado a pais e educadores que querem transmitir às crianças o prazer da leitura. Quem pesquisa encontra diversas páginas nas redes sociais recheadas de dicas e relatos sobre diversos lugares, sem falar nos sites de hotéis e atrações especializadas onde é possível agendar visitas e tirar dúvidas. — Quando comecei a escrever, poucas famílias viajavam com seus filhos pequenos. Então, eu decidi
compartilhar minhas experiências. Trocava mensagens com os pais, com quem construí uma relação de confiança. As italianas têm medo de que seus filhos não comam direito durante as viagens. Mas eu resolvia esse problema. Até o meu filho completar dois anos, sempre levava comigo um forninho elétrico para cozinhar em qualquer situação, inclusive em lugares onde não encontrávamos o que ele estava acostumado a comer — ensina a blogger Daniela, que carregou o seu filho ainda bebê na primeira viagem ao exterior, aos oito meses, e que já compartilhava com o marido a paixão pelas viagens antes de engravidar. Com a explosão das redes sociais nos últimos quatro anos, as fotos e os vídeos roubaram a atenção do internauta, que antes dedicava mais tempo lendo e comentando as crônicas dos blogs. — O Facebook trouxe muito mais tráfego para o blog, além do contato mais rápido com os leitores. Por outro
A especialista em literatura infanto-juvenil e autora de livros sobre viagens Laura Ogna aconselha aos pais a escolha de um destino capaz de agradar a todos os membros da família
lado, é mais difícil receber comentários mais longos e dedicados como quando eu recebia no blog, que é mais autoral e mais relacionado com a confiança — analisa Daniela, que atualiza diariamente a página do mammagiramondo no Facebook para seus 2,3 mil fãs e sempre publica fotos das aventuras de seu pequeno Aj no Instagram, que atrai quase dois mil seguidores.
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Turismo Dez roteiros para explorar com as crianças
Trentino Alto-Ádige
Castelos e contos de fada
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om mais de 700 castelos, a Itália é o país perfeito para viagens temáticas de contos de fadas — cenário para cavaleiros e princesas. Não faltam fortalezas e burgos onde viveram personagens famosos, de Romeu e Julieta a Pinóquio. No vilarejo de Collodi, na província toscana de Pistoia, terra do criador do boneco de madeira, o escritor Carlo Collodi, fica o Parco di Pinocchio: uma trilha segue os eventos narrados no livro, com todos os seus personagens. Já a casa em cuja varanda Giulietta costumava falar com o amado Romeu, segundo a tradição, fica em Verona, no norte do país, cidade onde os fortificados castelos medievais do tempo dos Scaligeri testemunham tempos de rivalidades entre famílias. Em alguns monumentos, são organizadas apresentações de teatro e brincadeiras, como no Castello di Gropparello, na província de Piacenza. No impressionante Castello Estense de Ferrara, os caminhos subterrâneos, os canhões, as prisões, a cozinha original e as passagens secretas fascinam os pequenos e curiosos visitantes munidos de “espadas” e muita imaginação. Enfim, seu filho escolhe o conto de fadas favorito, você escolhe o castelo que sempre quis visitar e toda a família realiza um antigo sonho.
Milão
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quantidade e qualidade das atrações especialmente organizadas para as crianças impressionam até os italianos acostumados a viajar pelo país. — Há vários anos, a região se prepara para acolher bem as famílias. Um exemplo é a estrutura hoteleira. No Alto Ádige, temos a superqualificada rede Familienhotels e no Trentino há os hotéis Giocovacanza. Há inclusive hotéis que não recebem casais sem filhos — conta a jornalista e escritora especializada em literatura infantil Laura Ogna. A assistente administrativa Isabella Maffucci, mãe de Matteo, de sete anos, confirma: — Desde que meu filho nasceu, nós passamos alguns dias de férias nessa bela região montanhosa, todos os anos. Tudo dentro dos Familienhotels é pensado para facilitar a vida dos pais. Os quartos são espaçosos e incluem um quartinho anexo para as crianças, o que também confere privacidade aos pais. Não faltam berços, mochilinhas para caminhadas e passeios, cadeirinhas bebê conforto, penicos e até espuma para colocar sobre a cama... Em resumo, eles têm tudo o que uma família deveria trazer de casa. Há muito espaço para brincar dentro e fora do hotel, e um grupo de animadores organiza laboratórios criativos e excursões. As crianças fazem as refeições entre si e não precisam aguentar a longa espera nos restaurantes dos adultos — relata Isabella, moradora de Stra, na província de Veneza. Em seu blog, Daniela Celi aconselha trilhas fáceis para se fazer com crianças na região, que podem ser feitas até de carrinho com os menores: um trekking facile sull’Alpe é um modo perfeito para que os pequenos descubram as belezas das montanhas do Norte da Itália com segurança, ensina.
alvez você vá a Milão pensando em ver a moda, mas seu filho também pode se divertir na capital lombarda. A ítalo-argentina Cecília Paredes define o maior museu técnico-científico do país como um paradiso per i maschietti. Na época, o seu filho tinha 14 anos e ficou entusiasmado com os protótipos das máquinas idealizadas por Da Vinci no Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci. — É enorme. Não basta um dia apenas para ver tudo — resume Cecilia, moradora de Cremona. Acompanhe a programação, pois o museu oferece todos os anos mostras temporárias, sobretudo no período das férias escolares italianas. Este ano, em julho, laboratórios vão mostrar como se prepara um gelato italiano e exibir, através de microscópios, os microorganismos usados no processo de fermentação do pão. Até janeiro de 2016, a mostra Il mio Pianeta dallo Spazio – Fragilità e bellezza vai conduzir os visitantes aos lugares mais belos e remotos da Terra através de imagens de satélite e vídeoinstalações que evidenciam as mudanças climáticas do globo. Uma vez em Milão, não custa visitar o Muba — Musei dei Bambini Milano — inaugurado há apenas um ano e meio. Até outubro, a diversão fica por conta das brincadeiras e dos jogos inspirados na alimentação, tema da Expo 2015, que também conta com um imenso espaço infantil e parque de diversões temático: o Children Park, uma espécie de jardim com oito instalações temáticas, realizado pela Reggio Children, em colaboração com a Unicef.
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Florença
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uem disse que città d’arte não é para criança? Os pais admiradores da arte renascentista podem aproveitar a visita à capital toscana para levar os pequenos ao Museo dei Ragazzi, no Palazzo Vecchio. Os laboratórios interativos e teatrais contam histórias da época dos Duques e mergulham i piccoli na arte da pintura: eles experimentam com as próprias mãos e a imaginação tintas, cores e afrescos. Ainda em Florença, o Palazzo Strozzi oferece atrações para toda a família. Um exemplo é o Kit disegno, fornecido gratuitamente aos visitantes da mostra Bellezza divina tra Van Gogh, Chagall e Fontana (até 24 de setembro): cartolina, lápis e borracha são os instrumentos que fazem pais e filhos colocarem, juntos, a criatividade “para fora”. O site www.familytour.it reúne informações sobre visitas guiadas para toda a família, que também podem ser baixadas através do aplicativo Florence Family Tour.
Praias e ilhas
Roma
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brasileiro que visita a Itália dificilmente deixa a capital de fora. Para quem vai com os filhos, a dica é aproveitar os lugares ao ar livre, recomenda a escritora Claudia Monteiro de Castro, moradora da cidade e mãe dos gêmeos Francesco e Antonio. — Roma é cheia de parques gostosos. Gosto principalmente do Doria Pamphilj, pois tem um espaço infinito para correr, um bonito café e um playground. Existem também teatros no parque, como o San Carlino, na Villa Borghese — comenta. Se estiver frio, a dica de Claudia é a livraria Otimomassimo, em Trastevere, que possui um espaço de experimentação, com laboratórios de pintura e ilustração. Já o Museu Explora permite aos meninos viverem um dia de adultos: podem “fazer compras” no mercado, ser chefs por um dia, preparando uma pizza, e visitar uma réplica da cabine do trem Frecciarossa.
Aquário de Gênova
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stivemos nesse belo lugar diversas vezes e sempre foi muito bom — encoraja a ítalo-argentina Cecília Paredes, mãe de um casal e moradora de Cremona. Caminhar entre golfinhos, focas, pinguins, peixes multicoloridos e estrelas-do-mar garante a aventura. Seres “fantásticos” como peixes-gatos e peixes-bois deixam qualquer criança boquiaberta. A transparência dá uma sensação de proximidade: os menores acenam e batem no vidro, empolgados, na esperança de interagirem com os animais. Aconselha-se comprar os bilhetes na internet para evitar filas. Ali perto, no porto de Gênova, na Città dei Bambini, eles podem participar de jogos sensoriais, onde as atividades são organizadas para cada faixa etária, incluindo um bosque com grutas.
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Fattorie e agriturismo
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interior da Itália está repleto de fattorie didatiche, ou seja, sítios e pequenas fazendas produtivas, onde as crianças podem ter contato direto com a natureza e aprender a fazer queijo, colher vegetais e frutas e alimentar os animais. Muitas famílias italianas optam por um programa desse tipo em um domingo, como Isabella Maffucci. — Para um passeio de domingo, vamos muito aos Colli Euganei, pulmão verde da cidade de Padova, onde iniciativas para os pequenos não faltam, como fazendas abertas e gratuitas, onde elas ajudam na ordenha do leite das vacas, colhem as uvas e as pisoteiam, como antigamente — conta a mãe de Matteo. A blogger Daniela Celi compartilhou com os internautas a experiência na pequena fattoria le Motte, nos arredores de Arezzo, na Toscana, após muito procurar entre as fazendas didáticas, que, no entanto, só aceitavam grupos. Seu filho caminhou entre coelhos, cabras, ovelhas, cavalos e galinhas e pintinhos, criados livremente pelos campos, além de ajudar a fazer queijo fresco. Mas é possível fazer tudo isso até mesmo em uma cidade grande, ensina o jornalista Guilherme Aquino, pai de quatro filhos — o mais novo com dois anos. — O parque de Monza, o maior parque urbano da Europa, tem uma fazenda dentro dele, onde se pode pegar leite de vaca puro e ao natural. O rio Lambro corta o imenso bosque que contém o famoso autódromo — recomenda.
turista que quiser relaxar no litoral mediterrâneo tem à sua escolha diversas praias familiares e bem equipadas, de norte a sul da península. O cantor e cuoco Gaetano Santianello aconselha o villaggio Bahia, que fica em Paola, na província de Cosenza, na Calábria. Já Silvio Podda, chef da Casa do Sardo, no Rio, aconselha a costa Smeralda, na ilha sarda. — Na Sardenha, a costa Smeralda tem praias com parques de diversão próximos, e a área sul de Cagliari Villasimius é perfeita para crianças. Levei meu filho várias vezes ali, onde o mar é tranquilo, a praia é limpa, tem segurança e serviços — conta. Na Sicília, a padovana Francesca Mainetti recomenda as praias próximas a Cefalù, onde levou o filho quando tinha dois anos. — As praias por lá são cômodas para as crianças, bem equipadas e tranquilas, apesar de não ser uma região tão bem cuidada. No lado do Mar Adriático, recomendo Lignano Sabbiadoro, lugar onde passava todos os anos as férias com minha família.
Gelato!
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omo deixá-lo de fora na pátria onde é o melhor do mundo? O sorvete é sempre uma atração e uma diversão para as crianças (e adultos). Em qualquer praça italiana, existe sempre uma gelateria servindo sorvetes cremosos e artesanais — e sempre deliciosos. Bom, barato e refrescante, ajuda a aplacar uma birra e torna mais doce qualquer passeio.
Museus
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a Itália, muitos museus oferecem visitação guiada e até atividades específicas para crianças. Além dos já citados, como o Muba de Milão, verifique no website de cada museu que você quer visitar se existem percorsi ou attività per bambini. Quem for a Veneza, por exemplo, encontra na Collezione Peggy Guggenheim, todos os domingos, a programação Kids Day, para crianças entre quatro e 10 anos. No período de férias escolares italianas (julho e agosto), são organizadas mostras e atividades especiais. Fique atento, pois alguns laboratórios exigem reservas ou a presença de grupos.
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Turismo
Os caminhos do vinho que levam à
fraternidade universal Na fronteira com a Eslovênia, um dos mais antigos percursos enogastronômicos do mundo brinda a paz conquistada após os conflitos da Primeira Guerra, cujas marcas fazem parte das atrações históricas da região
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Guilherme Aquino
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De Gorizia
estrada é sinuosa e suave. Reflete o desenho das colinas de Collio, uma zona verde e ensolarada, a oeste da cidade de Gorizia, na fronteira com a Eslovênia. O caminho serpenteia pela história da viticultura do país e do mundo, pois, até pouco tempo atrás, contava com oito variedades estrangeiras, até porque aquela zona também faz fronteira com a Áustria e pertencia ao império austro-húngaro, desfeito com a Primeira Grande Guerra. A Itália tem uma malha rodoviária que valoriza os vinhedos, de norte a sul. Mas a primeira de todas foi criada no nordeste, em Friuli-Venezia Giulia, uma vez que a Itália é muito estreita para ter um leste e um oeste sem roubar espaço ao centro, ao norte ou ao sul.
A ideia nasceu em 1963, quando se planejava uma romaria em homenagem ao florescer das cerejeiras, em abril. No mês seguinte, um grupo de jovens agricultores, da Associação Nacional Agricultura e Turismo e a Pro Loco de Gorizia organizaria um percurso entre os dias 23 e 26. O objetivo era permitir que a população conhecesse melhor e provasse mais os vinhos da região nas cantinas onde já fermentavam os preparativos para a colheita, que se aproximava. Os primeiros panfletos com o título Strada del vino e delle ciliegie desapareceram em pouco tempo. Assim, foi pavimentada a ideia da primeira estrada do vinho que,
Um passeio a pé ou de scooter ao longo da estrada de Collio é testemunhar o dia a dia da cultura secular do vinho da região
ao caminho inicial das cerejeiras, acrescentaria aquele das uvas nos dez anos seguintes. Da ponte Piuma até San Floriano del Collio, para depois retornar através do valão das águas, o trajeto foi incrementado, ou melhor, encorpado às 12 paradas obrigatórias, pontos pela estrada com passagens pelos municípios e pelas localidades adjacentes de Giasbana, Plessiva, Oslavia, Rùttars, Vencò, Dolegna, Mernico, Brazzano (na margem do rio Judrio), Cormòns (o “coração” do vinho, na Europa, basta ver o mapa e pensar em um corpo humano), Capriva del Friuli, Mossa, Lucinico e Farra D’Isonzo (e seu observatório astronômico). Todas as localidades são produtoras de vinho desde os tempos dos romanos. O roteiro tem 36,5 quilômetros, mas pode se levar uma “vida” para completá-lo. Atravessa parques naturais e colinas cobertas de parreiras, pontilhadas de castelos e burgos medievais: o cenário encanta os peregrinos do enoturismo. Este pequeno território e grande produtor de vinho branco honra seu percurso, abastecendo os visitantes com tim-tins de copos de Malvasia, Ribolla Gialla, Friulano e Picolit, para os paladares mais exigentes, e apenas para ficar nas variedades autóctones, pois as cultivadas incluem Pinot, Sauvignon, Müller, Chardonnay, Cabernet, Riesling e Traminer. Brancos por definição, mas cheios de nuances e matizes amarelinhos, na realidade. As degustações integram o passeio, em meio a presuntos, salames e queijos, caças, pães e azeite de qualidade, típicos dali. Tudo nasce de uma geografia privilegiada, pois naquela região o rico solo está localizado entre o mar Adriático, ao sul, e as montanhas pré-alpinas e os Alpes Giulie, que servem de barreira, ao norte. O vento e a exposição solar criam um microclima no qual a ventilação e a discreta amplitude térmica
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Turismo a Itália do império austro-húngaro, notaram o movimento de tropas que queriam minar a passagem sobre o rio Judrio, em Visinale. E atiraram, em 24 de maio de 1915. A destruição foi total e a reconstrução dos vinhedos consumiria todas as décadas de 20 e 30 do século passado e culminaria com o nascimento do consórcio que tutela os vinhos do Collio, em 1964. Dali para o selo de Denominação de Origem Controlada, do Collio, em 1968, seria apenas uma questão de tempo. Hoje, as empresas participantes somam 180. formam as condições ideais para a cultura do vinho, bem plantado na Ponca, como é conhecido o manto que compõe o solo, coberto de marga, uma rocha sedimentar rica em argila, além das arenosas, garantia de ingredientes salinos e minerais. O verão é quente apenas o suficiente, com temperatura média de 21,5 a 22 graus centígrados. No inverno, cai para quatro graus, com uma chuva anual de 1.350 a 1400 mm. Essa conjunção de fatores se reflete na qualidade do néctar dos deuses, numa ampla zona de aproximadamente 1.500 hectares. O resultado é o desenvolvimento de uma uva aquecida pelas correntes mornas do Adriático e entrincheirada pelo arco alpino das correntes frias do norte. O vinho branco da região é apreciado desde a época do Império Romano O vinho em Collio se mistura à história. A produção na época romana era tanta que as barricas de madeira, numa emergência, foram desmontadas para que o imperador Massimino, no século III d.C., construísse uma ponte sobre o rio Isonzo para a passagem das legiões de soldados. O vinho continuou sendo um cartão de visita nos períodos mais recentes, quando o poder estava nas mãos da Sereníssima,
O roteiro de 36 quilômetros inclui parques naturais, colinas cobertas de parreiras, castelos e burgos medievais, tudo regado a taças de Malvasia, Friulano, Picolit, Pinot, Sauvignon, Chardonnay e Cabernet 24
a República de Veneza, e do império austro-húngaro. Registros históricos confirmam sua presença nas mesas aristocráticas da Europa, na corte de Viena, e na boca de personagens como o imperador Carlos V. A modernidade desta cultura vitivinícola chegaria a partir de 1780, com o pagamento de impostos em função da qualidade da uva. Menos de cem anos depois, para melhorá-la ainda mais e aumentar a arrecadação, um conde francês de nome Teodoro de La Tour encontrou uma solução. Ele importou uvas francesas e alemãs para substituir as parreiras de nível inferior. Em 1872, nasceria a primeira associação de produtores na Itália. Todo este esforço seria arrasado ao chão, devido às bombas da Primeira Guerra, que começou ali mesmo, em Brazzano. Dois policiais de plantão, na ponte que separava
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As degustações fazem parte do tour enogastronômico, que pode incluir ciclismo: a paisagem inclui, além de muito verde, as construções medievais que sobreviveram aos bombardeios da Primeira Guerra Mundial
A passagem da guerra por este território que tantas vezes mudou de fronteira ganhou uma resposta à altura com a criação, em Cormòns, do vinho da paz. Em 1983, começou a coleta de parreiras de todo o mundo para fazer um vinho que tivesse como ingrediente a fraternidade universal como elemento principal. A primeira vindima foi em 1984. Desde então, não parou mais. Ao longo da estrada do vinho, que basicamente sai de San Floriano, na porta de Gorizia e vai até Dolegna, é possível desviar um pouco do caminho principal para seguir os legados da Primeira Guerra, como o Sacraio di Oslavia, onde repousam os restos de 60 mil mortos. Tais trajetos, às margens daquele principal, ajudam a reconstruir a memória de tempos de paz em castelos, como os de San Floriano, de Spessa, e de Cormòns, de Rùttars, quase todos com boa parte das raízes fundamentadas na cultura do vinho.
Turismo
A catedral que é um espetáculo
O maior arquivo italiano de artes e espetáculos do século XX se abre aos turistas com um acervo inestimável de 12 milhões de peças, entre litografias de Picasso, esculturas de Pistoletto e figurinos de Fellini Guilherme Aquino
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De Parma
mosteiro de Valserena, conhecido como a Certosa di Paradigna, é apenas a ponta do iceberg de um imenso tesouro artístico. A catedral abriga uma grande mostra de 600 obras — que constituem apenas uma pequena parte de um acervo composto por 12 milhões de peças catalogadas. Elas estão à disposição do público somente agora, após décadas “esquecidas”, espalhadas e amontoadas nos porões e depósitos do Centro de Estudos e Arquivos da Comunicação da Universidade de Parma (CSAC). O patrimônio superlativo abrange os setores da arte, da fotografia, da mídia, dos projetos e do espetáculo. Tudo está avaliado em cerca de 60 milhões de euros, uma quantia inicial, contabilizada sem levar em conta as cotações de mercado de trabalhos renomados, a exemplo das muitas esculturas de Pomodoro e Pistoletto, e das litografias de Picasso, somente para citar alguns. O mais impressionante é que tudo foi adquirido gratuitamente, através de doações. Um trabalho de formiguinha iniciado em 1968, com a fundação do CSAC pelo professor Antonio Quintavalle. Não existe na Itália um acervo maior e mais importante do que este quando o tema é o século XX. Até mesmo museus importantes, como o Novecento, de Milão, para realizar algumas exposições, se valem das obras em empréstimo deste patrimônio que surgem no cenário artístico com a força da erupção de um vulcão.
A catedral foi desconsagrada no século XIX durante a ocupação napoleônica, 500 anos depois do começo da construção, autorizada pelo papa Bonifácio VIII. A sua nave central, hoje, está ocupada por uma mostra. No lugar dos 500 monges que ali viviam, ganham a luz dos imensos vitrais as 600 obras eleitas para um primeiro rodízio. Isso porque o interminável acervo permite uma infinidade de combinações de temas que podem ser explorados ao infinito. E que continua a crescer, pois as famílias da região ainda fazem doações, numa espécie de pagamento de promessas e peregrinação artística. No amplo espaço da catedral, podem ser “adorados” religiosamente
Pinturas, desenhos e esculturas da mostra estão dispostas dentro da nave central
quadros de Lucio Fontana, esculturas de Michelangelo Pistoletto e Arnaldo Pomodoro, vestidos de Giorgio Armani, fotografias de Man Ray, objetos de Ettore Sottsass, figurinos de Federico Fellini para o filme Casanova e obras de Bruno Munari. O percurso inclui antigos porões e catacumbas transformados em verdadeiras galerias de arte, com quadros e esculturas apoiadas sobre as arcadas centenárias. Os largos e longos corredores internos foram ocupados por armários e prateleiras que se abrem para curiosos, pesquisadores e amantes da arte que, como se violassem o ateliê de um artista, encontram esboços das obras que seriam ou não realizadas ao longo do tempo. Um centro de pesquisa e didática de apoio a pesquisadores, doutorandos e estudantes completa a obra, cuja reforma durou 10 meses. A atração fica na periferia norte de Parma, numa zona agrícola, afundada no verde. Acima, na ala de hospedagem, há quartos para quem quer dormir sobre um verdadeiro tesouro e desfrutar da paisagem antes exclusiva para os monges. O CSAC também tem uma cafeteria e um restaurante em seu interior. As suítes são verdadeiras obras-primas de pedreiros e carpinteiros que remetem os visitantes a um pequeno mundo de repouso, meditação e contemplação, sem luxo ou excessos. Como rege a cartilha de um peregrino das artes.
As cinco seções do patrimônio do CSAC Arte: Mais de 1.700 telas e quadros, 300 esculturas e 17 mil desenhos Fotografia: Mais de nove milhões de imagens originais e 300 fundos Mídia: Sete mil esboços de eventos e campanhas publicitárias, políticas e artísticas, dois mil cartazes cinematográficos, 11 mil desenhos satíricos e quadrinhos, três mil desenhos para ilustrações Projetos: Um milhão e 500 mil desenhos, 800 maquetes, dois mil objetos e cerca de 70 mil peças de figurinos, rascunhos, roupas e revistas de moda Espetáculos: 100 filmes originais, quatro mil em vídeos e numerosos projetores cinematográficos antigos
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Capa
Mercado
A democracia do sofá
Líder em decoração, o grupo italiano, que revolucionou o mercado mundial de sofás de couro, não se abala diante da crise econômica brasileira e anuncia a abertura de novas lojas no país ainda em 2015 Stefano Buda
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De Bari
le é o produtor italiano número um do setor de decoração e é líder mundial no segmento do sofá em couro. O grupo Natuzzi, apesar da crise econômica, fechou 2014 com um faturamento de 461,4 milhões de euros e confirma-se como um dos melhores representantes do made in Italy no mundo. O sucesso 100% italiano começou no coração do Sul da Itália, entre a Puglia e a Basilicata, justamente em uma área bastante afetada pela crise e onde, até hoje, muitos moradores não têm outra escolha a não ser emigrar para o norte do país ou para o exterior. A parábola desta importante realidade empresarial é ligada fortemente à obstinação, à teimosia e à clarividência de Pasquale Natuzzi, atual presidente e administrador delegado do grupo homônimo, o primeiro não americano inserido no American Furniture Hall of Fame, premiado com outros prêmios, como o Capital Elite, que prestigia o made in Italy na China, e o Trophèe de l’Innovation de Paris. Filho de um ebanista (especializado no trabalho com ébano e outras madeiras finas), Natuzzi, quando tinha apenas 19 anos, abriu um laboratório artesanal em Taranto, onde, junto com três colaboradores, produzia sofás e poltronas para o mercado local. Era o ano de 1959. Três anos depois, transferiu-se para 26
Matera, sua cidade natal, onde iniciou uma experiência comercial que o ajudou a entender profundamente os mecanismos da distribuição. Em 1967, em Matera, ele se voltou para sua primeira paixão: a produção de sofás e poltronas — mas, desta vez, em nível industrial. Cinco anos depois, fundou a Natuzzi Salotti Srl, que, depois
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Comandado por Pasquale Natuzzi, o grupo transformou o segmento mundial de sofás de couro, tornando-os mais coloridos, alegres e populares
de poucos meses de atividade, foi completamente destruída por um incêndio. Natuzzi não perdeu as esperanças e transferiu a produção para Santeramo in Colla, na província de Bari, onde até hoje fica a primeira fábrica da empresa, além da direção e do centro de estilo e pesquisa do grupo que atualmente emprega 6.048 funcionários, distribuídos em 12 países, entre fábricas produtivas e escritórios comerciais. A rede de distribuição já apresenta um caráter global: conta com 1.100 lojas espalhadas em 123 Estados. — Não existem grandes segredos para explicar nosso sucesso empresarial —resume Pasquale Natuzzi, em entrevista à Comunità. Por trás dos resultados alcançados pela empresa, “só há trabalho, muita paixão e muito amor pela própria terra e por seu povo”, afirma. — E também tem o talento de milhares de artesãos e o profissionalismo de um grupo de dirigentes coeso e bastante comprometido para conseguir resultados no respeito da ética, dos consumidores e da responsabilidade social. Valores que, como fundador do grupo, sempre cobrei para que fossem colocados em primeiro lugar entre as nossas atividades — continua o presidente da empresa O novo conceito de sofá em couro foi lançado na década de 1980, quando era exclusividade de uma elite mundial A primeira década de vida do grupo Natuzzi, nos anos 1970, foi dedicada à pesquisa de soluções de projetos e estilos, com a finalidade de tornar o produto competitivo e atraente. O grande salto aconteceu na década de 1980: durante uma viagem nos Estados Unidos, Pasquale teve uma
grande intuição e decidiu que tinha chegado o momento de “democratizar” o sofá em couro, um produto que, naquela época, ainda representava um luxo para poucos. — Em 1985, fundamos a Natuzzi Upholstery Inc, com sede em Nova York, e lançamos no mercado norte-americano um novo conceito de sofá em couro, que fosse acessível para todos. Foi nosso pontapé inicial, que nos permitiu, na década sucessiva, conquistar a liderança mundial e sermos cotados na Bolsa de Wall Street. O grupo então não parou de crescer: o caráter global da marca tornou-se cada vez mais marcante. — Outro momento de mudança positiva remonta ao início da década de 2000, quando internacionalizamos nosso grupo, abrimos fábricas e escritórios comerciais no mundo inteiro e investimos na construção de uma marca que hoje, como revelam importantes pesquisas independentes, é a mais famosa no mundo entre os consumidores de bens de luxo — ressalta com orgulho.
“No Brasil, há milhões de brasileiros de origem italiana, o que representa uma extraordinária oportunidade para a nossa marca. Acho que ter em casa um produto Natuzzi, para nossos compatriotas globais, é motivo de orgulho e gratificação”
O empresário define a inovação como uma necessidade do grupo, desde o momento em que tiveram que inventar um estilo que fosse reconhecido e apreciado no mundo inteiro e que escolherem serem especialistas em sofás em couro, então um nicho elitista, com a novidade de terem formas leves e cores. Ainda hoje, a inovação continua: — Continuamos a lançar no mercado produtos inovadores. O resultado mais evidente deste percurso é a poltrona Re-vive, um produto-ícone de nossa capacidade para inovar a 360 graus — afirma. Grupo italiano aposta no Brasil com fábrica e eventos exclusivos para designers, arquitetos e formadores de opinião A poltrona reclinável Re-vive foi lançada em São Paulo, no Museu da Casa Brasileira, durante evento exclusivo para designers, arquitetos, decoradores de interiores e convidados, como Adriana Galisteu, em parceria com a Casa Vogue Brasil. Os presentes puderam conferir amostras da coleção que será lançada no próximo Salão do Móvel de Milão. A empresa está no Brasil desde 2001, quando foi inaugurada a primeira fábrica em Simões Filho, no estado da Bahia, onde 200 colaboradores produzem, para o mercado interno, as linhas de produtos Natuzzi Editions e Natuzzi Re-vive, o que permite atender os curtos prazos de entrega dos clientes. Entre os motivos que o convenceram a apostar no Brasil está o fato de ser o primeiro produtor do mundo de couro, além de ficar próximo à costa leste americana. — Investimos muito na formação de muitos jovens brasileiros, os quais transformamos em artesãos qualificados, em condições de produzir conforme a qualidade e a
O estabelecimento da empresa italiana na Bahia produz para o mercado brasileiro e conta com 200 colaboradores
O grupo Natuzzi e o Brasil
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fundador e presidente do grupo italiano Pasquale Natuzzi costuma vir ao Brasil duas vezes por ano para um evento de apresentação das novas coleções aos clientes. Ele define o país como uma terra que o surpreende sempre, “extraordinário, rico de criatividade e talentos”, no qual ele acredita e continua investindo — palavras que se traduzem em investimentos. A atual crise da economia brasileira parece não desestimular o empresário. — Até o final de 2015 iremos abrir novas lojas em todo o país. Temos orgulho da capacidade que demonstramos para enfrentar a crise e do fato de termos conseguido, em todos estes anos, graças aos ganhos não distribuídos entre os acionistas e deixados na sociedade, investir 550 milhões de euros na construção da marca mais famosa no mundo no segmento do luxo, acelerando o processo de internacionalização da empresa. Em março de 2014, nosso Conselho de Administração lançou um plano de negócios que terminará em 2018. O plano prevê um crescimento em todos os principais mercados, e entre eles está o brasileiro — anuncia à Comunità.
tradição do nosso grupo. Quando a exportação para os Estados Unidos tornou-se menos vantajosa, devido à forte valorização do real diante do dólar, nos concentramos no mercado interno, criamos uma sólida organização comercial, com competentes diretores locais, e apostamos nas condições econômicas do país, então favoráveis ao crescimento. Preciso dizer que acertamos, visto que, em 2014, as vendas no mercado brasileiro aumentaram 26% em comparação ao ano anterior — avalia o empreendedor italiano. Mas que tipo de consumidor e que tipo de mercado encontrou o grupo Natuzzi no Brasil? Um cliente interessado em design e conforto, que apresenta algumas semelhanças com o perfil europeu. — O Brasil tem a vantagem de ter preferências muito parecidas com as europeias e de possuir uma grande tradição na arquitetura e no design. É um terreno fértil de criatividade e produção de projetos, e isso nos estimula a continuar na consolidação da nossa marca. A vasta comunidade italiana presente no país pode representar um valor agregado: — No Brasil, há milhões de brasileiros de origem italiana, o que representa uma extraordinária oportunidade para a nossa marca. Acho que ter em casa um produto Natuzzi, para nossos compatriotas globais, é motivo de orgulho e gratificação — ressalta.
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Gastronomia
O Brasil
se rende ao
espresso
Tradicional na Itália, o café espresso passou a cair no gosto de boa parte dos brasileiros. Marcas investem nas variedades especiais, de olho nesse mercado
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Rodrigo Silva
rasileiros e italianos têm muito em comum. Uma das paixões compartilhadas pelos dois povos é o hábito de tomar café. No Resumo das Exportações Brasileiras de Café divulgado em maio, a receita cambial gerada com as exportações registrou, no período de junho de 2014 a maio de 2015, um incremento de 34% em relação ao mesmo período ano passado. São números que confirmam a liderança do maior produtor cafeeiro do mundo. Foram exportadas 36.697.386 sacas de 60 kg, incluindo café verde, torrado moído e solúvel. A Itália constitui o terceiro mercado das exportações brasileiras, com 1.199.711 sacas (8%) importadas em uma lista liderada pelos Estados Unidos, que fica com 20% do volume exportado. O modo de consumir a bebida, porém, ainda se diferencia nos dois países. Enquanto 84% dos brasileiros preferem prepará-lo com filtro, a Itália é o país do espresso por excelência, onde surgiram as primeiras máquinas. Angelo Moriondo, através de sua patente registrada em Turim, em 1884, criou a primeira máquina de bar a controlar o fornecimento de vapor e água separadamente ao passar pelo café. Mas foi com o aperfeiçoamento de Luigi Bezerra, 17 anos depois, que surgiu a máquina de café espresso. Em 1905, a patente foi comprada por Desiderio Pavoni, que fundou a La Pavoni, que começou a produzir as máquinas em uma pequena oficina em Milão. A partir daí, o espresso italiano conquistou o mundo, mas só nos últimos anos caiu no gosto dos brasileiros. A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) espera que o setor cresça 20% nos próximos 10 anos, já que houve um aumento de 52% no consumo de cápsulas entre 2013 e 2014, ainda que presente em apenas 1% dos lares brasileiros. Segundo a ABIC, a mudança começou no início dos anos 2000, e cresceu a partir de 2006, com a entrada no país das redes como Starbucks e Nespresso. Mas a 28
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grande transformação ocorreu a partir da educação do consumidor, que descobria que café não é tudo igual, que existem inúmeros tipos, variedades, origens e blends. Esse trabalho de formiguinha feito pelas indústrias e pelas cafeterias que, com seus baristas, têm contato direto com os consumidores e podem transmitir informações e falar sobre a cultura e a importância do café, destaca Nathan Herskowicz, diretor executivo da ABIC. Fabricantes e cafeterias investem no mercado gourmet De olho no crescimento desse público, que em geral pertence à classe A,
as empresas do setor preparam suas estratégias. A Teichner, por exemplo, já atentava para esse potencial em 1974, ao notar uma grande presença de imigrantes do sul da Itália em São Paulo. Foi quando Luciano Teichner instalou a primeira fábrica de máquinas de café espresso, a Faema do Brasil S.A., ainda ativa sob o nome de Farat Café. Pouco tempo depois, foram lançadas as máquinas automáticas de tipo “vending”, onde o consumidor coloca moedas ou notas e aguarda o preparo da bebida. A história do espresso no Brasil se confunde com a da presença da própria Teichner no país, mas o local de nascimento da marca é a Piazza in Lucina, em Roma, em 1922, que ainda hoje hospeda o Café Teichner. — O aumento no consumo do café monodose no Brasil acompanha a tendência
Nathan Herskowicz, da ABIC, e Rodolfo Teichner confirmam a mudança no comportamento do consumidor brasileiro, que começou a reconhecer as vantagens do espresso
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mundial. Está no contexto da evolução de consumos específicos e mais sofisticados que se disseminaram de modo geral, em quase todos os níveis sociais. Esta tendência permite saborear um ótimo espresso em lojas, consultórios, escritórios. É possível ter um bar onde não há bar. Mais recentemente, transfere-se esta possibilidade e esta ambientação para as residências. A principal ferramenta que viabiliza o procedimento é a máquina monodose, que traz higiene, praticidade, controle de utilização e ótimos resultados — observa o proprietário Rodolfo Teichner. Além da própria Teichner, outras italianas marcam presença no mercado brasileiro, como a
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Gastronomia Segafreddo, presente no país desde 1996, e a Lavazza, que possui uma torrefadora em Três Rios (RJ), além do coffee shop Lavazza Expression, na Alameda Santos, em São Paulo, inaugurado no ano passado. A Illy Caffé, fundada por Francesco Illy, em Trieste, em 1933, também se mostra atuante no mercado brasileiro. Famosa pelos blends diferenciados e pelo design de seus produtos, está presente em mais de 140 países e conta com o Brasil como seu maior fornecedor, onde trabalha com cerca de 500 produtores, fazendo com que o café brasileiro componha 50% de seu blend, formado por nove variedades de puro Arabica provenientes da América do Sul, América Central, Índia e África. — Recentemente, o espresso começou a ganhar terreno por aqui em relação ao café coado, principalmente em restaurantes e cafeterias. A grande diferença é que na Itália se toma um excelente espresso, muito bem extraído por um barista em qualquer um dos milhares de bares que existem por lá. Hoje, há um crescimento muito grande no mercado brasileiro, mas precisamos aprender mais sobre como extrair um bom café, além de selecionar os melhores grãos para este tipo de extração, que exige mais qualidade do que o café de filtro — destaca Anna Illy, diretora da Illy Caffé. O after taste, ou o gostinho de quero mais, é o que diferencia do café especial dos comuns Para se obter um bom espresso, é necessário um bom blend, que são composições com grãos especiais de diversas partes do mundo. — O comum, também conhecido como convencional, tem
A partir da década de 2000, o consumidor brasileiro começou a descobrir que os cafés não são todos iguais e que existem variedades, origens e blends: essa mudança de comportamento fez o mercado gourmet crescer no país 30
cuidados e investimentos menores em relação à produção de um café especial. Esses cuidados envolvem a aplicação de tratos culturais nas lavouras, colheita seletiva de frutos-cerejas, possibilidade de processos de lavagem e despolpamento e secagem a temperaturas e condições ideais para a preservação da melhor qualidade dos frutos, além de processos de torra que se adaptem melhor a cada variedade de grãos. Para o consumidor, o café especial é aquele que deixa um after taste de quero mais, um sabor agradável que nos instiga a querer beber mais. Alguns conceituam o gourmet como especial. Na realidade, o consideramos uma das categorias de café especial, que envolvem diretamente a qualidade do produto — afirma à Comunità a diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Vanusia Nogueira. Para ela, a mudança reflete todo um trabalho qualitativo do setor de produção, que passou a entregar cafés cada vez melhores e com qualidade elevada. — Também foi fundamental o investimento realizado por cafeterias e casas de café, as quais, além de investirem na aquisição dos grãos especiais, passaram a fornecer um ambiente que se adequava às necessidades dos consumidores, com refeições e aperitivos com foco
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A Illy Caffè abriu em 2011 de um showroom em São Paulo, onde os clientes podem conhecer a variedade de produtos da marca italiana
na alta gastronomia, com a possibilidade de realizar de reuniões de negócios ou mesmo socialização com direito à degustação de excelentes cafés ou bebidas à base de café — ressalta. Segundo a BSCA, o Brasil produz cerca de cinco milhões de sacas de cafés especiais, montante que representa 10% da produção nacional anual. Os blends consumidos no país geralmente são importados já torrados, pois a legislação brasileira impede a importação de café verde de outros países. Em abril, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) publicou a resolução que zera a tarifa de importação para máquinas de uso doméstico e de cápsulas de café torrado e moído. A medida, porém, não ajuda produtores já instalados no Brasil, como a Teichner, que precisa importar cápsulas vazias, que pagam tributos: — Francamente, acho que se trata de lobby de quem importa cápsulas da Suíça e máquinas da China, considerando a temporalidade da medida e o improviso da portaria. E ainda mais quem já está estabelecido pode pensar em importar máquinas e cápsulas para, em seguida, distribuir e nunca fabricar aqui. Quem não está estabelecido, como poderia tomar conhecimento, decidir implantar o negócio, importar, montar os canais de venda, distribuir o que foi importado? E se conseguir, o segundo lote teria muito mais impostos para o cliente final. Isso sem falar que as cápsulas têm um vencimento real de seis meses — questiona Teichner, que trabalha apenas com grãos provenientes de fazendas em Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro.
Náutica sucesso da feira, que será a vitrine do que há de melhor em design e tecnologia na Itália e no Brasil para toda a cadeia do setor — acrescenta Calabria. Ele anuncia que a segunda edição da FIMAR já está programada para ocorrer em maio de 2016 na cidade de Itajaí (SC).
Tecnologia do mar Mais de 50 empresas italianas apresentaram em Florianópolis suas inovações para o incremento de embarcações, portos e serviços marítimos em evento inédito Aline Buaes
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om o objetivo de fomentar os negócios no mercado náutico entre Brasil e Itália, ocorreu entre os dias 4 e 7 de junho, em Florianópolis, a primeira edição da Feira Internacional de Tecnologia, Inovação e Design do Mar Itália-Brasil (FIMAR), fruto da união de esforços de entidades e organizações dos dois países, como o Ministério italiano do Desenvolvimento Econômico, a União Italiana da Indústria Naval (Ucina), o governo de Santa Catarina e a Associação Náutica Catarinense para o Brasil (Acatmar). Mais de 50 empresas italianas do setor náutico, atuantes nos ramos de automação, tecnologia e design e provenientes das regiões de Piemonte, Ligúria, Toscana, Marche e Sardenha, marcaram presença e apresentaram suas inovações tecnológicas para o incremento das embarcações, portos, marinas e serviços relacionados à economia do mar. Temas como a competitividade de portos turísticos, a cadeira produtiva do setor náutico e a pesca industrial e esportiva foram debatidos nos workshops e seminários do evento. — Esta feira é o resultado concreto das relações bilaterais entre o governo de Santa Catarina e o governo italiano, o que nos permitiu navegar juntos para um objetivo comum, que combina o melhor de nossas habilidades: design, tecnologia e fabricação
italiana — afirma Domenico Calabria, diretor da Brazil Planet, agência organizadora do evento, lembrando que o intercâmbio comercial entre os dois governos começou em 2011, quando uma delegação catarinense visitou o Festival do Mar, em Gaeta, no Lácio, e estabeleceu os primeiros contatos. Desde então, seguiram-se diversas missões oficiais, como as participações de Santa Catarina nas edições de 2012, 2013 e 2014 do Salão Náutico Internacional de Gênova, principal encontro náutico italiano. — O interesse demonstrado pelos empresários da indústria náutica italiana nos dá a certeza do
Estiveram presentes na inauguração da FIMAR (a partir da esquerda) o secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, Felipe Mello; o organizador Domenico Calabria; o empresário italiano Ferrucio Dardanello; o secretário estadual de Desenvolvimento, Carlos Chiodini; e o presidente do Grupo de Trabalho de Turismo Náutico da Secretaria estadual de Turismo (GTT), Leandro Mané Ferrari
Evento contou com o apoio do ICE, que também organizou missão empresarial náutica no Rio O estado catarinense é considerado o segundo polo náutico do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro, enquanto a Itália é a maior referência mundial devido aos seus produtos de excelência. O objetivo da FIMAR foi justamente trazer novos elementos e aperfeiçoar a indústria do estado, com foco em empresas que lidam com o fornecimento para a indústria da construção naval, como barcos, iates e navios, em termos de componentes, mecânica, motores e sistemas de propulsão, eletrônica e automação, matérias-primas, mão de obra para terceiros, planejamento e design, equipamentos de vela, serviços, turismo náutico e pesca esportiva e profissional. — A FIMAR representa uma nova e significativa etapa na colaboração entre Itália e Brasil no setor náutico — afirmou Federico Balmas, diretor do Ufficio São Paulo da Agência para a internacionalização das empresas italianas (ICE), órgão do Ministério italiano do Desenvolvimento Econômico. A entidade foi responsável por uma missão paralela de empresários do setor náutico e de tecnologia do mar que, além da participação na FIMAR, realizaram rodadas de negócios e visitas a marinas e portos em Florianópolis e no Rio. — Estas iniciativas nos dois principais polos náuticos do Brasil permitiram a promoção de contatos diretos entre os empresários italianos e brasileiros, a fim de difundir a tecnologia italiana e transformar a Itália em parceira privilegiada dos compradores brasileiros. A organização da FIMAR também se coloca neste mesmo objetivo, de representar uma vitrine do made in Italy e de todo o setor náutico italiano — explicou Balmas, salientando que o Brasil é considerado estratégico para o setor náutico pelo Ministério do Desenvolvimento italiano. A etapa realizada no Rio de Janeiro contou com o apoio da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria da cidade.
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Esporte
A volta do rossoblù Bolonha reconquista o direito de jogar na primeira divisão do calcio italiano e seus torcedores comemoram, entre eles, alguns ilustres, como Luca di Montezemolo e Gianni Morandi Maurício Cannone
O
campeonato italiano da Série A vai reencontrar um de seus velhos conhecidos na temporada 2015-2016. O Bolonha está de volta à principal competição nacional. Ao contrário do Carpi e do Frosinone, recém-promovidos que vão disputar a máxima divisão pela primeira vez, o clube da capital da Emília-Romanha, faz parte dos grandes da história do calcio italiano. Clube fundado em 1909, sete vezes ganhador da Série A, tem torcedores ilustres, apesar de as últimas décadas terem sido muito sofridas. O famoso cantor Gianni Morandi estava na tribuna do estádio Renato Dall’Ara, dia 9 de junho,
Os torcedores ilustres Luca di Montezemolo e Gianni Morandi estavam no estádio Renato Dall’Ara no empate com o Pescara, resultado que promoveu o time à primeira divisão e levou os jogadores ao delírio
em Bolonha, no empate de 1 a 1 com o Pescara, que promoveu o time à Série A, assim como Luca di Montezemolo, ex-presidente da Ferrari e da Confindustria. Também foi vice-presidente da Juventus, mas, pelo visto, não se esqueceu do seu Bolonha. Outros cantores, como Cesare Cremonini, Andrea Mingardi e Luca Carboni têm coração rossoblù. Isso sem falar em Lucio Dalla, ídolo falecido em 2012. Dalla, Mingardi, Carboni e Morandi são os autores de Le tue ali Bologna, hino oficial do clube. O ex-campeão de esqui Alberto Tomba também integra a lista dos colunáveis. Aliás, Tomba não perdeu o jogo que garantiu o retorno à Série A. O último scudetto foi conquistado na temporada 1963-64, em uma final emocionante de campeonato como não se vê mais hoje em dia. O time terminou a competição empatado com o Internazionale e o título foi decidido em um jogo extra. Quatro dias antes da partida decisiva, Renato Dall’Ara, presidente do clube, morreu de infarto na sede da Liga Italiana quando discutia com Angelo Moratti, presidente do Inter, detalhes do jogo. Dall’Ara não pôde ver a vitória de 2 a 0 sobre o Inter, em Roma, com gols de Fogli e do dinamarquês Nielsen, que garantiu o sétimo e o último scudetto do clube. Mas em 1983 ele foi imortalizado em uma das principais praças esportivas da Itália: o antigo Estádio del Littorale, em Bolonha, de propriedade do município do mesmo nome, passou a se chamar Renato Dall’Ara. 32
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Na temporada seguinte, o time emiliano foi acometido por uma tremenda falta de sorte. Foi eliminado na primeira fase da Copa dos Campeões Europeus 1964-65, precursora da atual Champions League. Depois de perder na Bélgica do Anderlecht por 1 a 0 e vencer na Itália por 2 a 1, os dois clubes jogaram um desempate em Barcelona, que terminou em 0 a 0. O time belga, ao final, venceu o Bolonha em um sorteio de cara ou coroa. Primeiro rebaixamento foi na década de 1980 Além dos tempos de glória, o clube também conheceu seu inferno astral. Pela primeira vez na história, na temporada 1981-82, foi rebaixado para a segunda divisão. Pagou por uma série de pecados, caiu para a terceira divisão, voltou à segunda, alternou-se entre as Séries A e B e teve a falência decretada em 1993, quando caiu para a terceirona, onde permaneceu por duas temporadas. Voltou para a Série B, ficou na gangorra entre os dois primeiros níveis do campeonato e passou pelas mãos de vários proprietários. Em novembro de 2014, tornou-se o primeiro clube italiano a ser controlado por um empresário canadense: Joey Saputo, acionista majoritário, com o advogado americano Joe Tacopina na presidência. Mas estrangeiros no comando de clubes italianos já não são novidade. Aliás, o primeiro presidente da história do próprio Bolonha, em 1909, era um dentista suíço: Louis Rauch. Existe também “um pouquinho de Brasil” no time promovido à Série A. Da Costa, goleiro de 31 anos, fez parte do Santo André, time que conquistou a Copa do Brasil em 2004. Na Itália, ele tinha passado por Varese, Ancona e Sampdoria, antes de chegar a Bolonha este ano. Outro brasileiro do rossoblù é relativamente quase tão antigo no futebol do Belpaese quanto o personagem bíblico do mesmo nome: o meio-campo Matuzalém, de 35 anos. Ele revelou-se no Vitória da Bahia e rodou meia Itália, onde sua aventura começou em 1999, no Napoli. Até a temporada 2013-2014, jogava pelo Genoa. Da Costa renovou contrato com o clube até 2017. Já Matuzalém renovou por uma temporada, até 2016. O técnico Delio Rossi, contratado em maio passado já na reta final da Série B, conseguiu o objetivo da promoção ao dirigir o time nas últimas sete partidas. Por isso, foi confirmado no cargo.
Exposição
Dieta global
— Nesta parte da mostra, propomos também o interessante tema da grande distribuição gratuita dos principais bens de subsistência aos romanos adultos cidadãos, a plebe urbana e romana, que podia contar com um privilégio exclusivo: partilhar os bens da conquista, inicialmente apenas trigo. No terceiro século d.C., foram incluídos o azeite, o vinho e a carne — explicou à Comunità Orietta Rossini, curadora da mostra. A terceira seção aborda o consumo feito em locais públicos, tais como o termopólio que, na Roma Antiga, era onde se compravam os alimentos prontos para consumo. Na pequena sala, com uma mesa ou um balcão à frente e prateleiras de alvenaria, a comida, ainda quente, era armazenada em grandes jarras de cerâmica, os dólios. Provavelmente funcionava como os bares e res-
Mostra comprova que a globalização do consumo de alimentos e o deslocamento da produção já eram práticas comerciais adotadas pelo Império Romano Gina Marques De Roma
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uitos associam a globalização do consumo à sociedade contemporânea, mas, há dois mil anos, os antigos romanos foram os primeiros globalizadores do mundo. Eles aplicavam também o deslocamento da produção dos bens primários, uma estratégia econômica do mercado atual. A exposição “Nutrire l’Impero. Storie di alimentazione da Roma e Pompei”, no Museu Ara Pacis, em Roma, que vai até 15 de novembro, mostra o que os romanos comiam, como conservavam os mantimentos e, sobretudo, como faziam para transportar toneladas de alimentos das áreas mais distantes do Mediterrâneo até o centro da capital do Império. A mostra, idealizada em ocasião da Expo 2015, conta com raros objetos arqueológicos, maquetes e reconstruções multimídia. Na época imperial, a população de Roma chegou a um milhão de habitantes. Os romanos bebiam grandes quantidades de vinho produzido na Gália, em Creta e em Chipre, ou, se ricos, consumiam aqueles mais caros da Campânia. O azeite era produzido na Andaluzia, na Espanha. O mel era importado da Grécia, enquanto os grãos para fazer o pão vinham da África, principalmente do Egito. Os romanos apreciavam muito o garum, um condimento feito com sangue e vísceras de peixes, crustáceos e moluscos em salmoura. Eles o importavam da África, do Oriente Médio, de Portugal ou até mesmo de Pompeia. Nos tempos atuais, a iguaria provocaria náusea em muita gente. Se servido hoje, o vinho da época teria o selo do enjoo garantido: era misturado com mel, especiarias, e, segundo alguns historiadores, até com água do mar. A mostra começa com o tema do movimento das mercadorias. Um grande mapa do Mediterrâneo, realizado com técnica cinematográfica, exibe os principais fluxos dos bens de longa conservação, como grãos, azeite, vinho e garum. A animação mostra as principais
rotas marinhas dos maiores portos do Mediterrâneo, como Alexandria e Cartago. Nesta primeira seção, os visitantes podem conferir como eram trabalhados os alimentos primários e a importância das ânforas, com formas variadas para distinguir cada produto, o armazenamento e até a distribuição. A segunda seção mostra como as mercadorias chegavam a Roma e Pompeia através dos portos de Pozzuoli e de Ostia — além de reconstituir, em gráfico digital, o porto de Trajano, com os resultados inéditos das escavações recentes realizados pela Superintendência de Ostia e pela Universidade de Southampton.
O braseiro de Pompeia, o baixo relevo em mármore do século III com a vendedora atrás de um balcão, o serviço de prata Moregine e os pães encontrados em Herculano revelam detalhes dos hábitos gastronômicos das cidades romanas
taurantes de hoje, onde romanos e pompeianos consumiam a comida de rua. Já os ricos faziam suas refeições estendidos nos triclínios, enquanto o banquete era servido pelos escravos. Estão expostos também restos de comida de Herculano, como pão, avelã e grãos, que ajudam a compreender como os antigos se nutriam. Graças às contribuições científicas e aos empréstimos de Pompeia, Herculano e Oplontis, é possível admirar taças, jarras e pratos de extrema riqueza — como o chamado “tesouro Moregine”, um completo serviço de prata que retornou do Metropolitan Museum de Nova York, após cinco anos de exposição. SERVIÇO Nutrire l’Impero. Storie di alimentazione da Roma e Pompei Onde: Museu Ara Pacis, Lungotevere Augusta, Roma Quando: De 2 julho a 15 novembro Horários: De 9h às 19h30min Mais informações: www.arapacis.it Twitter: @museiincomune #Nutrirelimpero
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Fotos: Rapha Silva
Sociedade
A Itália é de casa Consulado italiano “adota” praça do centro do Rio, que, de lugar esquecido pelo poder público, virou um simpático ponto de encontro para os cariocas, com direito a música, gastronomia e feira de produtos naturais Cintia Salomão Castro
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uintal. Esse foi o nome do evento que comemorou, durante uma semana, a revitalização da Praça Itália, no centro do Rio, ao lado do Consulado italiano, de 22 a 26 de junho. Inspirada no cortile italiano, onde se recebe e se confraterniza com os amigos, a iniciativa reuniu em um único lugar arte, música e gastronomia. Por ali, junto ao coração financeiro da cidade, na esquina das avenidas Beira-Mar e Presidente Antônio Carlos, passam diariamente centenas de pessoas, que encontraram, em meio à correria cotidiana, um local para relaxar e conversar. As atividades foram programadas dentro do horário comercial para fazer do lugar um ponto de encontro. — A partir de um espaço esquecido, montamos um local acolhedor para virar um verdadeiro quintal, onde podemos encontrar amigos em um espaço lúdico e social. Nossa ideia é repetir eventos como esse nos próximos meses. Enfim, fazer dessa praça um lugar vivo — resume Flavio Cenciarelli, o responsável consular da Casa d’Italia. A adoção da Praça Itália, que existe desde 1935 e conta com um 34
busto da imperatriz napolitana Teresa Cristina, é uma parceria com a Prefeitura do Rio, através do Programa de Adoção de Áreas Verdes, que foi estendido a praças. — A Fundação Parques e Jardins plantou o jardim e nós ganhamos a tarefa de manter e conservar os jardins e a praça. Fizemos um paredão verde de 50 metros quadrados, e o demos como um presente à cidade — conta Cenciarelli.
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O jardim de 50 metros quadrados, plantado na parte externa do edifício em frente à Praça Itália, foi uma iniciativa do Consulado italiano. Abaixo, durante a inauguração do evento, o cônsul italiano Riccardo Battisti; o subsecretário municipal de Articulação, Cidadania e Diversidade Cultural, Renato Rangel de Almeida; o coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Rio, Laudemar Aguiar; e Flavio Cenciarelli, responsável da Casa d’Italia. A chef Regina Tchelly (ao lado), referência em gastronomia sem desperdícios, e as produtoras do Buffett Vivo (à direita) participaram da feira de alimentação consciente
Com o apoio da Expo, Alitalia e Illycafé, a alimentação sustentável — foco da Exposição Universal de Milão — foi o tema da semana. Produtores artesanais de alimentos, e também de roupas, acessórios e cosméticos, participaram de uma simpática feirinha, onde expunham seus produtos e explicavam o processo de fabricação ao público, o que despertava o interesse pelo consumo consciente. Um deles era Alcir Blonbet. Junto à esposa Fernanda, que levava a tiracolo a filha de um ano, ele contava como nasceu o laboratório Naturalmente, cujos produtos não levam nenhum tipo de ingrediente sintético. No lugar das pomadas compradas em farmácia, os pais podem comprar essências com lavanda, óleo vegetal de coco e cera de abelha, além de óleos para parto natural e para fazer as famosas massagens para bebês Shantala. — Minha esposa era gerente de uma loja de shopping e decidiu parar de trabalhar fora para se dedicar à bebê. Começou a fabricar óleos por conta própria para a nossa filha e aí descobrimos que podíamos fazer disso uma atividade comercial — revelou. Pizzas sem glúten e com recheio “vivo”, doces e petiscos sem lactose, café orgânico e tapioca estavam entre as iguarias degustáveis. Mas, democraticamente, também havia cerveja e limoncello à disposição. Outra iniciativa foi um abaixo-assinado solicitando segurança por meio de uma guarita policial. A programação inclui a exibição do filme O veneno está na mesa, de Silvio Tendler; o mercado da Junta Local; a feira orgânica da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio (ABIO); shows com as bandas Allbraz Quarteto e Feijão Coletivo; e o show Disco Xepa, com participação do Slow Food e do Favela Orgânica, da chef Regina Tchelly. A programação foi organizada em parceria com o coletivo SerHurbano, que promove intervenções artísticas pela cidade.
Gastronomia café. Em março de 2014, nascia oficialmente a sociedade, que já tem duas sedes: uma no município toscano de Capannori e outra em Torre Del Greco, na província de Nápoles. — A curiosidade das pessoas, especialmente das crianças, está nos ajudando muito a superar os obstáculos e as dificuldades. Ainda há muito a ser feito, mas o projeto é tão simples e fácil que é impossível não se apaixonar e abraçar esse modelo de economia circular — destaca Sangiovanni, originário da Campânia.
Cogumelo expresso Dois jovens empreendedores italianos contam à Comunità como criaram o kit que produz cogumelos frescos em casa a partir de borra de café e revelam os seus projetos de expandir o negócio fora da Itália Stefania Pelusi
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ogumelos frescos nem sempre são fáceis de cultivar e encontrar. O agrônomo Antonio Di Giovanni e o arquiteto Vincenzo Sangiovanni tiveram uma ideia inovadora para suprimir essa dificuldade. A empresa da dupla produz exemplares frescos e um kit para o seu cultivo doméstico, reutilizando a borra do café como substrato. Além de reduzir o desperdício, o produto traz benefícios econômicos. — O projeto nasceu do caso de estudo sobre os resíduos das cápsulas de café no centro de pesquisa Rifiuti Zero (lixo zero) de Capannori. Uma parte da equipe se interessou pelo redesenho industrial da cápsula, a fim de torná-la degradável. Outra parte se concentrou na valorização da borra de café na agricultura. Eu trabalhei para aprofundar esta segunda área de estudo — explica Di Giovanni, cofundador da Funghi Espresso. Porém, foi com a leitura de La blue economy - Dieci anni, cento innovazioni, cento milioni di posti di lavoro, de Gunter Pauli, que o agrônomo descobriu que, no fim dos anos 1980, um professor chinês tinha cultivado, pela primeira vez, cogumelos a partir de borras de café. Ao mesmo tempo, Sangiovanni conheceu o procedimento na internet
Antonio Di Giovanni (de óculos) e Vincenzo Sangiovanni fundaram Funghi Espresso que além de produzir cogumelos frescos, criou um kit para o cultivo doméstico dos exemplares reutilizando a borra do café como substrato
enquanto procurava material para a sua monografia de Arquitetura. O caminho que levou à criação da Funghi Espresso começou em março de 2013 quando, a partir do estudo de caso sobre a reutilização da borra de café na agricultura, Di Giovanni, em parceria com o centro de Capannori, realizou o projeto-piloto de educação ambiental Dal caffé alle proteine, que contou com a participação de 200 alunos no processo de cultivo, utilizando como substrato apenas os resíduos do
Jovem empresa ganhou concurso e vai apresentar seu produto alimentar sustentável na Expo Os cogumelos cultivados e os kits são vendidos na internet e também em restaurantes e feiras. De acordo com o agrônomo, após um período de 7 a 10 dias da borra de café pronta, nascem os Pleurotus Ostreatus, conhecidos como “cogumelos orelhões”, que podem ser cozidos no forno ou na panela. A empresa participou de um concurso organizado pelo Ministério italiano da Agricultura e se classificou entre as startups mais inovadoras e sustentáveis. Em breve, os jovens empreendedores receberão o prêmio e terão a oportunidade de abrir um estande na Expo de Milão para apresentar o modelo de negócio a um público internacional. Entre os projetos futuros, os italianos gostariam de espalhar o projeto em outros países e não descartam a possibilidade de introduzi-lo na pátria do café: o Brasil. — O modelo de negócio é replicável praticamente em qualquer lugar onde há resíduos do processamento de café que possa ser transformado. Produzir cogumelos no Brasil significa garantir uma quantidade adequada de proteínas para todos os que, infelizmente, não têm ainda uma dieta equilibrada por causa dos desequilíbrios socioeconômicos desse imenso país — conclui Sangiovanni.
Como funciona
O
kit já vem pronto para ser usado. Uma vez aberto, a pessoa deve molhá-lo com água e esperar os cogumelos crescerem. De cada kit, são obtidas duas produções em dois momentos diferentes, em um período de 15 dias. Não é possível produzi-lo em casa, pois a borra de café pode ser acumulada por um máximo de três dias. Depois desse prazo, surge mofo, tornando o material inutilizável para a produção de cogumelos. Além disso, de acordo com os produtores italianos, devido à pequena quantidade de borra de café produzida em casa, é difícil acumular quantidade suficiente para fazer um kit em apenas três dias.
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IlLettoreRacconta
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saga da família na América do Sul começou há mais de 100 anos. Nonno Cesare, pai de seu pai, deixou Capannori, na província de Lucca, região da Toscana, no início do século XX. Mas os avós paternos do cineasta não vieram diretamente para o Brasil. — Eles passaram antes pela Argentina, no Chaco. Vieram de navio, depois se estabeleceram no Brasil, aonde chegaram por terra. Já os avós maternos, também toscanos, mas da província de Arezzo, vieram diretamente para o Brasil, no estado de São Paulo, por volta de 1903 — conta Ugo. Os avós paternos e maternos dedicaram-se, entre outras atividades, ao comércio, mas de maneira diferente: — Meu avô Ugo também trabalhava no comércio, mas como empregado. Já meu avô Cesare tinha uma fábrica de sigari toscani. O charuto apareceu no filme de Sergio Leone Por um punhado de dólares, fumado por Clint Eastwood — conta Ugo. O cineasta foi registrado como Ugo Cesare Giorgetti, em homenagem aos dois avôs. Antes do cinema, dedicava-se à publicidade. A ascendência italiana não foi determinante na escolha da carreira, mas o país dos antepassados está em alguns de seus trabalhos. No fim de junho passado, a TV Cultura transmitiu o filme A Cidade Imaginária (2014), de autoria de Giorgetti, sobre italianos que atravessaram o Oceano Atlântico numa das primeiras levas de imigrantes no século retrasado. A trama se passa no tombadilho de um navio, perto do porto de Santos, por volta de 1880, no tempo do Império e antes da abolição da escravidão no Brasil. São Paulo 36
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Paulo Heise
Arquivo pessoal
— A história se desenvolve durante a noite e termina com o raiar do dia. Os imigrantes não sabiam o que os esperava. Não tinham ideia de como era a cidade de São Paulo. A imigração para cá não foi espontânea, como para os Estados Unidos e para a Argentina. No Brasil, o governo custeava as passagens. E não davam informações corretas para os imigrantes sobre o país. Na Itália, tinha-se uma impressão selvagem do Brasil, de um paraíso terrestre, de clima exuberante. Havia muito folclore no imaginário europeu — comenta. Fala-se português e não italiano no filme. Giorgetti sente até raiva quando lembra como a língua de seus ancestrais foi tratada em determinadas novelas. — Quando via o italiano falado em Terra Nostra, sentia vontade de dar pontapés. Meu avô falava com sotaque, mas não misturava português com italiano. Eu falo italiano, embora agora esteja enferrujado. Meu pai, que era engenheiro e nasceu no Brasil, falava um italiano perfeito. Ele até nos corrigia, enchia tanto dizendo que a frase estava errada, que passávamos a falar em português. Já nos tempos de Shakespeare, os amantes de Verona, Romeu e Julieta, falavam um inglês impecável. Se eu colocasse os personagens para falar italiano teria de utilizar atores italianos — explica. Outro trabalho do diretor para a televisão, Em Busca da Pátria Perdida, teve como tema importante o legado religioso na capital paulista: — O documentário retratou a Igreja de Nossa Senhora da Paz, no Glicério, em São Paulo, construída por imigrantes italianos, que tem uma linda
A igreja São Pedro de Monte Alegre, em Piracicaba, decorada com pinturas de Alfredo Volpi, e cenas do filme A cidade imaginária, de Giorgetti
arquitetura, com afrescos de Pennacchi. A igreja, que um tempo acolhia italianos, agora recebe imigrantes latino-americanos, como bolivianos, peruanos, paraguaios, e ultimamente haitianos, que ficam hospedados lá para obtenção de documentos e outros tipos de ajuda. No primeiro domingo de cada mês, é celebrada missa em italiano. A capela de São Pedro, no bairro de Monte Alegre, em Piracicaba, construída pelo engenheiro italiano Antonio Ambrote, teve também o toque magistral de um pintor de origem italiana, Alfredo Volpi. Inaugurada em 1936, na propriedade do usineiro Pietro Morganti, outro imigrante, foi tombada pelo patrimônio histórico: — Fiz um curta-metragem sobre uma capela levantada na usina de açúcar Morganti, em Piracicaba. Os operários resolveram imitar uma capela toscana, um arremedo de renascença. E com afrescos de Alfredo Volpi, então um jovem pintor. A usina acabou, os ruídos das máquinas cessaram, mas a obra de Volpi permaneceu intocável — revela Capannori o cineasta. Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br
opinione
Ar yGrandinettiNogueira
O ciclo de vida M Sobre amigos, família, carreira e os olhares tolerantes, respeitosos, mas impávidos eu primeiro contato direto com o meu primeiro filho foi o início de uma nova lição de vida. O médico entrou no quarto, seguido da enfermeira com ele no colo, e fulminou: está entregue, perfeito, veja lá o que você vai fazer com ele! Eu, que já estava todo borrado antes disso, expus toda a minha inexperiência e insegurança diante “daquela” vida, numa voz quase muda: venha no colo do titio! Ali começava a minha jornada de pai. Além do medo de esmagar a criança e/ou deixá-la cair no chão, aqueles frágeis 4kg pareciam 4 toneladas. Chegando à casa dos meus pais, longe do ambiente protegido hospitalar, realizei a paternidade ao ver o meu filho sendo amamentado. Sentado a pouca distância, observando aquela criança a mamar avidamente – sua única percepção de ligação à vida –, ouvi a voz da consciência como se fosse uma sentença: começa a sua responsabilidade por fazer dessa criança um grande homem, como é o seu pai e você se esforça para ser. Amadureci de imediato, como banana deixada no sol. Os meus então 24 anos dobraram. Era um novo aprendizado. Meu segundo filho já nasceu quase mamando, tomando banho e indo dormir sozinho. Minhas netas me dizem coisas, do alto dos seus 4 aninhos, que só entraram no meu processamento mental aos 17. Nos próximos 5 anos é provável que as crianças já saiam da barriga sem ajuda de médico, dando ordens claras, em voz alta, do que querem para o almoço. É a evolução da raça humana que, percebo, está vindo de fábrica com cada vez mais opcionais e elevação do nível de consciência. O ciclo da vida, entretanto, é incontornável. A vida precisa ser vivida para construir uma história. Se 3 pessoas veem uma mesma foto, darão interpretações diferentes de acordo com o repertório colecionado de suas experiências.
A nossa ingenuidade do sonho colorido precisa se adaptar à convivência com pessoas desconhecidas e competitivas A essência humana é a mesma, conduzida pelos ciclos naturais em mutação, suas fases, seus hormônios, sentimentos... Mas a experiência não se esgota nos livros. A exposição à vida e às respostas dela fazem parte do aprendizado e do crescimento. Começamos a vida da maneira mais confortável da nossa existência: só berrar que a comida aparece. Na escola, começa a competição: contra as aulas, os livros, o dever de casa, o boletim x o passar de ano (ufa!.. mais um!), o coleguinha espaçoso e
brigão, a merenda diferente da torta da mamãe. A vida começa a ficar “difícil”... Pouco mais adiante, já começam a ficar espertos, munindo-se de um pequeno arsenal de malvadezas já adquirido para contornar as vicissitudes da vida impostas pelo furacão emocional da pré-adolescência. O conforto vem em seguida. Na adolescência, já sabem tudo. Não há mais nada a aprender. Se falamos algo sobre a vida, as suas fases, os cuidados e o futuro num círculo de amigos dos filhos, vemos os olhares tolerantes e respeitosos, mas impávidos. Ao darmos as costas: o velho é gente boa! fala isso para nos ajudar, pensando que sabe tudo, mas quem sabe tudo mesmo somos nós... Lá na frente essa conversa voltará à lembrança da garotada: se tivéssemos ouvido o velho!...teríamos pulado algumas fogueiras sem nos queimarmos. Aí vem a luta. Competição contra o tempo. A escolha da profissão, passar no vestibular, a dispersão dos amigos que se espalharão pelas suas opções e universidades, escolhi a profissão correta? etc. Mas ainda é a fase da elaboração dos sonhos, quase hora de acordar. Formado, o despertador toca. Vem, então, a briga pelo mercado de trabalho. Conseguirei me posicionar, encontrar o emprego dos meus sonhos? Ou terei que me resignar “aprendendo a gostar do que faço”? Até que o emprego chega, escolhido ou tragado pela necessidade, junto com a insegurança do novo ambiente. Hostil, como costuma ser a entrada de algum corpo estranho no organismo. Afinal, a empresa é um terreno pequeno para a sobrevivência de tantos leões. A nossa ingenuidade do sonho colorido precisa se adaptar à convivência com pessoas desconhecidas e competitivas. Mas logo as qualidades aparecem, assim como as parcerias, os desafios comuns, a necessidade de resultados em equipe... e o novo habitat é dominado. Aí surge um chefe mais experiente para falar aos jovens sobre a vida profissional. Conceitos e valores, ambição, sucesso, objetivos, desafios e oportunidades, atualização permanente como higiene profissional, colaboração, metas, ética, coaching, blá-blá-blá diante de... olhares tolerantes. O coroa é gente boa! Passam-se os anos: se tivéssemos ouvido o coroa!... Sucumbi à primeira fase, pois era muito hormônio, diante de um mundo em permanente ebulição a ser descoberto, para ficar aprisionado sob tantos conselhos. Já maduro, pai e profissional, aproveitei cada palavra, cada mensagem do que foi o meu grande mestre e melhor amigo, presente comigo ainda hoje em todos os bons e difíceis momentos: o meu saudoso, querido e eterno pai.
Ary Grandinetti Nogueira é formado em administração de empresas e trabalhou por 40 anos na TV Globo, onde implantou modelo de gestão e chefiou a área de Desenvolvimento Artístico.
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ItalianStyle
Sapatos de inverno
Botas de salto altíssimo, estampas coloridas, sapatos masculinos com muito conforto e estilo. Confira os lançamentos e as novidades em calçados das grifes italianas para a próxima temporada de inverno, que já podem ser usadas no Brasil, com o frio da atual estação. Salto
transparente
Zoccolo
Bota em couro e camurça da Prada, com plataforma de madeira de três centímetros e salto grosso também de madeira com 13 centímetros. A sola é de couro com borracha injetada e há detalhes tipo tamanco com pregos na parte frontal. Preço: € 1.200 www.prada.com
Essas botas de camurça em cor terra e cano alto de Emilio Pucci fizeram sucesso no desfile da grife. Com salto alto transparente, vem ainda com um bracelete de camurça com argolas na altura do calcanhar. Preço: € 1.250 www.emiliopucci.com
Kruiser
Fotos: Divulgação
Coturno tipo ankle boot da Diesel, 100% em couro bovino, com sola emborrachada e fivela metálica. Preço: € 210 store.diesel.com
Poá
Bota de cano curto em camurça com efeito laminado e estampa de tipo poá. Com fecho, o modelo vem com salto de 5 centímetros. Preço: € 348 www.moschino.com
Derby
Esse elegante modelo em couro de Salvatore Ferragamo apresenta estilo clean e equilibrado. O detalhe fica por conta da fivela com gancho metálico e sola emborrachada. Preço: € 620 www.ferragamo.com
Stivaletti
Allacciate
Novidade da coleção de outono Miu Miu, estes sapatos com cadarço vêm com salto de sete centímetros em couro deco multicolorido, um couro curtido através de métodos tradicionais sobre o qual é aplicada uma cera para valorizar seus detalhes. Preço: € 690 store.miumiu.com
Aldon
Com uma coleção dedicada aos homens que buscam conforto e estilo, este modelo de Alberto Guardiani é feito em couro trançado azul e com sola superleve de borracha de cor clara, com detalhes em couro costurado. Preço: € 425 store.albertoguardiani.com
Bota de cano curto da coleção outono/inverno feminina de Roberto Cavalli. O modelo 100% em couro de cabra vem com salto de 11 centímetros, sola em couro e detalhe com correntinhas de metal. Preço: € 850 store.robertocavalli.com
Camu Garden
As botas Valentino Garavani têm tecido trabalhado com a estampa Camu Garden, zíper interno e salto de nove centímetros. Preço: € 1.250 store.valentino.com 38
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milão
GuilhermeAquino
Trilhas lombardas região da Lombardia passa a limpo suas
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Multisala a céu aberto
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cinema milanês ganha sua primeira multissala ao ar livre. A ideia chega do Anteo, célebre conglomerado que resiste à diminuição do público, acreditando em investimento em tecnologia, soluções criativas e programação de qualidade para recuperar os amantes da sétima arte. E o novo cartão de visitas chega com a crença no cinema a
céu aberto, com duas telas opostas no mesmo espaço, pátio interno da igreja dell’Incoronata, tecnologia de sofisticados fones de ouvido, telas com 60 metros quadrados, projeção em 4k e 612 lugares espalhados pelos dois lados. Tudo ao custo de 170 mil euros em troca do aluguel do lugar para usar nos verões dos próximos cinco anos.
Japão milanês espetáculo da tecnologia alimen-
Vela ão se leva em conta que o Idroscalo seja
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uma poça, nos arredores do aeroporto de Linate, se comparado ao Lago de Como, o alto-lago, a partir de Dervio, por precisão, em função do tamanho e do vento. Brincam dizendo que as rajadas esporádicas no Idroscalo vêm dos aviões que pousam ou decolam ali perto. Maldade ou inveja deste lago artificial aberto em 1920, que tem a sua base metropolitana de vela com 2.200 inscritos, a número um do país, deixando em segundo La Spezia. A liga naval milanesa comemora 125 anos e conta com um espaço de quatro mil metros quadrados para milhares de jovens iniciarem na arte da vela, na sombra do Duomo. O problema é a constante falta de vento. Nada muito importante para os marinheiros de primeira viagem que querem aprender os pequenos segredos. E se sabe que, com vento forte, todos correm igual. Já com vento fraco, todas as diferenças vêm à gala.
4.215 trilhas e 239 vias de alpinismo. Com um investimento da ordem de 2,5 milhões de euros, os guias de alpinismo e técnicos da Instituição Regional para os Serviços de Agricultura e Florestas (Ersaf, sigla em italiano) irão sinalizar e vistoriar todos os caminhos que levam a locais isolados da confusão das cidades. A inspeção e a reparação das placas e a manutenção começam a partir e ao redor dos abrigos, que são 183 no total, pontos de partida de passeios e excursões rumo às montanhas lombardas. Nada mais justo do que oferecer qualidade de informações atualizadas e indicações seguras para uma caminhada sem riscos de acidentes, de vários tipos, da perda de orientação à queda num precipício.
Milão sustentável cidade se confirma como uma das pio-
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neiras italianas no campo da mobilidade sustentável. Nasce o serviço de scooter sharing, triciclos compartilhados. Uma frota com 150 veículos com três rodas, da Piaggio, vai rodar pelas ruas milanesas, a título experimental, a princípio. E ao custo estimado de 25 centavos de euros por minuto e com garantia de renovação da frota a cada 50 mil quilômetros ou quatro anos de uso. O sistema é semelhante ao car sharing, hoje, com 1.500 carros espalhados pela cidade. Através de um aplicativo, o cliente localiza o triciclo mais próximo e com uma senha Pin aciona a moto. Pega onde encontrar e deixa onde quiser, exatamente como ocorre com os veículos de quatro rodas.
tar japonesa, exibido no pavilhão do sol nascente, assombra a Exposição Universal. Com uma bela mostra, totalmente interativa e cheia de conteúdo, o país tem sido o mais procurado pelos visitantes que esperam, com paciência chinesa, mais de uma hora na fila para ficar ali dentro por bons 50 minutos. O encanto provocado pela mensagem de harmonia, decantada em instalações audiovisuais de tirar o fôlego e abrir o apetite, desemboca no restaurante que, a preços módicos, propõe os pratos que o público já “comeu” virtualmente, com os palitinhos reais que manipulam o alimento projetado nas telas de cristal líquido. Uma experiência multissensorial e que vale a pena ser vista e vivida.
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Saperefood
Arte e spiritualità del Sagrantino
Chi ama il vino italiano, e non conosce ancora quelli umbri, deve iniziare la visita di questa splendida regione da Montefalco Emanuela De Pinto
speciale della saperefood
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uemila anni in tre giorni, sorseggiando la storia più antica dell’Umbria. Tra sacro e profano, guelfi e ghibellini, gloria e decadimento. Il Medioevo è oggi, negli antichi mestieri di questi borghi umbri riportati in vita da giovani mani. Nei fasti del Rinascimento, gli affreschi del Museo di San Francesco. E tra un racconto e l’altro, oggi come allora, si riempiono i calici del vino sacro: il Sagrantino, il Re del territorio umbro. Quasi scomparso negli anni Sessanta, è stato recuperato grazie all’impegno e al coraggio di alcuni imprenditori lungimiranti, ottenendo così nel 1979 il riconoscimento Doc, seguito nel 1992 dal prestigioso marchio Docg. Dal 2001 i vini di Montefalco sono tutelati dal Consorzio Tutela Vini Montefalco, che riunisce circa 60 cantine del territorio. Chi ama il vino italiano, e non conosce ancora quelli umbri, deve iniziare la visita di questa splendida regione da Montefalco, definito ringhiera dell’Umbria. La visita parte dai vitigni secolari situati in giardini privati del centro storico e prosegue con il giro delle mura della città, sorta nel 1100 d.C. La prima porta è detta “di Camiano”, dove un tempo sorgevano ville patrizie, tra cui quella del senatore romano Marco Curione, a cui si 40
deve il primo nome della città: “Coccorone”. La seconda porta spiega come e quando cambia la storia. Nel 1227 l’imperatore Federico II, passando qui con la sua sfarzosa servitù, lascia un così forte impatto emotivo nei cittadini che decidono di ribattezzare la città col nome di Montefalco, dalla passione per la falconeria del sovrano. Allora la città era meta di pellegrinaggi. Qui infatti ha vissuto ed è
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Nella valle umbra si produce il vino Sagrantino Docg che è un ottimo spunto per visitare la città di Montefalco
morta Santa Chiara nel 1308 d.C., patrona di Montefalco. S.Chiara è stata una mistica: estasi prolungate, visioni di Gesù e del Cristo pellegrino con la sua croce. Per tutta la vita ha riferito di ‘sentire dentro il cuore la passione di Cristo’. E così, alla sua morte, le viene aperto il petto: il miracolo è lì, sul suo cuore, dove appaiono i segni della crocifissione. Ancora oggi visibili e conservati nella chiesa, così come il suo corpo mummificato. La terza porta è l’ingresso principale della città: questa parte della cinta muraria insieme alla Torre del Verziere, è un ampliamento del 1300 d.C. Perché verziere? La torre d’avvistamento si affacciava su un campo coltivato a verdure. Il buon cibo aveva un posto di primo piano in Umbria, allora come oggi. Per capire l’anima di Montefalco, è importante visitare la Chiesa di S. Agostino, costruita alla fine del 1300, dove gli affreschi dell’abside raffigurano una Natività ispirata ai vangeli apocrifi. Una presenza inquietante è il Beato Pellegrino: il corpo mummificato di un viandante spagnolo che arrivò a Montefalco in visita ai santi patroni nel XV secolo. Annesso, il Chiostro di S. Agostino, luogo in cui si svolgono molti eventi cittadini, tra cui le degustazioni del vino durante la rassegna estiva enogastronomica “Enologica”. È possibile ultimare la visita a Montefalco nel Museo di San Francesco e poi, in cima alla torre campanaria da cui si scorge l’intera valle umbra. Il Museo è il primo esempio in Umbria di chiesa musealizzata: il corpo nuovo del complesso è stato inaugurato nel 2008, con una reception e un’enoteca dove è possibile degustare, a due passi dagli affreschi di Benozzo Gozzoli, i due gioielli dell’enologia umbra: il Sagrantino Docg e il Montefalco Rosso Doc. Sotto il Museo di San Francesco, le cripte. Una storia tanto antica quanto recente: basti pensare che solo nel 2006, durante alcuni lavori di manutenzione, è stato scoperto l’incasso di un vecchio torchio. E proseguendo gli scavi, le antiche cantine con le vasche di raccolta per la fermentazione, l’originale sistema di vinificazione del vino Sagrantino del 1400 d.C.. C’è anche un torchio in miniatura, uno degli strumenti che rivela l’origine del vino Sagrantino: vino sacro, prodotto allora in modeste quantità, usato solo per officiare le cerimonie religiose. Da qui il nome di “Sacrantino”, poi mutato nella versione attuale per migliorarne il suono.
saporid’italia
JanainaPereira
De pai para filho Reduto de artistas e políticos, cantina comemora mais de 40 anos de sucesso no tradicional bairro do Bexiga Tadeu Brunelli
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ão Paulo – O Bexiga sempre foi considerado o bairro mais italiano da capital paulista. Reduto da boa gastronomia do Belpaese, suas diversas cantinas seguem a tradição da mesa farta e do bom vinho. Especialmente nos finais de semana, é possível ver famílias almoçando e jantando no tradicional bairro, que é uma espécie de ponto turístico para quem visita São Paulo — e para quem mora também. Neste clima, a Cantina Montechiaro é um dos sucessos da região. Fundada em 1974 por Raimundo Franco de Oliveira, filho de imigrantes italianos e portugueses, a casa mantém as características que conquistam os clientes há quatro décadas. Em 2003, a administração passou de pai para filho. — A transição foi bem tranquila. Assumi a administração, mas meu pai continua como sócio até hoje. Como sempre trabalhei na cantina, eu já conhecia bem os processos e estava familiarizado com tudo — conta Daniel Cañete. O espaço é acolhedor, com dois salões, móveis de madeira e toalhas em tons de xadrez, típico das cantinas. Os vitrais italianos do artista plástico Lorenz Johannes Heilmai, especialista em mosaicos, cujos trabalhos estão espalhados por basílicas, catedrais e templos Brasil afora, são uma atração à parte. Lustres vindos diretamente de Murano também chamam a atenção. No cardápio, as receitas clássicas da cozinha italiana são servidas em generosas porções para serem compartilhadas.
Fusilli à Matriciana Ingredientes 250g de massa fusilli 50 ml de azeite Meio maço de manjericão 100g de panceta cortada em cubos 2 tomates sem pele e sem semente, cortados em cubos 30 g de parmesão Modo de fazer Cozinhe a massa. Salteie a panceta no azeite até dourar. Reserve. Em uma frigideira, acrescente os tomates, a panceta e o azeite. Adicione os fusilli. Salteie durante dois minutos os ingredientes na frigideira. Finalize com folhas de manjericão e parmesão ralado.
No inverno, a casa oferece um cardápio com preço fixo para o jantar, o que pode ser uma boa opção para os casais. O festival de sopas também aquece os paulistanos, com destaque para o creme de palmito e os capeletti in brodo, em porções para duas pessoas, podendo ser servidos em louças tradicionais ou no pão italiano. Tudo é acompanhado pela generosa carta de vinhos. Orgulhosos pela frequência de personalidades como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Eduardo Suplicye e o ator Antônio Fagundes, a Montechiaro oferece pratos tradicionais, onde se destacam pernil de vitela assada fatiada, servido com batatas coradas e brócolis. Entre as massas, o ravióli recheado de damasco, brie e nozes ao molho de tomate fresco e manjericão, e o fusilli à matriciana também são bastante pedidos. Para a sobremesa, o tiramissù ao mascarpone é o preferido dos clientes.
Para Daniel Cañete, a gastronomia italiana em São Paulo continua em alta. — A tendência é nunca parar de crescer, pois temos grande aceitação na capital. Recentemente, a culinária italiana perdeu um pouco de espaço para novas cozinhas como, por exemplo, a peruana, mas continua com força total — avalia. Serviço
Cantina Montechiaro Rua Santo Antônio, 844/846 – Bela Vista – São Paulo Tel: (11) 3257-4032/3259-2727 De terça a sexta, das 11h30min às 15h30min, e de 18h30min à meia-noite. Sábados, domingos e feriados de 11h30min à meia-noite, sem intervalos.
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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro
Oratorio del Gonfalone
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m uma pequena travessa escondida da elegante Via Giulia, no centro histórico de Roma, existe um lugar especial pouco visitado pelos turistas. É o Oratorio del Gonfalone, cujos lindos afrescos retratam a Paixão de Cristo, em 12 episódios. Foi realizado na segunda metade do século XVI. É possível visitá-lo marcando hora. Mas o melhor jeito de conhecê-lo é através de um dos concertos organizados no local, onde predomina a música barroca, embora às vezes sejam outros tipos de música. É mágico assistir a um concerto em um lugar como esse.
A arte de ser zen em Roma
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oje fiz uma grande descoberta. Quem quer meditar, ser zen, não tem que ir para a Índia. Tem que morar em Roma. Afinal, é fácil meditar e achar equilíbrio do alto de uma montanha ou num centro de espiritualidade, com aquela paz e panorama. Como diz Sartre, o inferno são os outros. Quem é zen de verdade consegue morar numa cidade caótica e manter o equilíbrio mental. Roma é perfeita para praticar a arte da paciência e da harmonia com o universo. Com a depressão causada pela crise e o turismo de massa que invade as ruas, o mau humor impera. E, com o aumento do mau humor, desaparecem as boas maneiras. Basta entrar num café para se ver. Todo mundo quer furar a fila e pedir o café antes de você. Ultimamente, peço um cappuccino e se eu bobeio por um segundo, olhando para cima e pensando na vida, alguém acaba bebendo meu cappuccino antes de mim, para ser servido antes. É nessa hora que precisamos fazer um esforço sobrenatural para ser zen e ficar acima de tudo isso, e não deixar que o fato de furarem a fila ou de nos acotovelarem para serem atendidos primeiro nos deixe irritados. Sorrir, sempre sorrir. Se o inimigo bater na tua face, oferecer a outra. Deixe que as galinhas se biquem sozinhas. Seja superior. Respire fundo. A uma grosseria responda com gentileza. Verá que só assim o mundo poderá mudar. Assim deveria ser e esse é meu mantra. Para algumas coisas, me esforço em ser mais harmoniosa. Eu, que tenho pavio curto e sinto arrepio assim que alguém me fura a fila ou estaciona na faixa de pedestres onde quero passar, tento respirar fundo e dizer: isso não é importante. Não vale a pena brigar por tão pouco. Poucos segundos não mudam a minha existência. Deixe passar. Deixe estar. Pisaram no meu pé no ônibus? Calma, foi sem querer. Alguém está com tosse e tossiu bem em cima do meu docinho no balcão da padaria? Não é um bom motivo para sair do sério. Como me exercito, até mudei com o tempo. Eu, que era uma grande nervosinha, consigo, às vezes, me surpreender com uma calma incrível. Basta de brigar por nada. Basta de fazer escândalo. Que me furem a fila. Seguro o tranco. Que se apropriem do meu pedido no café. Mas não deixo de dar a minha cutucadinha: “E aí, estava gostoso o meu cappuccino?
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