LAURA BOLDRINI IN BRASILE L’incontro con gli italiani e il ringraziamento in nome dello Stato
COMER É MAIOR DIVERSÃO Eataly encanta os paulistanos
GESTÃO NO FUTEBOL Cronista esportivo mostra os motivos da escalada da Juventus www.comunitaitaliana.com
Rio de Janeiro, junho de 2015
Ano XXI – Nº 203
ISSN 1676-3220
R 9,00 R$ 14,90
1994 - 2015
Revolução verde A Itália apostou na sustentabilidade, incrementou sua economia com 340 mil empresas que faturam mais do que os negócios convencionais e conquistou o 3º lugar mundial em geração de energia solar País é exemplo para o ensolarado Brasil, que vive crise energética Sebrae: tornar-se sustentável é receita para sair da crise Conheça os aplicativos verdes
Diretor da Ansa fala sobre o que é destaque para a agência
J u nho de 2015
CAPA - Sustentabilidade 28 | A lucrativa Green economy
30 | Como fugir da crise Em tempos de crise hídrica e eletricidade cara, transformar atividade tradicional em um negócio sustentável é receita para alavancar pequenas empresas, afirma o presidente do Sebrae
32 | Intervista Il presidente della commissione Ambiente della Camera dice che difendere l’ambiente è una straordinaria occasione per superare la crisi economica
Nossos colunistas 09 | Cose Nostre
O diretor da agência de notícias Ansa Brasil, Marco Brancaccia, fala sobre a mídia e a economia do país
A Câmara italiana dos Deputados desembarca no Facebook
Política
Facciamo in modo che le Olimpiadi del 2016 siano davvero le più belle mai organizzate: sarà difficile trovare una città altrettanto “meravigliosa”
40 | Lixo recuperado Itália é exemplo para o Brasil, onde os lixões ainda existem e a reciclagem ainda não foi colocada em prática pelo poder público. Com o empenho da prefeitura e dos moradores, cidade toscana de Capannori recicla mais de 80% do seu lixo e quer chegar aos 100% até 2020
42 | Medicina Empresa de Magliano dei Marsi cria remendo feito com tecidos animais como alternativa aos sintéticos, acelerando o processo de cicatrização no corpo humano
junho 2 0 1 5 | c o m u n it à it a lia n a
de iate e sim ter tempo para si mesmo, ficar em silêncio sem ouvir o toque do telefone e praticar o ócio sem culpa
16 | La Boldrini in Brasile Durante visita
59 | Guilherme Aquino O Politécnico de
ufficiale, la presidente della Camera dei Deputati incontra con le comunità italiane a Rio, São Paulo e Brasília
Milão prepara estudo sobre os impactos dos eventos sonoros em frente ao Duomo para prever danos à fachada da igreja
26 | Made in Padova Vênetos querem expandir negócios no Brasil e falam sobre o desafio de internacionalizar suas empresas
Comunidade 51 | 140 anos As comemorações pelo aniversário da chegada dos primeiros imigrantes italianos movimentam todo o estado gaúcho
Esporte 55 | A maior torcida Produzido a partir da reciclagem de garrafas plásticas, sem o uso de produtos químicos e com fibra ecológica, este charmoso casaco impermeável pertence à coleção Max Mara Weekend Outuno/Inverno 2014-2015. Essa é uma das peças sustentáveis lançadas pelas grifes italianas que unem moda e respeito ao meio ambiente
12 | Fabio Porta
13 | Domenico De Masi Luxo? Não é passear
Alguns aplicativos que podem tornar o seu dia a dia mais sustentável O diretor da Enel Green Power para Brasil e Uruguai, Luigi Parisi, fala sobre a construção do complexo em Tacaratu (PE)
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Atualidade 24 | Análise
35 | Tecnologia
36 | Energia solar
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N º203
Rodrigo Luiz
O mapa verde da Itália é vasto e inclui 340 mil empresas, três milhões de empregos e 101 bilhões de euros em valor agregado
A no X X I
Entenda a ascensão da Juve, que chegou à final da Liga dos Campeões
Gastronomia 60 | Diversão gourmet Recém-inaugurado em São Paulo, Eataly atrai todos os amantes da boa comida sob o lema “comer, comprar, aprender”
63 | Ary Grandinetti Nogueira A jornada heróica da vida e os vários estágios que levam ao nosso crescimento pessoal
66 | Claudia Monteiro De Castro A fama dos romanos estarem sempre atrasados não é apenas fama
Editorial
Expediente
A favor do Brasil
A
retração da economia no Brasil deixa em choque todos os habitantes deste imenso país e também investidores que apostaram no crescimento durante os últimos anos. O que parecia ter se tornado a aposta segura com crescimento sustentável volta a criar medo nas famílias que percebem no dia-a-dia a alta da inflação e o aumento do desemprego. Voltamos a ser o país do futuro? O ano está perdido? O problema do cidadão comum é o mesmo de uma empresa, seja de pequeno ou grande porte. Como fazer planos para o futuro em meio a mudanças tão drásticas? Como realizar um planejamento de médio e longo prazo? Porque, teoricamente, o curto prazo está perdido. E a crise, que demorou a chegar por aqui, chegou firme e a população que manifestou parece agora anestesiada. Após os protestos de 2013, a presidente Dilma Rousseff lançou um “acordo” com a sociedade brasileira para acalmar os ânimos. Lançou cinco pactos “a favor do Brasil”. Eram eles a responsabilidade fiscal, a reforma política, melhorias na saúde, na mobilidade urbana e na educação. Passados dois anos, reconhecemos que o governo cumpriu com apenas um desses temas através do Mais Médicos que, à parte as polêmicas sobre os profissionais estrangeiros, sobretudo cubanos, levou milhares de profissionais a locais que nunca viram atendimento nessa área. Segundo o Ministério da Saúde, Pietro Petraglia foram contratados 18.240 para atender a 4.058 municíEditor pios, ou 63 milhões de pessoas. Mas e os outros pontos do discurso? No campo fiscal, o governo precisa equilibrar as contas públicas, depois de estourar os gastos no ano passado com a Copa (rodeada por acusações de desvios) e as eleições. A reforma política está em curso, mas não é um jogo simples para o Planalto. Existe um nó sobre a permissão de doações de empresas privadas para partidos, assim como a mudança nas regras para punir os corruptos, matéria que teria urgência, mas a prioridade agora é o ajuste fiscal. A inflação passou de 5,9%, em 2013, para mais de 8% neste ano, e o PIB, que era de 2,7%, deve ter retração de mais de 1%. É difícil explicar a estrangeiros que por aqui um cidadão comum que por ventura utilize um limite especial numa instituição bancária pode ser penalizado com mais de 150% a mais em relação ao valor principal ao ano, dependendo da instituição. No campo da Educação, Dilma consegue avanços com 75% dos royalties e 50% do Fundo Social do Pré-Sal destinados para o setor. Ela também sancionou o Plano Nacional de Educação, que destina 10% do PIB para a pasta. Mas estamos longe de ser uma “pátria educadora”. Sobre o pacto da mobilidade urbana, o país está estagnado, com apenas 24 obras em curso, dos mais de 200 projetos selecionados. O brasileiro é um povo resiliente e criativo. Essa resistência e criatividade vem da própria formação dessa pátria miscigenada. É duro passar por períodos de sacrifícios econômicos e pior não ter a certeza do que acontecerá no fim do túnel, mas é necessário um comprometimento da sociedade e de suas instituições para que o Brasil volte a crescer e resgate o respeito internacional. Boa leitura! 8
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FUNDADA
EM
MARÇO
DE
1994
DIRETOR-PRESIDENTE / EDITOR: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) PUBLICAÇÃO MENSAL E PRODUÇÃO: Editora Comunità Ltda. TIRAGEM: 70.000 exemplares ESTA EDIÇÃO FOI CONCLUÍDA EM: 12/06/2015 às 19h00 DISTRIBUIÇÃO: Brasil e Itália REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 E-MAIL: redacao@comunitaitaliana.com.br REDAÇÃO: Guilherme Aquino; Gina Marques; Cintia Salomão Castro; Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi; Aline Buaes; Giuseppe Bizzarri SUBEDIÇÃO: Cintia Salomão Castro REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br CAPA: Divulgação COLABORADORES: Pietro Polizzo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Venceslao Soligo; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola; Lisomar Silva; Ary Grandinetti Nogueira CORRESPONDENTES: Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Quintino Di Vona (Salerno); Gianfranco Coppola (Nápoles); Stefania Pelusi (Brasília); Janaína Pereira (São Paulo); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); PUBLICIDADE: Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 comercial@comunitaitaliana.com.br REPRESENTANTES: Central de Comunicação contato: Cláudia Carpes tel. 61.3323-4701 / Cel. 61.8218-5361 brasilia@centralcomunicacao.com.br SCS QD 02, Bloco D, Salas 1002/1003 Edifício Oscar Niemeyer - Brasília ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.
La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220
cosenostre Osompavilhões preferidos uma rede suspensa onde é possível cami-
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nhar, em uma experiência lúdica, interativa e simbólica, o “divertido” Pavilhão do Brasil na Expo 201, assinado pelo Studio Arthur Casas e pelo Ateliê Marko Brajovic, já ganhou a preferência do público. Já os da China, Qatar e Oman ganham em metragem. No quesito beleza, Itália, Azerbaijão, França e México dividem as opiniões.
Poesia no topo m 30 anos de existência desde a criação do Prêmio Mundial de Poesia
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Nósside, uma brasileira saiu-se vencedora absoluta em poesia escrita. A paulistana Cássia Janeiro conquistou os jurados com os versos do poema, Para que Poesia. A cerimônia foi realizada no dia 25 de maio no Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, com a presença do presidente fundador do prêmio, o professor Pasquale Amato. O concurso, apoiado pela Uneso, foi criado em Reggio Calabria em 1983, é dedicado à poetisa grega Nósside de Locri (século III a.C.) e tem como objetivo divulgar obras inéditas.
Contra a fome na Expo
Graziano na Fao
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ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Brasil, Tereza Campello, assinou o Protocolo de Milão, documento com propostas para vencer a desnutrição, que será apresentado ao final da Expo 2015. “Assino o Protocolo porque fornece um ponto estratégico na luta contra a fome e a pobreza”, declarou a ministra, ressaltando o programa Bolsa Família. Lula participou do Fórum de Ministros da Agricultura da Expo e aproveitou para cobrar que os governos ajam para erradicar a pobreza. A presença de Lula em Milão foi noticiada com destaque pela imprensa italiana.
O bom patrão
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empresário Leonardo Del Vecchio, dono da Luxottica, das marcas Ray-Ban e Oakley, apagou 80 velinhas em maio, mas quem ganhou presente foram os funcionários. O chefe distribuiu nove milhões de euros em ações da empresa aos seus empregados. A companhia italiana tem 77 mil funcionários no mundo inteiro, mas o presente foi apenas para os trabalhadores italianos: cada um recebeu 1.224 euros em ações, totalizando 140 mil papéis. Del Vecchio destacou que, com esse pequeno gesto, queria mostrar quanto eles são importantes. O empresário é um dos homens mais ricos do Belpaese e ocupa a 40ª posição no ranking da Forbes .
O A
s redes sociais dividem opiniões na Itália. A presidente da Câmara dos Deputados, Laura Boldrini, comemorou a criação de uma fanpage da casa no Facebook: “A revolução digital no Montecitorio continua, com o objetivo de facilitar a comunicação com os cidadãos”. Em dez dias, alcançou 10 mil seguidores. Na mesma semana, o escritor Umberto Eco polemizou ao criticar as redes por darem voz a uma “legião de imbecis” e “idiotas da aldeia” que agora “têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”. Acontece que, há 40 anos, Nelson Rodrigues disse o mesmo: “Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem”. Até o século XIX, o idiota era apenas o idiota, mas depois passou a existir social e culturalmente e houve, em toda parte, a “explosão triunfal dos idiotas”, constatou o escritor brasileiro. Será que o problema é mesmo a internet?
Vieira e Gentiloni
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ministro das Relações Exteriores da Itália, Paolo Gentiloni, se reuniu com o seu homólogo brasileiro Mauro Vieira no dia 5 de junho, em Roma. Os temas do encontro foram a cooperação econômica entre os dois países e as negociações para um tratado de livre comércio entre União Europeia e Mercosul. Os ministros também falaram sobre investimentos nos setores de energia renovável, automobilístico, de telecomunicações e de infraestrutura.
Com água do mar
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última novidade lançada em Nápoles: pizza feita com água do mar. O criador é o pizzaiolo Guglielmo Vuolo que, após meses experimentando com mais de cinco mil redondas, incluiu a pizza de água do mar no cardápio de seu restaurante. A técnica é complexa e pede uma fermentação de 20 horas em temperatura ambiente. Vuolo disse que criou uma pizza “mais leve, macia, digerível, focada no bem-estar e no prazer do paladar, permitindo a descoberta do gosto autêntico dos ingredientes”. Em tempo: a água usada não é aquela da costa italiana, mas um produto microbiologicamente puro para uso alimentar.
brasileiro José Graziano foi reeleito, no dia 6 de junho, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Graziano, que está no comando desde 2012, permanece por mais quatro anos, até 2019. Ele era o único candidato e recebeu 177 votos de 182 países. Foi o responsável pelo Programa Fome Zero durante o primeiro governo Lula.
Juve Fã Clube
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s torcedores da Vecchia Signora podem comemorar: no dia 27 de maio, foi fundado o Juventus Fan Club de São Paulo, no Circolo Italiano. O presidente do clube é Giovanni Manassero e o vice-presidente é Marco De Biasi. Todos os participantes da reunião foram eleitos sócios fundadores e entre eles está o ex-cônsul geral de São Paulo, Marco Marsilli.
Saviano no RJ
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13ª edição da Flip recebe este ano o escritor italiano Roberto Saviano, conhecido pelo livro Gomorra, que relata em detalhes a organização da Camorra. Saviano hoje mora sob proteção nos Estados Unidos. O evento acontece entre 1° e 5 e julho, em Paraty (RJ).
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Opinião enquete
frases
A energia solar ainda é considerada cara no Brasil. Você a utilizaria em casa se fosse mais barata?
“Sorrentino me deu um presente: imortalizou o meu corpo e a minha juventude”, Madalina Ghenea, ex-modelo e atriz do filme Youth - La giovinezza, do diretor Paolo Sorrentino, apresentado no Festival de Cannes
Sim - 93% Não - 7%
“Ho solo un paio di cose da dire: il sotterraneo sentimento che stare al mondo sia faticoso anche all’apice della bellezza e i rapporti che si stabiliscono nelle relazioni di potere. Queste due cose racconto. A volte ho paura di averle già dette. Di perdere, con l’esperienza, l’entusiasmo”,
No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 26/05/15 e 02/06/15.
cartas
“D
ove sono gli articoli del dott. Maranesi? Lui ha lasciato la rivista? Se è cosí, allora un peccato, perché lui scrive con tanta proprietà che mi fà “viaggiare” nelle sue idee e opinioni sobrie.” SANDRA MONMASON, de Rio de Janeiro (RJ), por e-mail Purtroppo il nostro articolista Ezio Maranesi ha avuto alcuni problemi di salute. Speriamo che si riprenda subito e che possiamo rivedere i suoi belli articoli presto.
“P
arabéns pela bela cobertura da Expo Milano. É sempre bom saber que, mesmo não podendo comparecer ao evento, contamos com uma equipe sempre pronta a nos trazer informações atualizadas.” RITA DE CASTRO CRANGNOTTI, de São Paulo (SP), por e-mail
“Siamo fuori dal tunnel ma le aziende italiane devono crescere ancora. Le imprese devono unirsi con le altre, anche estere”, Leonardo Del Vecchio, fondatore e presidente di Luxottica
Paolo Sorrentino, regista di Youth - La giovinezza, presentato al Festival di Cannes
“Aos 85 anos, continuo fazendo pesquisas, porque pensar não consome energia”, Antonino Zichichi, cientista e físico nuclear italiano
“O meu rol na política não mudou meus hábitos: passo e lavo roupa, vou ao supermercado sozinha”,
“O problema dos imigrantes no Mediterrâneo não é só um problema humanitário, mas de segurança. E nós estamos aqui para agir e agir rápido porque, para nós, é um dever moral”,
Maria Elena Boschi, ministra italiana das Reformas
“A flexibilidade deve entrar no DNA da Europa”,
Federica Mogherini, alta representante para Política Externa e Segurança da União Europeia, durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU
Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu
redes sociais
Na Câmara de Vereadores de SP a presidente da Câmara dos Deputados italiana, Laura Boldrini 10
Silvia Lima: Acredito que ela chegou em um momento oportuno, pois a política brasileira clama por modelos sérios em que o cidadão tenha o seu peso.
Tarde de primavera na Basílica de São Francisco de Assis, região da Úmbria
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Antonio R. Bayma Jr.: Estive aqui na madrugada de 31 dezembro de 2014. Eu estava em peregrinação. Havia saído de Milão, passado por Padova e aqui eu rezava, no caminho para Roma.
Serviço agenda
ECOMONDO - Fiera Internazionale del recupero di materia ed energia e dello sviluppo sostenibile A feira Ecomondo é o ponto de encontro ideal para os grandes operadores da indústria da economia verde realizarem acordos comerciais, assim como apresentar aos seus clientes o que há de mais novo no mercado de sustentabilidade. O evento é considerado como a vitrine mais completa na região mediterrânea da Zona do Euro quando se fala em soluções que aliam tecnologia e sustentabilidade, para a correta utilização de matéria de descarte e reuso como matéria prima sustentável. Data: de 3 a 6 de novembro Rimini - Rimini Fiera S.p.A. www.ecomondo.com Ecoenergy 2015 Ecoenergy é o primeiro evento do Brasil integrado e completo dedicado exclusivamente ao setor das tecnologias limpas
e renováveis para a geração de energia. Com as últimas novidades e inovações em geração, transmissão e comercialização de energia, biomassa, energia eólica, hidráulica, hidrelétrica ou solar, o evento pretende ser uma referência como plataforma informativa e de negócios. Além da exposição comercial, o evento vai trazer palestras e conferências sobre o tema. De 15 a 17 de julho São Paulo Expo – Exhibition & Convention Center www.feiraecoenergy.com.br
Brazil Windpower 2015 Brazil Windpower é a Feira e Conferência dedicada ao setor da energia eólica para a América Latina e o Caribe. Ela apresenta as últimas políticas, tecnologia e estratégias empresariais da indústria
da energia eólica. O evento é uma excelente oportunidade para entrar em contato com os profissionais da área e conhecer as oportunidades para o negócio no Brasil. De 1 a 3 de setembro Rio de Janeiro - Centro de Convenção Sul América www.brazilwindpower.com
Greenbuilding Brasil A Greenbuilding Brasil é a feira de negócios da construção sustentável no Brasil e reúne empresas nacionais e internacionais que fornecem tecnologia, equipamentos e serviços para os tomadores de decisão da indústria da construção sustentável, responsáveis por diversos segmentos, dentre eles, arquitetos, construtores e contratantes, engenheiros e líderes de green building. De 11 a 13 de agosto São Paulo - Transamérica Expo Center www.expogbcbrasil.org.br/2015
clickdoleitor Il futuro è di chi lo fa O autor Dario Paladini dedica o livro a todos aqueles que acreditam na sustentabilidade e de alguma forma lutam por um futuro melhor. O nome do livro é baseado na feira nacional de estilos de vida sustentáveis Fa’ la cosa giusta. A obra reúne imagens e palavras que mostram as novas e criativas ideias, relacionadas ao meio ambiente no país. Paladini mostra como empresas, consumidores, políticos, cidadãos e associações podem fazer parte da economia verde. Editora Terre di Mezzo, 143 páginas, € 10
Rifiuto: Riduco e Riciclo per Vivere Meglio Com a opinião de autoridades italianas e internacionais sobre gestão de resíduos, como Paul Connett, Maurizio Pallas e Gianni Tamino Belosi, a publicação ajuda a entender como cada um de nós pode agir de uma forma concreta para uma melhor gestão de resíduos. Da emergência dos resíduos na Campânia e das estratégias de incineração, o livro mostra algumas das melhores práticas desenvolvidas com sucesso por toda Itália. Editora Arianna Editrice, 154 páginas, € 15
Arquivo pessoal
naestante
Borgofuturo 2015: festival del borgo sostenibile Borgofuturo é o Festival de sustentabilidade ambiental, economica e social realizado na medida para pequenas cidades. Organizado pela Ripe San Ginesio, pequena cidade com apenas 800 habitantes na província de Macerata que possui uma grande vocação ambiental e se destaca pelo diferencial de instalação de painéis fotovoltaicos para a geração de energia solar. Há alguns anos o município produz mais da metade da energia elétrica necessária dos clientes municipais. De 4 a 5 de julho Ripe San Ginesio - Província di Macerata. www.borgofuturo.net
“A
curiosidade pela minha origem italiana atravessou o oceano e se transformou em amor por um certo italiano que hoje se tornou recordação assim como os belos lugares que conheci. Esta recordação é do passeio ao Vicolo Stretto, na cidade siciliana de Taormina, de onde é possível avistar o vulcão Etna e praias paradisíacas com pedras e águas cristalinas. Taormina inspirou artistas como Goethe e Oscar Wild.” ALICE MAININE Resende (RJ) - por e-mail
f a c e b o o k.c o m / com unit ait alianapage | comunit àit aliana.com | j un ho 2015
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opinione FabioPor ta
Rio 2016: le Olimpiadi “meravigliose” Manca solo un anno all’inizio delle Olimpiadi di Rio de Janeiro; il conto alla rovescia è già iniziato… Fabio Porta è il Presidente del Comitato italiani nel mondo e promozione del “Sistema Paese” della Camera dei Deputati italiana; laureato in sociologia economica, vive in Brasile dal 1995
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i ComunitàItaliana sono anzitutto un lettore assiduo; è per questo che ho considerato un grande onore fare parte della grande famiglia dei suoi collaboratori e sarò sempre grato al suo Direttore Pietro Petraglia per l’invito che mi fece otto anni fa, quando non ero ancora un parlamentare della Repubblica italiana. Ho letto con attenzione e sono rimasto particolarmente colpito dall’articolo scritto dal grande sociologo Domenico De Masi nell’ultimo numero della rivista. Di De Masi sono stato allievo e ammiratore, fin dall’epoca in cui ero un giovane studente di sociologia all’Università “La Sapienza” di Roma; ho sempre apprezzato la lucidità e obiettività delle sue analisi e, in anni più recenti, la sua sincera e convinta passione e il grande interesse per il Brasile. Parlando del rischio che il Brasile, a causa del senso di rivolta e frustrazione causato dal susseguirsi degli scandali e dall’escalation della corruzione politica, venga sopraffatto dal complesso del “vira-lata” (cane bastardo) del quale parlava Nelson Rodrigues, De Masi invita i mass-media a dedicarsi da oggi in avanti all’appuntamento dei prossimi giochi olimpici di Rio con lo stesso peso con il quale fino ad oggi hanno seguito la vicenda della Petrobras. Le Olimpiadi, secondo il sociologo italiano, devono essere valorizzate come “un grande test organizzativo e come un’opportunità unica di crescita sociale”. Potrebbero sembrare parole provocatorie o, peggio ancora, un invito a buttare la polvere sotto il tappeto creando un diversivo per distrarre l’opinione pubblica dai gravi episodi prima accennati. Conoscendo l’autore di quelle righe so bene che non è di questo che si tratta. Siamo piuttosto di fronte ad un appello, un saggio avvertimento da parte di un osservatore esterno che al tempo stesso conosce bene i nostri due Paesi; ancora una volta, infatti, ci troviamo di fronte ad un atteggiamento tipico e ricorrente tanto in Italia quanto in Brasile: la facile tentazione di auto-fustigarsi, di volere ostinatamente vedere il bicchiere mezzo vuoto e non quello mezzo pieno.Sistematicamente, riemerge un senso di colpa spesso auto-lesionistico che ci convince di essere Paesi “poco seri” e mai all’altezza delle grandi potenze del pianeta. E invece no, non è così; o meglio, non è esattamente così. L’Italia dell’EXPO di Milano e il Brasile delle Olimpiadi di Rio possono trasmettere al mondo un messaggio diverso: un’immagine basata sull’efficienza creativa
junho 2 0 1 5 | c o m u n it à it a lia n a
Il Brasile è il Paese dell’ozio creativo e Rio de Janeiro è la capitale ideale di questo mondo e sulla capacità innovativa di questi due Paesi così intimamente e storicamente legati grazie a flussi migratori e a valori comuni che nel corso dei secoli hanno cementato questa straordinaria relazione. Il Brasile è il Paese dell’ozio creativo per antonomasia, e Rio con il suo carnevale (il più grande ed efficiente spettacolo organizzato sulla terra) è la capitale di un mondo che sa fare del divertimento e del tempo libero una vera e propria industria capace di dare lavoro a milioni di persone ogni anno. Facciamo in modo che le Olimpiadi di Rio de Janeiro del 2016 siano davvero le più belle mai organizzate, anche perché sarà difficile trovare una città altrettanto “meravigliosa” e “abençoada por Deus” come quella che le ospiterà. I grandi eventi portano con se grosse contraddizioni unitamente ad un reale potenziale di crescita e sviluppo, non solo economico, ma anche sociale e culturale. Spetta ai governanti in primo luogo, ma anche alla società civile, la traduzione di questi aspetti apparentemente in contrasto tra loro in un processo virtuoso che inizia molto prima di questi avvenimenti; un percorso che, se adeguatamente seguito e sviluppato, può essere in grado di trasformare in meglio la città ed il Paese ospitante. E’ per questo che l’Italia ha ripresentato la candidatura della città di Roma per le Olimpiadi del 2024; i traguardi ambiziosi e le sfide difficili possono a volte essere uno stimolo importante, se non necessario, per ritrovare insieme all’autostima perduta la strada di una crescita costante e sostenibile.
opinione
DomenicoDeMasi
Luxo e felicidade Se o luxo pressupõe um teor de vida raro, o que é raro em nossa vida? “Todos os homens – dizia Nietzsche – dividem-se em escravos e libertos por que quem não dispõe de dois terços do seu dia é um escravo”. O verdadeiro luxo, na nossa sociedade pós-industrial, não é o dos iates, casacos de pele e joias, mas consiste em privilégios de outro tipo: ter tempo para si próprio; dispor de espaço para a privacidade; gozar do silêncio não quebrado pelo toque do telefone; não ter medo de ser demitido; brincar sem inibições; admirar a beleza sem ser esnobe; ter amizades sem interesses; amar sem reservas e ser amado sem tabus; viajar sem agências; praticar o ócio criativamente, sem complexos de culpa.
M
oro em Roma, perto do deslumbrante palácio dos príncipes Massimo, e durante anos vi dormir, debaixo de suas colunas, o mais jovem da família nobre, que tinha escolhido viver como um sem-teto. Nem todos os ricos preferem o luxo e sentem-se realizados só quando viajam numa Ferrari ou vestem um colar da Bulgari. Alguns preferem a parcimônia ou até a pobreza, e não se sentiriam à vontade viajando na business da Alitalia. Mesmo o rendimento intelectual independe das condições econômicas: as músicas dos pobres como Beethoven ou Schubert não devem nada às obras de esbanjadores como Wagner ou D’Annunzio. A lista de filósofos, legisladores e predicadores – de Licurgo a Savonarola – que, na história, condenaram o luxo, é longa. Muitos ricaços – de São Francisco a Bin Laden – abriram mão dos luxos para seguir vocações revolucionárias ou a pobreza, consideradas como cartões de embarque para o paraíso. O voto de pobreza, junto com o de castidade e obediência, é exigido por muitas ordens religiosas. O marxismo sempre rotulou o luxo como sinônimo de furto. Os Evangelhos insinuam sérias dúvidas quanto à possibilidade de um rico entrar no paraíso. Mas é também interminável a lista daqueles – de Montesquieu a Sombart – que juram que o luxo constitui o real motor da economia e que o desperdício, ao invés de ser um reprovável pecado, é perfeitamente coerente com a natureza, que vai à frente esbanjando: pensemos só em quantos espermatozoides são sacrificados para que um só fecunde o óvulo. Voltaire, grande racionalista, amava repetir: “Tirem de mim o necessário, mas me deixem o supérfluo” e aquele esnobe de Oscar Wilde amava citá-lo e acrescentava: “Prefiro morrer acima de minhas possiblidades”. Aliás, não há sociedade, mesmo pobre, que não permita, a alguns de seus membros privilegiados de berço, viver num luxo descomedido: os emires árabes, por exemplo, e os marajás indianos, ostentam riquezas vergonhosamente contrastantes com a miséria de seus súditos.
O comunismo demonstrou saber distribuir riqueza sem produzi-la e o capitalismo demonstrou saber produzir riqueza sem distribui-la. Então, mesmo nas nações mais democráticas, os ricos acabam sempre sendo favorecidos. Na era do “democrata” Clinton, os impostos pagos pelos 205.000 contribuintes com renda superior ao milhão de dólares foram reduzidas de 11%. Mas, justamente com a chegada da sociedade pós-industrial, algo comprometeu a concepção e a prática do luxo, ao ponto de Hans Magnus Enzensberger, um dos mais famosos inteletuais alemães, perguntar-se em que consista, afinal, o luxo hoje em dia. Na sociedade rural e na industrial, caracterizadas pelo contraste entre um pequeno número de ricos e uma enorme massa de pobres, quem ostentava o luxo o fazia, sobretudo, para surpreender e para subjugar psicologicamente as classes inferiores, as quais, domesticadas pela mídia, ao invés de indignar-se, amavam admirar as festas dos reis, os iates dos empresários, as liturgias papais, a festa do Oscar.
Domenico De Masi, um dos mais importantes sociólogos italianos, é conhecido pelo conceito de “ócio criativo”, título de um de seus livros mais vendidos no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação
A beleza, que confere felicidade mesmo através de coisas simples e baratas Mas como evolui o conceito de luxo na medida em que se passa da sociedade industrial àquela pós-industrial, onde o bem-estar é mais amplo? Se o luxo pressupõe um teor de vida raro, o que é raro em nossa vida? Enzensberger responde que já andam escassos seis tipos de bem: o tempo, a autonomia, o espaço, o silêncio, a segurança e o ambiente não poluído. Eu acrescentaria pelo menos mais três: a convivência, que ajuda a derrotar a solidão e o tédio; o ambiente criativo, que permite conjugar fantasia e concretude, emotividade e racionalidade; a beleza, que confere felicidade mesmo através de coisas simples e baratas. Mas tem mais: segundo as regras do velho luxo, não era suficiente ser rico e poderoso: precisava saber ostentar. Hoje, ao contrário, para curtir os verdadeiros luxos como o tempo e o silêncio, é necessário ficar no próprio cantinho, sem estardalhaço e sem ostentação. comunit àit aliana | j un ho 2015
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PolĂtica
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Um país que
não acredita nas próprias instituições não tem futuro A presidente da Câmara de Deputados italiana Laura Boldrini fala dos escândalos de corrupção que minam a credibilidade da política e mostra que jamais abandonou sua visão humanitarista Gina Marques
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De Roma
m 25 anos de trabalho com organizações humanitárias das Nações Unidas, ela frequentou campos de refugiados, viu de perto a miséria de pessoas que perderam tudo e defendeu os direitos de dignidade de cada indivíduo. Há dois anos como presidente da Câmara dos Deputados da Itália, Laura Boldrini, 54 anos, enfrenta outros desafios: recuperar a credibilidade da política e combater a desigualdade social. — A política precisa fazer as pazes com a opinião pública. É preciso demonstrar que a política não é toda igual. As instituições têm que recuperar a credibilidade e serem apreciadas. Um país que não acredita nas próprias instituições não tem futuro. A Itália é um dos países que menos acredita nas próprias instituições — explicou a um grupo de jornalistas latino-americanos, entre eles a Comunità, na véspera da sua viagem à Argentina, Chile e Brasil. Em seu país, assim como no Brasil e em outras nações, os escândalos de corrupção devastam a credibilidade da política. A recessão econômica agravou o problema provocando ainda mais a desigualdade. — Na Itália, os cidadãos se sentem traídos por uma política que observou inerte o crescimento da desigualdade, o que mina a democracia; a política deve fazer a limpeza no interior. A democracia precisa defender a ascensão social. Isso significa poder evoluir o status e não ficar parado na mesma condição. Na Itália 50% da população não se move. Os dados da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) de 1980 até hoje dizem que a média da desigualdade nos países europeus é de 12%, porém a Itália registra
33%, o triplo. O que a política fez para nestes anos para evitar isso? — questionou. A presidente da Câmara admitiu também que a política é o espelho da sociedade: — Não adianta contar mentira. Se a política está mal é porque a sociedade está mal. Eu não fiquei doente quando entrei na Câmara dos Deputados. Aqui não tem um vírus. Se você é uma pessoa honesta fora, é honesta aqui dentro. Se você não era saudável antes, continua doente aqui dentro. O problema é que a crise é social; neste caso a política representa exatamente esta crise. Devemos fazer um esforço a favor da moral, não do moralismo, mas dar a prioridade aos valores éticos. Parlamentar cortou 30% de seu próprio salário Boldrini é consciente de que não bastam palavras e receitas para recuperar a credibilidade. Uma das suas prioridades é ouvir a opinião pública com diálogo direto por internet e em encontros com cidadãos. Para ela, é preciso agir e não só falar. — Em dois anos, cortamos 138 milhões de despesas e vamos cortar mais. Eu reduzi meu salário em 30% porque queria dar um sinal claro de que não estava aqui por motivos econômicos. Além disso, decidimos reduzir o salário de alguns membros do parlamento — disse. Pela primeira vez, a Câmara abre ao público milhares de documentos que eram considerados secretos, afirma, ressaltando a necessidade de transparência.
— Há os documentos sobre os assassinatos dos jornalistas Ilaria Alpi e Miran Hrovatin (em 1994, na Somália), os navios dos venenos, além do armário da vergonha, sobre crimes de 70 anos atrás sobre as chacinas dos nazistas e dos fascistas. Agora, estes documentos são acessíveis pela internet. Um país democrático não pode ter medo da verdade, não pode se esconder dos próprios cidadãos — declarou. A parlamentar é a terceira mulher que ocupa o cargo de presidente da Câmara dos Deputados na história da Itália. — Eu estava na Grécia trabalhando com Médicos do Mundo, quando recebi um telefonema de Nichi Vendola (líder do partido Sinistra Ecologia e Libertà, Esquerda Ecologia e Liberdade), que me propôs como candidata. Refleti muito e decidi aceitar porque se tratava de fazer algo útil pelo meu país em um momento difícil. Mas nunca imaginei que dois dias depois de entrar no Parlamento seria eleita presidente da Câmara dos Deputados, algo que nunca aconteceu na história italiana — contou. Mesmo ocupando um alto cargo político, mantém valores humanitários. — A questão da imigração é fundamental no mundo globalizado. O ano de 2014 bateu o recorde com 50 milhões de pessoas que tiveram que migrar. Temos que pensar que todos pertencemos à mesma comunidade humana. Na era global tudo nos afeta. É preciso aprender com a experiência alheia — finalizou.
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Politica
Un rincontro
con l’America Durante la sua visita istituzionale in America Latina, la presidente della Camera dei Deputati ha colto l’occasione per incontrarsi con le comunità italiane e ringraziarle in nome dello stato italiano Stefania Pelusi
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uando aveva poco più di 19 anni, Laura Boldrini, l’attuale presidente della Camera dei deputati ha attraversato l’oceano e dalla sua regione Marche è andata in America Latina e più precisamente in Venezuela. Lì ha lavorato in una piantagione di riso, una finca de arroz, dove i campesinos lavoravano in condizioni veramente molto difficili. Adesso, a 54 anni, Boldrini è ritornata nel continente latino, questa volta come presidente della Camera dei deputati in visita istituzionale dal 21 al 30 maggio e ha fatto tappa in Argentina, Cile e Brasile, ma non si è dimenticata di quel lontano viaggio nel 1981. — Quell’esperienza quando ero giovanissima mi ha fatto capire come la povertà è un meccanismo autopoietico che si riproduce e per interromperlo ci vuole solo una cosa, l’istruzione perché senza non si esce dalla 16
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Latina
spirale della povertà. La mia passione per il mondo è nata in Venezuela e ha condizionato molto il mio futuro, perché poi ho voluto lavorare negli organismi internazionali e se non avessi fatto quell’esperienza oggi non sarei qui e se sono presidente della Camera è perché quella Camera ha voluto riconoscere i valori che io rappresento — ha dichiarato a Comunità durante la sua tappa a Rio de Janeiro. In meno di due settimane e con un’agenda molto fitta, Boldrini ha viaggiato per i tre Paesi e ha invitato i vari presidenti dei parlamenti ad aderire al primo Forum interparlamentare Italia-America Latina che si terrà a Roma il 5 e 6 ottobre
e si concluderà con una visita a Expo 2015 a Milano. Secondo la presidente, sarà un’occasione importante per mettere a punto risposte comuni dei Parlamenti nella lotta alle disuguaglianze e per capire come difendere i diritti dei cittadini nell’epoca della globalizzazione e rispondere alle sfide della cosiddetta antipolitica. A Buenos Aires Boldrini si è incontrata con il presidente della Camera dei deputati dell’Argentina, Julian Dominguez, a Santiago del Cile con il presidente della Camera dei deputati, Marco Antonio Nunez e a Brasilia con il suo omologo brasiliano, Eduardo Cunha. In Argentina la presidente ha conversato con le abuelas e madres de Plaza de Mayo,
La presidente della Camera dei deputati italiana, Laura Boldrini, ha incontrato il suo omologo brasiliano, Eduardo Cunha (con gli occhiali) alla Camera dei deputati brasiliana il 28 maggio
Quattro giorni nel gigante sudamericano, dove Boldrini ha alternato incontri politici a riunioni con le comunità italiane La visita in Sudamerica non è stata solo tracciata nell’ambito istituzionale, ma ha anche avuto una parte dedicata al sociale, con una particolare attenzione alle tante comunità di italiani che vivono in queste tre nazioni. — Un Paese non lo si capisce solamente con le visite istituzionali, ma andando a vedere come si vive in quei luoghi e in Brasile, a Rio de Janeiro in particolare ho trovato una città molto viva e capace di rinnovarsi, ho visitato dei progetti in cui al centro di tutto c’è la formazione, la cultura e la scuola e questo penso che sia lo snodo primario per arrivare allo sviluppo di un Paese, investire sulla scuola — ha spiegato Boldrini durante la sua visita al progetto di don Enrico Arrigoni Cantinho da Natureza che si occupa dell’educazione dei bambini della favela di Morro dos Cabritos, a Copacabana. La prima tappa brasiliana infatti è stata a Rio de Janeiro il 27 maggio dove la presidente è stata invitata a conoscere l’Ong ParaTi a Vila Canoas, fondata 25 anni fa da Franco Urani e dalla moglie, Giuliana Marcon e oggi diretta dalla figlia Lidia Urani. Il padre Franco, purtroppo scomparso nel 2009, era stato il primo presidente della
Divulgação
La presidente cilena, Michelle Bachelet, ha ricevuto Boldrini in udienza al Palacio de La Moneda Boldrini
Boldrini nei corridoi della Camera dei deputati brasiliana accompagnata dal deputato Fernando Jordão (a destra) e dal presidente Eduardo Cunha, il quale ha accettato l’invito al Forum Italia-America Latina che si terrà a Roma il 5 e 6 ottobre
Fiat Brasile e Sudamerica fino agli anni 80, quando aveva abbandonato il lavoro imprenditoriale per occuparsi esclusivamente, insieme alla sua famiglia, di aiuti ai bambini della favela che era cresciuta proprio intorno alla sua villa. — È stato un piacevole riconoscimento istituzionale, soprattutto del lavoro umanitario trentennale della famiglia Urani. Ed è stato un riconoscimento per tutti noi e per il nostro gruppo per la capacità di far incontrare due mondi distanti, come una favela di gente povera e istituzioni dello Stato — ha commentato Mauro Villone, vicepresidente dell’Ong e compagno di Lidia con cui si occupa di vari progetti educativi destinati a circa 300 bambini. Boldrini ha promesso di scrivere all’amministratore delegato
Arquivo Comunità
Fotos: Luis Macedo / Câmara dos Deputados
ha visitato il progetto Ellas hacen in favore di donne disagiate e ha conosciuto i rappresentanti del Laboratorio di Idee Italia-Argentina. In Cile, oltre a visitare i luoghi della memoria del regime di Pinochet, ha incontrato la senatrice Isabel Allende e ha avuto un colloquio con la presidente cilena, Michelle Bachelet, la quale ha ringraziato per quello che fece l’Italia per gli esuli cileni durante la dittatura.
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Politica di Fiat Chrysler Automobiles, Sergio Marchionne, per illustrarli ParaTi, nato da un antico dirigente dell’azienda, affinché valuti un possibile intervento di sostegno. Prima di visitare un altro progetto educativo, Boldrini si è riunita a pranzo con l’Ambasciatore italiano in Brasile, Raffaele Trombetta, il Console generale a Rio, Riccardo Battisti e il Segretario alla Sicurezza dello Stato di Rio de Janeiro, Mariano Beltrame. Quest’ultimo ha illustrato il programma di sicurezza pubblica chiamato Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) impiantato dalla fine del 2008 nelle favelas di Rio con l’obiettivo di recuperare le comunità dominate dal traffico di droga, garantendo una prossimità tra lo Stato e la popolazione. Boldrini ha visto concretamente gli effetti positivi dell’UPP quando ha conversato con don Arrigoni, il quale le ha raccontato com’era la situazione in passato, quando per raggiungere il suo centro educativo doveva passare davanti a uomini del narcotraffico armati. Don Arrigoni che vive da 27 anni a Rio ha ricevuto la presidente della Camera in un clima di
festa con i bambini del Cantinho da Natureza insieme alla Fondazione Avsi, diretta da Paola Gaggini, alle maestre e ai volontari. Boldrini è rimasta entusiasta dell’accoglienza e ha definito questi progetti sociali, delle “eccellenze italiane” che le istituzioni devono sostenere, perché fanno onore all’Italia, ma spesso i loro meriti non vengono adeguatamente riconosciuti. — Nei miei viaggi all’estero cerco sempre di incontrare le comunità italiane perché loro hanno contribuito a fare grande il nostro Paese e hanno contribuito allo sviluppo delle nazioni in cui hanno deciso di vivere. Sono persone che devono assolutamente essere considerate come un valore aggiunto per il nostro Paese e noi dobbiamo essere orgogliosi di loro, quindi dico grazie a tutti gli italiani che nei secoli si sono allontanati dall’Italia e hanno fatto un percorso di dolore perché l’emigrazione è un percorso di dolore, ma poi sono riusciti ad inserirsi nei Paesi di adozione, contribuendo al loro sviluppo, senza dimenticare il loro Paese di origine e hanno tenuto sempre vivo il
ricordo — ha dichiarato Boldrini che ha consegnato la medaglia della Camera dei Deputati a don Arrigoni e Lidia Urani per il lavoro svolto. A Brasilia la presidente della Camera italiana si è incontrata con il suo omologo brasiliano Eduardo Cunha e a San Paolo con l’ex presidente brasiliano Lula Il 28 maggio la presidente italiana si è recata a Brasilia dove si è incontrata con il suo omologo, Eduardo Cunha, alla Camera dei deputati brasiliana con il quale si è confrontata sul cambiamento del sistema elettorale, tema importante per i due Paesi al momento. Cunha ha commentato i principali punti della riforma politica brasiliana, il sistema elettorale e il finanziamento alle campagne politiche. — Personalmente, credo che il finanziamento pubblico, quando è ben utilizzato, sia una forma trasparente e democratica, ma il
“Nei miei viaggi all’estero cerco sempre di incontrare le comunità italiane perché loro hanno contribuito a fare grande il nostro Paese e hanno contribuito allo sviluppo delle nazioni in cui hanno deciso di vivere”
Fotos: Rodrigo Luiz
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A Rio de Janeiro Boldrini ha visitato la scuola Cantinho da Natureza che si occupa dell’educazione dei bambini della favela di Morro dos Cabritos, un progetto di don Enrico Arrigoni, il quale ha ricevuto una medaglia della Camera dei deputati italiana per il suo operato
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Fotos: Rodrigo Luiz
nostro Parlamento ha deciso il modello privato che mi preoccupa. Ci sono alcune incognite. Chi finanzia la politica non lo fa per fare carità, lo fa perché ha degli interessi — ha criticato Boldrini spiegando il nuovo tipo di finanziamento approvato in Italia. Inoltre la presidente ha spiegato che l’Italia sta promovendo una serie di riforme, tra cui quella del lavoro, del Senato e quella costituzionale, su cui si è confrontata con Cunha. Boldrini è stata l’ospite d’onore al pranzo organizzato dalla Camera dei deputati brasiliani a cui hanno partecipato alcuni parlamentari, come Fernando Jordão che ha rappresentato ufficialmente il presidente della Camera di Commercio di Rio de Janeiro, Pietro Petraglia. Nel pomeriggio la presidente si è incontrata con il deputato brasiliano Alessandro Molon, con il quale ha approfondito la Legge sui diritti internet e con la Ministra per lo Sviluppo Sociale e la lotta alla fame, Tereza Campello. Il giorno 29 si è recata a San Paolo, ultima tappa del suo viaggio. Di mattina ha aperto la III Giornata Parlamentare Italia-Brasile dedicata alle città sostenibili e sicurezza alimentare presso l’Assemblea Legislativa della Municipalità di San Paolo a cui hanno partecipato parlamentari italiani e brasiliani. In seguito, la presidente italiana si è riunita con l’ex presidente brasiliano, Luiz Inácio Lula da Silva e ha definito l’incontro come “uno dei momenti più significativi del viaggio in Sud America”. — È contagiosa l’energia che trasmette l’ex presidente del Brasile quando parla delle conquiste del suo Paese nel campo dello
sviluppo — ha commentato Boldrini riferendosi al programma Bolsa Familia, lanciato da Lula dieci anni fa all’inizio del suo primo mandato. I due politici hanno conversato per più di due ore su vari temi, tra cui le riforme politiche in corso nei due Paesi e come combattere le differenze sociali. A pranzo Boldrini si è incontrata con il Gruppo Esponenti Italiani (GEI), entità che riunisce importanti personalità legate all’Italia che operano in Brasile. La presidente ha dedicato il pomeriggio a conoscere la comunità italiana presente a San Paolo incontrandosi con una rappresentanza di giovani professionisti italiani presso il Consolato, con il neo eletto Comites e con i rappresentanti della Camera di Commercio e altre associazioni ed enti italiani. Il viaggio nell’America meridionale si è concluso sabato 30 con la visita al Museo dell’Immigrazione e all’Arsenale della Sapienza, gestito dal Servizio missionario giovani di Torino (Sermig) a San Paolo. Passando per i luoghi dell’antica Hospedaria de Imigrantes, Boldrini ha avuto l’opportunità di ripercorrere un poco la storia delle centinaia di migliaia di immigranti italiani che tra
In alto a sinistra il Console generale a Rio de Janeiro, Riccardo Battisti e l’Ambasciatore italiano a Brasilia, Raffaele Trombetta conversano con la presidente Boldrini dopo il pranzo a cui ha partecipato anche il Segretario della Sicurezza dello Stato di Rio, Mariano Beltrame (con giacca chiara)
L’ex presidente brasiliano Lula stringe la mano della presidente Boldrini accompagnata dall’Ambasciatore italiano, Raffaele Trombetta
il 1890 e il 1930 venivano ricevuti e visitati in questo edificio prima di andare a lavorare nelle piantagioni di caffè. Oggi una parte dell’Hospedaria è diventato un centro dove i più disagiati, inclusi migranti, oltre a un alloggio e ai pasti, ricevono istruzione e formazione professionale. Boldrini si è dimostrata contenta nel vedere come all’Arsenale della Sapienza convivano “la memoria e il presente di un fenomeno che farà sempre parte della storia dell’umanità”. — Il Brasile, come gli Stati Uniti, è un Paese cresciuto sulla fusione di tante culture e sul lavoro d’immigrati, giunti soprattutto dall’Europa — ha sottolineato la presidente della Camera durante la visita al Museo dell’Immigrazione nella capitale paulista, concludendo così il suo viaggio in Brasile, dove spera di ritornare. Boldrini è rimasta affascinata dal gigante sudamericano, “un Paese che ha fatto molto anche per abbattere la povertà assoluta, la fame e che, nonostante le difficoltà, spera che possa continuare in questo sforzo che finora ha dato straordinari risultati”.
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Politica
Arriva
l’Italicum Premio di maggioranza per i vincitori e corpo elettorale più ampio all’estero
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Stefano Buda Da Roma
lla fine ha vinto Renzi. L’Italicum, la nuova legge elettorale italiana, approvata in via definitiva dalla Camera il 4 maggio scorso e promulgata due giorni dopo dal presidente della Repubblica, entrerà in vigore a partire dal luglio del prossimo anno. La legge è passata con 334 voti a favore, 4 astenuti e 61 contrari. I partiti di opposizione hanno abbandonato l’aula per protesta, contestando la riforma nel merito, ma anche per il metodo che ha portato alla sua approvazione, visto che il Governo ha posto la fiducia, mettendo il parlamento davanti ad un aut aut: se la nuova legge non fosse passata, si sarebbe tornati al voto. Una scelta che ha indotto anche i più scettici, all’interno della maggioranza, a tornare nei ranghi.
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Se gli esponenti dell’opposizione, appartenenti ai gruppi parlamentari di Forza Italia, Movimento 5 Stelle, Lega e Fratelli d’Italia hanno disertato il voto, i deputati di Sel sono stati gli unici a restare in aula, per manifestare apertamente il proprio dissenso. Solo pochi esponenti della minoranza Pd, tra i tanti che contestano la linea Renzi, hanno invece deciso di astenersi. Impossibile non rilevare la giravolta del leader di Forza Italia, Silvio Berlusconi, che per molto tempo è stato l’alleato di ferro di Renzi e uno dei maggiori sostenitori dell’Italicum, e che invece, dopo la rottura con il premier, consumatasi sull’elezione di Sergio Mattarella al Quirinale, ha bollato lo stesso Italicum come “una legge autoritaria e anti-democratica”.
Dal punto di vista politico, ad ogni modo, è stata una grande vittoria del premier fiorentino, che con un capolavoro di strategia si è servito di Forza Italia fino a quando ne ha avuto bisogno, per poi abbandonare Berlusconi al suo destino e ricompattare quasi integralmente il suo partito. Un successo anche in termini di immagine: erano anni che l’intero arco parlamentare, compreso lo stesso estensore della vecchia legge elettorale, Roberto Calderoli, convergevano sulla necessità di mandare in pensione il cosiddetto Porcellum, la legge elettorale approvata nel 2005 dal governo Berlusconi. Per quasi dieci anni non si è fatto che parlare di riforma elettorale, ma solo dopo che nel 2013 la Corte Costituzionale ha dichiarato incostituzionale la legge Calderoli, i partiti sono stati costretti ad affrontare di petto il problema. Ancora una volta, però, la macchina del cambiamento si è messa in moto con estrema lentezza, tra divisioni, veti incrociati e barricate in nome dei soliti interessi di bottega.
Renzi, il premier che si autorappresenta come l’uomo del fare, aveva annunciato che avrebbe portato a casa la riforma ed è stato di parola. Lo ha fatto senza andare troppo per il sottile e creando uno strappo istituzionale con il parlamento, ma ha incassato i risultati che si era prefissato: proiettare, ancora una volta, l’immagine di efficienza, cambiamento e capacità decisionale, ma soprattutto approvare una legge elettorale costruita su misura per le esigenze del suo partito, che secondo tutti i sondaggi è ampiamente in testa nelle intenzioni di voto degli italiani e che, dunque, appena si tornerà alle urne, con ogni probabilità potrà contare su una maggioranza blindata. “Impegno mantenuto, promessa rispettata, l’Italia ha bisogno di chi non dice sempre no. Avanti con umiltà e coraggio”: è stato il primo commento di Renzi, su Twitter, subito dopo l’approvazione della legge. Se il coraggio non gli fa difetto, l’umiltà non è certo una sua prerogativa. E qualcuno, per completare il quadro, ha evocato l’incoscienza. Tra questi l’ex numero uno del Pd, Pierluigi Bersani, che si è soffermato su uno dei punti più delicati del testo approvato, ovvero l’assegnazione del premio di maggioranza, che rischia di conferire un potere sproporzionato alla forza politica che vince le elezioni. — Adesso che c’è il mio segretario, che è il migliore, va anche bene. Ma se dopo di lui arriverà qualcuno meno bravo, qualcuno al quale occorre stare attenti, le cose rischiano di farsi pericolose — ha osservato Bersani, con una punta di sottile ironia. Capilista bloccati e preferenze tra le novità Il premio di maggioranza assegnato dall’Italicum è in effetti cospicuo: la nuova legge elettorale, di tipo proporzionale, prevede che alla lista che supera il 40% vengano assegnati 340 seggi su 630. Se nessuna lista raggiunge tale soglia, vanno al ballottaggio le prime due forze più votate. Il risultato è che un partito che raccoglie meno del 30% dei consensi nel Paese, rischia di ottenere il 53% dei seggi disponibili alla Camera. I rimanenti 290 seggi vengono redistribuiti tra le liste perdenti, a condizione che abbiano superato lo sbarramento del 3%. Entrando ancora di più nello specifico, l’assegnazione dei seggi avviene proiettando le percentuali ottenute dai partiti a livello nazionale su 100 collegi, in ognuno dei quali sono
La deputata eletta in Brasile ha inoltre rivelato: — Tra pochi giorni porteremo al Parlamento brasiliano, su richiesta del presidente di quella Camera dei deputati, Eduardo Cunha, il modello di questa legge, perché anche lì devono fare una nuova legge elettorale entro la fine del mese. Bueno ha poi riservato una stilettata ai partiti che hanno abbandonato l’aula. — Le opposizioni, che parlano tanto di democrazia in un momento così importante, mentre si decide su una legge elettorale che darà le nuove direttive democratiche a questo Paese, abbandonano l’aula, negando ai propri esponenti la possibilità di esprimere le rispettive volontà attraverso il voto — ha rimarcato la deputata, tra gli applausi dei parlamentari del Pd.
Renata Bueno favorevole: “Porteremo questa legge al presidente della Camera brasiliana” eletti 6 o 7 deputati. Si assiste, in sostanza, ad un deciso passo in avanti in termini di governabilità, ma a molti passi indietro in termini di rappresentatività. Un altro aspetto molto importante, introdotto dalla nuova legge elettorale, è il parziale ritorno al voto di preferenza. Negli ultimi anni tutti gli osservatori e gli esponenti politici hanno denunciato il paradosso che a scegliere i candidati da eleggere fossero ormai soltanto i partiti e non più direttamente i cittadini. In testa ai critici delle liste bloccate c’era proprio Renzi, che però, dopo essere diventato premier, ha cercato fino all’ultimo di scongiurare il ritorno al voto di preferenza. Il compromesso finale, raggiunto con l’Italicum, prevede il capolista bloccato, che dunque verrà eletto automaticamente qualora scatti il seggio per la lista e il voto di preferenza valido solo per il resto dei candidati. Un meccanismo che la deputata italo-brasiliana Renata Bueno, nel corso della sua dichiarazione di voto alla Camera, ha giudicato positivamente. — Voterò a favore della legge elettorale — ha detto Bueno in parlamento — anche perché in Sud America oltre un milione di nostri cittadini hanno il diritto di voto e hanno da sempre votato con le preferenze e potuto scegliere direttamente i loro rappresentanti.
Potranno votare per corrispondenza i cittadini che si trovano all’estero per almeno tre mesi L’Italicum contiene alcune novità che riguardano da vicino anche il Brasile e il resto delle circoscrizioni estere, che complessivamente eleggono 12 deputati: il sistema elettorale, che era stato a lungo oggetto di ipotesi di trasformazione, resta quello vigente. I seggi continueranno dunque ad essere attribuiti alle ripartizioni in base alla popolazione italiana residente e nell’ambito di ciascuna circoscrizione saranno assegnati alle liste in proporzione ai voti ottenuti. Aumenterà, invece, il corpo elettorale, dal momento che potranno votare per corrispondenza, nell’ambito delle circoscrizioni estere, anche i cittadini italiani che si trovano fuori dai confini nazionali per almeno tre mesi, per motivi di studio, per ragioni di lavoro o per sottoporsi a cure mediche. Altre novità di carattere generale, introdotte dall’Italicum, sono la preferenza di genere (sarà possibile votare per due candidati di una stessa lista, purché un voto sia assegnato ad un candidato di genere diverso dall’altro, mentre se vengono assegnate due preferenze a candidati dello stesso sesso la seconda preferenza sarà annullata), l’alternanza uomo-donna (le liste dovranno esser composte in modo da alternare un uomo ad una donna e nell’ambito di ogni circoscrizione i capilista di un sesso non dovranno essere superiori al 60% del totale), le multi candidature (un candidato potrà presentarsi in più collegi, fino ad un massimo di 10) e la nuova composizione delle schede (ogni scheda vedrà a fianco del simbolo di ciascun partito il nome del capolista bloccato e due spazi dove scrivere le due eventuali preferenze). Il vecchio Porcellum, che già dal nome risultava indigesto, va dunque in pensione. Arriva invece l’Italicum, che a seconda dei punti di vista contiene aspetti migliorativi e aspetti controversi. Solo il tempo e la storia diranno se la nuova legge elettorale potrà contribuire a rendere l’Italia un Paese più moderno ed efficiente. comunit àit aliana | j un ho 2015
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Attualità
Paese che vai, corruzione che trovi Male Italia e Brasile, sullo stesso gradino nella classifica della corruzione mondiale Stefano Buda
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Da Roma
talia e Brasile, Paesi diversi ma lo stesso livello di corruzione. E’ quanto emerge dall’ultimo rapporto fornito da Transparency International, organizzazione non governativa internazionale, fondata da Peter Eigen, che per molti anni si è occupato di sviluppo economico come direttore di una sezione della Banca Mondiale. Transparency ha sviluppato il Corruption Perception Index (Cpi), una classifica comparativa della corruzione, che viene aggiornata e pubblicata ogni anno. L’ultimo studio, relativo al 2014, pone Italia e Brasile soltanto al sessantonovesimo posto sul piano della trasparenza, allo stesso livello di Bulgaria, Grecia, Senegal e Romania e dopo Paesi ben più arretrati come Namibia, Rwanda, Ghana, Cuba, Turchia e Macedonia. Il rapporto mette a confronto i livelli di corruzione percepita, nel settore pubblico, in ogni parte del mondo: l’indice viene calcolato utilizzando dodici differenti fonti di dati, provenienti da undici diverse istituzioni internazionali, che registrano la percezione della corruzione nel settore pubblico. La corruzione percepita, pur non essendo nelle condizioni di fotografare una condizione oggettiva, è un indicatore di grande rilievo, perché è proprio la percezione di fenomeni relativi al funzionamento o al mal funzionamento di un sistema nazionale ad orientare gli investimenti della maggior parte delle imprese, che tendenzialmente preferiscono evitare di invischiarsi in contesti caratterizzati da incertezza e malaffare, in quanto fonti di costi aggiuntivi e di possibili complicazioni. A livello globale, i risultatidipingono un quadro allarmante: neanche un singolo Paese, in una scala che va da 0 (molto corrotto) a 100 (molto pulito), ottiene il punteggio massimo, mentre più dei due terzi dei Paesi esaminati si attesta al di sotto dei 50 punti. Tra questi anche l’Italia e il Brasile, 22
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entrambi con un punteggio pari a 43: se il Brasile guadagna un punto rispetto al 2013, l’Italia evidenzia lo stesso punteggio dell’anno precedente. Alcune delle conseguenze della corruzione nel settore pubblico sono scuole male attrezzate, medicine contraffatte ed elezioni influenzate dai flussi di denaro – è l’analisi di Transparency International. Tangenti e accordi sottobanco sottraggono risorse alle fasce sociali più deboli, minano la giustizia, compromettono lo sviluppo economico e distruggono la fiducia dei cittadini nei governi e nelle loro leadership. A livello mondiale, i meno corrotti sono Danimarca (93 punti), Nuova Zelanda (92 punti), Finlandia (89 punti), Svezia (87 punti), Norvegia e Svizzera (86 punti). Tra i sudamericani le performance migliori sono quelle di Cile e Uruguay, con 73 punti. Il Brasile può consolarsi parzialmente guardando a molte altre realtà limitrofe, che evidenziano un livello di corruzione elevatissimo: a partire dal Venezuela (con appena 19 punti) e dal Paraguay (24 punti), passando per l’Argentina (34 punti) e la Bolivia (37 punti), fino ad arrivare alla Colombia (37 punti) e al Peru (38 punti). Considerando che nell’area sudamericana la corruzione assume le caratteristiche di una sorta di male endemico, dal quale gradualmente alcuni Paesi stanno cercando di affrancarsi, il Brasile può guardare il bicchiere mezzo pieno, visto che la propria condizione è piuttosto vicina a quella di numerose realtà occidentali.
L’Italia occupa l’ultimo posto dell’UE e tra le potenze del G7 Discorso completamente diverso per l’Italia, che è pur sempre la settima potenza manifatturiera nel mondo ed è inserita nel rigido e complesso sistema europeo, al quale avrebbe il dovere di uniformarsi: il sessantanovesimo posto, infatti, vale al Belpaese la maglia nera tra tutti gli Stati occidentali e naturalmente l’ultimo posto tra i Paesi membri dell’Unione Europea e l’ultimo posto tra le potenze del G7. Considerando che negli ultimi anni l’Italia, nell’ambito del Corruption Perception Index, era in caduta libera, essere rimasti in linea con il dato dell’anno prima significa quanto meno avere posto un freno all’escalation
della corruzione percepita. Potrebbe aver avuto un effetto positivo, in tal senso, il varo della legge Severino, in materia di “repressione della corruzione e dell’illegalità nella pubblica amministrazione”, che venne licenziata dal governo Monti nel 2012. Anche i nuovi poteri attribuiti dal governo Renzi all’Autorità anticorruzione, con l’affidamento della presidenza ad una figura specchiata e al di sopra di ogni sospetto, quale quella del magistrato Raffaele Cantone, potrebbero essere stati interpretati come i segnali di un’inversione di tendenza. Qualcosa recentemente si è mosso, ma sicuramente non è abbastanza. Le misure adottate finora sono ancora troppo timide e troppo circoscritte, per fermare quello che Confindustria, la confederazione degli industriali italiani, ha definito “un cancro da 300 miliardi di euro”. Il massimo organismo che riunisce le imprese del Paese, infatti, ha calcolato che se dal 1992, ovvero l’anno in cui scoppiò la prima grande inchiesta giudiziaria denominata Mani Pulite, l’Italia avesse ridotto la corruzione al livello della Francia, il prodotto interno lordo, nel 2014, sarebbe stato superiore di quasi 300 miliardi euro, pari ad una ricchezza di 5 mila euro per ogni cittadino italiano. E invece l’Italia continua ad arrancare. Gli scandalisono all’ordine del giorno: basti pensare alle varie inchieste giudiziarie sull’Expo di Milano, sul Mose di Venezia o su Mafia Capitale, ma anche ai medi e piccoli scandali che continuano a proliferare riempiendo quotidianamente le pagine dei giornali italiani. Anche il governo Renzi, recentemente, è stato toccato dagli scandali, con l’inchiesta giudiziaria condotta dalla procura di Firenze sul sistema delle Grandi Opere: secondo l’accusa, una sorta di cupola, composta da dirigenti del ministero delle Infrastrutture, politici e imprenditori, pilotava gli appalti relativi alle opere più importanti da realizzare in Italia, comprese alta velocità ferroviaria e autostrade. L’ex ministro competente, Maurizio Lupi, pur non essendo indagato è stato costretto a dimettersi: la pubblicazione di alcuni intercettazioni telefoniche a carico di una persona coinvolta nell’inchiesta, infatti, ha fatto emergere la richiesta effettuata da Lupi, ad un imprenditore interessato all’ottenimento di alcuni appalti pubblici, di dare un posto di lavoro al figlio.
Il figlio dell’ex ministro ottenne effettivamente il lavoro e in un Paese come l’Italia, piegata dalla crisi e dalla disoccupazione, una vicenda simile ha destato più rabbia e scalpore di mille tangenti milionarie. Per restituire credibilità al Paese e rimuovere le incrostazioni che da qualche annotengono lontani molti investitori stranieri, il governo dovrebbe innanzitutto adottare provvedimenti che rendano più trasparente la gestione degli appalti pubblici, più snelle le procedure burocratiche e più certe e severe le pene per i protagonisti del malaffare. Un compito non facile, considerando le resistenze di ambienti corporativi e lobbies di vario genere. Rimandare, però, non è più possibile. A chiedere un intervento deciso e rigoroso, che consenta di invertire la marcia, da diverso tempo ci si è messa anche l’Europa. L’Italia, però, continua a muoversi con estrema lentezza rispetto alle sollecitazioni che arrivano dall’UE, soprattutto su temi come il falso in bilancio, la prescrizione nei processi, l’autoriciclaggio e il whistleblowing.
La ricerca pone Italia e Brasile allo stesso livello di Bulgaria, Grecia, Senegal e Romania e dopo Paesi ben più arretrati come Namibia, Rwanda, Ghana e Macedonia La corruzione è un problema per tutti i Paesi e crea disagi a tutti i cittadini – ricorda Transparency International - Un punteggio basso, nel Corruption Perception Index, è probabilmente un segno di corruzione diffusa, che può essere alimentato da carenze nella persecuzione dei reati. L’organismo indipendente conclude: anche i Paesi che evidenziano un punteggio elevato hanno il dovere di agire e i principali centri finanziari dell’UE e degli Stati Uniti dovrebbero condurre una battaglia unitaria, insieme alle economie in fase di espansione, per individuare i corrotti ed evitare che la facciano franca. Italia e Brasile, insomma, hanno molto lavoro da fare. Ma è tempo che anche la comunità internazionale, nel suo insieme, affronti di petto il problema.
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Atualidade
Notizie
dal Brasile O diretor da Ansa Brasil fala da realidade do país, marcado pelos contrastes sociais, e reafirma a importância da sede de São Paulo para a agência italiana Stefania Pelusi
A
primeira impressão que o diretor da Ansa Brasil, Marco Brancaccia, teve ao chegar à capital paulista foi a de ter tomado o avião errado com destino a Bruxelas ou Londres. Durante uma semana, choveu sem parar e fez frio. — Não foi a chegada que eu tinha imaginado. Mas o Brasil muitas vezes é diferente da imagem que se tem no exterior, em particular na Itália. Quem vê de fora pensa nos cartões-postais de agências de turismo, mas há outra face, muitas vezes desconhecida, que é a mais verdadeira — conta à Comunità do seu escritório em São Paulo, onde mora desde 2012. Segundo ele, trabalhar e morar na cidade é como viver em uma metrópole em qualquer outra parte do mundo, com um pouco mais de riscos, pois, “como todas as principais cidades brasileiras, é bastante perigosa”. Brancaccia diz que já foi assaltado com uma arma, ao sair 24
para almoçar no bairro nobre do Itaim Bibi, onde fica a Ansa. Apesar disso, ele afirma que não foi difícil se adaptar à realidade brasileira. — É um país com muitas contradições, mas é belíssimo, com pessoas interessantes, estimulantes. Ainda que eu morasse aqui pelo resto da minha vida, não conseguiria vê-lo por completo, de tão grande que é — destaca o diretor romano. A Ansa, a principal agência italiana de notícias, e uma das mais importantes no mundo, nasceu há
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O diretor Marco Brancaccia na redação da Ansa, em São Paulo
mais de 60 anos. Presente em 90 países, produz diariamente mais de 3500 notícias e mais de 1500 imagens através de diversas plataformas e em diferentes formatos. O escritório em São Paulo foi aberto em 1964 e é a sede principal no país. — A Ansa aposta muito no Brasil e esse é um escritório importante. Produzimos um noticiário em italiano e outro em português, que se soma aos que a agência oferece em inglês e em espanhol. Além disso, há o site Ansa Brasil, que foi totalmente renovado em junho de 2013 — relata o diretor, satisfeito com o portal que bateu o recorde imediatamente depois da Copa do Mundo e a cada mês aumenta o número de visitantes.
Agência aposta na internet e na italianidade como um diferencial O italiano explica que no site são publicadas notícias de interesse italiano, com atenção também para o lado brasileiro. — Não podemos ser um site brasileiro, pois não teríamos a força para competir com os grandes portais, mas destacamos o diferencial da Ansa, a italianidade — frisa. De acordo com Brancaccia, o volume de notícias no Brasil é grande, porém eles avaliam e selecionam o que interessa ao público italiano, concentrando-se sobre temas relacionados à política, como as últimas eleições e os recentes casos de corrupção, e à economia, além das crônicas. — Há um personagem aqui no Brasil que todos conhecemos e que interessa muito aos veículos italianos. Quando se fala em Cesare Battisti, há sempre grande atenção, pois é um caso que ainda marca a relação entre os dois países — explica o diretor, o primeiro que noticiou a prisão preventiva do ex-ativista em março. Outro caso que atrai os brasileiros e os italianos que vivem no país é o do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, que fugiu para a Itália com identidade falsa após ser condenado no processo do mensalão. Brancaccia admite que é difícil cobrir o Brasil, pois a imprensa italiana, como as de muitos países ocidentais, está um pouco distraída e acende os holofotes na ocasião de grandes eventos, como a Copa. — O Brasil tem o tamanho de um continente e é claro que não faz sentido falar do país em termos gerais, pois aqueles que vivem em São Paulo não são como os que moram no Nordeste ou na Amazônia. É um país com algumas zonas mais avançadas do que na Europa e outras onde se vive como na África: uma desigualdade enorme. Em São Paulo, por exemplo, o número de helicópteros privados superou o de Nova York — destaca, esclarecendo que essas contradições não são apenas brasileiras, mas de quase toda a América Latina. Uma análise da crise econômica brasileira, uma bola de neve que agrava os problemas sociais Brancaccia não se atreve a fazer previsões sobre o futuro do Brasil, pois é difícil entender o impacto da
crise internacional, já que “os efeitos da crise aqui chegaram mais tarde, se compararmos com Europa e Estados Unidos, onde começou”. — A economia brasileira cresceu na última década a um ritmo bastante elevado. Depois, nos últimos anos, desacelerou e, obviamente, aumentaram os protestos — analisa, lembrando que, quando a economia não vai bem, gera uma grande insatisfação e essa fórmula é igual em quase todo o mundo. — O governo mudou a equipe econômica com uma tentativa de abertura aos mercados. Isso é bom, mas se a economia não é retomada, acontece o mesmo que na Itália e na Europa, ou seja, tudo para e, obviamente, aumenta a insatisfação e os problemas sociais se acentuam, pois o governo não tem dinheiro suficiente para investir em projetos sociais — afirma o diretor, que trabalha na Ansa desde 1988. A agência não permite opiniões: o jornalista deve relatar o fato sem tecer comentários. Brancaccia lembra sempre as palavras do então diretor Sergio Lepri, ditas quando o contratou: “Querido Brancaccia, eu não sei o que você pensa politicamente, mas não quero descobrir lendo as suas matérias”. Entre o jornalismo italiano e o brasileiro, o profissional não vê muitas diferenças. Os impressos têm um bom nível, como também os sites, que dedicam uma parte importante a questões nacionais, sem ser provincianos, analisa. — A televisão é um discurso à parte. Como na Itália, caminha na direção da espetacularização — define, criticando também o jornalismo italiano, que “se concentra muito mais nas polêmicas do que na política verdadeira”. A experiência que marcou a carreira do diretor foi a cobertura da guerra nos Bálcãs Antes de se mudar para o Brasil, o jornalista foi responsável, entre 2001 e 2006, pelo escritório na Cidade do México, já fechado, além de ter trabalhado nas sedes de Washington e Londres, e ter sido correspondente de guerra nos Bálcãs, em Kosovo, e na Líbia, quando o ditador Muammar Kadafi foi deposto. As experiências de guerra foram as que mais o marcaram, porque viver de perto um conflito é algo que afeta também a vida privada, “te faz ver as coisas de um ponto de vista diferente”.
“A memória é um pouco fraca. Forças políticas do norte e nordeste italiano esqueceram o que aconteceu há menos de um século. Hoje, quando chegam imigrantes, os rejeitam. Esse é um assunto um pouco difícil de explicar aos italianos que vivem no Brasil” Marco Brancaccia, diretor da Ansa Brasil — Se tivesse feito outro trabalho, não teria feito essas experiências. Sou muito grato, pois me enriqueceram em nível pessoal — conta Brancaccia, que sempre trabalhou no setor internacional da Ansa. Uma vez lhe ofereceram uma vaga na sede de Bruxelas, mas ele recusou. Afinal, o que mais gosta de fazer é contar histórias, e a América Latina é um dos continentes onde há muitos acontecimentos para relatar. — As pequenas histórias, em minha opinião, descrevem melhor o país, como quando visitei o Museu da imigração em São Paulo. Fiquei comovido. É muito forte o vínculo entre as nossas origens e o Brasil — comenta o diretor, que se lembrou dos milhões de italianos que cruzaram o oceano para tentar a sorte em solo brasileiro, situação que agora vemos diariamente nos barcos de imigrantes que atravessam o Mediterrâneo. — A memória é um pouco fraca. Algumas forças políticas nas regiões do norte e nordeste italiano, onde houve uma grande emigração, esqueceram o que aconteceu há menos de um século. Hoje, quando chegam outras pessoas, os rejeitam, em vez de acolhê-los. Esse é um assunto um pouco difícil de explicar aos italianos que vivem no Brasil — reflete. comunit àit aliana | j un ho 2015
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Economia
desafio O de
exportar
Empresários padovanos apostam no Brasil para expandir os negócios, mas globalizar nem sempre é tarefa fácil na economia vêneta, caracterizada pela gestão familiar Cintia Salomão Castro
P
adova vuole il Brasile. As empresas de uma das regiões mais ricas e industrializadas da Itália estão à procura de parceiros e clientes no país. O momento por si só já é desafiador: enquanto a economia brasileira enfrenta a sua primeira grande crise dos últimos 10 anos, a Itália mostra sinais de recuperação de um dos períodos mais difíceis de sua história. A lição aprendida pelas empresas vênetas, caracterizadas pela gestão familiar, é que a internacionalização é a alma do negócio em tempos difíceis. Por isso, em maio, oito empresas da província de Padova (Pádua), pertencentes a variados setores, da gastronomia ao de máquinas industriais, aportaram em uma missão no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde visitaram fábricas e encontraram importadores e possíveis clientes. — O Brasil é um mercado que queremos monitorar sempre. Ano passado, estivemos em São Paulo e em Belo Horizonte. Este ano, decidimos incluir o Rio. A maior parte das empresas participantes ainda não faz negócios aqui — explica Lynda Bonaguro, da Padova Promex, braço da Câmara de Comércio de Padova que apoia as empresas que querem exportar, e que organizou os encontros, juntamente com a Câmara de Comércio Ítalo-brasileira do Rio. Em reportagem especial de dezembro de 2013, Come creare imprense globali, o jornal Il Mattino di Padova falava da importância, para as empresas de condução familiar, de se investir no comércio com os países do BRIC e de outros mercados emergentes, como Coreia do Sul, Turquia e México. Muitos foram os avanços nos últimos anos, confirma Lynda.
“Por causa dos impostos altos, calcula-se que o produto no Brasil deve custar o dobro do que custaria na Itália. Por isso, o ideal é encontrar um partner através do qual se possa produzir localmente. Enviar o ‘coração’ do produto da Itália e finalizá-lo aqui, por exemplo, simplificaria o processo” Lynda Bonaguro, da Padova Promex 26
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O vice-presidente da Câmara Ítalo-brasileira do Rio, Raffaele Di Luca; o subsecretário de estado de Relações Internacionais, Pedro Spadale; a diretora da Padova Promex, Lynda Bonaguro; e o diretor executivo da Câmara, Giorgio Rossi, no Rio: perspectivas de negócios são boas
— Há duas décadas, não existia essa preocupação, de se internacionalizar. A globalização trouxe outras preocupações e muita coisa mudou. Os turcos, por exemplo, avançaram muito. A União Europeia não é mais considerada estrangeira. As empresas italianas e vênetas tiveram que se organizar. Muitas daquelas que são familiares estão desaparecendo e quem conseguiu se manter nos últimos anos são justamente aquelas que souberam investir na relação com o exterior — confirma a especialista. O desafio de se internacionalizar é grande em uma região de fortes tradições culturais, onde o dialeto é falado com afinco. Entre regionalismo e globalização; condução familiar e administração manageriale; o Vêneto vive o seu paradoxo industrial e cultural diário. A Câmara de Comércio da província de Padova reúne 95 mil empresas inscritas, das quais 1800 são exportadoras habituais. Impostos altos exigem parceiros locais As características culturais e legislativas de cada país podem ser um desafio para os exportadores. Em sua reportagem, o Il Mattino
ressaltava as normas locais para obter autorização de governos de países como a Índia. Em relação ao Brasil, o jornal italiano destacou a complexidade financeira e jurídica do país, aspectos confirmados pelas empresas estrangeiras que, em princípio, podem sentir dificuldades para entrar no mercado nacional. — Temos dificuldade em relação aos impostos de importação, que são altos. São três tipos: municipal, estadual e federal. Com tudo isso, calcula-se que o produto custa o dobro do que custaria na Itália. Por isso, o ideal é encontrar um partner através do qual se possa produzir localmente. Pode-se, por exemplo, mandar o “coração” do produto da Itália e finalizá-lo aqui, o que simplificaria o processo. Outro problema é o idioma. Poucas empresas brasileiras têm funcionários que falam inglês, e isso complica as coisas. Nós aqui facilitamos o primeiro contato, com tradutores inclusive, mas depois é necessário fazer o folllow up. As empresas italianas também devem se preparar contratando, por exemplo, pessoas que falem português — detalha Lynda.
Os números da exportação de Padova para o Brasil Metalúrgico
*Valores absolutos em euros
2012
2013
Químico-plástico
Mineração não metal
sott’olio, patês e tomates secos são exportados para França, Japão, Austrália, Índia e países árabes. — Somos uma empresa familiar, mas com um modelo de gestão manageriale. Ainda não temos clientes no Brasil, país que escolhemos por ser o mais importante da América do Sul. O mercado está em crescimento e amadurecendo. Os brasileiros viajam muito e sabem o que é bom. Queremos difundir a nossa marca, que ressalta nas embalagens e rótulos a italianidade. Os impostos para importar são altos, mas nossa faixa de público não está focada no preço; é para quem está disposto a pagar um pouco mais — frisa Luca. Também participaram dos encontros empresas dos setores de tecnologia, como a Area Impianti spa, de Albignasego; e a A.T.A. srl, de Conselve; de design e móveis, como a L’Ottocento srl, de Cittadella; e de iluminação, como a Bestlight srl, também de Albignasego. Apesar do clima de crise econômica no Brasil, o saldo da missão é azul. — O saldo final desses primeiros encontros com os empresários fluminenses foi positivo, mesmo com o cenário complexo para 2015 e em um país onde o labirinto burocrático e fiscal é uma barreira significativa — comemora o diretor da Câmara Ítalo-brasileira de Comércio do Rio, Giorgio Rossi. Em uma avaliação realizada pela Câmara com os participantes por meio de entrevistas, metade das empresas brasileiras declarou que os encontros resultarão em negócios em curto ou médio prazo. Além disso, metade pretende firmar acordos de representação no país, 15% querem estudar a possibilidade de fazer joint-ventures e 35% pretendem comprar diretamente maquinários, componentes ou serviços dos italianos. Os italianos visitaram empresas não apenas na capital, mas em várias cidades do estado fluminense, como Duque de Caxias, Cabo Frio, Quissamã, Macaé e Cantagalo.
Meio de transporte Outros produtos manufaturados Móveis
661.541 634.073
2.697.724 3.326.558
7.559.234 8.390.619
366.317 2.682.100
Gráfico
486.839 127.861
1.861.040 959.768
Extrações
13.832 65.818
351.972 573.230
Agroalimentar
5.328.074 7.086.680
Moda
Outros produtos
102.758 211.840
Mecânico e eletrônico
“Muitas empresas vênetas de gestão familiar estão desaparecendo e quem conseguiu se manter nos últimos anos são justamente aquelas que souberam investir na relação com o exterior”
643.267 1.008.421
Massa congelada e conservas sott’olio de vegetais mediterrâneos Pela primeira vez no Brasil, o proprietário da Agostini Elio snc, situada em San Martino di Lupari, uma cidade com 13 mil habitantes, encontrou importadores e restaurantes italianos do Rio, como o Don Camillo, em Copacabana. — Estamos começando nosso processo de internacionalização. Fazemos congelados que duram seis meses, como inhoques recheados. O Vêneto ainda é o nosso maior mercado. Escolhemos o Brasil por causa da proximidade de gostos, inclusive na culinária, devido à nossa cultura em comum, a latina. A recepção é muito maior em comparação ao mercado chinês, por exemplo — ressalta o empresário Alessandro Agostini. Por sua vez, o gerente de exportação Luca Dalla Vecchia, da Valbona, encontrou importadores e donos de restaurantes. Produtos em conserva, como antipasti, carciofi, funghi
36.083.095 39.621.292
A questão cultural também não deve ser relegada a um segundo plano. Há semelhanças que aproximam brasileiros e italianos, como no campo da gastronomia. Mas diferenças sutis no modo di fare podem ser cruciais durante uma negociação. — Alertaram-nos, por exemplo, que muitos empresários brasileiros se empolgam e dizem, durante visitas ou demonstrações, coisas do tipo “nossa, o seu produto é o melhor do mundo”. Mas, depois, simplesmente desaparecem; non si fanno neanche sentire — comenta. Ninguém duvida do talento e da capacidade made in Italy, é claro, mas a competitividade exige mais do que isso na hora de se apresentar ao exterior. — O grande desafio no Vêneto é juntar realidades de pequeno e médio porte para construir sinergias, de modo que as atividades se complementem e sejam atraentes para o público de outros países, agregando valor ao produto final — revela a responsável pela Promex. Enfim, todos sabem que i veneti sono bravi lavoratori — mas isso não basta nos tempos de hoje, alerta Lynda Bonaguro: — É preciso também criar uma posição no mercado — complementa.
TOTAL
56.155.693 64.688.260 comunit àit aliana | j un ho 2015
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Sustentabilidade
Economia
AseItinge tália
de verde
Ao apostarem na sustentabilidade, mais de 340 mil empresas italianas oferecem três milhões de empregos e provam que, se antes a economia verde era um privilégio, hoje é considerada uma fórmula para alavancar a economia e agregar valor ao made in Italy Stefano Buda
A
De Roma
Itália descobre sua vocação para o verde. O país aprende que a tutela e o respeito pelo meio ambiente representam uma oportunidade para produzir riqueza e gerar emprego. Como revela o relatório Green Italy 2014, realizado por Unioncamere e Symbola, 341.500 empresas italianas, ou seja, 22% do total, inclusive indústria e serviços, apostam no verde e, desde 2008, investem em tecnologia para reduzir o impacto ambiental, economizar energia e conter a emissão de gás carbônico. Os resultados parecem premiar a tendência: a green economy conseguiu gerar 101 bilhões de euros em valor agregado, que se traduzem em 10,2% da economia nacional. O retorno é evidente: na indústria manufatureira, 25,8% das empresas que investiram no verde viram
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o faturamento aumentar, contra 17,5% daquelas que não o fizeram. E o green parece premiar até no plano das exportações, visto que 44% das “ecoinvestidoras” exportam agora com estabilidade, contra 24% daquelas que não a possuem. Também são significativos os dados ligados à ocupação: atualmente, na Itália, são gerados cerca de três milhões de empregos de tipo green (13,3% do total). Em 2013, 61% das novas contratações, que correspondem a 234 mil novos empregos, foram geradas justamente no setor. Um ulterior valor agregado é representado pelo estímulo à inovação: em 2013, 30% das empresas que
apostaram no verde desenvolveram novos produtos ou serviços, contra 15% daquelas que não escolheram o caminho da sustentabilidade. — Não sairemos da crise como éramos quando entramos nela; não deixaremos para trás esta tempestade, a não ser que mudemos, escolhendo com convicção o caminho da green economy, que é também o principal caminho para contrastar as mudanças climáticas. A Itália precisa enfrentar seus males de longa data, que vão muito além da dívida pública, e que a crise tornou ainda mais opressores, ou seja: as desigualdades sociais, a economia ilegal e a criminosa, o atraso do Sul, a burocracia persecutória e ineficaz. Ao mesmo tempo, precisamos impulsionar o mercado interno, esgotado pela falta de emprego, pelas políticas do rigor e do medo, e precisamos aprender a guardar na memória o legado da crise, para captar os desafios e as oportunidades da nova economia mundial, apostando na inovação, na qualidade, na beleza e na green economy, para renovar nosso jeito de fazer as coisas — aponta Ermete Realacci, presidente da fundação Symbola, que se ocupa da promoção
Apesar da crise, 78% dos cidadãos italianos se dizem dispostos a gastar mais em produtos e serviços sustentáveis
de um novo modelo de desenvolvimento voltado para a qualidade. Em poucas palavras, segundo o presidente de Symbola, “a Itália tem que voltar a ser Itália”. Os primeiros efeitos concretos do desenvolvimento da economia verde podem ser sentidos. Atualmente, a Itália é um dos países da Europa com menor intensidade de gás carbônico, dado que, para cada milhão de euros produzidos pela economia nacional, são emitidas, na atmosfera, 104 toneladas, contra as 110 toneladas da Espanha, as 130 do Reino Unido e as 143 da Alemanha. Outro primado é alcançado pela reciclagem do lixo, visto que a Itália consegue recuperar, em nível industrial, 24,1 dos 163 milhões de toneladas produzidas. A Alemanha, em segundo lugar, recupera 22,4 milhões. Ao invés de resignar-se e sucumbir à globalização, a Itália parece mesmo estar conseguindo reagir, ao conquistar novos mercados e diversificar sua especialização em interceptar as novas demandas do mercado. A crise econômica, é claro, ainda atrapalha o país, as dificuldades estruturais e conjunturais ainda estão presentes, mas a green economy assumiu o papel de motor de uma nova evolução, que está permitindo a muitas empresas do made in Italy voltarem a ser competitivas e se posicionarem novamente em nichos que oferecem um alto valor agregado. Economia verde e tradição italiana: um casamento perfeito e uma fórmula vencedora Um papel decisivo está ligado à crescente sensibilidade dos consumidores com o tema ambiental, tanto em nível internacional quanto nacional: uma pesquisa da Swg relevou que 78% dos cidadãos italianos, apesar da crise, estão dispostos a gastar mais em produtos e serviços sustentáveis, e se, em 2000, mais da metade dos italianos considerava o green apenas uma moda, hoje, 74% da opinião pública nacional a consideram como uma nova forma de alavancar as empresas, a economia e a sociedade. — A cultura verde hoje em dia não é mais patrimônio somente de um pequeno grupo de iluminados. Pelo contrário, é uma orientação que está progressivamente conquistando grande parte dos italianos. Estes dados sobre a predisposição ao consumo precisam valorizar mais ainda a postura das nossas empresas, que se revelam campeãs até pelo fato de produzirem um diferente tipo de
O Índice da Green Economy (Ige) é liderado por regiões como Marche, Valle d’Aosta, Abruzzo, Toscana e Basilicata, e coloca em último lugar o Lácio e a Sicília, com baixos indicadores de reciclagem de lixo e energia limpa made in Italy, em que o respeito pela nossa tradição produtiva casa indissoluvelmente com a tutela do meio ambiente e conjuga-se com uma ideia de negócio eticamente positiva, além de vencedora — ressalta o presidente da Unioncamere, Ferruccio Dardanello. Trentino Alto-Ádige é a região mais sustentável da Itália Porém, nem toda a Itália apresenta a mesma intensidade de verde. O norte do país, pelos dados quantitativos, parece ser o ponto de força nacional, visto que hospeda quase metade das 341.500 empresas verdes, com a Lombardia no topo do ranking. Seguem Vêneto, Emília-Romanha, Lácio e Piemonte. Porém, o aspecto quantitativo não é suficiente para explicar o fenômeno, até porque os números são proporcionais às dimensões demográficas e ao desenvolvimento industrial de cada região. Para entender melhor as dinâmicas que agitam o universo verde
italiano, uma pesquisa realizada pela Fondazione Impresa, que deu vida ao Índice da Green Economy (Ige), é esclarecedora. Para cada região é atribuída uma pontuação, resultante do cruzamento de 21 indicadores, ligados aos principais setores envolvidos, que vão da energia limpa à economia energética, e inclui reciclagem do lixo, agricultura orgânica, construção civil ecológica, licenças Ecolabel, ciclovias, turismo ecológico e venda de produtos orgânicos. Nesta pesquisa, encontra-se em primeiro lugar uma região do norte da Itália, que não é a Lombardia industrial, e sim o verdíssimo Trentino Alto-Ádige — única região que evidencia um grau de green economy definido como “muito alto”, com rendimento eficiente na maioria dos indicadores. Os dados revelam que a região é líder absoluta em incentivos fiscais em relação às intervenções de requalificação energética (51,5 a cada 1.000 habitantes, contra uma média nacional de 24,1) e pela qualidade ambiental dos produtos (56,1 licenças Ecolabel para cada 100 mil empresas, contra seis da média nacional). Na faixa indicada como “alta” encontram-se, em ordem de classificação, Marche, Valle d’Aosta, Abruzzo, Toscana e Basilicata. A ótima posição das duas regiões do sul, como Abruzzo e Basilicata, não acontece por acaso, pois o setor cresce sem parar também no Meridione, apesar da crise, da menor densidade industrial e dos obstáculos de caráter econômico e social. Na faixa média alta surgem Úmbria, Calábria, Vêneto, Emília-Romanha e Piemonte. Enquanto estas 11 regiões mostram um crescimento do índice Ige, em comparação com o ano anterior, as nove que sobram estão em queda: ou seja, Friuli Venezia Giulia, Sardenha, Molise e Lombardia, e estão ainda piores as da faixa baixa, ou seja, Puglia, Campânia e Ligúria. Nas últimas posições, encontram-se o Lácio e a Sicília, na lista negra da green economy italiana. O Lácio é o antepenúltimo em matéria de lojas de produtos orgânicos (4,2 para 100 mil habitantes) e estacionamentos (7,7 para mil carros), penúltimo em energia elétrica de fontes renováveis (menos de 19%) e último na quantidade de famílias que declaram presença de sujeira nas ruas (45,9%). A Sicília está no final do índice em quase todos os indicadores, e apresenta os piores em matéria de economia energética certificada, qualidade ambiental das organizações e na coleta para a reciclagem do lixo.
Green economy na Itália
22 101
das empresas apostam no verde
e geram bilhões
de euros que equivalem a
10 2 25 8
da economia
nacional sendo que
das empresas que apostaram no verde
aumentaram seus faturamentos em
17 5 13 3
dos empregos na Itália são
Green Na Europa, a Itália é o país que menos emite
com apenas
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toneladas de gás carbônico liberadas na atmosfera
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Sustentabilidade
Economia
É hora de inovar Em tempos de crise hídrica e eletricidade cara, transformar uma atividade tradicional em um negócio sustentável pode ser a cartada de mestre do empreendedor que souber aproveitar os incentivos oferecidos no país, afirma o presidente do Sebrae
E
Cintia Salomão Castro
sta é a primeira participação do Sebrae em uma Exposição Universal e o palco é justamente Milão, a capital da região mais industrializada do país que o presidente da entidade brasileira define como um parceiro histórico. A entidade participa da Expo de duas formas: por meio de uma mostra de obras de artesãos brasileiros e com um seminário no dia 8 de julho, quando vai apresentar resultados, casos de sucesso e promover debates. — É uma tentativa de inserir o artesanato brasileiro, que é uma das expressões da cultura brasileira, e um setor com o qual o Sebrae trabalha há muitos anos, no patamar da exportação. Estar na Expo, mostrando um conjunto de artistas, de variedades regionais, faz parte dessa tentativa de inserção no mercado europeu — explica em entrevista à Comunità o presidente do Sebrae, Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho.
No Rio, pousadas mais sustentáveis
U
m projeto criado para promover a sustentabilidade em meios de hospedagem tem feito com que muitos empreendedores adotem práticas de eficiência energética no Rio de Janeiro, a cidade cartão-postal do Brasil. O programa foi criado em referência à norma ABNT NBR 15401, que especifica os requisitos relativos à sustentabilidade de meios de hospedagem e estabelece critérios mínimos de desempenho. O programa, do qual já participaram 40 empresas do estado, começou em 2013 e envolve fases como elaboração de diagnósticos, encontros e debates e estabelecimento de um plano de ações. — Algumas empresas já começaram a adotar práticas, como a colocação de sensores de presença para economizar água e luz e painéis solares em Ilha Grande, onde há com frequência interrupção do fornecimento de energia, levando inclusive à perda de aparelhos eletrônicos. Mas é claro que isso envolve recalcular financeiramente o negócio. O empreendedor percebe que precisa fazer investimentos, como revisar o seu site. Por isso, o nosso trabalho está focado na gestão da sustentabilidade, inclusive fazer com que ele consiga equalizar tudo isso dentro do seu modelo de negócio — explica à Comunità a turismóloga e gestora do projeto do Sebrae RJ, Vanessa Cohen Mizrahi.
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Serão exibidas cerca de 100 peças religiosas, decorativas, utilitárias, adornos e acessórios que apresentam o agreste brasileiro, com referências ao cangaço; que representam o homem da floresta e na Amazônia; e que fazem referência ao estilo de vida das populações das grandes cidades brasileiras. Mas a participação do Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas não vai se resumir no apoio ao artesanato, explica Luiz Barretto. — Na Expo, vamos apresentar outras questões, como as indicações geográficas de produtos do Brasil, como o café do Cerrado. Temos aqui um conjunto de trabalhos que apoia as inovações tecnológicas e procura condições para que esses pequenos produtores agreguem valor aos seus produtos e possam conquistar mercados além do nacional. Nossa participação na Expo privilegia essa direção — completa Barretto, que ocupa a presidência do órgão desde 2011, após ter exercido o cargo de ministro do Turismo no segundo governo Lula, entre 2008 e 2010. O tema da Expo é a alimentação. Por isso, o Sebrae vai discutir formas de ampliar o uso de soluções inovadoras e sustentáveis entre as micros e pequenas empresas em diferentes estágios da cadeia produtiva do setor de alimentos.
— Escolhemos alguns produtos para colocar em evidência, como o leite e o café. Por exemplo, em relação ao café, temos quatro indicações geográficas (IGs): uma delas é a do cerrado mineiro, reconhecida no Brasil e no exterior, e isso agrega valor ao produto. Será uma das experiências que vamos mostrar. Aliás, ensinar os pequenos e médios empreendedores a agregar valor a seus produtos é um trabalho permanente do Sebrae, pois “é fundamental fazer com que o pequeno possa ser sustentado no mercado, já que concorre com grandes empresas e grandes fazendeiros”. — Como criar nessa cadeia um posicionamento para que ele possa ser competitivo e sustentável num mercado cada vez mais interativo do ponto de vista internacional? Como o pequeno sobrevive a esses impactos de competitividade? Atuamos nessas questões — resume. Entre as diversas histórias de cooperação que deram fruto durante o relacionamento de longa data com a Itália, o presidente do Sebrae destaca a parceria com o instituto Cosmos, na região Marche. — Temos uma experiência com o instituto Cosmos, que torna aqueles territórios mais qualificados e competitivos. Aplicamos com os setores de couro, calçados, madeira e móveis em estados como o Paraná, Paraíba, Minas Gerais e Santa Catarina.
O belo e típico artesanato de várias regiões do país foi escolhido pelo Sebrae para representar a criatividade dos artesãos brasileiros n Expo
Quase 800 empresas estão passando por essa parceria metodológica com Marche, e estão sendo integradas ao Sebraetec. Com essa experiência territorial italiana, temos tido muito sucesso e pretendemos expandi-lo para outros setores — afirma. Sustentabilidade pode mudar um pequeno negócio da água para o vinho A sustentabilidade pode agregar grande valor a um negócio tradicional de pequeno porte. Barretto dá um exemplo com um caso de atividade aparentemente simples: uma lavanderia. — Se uma lavanderia adotar a reciclagem da água, se torna um
negócio inovador, que pode ganhar mercado, com valor agregado, e isso vale para vários outros negócios tradicionais. É claro que qualquer abertura de negócio envolve planejamento, cuidados, um bom alinhamento financeiro, pesquisas, diagnóstico sobre o território. No caso de atividades sustentáveis, os cuidados são ainda maiores. Você deve estar muito preparado para explorar esse nicho de mercado — observa. Existem 9,8 milhões de pequenas empresas no país. É uma força que gera 27% do PIB. Se tais empreendedores tiverem visão inovadora e quiserem tornar seus negócios mais sustentáveis, além
IG made in Brazil
O
registro de Indicação Geográfica — o IG — é conferido a produtos ou serviços característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, e podem ser comparados aos renomados produtos italianos IGP (Indicazione geografica protetta). A qualidade única existe em função de recursos naturais como solo, vegetação e clima e, é claro, o saper fare. No Brasil, é o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI ), em parceria com o Sebrae, que concede o registro e emite o certificado. Durante a Expo, o Sebrae vai colocar em evidência alguns dos produtos IGs, fabricados por pequenos produtores. Existem 41 IGs no Brasil. No setor cafeeiro, possuem o reconhecimento a região da Alta Mogiana (SP), o Norte Pioneiro do Paraná, a Serra da Mantiqueira (MG) e o Cerrado Mineiro (MG). Os demais produtos são em sua maioria alimentos e bebidas, como o queijo da Serra da Canastra (MG), a cachaça de Paraty (RJ), os vinhos e espumantes do Vale dos Vinhedos, (RS) e do Vale do Submédio do São Francisco (PE), os doces finos de Pelotas (RS), os camarões da Costa Negra (RN) e a própolis de Manguezais de Alagoas.
de produzirem uma verdadeira “fotossíntese” na economia, terão à disposição alguns incentivos, encoraja o presidente. Um exemplo é o subsídio de até 80% para soluções tecnológicas. Além disso, o Sebraetec, um programa de inovação, oferece capacitação para tratamento, reaproveitamento e destinação de resíduos, apoio na certificação de produtos orgânicos e aplicação de práticas de eficiência energética. — Basicamente subsidiamos inovação, promovemos rodadas de negócios, capacitação e participação em feiras. Criamos dinâmicas subsidiadas para que o cafeicultor, por exemplo, possa conhecer as melhores práticas nacionais e estrangeiras, ter contato com as normativas, legislações internacionais, principalmente procurando ampliar o seu mercado nacional e exterior — enumera Barretto, que participou da conferência Rio+20, em 2012. Ele vê avanços no setor verde no Brasil desde então. — Um dado concreto é que, no último ano, 20% a mais de empresas procuraram o nosso balcão, online ou presencialmente, para pedir soluções vinculadas à eficiência energética. Evidente que o mercado vai impondo temas, como a questão hídrica que estamos vivendo. Quando o mercado exige novos costumes, mais economia e eficiência, ninguém pode passar por cima. Um bar, um restaurante, enfim, um pequeno negócio não pode conviver indiferente à questão. Se o fizer, não sobreviverá — alerta Luiz Barretto.
“Quando o mercado exige novos costumes, mais economia, ninguém pode passar por cima. Hoje, um pequeno negócio, como um restaurante, não pode conviver indiferente à questão da eficiência energética. Do contrário, não sobreviverá” Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho, presidente do Sebrae
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Sustentabilidade
Intervista
Realacci:
Essere green conviene
Intervista esclusiva al presidente della commissione Ambiente alla Camera, che ha origini brasiliane, è un ecologista di lungo corso ed è tra i massimi esperti di economia verde in Europa Stefano Buda
E
Da Roma
cologista di lungo corso, parlamentare del Partito Democratico e presidente della commissione Ambiente della Camera. Ermete Realacci, che è anche il numero uno di Legambiente, una delle principali associazioni ambientaliste italiane, e della fondazione Symbola, che si occupa di promuovere un nuovo modello di sviluppo orientato alla qualità, è considerato uno dei maggiori esperti di green economy in Europa. Un tema di cui si è occupato anche in due libri intitolati “Soft Economy” e “Green Italy - Perché ce la possiamo fare”. In un’intervista esclusiva a ComunitàItaliana, Realacci affronta le principali problematiche di un fenomeno che sta trasformando l’economia globale. ComunitàItaliana - L’idea di un’economia green, improntata alla sostenibilità ambientale, fino a pochi anni fa suonava come qualcosa di ideologico, utopico e velleitario, mentre oggi è una realtà dell’economia mondiale in crescita impetuosa. Come si è prodotto questo cambiamento? Ermete Realacci - Siamo in presenza di una evoluzione dell’economia che è intervenuta in tanti settori, in molti casi senza politiche di indirizzo da parte degli Stati e senza neanche la diretta consapevolezza che si stesse facendo qualcosa di utile per la salvaguardia ambientale. Basta guardare a quanto accaduto nell’ambito delle infrastrutture più tradizionali: poche settimane fa, in Italia, c’è stata l’eclissi solare e ciò ha destato preoccupazioni per la nostra produzione di energia. Timori legittimi, dettati dal fatto che l’Italia è il principale produttore di energia fotovoltaica nel mondo e che il 40% 32
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della nostra energia proviene da fonti rinnovabili. Solo pochi anni fa, invece, c’era chi voleva tornare al nucleare. Per fortuna non abbiamo seguito quella strada, perché i principali impianti del mondo oggi vanno malissimo e si traducono in un disastro economico oltre che ambientale. L’Enel, la nostra principale società di energia, attiva anche in Brasile con Enel Green Power, oggi ha dirigenti illuminati, che non solo non hanno intenzione di aprire centrali a carbone, come qualcuno ipotizzava tempo addietro, ma che hanno deciso di chiudere 22 centrali inquinanti in tutto il Paese.
CI - Lo stesso discorso può valere anche a livello internazionale? ER - Certo, è un discorso che vale per l’Italia, ma che vale anche a livello globale: basti pensare che la Cina, che non è certo un punto di riferimento in materia di green
“Siamo primi in Europa nel riciclo della materia prima e ciò deriva da una cultura antica, che è nel solco di un Paese storicamente povero di materie prime e costretto ad adattarsi”
economy, lo scorso anno ha attraversato un momento difficile, legato al fatto che è cresciuta ‘soltanto’ del 7%. Parallelamente, però, nonostante le criticità del periodo, ha ridotto dell’1% le proprie emissioni di Co2 e questo è il segno che anche la Cina, uno dei colossi dell’economia globale, sta spostando le proprie produzioni verso innovazioni di tipo green. CI - L’economia verde genera indubbiamente benefici per l’intero ecosistema, ma perché un’impresa, attiva in un qualsiasi mercato del globo, dovrebbe avere interesse a puntare sul green? ER - Il processo che sposta l’economia verso il green è già in atto e va avanti, a ritmi molto sostenuti, in primo luogo perché essere green conviene. Spostandosi verso il green ci si sposta verso la qualità e ci si sposta verso la convenienza, perché il green consuma meno energia. Pochi sanno che l’Italia è leader mondiale in oltre mille comparti piccoli e medi, tra i quali figura anche il settore della produzione di giostre: i bambini di Pechino, di Copenaghen o di New York vanno sulle giostre italiane non solo perché sono le più belle, ma soprattutto perché, in confronto ad esempio a quelle tedesche, sono molto più leggere e dunque consumano meno. Lo stesso discorso vale per la produzione dei macchinari agricoli di medie dimensioni, con i mezzi italiani che non solo sono più piccoli e flessibili, ma che hanno successo perché
richiedono minori consumi di acqua, di energia e di prodotti chimici. CI - Il passaggio verso il green, in sostanza, sembrerebbe rispondere ad un’evoluzione naturale dell’economia, caratterizzata dalla perenne ricerca di una ottimizzazione del rapporto tra costi e benefici. Ma che ruolo possono giocare la politica e i governi? ER - La politica può e deve intervenire, innanzitutto sul piano delle regole. A tal proposito, ad esempio, sono molto orgoglioso della legge sugli ecoreati, che porta la mia firma e che è stata approvata in parlamento pochi giorni addietro. Al di là delle regole, però, la politica ha il dovere di leggere
i fenomeni e sotto questo aspetto mi sembra che il fenomeno della green economy non sia ancora stato compreso, se non in misura marginale. In Italia è ancora prevalente un’idea di sviluppo legata alla grande ciminiera fumante, nonostante la crisi abbia ormai reso chiaro che sono proprio i settori green a dare respiro alle imprese e all’economia. CI - Quanto è importante il diffondersi di una sensibilità green tra i consumatori: sono le imprese verdi ad orientare il gusto dei consumatori o è la sensibilità green dei consumatori a condizionare le scelte delle imprese?
ER - Difficile dirlo, è un po’ come cercare di stabilire se è nato prima l’uovo o la gallina. Quel che è certo è che la consapevolezza dei cittadini ha una notevole incidenza. Ad esempio è possibile raggiungere elevate percentuali di raccolta differenziata soltanto se i cittadini collaborano attivamente e con convinzione. Inoltre è innegabile che stiamo assistendo a dei profondi mutamenti culturali. Nel 2001, a Milano, organizzai un’iniziativa di car-sharing con Legambiente ed eravamo poche centinaia di persone, trattate come visionari. Devo dire che nonostante credessi fortemente in quel sistema di mobilità alternativa, non avrei mai immaginato che nel giro di pochi anni 120.000 milanesi si sarebbero serviti del car sharing, così come non avrei mai immaginato che dei grandi gruppi imprenditoriali sarebbero stati in prima linea nella gestione del servizio. Il caso del car-sharing è figlio dell’innovazione tecnologica e in particolare delle app per smartphone, ma è anche figlio di una trasformazione culturale: proprio l’altro giorno il ministro Delrio mi raccontava che il figlio, studente universitario a Milano, non ha voluto la macchina. E’ qualcosa di significativo, perché ai miei tempi l’automobile era uno status symbol, serviva per rimorchiare le ragazze e qualsiasi giovane doveva averla, mentre oggi è qualcosa di diverso, non è più ritenuta indispensabile e siamo dunque in presenza di un cambio di prospettiva.
“Un po’ tutti gli italiani hanno storie di emigrazione in famiglia e io stesso ho la nonna materna, figlia di contadini poveri, che è nata a Ribeirão Preto”
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Sustentabilidade
Intervista
CI - Come si colloca l’Italia, a livello internazionale, nel panorama della green economy? ER - A livello internazionale, sul piano delle manifatture green, è innegabile che la vera avanguardia sia la Germania, un Paese che ha saputo utilizzare nel modo migliore le innovazioni in materia ambientale. L’Italia sta facendo bene, ma è green un po’ a macchia di leopardo, come dimostra il caso della raccolta differenziata dei rifiuti: in Veneto un consorzio che raccoglie cento Comuni della provincia di Treviso è stato capace di raggiungere l’85% di raccolta differenziata, tanto che oggi quel consorzio è alle prese con la sperimentazione di un nuovo impianto per il riciclo dei pannolini. Basta spostarsi in Sicilia, per trovarsi di fronte ad una realtà di grande arretratezza, con percentuali di raccolta differenziata bassissime, pari a quelle della Romania. CI - L’Italia è afflitta da molti mali endemici e da una burocrazia asfissiante che provoca gravi ritardi, eppure sembra essere riuscita, almeno in parte, a mettersi in linea con questo nuovo trend. Qual è il segreto? ER - L’Italia tende a rispondere ai mutamenti con i suoi cromosomi. A livello produttivo, ad esempio, siamo primi in Europa nel riciclo della materia prima e ciò deriva da una cultura antica, che è nel solco di un Paese storicamente povero di materie prime e costretto ad adattarsi. La scommessa è proprio quella di investire sul proprio dna, che nel nostro caso è fatto di bellezza, di qualità, di capacità e di storia. Pensiamo a quanto accaduto al nostro vino: c’è stato un momento, negli anni Ottanta, in cui l’Italia puntò su una produzione di grandi quantitativi a prezzi bassi. Le nostre aziende finirono in un angolo, surclassate dalle produzioni di altri Paesi e iniziò una corsa al ribasso che culminò con la truffa del vino adulterato. Qualcuno iniziò a produrre vino al metanolo, fino a quando in Piemonte morirono 22 persone che avevano bevuto vino adulterato. Ciò comportò un crollo delle vendite e una crisi gravissima, che però diede l’impulso decisivo ad un cambiamento epocale. Da quel momento l’Italia cambiò radicalmente politica e iniziò a produrre vini di qualità legati ai territori: la crescita fu straordinaria in tutto 34
nata a Ribeirão Preto. Inoltre, c’è una presenza sempre più ampia di aziende italiane, che hanno un ulteriore vantaggio, legato al fatto che la loro presenza non è mai percepita come ostile: la nostra economia, infatti, è percepita come un soft power, ovvero un’economia debole e questa percezione può contribuire ad aprirci territori sconfinati in un Paese emergente come il Brasile. La vera chiave ed il nostro principale punto di forza, però, sono i brevetti legati alla chimica green, qualcosa in cui eccelliamo e che ci vede tra i migliori al mondo: il Brasile possiede le materie primi vegetali, è il vero deposito di biomasse nel globo e può dunque rappresentare un interlocutore privilegiato, in grado di trasformarsi nella frontiera del futuro.
“Il Brasile possiede le materie primi vegetali, è il vero deposito di biomasse nel globo e può rappresentare un interlocutore privilegiato, in grado di trasformarsi nella frontiera del futuro” il Paese, tanto che se prima, al di sotto della Toscana, esistevano solo vini imbevibili, ora abbiamo eccellenze assolute anche nel Mezzogiorno. Basti pensare al Primitivo di Manduria, al Nero d’Avola, al Pecorino o all’Aglianico: in gran parte si tratta di vecchi vitigni, riscoperti e recuperati, in molti casi anche nel segno del biologico. Il risultato è che oggi produciamo il 50% di vino in meno rispetto agli anni Ottanta, ma esportiamo molto più di allora. La chiave del successo è stata la diversità dei nostri territori, dei nostri climi e delle nostre materie prime, ma anche la grandezza della nostra storia, che è la storia di un Paese in cui si produce vino fin dai tempi dei romani, degli etruschi e dei cartaginesi. E’ la dimostrazione che quando l’Italia fa l’Italia può solo fare bene. In definitiva sono d’accordo con chi affermò che il destino del nostro Paese è produrre all’ombra dei campanili cose che piacciono al mondo. CI - Anche in Brasile la green economy ha assunto un grande rilievo. Ciò può rappresentare un valore aggiunto per le aziende italiane che guardano al Sud America? ER - L’Italia ha una forte presenza in Brasile, in virtù della sua grande comunità emigrata. Un po’ tutti gli italiani hanno storie di emigrazione in famiglia e io stesso ho la nonna materna, figlia di contadini poveri, che è
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CI - In tempi come questi, con molti Paesi alle prese con profondi stravolgimenti provocati dalle difficoltà dell’economia internazionale, la crisi è un freno alla diffusione del green o può addirittura rappresentare un’opportunità per riconvertire? ER - La crisi non solo può rappresentare un’opportunità per cambiare e per riconvertirsi, la crisi sta già imprimendo una spinta al cambiamento e alla riconversione nel segno del green. Chi non è stupido sa che bisogna cambiare, sa che non si può affrontare questa crisi con la massima di Eduardo ‘addà passà ‘a nuttata’. Difendere l’ambiente e rispondere alla sfida dei mutamenti climatici non solo è necessario, ma rappresenta anche una straordinaria occasione per superare la crisi e guardare al futuro. E’ una tendenza che vale a livello globale ed europeo, e a maggior ragione in Italia. Il nostro Paese deve puntare su un’economia diversa e innovativa, fondata sulla ricerca, sulla conoscenza, sulla cultura e sulla bellezza. Un’economia che combatta le diseguaglianze, valorizzi la coesione sociale e migliori la qualità della vita, senza compromettere il futuro dei cittadini di domani. Un’economia che abbia il green come riferimento e come trait d’union. Anche per questo ritengo sia una fortuna avere un papa come Bergoglio in questa fase storica: la sua idea, ispirata ad un’economia a misura d’uomo, assomiglia molto a quella della parte migliore del nostro Paese.
Tecnologia
Aplicativos
verdes Para quem quer ajudar o planeta nos momentos mais corriqueiros do dia a dia Cintia Salomão Castro
A
tecnologia pode ser uma grande aliada para evitar desperdícios de energia e tornar o seu dia a dia mais sustentável em tarefas aparentemente banais. Fizemos uma seleção de aplicativos
disponíveis para Android e IOS que orientam o usuário de smartphones ou tablets em diversos assuntos, desde a escolha por um produto ecofriendly até a hora de tirar o carregador da tomada para economizar na conta de luz.
Eco Charger
D
eixar o celular carregando por muitas horas é hábito comum, mas pode aumentar a conta de luz e reduzir o tempo de vida útil da bateria. Isso porque, uma vez carregada, a bateria não deixa de consumir energia. O grande problema é lembrar-se de desconectar o carregador, principalmente à noite. Esse aplicativo avisa exatamente quando o telefone está pronto para ser retirado da tomada, evitando também o superaquecimento do aparelho, que recebe uma notificação quando atinge esse estágio.
Sustentabilidade My Fun City
E
leito um dos cinco melhores aplicativos do mundo na categoria de administração pública da ONU, o aplicativo é uma espécie de avaliação pública sobre 12 questões urbanas, como segurança, transporte, vias públicas, limpeza, lazer, saúde, educação e custo de vida. Inclui notícias sobre cada tópico da região do usuário. O acumulado desses check-ins gera um relatório preciso do índice de bem-estar dos usuários referente a cada cidade. As avaliações (check-ins) podem ser feitas quantas vezes o usuário quiser, de qualquer lugar do país, utilizando o aplicativo gratuito para smartphones, tablets, ou pelo computador, através do site myfuncity.org. Uma equipe de jornalistas é responsável por analisar, selecionar e transformar os dados mais relevantes em matérias, vídeos, artigos ou imagens. O conteúdo gerado é divulgado nas redes sociais da plataforma, site, rádio e canal de TV no Youtube.
GOODGuide
O
instrumento fornece uma lista de fabricantes ecofriendly, ou seja, antes de fazer uma compra, o consumidor pode verificar se a empresa segue práticas sustentáveis e até sociais. Organizada por categorias (itens de higiene pessoal, produtos de limpeza, comida, comida para animais, produtos em papel, carros, celulares, eletrodomésticos e roupas), a lista mostra o nome de produtos específicos, como a marca e o modelo de um aparelho de telefone celular, por exemplo — onde cada um tem duas notas de avaliação: uma para as práticas sociais e outra para os cuidados ambientais tomados pela empresa. São mais de 170 mil produtos cadastrados.
Green Tips
O
aplicativo foi proposto pela Agência Europeia do Meio Ambiente e oferece mais de 150 dicas de como ser mais sustentável, em relação a diversos âmbitos, como transportes, lixo, saúde e ambiente, alterações climáticas, produtos químicos, água e consumo. Para exibir outra dica verde, você só precisa “embaralhar” seu telefone. O mais interessante é poder compartilhá-las com os amigos através das redes sociais e “viralizar” a preocupação com o meio ambiente.
Sostenibile
P
ermite encontrar lojas e serviços “verdes” em diversas cidades italianas, como Turim, Milão e Roma, além de fornecer descontos em alguns estabelecimentos. Ajuda a encontrar pontos de coleta e reciclagem de lixo, restaurantes que respeitam normas sustentáveis como a não utilização de copos descartáveis e uso de matéria-prima fresca, lojas de produtos ecológicos, associações e eventos ligados ao meio ambiente.
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Sustentabilidade
Energia Solar
Gigante
potencial em
energia limpa
Enquanto o ensolarado Brasil desperdiça seu potencial, Itália comemora o terceiro lugar mundial em geração de energia solar
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C
Rodrigo Silva
om cerca de 90% de sua energia elétrica proveniente de usinas hidrelétricas, o Brasil tem enfrentado sérias crises de abastecimento nos últimos anos em razão da falta de chuvas, o que tem comprometido o abastecimento em todo o país. O constante medo de apagões expõe a dependência e a necessidade de se investir em outras formas de energia, como a solar, devido à grande irradiação em todo território nacional. O Brasil, por sua localização e extensão territorial, recebe energia solar da ordem de 1013 MWh (Mega Watt hora) anuais, o que corresponde a cerca de 50 mil vezes o seu consumo anual de eletricidade, diz o relatório “Um banho de sol para o Brasil”, do Instituto Vitae Civilis. Apesar disso, o país possui poucos painéis fotovoltaicos que fazem a conversão dos raios solares em eletricidade. Com 317 usinas de energia solar em operação, a presença ainda é muito pequena: representa apenas 0,01% da matriz energética brasileira.
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A Alemanha, país líder do setor, recebe um índice de radiação solar 40% menor que o índice da região menos ensolarada do Brasil. Graças a modernas tecnologias e medidas que impulsionam a expansão do setor em território alemão, o país colhe resultados elevados. Apesar do atraso, o Brasil já começa a dar os primeiros passos para aumentar o uso desta forma de energia. Em 2014, o governo de São Paulo isentou do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) os bens e equipamentos usados para fontes renováveis. O objetivo do governo paulista é atingir 69% de participação de fontes limpas em sua matriz energética até 2020. Outros estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Tocantins e Piauí também possuem grande potencial para a rápida disseminação da energia solar em função da grande incidência de sol. A italiana Enel lidera projetos inovadores no Brasil, como a usina de Tacaratu, no nordeste O estado de Pernambuco tem feito avanços e pode se tornar o primeiro estado brasileiro a consumir energia solar em grande escala. A multinacional italiana Enel, que atua na área de energias renováveis, está construindo um complexo com custo estimado em US$ 18 milhões (R$ 54 milhões), em Tacaratu, a 447 km de Recife. A escolha da cidade deve-se à grande irradiação solar e pelo fato de sediar o parque eólico Fontes dos Ventos, concluído no final de 2014. O local reúne 34
torres com capacidade de produção de 80 MW. Além disso, a empresa pode usufruir de uma considerável redução de custo por usar a mesma linha de transmissão. Quando a usina entrar em operação, será capaz de produzir 11MW por ano, o suficiente para abastecer 90 mil residências, ou seja, cerca de 0,15% do consumo anual do estado. O diretor da Enel Green Power para Brasil e Uruguai, Luigi Parisi, confirma a importância dos dois complexos instalados em Tacaratu: — A produção total de energia elétrica a partir do complexo de Fontes dos Ventos e Fontes Solar I e II vai de encontro às necessidades de energia de cerca de 170 mil domicílios brasileiros e evitará a emissão de cerca de 100 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. O projeto de Taracatu é de suma importância para compreender melhor o potencial oferecido pela combinação de fontes renováveis, que se complementam como o sol e o vento. Assim, é possível estabilizar a produção de energia elétrica a partir de uma mesma central, evitando o efeito da sazonalidade — explicou à Comunità Parisi. No entanto, o setor de energia sustentável ainda enfrenta muitos desafios no Brasil para se expandir. Nesse sentido, Parisi aponta vantagens e desvantagens do mercado brasileiro: — O país tem uma grande disponibilidade de recursos renováveis e um crescimento da demanda por energia, juntamente com a necessidade de diversificar o seu mix tecnológico. Na verdade, o desequilíbrio atual em relação à hidrelétrica impacta fortemente na segurança do fornecimento, assim como nos preços, que são influenciados nos períodos de seca. Entre os desafios, podemos citar a falta de harmonia da legislação ambiental em nível nacional, o que de certa forma pode criar dificuldades na autorização de um projeto, além de conexões de rede limitadas em algumas áreas que representam um limite para a construção de novas usinas. No entanto, devem ser lembradas as sinergias com outras empresas do Grupo Enel, ativas na distribuição e comercialização de energia elétrica no Brasil, que representam para a Enel Green Power uma vantagem competitiva significativa para reduzir o fator crítico de tais desafios — explicou o diretor italiano da sede da empresa, em Roma.
“O projeto de Taracatu é importante para compreender o potencial oferecido pela combinação de fontes renováveis que se complementam, como o sol e o vento. Assim, é possível estabilizar a produção a partir de uma mesma central, evitando o efeito da sazonalidade” Luigi Parisi, diretor da Enel Green Power para Brasil e Uruguai Energia solar responde a 11% da matriz italiana Um dos líderes mundiais na geração de energia solar, o país ocupava a quinta posição em 2013 e hoje ocupa o terceiro posto em geração, com a marca de 18.854 MW de capacidade instalada. A energia solar hoje corresponde a 11% da matriz energética italiana. O ano de 2014 marcou o fim dos incentivos no Conto Energia, sistema de incentivo voltado para instalações solares fotovoltaicas e térmicas, o que reduziu sua quantidade. Ainda assim, o setor registrou crescimento no número de MW nos municípios. Para a Legambiente, isso se deve à maturidade alcançada pelo setor, como a redução dos custos e os contínuos melhoramentos na tecnologia, além da efetiva integração com os novos mecanismos de troca com a rede elétrica. No ano passado, foram instalados 626,8 MW através do sistema de adição e retirada, onde foram gerados 3855 MWh de produção
para autoconsumo. Em 2005, havia apenas 2,3 MW instalados em 74 municípios. São números que mostram o salto dado pela energia fotovoltaica em todo território italiano. Existem 651 mil instalações distribuídas pelo Stivale. Em 2014, foram instaladas 101 mil, das quais 91 mil em sistema de troca. As instalações são suficientes para responder às necessidades de 9,1 milhões de famílias e evitam a emissão de 14,8 milhões de toneladas de Co2. As instalações se encontram em pequenos municípios, mas também em grandes cidades como Ravenna, Foggia e Brindisi. A tendência para o futuro é a instalação na cobertura dos edifícios públicos. Alguns municípios já se destacam nessa forma de instalação, principalmente quando se leva em conta a quantidade de habitantes. O município com a mais ampla difusão de instalações fotovoltaica no teto de edifícios é o minúsculo comune de Macra, no Piemonte. Com apenas 56 habitantes, possui 12,8 MW de capacidade instalada, dos quais 9,7 nos tetos, o que dá uma média de 176,7 MW para cada mil habitantes. Atualmente, 868 municípios declararam ter instalado painéis em edifícios públicos, como sedes administrativas, escolas e bibliotecas. Com 6,1 MW de potência instalada e distribuída entre seus prédios públicos, Verona é a cidade com a maior potência entre tetos de escola. A cidade do norte da Itália também conta com uma instalação na cobertura do estádio Bentengodi, com uma potência de 999.08 MW.
Painéis fotovoltaicos: boa presença de norte a sul da península
E
m termos absolutos de MW instalados em tetos e no solo, Brindisi, na Puglia, ocupa o topo do ranking italiano, com 174 MW em 410 instalações. A segunda colocada é Montalto di Castro, na província de Viterbo, com 152,3 MW distribuídos em 273 instalações, seguida por Ravenna 128 MW. O destaque da lista fica para duas pequenas cidades: Canaro (sétimo lugar) e San Belino (oitava posição), ambas na província de Rovigo, no Vêneto. A capital Roma, com 123 MW, aparece em quinto.
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Sustentabilidade
Reciclagem
Para
ontem C
Cintia Salomão Castro
erca de 70% das embalagens utilizadas em toda a Itália são enviadas para reciclagem. E a quantidade aumenta ano a ano: em 2014, o aumento do volume transformado foi de 3,3% em relação a 2013, ou seja, oito milhões de toneladas. Esses são os dados do Consorzio Nazionale Imballaggi (Conai) — entidade privada sem fins de lucro que serve de instrumento para que os produtores e utilizadores de embalagens alcancem os objetivos de reciclagem e recuperação, previstos em lei. Os números mostram que o país está muito avançado em relação ao Brasil e inclusive em comparação à maioria dos países europeus. A participação dos cidadãos italianos dentro de casa foi fundamental para isso, atesta Walter Facciotto, diretor geral do Conai. E seria ainda maior se não fosse a crise econômica, que reduziu as compras das famílias italianas nos supermercados. — Esse sucesso se deve à coleta seletiva doméstica, que cresceu com o tempo. É verdade que, por causa da crise, desde 2008, cresce menos, pois o consumo de embalagens caiu mais de 10%. Mesmo assim, a coleta cresce, pois aumenta a sensibilidade dos cidadãos na região sul — explica à Comunità Facciotto. O bem-sucedido sistema italiano pode servir de exemplo para o Brasil, onde apenas 14% dos municípios oferecem serviço de coleta seletiva. Na Itália, a responsabilidade é de todas as esferas: do governo federal à dona de casa, passando pelas prefeituras. Ao Conai, criado em 1997, três anos após a diretiva da União Europeia que estipula metas de reciclagem para cada país europeu, aderiram mais de um milhão de empresas do setor e 7.330 prefeituras. — Produtores e utilizadores, ou seja, as empresas como as indústrias de alimentos e outros produtos, devem atingir a meta nacional. Através do Conai, o empenho é atingir os 55% de mínimo de reciclagem e um mínimo de 60% de recuperação energética, estipulado pela UE e pela Itália — afirma Faccioto.
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Além disso, as empresas participantes dão uma contribuição obrigatória para financiar a entidade, que coordena e garante os resultados de seis consórcios específicos, os quais cuidam de materiais diferentes: aço, (Ricrea), alumínio (Cial), papel (Comieco), madeira (Rilegno), plástico (Corepla) e vidro (Coreve).
Papéis Recicláveis: Taxas de Recuperação de um conjunto de países selecionados País
Taxa de Recuperação
Coreia do Sul
91,6%
Alemanha
84,8%
Japão
79,3%
Reino Unido
78,7%
Espanha
73,8%
EUA
63,6%
Itália
62,8%
Indonésia
53,4%
Finlândia
48,9%
México
48,8%
Argentina
45,8%
Brasil
45,7%
China
40,0%
Rússia
36,4%
Índia
25,9%
Fonte: RISI, **BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel (2011)
Itália é exemplo para o Brasil em matéria de reciclagem do lixo, tema preocupante que ainda não foi colocado em prática pelo poder público no país
Diferenças marcantes entre o sul e o norte são explicadas pela falta de organização No entanto, nem tudo é perfeito no Belpaese: hoje, o principal problema é o gap entre o norte e o sul. Os mapas da reciclagem italiana se parecem com macchie di leopardi, compara Faccioto. — Estamos divididos em três partes: o norte, onde a reciclagem é muito desenvolvida, atingindo níveis europeus; o centro, de bom nível, mas não como no norte; e o sul, onde é muito modesto — analisa. Os números confirmam. Se a média nacional gira em torno de 45-50%, o a região setentrional atinge percentuais acima dessa média, a parte central atinge 20-30% e a zona meridional não chega a 20%. — Regiões como a Sicília e a Calábria não chegam nem a 10%. Isso se deve à desorganização. Até os cidadãos mais empenhados encontram dificuldades. As prefeituras não conseguem organizar um serviço eficaz e o resultado é que o cidadão separa em casa, mas não encontra as caçambas adequadas. E, quando as encontra, estão cheias, pois não são esvaziadas como deveriam. Por isso, a coleta não decola nesses lugares. E se não é bem feita, depois não se consegue a reciclagem direito — lamenta o presidente do Conai. Os melhores resultados costumam ser verificados nos municípios menores, como os do nordeste do país, a exemplo de Treviso, Pordenone e Gorizia. Milão é a única grande cidade que supera os 50% da raccolta differenziata , à frente de Turim e Gênova. A que se deve esse sucesso? O especialista não tem dúvidas: “à organização”. E às sanções também. Afinal, a coleta seletiva hoje é praticamente obrigatória em boa parte da Itália. — O Comune que não consegue atingir essa meta sofre sanções. São as chamadas ecotasse, que os cidadãos acabam pagando, infelizmente — resume Faccioto, que participou, em 2012, da Rio +20, onde apresentou o trabalho do Conai no pavilhão italiano. Ele observou, na época, que o Brasil não tinha um sistema de coleta seletiva e reciclagem
expressivo. A abundância de matéria-prima e a dimensão continental do país podem ser fatores favoráveis, de um lado, mas desfavoráveis sob outro ponto de vista. — Na Itália, temos pouca matéria-prima e também pouco território, o que cria um problema em relação ao descarte e à existência de lixões. Vivemos uma situação oposta à brasileira e sabemos que não podemos desperdiçar. Há 10 anos, porém, não se fazia muito aqui, mas hoje, os cidadãos tomaram consciência da importância de reciclar. Para nós é uma necessidade — afirma, do seu escritório, em Milão, sede do Conai. E-lixo não tem acordo setorial no Brasil e empresas de reciclagem reclamam da falta de incentivo fiscal NO Brasil, o e-lixo é uma questão relevante no país onde há mais aparelhos celulares do que habitantes. A falta de um acordo setorial em nível nacional atrapalha a reciclagem dos eletrônicos, lembra Alfredo Piragibe, presidente da ONG Movimento Lixo Zero: — Existe uma regulamentação para manejo desses resíduos, que são restritivos, o que dificulta a implantação desse processo no Brasil. O que não existe é o acordo setorial. Vendemos ouro a preço de banana para Alemanha. Essa é a realidade — reclama Piragibe.
Ao lado, o diretor do Conai, Walter Faccioto, que atribui o sucesso da coleta seletiva e da reciclagem na Itália ao empenho do cidadão dentro de casa na hora de separar e descartar corretamente o seu lixo
Um ponto positivo no universo da reciclagem no Brasil são as garrafas PET. A Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) afirma que o país atingiu um índice de reciclagem de 59%, superando os Estados Unidos e até mesmo a média europeia. O setor têxtil é o principal consumidor do PET reciclado (38,2%), seguido pelo de embalagens, laminados e chapas, fitas de arquear e tubos. A coleta e o reaproveitamento das latas de alumínio de bebidas também merecem destaque: o Brasil é líder mundial do segmento, tendo atingido, em 2012, o índice de 97,9%, que corresponde a cerca de 260 mil toneladas recicladas. Os catadores, com certeza, explicam esse
Ministério: responsabilidade é das prefeituras
P
rocurado por Comunità, o Ministério Brasileiro do Meio Ambiente, através de sua assessoria, afirmou que as metas de reciclagem de cada cidade são estabelecidas pelos próprios municípios no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, conforme a Lei 12.305/2010, e que o papel de fiscalizar essas metas pertence aos órgãos de controle (tribunal de contas, controladoria), Ministério Público e aos órgãos ambientais estaduais fiscalizadores. Ao cidadão brasileiro que deseja reciclar o seu lixo, o Ministério recomenda “que procure o órgão de limpeza pública do município e conheça quais são os pontos de entrega de recicláveis, como segregar os resíduos e como colaborar com a reciclagem”.
Evolução da Reciclagem de PET no Brasil (%) 400
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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte: Plastivida – Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos
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sucesso. Existem mais de 400 mil no país. A maioria sofre com condições sociais precárias e falta de segurança no trabalho, mas há exemplos, como o fundador da empresa BrasilPet. Edson Freitas era catador de uma comunidade em Coelho Neto, na zona norte do Rio, e hoje, além de empregar 70 pessoas, é presidente da Associação de Recicladores de Embalagens PET (Abrepet). Ele pede mais incentivos à coleta seletiva, com a desoneração tributária da cadeia produtiva e o uso obrigatório da matéria-prima reciclada. Para especialistas como Elcires Pimenta Freire, Coordenador de pós-graduação em Meio Ambiente e Sociedade da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), falta investimento do governo estadual e federal para que os municípios menos abastados consigam cumprir as leis dos resíduos sólidos. O que não significa,
porém, que aqueles que mais arrecadam as cumpram. Uma simples observação das ruas é suficiente para perceber as diferenças entre Itália e Brasil: enquanto no país europeu, há caçambas diferenciadas para cada tipo de material, como papel, plástico e vidro e orgânico, em todos os bairros de cada cidade, para que o cidadão comum despeje seu resíduo doméstico separado e possibilite a reciclagem, na cidade que sediou as duas conferências da ONU sobre meio ambiente (Rio 92 e Rio+20), os caixotes diferenciados praticamente não existem. E não só: faltam inclusive latas de lixo comum nas ruas da cidade olímpica.
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Sustentabilidade
Reciclagem
Cidade
sem lixo O prefeito de Capannori explica à Comunità como a cidade toscana alcançou uma taxa de reciclagem de mais de 80% ao aderir à estratégia internacional Lixo Zero
O
Stefania Pelusi
s resíduos que produzimos quotidianamente podem ser um problema, mas não para o município de Capannori, onde o lixo virou uma fonte de recursos. A cidade, situada nas colinas da Toscana, é o primeiro caso italiano de aplicação da estratégia Lixo Zero, que consiste no máximo aproveitamento e no correto encaminhamento de resíduos recicláveis e orgânicos, além da redução, ou mesmo do fim, do encaminhamento destes materiais para os aterros sanitários. — Em 2004, começou a ser introduzido em Capannori o sistema de coleta seletiva porta a porta; em 2007, aderimos à estratégia Lixo Zero. Atualmente, temos uma taxa de reciclagem superior a 80%, com uma coleta seletiva entre as mais altas em nível nacional — afirma à Comunità o prefeito de Capannori, Luca Menesini. De acordo com ele, cada vez mais municípios estão aderindo a essa estratégia
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e até a capital italiana está adotando um sistema de coleta porta a porta. — Hoje, mais de 10% da população nacional vive em um município que aderiu a esse conceito — ressalta Menesini. Nos anos noventa, Capannori tinha como projeto a criação de um incinerador, porém os seus habitantes se opuseram. — A coleta diferenciada e a estratégia Lixo Zero foram a resposta civil a essa batalha contra o incinerador. Não foi apenas um protesto; houve também uma proposta — explica o prefeito, que define os cidadãos como os verdadeiros protagonistas dessa revolução. De acordo com ele, em 2005, quem aderia à estratégia “era visto como um utopista ou um marciano”, pois o sistema era orientado sobre a valorização energética do resíduo. Hoje, pelo contrário, esses temas de reciclagem, reutilização e diminuição de
geração de resíduos estão na agenda nacional e europeia. Os protagonistas são os cidadãos, que têm papel e responsabilidades fundamentais no processo. Do esforço participam quase todos os 46 mil habitantes do município toscano. Todos os dias, veículos a gás e elétricos percorrem vários bairros a fim de recolher o lixo e a cada dia recolhem um resíduo diferente. O prefeito cita alguns exemplos concretos de como o cidadão, além de reciclar, pode reduzir a geração de resíduos. — Ao comprar maçãs, eu as compro soltas, sem embalagem; quando vou fazer compras, utilizo uma sacola reutilizável e tento levar para casa menos embalagens. Trata-se de criar uma série de boas práticas, que vão desde beber água da torneira ou das fontes públicas, em vez da engarrafada, a preferência por lojas que vendem produtos sem embalagem, a granel — detalha Menesini. Em Capannori, foram criadas estações de recarga de autoatendimento que permitem às pessoas encher garrafas com leite produzido pelos produtores locais. Desta forma, além de economizarem, ajudam a economia local e reduzem o número de garrafas. O mesmo acontece com os detergentes. A cadeia de reciclagem se completa com uma rede de centros onde as pessoas podem levar os objetos mais pesados e volumosos, como móveis usados que podem ser reparados e reutilizados. Além disso, alguns cidadãos
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Os passos da estratégia Lixo Zero Separação: organizar a coleta diferenciada. A gestão de resíduos não é um problema tecnológico, mas organizacional, na qual o diferencial é o envolvimento da comunidade, que é chamada a colaborar em uma passagem fundamental para implementar a sustentabilidade ambiental.
O prefeito de Capannori, Luca Menesini, ilustra como funciona o seu município “Lixo Zero”, com coleta diferenciada porta a porta, estações de recarga de autoatendimento para encher as garrafas de leite e centros onde as pessoas podem levar móveis usados para serem reparados e reutilizados
realizam a compostagem doméstica, através da qual o resíduo orgânico é transformado em compostos mais simples que podem ser utilizados como nutrientes pelas plantas. Prefeito veio a Brasília para ilustrar o bem-sucedido projeto italiano Um incentivo importante para a população é o desconto sobre a
“taxa de lixo”, que antes se pagava com base nos metros quadrados do apartamento e no número dos componentes da família. Agora, é calculada de acordo com a quantidade de lixo que as pessoas reciclam ao longo do ano. — Isso é um elemento extremamente importante para o funcionamento de todo o sistema, pois pedimos um grande esforço dos cidadãos e é preciso dar uma recompensa — afirma o prefeito, que em abril esteve no Brasil para ilustrar o caso de Capannori na Conferência Internacional Cidades Sustentáveis, em Brasília. De acordo com Menesini, a estratégia Lixo Zero pode ser aplicada também nas grandes metrópoles, como na norte-americana São Francisco, onde já é adotada. Ao mesmo tempo, pode ser aplicada em um contexto rural como no caso do Brasil. Atualmente oito em cada dez municípios brasileiros ainda não têm programa de coleta seletiva, e os que têm poderiam reciclar muito mais do que fazem hoje. Em dez anos, o número de municípios no Brasil que implantou programas de reciclagem aumentou de 81 para mais de 900, mas isso não representa nem 20% das cidades brasileiras. — Em minha opinião, seria muito interessante encontrar um território no Brasil que queira experimentar essa prática porque poderia ter ótimos resultados. Hoje, a estratégia não é adotada só na Itália, mas também na França, onde foi iniciado um programa experimental financiado pelo Ministério do Meio Ambiente e assim também em outros países da Europa — analisa o prefeito italiano, que se comprometeu a alcançar uma taxa de reciclagem de 100% até 2020.
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Coleta porta a porta: organizar coleta diferenciada “porta a porta”, que parece ser o único sistema eficaz para alcançar em pouco tempo e em grande escala percentuais superiores a 70%. Quatro recipientes para lixo orgânico, papel, multimateriais e resíduos, cuja retirada é combinada em horários pré-determinados a cada semana. Compostagem: criação de uma unidade de compostagem (processo biológico em que os microrganismos transformam matéria orgânica, como estrume, folhas, papel e restos de comida, em uma espécie de adubo), principalmente em áreas rurais e perto de zonas onde trabalham os agricultores. Reciclagem: construção de plataformas para reciclagem e recuperação dos materiais, finalizado a reintegração na cadeia de produção. Redução de resíduos: difusão da compostagem doméstica; substituição de louças e garrafas de plástico; uso de água da torneira; uso de fraldas de pano; substituição de sacolas plásticas pelas reutilizáveis.
Reutilização e reparação: construção de centros de reparação; reutilização e desconstrução de edifícios, onde bens duráveis, móveis, roupas, aparelhos sanitários e eletrodomésticos são reparados, reutilizados e vendidos. Estes tipos de material representam cerca de 3% do total de resíduos, mas têm um grande valor econômico, que pode enriquecer as empresas locais, com ótima taxa de empregos, o que já foi demonstrado por experiências na América do Norte e na Austrália.
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Tarifa pontual: adoção de cálculo de impostos com base na produção de resíduos não recicláveis recolhidos. Este mecanismo premia o bom comportamento dos cidadãos e os incentiva a compras mais conscientes.
Valorização dos resíduos: construção de uma planta de recuperação e seleção dos resíduos, a fim de recuperar outros materiais recicláveis que escaparam da coleta diferenciada; evitar que resíduos tóxicos possam ser enviados para aterros sanitários; e estabilizar a parte orgânica remanescente. Centro de pesquisa: realizar análises do restante da coleta diferenciada; recuperação, reutilização, reparação, reciclagem, visando a reprojetação industrial de objetos que não podem ser reciclados; fornecimento de respostas para as empresas (criando a Responsabilidade Alargada do Produtor) e promoção de boas práticas na aquisição, produção e consumo. Resíduos zero: cumprimento da meta, em 2020, de zerar os resíduos, lembrando que a estratégia Lixo Zero não é apenas reciclagem. Deste modo, o projeto desencadeado pela coleta porta a porta serve de trampolim para um amplo caminho de sustentabilidade que defende o planeta através de ações concretas.
Por isso, em 2010, foi criado o Centro de Pesquisa de Resíduos Zero, com o objetivo de estudar o que é deixado na fração residual de lixo que não entra na coleta seletiva, a fim de avançar em direção ao último passo da estratégia. Menesini reconhece que o fator primordial para os resultados positivos do sistema são os cidadãos. Afinal, com o trabalho de várias associações da sociedade civil, eles foram sensibilizados e educados para colocar em prática essa política inovadora. — Os cidadãos agora são os primeiros defensores do meio ambiente — conclui. comunit àit aliana | j un ho 2015
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Sustentabilidade
Medicina
Remendo
biologico Empresa de Magliano dei Marsi está pronta para revolucionar as salas cirúrgicas mundiais com a produção de remendos feitos com tecidos animais Stefano Buda
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De L’Aquila
ão somente reciclagem de lixo, energia limpa ou enogastronomia orgânica. A green economy não tem limites e encontra espaço até nas salas cirúrgicas de clínicas e hospitais. A Assut Europe Spa, cuja fábrica fica em Magliano dei Marsi, na província de L’Aquila, está prestes a lançar no mercado um produto inovador para a medicina cirúrgica. A empresa pretende produzir remendos biológicos como alternativa aos sintéticos. A empresa, com sede jurídica em Roma, foi fundada em 1991, e hoje tem um faturamento anual de mais de 20 milhões de euros, presente em vários países através de uma extensa rede de associados. Além da fábrica central em Abruzzo, dispõe de outras duas sedes produtivas — em Minsk, na Bielorrússia, e em Argel, na Argélia. Além disso, está ativa na França, Espanha, Reino Unido,
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Estados Unidos, Rússia, Tunísia, Marrocos e Alemanha. No Brasil marca presença através da associada Assut-Europe Latinoamerica, cujo escritório fica no Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo. O grupo italiano conta com uma ampla rede de distribuição que possibilita a entrada nos mercados de muitos países. — Somos a única empresa na Itália, e entre as pouquíssimas na Europa, a produzir suturas cirúrgicas. Esta é nossa atividade principal, que apresenta volumes produtivos do teor de cerca de dez milhões de peças por ano — explica à Comunità Mimmo Carducci, diretor da fábrica central de Magliano dei Marsi e responsável por qualidade e ambiente da Assut Europe. A empresa inclusive oferece a distribuição de uma ampla gama de dispositivos médicos para salas cirúrgicas.
— A variedade de nossas atividades nos permitiu desenvolver uma sólida experiência e um grande conhecimento do setor, que conseguimos aplicar em nível internacional — continua Carducci. O manager italiano revela que os negócios estão voltados 50% para o exterior e 50% para o mercado interno. Na Itália, os clientes são o setor da saúde pública, onde a Assut Europe opera através de contratos para empreiteiras, clínicas particulares e, em menor peso, distribuidores. Liderada pelo presidente Giuseppe Longo e seu filho Maurizio, o número dois da empresa e responsável para o Brasil, a Assut Europe sempre apostou pesado na inovação, tanto que hoje orgulha-se de possuir um importante centro de pesquisa e desenvolvimento. — A ideia de dar vida a produções sustentáveis nasceu em nossos
laboratórios. A escolha, à primeira vista, pode parecer não conveniente devido aos altos custos, visto que é muito mais fácil e econômico realizar produtos similares em material sintético. Mas nós quisemos apostar no green porque temos certeza de que representa o futuro, e porque decidimos optar por uma escolha ética, com a meta de limitar o impacto do desenvolvimento no meio ambiente, para contribuir, pelo menos, em mínima parte, para a conservação do nosso ecossistema. Por sorte, não estamos sozinhos. Tal sensibilidade está cada vez mais difundida e isto é confirmado por uma fatia de mercado onde é evidente um crescimento constante — ressalta o diretor. Remendo biológico ajuda na cicatrização e estimula o crescimento celular O dirigente ilustra as características do novo produto da Assut com vocação green: — Estamos criando dispositivos médicos que são remendos biológicos de origem animal, que podem ser usados para reparar tecidos moles, com uma ótima resistência para tensão. Outra característica importante é que estas matrizes biológicas ajudam no normal processo de cicatrização, estimulando a síntese protéico do tecido conetivo e um novo crescimento celular. As vantagens são muitas, garante. — Nossos dispositivos green, em comparação com as tradicionais próteses sintéticas, vão garantir benefícios principalmente para pacientes com contraindicações, que podem levar a um alto grau de infecções provocadas por materiais sintéticos, e poderão assegurar indiscutíveis vantagens também para todos aqueles que apresentam um baixo nível de cicatrização.
Por sorte, não estamos sozinhos. Tal sensibilidade está cada vez mais difundida e isto é confirmado por uma fatia de mercado onde é evidente um crescimento constante
Os patches green se ajustam e adaptam ao organismo humano: as partes vivas permitem o crescimento celular e, portanto, são muito mais duráveis. A cadeia produtiva, originada pela aposta green da Assut Europe, parece ser ágil e linear: — Compramos restos de animais, mais precisamente, o mesotélio, um tecido que reveste, como uma fina película, a parede interna do tórax e do abdômen, e o espaço ao redor do coração dos animais, ou seja, o pericárdio bovino, o derma suíno e o pericárdio equino. Escolhemos apostar nestas três opções raciocinando a respeito das diferenças para as aplicações cirúrgicas, mas também por um cuidado de tipo cultural, visto que, em alguns dos países onde certos animais representam um valor particular. A matéria-prima, após ser adquirida em criadouros italianos, selecionados pelo controle do Serviço Nacional Veterinário, chega às salas brancas de limpeza da empresa. — Nas nossas clean rooms desenvolvemos os processos de produção. Partimos da retirada de bactérias e chegamos a criar produtos biocompatíveis, que se tornam um suporte para fortalecer a parede ou o elemento de preenchimento para os tecidos onde são aplicados. Os produtos, que atualmente estão em fase de desenvolvimento dos protocolos, logo poderão ser lançados no mercado. — A validação já está na fase final. Acreditamos que o objetivo de começar a produção até o final de 2015 seja facilmente alcançável — confirma o diretor da fábrica italiana. Empresa aposta no mercado brasileiro através da sede no Rio, apesar dos altos impostos de importação O mercado brasileiro representou uma das primeiras apostas da Assut Europe em nível internacional. — A sede do Rio foi uma das primeiras a serem inauguradas, há cerca de dez anos, através da nossa associada. O Brasil é um país onde, apesar do elevado grau de protecionismo por causa dos altos custos alfandegários, estamos indo muito bem, tanto com os
Mimmo Carducci, diretor da fábrica central da Assunt Europe
produtos da marca Assut, quanto com aqueles que distribuímos — esclarece Carducci. O país poderia revelar-se uma nova fronteira para a empresa italiana: — Para nós, o Brasil é um mercado de referência de absoluta importância, um mercado que já conseguimos penetrar e no qual logo iremos apostar, com uma convicção ainda maior, para difundir nossos patches green. Estamos torcendo para que a grande atenção que o Brasil reserva à economia verde possa favorecer a difusão de nossos produtos. A abordagem sustentável da Assut Europe não se limita à inovação do produto, mas se estende também ao ambiente de produção, que apresenta máquinas de altíssima eficiência energética e elevado conteúdo tecnológico. — Nosso cartão de visitas é a fábrica de Magliano dei Marsi, construída em uma área de mais de 10 mil metros quadrados, onde encontram-se instrumentos hi-tech, o centro de pesquisa e desenvolvimento e o novo ambiente de produção, dedicado exclusivamente aos patches green, de 250 metros quadrados, caracterizado como sala Iso 7. O diretor de meio ambiente da Assut Europe está pronto para apostar no verde no futuro: — Continuaremos apostando no verde, mas gostamos de fazer uma coisa de cada vez, para fazer tudo da forma melhor. Antes, vamos finalizar as operações ligadas às nossas matrizes biológicas e, depois, vamos nos dedicar a intervenções nos processos de produção que, na realidade, por si sós, não apresentam um impacto muito elevado no meio ambiente. Temos a intenção de torná-los ainda mais calibrados pelo conceito de sustentabilidade ambiental — finaliza.
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Sustentabilidade
Notícias
Coleta de eletrônicos
A
TIM Brasil promove uma série de ações específicas voltadas para a sustentabilidade, que inclui o programa Recarregue o Planeta, um sistema de coleta de aparelhos e acessórios. Dessa forma, a empresa promove a coleta, o tratamento e a destinação ambientalmente correta de celulares em desuso, baterias usadas, fones de ouvido, cabos de dados e carregadores. As urnas estão presentes em todas as lojas TIM do país.
Programas em Sete Lagoas
O
utra empresa italiana a investir em iniciativas sustentáveis é a Iveco, que mantém o programa Próximo Passo, lançado em 2007, que promove cursos de captação profissional e de educação ambiental em comunidades próximas a Sete Lagoas (MG), sede da fábrica. As Gincanas Ecológicas também procuram despertar a conscientização ecológica dos moradores. Na Ilha Ecológica, mais de 90% dos resíduos sólidos gerados são reciclados com uso de água reaproveitada. Além disso, a Iveco investe em tecnologias de combustíveis alternativos e motores com baixa emissão de poluentes.
Sustentabilidade automotiva
E
m junho de 2014, a Fiat Chrysler Automobile lançou o projeto Biodiversidade, que realiza estudos sobre fauna e flora de Pernambuco. O projeto inclui a construção de um viveiro com 22 mil mudas, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Também estão previstas ações de educação ambiental junto à comunidade, inclusive com alunos de escolas da região, que terão a oportunidade de participar do Programa de Visitas da Jeep. O recém-inaugurado Polo Automotivo Jeep, em Goiana (PE), foi idealizado e construído de acordo com os conceitos mais inovadores de baixo impacto ambiental. Com isso, a empresa conseguiu atingir uma capacidade de recírculo de 98% de água em um sistema próprio de reuso e reciclagem de resíduos, focado na meta de Aterro Zero, sem falar nos sistemas de eficiência energética.
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Greenpeace em ação em Milão
“A
agricultura industrial é ruim para o planeta, mudemos o rumo”. Essa foi a mensagem que pairou nos céus de Milão, através do dirigível do Greenpeace, dirigida aos ministros da Agricultura que estavam reunidos na Expo. A organização ambiental afirma que muitos agricultores já estão prontos para adotar práticas agrícolas mais sustentáveis, mas são impedidos por um sistema econômico que faz com que seja muito difícil desistir da dependência de substâncias químicas, caras e poluentes.
Concurso Magneti Marelli
N
o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, a Magneti Marelli lançou o concurso “Torne-se um Repórter por um dia na Expo Milano 2015”, destinado a todos os funcionários da empresa no mundo, convidados a dizer o que pensam através de textos, vídeos, fotos, áudios ou desenhos, abordando a proteção do meio ambiente e o consumo consciente e sustentável. O vencedor do concurso será premiado com uma viagem e entradas para a Exposição Universal.
Tratamento de efluentes industriais
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esde o início de suas operações, em Betim (MG), a italiana Teksid, que atua no setor metalúrgico, conta com Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs) Biológicos e Industriais, que foram ampliadas e otimizadas com os processos mais modernos, para tratar todos os tipos de efluentes líquidos da fábrica e reutilizá-los em seus processos produtivos. Em 2014, o volume médio mensal de água recirculada na empresa foi de 32.300m³. Com a medida, o volume de água potável utilizada no processo produtivo que deixou de ser captado no último ano seria suficiente para suprir o consumo mensal de cerca de 970 residências com quatro pessoas.
Notícias
Educação ambiental obrigatória nas scuole
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raças a um projeto de lei, os alunos italianos vão estudar educação ambiental do maternal ao ensino superior. Os temas das aulas irão desde a reciclagem de lixo à alimentação sustentável, passando pelos cuidados com o oceano e o território. O conteúdo da disciplina foi dividido em dez assuntos, escolhidos e desenvolvidos segundo a faixa etária dos estudantes.
Sustentabilidade
Embaixada Verde
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udo nasceu de um objetivo relativamente modesto: derrubar os custos das contas de energia elétrica da sede diplomática. Foi assim que, em 2010, a Embaixada da Itália em Brasília decidiu implantar o projeto Embaixada Verde. Foram instalados 450 painéis fotovoltaicos no teto do prédio pela Enel Green Power. Além disso, foi implantado um sistema de fitodepuração de águas residuais do edifício. A economia obtida é baseada na troca de energia com a Companhia Energética de Brasília (CEB). O envio adicional de energia produzida no período diurno é compensado pelo recebimento gratuito por parte da central de Brasília durante a noite. O projeto se tornou um exemplo de utilização de fonte de energia renováveis em todo o país.
PIB verde
O Crime ambiental agora dá cadeia
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Brasil poderá ter o seu PIB verde. O Senado aprovou a proposta que determina que o IBGE, responsável pelo cálculo anual do valor do PIB nacional, divulgue também o chamado PIB Verde, que incorpora os impactos dos custos socioambientais. No cálculo, será considerado o patrimônio ecológico, além de dados econômicos e sociais. O novo indicador deverá levar em consideração o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI), elaborado pela ONU, focado na convergência com índices adotados em outros países, com o objetivo de permitir a aplicação. Estudos calculam que o país teria o quinto maior PIB verde do mundo.
pós 21 anos de longas batalhas, os ecoreati, ou seja, os crimes ambientais, passam a fazer parte do Código Penal italiano. A partir de maio, quem polui o meio ambiente pode pegar de dois a seis anos de cadeia, além de uma multa, que varia de 10 mil até 100 mil euros. Além do crime da poluição, foram introduzidos outros delitos, como desastre ambiental, tráfego e abandono de material radioativo. Também dobraram os prazos para prescrição de crimes ambientais.
Geração de economia
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raças às políticas nacionais voltadas ao incentivo de eficiência energética, a Itália poupou 7,55 milhões de toneladas de equivalente petróleo (Mtep) por ano, correspondente a mais de dois bilhões de euros de importações mais baixas de gás natural e petróleo, evitando a produção de 18 milhões de toneladas de Co2. Segundo a recente pesquisa do Enea sobre a relação da eficiência energética, com o mecanismo de deduções fiscais, os chamados ecobonus, mais de dois milhões de famílias investiram 22 bilhões de euros para reconstruir energeticamente suas casas entre 2007 e 2013.
Treno Verde na Expo
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reno Verde verso Expo é um projeto realizado com a contribuição do Ministério italiano das Políticas Agrícolas Alimentar e Florestal, que viajou com a campanha da Legambiente. De Caltanissetta até chegar a Milão, passou por Battipaglia, Perugia, Cuneo e muitos outros centros urbanos. Durante 50 dias, o trem passou por 16 cidades com o objetivo de coletar e divulgar, junto a instituições, cidadãos, escolas, pequenas e médias fazendas, produtores locais e especialistas, ideias e experiências inovadoras para o setor da agricultura.
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Tecnologia
Inovação mineira Empresários que investem em tecnologia sustentável e educacional recebem prêmio concedido em quatro categorias Geraldo Cocolo Jr De Belo Horizonte
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s vencedores da 1ª edição do Prêmio Mineiro de Inovação, promovido pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio de Minas, em parceria com o governo mineiro e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), foram anunciados no dia 19 de maio, em solenidade realizada na Fiemg. O prêmio tem por objetivo reconhecer ideias inovadoras que contribuíram para o avanço do conhecimento no estado. A iniciativa conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), do Sistema Mineiro de Inovação (Simi), do Sebrae, do Grupo Dirigente Fiat, da União Brasileira para a Qualidade (UBQ, SAE – Brasil) e da Associação Mineira de Municípios (AMMG). Nesta edição, a premiação aconteceu em quatro categorias: Produto, Processo, Intangível e Inovação na Educação. Os vencedores receberam um prêmio no valor de 20 mil reais. O evento contou com a presença do presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria de Minas Gerais, Valentino Rizzioli; do governador Fernando Pimentel; do presidente do Sistema Fiemg, Olavo Machado Júnior; do secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Miguel Corrêa; do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Altamir Rôso; do secretário municipal de Desenvolvimento, Eduardo Bernis; e do presidente da comissão Julgadora do PMI, Evaldo Vilela. Na categoria Produto, o vencedor criou a “ciranda”, uma cadeirinha para chão que tem por finalidade possibilitar crianças de um a seis anos, com deficiência física, de se assentarem no chão sozinhas e com segurança, postura e ludicidade, mantendo os braços e as mãos livres para desenvolverem as brincadeiras típicas da primeira infância e socializarem-se. A cadeira pode ser utilizada em áreas molhadas, o que significa que a 46
criança poderá brincar à beira da piscina e na praia. A proponente foi a empresa The Products. Equipamento permite economia de água depurada Na categoria Processo, a Deltamed Eletromedicina venceu com um equipamento para purificação de água utilizada, principalmente, em clínicas de hemodiálise, o que permite uma economia mensal de água e a melhoria de sua qualidade, devido ao sistema de purificação e de reaproveitamento. O proponente foi Deltamed Eletromedicina. A Cemig Distribuição foi a escolhida na categoria Intangível, graças à tecnologia de monitoramento ambiental que utiliza imagens reais das áreas cobertas por linhas de transmissão e detecta focos de fumaça e de fogo em áreas monitoradas, por meio de imagens digitais disponibilizadas na internet. Além disso, permite aos internautas auxiliarem na identificação dos focos. Será possível, por exemplo, acionar alarmes
Da esquerda para direita: André Prado Rocha, da Deltamed Eletromedicina; Victor Arthur Renault Júnior, da The Products ComerciaL; Valentino Rizzioli, presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria; Vera Lúcia de Souza, do Cefet-MG; governador Fernando Pimentel; Olavo Machado, presidente do Sistema Fiemg e Carlos Alexandre Meireles do Nascimento, da Cemig
Empresa premiada criou uma cadeirinha para que as crianças com deficiência física possam brincar no chão, mantendo os braços e as mãos livres para pegarem objetos e socializarem com outras crianças
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para as autoridades responsáveis pela web. O objetivo é reduzir os registros de incêndio nos grandes centros urbanos e inserir a participação da sociedade no tema de sustentabilidade, bem como diminuir interrupções no fornecimento de energia elétrica e prevenir a destruição da flora e fauna brasileira. Na categoria Inovação Na Educação, a menção honrosa foi para a Terminus-EDUC Inovação e Responsabilidade Social: Dicionários Terminológicos em Libras para o Pensar Científico e Criativo do Estudante Surdo. A invenção proporciona às pessoas surdas acesso aos níveis acadêmicos superiores. Uma das principais questões que dificultam o ingresso e a permanência do estudante em todos os níveis de ensino é a escassez ou a total falta de terminologia nas áreas de ciências, tecnologia, arte e cultura. — Homenageamos o espírito empreendedor dos mineiros e dos brasileiros, que contribuem para a evolução da sociedade, sempre apoiados numa qualidade única: a criatividade. Os empreendedores, que passam pelo empreendedorismo tecnológico, são pessoas muito bem posicionadas no mercado. Elas se permitem correr mais riscos e aprendem a cair e a levantar — destaca Valentino Rizzioli. O presidente da Fapemig, Evaldo Vilela, afirmou que “esse movimento nos interessa muito, pois, assim, temos jovens e pessoas mais preparadas para a vida”.
A Expo vai até Veneza
A cidade italiana das águas sedia o único pavilhão localizado fora de Milão, o Aquae Venezia, onde crianças e adultos podem fazer uma viagem pelo fantástico mundo aquático em 3D Guilherme Aquino
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De Veneza
água é um tema central no lema “Nutrir o Planeta, Energia para a Vida”, da Exposição Universal, em Milão. Irriga o solo da lavoura e da plantação, mata a sede da humanidade ou de pouca parte dela com acesso, acaba com a fome de quem pode comprar os alimentos que consomem litros e litros e litros ao longo do processo industrial. Enfim, em todos os seus estados, líquido, sólido e gasoso, este precioso elemento da natureza desempenha um papel fundamental no ciclo da vida. Veneza, que representa ao máximo o convívio do homem com a água, abraça o tema que permeia seu tecido “urbaquático”, quase anfíbio, e condiciona a existência de seus moradores e visitantes. No labirinto de canais e pontes, ruas e vielas, encontrou-se espaço e tempo para a instalação do único pavilhão longe de Rho, sede da Expo: o Aquae nasce na entrada da cidade, em Marghera, e pode ser visto e visitado por quem chega de trem, carro ou barco, como um braço de mar do evento. Uma estrutura com 50 mil metros quadrados, e alta, com um prédio de sete andares, não passa despercebida. Obra da Expo Venezia, envolveu o esforço de mais cem empresas que se juntaram num consórcio para oferecer ao visitante um mar de atrações. E ele vai de percursos enogastronômicos a exposições artísticas e científicas para adultos e crianças, como o parque “H20ooo”, e instalações tecnológicas inspiradas no modelo do Children Museum. A ideia é dar ao visitante uma experiência sensorial única. A primeira etapa projeta o visitante dentro de um cenário aquático-fantástico e o passeio continua através da Rosa da Água, num jogo de palavras com a famosa rosa-dos-ventos, e a Viagem ao Abismo. Entre a terra e o céu, há 640 metros quadrados de telas. Elas exibem uma superfície “líquida” e coberta com filmes e fotogramas, muitos inéditos, realizados e fornecidos por instituições como WWF, Unesco e Fondazione Umberto Veronesi. Dentro deste enorme mosaico visual, existe um espaço dedicado à projeção panorâmica tridimensional. Trata-se de uma exploração pela quase inacessível Fossa das Marianas, o ponto
mais profundos dos oceanos, no caso, no Pacífico, 11034 metros abaixo do nível do mar. Uma depressão vertiginosa que, se fosse projetada ao contrário, a partir da terra firme, transformaria em colina o Everest. A Viagem ao Abismo proporciona a oportunidade de ficar “frente a frente” com os habitantes deste inóspito lugar do planeta, povoado por criaturas estranhas como camarões gigantes, moluscos e peixes, que mais parecem ter saídos dos livros de ficção-científica, a começar pelo clássico Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne. E transforma cada pessoa em um pequeno Jacques Costeau, o célebre oceanógrafo e explorador francês. É possível contemplar panoramas de tirar o fôlego, “voltando” à superfície em forma de cachoeiras e cascatas monumentais. E, desde que não seja a chuva real, do lado de fora, o visitante pode estar certo de entrar e sair do pavilhão seco. Gastronomia à base de frutos do mar garantida na Piazza della Pesca E como a vida é um grande e fluido palco, eis o teatro do Clima. Os organizadores criaram um verdadeiro centro meteorológico para explicar o passado, atestar o presente
— com boletins cadenciados do tempo que indicam a temperatura, a direção do vento, a umidade relativa do ar e a pressão atmosférica — e prever o futuro, em todos os continentes, pois a exposição é universal, por excelência. Simuladores digitais ilustram e reproduzem o impacto de variados fatores climáticos. Tudo em meio às palestras e conferências de especialistas. Caminhar tanto e em meio a infinitas descobertas abre o apetite de qualquer um. Na Pizza della Pesca, 700 metros quadrados garantem a satisfação das mentes e dos paladares mais exigentes. Todos podem trocar informações e
O Aquae Venezia está aberto ao público até 31 de outubro, assim como a Expo de Milão tocar com as mãos e ver a imensa vida marinha e como e com quais equipamentos, entre redes e barcos ancorados e abertos para a visitação pública, a vida marinha acaba na panela nossa de cada dia. Como um banco de peixes na feira de rua, a praça tem espaços dedicados a espetáculos de gastronomia aplicada à fauna marinha, quase pirotécnicos, ou melhor, “peixotécnicos”.
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Arte
Todos os
amanhãs do Brasil Protestos de junho de 2013 inspiram pavilhão brasileiro na Bienal de Artes de Veneza Guilherme Aquino
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De Veneza
Brasil convocou três artistas de outras tantas gerações diferentes para participação na Bienal de Veneza. O paulista André Komatsu, com o trabalho O Estado das Coisas; o português radicado no Brasil desde criança Antonio Manuel, com Ocupações e Descobertas; e a paraense Berna Reale, com o vídeo Americano. A mostra brasileira atende pelo singelo título “É tanto que nem cabe aqui”, uma provocação abstrata e concreta junto aos três mil metros quadrados de mostras nos Jardins, onde está o pavilhão do Brasil — uma espécie de território nacional em solo estrangeiro — e dos oito mil do Arsenal, com parte das obras selecionadas pela curadoria da Bienal de Veneza. Eles foram escolhidos por Luiz Camillo Osorio e Cauê Alves, a dupla responsável pelo programa das obras dentro do espaço. O nome foi inspirado em um dos cartazes das manifestações de protesto que tomaram as ruas das principais capitais nacionais, em junho de 2013. E o conteúdo tem a ver, exatamente, com as reclamações da população contra o aumento dos custos de vida, a corrupção, o desperdício de recursos em obras de infraestrutura e assim por diante. Esses conflitos sociais foram traduzidos em obras de arte. Instalações e vídeo trazem para a ribalta os problemas e as vítimas que vivem à margem da sociedade, as discrepâncias e as diferenças econômicas que levaram milhares de pessoas às ruas. Concreto armado e tijolos aparentes, pares de tênis, porta de madeira e parafusos são alguns dos elementos que compõem as obras, “pobres” em material, mas relevantes e profundas na concepção e na apresentação. Berna Reale chama atenção para a Amazônia e Antonio Manuel relembra a ditadura dos anos 60 e 70 O uso do corpo como elemento principal de protesto e da matéria-prima crua e nua, como o cimento e o tijolo, sem o acabamento, se transforma em “cartazes”, animados ou inertes, mas sempre artísticos e emblemáticos, do 48
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país. Berna Reale desperta corações e mentes contra a violência sob o manto verde da floresta amazônica, onde vive. Antonio Manuel, escaldado pelas lutas contra a ditadura e a censura nos anos 1960 e 1970, atrai as atenções para a obra de arte construída através da ação política. Já André Komatsu se concentra nos processos de mudanças provocados pelas transformações arquitetônicas e urbanas, consequências diretas e indiretas do progresso e do regresso da coletividade. Ainda que eles não tenham sido escolhidos diretamente pela curadoria da Bienal de Veneza, jamais poderiam desembarcar aqui se suas obras não flertassem com o argumento central da edição de número 56: All the world’s futures, um mergulho no passado para melhor compreender os prováveis amanhãs da humanidade. Com direito até à leitura diária em chave artística de O Capital, de Karl Marx, apenas para citar um dos eventos desta mostra inspirada no quadro do suíço Paul Klee, Angelus Novus. Em geral, sendo os artistas dotados de sexto e sétimos sentidos, além de antenas metafísicas, as respostas à proposta do intenso programa cabem às suas interpretações em presente de fatos e cenas vistas e vividas tempos atrás. O curador-mor, o nigeriano Okwui Enwezor, não fez por menos ao convocar 136 mentes brilhantes (a única brasileira é a mineira Sônia Gomes), de 89 países, cada um com o seu pavilhão nacional e espalhado pelos Jardins, entre eles o Pavilhão das Nações, uma “torre de Babel” artística — e outras sedes, como a ilha de Lazzaro, para o da Armênia, vencedor do melhor pavilhão. Mais da metade deste grande coletivo de escultores, pintores e instaladores estreia nesta Bienal, que completa 120 anos e é
O artista português radicado no Brasil, Antonio Manuel, apresentou Ocupações e Descobertas na Bienal de Artes de Veneza
a mais antiga do mundo. Em todos os campos da arte, um exército de visionários empresta um olhar de memórias voltado para a alvorada de novos mundos aqui na Terra. Alguns artistas já são considerados veteranos desta exposição, principalmente os suíços Thomas Hirschhorn e Hans Ulrich-Obrist, um dos maiores intelectuais do ramo. Pois bem, ambos inovaram como se espera de quem está sempre olhando o mundo com um olhar agudo, ousado e inovador. O primeiro, Thomas Hischhorn, ocupa uma das salas do Pavilhão das Nações, nos Jardins, a poucos metros do pavilhão suíço, que o abrigou na edição de 2009, com sucesso. Para este ano, ele elaborou uma escultura que alcança o teto chamada Roof Off — uma pilha de tralhas, papéis e papelões, espumas e fitas adesivas. Uma visão mais atenta revela algumas escrituras de textos filosóficos da Grécia antiga. Manifesto contra o esquecimento da era digital no pavilhão italiano O crítico de arte e curador de importantes mostras, o suíço Hans-Ulrich Obrist “invade” o pavilhão da Itália com o Manifesto contra o Esquecimento. A partir de uma conversa informal com o escritor Umberto Eco sobre o desaparecimento da escritura à mão, o suíço convocou 30 personalidades do mundo da cultura para uma redação coletiva sobre a memória, naturalmente, com lápis e papel. Tudo em homenagem ao histórico britânico marxista Eric Hobsbaws. Artistas brasileiros participam de outros pavilhões e eventos paralelos, como Vik Muniz e Tamar Guimarães O Brasil também “empresta” artistas para outras realidades internacionais dentro do contexto da Bienal de Veneza. A mineira Tamar Guimarães
Acima, da esquerda para a direita, a obra de Andre Komatsu O estado das Coisas e Três poderes; e Berna Reale com o vídeo Americano
foi chamada para integrar o pavilhão da Bélgica, na mostra “As pessoas e os outros”. O pavilhão da Armênia conta com a presença da artista Rosana Palazyan, que participa, com o trabalho Por que Daninhas?, da exposição “Armenity”, sobre a identidade estilhaçada dos imigrantes que fugiram do extermínio dos turcos do Império Otomano. A curadora Adelina Von Fustemberg disse: “trouxemos 18 artistas de diferentes gerações, uma montagem transnacional sob o símbolo da identidade fragmentada”. Em eventos colaterais àqueles principais, há outros brasileiros. O artista Vik Muniz criou um barquinho de papel gigante realizado em fibra de vidro, com 15 metros de comprimento, no qual reproduz as folhas de um jornal sobre as tragédias de Lampedusa, no mar Mediterrâneo. Assim, ele oferece uma reflexão contra a falta de assistência aos imigrantes clandestinos que tentam chegar à Europa, arriscando as próprias vidas. Já Cícero Alves dos Santos, o Véio, sergipano de Nossa Senhora da Glória, a pedido da empresa Mirna, trouxe suas criações: cem esculturas de madeira para a Abazzia di San Gregorio, no coração de Veneza. Assim, o mar Adriático recebe o sertão brasileiro. Mais uma prova de que a arte não conhece fronteiras e possui uma linguagem universal é a obra do artista suíço Christoph Büchel, junto ao pavilhão da Islândia. Ele é conhecido por suas criações ambientalistas e hiper-realistas. Dentro de uma igreja desconsagrada, Santa Maria da Misericórdia, o suíço ergue a obra A Mesquita. Símbolos de uma religião convivem pacificamente dentro da casa da outra. Provocatório, o artista leva a arte para um sincretismo religioso à europeia, com um quê espiritual de candomblé-católico, muito conhecido nas paragens brasileiras. comunit àit aliana | j un ho 2015
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Cinema
Cannes esnoba a qualidade Favoritos, Sorrentino, Garrone e Moretti saem sem prêmios do maior festival de cinema do mundo Janaína Pereira
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De Cannes
onsiderados favoritos absolutos à Palma de Ouro do Festival de Cannes, o maior evento de cinema do mundo, a trinca dos diretores italianos mais admirados da atualidade, formada por Paolo Sorrentino, Matteo Garrone e Nanni Moretti, saiu de mãos abanando. Em uma premiação que surpreendeu o público e a crítica especializada, os três cineastas foram esnobados pelo júri presidido pelos hollywoodianos irmãos Coen. Desde a exibição de Youth, de Paolo Sorrentino, para a imprensa, o filme dividiu opiniões. Para alguns jornalistas, o novo trabalho em inglês do vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro (por A Grande Beleza) soava pretencioso demais. Para outros, é mais uma obra-prima do cineasta italiano. Nas sessões para jornalistas, a produção foi tão aplaudida quanto vaiada. Sem previsão de estreia no Brasil – Youth ainda não tem distribuidora em solo nacional – o longa traz Michael Caine e Harvey Keitel como dois homens maduros que relembram a juventude enquanto passam alguns dias em um hotel de luxo. A atriz Jane Fonda faz uma participação especial. Caine era apontado como favorito a melhor ator em Cannes – ele perdeu para o francês Vincent Lindon. Sorrentino, que também concorreu em Cannes com A Grande Beleza e saiu sem nada (em 2013), preferiu não polemizar. “Muito tempo se passou desde que comecei a fazer cinema e, hoje, percebo que a arte aponta para o futuro quando ela é feita com base na liberdade. Então existe liberdade para premiar ou não o filme”, disse em entrevista à Comunità. O cineasta italiano preferiu falar mais de seu filme do que da ausência de prêmios em Cannes. “Gosto dessa ideia de que o futuro nos dá liberdade, e que a liberdade nos confere um sentimento de juventude. 50
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A relação que temos com o futuro na nossa juventude é a mesma que temos com a juventude quando somos velhos”. Garrone surpreende e Moretti emociona Em seu primeiro filme falado em inglês, o cineasta italiano Matteo Garrone (dos premiados Gomorra e Reality) surpreendeu na Croisette. Conto dos Contos, inspirado no livro Il Racconto dei Racconti, de Giambattista
No alto, uma cena do filme de Paolo Sorrentino, Youth; acima, o longa de Nanni Moretti Mia Madre e o filme de Matteo Garrone Conto dos Contos
Basile, e estrelado pela mexicana Salma Hayek, é uma fábula sobre três reis e suas vidas nada convencionais. Garrone uniu o realismo fantástico às epopeias da série de TV Game of Thrones, em um dos filmes mais comentados do Festival de Cannes deste ano. O longa já tem distribuição garantida no Brasil. No entanto, o cineasta foi bastante criticado por transformar um livro italiano em um filme falado em inglês. “O filme se passa séculos atrás, mas, ao mesmo tempo, tem uma dimensão moderna. Eu adoro fantasia e o poder das imagens, e me senti muito à vontade fazendo esse longa. O trabalho do escritor Giambattista Basile é universal e muito rico do ponto de vista visual, e o ponto chave do filme é o desejo, que evolui para obsessão e gera conflitos”, defendeu Garrone na coletiva de imprensa. Já o novo trabalho de Nanni Moretti – que já foi presidente do júri em Cannes e se tornou mundialmente famoso quando O Quarto do Filho venceu o Festival – arrancou lágrimas com o seu Mia Madre. Estrelado por Margherita Buy, o longa mostra uma cineasta envolvida entre uma filmagem e os cuidados com a mãe doente. A personagem é alterego de Moretti (que participa do filme como irmão da protagonista), que viveu a mesma situação quando filmava O Quarto do Filho. A italiana disputava com Cate Blanchett o favoritismo do público e da crítica para a premiação de melhor atriz, mas viu o prêmio ser dividido entre Rooney Mara (por Carol) e Emmanuelle Bercot (por Mon Roi). “Foi uma surpresa ruim Margherita não ganhar. E mais surpresa ainda um dos melhores filmes do Festival não ser premiado com nada”, disse o crítico francês Vincent Marceaux referindo-se a Mia Madre. O novo filme de Nanni Moretti já foi vendido para o Brasil, mas não tem data de estreia.
Comunidade — Esta comunidade italiana é um magnífico patrimônio humano e cultural que o Estado italiano tem o dever de valorizar — afirma o cônsul, que defende a realização de parcerias que reforcem as relações entre o Rio Grande do Sul e a Itália, principalmente através de joint ventures, investimentos e intercâmbios universitários. A celebração, que contou com a presença de duas mil pessoas, se encerrou com um almoço festivo com cardápio farto — exatamente como os descendentes de italianos estão acostumados. Na mesa, havia sopa de agnolini, salada de radicci com bacon, macarrão, polenta e galeto, típicos das colônias gaúchas.
A memória que faz o Sul crescer
Comemorações pelos 140 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos ao solo gaúcho se estendem ao longo do ano por todo o estado e se encerram na Festa da Uva em 2016 Aline Buaes
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De Nova Milano
Dia da Etnia Italiana no Rio Grande do Sul, comemorado em 20 de maio, marcou o início das comemorações pela passagem dos 140 anos da chegada das primeiras famílias de imigrantes italianos à Serra Gaúcha, registrada em 20 de maio de 1875. Nova Milano, distrito da cidade de Farroupilha e considerado o marco zero da colonização italiana na região, foi a localidade escolhida pelo Consulado da Itália em Porto Alegre para sediar uma celebração especial que contou com a presença do embaixador Raffaele Trombeta. — Depois de 140 anos, estou aqui representando a Itália no Brasil — declarou o embaixador, após depositar flores em frente às replicas dos passaportes dos três primeiros imigrantes que pisaram o solo gaúcho, cujos descendentes também receberam homenagens especiais. Uma missa solene celebrada em italiano deu início ao evento em Nova Milano, a 100 quilômetros de Porto Alegre, cujo nome homenageia a cidade de onde partiram seus fundadores. — Os primeiros imigrantes que aqui chegaram eram lombardos. Logo depois vieram os vênetos, trentinos e friulanos, que constituem hoje a grande maioria dos descendentes residentes neste estado — explica o cônsul-geral da Itália em Porto Alegre, Nicola Occhipinti, salientando que a homenagem tinha como objetivo recordar os valores dos pioneiros que, “com grandes sacrifícios, transformaram uma região de floresta virgem e moldaram um território que, em 140 anos, se tornou policromático, com cidades, indústrias, produção de vinho, trigo e pecuária”. O cônsul reitera sempre sua emoção ao visitar a comunidade italiana do sul do país. — Tenho muito orgulho em constatar pessoalmente que as pessoas de origem italiana, hoje 3,5 milhões, ou
um terço da população do estado, têm contribuído de modo determinante para o desenvolvimento local, que atingiu níveis sócio-econômicos e culturais admirados pelo resto do Brasil — destacou Occhipinti, lembrando que as celebrações receberam apoio econômico de grandes empresas da Serra Gaúcha, cujos fundadores são descendentes de italianos, como Randon, Tramontina, Marcopolo, Agrale e Colombo.
Polenta, tapetes ornamentais e resgate do dialeto Diversas cidades da Serra Gaúcha também estão organizando celebrações especiais ao longo deste ano. Em Flores da Cunha, a tradicional Festa da Polenta teve como temática central os 140 anos da imigração com a presença de autoridades regionais, apresentações de canções e danças, além, é claro, de muita polenta, preparada das mais diversas formas. Outra tradição de Flores da Cunha, o costume de adornar as ruas com tapetes de serragem durante o Corpus Christi, também assumiu a temática. A confecção dos tapetes envolve toneladas de serragem e associações comunitárias. Na cidade bilíngue de Serafina Correa, a comemoração inclui o projeto cultural Revivendo Nossa História, que envolve os alunos das escolas municipais com o objetivo de resgatar a cultura da imigração italiana, especialmente o talian, língua reconhecida como patrimônio cultural do Brasil em 2014. Em Caxias do Sul, a prefeitura elaborou uma extensa programação com encerramento previsto na Festa da Uva de 2016, em fevereiro, junto da cerimônia organizada pela vizinha cidade de Bento Gonçalves no famoso Vale dos Vinhedos.
No alto, as comemorações em Nova Milão; acima, o embaixador Raffaele Trombetta (à esquerda) e o cônsul geral de Porto Alegre, Nicola Occhipinti, recebem homenagem. Ao lado, a tradicional Festa da Polenta, em Flores da Cunha
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Comunidade
Sociedade
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“2 de Junho”, Dia da República da Itália, foi marcado por celebrações que reuniram a comunidade de norte a sul do Brasil. Não apenas autoridades e personalidades que demonstram a herança italiana na sociedade brasileira marcaram presença: o público comum compartilhou da alegria da data que atravessa, todos os anos, o oceano, seguindo a trajetória dos imigrantes italianos. Neste ano, o tema de todas as comemorações foi a Expo de Milão e teve o ponto alto no recorde de público de Belo Horizonte.
Lico Santos
Rio Grande do Sul
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m Porto Alegre, as comemorações foram realizadas no Grêmio Náutico União, onde os convidados foram recebidos pelo cônsul Nicola Occhipinti. Entre os presentes, estavam o governador José Ivo Sartori, a representante do Itamaraty Leda Camargo, o prefeito da capital gaúcha José Fortunati e a presidente do Comites RS, Rosalina Zorzi, além de empresários, representantes de associações e público em geral. O Coral I Amici de la Massolin encantou os presentes com os hinos nacionais da Itália, Brasil e do Rio Grande do Sul, Va Pensiero , da Opera Nabuco de Giuseppe Verdi, Merica Merica e Quel bel Massolin, de Fiori.
Rio de Janeiro
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celebração da República foi a primeira festa realizada pelo novo cônsul do Rio, Ricardo Battisti, no Terraço Belvedere, na cobertura do Consulado, de onde se tem um belo panorama da Baía de Guanabara. Os convidados degustaram comidas e bebidas típicas brasileiras e italianas em barracas organizadas pela Junta Local, uma rede de pequenos produtores que fabricam alimentos de forma sustentável.
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Brasília
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embaixador Raffaele Trombetta e a esposa, Victoria Mabbs recepcionaram os convidados na sede diplomática da Capital Federal. Entre as autoridades, marcaram presença os embaixadores Martin Agbor Mbeng (Camarões), Alexander Ellis(Reino Unido), Jozef Smets (Bélgica), André Regli (Suíça), Pitchayaphant Charnbhumidol (Tailândia) e Adamu A. Emozozo (Nigéria).
Curitiba
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a capital do Paraná, a festa foi realizada no dia 9 de junho, no Palácio Garibaldi. Na ocasião, o presidente da Câmara Italiana de Santa Catarina, Renato Timm Marins, foi condecorado com o título de Cavaliere dell’Ordine della Stella d’Italia. Ele recebeu a honraria das mãos do cônsul Enrico Mora. O título é atribuído a personalidades do mundo empresarial e institucional representativas da Itália, reconhecendo o seu desempenho em prol da cooperação comercial Itália-Brasil. Também foram homenageados o professor Marcio Fumagalli, do Circolo Italiano de Brusque, o engenheiro agrônomo Flavio Zanetti e o empresário Aclino Feder, de Guaramirim.
Recife
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Consulado de Recife e o Consulado Honorário de Fortaleza realizaram a solenidade na capital cearense. A abertura foi realizada no Teatro Dragão do Mar e o coquetel de encerramento, no restaurante Jardim Alchymist, na Aldeota. Uma delegação de empresários, acompanhanda do senador italiano Giovanni Lorenzo Forcieri, marcou presença. Os homenageados foram o presidente da Agência do Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Ferruccio Feitosa, o diretor presidente da Ceará Portos, Erasmo da Silva Pitombeira, além de autoridades italianas que participaram do projeto de abertura de rotas comerciais entre Pecém (CE) e a Itália, como o deputado Fábio Porta. O concerto ficou por conta da Orquestra Filarmônica de Fortaleza, sob a regência do maestro Gladson Carvalho e com a participação da soprano Patrizia Biccciré.
São Paulo
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Consulado celebrou a data no Instituto Italiano de Cultura, na Avenida Higienópolis, diante de 500 convidados, entre autoridades, empresários e artistas. O cônsul Michele Pala e o empresário, publicitário e artista plástico Edmundo Sansone Neto foram os anfitriões. “Este 69º aniversário do Dia da República Italiana coincide com um ano muito importante, em que a Itália sedia a Exposição Universal, dedicada a temas universais da energia, alimentação e sustentabilidade. A Festa da República também celebrara o Made in Italy em parceria com as principais empresas italianas presentes no território paulistano. Uma ótima oportunidade para reforçar os laços econômicos, políticos e culturais entre a Itália e o Brasil”, ressaltou Pala. Durante o evento, foi lançada a oitava edição do Anuário Itália em São Paulo 2015, trazendo a atriz Luciana Vendramini na capa. Com fotos de Leo Faria, ela personifica Anita Ekberg, de La Dolce Vita.
Minas Gerais
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m Belo Horizonte, a festividade entrou no calendário oficial da prefeitura e se tornou um evento que atraiu cem mil pessoas este ano e, segundo os organizadores, é a maior celebração de rua pelo Dia da República fora da Itália. Leia matéria completa na próxima página.
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Comunidade
De Minas para todos Nova edição da festa italiana de Belo Horizonte reúne cem mil pessoas e tem área dedicada à Expo com a participação de empresas do setor alimentício Geraldo Cocolo Jr De Belo Horizonte
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ma parte do Savassi, tradicional bairro da capital mineira, se transformou na Itália, durante a nona edição da Festa Tradicional Italiana de Belo Horizonte, que reuniu quase cem mil pessoas no dia 31 de maio. A festividade contou com arte, música, teatro, dança e gastronomia em um só lugar. Parte do calendário oficial da prefeitura municipal da cidade, é considerada a maior festa de rua realizada fora da Itália, por ocasião das comemorações do Dia da República. Vários estabelecimentos italianos da cidade marcaram presença e colocaram à venda comidas e bebidas típicas, além da participação de algumas associações e outras entidades do estado, que também expuseram os seus serviços. Assim, os visitantes tiveram acesso a publicações, vídeos e informativos para se informarem sobre projetos que envolvem os dois países. No palco, variadas atrações divertiram o público, como as apresentações de música para todas as idades. A revista ComunitàItaliana marcou presença através de um estande que foi visitado por diversas autoridades. O evento é promovido pela Associação de Cultura Ítalo-Brasileira de Minas Gerais (Acibra), com o apoio da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio 54
de Minas e do Consulado italiano em Belo Horizonte, com o objetivo de manter a cultura e as tradições vivas e integrar culturalmente mineiros, italianos e seus descendentes. Este ano, os organizadores estabeleceram um sistema de caixa único, com compra antecipada via internet das fichas de alimentação, na tentativa de evitar filas. Para ter acesso à feira, bastava doar um quilo de alimento não perecível, encaminhado para instituições de caridade do estado. Homenagens a personalidades do mundo ítalo-mineiro, como o médico Alfredo Balena A consulesa em Minas, Aurora Russi, se orgulha das comemorações: — Saber que tudo começou com uma festa pequena, lá na frente do Consulado, e ver até onde chegamos nove anos depois, é motivo de orgulho. Isso significa, para mim, que a comunidade italiana de Belo Horizonte e suas instituições estão em ótima condição. Os descendentes são, claro, um dos pilares da festa, assim como os italianos e as italianas nascidos na Itália e todos os apaixonados pelo país: não há distinção neste sentido. É uma festa de todos e cada grupo contribui como pode e como quer. Acho isso lindo: simboliza a excelente integração entre a Itália e Minas, o carinho de muitas pessoas pelo país e o grandíssimo valor da Itália aqui no Brasil — ressalta.
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Comidas e bebidas típicas e apresentações de dança e música atraem todos os anos milhares de pessoas à festa tradicional italiana, que se tornou extremamente popular entre os mineiros
O presidente da Acibra, Raffaele Peano, definiu o evento como “um dia de integração na alegria contornada com a comida e com a bebida típica, música e das tradicionais danças italiana e mineira”. — É um momento para vermos a influência italiana na nova cultura mineira, a indústria moderna e a participação dos italianos na construção de Belo Horizonte — definiu. Um dos diferenciais na festa de 2015 foi a área dedicada à Expo 2015, que contou com participação de empresas, como a Borghese Laticínios de Búfala, a E-ambiente Brasil e a Segafredo Café, entre outras empresas. Além disso, os organizadores, na solenidade de abertura oficial, prestaram homenagens para as pessoas que contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento cultural da capital mineira e a realização do evento, como o médico Alfredo Balena, um dos fundadores da Escola de Medicina da Universidade Federal de Minas, que batiza a avenida daquela escola.
Esporte
A evolução da mais querida Juve chegou à final da Liga dos Campeões após um árduo trabalho que envolveu contratações de peso e favorecida pela falta de investimentos no Milan e no Inter Maurício Cannone
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imili a degli eroi, abbiamo il cuore a strisce. Parecidos com os heróis, temos o coração listrado, diz o primeiro verso do hino da Juventus. La Vecchia Signora ou Madama, como o clube alvinegro também é conhecido, teve uma performance heroica nos últimos anos. Foram conquistados quatro campeonatos nacionais consecutivos, além da Copa Itália, a décima de sua história, que não ganhava desde 1994-95. Isso sem falar na final da Liga dos Campeões Europeus, à qual não chegava desde 2003. Mas nem tudo foram flores no passado recente de Madama. Em 2006, exatamente no ano do último título mundial da Seleção Italiana, foi rebaixada pela única vez na sua história, apesar de ter inicialmente conquistado o título da Série A.
Complicado, não? Explica-se: os campeonatos 2004-2005 e 20052006, ambos conquistados pelo alvinegro de Turim, foram revogados no tribunal esportivo, pois o clube foi considerado culpado pela manipulação de resultados — o escândalo Calciopoli, naquelas duas temporadas. O scudetto 2004-2005 ficou sem dono; o de 2005-2006 foi consignado ao Internazionale. Até hoje, clube e torcida insistem que a Juve conquistou 33 campeonatos, embora oficialmente sejam reconhecidos 31. Mas com 33 ou 31, o recorde de vitórias na Série A continua de qualquer maneira com a Velha Senhora, que ficou apenas a temporada 2006-2007 na Série B, para não voltar mais. “De Berlim à Série B, da Série B a Berlim”, festejava no Twitter Gianluigi Buffon, goleiro e capitão, que manteve a fidelidade ao clube, onde permaneceu mesmo na temporada na segunda divisão, quando outros desertaram. Ele foi campeão mundial em 2006 pela Itália, justamente em Berlim, palco da final da Liga dos Campões Europeus no último dia 6 de junho contra o Barcelona. O velho Buffon só não pôde segurar o título europeu 2014-2015 diante do Barcelona, um dos maiores times de todos os tempos. O Barça fez 1 a 0 com o croata Rakitic.
O espanhol Morata deu ainda esperanças à Juve ao empatar. Mas o uruguaio Suárez e depois Neymar, no fim do jogo, decretaram o 3 a 1 de uma equipe “do outro mundo”, cujo maestro é Messi. Aos motivos enumerados pelo cronista esportivo italiano Roberto Beccantini para a escalada da Juve, podemos acrescentar a contratação, em 2013, do argentino Tévez, campeão brasileiro pelo Corinthians em 2005. Vale lembrar a construção do moderníssimo Juventus Stadium, inaugurado em 2011, único estádio que tem um clube como proprietário na Itália, com capacidade para 41.475 espectadores, em Turim. E nunca se deve esquecer a força de sua torcida: uma pesquisa do Instituto Demos & Pi, publicada pelo La Repubblica, calculou que a Velha Senhora, a mais querida do país, tem de 12 a 13 milhões de adeptos. No mundo todo, os simpatizantes são estimados em 250 milhões, segundo a Sport+Markt AG.
Mais acertos do que erros
A
pedido de Comunità, Roberto Beccantini, cronista esportivo italiano, enumerou sete motivos da escalada nos últimos anos da Juventus. Ele também analisou as decisões de John Elkann, neto de Gianni Agnelli e presidente da Exor, holding financeira da qual faz parte a Fiat, detentora do controle acionário majoritário da Juve. 1) A Juventus voltou para a Série A no verão europeu de 2007. Desde então: primeiros quatro campeonatos: 3ª, 2ª, 7ª, 7ª; últimos quatro campeonatos: 1ª, 1ª, 1ª, 1ª. Logo após Calciopoli, John Elkann confiou a direção do clube a pessoas incompetentes: Cobolli Gigli, Jean-Claude Blanc e Alessio Secco. Crucial, em maio de 2010, a chegada de Andrea Agnelli, primo de John Elkann, à presidência. Agnelli recrutou o diretor Beppe Marotta, então na Sampdoria. Resultados? Um sétimo lugar e depois quatro scudetti. 2) Ideias claras. A força de desatar nós dolorosos: Del Piero (ídolo que saiu do clube) e Conte (técnico dos três primeiros títulos, que saiu no ano passado e foi comandar a Azzurra). 3) A escolha de técnicos: primeiro, Conte; depois Allegri, que não contava inicialmente com a simpatia dos torcedores (pelo passado de técnico no Milan). 4) O acerto na vinda de jogadores, exceto no início, e excluindo algumas contratações, como Anelka e Bendtner 5) A grande contratação de Pogba, meio-campo da seleção francesa. 6) A seriedade do clube, desde os altos escalões até os últimos jogadores reservas. 7) A crise dos clubes de Milão. Silvio Berlusconi e Massimo Moratti decidiram não investir mais respectivamente no Milan e no Inter. E em particular a decisão de Moratti de vender o Inter (hoje em mãos de um indonésio).
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opinione MarcoLucchesi
Aquilles ea tartaruga
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ão saberia de que lado começar a reunião dos pedaços capazes de comporem uma pequena parte da antologia que me constitui. Confesso de imediato: eu me dissipo nas coisas que congrego. Sou mais pródigo que avaro, ou seja, menos inclinado à estrela que às fauces do caos. Se conseguisse inverter a frase (eu me congrego nas coisas que dissipo), poderia elaborar sem hesitação um resumo do que sou, para me defender um dia no do tribunal de Osíris. Seja como for: tenho um metro e setenta e cinco e não alcanço de todo o abismo do presente. Pouco menos de oitenta quilos – sem o peso dos sonhos –, uso óculos de grau e me pareço com minha mãe. Não sou guarda de museu e nem tampouco adicto do futuro: eu me reinvento, a dialogar com o ontem e o amanhã, preso no intangível agora, a cuja fonte acorrem sedentos meus lábios. Sou filho do ainda não, amo a soledade e seus primeiros raios: o silêncio e a distância. Procurei desertos de pedra e areia, de onde saí com alguns poemas e uma forte pneumonia. Amo as formas breves, mas não desprezo a lógica do excesso. Guardo o rebanho dos livros, que alcanço nos idiomas dos quatro continentes e, se não falo a língua dos lobos, aprendo alguma coisa nos latidos de minha idosa pastora, Carina. Já a linguagem dos pássaros, percebem-na apenas Attar e Francisco de Assis. Sonho com a Torre de Babel e suas escadas intermináveis. Subo e desço aqueles degraus com assombro e destemor. Até meus vinte anos, eu era imbatível nos cem metros rasos. Hoje detesto correr e sofro o assédio de vinte mil volumes da biblioteca. Caminho e pratico exercícios físicos, raramente sintáticos, sobretudo semânticos. Comecei a estudar o devanagari e o tupi antigo, porque amo o estado transitivo, a ponte “que vai de mim para o Outro”. Fui aos campos de Sabra e Shatila, de olhos marejados pela dor, tal como nas prisões visitadas do Rio de Janeiro. Temos um pacto: não pergunto aos detentos o que fizeram, nem eles procuram saber o que fiz. Subi a Juazeiro do Norte com os romeiros do padre Cícero e desci à Canudos de Antônio Conselheiro, submersa nas águas do remorso.
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Moro em Niterói. Ou talvez não: Niterói mora em mim, cidade que conjugo na primeira pessoa, espinha dorsal de uma infância permanente. Seu nome pode significar água escondida – em cujo líquido seio proponho uma pequena distância diante do mundo (não de meus conflitos). Moro entre Icaraí e Itacoatiara. Habito nomes indígenas e as obras bárbaras de Dante, Nietzsche e João da Cruz. Nasci bilíngue e traduzo poesia desde a adolescência. Amo a fé religiosa do povo e ando inquieto com o desaparecimento de Paolo dall’Oglio, ao tentar, ardido e solitário, a paz na Síria. Nutro a esperança de que voltará: penso nas crianças de Damasco e na mesquita de al-Ualid. Viajo pelo mundo. O meu erário é farto de nomes e rostos. Não gosto de atrasos e aparo as arestas de meu furor com as árias de
Não sou guarda de museu e nem tampouco adicto do futuro: eu me reinvento, a dialogar com o ontem e o amanhã, preso no intangível agora, a cuja fonte acorrem sedentos meus lábios
Bellini e as sonatas de Scarlatti. Meu oxigênio é a música – estudei piano e canto e mais que nulla dies sine linea estou para nulla dies sine musica. Estudei Mozart e Debussy, assim como os olhos de minha mãe, que me levaram ao piano, olhos castanho-claros, quando eu ainda não duvidava da língua dos homens e do silêncio de Deus. Sei de cor algumas linhas de Machado e os olhos de ressaca de Capitu. Nasci em Copacabana, ao passo que Escobar desnasceu em Botafogo. Se tirassem o mar de minha vida, não saberia realizar a história a que pertenço. O sal começou a queimar os meus lábios desde jovem. Tenho a pressão controlada. Amo Camões pelo vigor sensual de suas oitavas, onde não faltam aromas e uma farta salinidade. Por isso, bebo com cuidado o licor da Ilha dos Amores, com o iodo de sua alta poesia. Tudo que sei veio dos livros e do mar: potências inacabadas, ondas e páginas. O mar e a biblioteca constituem uma superfície viva, feroz e incerta, cobrindo furnas e abismos. Sofro as ressacas e os tufões da história trágico-marítima, e combato o vulcão
negro, apontado por Duarte Pacheco no Esmeraldo. Eis a feroz desmedida dessas águas. Fui matriculado na escola dos ventos, num pélago de tempestades, com ondas atrevidas, longe de um mar exangue, varrido por uma exaustão milenar. Aos três anos de idade, quase me afogo em Copacabana, mas não largo um só instante meus brinquedos. Hoje cruzo a Baía de Guanabara e vejo os fortes portugueses e as igrejas, que tanto me fascinam. Acendo o meu toscano, quando sintonizo as rádios Jorge de Lima e Fernando Pessoa. Sou amigo
do padre Vieira e protejo, na medida de minhas forças, as armas de Portugal contra as de Holanda. Fui hóspede no Palácio da Fronteira, bolsista do Instituto Camões, e com Fernando Mascarenhas bebemos à saúde de nosso amigo Cesário Verde. Chama-se Constança minha mulher. E reconheço à perfeição o adágio segundo o qual os nomes provêm das coisas. Minha mãe foi revestida com o delicado apelido de Elena, como as meninas de seu tempo, ao passo que meu pai se chamou Egidio. No dia dos santos Cosme e Damião eu me deliciava com os saquinhos de cocada, mariola e maria-mole.
E o branco dos lençóis quarando no varal eram como navios que faziam aguada na terra de meus verdes anos. Birbante!, gritava minha avó, a bordo de um navio-lençol, atrás do neto-corsário que puxava as roupas do varal. Birbante!, que eu entendia como sendo barbante, preso nos laços do amor, expondo meu peito a sobressaltos, em guerras de alecrim e manjerona. Mas houve outra guerra, a Segunda, bem mais devastadora. A casa de meus avós hospedou o alto comando da FEB, a força expedicionária brasileira. Foi quando libertaram a cidade de Massarosa do exército alemão. Gostaria de escrever um dia essas histórias. Só então poderei dizer que volto a um passado que corre nas minhas veias e distribui meu quinhão de esperança e melancolia. Volto como quem sabe que a partida parece um apelo de fogo e carne exposta, agulhas e mortes, que atravessam o fígado e a alma, havendo ambos em mim. Volto, como quem volta de um infinito abandono, como quem espera uma acolhida de braços abertos e os raios do perdão ao filho pródigo do futuro. Volto como quem volta, em mil pedaços, devorado por feras, que me dissipam justo quando me congrego, sob a luz do caos e da estrela. Todos os meus vêm da toscana e me tornei o primeiro brasileiro. Meus pais e minha avó materna,
Volto como quem volta, em mil pedaços, devorado por feras, que me dissipam justo quando me congrego, sob a luz do caos e da estrela Quintilia, foram acolhidos na Terra de Santa Cruz e hoje descansam poucos metros abaixo deste solo, mátria amada, Brasil. Ubi bene, ibi patria. Dos onze aos dezessete anos estudei no colégio Salesianos Santa Rosa. Lembro-me de padre Marcelo Martiniano, movendo os onze mil tubos do órgão na fuga de Bach, como se a igreja fosse um imenso navio, lutando para não ser devorado pelas sonoridades abissais. Sofri nas garras da matemática, que então me parecia um tigre feroz. Vencido o medo, hoje dou aulas sobre poesia e matemática. Uso um telescópio de 200mm x 1000mm para atingir a nebulosa da Lagoa, a Trífida e a M 55. Comecei a escrever romances nos últimos três anos, desde que deixei a Biblioteca Nacional, motivado pelos motores ficcionais da história. Sou professor de literatura comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro e gostaria de pedalar quilômetros a fio, num horizonte inacabado, como um Giorgio De Chirico, embora eu não tenha bicicleta. Canso-me de dirigir no trânsito do Rio e meu time de futebol é o Flamengo. Sem exageros. Não vou ao Maracanã desde os anos 1990. Quando eu era um menino via o futuro pouco atrás de mim, com passos curtos e tímidos, como a tartaruga de Aquiles. Hoje sou eu que já não posso alcançá-lo. A tartaruga me ultrapassou e eu continuo a resistir contra o pensamento único, as guerras de religião e os males do Império. E se o futuro não termina, minha autobiografia permanece necessariamente incompleta. O Isis und Osiris, piedade! Marco Lucchesi, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras
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ItalianStyle
Ecofashion
Bolsas e óculos de madeira, jeans e calçados veganos, fibras ecológicas, muito design e modernidade produzidos com respeito à natureza. Confira as novidades das grifes que cada vez mais aderem à moda ecossustentável italiana.
Prada Raw
Casaco impermeável da coleção Max Mara Weekend Outono/Inverno 2014-2015, inspirado nos anos 1950 e produzido com a fibra ecológica New Life, produzida a partir da reciclagem mecânica de garrafas plásticas, sem o uso de produtos químicos. Esta já é a segunda coleção da marca que apresenta peças neste tecido tecnológico especial, totalmente made in Italy. Preço: € 339 www.weekendmaxmara.com
V42
Sandália confortável e colorida feita de alcântara, uma espécie de camurça artificial e ecológica, produzida pela Opificio V Milano, marca de referência em moda ética italiana, que produz sapatos certificados pela Sociedade Vegana do Reino Unido como Cruelty Free. Os produtos são confeccionados por pequenas fábricas artesanais com materiais como borracha, linho e algodão. Preço: € 159 www.opificiov.com
Bolsas de madeira
Neste modelo de bolsa da ODD, a opção ecológica e de baixo impacto ambiental para substituir o couro foi a madeira, que, trabalhada com prensas de calor e microincisões, se torna um material maleável e similar a um tecido. A madeira utilizada é proveniente de florestas com certificação internacional FSC. Segundo a fabricante, cada árvore produz 200 bolsas e 150 pares de sapatos. O modelo da foto possui 59 cm de altura e 40 cm de largura. Preço: € 350 www.ood-italy.it
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Cammina Leggero
Sneaker masculino e sapatilha feminina produzidos pela Cammina Leggero, pequena fábrica artesanal de sapatos veganos produzidos a partir de uma microfibra de origem vegetal de baixo impacto ambiental. A empresa defende a filosofia de produção sem o uso de couro, lã ou outros materiais que possam provocar sofrimento aos animais, além de empregar mão de obra local e artesanal. Preço: € 100 (sneaker) e € 92 (sapatilha). www.camminaleggero.com
Fotos: Divulgação
Fibra ecológica
A coleção da Prada para a primavera-verão 2015 segue a grande tendência do verão na Itália: os óculos de sol em madeira. Desenhados graças à combinação de duas variedades de madeira preciosa, nogueira e ébano Malabar, os óculos seguem o design contemporâneo e de vanguarda, típico da grife. Preço: Sob consulta www.prada.com
milão
GuilhermeAquino
Monza, futebol e emdívida anos de história de uma dívida de
C
Entradas para a Catedral...
O
Duomo de Milão cobra dos turistas um euro para entrar na nave principal e quatro euros para visitar o teto. O motivo do ingresso a pagamento é a hora extra dos funcionários, além das despesas para deixar a catedral gótica lustrando como nova. O problema é que eles estão chegando em doses homeopáticas, ainda que os registros informem
três milhões de euros estão indo pelo ralo. O débito foi julgado pelo Tribunal de Monza como falência para o clube. Esta é a segunda crise econômica do Monza; a primeira foi em 2004. De lá para cá, a dança das cadeiras dos dirigentes se alternou sem um resultado aceitável no campo financeiro. Apesar dos atrasos dos salários e deserções de alguns jogadores, o time tenta se manter concentrado no futebol. Porém, a esta altura do campeonato, tanto faz se está na série D ou na Divisione Unica: o importante é achar o dinheiro para que não sejam cortados os fornecimentos de luz e gás do estádio Brianteo, para não falar do desaparecimento completo de um clube de uma das zonas mais ricas da Europa.
um leve aumento no número de visitantes. Eles são cerca de dez mil por dia, um incremento de 10%, comparado com o mês de maio de 2014. E, para piorar, a previsão inicial de 80 mil silenciosos espectadores desta obra-prima da engenharia e espiritualidade foi reduzida para 50 mil, em função do ainda tímido fluxo de pessoas atraídas pela Expo.
...e riscos também praça do Duomo é o principal palco
Tesouro de Parma m tesouro deixou os almoxarifados da Falsa Expo a céu aberto de Milão. A quase toUuniversidade de Parma e ganhou a me- stava demorando a acontecer. A in- A talidade dos visitantes da cidade passa recida luz filtrada pelos imensos vitrais das janelas da Abbazia di Valserena, conhecida como Certosa di Paradigna. Nada menos que 12 milhões de documentos, esculturas, quadros, desenhos, projetos, pinturas e tudo o mais que se relaciona com o mundo das artes da segunda metade do século XX foram catalogados e avaliados, por baixo, em 60 milhões de euros. Eles fazem parte do acervo do novo Centro Studi ed Archivio della Comunicazione. Deste total, apenas 600 itens, como obras de Pistoletto e Fontana e esboços de Armani, foram colocados em exposição na monumental Abbazia, e irão se revezar ao longo dos anos. Todo o material foi doado durante décadas, por cidadãos e instituições públicas e privadas.
E
vasão dos souvenirs falsos, com o logotipo da marca Expo, já se transformou num caso de polícia, mais do que de estudo antropológico das lembrancinhas extraoficiais, leia-se, não autorizadas. Fabricantes e vendedores (a última ponta do iceberg) não compraram a licença para produzi-los. Sendo assim, as autoridades confiscaram um milhão de objetos — como imãs de geladeira, cartões-postais e xícaras. Se fossem vendidos, arrecadariam cerca de 5 milhões de euros aos cinco italianos já presos, localizados em quatro bancas de jornais no centro de Milão. O material era importado legalmente da China. Em Milão, Turim e Carnate, recebiam o símbolo da Expo, ilegalmente.
por ali e entram para ver o espetáculo de arquitetura e de obras de arte. Mas quando o show é do lado de fora, a música toca no volume máximo e o público pula e canta com o artista da vez, lotando a praça. Quem paga a conta são as frágeis agulhas e os vitrais da igreja. Por isso, a diretoria da Veneranda Fabbrica, responsável pelo Duomo, encomendou ao Politécnico um estudo sobre as consequências das vibrações e do barulho das notas musicais que voam e se “estilhaçam” nas fachadas. A pesquisa prevê ainda o possível uso de novos materiais e técnicas para amenizar ou eliminar os danos.
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Gastronomia
Diversão
gourmet
Complexo gastronômico italiano Eataly recém-inaugurado em São Paulo quer atrair todos os amantes da boa comida sob o lema “comer, comprar, aprender” Vanessa Corrêa
O
De São Paulo
legítimo vinagre balsâmico de Modena? Tem. Massa de Gragnano cortada em formas de bronze, considerada uma das melhores da Itália? Tem. Cogumelos dos mais variados tipos a granel? Também tem. Junte a isso mais de 400 rótulos de vinícolas italianas, massas frescas feitas diariamente e uma pizza que não fica devendo nada às redondas servidas em Nápoles e você tem um resumo do Eataly, mercado de gastronomia italiano que acaba de abrir sua primeira filial brasileira em São Paulo. Criado pelo piemontês Oscar Farinetti, o Eataly é um espaço dedicado à comida da Itália e segue a filosofia do Slow Food, movimento fundado pelo italiano Carlo Petrini em
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1986 que defende o direito a uma alimentação prazerosa e de qualidade, o uso de alimentos produzidos de maneira sustentável e o respeito ao produtor. A primeira loja da rede foi aberta em Turim, no norte da Itália, em 2007. Desde então, foram inauguradas outras 28 unidades, sendo 14 na Itália, nove no Japão, duas nos Estados Unidos, uma em Dubai, uma em Istambul e a mais recente em São Paulo. — O Eataly em São Paulo é uma homenagem à imigração na cidade, que recebeu italianos de tantas
regiões. O que queremos com esse espaço é a integração da cozinha italiana à cultura brasileira — disse Farinetti durante o evento de apresentação da loja. Já Mario Batali, chef americano e um dos sócios da filial no Brasil, deu uma explicação mais pragmática para a escolha da capital paulista ao citar “21 milhões de habitantes”, ou seja, a população da região metropolitana de São Paulo como o maior incentivo para seu investimento na loja da cidade. — Mesmo que dez milhões de pessoas odeiem o Eataly, há mais 11 milhões que conseguiremos agradar — explicou o chef, que também é sócio das filiais da rede em Chicago e Nova York. Agradar o público nunca foi um problema para Batali. Considerado uma celebridade no mundo gastronômico, ele é dono de mais de 20 restaurantes nos Estados Unidos, já apresentou diversos programas de gastronomia e publicou dez livros de receitas. Confirmando a previsão do chef, desde sua inauguração, em 19 de maio, o Eataly São Paulo vem atraindo diariamente uma multidão de gourmets, glutões e curiosos dispostos a se perder entre as prateleiras do espaço de três andares e 4.500 metros quadrados.
O mercado é dividido em 22 seções, que ao todo oferecem sete mil produtos, e conta com sete restaurantes espalhados pela loja. A maior parte dos itens à venda no local é importada da Itália, mas há também uma seleção de artigos brasileiros cuidadosamente escolhidos por uma equipe do Slow Food, que viajou por todo o Brasil em busca de produtos que pudessem representar a riqueza da gastronomia do país. São itens como o doce de umbu produzido por uma cooperativa de pequenos produtores do sertão da Bahia e o fubá de milho branco selecionado pela marca Retratos do Gosto, criada por chefs brasileiros para preservar a produção de alimentos típicos do Brasil. No balcão de queijos e frios, o tradicional parmigiano reggiano divide espaço com queijos de cabra e requeijão de pequenos produtores do interior de São Paulo. — Foi um desafio grande encontrar produtores artesanais no Brasil. Ao contrário da Europa, aqui não há uma forte tradição de produção agrícola familiar — disse Victor Leal, um dos sócios do Eataly São Paulo. Espaços para todos os gostos, do simples aperitivo a restaurantes especializados em grelhados A localização dos restaurantes é determinada de acordo com a disposição dos produtos. O espaço Il Pesce, por exemplo, fica ao lado da peixaria e oferece pratos com peixes e frutos do mar frescos. Já o restaurante La Carne está situado junto ao açougue e prepara de carpaccios a brasatos cozidos por seis horas. Pizzas, massas e vegetais também ganharam espaços próprios na loja. Quem procura apenas um aperitivo para acompanhar uma taça de vinho, pode se dirigir ao La Piazza, que serve arancini, focaccias e tábuas de queijos e embutidos. Para uma refeição mais elaborada, é preciso subir ao terceiro andar, onde funciona o restaurante Brace, o único do mercado que aceita reservas. Como o próprio nome já diz (brace em italiano quer dizer ‘grelha’), o restaurante é especializado em pratos grelhados, com preparações que usam verduras, carnes e frutos do mar. Segundo os sócios brasileiros do empreendimento, Bernardo Ouro Preto e Victor Leal, donos da rede de mercados St Marche e do empório Santa Maria, vender boas refeições a preços acessíveis é um dos principais objetivos do Eataly.
Bernardo Ouro Preto (sentado) e Victor Leal (de pé) são os sócios brasileiros do Eataly São Paulo
“Um dos nossos desafios é oferecer preços democráticos com produtos da melhor qualidade. Na hora do almoço queremos receber das recepcionistas aos presidentes das empresas que funcionam na região” Victor Leal, sócio brasileiro do Eataly São Paulo — Um dos nossos desafios é oferecer preços democráticos com produtos da melhor qualidade. A ideia é atrair todos os amantes da boa comida. Na hora do almoço queremos receber das recepcionistas aos presidentes das empresas que funcionam na região — explicou Leal. Os preços das massas vão de R$ 25 (spaghetti al pomodoro) a R$ 46 (ravióli de búfala com molho de tomate fresco) e as pizzas variam entre R$ 25 (Margherita) e R$ 42 (Ventura - pizza com mussarela, rúcula, presunto cru
e parmesão). Já no restaurante de carnes, o prato mais em conta é o carpaccio bovino (R$ 28) e o mais caro a cotoletta, costela empanada que sai por R$ 125 para duas pessoas. A democracia se estende à carta de vinhos, na qual o vinho da casa, produzido pela vinícola piemontesa Fontanafredda, é vendido por R$ 9,80 a taça. É da mesma vinícola a opção mais cara do cardápio: um Barolo safra 2009 cuja garrafa custa R$ 291. “Comer, comprar, aprender” é um dos lemas do Eataly; por isso, além do mercado e dos restaurantes, as unidades da rede têm um espaço reservado para a organização de cursos de cozinha. Para os próximos meses, a loja de São Paulo preparou um calendário de aulas com chefs de restaurantes italianos da cidade. Entre os profissionais convidados, estão Luca Gozzani, do Fasano, Roberto Ravioli, do Empório Ravioli, e Giampiero Giuliani, do Due Cuochi Cucina. — Todas as lojas têm uma escola porque é muito importante para nós dividir com o consumidor o respeito pela comida, informar de onde vem o alimento e como apreciá-lo de forma saudável — disse Lidia Bastianich, chef americana e sócia das filiais do Eataly nos Estados Unidos. — Nós esperamos que o Eataly se torne uma referência para os paulistanos, os turistas, os epicuristas e os amantes da cozinha italiana — declarou Oscar Farinetti. A ideia é que o consumidor saia da loja convencido das palavras estampadas em um enorme cartaz na entrada do local: “A vida é muito curta para não comer e beber bem”. SERVIÇO Eataly Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1489, Vila Nova Conceição, São Paulo Tel.: (11) 3279-3300. Aberto todos os dias, das 8h às 23h.
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Saperefood
Fichi, carruba e fiori di sambuco: la birra ‘etica’ italiana Quattro giovani amici impiegano i frutti antichi del Centro Italia per creare un prodotto rispettoso del territorio Emanuela De Pinto
speciale della saperefood
A
ncora ragazzini, al calcetto preferivano un magazzino per produrre birra. Oggi, neanche trentenni, hanno fondato la Cooperativa Impulso e il microbirrificio DieciNove. Siamo a Spello, delizioso borgo medievale vicino Perugia, Umbria, e i protagonisti sono Emanuele Pacilli (23 anni), Luca Faggiano (25), Matteo Coluzzi (24) e Cesare Ferrari (26). Per produrre birra hanno recuperato i frutti dimenticati, quelli spontanei, della tradizione contadina dell’Italia più antica. Il microbirrificio DieciNove è stato inaugurato nel 2014, settanta metri quadri divisi tra laboratorio e sala degustazione. Un luogo intimo, rustico ed elegante al tempo stesso, interamente in pietra. E mentre si gustano birre e taglieri di salumi, dalla porta in plexiglass che separa la sala clienti dal laboratorio, può capitare di assistere alla produzione della birra. 62
Due le etichette iniziali: l’Ambrata al Miele e Fichi, e la Scura aromatizzata alla Carruba. La prima, adatta ad ogni ora della giornata, sia per i pasti che per un break pomeridiano. Quella alla carruba, dal sapore marcato e una nota acidula, adatta a contrasti forti, magari con cioccolato fondente o pasticceria secca. “Il miele lo prendiamo in Umbria da piccoli produttori locali — spiega Emanuele, 23 anni, presidente della Cooperativa, che ha lasciato il lavoro di restauratore a San Pietro, in Vaticano, per fare il
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Il presidente della Cooperativa Impulso, Emanuele Pacilli (con gli occhiali) e il responsabile relazioni esterne, Luca Faggiano presentano la loro birra DieciNove prodotta a Spello, im Umbria
mastro birraio a tempo pieno — i fichi secchi arrivano, invece, da tutta Italia. La carruba nel Lazio”. Da qualche giorno è partita la produzione di una terza birra firmata DieciNove, un omaggio a Spello e all’Infiorata, manifestazione tipica del posto. Si chiama “Etica”, una birra bianca, aromatizzata ai fiori di sambuco. Ma c’è molto di più. I ragazzi della Cooperativa Impulso promuoveranno anche il progetto “Filiera Etica”, un ‘fil rouge’ tra le piccole realtà aziendali di tutta Italia (non solo cibo) che antepongono al mero profitto il rispetto delle persone e del territorio. Ecco perché i ragazzi del DieciNove collaborano già da tempo con la cooperativa sociale Utopia 2000, di Gualdo Cattaneo, coinvolgendo nel laboratorio i ragazzi della casa-famiglia, dai 17 ai 21 anni, che vivono difficoltà e disagio sociale. Ma torniamo alle birre. I malti vengono aromatizzati prima di iniziare la produzione. Sono birre non pastorizzate e non filtrate, ad alta fermentazione (ndr. Termine tecnico inglese “top-cropping”): restano 7-9 giorni nei fermentatori e altri 30 in bottiglia. Preparazione dei frutti, sanificazione delle bottiglie, etichettatura: tutto il lavoro è manuale. La produzione massima è di 1800 litri al mese. Dove trovare queste particolarissime birre? Direttamente a Spello, insieme a taglieri di ottimi salumi e formaggi. Ma anche nei ristoranti “Alla via di mezzo” di Giorgione, “Cucinaa” di Marco Gubbiotti e “Osteria cuore piccante” di Stefano Marconi in Umbria. Chef che hanno deciso di esaltare, con l’abbinamento adatto, il forte carattere e il gusto di queste birre.
opinione
Ar yGrandinettiNogueira
A jornada do herói T Da roda da vida e de referências para a felicidade rabalhei 40 anos no maior grupo de comunicação do país. Entrei com 20 e saí com 60, dois anos antes da empresa virar cinquentona. Deixei lá, sempre apoiado por equipes de profissionais iluminados pelo talento e dedicação, um legado que, com absoluta certeza, dará à empresa uma longevidade saudável, com brilhantes novos autores, atores e diretores, que se somam aos grandes talentos que vêm há mais tempo construindo aquele império de sonhos e entretenimento — que era a minha área. Mas isso já é uma outra crônica... O fato é que, trabalhar tantos anos numa empresa, se por um lado deixa um legado tangível de resultados, por outro pode criar uma confusão emocional além da profissional. Há casos em que os funcionários pensam a empresa como proprietários, enquanto os donos a frequentam como inquilinos. E aí está o perigo. A empresa, para essas pessoas, ocupa o lugar dela própria e invade o da família e dos amigos, tornando-se o único alimento da barriga e do espírito. Quando deixam a empresa, sentem um vazio emocional devastador, um luto profundo do passado, do presente e do futuro. Alguns acordam a tempo e seguem em frente, dando continuidade à vida com maior dedicação à família e amigos. E até abrem espaço para novos horizontes profissionais. Mas outros passam a se alimentar de um passado que não mais lhes pertence, revolvendo lembranças que não têm mais a menor função prática sobre a vida futura. Algum gênio (cujo nome não me ocorre) disse que só lhe interessava o futuro (e agora me lembro de já ter dito isso aqui antes), pois era lá que ele pretendia passar os seus próximos dias. E é assim que eu vejo a vida, mais e mais, na medida em que a experiência foi me colocando adequadamente no meu lugar. Pessoal e profissional. Hoje, afastado — e cada vez mais convicto da opção eterna por essa liberdade sobre os meus passos — de atividades profissionais como executivo, me dedico à consultoria e participação em projetos onde sou dono do meu tempo, com agenda aberta exclusivamente para a família, amigos e para mim mesmo. Não vejo a vida e o passar dos anos como uma descida de escada. Ao contrário, a experiência, para mim, é uma constante evolução, uma gradual subida para a eternidade. Naturalmente, respeito os vários estágios da vida como um crescimento pessoal e compreendo o nosso posicionamento nessa régua da vida sob os diferentes momentos de contribuição. Sabemos hoje que o ser humano viverá mais 20 anos, um bônus demográfico da longevidade ativa, saudável e feliz. Portanto, 60 anos de idade (já estou com 62) não é o fim. É, apenas, mais um ponto
de inflexão para um novo recomeço. Espero chegar aos 80 ainda mais feliz do que cheguei aos 60. Mas quando deixei a empresa, acompanhei o sofrimento de velhos companheiros como se a vida tivesse finalizado. Uma morte em vida. Um luto de pessoa — jurídica — viva. A perda do sentido da vida se antecipando à providência divina. Preocupado, comecei a recolher os retalhos de ensinamentos da minha mulher e fiz uma reflexão como parábola para compartilhar com esses companheiros. O texto descreve, sob o manto da sabedoria oriental (que furtei de umas orelhas de livro — e de orelha de ouvido mesmo — da minha mulher, grande estudiosa dessa filosofia há 30 anos), que a vida corre o seu curso como a jornada do herói, que é a experiência humana. Terminou iluminando a mim próprio um pouco mais sobre essa nossa curta passagem. “Percorremos o caminho da Infância, quando nossas referências são nossos pais, sob o elemento mais frágil da natureza, a Madeira. O símbolo do Dragão representa o renascimento, a vida, nascimento, a explosão da energia. É o nascer do Sol. Passamos para a Adolescência, período de transição da Fênix, e do elemento Fogo, quando encontramos os amigos e a efervescência das primeiras descobertas. É o Sol brilhando a pleno. É o aumento da energia em estado puro. Segue para a Juventude. É o rabo da Cobra. Os amigos procuram no grupo a namorada com quem irão se casar. A fase Adulta é a do trabalho e da família, quando temos nossos filhos e voltamo-nos para nossos pais, ali já carentes do nosso apoio, invertendo o papel inicial da vida. O Tigre e o Metal estão conosco para nos dar a garra, a impulsão e a solidez necessárias para conduzir essa fase. É a concentração da energia, o pôr do Sol. Na 3ª idade, a Tartaruga nos leva à profundeza das águas, e nesse percurso entendemos a nós mesmos. O elemento é a Água. É o momento da reflexão da vida, da maturidade, da iluminação da Sabedoria. A energia baixa e vemos a Lua. Enquanto as portas vão ficando mais pesadas, as janelas tornam-se mais leves. Já teremos, então, a Sabedoria para contemplar não apenas a vista mas, lá de cima da montanha, a janela da alma. Na última fase, já não precisaremos mais de portas nem janelas. É a sublimação da vida para o renascimento. É a cabeça da Cobra. Essa é a Roda da Vida, que não pára enquanto há vida. Renascemos todo dia para uma vida nova, procurando sempre andar no caminho iluminado pela Felicidade.” Assim vejo a vida, e assim será a minha até que portas nem janelas sejam mais necessárias para que eu veja a vida de uma outra dimensão. É só isso. E tudo isso.
Ary Grandinetti Nogueira é formado em administração de empresas e trabalhou por 40 anos na TV Globo, onde implantou modelo de gestão e chefiou a área de Desenvolvimento Artístico.
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IlLettoreRacconta — Trabalhei na TV Continental e na TV Tupi, onde fiz a novela Gabriela Cravo e Canela, antes daquela versão exibida na Globo. Meu primeiro filme foi A Noite de Meu Bem, de Jece Valadão, com a atriz Joana Fomm. Também corri para a dublagem, que estava começando no Brasil, de filmes, de desenhos, de tudo. Mas o personagem que mais o marcou foi mesmo o Capitão Furacão, pelo qual ainda hoje é reconhecido na rua. Personagem que o fazia parecer ter muito mais idade pela barba postiça e a caracterização. Quando começou a interpretá-lo, não tinha ainda completado 26 anos. De 1965 a 1970, alegrou as tardes de muitos meninos e meninas grudados na telinha: — O programa estreou no primeiro dia em que a TV Globo foi ao ar. Fiz teste e fui aprovado. Estava aguardando a minha inclusão no departamento de dramaturgia quando Abdon Torres me chamou e disse que tinha o personagem Capitão Furacão. Queria produzir um programa vespertino para crianças, mas não pretendia simplesmente jogar os filmes e desenhos. Eles precisavam ser apresentados. Ele me perguntou como imaginava o personagem. Eu disse que imaginava um velho lobo do mar que não navegava mais e contava suas histórias. Desde cedo, percebi que não tinha jeito de galã. Sempre interpretava personagens mais velhos do que eu. O mesmo programa ajudou a tornar conhecida uma famosa atriz, então uma menina de 12 anos: — Em 1966, a Elizângela já trabalhava no programa da Edna Savaget, que ia ao ar antes do meu. Em 1967, Walter Clark, diretor da Globo, a colocou no Capitão Furacão. Ela demonstrou muito talento. Era responsável por comemorar os aniversários do dia. As crianças acabavam com o bolo, os refrigerantes. Também havia homenagem aos países nas datas nacionais e saudações a eles.
A atriz Elisângela, que participava do programa quando era menina
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aiolo Martino Bogianchini, pai de Pietro Mario, já havia saído da Itália para o Rio de Janeiro antes de seu filho nascer, em 1938, antes de eclodir a Segunda Guerra: — Ele veio trabalhar no Copacabana Palace a convite de Giovanni Camurati, tio-avô da Carla Camurati. Meu pai era chef de cozinha. Trabalhou em grandes hotéis e restaurantes, como o Miramar. E aposentou-se no restaurante Mesbla, em frente ao Aterro. Em 1947, quando a guerra já havia terminado, eu vim para o Brasil com minha mãe, Teresa Rosa. Viajei num navio-hospital que era utilizado na guerra. Não era um navio dividido: havia uma classe só. Quando cheguei ao Rio, meu pai então pôde me conhecer. Eu tinha sete anos. No tempo da guerra, meu tio Pierino, um partigiano, defendeu minha mãe de seus próprios companheiros porque meu pai era fascista, embora eu achasse que ele estava do lado errado. Meu tio disse na ocasião: “Ai de quem tocar a minha cunhada”. No Rio, Pietro Mario cresceu e entrou para a carreira artística. Tentou a Rádio Nacional, a grande emissora da época, mas foram outras as portas que se abriram:
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O Capitão Furacão foi até 1970 na Globo. Pouco depois, Pietro Mario fez um programa parecido em outra emissora, que durou pouco: — A TV Rio já estava indo para o brejo — explicou. Posteriormente, Pietro Mario atuou em filmes, como Copacabana, de Carla Camurati, no qual interpreta Enrico, personagem inspirado no avô da diretora. Também participou de peças e continuou a fazer dublagens. Sua voz pode ser ouvida em Harry Potter, Star Wars e Rei Leão. Ano passado, contracenou com o ator Ednei Giovenazzi no teatro em O Canto do Cisne. O filme mais recente foi Maresia, de Marcos Guttmann, no qual interpreta Cabrera, um homem misterioso que diz ter sido amigo de Emilio Vega, pintor desaparecido há 50 anos, papel vivido pelo ator Júlio Andrade. Em breve, Pietro Mario pretende ir à Itália para visitar a irmã Rosetta, que nasceu no Rio e hoje reside em Agrano, fração (uma espécie de distrito) do município de Omegna. O mesmo lugar onde a família Bogianchini Omegna morava, às margens do Lago d’Orta, antes de partir para o Brasil. Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br
saporid’italia StefaniaPelusi
Bistrô de dia e de noite Em clima retrô, nova casa em Copacabana oferece cardápio com forte influência italiana que vai do café da manhã ao jantar e valoriza os ingredientes de produção própria
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á nove meses, abriu as portas na Princesinha do Mar o Pek 170, um elegante bistrô contemporâneo com sotaque italiano. — Decidimos abrir um restaurante porque era o sonho do meu irmão Emilio e da minha companheira Katty — explica à Comunità Paolo Gamba, um dos sócios, originário de Pisa. O nome é composto das iniciais dos quatro sócios, Paolo, Emilio Gamba, Katty e o filho Eduardo Luna. O número é a soma da idade dos quatro no ano passado, quando foi inaugurado o restaurante. A proposta de um bistrô combina muito bem com o bairro movimentado de Copacabana. — A ideia é oferecer um serviço praticamente em todas as horas do dia — afirma Paolo, que enumera café da manhã, almoço, chá da tarde e jantar. O ambiente é aconchegante, decorado com peças de antiquário, com mesas, cadeiras, lustres e quadros escolhidos pelos donos. A formulação da cozinha conta com a assessoria da chef toscana e expert em gastronomia italiana Cristina Pistolesi. Katty revela que uma das máximas de Pistolesi, adotada também no restaurante, é que 80% da qualidade de um prato vem da sua matéria-prima: o resto é técnica e sensibilidade de quem prepara. Por isso, os sócios se preocupam com a procedência dos ingredientes. Muitos produtos são de produção própria, como vários tipos de pão, bolos e alguns frios, entre os quais o presunto toscano e a bresaola. O cardápio é variado e é escrito em italiano, com tradução em português. Para os antepastos, o cliente pode optar entre a pappa al pomodoro, prato típico toscano feito de mistura de tomate, cenoura, aipo, pão, manjericão e azeite extravirgem; a panzanella croccante, feita com pão, cebola, tomate fresco, vinagre e manjericão; e a bruschetta toscana, com pão e presunto produzidos na própria casa. Entre os primeiros pratos, há os clássicos, como o spaghetti all’amatriciana ou alla carbonara. Porém, o que faz sucesso é a lasanha emiliana, que ganhou uma versão vegetariana de berinjela a parmegiana com queijo mussarela e pesto. Gamba destaca no menu o prato fagioli neri piccanti con le polpette, inspirado na Toscana, mas com feijão típico do Brasil, que combina a “receita italiana com o produto brasileiro”. Para adocicar o paladar, nada melhor que terminar com o clássico tiramisù ou experimentar as fritelle di riso com crema e cannella, bolinho de arroz com creme e canela. O interior do Pek 170 foi decorado — Para nós, é muito imporcom peças de antiquário escolhidas tante a apresentação do prato, pelos donos
Gnocchetto de sêmola de trigo durum com queijo derretido e amêndoas torradas Ingredientes 500 ml de água; 350 g de farinha de sêmola de trigo durum; 2 colheres de azeite extravirgem; 1 pitada de sal; 1 ovo; 200 g de queijo cortado em cubos; 1 dente de alho; 125 ml de leite; 60 g de amêndoas; 1 limão; sal; pimenta Modo de fazer Coloque o queijo no leite com o alho e deixe de molho durante a noite. Coloque água em uma panela, adicione sal e óleo, deixe ferver e adicione a farinha. Mexa, adicione o ovo e misture novamente até que a farinha solte da panela. Desligue e despeje sobre a superfície enfarinhada. Amasse, divida a massa em quatro pedaços e corte com uma espátula para formar os bolinhos. Passe sobre o instrumento para gnocchi e coloque em uma bandeja enfarinhada. Pegue o queijo com o leite e coloque no fogo em banho-maria para derreter tudo. Toste as amêndoas em uma frigideira pequena e pique grosseiramente. Cozinhe os gnocchetti em água fervente com sal. Sirva cobrindo o prato com fondue, coloque os gnocchetti e acrescente as amêndoas e limão ralado. pois, como diz o ditado italiano, “o olho também quer a sua parte” — afirma Paolo. A carta de bebidas conta com vinhos italianos, com destaque para o Lambrusco Otello Ceci, além de uma seleção de cervejas artesanais. O restaurante já conquistou uma clientela fiel, entre os quais o ex-ministro da Defesa Celso Amorim e a atriz Carolina Ferraz. Os apaixonados por música têm um motivo a mais para ir ao Pek 170 às quartas: nesse dia, o local tem música ao vivo. Serviço
Pek 170 - Av. Nossa Senhora de Copacabana 308 B Rio de Janeiro Tel.: (21) 3281-8485 De segunda a quinta, das 8h à meia-noite. Sexta e sábado, das 8h à 1h. Domingo, das 8h à meia-noite
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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro
Cavallino Matto
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França tem a Eurodisney. E a Toscana, em versão bem mais simples e menor, o Cavallino Matto, ou “cavalinho louco”: é um parque de diversões pequeno, mas muito apreciado pelas crianças. Fica no meio de um bosque cheio de pinheiros. Há atrações educativas, como os carrinhos onde os pequenos podem aprender as leis do trânsito. Há atrações aquáticas, onde todos ficam bem molhados. Para quem curte adrenalina, tem também montanhas-russas simpáticas, como a do ratinho que entra no queijo. E a grande vantagem: não fica muito longe da praia da graciosa cidadezinha de Castagneto Carducci.
Roma e os atrasildos
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mundo é dividido entre os atrasados e os adiantados. Afinal, como é difícil prever o trânsito das cidades grandes, a um compromisso se chega atrasado ou adiantado. Faço parte dos adiantados, que, na minha percepção, são minoria. Culpa de meu pai. Sempre rígido com os horários, quando saíamos para jantar, ele dizia: “Saímos às oito”. Já às sete e meia em ponto aparecia no quarto dos filhos para ver em que ponto estávamos. Se alguém estava em marcha lenta, ele já ia dando bronca. Ai de quem não estivesse pronto às 7:45, que para ele era equivalente às oito! Ele corria para apertar o botão do elevador com sua famosa frase, com eco e tudo: “Tchau pra quem ficacacacaca!!!” Pois é. Assim fui criada e assim sou hoje. Chego 15 minutos adiantada a qualquer compromisso. Calculo direitinho a demora do ônibus, o trânsito, tudo. Assim, acabo chegando sempre uns 15 minutos antes. Ou seja, se a pessoa chega na hora exata, para mim parece que já está atrasada!!! Sem querer generalizar, romanos são famosos (e cariocas também) pelo atraso. É comum um pequeno atraso, e a desculpa é sempre a mesma: o ônibus demorou, o trânsito estava infernal, ou tinha uma manifestação política dificultando a locomoção. Desculpas esfarrapadas. Uma forma de me aquietar enquanto espero alguém é levar um livro para ler. Tento controlar minha irritação quando alguém chega atrasado. Mesmo assim, para mim, parece pouco caso, falta de respeito. Uma de minhas grandes amigas tem esse defeitozinho do atraso. Resolvemos a questão pacificamente: cansada de ficar esperando na frente do cinema ou de um restaurante, ela vem sempre em casa me buscar. O atraso é a regra em Roma. Ultimamente, resolvi fazer um curso de Pilates perto de casa. Toda vez a professora chegava 15 minutos atrasada. E todos esperavam na sala, pacientemente. Os atrasos foram aumentando e a última vez que fui, passou de meia hora. Os alunos esperavam com toda a calma. Só eu fiquei nervosa. Uma das alunas comentou, tranquila: “Ah, é o signo dela. Com esse signo, não tem como chegar na hora!” Não sei se fiquei mais indignada pelo comentário da aluna ou pelo atraso da professora. Só sei que me levantei e fui embora. Aproveitei o atraso para trocar o Pilates por uma atividade que me diverte mais: o sapateado. Afinal, apesar da minha qualidade de ser pontual, meu defeito é ter pavio curto. Será o meu signo zodiacal? 66
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