Comunità italiana 205 magtab

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DECRESCER FELIZ Diante da crise, movimento prega “novo” comportamento

CAFÉ LÍDER Presidente revela os projetos da Fundação Ernesto Illy

SACCO E VANZETTI O que a história desses dois italianos ensina ao mundo de hoje www.comunitaitaliana.com

Rio de Janeiro, agosto de 2015

Ano XXI – Nº 205

ISSN 1676-3220

R 9,00 R$ 14,90

1994 - 2015

Ele quer a Fifa Zico fala sobre os escândalos de corrupção envolvendo a CBF, critica os atuais critérios de eleição na entidade máxima do futebol mundial e lembra do carinho da torcida italiana quando jogava na Udinese

Empresário italiano traz a primeira wi-fi social ao país



A g o sto de 2015

A no X X I

N º205

Nossos colunistas 05 | Cose Nostre Cruzeiro volta às origens e homenageia a Itália em novo uniforme

08 | Fabio Porta Cosa c’è dietro lo storico disgelo dei rapporti tra Cuba e Stati Uniti

09 | Domenico De Masi Quais são as necessidades exclusivas da espécie humana que condicionam a inteira dinâmica das sociedades?

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41 | Guilherme Aquino O calor europeu

Engenheiro de Salerno formado em Turim cria a Sada Bike, a primeira bicicleta dobrável sem aros, que promete revolucionar o mercado

CAPA 30 | O Galinho de Udine Zico conversa com

Turismo

50 | Claudia Monteiro De Castro As pizzarias mais populares de Roma

16 | Encontro com Renzi Em viagem a Roma, Dilma recebe cobrança inesperada sobre Cesare Battisti

Mercado

as maiores chances olímpicas de Brasil e Itália

Economia 24 | Porto Alegre Empresários italianos se reúnem com autoridades gaúchas e discutem sobre parcerias e atração de investimentos

47 | Ary Grandinetti Nogueira Essa lastimável e interminável corrente do mal não deve roubar o protagonismo da condução do país

Gastronomia

Comunità sobre o carinho que recebeu da torcida italiana quando jogava pelo Udinese, fala sobre corrupção no futebol e critica os atuais critérios da eleição à presidência da Fifa

34 | Metas e esperanças Onde estão

não deu trégua em julho e promete mais em agosto

18 | Livrarias Fechamento de estabelecimentos históricos, como a Leonardo da Vinci, no Rio, reacende as discussões sobre o mercado editorial brasileiro

21 | Café O café triestino que conquistou o mundo: presidente da Illy Brasil fala sobre o mercado e revela os projetos da Fundação Ernesto Illy

25 | Slow Food Carlo Petrini vem ao Brasil para lançar aplicativo e critica Expo de Milão por valorizar mais o espetáculo do que o pequeno produtor

Tecnologia 26 | Sinal liberado Italiano troca Roma pelo Rio e traz para o Brasil a Wiman, a primeira rede social Wi-Fi do país

Comunidade 46 | Após 36 anos

Moda 40 | Italian Style

Clube Italiano de Niterói, palco de importantes celebrações e festas, fecha as portas e é comprado por imobiliária

As roupas e os acessórios da moda masculina exibida na última Pitti Uomo

com unit àit aliana | agost o 2015

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Editorial

Expediente

FUNDADA

Fazer bem

A

solidariedade une e de fato transforma a sociedade. Na Itália, são inúmeros os movimentos que pregam a organização de grupos para resolverem situações que eram atribuídas somente aos governos locais ou mesmo de políticas nacionais. Nesta edição, trazemos alguns exemplos dessas iniciativas, como a matéria da jornalista Stefania Pelusi sobre Decrescita Felice e também um apelo do nosso colunista Ary Grandinetti Nogueira para que enfrentemos a situação brasileira como verdadeiros partícipes e não meros observadores. Mas, destaco aqui, uma ação que se tornou um exemplo de cidadania e, segundo quem participa, um modo “muito prazeroso de fazer o bem”. São pessoas como Roberta, de 61 anos, que vão para as ruas de Florença para limpar muros pichados e cuidar dos jardins. O grupo chama-se “Angeli del bello” e, em cinco anos, reúne 1.800 voluntários cadastrados. O segredo, na cidade que respira arte, não é somente a disponibilidade, mas principalmente paixão e organização para tornar a estrutura viável. Para funcionar, foi criada uma fundação, e, mesmo que pareça estranho, o modelo foi planejado entre a empresa que cuida da higiene da cidade e a associação que reúne os patrocinadores do famoso e imponente Palazzo Strozzi. O presidente da fundação é Giorgio Moretti, também presidente da empresa Pietro Petraglia Quadrifoglio, que faz questão de dizer que a iniciativa Editor não é contraditória por ser diretamente o responsável pelos serviços. “A função é didática e cívica, além de ajudar a diminuir os gastos da prefeitura. A mensagem que queremos transmitir é a de que todos têm que cuidar do seu território”, se entusiasma Moretti numa entrevista cedida ao Corriere della Sera. Gerir a espontaneidade dos cidadãos através de uma instituição e contando com quem tem o dever público, neste caso, funciona. Aos que trabalham de boa fé neste projeto, o reconhecimento vem através dos gestos de outros moradores da cidade que levam comida e bebida, coversam ou simplesmente gesticulam numa demonstração de carinho. E o que parece sacrifício, para quem está lá com as mãos na massa é uma satisfação que dá resultado saudável. Ajudar a melhorar o visual de um palácio histórico como tantos que existem por lá ou podar árvores e plantar em jardins como o Giardini di Boboli são atitudes que melhoram o humor desses “anjos”. Além disso, há quem busque a atividade como exercício físico e mental, além de relacionamento constante. Um exemplo disso aconteceu com o senegalês Mbaye, de 35 anos, que mora há 9 em Florença. Enquanto usava esponja e sabão, um senhor se aproximou e lhe ofereceu ajuda para arrumar sua casa. Um comportamento que pode servir de exemplo para os que destroem o patrimônio público, para os próprios familiares, para os administradores, ou aos políticos inertes e àqueles corruptos. A atitude é capaz de mudar e de influenciar. Boa leitura!

EM

MARÇO

a go s t o 2 0 1 5 | c o m u n it à it a lia n a

1994

DIRETOR-PRESIDENTE / EDITOR: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) PUBLICAÇÃO MENSAL E PRODUÇÃO: Editora Comunità Ltda. TIRAGEM: 70.000 exemplares ESTA EDIÇÃO FOI CONCLUÍDA EM: 11/08/2015 às 07h30 DISTRIBUIÇÃO: Brasil e Itália REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 E-MAIL: redacao@comunitaitaliana.com.br REDAÇÃO: Guilherme Aquino; Gina Marques; Cintia Salomão Castro; Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi; Aline Buaes; Giuseppe Bizzarri SUBEDIÇÃO: Cintia Salomão Castro REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br CAPA: Divulgação COLABORADORES: Pietro Polizzo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Venceslao Soligo; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola; Lisomar Silva; Ary Grandinetti Nogueira CORRESPONDENTES: Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Quintino Di Vona (Salerno); Gianfranco Coppola (Nápoles); Stefania Pelusi (Brasília); Janaína Pereira (São Paulo); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); PUBLICIDADE: Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 comercial@comunitaitaliana.com.br REPRESENTANTES: Central de Comunicação contato: Cláudia Carpes tel. 61.3323-4701 / Cel. 61.8218-5361 brasilia@centralcomunicacao.com.br SCS QD 02, Bloco D, Salas 1002/1003 Edifício Oscar Niemeyer - Brasília ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220

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DE


cosenostre Criolo em Roma personagem mais importante da cena pop brasileira” para Cae-

“O

tano Veloso conquistou a Itália. Ao anunciar sua apresentação no Carroponte de Milão em 21 de julho, dentro da turnê internacional do álbum Convoque seu Buda, o La Repubblica recomendava aos leitores: “Se potete, non perdetelo”. O artista de família nordestina nascido em São Paulo cantou para os romanos em 31 de julho durante o festival Eutropia. Em entrevista, o autor de Não existe amor em SP deu detalhes sobre sua trajetória musical, que começou com a influência da mãe, e defendeu os bailes populares no Brasil como formas de “fazer a nossa parte” em uma sociedade “extremamente repressiva, racista, dominada pelas falsas aparências, desigualdade e egoísmo econômico”.

Adeus a Ezzio... comunidade italiana mineira lamentou o faleci-

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mento de Ezzio Savoi Browne Cunha, ocorrido no final de julho, após dura batalha travada contra o câncer. Ele era presidente do Circolo Trentino de Belo Horizonte. “Após lutar de maneira incansável contra a doença que o levou nesta madrugada, deixamos aqui nossa despedida com um agradecimento especial em nome da comunidade italiana, pela sua dedicação e parceria em muitos projetos e eventos e pela sua paixão pela comunidade à qual sempre se dedicou”, diz a nota publicada no site do Circolo.

... e a Gianotti

Passaporte inflacionado

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A

partir de julho, o passaporte brasileiro, assim como o italiano, tem validade de dez anos, o dobro do anterior. O que mudou também foi a taxa: de 157,05 reais passou para 257,25 reais, ou seja, um aumento de 64,8%. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, justificou o aumento dizendo que “o valor foi reajustado com base na inflação”. O passaporte continua azul, mas a capa ganhou cinco estrelas para representar a constelação do Cruzeiro do Sul.

Melhores cidades

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a classificação das melhores cidades do mundo pela revista americana Travel+Leisure, a capital imperial japonesa Kyoto está no topo, graças aos seus templos e aos jardins botânicos. O ranking também mostra duas cidades italianas: Roma e Florença ocupam respectivamente o quarto e o quinto lugar. Na classificação das melhores cidades na Europa, a capital toscana aparece na primeira posição, seguida por Roma.

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diomas sem fronteiras. No dia 4 de agosto, o embaixador italiano, Raffaele Trombetta, assinou com o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, um Memorando de Entendimento para a difusão da língua italiana no Brasil. A Itália se comprometeu a oferecer aos estudantes brasileiros mil cursos à distância de língua e cultura italiana; contribuições para o ensino do italiano nas universidades federais brasileiras; e ajuda na elaboração dos testes para certificação linguística. Além disso, o país participará do programa Idiomas sem Fronteiras, que oferece cursos de idiomas a graduados e pós-graduados inscritos em programas de estudos no exterior. Trombetta ressaltou que a Itália está entre os países que mais recebem estudantes do programa Ciências sem Fronteiras, uma demonstração do “forte interesse que a cultura e o sistema acadêmico italiano despertam no Brasil”.

Cruzeiro de volta às origens

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terceira camisa do uniforme do Cruzeiro em 2015 resgata suas origens italianas. A nova camisa será azul para os jogadores de linha e verde e vermelha para os goleiros. Ou seja, as três cores da bandeira italiana. Il Cruzeiro è tornato alle origini é o slogan lançado nas redes sociais pelo clube mineiro, que já foi chamado de Palestra Itália.

VIPs brasileiros

A

s renomadas grifes italianas Valentino e Dolce & Gabbana levaram três de seus melhores clientes vip do Brasil para seu desfile de alta costura em Roma e Portofino, nos dias 9 e 11 de julho. As regalias incluíam hospedagem em hotéis de luxo, carros com motorista à disposição 24 horas por dia, visita privada à Capela Sistina, no Vaticano, e prioridade na compra de vestidos feitos sob medida nos ateliês das marcas que podem valer até um milhão de reais.

ntrevistado em março por Comunità para a edição especial que conta a presença italiana nos 450 anos do Rio de Janeiro, Vito Gianotti (72), que morava no Brasil há 50 anos, faleceu na capital fluminense em 25 de julho. Fundador da Livraria Gramsci, ele ministrava cursos e seminários sobre comunicação e participou de inúmeras manifestações de trabalhadores. “Antes dos sindicatos, existiam as sociedades de mútuo socorro com ajuda beneficente até para a boa morte, pois a miséria era total: não havia nem um lençol para cobrir o corpo do trabalhador”, contou na entrevista. Gianotti, que nasceu em Lucca, continua recebendo homenagens através da internet e em atos em diversas regiões do país.

Única na Forbes

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o ranking dos 50 mais valiosos clubes esportivos da revista Forbes, a Ferrari é a única marca italiana que aparece na classificação, ocupando a 32ª posição. No topo da lista, figura o Real Madrid, estimado em 3,26 bilhões de dólares. Seguem os Dallas Cowboys e os New York Yankees. A Ferrari é a única líder na Europa que não é ligada ao futebol.

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Opinião enquete

“Quero aproveitar a vida; ainda gosto muito de comer, beber e fazer amor: isso para mim é a beleza, o resto são apenas detalhes que todos arrumam como querem. Perder peso, engordar, rugas: tudo bobagens”,

frases

Parlamentares italianos assinaram medida que regulamenta o uso recreativo da maconha. Você é a favor?

Sim - 38% Não - 62% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 28/07/15 e 04/08/15.

cartas

“M

uito interessante a edição especial ecológica, comparando projetos italianos com os nossos. Chego à conclusão de que estamos atrasados anos-luz! A Itália já recicla a maior parte do seu lixo, enquanto no Brasil faltam até cestas nas ruas. É uma vergonha em um país onde pagamos tantos impostos!” MARINA FERRARA, do Rio de Janeiro (RJ), por e-mail

“G

ostaria de sugerir mais matérias sobre restaurantes italianos fora do eixo Rio-São Paulo, inclusive com dicas sobre onde comer durante viagens à Itália.” ANDRÉA VAZ, de Vitória (ES), por e-mail

Monica Bellucci, atriz italiana em entrevista ao jornal GQ Italia

“O melhor presente para o meu aniversário de 30 anos? O meu presidente, Silvio Berlusconi. O seu sorriso, seu longo abraço no café da manhã, antes de me dar de presente um colar que pertenceu à sua mãe”,

“Ho detto che sarei arrivata a Rio per provare a togliermi soddisfazioni, il podio olimpico è l’unico che mi manca. Se non mi riuscirà, vorrà dire che doveva andare così. Sono molto serena, davvero”, Tania Cagnotto, tuffatrice italiana, prima donna italiana ad aver conquistato una medaglia mondiale nei tuffi

Francesca Pascale, companheira de Berlusconi

“O Brasil tem papel importante no comércio mundial de cocaína. O crime organizado não pode existir sem aliança com a burguesia. Esse elo precisa ser descrito. Os traficantes das favelas injetam dinheiro na economia brasileira”,

“Congratulazioni all’Italia e a Expo Milano per il tema che porta e per come lo affronta”,

Roberto Saviano, autor de Zero, zero, zero, em vídeo divulgado por ele que não esteve na Flip por conta das constantes ameaças à sua vida

Barack Obama, presidente degli Stati Uniti

“Eu convidei todos os empresários italianos a intensificarem sua presença no Brasil por meio da participação na nova fase do programa (de investimentos em logística)”,

“Se (o bloco) for mesquinho com os investimentos estratégicos para fazer prevalecer a interpretação mais restritiva da austeridade econômica, a nossa Europa não conseguirá respirar”,

Dilma Rousseff, presidente brasileira, em julho, durante visita à Itália, país conhecido pela alta capacidade na área de infraestrutura e de pequenas e médias empresas

Sergio Mattarella, presidente italiano, ao criticar a obsessão pelas políticas de austeridade da União Europeia

redes sociais

Lenda do circo mundial, Orlando Orfei

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Dionísio Cordeiro Neto: Conheci o Circo do Orlando Orfei em 1969. Ele tinha como maior atração colocar sua cabeça na boca do leão. Descanse em paz.

Ione Pane de Souza: Adoro Trastevere. Comi alcachofra frita, que é dos deuses. Saudade... Linda tarde passeando por Trastevere, em Roma!

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Serviço agenda

Fiera dell’Aviazione A Padova Air Show será realizada no Aeroporto Civil de Pádua. O evento dedicado à aviação vai oferecer demonstrações de voo, conferências, workshops e um espaço dedicado a drones. De 12 a 13 de setembro Aeroporto Civile di Padova www.padovairshow.it

Bienal do Livro 2015 Para o público, a Bienal do Livro Rio é uma oportunidade de interagir com autores. Haverá espaços dedicados a debates, bate-papos com personalidades e escritores, além das atividades culturais que promovem a leitura. De 3 a 13 de setembro Riocentro - Rio de Janeiro - RJ www.bienaldolivro.com.br

Serra Serrata Inicialmente, a festa da colonização italiana do município da Região Serrana fluminense eram feitas sob o nome Festa d’Italia. O novo nome foi

Exposição Uma Certa Itália A casa de apresenta uma seleção de 45 obras de 15 jovens artistas italianos, mostrando a multiplicidade e a qualidade artística da Itália Contemporânea. Influenciados por tecnologias e meios de comunicação da pós-modernidade, renovam a produção artística local e apresentar a cultura piamontese ao mundo, com elementos da globalização. A curadoria é de Renato Scalon, especialista em arte contemporânea e presidente da Associação Cultural Ítalo-Brasileira (ACIB). Até 7 de setembro Casa Fiat de Cultura Belo Horizonte (MG) www.casafiat.com.br

naestante

Expo Elettronica Organizada pela Feira de Cesena e promovida pela Blu Nautilus, é a oportunidade perfeita para fazer compras a preços convidativos em uma exposição ampla e diversificada. Reúne objetos do cotidiano, grandes e pequenos, para todos os gostos e orçamentos, acessórios de computador, rádio amador, telefones e antiguidades relacionadas ao mundo da eletrônica. De 19 a 20 de setembro Piazza tre Martiri, 24, em Rimini expoelettronica.blunautilus.it

clickdoleitor Se tutto è musica. Pensieri e parole dei compositori brasiliani Barbara Casini é uma cantora, guitarrista e compositora italiana que há mais de 30 anos se dedica ao estudo e à divulgação da música popular brasileira. Em seu livro, fala de fatos e experiências envolvendo nomes como Dorival Caymmi, Miúcha, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Morais. Angelica Editore; 352 páginas; 20 €

Caderno Italiano Autor de Guerra em surdina, romance sobre a campanha da FEB, na Itália, da qual participou, Boris Schnaiderman lança agora um livro que reúne memórias sobre sua participação na Segunda Guerra, fazendo uma comparação entre a Itália do passado e do presente. Editora Perspectiva; 142 páginas; R$ 45

Arquivo pessoal

Fiera internazionale della bicicletta A Cosmo Bike Show é a feira internacional da bicicleta de Verona Haverá espaço para modelos esportivos e destinadas ao transporte urbano. O evento vai apresentar acessórios, gadgets, roupas e inovações que tornam mais agradável a vida de quem ama pedalar. De 11 a 14 de setembro Veronafiere - Verona www.cosmobikeshow.com

escolhido por trazer a combinação entre as palavras serata, que em italiano remete de forma festiva a um período da noite, e serra, marca geográfica petropolitana. Promovida pela Prefeitura de Petrópolis, Fundação de Cultura e Turismo e Casa D’Italia Anita Garibaldi, homenageia os imigrantes. De 4 a 13 de setembro Palácio de Cristal Petrópolis (RJ)

“E

stive pela primeira vez na Itália em 2012, quando comecei a trabalhar em uma companhia de cruzeiros. Estive em Savona, Gênova, Civitavecchia e Roma várias vezes. Minha paixão aumentava a cada “via”, passeio ou gelateria nova. Em minha primeira visita ao Vaticano, vi o papa Bento XVI. Foi emocionante! SISSI CSANADI São Paulo (SP) - por e-mail

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opinione FabioPor ta

“Somos todos americanos” L

Cosa c’è dietro lo storico disgelo dei rapporti tra Cuba e Stati Uniti? Fabio Porta è il Presidente del Comitato italiani nel mondo e promozione del “Sistema Paese” della Camera dei Deputati italiana; laureato in sociologia economica, vive in Brasile dal 1995

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o scorso venti luglio ero a Roma con il signor Thomas Shannon: una data e un nome che forse non diranno molto a gran parte dei nostri lettori. Invece quella data è storica e quella persona è uno dei protagonisti di questa svolta. Il 20 luglio del 2015, infatti, dopo oltre cinquant’anni riaprivano contemporaneamente a Washington e L’Avana le ambasciate cubane e statunitensi, dopo lunghi decenni di tensione e di ‘guerra fredda’ tra i due Paesi; Thomas Shannon, invece, è da diversi anni il vero articolatore della politica degli USA in America Latina, il principale consigliere del Segretario di Stato Jonhn Kerry e del Presidente Barack Obama in questo campo. Come sempre la storia dell’umanità è fatta di date e nomi, e anche questa volta una data e un nome ci aiutano a dare un senso compiuto a fatti e avvenimenti. Per il futuro dell’America Latina la svolta dei due Presidenti, Castro e Obama, è destinata ad incidere al di là delle semplici relazioni bilaterali tra i due Paesi. Una “svolta” iniziata qualche anno fa, con quella prima stretta di mano tra i due leader al funerale di Nelson Mandela; una svolta al quale ancora una volta una mano esterna ha contribuito a dare quell’impulso che, probabilmente, ha consentito oggi quello che fino a pochi anni fa sarebbe stato considerato un azzardo: mi riferisco al ruolo discreto, ma determinato e determinante, di Papa Francesco, il primo Papa “americano” e non solo “latino-americano”. In quel “somostodosamericanos” pronunciato daObama risuona lo spirito di questo Papa, che ha fatto del rapporto con il suo continente uno snodo centrale del suo pontificato. Una nuova America è possibile, quindi, grazie ad Obama e a Papa Francesco, come anche al buon senso e alla lungimiranza di un leader come Raúl Castro, che sta riuscendo a far uscire da uno storico isolamento la sua Cuba, senza perdere la dignità e l’autonomia politica del suo Paese e trasformando una crisi in una grande opportunità di crescita economica. A questa distensione l’Italia ha guardato fin dal primo istante con gli occhi attenti dell’osservatore privilegiato, di chi cioè vuole svolgere un ruolo attivo e propositivo. Il primo marzo scorso, a Montevideo, avevo personalmente incontrato per la prima volta Raúl Castro, in occasione della “posse” del Presidente uruguaiano Tabaréz Vasquez; avevo detto a Raúl che il popolo italiano guardava con simpatia e grande speranza a questo processo e che presto il nostro Ministro degli Esteri sarebbe andato a trovarlo per invitarlo a Roma. Così è stato: dopo poche settimane il Ministro Paolo Gentiloni ebbe un lungo incontro a L’Avana con il presidente cubano e qualche mese dopo il nostro Primo Ministro, Matteo Renzi, ha incontrato

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La fine dell’embargo da una parte e il rispetto dei diritti civili dall’altra completeranno questo storico processo di distensione a Palazzo Chigi Raúl Castro. Anche questi due incontri “storici” riavvicinano l’Italia a Cuba e la rendono protagonista di questa nuova fase. Cosa ci aspettiamo per il prossimo futuro? Dagli Stati Uniti, che hanno anche tolto Cuba dalla lista ‘nera’ dei Paesi che sponsorizzano il terrorismo internazionale, ci aspettiamo l’ultimo e decisivo passo: la fine di quell’odioso ‘embargo’ che pochi risultati ha ottenuto nel corso degli anni e che è stato invece determinante per aggravare le condizioni economiche e sociali del Paese latino-americano. Ma è da Cuba che ci si aspetta forse i passi più decisi; mi riferisco adesso ai diritti civili, umani e politici. Cuba tornerà ad essere un vero riferimento per il mondo se davvero garantirà il pieno rispetto dei diritti umani, a partire da quelli politici e quindi dal rispetto che si deve alle opposizioni democratiche. Sono certo che la storia andrà in questa direzione, anche grazie alla soave opera di persuasione di Papa Bergoglio. Le Americhe non avranno più un grande dominatore, ma torneranno ad essere un grande continente, fatto di tante importantissime, per quanto diverse, storie e di tanti popoli uniti da un unico grande destino. Noi facciamo il tifo per questa nuova America.


opinione

DomenicoDeMasi

Sobriedade

As necessidades exclusivas da espécie humana condicionam a inteira dinâmica das sociedades, entre as quais a de introspecção, amizade, amor e convivência

C

leóbulo era considerado um dos sete grandes sábios da Grécia Antiga. Convidado para sintetizar toda a sua sabedoria em uma só expressão, escreveu: “Ótima é a medida!”. Mas qual é a medida? “É o homem a medida de todas as coisas”. De fato, cada um de nós bem conhece a sua própria medida: quantos alimentos ou quantos cigarros seu físico pode aguentar, quantas pessoas seu coração pode amar, quantas coisas sua mente pode entender. Ou seja, cada um de nós é portador de necessidades que pedem para serem satisfeitas. Disso nasce a tentativa, por parte de muitos psicólogos e filósofos, de classificar as necessidades: das mais materiais às mais espirituais, das mais potentes às mais fracas. A classificação mais persuasiva, em minha opinião, é aquela enunciada por Agnes Heller, uma genial filósofa húngara que, juntamente ao seu grande mestre György Lukács, enfrentou com coragem a hierarquia comunista e foi mandada para o exílio. No seu livro Sociologia da vida cotidiana, Heller observa que todos os seres vivos — plantas, animais ou homens — têm em comum necessidades existenciais, ligadas à sobrevivência física: ar, alimento, repouso, metabolismo. Mas há necessidades exclusivas da espécie humana, que condicionam a inteira dinâmica das nossas sociedades. Algumas dessas necessidades apresentam um próprio caráter quantitativo, ou seja, referem-se à aquisição de coisas que podem ser medidas. Trata-se, principalmente, da necessidade de riqueza, que pode ser satisfeita mediante o dinheiro acumulado; da necessidade de poder, que pode ser satisfeita mediante o consentimento e a obediência que se consegue dos outros; da necessidade de possuir coisas, que pode ser satisfeita com a aquisição e a disponibilidade de objetos, casas, terrenos, alimentos e informações. Estas necessidades, sendo quantitativas, nunca acabam, e são estimuladas pela comparação com os outros. A grama do vizinho é sempre mais verde, e a inveja que decorre disso leva a cuidar do próprio campo até ultrapassar o campo limítrofe. Os intermináveis rankings publicados em revistas superficiais (Forbes, por exemplo) sobre quem seja o homem mais rico, ou o mais elegante, o mais fascinante, não fazem nada além de estimular esta necessidade de ter e de superar os outros. Aqui é útil usar o conceito de “medida”: ou seja, a via intermediária certa entre as desvantagens do excesso e as desvantagens do pouco; entre a dolorosa falta do necessário e a embaraçante opulência do supérfluo. As filosofias grega e latina tentam se voltar para a direção da sobriedade, partindo da convicção de que a vida é um néctar raro e precioso, que precisa ser degustado, não entornado. Heller, que se tornou mais precavida pela explosão consumista dos nossos tempos, considera difícil evitar os excessos aos quais somos levados pela

atual competitividade desenfreada, a menos que as pessoas não dirijam a maior parte de seus impulsos e de seus desejos na direção de necessidades de tipo completamente diferentes, marcadas por qualidade e não por quantidade. Agnes Heller as chama de necessidades “radicais”, ou seja, que se referem à profunda raiz humana de cada um de nós. Quais são estas necessidades? Heller aponta cinco delas, mas eu acrescentaria duas. A necessidade de introspecção pede que, de vez em quando, nos isolemos do mundo para nos recolhermos e refletirmos sobre o nosso destino. A necessidade de amizade pede que uma parte de nós possa realizar-se através de pessoas con-

Domenico De Masi, um dos mais importantes sociólogos italianos, é conhecido pelo conceito de “ócio criativo”, título de um de seus livros mais vendidos no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação

Às necessidades humanas indicadas por Agnes Heller eu acrescentaria a de beleza, que exige ao nosso redor signos e objetos agradáveis de contemplar, e a de serenidade, que exige respeito mútuo e consciência da fugacidade fiáveis e prezadas, capazes de completar nossa vida com a deles. A necessidade de amor exige um relacionamento exclusivo, incandescente, penetrante, com pessoas que pareçam diferentes de quaisquer outras e, mais que as outras, dignas de nossa dedicação incondicional. A necessidade da brincadeira dá lugar ao menino que está dentro de nós, com seus assombros, suas curiosidades, suas aventuras, suas ingenuidades. A necessidade de comunismo ou índole de convivência exige a nossa identificação em uma coletividade étnica, geográfica, política e ideológica, de qualquer maneira capaz de nos fazer sentir parte de um todo, pelo qual possa valer a pena comprometer-se. A essas necessidades radicais indicadas por Heller eu acrescentaria a necessidade de beleza, que exige ao nosso redor um universo de signos e de objetos coerentes com nossa sensibilidade, que nos agrada contemplar. E acrescentaria a necessidade de serenidade, que exige o respeito mútuo e a consciência da fugacidade, escrita no nosso humano destino. com unit àit aliana | agost o 2015

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Comportamento

Menos é

melhor

O movimento italiano Decrescita Felice defende que a qualidade de vida não depende do PIB e estimula os cidadãos a substituírem produtos por bens autoproduzidos ou trocados com outras pessoas Stefania Pelusi

P

ara entender o Movimento Decrescita Felice (MDF), é preciso primeiro esclarecer o que significa crescimento econômico. Em geral, acredita-se que o crescimento econômico consiste no aumento da capacidade produtiva da economia, portanto, da produção de bens e serviços de determinado país, definido pelo índice de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB). — O PIB mede a quantidade dos produtos comprados e vendidos sem considerar se são úteis ou danosos. No caso da gasolina consumida no tráfego quando você está preso num engarrafamento, o PIB cresce, mas o seu bem-estar diminui. Por outro lado, há também o efeito contrário: na minha família, temos uma horta há

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15 anos, na qual cultivamos frutas e verduras que satisfazem as nossas necessidades alimentares. Mas isso não faz crescer o PIB, ou melhor, até diminui, pois a demanda da mercadoria de frutas e verduras se reduz — relata à Comunità o fundador do MDF, Maurizio Pallante. Ele usa esses exemplos para explicar que não se trata de um indicador de bem-estar, porque mede como positivos os fatores negativos, os desperdícios, e não considera como positivos a autoprodução e a economia baseada no dom e na reciprocidade. — A causa da crise que estamos vivendo é o crescimento. E se

o crescimento é a causa, não pode ser a solução — afirma Pallante, que acredita no decrescimento seletivo do desperdício como única forma de sair da crise. O italiano fundou o MDF em 2007, mas a ideia nasceu antes, em 1988, quando conheceu um responsável pelos serviços termotécnicos do centro de pesquisa Fiat. Ele lhe explicou que a redução da poluição, associada ao uso de combustíveis fósseis, não depende principalmente da adoção de fontes renováveis, e sim da redução do desperdício. — O sistema italiano, análogo a muitos países industrializados, desperdiça 70% da energia que produz. Não faz sentido produzir energia com fontes renováveis e desperdiçar 70%. Somente se reduzirmos o desperdício faz sentido desenvolver as fontes de energia renováveis, pois estas custam mais e rendem menos que os combustíveis fósseis — comenta Pallante, especialista em economia da energia. A autoprodução de bens como princípio O movimento visa promover a maior substituição possível de bens industrializados e adquiridos em circuitos comerciais de grande escala, com bens oriundos de autoprodução de mercadorias ou produzidos localmente ou trocados sob a forma de doação. Tal escolha implica uma redução do PIB a favor de melhor qualidade de vida.


por semana. O tempo de atividade manual que eu calculei, sem o cozimento, é de apenas sete minutos — exemplifica. Em 2014, Cuffaro escreveu o seu primeiro livro, Fatto in casa, smetto di comprare tutto ciò che so fare (Feito em casa, paro de comprar tudo o que posso fazer). Apenas no primeiro dia, foram vendidos 350 mil exemplares. Além disso, Cuffaro trabalha como técnica na Câmera italiana dos Deputados, e se ocupa de redução de resíduos e questões ambientais. — Muitas pessoas que participam do Movimento Decrescimento Feliz entraram na política, embora não como representantes políticos, e sim como técnicos, trabalhando na Câmara e no Senado — relata. Universidade ensina disciplinas como reciclagem e economia de doação O movimento não consiste apenas em ser uma crítica ao modelo de crescimento atual, mas também estuda soluções teóricas e fornece ferramentas práticas para construir alternativas sustentáveis. Por isso,

Maurizio Pallante (abaixo) fundou o movimento Decrescita Felice em 2007. Entre os seguidores, está Lucia Cuffaro, que se tornou vicepresidente do MDF e especialista em autoprodução, tema de seu livro Fatto in casa

Fabio Quattrini

Fabio Quattrini

O fundador do MDF salienta que o decrescimento não é sinônimo de recessão e utiliza um exemplo para explicá-lo: uma pessoa que não come porque não tem nada para comer não faz uma escolha, enquanto outra pessoa que não come para fazer uma dieta faz uma escolha para ficar melhor. Pallante usa esse simples exemplo para explicar a diferença entre a mudança forçada de um estilo de vida devido ao esgotamento de recursos necessários para alimentar-se e a decisão consciente de quem escolhe um caminho diferente, sustentável e justo. O movimento é organizado em centros espalhados por todo o país e oferece uma abordagem diferente para a política, tecnologia e estilo de vida. Um dos fundamentos é a autoprodução. — Eu considero a autoprodução um conceito extremamente subversivo de alguma forma, pois permite substituir produtos que deveriam ser comprados porque precisamos e repensá-los de forma natural — afirma à Comunità Lucia Cuffaro, vice-presidente do MDF e presidente do núcleo romano do movimento. Cuffaro conta que sua vida mudou completamente em 2010, quando começou a participar da associação. Antes, ela era assistente de produção dos programas da Rai, mas teve um problema de saúde que se complicou devido ao estresse. Foi quando ela pediu demissão do emprego. Depois, passou a trabalhar para a organização Città dell’utopia e se aproximou do movimento. Cuffaro se envolveu na divulgação de reflexões sobre o tema do decrescimento e se tornou especialista em autoprodução, trabalho pelo qual foi reconhecida até mesmo pela sua antiga empregadora, a Rai, que lhe fez uma nova proposta de trabalho: apresentar o quadro Chi fa da sé, dentro do programa Una mattina in famiglia. Cuffaro ensina receitas e dicas de autoprodução doméstica de baixo custo com poucos ingredientes, todos saudáveis e naturais. — A autoprodução permite economizar até 95% em muitas coisas — declara a enérgica e jovial vice-presidente do MDF. E quem pensa que é preciso tempo para colocar em prática os seus conselhos, Cuffaro responde com um exemplo prático. — Às vezes é mais conveniente fazer algo caseiro do que ficar na fila do supermercado, como no caso do pão, que pode ser feito uma vez

em 2009, nasceu em Turim a Università del Saper Fare (UNISF), com a intenção de aproximar as pessoas às ideias e às práticas do Decrescimento através de workshops práticos. Figuram entre as disciplinas autoprodução, reciclagem, reuso e autoconstrução, mas também se aprende a se relacionar melhor com a comunidade através do curso de economia da doação — A universidade não é um lugar físico: é um projeto itinerante desenvolvido por todos os centros do MDF espalhados pelo país — explica Cuffaro, docente da UNISF. O projeto dá a possibilidade a pessoas com competências e habilidades em um determinado tema de torná-los disponíveis gratuitamente, com uma variedade de cursos que vão de fabricação de cosméticos a reparos elétricos, além de aprender com unit àit aliana | agost o 2015

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Comportamento a fazer desodorante, usando apenas bicarbonato, maizena e o óleo essencial Tea Tree, entre outras coisas. As pessoas que participam dos cursos e do movimento pertencem a diversas faixas etárias, dos 20 aos 70 anos. O grupo extremamente pragmático se encontra por afinidades ideológicas e valores. Tecnologia deve ser aplicada para evitar o desperdício e não para aumentar a produção, defende o movimento Outro ponto importante abordado pelo MDF é o desenvolvimento tecnológico. — Atualmente, o desenvolvimento tecnológico tem como finalidade aumentar a produção, enquanto nós gostaríamos que fosse utilizado para reduzir o desperdício de recursos, ou seja, aumentar a eficiência com que os recursos são utilizados — destaca Pallante. O italiano cita como exemplo a Nova Somor, uma bomba que extrai água do subsolo para irrigação sem

Momentos de convívio no núcleo romano do Movimento Decrescita Felice, onde se aprendem dicas de autoprodução doméstica e reciclagem

Os dez princípios do Decrescimento Feliz

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Diminuir a distância entre produção e consumo, tanto em termos físicos quanto humanos. Fazer compras diretamente do produtor e estabelecer relações de amizade e confiança com quem produz.

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Redescobrir o ciclo das estações e a relação com a terra. Reaprender o gosto de esperar pela estação certa para comer as frutas, quando são mais saborosas e nutritivas. Redefinir a própria relação com os produtos e as mercadorias. Substituir o máximo possível as mercadorias com os bens autoproduzidos: alimentos como iogurte, pão, sobremesas, licores e enlatados, e outros bens como roupas e móveis.

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Reconstruir interações sociais através da lógica da doação. Doe sua experiência, seu conhecimento e seu tempo para os outros.

Fazer comunidades. Criar ocasiões regulares para tornar as relações humanas estáveis ao longo do tempo. Prolongar a vida das coisas, recusando a lógica do “último modelo”. Adotar um estilo de vida baseado nos quatro R (reduzir, reutilizar, recuperar, reciclar) e comprometer-se a espalhá-lo ao máximo. Repensar a inovação tecnológica. Adotar tecnologias que reduzam o consumo de recursos naturais, preferindo a inovação direcionada à economia, em vez daquela destinada ao aumento do consumo.

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Existir, pesando o mínimo possível sobre o meio ambiente, como uma forma de máximo respeito para consigo e as gerações futuras. Minimizar a sua pegada ecológica, reduzir o uso dos meios de locomoção próprios e substituí-los por transporte público ou veículos menos poluentes.

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Redefinir a própria relação com o trabalho. Redefinir o trabalho assalariado como meio para satisfazer parte de suas necessidades e não como o fim da existência. Divulgar os princípios do Movimento na área da política. Organizar reuniões públicas, envolver os cidadãos em batalhas específicas e evitar qualquer tentativa de exploração das ideias e propostas do Movimento.

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a utilização de eletricidade e que já passou da fase do protótipo e está começando a ser comercializada. Pallante explica que o decrescimento não deriva só da autoprodução ou das melhorias das tecnologias: se trata de uma filosofia de vida que abraça muitos aspectos. — Nós estamos convencidos de que chegamos ao fim de uma época histórica, iniciada muitos anos atrás com a revolução industrial. Se não formos capazes de optar pelo decrescimento, haverá um colapso, como aconteceu no fim do Império Romano, só que desta vez será muito mais dramático — afirma o fundador do movimento. Da mesma opinião, Cuffaro acredita que a ideia de uma economia que produz de forma ilimitada para criar sempre novas necessidades chega sempre a um ponto de não retorno e provavelmente “uma crise que já dura há tantos anos não é uma crise, talvez seja um status quo, o que significa que chegamos à saturação”. O fundador do movimento cita como fato importante a recente encíclica Laudato si do papa Francisco, em que aparecem muitos elementos comuns ao Decrescimento. — O Decrescimento não é mais visto como uma loucura de alguns sonhadores, mas é visto através das questões, como o uso diferente das tecnologias e uma diferente impostação dos modelos de

“Se não formos capazes de optar pelo decrescimento, haverá um colapso, como aconteceu no fim do Império Romano, só que desta vez será muito mais dramático” Maurizio Pallante, fundador do MDF comportamento e de valores entre as pessoas — salienta o ex-presidente do MDF, que atualmente se ocupa do Comitê científico do movimento. De acordo com Cuffaro, atualmente, existem diferentes centros também fora da Itália, como na Espanha, França e Inglaterra, mas somente na Itália existem associações e grupos operando no território de forma concreta. O fundador está convencido de que é possível exportar o movimento a outros países, como o Brasil. Pallante já foi convidado pela ONG italiana ParaTi para dar palestras no Rio de Janeiro, mas infelizmente tiveram que adiar para o próximo verão, pois ele está terminando o seu livro, cujo tema será a política e as dinâmicas da direita e da esquerda a partir da ótica do decrescimento.


por exemplo, valorizando o nosso pescado, como o camarão rosa”. Ali dentro foi montada uma cozinha para atender os convidados especiais e quem é solidário com a causa, como a associação Marevivo. Os nove africanos, sul-americanos e italianos que vivem no abrigo da Igreja de San Marco participaram dos preparativos das entradas e dos pratos principais, à base de peixe e frutos do mar, típicos da costa Adriática.

Alimento para todos Das palavras aos pratos, uma luta compartilhada por Abruzzo e pelo Papa Francisco Guilherme Aquino

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De Milão

Exposição Universal de Milão tem como lema “Nutrir o Planeta, Energia para Vida”. Todos os países participantes tentam mandar a mensagem sobre como alimentar a humanidade com novas tecnologias e evitando o desperdício. A Itália é o país anfitrião e tem a obrigação de dar o exemplo. O Pavilhão Zero, ponto de partida da Itália na exposição, alerta sobre os descaminhos da cadeia alimentar que deixa à margem da mesa milhões de pessoas, seres humanos de todas as cores, idades e sexos, sem acesso à água potável e a uma dieta sã. É preciso que todos façam um pequeno esforço para, ao final das contas, eliminar ou, na melhor das hipóteses, reduzir a carestia no mundo, principalmente, no terceiro mundo. Entre as 20 regiões italianas, Abruzzo foi a primeira a incluir o direito ao alimento na sua Magna Carta. Não é fácil passar das palavras para a ação, e as boas intenções, somente, não enchem a barriga de ninguém. Por isso, o estatuto da região não mede as palavras para impedir quaisquer interpretações equivocadas. O texto é bem claro e não deixa dúvidas: “A Região promove o direito ao alimento, a uma nutrição adequada, compreendida como direito a ter um regular, permanente e livre acesso a uma comida de qualidade, suficiente, sã e culturalmente apropriada, que garanta a satisfação física e mental, individual e coletiva, necessária para condução de uma vida digna”. Em resumo, o documento informa que a região se compromete, em seu território, a favorecer a alimentação correta para todos e o combate, sem trégua, contra os maus hábitos alimentares, incluindo o desperdício. Uma espécie de programa Fome Zero, em versão “abruzzese”. A surpresa chega da região com o maior território verde da Europa, com forte história de culto às suas tradições e que não contempla uma vida indigna aos seus residentes e visitantes.

— Nós somos um povo hospitaleiro. Para nós, favorecer alguém significa compartilhar o alimento. Por isso, esta nossa cultura foi representada no nosso Estatuto, introduzindo o artigo do direito ao alimento, que deve ser dividido com todos e não ser apenas o privilégio de poucos — afirmou Cristiana Canosa, a comissária de Abruzzo para a Expo durante jantar oferecido a nove imigrantes, sem-teto, no histórico pátio interno da Umanitaria, no centro de Milão. Tudo foi realizado pelas mãos de chefs estrelados das constelações culinárias do céu de Abruzzo, entre eles Vito Pepe, do Beccaceci, e Claudio Di Remigio, do Conchiglia d’oro, que diz: “usamos de muita criatividade e não desperdiçamos nada na cozinha; assim, recuperamos toda a matéria-prima e podemos manter bons preços,

Papa fez um preâmbulo da encíclica lançada logo depois A proposta da região vai ao encontro do apelo do papa Francisco. Na abertura da Expo, o pontífice alertou para o esquecimento de quem passa fome. Era já um pré-aviso e um preâmbulo da encíclica que ele lançaria logo depois, com uma forte conotação ambiental. O Vaticano, mesmo sendo um Estado à parte dentro do território italiano, também está presente na Exposição Universal, com um pavilhão de 360 metros quadrados, onde cultiva o incentivo à ajuda ao próximo, como já fazem diferentes ordens religiosas que matam a fome de quem não tem o que comer nas cidades, através de restaurantes gratuitos. Em Milão, o refeitório Ambrosiano, administrado pela Caritas, normalmente abre as portas para pessoas em dificuldade. Desta vez, os portais foram escancarados para centenas de residentes do quarteirão de periferia, Grecco, onde se localiza a estrutura. Vinte chefs, entre eles os responsáveis pelas cozinhas do Quirinale, da Casa Branca e do palácio de Buckingham — Fabrizio Boca, Criseta Comerford e Mark Flanagan — tiveram que criar os pratos com o que encontravam na geladeira: diversão e alimentação garantidas sob a égide da solidariedade e da preocupação com o próximo.

No topo, jantar oferecido a imigrantes e sem-teto no histórico pátio interno da Umanitaria, no centro de Milão. Acima, chefs estrelados cozinham para pessoas em dificuldade no refeitório Ambrosiano

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Attualità

Salva

sull’orlo del default Scongiurato l’effetto contagio della Grecia, l’Italia può tirare un sospiro di sollievo Stefano Buda

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De Roma

a Grecia è salva e il suo salvataggio è anche il salvataggio dell‘Italia e dell‘Europa, che hanno rischiato di essere travolte da un pericolosissimo effetto contagio, in grado di mettere in crisi la tenuta dell‘intera Unione. I greci, nel luglio scorso, sembravano ormai sul punto di uscire dall’Euro, schiacciati dal debito e da una crisi economica che, dalle parti di Atene, ha raggiunto livelli insostenibili. Soltanto la repentina marcia indietro del premier ellenico Alexis Tsipras, che aveva inizialmente ingaggiato un duro braccio di ferro con i vertici europei, forte del mandato popolare e dell‘esito del referendum anti-austerity, ha scongiurato quella che in tutta Europa era ormai annunciata come “GrExit”. Tsipras non se l‘è sentita di andare fino in fondo, assumendosi la responsabilità politica dell‘uscita della Grecia dall‘Euro, che avrebbe avuto esiti economici e sociali imprevedibili e probabilmente disastrosi: per restare in Europa, però, Tsipras è stato costretto a cedere su tutta la linea, ingoiando l’accordo imposto dai leader europei e in particolare dalla cancelliera tedesca Angela Merkel, che è ormai l’azionista di maggioranza dell’Unione, ispiratrice e guardiana inflessibile della linea del rigore. Alcuni osservatori hanno definito il piano di riforme imposto alla Grecia “una dichiarazione di guerra”. Il prezzo da pagare, per un Paese da tempo vicino al collasso, appare in effetti particolarmente salato: aumento delle tasse Iva su molte categorie di alimenti; aumento delle imposte per aumentare i ricavi; rialzo del contributo sanitario su tutte le pensioni, comprese quelle più basse; taglio della spesa, in modo semi-automatico, in caso di mancato raggiungimento degli obiettivi di bilancio; piena applicazione del fiscal compact; istituzione di un fondo da 50 miliardi di euro, nel quale trasferire il denaro proveniente dalle privatizzazioni, che in parte dovrà essere utilizzato per ricapitalizzare le banche. In cambio la Grecia riceverà circa 86 miliardi di euro di nuovi aiuti, che però saranno in larga parte destinati al saldo o al rifinanziamento del debito pregresso e alla ricapitalizzazione delle banche. Una dieta ferrea, che insieme ai tempi 14

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strettissimi per l’applicazione delle riforme, al vero e proprio pignoramento di beni pubblici che dovrà vendere per ridurre il debito e al ritorno della Troika ad Atene, rischia di rappresentare una cura talmente potente da uccidere il malato. La Grecia, però, almeno per il momento è salva e se la popolazione ellenica è terrorizzata dal futuro che l’attende, la Merkel può esultare. La cancelliera tedesca, infatti, ha centrato tutti i suoi obiettivi: innanzitutto ha lanciato un chiaro messaggio a chi come Syriza in Grecia, Podemos in Spagna, Lega e Movimento 5 Stelle in Italia, continua ad alimentare posizioni anti-austerity e si batte per ridiscutere le condizioni del rigore europeo. Umiliando Tsipras, in sostanza, la Merkel ha riaffermato la supremazia della leadership tedesca e l’insindacabilità della linea dell’intransigenza. In secondo luogo la cancelliera tedesca è riuscita a mantenere la Grecia nell’Eurozona, alle sue condizioni, ovvero senza concedere il minimo sconto sulla restituzione del debito. E infine è riuscita ad evitare quel temutissimo effetto contagio che un’eventuale uscita della Grecia dall’Euro, con il conseguente default del Paese, avrebbe inevitabilmente innescato. Per l’Italia, però, i rischi sono ancora concreti e legati al debito pubblico greco L’Italia, che è ancora un malato convalescente, avrebbe rischiato di essere colpita duramente. L’estromissione della Grecia dall’Euro, infatti, avrebbe prodotto uno shock sui mercati, con

conseguenze profonde sia di breve che di medio periodo: dal probabile rialzo dei rendimenti dei titoli di Stato e quindi degli spread, al relativo maggior costo per i bilanci degli Stati. Per l’Italia, però, i rischi più consistenti sono legati alla propria esposizione, diretta ed indiretta, sul debito pubblico ellenico. Certo, nell’immediato è possibile tirare un sospiro di sollievo, ma i rischi sono ancora terribilmente concreti. Non a caso c’è chi interpreta il salvataggio della Grecia come il semplice rinvio di un processo inevitabile: diversi osservatori ritengono che sia stato concesso altro ossigeno ad Atene, al solo scopo di provare a recuperare qualche quota del debito, ma che in realtà il destino della Grecia sia segnato. Anche in caso di default e uscita dell’Euro, però, teoricamente i debiti contratti, che hanno dato vita alla voragine del debito pubblico greco, non si estinguerebbero: la condizione di uno Stato, d’altronde, non è diversa da quella di qualsiasi altro comune debitore e dunque la Grecia, in ogni caso, non si vedrebbe automaticamente esonerata dal pagamento del debito. Sul piano pratico, però, appare chiaro che non sarebbe semplice costringere un Paese in macerie ad onorare un debito spropositato. Da questo punto di vista l’Italia, che risulta esposta in Grecia e che ha già i suoi gravi problemi legati al debito pubblico e alla crisi economica, rischierebbe contraccolpi pesanti. Secondo le stime, infatti, sono in pericolo circa 65 miliardi di euro di crediti che l’Italia vanta nei confronti della Grecia: dai prestiti bilaterali per 10 miliardi di euro, concessi da Roma ad Atene, ai fondi salva-Stati Efsf e Esm, che hanno impegnato l’Italia con quote pari a 23,3 e 14,2 miliardi di euro. Alle esposizioni dirette si sommano quelle bancarie, visto che anche la Banca Centrale Europea, nel corso degli anni, ha prestato alla Grecia ingenti quote di danaro. Roma, attraverso la Banca d’Italia, detiene il 12,3% del capitale dell’Eurotower ed è esposta per 6,6 miliardi di euro, ai quali bisogna aggiungere 10,94 miliardi della quota della linea di liquidità Ela concessa ad Atene (che però non rappresenta un’esposizione diretta della Bce, visto che è innanzitutto la Banca Centrale greca a farsi carico dei 95 miliardi concessi alle banche greche e solo in ultima istanza potrebbe spettare alla Banca Centrale Europea il compito di ripianare questa somma).


Una fetta consistente dell’Europa è inesorabilmente legata agli sviluppi della crisi greca Discorso simile per le banche italiane, che ultimamente hanno ridotto la propria esposizione sul debito ellenico, pari a 800 milioni di euro, a fronte di un debito complessivo che ammonta a 315 miliardi di euro. Le difficoltà sarebbero maggiori per le aziende esportatrici italiane, che rischierebbero l’interruzione dei rapporti commerciali e la perdita dei crediti. Se il ministro dell’Economia Pier Carlo Padoan non ha mai smesso di ripetere che l’Italia non correrebbe alcun rischio in caso di default greco, il Fondo monetario internazionale ha riportato tutti con i piedi per terra, sottolineando in uno dei suoi report periodici come “gli avversi sviluppi in Grecia, se non combattuti con una forte risposta politica da parte dell’Europa, potrebbero avere un sostanziale impatto sull’Italia, tramite effetti sulla fiducia, anche se l’esposizione diretta è limitata”. L’Fmi ha riconosciuto che l’economia italiana sta emergendo gradualmente da una prolungata recessione, ma ha ricordato che la ripresa rimane fragile, con la crescita del Pil confermata al +0,7% nel 2015 e al +1,2% nel 2016, e con un tasso di disoccupazione attualmente al 12,5%, che solo il prossimo anno dovrebbe iniziare una lenta parabola discendente, in grado di portare il dato dei senza lavoro, tra cinque anni, ad un comunque consistente 10,7%. L’Fmi, però, si concentra soprattutto sul debito pubblico italiano, che si attesterà al 133,3% nel 2015 e al 132,1% nel 2016. Le sorti dell’Italia e di una fetta consistente dell’Europa, a partire dalla Spagna, appaiono dunque inesorabilmente legate agli sviluppi della crisi greca. Il governo Tsipras, in queste prime settimane, sta eseguendo i compiti dettati dall’Europa con la massima diligenza. Non resta che attendere i prossimi mesi per verificare quali effetti avrà sortito la cura, con la speranza che un Paese così centrale nella formazione storica e culturale dell’intero Occidente possa tornare a vivere tempi migliori.

La Merkel ha riaffermato la supremazia della leadership tedesca e ha lanciato un chiaro messaggio a chi come Lega e Movimento 5 Stelle in Italia, continua ad alimentare posizioni anti-austerity com unit àit aliana | agost o 2015

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Atualidade

Cobrança em Roma Apesar de tema fora da agenda oficial, Dilma é cobrada pelo governo italiano em relação ao pedido para extraditar Cesare Battisti Gina Marques

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De Roma

principal objetivo da viagem da presidente Dilma Rousseff a Roma e a Milão em 10 e 11 de julho era reforçar as relações comerciais e culturais entre os dois países, mas ela acabou recebendo uma cobrança do governo italiano para solucionar questões difíceis da Justiça. Sem citar o nome de Cesare Battisti, o primeiro-ministro Matteo Renzi deixou claro em declaração à imprensa que espera do Brasil uma decisão favorável em relação aos temas de interesse da Itália. A presidente chegou à capital italiana na manhã de 10 de julho, vinda diretamente da Rússia, onde ocorreu a reunião dos BRICS. Ela almoçou com o presidente da República italiana, Sergio Mattarella, no Palácio do Quirinale. Em seguida, encontrou-se com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, na embaixada do Brasil. Logo depois, foi recebida por Renzi no Palácio Chigi, sede do governo italiano. Depois da reunião, em declaração conjunta, o líder italiano afirmou que as duas nações compartilham muitos valores culturais e interesses comerciais, mas que ainda há questões em aberto: — Temos algumas questões abertas, em particular modo na Justiça. Penso, espero e creio que esta renovada relação possa nos ajudar a resolver, no respeito às leis de cada país, inclusive na solução dos casos mais difíceis — afirmou. Renzi não mencionou especificamente o caso de Cesare Battisti, que, em 2010, recebeu o asilo político do ex-presidente Lula. Ele foi condenado em 1987 à prisão perpétua na Itália pela autoria direta ou indireta de quatro homicídios atribuídos aos Proletários Armados pelo Comunismo, grupo do qual era membro. Fontes ligadas ao Palácio Chigi interpretam a declaração de Renzi como convocação da Itália para que o Brasil reconsidere a situação de Battisti. 16

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Essa foi a primeira vez que Dilma esteve com Renzi desde a decisão do governo italiano de aceitar a extradição de Henrique Pizzolato, ítalo-brasileiro, ex-diretor do Banco do Brasil condenado a 12 anos e sete meses de prisão pelo processo do mensalão. Oficialmente, o assunto não estava na agenda divulgada pelo Itamaraty. Mas o governo italiano espera que o Palácio do Planalto entenda que a extradição de Pizzolato foi um gesto inédito e que, agora, é “tempo de retribuição”. A brasileira preferiu mudar de assunto e focar nas relações comerciais A presidente Dilma, por sua vez, preferiu falar de outros assuntos. Ela destacou as ligações culturais, históricas e comerciais com a Itália. — Esta proximidade com a Itália justifica que nós tenhamos assinado um plano de ação em 16 áreas-chave, entre elas, investimentos, comércio, defesa, indústria, cultura e educação — disse. Sobre as relações comerciais, Dilma destacou a importância das pequenas e médias empresas.

— Temos muito a aprender com a Itália, que construiu um tecido social completo com suas pequenas. Esta parceria será excepcional para o Brasil — frisou Dilma, resumindo que “a Itália é um parceiro essencial”. Ela convidou as empresas italianas a participarem do plano de concessões lançados pelo governo federal. Em 2014, a Itália foi um dos dez principais parceiros comerciais do Brasil, com mais de 1.200 empresas atuando no território brasileiro, com um estoque de investimento de quase US$ 20 milhões. De 2008 a 2014, o fluxo de comércio cresceu cerca de 10% e passou de USS 9,38 bilhões para USS 10,33 bilhões. De janeiro a maio de 2015, a corrente comercial entre os dois países alcançou USS 3,47 bilhões. O Brasil também possui importantes investimentos na Itália, concentrados nos setores de transporte aéreo, processamento de couros, comunicações, compressores para refrigeração, calçados, bancário e alimentício. Dilma balança, mas não cai na rede do pavilhão brasileiro da Expo Após o encontro com Renzi, Dilma foi a Milão, onde visitou a Expo. O pavilhão brasileiro é o segundo mais visitado da feira, graças a uma instalação com rede que serve de brinquedo para centenas de crianças e adultos. Dilma se interessou pela rede; hesitou um pouco, mas aceitou o desafio. Caminhou com ajuda para se equilibrar na superfície instável, mas não quis saber de comparações com a situação do governo em Brasília. — Eu diria que o meu mandato é mais firme que essa rede — comentou. A imprensa brasileira que cobria a viagem presidencial lhe perguntou: “Mas não caiu, não é, presidenta?” Dilma respondeu com firmeza: — Não, não cai, não. Mas a gente, sempre, para não cair, tem de ser ajudada, não é?

Momentos do encontro entre Dilma e o primeiro-ministro Renzi (no alto) e o presidente da República italiana, Sergio Mattarella (acima)


Fotos: Solange Souza/FNP

Atualidade

Emergências globais Seis prefeitos de cidades brasileiras participam de simpósio mundial na Itália que discutiu a escravidão moderna e as mudanças climáticas, temas abordados pelo papa na última encíclica Laudato Si Gina Marques

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De Roma

essenta prefeitos do mundo inteiro, dos quais seis brasileiros, se reuniram no Vaticano para participar do Simpósio “Escravidão Moderna e Mudanças Climáticas”. O evento, realizado em 22 de julho, foi dividido em quatro sessões e abordou inclusão social, desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental, temas que fazem parte da nova agenda dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os participantes brasileiros foram o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, que é também o presidente da Frente Nacional de Prefeitos, associação que reúne 5.570 alcaides; o de São Paulo, Fernando Haddad; de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto; de Curitiba, Gustavo Fruet; de Porto Alegre, José Fortunati; e de Goiânia, Paulo Garcia. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, que era muito aguardado, não compareceu e enviou o assessor especial Rodrigo Rosa. A conferência teve como objetivo aumentar a consciência a respeito de duas emergências globais: as causas das mudanças climáticas e a escravidão moderna, que inclui o tráfico de seres humanos e a imigração ilegal, a prostituição forçada, o trabalho infantil e a exploração da mão de obra. O evento serviu de debate preparatório para a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá em dezembro, em Paris. O simpósio deu continuidade ao posicionamento oficializado pelo papa através da encíclica Laudato Si (Louvado Seja), lançada no dia 18 de junho. Na chamada encíclica verde, Francisco defende o respeito pela vida e o desenvolvimento sustentável. No documento, pede ações imediatas em relação ao meio

ambiente, abordando questões como o aquecimento global e o atual modelo econômico, a inclusão social e críticas ao que o pontífice define como “globalização da indiferença”. Ele abordou diversas vezes tais temas durante a sua recente viagem ao Equador, Bolívia e Paraguai. O papa espera que o mundo se conscientize da urgente necessidade de realizar mudanças imediatas. Políticos brasileiros pedem financiamento e transferência de tecnologia Em declaração conjunta, entregue durante o evento no Vaticano, os prefeitos brasileiros pediram transferência de recursos. “Globalmente, como estratégia para enfrentar esse cenário desastroso, propomos a transferência de recursos e tecnologias dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, em especial aos mais pobres, e diretamente às cidades, visto que os primeiros são os que historicamente mais consomem recursos naturais e contribuem para o agravamento das mudanças climáticas”, diz o texto. Participante da sessão “Governança e Financiamento”, o prefeito de Porto Alegre, José

O papa Francisco recebeu no Vaticano 60 prefeitos de vários países do mundo

Fortunati, falou do grande desafio que os gestores locais enfrentam em relação à demanda da sociedade por mais e melhores serviços e, ao mesmo tempo, com a queda de financiamento e a desigualdade na arrecadação tributária. — Podemos ter boas ideias, bons propósitos e excelentes projetos, mas, se não tivermos fontes de financiamento, que ajudem a retirar do papel e a colocar no dia a dia da sociedade, nós ficaremos simplesmente com boas intenções, sem mudarmos a vida das pessoas, especialmente daquelas que mais precisam das políticas públicas — disse Fortunati. No dia anterior ao simpósio, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi recebido pelo prefeito de Roma, Ignazio Marino, na sede da prefeitura da capital italiana, o Campidoglio. No encontro, que durou cerca de uma hora, eles conversaram sobre propostas e alternativas para o desenvolvimento sustentável nas grandes cidades. Segundo Haddad, a maior cidade da América do Sul está muito atualizada no que diz respeito às questões globais de sustentabilidade. Ele destacou que na capital paulista foram instaladas as duas primeiras centrais mecanizadas de triagem de resíduos sólidos da América Latina. O prefeito defendeu também as ciclovias, como uma “visão mais ousada” para a aplicação do desenvolvimento sustentável. Depois de se encontrar com o prefeito de Roma, Fernando Haddad, junto com Marcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte, foi recebido pela vice-presidente da Câmara italiana dos Deputados, Marina Sereni, no Palácio de Montecitorio. Estavam presentes o embaixador brasileiro Ricardo Neiva Tavares e o deputado Fabio Porta.

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Mercado

Brasil Livraria Fechamento de estabelecimentos históricos assusta os amantes da leitura e acende a discussão sobre o mercado editorial brasileiro, repleto de distorções e à espera de regulamentação

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Cintia Salomão Castro

s números representam um paradoxo. Nos últimos 24 anos, a quantidade de títulos publicados quase triplicou, mas a quantidade de livros vendidos apenas duplicou e a parcela de leitores no país chegou a diminuir. A pesquisa da Câmara Brasileira do Livro evidencia algumas distorções do mercado brasileiro e, em meio a essa incógnita que está longe de ser uma ficção, paira o drama das livrarias, que vão minguando cada vez mais — fato que impressiona ainda mais se lembrarmos que já eram poucas para um país com 200 milhões de habitantes. E a causa não é a recessão. Entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012, uma redução de 12% no número de livrarias em todo o país já havia sido registrada pela Associação Nacional de Livrarias (ANL). Eram 3.481 e passaram a ser 3.073. 18

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— A situação é realmente estranha. As pesquisas são sempre feitas na ponta do fabricante, ou seja, junto às editoras, e não junto aos varejistas. Esses livros podem até estar encalhados em algum lugar do Brasil. A realidade não está sendo mensurada corretamente — observa à Comunità o diretor-presidente da Associação Nacional das Livrarias, Afonso Martin. Ainda não existem dados nacionais atualizados, mas só no Rio de Janeiro, que sempre foi considerada a capital cultural do país, a notícia do fechamento de históricas livrarias do centro da cidade — que detém a maior concentração do Brasil, desde sebos e lojas segmentadas até modernas filiais das grandes redes — assustou os que amam ler. No primeiro semestre, a Horus, a Solário e até a Leonardo da Vinci, ícone carioca dos amantes da leitura, anunciaram a iminência do fechamento.

E tudo indica que, após 63 anos de atividades, a Da Vinci, que já inspirou o poeta Drummond e foi frequentada por intelectuais de diversas gerações, vai mesmo fechar, lamenta a proprietária Milena Duchiade, filha de pai romeno e mãe italiana de Bolonha. Ambos se conheceram num campo de refugiados em 1948, em Roma, e decidiram vir para o Brasil, onde um primo de seu pai já morava e havia aberto uma livraria em uma galeria do Copacabana Palace. — Nós estamos entregando uma das salas, que é alugada há 10 anos. Estou diminuindo os custos fixos, parei de comprar livro novo e estou fazendo liquidação de estoque desde junho. Já tive 27 funcionários, hoje estou com 12 — enumera Milena. Ela não conseguiu fechar negócio com o empresário Omar Peres, dono de restaurantes do Rio, e espera que o comprador seja do ramo.


Fotos: João Carnavos

— Meu sonho é que a livraria fique na mão de outros livreiros, gente mais jovem, de sangue novo. Eu sou a segunda geração. É preciso uma renovação, como o que está acontecendo nos Estados Unidos, com o movimento buy local, para que as pessoas comprem menos nos Walmart da vida. O brasileiro não valoriza a cultura local. Os produtos de empresas familiares, onde os filhos aprendem o ofício com os pais, até o botequim, que é uma coisa nossa típica, está acabando. Não é só com as livrarias que isso está acontecendo — aponta Milena. O comércio online mudou os parâmetros do comércio A internet, encarada como vilã por muitos, modificou os parâmetros do mercado de livros. Antes se achava que, quanto maior o espaço, maior o acervo e maior chance de agradar o cliente.

— Hoje, com a internet, isso perdeu o sentido. O preço do metro quadrado se tornou caríssimo. O livro novo vende, dependendo do livreiro. Precisamos mais de bons livreiros do que de metro quadrado, mais do que nunca — analisa Marcus Gasparian, dono da Argumento, aberta no Rio em 1978. O fator aluguel pesa, sobretudo, numa cidade como o Rio de Janeiro, que passou por uma supervalorização imobiliária nos últimos anos. Os lojistas viram o preço do aluguel disparar e muitos foram obrigados a fechar as portas, atingindo em cheio negócios tradicionais de ruas como a Rua da Carioca, onde o banco Opportunity comprou diversos casarões. Soma-se a isso o aumento recorde do custo da eletricidade. — Vamos solicitar junto à Câmara dos Vereadores um projeto de lei que isente as livrarias do pagamento de IPTU. Claro que não vai salvar

as livrarias, mas vai ajudar — revela Glaucio Pereira, da Associação das Livrarias do estado do Rio. O projeto de lei do preço fixo, que já existe em diversos países, tem o apoio das livrarias pequenas e médias. Apesar de não garantir a sobrevivência das lojas, uma lei desse tipo poderia acabar com a concorrência brutal da internet e grandes redes, pois delimitaria os descontos, mas somente de lançamentos. A previsão é que seja votado pelo Congresso em 2016. Itália também sofre com o fechamento de livrarias históricas “Quando se fecha uma livraria, se fecha um pedaço da nossa civilização”, escreveu o blogueiro italiano Luca Rota, lamentando o que chama de “inexorável extinção das livrarias independentes”, especificamente o caso de Milão. Os dados, porém, mostram que o fenômeno atinge o comércio tradicional de uma forma generalizada: bares, restaurantes, bancas de jornal e lojas de roupas de gestão familiar também estão sofrendo há alguns anos. A Câmara de Comércio de Milão calculou que, em 2014, 12.216 lojas fecharam, ou seja, uma redução de 60% dos estabelecimentos em relação ao ano anterior.

Milena Duchiade, da Leonardo da Vinci, um dos símbolos da cultura do Rio, ainda sonha em encontrar um novo comprador do ramo, que injete “sangue novo” no local

Para sobreviver, a livraria italiana Pagina 18, na cidade de Saronno, juntouse a uma cafeteria, passou a se chamar Libreria-Caffè Letterario e focou na realização de eventos para debater temas específicos, como a Expo de Milão

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Mercado Lá, como aqui, muitas librerie conseguem se salvar vendendo outras coisas. A tradicional e independente Pagina 18, situada na cidade de Saronno, em Varese, é um exemplo. Ameaçada pelo fechamento, seus proprietários decidiram transformar o local em um café literário: se mudaram e fizeram uma ligação direta com o bar gelateria Monti, onde promovem eventos dedicados ao tema da Expo deste ano, a alimentação. No Brasil, capuccinos, quiches e outros quitutes têm salvado há alguns anos diversas livrarias. A Argumento aposta no Café Severino há 20 anos. Além de cafés, bolos e crepes, serve diariamente menus executivos. — Além da venda de CDs e DVDs, o café ajuda muito. As vendas crescem e isso gera aumento de receita. Fomos os pioneiros no Rio. Nenhuma livraria tinha café — conta Marcus Gasparian. O presidente da Associação das Livrarias do Rio de Janeiro, Glaucio Pereira, concorda que a diversificação das atividades virou um modo de sair do sufoco: — Algumas agregam papelaria, café e até artesanato. São poucas as que estão sobrevivendo somente com os livros. Precisa-se de um giro diário para se manter e muitas vezes só com os livros isso não é possível. Além disso, com a loja cheia, mais gente entra. Em loja vazia as pessoas têm receio de entrar. Tem até sebo funcionando com restaurante. Porém, nem todos estão dispostos a abrir mão do livro como único produto. Rodrigo Ferrari, dono da Folha Seca, instalada há 11 anos na Rua do Ouvidor, especializada em títulos sobre história do Rio, futebol e música popular, agraciado com a Medalha Pedro Ernesto (2011), acha que as livrarias, espaços de sociabilidade, perdem com a virtualidade.

“A Adriana Calcanhotto musicou um poema de Mário de Sá Carneiro na nossa livraria. Essas coisas só acontecem nas livrarias. Por isso não acredito que elas vão acabar. Quem diz isso são as pessoas que menos leem” Marcus Gasparian, dono da Argumento 20

— O marketing e a publicidade são cânceres da sociedade e tomaram conta do mundo. Não adianta vender livro se você tem que gastar muito com publicidade. É um produto vilipendiado; ninguém quer gastar com ele. Eu estaria melhor vendendo qualquer outra coisa, até sapato. Quando tem evento, vendo mais. Acabamos nos tornando produtores de evento. Sou reconhecido muito mais por essas “bananeiras” que planto aqui fora, e não tanto pelo fato de ser livreiro — protesta Rodrigo em sua livraria, em frente ao bar Toca do Baiacu, onde ajuda a promover rodas de choro e samba. Bisneto de um italiano de Cosenza, ele frisa que as pessoas podem economizar dinheiro quando compram pela internet, mas perdem referências e valores. — Vivemos em uma sociedade em que não se é cidadão e sim consumidor — resume. Baixo nível educacional no Brasil é causa principal da crise A principal saída para as livrarias, no entanto, está na formação de novos leitores, consequência de uma política educacional de âmbito nacional, atesta o representante da Associação das Livrarias do Rio, Glaucio Pereira. — Para isso dependemos de políticas do governo. Pesquisas dizem que 70% dos cariocas não leem livros. A maior influência é a família, especificamente a mãe, depois vem a escola — lembra. O presidente da Associação Nacional das Livrarias, Afonso Martin,

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Especializada em títulos sobre futebol, história do Rio e música popular, a Folha Seca promove rodas de samba e choro no bar em frente ao estabelecimento para lançar livros, como O baú do animal, de Pedro Aragão

Principal causa da fragilidade do mercado está nos problemas sociais de um país onde o poder público não promove a formação de leitores, alerta o diretor-presidente da Associação Nacional de Livrarias

faz coro e lança um alerta à sociedade brasileira, em que as pessoas são “colocadas à margem da própria civilização”, cuja base é a linguagem escrita. Entre os próprios universitários e graduados brasileiros, o nível de compreensão de textos é baixo, lembra. — Estamos em um país onde as pessoas não recebem educação de qualidade. Num país onde não há formação de leitores, o comércio que vive disso fica fragilizado. Um grande grupo editorial me revelou que a tiragem deles de um livro no Brasil é igual à tiragem do que mandam para Portugal! Não adianta ser um super empresário, regulamentar o varejo, isentar de IPTU e obter financiamentos culturais, se não temos mercado consumidor. O nosso mercado não consome batom; depende do exercício da cidadania plena. É um problema social como um todo — finaliza. Em meio a tantos problemas — desde os estruturais, como o medíocre nível educacional brasileiro, aos momentâneos, como as obras do metrô que afastam pedestres — as livrarias sobreviverão. E graças a quem? Ao livreiro, aquele que conversa com o leitor, troca ideias, faz amizade, é a opinião do dono da Argumento. Qual leitor que nunca fez amizade com um livreiro? — Eu sou o dono do teatro e o livreiro é o principal ator. O leitor necessita de troca de informação e isso não vai acabar nunca. Se o cliente procura pelo meu vendedor Felipe, por exemplo, que não veio hoje, e vai embora da loja, eu não fico triste. Pelo contrário, fico contente — resume Marcus Gasparian.

Nas escolas, o livro como um negócio

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venda direta de livros didáticos para as escolas pelas editoras, além de prejudicar o comércio como um todo, compromete a qualidade da educação no país e é ilegal, denuncia o presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL). As instituições de ensino privadas negociam diretamente com as editoras, que têm a venda garantida, pois os pais já pagam pelos volumes no ato da matrícula. O problema é quando o critério da escolha dos títulos não é qualidade, e sim as vantagens de uma negociação comercial. — O resultado dessas negociações é a queda da qualidade do leitor. As editoras pagam viagem para professores, compram televisores para a escola, vendem com desconto de 30% para as escolas e estas, por sua vez, vendem aos pais com desconto de 15%, e ficam com esse lucro. Os pais reclamam comigo que as escolas mudam livros todos os anos e os irmãos não podem usar os livros dos mais velhos. A escola troca todo ano porque negocia com as editoras. O resultado geral disso é que 30% dos nossos graduados não compreendem um texto. Isso mostra que o país não tem um comprometimento com a educação e a formação de leitores. E o custo social disso é incomensurável — afirma à Comunità Afonso Martin, diretor-presidente da ANL.


Entrevista

Trieste Depara as

xícaras do mundo

CI — A marca Illy, hoje conhecida no mundo inteiro por seu blend inconfundível, que inclui nove tipos de pura arábica, está associada a cerca de 200 bares Espressamente Illy, ativos em franchising em várias nações, hoje realidade com caráter global. Qual é o valor agregado, seja em termos de produto, seja como estratégia empresarial? AI — O café Illy é um produto caracterizado, acima de tudo, pela sua qualidade, procurado em nível obsessivo. É suficiente pensar que temos 120 tipos de controle qualitativo e procedimentos muito rígidos. Na fase da compra, por exemplo,

Em entrevista exclusiva à Comunità, a presidente da Illy Brasil, Anna Illy, neta do fundador da empresa de Trieste, fala sobre o mercado mundial de café e revela os projetos da Fundação Ernesto Illy Stefano Buda

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De Roma

e o café expresso é um dos símbolos da Itália, a marca Illy representa uma das excelências do café italiano. A empresa, fundada em Trieste em 1933, hoje está presente em 140 países, em mais de 50 mil estabelecimentos comerciais e dá emprego a mais de 700 pessoas. A história da Illy é ligada de forma indissolúvel à história da homônima família. O fundador Francesco Illy, de origem húngara, nasceu na cidade de Timisoara, na Romênia, e era um cosmopolita por vocação. Uma pessoa assim não podia resistir ao fascínio de Trieste, cidade do centro da Europa da época, e escolheu permanecer ali, onde encontraria os três amores de sua vida: a mulher, a cidade e o café. Um ano depois de ter fundado uma empresa especializada na produção de cacau e café, escolheu dedicar-se com exclusividade ao nero da bere, e inventou um sistema especial de pressurização com gás inerte para a embalagem do produto, que revolucionou o método de conservação do café. Em 1935, depositou a patente da invenção da Illetta, a precursora das máquinas de café expresso. A partir de então, a empresa experimentou uma ascensão contínua e ininterrupta, que tornou o blend de Trieste um elemento importante do mercado global. A continuidade familiar e o laço com o território são características distintivas dessa excelência empresarial: a produção, há exatamente meio século, é uma prerrogativa do estabelecimento triestino, enquanto a terceira geração ainda dirige solidamente a joia da família. Andrea Illy, presidente e administrador delegado, é o quarto filho de Ernesto, filho do fundador da empresa. Anna Rossi Illy, esposa de Ernesto, falecido em 2008, é presidente honorária, enquanto os outros netos do criador, Riccardo e Anna Illy Jr., são, respectivamente, vice-presidente da empresa e responsável pelas relações com as filiais do exterior. Comunità encontrou Anna Illy Jr., que é também presidente de Illy Brasil e número um da fundação Ernesto Illy. ComunitàItaliana — Sua história empresarial funda as próprias raízes na tradição italiana e de modo especial na dinastia familiar dos Illy. Quais são os valores herdados do passado, e que papel teve a inovação dentro de sua política empresarial? Anna Illy — Meu avô Francesco foi um verdadeiro gênio e um grande inovador, como provam os contínuos avanços da empresa e as importantes intuições ao longo do tempo. Por isso, eu diria que a inovação faz parte da nossa tradição familiar. com unit àit aliana | agost o 2015

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Entrevista antes de tudo operamos com base na aprovação de uma primeira amostra de oferta, depois abrimos caminho para a remessa de uma amostra de pré-embarque, e só depois do êxito dessa segunda passagem concluímos a compra. De certa maneira, continuamos realizando o sonho do meu avô, que apostava expressamente na produção do melhor café do mundo. CI — Hoje em dia, como se posiciona a Illy Caffé em nível internacional e quais são os principais mercados de referência? AI — A Itália, é claro, permanece o nosso mercado principal, e logo depois vêm os Estados Unidos. Tudo corre bem na Europa também, especialmente na Alemanha, França e Espanha. De forma um pouco surpreendente, funciona muito bem na Grécia: dou-me conta que pode parecer um paradoxo por causa do risco default dos últimos tempos, mas naquele país a gente superou a primeira crise e tenho certeza de que iremos superar a segunda também. CI — Entre a Illy e o Brasil existe um relacionamento que vem de longe. Como e quando nasceu o encontro entre um dos melhores cafés italianos e um dos mais importantes fornecedores de matéria-prima? AI — As primeiras relações com o Brasil remontam 25 anos atrás, quando tínhamos alguns problemas em conseguir matéria-prima. Éramos conhecidos, mas de forma menor, e organizamos a primeira

“A coisa mais incrível que conseguimos fazer no Brasil foi convencer os operadores do setor a cobrarem o café ao final da refeição. Na maior parte dos restaurantes, é oferecido de graça. Todo mundo dizia que não seria possível cobrar, mas as coisas estão mudando” 22

viagem à terra verde-oro, onde conhecemos um agrônomo brasileiro muito competente, que ainda hoje é o nosso principal parceiro e general manager no Brasil. Foi ele quem teve a teimosia e a “inconsciência” de abrir um laboratório de controle de qualidade diretamente no Brasil. CI — Como foi estruturada sua presença no país? AI — Nós temos uma única sede produtiva, que é aquela de Trieste, aonde chegam os quantitativos de café que provêm de mais ou menos 20 países, entre os quais o Brasil. Em Trieste, o café é misturado, torrado, e no final está pronto para ser reexportado para o exterior, ou seja, para voltar à América do Sul. No ano de 2000, assinamos mais um acordo para distribuir o nosso produto no Brasil e abrimos a sede da Illy Sud America em São Paulo, onde existe um showroom com todos os nossos produtos. Também estamos no Rio de Janeiro, onde temos dois vendedores e um showroom dentro da sede do Consulado da Itália. No Brasil, no total, empregamos 32 pessoas, às quais devemos somar os trabalhadores da atividade induzida. CI — Como foi recebido no Brasil, terra do café por definição, o blend italiano assinado pela Illy? AI — Acho que a coisa mais incrível que conseguimos fazer foi convencer os operadores do setor a fazer com que o pagamento do café fosse cobrado ao final da refeição. De fato, na maior parte dos restaurantes, o café é oferecido de graça no final do almoço ou do jantar: é por isso que no começo todo mundo dizia que não era possível cobrar o café, então a difusão seria muito incerta. Mas agora, as coisas estão mudando, como provam nosso significativo crescimento de vendas no Brasil. Em 2014, em comparação ao ano anterior, registrou um aumento em toneladas acima de 18%. CI — No Brasil, em 1991, vocês também instituíram um prêmio. AI — Decidimos dar início ao Prêmio Brasil, que teve resultados importantes, pelo fato que, literalmente, acordou os produtores brasileiros, ajudando-os a perceber a grande qualidade de seu café. Hoje, a premiação está sendo organizada pela fundação que eu dirijo, e que traz o nome do nosso pai, Ernesto Illy. Tentamos levar adiante

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A sede produtiva da empresa, situada em Trieste, recebe grãos de 20 países, entre os quais o Brasil

seus ensinamentos em relação à ética, à sustentabilidade e à transferência de know-how. Também temos outras iniciativas. Por exemplo, iniciamos na Itália um mestrado internacional em Coffe economy and science, com o qual sustentamos economicamente os estudantes mais necessitados. Já na Colômbia, ensinamos aos produtores a produzir mel também, gerando importantes melhorias no perfil da cadeia alimentar. A respeito do Prêmio Brasil, a cerimônia conclusiva do ano que vem irá acontecer no dia 8 de abril: decidimos fazer um pouco mais tarde, ao invés do tradicional encontro de março, pois assim esperamos evitar as chuvas. CI — Você considera que, para uma realidade empresarial italiana, a presença de uma vasta comunidade de compatriotas imigrantes ou descendentes de imigrantes possa representar um valor agregado? AI — No Brasil, existem muitos sobrenomes italianos, que pertencem a pessoas que na realidade, com muita frequência, não falam uma palavra de italiano. Com certeza, a italianidade é um valor, mesmo que o nosso target não esteja só voltado para restaurantes e bares italianos, e sim para todos os lugares de alta categoria que estão interessados na proposta de um produto de excelência como o nosso. CI — O que mais o impressionou em suas diversas viagens ao Brasil? AI — As coisas que permaneceram mais na minha mente são a alegria contagiante, o perene bom humor das pessoas, o jeito de enfrentar as coisas sempre dizendo “não tem problema”. Além disso, evidentemente, há também os aspectos negativos, principalmente nas cidades maiores como Rio e São Paulo, onde não existe só o problema da segurança, mas principalmente aquele ligado à gestão do próprio tempo: para chegar aos lugares, você é forçado a sair de casa duas horas antes, e pode chegar com atraso de duas horas, ou adiantado em uma hora e meia. Nunca se sabe a situação do trânsito, e fica muito difícil planejar os próprios compromissos.


Economia Brasile. L’andamento complessivo nel Paese sudamericano, tuttavia, rischia di rappresentare una pesante zavorra per Fca, che a livello globale, per il 2015, ha fissato obiettivi che oscillano tra 4,8 e 5 milioni di auto vendute.

Crollo delle vendite in Brasile

Fiat-Chrysler a rischio il raggiungimento degli obiettivi per l’anno 2015, ma Marchionne ostenta fiducia: “I nostri obiettivi non cambiano” Stefano Buda

I

De Roma

l rallentamento della crescita economica brasiliana, e la contestuale interruzione della fase di incentivi statali da parte del governo Rousseff, mettono a rischio gli obiettivi di vendita per l’anno 2015 di Fiat Chrysler Automobiles (Fca). L’azienda italo statunitense, guidata da Sergio Marchionne, nel Paese verde-oro è leader del mercato da diverso tempo e quest’anno, per la prima volta, è costretta a registrare un preoccupante passo indietro. Il 2015, infatti, potrebbe essere ricordato come l’anno nero del gruppo Fca in Brasile: tra gennaio e giugno si è assistito ad una forte contrazione del mercato, che sta affossando le vendite. Il più colpito è proprio il marchio Fiat, che nel Brasile ha il suo primo mercato mondiale. Le vendite nel mese di giugno si sono fermate a 25.971 unità: il dato rappresenta una frenata particolarmente brusca, che si traduce in un crollo delle vendite del 30,7% rispetto al giugno del 2014. Se poi

si considera, nel suo insieme, il primo semestre del 2015, il trend è ancora più allarmante, visto che le auto vendute da Fiat in Brasile sono state solo 168.921, ovvero il 31,4% in meno rispetto allo stesso periodo dell’anno precedente. Non fa eccezione il ramo Fiat Lcv, che sforna veicoli commerciali leggeri e che dunque, teoricamente, dovrebbe avere una maggiore capacità di resistenza alla crisi, poiché immette sul mercato quasi esclusivamente mezzi destinati ad attività produttive: nel primo semestre dell’anno in corso, le vetture del segmento Lcv vendute in Brasile sono state 67.753, ovvero il 29% in meno rispetto ai primi sei mesi del 2014. Il dato per Fca sarebbe risultato perfino peggiore, se non ci fosse stato il buon debutto sul mercato brasiliano dei modelli Jeep e Jeep Renegade, realizzati direttamente nello stabilimento di Pernambuco: le 7.870 vetture vendute, in appena due mesi di commercializzazione, hanno attutito il crollo di Fiat Lcv e aprono uno squarcio di ottimismo nel quadro a tinte fosche che attualmente interessa il

Secondo l’amministratore delegato della Fca, Sergio Marchionne, la ripresa in Europa e la tenuta del mercato Usa compensano la crisi in Brasile e la frenata cinese

Secondo gli analisti, neanche la crescita negli Stati Uniti e il miglioramento in Europa riusciranno a bilanciare il crollo nella regione brasiliana Nel corso dei prossimi mesi difficilmente Fca potrà fare affidamento su un’inversione di tendenza e il mercato brasiliano dovrebbe continuare a vivere un trend di decrescita piuttosto marcato, fino a concludere il 2015 con un volume di vendita decisamente inferiore alle attese. Considerando che dal mercato brasiliano ci si attendeva la vendita di circa 700 mila vetture, ovvero la quota corrispondente alle vendite del 2014 e che una flessione del 30% produrrebbe una perdita di circa 200 mila unità vendute rispetto allo scorso anno, appare chiaro che l’impatto sul target complessivo di Fca sarebbe rilevante, mettendo seriamente a rischio il raggiungimento degli obiettivi per l’anno 2015. Secondo gli analisti, neanche i vertiginosi ritmi di crescita evidenziati da Fca negli Stati Uniti e il sensibile miglioramento del mercato in Europa riusciranno a bilanciare il crollo che interessa la regione brasiliana. Sergio Marchionne, numero uno di Fca, nei giorni scorsi ha comunque ostentato ottimismo: I nostri obiettivi finanziari non cambiano — ha tagliato corto, a margine della presentazione della nuova Fiat 500. La Borsa, però, non si fida e le quotazioni del titolo di Fca sono in calo, tanto che ad inizio luglio, subito dopo la diffusione dei dati relativi alle immatricolazioni delle auto sul mercato brasiliano, avevano fatto registrare una diminuzione dell’1,1%, che è valsa al titolo Fca la palma di peggiore dell’intero indice Ftse Mib. Nei prossimi mesi il mercato brasiliano continuerà ad essere un osservato speciale da parte di Fca, che spera quanto meno di ridurre l’impatto negativo. A fine anno si tireranno le somme. E’ ancora presto per azzardare previsioni sulle eventuali ripercussioni generate dal mancato raggiungimento degli obiettivi.

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Economia

Parceria com o estado gaúcho

Encontro em Porto Alegre aproxima as empresas italianas presentes no Rio Grande do Sul das instituições do estado

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Câmara de Comércio Italiana Rio Grande do Sul e o Consulado da Itália em Porto Alegre organizaram um encontro no dia 16 de julho com os diretores das empresas italianas que investem no estado, o governo e as instituições gaúchas. O objetivo foi entender as necessidades das empresas e suas parceiras presentes no Rio Grande do Sul, aproximá-las das instituições e incrementar os negócios. — Os resultados foram positivos. Dezesseis empresas italianas que operam no Rio Grande do Sul participaram e a sala estava lotada. Havia 30 pessoas e tivemos que adicionar cadeiras para acomodar todos — afirmou à Comunità o cônsul geral da Itália, Nicola Occhipinti, que ressaltou a importância da aproximação entre as empresas e as instituições das três esferas do governo — nacional, estadual e municipal — para facilitar e promover as parcerias com o setor empresarial gaúcho e italiano. As empresas foram convidadas a manifestar suas demandas para identificar junto aos representantes das instituições quais ações precisam ser aprofundadas ou criadas para uma melhor atuação no mercado gaúcho. O secretário estadual de 24

Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (Sdect), Fábio de Oliveira Branco, apresentou os programas e as ações coordenadas para a atração de investimentos, o apoio às micros e pequenas empresas e a inovação em ciência e tecnologia. Branco frisou a parceria com a Junta Comercial para facilitar a conexão com o setor empresarial. O superintendente regional do Ministério do Trabalho e Emprego, Flávio Zacher, colocou-se à disposição para os assuntos inerentes ao ingresso de figuras profissionais, como técnicos, gerentes ou colaboradores para trabalharem nas empresas, além de avaliar possíveis entraves com relação à infraestrutura técnica e operacional dos investimentos, como a aprovação da introdução no Brasil de equipamentos homologados pela União Europeia.

Diogo Abelin

Stefania Pelusi

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Da esquerda para direita: Carlos Hundertmarker (diretor SDECT), Rogério Pasqualetto (Digital Control), Antonio Grisci (Fiori di Brasil), Janice Teresa Rota (Diretora Executiva CCIRS), Hebe Bonazzola Ribeiro (presidente do conselho fiscal CCIRS), Felipe Olinto (vice-presidente CCIRS), Fabio Branco (secretário de Estado da SDECT), Nicola Occhipinti (cônsul geral em Porto Alegre) e Flávio Zacher (superintendente regional do Ministério do Trabalho e Emprego do Governo Federal)

Diretores das empresas italianas saem satisfeitos do evento Durante a reunião, o secretário adjunto do trabalho (SMTE/PMPA), Marcelo Chiodo, ilustrou os programas da prefeitura de Porto Alegre dedicados à qualificação de mão de obra na região metropolitana. O assessor de relações internacionais da SMGL/PMPA, Ricardo Schlomer, citou o seu departamento como interlocutor das entidades e empresas para os assuntos relativos a ações, projetos e licitações das diversas secretarias da prefeitura de Porto Alegre. Ao término do evento, a diretora executiva da Câmara Italiana no Rio Grande do Sul-Brasil (CCIRS), Janice Teresa Rota, enumerou as vantagens que as empresas obtêm quando se tornam associadas, como o aumento da visibilidade da própria companhia no mercado e uma série de serviços diferenciados. Segundo Occhipinti, os diretores presentes ficaram extremamente satisfeitos, pois o secretário Branco, o superintendente Zacher, a Câmara de Comércio e o Consulado mostraram que as relações estreitas com as instituições locais podem proporcionar assistência prática para resolver e superar questões burocráticas que, de outra forma, fariam perder tempo e recursos valiosos às empresas. — Graças a esse trabalho em equipe, através da inscrição na Câmara, as empresas italianas que operam no Rio Grande do Sul vão ter inúmeros benefícios, tanto para acelerar a solução dos problemas relacionados com vistos e autorizações para equipamentos italianos homologados pela UE, quanto em termos de facilitação de redes para criar joint ventures e aumentar os próprios investimentos — acrescentou o diplomata, que dirige o Consulado desde julho de 2014.


Ministério do Desenvolvimento Agricolo: Albino Oliveira/MDA

Tecnologia

O aplicativo do alimento justo

Em viagem ao Brasil, o fundador do movimento Slow Food, Carlo Petrini, lançou aplicativo com dicas de locais para se comer e comprar e assinou acordo de cooperação com o Ministério do Desenvolvimento Agrário

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filosofia do Slow Food — o alimento bom, limpo e justo — agora está disponível na tela do celular ou do tablet através de um aplicativo disponível para Android ou iOS que indica lugares para comer, beber, visitar e comprar, tudo de acordo com os princípios do movimento. Em 1º de agosto, o presidente e fundador do movimento, Carlo Petrini, veio ao Rio de Janeiro para lançar o Slow Food Planet na Livraria Travessa do Leblon. Foi justamente na capital fluminense que Petrini teve a inspiração para criar o aplicativo, em 2012, após a Rio+20, quando o Slow Food lançou um guia bilíngue com 100 dicas sobre a cidade. A ferramenta reúne 12.500 dicas de 22 países. No Brasil, conta com mais de 847 indicações escolhidas por cerca de dois mil colaboradores, entre chefs de cozinha, produtores e associados, em 11 cidades e regiões, como Belém, Salvador, Brasília, São Paulo e Rio. Até o fim do ano será ampliado para mais 11 localidades. O download referente a um território de escolha do usuário é gratuito. Cada localidade adicional custa US$ 1,99 e associados ao Slow Food têm

Albino Oliveira / MDA

Stefania Pelusi

acesso gratuito a dez locais. Em apenas uma semana, foram efetuados 2500 downloads. — Nossa ideia é alcançar seis milhões de pessoas em três ou quatro anos. Pode ser um instrumento muito útil para divulgar o trabalho dos pequenos produtores e as batalhas do Slow Food — afirmou Petrini. O sistema se divide em três áreas de busca: tempo para comer, priorizando os lugares que valorizam a origem e a autenticidade; tempo para comprar, com nomes de lojas de produtos típicos ou locais onde adquirir diretamente do produtor; e tempo para mim, com dicas combinadas com seu estado de espírito. A ferramenta inclui um dicionário gastronômico. — Um italiano, por exemplo, que não sabe o que é moqueca, aperta o botão e lê a explicação sobre a comida. Isso significa que pode ser uma enciclopédia para ajudar a conhecer o território e os produtos — explicou Petrini.

Além de lançar o aplicativo, Petrini firmou acordo com o ministro do MDA, Patrus Ananias, para apoiar a agricultura familiar no país

De acordo com ele, o aplicativo é um guia participativo que está sempre em construção, “uma ação democrática e colaborativa”. — Essa é a rede, a nova forma de política: não há hierarquias, é horizontal e tem a força de mudar a consciência e a realidade — resumiu o único italiano da lista de “pessoas que podem salvar o planeta” do jornal inglês Guardian. Slow Food e MDA assinam acordo que favorece a agricultura familiar Petrini veio ao Brasil também para assinar um acordo de cooperação entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Slow Food a fim de promover e apoiar a produção e o consumo de alimentos da agricultura familiar e de assentamentos rurais brasileiros. — Trata-se de desenvolver em todo o território brasileiro um mapeamento dos produtos que são patrimônio desse país e que estão ameaçados por um sistema de alimentos demasiado industrializados. Queremos defender esses produtos com a nossa ideia da Arca do Gosto e das Fortalezas Slow Food, que defendem a comunidade e ajudam a vender e qualificar seus produtos para que aumentem a renda — contou à Comunità Petrini, para quem os agricultores familiares são defensores da biodiversidade, cuja sabedoria deve ser preservada. O piemontese saiu satisfeito do encontro que teve com o titular do MDA, Patrus Ananias. — É um ministro extraordinário, que me levou a fazer algo que eu nunca tinha feito na vida: falei com todos os funcionários do Ministério sobre a filosofia do Slow Food, as nossas ideias e as dinâmicas do movimento — relatou. Ao ser indagado se esperava todo esse sucesso quando fundou o Slow Food (1986), hoje presente em 150 países, Petrini citou uma frase de Francisco de Assis: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”.

Críticas à Expo

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arlo Petrini declarou à Comunità que a Expo de Milão 2015 se revelou uma oportunidade perdida. — A Expo é muito focada nos Estados e nas indústrias. Mas o tema é “Alimentar o planeta”; então tinham que se concentrar nos agricultores, nas pequenas realidades, nos grandes desastres do desperdício e da desnutrição. Isso, infelizmente, está menos presente, enquanto o espetáculo é mais valorizado — concluiu o presidente do movimento que participa da Exposição com o pavilhão Piazza della Biodiversità.

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Tecnologia

Wi-fi

social

Italiano troca os encantos de Roma pelas praias do Rio e traz ao Brasil a primeira rede social de internet sem fio Dante Grecco

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m 1990, durante a Copa do Mundo da Itália, Paolo Di Loreto, então com 25 anos de idade, em vez de torcer pela Azurra (como quase toda a população do país), preferia andar pelas ruas de Roma, onde nasceu e morava, com uma bandeira verde-e-amarela enrolada no corpo. — Naquela época, eu já admirava o Brasil devido à beleza de sua natureza, à alegria do povo e ao Carnaval — conta à Comunità. Fanático por futebol e torcedor da Roma, anos depois, em 2001, levou aquela mesma bandeira ao Estádio Olímpico de Roma, quando seu clube venceu o último scudetto (2000/2001). No time, aliás, jogavam os brasileiros Cafu, Antonio Carlos, Aldair, Marcos Assunção e Emerson. Naquela época, porém, 26

Paolo mal sabia que, anos mais tarde, suas relações com o Brasil seriam bem maiores e intensas. Formado em Economia pela Università La Sapienza de Roma, em 1990, ele começou sua carreira profissional na Gepin, empresa da área digital, onde trabalhou como programador e analista, sendo responsável pela instalação de diversos sistemas em várias empresas italianas. Depois, foi para a Telecom Itália/TIM, sempre atuando na área de inovação tecnológica. Sua vida começou a mudar em junho de 2003, quando foi convidado a trocar as belezas históricas de Roma pelas praias cariocas. — Na ocasião, meu chefe italiano convidou alguns funcionários de sua equipe para virem para cá. Levei algumas semanas para decidir. E, no final, acabei aceitando. Afinal, era uma nova experiência profissional que poderia enriquecer

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Para entrar na rede, não é necessário ter senha nem preencher cadastro

meu currículo. Além disso, claro, era uma excelente oportunidade para conhecer melhor um país do qual eu gostava. No início, o combinado era para ficar cerca de dois anos no Brasil e depois retornar à Itália. — Mal sabia eu que aquela decisão mudaria minha vida para sempre — comenta Paolo. Convite para trabalhar na TIM durante a lua de mel De fato. Passados os dois primeiros anos, período em que foi responsável pela área corporativa de Serviço de Valor Agregado (SVA) — nome dado a tudo aquilo que se pode fazer com um telefone celular, além de falar, como baixar e ouvir música, baixar jogos e aplicativos e navegar na internet — chegava a hora de regressar à capital italiana. Mas, nesse meio tempo, em 2004, ele conheceu


Luciana Silva Moura, que, na época, era consultora de uma empresa de tecnologia que prestava serviço à TIM. Por essas coincidências da vida, ambos trabalhavam no mesmo andar de um edifício comercial na Rua Chile, no centro do Rio. Algum tempo depois, começaram a namorar. Mas não teve jeito. Em abril do ano seguinte, Paolo teve de fazer as malas e retornar a Roma. — Durante um ano, quando a saudade apertava, eu e Luciana sempre dávamos um jeito de nos encontrar. Ela ia para Roma ou eu vinha pra cá — conta. O fato é que ficar na ponte aérea Galeão-Fiumicino era complicado demais. Então, o romano Paolo e a niteroiense Luciana decidiram se casar, o que aconteceu em março de 2006. — Estava tudo certo para que, depois do casamento, ela fosse morar comigo em Roma. Mas um telefonema mudou minha vida novamente — lembra. Eles estavam curtindo a lua de mel na Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte, quando, de repente, seu celular tocou. Era uma pessoa do departamento de Recursos Humanos da TIM na Itália, questionando se ele não gostaria de retornar ao Brasil, já que a empresa precisava de um diretor com sua experiência justamente onde? No Rio de Janeiro, claro! — Fiquei superfeliz. Foi o melhor presente que a gente poderia ter recebido. Em seguida, voltamos para a Itália para pegar as nossas coisas e regressamos ao Rio. Paolo ficou na TIM Brasil até dezembro de 2010 como o responsável pela oferta de SVA na área de Marketing. Depois, em janeiro de 2011, tornou-se Country Manager da Retis do Brasil, outra empresa da área de tecnologia, que, em parceria com a própria TIM Brasil, entre outras iniciativas, instalou uma rede Wi-Fi na comunidade da Rocinha. Depois, em 2013, tornou-se consultor independente, atuando nas áreas de telecomunicações e marketing. Internauta navega sem precisar de senha ou preencher cadastro Em janeiro deste ano, Paolo decidiu abrir no Brasil a wiMAN, da qual é CEO, que atua na Itália há cinco anos. A empresa emprega três funcionários no Rio de Janeiro, três em São Paulo, além de 25

representantes comerciais em vários estados do país. A WiMan é uma startup que oferece um tipo de serviço que engatinha no Brasil. — Trata-se do que chamamos de Social Wi-Fi. Ele é baseado em um roteador, que permite a qualquer pessoa, usando apenas a senha do Google ou do Facebook, acessar a rede Wi-Fi de um estabelecimento comercial que use nossa solução — explica Paolo Di Loreto, já misturando um pouco o acento romano e o sotaque carioca. A tecnologia oferecida pela empresa, na verdade, cria duas redes separadas: uma interna, de uso fechado, e com toda segurança para o estabelecimento. E outra aberta, pública, acessada de forma simples e rápida por qualquer cliente ou consumidor. Aos dois públicos, o serviço oferece várias vantagens. — Uma delas é que, para acessar a rede Wi-Fi do estabelecimento, o usuário não precisa solicitar senha a ninguém, tampouco preencher qualquer cadastro para navegar na internet. Ele consegue navegar na web de forma rápida e quase automática — explica. A Wiman já instalou esse serviço inovador em mais de 50 empreendimentos comerciais pequenos, médios e grandes em vários estados brasileiros, como academias de ginástica, cafés, bares, sorveterias e restaurantes (inclusive no Eataly, recém-aberto em São Paulo). Outros 50 estão em teste. — Para os estabelecimentos comerciais, que não pagam um custo muito elevado por isso, é uma importante ferramenta de marketing e de relacionamento, pois a solução permite conhecer melhor o cliente conectado à rede e enviar sugestões de promoções e ofertas de produtos e serviços. Também aumenta o número de likes no Facebook e ter mais segurança digital, já que ele não se torna responsável pelos dados e informações que trafegam em sua rede — comenta Di Loreto. Empresa foi criada em uma pequena cidade da Puglia A wiMAN, criada em 2009 por Michele Di Mauro e Massimo Cuiffreda na pequena cidade de

Foram investidos nove mil reais em uma rede que cobre uma área de 500 metros quadrados a partir do Parque Minhocão

Mattinata, com cerca de seis mil habitantes, na Puglia, no sul da Itália, nasceu com o espírito social de levar gratuitamente o sinal de internet à maior parte das pessoas e, com isso, reduzir o chamado Digital Divide (Exclusão Digital). — Tudo começou assim. Sempre acreditamos que é preciso inovar para não morrer — observa o italiano. Por isso, além de suas atividades comerciais que permitem a sustentabilidade econômica da empresa, ela também procura apoiar projetos sociais. Um deles — sugerido pelo também romano Matteo Gavazzi, representante da wiMAN em São Paulo — resultado de uma parceria com a Associação do Parque Minhocão, começou a funcionar na capital paulista em maio passado. — Ao conhecer o projeto, fiquei encantado com a possibilidade de perpetuar a filosofia da empresa, oferecendo à população local uma rede Wi-Fi rápida, com acesso livre e gratuito, criada por nós, sem nenhum parceiro privado — explica Paolo. A empresa investiu cerca de nove mil reais em uma rede que suporta até 400 pessoas conectadas simultaneamente, cobrindo uma área de 500 metros quadrados a partir da sede da Associação do Parque Minhocão, nome oficial do Elevado Presidente Costa e Silva, no centro de São Paulo.

Startup superpremiada

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om apenas seis anos de vida, a wiMAN já coleciona vários prêmios importantes. Em 2012, foi um dos destaques da Leweb, uma das principais conferências de tecnologia da Europa. No final de 2014, a TIM Ventures, sociedade do Grupo Telecom Itália, concedeu um prêmio no valor de 700 mil euros por considerá-la uma das melhores startups do país. O melhor veio em maio deste ano, em São Francisco, nos Estados Unidos, quando a Google indicou o design do aplicativo da wiMAM (que localiza redes gratuitas de Wi-Fi) como um dos 18 melhores do mundo.

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Notícias

Casa Itália

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Corrida pela imigração italiana

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padroeira dos imigrantes italianos no exterior, Santa Francesca Cabrini, foi a homenageada de uma corrida que percorreu 70 quilômetros no norte da Itália, em julho. A estafeta reuniu 60 corredores, foi organizada pela Federação italiana de amadores do esporte para todos (Fiasp) e idealizada por Francesco Buttà, da associação CabriniLand Paths. As camisetas dos corredores traziam nomes de publicações voltadas para comunidades italianas no exterior: o atleta da foto veste camiseta com o símbolo da Comunità. O percurso atravessou as províncias de Milão, Pavia e Lodi, partindo da estação de trem de Milão e terminando em Codogno. Francesca Cabrini nasceu em Lodi em 1850 e foi missionária católica nos EUA, naturalizou-se americana e morreu em 1917.

contagem regressiva para os Jogos Olímpicos já começou e o Comitê Olímpico Nacional Italiano (Coni) escolheu o Costa Brava Clube como sede da Casa Itália durante o evento. O local fica num cenário encantador: próximo à praia da Joatinga, na zona sul carioca. Haverá um espaço reservado para o comitê da candidatura de Roma à sede olímpica de 2024.

Reforço olímpico

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e olho nas olimpíadas, o Brasil naturalizou atletas de modalidades onde o país não tem tradição. Entre aqueles que participaram do último Pan Americano disputado em Toronto, estão dois italianos. Paulo Salemi, que nasceu na Sicília e é neto de brasileiros, está na seleção de pólo aquático que conquistou a medalha de prata. Também naturalizada, Nathalie Moellhausen nasceu em Milão, mas defende o Brasil desde o ano passado. Filha de mãe brasileira, conquistou a medalha de bronze na espada na competição individual e por equipes.

Bauducco nos EUA

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Bauducco vai inaugurar no ano que vem a primeira fábrica fora do território nacional, em Miami, nos Estados Unidos. A unidade vai produzir inicialmente waffers e panetones para o mercado americano, canadense e porto-riquenho. A empresa foi fundada 69 anos atrás por um imigrante italiano e atualmente tem cinco fábricas com capacidade para produzir 200 mil toneladas de alimentos por ano.

450 anos de sinergia

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gondoleiro, escolhido pelos leitores de Comunità através do Facebook como símbolo do Belpaese pelos 450 anos do Rio de Janeiro, figura em uma bela placa colorida instalada na Praça Itália, junto ao edifício do Consulado italiano. Na votação realizada entre março e abril, o personagem típico veneziano liderou as preferências de mais de três mil internautas que deram 56% dos votos, enquanto Dante ficou com 23% e o gladiador com 21% ficaram praticamente empatados. A placa é mais um elemento a enfeitar a praça, que mostra a sinergia da presença italiana na cidade através do Consulado, que “adotou” a praça e além de conservar seus jardins, instalou um paredão verde de 50 metros quadrados e realizou no mês passado o evento Quintal, revitalizando o local.

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Estufas submersas

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Ocean Reef Group, de Sergio Gamberini, idealizou uma estufa para a produção agrícola sustentável no fundo do mar. O nome do projeto é Jardim do Nemo e está sendo desenvolvido em Noli, na Ligúria. O ar na estufa tem 26 graus, com um teor de umidade de cerca 83%, situada a um nível entre seis e oito metros da superfície da água. Além de um ótimo manjericão, usado como ingredientes do pesto, o grupo italiano plantou alface no ano passado e está ampliando a cultura para morangos, peras, ervilhas e cogumelos. Entre as vantagens, está a proteção das pragas que ameaçam as plantações na terra.


Notícias

Projeto Be Mundus

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s doutorandos brasileiros que querem estudar na Itália ou em outras cidades do velho continente têm até dia 15 de outubro para concorrer a bolsas de estudo do projeto Be Mundus, no âmbito do programa Erasmus Mundus da Comissão Europeia. O período de mobilidade é de seis a dez meses numa das instituições europeias parceiras do projeto, entre as quais a Università La Sapienza de Roma e a Cardiff Metropolitan University, da Inglaterra. As bolsas incluem 1.500 euros, despesas com passagens aéreas, seguro e taxas escolares. As áreas são engenharia, e tecnologia e ciências básicas.

Uniforme para o aeroporto

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aeroporto internacional do Rio será a porta de entrada das seleções de atletas e turistas que participarão dos Jogos Olímpicos de 2016. Por isso, a RioGaleão, em parceria com o Sebrae-RJ o Instituto Rio Moda, está a procura de uma ideia para os uniforme dos seus 600 funcionários que valorize a maneira de ser do carioca. A iniciativa recebeu 112 inscrições de designers de moda e em setembro será divulgado o nome do vencedor. O ganhador participará de uma missão técnica de empresários de moda à Itália e visitará durante os principais destinos fashion do país, com o intuito de observar novas tendências e comportamentos de consumo.

O domador de leões

O Italiana descobre o Corão mais antigo

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pesquisadora italiana Alba Fedeli estava estudando pergaminhos do Oriente Médio nos arquivos da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, quando descobriu que eram os fragmentos mais antigos do livro sagrado do Islã, guardados durante mais de um século sem que ninguém percebesse sua importância. Uma análise de carbono confirmou a descoberta. O pergaminho pode ter sido escrito menos de duas décadas após a morte do profeta Maomé por alguém que o teria conhecido pessoalmente.

mítico circense italiano Orlando Orfei faleceu no Rio de Janeiro no dia 1º de agosto, aos 95 anos, vítima de pneumonia. Nascido em Trento, carregava no sangue o DNA de quatro gerações de uma família circense. Após ganhar fama mundial ao entrar numa jaula com oito felinos e percorrer o mundo com suas apresentações, se encantou com o público brasileiro e decidiu fundar no país o Circo Nazionale d’Italia Orlando Orfei e o Tivoli Park, símbolo das crianças cariocas das décadas de 1970 e 1980. Orlando trabalhou com seus leões até o início dos anos 2000 e foi o protagonista do documentário Orlando Orfei O homem do circo vivo, de Sylas Andrade (2012).

É proibido latir Umberto Nigi em BH

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Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte sedia em setembro exposição com cerca de 40 telas do artista plástico toscano Umberto Nigi. Em Livorno, terra natal de Modigliani, o pintor cresceu, se apaixonou pela pintura e começou os estudos. Realizou diversas mostras pelo mundo. Sua arte passou de figurativa para abstrata em meados dos anos 80, utilizando materiais reciclados, como areia, gesso, rede metálica e cola. O estilo de Nigi, marcado pela utilização das cores nos mais diversos matizes, chama a atenção da crítica e do público.

Áreas para selfie

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ara os amantes dos selfie, uma ótima notícia: o prefeito da cidade de Sarzana, na região da Ligúria, inaugurou zonas exclusivas para turistas e moradores fazerem seus autorretratos em ângulos privilegiados. Serão quatro pontos em locais significativos do ponto de vista histórico, cultural e arquitetônico. O objetivo da iniciativa é promover a pequena cidade, rica em patrimônio arquitetônico, situada perto de Cinque Terre.

O

s donos de cachorros da cidade de Controne, no Sul da Itália, estão avisados: os animais que perturbem o silêncio no período dedicado à sesta e ao descanso noturno com latidos deverão pagar uma multa de 25 a 500 euros. De acordo com a norma sancionada em julho, os proprietários dos cachorros que tentem utilizar métodos pouco ortodoxos para que os cachorros fiquem em silêncio também serão punidos. Além disso, o texto ressalta que é proibido “abandonar animais em território público e manter os cães acorrentados com correntes de menos de cinco metros”.

Snoop Dogg na Calábria

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rapper americano Snoop Dogg foi detido no aeroporto da cidade de Lamezia Terme, na Calábria, por portar 422 mil dólares (R$ 1,43 milhão) em espécie. O dinheiro foi descoberto durante um controle de rotina da polícia financeira italiana, que comprovou que o cantor carregava uma quantia que excedia o máximo permitido sem declaração — 11 mil dólares (cerca de R$ 37 mil). O cantor foi liberado após pagar uma multa e teve metade da quantia apreendida, em medida que cumpre a legislação da União Europeia contra a lavagem de dinheiro.

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Entrevista

Futebol

OGalinho de Udine

quer comandar

a Fifa

O craque da Seleção e do Flamengo relembra seus momentos vividos na Itália nos anos 1980, fala de sua candidatura à presidência da Fifa e critica os atuais critérios para a eleição na entidade em entrevista exclusiva à Comunità Maurício Cannone

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rthur Antunes Coimbra, ou simplesmente Zico, tem uma relação com a Itália que passa por suas origens. Neto de uma siciliana de Catania, o camisa 10 da Seleção Brasileira e maior ídolo do Flamengo até hoje também foi ídolo na Itália. Mais precisamente, do Udinese — clube pelo qual jogou 39 partidas com 22 gols de 1983 a 1985, época em que também foi ovacionado até pelos adversários. “Contra o Genoa, estava 4 a 0 para o Udinese e fiz o quinto gol de falta e a torcida adversária vibrou”, lembra. Este carioca de 62 anos, que marcou 826 gols em jogos oficiais, amistosos e festivos, também faz história no esporte fora de campo, fez seu jogo de despedida no Maracanã, estádio do qual ainda hoje é o maior artilheiro de sempre com 333 gols, pelo Flamengo, em 1990, ano em que se tornou secretário de esportes, quase um ministro, do então presidente Fernando Collor. Depois, rodou o mundo: foi jogador, técnico e dirigente no Kashima Antlers, trabalhou como coordenador técnico ajudando o treinador Zagallo na Seleção vice-campeã mundial de 1998, foi técnico da Seleção Japonesa na Copa do Mundo de 2006, treinou o Fenerbahçe (Turquia), Bunyodkor (Uzbequistão), CSKA (Rússia), Olympiakos (Grécia), Seleção Iraquiana, Al-Gharafa (Catar) e comanda o Goa, time da Índia, desde 2014. No país asiático, é preciso tomar cuidado com alguns costumes, explica. “Na Índia, 30

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tem escrito atrás dos caminhões buzine por favor. O trânsito é terrível lá e na Turquia. Na Índia não há muitos sinais. Na Turquia, sim, mas nego não respeita”, comenta. O craque recebeu Comunità no CFZ, Centro de Futebol Zico, clube que fundou no bairro carioca do Recreio dos Bandeirantes. ComunitàItaliana — Como foram aqueles dois anos no Udinese? Quais as lembranças mais fortes daquele tempo? Zico — Boa receptividade, carinho, amizade. Tenho ainda hoje algum contato com jogadores daquela época, como Causio, Gerolin, Miano, De Agostini, Virdis, Tesser, Mauro. Com o pessoal daquelas torcidas, do grupo que abriu o fã-clube Nos anos 80, assim como Maradona, Zico foi um dos grandes nomes do campeonato italiano, ovacionado até pelos torcedores rivais, lembra o craque: “Não temos essa cultura de aplaudir o adversário”

de Orsaria (fração de Premariaco, na província de Udine), Arthur Zico, tenho contato mais direto. CI — O que mais estranhou em Udine? Zico — O mais problemático era o tempo muito grande de frio. A gente saía do calor do Rio... Udine fica do lado da antiga Iugoslávia, mas não fui muito lá. Só passeava às segundas-feiras com meus filhos em Veneza, que era perto. CI — Torcidas italianas adversárias o aplaudiam... Zico — Só o Verona era o inimigo mortal de Udine. Com as outras torcidas, eu era muito bem recebido. Contra o Genoa, estava 4 a 0 para o Udinese e fiz o quinto gol de falta e a torcida adversária vibrou. Mas o melhor foi mesmo em Catania. Tinha dado uma declaração antes do jogo de que gostava muito de jogar em Catania, cidade da minha avó materna Josefina, que se casou com meu avô Arthur, português. A torcida inteira do Catania ficou gritando para eu bater a falta quando estava 1 a 0 para nós. Bati, fiz o gol e a torcida vibrou. O Catania tinha os brasileiros Pedrinho e Luvanor. O Pedrinho disse depois do jogo: “Como podia ganhar se a minha torcida estava com o adversário?”. Foi uma emoção grande,


coisa impensável no Brasil. Não temos essa cultura de aplaudir o adversário. O máximo que pode fazer é ficar em silêncio. CI — Em 1989, Udine foi o lugar de sua despedida da Seleção contra o Resto do Mundo. Zico — Foi uma festa bonita. Udine, a partir do momento em que fui para lá, se tornou conhecida no mundo inteiro. Era a cidade onde o Zico jogava. São gratos por isso. CI — “Ou Zico ou Áustria”, diziam quando a federação queria impedir sua transferência por uma suposta irregularidade. Isso porque Udine já pertenceu à Áustria... Zico — Chato chegar a esse ponto, mas fazer o quê?

Trouxe japonês para o Brasil para ver o trabalho do roupeiro, do fisioterapeuta. Mas fui também treinador dos goleiros, utilizando a técnica do Nielsen, com quem havia trabalhado no Flamengo. Assim começou tudo até o Kashima se estruturar e contratar isso tudo. O Japão foi pela primeira vez à Copa do Mundo em 1998 e depois participou de todas. Na Copa de 2006, fui técnico da seleção japonesa. No Uzbequistão, foi mais em termos de clube. A evolução do Bunyodkor fez com que os outros tivessem crescimento. O nosso time foi à semifinal da Liga dos Campões da Ásia e ganhou outra copa continental.

“Na Fifa, é preciso ter dois anos em algum cargo para ser candidato. Por que um preparador físico, médicos, técnicos não podem se candidatar? Por que é preciso uma federação para indicá-los? Eu trocaria na mesma hora os critérios”

CI — Ainda torce pelo Udinese? O clube o chamou para trabalhar lá como técnico depois que parou de jogar? Zico — Sempre torço pelo Udinese, mas não me chamaram. Não gosto de trabalhar onde joguei. CI — Mas no Kashima Antlers, do Japão, você foi jogador, técnico e dirigente. Zico — Foi diferente. O objetivo era construir uma equipe, uma estrutura. Joguei para dar o pontapé inicial. Mostrar o que era o profissionalismo, dar uma cara ao que a gente queria fazer. Não me sentia jogador. Queria mostrar o espírito de vitória, de seriedade nos treinamentos. Joguei em 1991-1992 na segunda divisão, no Sumitomo Metals, time da fábrica. A gente precisava ficar em primeiro ou segundo lugar no campeonato para ir para a liga profissional. E depois o clube subiu, mudou o nome para Kashima. Lá fui massagista, roupeiro, tudo. Trabalhei com uma equipe que levei para lá. O Carlos Alberto Santos dava treinos para a defesa. Abelha para os goleiros, treinos individuais para os jogadores.

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Entrevista “Um órgão como o FBI não iria colocar a cara numa situação dessas sem ter percentual alto de certeza, bem documentado. Se fosse uma coisa legal não estariam presos até hoje. Alguma coisa deve ter para estarem nessa situação” CI — E agora na Índia? Zico — Se não mudarem a infraestrutura, vai ser difícil crescer. Zero em condições de treinamentos. Não é liga pirata, mas paralela, com regras não benéficas. Limitam o número de jogadores. Por exemplo, podem inscrever seis estrangeiros e assim jogam cinco indianos. Os indianos jogam em geral pelas alas, laterais e nas outras posições e não aprendem. Se fossem só três estrangeiros e mais um asiático, o desenvolvimento seria melhor. Mas não se acertaram ainda. A Seleção da Índia perdeu até para Guam. É uma diferença grande. CI — Há estrangeiros de mais de 40 anos... Zico — Nomes para a torcida, mas dentro de campo as coisas não aconteceram como queriam. Del Piero quase não jogou, assim como Trezeguet. Pires foi mal como David James. Luis García, mesmo sendo mais jovem, não foi dos melhores; Materazzi teve problemas. O time do Anelka foi o último. Agora estou levando para o Goa o Lúcio, que foi zagueiro da Seleção Brasileira e do Internazionale. Continuam lá o Materazzi e o Anelka, como técnicos-jogadores, e o Roberto Carlos, que está no time que era do Del Piero.

Futebol depois das investigações do FBI e da polícia suíça? Zico — Ruim para o futebol, para a entidade. Denigre a imagem de uma entidade responsável pelo principal esporte do mundo. Foi péssimo.

atrás da outra. Desde que estou no futebol, em pouco mais de 40 anos, a Fifa teve só três presidentes: João Havelange, Joseph Blatter e Stanley Rous, do qual me lembro muito pouco, porque eu estava começando.

CI — Esperava a prisão do José Maria Marin, ex-presidente da CBF? Zico — Não podemos falar daquilo que não estamos vivenciando. Só quem está nos bastidores sabe o que acontece. Mas um órgão como o FBI não iria colocar a cara numa situação dessas sem ter percentual alto de certeza, bem documentado, para tomar esse tipo de atitude. Se fosse uma coisa legal não estariam presos até hoje. Alguma coisa deve ter para estarem nessa situação.

CI — O Catar, onde você também trabalhou, pode fazer a Copa do Mundo 2022? Zico — Foi onde tive mais tristeza no futebol. Dez pessoas num estádio. O público não ia aos jogos, nem da seleção. Quando vi mais gente no estádio lá foi num Real Madrid x Paris-Saint Germain.

CI — Mudaria os critérios para a eleição à presidência da Fifa? Zico — Ninguém tem de ser indicado de ninguém. Na Fifa é preciso ter dois anos em algum cargo no futebol para ser candidato. Técnicos, médicos que trabalham no futebol... Será que não têm capacidade para serem indicados? Por que um preparador físico não pode se candidatar? Por que é preciso uma federação para indicá-lo? Eu trocaria na mesma hora os critérios. Por que não aumentar esse colégio eleitoral? Para decidir o local de uma Copa do Mundo, são oito, dez pessoas. Atletas poderiam votar, personagens do futebol, árbitros, torcedores. Poderia ter um peso maior para certos países. China, Índia não podem ter o mesmo número de votos do Brasil, da Itália, da Alemanha, que ganharam muitas Copas, seja em clubes, seja nas seleções. Na CBF, a mesma coisa. Para ser candidato, é preciso o apoio de oito federações, mais cinco clubes. Assim, não pode ter mais de três candidatos. Uma reeleição

CI: — Como vai a sua candidatura à presidência da Fifa? Zico — Preciso de uma federação para me indicar e mais quatro, cinco no total para ser candidato*. Mandei uma carta para a CBF. Primeiro, preciso ser indicado pela confederação do meu país para depois tentar apoio dos outros. Joguei dez anos pela Seleção Brasileira. CI — Como avalia as prisões de dirigentes ligados à Fifa 32

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CI — Não volta a trabalhar no Flamengo nem como presidente? Zico — Foi triste quando trabalhei lá [Zico exerceu o cargo de diretor de futebol no clube durante quatro meses em 2010]. Nas eleições para a diretoria, vou apoiar o grupo do Wallin Vasconcelos. Ele pode ser o representante do grupo que toma decisões. Mas vou dar apoio de fora; não quero cargos no clube. Um direito meu de sócio-proprietário, comprado com meu dinheiro quando eu jogava. CI — O Flamengo engrena com Guerreiro? Zico — Ele e o Emerson Sheik estão muito bem. Fazem crescer os outros, transferem a responsabilidade para eles mesmos. Assim os outros jogam mais tranquilos e a coisa pode funcionar bem. CI — Recebeu convite para treinar na Itália? Zico — Sim, depois que eu saí da Grécia, onde treinava o Olympiakos. Mas a proposta não era boa. Nem vale a pena lembrar. CI — Você ainda fala bem o italiano? Zico — Falo. Na Turquia falei italiano na apresentação porque quem me levou para lá era italiano. Não tinha intérprete ainda na ocasião. Falo um pouco de inglês, espanhol. Não arriscaria dar uma entrevista em inglês, poderia colocar uma palavra de modo errado. Na Índia, falo inglês, mas trabalho com intérprete. *Zico concedeu esta entrevista dois dias antes de obter o apoio da CBF à sua candidatura ao comando da Fifa para as eleições marcadas para fevereiro de 2016. Agora, ele precisa do apoio de mais quatro federações.


Alpinismo

Cervino, uma história sem fim

Livro relembra os 150 anos da dramática expedição que custou a vida de quatro alpinistas na quinta maior montanha dos Alpes Guilherme Aquino

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De Milão

le está lá. Imóvel, há alguns milhares de anos, quando a cordilheira dos Alpes levantou-se e deixou o fundo do mar. Condenado a desaparecer pela erosão natural, resiste a ventanias, nevascas e às retiradas de geleiras que minam a sua imensa estrutura. Por enquanto, ele, o Cervino, some apenas quando uma tempestade violenta se abate sobre as suas encostas íngremes. No horizonte, das janelas mais altas dos prédios de Turim, aquele desenho pontiagudo se destaca dos outros cumes que se erguem aos pés da cidade. O Cervino foi a última grande barreira alpina a cair nas mãos dos conquistadores de inutilidades, como se definem alguns dos mais importantes alpinistas, entre eles o italiano Reinhold Messner, pioneiro na ascensão sem a ajuda de oxigênio artificial nos 14 picos mais altos do planeta, acima dos oito mil metros de altitude. O maior alpinista de todos os tempos rendeu a justa homenagem aos 150 anos da primeira escalada ao local, lançando o livro Cervino, a rocha mais nobre, pela editora Corbaccio. Nas 252 páginas, Reinhold Messner entra na mente dos personagens que escreveram a história da subida de 14 de julho de 1865. A quinta maior montanha do arco alpino, com seus 4.478 metros de altura, era o último baluarte a cair diante da “soberania” humana, depois do Monte Bianco e do Monte

Rosa. Mas cobrou caro pela “violação” de um território inóspito e inacessível, até aquele dia fatídico. O italiano Carrel e o inglês Whymper: cada um foi para um lado do Cervino A triste escalada ocorreu apenas por causa de uma intuição do guia italiano de Valtournenche, Jean-Antoine Carrel, 36 anos incompletos. Ele se recusou a participar da expedição organizada pelo inglês Edward Whymper, um jovem arrojado e algo abusado, pintor, e que até os 20 anos de idade nunca tinha visto uma montanha de verdade, mas, depois de uma excursão aos Alpes franceses de Mont Pelvoux, transformou aquele nome num objetivo de vida, uma verdadeira obsessão. O britânico estudou mapas e fotografias, e estava certo de realizar a subida pela encosta suíça, a crista nordeste do Matterhorn, a partir de Zermatt, e não pela linha sudoeste, com ponto inicial em Breiul. Carrel pensava e queria o contrário. Ao final, cada um partiria seguindo o próprio caminho; Carrel antes, na surdina; e Whymper logo depois, furioso e apressado. Ambos eram os únicos convencidos de que era possível escalar aquele imenso símbolo da natureza. Carrel, crescido aos pés do Cervino, queria saber como era chegar lá em cima e estava disposto a ir além dos 3.700 metros que tocou, em 1857, junto a outros guias. Enquanto isso, Whymper era movido pela sede de fazer algo grandioso numa vida, até ali, medíocre e ordinária, resultado de uma pífia existência como

O alpinista Reinhold Messner revela no livro Cervino, il più nobile scoglio detalhes sobre a escalada de JeanAntoine Carrel, o primeiro a escalar o cume da montanha do lado italiano

alpinista social. Diante da negativa de Carrel e da informação de que o italiano estava se dirigindo para a montanha para escalá-la, Whymper voltou-se para o outro lado do Cervino, na encosta suíça de Zermatt, onde contratou, a peso de ouro, junto com outros três ingleses, os guias locais Taugwalder, o pai e filho Peter e Peter Júnior, e o guia francês Michel Croz. Mas o acidente na descida, quando uma corda arrebentou, despejando quatro escaladores mil metros abaixo, sem chance de fuga, ofuscou a conquista do Cervino. A montanha se vingaria ao dar mais fama à tragédia e bem menos atenção ao feito em si. Foi discutido até a exaustão o drama da expedição e se falou pouco sobre os seus méritos. Até hoje se debate sobre as causas da queda, iniciada com um escorregão na beira de um precipício da parede Norte, a pouco menos de cem metros do cume. Os Taugwalder se fecharam num respeitoso silêncio, enquanto Edward Whymper escrevia um livro dando a sua versão dos fatos. Os três únicos sobreviventes nunca mais voltariam a se encontrar depois da tragédia. Ao final, o guia italiano Jean Antoine Carrel chegaria ao topo da montanha três dias depois pelo lado oposto, ou seja, da Itália. Ele voltaria são e salvo, com os outros integrantes da expedição, e tomaria conhecimento da tragédia. Apenas o corpo do lorde Douglas nunca foi encontrado. Subir o Cervino ou o Matterhorn depende do ponto de vista e de partida, e representa um marco na vida dos amantes e dos praticantes do montanhismo. Somente porque ela, a montanha, está lá.

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Esperanças olímpicas Brasil, cuja melhor posição em Olimpíadas foi a 16ª, vai tentar ficar pela primeira vez entre os dez primeiros países, enquanto a Itália, que já ficou em sexto, estima ganhar 25 medalhas no Rio Maurício Cannone

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uando a chama olímpica for acesa no dia 5 de agosto de 2016 no Maracanã, para abrir a Olimpíada do Rio, Brasil e Itália terão sonhos parecidos. O dono da casa tentará chegar a um nível nunca atingido: ficar entre os dez primeiros no quadro geral de medalhas, faixa na qual o Belpaese costuma estar até em condições melhores. Em Londres 2012, a Itália terminou em oitavo, com oito ouros, nove pratas, 11 bronzes; o Brasil foi 22º, com três ouros, cinco pratas, nove bronzes. Comunità consultou os comitês olímpicos de Brasil e Itália. O Coni (Comitato Nazionale Olimpico Italiano) estima ganhar em torno de 25 medalhas no Rio, mas lembra: se forem todas de bronze, arrisca terminar abaixo da 60ª posição. Ficar entre os dez ou 15 primeiros é a expectativa italiana. Nas últimas seis olimpíadas, seu pior resultado foi em Barcelona 1992, o 12º lugar; o melhor ocorreu em Atlanta 1996, quando ficou em sexto. Nesse mesmo período, a pior colocação do Brasil foi em Sydney 2000, em 52º lugar; o melhor foi a 16ª posição, em Atenas 2004. Para cumprir a meta de ficar entre os dez primeiros, o Brasil pensa em conquistar de 26 a 30 medalhas na Cidade Maravilhosa. O esporte que mais fez a Itália conquistar medalhas na história dos Jogos foi a esgrima: 121, 48 de ouro, 40 de prata, 33 de bronze. No Rio, a azzurra sai em desvantagem, pois não haverá o florete feminino por equipes, modalidade na qual o país conquistou o ouro três vezes seguidas (1992, 1996 e 2000); em Atenas 2004, não foi disputada; em Pequim 2008 ficou com o bronze; em Londres 2012 tornou a subir ao lugar mais alto do pódio. O sabre masculino por equipes, no qual a Itália foi bronze em Pequim 2008 e Londres 2012, também está fora do programa em 2016. Outro prejuízo. No Mundial de esgrima 2015, disputado em julho em Moscou, a Itália ficou em segundo lugar geral, atrás da Rússia, dona da casa. A delegação trouxe quatro

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ouros: no individual feminino com Rossella Fiamingo na espada; por equipes no sabre masculino (Enrico Berrè, Luca Curatoli, Aldo Montano, Diego Occhiuzzi); no florete masculino (Andrea Baldini, Andrea Cassarà, Daniele Garozzo, Giorgio Avola); no florete feminino (Elisa Di Francisca, Arianna Errigo, Martina Batini, Valentina Vezzali). Além de um bronze: Arianna Errigo, no florete individual feminino. O ciclismo é uma instituição da Itália. Na pista, a maior esperança masculina é Elia Viviani. Na estrada, Vincenzo Nibali está no seleto grupo de ciclistas a já ter vencido as três principais voltas: França, Itália e Espanha. No feminino, o destaque é Elisa Longo Borghini. Na natação, nunca se deve descartar a campeã Federica Pellegrini. Mas os refletores apontam para Gregorio Paltrinieri como grande candidato ao pódio dos 1.500 metros. Ainda na piscina, mas nos saltos ornamentais Tania Cagnotto é considerada a melhor italiana de todos os tempos nesse

esporte. Francesca Dallapè é outra estrela. As duas competem separadas e juntas no trampolim de três metros. O Settebello, time masculino de polo aquático, sem deixar de lado o Setterosa, equipe feminina. No atletismo, Marco Fassinotti, do salto em altura, é o mais cotado para o pódio entre os homens. Entre as italianas, Eleonora Giorgi, nos 20 km de marcha, e Valeria Straneo, na maratona, estão entre as favoritas. Capítulo lutas. No taekwondo, a Itália tem esperanças com Carlo Molfetta, “o lobo”, campeão olímpico em Londres na categoria + 80 quilos. No judô, as expectativas são menores. No boxe, Clemente Russo, também ator e policial, está na lista dos candidatos ao pódio. Ele ganhou a prata nos 91 quilos nas Olimpíadas de 2008 e 2012. Na luta livre, o principal nome do esporte da Itália nasceu em Cuba: Frank Chamizo. Tiro esportivo e tiro com arco são outros esportes candidatos ao pódio com os azzurri. Deslocamento das competições da poluída Baía de Guanabara para o alto mar favoreceria britânicos, italianos, franceses e australianos No remo, o quarteto sem timoneiro de Di Costanzo, Castaldo, Lodo e Vicino pode sonhar com medalha, assim como as duplas Fossi-Battisti e Ruta-Micheletti, no masculino. Entre as mulheres, destaca-se a dupla Elisabetta Sancassani-Laura Milani. Na vela, não se pode menosprezar a Itália. São bons candidatos Vittorio Bissaro- Silvia Sicouri, dupla mista, classe Nacra 17; Gabrio Zandonà- Andrea Trani, na 470 masculino; no feminino Giulia Conti- Francesca Clapich, na 49er FX, Flavia Tartaglini, na RS:X, a prancha à vela. A Baía de Guanabara, cenário das competições, recebe uma enxurrada de críticas dentro e fora do Brasil pela poluição e lixo. Para a Confederação


Brasileira de Vela, isso tem outro motivo: potências desse esporte como Grã-Bretanha, França e Austrália seriam favorecidas se as competições fossem deslocadas para alto mar, assim como a Itália. Na baía, os brasileiros sabem virar-se melhor. Martine Grael e Kahena Kunze lideram o ranking mundial da 49er FX. Na RS:X, Patrícia Freitas entre as mulheres, e Ricardo Winicki, o Bimba, no masculino, são fortes. No laser, Robert Scheidt briga sempre pelo pódio. E a também brasileira Fernanda Coelho pode fazer bonito na Laser Radial. Futebol italiano não se classificou para as Olimpíadas O tradicional duelo no futebol entre Brasil e Itália não vai acontecer. Como dono da casa, o Brasil já está classificado e vai tentar sua primeira medalha de ouro olímpica da história. Mas a Itália não se classificou nem no masculino nem no feminino. Já Marta e suas companheiras sonham com o ouro inédito também para as mulheres brasileiras nos Jogos, embora o Brasil não seja o favorito. No vôlei de quadra, ambos os países não sabem se terão oportunidade de enfrentar-se no Rio. O Brasil, como país organizador, está garantido, mas os italianos ainda não se classificaram. O vôlei é o esporte que mais deu medalhas ao Brasil em todas as Olimpíadas somadas quadra e praia: 20. A presença brasileira foi massacrante no Mundial de praia em julho passado em Haia, Holanda. Alison e Bruno Schmidt ganharam entre os homens e a dupla Pedro Solberg-Evandro ficou em terceiro. Entre as mulheres, o pódio foi todo brasileiro: Ágata-Bárbara, ouro; Fernanda Berti-Tatiana, prata; Juliana-Maria Elisa, bronze. Na quadra, o Brasil está entre os principais do mundo no masculino e no feminino. Mas principalmente entre os homens os últimos resultados não foram tão bons. Sem esquecer que a equipe feminina brasileira é campeã mundial de handebol.

Há técnicos italianos trabalhando em seleções brasileiras. Ettore Ivaldi tem atletas dos quais pode orgulhar-se na equipe de canoagem slalom, da qual é chefe: — O objetivo é chegar às finais, depois veremos — responde Ivaldi, prudente, à Comunità. Ana Sátila tem possibilidades a mais de medalha. Aos 19 anos, foi a primeira mulher a ganhar o ouro na canoa simples para o Brasil no Pan-americano. O polo aquático masculino do Brasil é uma Torre de Babel. A seleção do técnico croata Ratko Rudic tem jogadores nascidos em diversos países, entre os quais o italiano Paulo Salemi. Os Estados Unidos até protestaram contra o excesso de estrangeiros na seleção brasileira. Ainda na piscina, César Cielo, tentará repetir o ouro de 2008 nos 50 metros nado livre. Thiago Pereira e Felipe França são outros nomes de peso na natação. Entre as mulheres, Etiene Medeiros é a revelação. Na maratona aquática, Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto são as esperanças.

Entre os atletas promissores, estão o italiano Andrea Baldini, ouro no florete masculino em 2012, o ítalobrasileiro Arthur Zanetti, ouro nas argolas em 2012, e o brasileiro César Cielo, ouro em 2008 nos 50 metros nado livre

Zanetti vai tentar repetir o ouro Na esgrima, a italiana Nathalie Moellhausen vai tentar bom resultado pelo Brasil, terra de sua mãe. No sabre, Renzo Agresta, sonha em trazer a primeira medalha olímpica na esgrima para o Brasil. O oriundo Arthur Zanetti, ouro nas argolas em Londres, apelidado de senhor dos anéis, vai tentar repetir a medalha. O judô também é considerado uma mina de medalhas, mas no Rio a concorrência será bem mais acirrada. Cássio Rippel no tiro esportivo; Yane Marques, bronze no pentatlo moderno em Londres, e Fabiana Muhrer, do salto com vara, também podem voar alto. O Brasil voltou do Pan em terceiro lugar, com 141 medalhas. O superintendente executivo de esportes do COB, Marcus Vinícius Freire, alertou: na Olimpíada serão 205 países, no Pan, foram 41. A tarefa será muito mais dura. Mas sonhar não custa.

Os EUA chegaram a protestar contra o excesso de estrangeiros na seleção brasileira de polo aquático masculino, que conta com o técnico croata Ratko Rudic e jogadores nascidos em diversos países, como o italiano Paulo Salemi

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Sustentabilidade

Importada do futuro Ao aliar portabilidade e design, engenheiro de Salerno cria uma bicicleta dobrável sem aros, que confirma a tradição do made in Italy Rodrigo Silva

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ada vez mais as pessoas optam pela bicicleta como meio de transporte nas grandes cidades. Essa busca, além de ser sustentável e reduzir a poluição e o trânsito, é prazerosa. Porém, tem como desvantagem a necessidade de ser transportada em metrôs ou guardada em pequenos apartamentos. Pensando nisso, o engenheiro italiano Gianluca Sada desenvolveu a Sada Bike, uma bicicleta funcional, feita em alumínio, com rodas de aro 26, sem raios e com quadro flexível que se dobra a partir de um simples toque. Depois de dobrada, fica do tamanho de um guarda-chuva, 36

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podendo ser facilmente carregada ou guardada. O design inovador uniu conforto e ergonomia: quando dobrada, seu tamanho é consideravelmente menor em relação às outras bicicletas convencionais dobráveis de rodas com aro 16 ou 20. Natural de Battipaglia, na província de Salerno, o engenheiro formado pelo Politécnico de Turim, mora na capital do Piemonte com a família. Quando estava por terminar a faculdade de engenharia mecânica, apresentou como objeto de estudo a bicicleta sem aro.

— A ideia nasceu por acaso quando pensei na brincadeira das crianças com bastão e aros. Todo o projeto partiu do inovador conceito de eliminar os raios. Em seguida, os estudos de engenharia me permitiram modificar e finalizar a ideia, até registrar a patente e apresentá-la como tese de graduação. — explicou à Comunitá. O projeto proporcionou ao jovem diversos prêmios e reconhecimentos, como o Idea-To 2010, realizado pela Ordem dos Engenheiros e do Politécnico de Turim, pelo qual ficou em 1° lugar em tese de graduação de caráter inovador. O engenheiro também foi selecionado entre os 200 jovens no Festival Giovani Talenti, do Ministério da Juventude, pelo qual a Sada Bike foi escolhida como 10ª start-up de 2014, no concurso realizado pela MIA, Macchianera Italian Awards. Sistema que desconecta a borda dianteira permite ser dobrada com “a pegada de um guarda-chuva” O sistema de ancoragem das rodas de aro 26 conta com o suporte de duas outras rodas menores, apoiadas por uma armação e por dispositivos específicos de fixação rápida, o que possibilita dobrar a bicicleta sem nenhuma dificuldade. — O sistema de dobragem tem um ponto de apoio que permite


fechar de modo tão compacto quanto uma pegada semelhante a um guarda-chuva — explica Gianluca Sada. A bicicleta é facilmente dobrada, uma vez que a borda dianteira é desconectada com um único movimento, forçando o selim. A antecipação do eixo da sela faz com que bicicleta dobre automaticamente em alguns segundos, graças a um sistema de guias e rodas dentadas. A implementação do projeto, para chegar ao protótipo atual, foi apoiado em um estudo da Battipaglia Technodesign. O protótipo foi realizado em Ergal, uma liga de alumínio, através de usinagem para remoção de arestas, com máquinas de controle numérico realizado graças à colaboração do Studio Battipaglia Techno Design. A construção de todos os seus componentes requer a aplicação de materiais e técnicas de produção específicas, que dificilmente estariam disponíveis nos meios de produção de bicicletas comuns.

Ainda não há um preço definido para a Sada Bike, mas o seu inventor, que ainda está avaliando a internet como canal de vendas, garante que será comercializada em breve

O design inclui um case que vira mochila, cuja estrutura são as rodas sem raio O design é totalmente focado na portabilidade e na economia de espaço. O veículo possui um case especial que se transforma em uma mochila, o que possibilita carregar a bicicleta. A mochila possui uma alça central que permite expansão no modo trolley: assim, as rodas possuem dupla função ao atuarem como elemento estrutural. As rodas sem raio, além de atuarem como estrutura da mochila, também possibilitam o aproveitamento de seu espaço interno para carregar livros, roupas ou até mesmo um notebook. — É um produto “transversal” que une as necessidades dos fãs de design, funcionalidade e conforto. Une todos os que querem locomover-se especialmente na cidade e usar os meios de transporte público sem o incômodo de transportar bicicletas dobráveis volumosas. E oferece a possibilidade de levar a bicicleta dobrada com a conveniência de uma grande mochila em uma única bagagem — enumera o inventor. A ausência de raios pode despertar dúvidas quanto à sua durabilidade. Rodas de bicicleta normalmente obtêm força a partir da tensão nos raios. Removê-los significa que a força deve ser colocada diretamente para a roda. Essa redistribuição de força acrescenta massas de peso na parte exterior da roda, o que poderia prejudicar a durabilidade do projeto. O engenheiro, no entanto, garante que a falta de raios de fato não prejudica a durabilidade.

Com design atraente e desenhada para ser usada na cidade, a Sada Bike pode ser dobrada e facilmente transportada. A roda é reforçada devido à ausência de aros

— A característica da total ausência de aros precisou de estudos meticulosos, além de atenção ao projeto da seção do aro. Graças a isso, o produto garante solidez e estabilidade, tanto do ponto de vista dinâmico quanto em percursos acidentados ou em caso de eventuais desgastes — ressalta. O sistema de mudança de velocidade está localizado na coroa do pedal, o que lhe permite alterar a velocidade em 2,5 vezes. Sem cabos ou controles no guidão, a mudança de marcha é feita quando o usuário pressiona um pequeno botão com os pés. A corrente transmite o movimento para a roda inferior, que transfere o torque para a roda traseira. Para a produção em série do seu invento, Gianluca firmou um acordo com Giovanni Tonno, engenheiro da Fomt Spade Turim, uma fábrica que atua no setor automotivo, especializada no trabalho com materiais especiais, ligas leves e mecânica de precisão. A Sada Bike estará à venda em breve, após últimos ajustes, promete Gianluca, que, junto com seu sócio, ainda estão avaliando o mercado, em especial a internet como canal de vendas, devido à significativa demanda do produto em vários países do mundo. Ainda não há um preço fixado para a Sada Bike, definida pelo seu criador como um produto premium, estudado e concebido para usuários de forte personalidade e para os amantes do design. — A nós, mais que o custo, nos dá prazer falar do valor de um autêntico estilo made in Italy — finaliza o jovem engenheiro. com unit àit aliana | agost o 2015

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História

Choque de

exemplo

Quase 90 anos depois, recordar a execução de Sacco e Vanzetti é útil para aqueles que pregam soluções simplistas para o problema da imigração ilegal Stefano Buda

U

De Roma

ma história amarga, de emigração italiana, uma história feia que terminou mal e que deveria ser útil para nos lembrar de onde viemos e deveria representar uma advertência para quem hoje, nos países mais avançados, procura soluções simplistas para o problema da imigração, e também para quem liquida de forma apressada as questões referentes às liberdades e aos direitos civis. Às 00:19h de 23 de agosto de 1927, na penitenciária da cidade de Charlestown, perto de Boston, capital do estado do Massachusetts, fazia uma noite quente e abafada. Nicola Sacco, imigrante da região da Puglia, de 36 anos, é obrigado a entrar lentamente em um quarto frio e vazio. Alguns guardas o amarram a uma cadeira e, dentro de poucos segundos, uma série de fortes choques elétricos tiram sua vida. Bartolomeo Vanzetti, imigrante piemontês de 39 anos, precisa aguardar outros sete intermináveis minutos antes de completar o mesmo percurso para encontrar o idêntico destino. Sacco e Vanzetti — ou Nick e Bart, como eram chamados nos Estados Unidos — foram condenados à morte sob acusação de participarem de um assalto, durante o qual foram mortos um caixa e um segurança. As provas da inocência eram evidentes, mas os dois estavam no país errado e no momento errado. Pagaram pelo fato de serem anarquistas e italianos. 38

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Foram presos em maio de 1920, quando Woodrow Wilson era presidente dos Estados Unidos, e tinha lançado uma violenta campanha de repressão contra a chamada “subversão”. O mesmo Wilson era conhecido pelo seu comportamento particularmente rude em relação às questões raciais: a sua administração instituiu uma nova forma de segregação racional em nível federal, e sua atitude foi abertamente hostil aos imigrantes, pessoas que ele gostava de definir como “os americanos com hífen”. Exatamente como os ítalo-americanos Sacco e Vanzetti. “Cada homem que carrega um hífen consigo carrega um punhal pronto para ser enfiado nas partes vitais dessa República”, afirmou o presidente americano durante um famoso discurso. Nicola Sacco nunca tinha enfiado nenhum punhal em nada, nem em ninguém. Trabalhava seis dias por semana, dez horas por dia, dentro de uma fábrica de sapatos na cidade de Wilson. Era casado e tinha dois filhos. Vanzetti tinha trabalhado em vários setores, em todas as profissões ao seu alcance: em vários restaurantes, em uma pedreira, uma siderúrgica e, enfim, em uma

fábrica de cordame. Ambos eram comprometidos em atividades sindicais e tinham se conhecido em 1916, começando a fazer parte de um grupo anárquico ítalo-americano. Quando a guerra estourou, o grupo inteiro fugiu para o México para não prestar serviço militar, pelo fato de serem ideologicamente contrários a qualquer ideia de conflito entre exércitos de Estados. Os dois imigrantes estavam organizando um comício de protesto marcado para quatro dias depois da prisão Na volta para os Estados Unidos, Sacco e Vanzetti não sabiam que haviam sido incluídos na lista de subversivos do Ministério da Justiça do país e também não tinham percebido que estavam sendo seguidos por agentes secretos. Na mesma lista, figurava o nome do tipógrafo Andrea Salsedo, amigo de Vanzetti, o mesmo que, no dia 3 de maio de 1920, “voou” misteriosamente do 14º andar de um edifício do Ministério da Justiça. Sacco e Vanzetti organizaram um comício pedindo o esclarecimento do caso: a manifestação deveria ocorrer no dia 9 de maio em Brockton, mas não aconteceu porque


os dois anarquistas de origem italiana foram presos quatro dias antes, acusados de esconder sob seus sobretudos armas e panfletos de propaganda subversiva. No dia 8 de maio, novas e desconcertantes acusações caíram em cima das cabeças dos dois: foram considerados responsáveis por um assalto, durante o qual duas pessoas morreram, em South Baintree, nos arredores de Boston, algumas semanas antes. Ao longo de três processos, não surgiu nenhuma prova de qualquer envolvimento deles. Mas a sentença já estava escrita: Sacco e Vanzetti eram anarquistas e italianos e encarnavam perfeitamente os “monstros” para serem jogados na primeira página, no que deveria servir de advertência para os imigrantes e os subversivos que tivessem a ousadia de lutar por algum direito a mais ou condições de vida mais dignas. De nada valeu a confissão do preso porto-riquenho Celestino Madeiros, que admitira a sua participação ao assalto, e que explicou que nunca tinha visto Sacco e Vanzetti na vida. E de nada valeu a mobilização da imprensa, a criação de comitês a favor da libertação dos dois inocentes, os convites que a Itália lançou mais de uma vez e o posicionamento do governo Mussolini. Também foi inútil a mobilização de intelectuais do calibre de Albert Einstein, Bertrand Russell e George Bernard Shaw.

Estava decidido que Sacco e Vanzetti tinham que morrer. Forças de polícia, procuradores regionais, juízes e júri se relevaram simples executores da política de terror do presidente Wilson e do ministro da Justiça, Palmer. É suficiente pensar que o juiz encarregado do caso, Webster Thayer, definiu abertamente Sacco e Vanzetti como “dois bastardos anarquistas” e, ao longo das audiências, costumava chamá-los com o termo pejorativo wops, acrônimo de without papers (sem documentos), como eram apontados os indivíduos de origem italiana nos Estados Unidos.

“Cada homem que carrega um hífen consigo carrega um punhal pronto para ser enfiado nas partes vitais dessa República”, dizia o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1913-1921), ao se referir aos imigrantes como os ítalo-americanos

Perseguição ao fantasma comunista pesou na decisão dos juízes americanos Porém, foi decisiva a chamada obsessão vermelha — o clima de caça às bruxas do fantasma comunista, que se apropriou das instituições norte-americanas entre 1917 e 1920. Sacco e Vanzetti não se consideravam comunistas e Vanzetti nem tinha antecedentes criminais, mas ambos foram rotulados como comunistas subversivos, por causa de participações em greves, movimentos políticos e mobilizações contra a guerra. O martírio deles perturbou profundamente as consciências dos cidadãos dos Estados Unidos, e Vanzetti, em particular, entendeu a relevância revolucionária de seu sacrifício. “Nunca, ao longo da existência inteira, acharíamos que íamos fazer tanto pela causa da tolerância, da justiça, da mútua compreensão entre os homens”, disse o anarquista de origem piemontesa, dirigindo a palavra ao júri que o condenava à morte. De fato, o fantasma daquela injustiça continuou agitando os Estados Unidos por várias décadas. Até que, em 1977, 50 anos depois da execução, o governador do Massachusetts, Michael Dukakis, reconheceu em uma declaração oficial os erros cometidos no julgamento, e reabilitou completamente a memória de Sacco e Vanzetti. Hoje, de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti permanece o orgulho de serem italianos em terra estrangeira, a paixão pela justiça social e a denúncia das condições insuportáveis vivenciadas pelos imigrantes. “Eu não auguraria a um cachorro ou a uma cobra aquilo que sofri a respeito de coisas pelas quais não sou culpado, mas tenho certeza de que eu sofri por coisas pelas quais sou culpado”, disse ainda Vanzetti ao juiz Thayer. “Estou sofrendo porque sou um radical, e de verdade eu sou um radical; sofri porque eu era italiano, e de verdade eu sou Italiano; e se vocês pudessem me executar duas vezes, e se pudesse renascer ainda duas vezes, eu viveria de novo para fazer tudo aquilo que já fiz”, completou Vanzetti, que tinha uma familiaridade com a língua inglesa muito maior em comparação ao amigo Sacco, incapaz de expressar-se com propriedade na língua do país que o hospedava. Ao longo do processo, o piemontês descreveu a experiência da imigração: “No centro de imigração, tive a primeira surpresa. Os imigrantes eram selecionados como animais. Nenhuma palavra gentil para encorajar, para aliviar a carga de dor que tanto pesa sobre as pessoas recém-chegadas à América. Aonde eu poderia ir? O que poderia fazer? Eu estava na Terra Prometida. O trem do elevado passava produzindo ruídos de ferro e nada respondia. Os automóveis e os bondes passavam adiante sem repararem em mim”. Uma linha vermelha une a experiência dos dois imigrantes italianos, agora elevados a símbolo dos sofrimentos e das injustiças sofridas por parte de quem chega a um país que não é o de origem, aos imigrantes de todos os tempos e em todos os países. Mudaram os contextos sociais, políticos e econômicos, mas a imigração de, e para, Itália ou Brasil, ou qualquer outro país do mundo, ainda é uma realidade. Depois de quase 90 anos da feroz execução de Sacco e Vanzetti, é bom lembrar para não esquecer e evitar repetir os mesmos erros. com unit àit aliana | agost o 2015

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ItalianStyle

Pitti Uomo 2015

Mais importante feira internacional de roupas e acessórios para moda masculina, que ocorre duas vezes ao ano em Florença, a 88ª edição da Pitti Uomo antecipou os lançamentos das grandes grifes italianas para a temporada Primavera/Verão 2016. Os protagonistas do evento, como sempre, foram os acessórios masculinos. Confira abaixo uma seleção dos mais interessantes, alguns já disponíveis à venda.

Superga 2750

A Superga, tradicional fábrica de Turim famosa pelos seus sneakers, apresentou em Florença uma versão especial em edição limitada do seu clássico modelo Superga 2750. Com sola de borracha vulcanizada, o modelo vem com a parte superior em puro algodão bicolor, disponível em quatro cores: amarelo, laranja, azul-claro e roxo. Os modelos vestiram a equipe oficial da 88ª Pitti Uomo. Preço: € Sob consulta www.superga.com

Galleidoscopio

A grife das meias italianas, a Gallo, apresentou a Galleidoscopio, a primeira coleção de meias de alfaiataria masculinas para o verão, em tons perfeitos para combinar com as cores típicas das calças desta estação: tons suaves de rosa, turquesa, verde e areia são combinados com ocre, ferrugem e azul. O uso combinado de antigos teares com novas tecnologias garante a qualidade das peças. Preço: € Sob consulta www.theartofgallo.it

Frank

A edição especial da clássica bota de couro made in Italy da O.X.S, Frank, foi realizada em técnicas especiais de serigrafia, estampando tatuagens realizadas a mão pelo famoso tatuador Alle Tatto, detentor de quatro recordes mundiais da Guinness. A sola superleve garante conforto ao calçado. Diversas estampas e cores disponíveis à venda apenas na loja online da grife. Preço: € 249 www.oxs.it

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Ducati

A Ducati apresentou a sua primeira capsule colletion produzida em conjunto com a Braccialini, clássica grife de bolsas de Florença. A coleção exclusiva de bolsas, mochilas e acessórios da marca de motos traz um estilo refinado e evoluído, com foco nas cores preto e vermelho. Preço: € Sob consulta shop.ducati.com

Berk

A grife de sapatos Alberto Guardiani apresentou na Pitti Uomo o seu novo modelo de tênis sneakers Berk, realizado em couro branquíssimo, com estampa especial geométrica 3D. O volume compactado da sola é costurado com a parte superior do calçado, demonstrando o trabalho de alfaiataria manual e o cuidado com os detalhes da grife. Preço: € Sob consulta store.albertoguardiani.com

Panama Crocket

A Borsalino, importante grife de acessórios masculinos da Itália, especialmente chapéus, apresentou sua nova coleção de chapéus para a PrimaveraVerão, em desenho arredondado e em cores naturais, como areia, terra queimada, verde-campo e branco. Preço: € Sob consulta shop.borsalino.com

Fotos: Divulgação

Frank

A grife de artigos em couro de Milão Serapian apresentou uma minicoleção toda verde, com destaque para a pasta Frank, peça versátil dedicada ao cantor Frank Sinatra, com design elegante e alças em aço cobertas por couro. O material utilizado é altamente inovador, impermeável e confortável para usar no trabalho e em outros ambientes. Preço: € Sob consulta www.serapian.com


milão

GuilhermeAquino

Arte em Exposição uitas galerias e fundações privadas

M

pegam carona na Expo e realizam mostras de primeira grandeza, com uma programação de tirar o fôlego e de abrir o apetite (apenas para ficar no tema) cultural dos amantes da arte, em todas as suas declinações. A programação inclui uma visita milanesa à margem de Rho, fotografia futurista na Galeria Carla Sozzani, Lucio Fontana com uma instalação inédita pela homônima fundação junto com a Marconi, Cementi de Giuseppe Uncini na Cardi e Tony Cragg na Lisson Gallery.

Pós-Expo

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amanhã da Expo começa a se desenhar mais nitidamente nas mentes e nos corações dos atores principais desta odisseia de deixar no local uma herança concreta para o futuro do planeta. Servem investimentos orçados em um bilhão de euros — sem contar os 300 milhões do terreno —

para transformar tudo aquilo num centro internacional de pesquisa acadêmica, polo de inovação e escritórios públicos. Naturalmente, em tempos de vacas magras, o tempo também é bíblico. A previsão para algo surgir não contempla nenhuma data que não seja antes de 2019.

Luz vermelha Calor e frio prefeitura da cidade está estudando calor europeu não deu trégua em Grafismo inteligente ara evitar os atos de vandalismo que

P

invadem muros e fachadas de monumentos e prédios públicos e privados, para não falar dos trens que circulam pela cidade, Milão decidiu fazer um mapa onde os grafiteiros possam exercitar a sua “arte” sem maiores problemas. Cem paredes externas serão colocadas à disposição dos grafiteiros profissionais. Em setembro, será lançado um referendo online para “proteger” as melhores obras. A iniciativa faz parte do projeto Muros Livres.

A

a implantação de uma zona para a prostituição. Diante da evidente constatação de que não se pode nem eliminar nem varrer para baixo do tapete, chegou a hora de enfrentar o fenômeno. Dignidade, segurança e o mínimo de conflito com os residentes vizinhos norteiam os debates. A zona urbana em questão começa na Praça da República, segue pela Praça Loreto e cobre avenidas como a Padova. A área é a mais densamente povoada por imigrantes, de toda a Milão. A capital da Lombardia segue o exemplo de Mestre, em Veneza, que conseguiu diminuir em até dois terços a prostituição depois de estabelecer as ruas e as praças onde os encontros são permitidos.

O

julho e promete ainda mais em agosto. Os milaneses nunca mais irão se esquecer das noites com temperaturas em torno dos 30 graus, um recorde. O único que esfrega as mãos com o vento quente que sopra nesta época é o egípcio Hai nel Mallah, produtor de gelo que vende o precioso produto a 50 centavos de euro por quilo. No mercado desde os anos 1980, ele apenas fica morto de frio quando pensa na burocracia italiana que ainda não permitiu a ampliação das instalações, com investimentos na ordem de dois milhões de euros. Tudo parado, congelado.

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Gastronomia

Mistura à mesa

sugestões com influência espanhola, francesa e portuguesa. Na Espanha, por exemplo, sabemos que o suíno é bastante consumido, é um prato bem aceito por lá. Aqui, a gente serve uma costela suína assada com molho de mostarda de frutas. Temos também o bacalhau, que representa a culinária portuguesa. Gosto muito deste prato bem preparado e acho que não poderia faltar em nosso cardápio. Aqui ele é servido assado no forno a lenha com azeitonas verdes,

Janaína Pereira

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De São Paulo

gastronomia italiana é referência no mundo inteiro e, por isso mesmo, influencia os mais diversos tipos de culinária. No Brasil, na Europa e nos Estados Unidos sempre é possível encontrar restaurantes que possuem algum prato da Itália. O caminho inverso também acontece. Cada vez mais contemporânea, a culinária italiana de hoje se inspira em outros universos, como a cozinha francesa, a mediterrânea e a brasileira.

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Para conhecer um pouco dessas influências, Comunità visitou algumas casas em São Paulo e conversou com chefs e donos de restaurantes, que explicaram como a culinária italiana pode ser ainda mais enriquecida pelas tradições de outros países. Um exemplo de como os italianos ganham com ‘pitadas’ de outras nacionalidades está no Zucco. Um dos principais restaurantes italianos de São Paulo, a casa recebe influências de outros países, confirma o chef José Meirelles. — Aqui no Zucco, além dos tradicionais pratos italianos, ofereceremos

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Linguini com camarão é um dos pratos mais apreciados no restaurante do chef Jamie Oliver

Matt Russell

Conheça algumas casas que mesclam receitas italianas com outras culinárias e fazem sucesso ao apresentar um novo olhar para a tradicional cozinha do Belpaese


Jamie´s Italian de Jamie Oliver: conceito é a culinária saudável O primeiro restaurante do renomado chef Jamie Oliver nas Américas foi inaugurado no final de março no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo. O empreendimento de Oliver, ativista na educação alimentar de crianças, chegou com a proposta de oferecer comida italiana saudável. A história começou há sete anos, quando ele decidiu compartilhar com o mundo o que conhecia sobre comida italiana. O Jamie´s Italian é inspirado na paixão de Jamie pelo modo de vida italiano, especialmente da boa alimentação. O conceito está presente na unidade brasileira e os clientes que vão ao restaurante podem desfrutar da gastronomia italiana sempre voltada para pratos mais saudáveis, sem aquela sensação de que vai comer algo muito ‘pesado’. Apaixonado pela gastronomia e pelo conceito de alimentação saudável com qualidade, o chef de origem italiana Lisandro Lauretti é discípulo de Jamie Oliver e em 2012 provou — por ter a mesma formação, energia, ser apaixonado por comida e acreditar no conceito da marca — que era a pessoa certa para ser seu sócio no Brasil. Além de Lauretti, estão na sociedade os empresários Bruno Laporta, Carlo

Gadia, Diego Sala, Marcel Gholmieh e Marcelo Goldfarb. Lauretti define o grande diferencial do Jamie´s Italian. — É o conceito de gastronomia saudável. Um padrão em todas as casas e aqui não é diferente — resume. No cardápio, podemos ver claramente que, para cada receita, há um ingrediente diferenciado. A tradicional carbonara leva alho-poró e o linguine com camarões vem acompanhado de rúcula. A bruschetta tem uma versão diferente com abóbora assada e ricota (pão aromatizado com alho, abóbora assada, ricota perfumada com limão, sálvia crocante e chips de beterraba). Acrescentar legumes e verduras que tradicionalmente não entrariam em um prato italiano é um dos segredos do sucesso da casa, que no Brasil oferece um ingrediente a mais: um prato onde a picanha é a estrela, uma homenagem de Jamie Oliver ao nosso país. Farfalle com salmão chileno e coxinha di maiale O Olea, que oferece pratos da culinária ítalo-mediterrânea criados pelos chefs Onorato Fiorentino e Giovanna Paternó, apresenta um prato diferenciado. Onorato cita o farfalle Joie de Vivre (penne, salmão fresco, alho-poró, mascarpone e uma pitada de tomate pelado) como uma receita que une o melhor da gastronomia italiana a um peixe chileno. — A escolha do salmão foi apenas pela harmonização. Considero o peixe leve e acho que harmoniza bem com a massa. Na receita, foi colocada uma colher de mascarpone. Também foi adicionado um tomate pelado — conta Onorato. Ele explica que o salmão utilizado é de origem chilena e por isso a receita acaba fugindo do tradicional prato italiano. — Nosso cardápio tem um prato chamado bife ancho, nobríssimo corte de origem portenha que tem conquistado os brasileiros — informa.

Em um ambiente aconchegante, o Olea oferece pratos ítalo-mediterrâneos

E quem dá um toque bem brasileiro ao seu cardápio italiano é o Zena Caffe, do chef Carlos Bertolazzi, apresentador do reality gastronômico Cozinha Sob Pressão, do SBT. Inspirado nas coxinhas de pato que ele prepara em feiras gastronômicas, Bertolazzi acrescentou a de costelinha suína ao menu do Zena. A coxinha di maiale (coxinha de costelinha de porco com molho de pimenta) é uma legítima representante nacional no menu, e mesmo diante de tantas opções tipicamente italianas, é uma das estrelas. O que prova que a nossa gastronomia, do mais refinado ao mais simples, faz uma boa combinação com a culinária italiana. Serviço

A coxinha di maiale, feita com costelinha de porco e molho de pimenta, faz sucesso no Zena Caffe

Jamie’s Italian Itaim Bibi Avenida Horácio Lafer, 61 Itaim, São Paulo. Tel.: (11) 2365-1309 Olea Mozzarella Bar Rua Joaquim Antunes, 198 – Pinheiros Tel.: (11) 3062-1535 Quiosque Olea Shopping Cidade Jardim Av. Magalhães de Castro, 12.000 Marginal Pinheiros Tel.: (11) 3552-3560

Tadeu Brunelli

tomate-cereja e salsão, acompanhado por batatas gratinadas e cebola caramelizada — comenta. O chef também demonstra admiração pela gastronomia francesa. — O que mais me encanta é a apresentação dos pratos. Além disso, sabemos que lá é muito comum servir peixe. O robalo, por exemplo, é bastante preparado. Aqui o servimos grelhado ao molho de shitake, tomate-cereja e manjericão, acompanhado de risoto de limão siciliano. Temos ainda o famoso mil-folhas com mascarpone, morangos e baunilha, um clássico francês, muito pedido. Mas nós temos também influência de outro continente. O nosso Paninocheeseburguer é feito com hambúrguer de picanha e cheddar Joseph Heller´s, o que é bem americano, envolto em massa de pizza. Ou seja, é um prato que mistura a influência americana com a da nossa querida Itália. Fico muito contente quando ouço do cliente que já comeu determinado prato no país de origem e que aqui está muito parecido, às vezes, até igual! Só não dizem que é melhor, e eu concordo: tem que comer lá — explica Meirelles.

Zena Caffe Rua Peixoto Gomide 1901 – Jardins Tel.: (11) 3081-2158 Zucco Rua Haddock Lobo 1416 – Jardins Tel.: (11) 3897-0866

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Saperefood

La montagna in una spiga di farro Tappa a Trivio, frazione di Monteleone di Spoleto, per assaporare cereali e legumi biologici coltivati a oltre mille metri. I punti di forza: rispetto dell’ambiente, selezione genetica e spirito familiare Emanuela De Pinto

speciale della saperefood

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quota mille metri basta un colpo d’occhio per restare senza fiato. Siamo nel grembo dell’Umbria più pura e incontaminata, la Valnerina, un cielo così terso che sembra dipinto. Trivio, piccola frazione di Monteleone di Spoleto, dove nascono legumi e cereali dell’Azienda agricola biologica Dolci Giuseppina. Domenico, Alessandro e Gloria, i tre figli di Giuseppina e Antonio, ci attendono per una visita in azienda e una passeggiata tra i campi coltivati. L’azienda nasce nel 1994, quasi per scherzo, quando da queste parti coltivare i terreni era solo un hobby tramandato di generazione in generazione. Nei 25 ettari dell’azienda di famiglia spuntano le piantine di lenticchia, ceci, fagioli, cicerchie e roveja: ma non chiamateli semplicemente legumi. Ogni seme è il frutto di una passione quasi maniacale, che Domenico e Alessandro, 32 e 29 anni, selezionano con cura. Ma in casa Dolci si coltivano e si commercializzano anche due cereali: l’orzo e il 44

Farro di Monteleone di Spoleto, l’unico farro in Europa che ha ottenuto la certificazione Dop. Colore ambrato e consistenza vitrea. Ottimo per minestre, risotti e gustose insalate fredde. Oltre il 70% delle coltivazioni di farro dell’Azienda Dolci Giuseppina sono sopra i 1.100 metri, ed essendo il farro il prodotto top della produzione, l’azienda lo lavora in diverse tipologie. Integrale, che non subisce alcun processo di lavorazione ed è ricco di fibre. Poi il semiperlato Dop, più veloce da cucinare. Altre lavorazioni sono la polenta e il farro “spezzato”, adatto alle minestre. Di recente, l’azienda è stata insignita del Premio Medusa, a Roma, dalla Fondazione accademica “Iusm

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Antonio e Giuseppina, con i figli Domenico, Alessandro e Gloria lavorano con dedicazione nell’azienda agricola di famiglia dove coltivano legumi e cereali

Sapientia Mundi” per la coltivazione di questo straordinario prodotto e per la filosofia aziendale, certificata biologica. Anzi, praticamente biodinamica se si pensa che, oggi come un tempo, per la semina e la raccolta si seguono le fasi lunari. Dietro ogni confezione di prodotto c’è una ricetta tipica tradizionale della Valnerina. Sul sito aziendale si può trovare un intero menù dall’antipasto al dolce: le polpette di lenticchie, quelle di farro e tartufo per vegetariani e vegani, lo spezzatino e i crostoni di roveja, la crostata con farina di farro fino ai “pancake rustici” con farina di roveja e frutta essiccata. Gloria, 21 anni, studentessa alla facoltà di Agraria di Perugia, vuole diventare una nutrizionista. “Vorrei far capire a chi acquista i nostri prodotti l’importanza di una corretta alimentazione. Legumi e cereali sostituiscono perfettamente, se mangiati insieme, le proteine della carne”. La grande forza di questa azienda è lo spirito familiare. Qui tutti lavorano in perfetta unione e non c’è mai un periodo dell’anno di riposo. “Il lavoro è faticoso – dice Antonio – e quando il clima gioca brutti scherzi, si rischia di restare a mani vuote dopo tanto lavoro. Ma i complimenti dei clienti e la passione per la natura che siamo riusciti a trasmettere ai nostri giovani figli ci danno soddisfazione”. Dai campi di famiglia si scorge il paese di Monteleone di Spoleto. Il vento accarezza le spighe dorate che danzano sotto il sole cocente. L’aria è leggera e pulita. Nel laboratorio, invece, viene conservato il patrimonio genetico aziendale. Riposti sulle mensole ci sono 35 barattoli, ciascuno contenente una varietà diversa di legumi. “Sono semi antichi – spiega Alessandro, giovane ingegnere che si divide tra la costruzione di grattacieli in uno studio di Londra e l’amore primitivo per i luoghi dove è nato e cresciuto – che conservano intatte le informazioni genetiche e si portano dietro il bagaglio di conoscenza del contadino”. Dove comprare queste delizie? Se siete stati ad Expo nel mese di giugno, le avete sicuramente trovate. Così come sono presenti in quasi tutte le fiere del food italiano. Eventi a parte, fare tappa in questo paradiso italiano per l’acquisto diretto in azienda è la cosa che consigliamo, ma potete comprare anche direttamente dal sito internet. L’essenza di questi territori, della gente che abita qui, sta tutta nella semplicità e nella bellezza di una spiga di farro.


saporid’italia CintiaSalomãoCastro

Fabio Ferreira

Novidade no Rio Antigo Restaurante aberto por dois amigos ajuda a revitalizar zona histórica do centro da cidade

R

io de Janeiro – Quem vê o arranha-céu espelhado da Petrobras erguido em 2012, de frente para o casarão de 1922 onde funciona o Villa 106, não imagina que ali, há menos de um século, existia um complexo de habitação popular com145 casas para famílias e 324 cômodos para solteiros, onde moraram ilustres como Mário Lago, Silvio Santos, Villa-Lobos, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. Foi justamente nessa região, até pouco tempo degradada, que os amigos de longa data Augusto Loureiro, carioca, e Stefania Delli Carri, italiana nascida em Foggia e radicada no Rio, reformaram o edifício de três andares e escolheram a culinária mediterrânea para ser a estrela do cardápio. Batizado em homenagem à histórica Vila Ruy Barbosa, demolida aos poucos a partir da década de 1970, o estabelecimento conta com um ambiente simpático, tingido de alegres tons de azul e amarelo, onde o igualmente simpático proprietário conversa com os clientes. A crise da estatal petroleira não foi sentida na casa. De fato, em uma sexta-feira, pouco depois do meio-dia, a casa já estava cheia e todos os lugares já estavam preenchidos. — A crise não bate à nossa porta, até porque já abrimos em fase de crise, no mês de fevereiro deste ano. Temos, entre nossos clientes, funcionários não só da Petrobras, mas também de outras empresas e entidades ao redor, como o Inca — conta Augusto, formado em jornalismo. A sócia e amiga Stefania também é de outra área: advogada, fez mestrado e doutorado em Roma. Porém, ambos amam cozinhar. O renomado chef italiano Antonio Virgone, que trabalhou na Enoteca Pinchiorri, em Florença, assinou o cardápio como consultor. Da janela do casarão eclético, típica construção carioca do início do século XX, de frente para o moderno edifício da Petrobrás, o cliente aprecia o contraste arquitetônico entre o antigo e novo. O cardápio é enxuto, mas não decepciona: nele destacam-se as massas frescas, feitas na casa. A lasanha é o prato mais pedido. Os pães também são de produção própria — servidos com o duo de azeites aromatizados: de alecrim e de pimenta rosa. Tudo a preços acessíveis. Diariamente, há uma sugestão executiva, que pode ser um prato, como o canelone tradicional ao molho branco gratinado, ou um menu completo, incluindo entrada, a exemplo do creme de cebola com grana padano, e sobremesa, como o cheesecake de morango. Há seis opções de entrada: polenta em crosta de queijo brie e cogumelos selvagens, o carpaccio de polvo com vinagrette

Tagliatelle de frutos do mar Ingredientes 150 g de massa fresca tagliatelle; 50 g de lagostins; 50 g de camarão; 50 g de polvo; 50 g de lula; 20 g de manteiga clarificada; 1 tomilho; 50 g de molho de tomate; 2 unidades de tomate-cereja; 1 cálice de vinho branco; Sal; Pimenta; Salsinha; Azeite extravirgem; Alho Modo de fazer Esquentar bem uma frigideira. Refogar os frutos do mar com o alho e os tomates-cereja por um minuto e banhar com vinho branco. Deixar evaporar o álcool e juntar o molho de tomate. Temperar com salsinha e azeite. Juntar os tagliatelle e servir. cítrico, burrata e Parma, sopa do dia e dois tipos de salada. Entre os frutos do mar, a dica é o salmão grelhado à moda mediterrânea com risoto de limão siciliano. O salmão também aparece no recheio de um delicioso ravióli na manteiga e tomilho ao perfume de limão siciliano. Para sobremesa, tanto o crème brûlée de limão siciliano (sim, ele de novo) quanto o tiramissù são escolhas certas. — O vinho para nós foi uma grata surpresa. Não pensávamos que na hora do almoço fosse fazer tanto sucesso, e realmente sai bem — comenta o empolgado Augusto, que pretende fundar uma associação de comerciantes para promover a região. Serviço

O casarão de arquitetura eclética, típica do início do século XX, foi totalmente reformado para abrigar o estabelecimento, contribuindo para renovar a região

Villa 106 Rua do Senado 106 – Centro – Rio de Janeiro | Tel. (21) 2242-6027 De segunda a sexta, das 11h às 15h. Happy hour às sextas a partir das 17h30.

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Comunidade

A última página de uma grande história Após 36 anos, o tradicional Clube Italiano de Niterói fecha as portas e é comprado por uma imobiliária Stefania Pelusi

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ara muitos imigrantes, os clubes e as associações eram pontos fundamentais da vida social. Entre os italianos residentes em Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro, o associativismo sempre foi bastante forte. De fato, foi um grupo de imigrantes italianos que, no dia 15 de agosto de 1979, deu vida ao Clube Italiano de Niterói, que teve de fechar as portas em julho por problemas financeiros. Situado em Piratininga, área nobre do município, chegou a ter 360 sócios, embora ultimamente contasse com apenas 67 pagantes. Foi vendido por cinco milhões de reais para uma construtora que quer construir no local um hotel para idosos. O último presidente do Clube foi Pietro Polizzo, um imigrante calabrês proprietário de uma distribuidora de jornais e revistas, que sempre liderou com muito carinho a associação. Polizzo afirmou que o Clube não tinha dívidas e que está muito triste com a venda. 46

— Ajudei a erguer o Clube Italiano e agora, infelizmente, vamos ter que fechar. Hoje temos apenas 100 sócios e o que entra no caixa não dá para manter o clube. Por isso, fizemos uma assembleia e, por unanimidade, foi decidido que íamos vender — explicou o ex-presidente, um dos incentivadores de eventos da comunidade italiana em Niterói. Os sócios eram na maioria famílias originárias de Salerno e da Calábria, que ali conservavam tradições e costumes. Pelos salões da associação, já passaram muitos cônsules e embaixadores italianos, além de governantes e empresários brasileiros, porém, ao longo dos últimos dez anos, os frequentadores diminuíram e pouco a pouco se

No alto, o presidente da Rede Globo, Roberto Marinho, cumprimenta o embaixador Giuseppe Iapoangelo durante cerimônia de fundação do Clube, observado pelo presidente do Grupo Fluminense de Comunicação, Alberto Torres. Na foto menor, Roberto Marinho assina termo de sócio número 1 do Clube Italiano

Da esquerda para a direita: o então presidente da Rede Globo, Roberto Marinho; o Consûl-Geral da Itália, Luca Daniele Piolato; o presidente do Clube Italiano, Vincenzo Figlino; o embaixador Giuseppe Iapoangelo; e o prefeito de Niterói, Moreira Franco

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perdeu o motivo maior de confraternização. O primeiro presidente foi Vincenzo Figlino, calabrês que chegou ao Brasil em 1949. Sob a sua gestão, foram construídos um campo de futebol, uma pista de bocha e um salão nobre. Em reportagem publicada na Comunità, em 1994, Figlino revelou as dificuldades encontradas na fundação do clube. — Os primeiros meses foram muito duros. Os únicos recursos eram as taxas de manutenção e as várias festas italianas, com tarantellas, apreciadas pelos nossos irmãos brasileiros, que, desde o princípio, nos acompanharam nessa caminhada. Trabalhou-se muito, mas tudo com muita alegria — relatou o primeiro presidente. Após cinco anos, Figlino cedeu seu lugar a Pietro Polizzo que, por sua vez, deu continuidade ao trabalho iniciado e construiu o parque aquático, saunas, pista de bochas, salão de reuniões, sala da presidência, playground e terraço panorâmico. O clube conquistou títulos municipais na bocha e no futebol, que ficaram na memória dos associados. O primeiro grande marco na história do Clube Italiano foi um punhado de terra colhida no monte Palatino, em Roma — onde, segundo a lenda, foi edificada a cidade quadrada de Rômulo — trazida pelo então cônsul-geral Luca Daniele Piolato e entregue pelo embaixador Giuseppe Iacoangeli às mãos de Figlino, momento comemorado com grande festa. Como testemunhas da fundação e primeiros sócios, estavam o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, e o então prefeito da cidade, Moreira Franco, entre outras figuras ilustres. No passado, o clube foi palco de grandes eventos da cultura italiana, com a presença de cantores italianos, e de celebrações religiosas, como a festa de Nossa Senhora dos Anjos, em agosto. Atualmente, o cenário mudou e a instituição seguiu o destino de outros clubes tradicionais da cidade, obrigados a fechar as portas devido a problemas financeiros, como no caso do Icaraí Praia Clube, que deu lugar a um condomínio de luxo. O destino foi cruel com o Clube italiano. Ainda assim, viverá na memória de todos aqueles que um dia participaram dessa histórica sociedade, que atuou ativamente para preservar a cultura italiana na cidade de Niterói.


opinione

Ar yGrandinettiNogueira

Que país é esse?! V Temos que nos levantar da poltrona e dar o primeiro passo

emos, com crescente pânico, evoluindo a culpa, mas sim assumi-la, zerar o passado em bepara estado de choque, que o país está nefício do futuro, pois é lá que passaremos nossos parado, paralisado. próximos dias (como simplificou um sábio). Jogar Esse é o caminho mais fácil, tal como as- a esperança sucessivamente nas próximas eleições sistimos às catástrofes na televisão e, num forte impulso tornou-se metaforicamente comparável à reza para altruísta, balançamos a cabeça com expressão de “que chover. A ignorância cega os sonhos. tragédia!”. E mudamos de canal. Esse é o modelo que Nascemos num país continental e riquíssimo em estamos vivenciando diante da nossa própria tragédia. recursos naturais. E falta água na torneira e sardinha Quantos se levantam da poltrona e acionam os seus na mesa do povo. Ou seja, não fazemos a nossa parte. contatos influentes, correm atrás dos caminhos de coOuvir de uma grande liderança política que “falar laboração, acordam os vizinhos, amigos e inimigos com o governo agora parece conchavo; temos que falar para mobilizar uma ação efetiva de ajuda àquelas víti- com o povo” é desalentador. Quem é povo? “Falar com mas? Quantos cuidam da situação emergencialmente e o povo” é uma conversinha bolo fofo. E ato falho. Os cobram publicamente compromissos para evitar novas políticos são o povo — ou deveriam ser. tragédias? Quem dá um primeiro passo? Em vez disso, Temos que ser capazes de redirecionar uma nação, mudamos de canal: “gente!” — falando para dentro ou ainda mais fragilizada pela situação caótica em todos sussurrando para os dois gatos pingados que estão na os setores privados — produtivo, financeiro e serviços sala — “quando vão tomar providências?” — e poderes públicos — Executivo, Judiciário e LegisA tragédia humana só é tangível quando vemos os lativo. Urge que o Governo e o Congresso construam efeitos de terremotos, tsunamis, desbarrancamentos e uma agenda comum para a retomada do crescimento alagamentos, guerras e atentados, sempre com mortes, do Brasil. A grande oposição tem que surgir sob a forou seja, eventos midiáticos. Com os outros. Só acorda- ma de reação aos dias piores que nos esperam. Isso não mos, de fato, quando a tragédia nos atinge diretamente. se conseguirá com revanchismos pessoais corrosivos Estamos vivendo sob todos esses fenômenos, como a aprovação de aumento dos gastos públicos e a mas não vemos as vítimas. Estamos assistindo a um pré-indisposição a qualquer iniciativa de ajuste fiscal. filme de horror como se fosse uma comédia românti- Vamos separar as coisas e parar de cuidar do país como ca, em que, no final, tudo deverá acabar bem. se fosse o quintal de casa. O Poder Executivo, a quem cabe o governo do Os casos de corrupção têm que ser apurados e esgopaís, conta com alguns técnicos, poucos destes até tados permanentemente. Essa lastimável e interminável muito competentes e bem-intencionados, que en- corrente do mal não pode ser minimizada, e muito mexergam a doença, desenham um diagnóstico e nos roubar o protagonismo da condução do país. Esse prescrevem os medicamentos e a dosagem para re- assunto somado ao ajuste fiscal não podem virar agencuperar o doente. Mas a maioria dentre esse grande da única de um país, quando a economia se encontra circo dos horrores entra no meio da cirurgia para co- estagnada, com desemprego, inflação e juros em alta locar um primo naquela boquinha. (variáveis da equação para chegarmos ao inferno), e esAo Governo cabe traçar os caminhos para a re- colas, universidades e hospitais públicos fechando por tomada do crescimento, aumento da produção, abandono, falta de verba e absoluta insegurança pública. geração de empregos e renda. Cabe o planejamento Impostos aumentando de um lado e a miséria, de outro. estratégico e plano tático para nos tirar da prostraTodos queremos um país altivo e soberano, justo ção e da inércia e nos reconduzir para o futuro. e desenvolvido, uma Nação para todos os brasileiE ao Congresso cabe representar o povo e esta- ros. Mobilização da sociedade, sob o olhar atento da belecer um alinhamento político que apoie e cobre o Imprensa, com pautas de ações construtivas, comGoverno no cumprimento dos programas de desen- prometimento e cobrança de resultados dos poderes volvimento dos diversos setores da sociedade. públicos. Chega de discurso vazio. Cobremos a atitude Congresso e Governo tornaram-se antagonistas, dos que têm a responsabilidade por conduzir a Nação. num momento que deveriam somar forças. Temos Resultados precisam de planos e metas. que encarar a realidade tal como ela é: venceu quem Espero que a mola do fundo do poço impulsiofoi escolhido pelo povo macunaíma (mas é o nosso ne, de fato, os grandes empresários (que ainda não povo) por voto obrigatório. Elegemos e reelegemos caíram em tentação), as grandes lideranças (espéssimos representantes públicos e excelentes repre- condidas) políticas emergentes, o notório saber de sentantes de si mesmos. Não temos em quem botar representantes (eles existem) das altas cortes do Judiciário e até alguns chefes do executivo (também existem) para uma virada sobre a vergonha que estamos passando. Antes que algum golpe rasgue de vez o papel onde podemos escrever o nosso futuro. E, por favor, que esqueçam o bolso minguado do trabalhador e da sua poupança e sigam o exemplo deste: vão trabalhar!

Ary Grandinetti Nogueira é formado em administração de empresas e trabalhou por 40 anos na TV Globo, onde implantou modelo de gestão e chefiou a área de Desenvolvimento Artístico.

Essa lastimável e interminável corrente do mal não pode roubar o protagonismo da condução do país

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IlLettoreRacconta Associação de Veteranos de Futebol do Rio de Janeiro (Averj), quando jogou contra equipes formadas por ex- jogadores de grandes clubes e conquistou a quarta colocação na 6ª edição do Campeonato de Veteranos do Estado e o Troféu Disciplina por ser a equipe mais disciplinada. A equipe se sagrou campeã do Torneio Edson Arantes do Nascimento, em 1989, organizado paralelamente ao XIII Campeonato Brasileiro de Futebol das Forças Armadas, onde bateu o time da Associação dos ex-alunos do Colégio Militar do Rio, com gols de Djalma e Marinho. A participação nestes campeonatos permitiu a Aurelio e ao time de imigrantes enfrentarem grandes craques brasileiros do passado como Zico, Jairzinho e Orlando. Em 1992, aconteceu a primeira edição da Copa dos Imigrantes, organizada por representantes da Casa de Espanha com o propósito de reunir comunidades estrangeiras na cidade e utilizar o esporte para promover a cooperação e a tolerância entre os povos. Na primeira edição do torneio, a Azzurra ficou em terceiro lugar. Na segunda edição, terminou como vice ao perder a final para Portugal por 1 a 0. O título viria em 2004, quando o selecionado venceu a final contra a seleção de Cabo Verde por 1 a 0, em partida realizada no estádio das Laranjeiras em 27 de junho.

A

história de Aurelio Maffei começou na cidade de Morano Calabro, na província de Cosenza, na Calábria. Sua família, assim como tantas outras, veio para o Brasil em busca de uma vida melhor após a Segunda Guerra. Ao fim da longa travessia do Atlântico, ele chegou ao Brasil em 1958. A porta de entrada foi o Rio de Janeiro, de onde partiu juntamente com a mãe Giuseppina D’Agostino e o irmão mais novo, Enzo, rumo a Porto Alegre, onde já se encontrava o pai Luigi e o irmão mais velho Biagio. Apaixonado por futebol, Maffei começou a treinar nas categorias de base do Grêmio, mas não conseguiu conciliar a dupla rotina entre os treinos e o trabalho no restaurante da família. Forçado a largar o clube gaúcho, se juntou a um time no bairro formado por imigrantes. O selecionado conhecido como Azurra di Morano enfrentava semanalmente outras equipes da região. Em 1981, Aurelio mudou-se para o Rio para trabalhar no Consulado italiano. Mas a paixão pelo futebol continuava. Em 1982, ano do tri italiano, fundou, juntamente com seu irmão Biagio e Francisco Perri, a Associação Esportiva Casa D’Italia, que reunia vários italianos e oriundos. — A iniciativa foi bem recebida por todos e contou com o apoio do então cônsul na época, Paolo Bruno, que ofereceu as primeiras camisas do time, além de ter participado da equipe jogando na posição de lateral direito — lembra Aurelio. No início, as partidas aconteciam onde hoje fica o estacionamento do Consulado. — A partir daí, começamos a conhecer muitos italianos e oriundos que jogavam futebol, muitos deles do Santo Cristo e da Gamboa. Passamos a organizar o time e a realizar torneios — conta. Em1989 e 1990, o selecionado participou do campeonato de veteranos do Rio de Janeiro, a convite da

Porto Alegre 48

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A Associação esportiva Casa D’Italia em jogo amistoso de veteranos (topo). O uniforme oficial foi doado pela FIGC. Ao lado, os fundadores da associação, Aurelio Maffei e Francisco Perri. Abaixo, a carteira de identificação de Aurelio dos tempos de atleta do Grêmio

Maffei gosta de citar alguns dos cônsules que participaram ativamente do time, como Ignazio Di Pace, cônsul no Rio de Janeiro de 1987 a 1991, que jogava no meio de campo. — Outros ajudaram o time de outras maneiras, como Ernesto Massimo Bellelli, que intermediou, junto à Federazione Italiana Gioco Calcio (FIGC), a aquisição de um jogo de camisas oficiais para o time — revela. Aos 71 anos, Maffei já está aposentado, mas não dos campos de futebol: ele continua jogando com a mesma paixão e entusiasmo daquele menino que deixou a Itália aos 14 anos. Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br

Morano Calabro



la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro

La Gatta Mangiona

C

ada bairro de Roma tem a sua pizzaria mais popular. Em Prati, tem a Giacomelli. Perto da Piazza Navona, disputam o primeiro lugar a Baffetto e a La Montecarlo. No bairro de Trastevere, uma das preferidas é a Ivo e, nos arredores de Piazza Fiume, a Gigetto. A pizzaria mais amada no bairro de Monteverde, bairro residencial romano, perto de um dos parques mais bonitos da cidade, o Villa Doria Pamphilj, é a La Gatta Mangiona. A pizza é excelente, e o ambiente é muito gracioso, cheio de quadros que retratam gatos e de bibelôs em forma de gatos.

Aqui não tem tripa para gatos

A

doro os ditados italianos. Tem um que diz non c’è trippa per gatti, ou seja, não tem tripa para gatos, que é perfeito para o momento. O ditado é velho, tem mais de um século e foi dito por um prefeito de Roma em 1907, quando, procurando economizar, cortou o fundo destinado a dar comida aos tantos gatos espalhados pelas ruínas romanas que caçavam os ratos da cidade. A expressão significa que aqui não tem esperança, portanto, é melhor procurar em outro lugar. O ditado é velho, mas a situação é atualíssima. Hoje, na Itália, não tem tripa nem para gatos nem para humanos. A nação vivencia um período difícil no mundo do trabalho. Em parte, é devido a questões culturais, à idade da população e, é claro, à crise. Em termos culturais, a Itália sempre teve um grande apego à tradição e à segurança, ao emprego que dura a vida inteira. Portanto, há pouca mobilidade de trabalho. Outra questão: devido ao corporativismo, é difícil entrar num mercado de trabalho novo. Quem já está no setor, reclama quando se abre espaço para outros. Outro detalhe: nos Estados Unidos, se a pessoa decide mudar de rota, digamos, de engenheiro para antropólogo, há sempre uma chance. Na Itália, tudo é muito difícil. A população envelhece e o desemprego entre os jovens chega a 40 por cento. Se é difícil para os italianos, imagine para quem vem de fora. Os chineses, como bem sabido, abrem lojinhas que vendem tudo a preço de banana. Os paquistaneses abrem mercadinhos de frutas. Algumas nacionalidades se dedicam a atividades de limpeza e aos cuidados com crianças e idosos. Porém, não há lugar para todos, e muitos imigrantes que chegam ao país fugindo de condições de vida desumanas têm que dar nó em pingo d’água. Alguns viram vendedores ambulantes. Sempre me perguntei, passando por esses ambulantes, se conseguem vender bem. Além dos que vendem bolsas de marca falsificadas, há quem venda as coisas mais estapafúrdias: porquinhos de plástico de todas as cores que, jogados no chão, ficam grudados, discos fosforescentes para serem lançados ao alto e depois descerem, meias para homens, segurador de iPhone para selfies. Cada um se vira como pode; o importante é não deixar a peteca cair. Muitos estrangeiros sonham em morar na Itália. Sua beleza, sua história, suas paisagens ainda fascinam. Mas quem pensa em vir morar no Belpaese, que pense duas vezes, pois aqui, como já anunciei no início desta crônica, não tem tripa para gatos! 50

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